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Fernanda Domingos Spengler

10 Grandes Erros dos


Pais na Educação
Disciplinar dos Filhos
Dicas Práticas para Lidar com
Comportamento Desafiador

Versão 1.0

2
3
Índice

Índice 4

Sobre a autora 6

Apresentação 7

Introdução 9

Considerações sobre problemas comportamentais 11

10 erros mais frequentes que os pais cometem na educação


dos filhos 13

Erro 1 – Não conseguir comunicar-se assertivamente com


seus filhos 14

1.1 Como se conectar com seu filho 15

1.2 Dicas para elaborar um vocabulário assertivo 17

1.3 O que não fazer em uma comunicação assertiva 19

Erro 2 – Repreender comportamentos usando o “não” 21

2.1 Compreendendo os efeitos do “não” 22

2.2 Método da cooperação 24

4
2.3 Método da distração 25

2.4 Paciência, persistência e resultado 26

Erro 3 – Não disponibilizar tempo para momentos em família


28

Erro 4 – Agir impulsivamente, depois refletir 32

4.1 Refletindo e colocando em prática 33

Erro 5 – Ignorar a raiz do problema 35

Erro 6 – Usar punição para o mau comportamento 39

Erro 7 – Dar explicações excessivas sobre os comportamentos


errados 41

Erro 8 – Abusar dos elogios (sem correlação com o


comportamento) 44

Erro 9 – Ser permissivo e tentar compensar o tempo perdido


47

Erro 10 – Eximir seu filho das responsabilidades 49

Algumas considerações e próximos passos 52

5
Sobre a autora

Dra. Fernanda D. Spengler é psicóloga e


psicopedagoga clínica especializada no tratamento
de transtornos do desenvolvimento infantil,
em dificuldades de aprendizagens e em problemas de
comportamento, como TDAH (Transtorno do déficit de
atenção e Hiperatividade), problemas sociais e escolares,
medos/angústias excessivos, agressividade e síndromes.
Além do atendimento a crianças de até 14 anos, a
psicóloga atende aos pais, familiares e presta assessoria
a instituições de ensino.

Tem experiência de 12 anos na área educacional


em contato com o dia a dia escolar, analisando as
necessidades e características de crianças com
diferentes perfis.

Além da experiência acadêmica e clínica, a


autora conta com uma dose diária de renovação, pois
vivencia na prática o dia a dia de uma mãe de menina de
3 anos de idade, com energia ilimitada para descobrir o
mundo, brincar, fantasiar e crescer. Por isso consegue
estar em contato com a realidade desse complexo
mundo da educação familiar e trazer dados concretos
das dificuldades e soluções na relação pais e filhos.

6
Apresentação

Este guia é o resultado de muitas leituras


acadêmicas, pesquisas científicas e por último, mas não
menos importante: a experiência clínica com o
atendimento às famílias que buscam continuamente
melhorar o relacionamento cotidiano com seus filhos,
independente da idade.

Acima de tudo, esse guia propõe dicas,


orientações e estratégias (reflexivas e práticas) para
famílias de diferentes classes, visões de educação,
históricos e contextos, mas que apresentam as mesmas
queixas: indisciplina, desafio, irritabilidade, agitação,
entre outros problemas comportamentais.

Esta proposta direcionada para pais e familiares,


tem apresentado resultados positivos e modificações
importantes na rotina e no relacionamento familiar,
tornando o ambiente mais harmonioso, leve e divertido.

O grande objetivo desse guia é compatilhar


soluções práticas e eficazez com pais de várias partes do
Brasil, famílias reais, pessoas de carne e osso, com
dificuldades diárias na criação dos filhos.

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Neste sentido, queremos que mais e mais
pessoas alcancem uma visão diferenciada do quão pode
ser divertido, gratificante e contagiante criar seus filhos.

Queremos também dividir as angústias, dúvidas


e incertezas trazidas no dia a dia da clínica e
principalmente as alegrias, conquistas e superações de
pais e filhos que hoje conseguem vivenciar uma
educação democrática, baseada no respeito, harmonia,
responsabilidade e cooperação.

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Introdução

Criar e educar um filho não são tarefas fáceis.


Tentamos acertar, refazer, encontrar a fórmula da
melhor solução. Desejamos ensiná-los a ter
responsabilidade, a serem pessoas justas, éticas e
carinhosas, comprometidas o futuro.

Queremos ver nossos filhos crescerem e se


tornarem homens e mulheres criativos, inovadores e
profissionais realizados.

Mas voltamos ao dia a dia e vamos por partes.


Sabemos que, por vezes, as demandas da nossa vida -
correria, trabalho, carreira, metas - ocupam grande
parte do nosso tempo.

Todo esse stress nos afeta emocionalmente e


consequentemente afeta nossas crianças e nossa relação
com elas.

Além disso, os filhos apresentam fases mais


difíceis, ciclos de desenvolvimento complicados,
momentos de birra, comportamentos inadequados,
rotinas desafiadoras e relações turbulentas. Isto,

9
considerando desde a primeira infância até a
adolescência.

Esses impasses dificultam a construção de uma


relação democrática entre pais e filhos.

Escolhemos trazer algumas reflexões acerca da


educação familiar, porque acreditamos que cada dia ao
lado do seu filho pode ser mágico, toda semana deve ser
especial e todos os anos, inesquecíveis. Que a rotina
possa ser um tesouro gerado dentro do coração dos pais
e filhos e que essa ligação seja única, significativa e
aconchegante.

Para alcançar esse objetivo é preciso esforço,


paciência, confiança e persistência, pois vamos
encontrar pelo caminho alguns conflitos e barreiras. Mas
vamos seguir juntos, passo a passo, refletindo e
desenvolvendo habilidades de educação democrática.

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Considerações sobre problemas
comportamentais

Partimos do pressuposto de que nossos


comportamentos – principalmente os infantis – são
respostas aprendidas no decorrer do desenvolvimento
social, biológico e afetivo. Porém, é importante destacar
que nem sempre essa resposta tem uma ligação imediata
com a raiz do problema.

Ou seja, a criança pode expressar suas


dificuldades emocionais de diferentes formas e em
diferentes ambientes, não necessariamente
representando o que está vivenciando naquele exato
momento.

Ao tentar identificar as razões para o desafio


corremos o risco de relacionar um comportamento
inadequado a uma situação ou local específico, quando
na verdade essa resposta pode ser o acúmulo de vários
momentos de estresse.

Assim nossa lógica de interpretação adulta acaba


maquiando a raiz do problema e dificultando a sua
resolução.

11
Identificar a raiz do problema é um ponto
fundamental para resolver um conflito de forma eficaz.
O primeiro passo é abandonar as hipóteses prontas,
investigar, estar aberto para ver/ouvir/sentir de uma
forma diferente, sem a busca de resoluções a curto
prazo. Aprenderemos técnicas para identificar a raiz do
problema na sessão: Erro 5 – Ignorar a raiz do problema.

Pense em uma árvore de maçãs, na qual nascem


frutas danificadas, amareladas e amargas. Para uma
solução imediata, poderíamos pintar as maçãs com tinta
vermelha e corrigir as imperfeições. Assim, teríamos a
aparência de uma árvore de maçãs saudável e vistosa.

Porém, com esta atitude, não atingiríamos a raiz


da árvore, causa dos problemas nas frutas.

Comparamos agora este exemplo com uma


criança que apresenta comportamentos inadequados.
Quantas vezes maquiamos o problema? Recompensas,
punições, medicações de efeito comportamental, agenda
cheia de atividades extras… entre outras formas de
ocupar a criança e não precisar de fato lidar com seus
problemas emocionais que refletem no seu
comportamento.

12
10 erros mais frequentes que os
pais cometem na educação dos
filhos

Reunimos nos capítulos a seguir os 10 erros


mais frequentes que os pais cometem na educação dos
filhos.

São as queixas mais comuns e presentes entre


crianças de 2 a 8 anos de idade com desafios
comportamentais.

Alguns erros são resultados de um ciclo de


problemas de rotina e outras vezes são atitudes que se
tornam imperceptíveis aos nossos olhos.

Vamos agora fazer uma reflexão sobre os


comportamentos do seu filho e com que frequência
esses erros se encaixam na sua rotina. Vamos também
trabalhar com soluções práticas e saídas alternativas.

13
Erro 1 – Não conseguir
comunicar-se assertivamente
com seus filhos

Um dos pontos fundamentais na educação dos


filhos – como em qualquer relacionamento – é a
comunicação. A via mais significativa para estabelecer
uma relação cooperativa é comuninar-se de maneira
assertiva, ou seja, um diálogo claro, motivador e
equilibrado.

Aqui consideramos comunicação assertiva o uso


de palavras, imagens, linguagem corporal e tom de voz
que podem criar/fortalecer uma ponte de empatia com
seu filho. Para isso utilizaremos o termo: conexão.

Queremos que você consiga se conectar com seu


filho tendo influência no bem estar dele, favorecendo um
vínculo profundo, e obtendo cooperação e parceria no
processo educativo.

Muitos pais não conseguem desenvolver um


processo contínuo de conexão e fazer com seus filhos
prestem atenção e coloquem em prática o que

14
solicitaram. Isso porque muitas vezes utilizamos
maneiras de comunicação que aprendemos, vendo e
ouvindo outras pessoas que nem sempre são bons
exemplos.

1.1 Como se conectar com seu filho


Colocando em prática algumas dicas a seguir
você vai poder se sentir conectado com seu filho e vai
notar que ele também estará mais receptivo e
cooperativo.

As crianças são hipersensíveis ao mundo ao seu


redor, internalizam o que veem, o que cheiram, o que
ouvem e o que sentem. Elas observam, processam,
memorizam e repetem modelos.

Atualmente essas informações sensoriais são


excessivamente rápidas, um bombardeio cognitivo.
Crianças pequenas ainda não possuem filtros,
capacidade emocional e experiência para lidar com
tantos estímulos ao mesmo tempo. Por isso elas
precisam de uma conexão sólida, um vínculo que
transmita segurança e continuidade.

Partimos da ideia de que para criar uma conexão


com seu filho você precisa falar com ele usando palavras
amáveis e gentis; ser atencioso e paciente com ele e usar
um tom de voz amoroso e respeitoso.

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“Se eles estão com medo, você precisa ser
acolhedor;

Se eles estão animados, você precisa estar


interessado;

Se eles estão com raiva, você precisa ser


paciente;

Se eles estão agitados, você precisa conectar-se a


eles de forma calma;

Se eles estão com acesso intenso de raiva, você


precisa ter paciência extra, porém firmeza.”

Fale sempre com a intenção de restaurar e


fortalecer a conexão e o vínculo entre vocês. Parece
complexo demais conseguir manter o equilíbrio em
todos os momentos, mas acredite, faz parte do exercício.
A medida que a comunicação assertiva passa a entrar no
seu relacionamento com seu filho, torna-se uma
resposta natural e os efeitos são mais visíveis e
duradouros.

Lembre-se que o tom de voz e a linguagem


corporal são dois importantes componentes da
comuninção, e precisam estar em sintonia. O corpo diz
muito dos nossos sentimentos, portanto tome cuidado
para não contradizer palavras amigáveis com uma
postura inquieta e irritada.

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Quando se trata de crianças pequenas
precisamos considerar também a estatura de um adulto.
A altura pode confrontar com a segurança causando
sensação de autoridade e indiferença. Quando eles estão
chateados, você precisa descer ao seu nível, para que
eles possam vê-lo olho no olho.

1.2 Dicas para elaborar um vocabulário


assertivo
Cada família pode desenvolver seu próprio
vocabulário assertivo dentro do seu perfil e de acordo
com o seu estilo de linguagem, mesmo assim seguem
algumas dicas que podem ser utilizadas e/ou adaptadas
no seu cotidiano como primeiros passos:

Ao começar uma frase com “querida/querido” ou


“meu amor” você demonstra cuidado, carinho e amor ao
seu filho e abre um canal de comunicação mais leve. A
criança – e qualquer outra pessoa – tende a ficar mais
tranquilo ao ouvir o que vem a seguir quando o início de
uma conversa ou solicitação é feita de forma amável.

Uma alternativa para quando precisamos negar


um comportamento é usar “Agora não, querida! Quem
sabe depois do jantar ou amanhã.” (Falaremos mais
pontualmente sobre o uso do não na educação e saídas
alternativas, na sessão: Erro2 – Repreender
comportamentos usando o não).

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Substituir o uso do “você” por “nós” é uma ótima
maneira de construir um sentimento de inclusão e união.
Assim, a tendência é diminuir a rebeldia, argumentos e
desafios, incentivando a cooperação. Ou seja, ao invés de
dizer: “Você tem que escovar os dentes” é mais
adequado usar: “Agora nós vamos escovar os dentes”.
Usando essa linguagem inclusiva seu filho passa a se
sentir mais conectado a você e a família, tornado-se mais
cooperativo.

Volto a dizer que provavelmente não será nas


primeiras tentativas que você conseguirá bons
resultados. Moldar comportamentos exige persistência e
regularidade. Breve os frutos serão colhidos e farão
parte da rotina de forma natural.

Veja um pequeno trecho de comunicação


assertiva entre pai e filha de 5 anos de idade. Repare o
uso de palavras amigáveis, a inclusão de todos na tarefa
a ser realizada e a sugestão de uma alternativa para o
dia seguinte:

PAI: Querida, vamos escovar os dentes porque está na


hora de ir para cama.

CRIANÇA: Eu não estou cansada, por que eu tenho que


dormir?

PAI: É o que nós fazemos quando anoitece. Caso


contrário, estaremos cansados amanhã de manhã.

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CRIANÇA: Eu não quero, vou brincar mais um
pouquinho.

PAI: Hoje não, podemos brincar mais amanhã. Quem


sabe já escolhemos algum brinquedo para usar amanhã?
Eu gosto desse aqui. O que você acha? (…)

Valorizar e reconhecer um sentimento ou desejo


da criança tambem é uma excelente forma de conseguir
e/ou manter uma conexão com ela. Mesmo quando você
não pode ceder a um pedido (como um sorvete antes do
almoço ou no caminho de volta para casa), você pode
usar termos alternativos como "Isso é uma ótima ideia,
eu adoraria, mas não temos tempo agora” ou “Eu
entendo o que você quer/sente...” Compatilhar do
mesmo sentimento que a criança faz com que ela sinta-
se valorizada e conectada com você.

1.3 O que não fazer em uma comunicação


assertiva
Quando você bloqueia um comportamento
inadequado com palavras rudes, gritos ou raiva, você
não terá nenhum resultado positivo a longo prazo e
provavelmente provocará um impacto emocional
desagradável. Quando você questiona a criança sobre as
razões do comportamento e corrige de forma amável e
consistente estará criando uma consciência

19
comportamental no seu filho e um projeto de
cooperação e harmonia.

Ao invés de pré-definir porque seu filho está se


comportanto inadequadamente, faça a pergunta
primeiro, ouça suas razões, interfira de forma amigável,
usando linguagem assertiva e você ficará surpreso!
Quanto mais compreendemos e respeitamos nossos
filhos, mais eles nos respeitarão e se tornarão
colaborativos.

“E se meu filho me ignora?” Não exija uma


resposta imediata! Tente novamante, refaça, repense.
Tenha paciência e persistência. Algumas crianças
tendem a esconder a todo custo o que estão fazendo de
errado, por medo da punição/castigo. Pode demorar
algum tempo para que seu filho comunique-se
abertamente sem medo.

Se você realmente quer ter um relacionamento


cooperativo e respeitoso com seu filho você precisa
ensiná-lo que é seguro para ele ser honesto com você,
mesmo quando ele erra. Especialmente quando erra.

Então, consideramos que a comunicação


assertiva faz parte de um processo educacional entre
pais e filhos que buscam uma relação amigável, de
confiança, vínculo e cumplicidade. É no passo a passo do
cotidiano que esse processo vai se concretizando e os
pequenos frutos começam a surgir.

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A energia antes dedicada para brigas, desafios e
conflitos, passa a ser utilizada na troca de experiências
positivas, cooperação e momentos lúdicos.

Os pais ficam mais leves, tranquilos e motivados


para acompanhar o crescimento e a aprendizagem dos
seus filhos. E os filhos ficam mais seguros, autônomos e
felizes, construindo uma relação de amizade e confiança
pra toda a vida.

Erro 2 – Repreender
comportamentos usando o
“não”

A educação dos filhos é um processo complexo,


envolve rotina, disciplina e desafios. Muitas vezes esse
processo baseia-se na negação, ou seja, a maioria das

21
respostas dadas às perguntas e aos comportamentos
partem do NÃO.

Queremos sugerir uma ferramenta educativa


que tem o intuito de inverter essa lógica e provocar
resultados mais motivadores e satisfatórios na educação
dos filhos e no relacionamento familiar.

2.1 Compreendendo os efeitos do “não”


O que fazer quando seu filho lhe pede algo e a
resposta imediata seria “NÃO”? Nós, pais e educadores,
sabemos que quando isso acontece o resultado é oposto,
surgem birras, desafios, teimosia e acaba sendo um
gatilho para um conflito familiar.

É como se pudéssmos ver a expressão dos pais


quando precisam corrigir ou manter uma situação
através do “não”, com um pensamento: “Hum, agora já
sei que virá uma extensa discussão…”

Por mais que algumas vezes não achamos outras


formas de conduzir a situação, elas existem! E vamos
explorar esse tema aqui.

Inicialmente precisamos compreender o que é o


NÃO e seu significado na educação dos filhos. Sabemos
que algums pais usam com frequência excessiva essa
palavra, sem reflexão, apenas pelo impulso, pela
tentativa de evitar ou cessar o comportamento
inadequado.

22
Queremos encorajar aos pais a refletir e pensar
antes de usar o não e passar a prestar atenção para os
momentos que realmente seja válido usá-lo. Perceber
situações em que acabamos negando algo para não ter
que investir energia, tempo e emoção na resolução de
um problema ou participar de um momento com as
crianças.

Talvez na metade das vezes (ou mais) em que


dizemos não aos filhos estamos muito mais nos
afastando deles do que educando. Estamos evitando
resolver a situação que exija maior envolvimento,
vínculo e esforço, mas que podem trazer benefícios para
o seu crescimento e relacionamento familiar, fazendo
com que seus filhos tornem-se parceiros e
compreensivos.

Pense em um adulto que talvez você conheça,


que está sempre contrário às outras pessoas, se negando
a participar, a compartilhar e achando que sempre está
certo, sem considerar a opinião dos outros. Certamente
esta pessoa não é vista como amigável e companheira.

Agora reflita sobre a sua relação com seu filho.


Qual imagem ele está construindo? Que tipo de
relacionamento está se estabelecendo? Todos sabemos
que é importante alimentar a parcecia, o
companheirismo e o respeito, mas na prática, como é
possivel estabeler esses vínculos mantendo a disciplina?

23
Esse é ponto que queremos chegar. Não
queremos nos transformar no menino que gritava: Olha
o lobo! Tantas vezes que perdeu a credibilidade.
Queremos usar o NÃO de uma forma eficaz, para quando
precisar ser usado, cause maior efeito e seja levado a
sério.

Lembre-se, se você sempre usar o não para


coisas simples, pode impedir a criança de experiementar
novas possibilidades, testar seus conhecimentos, criar
hipóteses, buscar novidades na vida. Claro que aqui não
se trata de passar por cima das regras da casa ou deixar
a criança em risco, mas explorar situações cotidianas
desde se sujar em alguma brincadeira, alimentar-se
sozinha até escolher suas roupas ou preparar seu
próprio prato.

2.2 Método da cooperação


Ao invés de proibir que a criança brinque no
barro, que tal se sujar junto? Nem sempre é possível
deixar os afazeres, mas garanto que você ganhará alguns
pontos no vínculo com seu filho e quando precisar negar
tal situação terá melhor aceitação por parte dele.

Outro exemplo: A criança pede um doce perto do


horário do jantar. Todos sabemos a resposta padrão:
“Não! Agora não é hora”. E justamente não é um
momento adequado, pois irá alterar o apetite e não se
alimentará de forma satisfatória. Porém, como achar o
equilíbrio? Tente inverter a lógica. Ao invés de podar o

24
pedido do seu filho, mostre a ele que você compreende o
que ele quer e que talvez você também passe/passou
por isso. “Ah, voce gostaria de um doce? As vezes eu
também tenho vontade de comer doces. Vamos jantar e
depois comemos juntos”.

Nem sempre é assim tão fácil proceder dessa


maneira, porque as crianças tentarão de outras formas
conseguir o que querem. Veja o passo a seguir para
continuar lidando bem com a situação.

2.3 Método da distração


Num primeiro momento você vai precisar
aprender lidar de forma tranquila com choro, birra,
chantagem, distraindo a criança de forma natural.
Sempre demonstrando que você entende o problema. No
método da distração, a sugestão é iniciar um diágolo
envolvendo o assunto, mesmo que inicialmente você
faça as perguntas e precise respondê-las: “Você gosta de
doces? Qual sabor prefere? Eu gosto de chocolate com
creme…”. Quando conseguir envolver a criança na
conversa é hora de ir trocando de assunto.

Provavelmente você pode pensar que esse


método não dará certo na sua casa, por vários fatores,
(que na verdade são várias desculpas para não encarar a
mudança), porque à primeira vista parece muito mais
fácil dizer não ao doce e aguentar alguns (muitos)
minutos de choro.

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Porém, não é um resultado educativo e essa
situação se repetirá por inúmeras vezes. É preciso
assumir o compromisso de educar, que é um caminho
longo, mas traz recompensas imensuráveis para a vida
inteira.

2.4 Paciência, persistência e resultado


Saiba que a partir do momento que você
conseguir dar esses primeiros passos e estabelecer com
seu filho esse vínculo de cumplicidade, com certeza o
processo se inverte e fica mais tranquilo criar e manter
as regras da casa.

Esse método envolve paciência, persistência e


resultado. O comportamento infantil geralmente é
resposta ao comportamento adulto. É o contexto que os
pais criam que determina a frequência e a intesidade do
comportamento dos filhos. Repetir seguidas vezes a
palavra NÃO, para intensidades diferentes causa, além
de confusão nas regras, pouco efeito para evitar
comportamentos.

É importante avaliar e modificar a forma de


estabeler regras e limites, diminuindo o uso do NÃO em
situações dispensáveis. Encontrar formas alternativas de
contornar situações inadequadas e construir com seu
filho um canal aberto. Assim, você entra no mundo dele
como aliado, estimula a autonomia e cooperação no
cumprimento das regras e nas relações familiares.

26
Para colocar em prática essas dicas, você deve
seguir esses passos: em primeiro lugar pense ao longo
da última semana e considere todas as vezes que você
negou um pedido que realmente não precisava ser
negado. Seja honesto com você mesmo e veja se você
está apenas sendo preguiçoso ou sem criatividade.

Em segundo lugar pense em alguns momentos


em que você negou ao seu filho algo e que resultou em
uma briga. Agora volte e aplique uma solução alternativa
usando um dos dois métodos (cooperação e/ou
distração). Faça isso por algumas situações que
aconteceram ao longo da última semana, que você possa
lembrar.

E em terceito lugar procure pelo menos 3 ou 4


boas oportunidades de usar essas ferramentas a partir
de hoje. Você pode começar devagar e vai melhorar a
cada esforço. Em breve será completamente natural e
fácil. Você realmente vai perceber que está construindo
um vínculo sólido com seus filhos e que as regras vão se
tornando algo incluso na rotina, dispensando cobranças
e desgastes. Assim, sobrará mais tempo para criar,
desfrutar e curtir o crescimento dos seus filhos.

27
Erro 3 – Não disponibilizar
tempo para momentos em
família

Os momentos entre pais e filhos são uma ótima


maneira de construir a fundação para uma família
cooperativa e feliz. Os benefícios dessa técnica são
muitos.

Em primeiro lugar atende as necessidades dos


filhos para uma sensação de participação e inclusão. Em
segundo lugar, as necessidades de atenção, informação e
autonomia. E em terceiro, estar disponível para
momentos em família ocupa um espaço onde você e seu
filho podem tanto ouvir uns aos outros, como ouvir a si
próprio.

28
Sem esse nível de comunicação, a cooperação é
impossível de ser alcançada de forma espontânea.

Estar em família aborda um espírito positivo e


otimista na resolução de problemas. Não se trata de
nomear culpados ou explicitar consequências ruins para
os comportamentos. É um espaço onde todos os
membros podem construir o hábito de trabalhar em
equipe ao compartilhar seus pensamentos, sentimentos
e respeito uns com os outros.

Nesses momentos podem ser discutidos planos para o


futuro, mudanças na rotina, novidades e dificuldades.

Isso cria um ambiente de grande estímulo, onde


as crianças podem ter várias necessidades atendidas de
uma vez. É um momento onde elas se sentem envolvidas
e incluídas nas decisões familiares. Com certeza, irá
resultar no efeito de torná-las mais cooperativas quando
precisar fazer algum acordo ou mudança.

A intenção principal dos momentos em família é


a conexão entre os membros, aprensentando ideias,
negociando tarefas, levantando os problemas e
sugeriando hipóteses solucionadoras. Lembre-se de
utilizar as técnicas recomendadas na sessão "Erro 1",
sobre comunicação assertiva, pois o ponto fundamental
a ser desenvolvido (que seu filho sinta-se conectado com

29
você e com a família) é mais facilmente mantido com
linguagem e postura apropriadas.

Se a família perceber que a criança está


chamando atenção, ela realmente precisa de atenção,
mas é necessário inverter a lógica. Dar atenção em
momentos bons e não somente na hora do
comportamento inadequado, para que ela associe que a
presença dos pais é mais frequente quando ela está
cumprindo as regras e não o contrário.

Além disso, a família deve ter momentos lúdicos,


como jogos, brincadeiras, músicas e outras ideias que
vocês podem construir. Esses momentos de
descontração facilitam a construção de um vínculo de
conexão.

Brincar e participar são pontos importantes na


relação pais e filhos, garantia de vínculo para vida
inteira. Brincar não é somente sentar perto ou ao lado
enquanto a criança brinca, fantasia, assiste TV e circula
pela casa. É inventar coisas novas, sentar junto, criar,
construir e derrubar, relembrar suas brincadeiras,
ensinar, conversar...

Portanto siga passos lentos, preocupe-se em


estar totalmente disponível no momento com os filhos,
deixando pensamentos do trabalho, internet e celular de

30
lado. Foque sua energia na construção do vínculo com
sua família.

Se você estiver frustrado, tenso ou de mau


humor é melhor deixar para realizar as brincadeiras em
outro momento. Ouça o seu bom senso. Mantenha em
mente os passos trabalhados. Uma atmosfera leve e
descontraída é uma ótima saída para resolver problemas
de forma criativa e dinâmica.

31
Erro 4 – Agir impulsivamente,
depois refletir

Como pais, se quisermos compreender nossos


filhos, presisamos ir além do comportamento em si,
daquilo que estamos vendo. Precisamos desenvolver o
hábito de perguntar a nós mesmos: “Por que meu filho
se comporta assim?”. Ir em busca da compreenção do
contexto. Quanto mais nos preocuparmos com essa
questão, estaremos mais perto de resolver
comportamentos desafiadores.

Frequentemente os comportamentos
inadequados não estão intimamente ligados ao
momento exato em que ocorrem, podem ser respostas
de dificuldades emocionais, angústias, medos e
construções equivocadas da realidade.

Na próxima sessão "Erro 5 - Ignorar a raiz do


problema", desenvolveremos métodos para identificar a
raiz do problema (que resulta no comportamento
desafiador) e como abordá-lo com seu filho de forma
eficiente.

32
Tentanto corrigir o comportamento com a
imposição de regras, punições, ameaças e recompensas é
como maquiar o topo do iceberg. A maior parte dele
ainda está por ser resolvida e com certeza os
comportamentos inadequados vão reaparecer (as vezes,
multiplicados!).

Somente abordando a raiz do problema, você terá


efeitos significativos e terá a capacidade de fazê-los
mudar o padrão de comportamento desafiador.

4.1 Refletindo e colocando em prática


Agora você já tem alguns materiais para pôr em
prática com seu filho, descritos nos capítulos acima. É
hora de investir tempo e energia para começar a
construir uma relação verdadeira com ele. Releia alguns
passos e identifique situações do cotidiano onde você
possa aplicá-las.

Assim como leva algum tempo para aprender


qualquer nova habilidade até tornar-se um hábito, você
também vai precisar passar por etapas. Como por
exemplo, aprender a dirigir um carro: pode parecer
difícil para algumas pessoas no primeiro contato, pois
precisam considerar vários aspectos (sinalização, troca
de marchas, outros veículos, velocidade) e tomar um
decisão (acelerar, freiar…).

Com o passar o tempo, logo esses pensamentos e


atitudes parecem que se tornam automáticos, mas

33
mesmo assim continuam seguindo o mesmo método que
você aprendeu.

Pense nesse exemplo como a educação dos seus filhos.


Reflita sobre tudo que você acabou de ler e saiba que a
medida que você conseguir colocar em prática, esse
método de educação irá fazer parte do seu dia a dia. Vale
a pena tentar!

34
Erro 5 – Ignorar a raiz do
problema

Uma criança pode sempre ensinar


três coisas a um adulto:
a ficar contente sem motivo,
a estar sempre ocupado com alguma coisa,
e a saber exigir- com toda a força- aquilo que se deseja.
Coelho, P.

Para identificar as razões do comportamento o


primeiro passo é parar de reagir
rapidamente/impulsivamente ao comportamento
infantil. Temos a tendência de querer encontrar logo
uma solução, acalmar a criança e só depois refletir sobre
o comportamento dela – e o nosso. Na maioria das vezes
ficamos aprisionados às palavras, à postura e ao tom de
voz.

É preciso lembrar que a lógica do pensamento


infantil e sua construção de hipóteses é diferente da
lógica adulta. Precisamos considerar que algumas vezes
as crianças recortam traços da realidade e elaboraram
de uma forma particular suas construções mentais.

35
Portanto, essa resposta nem sempre é óbvia e
fácil de identificar. É indispensável considerar todo o
contexto, comportamentos anteriores, situações
parecidas e consequências (antes, durante e depois).

Veja um exemplo: Uma menina de oito anos, a


qual daremos o nome fictício de Carla, sempre foi muito
bem adaptada à escola e começou a chorar
frequentemente ao despedir-se do pai no horário das
aulas. Nós adultos podemos pensar que a raiz do
problema está na escola, com a professora, com os
colegas da turma ou até mesmo com o conteúdo escolar.

Na verdade essa era a forma como ela conseguia


expressar a angústia e o medo de perder o pai, já que em
outro momento tinha ouvido um trecho da corversa em
que ele dizia para o filho mais velho: “Você tem que se
interessar pelos assustos da família e da empresa, pois
quando eu não estiver mais aqui, você será o
responsável”.

Numa interpretação infantil “quando eu não


estiver mais aqui” pode ser daqui a pouco, alguns dias ou
algumas horas. É uma informação de difícil
compreensão por não ter dados concretos e contar
apenas com o imaginário infantil, que como citamos
acima, trata-se de uma lógica de pensamento diferente
da nossa.

36
Com 8 anos de idade, sem dados concretos e
imaginação a mil, essa criança ainda não conseguia
palavras para expressar sua angústia. Não encontrava
formas de elaborar seu medo, então chorava. Outras
repostas, em outros casos poderiam ser: isolamento e
afastamento social; irritação e agressividade; problemas
de rendimento escolar, agitação e comportamento
desafiador.

Este exemplo serve para que os pais se


desapegem de hipóteses prontas e do mito de tentar
encontrar razões no próprio comportamento. A ideia é
estarmos abertos para avaliar todos os aspectos e
sabermos que as crianças transportam emoções e
sentimentos para outros locais e outras situações. O
comportamento e sua razão nem sempre estão “colados”
um ao outro.

Por isso, sempre que percebemos uma mudança


de comportamento, seja ela mínina, precisamos parar e
avaliar: Onde pode estar a raiz do problema?
Passaremos agora uma breve lista de 3 motivos para o
comportamento desafiador que vão auxiliar você a
compreender o contexto do comportamento inadequado
e responder à raiz do problema e não mais ao
comportamento em si. Assim, suas chances de sucesso
na educação dos seus filhos aumentam e você se tornará
pai/mãe mais assertivo no desenvolvimento emocional
deles.

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A) Necessidades legítimas não satisfeitas:

Seu filho pode ter alguma necessidade não


atendida e ele busca outras formas de obter essa
realização. As necessidades podem ser de ordem afetiva
e/ou biológica, portanto - volto a reforçar - avalie o
contexto. Considere os seguintes pontos: atenção,
carinho, pertencimento social, autonomia, descanso,
exercícios físicos, alimentação saudável, estimulaçao
adequada, informação e expressão criativa.

B) Estresse:

Seu filho pode ter um acúmulo de pressão física


ou emocional, tensão ou dor. Esse tipo de estresse
impede a criança de pensar com clareza. É comum as
crianças terem dificuldades de compreender e expressar
emoções fortes como medo, raiva, ressentimento,
decepção, confusão, culpa e insegurança.

C) Modelos:

Sabemos que as crianças aprendem através de


modelos. Elas aprendem a falar, andar e se relacionar
através dos exemplos de modelagem que encontram no
seu dia a dia.

Seus primeiros modelos são os pais. Outros


membros da família, professores e amigos também são
modelos.

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Todos fornecem exemplos de comportamento,
ideias e caracteríticas que servem de modelos para bons
e maus comportamentos.

Outras vezes, histórias de livros, brinquedos,


mitos, revistas, jogos e televisão também podem ser
considerados modelos de comportamento imitados
pelas crianças.

Num primeiro momento, pode até parecer uma


análise simplificada demais para padrões de
comportamento tão complexos. Mas podemos afirmar
que o resultado de muitas pesquisas e investigações
clínicas indicam que essas 3 razões fundamentam uma
lista incontável de problemas comportamentais e
emocionais.

Por isso analisar o comportamento somente no


momento em que ele ocorre, pode não nos trazer
respostas satisfatórias. É necessário ir além, remontar o
contexto e reunir o maior número de informações
possíveis.

Erro 6 – Usar punição para o


mau comportamento

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Educar, ensinar regras e estabelecer limites
através da punição não se trata de um médoto assertivo
e eficaz a longo prazo. O mau comportamento começa
com um desafio, um teste do auto controle dos pais, que
geralmente causam conflitos e atritos na família. A
resposta que os adultos dão a esse comportamento é que
vai influenciar os novos comportamentos. A repetição do
desafio gera o hábito de comportar-se mal.

Geralmente quando respondemos de forma


imediatista e não consideramos a raiz do problema,
estamos incentivando ainda mais os comportamentos
inadequados sem mesmo perceber.

Encobrimos o contexto do mau comportamento


e por mais que a criança não tenha mais “aquela” atitude
específica, vai demonstrar seu deafio em outras
situações, ou seja, não significa que ela aprendeu a
comportar-se bem e respeitar as regras, mas sim, mudou
o tipo de desafio (birras, negação, comportamento
opositivo…)

A punição pode ser exemplificada com a


tentativa de impor limites através de gritos, palavras,
posturas agressivas, incentivo ao medo de algum
objeto/pessoa/personagem, perda de algum brinquedo
ou passeio e o castigo.

Se analisarmos nossas tentativas de educar onde


a via utilizada é a punição veremos que poucas vezes

40
nosso objetivo foi alcançado. Não tivemos êxito, ou no
máximo foi uma solução momentânea.

Logo o comportamento irá se repetir ou como


citamos acima, irá se moldar como um desafio
“diferente” da próxima vez.

Hoje podemos afirmar, baseado nas pesquisas


comportamentais, que muito mais significativo do que
tirar algo (punir) é acrescentar.

Acrescentar, não significa necessariamente


recompensar, dar presentes ou guloseimas. Essa postura
também traz somente soluções temporárias e não uma
educação eficaz.

Quando falamos em acrescentar estamos nos


referindo à relação pais e filhos, utilizando as técnicas
sugeridas, disponibilidade, motivação, afeto e atenção na
dose certa, equilibrando responsabilidade e confiança.

Erro 7 – Dar explicações


excessivas sobre os
comportamentos errados

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A educação familiar, assim como os conceitos de
sociedade passam por transformações ao longo do
tempo, variam conforme as regiões e épocas, mas a linha
de pensamento se difunde próximo de um mesmo
padrão.

Há tempos atrás, o regime educacional era


considerado mais rígido, baseado em exigências e regras
inflexíveis – tanto na família, quanto na escola – criança
era criança e não podia participar de momentos com os
adultos, compartilhar suas opiniões e nem mesmo
receber explicações sobre as decisões familiares e
questinonar sobre as regras.

Depois, com o passar dos tempos e influência de


diversos autores e pesquisadores, começou-se a
considerar a criança com um integrante da família, co m
voz e vez. Era o surgimento de um período oposto, mas
ainda sem muitas bases concretas.

A criança passou a ser vista como alguém cheia


de direitos, mas com poucos deveres e os pais perderam
o controle da situação. Passaram a ser “escravos da
explicação”: tudo tem que ser explicado, considerado,
argumentado.

Agora estamos num momento histórico, em


busca do equilíbrio perdido. Uma relação harmoniosa,
mas sem que se perca o papel de cada um – pai e filho,
adulto e criança.

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Sem sombra de dúvida, sabemos da importância
de considerar a opinião da criança, ouvi-la, incentivar e
aceitar sua participação no cotidiano da família e dar
explicações pontuais, mas sem perder a posição de pais.

Quando uma atitude é inadequada ou queremos


que a criança cumpra uma regra é indispensável sim, a
explicação e os motivos para a exigência. Mas isso não
deve se estender além do momento da conversa.

Digo isso, porque na maioria das vezes a criança


já sabe qual é a explicação da regra, as consequências do
seu comportamento e o motivo de não ser adequado, no
entanto, ela continua o ciclo de repetição.

Portanto, é necessário corrigir, usar uma breve


explicação (como relembrar), mas esse não é o foco para
a mudança comportamental, pelo contrário, gera
margem para discussão, a criança exige respostas cada
vez mais argumentativas e corre-se o risco de perder o
controle da situação, caindo inclusive em outros erros
descritos nesse livro.

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Erro 8 – Abusar dos elogios
(sem correlação com o
comportamento)

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Elogio, incentivo e reconhecimento são aliados
indispensáveis para a construção de um repertório
comportamental adequado. Quando estamos realizados
com o comportamento de um filho e queremos que essas
atitudes se repitam, elogiamos, elogiamos e elogiamos.

Mas, qual é o problema? Realmente o elogio é


uma das maneiras mais fortes para influenciar e motivar
o comportamento. Ele pode ser o ingrediente essencial
para melhorar ou piorar um comportamento, se usado
indevidamente.

O resultado depende da qualidade do elogio e do


momento em que ele é feito. Muitas vezes os pais
oferecem comentários positivos em abundância para
seus filhos e sem relação com o comportamento.

Assim, o elogio perde sua função incentivadora e


de valorização, podendo inclusive prejudicar ou até
mesmo reverter o seu potencial positivo sobre o
comportamento de uma criança.

Ou seja, o elogio precisa ser resultado de um


esforço, um caminho percorrido pela criança (mesmo
que sejam pequenos passos), mas que tenham algum
significado de valorização.

Quando usado em excesso, sem critério, elogio


para tudo e para todos, sem o envolvimento da criança
na tarefa, torna-se vazio. Não contribui para reforçar o

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bom comportamento e pode influenciar a falta de
empenho nas conquistas do dia a dia.

Ouvir elogios centenas de vezes, repetidos por


vozes diferentes até que as palavras não tem significado
e a qualidade de seu efeito é muito pequena, causa a
perda do alvo para ambas as partes. “Ora, se mesmo sem
esforço obtenho recompensa afetiva, nao há motivo para
empenhar-me numa mudança comportamental.”

Reflita sobre o uso do elogio na educação do seu


filho, relembre situações que distraidamente você possa
ter dado elogios sem correlação com comportamentos
adequados, empenho e envolvimento.

O contrário também é verdadeiro, repense em


momentos que você poderia ter refoçado bons
comportamentos através do elogio e pelo excesso de
tarefas ou cansaço cotidiano deixou passar a
oportunidade.

Faça uma breve lista (mental ou escrita) de


comportamentos que você considera importantes,
comece com itens do dia a dia, coisas que parecem
simples, mas que são conquistas da criança (colocar um
calçado, retirar seu prato da mesa, agradecer quando
recebe algo, colaborar com a organização...) e elogie com
ênfase.

Esta é uma das técnicas que quando usada com


reflexão e equilíbrio é uma excelente aliada na educação

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dos filhos, inclusive no aspecto da autoestima e
autoconfiança da criança.

Erro 9 – Ser permissivo e tentar


compensar o tempo perdido

A vida corrida e o ritmo acelerado de trabalho é


rotina na maioria das famílias nos dias de hoje. O
excesso de afazeres, sejam eles profissionais ou
domésticos nos obriga a dedicar grande parte do nosso
tempo a essas atividades. E o tempo que sobra? “Bom, as
vezes nem sobra.” Essa é a resposta de muitos pais e

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mães que procuram orientação na clínica ou mesmo na
troca de experiências com outros pais, sobre suas
dificuldades na educação dos filhos.

Pior do que ter pouco tempo (e disposição


depois de um longo dia de trabalho) para dedicar-se aos
filhos é ser dominado por um sentimento de culpa,
compensação e permissividade.

Muitas vezes, os pais preferem ceder, ignorar e


relevar situações importantes para evitar conflitos, sem
ter que fazer exigências, ensinar regras e limites,
estipular respeito e organização.

Já falamos aqui o quanto a resposta dos pais ao


desafio infantil é determinante para o comportamento
se repetir ou ser reforçado. Essa atitude de compensação
mostra para a criança, dentro da sua lógica infantil o
quanto ela está no controle da situação e que pode
construir suas próprias “regras”.

Tudo isso é de fato muito trabalhoso, é uma


construção diária, mas estamos falando de crianças que
em breve irão se tornar adultos, baseados nos valores e
atitudes que aprenderam desde cedo.

Então, aqui cabe uma reflexão de como é


possível reorganizar a rotina, de forma que vocês pais,
consigam ter mais motivação para estarem disponíveis
verdadeiramente com seus filhos – mesmo que a
quantidade de tempo não seja possível de alterar.

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Quero ressaltar que essa mesma lógica vale para
pais divorciados ou que não convivem na mesma casa. É
uma situação extremamente comum, quando um dos
pais não tem acesso diário a criança e tenta repor seu
afeto através da recompensa com presentes e até
mesmo com o excesso de permissividade.

Isto pode gerar na criança uma dificuldade de


aceitação da rotina e das regras, insegurança, desafios e
desrespeito.

Erro 10 – Eximir seu filho das


responsabilidades

Ter filhos é um sentimento contraditório, tarefa


difícil. Vibramos com cada conquista, cada etapa,
queremos ver os filhos crescendo, realizando sonhos.
Mas ao mesmo tempo, temos o desejo de mantê-los no
nosso “ninho”, sempre perto, sempre no “colo”.

Para muitos pais, é difícil desapegar-se do “bebê”


e deixá-lo crescer. Acabamos muitas vezes demorando
para atribuir algumas responsabilidades e tarefas por
achá-los ainda pequenos e imaturos.

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Erramos, tentando acertar. Mas o fato é que
ensinar autoestima e responsabilidade precisa começar
desde muito cedo. Tanto nas atitudes simples do dia a
dia como nas relações com as pessoas envolvendo ética,
respeito e humildade.

Como já falamos aqui, as crianças aprendem pelo


exemplo e pelo espelho das nossas respostas em cada
situação.

Quando a criança comete algum erro,


principalmente que prejudique outra pessoa ou cause
transtornos é importante que ela saiba da consequência
dos seus atos e tenha responsabilidade sobre eles.

Um exemplo simples é o pedido de desculpas.


Muitos pais e mães assumem essa atitude no lugar dos
filhos. A criança nega-se a desculpa-se e os pais acabam
fazendo isso no seu lugar, com outras crianças ou outros
adultos.

Outro exemplo que podemos citar é quando uma


criança, descumprindo a regra estabelecida, joga bola
dentro de casa e quebra algum objeto. As vezes os pais
caem na cilada de encobrir a responsabilidade do filho,
ignorar o fato ou dizer que foi sem querer.

É claro que consideramos que acidentes


acontecem, quebrar um copo, sujar uma roupa, etc., mas
nesse exemplo, a criança já conhecia a regra da casa e
descumpriu um combinado. Assim, ela assumiu o risco

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dos seus atos e nesse caso a consequência de ter
quebrado um objeto.

Uma sugestão seria, utilizando uma linguagem


assertiva, negociar com a criança para repor a compra
do objeto ou de outro item no lugar, seja através da sua
mesada ou diminuindo o número de passeios e lanches
para conseguir a “economia” necessária, mesmo que seja
um valor simbólico.

Não se trata somente de uma questão financeira,


mesmo que a família tenha condições que comprar ou
refazer a decoração da casa, mas sim de instituir
responsabilidade sobre os atos. Veja que não usamos
agressividade, castigo e nem ignoramos o fato, mas
envolvemos a criança na resolução do problema e com
certeza as chances desse comportamento – e outros
inadequados – voltarem a acontecer, diminuem
consideravelmente.

Além de tornar a rotina da família mais


harmoniosa, as crianças sabem desde cedo que errar é
humano, mas existe responsabilidade sobre os erros.
Quando são compreendidas nas suas dificuldades e
auxiliadas nas resoluções de forma amigável, tornam-se
mais justas, honestas e éticas nas suas relações.

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Algumas considerações e
próximos passos

Ser pai e mãe é um desafio constante, difícil,


cheio de altos e baixos, porém gratificante,
recompensador quando conseguimos ver nossos filhos
caminhando com os próprios pés e conquistando seus
ideais, mas sem se distanciar dos valores positivos que
tentamos ensinar desde o nascimento.

Mas esses planos para o futuro e realizações a


longo prazo se perdem no cotidiano de algumas famílias
que mal conseguem sentar para jantar em família sem
atritos e complicações.

O mau comportamento infantil, desafios e


dificuldade de lidar com situações conflituosas causa
uma frustração nos pais e principalmente um
reforçamento no comportamento inadequando dos
filhos.

Esse ciclo tende a crescer, enfatizado pela rotina


acelerada da família, erros cometidos na educação, falta
de tempo e motivação, atitudes impulsivas e dificuldade
em instituir/aplicar regras de uma maneira assertiva.

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Aqui você encontrou algumas dicas para refletir
e aplicar na educação dos seus filhos, visando a
mundança na relação familiar e comportamental.

Cabe aos pais ou pessoas de referência OUVIR a


criança de forma aberta, colocar-se a disposição de
corpo e mente. Identificar pequenas situações, associar,
construir e reconstruir hipóteses, brincar, deitar e rolar,
fortalecer o vínculo com seu filho e ajudá-lo na
elaboração dos seus sentimentos e emoções.

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