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EDIÇÃO I

OUTUBRO / NOVEMBRO 2013

Perícia a serviço
da sociedade
Especialistas apontam necessidade
de fortalecimento da criminalística em
defesa dos Direitos Humanos
PÁG.12

Entrevista: Regina Miki


revela desigualdades na
perícia brasileira
PÁG.8

As tecnologias para
investigar os crimes
virtuais
PÁG.10

Opinião: Iremar Paulino


comenta os novos tempos
PÁG.30
Sumário

6 Manual de padronização de procedimentos da


perícia é apresentado em congresso 20 Empresas apresentam soluções desenvolvidas para o
trabalho de criminalística

XXII Exposição de Tecnologias


4 Editorial 20 Aplicadas à Criminalística

5 XXII CNC na mídia 22 A neurociência e a escrita


6 Uma questão de padrão 22 O perito das catástrofes

8 Entrevista: Regina Miki 23 Perfil: Christian Costa


10 A perícia no mundo virtual 23 Perfil: Rafael Farnese

12 Especial: Perícia criminal em debate 24 Técnica dá cara aos mortos


18 Coffee Break 26 Flashes do XXII CNC


19 Aconteceu no XXII CNC 30 Artigo: Novos tempos para a perícia



5
XXII CNC na Mídia

editorial
D
esde sua primeira balho de muitos peritos criminais
edição, em 1947, o atuando para o crescimento da
Congresso Nacional perícia.
de Criminalística (CNC) vem
acompanhando o desenvolvi- O lançamento dos POPs (Pro-
mento da perícia criminal bra- cedimentos Operacionais Pa-
sileira e, a cada dois anos, teste- drão), coordenado pela SENASP,
munhando seu crescimento e é a concretização de um esforço
sua história. A cada novo en- conjunto de mais de 30 peritos
contro dos peritos criminais nas criminais de todo o país, que se
mais diversas cidades brasilei- reuniram voluntariamente em
ras, a Associação Brasileira de Brasília, para produzir sugestões
Criminalística (ABC) possibilita de protocolos que devem ser o Criminalística será lembrado,
a oportunidade de atualização, princípio de um dos mais sólidos no futuro, como uma referên-
confraternização, e debate dos passos na direção de uma ho- cia para a perícia criminal. Es-
destinos da perícia no país. mogeneização das perícias em tamos assistindo o nascimento No dia da abertura, a equipe da Band conversa com Gustavo Dalton Edson Ferraz conversa com Joseph Blozis: matéria para o DFTV 2ª Edição
todo o país. de uma perícia mais madura,
A Associação Brasiliense de Peri- preocupada com sua importân-
tos em Criminalística (ABPC), A Frente Parlamentar em de- cia para a sociedade, e sua
realizadora da XXII edição, or- fesa dos interesses da perícia participação na construção de
gulha-se de ter feito parte de é, também, um reflexo de es- um Brasil mais justo.
mais um importante passo para forço de peritos criminais de
a evolução da perícia brasileira. todo o país, na busca de repre- Parabéns a todos os peritos
sentantes que defendam os in- criminais que participaram deste
Neste ano de 2013, véspera da teresses dos Direitos Humanos, grandioso passo para o futuro.
Copa do Mundo no país do fute- da sociedade e da justiça.
bol, conseguimos marcar o CNC
como uma referência de grande Não há dúvidas de que este Gustavo de Carvalho Dalton
evento. Esta edição reflete o tra- XXII Congresso Nacional de Presidente da ABPC

expediente
Gustavo de Carvalho Dalton Assessoria de
Rafaela De Cesare Parmezan Toledo
Dércio Denis de Azevedo Martins
Imprensa e Redação O SBT mostrou ao vivo as novidades
TV Justiça também esteve presente no XXII CNC
Caminhão da Record: TV fez uma
Revista Carolina Queiroz Borges
da exposição matéria ao vivo para o DF no ar

Publicação eletrônica do XXII Congresso Rosilane Maria Ribeiro Pena Proativa Comunicação
Nacional de Criminalística, realizado pela Elmo Resende 61 3242-9058
Associação Brasiliense de Peritos em Jessica Amanda Oliveira da Fonseca proativa@proativacomunicacao.com.br
Criminalística (ABPC) e pela Associação
Brasileira de Criminalística (ABC) COMISSÃO CIENTÍFICA Jornalista Responsável
ABPC Gustavo de Carvalho Dalton Flávio Resende – RP 49.03-DF
SAISO Complexo da Polícia Civil, Bloco C Fábio Vasconcelos Braga
CEP: 70610-200 – Brasília-DF Cássio Thyone Almeida de Rosa Edição
Telefone/Fax: (61) 3361-0771 Luciano Chaves Arantes Kadydja Albuquerque – DRT 2425-3 / RJ
www.abpc-df.org.br Dércio Denis de Azevedo Martins
abpc.df@gmail.com Juliano de Andrade Gomes
Bruno Telles Reportagem
ABC Charles Albert Andrade Larissa Leite – MTB 65.463-DF
CLSW 504, Centro Comercial Sudoeste, Rafael Farnese
Nayara Machado
Bloco B, sala 155 Jabes de Lima Ricardo
CEP: 70.673-000 – Brasília-DF
Telefone: (61) 3361-9149 Presidente da ABPC Criação e Editoração
www.abcperitosoficiais.org.br Gustavo de Carvalho Dalton Mauro Baggio

COMISSÃO Presidente da ABC Fotografia


ORGANIZADORA Iremar Paulino Miguel Ribeiro

Roberta Machado, repórter do Correio Braziliense, Gustavo Dalton em entrevista para a TV Globo Brasília
no estande da Cellebrite
6 7
Panorama DA PERÍCIA

Os profissionais que vêm de fora ficam impres- diretora do Departamento de Pesquisa, Análise
sionados com a capacidade e o conhecimento da Informação e Desenvolvimento da Senasp,
que a gente tem. Mas os equipamentos chegam também estão os centros regionais de perícia
pra gente com atraso”, desabafa. para realização de exames complexos e rotinei-
ros; o Sisbala, banco de dados de caracterís-
Durante a cerimônia de abertura do XXII CNC, a ticas balísticas para identificação de armas; e
secretária nacional de Segurança Pública, Regina a capacitação dos profissionais envolvidos na
Miki, anunciou o aporte de R$ 53 milhões para a produção de prova técnica.
perícia brasileira. Os investimentos serão feitos
em equipamentos, para as seguintes áreas da POPs
criminalística: local de crime, balística, medicina A necessidade de padronização dos procedimentos
legal, química, DNA, identificação e informática. operacionais foi uma das principais constatações do
levantamento. O diagnóstico mostra baixo percen-
O investimento integra o programa Brasil Mais tual de procedimentos operacionais padronizados
Seguro, do Ministério da Justiça, que tem nas unidades centrais de Criminalística, Medicina
como objetivo a redução de crimes violentos. Legal e Identificação, em relação à coleta e pro-
“Se há carência de pessoal, de equipamentos e cessamento de vestígios. Em cerca de 78% das
de capacitação, mais do que tudo, a principal unidades centrais de Criminalística verificou-se a
constatação deste diagnóstico aponta para a inexistência de padronização de procedimentos
necessidade de reformulação da gestão de crimi- sobre coleta de vestígios, por exemplo.
nalística, serviço fundamental para a proteção
dos direitos humanos e para o fortalecimento do Durante a cerimônia de abertura do XXII CNC,
arcabouço probatório e a consequente redução a secretária nacional de Segurança Pública, Re-
da impunidade”, explicou Miki. gina Miki, apresentou manual que reúne os 24
Procedimentos Operacionais Padrão (POP’s)
Entre as ações destacadas por Isabel Figueiredo, desenvolvidos.

Secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, na apresentação dos POPs

Uma questão
Inexistência de padronização
de procedimentos sobre coleta
de vestígios

de padrão 78%
48%
69%
das
das
das
Unidades Centrais de Criminalística
Unidades de Medicina Legal
Unidades Centrais de Identificação
Estudo revela que mais da metade das unidades centrais de Criminalística, 36% dos Laboratórios Autônomos
Medicina Legal e Identificação não possuem procedimentos operacionais
padrão para coleta e armazenamento de vestígios, denunciando fragilidades
na gestão da atividade pericial
Inexistência de padronização de
E
studo da Secretaria Nacional de Segurança A secretaria buscou levantar dados sobre o in-
Pública (Senasp), realizado nas unidades de vestimento feito nas perícias pelos estados, e procedimentos de processamento
criminalística de todo o país, aponta a ne- constatou falta de conhecimento do orçamento
cessidade de padronização da perícia no Brasil. ou ausência de acompanhamento da execução de vestígios
Entre os pontos problemáticos, o documento lan- orçamentária na maioria dos estados.
çado no início deste ano chama a atenção para a 59% das Unidades Centrais de Criminalística
escassez de dados sistematizados na maioria dos A grande diferença existente entre os esta-
estados da federação e o fato de os gestores, dos e falta de equipamentos são apontadas 63% das Unidades de Medicina Legal
muitas vezes, ignorarem suas instituições. pelos profissionais da área como o principal 66% das Unidades Centrais de Identificação
problema. Para Antônio Neto, perito criminal 18% dos Laboratórios Autônomos
O diagnóstico ressalta o desconhecimento que a de Pernambuco, o grande problema da perícia
perícia criminal brasileira tem de si mesma, não brasileira está na falta de equipamentos. “Os
apenas no âmbito nacional, mas também no local. peritos brasileiros têm uma capacitação ótima.
8 9
ENTREVISTA

REGINA MIKI

o desafio de igualar
os desiguais
A
noite de abertura do XXII Durante a sua fala, a senhora


CNC teve a presença da
chefe da Secretaria Na-
cional de Segurança Pública (Se-
mencionou a visita que fez nos
IMLs por todo o país, como foi
essa experiência e qual a im-
fazer o
nasp). Dentro de novas perspecti- portância de conhecer essas Diagnóstico
vas para a Perícia Criminal, Regina diferentes realidades?
Miki destacou a importância da Perícia
de se conhecer as diversas re- Anteriormente, eu fui diretora
alidades das perícias no país, administrativa de um IML, em no Brasil é
e a necessidade de igualar os São Paulo, na região metro-
desiguais, por meio do lança- politana, e assim eu tive o con- importante para
mento dos Procedimentos Op- tato com o dia-a-dia. Quando
eracionais Padrão. cheguei na Senasp, fui visitar que possamos
os diversos IMLs e serviços da
A secretária reafirmou ainda o perícia pelo país, e vi 27 Bra- igualar os
papel da perícia para a melho-
ria da segurança pública. Miki
destacou o trabalho em con-
sis diferentes, um em cada uni-
dade federada e, como se não
bastasse, quando se vai para
desiguais ” Regina Miki com o diagnóstico da perícia

junto, e a troca de experiências a regionalização, eu vi mais os Estados precisam de luz fo- congresso se reúne, e com deixar de pensar política pública
que o CNC proporciona. Ela de 5.600 realidades completa- rense. Fizemos uma equação, con- isso trouxe o crescimento des- como política de Estado, princi-
também anunciou um aumento mente diferentes. e termos, porque precisamos siderando a população e os peri- sa perícia, a necessidade de palmente na área da segurança.
de investimentos que deverá gerir as deficiências com quem tos, e achamos um quantitativo aporte, a necessidade desse São nesses congressos em que,
chegar a todos os Estados. Cada munícipio traz uma reali- tem expertise. Além disso, que vai guiar o trabalho. Outro maior contato, de trazer as se subimos um degrau, quere-
dade diferente, então, fazer o o contato com os dirigentes caminho está no fortalecimento dificuldades, de conhecer tra- mos mais dois, mais três. É aqui
Representantes dos três po- Diagnóstico da Perícia no Bra- das instituições também nos dos convênios, para encontrar balhos de excelência. Às vezes, que buscamos isso e podemos
deres estiveram na noite de sil é importante para que pos- ajudam. Ao precisar de um as deficiências dos Estados, e estamos tão envolvidos com o pensar onde queremos que a pe-
abertura do XXII CNC, como a samos igualar os desiguais, aporte técnico, nos dirigimos atendê-los de acordo com suas nosso dia-a-dia que não per- rícia chegue.
senhora avalia essa presença e porque não adianta fechar um para aquele que está na ponta, necessidades. cebemos que a solução está
qual a importância dos três po- pacote dentro da Secretaria Na- porque é o dirigente que sabe o ali, e aí então vem outro co- Qual o posicionamento da
deres pensarem em melhorar a cional de Segurança Pública e que passa no dia-a-dia. Então, Vamos dialogar dentro de uma lega e aponta a solução. Isso Senasp quanto à autonomia da
Perícia Criminal? saturar São Paulo, e deixar outro essa tarefa se torna menos ár- matriz de responsabilidade com é muito salutar. Perícia que está em debate no
Estado sem nada. O diagnóstico dua, fica menos difícil. Quando os munícipios e os Estados, Congresso Nacional?
Isso me agrada muito, pois as- é importante para que a gente encurtamos essas relações e se porque na realidade não adi- A troca de experiências é muito
sim encurtamos a distância e possa individualizar a política e tem o aporte dos técnicos, fica anta eu mandar o equipamento importante, quando nós temos Sempre que me foram coloca-
a burocracia, e não fica aquele na desigualdade igualar. menos difícil de unir todos os se o estado não contrata perito. uma catástrofe ou uma grande das algumas reinvindicações
jogo de empurra-empurra. Es- Brasis em um único Brasil. Ou ainda, capacitar e mandar comoção na nação, esses peri- para a categoria, eu dizia para
tamos todos no mesmo lugar, Como está o diálogo com os equipamento, mas se esse ficar tos, às vezes voluntariamente, eles: ‘essa discussão termina
cada um dentro da sua com- munícipios? Qual a saída para Os novos investimentos para fechado, também não adianta. trabalham no mesmo local, as- quando vocês conseguirem no
petência, mas sabendo que os que a política não fique cen- a perícia Então, o Estado que receber o sim, um traz para o outro aquilo elenco do artigo 144 (Consti-
procedimentos dependem de tralizada e distante de certas nosso aporte deverá cumprir al- que mais vivencia. Essa aproxi- tuição Federal) ter a perícia’.
cada um de nós. É por isso que localidades? Este ano, somando entre ca- gumas exigências. mação, sem dúvida nenhuma, Isso acaba com qualquer outra
eu vislumbro um passo melhor pacitação, aquisição direta e os tem trazido um degrau a mais discussão. Eu não posso ser
dentro da segurança pública, Está muito positivo. Existe um convênios serão R$ 250 milhões Para a senhora, qual a importân- na escada que pretendemos contra aquilo que é para mel-
uma vez que estamos todos conselho de dirigentes, que é para a Perícia. Todos os Estados cia do XXII CNC para o futuro subir dentro da perícia. hor. Eu dependo do Legisla-
unidos e buscando o melhor muito próximo do Ministério vão receber, nós fizemos aquilo da Perícia Criminal? tivo. Quando for aprovado,
serviço de qualidade para a (Justiça). Ele nos ajuda a diag- que é comum a todos, por exem- Outro ponto é discutir o fu- faremos valer aquilo que é a
sociedade. nosticar, a elaborar portarias plo, na aquisição direta, todos De dois em dois anos esse turo da perícia. Não podemos vontade do povo.
10 11
CRIMES VIRTUAIS

Outra forma de perícia para ações, como exemplificou o vestigação virtual não foi sufi-
computadores ou notebooks perito: “em casos de suicí- ciente para chegar à solução.
foi apresentada por Evandro dio, por exemplo, podemos Isso porque o suspeito con-
Della Vecchia. O especialista saber se o indivíduo entrou seguia apagar os rastros digi-
do Rio Grande do Sul mostrou em algum site, se usou al- tais. “Colocamos um agente
a possibilidade da extração da gum bate-papo antes de em uma árvore por três dias,
memória RAM em ambiente cometer o ato”, disse. até que o suspeito deixou a
Windows. Com isso, é pos- máquina e foi para outro lugar
sível conhecer os caminhos Ganpat Wagh, da divisão de da casa. Assim, foi possível ver
feitos pelo usuário em uma crimes cibernéticos do FBI, o que ele fazia no computador
máquina. A técnica pode esteve no debate. O agente e provar que ele tinha relação
ser utilizada em várias situ- contou um caso em que a in- com pedofilia”, disse.

Máquinas detetives

A perícia no
mundovirtual
A Cellebrite e a MicroSystemation apre- Nicolas Wernike lembra que a captura
sentaram durante o XXII CNC soluções de Osama Bin Laden aconteceu graças à

A
perícia em equipamen- IOS3 (software do Ipad 1), por shop para os peritos. que ajudam os peritos a localizar os da- extração feita em um celular de um dos
tos eletrônicos foi am- exemplo, e as versões poste- dos em qualquer equipamento que use mensageiros do terrorista.
plamente debatida du- riores com a senha de quatro A investigação de crimes vir- memória flash.
rante o XXII CNC. Angelo dígitos”, disse. tuais é complexa, por causa Magnus Anseklev apresentou o Kiosk para
Shimabuko trouxe o seguinte da variedade de informações O UFED Touch Ultimate, a solução móvel o mercado latino-americano. O equipamen-
questionamento: como que- A preocupação com as novi- que podem ser encontradas. da Cellebrite, acessa os dispositivos por to é uma estação de trabalho que pode ser
brar as senhas dos disposi- dades da indústria de eletrônicos A extração de um dispositivo três formas: via USB, via conexão de conectada ao servidor das delegacias, e o
tivos, uma vez que essas es- também chega aos desenvolve- pode gerar mais de 80 pági- áudio (P2, 3,5mm) ou ainda pela bate- funcionamento é equivalente as soluções
tão cada vez mais complexas? dores de equipamentos forenses. nas de laudo. As soluções da ria. O aparelho pode fazer extração de móveis. Em um dos testes, o tempo de
Com vários anos de trabalho Magnus Anseklev afirma que a MicroSystemation podem reti- dados e senhas, e até de informações leitura em um Iphone 4s de 64gb se deu
na Seção de Informática do MicroSystemation está atenta rar toda a informação de uma apagadas – esse tipo de extração será por volta de 12 minutos. Além do acesso
Instituto de Criminalística de aos dispositivos mais recentes memória flash. Posteriormente, possível se a trilha usada no armazena- via USB, o Kiosk também pode fazer a
Brasília (IC-DF), Angelo aler- e às atualizações dos apli- os peritos podem filtrar os da- mento não tiver sido regravada. conexão via Bluetooth.
tou que alguns dispo sitivos cativos. Durante o XXII CNC, dos e usar apenas o necessário.
são praticamente invioláveis, a empresa, que se atenta ao Segundo Anseklev, o mais co-
como os tablets desenvolvidos treinamento dos especialistas, mum é a busca por “contatos,
pela Apple. “É difícil quebrar o preparou um extenso work- mensagens e ligações”.
12 13
ESPECIAL

S
ob o tema “A Perícia a
Serviço da Sociedade”,
o maior evento de perícia
oficial do país reuniu em Brasília,
entre os dias 14 e 19 de setem-
bro, especialistas de todo o país
e diversas partes do mundo in-
teressados em trocar experiên-
cias, conhecer novas tecnologias
e debater assuntos estratégicos
à criminalística. A valorização do
trabalho de perícia como forma
de combate à criminalidade e de-
fesa dos direitos humanos foi o
grande emblema do evento.

Realizado pela Associação Bra-


siliense de Peritos em Criminalís-
tica (ABPC), o XXII Congresso
Nacional de Criminalística pro-
moveu debates, apresentações
de trabalhos científicos, resul-
tados de pesquisas, estudos de
caso, entre outras demandas do
setor. Com programação diversifi-
cada, foram oferecidos palestras e
cursos que trataram de questões
relacionadas a estratégias para
detecção de crimes ambientais,
crimes de informática, análises
de áudio e vídeo, balística, docu-
mentoscopia, química forense,
DNA, identificação veicular, aci-
dentes de trânsito, crimes con-
tra a vida e patrimônio, papilosco-
pia e laboratórios forenses, entre
outros.

A necessidade de padronização

Perícia criminal
de procedimentos operacionais
da perícia foi uma das grandes
constatações do debate. “O con-
gresso nasceu como um evento téc-
nico-científico, mas vem ganhando

em debate
também um caráter político, na me-
dida em que o objetivo é integrar os
peritos do país e padronizar o tra-
balho de criminalística”, explica
o perito criminal Gustavo Dalton.

Lançados na cerimônia de abertura,


os Procedimentos Operacionais
Autonomia, padronização e novas tecnologias foram Padrão (POPs) estão reunidos
em um manual que propõe uni-
alguns dos principais temas abordados durante o XXII formizar a realização de exames
Congresso Nacional de Criminalística e possibilitar que as análises
sejam repetidas por diferentes
profissionais, levando a um mes-
mo resultado.
14 15
ESPECIAL

Regina Miki, secretária nacional de Segurança Pública, elogia a capacitação dos peritos criminais

O próximo passo é a padro- referência para os estados e o na cena do crime”, explica. unidades da federação. com 27 realidades diferentes mente debatida. Para o perito
nização da coleta, processa- Distrito Federal na organização nas unidades da federação. criminal Humberto Pontes, o
mento e guarda de vestígios. das suas centrais de custódia”, A discussão em torno da pa- As apresentações permitiram grande entrave nessa área não
O anúncio da produção de uma afirmou Figueiredo. dronização também alcança perceber o alto nível de ca- “Temos que elogiar os recur- é a constitucionalização, mas
norma técnica para orientar o processo de formação e pacitação dos peritos crimi- sos humanos na área de crimi- as consequências. “Aí entra a
a custódia de provas obtidas A necessidade de estabelecer seleção de profissionais em nais, em contraste com a falta nalística, porque são verdadei- questão orçamentária. Para os
em local de crime foi feito por regras para a custódia de vestí- criminalística. Durante mesa de estrutura das unidades de ros heróis. Os peritos brasileiros gestores, perder o controle sobre
Isabel Figueiredo, diretora do gios foi destacada por Figueire- redonda, o perito criminal criminalística em diferentes são muito capacitados e só não determinada parte do orçamento
Departamento de Pesquisa, do como fundamental para ga- Alberi Espíndula destacou a estados brasileiros. Durante a fazem mais porque não têm re- não é desejável. A partir do mo-
Análise da Informação e De- rantir a confiabilidade de prova necessidade de padronização cerimônia de abertura do XXII cursos materiais e estrutura ade- mento em que você decreta a
senvolvimento da Senasp, técnica. “A cadeia de custó- dos concursos realizados no CNC, a secretária nacional de quada”, completou. A secretária autonomia técnica e científica,
durante programação do XXII dia é um ponto central no tra- país para seleção de peri- Segurança Pública, Regina destacou ainda a importância de mas também administrativa e
CNC. “Temos a expectativa balho de perícia. É fundamen- tos. O especialista mostrou a Miki, destacou a necessidade um trabalho integrado e da auto- financeira das perícias, esse or-
de, até o fim do ano, lançar tal assegurar que o vestígio discrepância de exigências em de fortalecimento da catego- nomia da perícia. çamento vai passar a ser vincu-
uma norma técnica de cadeia que está sendo examinado é, processos seletivos para a mes- ria no combate à impunidade. lado, e o gestor perde o controle
de custódia, que vai servir de de fato, o material coletado ma categoria, em diferentes Miki afirmou ter se deparado A autonomia também foi larga- sobre ele”, explica.
16 17
ESPECIAL

Integração
Cerca de 750 pessoas pas-
saram pelo XXII CNC, en-
tre peritos criminais, defen-
sores públicos, delegados,
magistrados, policiais civis
e militares e estudantes in-
teressados em compartilhar
experiências e também se
preparar para possíveis in-
cidentes durante os grandes
eventos esportivos que
serão sediados no Brasil, a
exemplo da Copa do Mundo
em 2014.

Um dos temas abordados


foi a segurança pública em
grandes eventos e a pron-
ta resposta a acidentes de
massa. O agente do FBI
(Agência Federal de Inves- Dr. Arthur Eisenberg durante palestra sobre plataformas de banco de dados de DNA
tigação dos Estados Unidos)
David Williams abriu o ciclo de
palestras com o tema “Pronta Bancos de dados
resposta em incidentes en- tuto Nacional de Criminalística, cos de DNA é baseada no criminalística da Polícia Federal
A implantação e aplicação da Guilherme Jacques, a criação sistema de informação Codis para criação de um banco de da-
volvendo armas químicas, Lei 12.654/2012, que prevê a do banco de perfis genéticos (Combined DNA Index Sys- dos de características balísticas.
biológicas e radiológicas”. coleta de perfil genético como terá um importante papel na elu- tem), desenvolvido pelo FBI
forma de identificação criminal cidação de crimes. “Cerca de americano. Até agora, 15 es- Sob o tema “Análise compor-
Willians destacou o conceito foi tema de mesa redonda com 60% dos crimes não tem sus- tados brasileiros possuem es- tamental da cena do crime”, o
de Força Tarefa como a melhor a participação dos peritos crimi- peito. Muitas vezes a perícia en- trutura para alimentar a rede. especialista em Psiquiatria Fo-
forma de multiplicar esforços. nais Guilherme Jacques e Mar- contra vestígios genéticos no lo- rense, Christian Costa, chamou
celo Malaghini. cal do crime, como manchas de Também durante o XXII CNC, a atenção para a necessidade
O agente explicou a importân- sangue, mas não consegue che- o doutor em Biologia Molecu- de um banco de dados com o
cia do treinamento interagên- Em março deste ano, foi publi- gar ao culpado, porque não tem lar da University of Noth Texas perfil comportamental de crimi-
cias, isto é, uma interação cado no Diário Oficial da União, com quem comparar”, explica. (EUA) Arthur Eisenberg apre- nosos. De acordo com Costa,
entre os diferentes setores de decreto que regulamenta o Ban- sentou uma palestra sobre as a maioria dos crimes violentos
segurança – corpo de bombei- co Nacional de Perfis Genéti- A coleta de material genético plataformas automatizadas em é provocada por pessoas que
ros, polícias civil, militar e cos – criado com o objetivo de deve ser feita a partir de ordem laboratórios de DNA, amostras possuem algum tipo de psico-
armazenar dados de criminosos judicial, em caso de suspeita de banco de dados e de vestí- patia. “No Brasil, há um mito
federal, exército, saúde públi- – e uma rede que integra esses de crime que deixa vestígio ou gios e integração da plataforma da personalidade criminal que
ca, inteligência e até o setor bancos e permite o compartilha- condenação por crime hediondo AutoMate Express. vem sendo arrastado por anos
privado – para alinhamento de mento e comparação de perfis ou de natureza bruta. Jacques e precisa ser superado. Não há
ações e estratégias. constantes nos arquivos da explicou ainda que a criação do As propostas de banco de dados um estudo do perfil dos crimi-
União com os de outros esta- banco de dados pode auxiliar não se restringem ao DNA. Tam- nosos. Muitas são as expli-
dos e Distrito Federal. também a inocentar pessoas que bém está em fase de elaboração cações, mas nada fundamen-
foram condenadas injustamente. o Sisbala (Sistema de Indexação tado em análises e bancos de
Para o perito federal do Insti- A rede de integração dos ban- Balística), projeto idealizado pela dados”, explicou.
18 19
ESPECIAL Aconteceu no XXII CNC

NOTAS

Coffee Break Mario Bonfatti


Rio de Janeiro
Entre uma palestra e outra, o peritos aproveitaram
para tomar um café e expor suas impressões sobre “Estou nessa área desde 1965 e participo de todos
o XXII CNC. Confira, a seguir: os congressos. Gosto da possibilidade de conheci-
mento técnico que esses eventos proporcionam.
Isso enriquece a criminalística. Não somos policiais,
somos cientistas forenses”.

Olhares Curiosos Lançamento de Livro


Quatro estudantes do terceiro ano de uma es- O livro “Locais de Crimes: dos vestígios à
cola pública do Distrito Federal (DF) aprovei- dinâmica criminosa” foi lançado durante o XXII
taram o evento para conhecer mais sobre CNC e organizado por Jesus Antonio Velho,
a perícia. O grupo visitou o estante da Life Karina Alves Costa e Clayton Damasceno. Os
Technologies e conheceu a cena de crime três peritos convidaram mais 19 especialistas
montada pela empresa. Os estudantes ficaram para colaborar com a publicação. “O projeto
fascinados com a experiência e saíram com nasceu da necessidade de se criar uma obra
“vontade de trabalhar como perito”, contou a que passasse todos os procedimentos para os
aluna Lorena Cristina. locais de crime”, explicou Jesus Velho.

Jussara Joeckel Jucy Arary Junior


Paraná Maranhão
“Já participei de mais de dez congressos. É muito “Gostei das palestras sobre os Serial Killers.
bom para ver o que tem de novo em tecnologia Acho importante estar em contato com os tra-
e pesquisas, além desse contato com peritos de balhos dos outros colegas pra conhecer novas
todo o Brasil”. técnicas e ferramentas de trabalho”.

Frente Parlamentar Nova diretoria


Um passo importante para a autonomia da Pe- A ABC e a ABPC têm agora um único presi-
rícia foi dado com o lançamento da Frente Par- dente: Bruno Telles. E ele já sabe qual o grande
lamentar da Perícia na Constituição. Liderado desafio do ciclo que se inicia após congresso:
José de Alcântara Lêda Queiroz por Alessandro Molon (PT-RJ), o movimento fortalecer a Frente Parlamentar da Perícia na
Angola Ceará quer a mudança da Constituição Federal. Du- Constituição lançada na Câmara dos Deputa-
rante a abertura, o deputado reforçou: “a luta dos, na última terça (17). Esse movimento sur-
“Os painéis de uma maneira geral foram fantás- “Achei interessante os debates políticos, os não é contra ninguém, é uma luta a favor da giu pela “autonomia dos órgãos periciais, que
ticos. Meu interesse maior foi pelos sistemas de incentivos para a perícia e a ênfase maior nas
bases de dados e documentoscopia e também provas técnicas. Também gostei de saber da melhor produção de provas, de uma produção pode ser orçamentária, administrativa, ou ple-
as inovações tecnológicas da exposição. Muita proposta para normatização da custódia de mais eficiente”, disse. na, com a corregedoria própria”, explicou.
coisa que vi aqui, não tem na África”. vestígios, não sabia que estava tão avançada”.
20 21
TECNOLOGIAS no XXII CNC

No estande da DP Union, os peritos puderam ver o Espectrômetro Com o RapidHIT, da IntegenX, é possível ter perfis de DNA Pela primeira vez no Brasil, a Lodox trouxe o Xmplar-dr, um scanner A área de documentoscopia ganha um reforço com o scanner da
Raman Portátil. O aparelho possibilita a identificação de compos- em 90 minutos. O equipamento aceita até cinco amostras por é capaz de gerar imagens de corpo inteiro em apenas 13 segundos, Chemimage, com a tecnologia de Infravermelho, o aparelho consegue
tos químicos. As amostras podem ser sólidas ou líquidas. exame. um instrumento importante para as autópsias. ler com precisão qualquer documento imprenso ou escrito à caneta.

Bruker trouxe o Lumos, um potente microscópio que com auxilio A Berkana apresentou outros dispositivos móveis para análise de Com a Van laborátorio, a Agilent Technologies propõe redução do A Polícia Militar também esteve no XXII CNC e quem fez sucesso
do infravermelho consegue oferecer uma maior precisão. substâncias. Com a tecnologia Raman, o TruNarc, da Thermo, é o tempo na análise de amostras orgânicas e também cai o risco de foi o robô anti-bombas, já usado no Distrito Federal, esse tem qua-
analisador de narcótico portátil contaminação de amostras. tro câmeras e pode ser controlado remotamente.

No estande da Analítica, especializada em DNA, os peritos puderam No estande CK Leica, mais uma ferramenta para os peritos da O 4265, aparelho capaz de controlar a autenticidade de documen- Com apenas 5Kg, O Laser Scanner 3D Trimble TX5 da Santiago e
ver as soluções da empresa para o trabalho de laboratório. documentoscopia, podendo ser usada na investigação de falsifi- tos, foi um dos destaques do estande da Regula Forensis. Cintra produz imagens tridimensionais com alto grau de detalha-
cação de cédulas. mento e pode ser utilizado em cenas de crimes.
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PERFIL

A neurociência Christian Costa


e a escrita
Especialista em Psicologia Forense, o professor
Christian Costa atua na área criminal há 12 anos.
O cientista chefe da unidade forense da polí- Formado em Filosofia e Psicologia, tem espe-
cia de Victoria, na Austrália, ministrou um dos cialização em Terapia Cognitiva e mestrado em
cursos mais disputados no fim de semana de Psiquiatria Forense. Durante o XXII CNC, Costa
abertura do XXII CNC. Pela primeira vez no Bra- ministrou o curso “Análise comportamental da
sil, Bryan Found ficou impressionado com os cena do crime”, onde apontou a necessidade de
traços da arquitetura de Oscar Niemeyer. estudar o perfil dos criminosos.

A curiosidade com o método diferente do usado Durante dois dias, o professor abordou os
no Brasil atraiu os peritos. Aqui, ao analisar uma transtornos de personalidade que são deter-
assinatura as respostas sempre correm para sim, minantes na ação de autores de crimes he-
não e talvez. Já o método do australiano propõe diondos. De acordo com Costa, a partir do
uma escala para verificar se uma determinada entendimento comportamental do autor do
grafia pode ser verdadeira ou falsa. “Se nem o nervoso, o reflexo poderá aparecer no papel. delito, é possível apontar a motivação e a Responsável pelo setor de psicologia forense
DNA é exato, a escrita também tem suas pos- psicopatologia que o conduziram ao crime. do Presídio da Polícia Militar de São Paulo en-
sibilidades”, explica Found. O cientista explica que “o cérebro hesita e reflete tre 2004 e 2012, hoje, Costa é consultor e
na escrita”. Em uma falsificação, o movimento Christian Costa elabora atualmente uma tese palestrante em eventos científicos em todo o
Os estudos de Bryan Found relacionam a es- não ocorre de forma contínua, esse resultado de doutorado sobre a formação da Maturidade país e desenvolve pesquisa com criminosos
crita com a neurociência. Essa relação se dá pode não ser claro para olhos não treinados, Criminal e a presença dos psicopatas no con- sexuais, buscando relacionar indicadores com-
porque a ação motora é originária de uma pro- mas com ajuda de um software que converte os texto social sob a perspectiva evolucionista. portamentais e marcadores genéticos.
gramação cerebral. Dependendo do sistema traços em um gráfico, isso se torna visível.

O perito das Rafael Farnese


catástrofes
Natural de Brasília, o perito criminal do Institu-
to de Criminalística do Distrito Federal, Rafael
Um pneu furado atrasou a ida de Joseph Blozis Farnese, é bacharel em Ciência da Com-
até o World Trade Center, no dia de 11 de se- putação e mestre em Engenharia Elétrica pela
tembro de 2001. Doze anos depois, o sargen- Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou por
to aposentado da polícia de Nova Iorque com- dois anos com desenvolvimento de software em
partilha a experiência vivida no maior ataque um órgão público antes de se deparar com
terrorista da história. Na última palestra dele o edital de concurso para perito criminal
no XXII CNC, o americano provocou uma re- da Polícia Civil, em 2000. Mesmo sem ter
flexão nos presentes: o Brasil está preparado conhecimento sobre o dia a dia de trabalho de
para lidar com o inesperado na Copa do Mun- um perito oficial, Farnese se sentiu atraí-
do e nas Olímpiadas? do pela profissão.

No dia 11 de setembro, “não sabíamos o que es- “As perícias de informática são sempre desa-
távamos fazendo”, e a chave para a operação foi Joseph Blozis, que perdeu sete amigos fiadoras e exigem uma renovação de conheci- apreensões de dezenas de computadores
“trabalharmos em equipe”, conta. O atentado de policiais, superou os traumas trabalhando. mentos constante, em função do dinamismo não são raras. O trabalho é extenuante e a
números impressionantes ainda contabiliza mui- “Se eu estivesse aposentado, e em casa, inato à área”, conta. Para Farnese, para ter cobrança por eficiência e rapidez é grande.
tos desaparecidos e as famílias aguardam por um teria sido muito mais difícil. Queríamos sal- sucesso na profissão, é preciso ter uma per- Muitas vezes os investigadores dependem
contato da polícia. A 1.638º vítima foi identifi- var vidas”. Encerrando a participação no sonalidade curiosa, científica, e determinação do resultado da perícia de informática para
cada no dia 16 de setembro deste ano (2013). XXII CNC, o sargento aposentado disse: na busca por resultados. chegarem à autoria de um crime ou para
Essa espera ainda é possível pela evolução da “Eu estou bem, mais de 60 policiais morre- materializá-lo. O resultado do trabalho, no
tecnologia e pelo banco de DNA, que é formado ram de câncer e as doenças foram relacio- No XXII CNC, Rafael Farnese participou da entanto, sempre me reforça o sentimento
por material genético encontrado nos destroços nadas ao WTC.” Logo depois ele reforçou: mesa redonda sobre perícia de dispositivos de que fui feliz em minha escolha profis-
e doado pelos parentes. “eu estou bem”. móveis. “Grandes operações envolvendo sional”, conclui.
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PESQUISA

Técnica dá cara
dentes ou mortes naturais. antropológica do crânio, a é outra pessoa”. Os especialistas
anatomia facial, o posiciona- destacam ainda as informações
Os avanços tecnológicos das mento do crânio (plano de que o crânio não fornece, como
últimas décadas permitiram Frankfurt: paralelo ao solo) e a cor da pele, dos olhos, tipo de

aos mortos
o aprimoramento da técnica previsibilidade das característi- cabelo, alterações da pele em fun-
que, a partir do crânio e de cas faciais a partir de tabelas ção da idade, expressões faciais,
informações antropológicas, que indicam a espessura dos personalidade. “A reconstrução
permite reconstruir o rosto tecidos moles, de acordo com não é um retrato falado, nem
do sujeito de forma a auxiliar a população a que pertence o vai ficar idêntica à pessoa, mas
Pesquisadores divulgam prática que permite o reconhecimento de pessoas o reconhecimento. Mas, de sujeito. No Brasil existem duas ela vai ter características faciais
desaparecidas a partir da reconstrução do crânio e estudos antropológicos acordo com a pesquisadora, o tabelas, desenvolvidas por uni- gerais da pessoa, porque eu vou
trabalho de reconstrução facial versidades paulistas. fazer a reconstrução a partir da
ainda não faz parte da rotina da duplicação do crânio encontra-

T
rabalho clássico de re- perícia brasileira. “Não é uma A técnica também segue um do”, ressalta Serra.
construção facial forense técnica que se faz de rotina, protocolo: restauração do
no Brasil, a identificação nas perícias, nos IML’s (Instituto crânio (quando necessário); Ao encontrar um esqueleto sem
do carrasco nazista Josef Médico Legal). Agora é que está identificação de característi- identificação, é feito um tra-
Mengele aconteceu em 1986, a começando no Brasil”, conta a cas antropológicas; duplicação balho de divulgação, apontando
partir da ossada encontrada no Dra. Mônica Serra. O primeiro as características antropológi-
cemitério de Rosário, na cidade trabalho de reconstrução fa- cas dos ossos. Parentes de
de Embu das Artes, na grande cial digital 3D no país é de au- pessoas desaparecidas que se
São Paulo. De lá para cá, muita toria do professor Dr. Clemente encaixam no perfil indicado po-
coisa mudou, mas a técnica, Fernandes, também da UNESP. dem fazer o reconhecimento
no Brasil, não saiu da univer- e enviar informações, como
sidade. A reconstrução facial em três prontuário odontológico. A par-
dimensões é indicada quando tir daí são feitas comparações
Especialistas da Universidade se encontra um corpo sem e exames de modo a chegar a
Estadual Paulista (UNESP) apre- identificação. “É diferente de uma identificação.
sentaram, durante o XXII CNC, um acidente de avião, você
estudos desenvolvidos na área não sabe quem é quem, mas Esse trabalho é complementar
e suas aplicações. O objetivo tem a lista de tripulantes”, ao que a polícia faz. De acordo
é divulgar a prática já utilizada explica Serra. Quando se en- com o perito criminal Gustavo
pelas perícias de outros países contra um corpo e não é pos- Dalton, os peritos de alguns
para os criminalistas brasileiros. sível identificar visualmente do crânio (pode ser feito com estados fazem reconstruções fa-
“Trabalhamos nisso em nível de por causa do alto estado de de- material odontológico ou com ciais semelhantes, mas apenas
pesquisa, mas agora a ideia é di- composição, é feito um exame scanner 3D); colocação dos em duas dimensões, a partir
vulgar e ensinar os peritos para dos ossos que fornece infor- pontos de referência dos teci- de fotografias e sobreposição
que eles saibam fazer, porque é mações de gênero, ancestrali- dos moles (ao todo, os espe- de imagens de rosto e de sorri-
uma possibilidade a mais para dade (se indígena, se europeu, cialistas apontam 21); colo- sos (comparando a arcada den-
ajudar no reconhecimento de se africano etc.) e estimativa cação dos tecidos moles de tária).
cadáveres sem identificação”, de idade. A partir destes dados acordo com a tabela de espes-
conta a Dra. Mônica Serra, es- é feita a reconstrução facial. sura; colocação dos olhos, re- Existem diversos desafios no
pecialista em odontologia legal. construção das orelhas, tendo país para utilização da técni-
O trabalho pode ser feito a partir como referência a altura do ca. Primeiro, porque demanda
No caso do Brasil estes estu- de três técnicas: o método russo nariz; caracterização dos cílios, tempo e alto investimento em
dos ajudariam sobremaneira na (baseado na anatomia dos mús- sobrancelhas e cabelo (facul- equipamentos. Além disso, a
solução de crimes, uma vez que culos da face e pescoço), o mé- tativo); colocação do restante antropologia forense tem di-
o perfil dos cadáveres não iden- todo americano (utiliza a média dos tecidos moles. ficuldade em estabelecer pa-
tificados, em nosso país, geral- da espessura dos tecidos moles drões fenotípicos tendo em
mente está relacionado a casos de uma variedade de tabelas que De acordo com o Dr. Clemente vista que o povo brasileiro é o
de morte violenta. Diferente relacionam diferentes idades, Fernandes, a caracterização resultado da miscigenação de
do que ocorre na Europa e nos raças e gêneros) e o método dos cabelos pode dificultar o três populações parentais –
Estados Unidos. Segundo a an- Manchester (combinação dos reconhecimento em alguns ca- europeia, africana e indígena.
tropóloga forense Dra. Eugénia métodos russo e americano). sos. “Se você coloca um longo Por isso, no Brasil é possível
Cunha, na Europa os cadáveres cabelo liso e loiro em uma pes- encontrar pessoas que apre-
Reconstrução facial forense 3D plástica: técnica permite abandonados, geralmente, es- A reconstrução facial forense soa que tinha os cabelos cur- sentam características de todos
o reconhecimento de cadáveres sem identificação tão relacionados a casos de aci- tem como princípios: a análise tos, castanhos e encaracolados, os continentes do mundo.
26 27
GALERIA

FLASHES DO XXII CNC


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OPINIÃO

Novos tempos
para a Perícia

R
ealizou-se entre os dias 16 e 19
de setembro, o XXII Congresso
Nacional de Criminalística (XXII
CNC). Mais uma vez o evento contou
com a participação de peritos criminais
de diversas partes do país, bem como,
de outros países.

Foi encerrado mais um ciclo na As-


sociação Brasileira de Criminalística
(ABC). Tivemos um evento, realizado
brilhantemente pela Associação Bra-
siliense de Peritos em Criminalística
(ABPC). Com o congresso, veio a opor-
tunidade de rever velhos amigos e
conhecer uma parcela da nova força
motriz da perícia. Aqueles aos quais
pudemos passar um pouco da nossa
experiência e também aprender com
aquela que será a geração que manterá
o valor da perícia oficial pelo país afora.

Foram quatro dias de apresentações


de trabalhos científicos, discussões
Iremar Paulino da Silva
e debates. Nessa ocasião estiveram
Presidente da ABC – Gestão
presentes os dirigentes de Órgãos de
2011/2013
Perícia Oficial e de Institutos de Crimi-
nalística. Juntos puderam discutir sob
o ponto de vista gerencial os rumos da Bruno Telles. Ele terá a oportunidade
perícia no Brasil. Oportunidade que via- de manter acesa a chama dos an-
bilizou a interação das entidades clas- seios da categoria, fazendo brotar a
sistas e dos dirigentes em busca do semente lançada pelas diretorias pas-
bem comum para nossa categoria. sadas.

Paralelamente, foi o momento de dis- Também foi definido o local do XXIII


cutirmos no Congresso Nacional temas Congresso Nacional de Criminalística,
de grande relevância para os Peritos que será na cidade maravilhosa, o nos-
Criminais. O veto ao Projeto de Lei do so querido Rio de Janeiro. Desejamos
Senado (PLS 244/09) foi mantido e desde já que a diretoria da Associação
lançamos a Frente Parlamentar de Con- dos Peritos do Estado do Rio de Janei-
stitucionalização da Perícia, antigo plei- ro (APERJ) seja exitosa na realização
to da categoria. Esse movimento nos desse evento. Com o estilo peculiar
leva a um novo patamar para a con- e caloroso do povo carioca, possa re-
cretização da tão sonhada inserção da ceber todos os peritos brasileiros, que
Perícia na Carta Magna. Essa mudança com certeza se farão presentes em
poderá cessar os ataques sofridos pe- mais um encontro da ABC.
las perícias que já alcançaram sua au-
tonomia e valorizar as que ainda não a Agradeço a oportunidade que me foi
obtiveram. dada, a de representar esse contin-
gente de profissionais valorosos que
Mas o trabalho está apenas começando são os peritos criminais.
e devemos nos manter coesos com a
Associação Brasileira de Criminalística
(ABC), que está com diretoria reno- Um grande abraço e espero vê-los em
vada, sob a presidência do colega 2015 no Rio de Janeiro.

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