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ISSN 2478-1803 (edição online) Trends in Psychology/Temas em Psicologia – Nov.

/2020
DOI: 898918928/901290

Artigo

As múltiplas faces da Internet: Cyberbullying e


seus impactos na saúde dos indivíduos

Ana Carolina Valeriote de Oliveira Coelho 1


Bárbara Couto de Souza1
Davi Coutinho de Souza Aleixo1
Laura Tavares da Costa1
Maria Eduarda Mota Zaram1
Rodrigo de Freitas Souza1

1
Centro Universitário UniRedentor, Itaperuna, RJ, Brasil

Resumo
A popularização da internet e o crescente aumento de inovações tecnológicas possibilitou
um contexto no qual os indivíduos utilizam o ciberespaço à todo momento do dia. Por
conseguinte, a violência também migrou para o mundo virtual, instaurando um novo tipo de
agressão: o cyberbullying. Nesse cenário, através de uma metodologia quali-quantitativa e
descritiva, a presente pesquisa teve como principal finalidade levantar a quantidade de
respondentes que já haviam sido expostos à violência virtual e apresentar as principais
consequências para a saúde mental das vítimas. Participaram da coleta 460 pessoas,
espalhadas por todas as regiões do Brasil, a maioria da região sudeste (86,7%). De modo
sintetizado, os resultados mostraram um número significativo de respondentes que já
sofreram e/ou sofrem cyberbullying, contabilizando 48,5% da amostra. Conforme os dados,
tal violência teve impactos negativos na saúde mental e física das vítimas. Por fim,
considerou-se a relevância de intervenções para a redução da violência virtual.
Palavras-chave: Ciberespaço. bullying virtual. cyberbullying. redes sociais.

The multiple faces of the Internet: Cyberbullying


and its impacts on the health of individuals
Abstract
The popularization of the internet and the growing increase of technological innovations
enabled a context in which individuals use cyberspace at all the times. Therefore, violence
has also migrated to the virtual world, establishing a new type of aggression: cyberbullying.
In this scenario, through a quali-quantitative and descriptive methodology, the main purpose
of this research was to raise the number of respondents who had already been exposed to
2

virtual violence and present the main consequences for the mental health of the victims. 460
people participated in the collection, spread throughout all regions of Brazil, most of them
in the southeast region (86.7%). In summary, the results showed a significant number of
respondents who have already suffered and/or suffer cyberbullying, accounting for 48.5%
of the sample. According to the data, such violence had negative impacts on the mental and
physical health of the victims. In conclusion, the relevance of interventions to reduce virtual
violence was considered.
Keywords: cyberspace. virtual bullying. cyberbullying. social media.

Las múltiples faces del internet: Ciberbullying y


sus impactos en la salud mental de los individuos
Resumen

La popularización del Internet y el aumento creciente de las innovaciones tecnológicas


permitieron un contexto en el que las personas utilizan el ciberespacio en todo momento del
día. Por lo tanto, la violencia también ha migrado al mundo virtual, estableciendo un nuevo
tipo de agresión: el ciberacoso. En este escenario, a través de una metodología cuantitativa
y descriptiva, el objetivo principal de esta investigación era aumentar el número de
encuestados que ya habían estado expuestos a la violencia virtual y presentar las principales
consecuencias para la salud mental de las víctimas. 460 personas participaron, de diferentes
regiones en Brasil, la mayoría de ellas en la región sureste (86,7%). En resumen, los
resultados mostraron un número significativo de encuestados que ya han sufrido y/o están
sufriendo ciberacoso, lo que representa el 48,5 % de la muestra. Según los datos, dicha
violencia tuvo repercusiones negativas en la salud mental y física de las víctimas. Por último,
se consideró la importancia de las intervenciones para reducir la violencia virtual.

Palabras clave: Ciberespacio. bullying virtual. ciberbullying. redes sociales.

O cenário advindo da pós- redes sociais. (GONDIM; RIBEIRO,


modernidade proporcionou inúmeras 2019)
alterações nos âmbitos socioculturais, De acordo com dados do Instituto
políticos e econômicos. (NICOLACI-DA- Brasileiro de Geografia e Estatística
COSTA, 2004) Além disso, a constante (2018), o uso de internet nos domicílios
evolução das TICs, abreviação para brasileiros teve um crescimento
tecnologias da informação e comunicação, perceptível nos últimos anos.
oportunizou o surgimento de mudanças Exemplificando, enquanto no ano de 2017
significativas nas relações interpessoais e a porcentagem de residências com conexão
no modo de organização da sociedade, à internet chegava à 74,9%, no ano de 2018
permitindo com que, atualmente, os constatou-se que aproximadamente 79,1%
indivíduos fiquem cada momento do dia das moradias do Brasil possuíam acesso ao
conectados, obtendo informações de forma mundo virtual, quantitativo extremamente
cada vez mais instantânea através de sites e que possui extrema relevancia visto que
3

passa de ¾ da amostra coletada pelo explicitam que este evento pode ser
instituto. (IBGE, 2018) observado em outros espaços, como no
Nesse contexto, estabeleceu-se a local de trabalho ou até mesmo nos lares,
consolidação do ciberespaço, termo que sempre vindo com uma característica em
pode ser definido como sendo uma comum: um agressor, teoricamente mais
atmosfera online proporcionada pela forte, explorando um sujeito mais fraco.
interconexão entre computadores, Na contemporaneidade, a internet
possibilitando assim a constituição de uma colaborou para a criação e perpetuação de
realidade completamente moderna, uma falsa sensação de uma vida sem
revelando também uma submissão na limites, uma vez que possibilita a
relação homem-máquina. (SILVA; reprodução de comentários em completo
TEIXEIRA; FREITAS, 2015) anonimato, fazendo com que o ofensor
Apesar das incontáveis vantagens do possa se esconder por trás de um perfil
meio virtual, como a facilidade de acesso à falso, com fotos e informações inverídicas.
informação e a conectividade entre pessoas (AMADO; MATOS; PESSOA, 2009)
de lugares distintos e distantes, o advento Destarte, é nesse cenário que o
da internet e sua popularização também cyberbullying ganha forma, podendo ser
promoveram a quebra de barreiras no definido como uma ampliação do
campo da violência, levando esta, antes tradicional bullying, englobando a
presente apenas no meio físico, para a vantagem da vítima não precisar estar
esfera virtual. (GONDIM; RIBEIRO, presente fisicamente, podendo ser atingida
2019) em qualquer lugar do globo e à qualquer
Schreiber e Antunes (2015) momento. (FERREIRA; DESLANDES,
acrescentam ainda que a violência pode ser 2018)
classificada como um problema de saúde Logo, observa-se que a única diferença
pública e pode ser reproduzida de da violência virtual para a do meio físico é
diferentes formas, sendo o bullying a mais a utilização dos meios de comunicação e
conhecida e encontrada nos mais diversos até mesmo jogos online para disseminar o
ambientes, que quando difundida com o ódio, podendo acarretar em sérios
auxílio de aparatos tecnológicos e do problemas psicológicos e feridas profundas
ciberespaço, passa a ser denominada de na moral das vítimas. (SHARIFF, 2011)
cyberbullying. Outrossim, segundo Ferreira e
A priori, o bullying tradicional, que Deslandes (2018) o cyberbullying pode vir
tem como tradução “intimidação”, é um trajado de diferentes maneiras, como: o
fenômeno que, na maioria das vezes, é envio de repetitivas mensagens ofensivas,
encontrado no ambiente escolar e envolve bloqueio online, solicitação de informação
agressão física, intimidação, perseguição, pessoal via redes sociais, o
humilhação e até mesmo a degradação da compartilhamento de dados (fotos e
imagem de um indivíduo através do vídeos) sem o consentimento de quem está
compartilhamento de informações falsas sendo exposto, uso de comunicação
pelo boca a boca, popularmente conhecido eletrônica para perseguição e posts
como fofoca. (SHREIBER; ANTUNES, contendo conteúdo inapropriado ou de
2015) Entretanto, apesar de ser comum em cunho depreciativo se passando por outro
escolas, Schreiber e Antunes (2015) alguém em redes sociais ou jogos online.
4

Além disso, em uma situação de possíveis intervenções para tornar o


violência virtual, pode ser observada a ambiente virtual mais seguro.
presença de três personagens: um sujeito
impulsivo e dissimulado que, de maneira Método
metafórica, se veste de agressor e possui
sério desvio de conduta, presença de apatia Delineamento
e de instabilidade emocional, além de ser Para a construção do presente artigo,
capaz de manipular um grupo contra o alvo utilizou-se uma abordagem de viés quali-
sem ter nenhum tipo de remorso; em quantitativo e descritivo, visando
segundo, temos a vítima, a qual não tem identificar o número de indivíduos que já
capacidade ou não consegue revidar as sofreram e/ou sofrem cyberbullying e
agressões sofridas, podendo desenvolver compreender os efeitos da agressão virtual
transtornos psicológicos em decorrência na saúde mental dos colaboradores da
das hostilidades sofridas; por último, amostra.
existem os espectadores, que são as De modo sintetizado, tal método foi
pessoas que presenciam a agressão e selecionado por possibilitar uma melhor
escolhem ou defender a vítima ou apoiarem análise da problemática proposta,
o agressor, podendo também apenas se auxiliando no alcance dos propósitos
calarem perante os fatos ao invés de se estabelecidos inicialmente, sendo eles: a)
posicionarem. (SCHREIBER; ANTUNES, com qual frequência os indivíduos são
2015) expostos ao cyberbullying?; b) quais são os
De modo geral, Shariff (2011) principais tipos de agressão virtual que a
explicita que as causas, tanto do bullying amostra já presenciou e/ou foram vítimas?;
tradicional quanto do cyberbullying, c) quantas vítimas já desenvolveram
envolvem pensamentos arcaicos e distúrbios alimentares e passaram a
preconceituosos enraizados na própria distorcer a própria imagem após sofrerem
sociedade, gerando a discriminação das violência virtual?; d) como que os
minorias e a aversão à tudo que seja fora colaboradores da amostra se auto avaliam
dos padrões estéticos hegemônicos. em relação à capacidade de socialização
Portanto, após o exposto, observa-se após serem vítimas de bullying em redes
que há uma urgência em colocar a temática sociais e/ou jogos online?
cyberbullying em pauta, uma vez que a Ademais, para possibilitar um melhor
maioria esmagadora de usuários de redes embasamento e difusão de ideias, foi
sociais e sites são constituídas por jovens, elaborada uma pesquisa bibliográfica rica
adolescentes e até mesmo crianças, que em artigos, teses, dissertações e livros que
correm sério perigo com a exposição cada possuíam como pauta principal a violência
vez mais precoce à internet e aos no ciberespaço, objetivando reunir ideias
agressores que a rodeiam. (IBGE, 2018) de outros teóricos e compará-las com os
Logo, o presente estudo teve como dados coletados em uma pequena amostra
principais objetivos apresentar o quanto os da realidade. É interessante salientar ainda
colaboradores foram expostos ao que os autores que mais se destacaram na
fenômeno da violência virtual, além de revisão teórica foram Shariff (2011),
retratar as principais consequências para a Shreiber e Antunes (2015) e Ferreira e
saúde mental dos mesmos e formular Deslandes (2018).
5

Amostra menores porcentagens, sendo elas: 4.3%,


Participaram da amostra 460 0.7% e 0.7%, respectivamente.
indivíduos espalhados por pelos cinco
cantos do país: norte, nordeste, centro- Instrumentos
oeste, sudeste e sul. Além disso, a faixa Em primeiro lugar, o instrumento
etária variou entre indivíduos menores de utilizado para a coleta de dados foi um
18 anos e maiores de 52 anos, sendo os questionário, elaborado com o auxílio do
últimos em menor número, compondo google forms (formulários do google),
cerca de 0.7% da amostra. contendo algumas perguntas relacionadas
ao perfil do entrevistado, como idade e
Tabela 1 região, e outras que possuíam relação
Caracterização da amostra
direta com o cyberbullying, como
frequência a qual o indivíduo já sofreu e/ou
Variáveis Fi Fr (%) presenciou a violência virtual em jogos ou
Sexo redes sociais, impactos na autoestima e o
Feminino 298 64.8 desenvolvimento de possíveis transtornos
Masculino 162 35.2 após a agressão.
Total 460 100.0 Ademais, com o auxílio dos sites de
busca, foram coletados artigos,
Faixa Etária dissertações, teses e livros que fossem
Até 18 anos 237 51.5 relevantes para o tema. Foram utilizadas as
19 a 29 anos 197 42.8 palavras-chave “cyberbullying” e “saúde
30 a 40 anos 20 4.3 mental”. A princípio, foram reunidos cerca
41 a 51 anos 3 0.7 de 30 trabalhos e, após o descarte dos que
Acima de 52 não possuíam certa relevância, sobraram
ds anos 3 0.7 apenas 10.
Total 460 100.00
Procedimento de coleta de dados
Conforme a Tabela 1, houve uma No que diz respeito à divulgação do
predominância do sexo feminino, questionário, foram utilizadas as redes
totalizando 64,8% da amostra ou 298 sociais Instagram, Twitter e Whatsapp,
indivíduos. Em relação ao sexo masculino, visando um maior alcance de respondentes
os números caem quase pela metade, e a maior diversidade possível, objetivando
representando apenas 35,4% ou 162 que as mais diferentes perspectivas fossem
cooperadores da pesquisa. levadas em conta para a análise.
Em segundo lugar, o intervalo de idade Durante a divulgação do questionário,
que predominou em quantidade os 460 participantes da pesquisa foram
significativa foi de indivíduos de até 18 instruídos à utilizarem a sinceridade em
anos, totalizando 237 dos entrevistados. todas as respostas, uma vez que a
Para além disso, o percentual foi identidade pessoal seria mantida em
declinando conforme a faixa etária anônimo e os dados seriam utilizados para
aumentava, e os indivíduos que afirmaram a produção do presente artigo, tendo como
estar nos intervalos de 30 a 40 anos, 41 a compromisso a exposição de informações
51 e acima de 52 anos, fizeram parte das verídicas para proporcionar a melhor
compreensão do fenômeno e sua
6

frequência na vida dos colaboradores da que compreenderam 3% da amostra; os


amostra. indivíduos do nordeste, que foram 4,3%; e,
por último, residentes do centro-oeste,
Resultados constituindo 2,2%.
A partir da análise dos dados Ainda segundo os dados da Tabela 2,
coletados, observou-se que o perfil predominaram respondentes da cor branca,
sociodemográfico dos colaboradores foi totalizando 278 indivíduos,
extremamente diversificado. aproximadamente 60.4% (278) da amostra
total.
Em relação à faixa etária dos Para além disso, indivíduos que se
colaboradores, observou-se que a idade da declararam de cor parda seguiram com
maior parte estava compreendida no 24.3% e os negros com 12.6% do espaço
intervalo de até 18 anos, sendo estes 51.5% amostral. Já os indígenas e amarelos foram
da amostra. Tal dado não é surpresa uma os que menos prevaleceram, com
vez que de acordo com um levantamento porcentagens de 0.7% e 2%,
de dados feito pelo IBGE (2018), os respectivamente.
usuários mais adictos das redes sociais são
indivíduos que possuem de 18 à 24 anos. Tabela 2
Em segundo lugar, o intervalo de idade Distribuição dos colaboradores do
questionário pelas variáveis de cor e/ou raça e
que também predominou em quantidade
região
significativa foi de 19 a 29 anos,
totalizando 197 dos entrevistados. Para Variáveis Fi Fr (%)
além disso, ainda segundo a Tabela 1, o Cor e/ou raça
percentual foi declinando conforme a faixa Amarela 9 2,0
etária aumentava, e os indivíduos que Branca 278 60,4
afirmaram estar nos intervalos de 30 a 40 Indígena 3 0,7
anos, 41 a 51 e acima de 52 anos, fazem Parda 112 24,3
parte das menores porcentagens, sendo Preta 58 12,6
elas: 4.3%, 0.7% e 0.7%, respectivamente. Outra 0 0,0
No que diz respeito aos dados Total 460 100,0
demográficos e de origem étnica, apesar de
existirem algumas variáveis que Região
predominaram na coleta de respostas, Norte 14 3,0
observou-se a presença de uma diversidade Nordeste 20 4,3
considerável. Centro-Oeste 10 2,2
Exemplificando, como pode-se Sudeste 399 86,7
observar na Tabela 2, dos 460 Sul 17 3,7
respondentes, 399 (86,7%) das pessoas que Total 460 100,0
participaram afirmaram residir na região
sudeste, sendo esta a região de maior Para mais, uma vez exposto o perfil
alcance da pesquisa. Apesar disso, também dos participantes da pesquisa, a
houve respondentes de outras regiões, metodologia utilizada e os objetivos, é
como: moradores do sul, representando imprescindível que os dados relacionados
3.7% da pesquisa; os habitantes do norte, diretamente ao cyberbullying, seu padrão e
7

consequências para a saúde mental sejam afirmaram nunca terem sofrido


analisados. Portanto, em um primeiro cyberbullying em redes sociais, um número
momento, é importante expor que o expressivo em relação aos dados coletados.
número de indivíduos que afirmaram já Outrossim, tiveram alguns
terem sido e/ou serem vítimas de respondentes que afirmaram nunca terem
cyberbullying em redes sociais e/ou jogos sido vítimas da violência virtual,
chegou quase na metade da amostra, representando cerca de 3% da amostra, o
representando 48,5% ou 223 participantes. que sugere que ainda existe uma
Além disso, segundo os dados da deficiência na disseminação de
tabela 3, outros 223 respondentes também informações acerca da violência virtual.

Tabela 3
Relação das entre vítimas de cyberbullying e indivíduos que denunciaram e/ou reportaram
o agressor
Variável Fi Fr (%)
Vítima de Cyberbullying
Sim 223 48,5
Não 223 48,5
Não sei do que se trata 14 3,0
Total 460 100

Denunciou e/ou reportou o agressor


Sim 80 17,4
Não 154 33,5
Nunca sofri cyberbullying 214 46,5
Não sei do que se trata 12 2,6
Total 460 100,0

Ademais, a partir da análise dos da vítima e insultos relacionados à


elementos coletados, observou-se que aparência.
seguindo o espaço amostral, 4 a cada 23 No que se refere aos dados coletados
pessoas sofreram bullying virtual e pelo questionário online, pode-se afirmar
denunciaram, simbolizando 17.4% dos que a maioria já havia sido vítima de
respondentes da pesquisa. Em insultos em suas próprias redes sociais,
contrapartida, 134 indivíduos responderam totalizando 141 pessoas. E, em relação aos
que sofreram calados, ou seja, foram outros modus operandi dos ofensores, de
vítimas de tal violência e acabaram não acordo com o gráfico 1, a divulgação de
reportando o agressor. informações falsas ficou em segundo lugar
Aliás, os principais tipos de agressão com 86 vítimas e o compartilhamento de
virtual encontrados durante a revisão informações íntimas e vazamento de
teórica foram: compartilhamento de vídeos e/ou imagens ficaram em último
informações íntimas e falsas, disseminação lugar, com 36 e 24 vítimas, de modo
de imagens íntimas sem o consentimento respectivo.
8

234
240

210

180
141
150

120 98
86
90

60 36
24
30

Compatilhamento de informações íntimas Divulgação de informações falsas sobre você


Insultos relacionados à aparência Vazamento de vídeos íntimos ou imagens
Outros Nenhuma das alternativas

Gráfico 1. Comportamentos comuns na agressão virtual e o quantitativo de respondentes que


já foram vítimas em redes sociais

Já em jogos, houve um maior número “insultos de baixo calão envolvendo


de queixantes em relação ao tópico racismo, homofobia, gordofobia e/ou

244
240
210
174
180
150
120
90
53 46 39
60
30
0

Insultos de baixo calão envolvendo racismo, homofobia, gordofobia e/ou sexismo


Foi e/ou é excluído de partidas em jogos
Recebeu ameaças
Outro
Nenhuma das alternativas

Gráfico 2. Comportamentos comuns na agressão virtual e o quantitativo de respondentes que


já foram vítimas em jogos online
9

sexismo”, representando 174 pessoas, Segundo observado no Gráfico 2,


aproximadamente 37.8% da amostra. 11.5% afirmaram terem sido excluídos de
Indubitavelmente, fica nítido que os partidas online e 10% já recebeu e/ou
agressores destilam o ódio em jogos online recebe ameaças em jogos, fator
a partir dos sistemas representativos que extremamente perigoso visto que as
permeiam a sociedade, ou seja, pela crianças estão sendo expostas ao mundo
presença do preconceito enraizado e online cada vez mais cedo e, pela
alimentado, especialmente, pelas classes imaturidade cognitiva, talvez não saibam
dominantes, seja ele pela cor da pele, pelo lidar com os agressores. (PAPALIA;
gênero ou pela orientação sexual, podendo FELDMAN, 2013) Por fim, cerca de 234
também abranger fatores interligados com indivíduos afirmaram não terem sofrido
os padrões estéticos estabelecidos com o nenhuma das alternativas em jogos online.
auxílio dos meios midiáticos. Logo, observa-se que o cyberbullying
predominou mais nas redes sociais.

13%
(60)

15%
47,4% (69)
(218)

12,2%
(56)
5,4% 7%
(25) (32)

1 (nunca) 2 3 4 5 (diariamente) Nunca sofri cyberbullying

Gráfico 3. Frequência com a qual as vítimas sentiram tristeza e/ou perderam o interesse em
atividades cotidianas

De acordo com o gráfico acima, Para além do já exposto, a tabela 4


percebe-se que a maioria das vítimas do (localizada logo abaixo), retrata que dos
cyberbullying não foram tão afetados com 237 entrevistados que já foram expostos ao
tal agressão, havendo uma predominância bullying virtual, 54 (11,7%) pessoas
nos tópicos 1 e 2 (28%), além de tiveram a relação com a própria imagem
continuarem a vida normalmente, seja por muito ruim, 65 (14,1%) consideraram
já estarem acostumados com apenas ruins, 46 (10%) se sentiram neutros
comportamentos agressivos dos ofensores em relação a isso, enquanto 36 (7,8%)
ou por já terem desistido de cobrar o ficaram com uma relação boa e 36 (7,8%)
monitoramento mais efetivo das se sentiram ótimos. Das vítimas
plataformas virtuais. entrevistadas, quase 50% delas se afetaram
10

psicologicamente, e apenas a minoria das sido alvos do cyberbullying, 38 (8,3%)


pessoas afirma que não se abalaram. consideram apenas ruim, e 74 (16,1%)
Além disso, 24 (5,2%) pessoas consideram as habilidades de socialização
consideram muito ruim sua capacidade de medianas.
socializar com novas pessoas após terem
Tabela 4
Autoavaliação das vítimas em relação aos aspectos da saúde após sofrerem cyberbullying

Variáveis Fi Fr (%)
Relação com a própria imagem
1 (muito ruim) 54 11,7
2 65 14,1
3 46 10,0
4 36 7,8
5 (ótimo) 36 7,8
Nunca sofri cyberbullying 223 48,5
Total 460 100

Capacidade de socializar com


pessoas novas
1 (muito ruim) 24 5,2
2 38 8,3
3 74 16,1
4 51 11,1
5 (ótimo) 53 11,5
Nunca sofri cyberbullying 220 47,8
Total 460 100

Desenvolvimento de distúrbios
alimentares
Sim 54 11,7
Não 187 40,7
Nunca sofri cyberbullying 219 47,6
Total 460 100

Por outro lado, 24 (5,2%) pessoas fizeram parte da amostra e colaboraram


consideram muito ruim sua capacidade de para a pesquisa.
socializar com novas pessoas após terem No que se refere ao desenvolvimento
sido vítimas do cyberbullying, 38 (8,3%) de distúrbios alimentares após serem alvos
consideram apenas ruim, e 74 (16,1%) se de situações traumáticas na internet, das
sentem neutros diante a essa situação, 241 (52,4%) vítimas que foram
enquanto 51 (11,1%) se consideram bons entrevistadas, enquanto 187 (40,7%) não
em desenvolver novos relacionamentos sofreram de tal forma, 54 (11,7%)
mesmo após serem vítimas, e 53 (11,5%) afirmaram que acabaram por desenvolver
se consideram muito bons. É notável que a algum transtorno alimentar, número baixo
situação afetou as habilidades de quando comparado ao total, mas que
socialização de poucas das vítimas que deveria estar na faixa de 0%.
11

19.3% 19.1%
(89) (88)

61.5%
(283)
Sim Não Não me recordo

Gráfico 4. Relação entre os respondentes que já praticaram cyberbullying, não se recordam


ou nunca praticaram

Em relação ao número de indivíduos cyberbullying em jogos e/ou redes sociais.


que já praticaram cyberbullying, das 460 Além disso, dos 398 (86,5%) que já
pessoas que responderam ao questionário, presenciaram, 74 (16,1%) disseram
283 (61,5%) nunca praticaram violência presenciar várias vezes ao dia, 69 (15%)
virtual e 89 (19,3%) não se recordam se já presenciam algumas vezes ao dia, 144
cometeram tal ato. Outros 88 (19,1%) (31,3%) presenciam ocasionalmente (de
entrevistados declararam que já foram quatro a cinco vezes na semana). Apenas
agressores na internet. 111 (24,1%) afirmaram raramente
Além disso, apenas 62 (13,5%) dos presenciar tal situação, ou seja, entre quatro
colaboradores nunca presenciaram vezes ou menos por mês.

144
160
140 111
120
100 74 69
80 62
60
40
20
0
Sempre (várias Algumas vezes ao Ocasionalmente Raramente Nunca
vezes ao dia) dia (cinco vezes ou (quatro a cinco (quatro vezes ou
menos) vezes na semana) menos por mês)

Gráfico 5. Quantitativo de indivíduos e a frequência com a qual presenciaram e/ou presenciam


cyberbullying em redes e jogos sociais
12

Como exibido no gráfico 6, para os (3,5%) não acham que deveriam tentar
usuários que estão frequentemente online, não melhorar o ambiente virtual.
é muito raro ver alguém sendo exposto ou
sendo ofendido nas redes sociais ou jogos. Por
conseguinte, cerca de 329 (71,5%) das pessoas 11,5%
que responderam ao formulário dizem já terem 3,5% (53)
(16)
defendido pessoas que foram vítimas do
cyberbullying, enquanto 56 (12,2%) não
defenderam e 75 (16,3%) dos entrevistados
nunca presenciaram a situação em questão.

16% 85%
(75) (391)

12%
(56) Sim Não Não surtiria efeito

Gráfico 7. Opinião dos entrevistados acerca


72% da existência do maior controle das mídias
(329) sociais e dos jogos online pelos próprios
administradores

Sim Não Nunca presenciei Discussão

Gráfico 6. Quantitativo de respondentes que A princípio, após a análise dos dados


nunca presenciaram cyberbullying e aqueles coletados, é interessante ressaltar que o
que presenciaram e defenderam ou não fato da maior parte da amostra ter sido
defenderam
composta por adolescente de até 18 anos e
Certamente, é uma tarefa difícil jovens de 19 a 24 anos, revelou-se que as
controlar o que todas as pessoas fazem na redes sociais Instagram, Whatsapp e
internet, mas algumas plataformas digitais Twitter possuem uma predominância em
deixam a desejar no que diz respeito à sua comunidade de usuários que fazem
construção de um bom ambiente para seus parte desses intervalos de idade. E,
usuários. conforme a exposição de alguns autores
Destarte, uma das estratégias que (SHARIFF, 2011; FONSECA, 2015) isso
podem ser utilizadas no combate à agressão se dá pelo fato da popularização da internet
online é a maior fiscalização e regramento e pela liberdade que o ciberespaço
mais rígidos para que o sujeito possa fazer proporciona para esses indivíduos, um
parte de determinadas comunidades em ambiente sem restrições os quais podem ser
jogos ou redes sociais. utilizados em completo anonimato,
Portanto, conforme pode ser possibilitando também uma fuga do mundo
observado no Gráfico 7, para 391 (85%) real.
dos entrevistados, deveria existir maior Além disso, pode-se afirmar que um
controle das mídias sociais e de jogos para quantitativo significativo de respondentes
tentar reduzir essa violência, enquanto 53 do espaço amostral declararam já terem
(11,5%) acham que não surgiria efeito e 16 sofrido cyberbullying, sendo os
13

comportamentos mais assinalados: o Considerações finais


insulto à aparência física e a provocação
O objetivo principal do presente
contendo conteúdos discriminatórios,
estudo foi analisar o quantitativo de
como o racismo e a homofobia. Shariff
respondentes que já haviam sido expostos
(2011), declara que a agressão física ou
ao fenômeno do cyberbullying e explicitar
verbal não só no meio físico, mas também
as principais características deste tipo de
no meio virtual são frutos da cultura de
violência, visando também ampliar as
uma sociedade hostil, construída em cima
informações acerca da temática, visto que
de séculos de discriminação às minorias,
esta ainda é relativamente recente no
fator que contribuiu para a perpetuação de
âmbito científico.
ideias hegemônicas até os dias atuais e suas
Segundo a análise dos dados
ampliações para a internet.
coletados, quase metade do espaço
De modo geral, as principais
amostral (48.5%) já foram vítimas de
consequências da violência virtual no
cyberbullying, retratando o quão relevante
presente estudo giraram em torno da
é colocar tal temática em pauta de
distorção da autoimagem,
discussão no meio coletivo. Além disso,
desenvolvimento de transtornos
observou-se que os agressores são movidos
alimentares e o sentimento de tristeza
pelas hegemonias que permeiam a própria
constante. Na literatura sobre a temática,
sociedade e formam a base que sustenta os
observou-se implicações semelhantes para
sistemas de opressão, os quais permitem
a saúde mental das vítimas, englobando
com que estes indivíduos sintam que
também reflexos negativos no âmbito
tenham poder para tratarem outros sujeitos
escolar, a presença de apatia, insônia,
da maneira que bem entenderem,
comportamento agressivo e menor apetite.
espalhando discursos de ódio e
(GONDIM; RIBEIRO, 2019; FERREIRA;
contribuindo para o mal estar dos
DESLANDES, 2018)
atingidos.
Ademais, as intervenções propostas
Por conseguinte, os impactos para a
em materiais já escritos sobre o tema
saúde mental das vítimas que responderam
envolvem o detalhamento do fenômeno
o questionário proposto foram
cyberbullying bem como a disseminação
significativos, englobando tristeza e falta
de informação e conscientização da
de interesse, relação com a autoimagem
coletividade acerca desse male.
depreciada e até mesmo o desenvolvimento
(GONDIM; RIBEIRO, 2019; SOUZA;
de distúrbios alimentares, mesmo que em
SIMÃO; CAETANO, 2013)
uma parcela menor da amostra (11.7%).
Em relação aos dados da pesquisa,
Por fim, considerou-se o
observou-se que para 85% dos
desenvolvimento de intervenções, tanto no
respondentes, deveria haver maior controle
âmbito educativo quanto no administrativo
das redes sociais e jogos por parte dos
das próprias ferramentas online. Dessa
próprios moderadores, com a finalidade de
forma, enquanto no campo da educação
reduzir a violência virtual.
seriam elaboradas propostas de
Apesar disso, não adiantaria ter maior
conscientização para os indivíduos acerca
fiscalização, sem a conscientização dos
do bullying virtual, os moderadores de sites
indivíduos acerca do uso do ciberespaço e
e jogos estabeleceriam políticas mais
a construção de um olhar mais empático.
rígidas para o enfrentamento da causa.
14

É interessante ressaltar também que o Cyberbullying em estudantes do ensino


estudo aqui apresentado possui limitações. médio em Juazeiro-BA. Revista do
Nufen, Belém, v. 11, n. 1, p. 102-121, abr.
Exemplificando, foi analisada apenas uma 2019. Disponível em:
pequena amostra, de maneira geral e http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rnufen/v11n
superficial, se comparada com a infinidade 1/a08.pdf. Acesso em: 20 nov. 2020.
de residentes do Brasil. Mas, apesar disso, IBGE (org.). Uso de internet, televisão e
pelo tema ainda ser bem recente, a celular no Brasil. 2018. Disponível em:
colaboração propiciou o esclarecimento de https://educa.ibge.gov.br/criancas/brasil/2
697-ie-ibge-educa/jovens/materias-
alguns conceitos e contextos do
especiais/20787-uso-de-internet-
cyberbullying, bem como auxiliou na televisao-e-celular-no-brasil.html. Acesso
abertura de novos horizontes para que em: 20 nov. 2020.
outros estudos sejam elaborados a fim de NICOLACI-DA-COSTA, Ana Maria. Visões
estabelecerem melhores intervenções para da Pós-modernidade: discursos e
tratar do assunto. perspectivas teóricas. Psicologia:
Ciência e Profissão, Brasília, v. 24, n. 1,
Referências p. 184-217, mar. 2004. Disponível em:
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20 nov. 2020. SOUZA, Sidclay Bezerra; SIMÃO, Ana
Margarida Veiga; CAETANO, Ana Paula.
GONDIM, Liberalina Santos de Souza;
Cyberbullying: percepções acerca do
RIBEIRO, Marcelo Silva de Souza.
fenômeno e das estratégias de
15

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Crítica, Porto Alegre, v. 27, n. 3, p. 582-
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