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O MITO DA CAVERNA

Nossa natureza humana vive banhada em luz ou mergulhada em sombras. Vê!


Seres humanos vivendo em um abrigo subterrâneo, uma caverna, cuja boca se abre para
a luz, que a atinge em toda a extensão. Aí sempre viveram, desde crianças, tendo as
pernas e o pescoço acorrentados, de modo que não podem mover-se, e apenas vêem o
que está à sua frente, uma vez que as correntes os impedem de virar a cabeça. Acima e
por trás deles, um fogo arde a certa distância e, entre o fogo e os prisioneiros, a uma
altura mais elevada, passa um caminho. Se olhares bem verás uma parede baixa que se
ergue ao longo desse caminho, como se fosse um anteparo que os animadores de
marionetes usam para esconder-se enquanto exibem os bonecos.
À nossa frente ergue-se uma parede e atrás de nós, uma fogueira. Incapazes de virar a
cabeça, vemos somente as sombras projetadas na parede pelo fogo. Nada conhecendo,
além disso, naturalmente tomamos essas sombras por “realidade”. Os seres humanos,
nossos companheiros, assim como todos os objetos da caverna, para nós não passam de
sombras; não têm, para nós, outra realidade além dessa. Mas se pudéssemos nos libertar
das correntes, se pudéssemos ao menos nos virar para a entrada da caverna, poderíamos
constatar o nosso erro. A princípio, a luz direta nos seria dolorosa e perturbadora.
Porém, logo nos adaptaríamos e começaríamos a perceber as pessoas e objetos reais, que
só conhecíamos em forma de sombras. Mesmo assim, devido ao hábito, nos
agarraríamos às sombras, ainda acreditando que elas fossem reais, e suas fontes, apenas
ilusões. Mas se fossemos tirados da caverna para a luz, cedo ou tarde chegaríamos à
visão correta das coisas e lamentaríamos nossa antiga ignorância.
Nossas mentes estão escravizadas a imitações que nós, desta maneira, confundimos com
a realidade.

PLATÃO (Atenas, 428/427 – Atenas, 348/347 a.C.)

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