A heterogeneidade física do território catarinense, subproduto dos
elementos naturais pertinentes ao Brasil meridional, é amplamente observada no desenvolvimento de sua economia e sociedade, da colonização a atualidade; sendo incontestável a inter-relação que os elementos naturais tiveram, e continuam a ter, entre si quanto em relação às atividades humanas. Não obstante, embora os elementos naturais atuantes sobre o território catarinense seja parte de um contexto mais amplo, incluindo todo o Brasil Meridional ou mesmo a América do Sul, algumas características proporcionam a Santa Catarina um caráter próprio.
É o que ocorre quanto à constituição do relevo, cujas diferenças em
relação ao vizinho estado do Rio Grande do Sul são marcantes. Enquanto em nosso estado há predomínio de áreas planálticas, no Rio Grande do Sul mais da metade do território está abaixo da cota dos 200 metros de altitude, observado não somente na área litorânea, mas principalmente a sul e oeste, na região da campanha gaúcha. As condições do relevo influenciaram na formação de regiões com características econômico-sociais distintas, haja vista a dificuldade de interligação, questão bastante visível em relação ao contato litoral interior. O esboço hipsométrico do estado de Santa Catarina demonstra bem esta situação, evidenciada pela presença da Serra Geral e Serra do Mar. Por séculos, um sério entrave à penetração para o interior, fator característico do isolamento do litoral com as demais áreas do estado, só amenizadas recentemente por condições mais favoráveis em relação às vias de acesso ao Planalto e Oeste.
Quadro das zonas altimétricas do estado de Santa Catarina
Zonas Altimétricas Sup. Aprox. Km2 % Sup. do estado
0 a 200 metros 14.440 15,1 200 a 400 metros 9.280 9,7 400 a 600 metros 11.720 12,3 600 a 800 metros 19.400 20,4 800 a 1000 metros 25.120 28,8 1000 a 1200 metros 10.520 21,0 1200 a 1400 metros 3.520 3,7 1400 a 1600 metros 680 0,7 1600 a 2000 metros 360 0,3
As altitudes inferiores a 400 metros constituem menos de 25% da
superfície total do estado, incluindo aí as planícies costeiras e trechos do rio Uruguai, além de pequenos planaltos adjacentes a ambas as regiões. O grosso da superfície catarinense situa-se ente 400 e 1200 metros (mais de 70%). Acima dos 1200 metros apenas as serras mais elevadas, englobando menos de 5% do estado. Aspectos inerentes à formação geológica, que proporcionaram diferentes características de relevo e igualmente de formação edáfica, influíram diretamente no aparecimento de diferentes tipos de vegetação. Do litoral, adentrando-se até os contrafortes da Serra Geral, a vegetação característica é a floresta conhecida por Mata Tropical Atlântica, composta principalmente por espécies perenes e latifoliadas. Foi nesta área que ocorreu a penetração inicial do povoamento e colonização, superando as dificuldades da mata fechada, conforme evidenciava Saint-Hilaire em 1820 em sua Viagem a Provincia de Santa Catharina. Em certos trechos do litoral (da Ilha de Santa Catarina até a altura de Itajaí) tal floresta alcança a costa. No restante, domina a vegetação de restinga, dunas e/ou mangues. Em direção oeste, ultrapassando a vertente da Serra Geral, a mata atlântica é gradativamente substituída por mata de araucárias e por campos limpos, a vegetação típica da região do Planalto. Os campos atraíram, a partir do século XVIII, povoamento paulista proveniente da alta sorocabana que os aproveitaram na criação de gado; enquanto que o pinhão, a “semente-fruto” do pinheiro favorecia a criação e comércio de porcos. A partir do século XIX, mas principalmente em meados do século XX, o pinheiro favorece a implantação de uma forte economia madeireira, mas que levaria esse tipo de vegetação à quase extinção. Já no extremo oeste, seguindo o curso do rio Uruguai, os pinheiros vão escasseando, dando lugar à mata subtropical, de espécies perenes latifoliadas mais próximas da encontrada no litoral. Foi para onde se dirigiu o povoamento de origem européia advindo do Rio Grande do Sul. A forte exploração madeireira fez desaparecer a vegetação original, hoje transformada em áreas de cultivos de soja e milho.
Da mesma forma que a vegetação, a hidrografia catarinense é
influenciada pela constituição geológica e geomorfológica, cujos rios dirigem-se para duas vertentes bem nítidas: uma a leste, para o Atlântico, e outra a oeste, formadora das bacias dos rios Uruguai e Iguaçú, ambos os rios parte da grande bacia do Rio da Prata. Embora menos extensa, a primeira vertente nos evidencia um aspecto característico: a formação de várias pequenas bacias que se dirigem para diferentes pontos do litoral do estado, formando inúmeros pequenos vales, separados por pequenas cadeias de serras, e com contato direto com o mar. O que proporcionou, conforme a forma de povoamento e desenvolvimento das atividades produtivas, o desenvolvimento de centros comerciais independentes, dificultando, de certo modo, um maior desenvolvimento econômico de Florianópolis, a capital. A vertente oeste, forma, por sua vez, uma extensa bacia hidrográfica, dominando mais da metade do estado, englobando toda a região do Planalto, Vale do Peixe e Oeste. Seus rios dirigem-se ou para o norte, formando a bacia do rio Iguaçú, ou para o sul, na direção do rio Uruguai, o mais extenso rio de Santa Catarina e fronteira natural com o estado do Rio Grande do Sul. No período do ciclo madeireiro, foram importantes no transporte de toras de madeiras serradas que se dirigiam às serrarias da região. Finalmente, o clima em Santa Catarina, para ser compreendido, tem-se que considerar o mecanismo geral da circulação atmosférica que se individualiza no quadro sul-americano sobre o Brasil Meridional, não se esquecendo que o relevo influenciará em sua constituição final, especialmente na região do Planalto. O sul brasileiro é dominado por sistemas de massas de ar inter tropicais (quentes) em que se destaca a Massa Tropical Atlântica, de ação mais persistente, enquanto a Massa Equatorial Continental, menos ativa, tem ação complementar. Atuam principalmente no verão, produzindo fortes chuvas iniciais, seguidas de bom tempo, com temperaturas elevadas. Quanto às massas polares (frias), são responsáveis pelo caráter mesotérmico do clima. Seus efeitos são sentidos no sul brasileiro principalmente no inverno, variando segundo a influência de fatores geográficos, como a altitude, por exemplo. É o caso do Planalto, cuja ação é mais intensa, implicando na ocorrência de geadas e inclusive na queda de neve. O choque entre as massas intertropicais e a massa polar dá origem à Frente Polar, reguladora do clima na região, a qual mantém certa regularidade durante o ano embora em ritmos diferentes. Sua influência no clima regional é bastante sentida, seja na instabilidade do tempo, seja na elevada pluviosidade no decorrer do ano. Muito embora os fatores geográficos em Santa Catarina não sejam sério obstáculo à propagação das correntes de circulação regional, a variabilidade daqueles (proximidade ou afastamento do mar, diferenças de altitude, situação topográfica, exposição ou abrigo a ação do vento, revestimento vegetal, etc), promove certa individualidade local, bastante visível nas diferenças de temperatura entre as áreas litorâneas (mais quentes) e o Planalto (com temperaturas mais baixas).