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(Texto baseado no Relatório da Comissão para a educação para o século XXI para a UNESCO)
Na verdade, solicitados por todo o lado, os sistemas educativos devem dar respostas não só às
exigências culturais e éticas, mas também vencer o desafio da tecnologia, que constitui uma das
principais vias de acesso ao século XXI.
Porém, a educação não pode fazer tudo e, algumas esperanças podem se transformar em
desilusões. Neste caso, é preciso que se façam opções que podem ser difíceis quando está em
causa a equidade e a qualidade dos sistemas educativos. É por isso que essas opções são da
sociedade e podem variar segundo os países. Contudo, deve haver coerência entre as opções e as
estratégias adoptadas. Por um lado, entre estas estratégias, estão os recursos oferecidos pela
sociedade de informação e as possibilidades criadas pela inovação e pela descentralização. Por
outro lado, estas estratégias carecem de uma regulamentação do conjunto da educação e, este
papel cabe ao político, a quem compete:
É por isso que a UNESCO recomenda uma descentralização dos sistemas educativos, apoiada na
autonomia das escolas e da participação efectiva dos agentes.
É neste âmbito que os poderes públicos devem exercer duas tarefas fundamentais, a saber:
Assim se justifica o papel do Estado que diz respeito, principalmente às opções de sociedade que
imprimem a sua marca na educação, mas também à regulamentação do conjunto do sistema,
assim como à promoção do valor da educação.
▪ Aumentar os recursos públicos, em vez de outras despesas, é uma necessidade para todos
os países, sobretudo nos países em desenvolvimento;
▪ Mobilizar os recursos financeiros privados, a fim de limitar a pressão exercida sobre o
orçamento dos Estados;
▪ Recorrer aos sistemas de financiamento, combinando fundos públicos e privados em
proporções variáveis, segundo os níveis de ensino, para assegurar a gratuidade de ensino;
▪ Descentralizar a administração das escolas e conferir-lhes maior autonomia;
▪ Introduzir medidas para melhorar a relação custo/eficácia nos países em desenvolvimento
através de acções, como o prolongamento do ano escolar, construção de escolas a custos
reduzidos e o desenvolvimento do ensino à distância;
▪ Reexaminar as modalidades de financiamento da educação numa perspectiva mais ampla,
procurando conciliar a igualdade de oportunidades com a diversificação dos percursos
individuais no final da escolarização obrigatória, financiada com fundos públicos, no
âmbito do princípio da educação ao longo de toda a vida; e
▪ Atribuir a cada jovem, no momento em que começa a sua escolaridade um crédito de
tempo para a educação, correspondente a determinado número de anos de ensino.
Tendo em conta que as sociedades actuais são sociedades de informação, nas quais o
desenvolvimento das tecnologias pode criar um ambiente cultural e educativo susceptível de
diversificar as fontes do conhecimento e do saber, a UNESCO está consciente dos contrastes
profundos entre países industrializados e em desenvolvimento em matéria de capacidade de
investimento, de potencial de pesquisa e concepção, de resultados comerciais ou de taxas de
rentabilidade. Como resultado, os países em desenvolvimento, por terem níveis de escolaridade
menos elevados e infra-estruturas menos desenvolvidos, em contraste com os países
desenvolvidos, as prioridades em matéria de utilização das tecnologias na educação serão
também diferentes.
O debate actual gira em torno da utilização das tecnologias de informação em larga escala no
futuro. Com isto, pretende-se indicar um certo número de pontos relacionados com a sua
utilização na educação e sobre os quais, a comunidade internacional poderá reflectir no futuro.
Tais são os casos:
Futuramente, não bastará que cada um acumule no início da vida uma determinada quantidade de
conhecimentos de que se possa abastecer indefinidamente. Antes pelo contrário, será necessário
aproveitar e explorar, do começo ao fim da vida, todas as ocasiões de actualizar, aprofundar e
enriquecer estes primeiros conhecimentos e de se adaptar a um mundo em mudanças. Esta
reflexão nos leva à ideia de uma educação ao longo de toda a vida, que se baseia em quatro
pilares, que são: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.
Nesta perspectiva:
Nas economias industriais domina o trabalho assalariado e o seu futuro depende da sua
capacidade de transformar o progresso dos conhecimentos em inovações geradoras de novas
empresas e de novos empregos.
Actualmente assiste-se, tanto na indústria, como nos serviços, à substituição do trabalho humano
pelas máquinas que tornam o trabalho cada vez mais imaterial, acentuando o carácter cognitivo
das tarefas.
Perante a nova dinâmica que se assiste, o aprender a fazer já não significa somente preparar
alguém para tarefa material bem determinada, mas também significa oferecer competência
profissional, onde as tarefas físicas são substituídas por tarefas de produção mais intelectuais e
mentais, que se acentuam com o impressionante crescimento do sector dos serviços.
Nas outras economias domina o trabalho informal e a sua natureza é muito diversificada. Aí as
competências são do tipo tradicional e a aprendizagem não se destina, apenas a um só trabalho,
mas tem como objectivo mais amplo preparar o indivíduo para a participação formal ou informal
no desenvolvimento, afigurando-se como uma qualificação mais social do que profissional.
Nestas economias, encara-se o futuro como estando estreitamente ligado à aquisição da cultura
científica que lhes dará acesso à tecnologia moderna, sem negligenciar com isso as capacidades
específicas de inovação e de criação, ligadas ao contexto local.
Uma questão se coloca para ambas economias: como aprender a comportar-se, eficazmente,
numa situação de incerteza e como participar na criação do futuro?
5.2.3. Aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros
Este tipo de aprendizagem visa desenvolver a compreensão do outro e a percepção da
interdependência no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz, ou
seja, realizar projectos comuns e preparar-se para gerir conflitos.
▪ O ser humano deve ser preparado, desde a juventude, a elaborar projectos autónomos e
críticos, bem como a formular os seus próprios juízos de valor, para poder decidir por si
mesmo e agir nas diferentes circunstâncias da vida;
▪ Deve-se fornecer às crianças as forças e as referências intelectuais que lhes permitam
compreender o mundo que as rodeia, de forma a comportar-se nele como actores
responsáveis e justos;
▪ Conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento, sentimento
e imaginação de que necessitam para desenvolver os seus talentos e permanecerem
donos do seu próprio destino;
▪ Deve-se dar importância à imaginação e criatividade, como claras manifestações da
liberdade humana; e
▪ Deve-se oferecer às crianças e aos jovens adolescentes todas as ocasiões possíveis de
descoberta e de experimentação nos campos estético, artístico, desportivo, científico,
cultural e social.