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As Letras Hebraicas – Introdução

Uma Breve História da Cabala


Duas das mais antigas meditações da índia são centradas nos sons "ahhh" e
"ohhhhm".
A meditação no som "ahhh" costuma ser praticada pela manhã com o propósito de
realizar as coisas que se deseja manifestar no mundo físico.
A meditação no som "ohhhm" é feita à noite, para equilibrar tanto as energias
internas como as referentes à relação entre a pessoa e o universo.
Quando esses dois sons são pronunciados juntos, é interessante notar que se tem o
mesmo padrão sonoro encontrado na palavra hebraica shalom (shahhhlohhhm),
que significa "paz", "alô", "até logo" e muito mais.
Esse é um exemplo perfeito dos mistérios que existem por trás até mesmo das
coisas mais simples, como palavras e letras.

O que é a Cabala?
A palavra hebraica cabala provém da raiz kabel, que significa "receber".
A cabala é um conjunto de escrituras místicas baseadas num livro chamado Zohar
(também conhecido como "O Livro do Esplendor"), que é uma interpretação dos
livros que, em seu conjunto, são conhecidos como a Torá Oral.
A Torá Escrita, também conhecida como os Cinco Livros de Moisés, o Antigo
Testamento, ou simplesmente Torá, é o texto original da fé judaica.
A Torá Oral interpreta a Torá e a aplica à vida cotidiana, enquanto o Zohar se
concentra no motivo pelo qual uma pessoa escolhe viver dessa ou daquela maneira.
E esse motivo, conforme acaba se revelando, é muito simples: porque viver a vida
como um ser espiritual totalmente desperto é o maior poder que se pode alcançar.
É também a coisa mais difícil de se realizar, uma vez que implica abrir mão das
verdades externas e voltar-se para os aspectos internos de si mesmo.
A Cabala procura nos levar a uma consciência pré-bíblica, uma esfera de valores
atemporais que existiram antes da religião institucionalizada.
Esse estado de ser é de pura religiosidade: é o momento que precede a oração,
quando você fecha os olhos e antes sente as forças que estão fora de sua
compreensão, mais do que as palavras contidas na prece ou como elas são ditas.
Para funcionar no plano místico da Cabala, a pessoa precisa estar preparada para
receber coisas e aceitar forças que estão fora e acima de seu controle.
Receber, nesse caso, é também deixar ir, abrir mão de idéias preconcebidas, do
ego e do medo.
Se nos permitirmos receber e abraçar o conhecimento e a consciência do
pensamento cabalístico, nós logo seremos capazes de acessar a energia que
interliga todas as coisas e traz mais sentido para as nossas vidas.

De onde vem a Cabala?


Considera-se que muito antes de a Torá ter sido escrita, Abraão, o primeiro judeu,
tenha escrito um livro chamado Sefer Yetzirah (ou o "Livro da Criação"), o primeiro
livro escrito em hebraico e o primeiro a descrever as energias dos planetas e do
zodíaco.
Essa obra pode também ser lida como um guia de meditação para a canalização de
energias do universo para uma ampla variedade de propósitos.
Através dos tempos, sempre houve grupos de estudiosos sintonizados com os
níveis mais profundos do significado da Torá e que estudaram o Sefer Yetzirah com
todos os seus ensinamentos místicos.
Finalmente, esses grupos de sábios acabaram ficando conhecidos como cabalistas.
Um estudioso em particular, o rabino Shimon bar Yochai, passou treze anos
escondido numa caverna com seu filho, o rabino Eliezer, anotando os ensinamentos
do mundo místico.
O trabalho de todos esses anos resultou no Sefer HaZohar, que é uma
interpretação mística da Torá escrita em aramaico antigo e que hoje é conhecido
simplesmente como Zohar.
No Zohar, o rabino Shimon bar Yochai estabelece o conceito básico das dez
Sephiroth (níveis ou dimensões de energia) usadas por Deus para criar o universo.
Cada sephirah, ou esfera, representa certos aspectos da humanidade e sua busca
de sentido através do entendimento de Deus e do universo.
Elas são muitas vezes apresentadas num gráfico em forma de uma pessoa, com
cada sephirah correspondendo a uma parte do corpo e da psique humana.
Para se ter uma visão geral desse sistema extremamente complexo, os três níveis
superiores (Kether: a Coroa; Chokmah: Sabedoria; e Binah: Entendimento) são
considerados além do entendimento humano; os seis níveis intermediários
(Chesed: Misericórdia; Geburah: Poder; Tiphareth: Beleza; Netzach: Vitória; Hod:
Esplendor; e Yesod: Alicerce) correspondem aos caminhos cada vez mais
complexos pelos quais uma pessoa pode chegar até Deus; e o último nível
(Malkuth: O Reino) representa o mundo físico.
Cada sephirah tem suas próprias características e inteligência energética, além de
uma grande quantidade de significados, símbolos correspondentes, etc.
Isso é apenas o começo de um sistema de associações que vai se tornando cada
vez mais rico e complexo e que vai levando a pessoa a um entendimento cada vez
mais profundo do universo.

Revelando a Tradição Oculta


Por inúmeras gerações, a Cabala foi ocultada do grande público.
Havia inúmeras razões para que as pessoas fossem desencorajadas a estudar o
Zohar; por exemplo, dizia-se que esses livros eram tão poderosos que só deveriam
ser lidos por homens casados e com mais de quarenta anos que tivessem adquirido
a maturidade e o conhecimento necessários.
Em outras palavras, os poderes místicos contidos no Zohar eram considerados
sobrepujantes demais para serem utilizados pela população em geral.
Os estudiosos que conheciam o poder dessas escrituras receavam pelo que pudesse
vir a acontecer se eles caíssem em mãos de malfeitores.
É mais provável, no entanto, que essas restrições e advertências fossem
simplesmente para encobrir o fato de o Zohar ser um texto incrivelmente complexo
escrito em aramaico antigo e que poucas pessoas tinham condições de decifrá-lo
devidamente para ensiná-lo.
Quando ele finalmente foi traduzido — e o nível das comunicações havia avançado
o suficiente para que os eruditos pudessem interpretar o texto de maneira
compreensível, tornando o livro acessível ao grande público — muitas gerações
haviam se passado.
Hoje, nós temos acesso não somente aos textos, mas também às dezenas de livros
que nos ajudam a entendê-los e aplicá-los em nossas vidas.
No Zohar, há uma profecia de que na Era de Aquário todo mundo ia conhecer os
segredos da Cabala, já que eles viriam a constituir os princípios essenciais da vida.
O conhecimento e o avanço científicos seriam necessários para o surgimento da Era
de Aquário, na qual todas as pessoas reconheceriam as leis da natureza.
Essa era é a que estamos vivendo hoje.
O acesso incrível que temos à informação, por meio de recursos como a Internet,
como também do mundo totalmente globalizado, faz de nosso tempo a era em que
o acesso a essas informações por tanto tempo ocultadas seja possível.
Foram necessários os eventos catastróficos do século passado — incluindo o
Holocausto, as guerras devastadoras e, mais recentemente, o 11 de Setembro —
para que as pessoas se dispusessem a explorar os recônditos mais profundos de
suas tradições espirituais em busca de refúgio da confusão deste mundo cruel.
Agora que estamos aqui, temos a oportunidade de aprender a conhecer os
princípios da Cabala e termos acesso a um mundo que por tanto tempo nos foi
ocultado.
Os Mistérios do Aléph-Bet
O Zohar ensina que a Torá é feita de fogo negro sobre fogo branco.
O que quer dizer que o fogo negro representa as letras verdadeiras escritas sobre o
manuscrito físico da Tora, enquanto o fogo branco é o espaço entre e em volta de
cada letra.
Juntos, esses dois elementos formam o conjunto que conhecemos como Torá; e o
espaço branco vazio é exatamente tão importante quanto as marcas negras que
formam as letras e palavras que lemos.
O fogo negro, segundo o que diz a Cabala, é o simples significado literal do texto, a
parte que conseguimos entender intelectualmente, enquanto o fogo branco é o lado
mais contemplativo, a parte que temos de encontrar por nós mesmos,
interpretando, avaliando e emocionalmente entrando em contato com o material.
Alguns rabinos dizem que a Torá do fogo negro é a que temos neste mundo, mas
que no mundo por vir, quando tivermos alcançado um plano espiritual mais
elevado, seremos capazes de ler a Torá do fogo branco.
Em outras palavras, as partes da vida que são ocultadas de nós, as coisas que não
são percebidas diretamente por nossos cinco sentidos, são exatamente tão
importantes quanto qualquer outra coisa, talvez até mais importantes.
Mas enquanto não alcançamos o nível de poder "ver" o fogo branco, temos que, em
primeiro lugar, nos concentrar no que podemos aprender com o fogo negro.

Números e Letras
A Cabala nos ensina que é possível interpretar e reinterpretar as lendas e fábulas
tradicionais da Tora em níveis infinitos de significação.
Pelo uso de técnicas de meditação, nós podemos chegar a ver os mitos com um
nível de profundidade que jamais imaginamos ser possível.
Olhando para as letras hebraicas que formam as palavras nos livros da Torá,
podemos ver formas e figuras que ilustram as narrativas que suas palavras contam.
E pelo uso da gematria (uma forma antiga de matemática sagrada na qual a cada
letra é atribuído um valor numérico e, em seguida, ela é analisada de acordo com o
número que cada palavra totaliza), nós podemos nos levar a um estado mental
onde até mesmo as próprias letras têm muitos níveis de significação.
Essa altera, portanto, a nossa percepção das palavras e contribui para aumentar as
múltiplas interpretações da Tora.
Conforme os cabalistas vêm afirmando há milhares de anos, nós humanos somos
um microcosmo do universo.
Essa é uma referência ao fato de existir 22 letras no alfabeto hebraico e 22
cromossomos no corpo humano — e existe também uma lenda, segundo a qual
Deus, na verdade, criou o ser humano servindo-se das letras do alfabeto.
Independentemente dessa teoria, nós podemos também tirar a conclusão de que
nós, como pessoas, estamos estreitamente ligados às letras que formam a nossa
história e encontramos meios de nos ver em sua própria constituição.
Em resumo, os cabalistas ensinam que existem modos infinitos de manipular as
palavras e as letras, como também centenas de técnicas para colocar as sentenças
em ordem inversa até elas se revelarem para nós de cada ângulo imaginável.
Assim como a equação E=mc2 é muito mais do que um amontoado de letras e
números (é a abreviatura simbólica de uma lei da natureza extremamente
complexa), cada letra do Aleph-Bet representa muito mais do que ela própria.
Um exemplo interessante de gematria é a própria palavra Cabala.
Usando o valor numérico atribuído às letras na tabela 1, podemos ver que as letras
que formam essa palavra são: Kuf (100), Bet (2), Lamed (30) e Heh (5),
resultando no total de 137.
Na física quântica, o número em código mais importante — e mais básico — é o
"número absoluto", que descreve a energia exata na qual o universo inteiro vibra.
Esse número é representado como alfa, o qual é definido pela velocidade da luz e
cujo valor é 1/137, o valor reciproco da palavra Cabala.
Se aprofundar um pouco mais a análise, você vai descobrir que existem números
infinitos de palavras cujo valor numérico soma um total muito maior.
Além da gematria, os cabalistas também fazem uso da teoria do a‘t‘ba'sh, pela qual
cada letra corresponde à letra da extremidade oposta do alfabeto, de maneira que
Aleph, a primeira letra, corresponde a Tav, a última, e Bet, a segunda letra,
corresponde a Shin, a penúltima letra do alfabeto, e assim sucessivamente.
Com apenas essas duas fórmulas em mente, você pode começar a imaginar os
níveis de significação que é possível criar.

As Letras Hebraicas: Visão Geral


Antes que você se deixe envolver demais pelos modos de inverter, contar e
rearranjar as letras do Aleph-Bet em infinitas interpretações, vamos nos deter no
exame das próprias letras.
É importante examinar os caracteres e como eles são desenhados.
Você vai notar que algumas letras são muito parecidas, enquanto outras são
evidentes combinações de umas e outras.
A forma física de cada uma das letras é exatamente tão importante quanto o valor
numérico ou invertido.
A letra Vav, por exemplo, é muitas vezes mencionada na Cabala como a linha reta
da luz divina que desceu do céu para a terra no primeiro instante da criação; por
isso, ela é traçada como uma linha reta vertical.
A Shin é formada de três Vavs e uma linha de ligação na base, simbolizando as
ligações e as similaridades entre os diferentes mundos.
Observe a tabela 1
Se você ainda não conhece as letras hebraicas, concentre-se nelas por algum
tempo para que suas formas sejam assimiladas.
Talvez você se veja atraído para grupos de letras, ou para uma em particular —
talvez a primeira letra de seu nome seja a que você queira começar a explorar.
Como cada letra de cada palavra traz consigo uma energia diferente, é importante
se familiarizar com essas estruturas básicas da língua hebraica.

A Tora Física
Como com tudo no mundo, não há nada de acidental no modo como é produzido o
manuscrito da Tora.
Em primeiro lugar, para ser uma Tora perfeitamente "kosher" para ser usada nas
cerimônias da sinagoga, o rolo tem que ser feito de pergaminho e cada letra
precisa ser escrita à mão por um escriba, chamado Sofer, que é especialmente
treinado na arte da caligrafia bíblica.
Cada letra deve não apenas ser desenhada com perfeição à mão, mas também, se
acontecer de uma letra ou mesmo parte dela ficar rabiscada ou borrada, terá que
ser reparada para poder voltar a ser usada.
Isso pode parecer exagero para as sensibilidades do mundo moderno — afinal, não
podemos simplesmente ler o mesmo texto nos livros impressos profissionalmente?
O que importa se a extremidade de uma letra estiver um pouco borrada?
A resposta é que, durante séculos, os cabalistas afirmaram que a cada ser humano
corresponde uma letra contida no rolo da Torá.
Conseqüentemente, se uma única pessoa foi prejudicada — isso é, se um membro
do grupo encontrar-se de alguma maneira prejudicado ou ocultado — é preciso que
trabalhemos para reparar o erro antes de podermos prosseguir como um todo.
Assim como a sua vida não seria completa se você se concentrasse apenas em si
mesmo, a Tora não pode funcionar sem seus leitores.
Outro aspecto interessante a respeito da escrita do manuscrito da Tora é que ela
tem que ser realizada com a intenção totalmente pura do escriba.
Esse processo difícil e esmerado pode levar muito tempo para ser concluído e
requer treinamento e concentração.
Além da pressão para produzir algo que seja, em essência, totalmente perfeito, o
escriba tem que ainda ter intenções puras ao escrever o manuscrito e estar sempre
pensando no bem da comunidade que irá ler sua obra.
Como com todas as coisas, o escriba tem que ter a motivação para compartilhar e
ter uma atitude energeticamente positiva.

Os Mitos e seus Significados Cabalísticos


O manuscrito da Torá contém os Cinco Livros de Moisés ou o Antigo Testamento.
Escrito à mão sobre pergaminho através de gerações, este livro contém todos os
principais mitos e símbolos arquetípicos que formam os alicerces da fé judaica.
A Tora, segundo os cabalistas, é como a matriz da vida.
Tudo o que está contido no manuscrito tem algo a nos ensinar sobre nossa própria
vida, mesmo nos dias de hoje.
Mesmo que você não consiga vivenciar hoje o relato da experiência de Moisés
separando as águas do Mar Vermelho ou a descrição da cerimônia do Templo
Sagrado, você pode definir os milagres modernos como viagens astrais e sistemas
sofisticados de oração e devoção.
É interessante notar que a primeira palavra da Torá, em hebraico, não começa com
Aleph, que é a primeira letra do alfabeto, mas com Bet, a segunda letra:
"Bereishit bara Elohim (No princípio, Deus criou....)."
Isso é para nos ensinar uma lição essencial: A vida nunca é tão simples quanto
parece e nós só conseguimos ver uma parte minúscula do que de fato está
acontecendo ao nosso redor.
Nós não começamos com Aleph, mas com Bet, nós começamos "no" princípio (a
letra Bet é o prefixo hebraico usado para denotar "em"), dentro de
algo que já existe em algum nível, algo que está além da nossa compreensão
humana.
O começo da Torá com a segunda letra em lugar da primeira é o catalisador da
própria essência da vida espiritual ativa, por impor desde o princípio a pergunta
"Por quê?".
Nós temos que sempre nos esforçar para ver além da superfície e nunca tomar
nada como óbvio.
Nós não fomos colocados aqui neste planeta para termos respostas fáceis e temos
que sempre tentar escavar cada vez mais fundo até alcançarmos nossas verdades
pessoais, até podermos revelar o fogo branco envolvendo o fogo negro que
enxergamos.
Alguns estudiosos da Bíblia consideram o fato de a primeira e a última letra da
Torá, Bet e Lamed respectivamente, quando invertidas, formarem a palavra Lev,
que significa "coração".
Se você voltar atrás e olhar o gráfico com os símbolos hebraicos correspondentes a
essas letras, você vai notar que a figura do Bet apresenta três lados fechados e um
aberto, enquanto o Lamed é aberto na base e depois sobe para o alto.
Essas duas letras representam abertura e crescimento, talvez para nos ensinar que
quando lemos as palavras da Tora, e chegamos a entendê-las por meio da Cabala,
nós deveríamos fazê-lo com o coração aberto e com o desejo de crescer em todos
os níveis.

As Letras da Criação
A palavra hebraica para "letra", , ―ot‖, significa também "sinal", "prodígio" ou
"milagre".
Há milhares de anos os sábios judeus vêm ensinando que as letras do alfabeto
hebraico, o Aleph Beit, incorporam poderes maravilhosos e miraculosos.
De acordo com o mais antigo livro conhecido sobre misticismo judaico, The Sefer
Yetzirah (O Livro da Criação), escrito há mais de quinze séculos, Deus formou todo
o universo pronunciando as vinte e duas letras.
A partir do vazio do silêncio, com a vibração da fala cósmica de Deus, todas as
coisas nasceram.
"E disse Deus: 'Haja luz. E houve luz‖.
Como manifestações da fala de Deus, as letras do Aleph Beit são portanto os blocos
energéticos e vibracionais da criação.
São análogas a elementos físicos.
Assim como, por exemplo, um átomo de gás oxigênio se une a dois átomos de gás
hidrogênio para formar uma molécula de água, uma letra se combina a outra, do
mesmo modo, criando novos entes.
Diz a rabina Marcia Prager:
"Essa percepção das palavras e letras hebraicas como elementos espirituais
constitutivos da existência constitui a base da maior parte da doutrina mística
judaica".
As letras são arquétipos.
Cada uma expressa um poder primordial ou energia criativa específica.
 , Beit, por exemplo, é o signo de "casa".
Mem, é a letra da água e do ventre.
David Abram o expressa do seguinte modo:
"Para os cabalistas, cada letra do Aleph Beit tem sua própria personalidade, sua
própria magia profunda, seu próprio modo de organizar toda a existência em torno
de si".
A obra-prima do misticismo judaico do século XIII, o Zohar, O Livro do Esplendor,
diz:
"Pois quando o mundo foi criado, foram as letras celestiais que deram início a todos
os mecanismos do mundo inferior, literalmente segundo seu padrão. Portanto,
quem tiver delas um conhecimento e observá-las é amado na terra e no céu".
Durante séculos os místicos e eruditos judeus vêm cultivando o conhecimento e a
observação do Aleph Beit, e um vasto folclore e tradição mística surgiu em torno
das letras.
No século XIII, Abraão Abulafia desenvolveu práticas para meditar sobre as letras
que formam os nomes sagrados de Deus.
Ele ensinou como permutar e combinar essas letras de modo a evocar estados
espirituais elevados.
Abulafia e outros cabalistas criaram elaboradas teorias relativas ao papel de cada
letra, sua força numérica e sua posição especial na criação e formação das palavras
da Torah.
Eles acreditavam no poder das letras hebraicas de afetar a realidade de maneiras
profundas.
Alguns rabinos e estudiosos invocavam, por exemplo, fórmulas na tentativa de criar
golems, criaturas antropomórficas feitas de argila.
A palavra "fórmula" indica os poderes mágicos inerentes à combinação das letras.
Uma fórmula bastante conhecida, a palavra encantatória "abracadabra", talvez
derive do hebraico , abra k‘adabra, que significa literalmente "eu crio ao falar".
O poder das letras de manifestar-se como objetos físicos se reflete na raiz comum
dos termos hebraicos para "palavra" e "coisa",  
dibur, e , davar.
As palavras são coisas, e as coisas são palavras manifestadas.
Na Torah, os Dez Mandamentos não são chamados de "Mandamentos", mas de
―aseret ha'debrot‖, os "Dez Pronunciamentos" ou "Dez Frases".
O Zohar descreve como a voz de Deus criou as tábuas que continham os Dez
Pronunciamentos:
"Quando surgiram, as letras eram muito refinadas, entalhadas com precisão,
brilhantes, cintilantes. Todo Israel viu as letras voarem pelo espaço, em todas as
direções, e gravarem-se nas tábuas de pedra".
No século XVIII, surgiu na Europa oriental o movimento conhecido como
hassidismo.
Era liderado por Israel ben Eliezer, conhecido como o Baal Shem Tov, ou o Mestre
do Bom Nome.
Já havia existido outros Baal Shems ou Mestres do Nome antes de Israel ben
Eliezer.
O título aludia à mestria na habilidade de combinar e permutar as letras do nome
sagrado de Deus para fins de cura e bênção.
O Baal Shem Tov ensinou uma forma jovial e acessível de misticismo.
Rejeitando a visão legalística do judaísmo rabínico tradicional, o Baal Shem Tov e
seus seguidores enfatizavam o poder da prece simples e sincera.
Essa atitude se reflete nas histórias didáticas relativas ao Aleph Beit.
Numa delas, um pobre fazendeiro judeu ia para a cidade a cavalo para orar na
sinagoga pelo Yom Kippur.
Mas uma forte neblina baixou sobre o campo e ele não conseguiu se orientar.
Quando veio a escuridão, ele se perdeu na floresta e teve de passar a noite do Yom
Kippur ali, sozinho.
O fazendeiro não tinha nenhum livro de preces.
E não sabia as preces de cor.
Cheio de angústia, clamou: "Oh, Deus, o que posso fazer? Como posso rezar para
vós?"
Então lembrou-se do alfabeto que aprendera na infância.
Disse: "Já sei. Vou recitar todas as letras do Aleph Beit e Vós, o Santíssimo,
conheceis todas as palavras e podeis juntar as letras para formar as preces certas
do Yom Kippur".
Assim, passou a noite inteira repetindo continuamente as letras.
Ao ouvir essa história, o Baal Shem Tov disse que essa prece humilde não apenas
havia sido agradável a Deus como seu poder era tão grande que muitas pessoas,
mesmo entre as mais eruditas, tiveram suas preces aceitas naquele Yom Kippur
apenas por causa da sinceridade e pureza do Aleph Beit daquele simples
fazendeiro.
A atitude de que cada letra do Aleph Beit é sagrada se revela no modo como se faz
um rolo da Torah.
Toda Torah é manuscrita.
Não pode haver uma só letra omitida, rasurada ou borrada, e nenhuma letra pode
tocar outra.
Se isso acontecer, todo o rolo é considerado inválido.
Em Nine Gates to the Hasidic Mysteries [As Nove Portas dos Mistérios Hassidicos],
Jiri Langer diz: "Quando um livro está tão desgastado que não se pode mais usá-lo,
o curador o leva para o cemitério e o enterra. Nem mesmo o mais ínfimo pedaço de
papel contendo caracteres hebraicos pode ser deixado ao léu ou pisado; é preciso
enterrá-lo. Pois cada letra hebraica é um nome de Deus".
Há séculos os místicos judeus (e também alguns cristãos) vêm recorrendo a esses
"nomes de Deus" para orientação e inspiração.
Há séculos as pessoas vêm meditando sobre as letras e refletindo sobre seus
poderes especiais.
Ao tentar ganhar intimidade com os blocos da criação, esses buscadores espirituais
anseiam conhecer mais intimamente o Criador.
O Baal Shem Tov ensinou: "Entre em cada letra com toda a sua força. Deus habita
cada letra e, ao entrar, você se une a Deus".

Inspirando a Linguagem: Respiração e Ausência de Vogais no Hebraico


Antigo
As letras hebraicas representam apenas sons consonantais.
As vogais são acrescentadas pela respiração do leitor.
No hebraico moderno, as vogais são indicadas por símbolos inseridos acima, abaixo
ou ao lado das consoantes.
No hebraico moderno, por exemplo, a palavra shamayim, "paraíso", é 
, e os
símbolos abaixo do Shin,  , do Mem, , e do Yud, , mostram as vogais.
Em hebraico antigo, é simplesmente .
Ler hebraico antigo é, portanto, uma experiência profundamente interativa.
A língua só ganha plena vida em voz alta.
David Abram diz: "As letras e textos hebraicos não são suficientes em si mesmos;
para ser lidos, precisam ser enriquecidos, vivificados pela respiração do leitor".
Não apenas o leitor inspira o texto com sua respiração como a ausência de vogais
escritas obriga o leitor a envolver-se ativamente no texto para decidir que vogais
inserir.
Abram prossegue: "Não há um significado único, definitivo; a ambigüidade imposta
pela ausência de vogais escritas permitia que sempre fossem possíveis diversas
leituras, diversas gradações de sentido".
Apesar dessa ambigüidade, o hebraico antigo conserva uma eloqüência poderosa.
Na introdução a sua tradução do Gênesis, Stephen Mitchell diz:
"A dignidade [do hebraico antigo] vem de sua suprema simplicidade. É uma língua
concisa e de uma poderosa concretude, austera no vocabulário, direta na sintaxe e
frugal nos adjetivos e advérbios — uma língua que pulsa com a energia das
verdades humanas fundamentais".

Forças Energéticas
As letras do alfabeto hebraico representam as 22 Forças energéticas utilizadas em
todo o processo da Criação.
Cada letra está associada a uma energia que ela é capaz de transportar a partir de
sua ressonância mórfica (som e forma).
Estas letras e suas mais diversas formas de combinação, despertam as várias
forças espirituais a que cada uma delas está conectada.
A letra atua como uma ―chave‖ que nos permite abrir portas e para isso é
necessário ter a ―chave certa‖ para a ―porta certa‖.
O conhecimento do significado energético das letras do alfabeto hebraico, ampliará
a nossa percepção em relação as ―chaves‖ e as ―portas‖ que elas nos permitem
acessar.
Os sinais do Aleph Beit (alfabeto hebraico) também podem ser utilizados como uma
ferramenta de consulta e orientação - como guias.
As letras hebraicas são usadas de formas distintas, ou seja, com significados
diferentes:
- Um significado literário que é usado para a comunicação entre as pessoas, da
mesma forma que qualquer outro alfabeto existente;
- Um significado numérico, porque os nomes em hebraico são, na verdade,
sentenças numéricas.
Cada sentença nos dá informações úteis para percebermos qual a energia que está
contida naquela palavra.
Em resumo o valor numérico de uma letra, palavra ou frase, tem uma relação
direta com seu significado energético;
- Um significado energético, porque cada letra está associada a uma energia
diferente no Universo.
Através das características de suas formas e ressonâncias, elas atuam como uma
antena que nos conecta com as Forças Primordiais da Criação.

As letras podem ser definidas de três formas.


Estes três aspectos são a chave do método do Sêfer Yetziráh:
- Se desejamos influenciar algo no universo físico (espaço) devemos utilizar a
forma física das letras, contemplando as letras adequadas.
- Para influenciar algo no domínio espiritual devemos utilizar os sons das letras ou
seus nomes.
Uma letra gravada em tinta ainda é uma força prisioneira num receptáculo.
- Quando a modulamos com o auxílio de uma vogal, nós a libertamos e permitimos
sua expansão.
É uma prática difícil, pois entramos num mundo ignorado pelo racional.
O Sêfer Yetziráh divide o alfabeto hebraico em três grupos:
―Dez sefirot do nada. E 22 letras fundação: Três Mães, Sete Duplas e Doze
Elementares.‖ (Sêfer Yetzirá 1:8)

As Letras Mães, são responsáveis pelas estruturas básicas da Criação.


Elas fazem parte do Universo do vazio (Bohu), representando todas as
possibilidades antes da Criação em si.
Regem os elementos no Universo, as estações no Ano, cabeça e tronco na Alma.

Nome Letra Universo Ano


Aleph  Ar Temperado
Mem  Água Frio
Shin  Fogo Calor

Sete Duplas: são responsáveis pelas estruturas de contato do homem com o


mundo.
Regem os planetas no Universo, os dias da semana no Ano.

Nome Letra Universo Ano


Bet  Saturno Shabat
Guímel  Júpiter Quinta-Feira
Dalet  Marte Terça-Feira
Caph  Sol Domingo
Pe  Vênus Sexta-Feira
Resh  Mercúrio Quarta-Feira
Tav  Lua Segunda-Feira

Letras Elementares: regem as constelações no Universo, os meses no Ano, os


humores sentidos na Alma e são chamadas no Sêfer Ietsirá de ―diretores‖.

Nome Letra Universo Ano Alma


He  Áries Nissan Pé direito
Vav   Touro Iyar Rim direito
Zayin  Gêmeos Sivan Pé esquerdo
Chet   Câncer Tamuz Mão direita
Tet   Leão Av Rim esquerdo
Yud   Virgem Elul Mão esquerda
Lamed   Libra Tishrê Vesícula biliar
Nun   Escorpião Cheshvan Intestino
Samech   Sagitário Kislev Estômago inf.
Ayin   Capricórnio Tevet Fígado
Tzadi   Aquário Shevat Estômago sup.
Kuph   Peixes Adar Baço

Conta o Midrash:
As letras competem por uma preciosa oportunidade

As letras do Alef Bet estavam reunidas em volta de D‘us, com muita expectativa e
alvoroço.
Uma feliz letra seria escolhida em breve para iniciar a primeira palavra sagrada da
Torá, o mais precioso tesouro do mundo.
Qual seria ela?
Cada uma esperava que D‘us a escolhesse entre todas as outras e juntas clamavam
por sua atenção.
"Por favor, D‘us, comece a Torá comigo!" gritavam todas juntas.

A letra Tav moveu-se para a frente.


"D‘us", gritou ela. "Sou a maior de todas as letras! Sou Tav, a primeira letra da
amada palavra Torá! Sei que cada letra do Alef Bet corresponde a um número; meu
valor equivale a quatrocentos, o número mais alto de todos!
Não concordas que devo ser o começo da Torá?‖
"Acho que não", respondeu D‘us, "porque um dia te usarei como um mau sinal.
Muitos anos mais tarde, quando destruirei o Bet Hamicdash usarei a ti Tav, para
marcar os judeus que merecem morrer."
"Nesta época", continuou D‘us, "ordenarei ao Anjo da Morte para voar sobre
Jerusalém e escolher os judeus que são Tsadikim (justos). Na testa de cada Tsadic
ele marcará a letra Tav com tinta invisível."
"O Tav significará a palavra hebraica "tu viverás" e aos judeus assim marcados será
permitido viver a salvo de seus inimigos."
"Então ordenarei ao Anjo da Morte, ‗Separa os judeus que são perversos, os
Resha'im. Marque em cada testa do Rashá a letra Tav, não com tinta, mas com
sangue. O Tav sangrento significará a palavra hebraica "tu morrerás" e os judeus
perversos assim marcados serão destruídos por seus inimigos."
Você vê agora, Tav, porque não quero usá-la para começar a Torá: porque, um dia,
você servirá como sinal nos judeus que devem morrer."
Ao ouvir isto, Tav saiu profundamente desapontada.
A letra Shin veio para a frente esperançosa.
Ela se inclinou e pediu em voz alta:
"Por favor, D‘us, usa a mim como a primeira letra de sua Torá! Depois de Tav sou o
número mais alto do Alef Bet, igual a trezentos. Eu sou até o começo de um de
seus nomes sagrados, Sha-dai."
"Absolutamente não," respondeu D‘us, "pois, apesar de ser verdade que és
importante, inicias os nomes de coisas tão odiosas como shav, que quer dizer
"falsidade" e sheker, que quer dizer "mentira". Odeio mentiras e falsidades.
Construí Meu mundo sobre a verdade."
Shin saiu abatida.
Isto não desencorajou Resh de se aproximar do trono de D‘us.
Ele sentiu que tinha um argumento convincente.
"Tem piedade de mim, D‘us" pediu ela, "e honra–me com o início de sua Torá. És
conhecido como um D‘us Misericordioso e sou a primeira letra da palavra Rashum,
que significa ‗misericordioso‘. Também devo lembrar que sou o começo da palavra
refuá, ‗curar‘..."
A voz de Resh parecia embaraçada, pois sentiu que D‘us ia recusar seu pedido.
Seus temores foram confirmados, pois D‘us explicou: "No futuro, Moshê Rabênu
conduzirá os judeus através do deserto. Alguns judeus ingratos não irão aceitá-lo
como líder. Em seus corações irão resmungar, ‗Nós preferimos servir ídolos no Egito
a servir D‘us como homens livres no deserto‘. Eles vão gritar, ‗Vamos nos revoltar
contra Moshê, escolher um outro líder e voltar para o Egito‘."
D‘us perguntou: "Estás consciente, Resh que és a primeira letra da palavra Rosh
(líder) a ser clamada pelos judeus rebeldes?"
"Para piorar as coisas" continuou D‘us, " és o começo da palavra Rá, que significa
‗maldade‘ e Rashá, uma pessoa perversa."
Reish compreendeu que não seria aceita e concordou com relutância.
Mais do que depressa, a letra Kuf agarrou a oportunidade:
"Que tal eu?" falou. "Sou uma letra maravilhosa. Quando os judeus forem rezar,
irão me usar para começar a recitar a Kedushá. Irão proclamar, ‗Cadosh, cadosh,
cadosh, sagrado é ²D‘us.‘"
"No entanto," persistiu D‘us, "não podes ser a primeira letra da Torá. És o começo
da palavra Kelalá, ‗maldição‘. Não quero que as pessoas perversas digam, "Quando
D‘us fez o mundo, Ele o amaldiçoou, por isso começou a Torá com um Kuf."

Uma a uma, todas as outras letras se aproximaram do trono de D‘us, tentando


tomar para si a glória de se tornar o começo da Torá.
Elas persuadiam, imploravam, pediam e argumentavam, mas inutilmente. D‘us
rejeitou todas elas.

Finalmente, ficaram apenas duas letras, Alef e Bet.


Estas duas esperaram, ficando mais tensas a cada momento.
Bet estava tão nervosa que, após a longa espera, o pequeno ponto dentro dela
estremecia, como uma batida de coração.
"Por favor, D‘us," exclamou meio excitada, meio soluçando, "eu gostaria tanto de
ser a primeira letra da Torá! Sou o começo de muitas coisas boas. Seus filhos, os
judeus, dizem seus louvores na s preces: "Baruch D‘us – louvado seja D‘us; e
‗Louvado seja o nome de D‘us para sempre‘; e ‗Louvado seja D‘us para sempre,
amen, amen.‘ Todos estes louvores começam com um Bet!"
Desta vez, D‘us concordou.
"Sim, respondeu Ele. "Começarei a Torá contigo. Bet é o começo de Berachá,
bênção. Quero que todo o povo da Terra saiba que o amo e o abençôo. Por isso, a
Torá vai começar com um Bet, com a palavra Bereshit."
Ao ouvir que Bet foi escolhida, Alef se afastou em silêncio.

"Alef", chamou D‘us, "não queres pedir por ti também?"


Alef suspirou:
"Sou uma letra tão sem importância," disse com humildade.
"Todas as outras letras do Alef-Bet merecem muito mais do que eu. Bet é igual a
dois, Guímel a três, Dalet a quatro -– mas sou apenas um pequeno número, igual
ao número um."
"Ao contrário, Alef," exclamou D‘us. "Alef, és o rei de todas as letras! És um e Eu
também sou Um, e a Torá é uma."
"Portanto, quando Eu der a Torá no Har Sinai, não vou começar com nenhuma
outra a não ser tu. Estarás no começo dos Dez Mandamentos: "Anochi", D‘us - Eu
sou D‘us."

Fonte: Chabad

Neste estudo abordaremos, da forma mais profunda possível, cada uma das letras
hebraicas.
Lembramos que em muitos casos vamos nos referir ao Alfabeto Hebraico como
Alef-bet
Para as vogais, o termo é Nekudot

Organizador
As Letras Hebraicas – Parte 1

As 22 Questões Essências da Existência


Os antigos ancestrais nos ensinam que as 22 letras hebraicas são "ventos" nascidos
no princípio dos tempos.
No mundo antigo, esses 22 Sopros (ventos) tinham a finalidade de indicar 22
questões essenciais na vida do homem de Tradição.
Manter-se fiel e integrado a essas 22 questões essenciais seria uma forma de nos
mantermos atrelados ao Sagrado.
O sentido destas 22 forças essenciais se desdobrou em 484 ventos:

"Vinte e duas letras fundamentais: Ele gravou-as, esculpiu-as, pesou-as e


combinou-as...Ele permutou-as, e com elas formou a alma e tudo o que teve forma
e a alma de tudo que será formado.” Sefer Yetzirah 2.3

As letras são instrumentos, são como "chaves" que nos permitem acessar ao
mundo da primeira e da segunda visão.
E essas "chaves" são igualmente formadoras de palavras (descrições da realidade).
Tudo o que somos e sentimos é fruto da forma como nos relacionamos com as
descrições que temos do mundo.
Letras são instrumentos que nos ajudam a compreender o ritmo das descrições e
com isso acessar a totalidade de seu conteúdo.
Normalmente ficamos apenas com uma pequena parcela das descrições da
existência.
Essa parcela "desnatada" é o que os antigos chamavam de "inventário".
Basicamente recebe esse nome por se tratar de uma abordagem simplificada da
vida.
Um guerreiro espiritual deve saber conviver com a totalidade da descrição.
Para os sábios, as letras hebraicas são formadas por uma força de expressão por
intermédio de uma impressão perceptível conhecida pelo nome de "fogo preto".
Mas também existe uma parte da descrição que perdemos, que é justamente o
espaço em branco ao redor da letra.
Esta parte da descrição é conhecida pelo nome de "fogo branco".
Esse fogo branco é o mistério contido em todas as coisas, trata-se de uma parcela
da descrição da qual não temos domínio.
É o mistério e o sinal mais evidente de constatar que a Presença Divina reside em
tudo.
Por isso mesmo é que o navi (inspirado) não pode supor a vida como sendo uma
questão de desvendamento de causas e efeitos exatos.
Em tudo reside o mistério e o que nos cabe é ficar à vontade com esse mistério.

Podemos estabelecer uma comunhão com as letras por intermédio de três aspectos
fundamentais: sua forma, seu som e seu movimento.
Quanto mais exploramos os aspectos de contato com as letras, mais próximos
estaremos de suas propriedades.
Isso é para os neviim (inspirados) um exercício perpétuo.
Dentre as questões essenciais da existência existem:

- Alef - O silêncio
- Bet - A sabedoria
- Guimel - O sustento
- Dalet - A frutificação
- Hei - O sentido
- Vav - O pensamento
- Zain - O movimento
- Chet - A visão
- Tet - O aprendizado
- Yod - O toque
- Caf - A vida
- Lamed - A potência
- Mem - A possibilidade (mérito)
- Nun - O aroma
- Samech - O sonhar
- Ayin - O intento
- Pei - A liberdade
- Tzadi - O alimento
- Kof (ou Kuf) - O contentamento
- Resh – A paz
- Shin - O dever
- Tav - A beleza

Na abordagem das Letras Hebraicas no Sefer Yetzirah, a potencialidade das letras


não se dá através de letras isoladas.
Elas são forças potencias, são chayots... são vidas potenciais.
Porém para que se tornem vida de fato, vidas efetivas, elas precisam ser
combinadas...
A vida só se produz pela combinação de duas forças.
O calor só se produz pela fricção, o fogo só se produz pelo atrito e o atrito implica
dois corpos.
A existência da vida é sempre a exposição de um corpo junto a outro.
A semente com a terra.
O macho e a fêmea.
Uma molécula com outra molécula, uma partícula com outra partícula.
No mundo natural, que é o mundo do Sagrado, a vida necessita da contraparte, do
outro elemento para que possa ser produzida.

Otiot - As letras e as "chaves"


A principal ferramenta do cabalista é o alfabeto hebraico e suas mais variadas
utilidades.
Através da ressonância mórfica (som e forma) recebida pela contemplação sobre as
letras (pretas sobre o fundo branco) o cabalista tem acesso as "chaves" dos mais
profundos arquivos da consciência.
Mas por que o alfabeto hebraico?
O alfabeto hebraico é muito mais do que um simples alfabeto, ele abre um acesso
direto ao conhecimento universal por via do símbolo.
Isso se explica pelas palavras hebraicas:
Letra, no singular, se chama "ot" e no plural "otiot".
Esta palavra não significa precisamente "letra", seu primeiro sentido é "signo",
"marca", "símbolo" além de "selo" e "código de acesso".
Trata-se de uma chave direta com o propósito de transportar o ser humano para
além das palavras e da análise cognitiva, permitindo ao homem obter a percepção
sobre as forças essenciais da existência.
As otiot levam diretamente a luz de Ein-Soph (Mundo Infinito) e a densificam, por
etapas sucessivas, através das Sefirot, passando do desconhecido ao conhecido,
em seguida, do pensamento à palavra, para chegar na tinta e na gravura.
Elas seguem o processo de desaceleração da luz do Ein-Soph da sutileza à
densidade.

A raiz hebraica "ot" está ligada à raiz "avah" que quer dizer "marcar", "designar",
"indicar", mas que, tomada em outro contexto, significa "curvar", "dobrar",
"inclinar".
O último sentido é comum à raiz "ôt" em que vemos o Aleph de "ot" transformar-se
em Ayin.
Isso simboliza a passagem do Aleph da luz do mundo de Atzilut, ao Ayin da "veste
de pele" do mundo de Assiá.
Uma das coisas mais importantes dentro da conhecimento das origens é a
compreensão dos mistérios por trás da transformação da luz em "tecido" "pele".
A migração do Aleph ao Ayin nos descreve o processo de criação de um símbolo, de
uma luz infinita a um receptáculo finito.
As 22 otiot, no mundo de Atzilut, são luzes que iluminam individualmente um
aspecto da luz primordial.
Para compreendê-las e conhecê-las é preciso limitá-las a nosso conhecimento e
forçá-las a curvarem-se às leis da natureza do mundo material.
É preciso desviar o sentido primeiro e luminoso, para fechá-lo em uma forma fixa
que será apenas um conhecimento indireto da verdade, uma alegoria.
A raiz "zer" toma então todo o seu sentido e, através da luz indireta do símbolo,
será preciso retomar o sentido luminoso de ot por meio da palavra e do
pensamento.

A Luz das Letras Hebraicas


Estima-se que haja 6000 idiomas (sem contar os dialetos) e mais de 66.000 letras
que formam os alfabetos para estes idiomas.
Somente um idioma e um alfabeto foi Divinamente criado, tendo as letras sido
formadas e moldadas pelo próprio D'us.
Este idioma é Lashon Hakodesh, ―Língua Sagrada‖, o hebraico bíblico.
Não é de se admirar, então, que as letras hebraicas sejam multifacetadas.
As letras do alfabeto hebraico, o alef-bet, são tão ricas de significado que até os
maiores eruditos do Judaísmo tiveram de fazer profundos estudos para entender
por que D'us as fez como Ele fez.
Tradicionalmente, as letras hebraicas possuem:
1 - Desenho — a maneira específica em que cada letra é formada.
Esta forma representa a energia Divina dentro de cada letra.
2 — Guematria — cada uma das letras do alef-bet representa um determinado
número, por exemplo: alef = 1, bet = 2, etc.
3 — Significado — cada letra tem muitos significados.
Exemplo.: A letra alef significa chefe, aprender, maravilhoso, e muitos mais. bet
significa casa, etc.
4 — Nekudot (vogais) — a maioria das letras tem uma vogal que nos diz como deve
ser pronunciada.
5 — Coroas — sete letras na Torá têm coroas — pequenas linhas desenhadas no
topo das letras — que acrescentam força às letras.
Outras letras tem apenas uma pequena linha desenhada acima da letra chamados
de ―Tag‖ (plural. taguim).
Rabi Akiva era famoso por suas exposições sobre elas.
As coroas, os taguim e seus significados especiais e profundos, estão além do
alcance deste estudo.
6 — Cantilação — cada letra na Torá tem uma nota musical.
Nesse estudo abordaremos os quatro primeiros tópicos.
O restante deixaremos para uma outra ocasião..

Por motivos gramaticais, algumas letras hebraicas têm duas pronúncias diferentes
(exemplo.: bet e veit, kaf e chaf, pei e fei, shin e sin, tav e sav), como você
descobrirá no decorrer deste nosso estudo.
Independentemente de sua pronúncia numa palavra específica, chamaremos a letra
por seu nome principal (exemplo: bet, kaf, pei, etc.)
É importante notar que muitas palavras em hebraico, como ocorre em todos os
idiomas semíticos, embora possam foneticamente soar diferentes — compartilham
o mesmo radical e portanto estão inter-relacionadas.
Por exemplo, alef, aluf e ulfana têm todas o mesmo radical comum de alef, lamed e
pei, e portanto seus significados estão conectados.
Além disso, segundo a Cabala, quando as mesmas letras são transpostas para
formar palavras diferentes, elas retêm a energia comum de sua guematria
compartilhada.
Por causa disso, as palavras mantêm uma conexão nas diferentes formas.
Encontramos um exemplo clássico disto com as palavras ―hatzar‖ (problemas),
―ratza‖ (um desejo de correr apaixonadamente para a "arca" da Torá e da prece) e
―tzohar‖ (uma luz que brilha do interior).
Todas as três palavras compartilham as mesmas três letras: tzaclik, reish e hei em
combinações diferentes.
O Baal Shem Tov explica' da seguinte maneira a conexão entre as três letras:
Quando alguém está passando por problemas (hatzar) e corre para estudar Torá e
rezar com grande desejo (ratza), é iluminado com uma luz Divina vinda de dentro
(tzohar) que o ajuda a transformar seus problemas em bênçãos.

Como uma letras hebraica irradia luz, percepção e claridade, é chamada ―ot‖,
conectada com a passagem ―ata boker‖ ("manhã que virá").
Assim, escolhemos chamar nossos textos de Letras da Luz — a luz da sabedoria e
entendimento que emana das letras da Torá.
Além da luz nas letras escritas sobre material impresso (por exemplo, as letras
num Rolo de Tora), há uma luz intrínseca em cada letra, independentemente de ter
sido escrita em papel.
Estas são as letras da Criação.

A Mishná declara: "Com Dez Pronunciamentos D'us criou o mundo."


Assim como um carpinteiro usa ferramentas para construir uma casa, também D'us
utilizou as vinte e duas letras do alef-bet para formar o céu e a terra.
Elas são a madeira, pedra e pregos, falando metaforicamente, as vigas e pilares de
nossa existência terrena e espiritual.
D'us criou o alef-bet antes da criação do mundo.
O Maguid de Mezritch explica isto com base no primeiro versículo no Livro de
Bereshit: "No princípio D'us criou os céus e a terra."
A palavra ―et‖ é escrita com um alef, a primeira letra do alef-bet, e um tav, que é a
última.
O fato é que (et) geralmente é considerada como uma palavra supérflua.
Não há tradução literal para ela, e sua função é basicamente um acessório
gramatical.
Então por que (et) está presente duas vezes na primeira linha da Torá?
Isso sugere que no princípio, não foram o céu e a terra a serem criados primeiro,
Foi literalmente o alef-bet, alef até o tav.
Sem essas letras, os próprios Pronunciamentos com que D'us formou o universo
teriam sido impossíveis.
Além disso, Rabi Yisrael Baal Shem Tov explica o versículo':
"Para sempre as palavras de D'us estão pendentes nos céus."
O ponto crucial a entender é que D'us não criou meramente o mundo uma vez.
Suas palavras não apenas emergem e então evaporam.
Em vez disso, D'us continua a criar o mundo novamente a cada momento.
Suas palavras estão lá constantemente, "pendendo nos céus".
E o alef-bet é o alicerce desse contínuo processo de criação.
O Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson, explicai que a fonte das vinte e duas
letras é ainda mais elevada que aquela dos Dez Mandamentos.
Como está escrito: "Contigo (a essência de D'us), os hebreus serão abençoados."
Bechá significa "contigo".
O bet (que tem uma guematria de 2) e o kaf (= 20) somados totalizam 22.
Através das vinte e duas letras do alef-bet, o povo hebreu está conectado a D'us e
recebe todas as suas bênçãos.
Embora haja trinta e duas letras contamos somente vinte e duas letras distintas.
Dez das trinta e duas letras são derivativos das letras e não consideradas
totalmente distintas.
Cinco delas são a forma final da letra (i.e., caf, mem, nun, pei e tsadik finais),
outras cinco são "duras" (guturais) i.e., vet, chaf, fel, sin e tav, quando
comparadas a "suaves" (melífluas).

O Alfabeto da Criação
Em seu livro: ―O Poder da Cabala‖, Rabi Yehuda Berg, escreve:
―Todos já ouviram falar do código genético humano, conhecido pelas iniciais DNA.
Mas poucas pessoas fora da comunidade cientifica sabem explicar o que é o DNA ou
descrever o que ele faz, realmente.
O DNA é bem mais descrito como um manual de instruções para as nossas células.
Todas as células começam num estado indiferenciado.
Nosso DNA, então, determina quais células evoluirão para se tornarem órgãos
internos, ossos, a substância do cérebro, ou outros tecidos. Hoje a ciência está se
voltando para a terapia genética para encontrar as curas de diversas doenças
serias, porque, se conseguimos mudar as instruções do DNA, podemos mudar o ser
humano.
Como todos os manuais de instrução, o DNA é escrito numa língua que utiliza um
alfabeto.
No final da década de 1950, os geneticistas quebraram o código genético da vida e
determinaram que o alfabeto do DNA é composto de ―quatro‖ letras, que eles
designaram com A,T,C e G.
A,T,C e G são quatro tipos diferentes de nucleotídeos que se combinam para criar
20 aminoácidos, que produzem as ―palavras‖ e as frases’que compõe o código
genético de cada individuo.
Os seres humanos têm cerca de três bilhões de letras em seus códigos genéticos.
As diferenças entre os indivíduos estão na combinação e na seqüência dos quatro
nucleotídeos. Uma copia completa de nosso manual de instrução do DNA esta
contida dentro de cada célula de nosso corpo. Cada célula contém a biblioteca
completa de três bilhões de letras.
Tudo o que somos, na verdade, num sentido físico é um conjunto de letras vivas;
um alfabeto vivente, andante, respirante e falante.
E mais, o universo inteiro é alfabético por natureza.
Assim como as letras, os átomos se combinam para criar estruturas mais
complicadas, como moléculas.
Assim como as palavras se combinam para formar frases, as moléculas se
combinam para criar diferentes tipos de matéria.
O renomado astrofísico Hubert Reeves dá exemplos de nosso universo alfabético
em seu livro ―A Hora do deslumbramento‖. Reeves escreve:
Na química, a água é uma palavra composta por duas letras, chamadas de
hidrogênio e oxigênio...... A imensa variedade de pedras, minerais e formações
rochosas deriva de um combinação de somente um pequeno número de átomos:
oxigênio, silicone, ferro, cálcio, alumínio, magnésio e alguns outros. Com essas
letras podemos escrever toda a geologia..........quando exploramos o nosso sistema
solar, as estrelas em nossa Via Láctea e nas galáxias mais distantes, descobrimos
que os mesmos átomos ocorrem em todos os lugares e se combinam de acordo
com as mesmas leis. Essa linguagem atômica, definitivamente é universal.

Reeves conclui que a natureza não é estruturada como uma língua, mas que, ao
contrario, a língua é estruturada como a natureza.
De forma extraordinária, toda a informação sobre o DNA e sobre como o universo é
estruturado alfabeticamente foi descoberta recentemente, no decorrer dos últimos
50 anos.
Bem mais extraordinário foi um homem que viveu a cerca de quatro mil anos; um
homem que pode ser mais bem descrito como o primeiro geneticista do mundo.
Seu nome foi Abraão e ele é o pai do judaísmo, do cristianismo e do islamismo.
Abrão foi o autor do primeiro livro conhecido de Cabala, o Livro da FormaçÃo .
Este antigo manuscrito cabalístico antecede a Bíblia por muitos séculos.
No Livro da Formação, Abraão escreveu que o universo inteiro tinha os seus blocos
construtivos genéticos.
Além disso ele disse que esses blocos construtivos eram de natureza alfabética.
Abraão descreveu uma serie de forças energéticas primordiais, como nucleotídeos
cósmicos, que se combinavam para formar toda a realidade espiritual e física.
Mais especificamente, Abraão revelou como a Luz unificada do Criador se
fragmentou em 22 forças distintas para criar o nosso universo.
Esta é uma noção mística maravilhosa.
Quem sabe, de maneira ainda mais maravilhosa, nós também possamos nos tornar
poetas da criação, utilizando o alfabeto do Criador para inscrever um novo livro de
nossas vidas.
Podemos nos tornar geneticistas espirituais, usando as 22 letras para fazer a
reengenharia da constituição genética de nossas almas.
Podemos alterar nossas naturezas reativas e transformar nossas vidas.
Mas como são essas 22 forças primordiais?
Como manejá-las e controla-las?

As 22 Forças da Criação
“Vinte e duas letras bases: Ele (o Criador) as esculpiu, as gravou, as permutou; Ele
as pesou, as transformou, e com elas representou tudo o que foi formado e tudo o
que viria a ser formado”.
(Livro da Formação ou Sêfer Yetzirah).

Abraão escreveu que as 22 energias se manifestam em nosso mundo como 22


padrões de freqüência.
Elas aparecem como formas e vibrações que podemos tanto visualizar quanto
vocalizar.
São as letras do alfabeto hebraico.
A Cabala ensina que estas letras estavam presentes no próprio momento da
Criação; não como letras escritas num pedaço de pergaminho, mas como forças
magnificentes de energia primordial.
As letras hebraicas são instrumentos de poder.
De fato, a palavra ―letra‖ em hebraico, também significa pulso ou vibração,
indicando um fluxo de energia.
Por meio de sua forma, som e vibração, uma letra funciona como uma antena que
estimula e acessa a energia do universo.

Alfabeto Universal
As letras do alfabeto hebraico transcendem religião, raça, geografia e o próprio
conceito de língua.
Sua influência é universal.
Seu alcance, abrangente.
Seu poder é compartilhado com toda a humanidade, apesar de esta verdade
controversa ter ficado enterrada por milênios.
Algum dos maiores pensadores da história compreenderam essa verdade e a sua
força universal: cientistas, filósofos, matemáticos, médicos

Benefícios práticos
Diferentes seqüências de letras liberam enormes quantidades de influencias
espirituais, que nos dão o poder emocional e a força interna para pararmos o nosso
comportamento reativo.
Diferentes combinações de letras criam diferentes combinações de energia, da
mesma forma como diferentes combinações de notas musicais criam diferentes
melodias.
A Luz que elas emitem purifica os nossos corações.
Sua influência espiritual purifica os impulsos destrutivos do nosso ser.
Sua energia santificada elimina emoções impetuosas e intolerantes, medo e
ansiedades. Elas têm o poder de nos ajudar a deixar de ser tiranos
temperamentais, passando a ser pessoas equilibradas e com compaixão.
As letras podem despertar a cura, o sustento financeiro e o bem estar emocional.

Continua
As Letras Hebraicas – Parte 2

Ressonância Mórfica – O Poder do Símbolo

O estudo do alfabeto hebraico, por suas significações profundas, leva-nos


diretamente ao estudo do símbolo, cuja utilização ultrapassa a compreensão pura e
simples da língua hebraica.
Para o cabalista os símbolos por trás das letras hebraicas refletem a linguagem
crepuscular que precedeu ao despertar das consciências humanas, linguagem
universal que está além, e na origem de todos os dialetos físico e extra físico.
Sendo assim, o hebraico não apenas representaria a raiz de todas as línguas
originais da humanidade como também a linguagem dos anjos.
A forma das letras é uma via real de comunicação entre o consciente e o
inconsciente, entre a Luz e o receptor.
O alfabeto hebraico possui em sua ressonância mórfica, preciosos elos de
comunicação para o homem místico em busca da transcendência.
Quaisquer que sejam os níveis de consciência ou de crenças (e de descrenças), as
letras hebraicas encontram um eco profundo na memória da alma e podem atuar
sobre a energia consciencial mesmo que não se tenha uma reflexão racional
cognitiva sobre o seu significado.
O estudante de Cabala se depara, em primeiro lugar, com um mundo figurativo
abstrato, mas de uma riqueza infinita.
A utilização do alfabeto como instrumento de contemplação faz-se, em primeira
abordagem, de modo laborioso, mas, em seguida, com um pouco de experiência,
surge uma linguagem universal puríssima, reunindo o conjunto da criação.
Mesmo que as culturas evoluam e tragam uma colaboração aos símbolos, um
sentido único fica sempre em segundo plano.
O simbolismo é também o primeiro processo de memorização atestando
que tudo pode se exprimir de forma visual.
Um símbolo leva à memorização de um outro símbolo que lhe é semelhante ou
oposto.
Por exemplo, um regador pode simbolizar a chuva por analogia, portanto, o tempo
bom por antítese, ou ainda, o guarda-chuva por aproximação.
Resumindo, pelo conhecimento das letras-símbolos, podemos:

• Comunicar-nos com os símbolos de nossa consciência;


• Interpretar as sutilezas das mensagens que a natureza nos envia;
• Colocar o saber nas gavetas do cérebro, para aí encontrar o que é necessário
no momento certo.
• Deixar ou revelar mensagens eternas, desvelar ensinamentos gravados em
imagens remontando ao mais profundo de nossa humanidade.

Na vida prática, o símbolo ajuda-nos a melhor compreender seu contexto e assim


podemos melhor dominá-lo.
Para cada indivíduo, ele permite a análise dos atos e dos pensamentos, a
interpretação dos sonhos e de todas as abstrações que os rodeiam.
Um psicanalista observa as mensagens simbólicas que o inconsciente lança sob a
forma de gestos, de palavras, de atos e de símbolos, para analisar os profundos
segredos de seu paciente.
Mas, é nas linguagem espiritual, místicas que o símbolo toma toda a sua amplitude.
A prática do cabalista começa por um estudo sério da representação espiritual do
símbolo das letras do alfabeto hebraico.
O cabalista que experimentou o mundo espiritual sabe quanto é precioso o
conhecimento simbólico das formas e das cores.
O sentido etimológico do símbolo é "simbalon", ou seja, "encontro", no sentido de
"eu reúno, eu junto", termo indicando um símbolo de reunião possuindo dupla
natureza.
Esse símbolo permite que as partes distintas se reproduzam ou se reconheçam.
Atrás da palavra esconde-se, está a dupla vida de um símbolo que encerra uma
mensagem além de sua aparência concreta.
É o encontro do visível e do invisível, do concreto e do abstrato, do consciente e do
inconsciente: para um cabalista, é o encontro da Causa e do Efeito.
Mais do que um signo, o símbolo é um substituto contendo uma potencialidade de
sentidos indefinidos.
Ele formula a base do pensamento e libera a consciência, ele é a concretização de
uma realidade abstrata.
A simbologia é a ciência mais antiga do mundo, a primeira linguagem que o homem
conheceu e a última que ele utilizará.
As ciências mais modernas comunicam por intermédio de símbolos especialmente
criados por elas.
As civilizações antigas deixaram suas marcas por meio dos símbolos, a Torá oferece
muitos exemplos disso, com os símbolos das diferentes tribos de Israel.
Nossa civilização continua nessa direção, nossas práticas sociais e culturais são
detentoras de imensa simbologia.
Basta olhar a publicidade, o urbanismo, a arquitetura e até o discurso político.
Quando colocamos a esfera do pensamento em relação com a esfera dos símbolos,
esta última aparece como a infra-estrutura das ciências da humanidade e, por isso
mesmo, revela sua vulnerabilidade, pois ela toca as próprias matrizes do processo
do conhecimento.
A finalidade do símbolo é a de transmitir a riqueza sensível que ele fixou aos que a
captam por meio da sensibilidade.
Ele carrega uma herança espiritual ou histórica e contém sempre um certo
ensinamento concernente ao homem e ao universo.
Os símbolos são os meios pelos quais se exprime a unidade do mundo.
Eles dão imagens que, colocadas sob os olhos, fazem remontar ao espírito, por
analogia, a uma idéia ligada a essa imagem.
O símbolo é um signo que se situa fora do tempo, do espaço, das raças ou das
religiões, mesmo se ele se adapte permanentemente ao seu contexto.
Alguns vêem nos símbolos uma espécie de língua primitiva arruinada e degradada,
os vestígios de um outro saber do qual eles seriam apenas o que sobrou.
Este saber, em verdade, é simplesmente a dos princípios absolutos, a cosmogonia.
Daí advém uma escrita figurativa que não busca reproduzir os caracteres próprios
de um objeto, mas, ao invés disso, fazer aparecer uma atitude relacionada a certos
tipos de ações ou de ligações.
Essa escrita nos faz descobrir a verdade sutil que se esconde nas profundezas de
nossa consciência e transporta esta última a um outro nível.
O que nos diz o simbolismo é que o homem sabe agir em seu círculo próximo, mas
que pode interferir além da barreira física.
A ciência reconhece, agora, que a Lua influi sobre as marés e sobre os movimentos
sensíveis internos.
A ciência está percebendo que os buracos negros têm conseqüências sobre a Terra.
O simbolismo quer nos mostrar algo de mais sutil, ou seja, que o homem pode
interferir diretamente nos climas fisiológicos, mudar a ordem cósmica das coisas,
tanto em seu microcosmo quanto em seu macrocosmo: e isto por intermédio de
tênues sinais da consciência que os símbolos tentam revelar ao homem.
As letras do alfabeto hebraico são forças perfeitas para concretizarmos tudo isto.

A Cabalá se utiliza naturalmente das letras hebraicas para promover


suas conexões, pois elas permitem condensar em uma só figura toda a
seqüência de noções relativas a um mesmo objeto.
As letras hebraicas são também necessárias para penetrarmos em regiões mais
profundas da consciência humana.

Um símbolo não é obrigatoriamente uma forma animal, geométrica, ou outra


qualquer, ele pode ser um nome, um som, uma cor, um gesto, etc, nenhum é
superior aos outros, eles constituem um conjunto homogêneo, se substituem, se
anulam ou se reforçam.
Com freqüência, um símbolo puramente abstrato, como uma palavra, não tem
força para penetrar nas profundezas do espírito, daí a necessidade de símbolos
mais concretos que a visão possa captar, tais como a forma das letras hebraicas.
Por exemplo, pronunciar o nome de D'us faz-nos imaginar levemente uma idéia
gloriosa, mas a consciência precisa de mais detalhes dificilmente exprimíveis.
Por isso o místico utiliza compensadores aproximativos que são os símbolos.
Entretanto, não limitamos os símbolos a um signo representativo de alguns
princípios religiosos ou filosóficos, já que ele é a manifestação das qualidades vivas
do que é.
O conceito de espírito não implica na perfeição, este espírito torna-se, então, capaz
de "ver" com uma grande precisão, como se uma tela tivesse sido levantada.

A imaginação deve ser considerada, o símbolo é universal, intemporal, mas


também encarnado nas estruturas da imaginação humana.
Alguns deles são um meio para abrir o espírito para o desconhecido e para o
infinito, revelando os segredos escondidos no inconsciente.
Para C.G.Jung, o símbolo é uma imagem própria para designar o melhor possível a
natureza secretamente imaginada do espírito.
Os símbolos são, assim, "mediadores" entre o consciente e o inconsciente,
produzem uma espécie de osmose contínua do microcosmo e do macrocosmo, do
interior e do exterior.
Eles têm a estranha faculdade de descrever tudo velando, jogando com as
estruturas mentais.
Isto porque o símbolo é vivo, é carregado de dinamismo e de afetividade.
Nós vivemos no mundo dos símbolos ou o mundo dos símbolos vive em nós e
nossos sentidos os projetam ao exterior?

Cada um de nós vive permanentemente com alguns deles.


Nós os utilizamos sempre, dia e noite, nos sonhos, na linguagem, nos gestos, na
escrita, na imaginação.
Nossos antepassados os utilizavam da mesma forma, e, por esta razão, todos os
pesquisadores falaram de linguagem universal.
A fonte do poder de um símbolo dificilmente é explicada.
À primeira vista, um símbolo novo pode nos parecer familiar.
Os símbolos têm uma energia de comunicação veiculadora das idéias com um forte
substrato metafísico.
As letras do alfabeto hebraico tocam sempre as pessoas que as vêem pela primeira
vez, porque elas têm a impressão de que uma mensagem está prestes a saltar.
O símbolo é mediador, serve a um grau ou a um outro intermediário entre o
transcendente e o imanente.
Ele segue um código semântico específico, que nos leva a dizer que os símbolos
formam uma rede cósmica indissolúvel, através da qual a realidade é tornada
visível.
Isso explica porque algumas pessoas que meditam se servem de suportes
profundamente simbólicos, porque os que se serve de talismãs se servem
unicamente de símbolos e enfim porque em numerosos místicos utilizam os
símbolos como suporte ou como canal receptor, para que a Luz do Mundo Infinito
possa entrar.
O símbolo pode ser comparado a um cristal restaurando a luz de forma
diferenciada segundo a face que a recebe.
Podemos dizer que ele é um ser vivo, uma parcela de nosso ser vivo, uma parcela
de nosso ser em movimento e em transformação.
Ao contemplá-lo, tomá-lo como objeto de meditação, contemplamos, também, a
própria trajetória que decidimos seguir, tomamos a direção do movimento no qual
o ser é levado.
No mesmo espírito podemos falar da ressonância mórfica das letras.
Noção esclarecida pelos pesquisadores de radiestesia.

O cabalista vê o símbolo das letras como um amplificador vibratório.


O símbolo vivo pressupõe, assim, uma função de ressonância.
Transposto para o plano psicológico.
Sabemos agora que um símbolo físico, por sua forma, sua cor, seu relevo, emite
microvibrações capazes de modificar progressivamente o que está à volta.
Isto é também verdadeiro para um som ou um gesto que podem instantaneamente
modificar uma ambiência e aqui temos ainda muitos exemplos a tirar das antigas
tradições.
A experiência mostra a influência psíquica que os símbolos exercem.
A função de ressonância de um símbolo é tão ativa quanto o símbolo melhor
combinar com a atmosfera espiritual de uma pessoa, de uma sociedade, de uma
época, de uma circunstância.
Ela pressupõe que o símbolo se liga a uma certa psicologia coletiva e que sua
existência não depende de uma atividade puramente individual.
Esta observação é válida tanto para o conteúdo imaginativo como para a
interpretação do símbolo.
Ele está mergulhado no meio social mesmo emergindo de uma consciência
individual.
Sua força de evocação e de liberação varia com o efeito de ressonância que resulta
da ligação entre o social e o individual.

Temos perto de nós o exemplo de um símbolo que a história modificou no


inconsciente coletivo: a suástica.
É encontrado ainda na Índia, onde seu nome é suástica – benéfica – perto das
estátuas de Ganesha, é sempre o símbolo principal do Jainismo.
Assim, em nossos dias, na consciência, uma suástica não terá o mesmo impacto
sobre um ocidental como para um oriental, enquanto há mais de cinqüenta anos
era o mesmo.
Devemos então sempre lembrar que o símbolo é vivo e, ainda que sua base
continue a mesma, sofre mutações produzidas pelos homens.
O termo símbolo encerra em numerosos aspectos, mas quando falamos de
simbólico trata-se de elementos de um gênero figurativo abstraído das
propriedades universais.
Eles têm indiferentemente uma forma visível ou invisível, como uma idéia, por
exemplo.
Ainda outros aspectos bem interessantes são símbolos:
• Se a forma imaginada não ultrapassa o nível de significação, trata-se de um
signo, e a diferença é importante.
Quando umas asas, por exemplo, ornamentam a vestimenta de um aviador elas
são signos.
Mas, se são consideradas por seu valor de elevação, de vôo, é um símbolo.
Todo símbolo comporta uma parte de signo.
• Se a forma é adotada por convenção, para definir e cristalizar um ideal ou um
princípio moral, chama-se emblema.
Para completar o exemplo precedente, podemos dizer também que as asas são
o emblema da aviação no sentido da vocação, da mesma forma que o caduceu é o
dos médicos.

Continua
As Letras Hebraicas – Parte 3

A Analogia
Por correspondência analógica, o símbolo é aquilo que representa outra coisa que
não a sua natureza.
Ele se classifica segundo três funções principais:

1- O símbolo é uma entidade abstrata que torna mais sensível o que parece não
ser.
Esta entidade é a mesma para o conjunto da memória humana, ou inconsciente
coletivo (o símbolo teve sempre a qualidade de união ou de ligação).
Ele age de forma consciente ou inconsciente.
2- O símbolo designa a ligação de um grupo a uma idéia ou a uma situação, ele
define limites.
3- O símbolo nunca é neutro nem estático, ele tem o papel de indicar ou lembrar.
A estrela de David não se contenta apenas de evocar o judaísmo, ela lembra os seis
dias da criação e a união do espírito e da matéria e o desejo de receber unido ao
desejo de compartilhar.

O método analógico é um grande recurso para o simbólico, sobretudo se o


apoiamos na lei da similaridade.

O Drash
Há um grau do estudo da Cabalá, denominado, "Drash", cujo sentido é
"interpretação figurada".
A interpretação simbólica é um domínio delicado, e, além disso, o sentido de um
símbolo liga-se à história da memória humana, ao consciente coletivo.
Como se sabe, para a Cabalá, as letras hebraicas, tomadas como símbolo, marcam
um valor preciso, provoca a possibilidade de um sistema de valores.
Signos e símbolos possuem entre eles relações evidentes que devem ser
elucidadas.
Sem considerar os aspectos místicos, nossa vida quotidiana é plena de símbolos
que utilizamos sem cessar.
Basta prestarmos atenção ao código de trânsito, com suas cores e seus grafismos.
Por isso, devemos deduzir que o símbolo é um código de vida, um meio de
comunicação e de transmissão.
Mesmo os códigos da vida quotidiana obedecem à dupla natureza do signo-símbolo.
Voltemos ao exemplo do código de trânsito; nos cruzamentos, quando o semáforo
está vermelho devemos parar, quando verde, podemos passar.
O vermelho como signo é uma convenção, mas, como símbolo, quer dizer "perigo",
com uma comunicação inconsciente lembrando a excitação e o sangue.
O signo verde é a convenção da passagem livre, tendo por trás a idéia de natureza
e de apaziguamento, de calma.
Uma experiência primitiva está inserida no símbolo e o recurso de lançarmos mão
dele tem por objetivo reunir a significação à linguagem primitiva.
Para encontrarmos o sentido real de um símbolo, é necessário irmos além da etapa
de fixação e de conceituação.
O pensamento está no nível dos símbolos e jorra a partir deles.
Para a Cabalá Contemplativa, existem três formas de se trabalhar com as letras
hebraicas:

1) Utilizando-a como uma ferramenta de arqueologia da memória e do saber.


As otiot, ou letras-símbolos, seriam veículos através do qual o cabalista procuraria
por "arquivos" de sua memória espiritual.
2) Utilizando-a como ferramenta sonora e mórfica, com o objetivo de proporcionar
ao cabalista uma alteração do seu estado de consciência por intermédio da
concentração focada.
3) E através do seu caráter existencial, observando como elas (as letras) nos
alcança e nos chega, em nossa experiência atual e que tipo de experiência
associativa pode ser ligada a elas.
Aqui faz-se necessário o estudo do seu significado e uma profunda base nos
conhecimento tanto do Sêfer Yetzirá quanto do Bahir.

Nas relações humanas, os símbolos existem tanto entre as formas divinas, quanto
nas relações cotidianas.
O poder do símbolo já a muito tempo vem sendo reconhecido pelos grandes
pensadores.
Na Tradição cabalista, a forma das letras sempre esteve repleta de mistérios.
O hebraico é uma língua simbólica, dotada de duplo sentido, um usual e outro
oculto e místico.
Para Rav Abuláfia, o formato das letras constitui a proteção das coisas sagradas,
mas o cabalista deveria ir além de seu uso corrente, aplicando as palavras um
sistema de vocalização onde fosse possível desconstruir as palavras e as frases,
pois, a língua usual não seria capaz de exprimir as mais altas experiências
espiritual do alfabeto.
Por meio desta linguagem mística, as experiências extáticas da meditação se
metamorfoseiam em milagres, em parábolas e em acontecimentos quase reais.
A língua crepuscular apresenta um teatro simbólico e cria um mito das lutas
interiores e exteriores que o homem coloca no caminho da evolução.
A escala de 32 Veredas da Sabedoria dá-nos a possibilidade de definir o símbolo,
de construí-lo, de interpretá-lo, de realizá-lo e de transcendê-lo.

As Letras-Símbolos
O Sêfer Yetzirá estrutura o alfabeto hebraico em 3 letras mães, 7 duplas e 12
simples, com as quais estabelece relações simbólicas sobre o corpo, o espaço, as
sensações.
Todas as 22 letras dão-nos um ensinamento simbólico fundamental ao trabalho
contemplativo com os nomes sagrados e em todas as operações místicas da
Cabalá.
As "otiot" (letras) são símbolos e pontos de orientação com os quais a Luz do
Mundo Infinito marcou a via do retorno e deixou forças permitindo que a alma
desperte.
Tais forças não estão limitadas à forma dada pela tinta, as letras são apenas pontos
de partida.

A palavra "ot" ( ) quer dizer "marca", "signo", mas existe ainda o interesse em
observarmos a estrutura dessa palavra.
  
Vemos o Aleph ( ) unido a Tav ( ) por intermédio de Vav ( ).
Sabemos que Vav é a letra da junção e da reunião, é uma espécie de liga espiritual,
todas as coisas são conectadas por sua presença.
O próprio Tetragrama está unido por Vav, que une os dois Hêi’s.
Assim, "ot" mostra a união de Aleph e de Tav, o começo e o fim do mundo das
letras.
Tal união simboliza a unificação das forças do cosmo inteiro que as técnicas do
Tzeruf (permutação) permitem realizar progressivamente.
O conjunto das letras, de Aleph a Tav, chama-se "otiot", ou seja, "ot" na forma
plural.

O valor numérico de "otiot" é igual a 823 ( 1+6+400+10+6+400), número
que, raramente, encontramos na guematria, já que poucas palavras têm este valor.
Entretanto existe pelo menos um outro, "tachtiah", o "fundo" ou o "abismo", que,
por sua equivalência, sugere a profundeza sem fundo representada pelas otiot.
Isso porque elas nos permitem passar da forma ao som, em seguida, do
pensamento aos inúmeros graus da alma, até o Ein-Soph.
Porém, "tachtiah" pode ser lido também "tachath Yah", ou seja, "sob Yah", sob as
duas primeiras letras do Tetragrama (Yud e Hei).
Encontramos a palavra "tachtiah" no Salmo 86:13, como vemos:
"Tua bondade é grande para comigo, e Tu libertas minha alma das profundezas do
abismo".
Mas, se considerarmos o segundo sentido dessa palavra, o versículo do Salmo
passa a ser:
"Tua chessed é grande para comigo, e Tu libertas minha alma do inferno abaixo de
Yah".

O que são as letras?

“D’us olhou as letras da Torá e criou o universo”

Cada uma das vinte e duas letras hebraicas é um canal (virtudes metafísicas) que
nos conecta, nos liga do finito ao infinito.
Cada um é um estado particular de contração espiritual e força de vida.
A forma de cada letra representa sua forma individual de transformação da energia.
Toda letra que emerge em pensamento e fala é retirada da essência interna, da
inteligência e emoções da alma.
Antes da existência das letras, da associação e criação em palavras, elas estavam
ainda impossibilitadas de dar vida às criaturas individuais.
Através de D’us (HaShem), a energia foi transformada através destes canais
espirituais, e assim, puderam transformar-se em letras escritas.
Para os sábios da cabala as letras são o fundamento de tudo, a medida de todas as
coisas mensuráveis, visto através delas e por meio de suas combinações operam-se
as diferenças entre todas coisas existentes e mensuráveis. (conforme Rabi Azriel)

Ler, escanear, meditar, visualizar e proferir, nos ajudam a trazer diferentes forças
dentro da nossa alma e ambiente.
A meditação nas letras irá modificar nosso padrão mental, mexendo com energias
que estão contidas no ambiente ou em nós, liberando-as.
Contemplamos cada letra, cada palavra e conceito para desdobrar seu significado,
trazendo o aspecto mais íntimo, a essência.
Tudo é uma só energia, onde não existe definição de bem e mal, quem define
somos nós, a partir das relações, sair do interno para o externo, através das letras
podemos conduzir estes conceitos, estas forças, transformando-as, trazendo pra
dentro de nossa alma, interagindo, estamos abrindo portas do inconsciente.
Assim nos tornamos dono do nosso destino, pois conduzimos o destino (luz).

Através da meditação nas letras podemos:


- Acessar os códigos do Universo, o DNA Cósmico.
- Provocam e liberam as forças/energias (cargas elétricas e espirituais).
- Conectar-se com uma parte da Divindade.

As letras são medidas = mensuram o cosmos.


Ligam Infinito - Finito
São como vasilhas que recebem um tipo de luz.
Sua contemplação e combinação nos levam a nos aproximarmos de D’us.
As letras eliminam as cascas (Klipot) = caminhos, transformações.
São os diferentes estados de consciência.
Através delas podemos evocar nossos anjos.
São canais para alcançar nossos desejos, transformar, construir e destruir.
Elas são linguagem para lidar com o inconsciente de todas as coisas vivas.
São vibrações (No princípio era palavra... No princípio era vibração)
A santidade das orações está ligada às letras = qualquer modificação, erro,
perturbam a ordem e os equilíbrios destas forças, assim é como o rolo da Tora,
mezuzá, tefilin...
Elas também definem as relações com as sefirot (expressões Divinas).
Trazem a existência do universo e as bênçãos Divinas.
São utilizadas para induzir os estados de ―Gadlut‖, ascensão espiritual.

As Ligações entre Letras, Palavras e Números


Na língua hebraica, cada letra corresponde a um número.
Como resultado, qualquer palavra ou nome pode se tornar uma série de números.
Os números podem ser tomados um de cada vez, ou somados juntos.
As letras são resultados das sensações espirituais.
A direção das linhas e das formas numa letra têm um significado espiritual.
Como resultado, as letras hebraicas também são códigos para as sensações que o
escritor recebe do Criador.
Quando uma letra ou palavra é escrita, o autor está nos dando sua percepção
consciente do Criador.
O Criador está agindo nelas à medida que são escritas.
A cor também é uma pista para o modo como a criação (tinta preta) trabalha de
mãos dadas com o Criador (livro branco).
Sem isso, você não pode entender a escrita ou a história da criação, e o que ela
significa para você.

Um Mapa da Espiritualidade
A Tora é o texto principal do Judaísmo, o ―Velho Testamento‖ no Cristianismo, bem
como um texto Cabalístico.
Suas letras mostram toda a informação que irradia do Criador.
Nas letras hebraicas há dois tipos básicos de linhas, representando dois tipos de
Luz.
As linhas verticais representam a Luz da Sabedoria ou do prazer.
As linhas horizontais representam a Luz da Misericórdia ou da correção.
(Existem também diagonais e linhas circulares que têm significados específicos em
cada letra).
Os códigos são oriundos das mudanças na Luz, à medida que ela desenvolve o
nosso Kli (desejo, recipiente, receptor, ou ainda, nós mesmos).

A Luz amplia o nosso desejo.


Quando ela entra no nosso Kli, é chamada Taamim (sabores) e quando sai, chama-
se Nekudot (pontos).
As memórias ou recordações da entrada da Luz são chamadas Tagin (caracteres), e
as recordações da saída da Luz são Otiot (letras).
Todas as letras começam com um ponto.
Um ciclo completo de um estado espiritual contém: a entrada, a saída, as
recordações da entrada, e as recordações da saída.
O quarto e último elemento cria as letras.
Os outros três elementos são escritos como símbolos minúsculos (Taamim) acima
das letras, caracteres (Tagin) dentro das letras e pontos (Nekudot) debaixo das
letras.
Com a correta instrução para se ler a Torah, os Cabalistas podem ver o seu
passado, presente e futuro, através da contemplação destes símbolos em cada uma
de suas combinações.
Mas para isso, não basta simplesmente ler o texto.
Devemos enxergar os códigos.

Certas combinações de letras podem ser usadas no lugar da linguagem das Sefirot
e dos Partzufim (Faces ou Rostos), quando descrevemos ações espirituais.
Os objetos e as ações mostradas nas letras e suas combinações, também podem
dar uma descrição do mundo espiritual.
A chave para se ler a Torah desta forma é O Zohar.
Em essência, o livro contém comentários sobre as cinco partes da Torah, e explica
o que está oculto no texto de Moisés.
As letras representam a informação sobre o Criador.
Mais precisamente, elas descrevem a experiência do indivíduo sobre o Criador.
Os Cabalistas descrevem o Criador como uma Luz branca, ―o fundo do papel onde
são escritas as letras e as palavras‖.
As percepções da criatura sobre o Criador enfatizam diferentes sensações que uma
pessoa sente experimentando-O, usando letras e palavras.
É por isso que a escritura hebraica tradicional é feita com letras pretas sobre um
fundo branco.
Acontece que as letras hebraicas são como um mapa da espiritualidade,
descrevendo todos os desejos espirituais.
O modo como elas se conectam, nos dá a Torah.

Pontos e Linhas
Os pontos e as linhas nas letras hebraicas são formas sobre o papel, que está em
branco e vazio.
O papel é a Luz ou o Criador.
A tinta preta é a criação.
Uma linha vertical ( | ) significa que a Luz desce de Cima - do Criador para a
criação. Uma linha horizontal ( _ ) significa o Criador está se relacionando com toda
a existência (como a varredura de uma paisagem)

“Gravou-as... “
As letras hebraicas têm três partes básicas: topo, centro e base.
O topo e a base consistem geralmente de grossas linhas horizontais, enquanto que
o centro consiste de linhas verticais mais finas.
As bases das letras foram "gravadas como um jardim".
É daqui que se tira material da matriz deixando um vazio.
Os lados das letras foram então "entalhados como um muro".
Estas são as linhas verticais que separam as letras entre si, como as paredes.
Finalmente, os topos das letras foram acrescentados como um teto que as cobre.
Segundo algumas autoridades, o processo se refere também à Criação do espaço.

Uma lição de Cabala


Existe o Emanador e o emanado.
O Emanador tem quatro elementos: Fogo, Ar (Vento), Água e Terra (Pó), que são
as quatro Otiot (letras): Yud, Hei, Vav, Hei, que são Hochma, Bina, Tifferet e
Malchut.
Elas também são: Taamim, Nekudot, Tagin, Otiot, e eles são Atzilut, Beriá, Yetzira,
Assiya.

A forma das letras hebraicas vem da combinação de Malchut (representada em


preto) e Bina (representada em branco).
O ponto preto é Malchut.
Quando o ponto se conecta à Luz, isso expressa o modo como ele recebe a Luz
através de todos os tipos de formas e aspectos.
As formas mostram os diferentes modos que a criação (tinta preta) reage ao
Criador (o fundo branco).
Cada letra representa uma combinação de forças.
A sua estrutura e o modo como as letras são pronunciadas expressa as qualidades
do Criador.
Nós expressamos as qualidades espirituais que alcançamos através das formas.
Preto no Branco
As letras hebraicas também representam Kelim (vasos). [Kli, singular, Kelim,
plural]
O Zohar nos diz que as letras compareceram uma por uma diante do Criador, e
pediram para serem selecionadas para servi-Lo na Criação do universo.
Simplificando, as letras pediram para receber Sua bênção e entregá-la à criação,
como um Kli (vaso) recebe água e a derrama para fora. para manter a vida.
O branco simboliza a Luz (dar), e o preto simboliza a escuridão (receber).
Por isto, as propriedades do Criador são totalmente brancas, simbolizadas pelo livro
branco.
O preto é a criação, simbolizada pela tinta preta.
Sozinhos, Criador e criação não podem ser compreendidos.
Juntos, produzem letras e símbolos que podem ser lidos e compreendidos.
Pense nisso: sem uma criação, podemos realmente chamar o Criador de ―Criador?‖
Para ser Criador, Ele precisa criar.
Este dualismo Criador-criação é a base de tudo aquilo que existe.
Nós só podemos falar de criaturas, nós não experimentamos a Luz, a menos que
ela ―bata‖ em algo.
Para sentir a Luz, a mesma deve ser interrompida por algo, como a retina e o
Criador.
Elas não são apenas linhas pretas; elas formam formas nítidas porque representam
relações corrigidas entre a criação e o Criador.

Mesmo se tomássemos a palavra mais sutil que possa ser usada... as palavras ―Luz
Superior‖ ou até mesmo ―Luz Simples‖, ainda são derivadas ou emprestadas da luz
solar, ou luz da vela, ou uma luz de satisfação que a pessoa sente ao solucionar
alguma dúvida importante. …
Como nós podemos utilizá-las no contexto espiritual e Sagrado?
É exatamente assim quando precisamos achar alguma lógica nessas palavras, que
nos ajude em relação à habitual negociação na busca da sabedoria.
Aqui, devemos ser muito rigorosos e precisos usando descrições definitivas.

Essa união é construída em cima do contraste e da colisão.


Como criaturas, nós não experimentamos a Luz, a menos que ela bata em algo.
Para sentir a Luz, a mesma deve ser interrompida por algo, como a retina em nosso
olho.
A superfície de um objeto (som, luz ou qualquer tipo de onda) colide com nossa
percepção.
Isto impede que o objeto continue, e nos permite senti-lo.
Porque o papel é como a Luz, e deve ser contido com linhas pretas (letras).
Isso permite que a pessoa sinta a Luz e aprenda com ela.
As linhas pretas das letras são vistas como uma barreira para a Luz.
Isto porque o preto (a cor) é o oposto da Luz.
A Luz bate contra a Masach (tela) da criatura; ela quer entrar no Kli e dar prazer.
Ao invés de desviá-la, a luta entre a rejeição da Masach e o golpe da Luz cria uma
poderosa ligação.
É nessa colisão que se baseia a relação entre a Luz e as letras.
Deste modo, as linhas pretas das letras limitam ou restringem a Luz.
Quando a Luz ―bate‖ numa linha, é forçada a parar e, então, o Kli pode estudá-la.
Acontece que o único modo de aprender algo a respeito do Criador é parando a Sua
Luz — restringindo e estudando-a.
Ironicamente, exatamente quando contemos o Criador é que aprendemos a ser tão
livres quanto Ele.
De certo modo, a Masach é como um prisma: a rejeição da Luz quebra a mesma
nos elementos que a compõem, e isto nos (nó, as criaturas) permite estudá-la e
decidir o quanto de cada ―cor‖ queremos usar.
Letras e mundos
O alfabeto hebraico é formado por 22 letras.
As primeiras nove letras, de Alef à Tet, representam a parte inferior de Biná.
As nove letras seguintes, de Yud à Tzadik, representam Zeir Anpin (as seis sefirot
de Guevurah a Yessod), e as últimas quatro, de Kof à Tav, representam Malchut, a
própria criatura.
Além das letras ―regulares‖, há cinco letras finais na língua hebraica.
Se verificarmos, veremos que elas não são letras novas; elas utilizam os mesmos
nomes que as 22 letras originais.
Há uma boa razão para isso.
Todas as 22 letras originais estão no mundo de Atzilut, o mais elevado dos cinco
mundos.
Como as 22 letras originais estão no mundo mais próximo do Criador, elas
descrevem uma conexão corrigida entre a criação e o Criador.
As cinco letras finais fazem o contato entre o estado corrigido (Mundo de Atzilut) e
os mundos do estado não corrigido, Beria, Yetzira e Assiya (que formam a sigla
BYA).
Como há cinco fases na criação, deve haver cinco formas finais de contato entre
Atzilut e BYA; conseqüentemente, as cinco letras finais.

A Benção
A letra Bet é a primeira da Torah e a segunda no Alfabeto Hebraico.
Ela é a primeira da Torah porque Bet representa a conexão corrigida entre Bina e
Malchut, chamada ―Beracha ou Brachá‖‖ (benção).
Uma bênção é recebida quando Malchut (a criação, nós) consegue se conectar à
Bina (o Criador).
Nós só nos conectamos a Ele quando queremos ser como Ele, e esse é o significado
de uma ―conexão corrigida‖.
Quando Malchut pede para ser como Bina — isto é, quando você e eu queremos ser
como o Criador — é chamada benção (Beracha) de ―uma conexão corrigida‖.

Unidades, Dezenas, Centenas e Mais Além


As letras são divididas em três categorias numéricas: unidades, dezenas e
centenas.
O nível de Bina corresponde às unidades: Aleph, Bet, Gimel, Dalet, Hey, Vav,
Zayin, Het, Tet.
Essas são as nove (1–9) Sefirot de Bina.
O nível de ZA (Zeir Anpin) corresponde às dezenas: Yod, Caf, Lamed, Mem, Nun,
Samech, Ayin, Peh, Tzadik.
Essas são as nove (10–90) Sefirot de ZA.
O nível de Malchut corresponde às centenas: Kof, Reish, Shin, Tav.
Essas são as quatro (100–400) Sefirot de Malchut.
Uma pergunta óbvia vem à mente: e os números acima de 400?
A resposta é que o hebraico é uma língua espiritual, e não matemática.
Tudo nele representa estados espirituais, e nenhum outro número a mais é
necessário para descrever a estrutura do mundo de Atzilut (a ―casa‖ das letras).
Em outras palavras, com essas 22 letras, podemos descrever tudo, do princípio da
criação até o infinito.
Então, o que acontece quando queremos expressar números complicados, como
248?
Usamos três letras: Reish (200), Mem (40), e Het (8).
E se quisermos escrever um número maior que 400, como 756?
Usamos mais de três letras: Tav (400) + Shin (300) + Nun (50) + Vav (6) = 756.
É óbvio que podemos alcançar este número usando muitas combinações diferentes,
mas é importante lembrar que, se duas palavras somarem o mesmo número, elas
são sinônimas do ponto de vista espiritual, e têm o mesmo significado espiritual.
Vejamos agora como esta discussão sobre números tem relação com a evolução do
desejo espiritual, explicada na Cabala.

Quando os números representam o tamanho do nosso Kli, quanto maiores os


números, mais Luz entra neles.
Se forem apenas unidades em nosso desejo, isto é, se tivermos um desejo
pequeno, uma quantia pequena de Luz está presente.
Se forem adicionadas dezenas e aumentarmos o nosso desejo, mais Luz entra.
Se centenas forem adicionadas e o nosso desejo alcançar o nível máximo, a Luz
simbolizada pelas letras preenche nosso Kelim espiritual.
Porém, as coisas se complicam, à medida que a Cabala tem uma exceção.
Os números também podem representar a Luz, e não só os desejos.
Neste caso, as unidades (Luzes pequenas) estão em Malchut, as dezenas estão em
ZA (Zeir Anpin), e as centenas estão em Bina.
Isto se deve a uma relação inversa entre a Luz e o Kli (desejo).
Isto pode parecer confuso, mas é porque a Luz mais elevada do Criador só entra no
nosso Kli quando ativamos nossos desejos mais baixos.

È bom saber que nós estudamos as qualidades do Criador do mesmo modo que
determinamos as cores de um objeto.
Quando vemos uma bola vermelha, significa que a bola refletiu a cor vermelha; é
por isso que podemos vê-la.
Da mesma forma, quando rejeitamos (refletimos) um fragmento da Luz do Criador,
sabemos exatamente o que rejeitamos.
É por isso que o único modo de conhecermos o Criador é rejeitando primeiro toda a
Sua Luz.
Só então podemos decidir o que queremos fazer com ela.

Aqui estão os valores numéricos de cada nível, expressos em termos da Luz que
representam, e o nível no qual preenchem seus vasos:
Bina — Luz (100); Kli (1)
ZA — Luz (10); Kli (10)
Malchut — Luz (1); Kli (100)

Se Deus = Natureza, e a Natureza = Desejo, então...


Eis outra coisa a se pensar: se calcularmos os valores numéricos das letras nas
palavras HaTeva (a natureza), elas somam 86.
Depois, se calcularmos o valor das letras na palavra Elohim (D’us), elas somam 86.
E, finalmente, se calcularmos o valor das letras na palavra Kos (copo, xícara), elas
também somam 86.
Isso mostra a equivalência entre Deus, copo e natureza na Cabala.
Eis como funciona.

Nós já dissemos que se duas palavras somarem o mesmo número, ambas têm o
mesmo significado espiritual.
Então, a declaração que a Cabala faz abaixo é muito interessante (ainda que um
pouco complexa):
A Natureza e o Criador são a mesma coisa.
O fato de não os vermos assim não torna isso menos verdadeiro, assim como o fato
de não percebermos uma bactéria a olho nu não impede que ela afete nossos
corpos.
Na Cabala, uma xícara representa um Kli, ou seja, um desejo de receber.
Portanto, a natureza e o nosso Kli são a mesma coisa.
Também aqui, o fato de não os sentirmos não significa que isso não seja
verdade, mas o fato de ambos terem os mesmos valores significa que temos a
oportunidade de corrigir (transformar) nossos desejos para combinarem com a
estrutura da natureza.
Quando combinamos nossos desejos (Kli) com os da natureza, também os
combinamos com o Criador (porque a natureza e o Criador são sinônimos).
Em palavras simples, quando igualarmos nosso Kli com a natureza, descobriremos
o Criador.
Em termos de uma equação, é como:
Se A = B, e B = C, então A = C.

Os blocos construtores da Vida


O nome de todos estes ―passatempos‖ que os Cabalistas fazem com as letras e os
números chama-se Gematria.
Antigos Cabalistas aperfeiçoaram a Gematria a tal ponto que pudessem (e
puderam) descrever o conjunto da criação, e a relação Criador-criação usando a
Gematria.
A Gematria é uma expressão do estado de um Kli que descobre o Criador dentro de
sua própria estrutura.
O Kli é composto de 10 Sefirot, divididas na ponta do Yud, e nas letras Yud, Hei,
Vav, e Hei novamente.
Esta estrutura de quatro letras é conhecida como Tetragrammaton (em grego),
HaVaYaH (em hebreu) e Iavé, IHVH ou Jeová (em português).

A primeira Sefira (Keter) pertence à extremidade superior do Yud; a segunda Sefira


(Hochma) ao Yud; e a terceira Sefira (Bina) ao Hei.
A próxima Sefira (ZA) contém seis Sefirot internas: Chessed, Gevura, Tifferet,
Netzah, Hod e Yesod.
Todas essas Sefirot estão contidas na letra Vav.
O último Hei é Malchut, que também é a última Sefira.

De fato, HaVaYaH não é apenas a estrutura de um Kli; é a estrutura de todo Kli— e


de tudo que foi, é, e será.
É o elemento fundamental da existência.
Como um holograma, quanto menor você cortá-lo, sempre terá uma estrutura
completa de 10 Sefirot, contida em HaVaYaH.
É também por isso que estas quatro letras incluem a palavra havayah (um termo
genérico que em hebraico significa ―existência‖, ―ser’).

Nós já dissemos que não há mal na Cabala; é tudo uma questão de como nos
relacionamos às situações que nos encontramos.
O Faraó é considerado uma força má.
Mas os Cabalistas inverteram as letras hebraicas do nome Faraó, e descobriram
que, na verdade, ele significa ―Oref H‖ (a face posterior do Criador).
Em outras palavras, o Faraó é o Criador, forçando-nos duramente a progredir em
direção à espiritualidade, porque não estamos nos esforçando o suficiente.
Se nos esforçarmos bastante, descobriremos que o Faraó é realmente o nosso
amigo.

Abraão Tomou a tarefa para si (você também pode)


É importante entender que há uma relação entre as letras, Sefirot e o Kli, porque
na Cabala o nome de uma pessoa representa o seu Kli espiritual.
Por exemplo, Abraão representa um tipo muito específico de relação entre o Criador
e a criação.
Abraão representa uma alma que fez certo tipo de correção.
Quando nasceu, o seu nome era Abrão (Avram).
Mas, depois que se corrigiu, transformando seus desejos egoístas em altruístas, ele
mudou o seu nome para Abraão (Avraham).
O ―a‖ (letra hei em hebraico) que foi acrescentado em seu nome representa o Hei
de Bina, a qualidade altruísta do Criador.
Isto indica que ele se elevou àquele nível espiritual.
Descubra sua raiz, Descubra Seu Nome
Todas as letras existem dentro de nós e em nenhuma outra parte.
Elas são Kelim espirituais, experiências que cada um de nós sentiu e sentirá
novamente, à medida que nos desenvolvemos espiritualmente.
Os Kelim percebem o Criador, e quando aprendermos o verdadeiro significado das
letras, encontraremos dentro de nós todas as linhas, pontos e círculos que
simbolizam nossa conexão com o mundo espiritual.
Todo indivíduo tem algo chamado ―a raiz da alma.‖
À medida que subimos a escada espiritual e descobrimos as letras, as palavras e os
números dentro de nós, nos aproximamos gradualmente de nossos verdadeiros
egos.
O Criador só criou uma criação.
Essa criação foi dividida em 600.000 partes, que se partiram nas bilhões de almas
que temos hoje no mundo.
À medida que subimos a escada, percebemos que somos um corpo, e descobrimos
nosso lugar nele.
Esta é a raiz da nossa alma.
Cada raiz tem seu próprio nome, e quando alcançarmos a raiz da nossa alma,
descobriremos nosso lugar no sistema de criação e quem realmente somos.
E descreveremos isso com um nome que é exatamente o nosso próprio.

Em resumo
As letras hebraicas carregam valores numéricos.

Valores numéricos semelhantes indicam semelhança espiritual, e valores idênticos


demonstram sinonímia espiritual (Ação ou efeito de expressar (a mesma coisa)).

Deus = natureza, e natureza = desejo (Kli).


Conseqüentemente, Deus = desejo.

À medida que subimos a escada espiritual, descobrimos as letras em nosso interior,


conforme o nosso estágio espiritual.
É assim que descobrimos o nosso verdadeiro nome.

Continua
As Letras Hebraicas – Parte 4

As Letras Pai e Mãe

As Letras Mães são responsáveis pelas estruturas básicas da Criação.


Elas fazem parte do Universo do vazio (Bohu), representando todas as
possibilidades antes da Criação em si.

Letras Mãe (Alef – Mem – Shin)



A letra Aleph é uma consoante sem som e representa o ar, o Mem a água e o Shin
é o fogo.
Segundo o Sêfer Ietsirá, falando de uma forma simples, a água representa a
matéria, o fogo energia e o ar, é o que permite que os dois interajam

São chamadas de ―encruzilhada‖ porque formam os vínculos horizontais da Árvore,


o equilíbrio das colunas.
Na Árvore Shin está entre Chochmá e Biná, Aleph entre Guevurá e Chessed e Mem
entre Netsach e Hod.
Representam as três polaridades de sustentação da Árvore da vida.
São letras de estabilidade que unem as oposições do universo.

São associadas ao triangula superior da Árvore da Vida, as três primeiras sefirot:


Aleph, a primeira letra, é Keter; Mem, a letra do meio, é Chochmá; Shin, a
penúltima letra é Biná.
Tudo o que há no corpo encontra-se também na alma. cabeça = Shin, ventre =
Mem e peito = Aleph.
As letras que formam o Tetragrama ( ), o Nome de D‖us mais elevado, derivam
das letras mães.
São chamadas de ―pais‖.
Letras Pai (Yud – Hei – Vav)


Yud = Chochmá = água = Mem
Hei = Biná = fogo = Shin
Vav = seis sefirot = Ar = Aleph

Os Nomes Divinos também são canais de comunicação com a Luz do Mundo


Infinito.
Os Nomes denotam diferentes interações de Deus com a sua Criação.
Estes Nomes estão relacionados às sefirot.
Por exemplo: podemos chamar uma só pessoa por vários nomes, de acordo com as
circunstâncias.

Ao fazermos a união das letras Pai e Mãe, isto é, a união do masculino com o
feminino ao nível do espiritual, fazemos acontecer esta mesma união ao nível físico,
gerando vitalidade.

Uma informação muito importante: Não cometer o erro de pensar em traços


femininos (mães) ou masculinos (pais) nos moldes conhecidos por nós.
Toda a terminologia utilizada para transmitir estes ensinamentos é utilizada, para
que possamos discutir idéias elevadas de uma maneira que nós sejamos capazes de
entender.

As letras hebraicas já existiam antes de Bereshit


Segundo o Zohar, todas as letras hebraicas já existiam antes de Bereshit (criação).
O que dá origem ao Ein Sofer Or (antes do Bereshit) é a letra Yud; é um ponto
central no vazio onde toda a realidade densa e física está concentrada.
No momento em que este Yud se rasga, ele forma uma fenda – o Vav é um Yud
que se rasga, que se estica.
Neste momento, esta fenda se inclina e se parte, formando dois Yud, dando origem
à letra Aleph (ver o formato da mesma – tem um Vav inclinado no meio, e dois
Yud, um acima e outro abaixo).
Os dois Yud são as águas de cima e as águas de baixo, a realidade espiritual e a
realidade física.

As Letras e os Números
O valor guemátrico ("peso") das letras tem sua origem com os anjos, ainda no
momento da criação.
Isso se deve ao fato de que, assim como os homens, as letras e sua capacidade
criativa também são detentoras de cinco níveis de alma:

- Yechidá - Representa a totalidade do Aleph-Beth e sua unicidade.


- Chaiá - Representa a bagagem de informações proféticas (não cognitivas incluídas
em cada letra).
Este estágio, segundo o Tzeruf só poderá ser obtido por intermédio da meditação.
Aqui temos também a ligação entre a letra e um Mazal ou Planeta ou Elemento.
- Neshamá - Aqui encontramos as informações cognitivas das letras, seus dons e as
partes do corpo a que elas estejam associadas.
- Ruach - Justamente aqui se encontram os números.
Sendo o Ruach uma "substância" pertencente ao Mundo de Yetzirá, o mesmo sendo
de domínio dos anjos (como mencionado em todo o corpo da literatura clássica)
temos desta forma os números.
Isso se deve pelo fato dos anjos serem mestres dos cálculos e da matemática
sagrada.
O valor das letras está diretamente relacionado ao "peso" substancial de Or (Luz)
que ela é capaz de transportar.
Assim, a letra Beit precisaria de uma porção de 2 para se manter no processo de
criação, enquanto que a Shin precisaria de uma porção de 300 para realizar a
mesma tarefa.
- Néfesh - Aqui é encontrado o influxo de sua forma gravada, bem como o impacto
visual que ela emite.

Os 3 mundos
A Cabala ensina haver 3 mundos: o mundo passado, este mundo e o mundo futuro
(expressões tradicionais).
Tudo está no Um e o Um está em tudo; os mundos passado e futuro são todo
espirituais.
As letras do *Carro de D’us* Y-H-V-H ensinam esta realidade:
Yod-He-Vav-He são as 4 letras; He como ideograma significa *fortaleza* e os dois
He simbolizam os 2 mundos completos, passado e futuro.
O Vav simboliza o mundo presente ou "este mundo", letra que é a terça parte de
um He, i.e., o mundo presente está em construção, pois o passado já não existe e
o futuro ainda será, por isso mesmo estão completos enquanto o presente é
construtivo.
O Yod logo no início, letra que é a metade do Vav, simboliza que todos os 3
mundos formam um só, pois o Yod contém todas as outras letras assim como D´us
contém todos os mundos.
O alfabeto hebraico, ainda muito próximo dos hieróglifos permite a dupla
interpretação fonética e ideográfica.
Podemos ler as palavras no seu sentido sonoro ou como ideogramas.
A leitura fonética dá a Massorah, o texto da Bíblia [Torah] tal como o temos hoje.
A leitura ideográfica transmite Parash, a interpretação "oculta".

 [Vav - V] é a quarta parte do  hebraico (He - H).


A metade do (He - H), a letra Resh [] significa que os 3 mundos saíram da
mente, Resh (―Cabeça‖), de D’us; pois o  contém o  assim como Yod e Vav
contêm Resh.
O Vav, de resto é a conjunção aditiva, Va, simbolizando que ―Tudo está em Tudo‖.
Os 3 Mundos pois, são realidades cósmicas e, ao mesmo tempo, vivências
subjetivas; estão em nós assim como estamos neles, pois o objetivo da Cabala é o
desenvolvimento das forças espirituais presentes no homem.

As quatro letras do nome de D'us


Talvez o modelo mais fundamental da Cabalá é aquele baseado nas quatro letras
do nome essencial de D'us, YHVH [  ].
As próprias dez sefirot são de fato apenas manifestações do Divino processo,
representado por estas quatro letras.
Embora a essência do nome YHVH (HaShem, o Nome) esteja acima de um
significado, etimologicamente é derivada do radical hebraico que significa
"existência", e pode ser lido "Aquele que continuamente traz [toda a realidade] à
existência."
Isso nos ensina que podemos conceber "existência" ou "vida" em termos de uma
estrutura expandida de quatro estágios.
A sefirá transcendente do Keter é indiretamente referida pela pontinha superior da

primeira letra do Nome, o Yud [ ].

O Yud [ ], um "ponto formado," corresponde à sefirá primária de Chochmá; o

primeiro He [ ] para a compreensão expansiva da sefirá da biná.

O Vav [ ] (cujo valor numérico é seis) corresponde aos seis atributos emotivos, de
Chessed a Yessod.

O He [ ] final corresponde ao domínio da sefirá de Malchut.

Os três modelos básicos


A palavra "Cabalá" também deriva da raiz hebraica cujo significado original na
Bíblia é "fazer paralelos."
A Cabalá analisa toda a realidade "em paralelo" aos modelos básicos ou estruturas
de referência.
Nós já estivemos comentando sobre os dois modelos mais básicos, consistindo de
dez níveis ou estágios de desenvolvimento, as dez Sefirot, e a ainda mais
fundamental estrutura de referência, o "carimbo de toda a criação," as quatro letras
do Nome essencial de D'us.
Também vimos como o segundo modelo encerra também o primeiro.
Citemos um pouco mais do terceiro modelo básico ou estrutura de referência na
Torá que são as vinte e duas letras do alfabeto hebraico.

Relativamente, as dez Sefirot são chamadas de "Luzes" e as vinte e duas letras de


"Recipientes."
Juntas, as dez Sefirot e as vinte e duas letras tornam-se os "Trinta e Dois Caminhos
da Sabedoria" através das quais D'us criou o mundo.
As vinte e duas letras subdividem-se em três categorias de 3, 7 e 12.
Quanto às sefirot (e num certo sentido, ainda mais, pois as letras são recipientes,
ao passo que as sefirot são luzes), as letras correspondem aos membros individuais
e órgãos do corpo.

As três letras "mãe" - Alef, Mem e Shin - correspondem aos três "elementos"
básicos da criação - Ar, Água e Fogo - e as três divisões gerais do corpo: Peito (ar),
Abdômen (água) e Cabeça (fogo), respectivamente.

Letra Elemento da criação Parte do corpo


Shin Fogo Cabeça
Alef Ar Peito
Mem Água Abdômen

As sete letras "duplas" - Bet, Guimel, Dalet, Caf, Pei, Resh, Tav - correspondem no
corpo aos sete "portais" da cabeça (cada um serve como portal para os sentidos da
visão, audição, olfato e paladar, a sensação da realidade externa, para entrar na
consciência da alma).
Cada portal, quando santificado, serve como um portal através do qual recebe-se
um dom Divino ou bênção:

Letra Dom Portal da cabeça


Bet Sabedoria Olho direito
Guimel Riqueza Ouvido direito
Dalet Filhos Narina direita
Caf Vida Olho esquerdo
Pei Governo Ouvido esquerdo
Resh Paz Narina esquerda
Tav Favor Boca

As doze letras "simples" - He, Vav, Zayin, Chet, Tet, Yud, Lamed, Nun, Samech,
Ayin, Tsadic, Kuf - correspondem aos doze membros básicos e órgãos do corpo.
Cada um destes "controla" (muitas vezes de forma misteriosa, pois nenhum
relacionamento óbvio é aparente) um sentido espiritual ou talento da alma (os
talentos particulares de cada uma das doze tribos de Israel):

Letra Sentido/Talento Membro/Órgão


He Fala, expressão Perna direita
Vav Pensamento, contemplação Rim direito
Zayin Caminhar, progresso Perna esquerda
Chet Visão, percepção Mão direita
Tet Audição, entendimento Rim esquerdo
Yud Ação, retificação Mão esquerda
Lamed Tato, sexualidade Vesícula biliar
Nun Olfato, sensibilidade Intestinos
Samech Sono, sonhos Baixo estômago
Ayin Raiva, indignação Fígado
Tsadic Comer, paladar Alto estômago
Kuf Riso, exuberância Baço

Os significados do Alef-Bet
A partir de nosso próximo texto, falaremos dos significados de cada uma das vinte
e duas letras do alfabeto hebraico - "os blocos de construção da Criação" - como
são chamadas na antiga obra mística Sêfer Yetziyrah.
Entre os muitos significados teremos:
- Conceito: O princípio conceitual subjacente associado com a letra.
- Significado: O significado literal do nome da letra.
- Formato: A associação visual primária relacionada ao formato das letras.
- Número: O valor numérico da letra segundo calculado pela Guematria.

Correspondências básicas nas três dimensões de:


- Espaço: Os elementos físicos, os corpos celestiais e os signos do zodíaco.
- Tempo: As estações, os dias da semana e os meses do ano.
- Alma: Os membros e órgãos do corpo humano, responsáveis por mediar
experiências relacionadas com o "eu".

Associações:
- Qualidade, dom ou sentido: Expressões inatas ou adquiridas de experiência
vivida, controlada pelos membros acima e órgãos da alma.
- Arquétipo: Figuras arquetípicas da história de Israel.
- Canal: Os canais horizontais, verticais e diagonais conectando as Dez Sefirot.

Mais significados no Alfabeto Hebraico (Alef-Bet)


Deus criou todas as coisas com números, medida e peso.
Por isso os cabalistas dizem que cada número contem um mistério e um atributo
que se refere à Divindade ou a alguma inteligência.
Tudo que existe na natureza forma uma Unidade pelo encadeamento de causas e
efeitos , que se multiplicam ao infinito; e cada uma destas causas refere-se a um
número determinado.
Os antigos rabinos e cabalistas explicavam: a ordem, a harmonia e as influências
dos céus sobre o mundo pelas 22 letras do alfabeto hebraico:
- Da letra Alef até a letra Yod, o Mundo Invisível ou Angélico, as inteligências
soberanas que recebem as influências da primeira luz eterna que emana do Deus.

- Da letra Caf até Tzadic, as diferentes ordens de anjos que habitam o Mundo
Visível ou Astrológico, regido pela Divina Sabedoria que criou esta infinidade de
globos que circundam a imensidade do espaço, tendo cada um o seu protetor e
diretor.

Da letra Kuf até Tav, o Mundo Elementar, que dá alma e vida a todas as criaturas.
Na esfera dos elementos, reina a ordem dos anjos que influem sobre o destino dos
homens. Eles cuidam das gerações e da multiplicação das diferentes espécies de
criaturas até o infinito.

Meditação Cabalista nas Letras


Uma das meditações usadas pelos cabalistas consiste na meditação nas 22 letras
do alfabeto hebraico.
Existem muitas maneiras de meditar nestas letras.
A mais usada e conhecida é a visualização das letras.
Outros tipos de meditação nas letras são:

1 - A vocalização, conhecida como Mivtá.


Consiste em falar ou cantar os sons de letras, palavras e nomes.

2 - O desenho.
Consiste em desenhar as letras na forma casher (apropriada), o que já é uma
contemplação, onde repetimos o ato da criação.

3 - O Nefesh Chaim.
Significa "vidas da nefesh".
A Nefesh é nossa alma residual, mais densa, a alma instintiva.
É uma prática corporal criada por Rav Avraham Abuláfia que consiste em "imitar" a
forma das letras do mês e da parashá com o corpo e as mãos.
O Nefesh Chaim nos ajuda a "domar" as letras e a nos conectar com as energias
vigentes no mês e na semana.

4 - O Krav Kadosh.
Significa "combate sagrado" e consiste numa meditação em movimento, onde com
um bastão (mateh) ou o corpo "desenhamos" as letras no espaço.
Desenvolve a nossa kavaná (concentração).

O Alfabeto Sagrado:
Um diálogo entre os Rabino Josy Eisenberg e o Rabino Adin Steinsaltz.
O alfabeto hebraico, que comporta vinte e duas letras, é considerado no
judaísmo um alfabeto sagrado: é em hebraico que, na Bíblia, Deus se dirige
ao povo de Israel e, por intermédio dele, ao mundo inteiro.
Trata-se, portanto, de algo mais do que uma língua: é antes o instrumento
da Revelação.
Deus fala aos homens e Ele lhes dá a Lei.
Foi nesta língua que Deus pensou — portanto criou — o universo.
Pode-se dizer que o hebraico é uma língua criativa: o universo,
globalmente, e a natureza, no detalhe, não são nada além de uma
combinação de letras.
Para o Criador, o Pensamento e a Palavra são idênticos.
Quando o Gênesis, a cada dia da narrativa da criação, emprega a
expressão: "E disse Deus", "Seja luz!", "Façamos o homem", trata-se
simplesmente de um modo de falar.
Como diz o Talmud, a Torá "fala a linguagem dos homens".
Deus pensa a luz e surge a luz.
Dizer que Deus fala é simplesmente afirmar que Ele nomeia o que Ele
realiza.
Efetivamente, de certo modo, na consciência humana, as coisas existem
somente quando se pode nomeá-las.
Dito de outro modo: as letras são como átomos cujas inúmeras
combinações permitiram a diversidade das coisas da vida.
E, uma vez que a Torá descreve a criação do mundo antes de contar a
história de suas origens, cada letra é portadora de vida.
A leitura do alfabeto hebraico constitui, por conseguinte, o código genético
da vida.
Cada uma das letras possui um valor numérico.
Algumas são reforçadas por uma grafia diferente quando se encontram no
final da palavra.
Elas não são unicamente um instrumento para a escrita e para a
linguagem: elas estão, segundo a Cabalá e o Talmud, na origem da criação
do mundo.
O Sefer Ietsirá — o Livro da Criação — afirma: o mundo foi criado com dez
números e vinte e duas letras.
Cada letra correspondendo a um valor numérico, isto permitiu aos
comentadores da Torá, da época talmúdica até nossos dias, desenvolver
outra dimensão da interpretação da Torá, à base de cálculo: o método
denominado "gematria".
O Baal Haturim utilizou este método de modo sistemático para fazer um
comentário de grande profundidade.
Esta perspectiva é apenas um dos métodos utilizados pelos rabinos para
sondar o complexo e rico mundo da interpretação da Torá.
A grafia da letra também propõe uma visão e uma interpretação diferentes
que vêm enriquecer toda a sua simbólica.
Assim, o samech representa, por sua forma, o "círculo", ou seja, a
dimensão do infinito.
Quando a letra nun está no final da palavra sua grafia é reta e quando se
encontra no início ou no meio da palavra ela é curvada, como para lembrar
o destino do povo judeu em exílio sobre sua terra, ou ainda a posição do
homem em função de sua situação social...
A letra se reveste assim de uma nova significação segundo seu lugar no
alfabeto.
Ain significa, em seu sentido primeiro, "o olho".
Pei, que vem depois de ain, significa "a boca" (Pe).
A exegese daí deduz que antes de falar é preciso se integrar, o olho sendo
também o receptáculo do saber e da compreensão.
Para a Cabalá, o olho esquerdo tem a função de "juiz" e o direito a do
discernimento.
A ordem é importante e nos permite também entrever outros caminhos de
sabedoria e inteligência.

Estes diálogos entre Adin Steinsaltz, rabino exegeta, tradutor do Talmud do


aramaico para o hebraico, cientista, e Rabino Josy Eisenberg, no final de
cada capitulo de cada letra, constituem também uma nova interpretação —
chidushim.
Ao relatar os comentários e dizeres dos mestres mais antigos, essas trocas
acrescentam novas pedras a esta incrível construção, sem fim nem início,
da exegese judaica.
Uma iniciação tal que vai além da simbólica da letra ou do que ela quer "nos
dizer", sendo também uma maneira de se abrir a todos os temas do
judaísmo.
As palavras, as ideias, as leis, os costumes... se cruzam em cada diálogo.
Que significação dar à letra alef, a primeira do alfabeto, que não foi, no
entanto, escolhida para iniciar a Torá?
Foi a letra bet a escolhida!
Por que bet, a segunda, e não alef?
Aqui trazemos o que os mestres ensinam, tanto na lei oral quanto nos
comentários pós-talmúdicos.
A letra representa também as portas que nos levam ao conhecimento de
um povo graças a sua língua, sua escrita e sua interpretação.
Estudar o alfabeto hebraico, retirar dele todos os ensinamentos é uma
iniciação ao mundo judaico.
Apreender o mundo da natureza e o mundo espiritual não é coisa simples.
Estes diálogos oferecem não somente os instrumentos como também as
chaves que permitem se elevar com inteligência na escada do
conhecimento, essa escada que, tal como no sonho de Jacob, liga as Alturas
ao nosso mundo.
Além da maravilhosa narrativa na qual as letras se apresentam diante de
Deus para participar da criação do mundo, o hassidismo forjou outras
interpretações, por meio dos contos metafóricos ou mesmo fantásticos.
Como na magnífica história na qual o fundador do hassidismo, o Baal Shem
Tov, resolve uma situação problemática recitando o alfabeto hebraico.
É também por meio dos contos e lendas que abordamos este Alfabeto
sagrado, pois tudo se inicia com uma história.
Na época do Templo, os professores tinham por método fazer as crianças
lamberem as letras embebidas em mel para que elas aprendessem que o
mundo do alef/bet — alfabeto — é um mundo açucarado, pleno de doçura,
sem amargura.
Comecemos aqui, suave e docemente, uma iniciação que abrirá as portas
de um saber e de uma sabedoria únicos.

Continua
As Letras Hebraicas – Parte 5

A Letra Alef (Aleph)


Som: Silencioso
[No hebraico moderno, quando há um símbolo de vogal sob o Aleph, o som dessa
vogal é pronunciado.
O segol, por exemplo — os três pontinhos abaixo do Aleph em 
, eloheinu,
indicam o som "e".]

Significado: A palavra ―Alef‖ significa boi.


Outros: Chefe. Unidade e multiplicidade. Ambiguidade. Forças elementais.

Conceito: Alef é o vento (ar)... o sopro do vento...e o vento para o mundo antigo
não é um atributo geofísico, é um atributo cósmico, um atributo divino.
O vento existia muito antes do mundo existir.
Alef também representa a palavra (linguagem) que legisla.
O princípio de todas as coisas... o silêncio...o selo da unidade em tudo que existe.

Formato: A letra Alef é formada por três letras: Um Yod em cima, outro Yod
embaixo, e um Vav dividindo ao meio...o homem ligando o céu à terra.
O ar, o vento, é o elemento intermediário entre o Sagrado e a criatura.
Vento é inspiração, não é a sensação de brisa.

Número: 1; 1000; inumerável

Espaço: Alef representa a atmosfera entre o céu e a terra.


Toda energia disposta no espaço.

Tempo: Representa a estação intermediária entre o inverno e o verão, o outono e


a primavera.
No contato com a experiência sensorial, o Alef rege o temperado.

Corpo: Alef está relacionado ao peito, que é um dos três centros de força do
homem.
O sistema respiratório.

Medicina: Silêncio, inspiração e equilíbrio... o equilíbrio sempre começa pela


respiração...assim como a potência, que começa no peito, no ar, em sua
respiração.

Qualidade: Grande compaixão.


Arquétipo: A manifestação definitiva da alma de Mashiach.

Aplicação:
Concentrar nossas energias no que é fundamental e basilar.
Abrir-nos para a tristeza e a alegria da vida.
Aceitar o jugo de uma prática espiritual.

Sombra:
Ambivalência.
Niilismo.

Reflexão:
Quais são minhas prioridades?
Em que ponto da vastidão do universo vou concentrar minhas energias?

Ação sugerida:
Feche os olhos.
Ao abri-los, imagine que você acabou de nascer e está vendo, ouvindo, cheirando e
sentindo as coisas deste mundo, inclusive seu próprio corpo, pela primeira vez.
Experiencie o renascimento para o mundo em torno de você com um gosto mais
intenso pela novidade de cada momento.
Pratique isso algumas vezes hoje, em situações variadas.

Canal – Caminho: De Chessed a Guevurá.

Sefer Yetziyrah: “Com o Alef formou o Ruach, o ar, o temperado, o peito, a língua
que legisla.” (S.Y 3.10)

Comentários:
A letra Alef significa ―boi‖ e o seu traçado corresponde a uma cabeça de boi com os
chifres.
O alfabeto hebraico é o único a começar por um silêncio, Alef é a representação do
equilíbrio perfeito.
Mesmo que o Alef seja audível, o Sêfer Bahir diz que ―a orelha é feita à imagem do
Alef ele é o essencial dos dez comandos‖.
Esta letra significa os mundos de antes e de após a criação.

As palavras Unidade (Echad) e Amor (Ahavá) começam pela letra Alet, que
representa a permanência da unicidade.

A tradução da palavra ―eu‖ em hebraico é ―Ani‖, já ―você‖ – ou seja, o outro – é


―Atá‖.
Ambas as palavras se iniciam com a letra Alef quando escritas em hebraico.
Isso quer dizer que você e eu somos um, ligados à mesma origem, se bem que
diferentes no aspecto.

Alef é o ponto de partida de tudo, por isso o Bahir nos diz:


―Por que a letra Alef está no princípio?
Por que estava antes de tudo, até mesmo da Torá.‖

A letra Alef representa o começo, o início de todas as coisas.


O que antecede o momento da criação é sempre um processo de ―contração‖.
A letra Alef representa exatamente este momento anterior à criação.
Está letra unifica os mundos de antes e depois da criação, as palavras unidade -
(echad) amor (ahavah) começam por Alef.
O entendimento de que todo processo de criação começa pelo silêncio (vazio) é
fundamental.
Geralmente o ser humano não consegue inserir Luz espiritual em sua vida, para
transformar a realidade à sua volta porque está cheio demais;
Dúvidas e certezas, questionamentos, condicionamentos, aflições, perturbações e
inquietude, reatividade e diálogos internos.
Cheios de tanta coisa que nada mais pode entrar.

A palavra Aluf significa boi.


O boi é um símbolo do poder e força.
O boi também é um animal que deixa-se conduzir, orientar.
Pelo poder do boi domado, há a abundância da colheita.
O boi domado simboliza o poder espiritual que temos dentro de nós. O jugo
simboliza a disciplina que controla essa energia do boi, direcionando para fins
positivos.

Alef é formada por três letras: duas letras Yud e uma letra Vav no meio.
Este formato simboliza, entre outras coisas, as polaridades superior e inferior,
juntos por uma força mediadora, representando assim, os três pilares da Árvore da
Vida.
Yud superior é o pilar da direita, o Yud abaixo é o pilar da esquerda e o Vav é o
pilar central.

Usando também o formato da letra e os princípios da guematria, podemos também


desvendar um grande mistério do Alef = quando somamos o valor numérico dessas
três letras temos o número 26 que também corresponde à soma do valor numérico
das quatro letras do Tetragrama.
O valor numérico 1 representa a divindade, contida em tudo e de onde tudo emana.
O 1 surge do nada (Ein) e mantém o seu silêncio.
A partir do movimento do Um pode brotar o Universo.

No espaço a letra Aleph representa o ar, a atmosfera entre o ―céu‖ e a ―terra‖.


Esta atmosfera é composta pela energia representada por esta letra que faz a
comunicação entre o Mundo físico e o Mundo Infinito.

A nefesh (um dos níveis da alma) é para Cabalá, a alma corporal, seria o que as
pessoas comumente chamam de energia vital.
Nesta energia vital que governa o corpo humano, a letra Alef é responsável pelo
dorso superior, especialmente o peito e o sistema respiratório.

Alef = Keter
A primeira entre as dez Sefirot ainda contém a essência da Unidade, pois é formada
pela mesma ―substância‖ que forma Or ( Luz do Mundo Infinito ).
Keter, a Coroa é o primeiro recipiente da Luz do Mundo Infinito, sendo nada menos
que Adam Kadmon (o Homem Primordial).
A palavra Keter também significa ―circundar‖, e é por isso que se diz que Keter
―circunda toda a criação.
Quando meditamos em Alef também nos conectamos com a Energia de Keter =
unicidade, certeza
Keter é chamada em hebraico de Ayin, nada – relacionado a infinitude.
Permutando as letras de Ayin temos Ani = eu ( )
Remetendo a idéia de que o ser humano e as emanações cósmicas obedecem a
uma mesma organização.

A qualidade que a energia representada pela letra Alef desperta no espírito humano
é a compaixão, a capacidade de colocar-se no ―lugar do outro‖.
O Alef indica o momento de despojar-se do supérfluo, nos voltarmos ao básico ao
essencial.

O Alef, como já dito, é formado por dois yuds (a décima letra do alfabeto hebraico)
— um no alto, à direita, e outro embaixo, à esquerda — unidos por um vav (a sexta
letra) em diagonal.
Ele representa as águas superiores e inferiores e o firmamento entre elas, conforme
ensinado pelo Arizal (Rabi Isaac Luria), que recebeu e revelou novas percepções
dentro da milenar sabedoria da Cabala.

A água é mencionada pela primeira vez na Torá no relato sobre o primeiro dia da
Criação: ―E o espírito de D‘us pairou (pairava) sobre a superfície da água‖.
Naquele momento as águas superiores e inferiores eram indistinguíveis.
Seu estado é referido como ―água dentro de água‖.
No segundo dia da Criação, D‘us separou as duas águas ―estendendo‖ o firmamento
entre elas.

No serviço da alma, a água superior é a água do júbilo, da experiência de estar


próximo a D‘us, enquanto a água inferior é a água da amargura, da experiência de
estar distante de D‘us.
Na filosofia hebraica, as duas propriedades intrínsecas da água são ―molhada‖ e
―fria‖.
A água superior é ―molhada‖ com o sentimento de unidade com a ―exaltação de
D‘us‖, enquanto a água inferior é ―fria‖ com o sentimento de separação, de
frustração por vivenciar a inerente ―baixeza do homem‖.
O serviço Divino, conforme ensinado pela Chassidut, enfatiza que, realmente, a
consciência primordial de ambas as águas é o senso do Divino – cada uma a partir
de sua própria perspectiva: sob a perspectiva da água superior, quanto maior a
―exaltação de D‘us‖, maior a união de todos em Seu Ser Absoluto.
Já sob a perspectiva da água inferior, quanto maior a ―exaltação de D‘us‖, maior o
vácuo existencial entre a realidade de D‘us e a do homem, e daí a inerente ―baixeza
do homem‖.

O Talmud relata sobre quatro sábios que entraram no Pardes, o pomar místico de
elevação espiritual que é alcançado somente por meio de intensa meditação e
contemplações cabalísticas.
O mais notável dos quatro, Rabi Akiva, disse aos outros antes de entrar:
―Quando vocês chegarem ao local da rocha de puro mármore, não digam ‗água-
água‘, pois consta que ‗aquele que fala mentiras não ficará diante de meus olhos‘‖.
O Arizal explica que o lugar da ―rocha de puro mármore‖ é onde a águas superiores
e inferiores se unem.
Aqui não se pode evocar ―água-água‖ como que estabelecendo uma divisão entre a
água superior e a inferior.
―O local da rocha de puro mármore‖ é o local da verdade – o poder Divino de
sustentar simultaneamente dois opostos.
Nas palavras de Rabi Shalom ben Adret: ―o paradoxo dos paradoxos‖.
Aqui a ―exaltação de D‘us‖ e Sua proximidade com o homem se unem com a
―baixeza do homem‖ e sua ―distância‖ de D‘us.

A Torá começa com a letra beit (bet) (a segunda letra do alfabeto hebraico):
―Bereishit (No início) D‘us criou os céus e a terra‖.
Os Dez Mandamentos, a revelação Divina para o povo hebreu no Monte Sinai,
começa com a letra alef: ―Anochi [Eu] sou D‘us, seu D‘us, que tirou vocês da terra
do Egito, da casa da escravidão‖.
O Midrash afirma que a ―realidade superior‖ foi separada da ―realidade inferior‖,
pois D‘us decretou que a realidade superior não descende, nem tampouco a
realidade inferior ascende.
Na entrega da Torá, D‘us anulou Seu decreto, sendo Ele Próprio o primeiro a
descer, como está escrito: ―E D‘us desceu sobre o Monte Sinai‖.
A realidade inferior, por sua vez, ascendeu: ―E Moshe se aproximou da nuvem…‖.
A união da ―realidade superior‖, o yud superior, com a ―realidade inferior‖, o yud
inferior, através do vav conectivo da Torá, é o segredo fundamental da letra alef.

Conta-se que o Alter Rebe, Rabi Shneur Zalman de Liadi, queria ensinar o alef-bet
ao seu filho.
Chamou um dos seus discípulos ao seu estúdio para discutir o assunto.
O Rebe disse: "Você tem uma mitsvá (conexão, mandamento) e eu tenho uma
mitsvá.
Sua mitsvá é sustentar sua família.
Minha mitsvá é ensinar meu filho.
Vamos trocar as mitsvot.
Você ensinará meu filho, e eu pagarei para que você possa sustentar sua família."
O Alter Rebe explicou exatamente como essa instrução deveria ser feita.
"Você começará com a letra alef. O que é um alef?"
O Alter Rebe continuou metodicamente em yidish: "A pintele fun oybin, a pintele
fun untin, a kav be' emtza — [O alef é] um ponto acima, um ponto abaixo, e uma
linha diagonal suspensa no meio."

O que é um alef?
Se fosse apenas um arranjo de golpes de caneta ao acaso designados para fazer o
leitor dizer o som "ah", esta pergunta seria irrelevante.
O alef é uma letra não-articulada cujo som é determinado somente pela vogal
acompanhante.
Todo aspecto da construção do alef foi Divinamente desenhado para nos ensinar
algo.
Contraste isso com uma criança aprendendo a ler em português pela primeira vez.
Jamais será ensinada por que um A maiúsculo parece um prédio e um a minúsculo
parece uma bolha de sabão.
Porém o hebraico é diferente.
O desenho de um alef é na verdade formado de três letras diferentes: a letra yud
ou ponto acima; um yud ou um ponto abaixo; e um vav diagonal, ou linha
suspensa no meio.
O yud acima representa D'us, que está acima (ou além) da nossa compreensão.
Em comparação à Sua verdadeira essência, nosso entendimento é um mero ponto.
O yud abaixo representa um yid ou yehudim — o povo hebreu que mora aqui na
terra.
A única maneira de podermos apreender a sabedoria Divina — ao ponto que uma
pessoa é capaz — é sendo humilde.
Quando percebemos que somos apenas um ponto ou um pontinho comparado ao
Todo Poderoso D'us, nos tornamos um recipiente para receber Sua Divina
sabedoria.
A diagonal do Vav representa a fé de um hebreu — que o une com D'us.
Há um outro ensinamento afirmando que o vav suspenso representa a Torá.
Como a Torá é o que une um hebreu e D'us, o alef representa esta unidade entre a
humanidade e D'us.
A linha vertical do vav representa hierarquia; a submissão de um súdito ao seu rei
(conforme será explicado no texto da letra hei)..
Este é o desenho, ou forma, do alef.

Podemos ver que cada golpe do alef (e de todas as outras letras) tem um propósito
especial, e que há muito mais ao aprender o alef-bet que somente dominar os seus
sons.
Falemos novamente da Guematria (Gematria)
Como sabemos, toda letra do alef-bet tem um valor numérico, ou guematria.
A guematria de alef é ―um‖, representando o um (ou unicidade de) D'us, como
dizemos na famosa prece:
"Ouve, ó Israel, o Eterno é Um, o Eterno é nosso D'us, D'us é Um.‖
Num nível mais complexo, explicamos que a forma do alef compreende três letras:
dois yuds e um vav.
A guematria do yud é dez — dois yuds sendo vinte.
Um vav é seis; a soma de todos os três totaliza vinte e seis.
Um dos grandes Nomes de D'us é o Nome de Quatro Letras, o Tetragrama, ou
Nome Inefável (Yud+Hei+Vav+Hei).
A Guematria do yud (=10), o Hei ( =5), o Vav (=6) e o Hei ( =5) totaliza 26, o
mesmo que o yud-vav-yud do alef.
Através da conexão de suas respectivas guematrias, o alef representa o Nome
Inefável de D'us.

Alef e aluf — em hebraico, "líder" e "chefe" — têm a mesma raiz,  .


O Alef, primeira letra do Alef Beit, é o chefe de todas as letras que o seguem.
No sistema numérico hebraico, como dissemos, em que cada letra representa um
número, o Alef equivale ao número um.
É também a primeira letra da palavra "um",  , ―echad‖.
O Alef simboliza o ensinamento central do judaísmo: o de que Deus é um.
O Alef é a primeira letra da primeira palavra dos Dez Mandamentos: 
 , anoki, "eu".
Todos os 613 mandamentos da Torah seguem a liderança desse chefe.
Todos os mandamentos remetem sua essência ao Alef, símbolo do Santíssimo.
Ao mesmo tempo, no entanto, o Alef tem a mesma raiz,  , de elef, o número
mil em hebraico.
Isso denota tanto o numeral específico 1.000 como também uma quantidade muito
grande, inumerável.
O Alef, incorporando ao mesmo tempo a unidade e a multiplicidade, é assim o fator
primordial da criação, liderando as outras letras em sua combinação para formar os
fenômenos do universo.
Essa letra de simultânea unidade e inumerabilidade inicia vários nomes de Deus:
 
, Eloha; 
, El e Al; , Adonai.
, Elohim, é um nome de Deus que, por terminar com o sufixo plural, "im",
significa literalmente "Deuses".
Isso sugere que um só "Deus" inclui vários espíritos ou forças divinas.
Deus é simultaneamente um e muitos.
Um outro nome de Deus é , Ein Sof, literalmente o "Sem Fim".
O Ein Sof tem parentesco com a palavra  , ―ayin‖, que começa com um Alef e
significa "nada".
Aryeh Kaplan explica que uma das conotações da expressão Ein Sof é "o Nada
Absoluto".
Toda criação nascida desse Nada Absoluto é em si mesma absolutamente nada.
A essência do Alef e de nossas vidas é, portanto, o nada.
Pode-se constatar isso quando, por exemplo, examinamos a natureza de nossa
mente.
Não conseguimos reter a mente passada; não conseguimos captar a mente futura;
e mesmo o presente é fugaz e elusivo.
Nossa mente, como o Ein Sof e o Alef, é impossível de assimilar; está ao mesmo
tempo vazia e cheia.
O paradoxo do Nada Absoluto é que ele é tão vasto e abrangente, sem começo nem
fim, que é também a Unidade Absoluta.
Unidade Absoluta, Nada Absoluto — o Alef incorpora ambos.
A essência de nada do Alef se reflete em seu som.
Ele não existe.
A primeira letra do Alef Beit é silenciosa!
O Alef é o som que existe antes do som.
O Alef está tão próximo da essência divina, no limiar do nada sagrado do qual
emergem o som e a forma, que não é possível limitá-lo a um som específico.
Nós "pronunciamos" o Alef abrindo a boca e não dizendo nada, como se
estivéssemos mudos de espanto e maravilhamento.
O Alef dá forma ao que não tem forma.
Torna sólido o que não é tangível.
Ao mesmo tempo, o Alef conserva a condição pré-alfabética, anterior à criação, de
quando "a terra era sem forma e vazia" (Bereshit/Gênesis. 1:2).
Desse vazio, surge vividamente a existência, num lampejo.
Deus diz: "haja luz"; e surge a luz.
Do nada, a terra, o ar e o fogo tomam forma.
Os três começam com Alef:
 , adamah, "terra"; 
, avir, "ar", e , esh, "fogo".

Aplicação:
Quando o Alef se materializa em nossas mãos, é uma oportunidade de nos
lembrarmos do que é principal.
O Alef indica um momento de despojar-se do supérfluo e voltar ao básico, ao
essencial, aquilo que é fundamental em nossa existência.
Quais são nossas prioridades?
Em que ponto da vastidão do universo vamos concentrar nossas energias?
O Alef é uma letra transcendente que ao mesmo tempo se adapta aos elementos
físicos.
Quando selecionamos o Alef, temos um grande desafio: fixar-nos na terra, no ar e
no fogo da vida cotidiana e ao mesmo tempo permanecer conscientes do vazio
cósmico do Ayin, do nada.
"Perguntaram ao rabino Aaron de Karlin o que aprendera de seu mestre, o Grande
Maggid.
'Absolutamente nada', disse ele.
E, quando insistiram para que explicasse o que queria dizer com isso, acrescentou:
'O absolutamente nada é o que aprendi. Aprendi o sentido do nada. Aprendi que
sou absolutamente nada — e que, apesar disso, Eu Sou'.
A ambigüidade básica da existência que o rabino Aaron descreve é expressa pelo
Alef.
A palavra "ambigüidade" tem um sentido original de "avançar em duas direções".
O Alef avança em duas direções: para a unidade e para a inumerabilidade, para o
nada e para o Eu Sou.
O sutra budista do "Coração da Sabedoria Perfeita" descreve a mesma dinâmica:
"Forma é exatamente vazio, vazio é exatamente forma".
O rabino Yerachmiel Ben Yisrael o expressou da seguinte maneira:
"Deus deve ser ao mesmo tempo Yesh e Ayin, Ser e Vazio. Yesh e Ayin residem na
totalidade (shlemut) de Deus e são expressões dela".
Como é possível abarcar ao mesmo tempo forma e vazio, algo e nada?
Como é possível perceber a unidade da criação na infinita variedade de suas
formas?
O Reb. Yerachmiel escreveu:
"A finalidade do judaísmo não é outra senão a finalidade de qualquer religião
autêntica: a unificação do Yesh e do Ayin, do Ser e do Vazio, na consciência
desperta da humanidade".
Como descobrimos a unidade de forças aparentemente tão confinantes?
A forma da letra Alef dá algumas pistas.
Os sábios judeus ensinam que o Alef representa:
(1) um jugo de boi;
(2) as águas superiores e inferiores, separadas pelo céu; e
(3) uma escada.
Cada uma dessas imagens nos dá alguma orientação para nos conciliarmos com a
ambigüidade do Alef — a ambigüidade de nossas vidas.
Além do fato de que a forma do Alef lembra um jugo de boi (especialmente na sua
forma histórica fenícia, mais antiga), a palavra Alef está relacionada à raiz da
palavra  , aluf — que também significa "boi", em hebraico.
O boi é um animal de enorme poder e força.
Quando domado e subordinado, esse poder ajuda as pessoas a cultivar o campo e
fornece o alimento da vida.
"Pela força do boi há abundância de colheitas" (Prov. 14:4).
O boi representa o poder espiritual que temos dentro de nós.
O jugo simboliza a disciplina que controla essa incrível energia do boi e a direciona
para fins positivos e frutíferos.

A prece central do judaísmo é a Shemá: "Ouve, Israel, YHVH é nosso Deus, YHVH é
Um".
[YHVH corresponde a  , Yud-Hei-Vav-Hei. É o nome impronunciável de Deus,
geralmente traduzido como "Adonai" ou "Senhor".]
Para conhecer essa unidade, precisamos primeiro ter uma Kavaná, ou intenção, de
fazê-lo.
Em seguida, precisamos do jugo de uma prática espiritual que nos ajude a preparar
o solo de nossas mentes, corpos e almas para experienciar diretamente essa
unidade.
Esse jugo pode tomar a forma de prece diária, meditação, movimento atento ou
estudo.
O Alef nos encoraja a aceitar pelo menos um desses jugos e começar a ―arar‖.
O grande rabino Isaac Luria ensinava que a forma do Alef, incorporando a
ambigüidade de avançar em duas direções, tem um outro tipo de significado.

O Alef é formado por uma letra Yud no canto superior direito e um Yud no canto
inferior esquerdo, com a letra Vav posicionada diagonalmente no meio.
No Gênesis, Deus diz: "Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação
entre águas e águas" (Bereshit/Gênesis 1:6).
De acordo com o rabino Luria, o Yud superior significa as águas superiores, que
simbolizam as alegrias de perceber-se próximo de Deus.
O Yud inferior representa as águas inferiores, que simbolizam a amargura e a
tristeza de perceber-se longe de Deus.
O Vav, no meio, ao mesmo tempo separa e conecta essas duas águas.
Há dois lados numa só vida espiritual, fluindo e refluindo como dois oceanos
misteriosos.
O Alef é, portanto, um equivalente judaico do símbolo do yin-yang, a imagem
chinesa das tendências complementares.
O Alef abarca ao mesmo tempo a ambigüidade e o equilíbrio entre forma e vazio,
separação e unidade, unicidade e inumerabilidade.
O Zohar descreve essa situação: "O pranto se aloja num lado do meu coração,
enquanto a alegria se aloja no outro".
O Alef nos ensina a abarcar os dois lados da vida, a tristeza e a alegria, o amargo e
o doce, para experienciar a integridade, a completude indivisa de nossas vidas.
O Alef revela o poder de enxergar pelo menos dois lados das diversas situações que
enfrentamos, de conservar uma perspectiva dialética saudável.
A forma do Aleph representa uma escada em ascensão da direita para a esquerda.
Jacó sonhou com uma escada posta na terra e alcançando o céu, pela qual os anjos
de Deus subiam e desciam (Gên. 28:12-15).
O Alef é a conexão, a ponte que torna possível para os anjos, portadores das
mensagens divinas, transitar livremente entre o celestial e o terreno, entre o
mundo do vazio infinito e o mundo da forma singular, entre o inumerável e o uno.
Quando nos identificamos com o Alef, nós nos tornamos o boi imperturbável a arar
o campo, preparando o solo para um novo crescimento.
Nós nos tornamos o céu e as águas, simultaneamente divididas e unidas.
E nós nos tornamos a escada que faz a conexão entre céu e terra, formando a
passagem por onde os anjos sobem e descem, abrindo o caminho para a
comunicação com o Santíssimo.
E então, como Jacó ao acordar do sonho da escada, podemos dizer:
"Na verdade o Senhor está neste lugar; e eu não o sabia (...). Quão terrível é este
lugar! Este não é outro lugar senão a casa de Deus; e esta é a porta dos céus"
(Bereshit/Gênesis 28:16-17).

O Rebe explica também o alef e seus três significados diferentes.


Um é ―aluf‘, que significa ―amo‘ ou ―chefe‖.
O segundo é ―ulfana‖, uma escola de estudo ou professor.
O terceiro significado é atingido lendo-se as letras da palavra de trás para a frente
— ―pela‖ (pronunciada péle) —‗maravilhoso'.
A definição de aluf é "amo".
Isso permite ao mundo saber que há um Criador; que D'us é o Mestre do Universo,
e que há um Olho que vê, e um Ouvido que escuta.
O universo não emergiu simplesmente por si mesmo; há uma Força onipotente que
forjou os firmamentos ―ex nihilo‖, do nada para alguma coisa.
Assim, D'us é o Aluf, Mestre do universo.
Ulfana significa "escola" ou "professor".
Não apenas apresentamos D'us como o Criador do universo, mas também como o
Professor de toda a humanidade.
O papel de D'us como professor é revelado com Sua introdução da Tora ao povo
hebreu.
A Torá, com suas 613 mitsvot ou leis, nos ensina o que devemos fazer, e o que não
devemos fazer.
Através da Divina sabedoria de Seu livro, D'us Se estabelece no mundo ao nível do
supremo Mestre.
Finalmente, temos o terceiro significado de alef: péle, "maravilhoso".
Péle representa o nível esotérico ou místico da Tora — Cabala e os ensinamentos
da filosofia chassídica.
Conhecidos como os "ensinamentos de Mashiach", estes segredos da Torá,
encerram seu nível mais elevado.
O Baal Shem Tov certa vez entrou na câmara celestial' de Mashiach e perguntou:
"Mashiach, quando vais chegar?"
Mashiach respondeu: "Quando os mananciais de seus ensinamentos se espalharem
pelo mundo inteiro."
Assim, somente quando o nível de péle — este nível de maravilhoso pensamento
esotérico — tiver permeado o mundo, a chegada de Mashiach será iminente
Isso também pode ser conectado a um conceito fundamental no Talmud.
O Talmud nos diz '"que D'us criou o mundo para existir por 6.000 anos."
Os primeiros dois mil são chamados Tohu, ou caos.
Isso é seguido por dois mil anos de Torá.
E os dois mil anos finais são os dias de Mashiach.
O que isso significa?
Rashi explica que os primeiros dois mil anos começaram com o primeiro homem,
Adam.
Isso corresponde ao primeiro significado da letra alef - aluf (mestre) - pois o
Midrash declara que Adam fez com que todos os animais e feras se curvassem a
D'us, assim reconhecendo-O como Mestre e Criador do universo.
No entanto, aquela era foi qualificada como caos, porque a Torá ainda não fora
revelada.
Os segundos dois mil anos, continua Rashi, começaram com Avraham,
Avraham introduz a Torá.
Como declara o Talmud," Avraham tanto estudou quando cumpriu toda a Torá
muito antes que fosse fisicamente dada ao povo hebreu no Monte Sinai.
Seu cumprimento da palavra de D'us inaugurou a era da Tora — e portanto o
segundo significado da palavra alef - ulfana, ou ensinamento.
O período final de dois mil anos é considerado como os dias de Mashiach; o
conceito de péle.
Essa era maravilhosa tem o potencial de introduzir paz e tranquilidade ao mundo
inteiro.
Aqui, neste nível final de alef, um ensinamento do Alter Rebe ilumina um ponto
interessante.
O Alter Rebe sugere que a diferença entre as palavras ―gola‖ (exílio) e geulá
(redenção), é a presença do alef.
Se a pessoa inserir um alef na palavra gola (exílio), este é fortalecido e
transformado em geulá (redenção).
Assim, os dois anos finais da Criação, a era de Mashiach, são representados pelo
alef.
Tendo recebido o alef, o povo hebreu tem o poder de mudar do exílio para a
redenção.
Os estágios de D'us como Mestre do universo e como Mestre, frutificam até os dias
de Mashiach, quando D'us será revelado num nível maravilhoso.
Tudo isso está contido na letra alef.

A Sombra do Alef
Um dos perigos do Alef é a paralisia da ambivalência.
Quando vemos os dois lados, podemos tornar-nos como Hamlet, incapazes de
escolher e de agir.
Podemos incitar a nós mesmos à ação, mesmo reconhecendo que "não escolher" é
em si uma escolha.
Por estar tão próximo do Ein Sof, do Nada Absoluto, o Alef traz o perigo de levar ao
niilismo, à crença de que a existência é sem sentido e inútil.
Se nos desviamos até esse extremo, podemos retomar a outra direção para a qual
se dirige o Alef, para a forma e a plenitude.
O Alef avança nos dois sentidos.
Podemos estar atentos à tendência de ficar presos num ou noutro lado da forma e
do vazio.
Quando não conseguimos vivenciar a consciência da Unicidade corremos o risco da
estagnação gerada pela ambivalência.
A dualidade reforça no ser humano a incapacidade de escolher e de agir.

Comentários Pessoais por Richard Seidman


O Alef é difícil de assimilar.
Como captar uma letra que não tem som?
É como tentar pegar o vento numa rede de caçar borboletas.
É melhor, acredito eu, não tentar e simplesmente desfrutar a brisa.
O Alef me faz lembrar inícios, uniões, nascimento, promessa.
O Alef dá à luz o Alef Beit.
Dá à luz os Dez Mandamentos.
Suas duas pequenas linhas se conectam por meio da espessa diagonal — a
conexão, a cruz central.
É onde estamos agora mesmo: bem no centro — no centro do universo, no centro
da vida, no centro deste momento.
O Alef é basilar, fundamental, ancestral.
O Alef é como uma pedra: já passou por tudo.
Textos Complementares:

 Aleph -  Avram (Abraão)


Ora, disse o Senhor a Abrão:
"Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te
mostrarei. De ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o
nome, Sê tu uma bênção."
Gênesis 12:1-2

Com essas palavras, tem início a longa jornada de Abraão, o patriarca do


monoteísmo e o primeiro judeu, pelos áridos desertos e terras estrangeiras até a
descoberta de uma nova fé e uma nova maneira de se relacionar com Deus.
Muito foi dito sobre por que Abraão, entre tantas pessoas, foi o escolhido para essa
missão.
Eis aqui a resposta: afora todas as experiências pelas quais ele iria passar, Abraão
dispôs-se antes e acima de tudo a embarcar nessa aventura, por querer deixar para
trás tudo que lhe era familiar — sua terra, sua família e sua casa — e começar tudo
de novo.
Você vai notar que nessa passagem, o nome Abraão, aparece escrito como "Abrão".
Isso porque o relato ocorre antes de ele ter sido provado, quando ele ainda se
encontra no estado original de sua mente.
Assim, Abrão terá que passar por uma série de provações e tribulações antes de
Deus conceder a ele a letra sagrada Heh (H), que significa sua relação próxima com
o Divino. A esposa de Abrão, Sarai, será renomeada nesse processo, tornando-se
Sara, a primeira das quatro matriarcas.
A expressão hebraica Lech Lecha, cujas palavras iniciam a passagem, significa
literalmente "tu vais".
Neste exemplo, entretanto, ela é usada no sentido figurativo — Abrão é instruído
não apenas a se levantar e ir, mas também a "ir por si mesmo" ou "ir em direção a
si mesmo".
Em outras palavras, essa passagem reflete algo muito mais profundo do que um
movimento físico para adentrar o desconhecido.
A verdadeira jornada é interior: Abrão tem que deixar para trás seu modo
confortável de vida, que é repleto de suposições, e voltar-se para si mesmo e
descobrir o que seu coração acalenta no seu fundo.
Ele tem que quebrar a rotina para poder encontrar algo muito maior — ou seja, as
verdades mais profundas da vida.
Em termos cabalísticos, essa é a verdadeira grandeza do patriarca.
Ele é o primeiro a iluminar o caminho do autoconhecimento e de "encontrar a si
mesmo".
Essa é uma jornada ativa, repleta de inúmeras provações que põem a vida em risco
ao longo do caminho, embora seja também a mais gratificante de todas as
jornadas. É a jornada que vai acabar num novo nome e numa vida totalmente
nova.
O aparecimento da carta Aleph pode ser um sinal de insegurança com respeito ao
rumo da sua vida e ao desejo de saber qual ele é.
A letra Aleph, a primeira do alfabeto, aparece no começo de uma nova aventura ou
no encerramento de um velho ciclo.
Concentre-se na energia de Abraão para poder começar de novo, como se fosse da
estaca zero.
Imagine-se deixando tudo para trás e caminhando dia após dia em direção a um
novo território espiritual e emocional.
Você não sabe o que tem pela frente, nem qual é a direção certa, mas a jornada se
impõe a você.
Saiba que a mudança de sua vida, e da vida das gerações futuras, começa com o
primeiro passo que você dá com confiança em si mesmo e com determinação
interna.

Por: Deepak Chopra

- O Bahir (com comentários de Aryeh Kaplan)

17. O Rabino Amorai sentou-se, e explicou:


Por que a letra Alef está no princípio?
Porque estava antes de tudo, até mesmo da Torá.

Comentário:
A Torá emana de Chochmá-Sabedoria, enquanto Alef alude à Keter-Coroa, que é
superior à Sabedoria.
Keter-Coroa não é discernível nesse mundo, sendo, por isso, Chochmá-Sabedoria o
mais elevado nível capaz de ser percebido.
O alfabeto contém letras como conceitos abstratos, e, portanto, pode começar pelo
Alef. Mas a Tora se ocupa da percepção de Deus, e, por isso, deve principiar pelo
Bet, que é uma alusão à Chochmá-Sabedoria.

69. Qual é o significado de "Ouvi a Tua fama e temi, [Ó Deus, faz viver a
Tua obra no meio dos anos]"?
Por que diz o versículo "temi" depois de "ouvi a Tua fama" e não depois de
"no meio dos anos"?
Mas foi "a Tua fama" que "temi".
O que é "a Tua fama"?
É o lugar onde escutam os relatos.
Por que diz o versículo "ouvi", e não "compreendi"?
[A palavra "ouvi" tem a conotação de compreensão], conforme
encontramos (Deuteronômio 38:49): "Uma nação cuja linguagem não se
ouve."

Comentário:
Aqui, está claramente evidente que a "audição" está no nível de Biná-
Compreensão.
O nível da "audição" nas alturas é o atributo por intermédio do qual Deus "ouve" a
oração.
De acordo com a Cabala, a visão de Ezequiel da Carruagem aconteceu no Universo
de Yetzirá-Formação, o nível do Zer Anpin.
Aqui, a visão mencionada é, por isso, Biná-Compreensão tal como é revelada no
Zer Anpin, que, conforme mencionado anteriormente, é o conceito do "coração" .
O medo não é dos "dias", que são as Sefirot do Zer Anpin, mas de Biná-
Compreensão.

70. Por que disse ele "temi"?


Porque o ouvido se assemelha à letra Alef.
Alef é a primeira de todas as letras.
Além disso, Alef faz com que todas as letras se preservem.
Alef se assemelha ao cérebro. Quando mencionas Alef, abres a boca.
O mesmo é verdadeiro do pensamento, quando estendes teus
pensamentos ao Infinito e ao Ilimitado.
Todas as letras emanam do Alef. Não vemos que ele vem primeiro?
Está, portanto, escrito (Miquéias 2:13): "Deus (YHVH) estava diante
deles."
Temos uma norma, que cada Nome escrito com Yud Heh Vav Heh refere-se,
especificamente, ao Santo Abençoado e é consagrado com santidade.
Qual é o significado de "com santidade"?
É o Palácio Sagrado. (Observamos, no Sefer Yetzirá 4:3, que o "Palácio
Sagrado" é o centro das Seis Direções, que, em geral, assume-se ser a
Sefirá Reino (Malchut))
Onde fica o Palácio Sagrado?
Diríamos que fica no pensamento e no Alef.
Esse é o significado do versículo "Ouvi a Tua fama e temi".

Comentário:
Diz, portanto, o Talmud, que Alef significa Aluf Biná - "Aprender a Compreender".
Conforme já observamos, Alef representa Keter-Coroa.
A palavra Alef (ALePh), portanto, tem as mesmas letras de PeLeA, que significa
oculto, pois Keter-Coroa é a Sefirá oculta.
Embora diga-se que os olhos, ouvidos, nariz e boca representem diferentes Sefirot,
estão todos em Keter-Coroa.
A Coroa é aquilo que está acima e fora da cabeça, e todos esses órgãos são janelas
abrindo-se na cabeça.
Então, de fato, o Ouvido é Biná-Compreensão de Arich Anpin, a Personificação de
Keter-Coroa.
Ensina-se que cada letra nutre a seguinte.
Sendo Alef a primeira, nutre, portanto, todas as outras.
A letra Alef tem, também, a forma de um cérebro, indicando, mais uma vez, Keter-
Coroa.
Alef consiste, também, de um Yud acima à direita, um Yud abaixo à esquerda, e
uma linha diagonal separando os dois Yuds.

O Yud de cima é a parte direita superior do cérebro, que é Chochmá-Sabedoria.


O Yud de baixo é a perna esquerda, que é Hod-Esplendor, origem da inspiração e
da profecia.
A linha tem a forma do Vav, que representa as seis Sefirot intermediárias.
Cada um dos dois Yuds tem valor numérico dez e o Vav, seis.
Por isso, os dois Yuds e o Vav têm valor numérico total vinte e seis, que é,
também, o valor numérico do Tetragrama.
É introduzido o versículo: "YHVH em suas cabeças".
Em geral, diz-se que o Nome YHVH é o Nome pertinente à Zer Anpin.
Entretanto, as quatro letras indicam, também, os quatro níveis, onde Yud é
Chochmk-Sabedoria, Heh é Biná-Compreensão, Vav é Zer Anpin, e o Heh final é
Malchut-Reino.
Contudo, além disso, existe outra conotação do Nome YHVH, que fica evidente
apenas quando as letras são enunciadas.
Dizem os cabalistas que existem quatro de tais possíveis enunciações, conforme o
Quadro abaixo.
Essas quatro enunciações têm os valores numéricos de 72, 63, 45 e 52.
Representam os quatro níveis como existem em Adão Kadmon (Homem Primevo),
que é o Universo que corresponde à Keter-Coroa.
O Nome aqui usado é formado de tal maneira a somar 45, e corresponde às seis
Sefirot do Zer Anpin, conforme estão refletidos em Adão Kadmon.
Embora as Sefirot e Personificações estejam no Universo de Atzllut-Proximidade,
que está abaixo de Adão Kadmon, elas têm, também, contrapartes em Adão
Kadmon, as quais são refletidas pelas enunciações do Tetragrama.
Assim sendo, o nome que soma 45 é Zer Anpin, o Homem Divino.
Por isso, 45 é, também, o valor numérico de ADaM, palavra Hebraica para homem.
É, também, o Santo Abençoado, conforme já observamos (ver verso 62).
Diz-se, em geral, que o "Palácio Sagrado" é Malchut-Reino (ver Sefer Yetzirá 4:3).
Entretanto, de fato, é a confluência de Keter-Coroa, Chochmá-Sabedoria, Biná-
Compreensão e Malchut-Reino, mas é expresso, principalmente, em Malchut-Reino.

Por: Aryeh Kaplan

- O Alfabeto Sagrado – O Alef: A ronda das letras


Josy Eisenberg — A mais nobre conquista do homem não é o cavalo: é a escrita.
Com exceção das civilizações desaparecidas, a escrita foi inventada há três mil e
quinhentos anos na forma de cuneiformes e de hieróglifos.
Esta última palavra significa "sagrado": será preciso recordá-lo.
Quanto ao alfabeto propriamente dito, nasceu com os fenícios, cujo alfabeto está
na origem daqueles que conhecemos hoje: grego, latim, francês, árabe e, claro,
hebraico.
Este alfabeto conheceu e conhece ainda diversos grafismos e continua exercendo
uma grande fascinação sobre os espíritos.
Para a tradição judaica, assim como para os egípcios — mas com mais força ainda
no judaísmo, pois nele se considera que este emana de Deus —, o alfabeto é
sagrado.
Os rabinos afirmam, com efeito, que é pelas palavras tecidas por este alfabeto que
o mundo foi criado.
Não se diz na Bíblia que a cada estágio da criação, Deus falou: "E disse Deus: Seja
luz!"?
Para alguns exegetas, é preciso compreender a expressão do seguinte modo: "Deus
pensou".
E Ele o fez em hebraico, que é, de resto, a única linguagem na qual Deus se dirigiu
diretamente à humanidade.
Primeira questão: para nós, homens, o que há de tão particular e misterioso na
língua hebraica?

Adin Steinsaltz — Em primeiro lugar, sua polissemia: as letras não servem apenas
para formar palavras.
Como indica a tabela abaixo, cada letra forma um mundo à parte.
E isto em várias dimensões: numérica, filológica, semântica e gráfica.
Por exemplo, a letra que se pronuncia ain tem por valor numérico 70.
Em hebraico ela significa "olho".
Aliás, esta letra tem efetivamente a forma de dois olhos.

 
Outro exemplo: a letra zain, que tem por valor o número 7.
Em hebraico ela significa "espada", da qual, aliás, tem a forma.

 
J. E. — Em nossas conversas nos propomos analisar este mundo das letras. Cada
uma delas contém um vasto universo de significações e de valores.
O seu a seu dono: começamos com a primeira letra, alef.

- No principio era o alef


Alef tem numerosas significações: "touro", "amigo", "mestre"; voltaremos a este
ponto.

Mas começaremos por sua forma assaz particular.


Ela é composta de três letras: dois iud — um superior e o outro inferior —separados
por um vav.
Emprestaram-se muitas significações a esta combinação de dois iud e um vav.

A. S. — Comecemos com uma anedota do poeta Bialik.


Ele conta que quando lhe ensinaram o alfabeto comparou-se alef a alguém que
carrega dois baldes, um em cada ombro.
Mais tarde, quando lhe perguntaram: "O que é alef?", ele respondeu: "É Maroussia"
— a criada não judia que trazia água para a família!
O alef não evoca evidentemente isto para todo mundo.
Mas é verdade que sua forma possui múltiplas significações.
A mais conhecida e a mais popular é constituída de dois iud separados por um vav.
A soma dessas três letras é 26 (10 iud + 6 vav + 10 iud).
Ora, 26 é o valor numérico do Tetragrama.
Assim o Nome divino está concentrado em uma única letra: a primeira.
Por outro lado, pode-se dizer, indo mais longe, que o alef representa a totalidade
do mundo.
Na narrativa da criação do mundo, está dito que "Deus fez o firmamento e separou
as águas que se encontraram acima do firmamento" (Gênesis 1,7).

J. E. — É exatamente a forma do alef.


O iud de cima designa o mundo "de cima"; o iud de baixo designa o mundo "de
baixo". E o vav conota o ―rakia‖ — o firmamento — que separa esses dois mundos.

A. S. — Há as águas de cima: não são realmente águas.


Elas designam qualquer realidade que está além da natureza, ao passo que as
águas de baixo designam o mundo da natureza.
Há aqui uma dupla lição: a mesma letra, iud, designa o mundo de cima, espiritual,
abstrato, puro, e o daqui de baixo, nosso mundo.

J. E. — Em outras palavras, nosso mundo é uma réplica do mundo de cima.

A. S. — De fato, o Zohar ensina isto: "Deus criou o sol, a lua, as estrelas, as


plantas e o jardim do Éden, a fim de que saibamos reconhecer os mundos
superiores".
Vivo no iud ―de baixo‖ e é deste modo que posso conhecer o iud ―de cima‖. Como
se cada um destes mundos fosse o "reflexo" do outro.

J. E. — Diz-se, às vezes, que o iud de cima representa o mundo espiritual e o iud


de baixo o mundo material.
O Zohar diz que as águas de baixo choram porque elas querem juntar-se às águas
de cima.
"Maim tachtonim bochim": as águas de baixo choram...
O vav constitui a separação entre essas duas águas.
Elas choram porque aspiram a subir voltando à sua fonte: à origem do Ser.

A. S. — Efetivamente, estes dois iud não são simétricos.


O de cima olha em direção ao mundo espiritual e o de baixo está virado para o
nosso mundo.
Quanto às águas de baixo, elas são como o espelho do mundo de cima, mas às
avessas.

J. E. — Há no homem duas forças.


A lei da gravidade universal faz que sejamos projetados para baixo: nossos
instintos nos conduzem.
Mas há também a elevação: na tradição hassídica, fala-se de fogo.
O fogo nos ajuda a subir e a água desce, vai para baixo.
Esta dialética do fogo — elevação — e da água — revelação — atravessa todo o
pensamento judaico.

A. S. — Tanto é que se pode inverter esta letra.

J. E. — Há esta dualidade no homem de uma parte que aspira ao alto e outra ao


baixo.
Portanto o vav tem uma dupla função.
Por um lado, ele nos separa, para nos fazer compreender melhor que o mundo de
cima e o mundo de baixo não são exatamente a mesma coisa. Um exemplo
sugestivo: como partimos do princípio de que nosso corpo é constituído do mundo
de cima e do mundo de baixo, os hassidim colocam um cinto em volta da cintura
durante a prece para separar os dois mundos. Por outro lado, o vav também é uma
conjunção de coordenação, ele significa "e".
Esta conjunção reúne os mundos.
É preciso saber que a letra vav designa igualmente a Torá.
Há uma grande lição a reter da letra alef.
Ou seja, o material e o espiritual são separados, mas a Torá os une.

- Um homem, um alef
A. S. — É um dos aspectos da Torá, mas também uma definição de homem.
Todas as palavras que designam o homem começam com um alef.

Por sua forma, o alef constitui uma espécie de definição do humano.


O homem pode se elevar o mais alto possível, mas ele também pode cair para
muito baixo.
O homem e o mundo obedecem, ambos a esta dialética fundamental.

J. E. — Se partimos do princípio de que o corpo do homem é constituído destas


forças contraditórias, o vav seria o diafragma que separa a parte superior do
homem de sua parte inferior.
Alguns comentadores nos falam das águas de cima nos pulmões e das águas de
baixo no resto do corpo.
O senhor evocou o fato de que todos os nomes que designam o ser humano
começam com alef: Adam, Ish... mas é a mesma coisa para a maioria dos nomes
que designam Deus: El, Elohim, Ehyeh (Serei quem Serei)... Portanto, o alef
expressa uma grande concentração do divino e do Ser.

A. S. — O alef é uma letra muito concentrada pelo fato de ser a primeira letra,
portadora de tantas significações.
As outras letras, mesmo se sua forma for mais complexa, não levam uma tão
pesada carga.
Por exemplo: o Tetragrama começa com um iud (Iud Hei Vav Hei)  , ao passo
que o nome Adonai — Senhor — começa com alef, pois o Tetragrama designa a
transcendência, ao passo que o nome "Senhor" recobre a totalidade da existência.
De resto, o Santo-bendito-seja designa a Si próprio por um nome que começa com
alef:
J. E. — Pode-se recordar que anokhi — "Eu (sou o Eterno)", termo pelo qual se
iniciam os Dez Mandamentos — tem por inicial alef.

Alef nun khaf iud: 


A. S. — No entanto, na sarça ardente, Deus se apresenta sob o nome de "Ehyeh":
"Serei quem Serei...", e não pelo Tetragrama, que, por sua vez, começa com iud.
De acordo com muitos comentadores, o nome que começa por alef — Ehyeh —
seria superior ao Tetragrama, que se inicia com iud: este nome conota, com efeito,
o que nos separa dos mundos superiores.
Ao passo que os nomes Ehyeh ou Anokhi (Eu) englobam a realidade em sua
complexidade, o alto e o baixo conjuntamente.
É o que faz a magia da forma alef.
Seja dito de passagem, o alef é a única letra hebraica conhecida no mundo inteiro.
Ela, com efeito, se tornou um signo utilizado em matemática.
Não é por acaso que aquele que escolheu esta letra tenha sido judeu, talvez não
um bom judeu, mas suficientemente judeu para dar a um signo o nome "alef'.
Ele escolheu esta letra para representar a potência ao infinito.
E em todos os livros que tratam da teoria dos conjuntos vê-se aparecer o alef.

J. E. — O senhor acaba de evocar o Ein Sof, o Infinito, que começa também com
um alef.
É um dos nomes de Deus no qual se encontra a mais forte concentração de energia
divina.
Se não há vogal, a letra é muda: como para o H em francês, é preciso colocar um I
ou um A para que se possa pronunciá-la.
Para muitos comentadores, isto reenvia ao silêncio de Deus que precedeu a
"Palavra".
Há anteriormente o silêncio; lembremos que o vocábulo chashmal ("a eletricidade"
em hebraico moderno) é constituído do vocábulo "silêncio" (chash) seguido do
vocábulo "palavra" (mal): o mundo existe porque ele é precedido por uma letra
silenciosa antes que surja o bet, a segunda letra do alfabeto, que designa a
realidade complexa — bet = dois.

A. S. — Existe outra letra considerada propriamente muda, o hei: .


Esta letra, que parece com um H aspirado, é apenas um sopro de ar.
Para voltar ao signo matemático do infinito, o alef se assemelha a um
8 deitado.
Se eu inverter o alef, é a mesma coisa: dois lados simétricos separados por algo.
O infinito começaria e acabaria no mesmo lugar.
Só posso chegar ao fim do lugar precisamente onde ele se inicia: é o círculo.
Posso subir ou descer, eu estou sempre no mesmo lugar.

- Do touro ao aluno
J. E. – Falamos sobre a forma alef, agora abordaremos a significação do "nome" da
letra.
Contrariamente ao alfabeto francês, no qual o nome das letras — a, b, c... — não
tem um sentido específico, em hebraico cada letra tem um sentido.
A letra alef tem até mesmo muitos.
O primeiro, que pode parecer surpreendente, é "touro".
E o segundo, que se pronuncia aluf, quer dizer "mestre" e "amigo".
Em hebraico moderno ele significa "general".

A. S. — Pode-se, no entanto, se perguntar se o alef significa verdadeiramente


"touro".
Certamente, na Bíblia, alef tem realmente este sentido.
Sob sua forma canaanita, esta letra se assemelha a uma cabeça de touro. Esta
reflexão sobre a forma das letras se assemelha ao que diz o Talmud acerca das
crianças que aprendem o alfabeto.
Ora, um grande sábio contemporâneo galego escreveu uma monografia sobre este
tema.
Ele considera que o sentido primeiro do alef não é "touro".
O outro sentido, "amigo", está mais próximo do verdadeiro sentido.
De acordo com ele, o sentido primeiro é "estudo".
Alef, sendo a primeira letra, é o começo de todas as coisas: por conseguinte
comece por estudar.

- Duas letras para os pobres


Um dia, os rabinos contaram a um de seus colegas, Rabi Iehoshua ben Levi, algo
surpreendente.
Eles disseram: "Jovens crianças vieram hoje para a escola e disseram coisas que
não se ouviu nem mesmo no tempo da Bíblia".
De que se tratava?
Estes alunos estudavam o alfabeto e inventaram um meio mnemotécnico para
decorá-lo formando frases a cada vez com duas letras do alfabeto.
Em primeiro lugar, alef — bet.
Eles associaram assim as duas primeiras letras do alfabeto, alef significando
"estudar" e a letra bet sendo inicial de biná, a "compreensão".
Eles compuseram assim uma espécie de cantiga, que continuou com a terceira e a
quarta letras do alfabeto, o guimel, inicial da "compaixão", e o dalet, inicial da
palavra "pobre".
Daí a associação:

E assim sucessivamente.
A mensagem da Torá não pode ser mais clara.
Estudando o alfabeto, a criança aprende, desde a sua mais tenra idade, que o bê-á-
bá do judaísmo repousa sobre o estudo e a caridade.

J. E. — É preciso dizer que uma das significações da letra alef é o verbo ensinar.
E há um versículo no livro de Jó que diz: "Alefecha chochmá" — eu te ensinarei a
sabedoria.
Se alef é o inicio e se chochmá — "sabedoria" — está associada a alef, é realmente
porque o início de toda coisa é a sabedoria e o ensinamento. Tomemos o exemplo
da palavra ulpan, que designa, em Israel, as escolas nas quais se aprende o
hebraico: esta palavra vem do verbo alef, ensinar.

A. S. — Na Bíblia, Deus também é chamado de aluf, o amigo de infância.


Na verdade, alef, com sua dupla grafia, combina duas coisas.
J. E. — O senhor quer dizer que é ao mesmo tempo a "amizade" e o "estudo".

A. S. — O touro e o amigo! O que se pode achar neles de comum? Simplesmente, o


ensino.
Posso educar tanto um touro quanto o amigo ou o inimigo.

J. E. — Uma das declinações da letra alef é a palavra aluf.


Nesta palavra há muitos paradoxos.
O senhor citou dois versículos: "Aluf neurai ata" — Tu és o amigo de minha
juventude: trata-se de Deus, nosso amigo.
Também O denominamos "Alufo shel olam" — o alef do Mundo.
A saber, que ele é "Um", o Único.
O que me parece paradoxal é que, ao mesmo tempo, ele seja o "mestre", o
"general" "amigo".
Ele é ao mesmo tempo o superior, o chefe e o amigo.

- Deus escondido no pecado


A. S. — Com efeito, o alef tem todos estes sentidos.
Além disso, ele reveste de duas formas diferentes se se trata de sua pronúncia.
Por um lado, o alef é o suporte de todas as vogais.
Alef mais ―a‖ se pronuncia "a", alef mais ―i‖ se pronuncia "i"...
Mas existe igualmente o alef totalmente mudo, quando faz parte da raiz de um
verbo.
Neste caso, denominamo-lo "mãe de leitura".
Como em banu — nós viemos.
O alef, no meio, não é pronunciado.
Mas existe outro alef, a última letra da palavra chet — pecado.
Este alef, aparentemente inútil, sempre foi misterioso e coloca alguns problemas.
Por exemplo, o valor numérico de chet é em princípio 18 (8 a letra chet + 9 a letra
tet + 1 a letra alef).
Ora, nos comentários, fala-se de 17 como se alef não contasse!
E 17 é o valor numérico da palavra "noz", símbolo do pecado!
O Baal Shem Tov explica que esse alef escondido designa Deus — o alef do mundo,
escondido em todo pecado.
Ele está escondido no silêncio do alef.
Não se vê nem se escuta.
Este ensinamento significa, do ponto de vista da teologia, que eu não posso pecar
sem que Deus esteja no pecado associado!
Pois é bem preciso que Ele me dê suficientemente vida para que eu possa pecar!
Diz-se também, com grande audácia, que se, durante o dia de Kipur, dizemos no
plural, em nossas orações: "Nós pecamos...", é porque dizemos a Deus: "Nós o
fizemos juntos! Nós passamos ao ato, mas Tu, tu nos deste a energia!"
Portanto, no pecado se encontra este alef invisível e inaudível.

J. E. — O senhor é também um matemático; e é evidente que não podemos falar


do alef sem evocar seu valor numérico.
O alef é "um", assim como em francês, no qual as letras têm igualmente valor
numérico.
No presente caso, "um" é Deus.
Em hebraico, o número "um" se diz echad — que começa também por um alef, mas
é também o número "mil" — élef.
Há a este respeito um versículo que diz: "Como o 'um' perseguiria `mil'?".
Esta dialética do "um" e do "mil", da passagem à potência, é verdadeiramente
surpreendente.

A. S. — É verdade que o alef contém também o conceito do élef—mil.


Pode-se dizer que o "general" — aluf — é aquele que comanda mil.
Esta conexão de "um" com "mil" existe igualmente na língua grega, na qual as
letras são também números.
Tome o alfa, ele vale um.
Se nele se põe um sinal, vale mil.

J. E. — Há uma dialética muito antiga, que se encontra em Platão e em Plotino,


acerca da passagem do um ao múltiplo.
E essa passagem repousa sobre o princípio de que Deus é Um, ao passo que a
matéria é múltipla.
Poder-se-ia dizer que passar do alef ao élef constitui uma das funções da vida:
partir da unidade para ir em direção a um mundo complexo?

A. S. — Comentou-se muito o fato de que a Torá não se inicia com alef, mas com
bet, primeira letra do Gênesis: "Bereshit — No princípio...".
O ponto central é que o alef significa um.
Ora, um significa também "estar só" (être seul).
É o que aparece na expressão: "O Eterno é um".
Ele é o Único (Il est le Seul).
A letra bet, por sua vez, como número, exprime a dualidade.
O mundo não poderia ter sido criado "um", uniforme: ele está colocado sob o signo
da dualidade.
O judaísmo propõe uma dialética da natureza e da lei que se assemelha àquela,
clássica, da natureza e da cultura.
A lei é uma: eis por que os Dez Mandamentos se iniciam com a letra alef.
O mundo é complexo: eis por que o texto do Gênesis se inicia com a letra bet:
"Bereshit... — No princípio...".

Por: Josy Eisenberg e Adin Steinsaltz


As Letras Hebraicas – Parte 6

A Letra Beit (Bet)

  
Beit (Bet) Vet

Som: ―B‖ ou ―V‖

Significado: O significado da palavra Beit é casa, moradia.


A casa do mundo antigo é a tenda (―sucá‖).
Beit, significa "a casa de", e baiyit, uma palavra aparentada, com a mesma raiz
hebraica, quer dizer "casa" ou "lar".
O Beit é a primeira letra da palavra  , brakhá, "bênção".
O Beit, é a primeira letra da Torah (, bereishit— "No principio").
A integra da Torah começa, portanto, com a energia da bênção e o abrigo de um
lar.
Para os primeiros judeus nômades, as casas eram tendas, moradias temporárias.
Durante centenas de anos, os judeus vagaram morando em suas tendas e rezando
em seus tabernáculos, mas ao mesmo tempo desejando por uma terra, procurando
um lar fixo.
Desejavam também, como expressa Isaías, que "a minha casa será chamada casa
de oração para todos os povos" (Isa. 56:7) — que essa casa fosse uma casa de
bênção não apenas para eles, mas para todos.

Conceito: Beit representa o caminho da sabedoria.


Mas o que significa "sabedoria" dentro da tradição essencial?
Para os antigos, a sabedoria representa sempre os elementos de grandeza, que
dizem respeito a existência.
São as questões existenciais.
A sabedoria não se trata de produção humana.
Sabedoria não é elaboração intelectual.
É algo que existe fora de nós.
É doada pelo Sagrado.
Bet nos desafia a tornar sagrado, o lugar onde estivermos no momento.
Ela denota um ponto reservado para santidade sobre a terra, o santuário, ou
morada na qual o homem pode se transformar.
Alef simboliza o Criador e Bet é a criação, é a primeira duplicação para a unidade, a
ruptura do equilíbrio, para o movimento de nascimento manifestar-se.
Aleph aparece simbolicamente em Ab (  ) = pai, e Ima ( ) = mãe, enquanto
que Ben ( ) = filho e Bath () = filha, começam com um Bet.
Bet inicia a palavra Biná (), principio de toda a atividade intelectual.
Biná é o poder essencial do discernimento
Em hebraico, Bet, como um prefixo, significa dentro de.

Formato: A letra Beit a é um cercado de três lados aberto ao lado esquerdo (lado
―norte‖.
Este cercado é formado por três letras Vav
Bet é aberto para o norte – receber recipiente, estar aberto para o outro,
julgamento

Número: Beit representa o número 2.


O numero 2 é tanto a negação quanto a revelação da Unidade, é um símbolo do
antagonismo e da distinção.
A dualidade revelada do lado negativo das coisas.
Esta concepção de dualidade também significa a diversidade da criação.

Espaço: No espaço, Beit está ligada à força astrológica conhecida pelo nome de
Shabatai (Saturno) que é uma força que promove o Shav (retorno) Batai (minha
filha).
Esse é todo o sentido essencial do significado deste astro.
O "retorno da filha" é o retomo de Asherá (a deusa da satisfação).
Essa satisfação é a celebração do espaço, da terra.
No Shabat há o casamento do espaço (Asherá) com o tempo (Yihav'há).
Esse espaço é o sentido de habitação, moradia, presença.

Tempo: No tempo, a letra beit relaciona-se ao Shabat (sábado).


Este é o tempo de repouso (menuchá), não das atividades da realidade comum e
sim, o repouso do pensamento.
Deter-se, habitar em pensamentos e ideias.
É o momento adotarmos um modo mais elevado de conduzir nossas vidas.
Os antigos afirmavam que neste tempo em que nos encontramos "todos os dias
devem ser como shabat".

Corpo: Beit está relacionada ao olho direito.

Medicina: Beit desperta dentro de nós a possibilidade de acesso à sabedoria... a


sabedoria disponibilizada pelo Sagrado.
Bet = sabedoria, criatividade

Arquétipo: Avraham.

Aplicação:
Respirar para o abdômen é encontrar sua casa.
Fazer de seu lar um Beit Midrash, uma casa de estudo.
Ser uma bênção.

Sombra:
Sentir-se espiritualmente superior aos outros.

Reflexão:
Quais seriam três maneiras específicas de ser uma bênção hoje?

Ação sugerida:
Abençoe alguém hoje, em voz alta.

Canal – Caminho: De Chochmá a Chessed.

Sefer Yetziyrah: “Com Bet Ele formou Saturno, o Shabat, o olho direito, a
sabedoria e a tolice” (S. Y. 4.14)

Comentários:
Bet (Beit) representa a "casa", a "habitação".
É a letra que começa a criação (Bereshit), o espaço criado em que tudo se
desenrola.
Ela representa o primeiro desdobramento da unicidade, a ruptura do equilíbrio,
para que o movimento seja.
Bet simboliza a união dos dois princípios do masculino e feminino, desde a primeira
palavra da Torá.
Em diferentes níveis, Bet é ao mesmo tempo a casa do universo, a habitação
celestial e física, o núcleo familiar e por extensão a mãe que rege o lar e que educa
os filhos em seu seio.
O ponto no interior do Bet de "Bereshit" ("No Princípio...") contém tudo o que será
o universo.
Da mesma forma, o filho levará durante toda a sua vida a marca de sua semente
original,
Bet é a letra que encabeça o texto da criação, a primeira letra da Torá e ganhou
este posto porque era a única letra "imune" à influência do ―satan‖.
Na verdade, o fator decisivo é que Bet traz a energia da Brachá ("bênção") onde
quer que se apresente.
E o que é uma bênção?
Abençoar não é projetar Luz em algo negativo.
Seria como servir água limpa em um copo sujo.
Quando abençoamos algo, elevamos o aspecto negativo do que é abençoado para
que ele seja capaz de receber Luz.
Isto significa que se o satan se apropria de Bet ele simplesmente deixa de existir.
Bet traz a força da criação e da transformação das maldições em bênçãos -
uma das missões do cabalista.
Associada à letra Ayin (―olho‖), passamos a perceber que, de fato, toda maldição é
uma bênção disfarçada, pois só através dos revezes e das dificuldades somos
estimulados a evoluir.
Esta é a única letra a reger não só dois meses seguidos como 2/3 do período do
Inverno, associado à energia da sefira de Guevurá.
Quando associada a letra Tsade (Tsadik = justo), Bet promove, em especial, a
mobilização de um grupo em uma causa comum.
E, como já dito, a letra Bet refere-se a Casa, a casa de D´us: ―Minha casa será uma
Casa de Oração para todos os povos.‖

Consta no Midrash que a Motivação Divina para a criação foi que D´us ―desejou‖ ter
uma morada na realidade inferior, nos mundos inferiores.
A concretização deste desejo começou com a criação do homem, uma alma Divina
investida em um corpo físico, e prosseguiu com a multiplicação do homem, para
―conquistar‖ o mundo todo e torná-lo o reino de D’us.

A Torá precede a descrição detalhada do Tabernáculo e seus utensílios com a


declaração de seu propósito fundamental: ―E eles farão para Mim um Santuário e
Eu habitarei dentro deles.‖
Não ―dele‖, explicam os Sábios, mas ―deles‖ — em cada hebreu.
―Habitar dentro deles‖ é, essencialmente, a revelação da Divindade sobre o povo de
Israel — sempre presente, mas frequentemente ―obscurecida‖, como na época do
exílio e da destruição do Templo.
A santidade inata do povo de Israel, o ―santuário de D’us‖, quando revelada e
conectada à da terra de Israel faz a Terra Santa se expandir e, eventualmente,
abranger toda a terra (mundo inferior): ―a terra de Israel se expandirá, no futuro,
sobre todas os lugares da terra.‖

Beit é numericamente igual à palavra ―ta’avá‖, que significa ―desejo‖ ou ―paixão‖


(412).
De um modo geral, ―ta’avá‖ denota uma característica humana negativa.
Entretanto, em diversos lugares, ―ta’avá‖ indica a paixão positiva do tzadik, o
homem justo.
Uma passagem em Provérbios afirma: ―Ele cumprirá a paixão do tzadik‖, e uma
segunda diz: ―as paixões dos tzadikim são somente boas.‖
A ―ta’avá‖ de D’us, o ―Tzadik do mundo‖ está totalmente acima da razão e da
lógica.
Neste nível, não se pergunta ―por que‖.
Como expressou Rabi Shneur Zalman de Liadi: ―Sobre a paixão, não pode haver
pergunta.‖
Assim como D’us é a essência do bem, também Sua paixão é ―somente bem‖.
―Com quem o Santo, Bendito seja, Se aconselhou sobre criar ou não o mundo? Com
as almas dos tzadikim.‖
As ―almas dos tzadikim referem-se a todas as almas hebraicas, como é dito: ―Todo
Seu povo é de tzadikim.‖
A conotação de D’us como o ―Tzadik do mundo‖ se refere à origem e união absoluta
da alma hebraica em Sua própria Essência.
Quando a alma desce para se investir na consciência finita e na vivência de um
corpo aparentemente mundano, sua tarefa é tornar-se o tzadik aqui embaixo,
emulando verdadeiramente sua Fonte, o ―Tzadik Acima‖.
Isto é alcançado através do refinamento e purificação da paixão, ta’avá, para que
ela se torne ―somente bem‖.
O ―Tzadik Acima‖ habita na Casa construída para Ele pelo tzadik aqui embaixo.
Aqui, a paixão mais profunda do Criador se concretiza.

O beit grande, a primeira letra da Torá e o começo da Criação, expressa este


propósito fundamental, como é dito: ―A última ação é a primeira a surgir no
pensamento.‖
Na primeira palavra da Torá, Bereishit, as três letras ―serviçais‖ — o prefixo beit e
as duas letras sufixas, yud e tav — formam baiyit, ―casa‖ (equivalente à soletração
total da letra beit).
A raiz de ―bereishit‖, rosh, significa ―cabeça‖.
Assim, a permutação mais ―natural‖ de bereishit é lida como: rosh bayit, ―a cabeça
da casa‖.
Uma troca das letras de rosh forma osher, ―alegria‖.
Quando o tzadik atrai D’us, a ―Cabeça‖, para dentro de Sua Casa, esta se torna
uma casa de alegria verdadeira e eterna.
Trazer a ―Cabeça‖ para habitar em Sua ―Casa‖ aqui embaixo, em verdadeira
alegria, é o segredo de brachá, ―bênção‖, que começa com a letra beit.
Nossos Sábios ensinam que o ―grande beit‖ inicia a Criação — e a Torá como um
todo — com o poder da bênção.
D’us abençoa Sua criação, a qual Ele criou com o atributo da bondade, o atributo de
Avraham (Abraão), como será explicado na letra hei.
Avraham, a primeira alma hebraica, recebe subsequentemente o poder da bênção,
o ―grande beit‖ da Criação, como é dito: ―E você será [aquele que concede]
bênção.‖
Posteriormente, no momento de sua circuncisão, lhe foi concedido o ―pequeno hei‖
da Criação, o poder de atrair para baixo e manifestar a bênção Divina da alegria no
mais ínfimo detalhe da realidade.

A Bênção Sacerdotal é composta de três versículos.


O número de palavras aumenta na ordem de 3, 5 e 7, sempre com a mesma
diferença de dois, beit.
O número de letras aumenta na ordem de 15, 20 e 25, sempre com a mesma
diferença de cinco, hei.
As palavras representam uma consciência total, ou ampla, enquanto as letras
representam uma consciência particular, ou pequena.
O poder de abençoar ―totalmente‖ é o poder da letra beit, como é dito: ―E repleto
com a bênção de D’us.‖
O poder de atrair a bênção para o mais ínfimo detalhe da realidade pertence ao hei.
Este serviço de Avraham, e de todos os hebreus depois dele, leva à concretização
da intenção primordial da Criação, a compreensão do poder de bênção de Israel, de
que o domínio do Rei (a ―Cabeça da Casa‖) se expande para abranger toda a
realidade, e, portanto, conceder verdadeira alegria a todos.

Bet controla o planeta Saturno.


Conhecido como ―fiscal de rendas‖ do Zodiaco, ele nos ajuda a fazer uma honesta
prestação de contas a respeito de nós mesmos
Bet conecta com o equilíbrio e a quebra das barreiras do pensamento - fora da
prisão da mente.
Ele deixa você aberto para enxergar soluções mais abrangentes, para ter mais
inspiração e para aumentar a sua capacidade de se tornar um agente legítimo da
mudança no mundo.

Conta-se que o Rei Ptolomeu 11 (283-246 AEC) queria uma tradução grega da Torá
(a Septuaginta), Ele reuniu 72 anciãos de Israel e confinou-o em 72 casas
diferentes.
Visitou cada um deles e disse: "Traduza para mim o Livro de Moshê, seu mestre."
Milagrosamente, cada tradução dos Sábios era idêntica às outras, embora,
independentemente, eles tivessem feito algumas mudanças na tradução.
Os anciãos judeus acharam que se dessem a Ptolomeu as palavras literais de D'us a
Moshê — Ptolomeu poderia ficar equivocado ou usá-las contra o povo judeu.
Significativamente, todos os Sábios tinham alterado o primeiro versículo da Torá.
Em vez de escrever – ―Bereshit [No] princípio, D'us criou..." eles escreveram -
"Elokim [D'us] criou, [no] princípio," assim começando a Torá com a letra alef, em
vez de com a letra bet.

O desenho do bet, a segunda letra do alef-bet, tem três linhas: duas horizontais e
uma vertical.
Essas três linhas representam as direções leste, sul e oeste.
A linha horizontal encima representa o leste.
A linha vertical é o sul, e a horizontal abaixo é o oeste.
O desenho do bet é semelhante ao caminho do sol, que se ergue a leste e se põe a
oeste.
O Midrash declara que a letra bet é similar à construção do mundo.
Uma ilustração contemporânea disso é oferecida pelos geólogos.
Quando se olha para a terra, vê-se que há massas de terra a leste, oeste e sul.
Mesmo por debaixo da calota de gelo do Polo Sul, encontra-se o continente da
Antártica.
Porém abaixo da massa congelada do Polo Norte, não há nada.
O norte é "aberto".
A lição imediata que derivamos do bet é que o mundo foi criado incompleto.
O trabalho da humanidade é então completar a Criação, aperfeiçoando-a.
Fazemos isto por meio de nossas boas ações e tornando o mundo um lugar melhor
para habitar.
Além disso, o norte representa o mal, como está escrito: "Do norte o mal será
liberado sobre todos os habitantes da terra."
A declaração de D'us é uma resposta direta à visão de Jeremia, de um caldeirão
fervente cuja abertura é ao norte, uma visão que pressagia a destruição do
primeiro Templo Sagrado
A Babilônia, a nação que destruiu o Templo Sagrado, de fato, atacou pelo norte.
Não basta entender que o norte representa o mal; temos uma obrigação de lutar
para superar este mal.
Precisamos também reconhecer que o lado "aberto", este aspecto nortista, existe
tanto dentro quanto fora do indivíduo.
Numa pessoa, é chamado de yetser hará — a má inclinação, que nos tenta e nos
convence a pecar.
O único antídoto é esforçar-se para se aperfeiçoar, o que por sua vez contribui para
a perfeição do mundo.
Essa correção, ou tikun, de si mesmo — e portando do mundo — está incorporada
no desenho da letra bet.

A Guematria de bet é dois.


Dois representa a dualidade e pluralidade.
Tudo na Criação foi criado em pares.
Homem e mulher, macho e fêmea.
Essa bifurcação nos informa que não somos D'us.
Somente D'us pode ser Um.
Porém para a humanidade criar, reproduzir, são precisos dois.
O bet também representa o nível do intelecto, em contraste com o alef, que
representa a fé.
Os comentaristas da Tora perguntam: "Por que a Tora começa com a letra bet e
não com um alef?" especialmente quando o Zohar declara que o alef é a letra mais
sagrada (porque é a primeira na ordem do alef-bet).
O Rebe dá a seguinte explicação: Quando uma pessoa lê o início da Tora, pergunta
a si mesma: "Por que a Torá começa com um bet, a segunda letra do alef-bet? Por
que não começa com a primeira letra, o alef?"
E a resposta é a seguinte:
Em Yirmiyahu é feita a pergunta: "Por que a Terra de Israel foi destruída?"
D'us responde: "Porque o povo hebreu abandonou Minha Torá."
O Talmud contrapõe: "O que quer dizer: eles não estudaram Torá? [O povo hebreu
estava constantemente estudando a Torá.]"
O Talmud então deduz que o motivo para a terra ser destruída foi que os hebreus
não recitavam uma bênção antes de estudar a Torá.
Qual é a bênção antes de estudar a Torá?
"Bendito sejas, Eterno nosso D'us, Rei do universo, que nos escolheu entre todas as
nações do mundo, e nos deu Sua Torá [(i.e., não uma Torá feita pelo homem, mas
ditada por D'us a Moshê letra por letra; e assim, verdadeira e inalterada, por todas
as gerações)], bendito sejas Tu, D'us, que dás a Torá".
A bênção "Que da a Torá" foi composta no tempo presente, enfatizando que a
Outorga da Torá ocorre todo dia, e como D'us dá a Torá novamente todo dia, é
relevante para toda pessoa em toda geração.

A pessoa deve verbalizar essa bênção introdutória todo dia antes de iniciar seu
estudo de Tora, Rabino Yoel Sirkis explica' que o objetivo do estudo de Torá é
"apegar-se e se tornar um com D'us através da santidade de Sua palavra, e assim
fazer com que a Shechiná, a Divina Presença, habite entre nós."
De fato, há dois níveis no nosso relacionamento com a Torá.
O primeiro é acreditar com completa fé que a Torá vem de D'us (e, portanto, está
além do intelecto humano); e o segundo, é que somente por causa da compaixão e
amor de D'us por seu povo é que Ele nos permite entender a Torá intelectualmente.
Se alguém nega a divindade da Torá, não pode entender adequadamente seus
conceitos Divinos.
Nosso intelecto por si mesmo é incapaz de chegar ao verdadeiro significado do
conteúdo da Torá.
Portanto, a Torá começa com um bet, a segunda letra do alef-bet.
Isso é para nos sugerir que quando nos esforçamos para adquirir o entendimento
da Torá meramente com o intelecto, estamos faltando com o propósito fundamental
da Torá: tornarmo-nos um só com D'us — o Alef.

O rei Ptolomeu II não poderia ter entendido a mensagem do bet.


Ele teria dito que como o bet representa o intelecto, então o intelecto deve ser
adorado.
Ao começar o Septuaginto com um alef — "D'us criou" — os Rabinos estavam
refletindo em efeito que D'us — e não o homem — é a fonte fundamental no
mundo.
Tendo em vista o que dissemos acima, as palavras do Talmud Jerusalém se tornam
claras.
O motivo para a Torá começar com um bet é que o bet representa a berachá —
bênção.
Se o estudo de Torá de alguém for precedido pelo alef, será abençoado com
intelecto e entendimento.

Outra explicação:
Novamente, o significado do bet é baiyit, ―casa‖, "lar" em hebraico.
Por que D'us criou o mundo?
O Midrash" nos diz que D'us desejava um lar.
Como se define um lar?
Um lar é o local para onde você retorna após terminar seus assuntos mundanos.
Você tira os sapatos, veste roupas mais confortáveis e relaxa.
Você não precisa organizar um show nem se "vender" para ninguém.
É um local onde o verdadeiro "eu" se torna vivo.
D'us também queria um lugar onde Ele pudesse ser Ele mesmo e se unir com Sua
noiva, o povo hebreu (a humanidade).
Este foi o objetivo da Criação.
Este é o bet de baiyit, a primeira letra da Torá, o projeto da Criação.
Com bet significando Criação, notamos que o radical da palavra Bereshit — é rosh,
que significa cabeça.
O prefixo é um bet.
As últimas duas letras da palavra são yud e tav.
Juntos, yud e tav formam baiyit — casa, lar.
No princípio, quando D'us criou o mundo, Seu taavá (desejo) era que a cabeça (que
é D'us) habitasse no bait, Seu lar.
E como se faz um lar para D'us?
Vivendo a letra bet.

As três linhas do bet são freqüentemente interpretadas como representando os três


pilares sobre os quais o mundo se apoia: Torá, prece e caridade (incluindo boas
ações).
Quando uma pessoa reza, estuda Torá e faz caridade diariamente, constrói uma
morada para D'us.

A palavra taavá, como dissemos, tem a Guematria de 412:


tav = 400, alef = 1, vav = 6, hei = 5.
Se você somar as letras da palavra baiyit: bet = 2, yud = 10, tav = 400, elas
também totalizam 412.

As três linhas acima mencionadas do bet — os pilares da Torá, prece e caridade (e


boas ações) — também remetem às três direções originais de seu desenho,
Como o bet também contém a direção aberta, o norte, que retrata o mal, a própria
estrutura da letra incorpora uma tensão interior.
Sua falta de fechamento físico é tanto um convite quanto um perigo em potencial, e
os dois apontam para a obrigação do povo hebreu de completar a criação de D'us,
terminar Sua morada e aperfeiçoar o mundo.
Fazemos isto trazendo a Divindade ao mundo e agindo em conformidade com o bet,
a casa.
Cumprimos nossas obrigações através do estudo de Torá, prece e doando para
caridade.
Então e somente então, D'us habitará em Sua morada, e mereceremos realmente
um mundo de berachá, de bênção.

Aplicações
Todos procuram um lar.
A letra Beit nos desafia a santificar, ou tornar sagrado, o lugar onde estivermos
atualmente, mesmo enquanto vagamos, procuramos e ansiamos por nosso
verdadeiro lar, por nossa morada original.
Nós sentimos o anseio, a tristeza, a sensação de deslocamento daqueles que são
exilados de sua terra natal?
Nós nos sentimos, como Moisés de algum modo, "peregrinos numa terra estranha?"
Nós nos sentimos perdidos, longe de casa?
Quando isso acontece, o Beit nos oferece a esperança de poder encontrar também
a liberdade dos primeiros israelitas, que instalavam suas tendas onde quer que se
encontrassem e que depois fizeram do deserto seu lar, entre as paisagens
inconstantes de suas vidas.
Eram como aquela figura misteriosa conhecida como "Passolargo" no Senhor dos
Anéis de Tolkien, que era conhecido pelo verso "Nem todos os que vagueiam estão
perdidos".
Bashô, o poeta japonês do haicai, escreveu, no século XVII:
Percorrer o mundo
Para lá e para cá
Cultivando um campo.
Em meio a suas peregrinações, de um extremo ao outro da zona rural do Japão,
Bashô encontrou seu lar, seu campo para cultivar, bem diante de si.
Nós podemos encontrar o nosso também!
Um dos modos de nos sentirmos mais em casa no mundo é sentindo-nos em casa
em nosso corpo.
Respirar plenamente e profundamente é um modo fundamental de fazer isso.
Respirando para o abdômen, voltamos para a casa que há em nós mesmos.
Diz-se que nós não podemos estar em casa no mundo se não tivermos uma base
no abdômen.
Pode-se respirar profundamente agora mesmo.
Pode-se praticar essa respiração abdominal, profunda, mas suave, todos os dias.
Pode-se, por exemplo, respirar fundo sempre que o telefone toca, antes de
atendê-lo.
Pode-se respirar fundo quando se está esperando pelo sinal verde do semáforo, ou
num elevador.
Pode-se encontrar oportunidades regulares, diárias, de realmente fixar-se no Beit
do abdômen.
O Beit nos convida a reconhecer a beleza, a maravilha, a santidade de nosso eu
físico tal como ele é, sem considerações de forma, peso ou altura.
Ao mesmo tempo, ele pode nos inspirar a tomar as medidas necessárias para
proteger, nutrir e curar nosso corpo — prestando atenção, por exemplo, nos
alimentos que fazemos entrar nessa casa santa, nesse recipiente alquímico que é
nosso corpo.
O Beit é aberto para o lado esquerdo, aberto para o futuro (uma vez que o hebraico
é lido da direita para a esquerda).
Isso nos lembra de permanecer abertos para receber convidados, sejam eles
viajantes ou novas idéias.
Nossos modelos são Abraão e Sara, cuja tenda não tinha paredes e que
espontaneamente acolheram três estranhos, sem perceber que eram anjos sob
forma humana.
O Beit nos estimula a estar abertos para o dar e receber da comunidade humana e
da comunidade espiritual, e acolher os anjos, os "mensageiros do Altíssimo", em
nossa consciência.
Quando fazemos isso, acolhendo pessoas e idéias, as paredes de nossa casa
interior se expandem, e nossos lares se tornam ―Batei Midrash‖, santuários de
estudo e conhecimento.
Ler, estudar e falar nos traz somente até aqui, porém.
É possível ir além das palavras e da razão, além da idéia de unidade, para a
experiência direta e vívida do agora.
Hakuin, mestre zen japonês do século XVI, escreveu:
"Com a forma que não é forma, você vai e vem sem jamais sair de casa".
Ein Sof é um termo para o Nada Absoluto de Deus.
Quando alcançamos o domínio que está além da forma, o Ein Sof do Santíssimo,
estamos sempre em casa.
Abandonando nossas idéias preconcebidas, não nos apegando aos nossos
pensamentos, sentindo o chão sob nossos pés e vendo o céu aberto sobre nós,
podemos nos sentir em casa com as circunstâncias inconstantes de nossa vida.
Então nossa casa, não importa o quanto ela seja frágil ou humilde, torna-se uma
casa de oração para todos os povos, uma bênção para todos.
Quando ouvimos a voz do Beit, somos convidados a ponderar a natureza da
bênção.
O que significa abençoar?
O que significa ser abençoado?
Deus prometeu a Abrão que ele se tornaria uma bênção.
Como podemos nos tornar uma bênção em nosso local, em nosso tempo,
beneficiando as pessoas que encontramos e a própria terra, e beneficiando o que
não vemos também?
Uma das maneiras é tomar consciência do quanto nós já somos abençoados.
A sensação de ser abençoados nos abre para a descoberta de maneiras tangíveis de
abençoar os outros.
O verdadeiro desafio, porém, é abençoar mesmo quando não nos sentimos assim,
ou mesmo quando nos sentimos amaldiçoados.
É possível abençoar nessas condições?
O Beit desafia cada um de nós a manter a intenção de abençoar durante nosso
percurso, para lá e para cá, pelas paisagens de nossa vida.

A Sombra do Beit
Há um risco em levar muito ao pé da letra o desejo de que nossa casa seja uma
casa de oração para todos os povos.
A crença de que nossa casa espiritual é melhor do que todas as outras, de que
nosso modo de prática espiritual merece tornar-se predominante, tem justificado
guerras, perseguições e atrocidades ao longo da história.
Hoje existe até mesmo violência de judeus contra outros judeus com visões
diferentes do que significa ser judeu.
É um exemplo do perigo que inevitavelmente acompanha esse pensamento
chauvinista.
O Beit nos lembra de estar atentos à tendência, dentro de nós mesmos, a qualquer
sentimento de superioridade hipócrita.

Comentários Pessoais de Richard Seidman


No inicio do século XX, meus avós fugiram dos pogroms e da perseguição na
Polônia e na Ucrânia e embarcaram para os Estados Unidos.
Como tantos imigrantes judeus, estabeleceram-se em Nova York.
Construíram seu lar na cidade, entre os prédios altos e estações de metrô e milhões
de pessoas, casando-se, criando os filhos, procurando empregos.
E, meio século depois, eu nasci — mais um nativo de Nova York.
Mas, quando fiquei mais velho, eu não me sentia nativo de lugar nenhum.
Estava cada vez mais perdido naquele estranho Novo Mundo de Nova York.
Não era possível ver as estrelas à noite — havia luzes demais.
Não era possível ver o sol nascer ou se pôr — havia prédios altos demais.
Não era possível acompanhar os córregos — eles haviam desaparecido sob o
concreto.
E eu, de onde era?
Qual era meu lugar?
O Beit me faz lembrar de casa.
Traz consigo o tênue aroma de alguma coisa muito antiga, que já foi muito familiar.
O Beit alimenta em mim a idéia de que, mesmo neste estranho país que são os EUA
de hoje, ainda sou capaz, sim, de sentir um pouco daquele aroma poderoso, o
aroma original, e mais uma vez estar em casa sobre a face da terra.

Textos complementares:

Dualidade – As letras da Criação


A Torá, texto básico da espiritualidade do mundo ocidental, começa com a letra
Bet.
O Zohar, principal texto da Cabala, discute o motivo de a letra Bet ter sido
escolhida para ser o princípio da Criação.
O Zohar diz que antes do mundo físico existir, o Criador criou as 22 letras do
alfabeto hebraico.
Não as letras físicas em si, mas a energia de pensamento que está por trás de cada
letra.
Essas energias foram se apresentando diante do Criador, começando pela última e
seguindo na ordem de trás para frente, expondo o motivo pelo qual deveriam ser
usadas para criar o mundo.
A última letra do alfabeto, Tav, argumentou que ela fazia parte da palavra verdade
em hebraico, "emet", e sendo a verdade um dos pilares da Criação, o mundo
deveria ser criado através dela.
O Criador argumentou que ela também fazia parte da palavra morte, "mavet", e
por isso não servia.
Com todas as letras aconteceu o mesmo.
Elas tinham um argumento positivo, mas havia sempre outro lado.
Até chegar ao Bet, que expôs o fato de ser a primeira letra de bênção, e com o Bet
começou a Criação, para trazer energia de bênção e continuidade.
Por que cada letra tem uma dualidade?
Para nos ensinar que na verdade tudo que existe tem uma dualidade, um lado bom
e um lado mau.
O amor, o desejo, o prazer podem ser direcionados para coisas boas ou para
negatividade.
Sendo assim, quando estamos nos sentindo bem, quando a vida está fluindo como
desejamos, isto não garante que estejamos realmente conectados com a Luz.
A energia que recebemos pode estar vindo do lado negativo.
Como podemos saber, então, que a felicidade ou o amor que sentimos vem da Luz
ou do lado obscuro?
Os cabalistas ensinam que a resposta está na letra Bet.
Ela representa bênção, e bênção significa continuidade.
Devemos nos perguntar: o que estamos fazendo gera frutos contínuos,
duradouros?
O amor está crescendo?
Consigo visualizar um amor cada vez maior, frutos cada vez mais prazerosos?
Ou só estou sendo preenchido momentaneamente?
Aquilo que vem da Luz gera frutos e tem continuidade, enquanto o que vem da
escuridão alguma hora acaba.

A palavra Cabala significa receber, e a Cabala nos ensina a receber energia de


forma contínua, não de um jeito que agora está tudo bem, mas em alguns anos o
que é bom acaba.
Uma ferramenta para nos ajudar é a letra Bet.

Por: Shmuel Lemle


 Bet -  Migdal Bavel (Torre de Babel)
Ora, em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar
Sucedeu que, partindo eles do Oriente, deram com uma planície na terra de
Senaar; e habitaram ali.
E disseram uns aos outros: "Vinde, façamos tijolos e queimemo-los bem."
Os tijolos serviram-lhes de pedra, e o betume, de argamassa.
Disseram: "Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue
até os céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados
por toda a terra."
Então, desceu o Senhor para ver a cidade e a torre, que os filhos dos homens
edificavam; e o Senhor disse:
"Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo;
agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer.
Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a
linguagem de outro."
Destarte, o Senhor os dispersou dali pela superfície da terra; e cessaram de edificar
a cidade.
Chamou-se-lhe, por isso, o nome de Babel, porque ali confundiu o Senhor a
linguagem de toda a terra e dali o Senhor os dispersou por toda a superfície dela.
Gênesis 11:1-9

Quando crianças, dizem-nos que a lenda da "Torre de Babel" é uma fábula que
serve para explicar por que nós humanos falamos tantas línguas diferentes e por
que vivemos em tantos cantos diferentes do mundo.
Não é comum nos contarem a verdade mais complexa, segundo a qual depois de as
pessoas terem construído sua famosa torre (imaginando que iam poder chegar ao
céu e de lá se enfurecerem contra Deus), elas foram punidas com justamente o que
estavam tentando evitar: a dispersão através do mundo, como também o
surgimento de diferentes línguas.
Essa dispersão é vista como um castigo, pois agora as pessoas que um dia haviam
sido de "um único propósito" constituem diferentes povos, tomados por diferenças
e conflitos — estado de coisas que vai levar a um tamanho desentendimento que
eles jamais haviam podido imaginar.
A geração de pessoas que veio logo após a primeira destruição do mundo pelo
dilúvio, que lemos na história de Noé, procurou usar sua unidade de propósito
contra Deus em vez de buscar meios de usar esse dom para o bem.
Elas não valorizaram o dom da Unidade que lhes fora dado e, portanto, foram
punidas com a condição contrária.
Elas teriam agora que enfrentar o desafio de terem que aprender a entender a
língua, a cultura e até mesmo a geografia uns dos outros para poderem realizar
qualquer coisa enquanto grupo.
Eles foram reduzidos a uma torre de babel — ninguém conseguia entender
nenhuma palavra do que o outro dizia — e a uma grande confusão (a palavra
hebraica ―mebubal‖ significa "confuso").
Hoje, não conhecemos nenhuma outra realidade que não seja a da diversidade e da
dissonância cultural.
Mas no princípio dos tempos, nós éramos Um.
Essa Unidade, que é também um indício da proximidade com Deus, não conseguiu
resistir nem mesmo por um período relativamente curto da história humana.
O resto do tempo seria uma volta gradual à aproximação, uma jornada de Tikkun
Olam (Cura do Mundo) que levaria milhares de anos para ser realizada.
Em nosso mundo do século XXI, estamos apenas começando a vivenciar a
correção, o Tikkun, da Torre de Babel.
Hoje, formamos uma sociedade globalizada, entendemos as línguas uns dos outros
e passamos o tempo todo realizando intercâmbios nas esferas política, econômica e
social.
O mundo continua em desarmonia, mas está ficando um pouco melhor a cada dia
que passa.
A letra Bet, que corresponde ao número dois, é também a primeira letra da Torá.
Isso é para nos ensinar que nada jamais é tão evidente quanto gostaríamos que
fosse.
O fato de a Torá começar com a letra Bet em vez de Aleph sugere que sempre é
importante olhar os dois lados de toda situação — e nunca tomar nada como certo.
Temos que ver as coisas tanto da perspectiva espiritual quanto da material, das
perspectivas branca e negra e de tantos pontos de vista quantos forem possíveis.
Essa é a lição de Babel: pensar que nós, enquanto espécie humana, podemos nos
juntar para alterar as forças da natureza ou nos rebelar contra as forças superiores
sobre as quais não temos nenhum controle é a forma suprema de arrogância.
Por esse erro, nós tivemos que ser separados, falando diferentes línguas e
ocupando lugares tão dispersos que passamos a sentir falta de como as coisas
costumavam ser e a tentar reparar o dano para que possamos um dia voltar a nos
unir para sempre.

A carta Bet costuma ser tirada pela pessoa que está em conflito.
Você está vendo as coisas de uma só maneira, quando, na realidade, precisa olhar
para a situação de uma infinidade de ângulos alternativos.
Considere a questão de sua consulta de diferentes perspectivas, colocando-se na
posição contrária e pensando nas várias possibilidades de tomar iniciativa em vez
de simplesmente reagir.
Medite sobre a lenda da Torre de Babel.
Imagine o calor da animosidade que levou aquelas pessoas a construírem uma
torre tão portentosa.
Agora, respire... e imagine como o mundo poderia ter sido se não tivéssemos
presumido que com nossa força e poder seríamos literalmente capazes de subir ao
céu e alterar as forças da natureza.
Nada é tão simples como supomos inicialmente: ao contrário, a vida é uma teia
intricada de perspectivas e prioridades.
Você só consegue encontrar a paz quando vê as coisas de muitos diferentes
ângulos e, então, chega a entender mais claramente a verdade de seu próprio
coração.

Por: Deepak Chopra

O Bahir (com comentários de Aryeh Kaplan)

3. Por que a Torá principia pela letra Bet?


Para que principie por uma bênção (Berachá).
Como sabemos que a Torá é chamada de bênção?
Porque está escrito (Deuteronômio 33:23):
"O que preenche é a bênção de Deus apossando-se do Mar e do Sul."
O Mar nada mais é senão a Torá, conforme está escrito (Jó 11:9):
"É mais extenso que o mar."
Qual é o significado do versículo:
"O que preenche é a bênção de Deus"?
Significa que onde quer que encontremos a letra Bet, estará indicada uma
bênção. Está, portanto, escrito (Gênese 1:1):
"No princípio (BeReshit) Deus criou o céu e a terra." BeReshit é Bet Reshit.
A palavra "princípio" (Reshit) não é outra senão a Sabedoria.
Está, portanto, escrito (Salmos 111:10): "O princípio é a sabedoria, o
temor a Deus."
A Sabedoria é uma bênção.
Está, portanto escrito: "E Deus abençoou Salomão."
Além do mais, está escrito (1 Reis 5:26): "E Deus concedeu Sabedoria a
Salomão." Assemelha-se a um rei que casa sua própria filha com seu filho.
Ele a concede ao filho e, no casamento, diz ao filho: "Faça com ela o que
desejar."

Comentário
Na condição de prefixo, a letra Bet significa "em".
Pode indicar um "preenchimento".
O "preencher" alude à (Isaías 6:3):
"Sua glória preenche toda a terra. "
A primeira letra da Torá é Bet, segunda letra do alfabeto hebraico.
É, também, a primeira letra da palavra Berachá, que significa "bênção".
Quando estudamos a Torá, nos referimos, em geral, aos Cinco Livros de Moisés, ou,
em sentido mais amplo, à toda estrutura teológica que está fundamentada nesses
Livros.
Todavia, em sentido cabalístico, a palavra "Torá" se refere ao plano da criação em
sua totalidade.
Quando os cabalistas falam da imanência e da transcendência de Deus, dizem que
Ele "preenche todos os mundos e envolve todos os mundos" (Zohar).
A letra Bet se refere ao intercâmbio entre esses dois conceitos e, assim, o nome da
letra Bet está relacionado à palavra Bait, que significa "casa".
O conceito que diz "Deus preenche todos os mundos" é indicado pela palavra
"Bênção".
Sempre que Deus revela Sua Essência em qualquer coisa, diz-se que Ele "abençoa"
aquela coisa, e o versículo, portanto, diz: "o que preenche é a bênção de Deus".
O veículo dessa bênção não é outro senão a Torá.
Para que um Deus totalmente transcendental se relacione com Sua criação, uma
série de Dez Sefirot (Emanações) teve que ser trazida à existência.
As duas primeiras dessas Sefirot são Keter-Coroa e Chochmá-Sabedoria.
A primeira Sefirá é chamada Coroa, pois é a coroa usada acima da cabeça.
Portanto, a Coroa se refere a coisas que se encontram acima da capacidade de
compreensão da mente.
Por conseguinte, a Sabedoria é a primeira coisa que a mente pode apreender e,
assim sendo, é chamada de "começo".
Sendo Chochmá-Sabedoria a segunda Sefirá, e a letra Bet, segunda letra do
alfabeto hebraico, contém uma alusão a essa Sefirá.

4. Como sabemos que a palavra Berachá [em geral traduzida como


"bênção"] vem da palavra Baruch [que significa ―abençoado‖]? Talvez
venha da palavra Berech [que significa ―joelho‖].
Está escrito (Isaías 44:23): "Para Mim, todos os joelhos se dobrarão."
[Berachá pode, portanto, significar] o Lugar ao qual todo joelho se dobra.
A que exemplo se assemelha?
As pessoas desejam ver o rei, mas não sabem onde encontrar sua casa
(Bait). Primeiro perguntam: "Onde é a casa do rei?"
Somente então podem perguntar: "Onde está o rei?"
Está, portanto, escrito:
"Para Mim, todos os joelhos se dobrarão" — mesmo os mais elevados —
"todas as línguas jurarão".

Comentários
A palavra Berachá (bênção) está intimamente relacionada à palavra Berech, que
significa "joelho".
Do mesmo modo que dobrar os joelhos abaixa o corpo, assim o conceito de
Berachá abaixa a Essência de Deus de modo que ele possa Se relacionar com o
universo, e ser compreendido através de Seus atos.
A "Bênção", por conseguinte, é nossa compreensão mais elevada de Deus, que é o
"Lugar ao qual todo joelho se dobra".
É a casa (Balt) que se deve buscar antes de ser possível encontrar o Rei.
Outra vez mais, contém uma alusão à Sefirá Chochmá-Sabedoria, representada
pela letra Bet.
Aqui, um importante conceito, a ser encontrado muitas vezes, é a idéia cabalística
de que antes de haver um "despertar de acima", deve haver primeiro "um
despertar de abaixo".
Isto é, antes que qualquer sustento espiritual seja concedido, deve haver primeiro
algum esforço por parte do recipiente.
Relaciona-se intimamente ao conceito de que cada recipiente da Luz de Deus deve
ser, também, doador, conforme observado anteriormente.
A palavra "Bênção" se refere principalmente ao sustento dado como resultado de
um "despertar de abaixo".
Os principais meios de tal "despertar" são a Torá e os mandamentos.

5. O Rabino Rahumai sentou-se, e explicou:


Qual é o significado do versículo (Deuteronômio 33:23) "O que preenche é
a bênção de Deus, apossando-se do Mar e do Sul"?
Significa que, onde quer que encontremos a letra Bet, esse lugar estará
abençoado. É "aquilo que preenche" a que se refere o versículo "O que
preenche é a bênção de Deus".
Daí, nutre os necessitados.
Desse "preenchimento", Deus buscou conselho.
A que exemplo isso se assemelha?
Um rei desejava construir seu palácio em meio a enormes rochedos.
Escavou a rocha e descobriu enorme nascente de água pura.
Disse o rei: "Uma vez que disponho de água corrente, plantarei um jardim.
Deliciar-me-ei, então, nele, do mesmo modo que todo o mundo."
Está, portanto, escrito, (Provérbios 8:30):
"Eu estava junto com Ele como mestre-de-obras, eu era o seu encanto por
um dia, um dia, todo o tempo brincava em sua presença."
A Torá está dizendo: "Durante dois mil anos eu estava no regaço do Santo
Abençoado como seu encanto."
Diz, portanto, o versículo: "um dia, um dia".
Cada dia do Santo Abençoado tem mil anos, conforme está escrito (Salmos
90:4): "Mil Anos são aos Teus olhos como o dia de ontem que passou."
Daí em diante, é às vezes, conforme declara o versículo: "'brincava em Sua
[presença] todo o tempo". O restante é para o mundo.
Está, portanto, escrito (Isaías 48:9): "Através do Meu nariz, expirarei Meu
louvor para você."
Qual o significado de "Meu louvor"?
Conforme está escrito (Salmos 145:2): "Um louvor de Davi, eu Te exaltarei,
[meu Deus, Ó Rei, e abençoarei Teu nome para o mundo e eternamente]."
Por que é um louvor?
Porque "Te exaltarei".
E o que é essa exaltação?
Porque "abençoarei Teu nome para o mundo e eternamente".

Comentários:
Aqui, o Rabino Rahumai explica que a Sefirá Chochmá-Sabedoria, representado
pelo Bet, é a transição entre a transcendência de Deus e Sua imanência.
Não apenas envolve, como, também, "preenche".
A Sabedoria é o canal da Essência de Deus e, portanto, sustenta todas as coisas.
Na condição de elo entre Criador e criação, é o veículo que contém o potencial de
todas as coisas.
Assim sendo, diz o Talmud:: "Quem possui Sabedoria? Aquele que vê o que ainda
não nasceu".
Chochmá-Sabedoria é o conceito através do qual Deus percebeu, inicialmente, toda
a criação (e, portanto, corresponde aos olhos), e por isso, diz-se: O ter
aconselhado. Encontramos referência a esse fato em um Midrash, que diz haver
Deus buscado o conselho da Torá antes de criar o universo.
Já foi dito que a Torá é comparada ao Mar.
A Torá é representada pela água, pois flui das mais elevadas fontes espirituais para
impregnar os níveis espirituais mais inferiores, e até mesmo o mundo físico, que se
encontra abaixo de todos.
Aqui, contudo, a analogia é usada em sentido diferente e a Torá é comparada a
uma fonte d'água que jorra da rocha.
A rocha representa o poder do Tzimtzum-Constrição, o qual refreia a Luz Divina.
Conforme observamos na Introdução, depois do processo do Tzimtzum, uma linha
de Luz foi impulsionada para o Espaço Vazio.
Essa "linha de Luz" é a "fonte".
Para conter alguma coisa, um vaso deve ser capaz de impedir que essa coisa se
espalhe.
Uma peneira não pode conter a água.
A mesma força que atua como Vaso para manter a Luz de Deus também serve, por
conseguinte, para refreá-la e constringi-la.
Esse é o conceito de Bohu, conforme examinado anteriormente. Aqui, é
representado como uma rocha, e as Escrituras, similarmente, falam das "Rochas de
Bohu" (Isaías 34:11).
As sete últimas das Dez Sefirot correspondem aos sete dias da semana.
Essas sete Sefirot inferiores são chamadas de Atributos (Midot). A
cima dessas sete, estão as três sefirot superiores, chamadas de Mentalidades
(Mochin), a saber: Keter-Coroa, Chochmá-Sabedoria e Biná-Compreensão.
A Torá se origina da Sabedoria de Deus e está, portanto, dois níveis acima das sete
Sefirot inferiores.
Por isso diz-se que a Torá foi criada dois "dias" antes dos sete dias da criação.
Na Cabala, encontramos as seguintes correspondências:

Chochmá-Sabedoria Milhares Olhos Atzilut Yud


Biná-Compreensão Centenas Ouvidos Beriyá Heh
As Seis Sefirot Seguintes Dezenas Nariz Yetzirá Vav
Malchut-Reino Unidades Boca Asiyá Heh

Assim sendo, esses quatro níveis correspondem às quatro letras do Tetragrama


(YHVH). Correspondem, também, aos quatro universos: Atzllut-Proximidade, o
universo das Sefirot; Beriyá-Criação, o universo das almas e do Trono; Yetzirá-
Formação, o universo dos Anjos; e Asiyá-Manifestação, o universo físico e sua
sombra espiritual.
Como o nível de Chochmá-Sabedoria é o dos milhares, cada dia se torna mil anos.
É, também, o nível dos Olhos, e por isso está escrito: "mil anos diante de Teus
olhos..."
Quando atinge o nível dos seis dias da criação, é, então, soprado pelo nariz.
Conforme observado anteriormente, antes que qualquer bênção ou sustento seja
concedido, deve primeiro haver um "despertar de abaixo".
Por isso, diz Davi que, quando ele exalta Deus, Seu nome é também abençoado, ou
seja, é trazido abaixo, para reluzir sobre toda a criação.
Aqui, a palavra Louvar (Tehilá) representa a Sefirá Malchut-Reino, a Sefirá mais
inferior, recipiente e Vaso máximo.
Essa Sefirá está, também, relacionada a Davi, que iniciou em Israel o conceito do
Reino. Através desse atributo, Deus é chamado de Rei e, por isso, diz o versículo:
"Eu te exaltarei, meu Deus, Ó Rei."
Na criação, o propósito de Deus era que Ele devia conceder o Seu bem ao Seu
trabalho. Quando esse propósito é cumprido, por intermédio do "despertar de
abaixo", o propósito de Deus está cumprido, e Ele, de fato, é "exaltado".

14. Por que a letra Bet é fechada em todos os lados e aberta na frente?
Ensina que é a Casa (Bait) do mundo.
Deus é o lugar do mundo, e o mundo não é Seu lugar.
Não leia Bet, porém Bait (casa).
Está, portanto, escrito (Provérbios 24:3): "Com a sabedoria se constrói
uma casa, e com a compreensão ela se firma, [e com o conhecimento
enchem-se os quartos]."

Comentário:
Deus abrange todas as coisas, até espaço e tempo, e não é abrangido por elas.
Isso também é verdadeiro em relação a Chochmá-Sabedoria, que é o conceito do
Princípio — sem fim — antes da criação do espaço e do tempo.
A respeito do significado do Bet, ver comentário sobre verso 3.

15. A que se assemelha Bet?


É como um homem, formado por Deus com sabedoria.
Ele é fechado em todos os lados, mas aberto na frente.
Alef, todavia, é aberto atrás.
Ensina que a cauda de Bet é aberta atrás. Se não fosse por isso, o homem
não poderia existir. Do mesmo modo, se não fosse por Bet na cauda de
Alef, o mundo não poderia existir.

Comentário:
Os dois órgãos principais da expressão humana, a boca e o órgão sexual, são
"abertos" na frente.
O Bet representa Chochmá-Sabedoria, a primeira Sefirá através da qual Deus Se
expressa.
Chochmá-Sabedoria é apenas uma sefira, mas, todavia, é uma emanação da glória
de Deus, e não deveria ser considerada, de forma alguma, igual a Deus.
Portanto, Bet tem uma denteação acima de sua cauda protuberante, indicando um
receptáculo, e em alusão ao fato de que recebe sua existência de um poder ainda
mais elevado, isto é, do Alef.
Alef é a primeira Sefirá, que é Keter-Coroa.
É totalmente oculto, e serve apenas para receber de Deus, refreando Sua luz para
que não subjugue a criação. Por isso, o Alef é aberto atrás.
Até mesmo Keter-Coroa deve receber existência da Entidade Infinita, que é
infinitamente mais elevada que essa Sefirá.
É mais do que certamente verdadeiro a respeito de Chochmá-Sabedoria, que é a
segunda, após Keter-Coroa.
Embora Keter-Coroa seja o mais elevado elemento da criação concebível, é
infinitamente inferior à Entidade Infinita.
Diz o Zohar que, apesar de Keter ser a luz mais brilhante, é total escuridão quando
comparada à Entidade Infinita.
Assim sendo, mesmo o Alef principia por um Bet, isto é, na forma do Alef existe um
Bet diagonal.

18. Por que Bet a segue [a letra Alef]?


Porque estava primeiro.
Por que possui uma cauda?
Para apontar o lugar de onde veio. Dali o mundo é mantido, dizem alguns.

Comentário:
A letra Bet tem uma "cauda" apontando para trás. (ver o verso 14 sobre o Bet).

Por: Aryeh Kaplan

- O Alfabeto Sagrado – Bet - A letra aberta

Josy Eisenberg — De acordo com o mais antigo livro da mística judaica, o Sefer
Ietsirá — Livro da Criação — algumas vezes atribuído a Abrahão, o mundo foi
criado por trinta e duas vozes da sabedoria divina: vinte e duas letras e dez
números.
São, pois, em primeiro lugar, as vinte e duas letras do alfabeto hebraico que
constituem, de certo modo, o código genético de toda realidade.
Combinando estas vinte e duas letras duas a duas, como dois átomos, chega-se já
a quatrocentos e quarenta e duas combinações.
São outras tantas moléculas de ser.
Cada letra da Torá é assim portadora de uma enorme energia criadora, cada uma
tendo sua identidade própria e até mesmo um sentido.
Como dissemos a respeito da letra alef, as letras do alfabeto, estas letras sagradas,
têm uma tripla significação pela sua forma, pelo seu nome e pelo seu valor
numérico.
Cada letra atua nestas estas três dimensões.
O bet — como o B em francês — é uma letra de extrema importância, uma vez que
em um célebre texto Deus decidiu iniciar o mundo, a Torá pela letra bet. "Bereshit
— No princípio...".

Adin Steinsaltz — Ao olhar de perto, observa-se que há uma letra que se assemelha
ao bet, porém em um sentido vertical: o chet.
O bet é fechado em três lados e aberto em um só lado.
O chet é igualmente fechado em três lados e aberto em um só.
A diferença entre a forma destas duas letras se traduz na diferença de seus
sentidos.

J. E. — É preciso dizer logo que chet quer dizer "pecado".

A. S. — Eis por que se postula que se cai em um buraco.

J. E. — Precisemos que chor, "buraco", começa com o chet.


A. S. — A letra bet é diferente.
Ela é fechada, mas não inteiramente.
Ao dedicar-se à análise minuciosa do alfabeto hebraico, constata-se que há
somente duas letras fechadas de todos os lados: o samech e o mem.
Isto é muito significativo.

J E. — A vida é aberta, e as letras estão abertas para a vida.

A. S. — Pode-se entrar, sair, olhar para cima ou para baixo.


As letras nunca são completamente fechadas.

J. E. — Apenas uma pequena observação: as duas letras que o senhor citou, e que
são completamente fechadas, o samech e o mem, formam no hebraico a palavra
sam, que designa um "veneno".
As outras letras têm sempre uma "porta", e a palavra sam, que designa também
Satã, não tem abertura...

A. S. — As outras letras têm pelo menos uma abertura.


A letra bet é considerada a letra da criação.
É com ela que se iniciam a Torá e a narrativa da criação.
Ora, o bet é fechado em três lados: fechado embaixo, fechado em cima e fechado
por detrás.
Sua única abertura está na frente: para adiante.
Isto expressa a ideia de que "tenho algo a fazer aqui embaixo".
Tudo está diante de mim...
Um célebre texto diz: "Infeliz aquele que se pergunta o que havia antes e o que
virá depois".

J. E. — Com efeito, é preciso dizer que, quando se olha a letra bet, ela vira as
costas para a letra alef', que designa a unidade e a transcendência.
Em outras palavras: há algo antes do mundo que não podemos compreender.
[Deve-se considerar que a língua hebraica se lê da esquerda para a direita. Sendo
alef a primeira letra e bet a segunda e considerando o formato de bet (quase um
quadrado — sem o lado esquerdo), então se compreende como o bet dá as costas à
alef.]

- Hic e Nunc (Aqui e Agora)


A. S. — O alef é simétrico, o bet não o é.
Não se pode invertê-lo sem mudar sua significação.
Posso fazê-lo com o alef, e este será sempre o mesmo.
O bet, por sua vez, não sendo aberto de todos os lados, tem como verdadeira
mensagem: adiante.

J. E. — É a direção da vida: ir adiante.


Não olhar muito para trás.
É como na história da mulher de Lot.
Lot lhe diz que não se vire para olhar a destruição da cidade.
Ao se virar, ela é imediatamente transformada em estátua de sal.
É também o sentido da relação entre o bet e o guimel: é a letra que tem duas
"pernas" e que avança olhando para a frente.

A. S. — Ela avança, é a letra do progresso.


Há, de resto, uma letra que se assemelha muito ao bet: o kaf.
A única coisa que as diferencia é que o bet tem uma ponta para trás.
Pois o bet bem sabe que o alef o precedeu!
Ao perguntar-lhe: "Quem te criou?", ela responde: "A letra que está logo atrás!".
Mas o bet não se preocupa com isto: ele apenas mantém o contato.
Pois com o bet começa um novo mundo.

J. E. — Para o judaísmo, o essencial é o que temos a fazer neste mundo, isto é, o


"mundo da ação".
O que conta em primeiro lugar é o que fazemos sobre a terra.
Este pequeno bet, que está virado para a frente, tem uma raiz, mas ele também
está virado para o alto.
E podemos notar, sobre o lado superior da letra, um pequeno colchete.
É importante lembrar que bet significa "casa" — bait; aqui abordamos o segundo
aspecto.
Há muitos fundamentos do judaísmo designados pela casa; por exemplo, bait — a
casa privada —, mas também Bet Hamikdash, a casa de santidade ou o Templo.
Há vários tipos de casa.
Desde a criação do mundo há em algum lugar uma casa visível.

A. S. — O bet é uma casa na qual se pode entrar.


Ela não está fechada.
Não é o que pensam os ingleses: "Minha casa é uma fortaleza!".
É uma casa na qual se pode entrar e pode-se também sair.
A entrada e a saída manifestam a dualidade da letra bet, que é, de resto,
constituída de um assoalho, um teto e uma porta.

J. E. — Há vários modos de compreender o fato de que bet signifique uma casa.


Por exemplo, certos comentadores dizem: "Deus criou o mundo com um bet para
dizer duas coisas: o mundo é tua casa e o mundo é também a casa de Deus".

A. S. — Cada letra nos fala.


Assim o bet é a inicial das palavras brachá, "bênção", mas também de "fonte".
É o início de um fluxo, como o indica sua forma.
Nas línguas latinas, o bet conheceu dois avatares.
Em primeiro lugar, o B é o inverso do bet: está virado para trás!
Em segundo, o B é fechado.
Se for uma casa, está fechada.
Ela tem dois andares, mas fica fechada.
Nossa casa, por sua vez, é aberta.

J. E. — Sabe-se que no judaísmo, a casa — o lar familiar — desempenha um papel


fundamental.
Isto lembra um comentário, que o senhor sem dúvida conhece, que diz o seguinte:
"Uma menina ou uma moça, em hebraico diz-se: bat. Quando ela se casa,
acrescenta-se a letra iud, que designa o homem".
Por várias razões, o grafismo da letra iud designa a masculinidade.

Eis que entre o bet e o tav ( ) acrescenta-se o iud, e isso se transforma em bait —
casa. Seria a mulher a casa do homem?

A. S. — Efetivamente, bat é a mulher.


Um lar é feito de dois, e dois podem criar o novo.
É a especificidade da casa, que não é apenas um lugar ou um abrigo: ali se cria.
Afinal, a maioria dos livros fala dos homens e das mulheres!
A casa é construída a partir do casal, e o casal é o início, em filosofia como também
em matemática.
Há um abismo entre o 1 e o 2, além do fato de que o 2 não existiria se não
houvesse antes o 1.
1 é o primeiro, ele existe por si próprio.
Mas ele tem algo de estéril: ele não engendra!
De acordo com os rabinos, o primeiro homem era andrógino.
Ele só constituía uma pessoa.
Como dizem os psicólogos: somos ao mesmo tempo masculinos e femininos.
E então Deus o dividiu para fazer duas pessoas, ao mesmo tempo similares e
diferentes.
Uma das coisas que se dizem a este respeito é que, sem dúvida, sendo único, esse
Adão era imortal, mas, sendo apenas um, ele não podia procriar!
Uma vez dividido em dois, ele podia ter filhos.
Nachmânides escreveu que, certamente, a consequência do pecado de Adão e Eva
é nos ter feito perder a eternidade pessoal; mas pela procriação, em contrapartida,
nos fez recuperar a eternidade através da família.
Eis por que este dualismo é o início da multiplicação: 1 não se multiplica, mas com
2 tudo pode começar.

J. E. — É por esta razão que a letra bet é o início da palavra brachá, bênção.
A definição principal da bênção é justamente a multiplicação.

- Do um nasce o múltiplo
A. S. — A famosa questão dos teólogos "Como do um nasce o múltiplo?" é
simplesmente a passagem do alef ao bet.
O fato de que a Criação começa por bet significa que o mundo começa
precisamente pela multiplicidade.
Um mundo em que há mais que um: um mundo bipolar.
Ora, um mundo bipolar suscita atração, energia, mas também distância, ódio e
guerra.
É tudo isso que implica a Criação.

J. E. — Aqui surge o problema da dualidade: a dualidade do "bem e do mal".


É muito impressionante que, ao falarmos do templo Bet Hamikdash, a casa de
santidade, ou Bet Habchira, a casa escolhida por Deus, isto nos remeta à noção de
"povo escolhido": "a casa escolhida".
Em contrapartida, alguns comentadores dizem que Bet Habchira, que também se
pode traduzir por "casa da escolha", é o livre-arbítrio.
É a "casa" na qual se focaliza o problema do "bem e do mal": o Templo de
Jerusalém.

A. S. — A casa é um instrumento.
O verdadeiro sentido da letra bet seria "o que é potencial".
O que fazer desse potencial?
Se eu construo uma casa, ela não faz nada por si própria!
O problema é este: "O que vai entrar e sair dela?".
O bem ou o mal?
Este problema se coloca desde a origem.
Ele repousa sobre o fato de que as águas de cima estão agora separadas das águas
de baixo.
O mundo primordial era só água.
Agora, tudo está dividido.
O mundo não é mais homogêneo, ele contém diversas possibilidades: pode-se
escolher.
Se nós buscamos definir o que é o mundo e qual é sua relação com Deus, diremos
que Deus é Um, único, invariável.
Ele não tem que escolher entre diversas possibilidades.
Ao passo que com o mundo aparecem os limites e todas as possibilidades.
E isto começa com o bet e a criação do mundo.

J. E. — Com efeito, pela letra bet o mundo pode se desenvolver, no plano material,
através da brachá.
Nós podemos multiplicar as coisas e enriquecer o mundo: esta é a vocação da
inteligência dos homens.
Observemos também que o bet é não somente a primeira letra da brachá, a
bênção, de beria, a criação, mas também de bina, a inteligência.
Quando o alef e o bet estão juntos eles formam a palavra av — pai.
Penso que o alef designa a função do pensamento geral e o bet é a biná: a
capacidade por meio desta dualidade de distinguir as coisas umas das outras.
Chochmá, o pensamento geral, é atribuída ao homem; ao passo que a biná,
notadamente na Cabalá, é atribuída à mulher: é a capacidade de diferenciação.
E isto começa desde a concepção de uma criança: é o óvulo da mulher que escolhe
qual espermatozoide vai fecundá-lo.

A. S. — É como em árabe.
O nun aparece na palavra bat, filha, posto no plural banot, em hebraico, bint em
árabe.
Em outras palavras, o nun está no interior, assim como na palavra binian,
"construção".
Aliás, segundo a Cabalá, há um elo entre o bet e o nun, em seu valor numérico,
uma vez que nun é cinquenta e há cinquenta portas da inteligência.
Portanto bet e nun são homólogos.
Há também outro aspecto.
Visualmente, a palavra nun é como um bet cortado em dois.
É um meio-bet.

J. E. — Construído com um bet e um nun, a palavra ben, "filho", designa a biná.


A inteligência e também o fato de construir.
A inteligência nos serve para construir o mundo, daí a expressão binian haolam — o
homem deve "construir o mundo".
Em outras palavras, a letra bet, em sua faculdade de procriar, ou de duplicar a
capacidade, convida-nos a construir.
É a finalidade de toda civilização.

A. S. — É a faculdade que denominamos a "análise".


Na biná se encontra a capacidade de analisar e de diferenciar as coisas que partem
em diversas direções.
Pois do bet partem duas direções.

J. E. — Há um ponto importante que não evocamos na conversa anterior. Na Torá,


o livro de Vaicrá, o Levítico, se inicia com um alef bem pequeno, é um sinal de
modéstia, ao passo que a Torá se inicia com um grande bet. Esta diferença com o
alef, que é modesto, escapa à nossa compreensão. Por que ter colocado este bet
maiúsculo?
Seria para dizer que o importante é construir o mundo?

A. S. — Encontra-se igualmente na Bíblia um grande alef: na primeira palavra do


livro das Crônicas, a inicial de "Adam".
Curiosamente, nenhum dos grandes livros judaicos começa pelo começo, por alef.
Nem a Torá, nem o Talmud, nem os Profetas.
Se eu tivesse de escrever o Gênesis na ordem correta, deveria escrevê-lo assim:
"Havia Deus e ele criou o mundo...".
É isso que seria natural.
Mas quando está escrito: "No princípio, Deus criou...", trata-se do mesmo
conteúdo, mas em uma ordem diferente.
Onde está Deus em tudo isso?
Em lugar nenhum?
Em certo sentido, a Torá se inicia com "Deus está não se sabe onde!".
E Ele decide criar o mundo.
É justamente no Gênesis que começa sua presença no mundo.
E o bet, com seu pé que aponta para trás, vem nos dizer: "Antes de mim, é o
mistério, o que tu não podes ler...".
Somente com o mundo se inicia a aventura humana.

J. E. — Todos os historiadores das religiões notaram uma especificidade da Torá.


Nas mitologias há o que se chama a "teogonia", isto é, a criação dos deuses.
Como foram engendrados os deuses?
E sempre se disse que o fato de não dizer "No princípio Deus existia..." é o que se
denomina, em termos filosóficos, "um dado imediato da consciência".
Não há necessidade de dizer aos judeus: há Deus, era suficiente dizer-lhes que
Deus criou.

A. S. — É até mesmo principalmente um axioma.

J. E. — Um dos autores de que o senhor gosta muito, o neto do Becht, rabi


Nachman de Bratzlav, escreveu, em um grande capítulo sobre a fé, que "crer que
Deus existe não é um ato de fé, é uma realidade. Crer que o Messias virá: isto sim
é um ato de fé", pois não se tem nenhuma prova...

A. S. — Eis por que não me ocupo de teologia.


Meu ponto de partida é o mundo.
O ponto importante quando se diz: "Não busques em cima, embaixo ou atrás", isto
significa: "Tens algo a fazer".
Tens uma função na realidade do mundo.
Certamente, no funcionamento do mundo, Deus aparece vez ou outra; mas tu, tu
não tens que falar disso.

J. E. — O fato de dizer que o bet nos impele a agir na vida equivale a dizer que o
mundo é duplo, mas também nos indica a beleza do mundo.
Com o alef sabemos que Deus existe; com o bet sabemos que temos algo a fazer.
Há uma grande lógica na sucessão das letras do alfabeto hebraico.
O alef nos remete ao infinito, o bet nos remete à criação do mundo e à nossa
responsabilidade em sua construção.

A. S. — Uma vez que aprendi os primeiros fundamentos, tudo o que tenho a fazer é
entrar no mundo da ação.

J. E. — Recapitulemos as diversas mensagens das duas primeiras letras: alef é a


letra da unidade, ela designa Deus — Um.
Sua forma é significativa: uma ponta para cima — em direção a Deus —, outra para
baixo — em direção ao mundo.
E tudo se comunica pela barra diagonal que representa a Torá.
O alef é, aliás, a inicial de dois dos principais nomes divinos: Ehyeh — Serei quem
Serei — e Adonai —o Senhor.
Juntas, estas duas letras constituem o princípio de toda coisa.
É bem naturalmente que a Torá se inicia com a letra bet, signo da dualidade e da
multiplicação.
Como diz a Bíblia, enquanto durar a Terra, jamais cessarão as ceifas e colheitas, o
dia e a noite, o verão e o inverno (Gênesis 8,22).
Enfim, bet é a inicial, como em francês, da bênção.
Bênção no lar e bênção das bênçãos: o amor.

Por: Josy Eisenberg e Adin Steinsaltz



As Letras Hebraicas – Parte 7


Gimmel (Guímel)

Som: G

Significado: O significado da palavra Guimel é um camelo; uma ponte;


benevolência. Boas ações.
O Guimel é a terceira letra do Aleph Beit.
Tem a mesma raiz hebraica,  , da palavra gamal, "camelo".
O formato da letra, com seu pescoço comprido, sugere um camelo, palavra
derivada de sua antiga antepassada semítica.
Uma palavra aparentada é gamol, "alimentado até desenvolver-se completamente
ou desmamar".
O Talmud ensina que o "pé" do Guimel está indo em direção à letra seguinte do
Aleph Beit, Dalet, que significa "pobre", como uma pessoa rica indo ao encontro de
um necessitado para fazer-lhe uma bondade.
Guimel dá e Dalet recebe.
O Guimel representa o número três.
É uma letra de estabilidade e equilíbrio, como um banquinho de três pernas.
Ao mesmo tempo, Guimel é a misteriosa terceira coisa criada depois do um do
Aleph e do dois do Beit.
O termo hebraico para "ponte",  , gesher, começa com a letra Guimel.
O Guimel cria uma ponte, unindo a unidade do Aleph e a dualidade do Beit numa
espécie de equilíbrio interior.
Essa síntese prepara o caminho para a ação no mundo na forma de
 , g'milut chasadim — "atos de amor-bondade".
O Talmud afirma que o mundo repousa sobre três fundamentos: a Torah, a oração
e os atos de amor-bondade.
Pode-se dizer que o Aleph representa o ensinamento central da Torah, de que Deus
é um, o Beit representa a casa de oração e o Guimel é o terceiro fundamento, o das
boas ações.

Conceito: O conceito por trás da letra Guimel é o sustento.


E esse sustento é a possibilidade de você ter sustentação financeira.
E nem sempre a questão financeira implica receber dinheiro, mas sempre implica
em “sustentar a existência...”
E esse nível de sustento não depende do seu esforço físico nem da sua vontade.
Você pode trabalhar como um louco e não conseguir ter sustento e, você pode não
fazer muita coisa e ter sustento.
Porque esse sustento é da ordem do Sagrado.
O nome Guimel está relacionado com a palavra gamla, empregada no Talmud para
designar um ponto que une dois espaços.
É o poder de compartilhar (chessed).
Guimel é um símbolo de recompensa e de punição.
Guimel vem de ―Gamal‖, o camelo.
Precisamos saber que o camelo é o símbolo da riqueza, pois na terra bíblica, ter um
camelo é ser muito rico – inclusive a riqueza interior - que tem a capacidade de
compensar as faltas e de reequilibrar as forças de permanência.
Podemos dizer que os camelos são geralmente responsáveis por um fardo e que
chama a atenção é o pescoço e a corcova.
Sua cabeça é alta debruçada sobre um longo pescoço.
O Bet, simboliza o pensamento (cognitivo), o pescoço é o canal, permitindo o
pensamento de fluir em atos.
O Guimel pode indicar uma passagem por algum tipo de experiência
Guimel nos remete a ideia da capacidade de nos nutrirmos a nós mesmos e aos
outros – compartilhar.
Temos o suficiente para nossas necessidades próprias e o suficiente para dividir
com os outros.
Guimel também simboliza um homem rico correndo atrás de um homem pobre
(Dalet) para ele fazer caridade.
A raiz evoca também a ideia de acumular reservas para o futuro, é por isso
que a palavra tesouro é ―guimelah‖.

Porque será que Bet precede Guimel, e Guimel corre de volta para Bet?
Porque Bet representa a casa que está aberta à todos.

Existe uma associação de Guimel com Gabriel.

Formato: A letra Guimel é um corpo (o Vav) caminhando (o Yud ligado, como um


pé). Um homem guiado pelo Sagrado.
Ou ainda: A forma de Guimel é constituída pelo Vav, representando o homem em
direção ao Yud - sua essência.

Número: Guimel representa o número 3. Estabilidade e equilíbrio.


O valor 3 é o símbolo do primeiro equilíbrio simbolizado pelas 3 colunas da Árvore
da Vida.
É também o equilíbrio entre os três elementos primordiais da criação: ar, água e
fogo.
3 é o primeiro numero obtido pela associação de duas letras diferentes, Alef e Bet,
isto nos indica que 3 é um símbolo de multiplicação.

Espaço: No espaço, Guimel representa Júpiter.

Tempo: No tempo Guimel é responsável pela criação da Quinta-feira.

Corpo: Guimel está relacionada ao ouvido direito.

Medicina: Guimel desperta em nós é a possibilidade do Sustento.


Sustento com sentido.

Dom: Riqueza.
O Guimel nos faz exaltar a ―riqueza‖ que surge quando abandonamos tudo – nossos
apegos, nossas comparações entre pessoas, nossos conceitos sobre nós mesmos.
Compartilhar com medida e nos ―moldes do outro‖.

Arquétipo: Yitschac (Isaque)

Aplicação:
Saber que temos a força e resistência de que precisamos.
Praticar atos de amor-bondade.
Alimentar a cultura e a Deus com nossa arte e criatividade.

Sombra:
Zelo missionário desorientado.

Reflexão:
Quais são as oportunidades de amor-bondade que surgem no curso de um dia
comum?
Como eu poderia fazer para aproveitar essas oportunidades com mais freqüência?

Ação sugerida:
Pratique hoje um ato exterior de amor-bondade.

Canal – Caminho: De Biná a Guevurá.

Sefer Yetziyrah: “Com Guimel ele formou Júpiter, o quinto dia, o ouvido direito, a
riqueza e a pobreza.” (S. Y. 4.14)

Comentários:
Guimel vem de "gamal", o camelo.
Este é um símbolo de prosperidade.
Tal aquisição vem da casa de Bet que simboliza o recipiente, a reserva que ajuda a
atravessar o deserto da existência.
Mas, esta reserva é tanto uma força de sustentação quanto um fardo hereditário.
É uma acumulação saída da rotação do "guilgul" (a rotação das vidas =
reencarnação) e também o que a vida no Bet trouxe como Tikun (necessidade de
aprimoramento).
Guimel é a letra associada ao planeta Tsedek (Júpiter).
Se Dalet representa o homem pobre, Guimel é o homem rico que vai ao seu
encontro para ajudar.
Com as mesmas letras de Guimel escrevemos gamal ("camelo") e da mesma forma
que o animal suporta uma longa jornada com um suprimento interno de água,
Guimel nos supre com Luz Espiritual quando vivenciamos os nossos desertos
pessoais - períodos de restrição, de reveses, etc.
Inicial de Guedulá ("abundância"), Guimel evoca o desprendimento, o auxílio que
antecede a necessidade e a energia dos três Patriarcas - Avraham, Yitschak e
Yaacov.
Guimel é a única letra que não aparece nos 72 Nomes de D-us, mas como cada
Nome é composto por três letras, na verdade Guimel se faz presente em todos eles
como pano de fundo.
Meditar em Guimel ativa a energia do terceiro pilar, que neutraliza a oposição de
forças contrárias e as faz trabalhar em conjunto.
Guimel, cujo valor numérico é três, tem a forma de um pé que caminha,
representando, em níveis diferentes, a expressão do movimento dinâmico.
Em relação a anjos, aos quais se refere como "aqueles que ficam em pé", refere-se
aos homens como "aqueles que caminham":
"E Eu o farei aquele que caminha dentre aqueles que ficam em pé"
(Zecharyá 3:7).

A letra guimel gera a energia do Milagre.


Os dois meses onde ela aparece são Kislev e Adar (Sagitário e Peixes).
Guimel desperta também o dom de compartilhar.
Esta letra faz a conexão na Árvore das Vidas entre Binah-entendimento e
Guevurah-disciplina.
Assim, Guimel lhe dá disciplina, ajuda a ordenar a sua vida e também injeta
energia de entusiasmo para que se faça as coisas com vitalidade, alegria.
Quanto maior a alegria/entusiasmo, maior a capacidade de compreensão.
Milagre é a habilidade de conseguir romper com o padrão robótico e repetitivo.
Júpiter (associada a Guimel) tem a finalidade de gerar em nós o senso de justiça.
O senso de justiça está diretamente ligado à visão espiritual.
Para a Astrologia Cabalista, o planeta Júpiter está relacionado a beleza e nos
permite acessar as chaves dos portais do Mundo Físico e do Mundo Espiritual
No mês que Guimel rege, os sonhos afloram com muita intensidade e pode haver
sonhos reveladores - estes acontecem pouco antes de se acordar (a letra Samech
desperta esta energia dos sonhos).
O sonho é como uma matéria prima, e devemos tomar cuidado para quem
contamos os nossos sonhos, pois pode ser mal interpretado por terceiros, e essa
opinião entrar na sua alma, pegar a matéria prima do sonho e criar uma
programação negativa.
Ou seja, o sonho pode ser remodelado, para ser negativo ou positivo, independente
do simbolismo original.
O ideal é contar o sonho para uma pessoa com habilidade para interpretá-lo e que
seja de sua confiança.
Não se deve contar um sonho para mais de duas pessoas.
O pesadelo em geral ocorre de madrugada.
Problemas no estômago (letra Samech) e na região do ventre podem ser
provenientes de deficiências na relação com a tranquilidade e na capacidade de
ouvir a intuição (letra Guimel).
Caso estes problemas surjam, medite nas letras e suas conexões.
Segundo Rav Abuláfia, o tseruf (combinação) das letras Guimel+Samech geram a
força da energia que nos permite acessar a nossa falta de refinamento, o aspecto
mais inferior de nossa natureza.
Isso poderá nos conceder o autoconhecimento.
Quando meditamos no tseruf Samech+Guimel, temos uma energia favorável ao
estado contemplativo e também a capacidade para equilibrar os três pilares da
Árvore da Vida.
Nossos Sábios ensinam que Guimel, a terceira letra do alfabeto hebraico, simboliza
um homem rico correndo atrás de um homem pobre, o Dalet, para lhe dar
caridade.
A palavra Guimel deriva da palavra Guemul, que em hebraico significa tanto dar
uma recompensa quanto dar um punição.
Na Torá, tanto a recompensa quanto a punição compartilham do mesmo objetivo
primordial: a retificação da alma para que a luz de D’us possa ser recebida em toda
sua extensão.
Recompensa e punição indicam que o homem é livre para escolher entre o bem e o
mal.
(O ensinamento do guimel, então, remete ao da abertura do lado esquerdo do beit,
de onde ele se origina, conforme explicado na letra Bet)
O Rambam (Maimônides) enfatiza, em particular, o livre-arbítrio como algo
fundamental à fé de um cabalista.
De acordo com o Rambam, o Mundo Vindouro, a época da recompensa, é um
mundo totalmente espiritual, de almas sem corpos.
Com relação a este ponto, Ramban (Nachmânides) discorda e argumenta que como
a completa liberdade de escolha existe somente em nosso mundo físico, a
retificação máxima da realidade — a recompensa do Mundo Vindouro — também
ocorrerá em um plano físico.
A Cabala sustenta a opinião do Ramban (Nachmânides).
Isto é indicado pela perna da letra Guimel, que representa a corrida do homem rico
para fazer o bem ao homem pobre.
Correr, mais do que qualquer outro ato físico, expressa o poder da vontade e do
livre-arbítrio (a palavra hebraica para ―correr‖, ―ratz‖, está relacionada com a
palavra ―vontade‖, ―ratzon‖).
Ao correr, a perna fica em firme contato com a terra; através de um ato de
bondade, a alma afeta diretamente a realidade física.
A recompensa final, a revelação definitiva da luz Essencial de D’us, será, então,
legitimamente concedida à alma exatamente no mesmo contexto do empenho de
sua vida — o mundo físico.
A Torá diz: ― Hoje [neste mundo] fazê-las‖, de onde os Sábios concluem: ―Amanhã
[no Mundo Vindouro] receberá sua recompensa.‖
Somente ―hoje‖ nós temos a chance de escolher entre o bem e o mal.
E, assim, de acordo com a nossa escolha nós mesmos é que definimos a
recompensa e a punição de ―amanhã‖.
Tal como o mal é um fenômeno finito, assim também é a punição — diferente do
bem e a da recompensa, que são verdadeiramente infinitos.
O Guimel de ―hoje‖ é o segredo de ―melhor uma hora de teshuvá (que podemos
traduzir como arrependimento) e bons atos neste mundo do que uma vida toda do
Mundo Vindouro‖.
O guimel de ―amanhã‖ é o segredo de ―melhor uma hora de serenidade no Mundo
Vindouro do que toda uma vida neste mundo‖.

O que é um Guimel?
A letra Guimel representa o benfeitor ou doador de caridade.
O desenho da letra guimel é explicado no Talmud como, já dissemos, um homem
rico correndo para dar caridade a um pobre.
Segundo a Cabala, o desenho do Guimel é composto de duas letras.
A primeira é um Vav, representando o homem, porque fica ereto.
Ao lado direito do homem está a segunda letra, um Yud, que significa tanto o pé
quanto o ato de doar.
Em nossas vidas vemos que a parte superior do corpo, acima da cintura, tem uma
tendência para o egoísmo, a predisposição de "tomar".
Nosso intelecto com frequência existe por si mesmo, aplicando suas faculdades
para garantir suas necessidades.
A boca, estômago e trato digestivo são empregados na absorção de comida e
bebida.
A porção inferior do corpo, porém, é a parte que dá aos outros.
Com nossas pernas caminhamos distâncias a fim de ajudar outra pessoa.
Nossas mãos entram nos bolsos para pegar o dinheiro que será dado à caridade.
O Yud pode representar também o órgão reprodutor, a fonte da semente de vida
humana.
Outra sugestão é que por causa de seu longo pescoço, o Guimel parece um camelo.

O valor numérico do Guimel é três.


O Talmud diz que o número três representa a Tora, que foi dada ao povo hebreu no
terceiro mês do ano (Sivan) ao mestre Moshê (o terceiro de três filhos) no terceiro
dia de separação entre marido e mulher (a proibição de relações conjugais, como
foi instruído por D'us).
A Tora foi entregue a um povo de três grupos: os Cohanim, os Levitas e os
Israelitas.
Finalmente, a própria Tora é dividida em três segmentos: os Cinco Livros de Moshê,
os Profetas e as Escrituras'.
Rabi Yehudá Loeb (O Maharal de Praga) explica que o poder do número três é a
capacidade de combinar duas forças contrastantes — para provocar a integração.
O que isso significa?
Digamos que uma pessoa nasce no mundo de Torá.
Cresce numa sociedade enclausurada.
Vai à yeshivá (Escola de Estudos) durante toda a vida e tudo que conhece é D'us.
Finalmente, a pessoa se casa e sai para o ambiente mundano e começa a ganhar o
próprio sustento.
"Ei, existe um mundo materialista aqui fora! Há outras coisas além da Divindade,
além da espiritualidade. Talvez haja de fato duas realidades. A primeira é D'us. E
existe uma segunda realidade, o mundo. E essas realidades se contradizem..."
Portanto, a Torá é outorgada no terceiro mês porque "três" tem o poder de fundir a
Divindade com o mundo terreno.
Por exemplo, nossos Sábios declaram: "Se não houver pão, não há Tora‖.
D'us espera que ganhemos nosso sustento para cuidar de nossos entes queridos e
fazer caridade.
E ao conduzirmos nossos assuntos mundanos segundo a Torá — com honestidade e
integridade — estamos na verdade encontrando D'us no mundo físico.
Conta-se uma história sobre o aluno de Aristóteles, Alexandre o Grande, que um
dia entrou na casa de seu mestre sem ser anunciado.
Alexandre encontrou Aristóteles envolvido em comportamento imoral.
Mais tarde, quando estavam sozinhos, Alexandre perguntou:
"É esta a maneira de o grande Aristóteles se comportar — o filósofo, o mestre, o
mentor? É este o comportamento ético adequado?!"
Aristóteles respondeu: "Quando eu te ensino filosofia e as maravilhas do mundo,
sou Aristóteles. Mas aqui, em particular, não sou Aristóteles."
Essa história está num chocante contraste com o caráter de Rabi Akiva e a Torá
que ele incorporava.
Rabi Akiva era frequentemente chamado pelo oficial romano Tinus Rufus para um
acalorado debate.
Ao final, Rabi Akiva sempre o vencia.
Certo dia Rafina, esposa de Tinus Rufus, decidiu vingar a honra do marido.
Sabendo que o D'us dos hebreus proibia a imoralidade, ela conseguiu permissão de
Tinus Rufus para seduzir Rabi Akiva e assim fazê-lo pecar.
Da próxima vez que Rabi Akiva foi chamado ao palácio, Rafina se escondeu por trás
de uma árvore no jardim.
Quando Rabi Akiva se aproximou, ela apareceu na frente dele, vestida de maneira
provocante.
Ora, Rafina era uma linda mulher, e estava certa de que Rabi Akiva cederia aos
seus encantos.
Porém o Sábio fez o seguinte: primeiro cuspiu, depois deu risada, então chorou.
Rafina ficou completamente perplexa.
Pediu a ele que explicasse suas ações.
Rabi Akiva respondeu: "Duas eu lhe direi, e a terceira não. Cuspi por causa de sua
atitude desprezível. Chorei porque sei que algum dia suas belas formas irão se
decompor na terra. Quanto ao porquê de eu dar risada, talvez algum dia você
venha a entender."
Qual é a conexão entre a história de Aristóteles e a de Rabi Akiva?
Aristóteles separava corpo e espírito, mas Rabi Akiva os considerava inseparáveis.
Para Aristóteles, aquilo que era "espiritual" (i.e., o intelecto e as ciências) era
sagrado.
Aquilo que era físico, do corpo, era profano.
Os dois âmbitos não estavam conectados e ocupavam duas esferas diferentes de
intenção.
Rabi Akiva, porém, vivia pelo Guimel, o fusor de D'us e do mundo.
Rabi Akiva via D'us em tudo, e reconhecia que D'us reside até no físico.
Portanto, Rabi Akiva teve a capacidade de controlar e superar a tentação de Rafina.
Ela mais tarde converteu-se ao Judaísmo e casou-se com Rabi Akiva.
Essa previsão profética foi o motivo da risada dele.

Guimel tem diversos significados.


Um é nutrir até amadurecer.
Depois que Corach se rebelou contra Moshê e Aharon, D'us disse a Moshê:
"Pegue um cajado de Aharon e de todas as outras tribos de Israel. Então coloque os
pinos no Santo dos Santos [e veja qual realmente dá frutos]."
Na manhã seguinte, Moshê tirou os pinos do Santo dos Santos, e todos de Israel
viram que o cajado de Aharon produzira (Vayigmol (palavra formadas pelas letras
vav-yud-guimel-mem-lamed)) amêndoas completamente maduras.
Assim a palavra vayigmol é formada pela palavra guimel (guimel-yud-mem-lamed).
Outro significado de Guimel é "ser diminuído".
"A criança [Yitschad cresceu e foi desmamada (vayigamal)"".
À primeira vista, os conceitos de ser desmamado e nutrido até amadurecer
parecem contraditórios.
Quando você está nutrindo, está dando.
Quando está desmamando está deixando de dar.
Na essência, porém, eles são consistentes, porque se você nutrir até amadurecer,
não terá mais de dar.
Como foi mencionado, o Guimel também é chamado de gamal, ou camelo.
O próprio camelo incorpora o processo de desmamar e nutrir, pois é capaz de se
sustentar em jornadas de vastas distâncias após receber água suficiente.
Notamos também que o Guimel é semelhante à palavra gomei, ser bondoso ou
benevolente.
O camelo consegue ajudar o viajante a sobreviver ao sol escaldante do deserto
levando-o ao seu destino.
A palavra Guimel em aramaico é Gamla, ou ponte.
Pode-se dizer que a ponte é a corcova do próprio camelo, que fornece os meios e a
estrutura para levar as pessoas aonde elas precisam ir.

Ora, como é que o Guimel realmente significa o homem rico correndo atrás do
pobre?
A resposta pode ser encontrada talvez na diferença entre os termos "caridade" e
"tsedacá".
Caridade significa que você é um benfeitor.
É um homem rico e proeminente e tem pena e concede misericórdia à pessoa
pobre, sem lar, dando-lhe caridade.
Tsedacá, em contraste, tem um significado basicamente diferente.
A definição de tsedacá é integridade ou justiça — ou seja, fazer a coisa certa.
No caso da tsedacá, seu dinheiro na verdade não lhe pertence; D'us o emprestou a
você para que quando um pobre chegar, você possa dar-lhe seu dinheiro.
Você tem até a obrigação de correr atrás dele e "devolver" o dinheiro; que,na
verdade jamais pertenceu a você.
Além disso, a pessoa faz tsedacá porque D'us devolve na mesma moeda.
A fim de receber a bênção Divina, é preciso fazer algo pelos outros.
O ato de tsedacá vai ainda mais longe.
Você está obrigado a criar uma ponte entre o pobre e si mesmo.
Vocês não deveriam ser duas entidades separadas, segregadas.
Deve haver algo para fundir os dois.
O maior nível de caridade não é dar alguns reais para alguém, um presente de uma
única vez, e então dizer: "Adeus, não vou vê-lo de novo."
O maior nível de caridade é ajudar a pessoa a se estabelecer, nutri-la até que
amadureça, e então desmamá-la para que jamais precise pedir dinheiro
novamente.
Isso é feito colocando-a num negócio ou dando-lhe um emprego.
Este é o conceito de Guimel; a mistura de elementos diferentes num todo
harmonioso.
Assim como o Guimel significa a conexão entre o pobre e o rico, também
representa o fusor, a ponte, entre o mundo material e a realidade de D'us.

Aplicação:
Quando selecionamos o Guimel, estamos sendo levados a investigar nossa
"natureza de camelo", a capacidade de nos nutrirmos a nós mesmos e aos outros, e
com isso praticar atos de amor-bondade.
O camelo, como já dissemos, é um animal notável.
É capaz de viajar longas distâncias pelo deserto, passando dias sem beber água,
trazendo em seu corpo uma fonte interna de alimentação e reabastecimento.
O Guimel nos estimula, pois mesmo que estamos viajando por um deserto quente,
seco e intimidante, já temos dentro de nós os recursos de que precisamos para
sobreviver.
Não apenas temos o suficiente para nossas necessidades próprias como temos o
suficiente para dividir com os outros e praticar atos de bondade.
O Guimel afirma que nós somos "ricos".
Com essa abundância, o desejo de dividir se manifesta naturalmente em nós.
O falecido rabino Shlomo Carlebach nos conta uma história comovente sobre como
encontrou um limpador de rua corcunda, em Israel, que quando criança, fora aluno
do famoso "Rebbe do Gueto de Varsóvia", Kalonymus Kalman Shapira.
O varredor de rua descreveu como o reb Kalonymus sempre terminava suas lições
dizendo: "Crianças, preciosas crianças, lembrem-se de que não há nada no mundo
maior do que fazer um favor a alguém".
Esse ensinamento deu ao limpador de rua a força para resistir ao suicídio e
sobreviver ao campo de concentração de Auschwitz.
"Você sabe quantos favores se pode fazer à noite em Auschwitz?", perguntou a
Shlomo.
Depois, esse ensinamento o ajudou a resistir ao desespero e à tentação de matar-
se em Tel Aviv.
"Você sabe quantos favores se pode fazer nas ruas do mundo?", perguntou.
Esse limpador de rua, corcunda (como um camelo) por ter sido espancado em
Auschwitz, encontrara na prática dos atos de amor-bondade o próprio alimento e a
capacidade de continuar vivo.
O Guimel lembra a todos nós: "Crianças, lembrem-se de que não há nada no
mundo maior do que fazer um favor a alguém".
O símbolo do camelo pode indicar que alguém passou recentemente, ou ainda está
passando, por algum tipo de experiência de "deserto".
Isso pode tomar a forma de falta de dinheiro, saúde, amigos ou inspiração.
O Guimel nos estimula a acreditar em nossos próprios recursos interiores.
Como o camelo, nós temos o que precisamos dentro de nós.
Ainda que, como o camelo, nós talvez andemos lentamente, ou desajeitadamente,
ou com dificuldade de começar, nós avançamos imperturbáveis pelo deserto.
O Guimel nos dá a certeza de que vamos sobreviver.
Não apenas temos o suficiente para sobreviver como temos o suficiente para
compartilhar.
Os ensinamentos do judaísmo enumeram boas ações específicas, como sepultar os
mortos, escoltar a noiva até o dossel matrimonial, visitar os doentes, confortar os
aflitos, plantar árvores.
Há infinitas outras maneiras de alimentar o mundo, desde pequenos atos de
bondade a projetos grandiosos e nobres.
Boa parte da sociedade moderna parece perdida num deserto cultural.
O Guimel mostra que, assim como o camelo viaja pelo deserto com seu alimento
dentro do corpo, nós temos as dádivas de que precisamos para sobreviver nesse
deserto cultural.
E, assim como o Guimel representa um rico que vai ao encontro de um necessitado
para compartilhar sua fortuna, essa letra sugere que podemos encontrar maneiras
de alimentar nossa cultura coletiva cada vez mais estéril.
Nossa arte, nossa música, nossos poemas, nossas histórias ou quaisquer outras
obras de beleza podem alimentar uma alma faminta de cultura, e alimentar o
próprio Espírito.
Apresentá-las ao mundo como uma oferenda a Deus e às pessoas pode ser um dos
maiores atos de amor-bondade que se pode praticar.

O Guimel também nos convida a exaltar a "riqueza" que surge quando,


paradoxalmente, abandonamos tudo — nosso apego a nossas ideias sobre Deus,
nossas comparações entre pessoas, nossos conceitos sobre nós mesmos.
Quando nos deixamos relaxar dessa maneira na plenitude vazia do Ein Sof, da
Infinitude de Deus, ainda que por alguns instantes, há uma enorme liberação de
energia e uma efusão natural de compaixão.
Essa liberação nos alimenta, e essa compaixão torna-se o alimento ou a caridade
que entregamos ao mundo.
Quando escolhemos o Guimel, somos convidados a soltar as rédeas de nossos
conceitos estreitos e permitir que nossa natureza de camelo nos guie naturalmente
pelas antigas estradas.
A Sombra do Guimel
Uma das sombras do Guimel é descrita pela frase "O inferno está cheio de boas
intenções".
Ir até uma pessoa para fazer-lhe um bem pode levar a alguns resultados muito
ruins.
Alguns missionários, convencidos da pureza de suas motivações, ainda assim
levaram doença e destruição cultural aos povos nativos que tentavam converter.
Imaginar-se como um rico que vai ajudar um pobre pode gerar uma dinâmica de
ressentimento e raiva em ambos, em quem dá e em quem recebe, e nossas ações
podem ter o efeito oposto do desejado.
O Guimel exige meios inteligentes de praticar boas ações.
Um dos modos de adquiri-los é abandonar inteiramente a idéia de "boas ações" e
simplesmente fazer o que se apresenta a nós com o máximo de nossa capacidade.

Comentários Pessoais de Richard Seidman


Você alguma vez já montou num camelo, balançando pela trilha quente e poeirenta
e ouvindo o som melancólico dos sinos de madeira?
O ―sinal‖ do camelo, o Guimel, me conduz quando estou sem coragem.
Ele me conduz quando estou perdido.
Ele me conduz quando me sinto tão mal que me esqueço de que tenho algo a
oferecer a alguém.
O Guimel me lembra de que o modo de me revigorar é a ação.

Textos complementares

Segredos do cordão triplo


O versículo "um cordão triplo não se quebra facilmente" é interpretado por nossos
Sábios para referir-se aos três Patriarcas - Avraham, Yitschac e Yaacov - cujas
vidas formam uma corrente inquebrável que continua a existir até os dias de hoje.
A Chassidut ensina que este vínculo triplo alude também ao vínculo de amor
conectando almas juntas.

A origem deste cordão é o segredo do raio inicial da luz infinita de D'us


preenchendo todos os mundos. Este raio de luz, que continua a brilhar e iluminar
toda a existência, é o vínculo de amor entre o Criador e Sua Criação.

A raiz da palavra mitsvá (mandamento), conforme explicada no Talmud, é


"conectar junto". O cumprimento das mitsvot é nossa tentativa de retornar o raio
de luz a D'us, conectando-nos e ao mundo em que vivemos à sua Fonte, sempre
aprofundando nossa conexão de amor de D'us, Torá e Israel.

O fenômeno da triplicidade do cordão revela múltiplas camadas de significado.


A letra guimel, cujo valor numérico é três, tem a forma de um pé que caminha,
representando, em níveis diferentes, a expressão do movimento dinâmico.
Em relação a anjos, aos quais se refere como "aqueles que ficam em pé", refere-se
aos homens como "aqueles que caminham": "E Eu o farei aquele que caminha
dentre aqueles que ficam em pé" (Zecharyá 3:7).

Avraham, Yitschac e Yaacov representam a resposta dinâmica aos desafios e


provações da vida, sempre avançando e ascendendo. As três linhas-eixo das
sefirot, simbolizadas pelos três Patriarcas, representam os princípios de harmonia e
equilíbrio em um mundo de óbvia dualidade. Aqui está contido o segredo do
Maguen David, a Estrela de David, cujo formato de dois triângulos cruzados cria
uma imagem de simetria e equilíbrio.
A vogal no idioma hebraico associada com a sefirá de chessed, bondade, é a segol,
um arranjo triangular de três pontos. A palavra segol aparece em um dos versículos
mais cruciais da Torá, no qual D'us designa Israel como Seu povo especial: "vocês
serão para Mim os tesouros mais queridos [segulá] de todo povo, pois Meu é o
mundo inteiro" (Shemot 19:5).
A palavra "tesouros mais queridos" tem sido traduzida como "o povo escolhido",
uma frase repleta de significado e talvez mal interpretada.
Isto é uma alusão ao papel do povo judeu como uma energia de equilíbrio essencial
entre o mundo físico e o espiritual, criando uma visão holística e integrada do
mundo em meio à aparente dualidade da existência.
É o Terceiro Templo Sagrado que será chamado "uma Casa de Prece para todo
povo", conectando todos juntos, como rezamos fervorosamente em Rosh Hashaná
e Yom Kipur: "Que a Humanidade se torne uma única sociedade".

Outra manifestação relacionada do cordão triplo é a declaração dos Sábios:


"O mundo se apóia em três coisas: na Torá, no serviço, e em atos de bondade"
(Ética dos Pais 1:2).
Estes três pilares correspondem aos três Patriarcas (Torá a Yaacov, serviço a
Yitschac e bondade a Avraham), cada qual um caminho resplandecente na
fundação de retificar o mundo.

"Todos de Israel são responsáveis uns pelos outros" (Talmud Shavuot 39a, Sotá
37a e Rosh Hashaná 29a). Este nível de responsabilidade somente é possível
quando cumpre-se o mandamento "e amará seu próximo como a si mesmo".

Fonte: Academia de Cabala

 Guimel - Ger (O Estrangeiro)


Se o estrangeiro peregrinar na vossa terra, não o oprimireis.
Como o natural, será entre vos o estrangeiro que peregrina convosco; amá-lo-eis
como a vós mesmos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito.
Eu sou o Senhor, vosso Deus.
Levítico 19:33-34

O Antigo Testamento repete muitas vezes a questão do "amar a seu próximo",


lembrando-nos das vezes em que nós mesmos fomos "estrangeiros em terra
estrangeira" para que sejamos mais sensíveis para com os outros que se
encontram na condição de minoria reprimida.
Devido à sua própria história de escravidão, seja ela literal ou metafórica, você
deveria saber como se sente fora do seu próprio elemento e fazer um esforço para
incluir e aceitar essas pessoas que são diferentes de você, mas que vivem em meio
aos seus.
Muito embora o tempo que os judeus passaram no Egito tenha sido de opressão,
escravidão e humilhação, eles também puderam sentir que estavam estabelecidos
ali, por bem e por mal.
Na verdade, quando Moisés conduziu os judeus para fora do Egito e eles iniciaram a
jornada em direção à libertação e à Terra Prometida, metade dos ex-escravos
decidiu permanecer, uma vez que para eles, uma realidade conhecida, mesmo que
fosse horrível, parecia ser melhor do que o desconhecido.
Mesmo aqueles que partiram com Moisés a certa altura entraram em pânico diante
da árdua jornada e começaram a se perguntar se não teria sido melhor a
permanência no Egito, onde eles pelo menos já sabiam o que podiam esperar.
De certa maneira, esse desejo de retornar à escravidão faz sentido — depois de
tantos anos vivendo uma realidade cruel, é extremamente difícil mudar a mente
para assumir uma atitude de pessoa livre.
É por isso que nós devemos ser gentis para com o estrangeiro, para encorajá-lo a
adaptar-se ao novo ambiente e não retornar a um passado de sofrimento.
E mesmo que o estrangeiro esteja apenas "de passagem" e não necessariamente
participando de nossa comunidade específica, nós deveríamos encorajá-lo a tirar o
máximo proveito dessa jornada enquanto estiver nela.
A palavra ―Ger‖ costuma ser traduzida como "convertido" e a forma verbal, ―Lagor‖,
significa "morar".
Nesta passagem, podemos ver que um Ger não é apenas alguém que se converteu
oficialmente a uma nova religião ou sociedade, mas também um estrangeiro, um
forasteiro que vive em meio a um novo grupo de pessoas e a um conjunto de
costumes.
Todos nós fomos Gers em um ou outro momento de nossa vida: mudança para
outra cidade, saída de casa para estudar na universidade, transferência de lugar de
trabalho, viagens para países longínquos ou uma simples mudança no modo de ver
o mundo, motivos pelos quais todos nós nos tornamos de alguma maneira
convertidos.
Em certa medida, essa condição de "estranheza", a experiência de estar vivendo
em terra estrangeira, e essencial para a Cabala.
Pode parecer estranho que essa frase seja usada em sentido positivo num texto
tradicional.
Mas quando ela é examinada de uma perspectiva cabalística, faz muito sentido: às
vezes, é necessário o caos para mostrar-nos o caminho para a ordem e a
iluminação e, em outras, precisamos tomar o caminho menos percorrido para
encontrarmos o nosso próprio rumo.
A carta do Guimel aparece quando você está sofrendo de julgamento impróprio.
Ou você está se sentindo julgado ou está julgando os outros inadequadamente,
seja de forma consciente ou inconsciente.
Você pode estar se sentindo como um estranho, excluído, no contexto do trabalho,
do convívio social ou espiritualmente.
Ou, pelo contrário, você pode estar se sentindo demasiadamente incluído, a ponto
de você não aceitar ninguém de fora de seu círculo mais próximo.
Trata-se de um desafio que envolve a identidade: todos nós temos que alcançar o
delicado equilíbrio entre saber quem somos e de onde viemos e aceitar o Outro em
nossa vida como igualmente válido.
Essa, com certeza, não é uma tarefa fácil.
Conhecer a si mesmo já é difícil o bastante; aceitar o Outro é, às vezes, quase
impossível.
Abra-se para experiências novas e diferentes: ouça as histórias das pessoas que
você encontra na sua jornada pela vida e aprecie os lugares onde elas estiveram,
sem deixar de compartilhar suas próprias experiências de exílio e redenção.
Apenas abrindo-se para os outros e aceitando-os, você vai ampliar sua visão de
mundo e ficar totalmente em paz com sua própria vida.

Por: Deepak Chopra

O Bahir (com comentários de Aryeh Kaplan)

19. Por que Guimel está em terceiro?


Tem três partes, ensinando-nos que confere (gomel) bondade.
Mas, não disse o Rabino Akiba que Guimel tem três partes porque confere,
cresce e mantém?
Está, portanto, escrito (Gênese 21:8): "O rapaz cresceu e foi agraciado."
Ele disse: Ele diz o mesmo que eu. Ele cresceu e conferiu bondade aos seus
vizinhos e àqueles que lhe foram confiados.

Comentário:
Guimel contém uma alusão à Biná-Compreensão, a Mão que concede a Sabedoria
(ver comentário sobre verso 8).
A menos que seja compreendida, a Sabedoria não tem significado, enquanto que
por intermédio da Compreensão, pode-se conceder Sabedoria à outra pessoa.

20. E por que existe uma cauda na parte mais inferior de Guimel?
Ele disse: Guimel tem uma cabeça no topo e é qual uma calha.
Do mesmo modo que a calha, Guimel recolhe o que vem de cima, através
de sua cabeça, e dispensa através de sua cauda.
Isso é Guimel.

Comentário:
O Guimel consiste de uma cabeça, um corpo e uma cauda.
Recebe da cabeça, e dispensa sabedoria por intermédio de sua cauda.

28. Perguntaram-lhe: O que é a letra Heh?


Zangou-se e disse: Não vos ensinei a não perguntar sobre uma coisa que
vem depois e, então, por uma coisa que vem antes?
Disseram-lhe: Mas Heh vem depois [de Dalet].
Ele respondeu: A ordem deveria ser Guimel Heh. Por que é Guimel Dalet?
Porque deve ser Dalet Heh.
E por que é a ordem Guimel Dalet?
Ele lhes respondeu: Guimel está no lugar de Dalet, seu topo está no lugar
de Heh. Dalet, com sua cauda, está no lugar de Heh.

Comentário:
Quando Guimel é alongado "na cabeça", se torna Dalet.
Resta sua cauda, que converte o Dalet em Heh.
Entretanto, de acordo com a interpretação do Gaon de Vilna (HaGra), Guimel e
Dalet estão no lugar de Vav Heh.
A cauda do Guimel é removida, formando Vav, e essa cauda converte Dalet em
Heh.
Conforme mencionado anteriormente, Guimel é Bina-Compreensão, o primeiro Heh
em YHVH, enquanto Dalet é Malchut-Reino, o Heh final.
Uma vez que ambos, Guimel e Heh, se referem à mesma Sefirá, devem estar
próximos.
O autor responde a essa dificuldade ao dizer que Malchut-Reino, e, portanto o Heh,
deve seguir o Dalet. Por isso, diz o autor que "na cabeça, Guimel está no lugar do
Heh".

Isto é, quando se referem à Biná-Compreensão, Guimel e Heh representam a


mesma Sefirá, e Biná-Compreensão está na cabeça. Mas, "na cauda, Dalet está no
lugar do Heh.
Na Sefirá Malchut-Reino, que é a cauda de todas as Sefirot, Dalet e Heh
representam a mesma Sefirá.

Por: Aryeh Kaplan

- O Alfabeto Sagrado – Guimel - O terceiro homem

Josy Eisenberg — A terceira letra do alfabeto é o guimel; ele corresponde ao G


francês, se pronuncia como o G de "guerra" e tem uma forma particular: a saber,
esta letra parece com um homem que caminha.

Adin Steinsaltz — Notemos que no alfabeto latino a terceira letra é o C.


Mas no grego é também um guimel:"gama".
E depois a letra G ocupou outro lugar no alfabeto latino.
É uma letra estranha: ela comporta duas partes.
É uma letra e, além disso, tem pernas.
Em latim, o G perdeu suas pernas ao se arredondar.
Ao passo que no nosso alfabeto ele conservou, em sua forma, a marcha: esta letra
avança, ela se movimenta.
Como se disse anteriormente a respeito das duas primeiras, alef e bet, as letras
constroem o mundo.
Elas fixam seu quadro, comumente denominado o espaço e o tempo. Enquanto com
a letra guimel é o mundo que começa com um homem que caminha.
Ele faz parte do universo, mas ele não é todo o universo.
É apenas um homem que caminha: ele vai a algum lugar.
E se coloca a questão: para onde corre?
Daí sua relação particular com a quarta letra: o dalet.

J. E. — Guimel e dalet, com efeito, a terceira e a quarta letras do alfabeto hebraico,


de certo modo, formam um par indissociável.
Aludindo a isso, o senhor pensa evidentemente em um célebre texto do Talmud que
nos conta como, para decorar a ordem das letras da Torá e aprender o alfabeto,
algumas crianças inventaram uma espécie de cantiga que ligava as letras de duas
em duas, dando um sentido a cada letra.
Em primeiro lugar, alef e bet.
Acontece que a palavra alef é também um verbo que significa, já o dissemos,
estudar e ensinar.
Assim, em primeiro lugar se cantará alef: estuda.
Depois, como a segunda letra bet é a inicial da palavra biná, "inteligência", isto
forma uma frase iniciática: "Primeiro estuda, depois aprende a distinguir as
coisas...".
Quanto aos verbos derivados da letra guimel, suas diversas significações vão todas
no sentido do "dom".
Se associarmos o guimel com a letra seguinte, dalet, que é a inicial da palavra dal,
"o pobre", a segunda estrofe de nossa cantiga será: "Dá aos pobres!".
O início do alfabeto nos propõe um vasto programa: estuda, cultiva tua inteligência,
mas não esqueças a inteligência do coração.
Não te esqueças de ir ao encontro dos indigentes.
Diz-se até mesmo: "Procura-os, persegue-os!".

A. S. — Perseguir tem dois sentidos diferentes.


O que eles têm em comum é: "Eu corro!".
Mas, como diz o Talmud, nós corremos, eles correm, mas não atrás da mesma
coisa!
Uma das dimensões do ser humano é a de correr!
É o contrário do anjo, definido como imóvel, ao passo que o homem avança.
Se olhamos o guimel, vemos: "Eu corro atrás de alguém!"
Mas para quê?
Isso talvez porque eu o ame e queira beijá-lo, mas também talvez eu o odeie e
queira matá-lo.
Por outro lado, guimel é também um verbo que significa "retribuir algo". Será para
retribuir um favor ou, pelo contrário, para pagar na mesma moeda? Vingar-se?
Na Bíblia esses dois sentidos existem.
Trata-se sempre de uma interação.
Faço algo.
Mas este verbo guemol significa outra coisa além de "devolver": simplesmente
"dar".

- A letra da retribuição
Dar, simplesmente.
Com efeito, a utilização mais corrente do verbo guemol, derivado da letra guimel, é
o dom totalmente gratuito.
Ela procede de um célebre texto do Talmud.
O mundo repousa sobre três coisas: a Torá, o serviço a Deus, o dom totalmente
gratuito (a beneficência).
A Torá é, ao mesmo tempo, o estudo da palavra divina e, evidentemente, a
observância aos mandamentos.
O serviço a Deus era, outrora, o culto ao Templo de Jerusalém.
Ele é hoje substituído pelas preces cotidianas, denominado serviço do coração.
E enfim, terceiro pilar no qual se encontra o verbo guimel: "guemilut hassadim" —
a beneficência.
Literalmente, "retribuir bondades".
Esta expressão designa, de modo geral, a caridade, a doação de dinheiro aos
pobres ou, de preferência, às instituições caritativas, para preservar melhor o
anonimato dos pobres, mas designa também diversos deveres: hospitalidade,
solidariedade, acompanhamento no luto assim como na alegria.
Atos gratuitos, dos quais não se espera nem retorno nem recompensa.

J. E. — Pode-se fazer uma pergunta.


Qual é a relação entre este sentido da retribuição, para o bem ou para o mal?
Emprega-se, com efeito, a palavra tagmul, que vem da mesma raiz, para designar
as recompensas que Deus nos concederá no mundo vindouro ou, ao contrário, os
castigos que nos esperam se nos comportamos mal.
Qual é a relação com este outro sentido deste verbo guemol que significa
"desmamar", como se pode ver com Isaac na Torá.
Vê-se que quando uma criança não toma mais o leite de sua mãe diz-se também
que ele está no guemol.
Qual é a relação?

A. S. — Do ponto de vista da filologia, a raiz GML é próxima de GMR, "acabar".


J. E. — As letras L e R se intercambiam...

A. S. — Elas se intercambiam, com efeito, em muitas línguas.


Quando se diz que um bebe desmamou é que ele fechou um ciclo.
Guemol é o desenvolvimento.
Eu cheguei ao fim de certa etapa, mas ainda não é o fim.
Estou no meio de um processo.
Uma criança desmamada não toma mais leite.
Mas ela não é adulta.
Ela pode comer, vomitar, fazer coisas: ela não é um adulto.
Está simplesmente crescendo.
Se queremos definir o que é este homem que cresce, é preciso voltar àquilo que
dizíamos do alef que designa o início.
Os cabalistas falam de uma tríade: as três primeiras letras, alef, bet, guimel,
designam o tempo, o espaço e a pessoa humana.
É a tríade fundamental.
Depois disso, uma série de coisas acontece.
Mas essa tríade introduz o homem como ator no mundo.

J. E. — Isto talvez explique por que duas das mais importantes funções do homem,
denominadas guedula e guebura, o fato de crescer e o fato de se tornar forte, têm
um sentido também na mística judaica.
Guedula designa a "bondade", guebura designa o "rigor": ela também começa com
um guimel.
Quando a Torá diz que Isaac desmamou, isto significa que ele pode doravante ser
guibor — grande e forte...

A. S. — É exatamente o que eu queria dizer com guimel.


É a irrupção da ação humana no jogo do mundo.
Então é que se revelará sua natureza.
É aqui que os rabinos dizem que guimel representa a caridade.
Ele corre atrás do pobre para ajudá-lo.
Mas estas duas letras, guimel e dalet, juntas, têm como valor numérico
7 (3 + 4), que é o da sétima letra, zain: uma espada.
Talvez ele corra atrás do pobre para matá-lo!
Pois na Bíblia ir atrás dos pobres significa igualmente "perseguir"'.
Um célebre provérbio diz: "Aos vinte anos, corre-se atrás!"
Tu és grande, tu corres! Mas o que farás de tua corrida?
Aqui, entras em outro mundo: o do livre-arbítrio!
A segunda letra, o bet, mostrava a dualidade do homem.
Agora, esta potencialidade deverá se traduzir em atos!

J. E. — Então, justamente, eu falava de guedula/guebura.


Esta dupla, na Cabalá, designa, por um lado, a bondade, a caridade, a
solidariedade e o cuidado para com o outro e, por outro lado, o rigor.
São as duas virtudes representadas pelo braço direito e pelo braço esquerdo: dar
ou tomar.
E eis que a terceira letra se torna um intermediário: ela traz o equilíbrio. Guimel
tem dois pés: o equilíbrio absoluto.
Esta terceira letra é a síntese, que no judaísmo tem uma enorme importância.
O número 1 é importante: é Deus.
O 2 qualifica o mundo.
Mas o 3 é o equilíbrio.

A. S. — O Maharal de Praga comentou muito o número 3 e todas as possibilidades


do "triplo".
É o início de toda forma: ora, toda forma exige três dimensões.
Com um ou dois traços não há forma concluída, com volume.
Com um terceiro traço isto se torna possível: é o conceito de síntese.
Pode-se dizer que alef e bet são a tese e a antítese: o alef sendo a unidade, o bet a
multiplicidade e o guimel a síntese.

J. E. — Assim, o alfabeto hebraico não é uma série de letras colocadas


arbitrariamente em uma ordem qualquer.
Ele constitui, na realidade, um processo de criação, de desenvolvimento da
realidade em uma sucessão ao mesmo tempo lógica e matemática.
No princípio há a letra alef, que é também o número 1.
Esta letra remete sempre à unidade fundamental, a do criador, daí a profissão de fé
judaica repetida manhã e noite.
Depois se inscreve muito naturalmente a segunda letra: o bet, valor numérico 2.
Não é por acaso que com esta letra se inicia a narrativa da criação: "Bereshit — No
princípio".
É que nada é possível sem a universal bipolaridade das coisas: o céu e a terra, o
homem e a mulher.

A. S. — A unidade é autônoma: ela se basta a si própria.


Quanto à multiplicidade, ela abre a porta a todas as possibilidades.
É a síntese que permite passar à ação.
Com o guimel, tudo se realiza.
Segundo a Cabalá, as três primeiras letras constituem um nome de Deus, que
aparece como nome santo em uma das preces: alef, bet, guimel: já é o nome de
Deus.

- Três a três
J. E. — Estas três primeiras letras do alfabeto constituem, com efeito, o inicio de
uma invocação cabalística do nome divino: "Ana Bekoá Gadol" — por tua grande
força de graça.
De modo geral, o número 3 remete sempre à santidade, como no célebre texto de
Isaías: "Santo, santo, santo é o Eterno...".
Outro texto do Talmud coloca toda a identidade judaica sob o signo do tríptico.
A Bíblia judaica é, com efeito, constituída de três grandes partes.
Primeiro, a Torá, sacrossanta, revelada a Moisés no monte Sinai com seus cinco
livros, denominados Pentateuco.
Depois os Profetas: oito livros.
E, enfim, os Hagiógrafos, diversos escritos denominados Santas Escrituras: onze
livros; no total, vinte e dois livros.
A revelação é tríplice.
É também o caso do povo judeu, dividido em três grupos: os "cohen", os
sacerdotes, os "levitas", que os assessoravam no Templo, e, enfim, os judeus, por
assim dizer, "comuns", denominados Israel.

A. S. — E, claro, Abrahão, Isaac e Jacob, que é o terceiro patriarca.


É verdade que nós, judeus, sempre tivemos problemas com o número 3, problemas
teológicos.

J. E. — Nós também temos nossa própria trindade...

A. S. — Trata-se sempre desta triplicidade no tratado shabat do Talmud. Moisés,


ele próprio, é o terceiro filho.

J. E. — Diz-se em francês que os namorados vão dois a dois, mas com os judeus
tudo vai três a três...
A. S. — É também a origem da vogal com três pontos: segol, assim como de uma
nota de música bíblica constituída de três pontos.
Ora, esta vogal de três pontos, segol, significa igualmente povo eleito: segula.
Estamos ainda no mundo do livre-arbítrio.
É a terceira dimensão que dá seu sentido ao que precedia, onde tudo era ainda
apenas potencial.

J. E. — Quer dizer que "eu escolho entre o bem e o mal", eu escolho entre o alef e
o bet, mas só posso me realizar no guimel.

A. S. — É a realização!

J. E. — Pode-se dizer que no alef e no bet estávamos nas abstrações.


Alef: a abstração de Deus, bet: o mundo.
Com o guimel começa o caráter humano, que exige, justamente, que se lide com
estas forças contraditórias e que se consiga fazê-las coexistir.

A. S. — De fato.
Mas voltemos à forma do guimel.
Esta letra que caminha nos diz algo interessante: para que a realidade exista, esta
síntese não deve ser imóvel, mas dinâmica.
Em outras palavras, não é uma síntese que eu possa concluir.
Estou apenas no começo.

J. E. — Pela síntese cria-se algo novo.


A filosofia alemã falou muito da síntese, que ela denomina Aufhebung: literalmente,
erguer.
Tomo duas coisas que estão em certo nível, quando as misturo crio algo que vai
mais longe, que caminha como o guimel, que avança.

A. S. — Mas esta terceira dimensão pode também ser mortífera!


"Acabei! E não tenho mais nada a fazer."
Aqui se expressam ao mesmo tempo a perfeição e a dignidade humanas. Um
homem, no final das contas, é sempre um ser que avança, que se mexe.

J. E. — Aqui aparece o terceiro homem...


É como na política: quando há um candidato de direita e um de esquerda, as
pessoas procuram um terceiro homem.
Nos Estados Unidos, há os democratas e os republicanos, mas os eleitores esperam
um terceiro homem: o homem providencial.

A. S. — A terceira parte tem por função resolver um problema: por exemplo, o


terceiro versículo que supostamente deveria reconciliar dois versículos
contraditórios.

J, E. — E também o terceiro juiz; todo tribunal deve ter um terceiro juiz.

A. S. — Há duas possibilidades: ou crio algo novo pela síntese, ou me situo entre


duas opiniões — nem uma nem outra.
Portanto, um compromisso!
Que significa um compromisso?
Segundo o Talmud, em caso de desacordo entre dois juízes, a terceira opinião não
tem valor se é uma nova opinião.
Não se busca criar uma ideia nova, mas harmonizar os dois primeiros pareceres,
sem se situar simplesmente entre os dois.
Um dia perguntou-se ao famoso Rabi de Kotz por que ele buscava sempre os
extremos.
Ele abriu a janela e disse: "Olha! Dos dois lados da rua há calçadas e homens, mas
no meio há cavalos".
É um modo de responder.
Que faz o terceiro homem?
Às vezes, ele não decide nada, nem à direita nem à esquerda, nem a favor nem
contra o nacionalismo; ele está no meio!
É o que diz o Talmud: "O mundo repousa sobre a verdade, o julgamento e a paz".
Mas a paz, o shalom seria uma plenitude, shelemut?
Ou seria um termo positivo que mascara um conceito negativo: o contrário da
guerra.
É a não guerra: não é a paz!
Às vezes, no entanto, é preciso contentar-se com isso.

J. E. — O senhor quer dizer que a síntese não é um compromisso?


Por vezes sínteses são compromissos que não têm resultado.
É preciso ir além.
Em Israel, o senhor bem sabe, o verdadeiro shalom não é apenas a ausência de
guerra.

A. S. — Todos estes conceitos — 1, 2, 3, a terceira dimensão, os três patriarcas —


formam um triângulo fechado sobre si próprio, que não cria realmente a novidade,
mas elementos separados.
É o que dizíamos a respeito do guimel e do desmame: o bebê adquire certa
autonomia, mas ele não é verdadeiramente autônomo.
Ele é apenas suficientemente grande para não fazer mais parte do estágio anterior
e não suficientemente para se tornar uma nova figura.
Finalmente, o que caracteriza o guimel é que ele avança em uma dada direção.
De fato, se o alfabeto terminasse com a letra guimel o mundo teria se tornado uma
questão sem resposta!
É preciso ir mais longe: temos uma meta.

J. E. — Com efeito, como já o dissemos muitas vezes, as letras vão também duas a
duas, o alef vai com o bet, o guimel vai com o dalet — o rico deve ir ao encontro do
pobre e abrir-lhe sua porta.
Não é por acaso que depois do guimel — terceira letra — se apresenta o dalet —
quarta letra —, precisamente a letra do pobre.

Por: Josy Eisenberg e Adin Steinsaltz


As Letras Hebraicas – Parte 8


Dalet

Som: D

Significado: O significado da palavra Dalet é uma porta; e também pobre.


O Dalet, tem a mesma raiz hebraica de  , delet, que significa "porta",
"abertura", "entrada", "umbral".
A forma do Dalet é a de uma porta aberta, com um arco ou dintel horizontal e uma
ombreira vertical.
Todo portal é um canal de receber.
A porta deve estar aberta para aquilo que o Universo quer nos entregar.
Os umbrais são sagrados.

Diz-se que o Dalet sugere também uma pessoa prostrada por estar carregando um
fardo pesado e um pobre pedindo esmolas de porta em porta.

Como discutimos no estudo sobre o Guimel, o Talmud descreve o Dalet como um


pobre ao qual o Guimel se dirige para fazer caridade.
Pobre para Cabalá é quem não tem o desejo de receber, não sente a falta.
A capacidade para receber o que o Universo quer nos dar depende da nossa
humildade. Não estamos separados e não somos autossuficientes.
Estamos conectados a tudo e dependemos de tudo

Conceito: Dalet nos traz a sabedoria da semente.


A semente representa o início das coisas, impulsiona para o novo.
Toda semente deve enfrentar a sua solidão e ficar no ventre escuro e solitário da
terra antes de germinar.
Toda semente só é semente fértil por causa da sua desolação.
E ela deve usar a sua solidão e a sua desolação ali sozinha enterrada no solo para
romper a casca (a clipá) e dessa forma ligar-se à vida.
Esse é o aprendizado que nós temos que trazer para a nossa existência, na
condição de semente que somos também.
Cada acontecimento nesse mundo é dotado de uma semente, ou seja, uma
intenção de profundidade do Sagrado, uma intenção de brotar alguma coisa.
Cada coisa, cada evento, cada situação, desde uma pequena grama que cresce no
jardim às grandes tragédias da sua vida tem uma semente dentro, qualquer coisa
faz brotar alguma coisa.
O cabalista e o homem de Tradição são profundos observadores do mistério
inserido em cada coisa, e em todas as coisas ele percebe que existe a semeadura
do Sagrado.
Dalet faz a palavra criativa e permite uma ação individual sobre as coisas, a
concentração do pensamento e da vontade.
Ele chama para tomar posse, ordenar tudo com a força de vontade.

Formato: Na letra Dalet, temos um Vav na vertical, e outro pairando acima, na


horizontal.
O Vav ereto seria o ser humano na busca pelo Sagrado, a partir de um estado
contemplativo simbolizado pelo Vav deitado na parte superior.

Número: Dalet representa o número 4.


Este número está relacionado ao Tetragrama – o equilíbrio cósmico.
E também: 4 mundos, 4 estações, quatro direções , quatro elementos, quatro
letras do Tetragrama - totalidade, completude.
O valor 4 de Dalet simboliza o universo criado, formal e material, base de toda a
criação durável.

Espaço: No espaço, Dalet representa Marte.


Em hebraico Ma’diym, que significa vermelho.

Tempo: No tempo Dalet é responsável pela criação da Terça-feira.


Terça-feira é o dia da semana que tem maior vitalidade

Corpo: Dalet está relacionada à narina direita.

Medicina: Dalet nos trás a possibilidade da fertilidade e a frutificação de nossas


sementes.

Dom: Descendentes.
Saber planejar a própria vida e acesso a memória de vidas passadas.

Arquétipo: Yaacov.

Aplicação:
Abrir as portas de nossos sentidos.
Permanecer abertos para o nosso vilarejo.
Abrir o nosso coração para a tristeza e para a alegria.
Andar com humildade.

Sombra:
Falsa humildade.
Humildade excessiva.

Reflexão:
Qual é o desejo ardente em meu coração que sobe até o céu como uma fumaça?
Como posso agir mais plenamente conforme esse desejo?

Ações sugeridas:
Descubra um modo de abrir-se mais à situação ou à pessoa para a qual a porta do
seu coração está fechada.

Canal – Caminho: De Keter a Tiferet.

Sefer Yetziyrah: ―Com dalet ele formou Marte, o terceiro dia, a narina direita, a
semente e a desolação.‖ (S. Y. 4.14)

Comentários:
A letra Dalet representa o batente da porta
É a porta do mundo e a estabilidade da criação vinda do Bet.
Mas a penetração na matéria espessa da criação empobrece a luz de Ein Sof
(Mundo Infinito), do qual a letra Guimel possui ainda a riqueza.

O Sêfer Bahir explica da seguinte maneira:


"O que significa a letra Dalet? Ela é comparável a dez reis reunidos em um só lugar
e todos muito ricos, com exceção de um que, embora rico, era menos do que os
outros, pois, mesmo com sua grande fortuna, era pobre se comparado a eles".
O Bahir faz essa analogia porque pobre, em hebraico, dizemos "dal", inicial da
palavra escrita "Dalet" e "pobreza" dizemos "dalut".
Com Dalet e Nun temos as palavras dan ("juíz") e din ("julgamento").
O mês de Mar Cheshvan (Mês de Escorpião – Outubro/Novembro), não é apenas
um mês de julgamento divino (o Dilúvio) mas também um período em que o
julgamento humano é acentuado, ou seja, a forma como vemos as outras pessoas.
Geralmente apresentamos as letras do mês colocando na frente a letra que rege
um signo seguida pela que representa um planeta.
Em Nissan (Mês de Áries – Março/Abril) invertemos esta ordem porque Dalet e Hei
formam uma seqüência no alfabeto hebraico: Dalet tem valor 4 e, em conseqüência
disso, está associada à Chessed (Misericórdia), a quarta sefirá da Árvore da Vida;
Hei tem valor 5 e está associado à Guevurá (Julgamento).
Unindo o desejo de compartilhar (4) e o de receber (5), temos a letra Alef, que
rege a Primavera, está associada à Keter (1) e é uma das representações do Eterno
na qualidade de Echad ("Um").
Por que meditamos nas letras do mês?
As letras hebraicas são canais de revelação da Luz Espiritual.
Quando visualizamos o alfabeto hebraico e, em especial, as letras do mês, estamos
administrando o antídoto para os aspectos negativos do mês.

Dalet é a letra da sefira de Chessed.


A disciplina e a severidade são bem vindas quando aplicadas em nosso
aprimoramento (o combate à má inclinação), mas, quando se trata de outras
pessoas, devemos exercitar a misericórdia (um dos atributos de Chessed).
Dalet é "porta" em hebraico.
Quando meditamos nela evocamos a energia da humildade e da anulação do ego,
mantendo esta porta aberta para receber o outro em nossas vidas a exemplo de
Avraham (Abraão), que ficou conhecido por sua hospitalidade incondicional.
Adicionalmente, Dalet e Hei são a porta e a janela do templo, representado por
cada um de nós.
Chessed é a sefirá mais elevada que um ser humano pode alcançar, a porta que dá
passagem para a Luz Espiritual que flui dos Mundos Superiores atraída pelo desejo
de receber de Guevurá.
Dalet cria a Humildade: O Segredo para remover o Julgamento e se aproximar do
Criador
O dalet, a quarta letra do alfabeto hebraico, o homem pobre, recebe caridade do
homem rico, o guimel.
A palavra dalet significa ―porta‖, a porta fica na abertura da casa, o beit.

No Zohar, dalet é lido como ―que não tem ou possui nada (d’leit)‖.
Isto expressa a característica da mais inferior das Emanações Divinas, a sefirá de
Malchut, ―reino ou reinado‖, que não possui nenhuma luz além daquela que recebe
das sefirot mais elevadas.
No serviço a D’us realizado pelo homem, o dalet caracteriza ―shiflut‖, ―humildade‖,
a percepção de que a pessoa não possui nada.
Juntamente com a consciência do seu poder de livre-arbítrio, a pessoa deve saber
que D’us lhe concede o poder de alcançar sucesso, e não pensar, D’us não permita,
que suas conquistas originam-se de ―meu poder e da força de minha mão‖.
Qualquer feito neste mundo — particularmente a realização de uma mitzvá, o
cumprimento da vontade de D’us — depende da ajuda Divina.
Isto é especialmente verdadeiro na luta da pessoa contra sua má inclinação, seja
ela manifestada por meio de uma paixão física, da resistência obstinada em aceitar
o jugo dos Céus, ou por apatia, preguiça, etc.
Como ensinam nossos Sábios: ―Não fosse pela ajuda de D’us, [o homem] não
conseguiria vencer [sua má inclinação].‖
O Talmud descreve a situação onde um homem carrega um objeto pesado e
aparece outro homem para ajudá-lo, colocando suas mãos sob o objeto, quando,
na realidade, o primeiro homem está carregando todo o peso sozinho.
O segundo homem é mencionado como ―um ajudante simplesmente aparente‖.
Assim somos nós, explica o Baal Shem Tov, com relação a D’us.
Definitivamente, toda a força da pessoa vem de Cima.
O livre-arbítrio não é nada mais do que a expressão da vontade da pessoa de
participar do ato Divino.
Ela simplesmente coloca sua mão sob o peso carregado exclusivamente por D’us.

―Para o Senhor, D’us, é bondade, pois o Senhor retribui ao homem de acordo com
seu ato.‖
O Baal Shem Tov observa: De fato o pagamento de acordo com o feito da pessoa
não é um ato de bondade (chessed), mas de julgamento (din)! Ele responde: ―de
acordo com seu ato‖ pode ser lido ―como se o ato fosse seu‖.
Assim, a bondade suprema de D’us é revestir a recompensa ―imerecida‖ com uma
aparência de merecimento, a fim de não envergonhar o receptor.
O Nome de D’us neste versículo é Adnut, que também são as letras da palavra
hebraica diná, ―julgamento‖, indicando o aspecto Divino de julgamento através do
qual a benevolência de D’us (chessed) se expressa de forma mais ampla.
O Zohar lê chessed como chas d’leit, ―tendo compaixão do dalet‖, i.e., daquele que
não possui nada.

Com relação a uma pessoa arrogante, diz D’us:


―Eu e ela não podemos habitar juntos.‖
A porta para a casa de D’us permite entrar aquele que é humilde de espírito.
A própria porta, o dalet, é a qualidade da modéstia e da humildade, conforme
explicado acima.
O dalet também é a letra inicial da palavra dirah, ―morada‖, como na frase, ―a
morada [de D’us] aqui embaixo‖.
Assim, o significado completo de dalet é a porta pela qual o humilde entra para
construir a morada de D’us aqui embaixo.

O dalet é a quarta letra do alef-bet. O Talmud diz que o dalet representa a pessoa
pobre. Daí a expressão gomel dalim: o benfeitor que doa ao beneficiário.
O Talmud também nos diz que quando observamos o formato do dalet, sua única
perna se estica para a direita — na direção do guimel.
Isso ensina ao pobre que ele tem de se tornar disponível para receber a caridade
do benfeitor.
Similarmente, a pequena extensão no lado direito da barra horizontal do dalet se
parece com uma orelha, pois o pobre deve sempre estar ouvindo pela presença do
homem rico.
No entanto, o lado esquerdo desta barra não confronta o guimel, o doador, mas fica
de frente para a esquerda, na direção da letra hei, que representa D'us.
Isso nos ensina que devemos doar discretamente para caridade, e não constranger
o pobre.
Este deve colocar sua fé em D'us, que é o supremo Doador do universo.
A Mishná nos diz que no Templo Sagrado, havia um aposento chamado "a Câmara
Silenciosa".
A pessoa devia entrar sozinha nesta sala e fechar a porta diretamente atrás de si.
Na sala havia uma grande caixa.
A pessoa tinha uma opção; colocar dinheiro na caixa ou tirar algum para si.
Obviamente, o homem rico colocava dinheiro ali. E após ele, também sozinho,
entrava o pobre, que tirava dinheiro.
Tudo era feito discretamente.
O homem rico não podia ver para quem estava fazendo caridade. O pobre não
sabia de quem estava recebendo.
Uma segunda abordagem ao formato ou desenho do dalet é que representa um
batente ou um dintel.
A linha vertical é o batente; a linha horizontal é o lintel.
Qual é a conexão entre a porta e o homem pobre?
Geralmente, um homem pobre precisa bater às portas.
Há também uma terceira interpretação fornecida pelos ensinamentos da Chassidut.
Essa opinião enfatiza que o dalet é composto de um reish e um yud.
Qual a diferença entre o dalet e o reish? Um yud.
Se alguém afixar um yud ao canto superior direito do reish, o reish se torna um
dalet.
O yud, uma letra muito pequena, representa a humildade.
Essa humildade é o que separa o reish do dalet.
A mezuzá em nossos batentes contém o famoso parágrafo da prece conhecida
como o Shemá.
No Shemá dizemos: "Ouve, ó Israel, o Eterno é nosso D'us, o Eterno é Um."
A palavra echad, um, como em "D'us é Um", é escrita com as letras alef, chet,
dalet.
O que acontece se o yud for removido do dalet e este se tornar um reish?
A palavra não é mais echad, mas ―acher‖, ―outro‖.
Se este erro for cometido, então ficaria: "Ouve, ó Israel, o Eterno é nosso D'us, o
Eterno é outro (i.e., outros deuses)."
Tão crítico é o aspecto de yud, humildade, na crença na unicidade de D'us, que sua
omissão poderia causar rejeição a D'us, que Ele não permita, e a crença em outros
poderes onipotentes no universo.
O Midrash nos diz que se alguém trocar o reish pelo dalet, está destruindo todos os
mundos.

A Guematria do dalet é quatro. Quatro representa as Matriarcas: Sara, Rivca,


Rachel e Lea. Representa também os quatro mundos criados conforme é explicado
na Cabalá: Atsilut, Beria, Yetsira e Assiya.
Além disso, dalet significa os quatro elementos básicos da Criação: fogo (energia),
ar (gás), água (líquido) e terra (sólido).
O quatro também representa a Festa de Pessach: os quatro copos de vinho, os
quatro filhos, as quatro perguntas.
Qual é o motivo de bebermos quatro copos de vinho em Pessach?
Há quatro expressões de redenção na Torá. Quando D'us tirou o povo hebreu do
Egito, Ele disse: "Eu vos tirarei"; Eu vos salvarei"; "Eu vos redimirei"; e finalmente
"Eu vos tomarei para Mim como nação'''.
As primeiras três expressões envolvem a intervenção do próprio D'us em tirar o
povo hebreu do Egito.
Os hebreus permaneceram passivos.
Porém a quarta — tornar-se a nação de D'us —exigiu ação tanto pessoal quanto
comunal por parte do povo hebreu.
O que significa tornar-se a nação de D'us e como nos preparamos?
Purificando-nos.
O Zohar afirma que na época do Êxodo, o povo hebreu estava no quadragésimo
nono nível de impureza.
Se tivessem ficado no Egito somente um instante a mais, teriam caído no
quinquagésimo e mais baixo nível, e se perdido para sempre.
Não foi por causa de sua bondade que mereceram ser redimidos.
Foi por causa da benevolência Divina: "Eu vos tirarei," "Eu vos salvarei," "Eu vos
redimirei."
Mas como, em última análise, D'us redime o povo hebreu?
Fazendo deles Sua nação e dando-lhes a Sua Torá.
Este quarto item de redenção não ocorreu até Matan Torá, quando D'us deu a Torá
ao povo hebreu.
Matan Torá ocorreu quarenta e nove dias após os hebreus deixarem o Egito.
Durante quarenta e nove dias, nos preparamos para sermos dignos de ser o Seu
povo.
Nas primeiras três etapas da redenção, fomos passivos e indignos.
O quarto nível tivemos de merecer.
A diferença entre as três primeiras e a quarta expressão é significada pela diferença
entre matsá e vinho.
A matsá é um alimento que não tem sabor. Segundo a Halachá, a matsá para o
Seder de Pessach e feita simplesmente misturando-se farinha e água — é chamada
"o pão do pobre". Quando o povo hebreu foi tirado do Egito, foi num estado de
pobreza espiritual, indigno da redenção. Éramos como a matsá, sem sabor.
Porém no decorrer dos quarenta e nove dias seguintes, trabalhamos em nós
mesmos.
Começamos a compreender e interiorizar aquilo que a Torá representa.
Erguemo-nos dos quarenta e nove níveis de impureza para os quarenta e nove
níveis de entendimento.
Reconhecemos a D'us.
Quando começamos a entender o que significa ser o povo de D'us, ficamos repletos
de júbilo. É por este motivo que bebemos vinho, porque está escrito: "Não há
canção sem vinho." Bebemos vinho para que possamos reconhecer plenamente
nossa redenção do Egito e entoar louvores a D'us com grande alegria.
A matsá representa as primeiras três expressões — a intervenção de D'us em prol
do povo judeu quando eles estavam "planos", passivos.
Os quatro copos de vinho representam a quarta expressão — tornar-se uma nação,
o papel ativo e o compromisso dos hebreus.
Há uma outra maneira de diferenciar entre as três matsot e os quatro copos de
vinho. Três representa o potencial; o quatro representa o desenvolvimento daquele
potencial. Na libertação dos hebreus do Egito, D'us representa o três: investindo
Seu potencial no povo com as três expressões de redenção.
O quatro representa o povo, que completa o processo.
O potencial (três) também pode ser representado pelo pai, o investidor no
potencial, com o desenvolvedor (quatro) representado pela mãe.
Podemos agora entender por que havia três pais e quatro mães.
O pai (investidor do potencial) fornece a semente, e a mãe (o desenvolvedor) a
recebe e a refina. O pai é o benfeitor biológico e a mãe o beneficiário biológico.
O pai, portanto, é representado pelo três.
Os três Patriarcas são o guimel, o doador, a terceira letra do alef-bet.
A mãe, receptora e beneficiária, é representada pelo dalet, as quatro Matriarcas.
Uma vez que o potencial tenha sido realizado (i.e., o filho nasceu), é possível se
rejubilar.
O símbolo do júbilo é o vinho, representado pelo número quatro e correspondendo
às quatro mães.
Portanto a mãe não somente recebe a semente, ela a desenvolve.
Em termos práticos, deve-se primeiro reconhecer o âmago de uma ideia a fim de
explicar sobre ela. No Seder de Pessach, reconhecemos o fato de que D'us nos tirou
do Egito. Agradecemos a Ele bebendo quatro copos de vinho, fazendo quatro
perguntas e falando sobre os quatro filhos.
Com quatro, apreciamos tudo que nos aconteceu para nos trazer até este dia —
incluindo nossa própria participação em trazer isto a um novo nível.
Mas para representar a participação somente de D'us ao a retirada do Egito,
comemos somente três matsot.
Pois no momento em que D'us os tirou de lá, o futuro do povo hebreu estava
apenas no potencial.
Estavam num estado de matsá; recipientes inativos num estado de pobreza
espiritual.
Por meio dos nossos esforços, levamos o três ao quatro — do potencial para a
realização.
O significado de dalet é delet, uma "porta". Também significa dai, uma pessoa
pobre. Finalmente a palavra dalet representa dilitani, que significa "eleve-me".
Como essas três definições trabalham juntas?
A convergência ocorre quando cada indivíduo percebe que ele ou ela é pobre.
Essa pobreza não denota necessariamente um estado de desejo financeiro.
Em vez disso, significa que tudo que a pessoa "possui" na verdade pertence a D'us.
D'us foi bom o suficiente para nos dar vida.
D'us foi bom o suficiente para nos dar o sustento.
Sem D'us, nada temos.
O reconhecimento disto é a porta para a câmara de D'us.
E uma vez que tenhamos entrado naquela câmara, D'us nos elevará — dilitani —
para nos abençoar com vida, saúde, sustento e sucesso.
No Salmo 30 do Livro dos Salmos, o Rei David nos diz: "Louvo a D'us porque Ele
me eleva (dilitani)." Se pusermos essa frase ao contrário, podemos dizer: Dilitani —
"Porque D'us me eleva, Eu louvo a Ele."
Nesta expressão, D'us me eleva dando-me o talento para ser produtivo.
Isso me permite louvar a Ele a partir de um nível mais elevado.

Aplicação:
Quando surge em nossa vida, o Dalet nos incita a examinar a natureza da
verdadeira riqueza.
O Dalet nos pede para abrir nossa porta e receber as dádivas que o universo quer
nos entregar.
Nossa capacidade de reconhecer e receber essas dádivas depende de nossa
humildade.
Não é fácil reconhecer que somos necessitados e permitir-nos aceitar o que os
outros nos oferecem.
Quando não somos presunçosos, quando somos pobres de ego e de opiniões, a
porta se abre para que a inspiração e as dádivas divinas entrem em nossa vida.
Selecionar o Dalet é um lembrete para cultivar a humildade.
Quando nos tornamos arrogantes e nos inflamos com nossa própria importância,
esquecendo-nos de reconhecer a centralidade de Deus?
A palavra humildade vem de "humus", que significa "terra".
A palavra "humano" tem uma etimologia semelhante, assim como a palavra
hebraica  , Adam, que significa ao mesmo tempo "homem" e "terra".
Quando nos tornamos mais humildes, nos tornamos mais humanos.
A humildade vem da conexão com nossas raízes, perto do solo.
O Dalet, encurvado para o chão, nos convida a recordar essa conexão, que nosso
corpo e nosso alimento, e nossa própria vida, dependem da terra.
Não estamos separados, e não somos autossuficientes.
Estamos, ao contrário, conectados a tudo e dependemos de tudo.
Quando estamos passando por uma época difícil, sentindo-nos tristes e pobres, o
Dalet é a voz de estímulo que diz que essa mesma dificuldade pode ser a porta pela
qual bênçãos ainda maiores entrarão.
O controverso rabino Jesus disse:
"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus".
Receber dádivas e bênçãos de graça pode em si mesmo ser uma dádiva oferecida
aos outros.
O Talmud diz que a mãe quer alimentar o bebê mais do que o bebê quer o
alimento.
Às vezes damos, às vezes recebemos.
Às vezes a porta gira num sentido, às vezes no outro.
Se estivermos abertos para qualquer situação — não carregados de idéias
arrogantes sobre nós mesmos, por um lado, nem de idéias excessivamente auto
condenatórias, por outro —, encontraremos a resposta adequada.
Os sentidos são as portas de nosso corpo.
Ao abri-los mais completamente, as bênçãos fluem com naturalidade.
Essas bênçãos nos agraciam com as riquezas do mundo comum, sob formas como
o canto de um pássaro, o reflexo da luz do sol sobre folhas verdes, o cheiro da
cebola, o sabor da maçã.
Quando nosso tempo está tomado por atividades e pela preocupação arrogante
com assuntos "mais importantes", e nossa mente está cheia de idéias, nós
fechamos a porta para essas bênçãos simples, para a humilde vida cotidiana que,
afinal, é nossa única vida.
Nos vilarejos maias tradicionais das montanhas da Guatemala, as casas têm
entrada, mas não têm porta.
Não há, na verdade, uma palavra que signifique "porta" na língua maia.
A entrada permite o livre fluxo de sons e vistas e a entrada e saída de pessoas na
casa, cada casa estando conectada ao resto do vilarejo conforme um antiqüíssimo
padrão natural e familiar.
Nos últimos anos, depois que as portas foram introduzidas em muitos desses
vilarejos, as pessoas começaram a proteger mais seus pertences e a compartilhar
menos; a socialização informal diminuiu e os furtos aumentaram.
Em pouco tempo todos começaram a pôr cadeados nas portas e a mantê-las
fechadas.
A estrutura social desses vilarejos se desfez.
Uma das mensagens do Dalet para nós é a descoberta de um modo de permanecer
abertos para nossos vilarejos.
Entradas definem um dentro e um fora e conferem uma proteção importante, mas
portas fechadas e travadas podem bloquear a circulação saudável de pessoas e
idéias.
O Dalet nos pede para abrir a porta para nosso coração.
O sofrimento do mundo e a dor em nossa própria vida pode nos levar a um
fechamento, a cerrar a porta diante dessas dificuldades emocionais.
O Dalet nos estimula a ter a coragem de enfrentar esses sentimentos, abrirmo-nos
a eles.
"Coragem" vem de coeur, "coração" em francês.
É corajoso sentir, com o coração, as desgraças do mundo.
Boa parte de nossa vida e da cultura moderna se baseia, na verdade, em distrair-
nos do cotejo com essa dor.
Preces simples e sinceras têm grande poder.
O hassidismo emergiu na Europa oriental, no século XVIII, como reação contra a
natureza livresca e abstrusa do judaísmo erudito tradicional e das práticas
cabalísticas esotéricas.
O hassidismo enfatizou a importância da prece humilde e sincera.
Um antigo mestre escreveu:
"Não pense que as palavras da prece vão até Deus quando você as pronuncia.
Não são as próprias palavras que sobem, mas o desejo ardente de seu coração que
sobe, como uma fumaça, até o céu.
Se sua prece consiste apenas em palavras e letras e não contém o desejo de seu
coração, como ela poderá alcançar Deus?"
O Dalet nos dá a confiança de que, se oferecermos nossas preces de maneira
humilde e sincera, a sabedoria e a criatividade fluirão para nós.
Durante um Rosh Hashanah, o Baal Shem Tov instruiu seu discípulo, o reb Wolf
Kitzes, no modo certo de tocar o shofar, o chifre do carneiro.
O Baal Shem ensinou-lhe as kavanot, ou as intenções piedosas específicas de que o
aluno precisava para concentrar-se, durante cada sopro.
Mas, no serviço, quando chegou o momento de tocar, o pobre reb Wolf, nervoso,
esqueceu-se de todas as kavanot e de todas as preces.
Era tudo o que ele conseguia fazer para tocar o shofar na seqüência certa.
Depois, estava infeliz, de coração partido, e com lágrimas nos olhos confessou ao
Baal Shem Tov seu fracasso em manter a kavanah apropriada ao tocar o shofar.
O Baal Shem Tov o confortou com a seguinte história:
Existem muitas chaves para as várias portas da casa de Deus.
Mas existe uma chave-mestra que abre todas as portas.
A chave-mestra é o machado.
Cada uma das kavanot para o shofar é como uma chave que abre uma das portas.
A chave-mestra, o machado — ensinou o Baal Shem Tov —, é o coração partido.
Com a chave-mestra, todas as portas se escancaram e vai-se diretamente à
presença de Deus.
Paradoxalmente, quando abrimos nossos corações à plenitude da mágoa e da
tristeza, nós nos abrimos para receber alegria também.
Os mestres hassídicos ensinam que uma das melhores maneiras de abrir nosso
coração é por meio do canto e da dança.
O rabino Nachman de Bratislava, neto do Baal Shem, disse:
"O modo mais direto de nos ligarmos a Deus a partir deste mundo material é por
meio da música".
Escreveu também:
"Adquira o hábito de cantar canções. Isso lhe dará uma nova vida e vai enchê-lo de
alegria".
E, em outra passagem, disse:
"Adquira o hábito de dançar. Isso afasta a depressão e expulsa o sofrimento".
As niggunim, melodias sem letra dos hassidim, têm o poder de abrir as portas do
coração a sentimentos simultâneos de alegria e tristeza.
Podemos incorporar a ressonância do Dalet aprendendo e cantando regularmente
algumas dessas canções simples e bonitas.
Um dos modos como a pobreza ou humildade do Dalet se manifesta é na renúncia
ao nosso apego à noção de um eu como algo separado dos outros.
Quando abandonamos as barreiras entre nós e "os outros", e entre nós e Deus, o
resultado é que nos abrimos profundamente.
As portas se escancaram.
Walt Whitman exortava: "Desatarraxe as travas de suas portas! / Desatarraxe as
pró-prias portas de seus umbrais!"
O Dalet é o número quatro.
O quatro é um número de totalidade, plenitude e completude.
Existem quatro elementos, quatro direções cardeais, quatro estações, quatro
Mundos na cosmologia cabalística e quatro letras no Nome Sagrado de Deus

( , Yud/Hei/Vav/Hei).
Paradoxalmente, o empobrecido e necessitado Dalet incorpora esse número de
totalidade.
Abandonando tudo, sem possuir nada, o pobre Dalet recebe as bênçãos de todo o
universo.
Em seu vazio mesmo, o Dalet se torna repleto.
O Dalet nos estimula a não ter medo de ser "pobres de Espírito".
Ele promete uma profunda plenitude e completude, com os quatro elementos, as
quatro direções, as quatro estações e o Nome Sagrado conspirando para fazer
entrar novas bênçãos pelas portas da nossa vida.

A Sombra do Dalet:
Uma das sombras do Dalet é a da falsa humildade.
Alimentamos um desejo de ser elogiados por ser nobres em nossos sacrifícios ou
em nosso comportamento exterior modesto?
Temos orgulho de nossa humildade?
Selecionar a letra pode ser um lembrete para ficarmos atentos a essa tendência
sutil.
Uma outra sombra do Dalet é a humildade excessiva.
A falta de autoestima é epidêmica em nossa cultura, levando à depressão e a
comportamentos autodestrutivos.
Em muitos casos, um pouco menos de humildade e um pouco mais de orgulho
podem ser exatamente o necessário.
Comentários Pessoais por Richard Seidman
Olá, Dalet.
Uma das razões por que temos mezuzzot em nossas portas é para nos lembrarmos
de que os umbrais são sagrados.
Entrar e sair — é disso que nossa vida é feita.
O ar entra e sai de nossos pulmões, o sangue entra e sai de nosso coração, as
idéias entram e saem de nossa mente — entrar e sair, entrar e sair.
Meu avô tinha um plano para entrar no céu.
Ele ficaria abrindo e fechando os portões do céu.
Por fim, o guardião dos portões gritaria, exasperado:
"Chega! Entre ou saia de uma vez!" — e meu avô entraria.
O Dalet, por outro lado, está ao mesmo tempo dentro e fora, nem dentro nem fora.
Ele representa a liberdade do umbral.
No umbral todas as coisas são novas.
No umbral tudo é possível.
Nosso tesouro está logo ali — no umbral!

Textos Complementares:

 Dalet - LeDavek (Aderir, Unir)


Disse mais o Senhor Deus:
"Não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja
idônea."
... Então, o Senhor Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu;
tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne.
E a costela que o Senhor Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e
lha trouxe.
E disse o homem:
"Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa,
porquanto do varão foi tomada."
Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois
uma só carne.
Gênesis 2:18, 21-24

A Adão, o primeiro homem, foi atribuída a tarefa de nomear todas as plantas e


todos os animais da terra.
Nesse processo, ele percebeu que para cada animal macho havia uma fêmea
correspondente e que só ele estava sozinho neste mundo.
Nenhum dos animais parecia igualar-se a ele e tampouco nenhum deles tinha as
capacidades de pensar e de se expressar com as quais ele havia sido dotado.
Como Adão acabou se entristecendo com esse fato, Deus criou a Mulher.
No início, Adão ficou tão espantado diante dessa criatura, um ser humano feito
literalmente de uma parte de si mesmo e obviamente com o propósito de ser sua
companheira de vida, que não conseguiu encontrar o nome certo para ela.
E, por isso, ele usou a palavra ―isso‖ para descrever sua nova companheira!
A Mulher representou uma nova realidade para Adão.
Apesar de ter a capacidade para dar nomes aos animais quase imediata e
instintivamente, quando diante de um novo ser humano, Adão ficou de certa
maneira quase sem fala.
A Mulher, em outras palavras, apresentou para Adão o desafio de ser considerada
sua semelhante.
Na realidade, a expressão ―ezer kenegdo‖ (traduzida aqui como "uma ajudante à
altura dele") significa literalmente "uma ajudante em oposição a ele".
Isso não é para ser tomado negativamente; pelo contrário, quando duas pessoas
que foram feitas realmente uma para a outra se unem, elas se ajudam
mutuamente ao se desafiarem mutuamente — deixando a outra de certa maneira
quase sem fala — e, com isso, elas aprendem um novo modo de se relacionar com
o mundo e, portanto, se tornam adultas plenamente conscientes.
A Mulher, que passaremos a conhecer como Eva (―Chava‖ em hebraico), logo irá
comer do fruto proibido da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal e, em
conseqüência disso, o casal será expulso do Jardim do Éden, dando início à longa
história da humanidade — que é cheia de lutas e sofrimentos, mas também de
prazer.
Mas aqui, nesses primeiros instantes da criação de Eva, Adão percebe que a união
deles é algo que nunca mais acontecerá da mesma maneira.
Homens e mulheres se acasalarão, mas jamais voltarão a ser criados da mesma
carne e dos mesmos ossos, e Adão reconhece isso muito claramente.
O verbo hebraico ―LeDavek‖ significa "aderir", apegar-se firmemente a algo.
Assim como duas pessoas se tornam literalmente uma no ato sexual, elas também
se tornam uma emocionalmente e espiritualmente quando se unem como parceiros
de vida e juntas decidem criar uma nova unidade familiar.
Para fazer isso com integridade de sentimentos, elas têm que deixar para trás o
primeiro lar, os primeiros vínculos com os pais e irmãos e colocar essa nova pessoa
em primeiro lugar.
Esse tipo de vínculo estreito precisa ser levado muito a sério e tomado com
intenções verdadeiras — em outras palavras, para estabelecer um matrimônio
verdadeiro e duradouro, as pessoas precisam apegar-se uma à outra, o que é
diferente de qualquer outro vínculo que tenha tido até então.
A letra Dalet, entretanto, não sugere fechamento, mas antes abertura.
Observe sua forma: uma linha vertical e uma linha horizontal curta em cima.
O caractere é formado de dois lados abertos, ilustrando o tipo de ampla abertura e
disponibilidade necessário para a pessoa encontrar aquela à qual queira aderir.
A primeira união é como a dicotomia máxima yin/yang: Adão e Eva são feitos da
mesma matéria, embora sejam contrários.
Eles completam um ao outro e formam uma nova unidade total da qual vai nascer o
resto da humanidade, embora eles sejam, desde o início, pessoas totalmente
diferentes e com maneiras totalmente diferentes de encarar a vida.
Apesar de eles não terem enfrentado os mesmos desafios que nós enfrentamos
hoje (eles só tinham um ao outro para escolher, enquanto nós temos milhares de
possibilidades ao nosso dispor!), eles continuam sendo o nosso primeiro modelo da
abertura necessária para a escolha de uma pessoa dentre todas as outras.

A carta Dalet representa o paradoxo das relações.


Assim como Eva foi a companheira insuperável de Adão, ela também foi a causa de
sua vida de sofrimento, os nossos esforços espirituais são tanto o que nos leva à
suprema realização quanto o que nos mantém acordados à noite, indagando sobre
o sentido da vida.
A palavra Deveikut, que designa o ato da união, não é usada apenas no contexto
das relações românticas.
É verdade que os casais de amantes se ligam um a outro, mas os indivíduos
também se juntam para apoiar redes, e as almas aderem a uma força superior que
as sustenta nos momentos mais obscuros.
E, muitas vezes, é justamente a pessoa ou a idéia com a qual temos mais
dificuldade que vai nos ensinar as lições mais importantes da vida.
Concentre-se no lado aberto do Dalet e permita-se ser aberto à dependência.
Você sempre será o seu próprio ser único, embora possa muitas vezes temer
perder essa individualidade ao fundir-se na vida de outra pessoa.
Saiba que, se estiver suficientemente aberto para elas, as relações nas quais você
se envolve terão poder de simplesmente criar mundos totalmente novos.

Por: Deepka Chopra


O Bahir (com comentários de Aryeh Kaplan)

27. Perguntaram-lhe os estudantes: O que é a letra Dalet?


Ele respondeu: Como é? Dez reis estavam em determinado lugar.
Todos eram ricos, mas um deles não era tão rico quanto os outros.
Mesmo sendo ainda muito rico, é pobre (Dal) em relação aos Outros.

Comentário:
Em geral, diz-se que Dalet, a quarta letra do alfabeto hebraico, representa Malchut-
Reino, a última das Dez Sefirot.
Enquanto cada um dos outros nove dão ao que estão abaixo de si, Malchut-Reino,
sendo o mais inferior, não pode dar.
Como não pode dar, de maneira alguma se assemelha a Deus, e, nesse sentido, é
chamado de pobre.
Assim como os absolutamente destituídos, apenas recebe, mas não pode dar.

36. Seus alunos perguntaram: Por que a letra Dalet é grossa dos lados?
(É engrossado, e não é escrito por uma linha fina, como no Resh)
Ele respondeu: Por causa do Segol que está no pequeno Patach. (Patach e
Segol são pontos vogais. O significado é um tanto ambíguo, mas pode se
referir ao formato da letra, que se assemelha ao Patach e ao Segol.
Alternativamente, pode se referir ao fato de que na palavra Dalet, a
primeira vogal é um Patach, e a segunda é um Segol. Dalet significa
"porta", e Patach, "abertura". A respeito do Segol, ver versos 89, 90, 178)
Está, portanto, escrito (Salmos 24:7): "As aberturas (pitchey) do Mundo."
Ali Ele colocou um Patach acima e um Segol abaixo. Por isso é grossa.

Comentário:
A letra Dalet consiste de duas linhas, uma ao topo, da direita para a esquerda, e a
outra, do lado direito, em linha reta para baixo.
A primeira linha liga Chochmá-Sabedoria à Biná-Compreensão, enquanto a segunda
linha une Chochmá-Sabedoria à Chessed-Amor.
Patach é a vogal associada à Chochmá-Sabedoria, enquanto Segol está associada à
Chessed-Amor.
A palavra Dalet significa porta e a palavra Patach significa abertura.
Uma vez que Chochmá-Sabedoria representa a nossa mais elevada percepção do
Divino, é a abertura de Deus para Se revelar.
Segol relaciona-se à palavra Segulá, um remédio que funciona sem qualquer
motivo aparente.
Segol, portanto, corresponde à Sefirá Chessed-Amor, que dá livremente, mesmo
sem motivo.
A Sefirá Guevurá-Força, por outro lado, restringe, e dá somente o merecido, com
justiça rigorosa.
As duas "portas do mundo" são Patach e Segol. Patach é uma abertura natural,
enquanto Segol é a abertura que dá mesmo sem motivo.
Ambas estão na porta que é Dalet.

Por: Aryeh Kaplan


- O Alfabeto Sagrado – Dalet - A letra do pobre

Josy Eisenberg — A grafia hebraica é rica em ensinamentos.


Por exemplo, a sexta letra, vav, tem a forma de um colchete e significa "colchete".
Zain, a sétima letra, significa "espada".
Quando se pronuncia o nome de uma letra, não se está apenas lendo o alfabeto:
nomeia-se algo.
Assim, a segunda letra, bet, significa casa: bait.
Menos acolhedora, a oitava letra se pronuncia chet, o que quer dizer "pecado".
As três primeiras letras do alfabeto, alef, bet, guimel, correspondem em francês a
A, B, G.
Lembremos que a primeira letra do alfabeto tem em primeiro lugar um valor
numérico: alef é o 1.
Neste sentido, é o signo da unidade absoluta, e esta letra remete, por conseguinte,
a Deus, que é único.
O alef é constituído, aliás, de três letras cujo valor numérico é o do Tetragrama, 26.
Com efeito, a letra alef é formada por duas vezes a letra iud, de valor numérico 10,
portanto 20, mais o vav, de valor numérico 6.
Ora, 26 é o valor do tetragrama YHVH (10 + 5 + 6 + 5).
Resumamos: alef é a unidade; bet, a multiplicidade; guimel, o caminhar — o passo
— do homem.
Esta letra, o guimel, é praticamente inseparável da quarta letra, dalet.
Na realidade, assim como os namorados, as letras do alfabeto andam
frequentemente duas a duas.
Este casamento remonta à época talmúdica.
O Talmud conta que um dia as crianças de uma escola, para melhor decorar o
alfabeto, inventaram uma música, uma espécie de cantiga, dando um sentido a
cada letra do alfabeto e declinando-as de duas em duas.
Alef é também um verbo que significa "ensinar" e que designa o estudo.
O início da música, Alef Biná: estude a inteligência, pois a letra bet é a inicial de
biná, o discernimento.
Continuação da música: Guimel, seja caridoso com o pobre, é o sentido da quarta,
Dalet, que significa pobreza.
Acabamos de ver que há uma relação entre a terceira e a quarta letras, o guimel e
o dalet, pois é a relação daquele que dá aos pobres — guimel significa "dar" — com
aquele que recebe: o pobre, dal.
Ora, acontece que dalet, a quarta letra do alfabeto, tem duas grandes significações
principais: a pobreza, dalut, e a porta, délet.
Um francês pensará espontaneamente no amigo Pierrot: "Abra-me a porta, pelo
amor de Deus"'.
[Pierrot é personagem da cantiga popular francesa "Au Clair de la Lune".]

Adin Steinsaltz — Há certa relação entre porta e pobreza.


Mais um lugar está fechado, mais coisas há a guardar!
Observe a forma do dalet: tudo está aberto, tudo cai!
Não se pode deixar nada aí dentro!
Esta forma do dalet é significativa: é a letra que expressa a pobreza (dal: o pobre).
Na Bíblia, dal é apenas uma das numerosas palavras que designam a pobreza; há
até mesmo demasiadas palavras!
Ani, rash, dal, evion etc.
Todas significam "pobre" ou "desprovido".
Cada uma tem seu próprio sentido: o dal designa mais aquele que não tem nada...
Ao contrário, chama-se evion àquele que deseja.
O dal, este, não tem absolutamente nada.

J. E. — Há, infelizmente, muitos modos de ser ou de se sentir pobre.


Para retomar seu exemplo da palavra evion, ela vem de um verbo que significar
"desejar".
Traduz-se frequentemente por "pobre" ou "humilde", de modo incorreto. Há, com
efeito, um terrível versículo na Torá no qual se recomenda a caridade dizendo:
"Saiba que haverá sempre evion(s) sobre a terra!"
Seria desesperador se traduzíssemos por "pobre".
É preciso, portanto, compreender: haverá sempre, mesmo que se consiga vencer o
pauperismo, pessoas carentes e que têm desejos insatisfeitos.
É preciso lembrar que dal vem de dalal, "emagrecer".
Um dia este homem teve algo e agora se tornou pobre, não tem mais nada.

A. S. — É realmente aquele que nada tem.


O símbolo desta vacuidade é "o pobre no cosmos", a saber, a lua.
Ela não tem luz própria: só pode recebê-la de outrem.
Eis por que o dal é carente.
É o sentido da forma do dalet em relação ao guimel: o pobre está sempre
estendendo a mão.
E ele o faz sempre nas "costas" das pessoas.

J. E. — Lembro que o dalet vira as costas para o guimel.


[Assim como se disse que o bet dá as costas ao alef, o mesmo se repete aqui, no
caso do dalet em relação ao guimel. Lembrando novamente que o alfabeto hebraico
é lido da direita para esquerda e considerando a forma do dalet, pode-se
compreender a imagem evocada por Josy Eisenberg.]

A. S. — Por quê?
Porque ele tem vergonha.
Existem pessoas tão pobres que elas não têm mais vergonha.
Mas existem aquelas que buscam ainda preservar sua dignidade.
Elas precisam receber, elas mendigam, mas não querem mais ver aqueles que lhes
dão.
"Não ver quem dá" é um tema fundamental na concepção judaica de caridade.
Ainda que isto represente um inconveniente: aquele que recebe não pode
agradecer!
Ele recebe sem estar face a face com aquele que dá.
Ele vai aqui e ali para receber, está certamente incomodado, mas ele estende a
mão!
O conceito de dal tem, no entanto, um sentido muito mais amplo.
Ele engloba situações que nada têm a ver com a pobreza material.
Pode-se até dizer que, mesmo se entre nós existem pessoas mais ou menos ricas,
pessoas que possuem e outras que nada têm, quando nos encontramos diante de
Deus somos todos pobres.

J. E. — Nossa pobreza espiritual é o que Pascal denominava "a grande miséria do


homem sem Deus"; é um tema que volta sem cessar nas preces de ano novo e de
Kipur, o Dia do Perdão.
Este tema, retomado por Jesus, quando ele falava dos pobres de espírito, se
expressa por esta fórmula remanescente na liturgia de Kipur: "Somos pobres em
méritos".
Dizemos até mesmo: "Somos pobres e vazios!".
A pobreza material não é a única.
Existe também a pobreza espiritual: pobres em méritos.
No Evangelho encontra-se a mesma ideia: "Felizes os pobres de espírito...".
É a ideia de humildade.

A. S. — Enquanto um pobre sabe que é pobre, ele tem pelo menos uma vantagem:
ele sabe onde se encontra!
Eis por que o Talmud diz que existem três coisas insuportáveis para o espírito: uma
delas é um dal orgulhoso!
Pois o pobre tem que saber que é pobre.
É precisamente porque ele não tem nada que ele pode receber!
Aquele que é orgulhoso nunca pode receber algo!
Mas o homem que se sabe pobre, ele sim, pode receber!
Existem numerosas metáforas para ilustrar esta capacidade de receber quando
nada se tem: menos se possuem coisas, mais se pode receber.
Os rabinos citam com frequência o seguinte exemplo: "Qual é a parte do olho que
me permite ver?"
Não é o branco do olho, mas sua parte preta, como um "buraco preto".
É o centro do olho, mas é "vazio"!
É como na física, a matéria escura, o buraco negro: é ele que recebe.

J. E. — É preciso acrescentar que a palavra dalet significa em aramaico "aquele que


não tem", o que poderia ser o símbolo do povo judeu.
O povo judeu é comparado à lua, que não tem luz própria: em certo sentido, a letra
dalet — a pobreza — é simplesmente o símbolo da existência do povo judeu.
O povo judeu "deve reconhecer" não somente que ele não tem nada por si próprio,
mas que, além do mais, recebe tudo de Deus.
A relação com a lua é muito forte no judaísmo.
Se o ano é solar, o calendário do mês é fixado segundo o ritmo lunar, daí a
cerimônia mensal da lua nova.
A lua é o símbolo da humildade.
Os astros foram outrora objeto de diversos cultos pagãos: a Bíblia fala
frequentemente dos adoradores do sol, da lua e das estrelas.
No judaísmo, ao contrário, a lua constitui a imagem celeste da identidade do
crente.

A. S. — A humildade é o fundamento absoluto.


Israel é denominado "pequeno", assim como Jacob e David.
Sentir que se é pequeno, pobre!
Eis o que representa o dalet.
Por um lado, nada receber, mas por outro ser disponível para receber.
Eis por que dalet significa igualmente "porta".
Pois o que está fechado é inapto a receber.

J. E. — Receber no sentido material e intelectual...

A. S. — Ser capaz de receber!


Existe um velho provérbio: "Todo louco é orgulhoso e todo orgulhoso é louco".
Pois se tudo sei nada posso aprender.
Se tudo tenho, nada posso receber.
Saber que se é carente é o início do enriquecimento.
É o grande princípio da Cabalá.
Na Cabalá, o dalet representa a décima emanação: a realeza, isto é, a capacidade
da humanidade de aceitar a soberania divina.

J. E. — É também o signo de David.


O nome "David" começa com a letra D, a letra dalet, e é David que representa a
verdadeira realeza.

A. S. — Realmente, dalet simboliza também a realeza.


Durante muito tempo, para representar o Nome divino, utilizou-se a letra dalet com
um traço em cima.
Hoje usa-se a letra hei.
Há cinquenta anos escrevia-se ainda dalet, a letra que expressa o fato de receber.
Pois a realeza é a décima sefirá, que não possui nada: a sefirá pobre.

J. E. — Estas considerações cabalísticas merecem, sem dúvida, um breve


comentário.
Segundo a Cabalá, existem dez emanações ou sefirot.
Elas vão do Deus infinito ao mundo finito.
A primeira é a vontade, a décima, o mundo físico: a realeza ou, mais exatamente,
o reino de Deus sobre a terra.
Esta realeza, sobre a qual acabamos de falar, é entre os homens o reflexo da
soberania de Deus.
Os reis e chefes de Estado receberam uma parte deste poder, mas para que sejam
legítimos eles ainda têm que admitir que eles não são nem o Todo-poderoso nem
totalmente poderosos.
Foi por causa de sua humildade que David recebeu a realeza.

A. S. — No livro das Crônicas, David dá a lista de tudo o que ele ofereceu para
construir o futuro Templo.
David ofereceu todo o ouro e o dinheiro necessários para os objetos do culto.
Valores absolutamente colossais que equivaleriam hoje a mais de bilhões!
E ele declara: "Eu, o pobre, eis o que dei, mas tudo vem de Ti e é de Tua mão que
nós demos a Ti" (1 Crônicas 29,14).
Eu não possuo nada.
Eu apenas transmito e torno a dar o que recebi.

J. E. — Talvez isto explique como David, nos Salmos, pôde se identificar com o
pobre por meio de todo tipo de preces.

A. S. — É o que caracteriza David.


Ele diz: "Um coração quebrado, ó Deus, Tu não desprezas" (Salmos 51,19).
É muito precisamente o tema do dal (pobre) e da pobreza, dalut, mas não no
sentido da situação social.
A pobreza representa menos uma condição do que o sentimento da carência.

J. E. — O senhor fala do segundo sentido de dalet: delet — a porta.


Isto significa que é preciso abrir sua porta.
A lei bíblica inclui uma disposição muito particular.
Ela concerne a um homem que, não podendo pagar suas dívidas, vendeu sua
capacidade de trabalho a um amo.
Em hebraico, é a mesma palavra que designa o criado e o escravo.
Mas esta servidão é o que se denominaria hoje um CDD, um contrato com duração
determinada: ela não pode durar mais do que sete anos.
De sete em sete anos celebra-se o ano sabático e o criado recupera sua liberdade.
No entanto, diz a Bíblia, se ele recusa a liberdade, fura-se sua orelha na porta da
casa do amo e ele o servirá para sempre.
Por que razão?
Os rabinos explicam: "Deus fez de ti um homem livre ao te libertar do Egito. Se
preferes a alienação, tu não és mais digno desta liberdade".

A. S. — Eis um homem para o qual se abriu a porta: ele poderia ter sido livre.
Ele recusa!
Ele prefere servir.
Colocam-se-lhe, então, obstáculos.
Não sairá mais por esta porta.
Ele decidiu — pois não se pode obrigá-lo — ficar "pobre"!
Ele escolheu a servidão.
Eis bem o problema: se alguém é pobre, não deve disso se gabar.
Assim como um ignorante não deve se gabar de sê-lo!
A questão é: eu sou pobre em relação a quem?
Mas se é em relação a outrem, no caso um amo, então não convém aceitar ser
"pobre"!

J. E. — Assim, isto quer dizer: podemos ser "escravos" apenas de Deus.

A. S. — Em um celebre poema de Juda Halévi, está escrito:


"Os escravos do tempo são escravos de escravos: só é livre quem serve a Deus".
Ser escravo de um homem é uma desonra.

J. E. — Tudo isso é simbólico: na vida, pode acontecer com frequência que lhe
abram uma porta, mas você se recusa a entrar.

A. S. — É o que ocorre com o homem ao qual se abre a porta para que ele saia.
Ele nem entra!
Estará sempre em servidão.
É sempre o mesmo problema: "Diante de quem sou pobre?".
Nos Salmos, há um versículo muito violento: "Sou tosco, nada sei, sou como uma
besta diante de Ti" (Salmos 73,22).
Isto não significa que sou geralmente um animal!
Diante de Ti me sinto "besta", mas diante de nenhum outro.
O desejo de incultura induz a outro aspecto da "pobreza".
Pois o dalet é uma letra ambivalente.
Por um lado, designa a pobreza, a queda, o vazio; por outro, é a porta aberta para
poder receber ou estudar.
Querer saber é querer aprender.
Mesmo no plano social, o que leva as pessoas a querer enriquecer é que elas têm
sempre fome!
Aquele que se sente rico está satisfeito com seu destino: nunca será milionário!
Tornar-se-á milionário aquele que se sente pobre, carente, nada tendo e que quer
progredir.
Isto é válido em muitos aspectos, para o enriquecimento pessoal assim como para
o imperialismo de um país ou para a aquisição do saber.
Mas corre-se o risco também de perder tudo...

J. E. — Há outro aspecto que podemos evocar.


A letra dalet é a primeira letra da palavra dirá, que quer dizer "morada".
A teologia judaica se pergunta: por que Deus criou o mundo?
Resposta: "Porque Deus quis ter uma morada aqui embaixo".
O que quer dizer que se o homem chega a esta qualidade de humildade, isto é, a
de pensar que ele está em situação de receber, então ele pode receber.
Deus pode morar sobre a terra.
Ele está no céu, mas ele também quer uma "residência secundária"; Sua
"residência principal" estando no "céu", Ele também quer ter uma "pousada".

A. S. — Os cabalistas vão mais longe: eles dizem que Sua residência principal está
precisamente sobre a terra!
O que faria Deus no céu?
Há anjos demais!
Tudo vai bem!
Ele deseja residir sobre a terra!
É um pouco o símbolo de seu poder: a saber, mostrar que ele pode até mesmo
estar presente aqui embaixo!
E que Ele está com o oprimido — daka —, esta palavra que também começa com
um dalet.
Onde está Deus?
Ele está com aqueles que estão "embaixo", na parte inferior da escada.
Não com a "fina flor"!
Segundo o Talmud, quando um homem é orgulhoso Deus proclama: "Ele e eu, nós
não podemos coabitar! Ele ocupa todo o espaço!"
Para que Eu possa ser, é preciso que o homem se sinta pequeno.
Eis por que o hassidismo desenvolveu o conceito de abnegação: chegar a se sentir
como nada, ser absolutamente nada.
Chegar a isso exige um difícil combate que não é, evidentemente, cômodo para os
ricos, mas tampouco o é para os pobres.
Conta-se que um dia um muito respeitável rabino vai visitar os discípulos do Rabi
de Kotz, que é muito niilista.
Ele não confere o menor valor às pessoas mais respeitadas.
Não se presta a elas nenhuma honra!
Ele (o visitante) lá está, em busca do filho de seu rabino, quando escuta de repente
alguém gritar: "Eis Hirsch que chega!".
Ele pensa: "Se prestam honras a este homem, ele deve ser excepcional!".
Ele vai vê-lo, descobre um homem vestido com trapos e não entende por que lhe
prestam tanta honra.
Ele pergunta:
— Quem é? Ele é de uma grande família?
— Não, é o filho do sapateiro.
— Ele é sábio?
— Ele mal sabe ler!
— Rico?
— Bem vê seu aspecto!
— Então por que correm?
— Porque ele é humilde.
Quando ele contou esta história a seu mestre, este riu e disse: "Se ele não é de boa
família, nem sábio, nem rico, por que não seria ele humilde?".
Esta história percorreu o círculo dos rabinos, e um deles disse: "Pelo contrário! Se
ele não é nada disso, ele pode se sentir tentado a ser orgulhoso!".
Portanto, se ele é verdadeiramente humilde, isto é uma grande coisa!
Isto é bem verdadeiro do ponto de vista psicológico.
Quando possuímos algo, podemos chegar a dizer: não é importante.
Mas se não temos nada é preciso provar que existimos, que somos importantes.
É exatamente nosso problema: o pobre sabe que é pobre.

J. E. — Em outras palavras, pode-se pensar que a concepção da negação de si


próprio, da pobreza, da humildade e da modéstia — tudo isto leva a certa relação
com Deus.
Penso que é a conjugação de dois verbos.
Encontram-se, com efeito, no livro dos Salmos dois verbos construídos com a raiz
dal, ser pobre: um é daloti, "sou pobre", e o segundo, dilitani, vem de um verbo
que significa "tirar (água do poço)" ou "tornar a subir": Tu me fizeste subir.
Vejo nesses dois verbos uma espécie de complemento, daloti, "eu caí", e depois
dilitani, "me tiraste, me fazes subir": esses dois verbos vêm da palavra dal.

A. S. — É a mesma raiz.
O balde com o qual se tira água do poço se denomina deli, da raiz dal.
Pois o balde não para de descer e subir.
Ele entra em um sistema em que se pode cair e subir.
É a mesma corda.
Esses dois estados estão ligados um ao outro, e isto é verdade em vários campos,
notadamente em física: ação e reação.
Se quero descer, ou que me façam descer, posso também subir.
E só posso querer subir se desci.
J. E. — O fundador do hassidismo, o Baal Shem Tov, disse: "Deus nos fez descer
sobre a terra para que possamos subir mais alto".

A. S. — Exatamente o mesmo tipo de relação.


Por um lado, Deus vive em nosso mundo, que nada tem e é tão triste!

J. E. — O quê? Deus não tem aqui prazer nenhum?

A. S. — Isso é outra coisa.


Um dia, Rabi Nachman de Bratzlav disse: "Pergunto-me onde está o (verdadeiro)
mundo. O paraíso, nós sabemos que existe. Onde moramos, é o inferno!
Então, onde está o mundo de baixo?".
Ele não era o único a ter tal concepção, profundamente pessimista.
O cabalista Chaim Vital afirma que um mundo assim gera as forças do mal.
Vosso mundo pode ser o pior dos mundos!
Ora, é precisamente aí que Deus quis estar presente: porque é sua obra-prima.
Se ele pode conseguir, em um mundo tão baixo, fazer de nós homens, então esta
descida torna-se ambivalente: é uma descida, mas é também um desafio!

J. E. — O senhor acaba de falar deste mundo inferior: eis o que nos leva a outro
aspecto da letra dalet.
Cada letra tem um valor numérico: dalet é o 4.
O número 4 tem uma função muito importante, notadamente na mística judaica em
que se fala do arba olamot — os quatro mundos a partir de Deus até o homem:
nosso mundo é o quarto, o mundo inferior.
E por outro lado 4 são também as quatro letras do nome de Deus: Iud Hei Tav Hei.

A. S. — Numerosos são em hebraico os nomes sagrados que têm quatro letras.


O Maharal de Praga dizia: "O número 3 representa a forma, o espaço, o equilíbrio,
ao passo que o número 4 simboliza o quadrado, a coordenação, os quatro lados".
Quando se fala dos quatro lados do mundo isso nos parece natural, mas está longe
de ser simples!
Isso procede, em parte, de nossa compreensão: existe frente, atrás, direita e
esquerda.
Mas pode-se ver as coisas de outro modo: um mundo tem seis ou mesmo sete
dimensões.
Toda esta concepção dos quatro lados provém, na realidade, da expressão bíblica:
"Os quatro cantos da terra...".
Mas a terra é redonda! E no entanto falamos de quatro lados.
É porque dalet representa a realeza terrestre.
Por conseguin-te, conota as quatro dimensões fundamentais do presente mundo.
Pode-se comparar a letra dalet à sexta letra, o vav.
No vav há a mais o alto e o baixo.
Ao passo que o dalet tem apenas lados: ele é plano.
Não é uma representação completa, mas um planisfério.

J. E. — Por que o número 4 é tão fundamental? Por que o nome de Deus tem
quatro letras? Por que quatro estados da humanidade: o mineral, o vegetal, o
animal e o homem? Há sem dúvida uma relação entre o nome de Deus — o
Tetragrama — e a criação do mundo?

A. S. — O verdadeiro nome de Deus não se conta em letras.


As quatro letras constituem, no entanto, o número que constrói o mundo, que
estabelece as dimensões, os lados, os fundamentos da criação.
Todos os nomes divinos são, aliás, ligados ao mundo.

J. E. — Em Pessach, na festa da Páscoa, o 4 conhece uma sorte particular.


Este número está presente no decorrer da refeição pascal, o seder.
Evoca-se isso em uma cantiga na qual o número 4 representa "As quatro
matriarcas".
A Bíblia usa também quatro verbos para designar a libertação e o êxodo.
Eis por que se bebem quatro taças depois que as crianças tiverem colocado quatro
questões.
Ademais, são evocados quatro tipo de crianças: o sábio, o ímpio, o ingênuo e o
silencioso.

A. S. — O 3 é a harmonia. O 4, uma dupla dicotomia.


O número 4 é sempre um modo de descrever os diversos aspectos das coisas.
É a mesma coisa para as quatro matriarcas ou as quatro taças: não são entidades,
elas são fracionadas.

J. E. — Poder-se-ia dizer que 4 é um numero dialético: 4 é 2 vezes 2.


É preciso uma evolução: eis por que não se bebem as quatro taças de uma só vez.

A. S. — E se acrescenta uma quinta taça: a do profeta Elias.


Porque 4 não é uma plenitude, mas a diversidade.
Parte-se para todos os lados: é isto, a "pobreza" do dalet.

J. E. — O senhor me abriu uma muito boa porta, dalet, para passar à letra hei,
explicando que há uma quinta taça...

Por: Josy Eisenberg e Adin Steinsaltz


As Letras Hebraicas – Parte 9


Hei (He)

Som: H (aspirado)
O Hei é uma das letras de som mais suave.
Seu som é simplesmente uma respiração ou exalação.

Significado: O significado da palavra Hei é ser quebrado; pegar sementes;


contemplar.
O nome da quinta letra do Aleph Beit, também significa "veja!" ou "olhe!".
O Hei é a letra mais frequentemente ligada ao nome de Deus, como em  , Yah.
A mais sagrada configuração do Nome Sagrado,  , Yud-Hei-Vav-Hei ou YHVH,
contém dois Heis.
O Hei representa a Criação - exprime a vida universal e os lugares que ela mantém
com a fonte suprema.
Hei é uma janela, simbolizando as diversas formas de comunicação.
No Nome divino Yah, o Yud é o Mundo por Vir, enquanto o He representa o Mundo
Presente.
Como sufixo, Hei denota a forma feminina de um substantivo.
Representa Biná, derivando de Shin.
No Tetragrama corresponde ao plano de Briá, mas também ao plano de Assiá.
É um modo de comunicação entre os diferentes níveis da alma: Néfesh, Ruach,
Neshamá, Chaiá e Yehidá.
A mudança de nome de Abrão e Sarai é o reflexo de uma mudança de consciência.
O nome de uma pessoa está ligado à sua missão, seu tikun.
Todos dois ganham em seus nomes uma letra Hei
Hei – revelação da manifestação.
Colocado no fim da palavra, a letra Hei traz o feminino e simboliza a Shehinah, a
Presença Divina.
Tem um Hei superior associado ao homem e um Hei inferior ao feminino.
Por consequência, Abraham ganha um Hei da esfera superior, e Sarah é o Hei da
esfera inferior.
Hei é uma letra ligada ao mundo da Criação e ao nível de consciência superior
(neshamá).
Encontra-se em Assiá porque através das nossas ações no Mundo físico é que
conseguimos despertar este nível de consciência mais elevado.
Podemos resumir o simbolismo do Hei por: Pensar, Falar e Agir, que são as três
principais vertentes da alma.

Conceito: A letra Hei é a que fala da comunicação, da palavra, de algo que é dito e
de algo que é comunicado.
Nesse sentido nos caberia a gente refletir que existe uma palavra, existe uma
comunicação que é inerente as comunicações humanas, mas existe uma palavra,
existe uma comunicação que disponibiliza no mundo, mas que não necessariamente
está ligado à intenção humana, é como se fosse uma comunicação que existe por
trás da comunicação cognitiva, uma palavra por trás da palavra.
Quase que uma mensagem subliminar contida em toda mensagem.

Formato: A letra Hei é a "janela" da consciência, composta de um eixo horizontal e


vertical (o dalet) com um ponto solto (o yud) aludindo à coordenada de
profundidade.
A janela de comunicação com o Sagrado.
Número: Hei representa o número 5
O número cinco está associado as mãos, o elemento criador do ser humano.
Os dez dedos das mãos possuem uma correspondência com as dez Sefirot.
Em equilíbrio as Sefirot são divididas em 3 colunas mas também podem ser
expostas em apenas duas ordens: direita e esquerda..
As masculinas - todas que normalmente ficam do lado direito + duas superiores da
coluna do meio: Keter (polegar direito) - Chochmá - Chessed - Tiferet - Netsach
As femininas - todas que estão do lado esquerdo + as duas inferiores do centro:
Biná (polegar esquerdo) - Guevurá - Hod - Yessod - Malchut
Quando saem do estado de equilíbrio e são movidas à direita ou à esquerda uma
poderosa tensão é promovida - poderosas forças espirituais são canalizadas.
O quinto dia da Criação (Gêneses 1:20-22) é aquele de uma grande expansão vital,
com a ordem de criar e multiplicar.
Nas unidades, de 1 a 9, o número 5 ocupa o lugar central e instala uma simetria
nas unidades. Cinco é o símbolo do centro e do momento presente.
O numero 5 também é associado a proteção contra o mau olhado,
tradicionalmente, para se proteger, estende-se a mão direita aberta dizendo:
―hamsa biéineika‖.

Espaço: No espaço, Hei representa a constelação do Cordeiro (Áries).

Tempo: No tempo Hei é responsável pela criação de Nissan.

Corpo: Hei está relacionada ao pé direito.

Medicina: Hei nos traz a possibilidade da comunicação.


Do sentido por trás da comunicação. ―O Chassmal‖.
O Sagrado está o tempo todo nos doando mensagens, informações que nos chega a
todo instante.
Pode-se dizer com isso que existe uma comunicação oculta em todas as coisas.
Todas as coisas comunicam muito mais do que aparentemente se dispõe a
comunicar, porque o Sagrado está presente em todas as coisas.

Arquétipo: Yehudá.

Aplicação:
Prestar atenção e ouvir a pequena ―voz silenciosa‖.
Saber distinguir a inspiração luminosa do ego.
Como saber qual a voz que está falando?
Qual a decisão nos possibilita trabalhar nosso tikun?
1 - O tikun nos traz sempre um desafio.
2 – A voz da Luz não tem lógica, o ego tem.
3 – A voz do ego deixa tudo como está, não muda nada.

Sombra:
Ficar preso na fragmentação
Autoengano.

Reflexão:
O que a "pequena voz silenciosa" de Deus está me dizendo hoje?

Ação sugerida:
Pelo menos três vezes ao dia, respire fundo três vezes, olhe para cima, olhe para
baixo e para os lados e diga em voz alta: "Hineini! Eis-me aqui!"

Canal – Caminho: De Keter a Chochmá.


Sefer Yetziyrah: ―Ele fez a letra Hei reinar sobre a palavra, corou-a, combinou-a
com cada uma das outras e, com elas formou: Áries no universo, Niyssan no ano e
o pé direito na Nefesh...‖ (S. Y. 5.7)

Comentários:
A letra Hei representa uma "janela".
É a letra do sopro de vida, por excelência.
A janela é o modo de comunicação entre os diferentes níveis do físico e do
espiritual.
Hei tem valor 5, representando os cinco níveis da alma: Ruach, Chaiá, Yehidá,
Néfesh, Neshamá.
O Sêfer Bahir confirma o símbolo da janela para a letra Hei.
"Qual é a função do Hêi? Isto se compara a um rei que tinha uma filha boa,
agradável, bonita e perfeita. Ele a casou com um príncipe, vestiu-a ricamente,
enfeitou-a com uma coroa.
Deu-lhe um grande dote.
O rei, daí em diante, pode viver fora de sua casa?
Tem a possibilidade de ficar com ela durante o dia?
Você disse não. O que fez ele? Ele preparou uma janela entre ele e ela e toda vez
que a filha tinha necessidade de seu pai ou o pai de sua filha eles se comunicavam
através desta janela".
Hei, por sua vez, é a janela que permite quem está dentro veja o lado de fora e
vice-versa.
Esta abertura permite a visão além dos limites, e ver além (ou ver dentro) é o
principal recurso do cabalista para que ele não se torne um prisioneiro do mundo
das aparências, dominado pela contra inteligência.
Meditar em Dalet e Hei equilibra os pilares da direita e da esquerda da Árvore das
Vidas, evocando a energia do pilar central (o desejo de receber para compartilhar)
e da Shechiná (também representada por Hei), ampliando a nossa percepção da
realidade espiritual que nutre a realidade material.

O nome da letra hei aparece no versículo, ―Peguem (hei) para vocês sementes‖.
―Peguem‖ (hei) expressa a revelação da personalidade no ato de se dar para o
outro.
Dar aos outros como uma forma de auto expressão é o maior dom da pessoa.
No segredo da letra guimel, o homem rico dá de si ao homem pobre sob a forma de
caridade.
A forma mais elevada de caridade é quando o doador está completamente oculto do
receptor, a fim de não envergonhá-lo, como está escrito, ―O presente oculto
subjuga a ira‖.
Aqui, no segredo da letra hei, o próprio presente é a relação e a expressão da
pessoa, atraindo o receptor para a essência do doador.
José, que pronunciou o versículo ―peguem para vocês sementes‖, corresponde à
sefirá de Yessod, cuja função é expressar a personalidade sob a forma de doação
de sementes, conforme explicado na Cabalá.
Quando José deu grãos pela primeira vez a seus irmãos, eles não o reconheceram
— similarmente ao dalet em relação ao guimel.
Quando ele se revelou aos seus irmãos (e, portanto, a todo o Egito), sua doação
tornou-se a do hei.
Ao invés de grãos, ele agora dava sementes.

A alma possui três formas de expressão — ―vestimentas‖, na terminologia da


Cabalá e da Chassidut —: pensamento, fala e ação.
A vestimenta mais elevada, o pensamento, é a expressão do intelecto interior e das
emoções da pessoa para ela mesma.
O processo que torna o intelecto e as emoções conscientes através do pensamento
é similar ao da pessoa doar-se (os domínios essencialmente inconscientes da alma)
a outra (o estado de consciência da pessoa).
As duas vestimentas inferiores — fala e ação — são uma manifestação da pessoa
para os outros.
As três linhas que compõem a forma do hei correspondem a estas três
vestimentas: a linha horizontal corresponde ao pensamento; a linha vertical, à fala;
a perna solta, à ação.

A linha horizontal simboliza um estado de serenidade.


O fluxo horizontal, contínuo, de pensamento é a contemplação de como D’us Se
encontra igualmente em todo lugar e em todas as coisas.
Com relação ao seu companheiro judeu, a pessoa deve entender que cada um de
nós possui uma faísca interior, inata, de Divindade, e que todos os judeus são
iguais em essência.
Esta compreensão, o plano horizontal superior da consciência da pessoa em relação
aos outros, estabelece o ―cenário‖ para todos os relacionamentos individuais e
pessoais.

O ponto de origem da fala, a linha vertical à direita do hei, está diretamente


conectada com a linha do pensamento e, portanto, descende para expressar os
pensamentos e sentimentos interiores da pessoa aos outros.
A raiz da palavra ―fala‖ em hebraico, ―davar‖, significa ―liderança‖, como na
afirmação, ―Existe um líder (dabar) em uma geração, não dois líderes em uma
geração‖.
Liderança implica em hierarquia, posições relativas de alto e baixo, e, portanto, é
representada por uma linha vertical.
O Rei, bem como todos os líderes, governa por meio da força de sua fala, como é
dito, ―Pela palavra do Rei, Sua soberania é estabelecida.‖

A separação da ação — a perna solta à esquerda do hei — do pensamento — a


linha horizontal superior — reflete uma verdade profunda acerca da natureza da
ação.
―Muitos são os pensamentos no coração do homem; ainda assim o conselho de D’us
certamente prevalecerá.‖
O servo de D’us vivencia a lacuna existente entre seus pensamentos e suas ações.
Frequentemente ele é incapaz de compreender suas intenções mais íntimas.
Outras vezes, ele é surpreendido pelo sucesso inesperado.
Em ambos os casos, ele sente a mão de D’us direcionando seus atos.
O vácuo é a experiência da Nulidade Divina, a verdadeira fonte de toda Criação:
algo a partir do nada.
Nós agora chegamos à culminação da sequência representada pelas três letras —
guimel, dalet e hei —: o processo de se dar ao outro.
O dom, representado pela perna, o segmento solto do hei, quando totalmente
integrado ao receptor torna-se sua própria força de ação e doação de si mesmo aos
outros.
Mais ainda, ele agora entende completamente que o efeito e a força fundamentais
de seus atos são, de fato, a ação da Providência Divina.

A quinta letra do alef-bet é o hei.


O Maharall nos diz que o desenho do hei e composto de urn dalet e urn yud.
O dalet é composto de uma linha horizontal (significando largura) e outra vertical
(que significa altura), que juntas representam o mundo físico, o materialismo.
O yud (a perna esquerda separada) representa D'us, e, portanto, a espiritualidade.
O Maharal ensina que assim como o dalet e o yud se juntam para formar o hei,
assim também a pessoa tem a obrigação de imbuir e santificar o mundo físico com
espiritualidade e Divindade.
Na filosofia cabalista, como dissemos, o hei representa pensamento, fala e ação.
Assim como a forma do hei e composta de três linhas, também o pensamento, fala
e ação compreendem as três vestimentas da alma, as três vestes através das quais
nos expressamos.
A linha horizontal superior (pensamento), pelo próprio desenho, representa o
conceito de igualdade. Para sentir realmente toda pessoa como um igual, deve-se
reestruturar o próprio processo de pensamento. Talvez pareça na superfície que
algumas pessoas são melhores e algumas piores que as outras.
Porém nossa responsabilidade é nos concentrar, em vez disso, na alma, a centelha
Divina dentro de cada pessoa. Como nossas almas emanam da mesma Fonte,
somos todos iguais em nossa essência.
Quando mergulhamos por debaixo da personalidade e exterioridade de uma pessoa
e vamos direto ao seu âmago, sentimos que somos todos um.
A linha vertical direita do hei representa hierarquia, que é a fala.
Um rei decreta com suas palavras.
Ele esta habilitado a sentar-se em seu palácio e emitir um decreto, que então se
torna lei. As pessoas não precisam vê-lo. Ele não tem de apertar a mão delas.
Tudo que precisa fazer é falar; este é o seu poder.
A linha vertical do hei desce de um estado mais elevado, o governante, ate um
mais baixo, os súditos.
Finalmente a perna mais curta, separada no lado esquerdo do hei representa a
ação.
Por que esta perna esta separada?
É muito fácil para nós pensarmos e falarmos sobre aquilo que esta certo, mas é
bem diferente transformar a boa intenção em ação.
Portanto, a lacuna serve como lembrete do esforço exigido para unificar todas as
três vestimentas.
Sem a linha de ação, somos deixados com as duas linhas do dalet; pobreza.
O Talmud' informa que o hei também representa teshuvá — arrependimento.
Para avaliar como o formato da letra hei incorpora o conceito de teshuva, compare
o hei com o chet , a oitava letra do alef-bet.
Ambas as formas são muito semelhantes.
Cada qual e formada por três linhas.
A diferença evidente é a pequena abertura acima da perna esquerda do hei.
O que isso tem a ver com teshuvá?
D'us declara a Cain depois de ele ter matado seu irmão Abel:
"Pecado (chatas) jaz à sua porta".
A abertura (ou porta) na base tanto do hei quanto do chet representa o pecado.
Com o chet, não pode haver escapatória da "porta do pecado" sem transgressão
(i.e., sem sair pela base do chet).
Porem o hei tem uma outra abertura, outro possível curso de ação.
A pequena abertura no topo do hei abre a possibilidade de teshuvá, ou retorno.
A diferença entre o chet e o hei também pode ser ilustrada comparando-se o
chametz (fermento) e matsá.
Compare a escrita das duas palavras: chametz é escrita com chet, mem, tsadik.
Matsá é escrita com mem, tsadik e hei.
A diferença entre chametz e matsá é a letra chet versus o hei.
Chametz, fermento, representa o ser inflado, o ego.
A matsá é plana, representando a subserviência, altruísmo, e humildade.
Se uma pessoa é humilde, vai se arrepender, fazer teshuvá.
Porém se for egoísta, jamais retornará a D'us.
Qual é a sua atitude?
"Para que eu preciso de D'us? Estou indo muito bem por mim mesmo. Olhe quanto
sucesso eu obtive."
Ou se deseja escapar ileso do mau comportamento, poderia dizer: "O que eu
desejo de mim? Sou apenas humano. Se D'us me quisesse perfeito, teria me feito
dessa maneira. D'us me deu um yetser hará, uma má inclinação. Ele a criou para
que eu pudesse pecar. Então por que eu deveria fazer teshuvá?"
O egoísta não tem motivo para se arrepender.
Está preso em seus caminhos e não pode admitir as próprias falhas.
O egoísta está inflado com o chet do chametz, do fermento.
O hei, por outro lado, é como a matsá: plano e altruísta.
Seu próprio desenho contém uma abertura, um espaço para o indivíduo passar
através dele se for humilde.
O hei é a adoção da humildade pelo ser humano, o portal para o arrependimento.
Num sentido mais amplo, precisamos entender que teshuvá não apenas envolve
arrependimento por cometer um pecado, mas significa retorno ao ser essencial da
pessoa.
Assim, teshuvá é relevante para todo indivíduo, até para a rara pessoa que nunca
pecou.
O Zohar nos diz que quando Mashiach vier, ele fará até mesmo que os justos se
arrependam.
Toda pessoa entenderá que não importa qual o seu nível, ele sempre pode
melhorar.
Ele pode constantemente se aproximar cada vez mais de D'us.
Pode conseguir isso aperfeiçoando seu pensamento, fala e ação.
À medida que o homem se aperfeiçoa, "D'us ajuda; começa a cair "uma chuva de
bênçãos" e as plantações começam a crescer."

O valor numérico de hei é cinco.


Não apenas o hei representa as vestes de pensamento, fala e ação, mas estas
vestes compreendem um total de cinco elementos: dois níveis de pensamento,
imaginativo e meditativo; dois níveis de fala, as palavras do coração e as palavras
dos lábios; e um nível de ação.
Por que a ação tem apenas um nível?
Porque quando se trata da ação, ou você faz algo ou não faz.
Portanto, é o desenho do hei, a linha representando a ação (o segmento vertical
separado do hei) é metade de uma linha.
Cinco também significam os cinco níveis da alma: nefesh, ruach, neshama, chaya e
yechida.
A quinta camada, yechida, significa união.
As pessoas normalmente se referem a este nível da alma como o pintele Yid, a
centelha Divina que todo ser humano possui.
O pintele yid é a centelha que jamais pode se contaminar ou extinguir, a centelha
que une todo ser humano com D'us.
O motivo para termos um despertar para o retorno (teshuvá) é por causa do nível
yechida da alma.
Esta centelha da alma acende o restante do nosso ser, impulsionando seu retorno a
D'us.
O número cinco também representa redenção.
No Seder de Pessach há um quinto copo de vinho chamado o copo de Eliahu.
O Profeta. Eliahu, o precursor da Redenção, nos dirá para fazer teshuvá, pois o
Mashiach está para chegar.
Esta promessa é também representada pela expressão na Torá": "Eu te levarei
para a Terra [de Israel]."

A palavra ―hei‖ tem três significados:


O primeiro é "aqui está", como no versículo "Aqui está semente para você" (hei
lachem zera)".
Baseado no versículo acima, Rabi Avraham Eliyahi, explica o seguinte: "Por que
Sarai, esposa de Avraham, não pôde conceber um filho até que seu nome fosse
trocado para Sarah (terminando com a letra hei)?
O motivo é que o hei é necessário para semente, i.e., filhos."
Similarmente, vemos que os nomes das outras Matriarcas terminavam também
com um hei: Rivka, Lea, Zilpa e Bilha.
A serva de Rachel tinha um hei extra que [ela emprestou a] Rachel. Portanto,
Rachel também concebeu e teve filhos
O seguinte é "ser perturbado", como está escrito em Daniel "E Eu Daniel fui
perturbado... (nihyeti)"
E o terceiro é "contemple" como em "Contemple, este é nosso D'us..." (hine
Elokenu... ) que se refere a contemplar uma revelação.
Essas três definições convergem.
Quando nascemos e chegamos a este mundo, D'us nos dá sementes (i.e., o
potencial de ser produtivos e fazer o bem em nossa vida).
Muitas vezes, porém, ficamos perturbados e confusos, perdendo de vista os nossos
objetivos.
Eventualmente, porém, todo ser humano virá a fazer teshuvá e reconhecerá seu
Criador.
Ele então contemplará a revelação de D'us.
Ao elevar o próprio pensamento e fala, e traduzindo-os em ação, a pessoa revela a
―yechida‖, o quinto nível e centelha de Mashiach dentro de sua alma, e isso nos
levará à suprema Redenção.

Aplicação
Quando o Hei sussurra em nossa consciência, podemos ter a certeza de que
estamos num estado santificado, perto do Nome Sagrado, próximos do aspecto
maternal de Deus.
Essa proximidade, no entanto, pode adotar a forma exterior de esperanças ou
relacionamentos destruidos.
O Hei é uma das duas únicas letras do Aleph Beit compostas de duas partes
desconectadas, ou quebradas.
Mas o Hei oferece a certeza de que, assim como a semente deve se quebrar e se
abrir dentro da mãe-terra para brotar, nós somos quebrados e abertos para que
surja uma nova vida.
O Hei diz: "Veja! Está aqui! Aqui mesmo, dentro e diante de você, está a
expressão, a manifestação mesma da Divindade!"
A Torah narra que Deus indica a fé de Abrão e Sarai adicionando um Hei, a letra
inicial de Deus, a seus nomes.
Assim, Sarai, 
, torna-se Sara, 
, e Abrão, 
, torna-se Abraão, .
Em seguida, apesar de sua idade avançada, Abraão consegue engravidar Sara, e
Sara consegue conceber e dar à luz Isaac, iniciando a longa linhagem do povo
hebreu.
A letra Hei ajuda a santificar Abraão e Sara, simbolizando sua capacidade de
manifestar uma nova vida, de modo inesperado e miraculoso, afetando o destino do
mundo inteiro.
O Hei pode também nos transformar.
O nome de Isaac significa "riso" e "prazer".
Quando os efeitos, suaves mas poderosos, do Hei informam nossa vida, como o fez
com Abraão e Sara, pode encerrar-se um período de esterilidade, e a alegria e os
sons do riso e do prazer voltam a ecoar por nossa casa.
Além de significar "veja!" ou "olhe!", o Hei, como prefixo, equivale a um artigo
definido.
O Talmud diz que Deus usou as letras Yud e Hei, que formam o nome sagrado
 , Yah, para criar o universo.
O Yud foi usado para criar o "Mundo Futuro", e o Hei, para criar "Este Mundo".
Quando o Hei se manifesta em nossa consciência, estamos sendo solicitados a
prestar atenção no que está diante de nós, a olhar para as coisas concretas de
nossa vida, a fixar-nos n'Este Mundo.
Hei como "o" é um artigo definido; refere-se a um objeto ou coisa específica, e não
a uma generalidade ou abstração.
Teremos nos perdido em abstrações, nos alienado de nosso corpo, de nossa
experiência física?
O Hei nos lembra de prestar atenção nos aspectos específicos e definidos de nossa
vida.
Certa vez o rebbe Nachman viu um de seus discípulos com pressa.
"Já olhou para o céu nesta manhã?", perguntou o rebbe.
"Não, rebbe, não tive tempo."
"Acredite: em cinqüenta anos tudo o que você está vendo aqui hoje terá
desaparecido. Haverá um outro mercado, com outros cavalos, outras carroças,
pessoas diferentes. Eu não estarei aqui, e você também não. Logo, o que é tão
importante que você não tenha tempo de olhar para o céu?"
Num sentido semelhante, a autora Simone Weil escreveu:
"A prece consiste em atenção".
Moisés era uma pessoa que prestava atenção.
Certo dia, enquanto apascentava o rebanho de seu sogro, Moisés viu um fogo vindo
de uma sarça.
Ao olhar, percebeu que a sarça não estava sendo consumida pelo fogo.
Moisés disse: "Preciso ir até lá e investigar esse maravilhoso fenômeno. Por que a
sarça não se consome?"
Moisés estava no lugar certo e no momento certo para tomar consciência dessa
estranha visão.
Sobretudo ele estava atento a ela; primeiro foi capaz de notá-la, e então dispôs-se
a interromper seus planos e desviar-se para investigá-la.
A Torah prossegue: "E vendo o Senhor que Moisés se virava para lá a ver, bradou
Deus a ele do meio da sarça, e disse: 'Moisés, Moisés!"
"E ele disse: Eis-me aqui'."
Esse "Eis-me aqui", ou  , hineini, exemplifica o poder do Hei.
Então Deus disse a Moisés:
"Tira os teus sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa"
(Êx. 3:2-4).
Essa é a mensagem do Hei: a santidade está aqui mesmo!
O lugar onde estamos, onde quer que seja, é terra santa.
A sarça ainda está ardendo.
O fogo do imediato queima com brilho e calor.
A questão é se nós vamos ou não prestar atenção e notar.
A vida está sempre nos dando uma oportunidade de responder hineini!
Veja, aqui mesmo, neste mesmo corpo, neste mesmo lugar, está o divino.
A palavra "ei" está diretamente relacionada à sua parente hebraica.
O Hei nos pede atenção: "Ei! Aqui está! Não está mais oculto!"
A interjeição "a-há!" carrega a energia do Hei.
Podemos estar atentos a experiências "a-há!" — quando de repente alguma coisa
se encaixa, de repente entendemos.
Um dos sinais de que isso aconteceu é um influxo de riso e prazer.
Por outro lado, as revelações podem vir de modo silencioso e sutil, sussurrando em
nossa consciência.
O profeta Elias, em dificuldades desesperadoras, fugiu para o deserto e foi levado
até o monte Horebe.
No topo do monte, "eis que passava o Senhor, como também um grande e forte
vento que fendia os montes e quebrava as penhas diante da face do Senhor; porém
o Senhor não estava no vento: e depois do vento um terremoto; também o Senhor
não estava no terremoto: e depois do terremoto um fogo; porém também o Senhor
não estava no fogo: e depois do fogo uma voz mansa e delicada" — às vezes
traduzida como "uma pequena voz silenciosa" (I Re. 19:11-12).
Em meio ao clamor do mundo, ao tumulto de nossa vida, a voz do Hei respira
silenciosamente, murmurando seu som suave, mas poderoso.
Boa parte de nossa vida se consome no redemoinho de pensamentos e idéias, no
terremoto das ações, no fogo das emoções.
O Hei indica um momento de desviar-se de tudo isso e ouvir o pequeno som do
divino.
Segundo a tradição, depois de ser levado ao céu, Elias (cujo nome hebraico,
 , Eliahu, contém um Hei) começou a servir como mensageiro de Deus,
ajudando e instruindo os seres humanos e preparando para o advento do Messias.
Na Páscoa, nós aprontamos um lugar para Elias, servimos a ele uma taça de vinho
e deixamos a porta aberta para sua visita.
Quando suspiramos profundamente, vocalizando o "aaaah!" do Hei e aquietando
nossa mente e nosso corpo, nós nos preparamos para ouvir ou sentir o som suave
e murmurante da inspiração divina ecoando em nosso abdômen.
Ao fazê-lo, nós aprontamos em nossa vida um lugar para que Elias nos visite, nos
preparamos para ouvir mensagens do céu.
Em seguida, nós descemos da montanha, renovados e rejuvenescidos, prontos para
viver no mundo outra vez, dando vida a mais beleza e prazer.

A Sombra do Hei
Um dos perigos da letra fragmentada Hei é o de ficar preso na fragmentação.
Um coração partido, como um osso partido, pode nos aleijar.
Nosso desafio é fazer com que os aspectos fragmentados de nossa vida informem
nossa completude, acrescentando a nossa natureza não o desespero e a falta de
perspectiva, mas a maturidade e a profundidade.
O "som suave e murmurante" tem uma sombra também.
Nem sempre é fácil distinguir a inspiração divina do autoengano.
Temperar a confiança em nossas revelações com um pouco de humildade pode nos
ajudar a evitar impor nossa visão aos outros de maneira destrutiva e arrogante.

Comentários Pessoais por Richard Seidman


Durante boa parte do tempo eu vivo numa espécie de torpor, com a mente repleta
de sonhos e planos e especulações e preocupações, sem notar realmente a vida
vibrante que se agita e fala em torno de mim.
Mas de vez em quando a energia do Hei penetra, de algum modo, em meu
palavrório mental e grita: "Ei! Acorde! Preste atenção!"
E então, quase sem querer, noto o ângulo da luz do sol, a sensação da brisa, o
apito forte do trem, o cheiro da pipoca.
O Hei me desperta — e nesses momentos vividos sou capaz de dizer com
convicção: "Hineini! Eis-me aqui!"

Textos Complementares
.
 Hei - 
Hinneni (―Eu estou aqui‖)

Apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Midiã; e, levando


o rebanho para o lado ocidental do deserto, chegou ao monte de Deus, a Horeb.
Apareceu-lhe o anjo do Senhor numa chama de fogo, no meio duma sarça; Moisés
olhou, e eis que a sarça ardia no fogo e a sarça não se consumia.
Então, disse consigo mesmo: "Irei para lá e verei essa grande maravilha; por que a
sarça não se queima?"
Vendo o Senhor que ele se voltava para ver, Deus, do meio da sarça, o chamou e
disse: "Moisés! Moisés!"
Ele respondeu: "Eis-me aqui!"
Êxodo 3:1-4
O episódio da sarça ardente marca o começo do Êxodo do Egito simplesmente
porque é o evento que transforma Moisés num profeta, completando seu processo
de transição pessoal.
Moisés deixou de ser uma criança órfã (quando sua mãe colocou-o num cesto que
soltou no Rio Nilo para salvá-lo do decreto cruel do Faraó contra todos os recém-
nascidos judeus do sexo masculino) para ser um príncipe (depois de ter sido
adotado pela filha do Faraó e criado no palácio); depois um pastor de ovelhas
(quando toma conhecimento de sua verdadeira identidade e foge do Egito,
juntando-se a Jetro em Midiã e desposando sua filha); até finalmente tornar-se o
grande líder que conhecemos — o libertador — no momento desse episódio no
deserto.
Assim como as muitas transições e mudanças que já havia passado em sua vida, e
estava, portanto, preparado para cumprir seu destino de libertador do povo judeu
da escravidão, a própria profecia de Moisés compreende vários estágios:
(1) Ele vai para o deserto;
(2) vê um anjo;
(3) ele nota que a sarça está em chamas, mas não é consumida pelo fogo;
(4) só então a voz de Deus se faz ouvir.
E quando Deus fala para Moisés, Ele tem que dizer duas vezes seu nome, para que
Moisés tenha a certeza de que o que está ouvindo é realidade e não uma mera
invenção de sua imaginação.
Após todos esses estágios de elevação de sua consciência, Moisés simplesmente
responde, "Hinneni" ("Eu estou aqui!"), a mesma palavra usada por Abraão, Isaque
e Jacó em suas experiências de profecia.
A resposta direta pode parecer surpreendente — afinal, Deus obviamente sabe que
Moisés está "ali", senão não teria Se revelado.
Mas se pensarmos melhor, veremos que faz ela todo sentido.
Moisés precisava olhar na direção da sarça, ter clareza do que estava acontecendo;
ouvir seu nome sendo chamado e afirmar que, sim, ele estava preparado para
receber a mensagem que lhe seria agora transmitida e cumpriria a missão que logo
seria colocada diante dele.
Toda a sua vida havia sido uma longa jornada até esse momento: quando ele seria
capaz de reconhecer seus próprios poderes e responder diretamente a Deus,
entrando num diálogo com Ele que não apenas iria mudar o curso da história, mas
também mudar completamente a sua própria vida.
Certos comentadores da Bíblia observam que o lugar em que a sarça ardente
apareceu para Moisés era, na realidade, o mesmo em que a Torá seria transmitida
muitos anos depois, ou seja, o Monte Sinai.
O fato de o primeiro despertar de Moisés para seu papel de profeta e o de sua mais
importante missão nesse papel terem ocorrido no mesmo lugar não foi por acaso.
Assim como Moisés precisava reconhecer o seu lugar nessa lenda épica, também
cada um de seus seguidores tinha que se reconhecer no ato da transmissão da Torá
e na Revelação que ela trazia.
A letra Heh corresponde ao número cinco, que é também o número que indica o
total de sentidos físicos que recebemos ao nascer: visão, audição, tato, paladar e
olfato.
Mas existe ainda um sexto sentido, aquele que associamos com a espiritualidade
que só pode ser realizada por nós mesmos, por meio de nossas próprias jornadas
para novos níveis de consciência e de profundidade emocional.
Esse é o sexto sentido que Moisés reconhece diante da sarça ardente e é esse
mesmo sentido que irá ajudá-lo em todas as provações e tribulações envolvidas
numa missão como a de conduzir seu povo à libertação da escravidão.
Para alcançar esse sexto sentido, de acordo com os ensinamentos da palavra
Hinneni, nós temos que primeiro ter o domínio dos cinco sentidos originais,
aprendendo a nos conhecer literalmente em nossos estados físicos e, finalmente,
aprendendo a ir além desse mundo limitado para o mundo miraculoso que existe
além e acima dele.
A carta Heh aparece para a pessoa que se encontra em período de transição e
crescimento pessoal significativo.
É possível que você esteja passando de uma fase de sua vida para outra, chegando
a uma idade ou realizando alguma conquista marcante, ou simplesmente encontre-
se num processo de amadurecimento e aprofundamento.
Você foi o mais longe possível, de acordo com seu entendimento físico limitado de
uma fase e está na iminência de desenvolver seu próprio sexto sentido.
Dê-se tempo para entender onde tem estado e como toda a sua vida trouxe você
até aqui, em termos de tempo e lugar no mundo.
Nada acontece por acaso — afinal, o monte no qual Moisés viu a sarça ardente é o
mesmo lugar onde Abraão amarrou Isaque e onde a Torá foi revelada.
Portanto, não tome nem mesmo os detalhes aparentemente mais insignificantes
como óbvios.
Saiba que respondendo ao chamado, estando presente no momento da transição e
sendo capaz de dizer "Hinneni", você já estará fazendo mais do que jamais fez.

Por: Deepka Chopra

O Bahir (com comentários de Aryeh Kaplan)

8. Por que Deus acrescentou a letra Heh ao nome de Abraão, ao invés de


qualquer outra letra?
Foi assim, para que todas as partes do corpo do homem fossem dignas de
vida no Mundo Vindouro, o qual é comparado ao mar. Tanto quanto
podemos expressar, a Estrutura foi completada em Abraão. [A respeito
dessa Estrutura] está escrito (Gênese 9:6): "Pois à imagem de Deus, Ele
fez o homem."
O valor numérico de Abraão é 248, número das partes do corpo do homem.

Comentários
Quando Deus mudou o nome de Abrão para Abraão, Ele o fez acrescentando a letra
Heh.
De acordo com a tradição, o número de partes do corpo humano é 248.
Quando Deus acrescentou esse Heh ao nome de Abraão, Ele lhe concedeu domínio
sobre as cinco partes finais de seu corpo, a saber, os dois olhos, dois ouvidos, e o
órgão sexual, conforme mencionado no Talmud.
A letra Heh tem valor numérico cinco, e é uma alusão aos cinco níveis da alma.
O fato dessa letra ter sido acrescentada ao nome de Abraão indica que esses cinco
níveis finais lhe foram concedidos.
Outra conotação da letra Heh é "manter".
O valor numérico de Heh é cinco, em alusão aos cinco dedos da mão.
Está igualmente indicado pelo modo como a letra Heh é usada como prefixo e
sufixo.
No final de uma palavra, indica o feminino, e é também usada como sufixo para
apontar o feminino possessivo. Como prefixo, é o artigo que abarca e especifica um
determinado objeto.
Em ambos os contextos, a letra Heh tem o teor de delinear e manter.
Essa é, também, a conotação dos dois Hehs no Tetragrama,
formado por Yud Heh Vav Heh.
O primeiro Heh corresponde à Sefirá Biná-Compreensão, e essa é a "mão" com a
qual Deus concede a recompensa do Mundo Vindouro, O Heh final é a Sefirá
Malchut-Reino, e é a mão que Ele nos concede, para que sejamos capazes de
aceitar essa recompensa.
Assim sendo, por intermédio desse Heh, Abraão se tornou merecedor do Mundo
Vindouro.
É comparado ao mar, pois, qual o mar, é um receptáculo.
A "forma" de Deus na qual Ele criou o homem é, de fato, a forma prototípica do
homem. Essa "forma" ou "projeto" era o primeiro pensamento de Deus acerca da
criação, e, por isso, é o mais alto nível da criação.
Textos cabalísticos posteriores referem-se a essa "forma" como Adão Kadmon
(Homem Primevo).
Esse "plano" contém 248 partes, e quando Abraão foi aperfeiçoado por intermédio
do mandamento da circuncisão, tornou-se sua exata contraparte.

9. Qual o significado de (Deuteronômio 33:23): "[O que preenche é a


bênção de Deus, o Mar e o Sul] ele herdará (YiRaShaH)"?
Teria sido bastante o versículo dizer "herdar (RaSh) [o Mar e o S ui] " .
A que se assemelha?
Um rei tinha dois tesouros e escondeu um deles.
Depois de muitos dias, disse ao seu filho: "Tomai o que está nesses dois
tesouros." O filho respondeu: "Talvez não me estejas dando tudo o que
escondeste."
O rei disse: "Tomai tudo."
Está, portanto, escrito:
"o Mar e o Sul, ele herda".
Herdar Deus (YH RaSh) — tudo te será dado se guardares meus preceitos.

Comentarios
A forma gramatical Rash é, realmente, encontrada em diversas passagens, tais
como Deuteronômio 1:21, 2:24, 2:31, e 1 Reis 21:15.
O autor diz que Deus deve estar incluído na totalidade dos trabalhos do homem,
isto é, todos esses trabalhos devem ser feitos em nome de Deus, e não meramente
por qualquer futura recompensa antecipada.
Pode-se, então, "herdar Deus", uma vez que a principal recompensa futura é a
percepção da Entidade Infinita.
No Tetragrama, o Yud é pertinente à Chochmá-Sabedoria, enquanto o Heh, à Biná-
Compreensão.
Deus já dera o Heh a Abraão, e, portanto, pode-se conjecturar que o Yud deva
permanecer oculto, e que não seja concedido no Mundo Vindouro.
Por isso, Deus diz: "Pega tudo", ambos, o Yud e o Heh.
Em certo sentido, o filho nessa parábola é uma referência a Abraão.
O exemplo ensina, também, que Deus deve ser buscado, e que não é, meramente,
uma recompensa.
Se o filho buscasse os tesouros e não perguntasse pelo Rei, não teria recebido
nada.
Apenas após buscar o próprio Rei, recebeu todos os tesouros.
O Yud e o Heh correspondem, também, aos "dois mil anos" mencionados no verso
5.

28. Perguntaram-lhe: O que é a letra Heh?


Zangou-se e disse: Não vos ensinei a não perguntar sobre uma coisa que
vem depois e, então, por uma coisa que vem antes?
Disseram-lhe: Mas Heh vem depois [de Dalet].
Ele respondeu: A ordem deveria ser Guimel Heh. Por que é Guimel Dalet?
Porque deve ser Dalet Heh.
E por que é a ordem Guimel Dalet?
Ele lhes respondeu: Guimel está no lugar de Dalet, seu topo está no lugar
de Heh. Dalet, com sua cauda, está no lugar de Heh.

Comentário:
Quando Guimel é alongado "na cabeça", se torna Dalet.
Resta sua cauda, que converte o Dalet em Heh.
Entretanto, de acordo com a interpretação do Gaon de Vilna (HaGra), Guimel e
Dalet estão no lugar de Vav Heh.
A cauda do Guimel é removida, formando Vav, e essa cauda converte Dalet em
Heh.
Conforme mencionado anteriormente, Guimel é Bina-Compreensão, o primeiro Heh
em YHVH, enquanto Dalet é Malchut-Reino, o Heh final.
Uma vez que ambos, Guimel e Heh, se referem à mesma Sefirá, devem estar
próximos.
O autor responde a essa dificuldade ao dizer que Malchut-Reino, e, portanto o Heh,
deve seguir o Dalet. Por isso, diz o autor que "na cabeça, Guimel está no lugar do
Heh".
Isto é, quando se referem à Biná-Compreensão, Guimel e Heh representam a
mesma Sefirá, e Biná-Compreensão está na cabeça. Mas, "na cauda, Dalet está no
lugar do Heh.
Na Sefirá Malchut-Reino, que é a cauda de todas as Sefirot, Dalet e Heh
representam a mesma Sefirá.

Por: Aryeh Kaplan

- O Alfabeto Sagrado – Hei - A quinta dimensão

Josy Eisenberg — Não nos esqueçamos de que as letras hebraicas existiam antes
da criação do mundo e da Bíblia.
A quinta letra do alfabeto hebraico, a letra hei, corresponde à letra H em francês,
sobretudo ao H aspirado.[ Pronuncia-se como o H de half em inglês.]
Com a quinta letra do alfabeto descobrimos pela primeira vez uma das letras do
nome inefável de Deus.
Há, com efeito, quatro letras no Tetragrama — o nome impronunciável de Deus.
A segunda letra é a letra hei.
Isto revela a importância desta letra.
Cita-se frequentemente este versículo da Torá para ilustrar a dimensão do "dom":
"José diz a seus irmãos: hei (eis) lachem (para vós) zera (semente)".
Os comentadores estabelecem uma relação entre a letra hei, que é uma letra de
abertura, e o "dom", o princípio de "doar".
O que subentende que esta letra é a letra do "dom", o que poderia ser o "dom da
Torá".

Adin Steinsaltz — Hei é, com efeito, uma letra do Nome divino.


Ela tem tanto mais valor que é igualmente encontrada em um segundo Nome
divino, constituído, este, unicamente de duas letras: a letra iud e a letra hei.
Juntas, estas duas letras formam outro nome de Deus, Yah.
Por um lado, hei conota o fato de dar e, por outro, é a letra pela qual os mundos
foram criados: o presente mundo e o mundo vindouro.
Esses dois mundos estão conotados pelas duas letras da palavra Yah.
'
J. E. — Aí estão duas letras de um dos nomes de Deus, com as quais Ele criou os
mundos.
A Bíblia ensina que "foi com Yah que Deus criou os mundos" (Isaías 26,4).
Este plural nos indica que Ele criou dois mundos — olamim.
[O versículo citado permite mais de uma tradução.
O termo "Zur", que aparece na segunda parte do versículo, pode ser traduzido por
"rochedo" ou "fortaleza" em alguns casos.
Por outro lado, este radical também se refere ao verbo criar.
Dele deriva o nome do livro Sefer Ietsirá.
A palavra "Olam" (olamim, no plural), que também aparece na segunda parte do
versículo, pode ser traduzida por "mundo(s)" ou por "eternidade", dependendo de
como é empregada.
Algumas Bíblias propõem a seguinte tradução para o versículo: "Pois em Yah, o
Senhor, [há] um rochedo de eternidades".]

Cada letra corresponde a um mundo: a letra hei corresponde a olam aze, isto é, ao
nosso mundo, e a letra iud a olam abá , o "mundo vindouro".
De acordo com o pensamento judaico foi, com efeito, com as duas letras do nome
sagrado Yah que Deus criou os dois mundos.
Com o hei Ele criou o universo visível e com iud o mundo dos céus.

Na realidade, existem dois Nomes divinos particularmente sagrados na Bíblia.


Um formado por duas letras, Yah e o outro, mais conhecido, constituído de quatro
letras, o Tetragrama: Iud Hei Vav Hei, cuja primeira metade é constituída pelo
nome Yah.
É a transcendência absoluta.
O segundo nome é o Tetragrama, que, aliás, contém duas vezes a letra hei.

A. S. — A importância da letra hei se expressa de múltiplos modos: em primeiro


lugar, desde a Antiguidade, por sua forma.
É uma letra de três dimensões.
É a primeira letra que comporta largura, comprimento e altura.
Esta forma particular foi interpretada desde as origens.
Desde o segundo século os rabinos afirmaram que nosso mundo foi criado com a
letra hei.
E por que nosso mundo se assemelha ao hei?
Porque, como o hei, ele não é fechado!
Ele tem duas portas: uma embaixo, uma em cima.
O mundo é, com efeito, um lugar no qual é fácil "cair".
Um mundo furado, em que as quedas espirituais são muitas: eis bem nosso
mundo!
Mas se quisermos levantar, voltar a Deus, existe uma segunda porta, por certo
mais estreita, em cima.
Seja dito de passagem, há uma relação particular entre o hei e outra letra: o chet.


Por exemplo, a matzá, "pão ázimo", se escreve com hei e chametz, "levedura" se
escreve com chet.
É a diferença entre a palavra "pão ázimo" e a palavra "levedura".

J. E. — Esta mini diferença entre a letra hei, que é aberta, e a letra chet, fechada,
alimenta, com efeito, inumeráveis comentários durante a noite da Páscoa judaica.
A levedura, que é proscrita, é um mundo fechado que se diz chametz e começa
com chet, a letra do pecado.
Esta palavra conota o "pecado": é o pão da escravidão.
Pelo contrário, a letra hei, última letra da palavra matzá, "pão ázimo", conota o que
representa a matzá: o pão da libertação.
Passando da levedura, que começa com chet, ao pão ázimo, passa-se do pecado à
liberdade.

A. S. — Graficamente, a letra hei combina duas letras: dalet e vav:

 + =
O dalet, já o evocamos, representa a pobreza.
Em hebraico, pobre se diz "dal".
Na Cabalá, a "pobreza" representa o reino terrestre que não tem luz própria.
O hei completa o dalet acrescentando-lhe o vav, símbolo daquilo que desce do alto.
Completando o dalet com o vav, ele deixa de ser pobre, ele adquire a plenitude:
hei.

J. E. — Poderíamos dizer que é a combinação da pobreza e do espírito divino que


desce sobre o mundo.

A. S. — E mesmo se pensamos no seu valor numérico, 5, o hei é a média entre


dalet, 4, e vav, 6.
Situando-se entre estas duas letras, pobreza e plenitude espiritual, ele designa
perfeitamente nosso mundo, não como lacunar, mas como um mundo ambivalente
com nossas quedas e nossas subidas.
Ademais, como certas letras, o hei tem uma ponta para cima que vem nos dizer:
existe algo mais elevado do que nosso mundo.

J. E. — É muito importante lembrar que a letra hei aparece duas vezes no


Tetragrama, no qual ela é a segunda letra e a última letra: Iud HEI Vav HEI.
Há provavelmente um hei invisível que nos indica a transcendência: o primeiro hei
é o mundo de Deus e o segundo hei é nosso mundo.
Encontra-se isso em um versículo da Torá:
"As coisas escondidas são de Deus, as coisas visíveis são para nós e nossos filhos."
Deuteronômio
A palavra "escondidas" neste versículo começa com hei e a palavra "visíveis", no
fim do versículo, começa igualmente por um hei.
O início da "revelação" estaria escondido para nós e o fim representaria o visível, a
presença de Deus em nosso mundo.

- A palavra: um sopro

A. S. — Há dois tipos de hei: o hei superior e o hei inferior, segunda e última letra
do Tetragrama.
Elas têm algo em comum: a forma do espaço.
Mas não é exatamente o mesmo espaço.
O espaço designado pelo primeiro hei é o mundo superior; o segundo hei é nosso
mundo daqui de baixo.
Existe, no entanto, outra leitura, também muito antiga, que aparece nos poemas de
um dos grandes mestres da Cabalá, o santo Ari de Safed — Ari Hakadosh.
Cada letra tem sua forma particular de "pronúncia".
Isto é verdade tanto para as consoantes quanto para as vogais.
O hei é exceção.
Ele é sem voz: impronunciável, é um H mudo.

J. E. — Este hei é mudo em sua origem.


Ele se torna pronunciável quando se lhe junta uma vogal: hei + a = ha;
hei + i = hi...

A. S. — Pode-se facilmente experimentar isso.


Existem várias letras guturais: para enunciá-las, utiliza-se a garganta.
Em contrapartida, não é necessário nenhum esforço para dizer o hei: é apenas um
sopro.
Daí o outro aspecto do hei, ligado ao fato de que ele serviu para criar o mundo.
O sentido de "vaidade das vaidades" significa realmente: vapor dos vapores.
Esta letra é apenas vapor, sopro.
Ela não tem consistência, não tem carne: é um simples sopro.

J. E. — Como o mundo foi criado com a letra hei, o hei representa o ruach Elohim
— o sopro de Deus, o sopro criador.
"E o sopro de Deus soprava sobre a face das águas" (Gênesis 1,2).

A. S. — Como falamos?
Toda palavra é, na realidade, um hei mais alguma coisa!
O hei fornece o ar necessário para articular.
É modulando que pronuncio uma letra, segundo sua modulação.
Não posso pronunciar uma letra sem exalar um sopro: é o fundamento da criação.
Assim, está escrito: "Pela palavra do Eterno os céus foram feitos e pelo seu Sopro
todas as suas hostes celestes" (Salmos 33,6).
Apenas um sopro, ar!
Esta letra sem consistência foi chamada pelo Ari Hakadosh: "letra leve sem
materialidade".
Letra leve, sem peso: uma letra que não se ouve.

J. E. — O Ari disse que ela não tem consistência.


No entanto, pode-se falar de uma verdadeira consistência quando se pensa que ela
transformou o destino do povo judeu.
Explico-me: quando se diz que Deus criou o mundo, os rabinos fizeram um jogo de
palavras a este respeito.
"... Eis a história do mundo. Sehibaram' — quando foi criado — pode ser lido
`Beabraham' ..." — para Abrahão.
Isto quer dizer que Deus criou o mundo com o hei, mas Ele pode também tê-lo
criado para Abrahão, o patriarca.
É preciso saber que Deus acrescentou uma letra ao nome de origem de Abrão: o
hei, para que ele se torne fecundo, o que resultou em "AbraHão".
Esta letra alterou o destino do patriarca, acrescentando divindade à sua condição
primeira.

- Hei: letra de fecundidade

A. S. — O hei é fonte de fecundidade.


Ele pode se desenvolver, crescer graças à mistura de dalet e de vav, que formam
um par capaz de fecundar.
J. E. — A letra hei, com efeito, desempenhou um papel capital na história dos
patriarcas.
Quando ele emigra para a Terra santa, o patriarca se chama Abrão.
Ele é muito velho e não tem filhos.
No decorrer de uma famosa visão denominada "A aliança entre as partes", Deus
anuncia a Abrão que ele terá uma grande posteridade.
Abrão se surpreende!
Eu li nas estrelas, disse, que Abrão nunca teria filhos.
Deus responde a Abrão: "Certamente, mas Eu vou acrescentar uma letra sagrada a
teu nome! Abrão era estéril, mas AbraHão, ele poderá procriar".
"Teu nome não será mais Abram, mas será doravante AbraHam, pai de uma
multidão de nações."
Gênesis 17,4
Como se pode constatar, na transformação de Abraão para AbraHão, Deus
simplesmente usou os dois hei do Tetragrama: Iud HEI Vav HEI, portador, já o
dissemos, de fecundidade.
O primeiro hei foi dado a Abrão, tornado AbraHão, e o segundo — pois para
procriar é preciso dois — à sua esposa Sarai, suprimindo a última letra de seu
nome e substituindo-a pelo hei, letra de bênção.
"Sarai, tua mulher, não se chamará mais Sarai, mas SaraH."
Gênesis 17,15
O que se passou nesta nova nominação de Abrahão e Sarah?
A Abrão acrescentou-se um hei, mas a Sarai tirou-se a letra iud, símbolo do mundo
vindouro, para substituí-la pelo hei, a letra deste mundo aqui, e eles se tornam
fecundos!
Hei mais hei, é a combinação de toda procriação.

J. E. — Faz-se necessário um desvio pela gramática.


O hei é frequentemente a marca do feminino.
Em hebraico diz-se chacham: é "homem sábio" no masculino, mas no feminino
acrescenta-se um hei: chachamaH.
É frequente para muitas palavras em hebraico acrescentar um hei no feminino.
Por que para olam aze (azeh), o "mundo daqui", o hei é feminino, ao passo que
para olam abá, "o mundo vindouro", o hei é masculino?

A. S. — Porque nosso mundo é feminino: é aquele em que nascem as coisas.


Para o bem ou para o mal, trata-se sempre de criação.
Ao passo que o mundo vindouro, este é estático.
É somente aqui embaixo que posso mudar: subir ou descer.
A letra iud, que simboliza o outro mundo, não tem falhas: mas ela não cria.
Só se pode criar com o hei, que tem a profundidade e a superfície.

- Do conhecimento à interrogação

J. E. — Voltemos um pouco à gramática hebraica.


Em francês, existem vários artigos: "o", "a"...
Em hebraico existe apenas um, a letra hei.
Por exemplo, shalom, "paz", hashalom, "a paz".
Se o hei designa o artigo quando ele precede uma palavra, em contrapartida,
colocado no final da palavra ele se tomará o sufixo da feminilidade.
O que é sugestivo é que na qualidade de prefixo é denominado em hebraico
o hei haiediá — o hei do conhecimento.

A. S. — O hei anuncia uma coisa conhecida e visível.


Eis por que os gramáticos o denominaram o hei do conhecimento.
Mas o hei não é somente um artigo: ele é também interrogativo.
Colocado no início de uma frase, serve para fazer uma pergunta.
J. E. — Para compreender esta particularidade do hei, que colocado no início de
uma frase transforma-a em interrogação, existe um célebre exemplo: o assassínio
de Abel por Caim.
Conhece-se a resposta que Caim deu a Deus: "Acaso o guarda de meu irmão sou
eu?" (Gênesis 4,9).
Mas na realidade foi colocando diante da palavra "guarda" o hei interrogativo que
Caim transformou o que poderia ser uma afirmação — pois somos, sim, guardas de
nossos irmãos — em uma insolente interrogação!
A Bíblia diz literalmente: Hei, acaso sou o guarda de meu irmão?

A. S. — Assim que chegamos sobre a terra, estamos no questionamento: o mundo


pulula de questões.
E o hei coloca as questões.
Toda atividade intelectual começa pelo questionamento.
É o contrário do que se passa quando há revelação: aí, recebo as coisas
passivamente, sem me fazer perguntas.
Ao passo que no momento em que coloco uma questão eu abro uma porta.
É o início da reflexão e da dialética.
A questão é o fundamento de toda compreensão.
O hei, símbolo da inteligência, começa pela pergunta e provoca uma resposta.
A questão e a resposta são precisamente sua verdadeira natureza, pois nosso
mundo é um e outro: um enigma permanente e a solução do enigma.
Eis por que há dois hei, o artigo e o interrogativo, mas eles são de mesma
essência.

J. E. — Aliás, no nome de Deus, o Tetragrama, há também o primeiro hei — o que


não se pode realmente compreender — e o último hei — as perguntas que nos
fazemos.

A. S. — É um encaminhamento natural: no início, creio tudo saber, e constato que


não sei absolutamente nada!
O essencial é a relação entre o hei do conhecimento e o hei interrogativo.
Ela resume perfeitamente as modalidades da atividade do cérebro: o
funcionamento da inteligência.
Na realidade, há um vai e volta permanente entre a questão e a resposta que se
impõe: sua estrutura é este fluxo.

J. E. — Há outro aspecto: o hei é colocado no início do verbo "ser", HVH.


Compreende-se por que Deus criou o mundo com hei.
E, justamente, na Torá Deus é denominado o "Ser", "aquele que é, que foi e que
será...".

A. S. — O que existe.
O que "é".
Todas as conjugações do verbo "ser" (passado, presente e futuro) compreendem
sempre os dois hei!
Pois a letra designa o existente.

- A quinta dimensão

J. E. — Evocamos a forma desta letra e depois seu conteúdo.


Mas há também outro aspecto: o valor numérico.
Para o dalet, vimos que seu valor numérico — 4 — representa as quatro letras do
nome de Deus, as quatro matriarcas etc.
O hei, ele, tem por valor numérico o número 5.
Ora, este número ocupa um lugar particular no judaísmo.
A. S. — Ele reúne aspectos muito precisos.
Em primeiro lugar, 5 é a metade de 10.
Isto não é gratuito, pois assim os dois hei do Tetragrama são os dois componentes
de um só número: aquele que designa o Santo Nome.
A respeito deste duplo hei, várias observações foram feitas na Cabalá acerca do
fato de que se pode escrever o nome desta letra de diversos modos.
Seja hei e alef, seja hei e iud ou simplesmente hei e hei: ela contém apenas si
própria.
Para voltar ao número 5: ele é o número 4 mais a sua realização.
Se recorrermos a comparações da ordem da geometria, diremos que 4 é
unicamente uma figura de quatro lados.
No número 5 há a mais um ponto central.
Este ponto muda tudo: passa-se dos quatro lados sem verdadeira ligação a uma
relação central.
Eis por que são cinco os livros da Torá.
Na Cabalá fala-se também dos cinco "degraus" da alma humana: nefesh, "a vida",
ruach, "o espírito, o sopro", neshamá, "a alma", chaiá, "a alma eterna", iechidá, "a
alma de cima", aquela que se funde em Deus.
Por outro lado, sempre existiu na filosofia antiga uma quádrupla divisão do mundo:
o mineral, o vegetal, o animal, o humano.
Juda Halévi acrescenta uma quinta dimensão: o judeu, a quinta essência.

J. E. — O senhor fala, para esta quinta dimensão, da quintessência.


Não seria pretensioso dizer que somos a quintessência do mundo?

A. S. — Digamos as coisas de outro modo.


Observando, por exemplo, que a palavra "judeu", iehudi, é constituída de cinco
letras: as quatro letras do Tetragrama mais uma quinta letra: a letra dalet.
A eleição significa "ter escolhido alguém para fazer as coisas avançarem".
Se os judeus fazem o que deveriam fazer, então eles constituem uma espécie de
vanguarda para o mundo.
Se eles não se conduzem bem, são os últimos dos últimos!
Às vezes, é até pior: eles estão na vanguarda daquilo que não se deve fazer!

J. E. — A letra dalet representa os quatro mundos e a presença de Deus no mundo


através das quatro letras do Tetragrama: há o divino na matéria.
Quanto à quinta dimensão, a santidade, algo que ultrapassa os quatro elementos,
uma espécie de ―pilpel‖, "a pimenta do mundo", se assim posso dizer.

A. S. — Isto significa que existe uma dimensão que vai além da natureza.

J. E. — Eis que voltamos para a Torá e seus cinco livros.


Portanto, por definição, o povo judeu já está na quinta dimensão.

A. S. — Com efeito. Esta ideia aparece em um livro fundamental da Cabalá: Sefer


Ietsirá — o Livro da Criação.
Neste livro descreve-se um mundo em cinco dimensões.
A insistência nestas cinco dimensões é determinante, contrariamente às quatro
dimensões das quais fala a física.
Hoje, na física moderna, acrescenta-se às três dimensões clássicas uma quarta: o
tempo.
O Sefer Ietsirá, o Livro da Criação, fala também desta quarta dimensão: o tempo.
Mas acrescenta uma quinta, espécie de eixo da existência: o bem e o mal.
O tempo não é da mesma ordem que as três dimensões do espaço; é uma
dimensão de outra natureza: não tem o mesmo ângulo.
Do mesmo modo, a quinta dimensão — o bem e o mal — não aparece a partir de
nossa existência.
O mundo em quatro dimensões, estes são os dados da Existência.
O mundo da quinta dimensão é o da Essência das coisas.

J. E. — É o que se chama a "santidade", a ideia de algo que está "além".

A. S. — A santidade, mas também seu contrário: é isto, a quinta dimensão.

Por: Josy Eisenberg e Adin Steinsaltz


As Letras Hebraicas – Parte 10


Vav

Som: ―V‖ ou ―U‖

Significado: O significado da palavra Vav é um gancho. Gramaticalmente, Vav


representa ―e também‖.
Quando prefixo de um substantivo, Vav significa "e".
No hebraico bíblico, o Vav tem uma função especial quando usado como prefixo de
um verbo: ele muda o tempo do verbo, do pretérito para o futuro ou vice-versa.
Nessa função, o Vav inverte o tempo, conectando e transmutando passado e
futuro.
Vav é uma letra de conexão, ou seja, tem como função ser uma ponte entre uma
coisa e outra.
Um exemplo: o que separa Pêssach de Shavuot é a contagem do Ômer, que
engloba todo o mês de Touro e é regido por esta letra.
Vav corresponde a Zeir Anphin na Árvore da Vida, a comunicação entre o Mundo
físico e os Mundos superiores.
O gancho primordial entre o espírito e a matéria, o céu e a terra.
É uma das letras pai - derivada da letra mãe Aleph.
Ela simboliza a arte de reunir vários elementos a fim de formar um todo
harmonioso. Senso de unidade e conexão com todas as coisas e com todas as eras
- tikun
Vav traz um estado de continuidade e unificação através do tempo e espaço.
Esta letra simboliza igualmente uma completa harmonia interior, resultado de uma
transformação e de uma perseverança.
Vav concilia os opostos.
O vav desperta também a capacidade de transformação, ou a mudança individual.

Conceito: O conceito da letra Vav é o poder de conectar e correlacionar todos os


elementos dentro da Criação, através da força do pensamento. E pensamento para
o homem de Tradição é a residência de uma poderosa força espiritual; Pensamento
para nós não é raciocínio, não é inteligência, não é o que passa pela sua cabeça,
pensamento é algo muito mais complexo. Só podemos estabelecer intimidade com
algo, ou seja, ligação, conexão, quando essa ligação se transforma numa ligação de
pensamento.

Formato: A letra Vav e é um homem ereto, ligado à divina fonte...

Número: Vav representa o número 6.


O número de dias em que o universo foi criado.
O mundo foi realizado em 6 dias nas 6 direções.
A primeira palavra da Genesis, ―bereshit‖, pode se ler ―bara shith‖ que significa
―Cria Seis‖.
A criação desenrolou –se em 6+1.
O numero 6 simboliza tanto a distinção como a união entre o Criador e a Criação.
O valor pleno do nome Vav é igual a 13, mesmo valor numérico das palavras Echad
(Unidade) e Achavá (Amor), reforçando assim a força de união do Vav.
Como já dito, o valor numérico desta letra é seis:
O 6º dia da Criação corresponde a Criação do ser humano.
Tiferet é a 6ª sefirá, o ponto de equilíbrio da Árvore da Vida
A Maguen David, o escudo de seis pontas que nos conecta com 3 Anjos de proteção
espiritual , removendo a energia de mortificação.
= Micha‘el  = Gabri‘el  = Nuri‘el

Espaço: No espaço, Vav representa a constelação do Boi (Touro), Shor em


hebraico..

Tempo: No tempo Vav é responsável pela criação de Iyar.

Corpo: Vav está relacionada ao rim direito que registra os aspectos da nossa
reatividade.

Medicina: Vav desperta em nós a possibilidade do Pensamento, da Contemplação.


Contemplar significa colocar foco concentrado e repleto de disposição espiritual.

Arquétipo: Yissachar.

Aplicação:
Conectar-nos com a terra por meio dos pés.
Manter nossa conexão com a rede da vida quando alimentamos nosso corpo.
Descobrir nosso caminho de tikkun, de restauração.

Sombra:
Ficar preso.
Co-dependência.

Reflexão:
De que maneiras eu posso colaborar com o processo de conexão, de reunião, de
tikkun?

Ação sugerida:
Hoje, durante alguns minutos, sente-se em silêncio e observe ou perceba sua
respiração.
Ao fazer isso, imagine que você não está bem respirando ativamente, mas
passivamente.
É a atividade perpétua do Ruach Ha-olam, o Sopro do Mundo (um dos nomes de
Deus).

Canal – Caminho: De Keter a Biná.

Sefer Yetziyrah: “Ele fez a letra Vav reinar sobre o pensamento, coroou-a,
combinou-a com cada uma das outras e, com elas, formou: touro no universo, Iyar
no ano e o rim direito na Nefesh...” (S. Y. 5.)

Comentários:
Esta letra representa tanto um ―prego‖, como um ―gancho‖.
Podemos ainda imaginá-lo um suporte sobre o qual repousaria um mastro dobrado
ou ainda um repouso de cabeça substituindo o travesseiro.
Em hebraico, Vav serve de conjunção de coordenação e representa tudo o que
reúne as coisas entre elas.
Seu valor ―seis‖ faz dizer aos textos da Cabalá que esta letra sela as seis direções
do universo, como vemos no Bahir:
"A quê é comparável o Vav? Àquele que "se orna de luz como uma vestimenta‖.
O Vav designa também as seis direções‖.
Vav, a sexta letra do alfabeto, é uma letra de conexão, ou seja, tem por função
estabelecer uma ponte entre uma coisa e outra, sendo assim, no mês de Iyar, é
uma ligação entre Pêssach (a liberdade física em Nissan) e Shavuót (a liberdade
espiritual em Sivan).
Independente do momento do ano, a letra Vav corresponde a Zeir Anphin (partzuf
formado pelas sefirot Chessed, Guevurah, Tiferet, Netzach, Hod e Yessod) na
Árvore das Vidas (a comunicação entre o mundo físico e os mundos superiores) e
ao homem, responsável pela elevação dos cinco mundos.
Combinada com ―Pei‖, a boca, temos o poder criador do verbo para promover a
reengenharia da alma ao longo de todo o mês de Iyar - a Contagem do Ômer.
Contar, literalmente, o Ômer é muito importante.
Não basta saber que é o segundo dia da terceira semana, por exemplo.
A palavra corresponde à ação e, após a bênção que é pronunciada, é preciso dizer
que estamos ―no segundo dia da terceira semana‖.
Esta é a "chave" para realmente acessarmos esta combinação de energias em cada
um de nós.

Vav é tua espada e instrumento.


É através dele que nos encostamos no lado oposto ―e saltamos‖.
Ou ainda, poderemos ―construir pontes‖.
Ele é o seis, a união, a estrela de David, a união da mãe com a filha.
A união do céu com a terra.
Do homem com a mulher.
Do homem com D´us.
Vav é o segredo.
É o sagrado.
Vav é ―V‖, Vav é ―O‖, Vav é ―U‖, Vav é ―E‖.
Mas todas as letras são cheias de segredos.
Vestimentas de luz, de um mundo invisível, mágico.
Vav nos aproxima
É um braço estendido.
É a ajuda que necessitamos.
É ele que vem para representar o Messias, Yoshua para muitos.
E quem é o messias?
Aquele que canaliza o conteúdo de cima, da mãe (Ima - Biná) e do pai (Aba -
Chochma).
O conhecimento transformador, que exige de nós esforço, entrega, um sentir
organizado.
O vav tem o dom de mudar o tempo de um verbo, pretérito para futuro, futuro
para pretérito.

Vav é refere-se às seis direções, onde tudo foi criado e colocado.


O que é criado necessita Existir e estar conectado com tudo, e conseguimos isso,
com nosso corpo, com nossa alma, nossa identidade e nossas funções aqui nesta
vida.
Por isto Vav é o gancho que muitos que estão perdidos nesta vida querem.
Aqueles seres imperfeitos, caídos no abismo, sem uma identidade, buscam o Vav
para se salvar!
Mas Vav nos convida para realizar o nosso Tikun (correção, retificação).
A retificação é a capacidade que temos de colar partes, de unir e não separar.
O mal, a energia do mal, sempre separa!
Destrói o Vav.

Tudo que nos parece um ―falo‖, ―vela‖, ―haste‖, ―gancho‘, ―cola‖, é símbolo do Vav.

No início da Criação, quando a Luz Infinita preenchia toda a realidade, D‘us contraiu
Sua Luz para criar um espaço vazio, que seria o ―lugar‖ necessário para a
existência dos mundos finitos.
Para dentro deste vácuo, D‘us ―puxou‖ (figurativamente falando) uma única linha
de luz proveniente da Fonte Infinita.
Este raio de luz é o segredo da letra Vav.
Embora a linha pareça ser uma só, ela, no entanto, possui duas dimensões — uma
força externa e uma interna —, e ambas fazem parte do processo de Criação e de
interação contínua entre a força criativa e a realidade criada.
A força externa da linha é o poder de diferenciar e separar os diversos aspectos da
realidade, estabelecendo, assim, uma ordem hierárquica — alto e baixo — dentro
da Criação.
A força interna da linha é o poder de revelar a inclusão inerente aos diversos
aspectos da realidade, um dentro do outro, unindo-os, assim, como um todo vital.
Esta propriedade da letra Vav, em seu uso no hebraico, é denominada ―vav
hachibur‖, o ―vav da conexão‖ — ―e‖.
O primeiro Vav da Torá — ―No começo D‘us criou os céus e [vav] a terra‖ — serve
para unir espírito e matéria, céu e terra, por toda a Criação.
Este Vav, que aparece no começo da sexta palavra da Torá, é a vigésima segunda
palavra do versículo.
Ele alude ao poder de conectar e inter-relacionar todas as vinte e duas forças
individuais da Criação: as vinte e duas letras do alfabeto Hebraico, do alef até o
tav.
(A palavra ―et‖ [que aparece antes dos dois exemplos da palavra ―os‖ neste
versículo, e é escrita alef-tav] é geralmente considerada como representante de
todas as letras do alfabeto, de alef a tav. Nossos Sábios interpretam a palavra
neste versículo como uma inclusão de todos os diversos objetos da Criação
presentes no céu e na terra.).

No Hebraico bíblico, a letra Vav também possui a função de inverter o tempo


aparente de um verbo para o seu oposto — do passado para o futuro e do futuro
para o passado (―vav hahipuch‖).
A primeira aparição deste tipo de Vav na Torá é a letra Vav que inicia a vigésima
segunda palavra do relato da Criação, ―E D‘us disse…‖.
Este é o primeiro pronunciamento explícito dentre os dez pronunciamentos da
Criação: ―E D‘us disse [o verbo ―dizer‖ sendo invertido do tempo passado para o
tempo futuro pelo Vav no começo da palavra — ―E‖]: ‗Haja luz‘, e houve luz.‖
O fenômeno da luz abrindo caminho através da escuridão do tzimtzum, a contração
primordial, é, em si, o segredo do tempo (futuro tornando-se passado) que permeia
o espaço.
No serviço Divino, o poder de trazer do futuro para o passado é o segredo da
―teshuvá‖ (―arrependimento‖ e ―retorno a D‘us‖) proveniente do amor.
Através da teshuvá proveniente do temor, as transgressões deliberadas da pessoa
transformam-se em erros; a severidade de suas transgressões passadas é
parcialmente abrandada, mas não muda totalmente.
Entretanto, quando ela retorna por amor, suas transgressões deliberadas
transformam-se realmente em méritos, pois a própria consciência acerca da
distância de D‘us resultante das transgressões torna-se a força motivadora para
que a pessoa retorne a D‘us com uma paixão ainda maior do que aquela de quem
nunca pecou.
Todo ser humano tem uma porção no Mundo Vindouro, como está escrito:
―E toda a sua nação é de ‗tzadikim‘; para sempre eles herdarão a terra.‖
O poder da teshuvá de transformar completamente em bem o passado da pessoa é
o poder do vav em converter o passado em futuro.
Esta própria transformação requer, paradoxalmente, a atração da luz do futuro
para o passado.
Trazer o futuro para o passado no serviço Divino é o segredo do estudo dos
ensinamentos mais profundos da Torá, aquele aspecto da Torá que está relacionado
com a revelação da chegada de Mashiach.
Rashi explica o versículo no Cântico dos Cânticos:
―Que ele me beije com os beijos de sua boca, pois seu amor é melhor do que
vinho‖ — uma alusão aos doces ensinamentos que serão revelados por Mashiach.
Quando uma pessoa se dedica ao estudo dos segredos da Torá, ela atrai do futuro
para o passado, a fim de se fortalecer para retornar em completa teshuvá por
amor, e, desta forma, converter seu passado em futuro.

O desenho da letra Vav é um gancho.


O formato do Vav também pode representar um conduto que conecta um nível
mais elevado a um nível mais baixo.
O equivalente numérico do vav, como já dito, é seis.
O seis representa conexão, exemplificada pelos anjos na visão de Yecheskel, cujas
seis asas lhes permitiam erguer-se e conectar-se com D'us.
O seis também representa os seis livros da Mishná.
Através do estudo de Torá, a pessoa se conecta com D'us.
O seis também representa compleição, porque algo que está cercado em todos os
seis lados — norte, sul, leste, oeste, acima e abaixo — é completo.
Similarmente, vemos que quando o povo hebreu deixou a terra do Egito, D'us os
cercou com suas ―Nuvens de Glória‖.
A nuvem acima deles os protegia do sol.
A nuvem abaixo os abrigava da areia quente do deserto.
As quatro nuvens ao redor — atrás e na frente, esquerda e direita — serviam como
escudo protetor.
Flechas e outras armas dirigidas contra eles eram transformadas em palha.
Além disso, as Nuvens de Glória também agiam como "alfaiate" e "lavanderia".
Toda noite o povo hebreu retirava as roupas antes de dormir.
Na manhã seguinte aquelas roupas estavam perfeitamente lavadas e passadas.
Se acontecia de alguém ganhar alguns quilos, suas roupas "cresciam" com ele.
Os hebreus usaram as mesmas roupas todo dia durante a jornada inteira pelo
deserto.
As roupas se adaptavam ao corpo de cada um e jamais ficavam velhas ou gastas.
Rashi em Bamidbar 10:34, explica que uma sétima Nuvem surgiu perante eles,
nivelando as montanhas e matando cobras e escorpiões em seu caminho.

O número seis também significa os seiscentos mil hebreus homens, com idades
entre 20 a 60 anos, que deixaram o Egito.
Além disso, representa a Torá porque a palavra Yisrael - é um acrônimo
significando: ―Ali há seiscentas mil letras da Torá" e se uma tetra da Torá
estiver faltando, quebrada ou rachada, D'us não o permita, o Rolo de Torá inteiro é
declarado não-casher — impróprio para ser lido.
Similarmente, se um hebreu se afasta de seu caminho, se esta perdido ou
profanado, toda a nação hebraica esta também carente ou profanada.
Somos considerados incompletos.
Encontramos outro exemplo de "seis" quando o povo hebreu estava no Egito e
oprimido pelo trabalho estafante.
O faraó engendrou muitas tramas contra o povo hebreu para que não se
multiplicassem. Porém os hebreus continuaram a se propagar numa taxa
inacreditável.
Na verdade, a Tora nos diz que as mulheres hebreias tinham seis filhos de uma
vez.
O mundo foi criado em seis dias — Os Seis Dias da Criação.

A primeira palavra da Tora é Bereshit - ("No principio"), que é composta de
seis letras.
Além disso a Torái declara claramente: "D'us criou seis dias".
Há também seis ―alefs‖ no primeiro versículo da Torá.
O primeiro Vav na Torá é encontrado no inicio da sexta palavra (―veet‖).
Portanto, a Criação esta conectada com o número seis.
Cada um dos seis dias foi criado com um atributo emocional diferente.
Além disso, a progressão desses seis dias é consistente com a declaração do
Talmud (que vimos no texto da letra Alef) que D'us criou o mundo (como sabemos)
para existir por 6.000 anos.
Se olharmos para cada dia da Criação, podemos observar cada um dos seis
milênios e seu atributo correspondente.
O primeiro dia da Criação foi Chessed — o atributo da bondade.
Este foi o dia em que D'us disse: "Que haja luz."
Essa luz era infinita, uma luz que a pessoa poderia potencialmente ter usado para
ver de um lado ao outro do mundo.
Por fim, porém, D'us reclamou aquela luz, pois Ele reconheceu que seu potencial
também poderia ser usado para o mal.
Alguém poderia perguntar: "Como poderia haver luz no primeiro dia se o sol e a lua
somente foram formados no Quarto Dia da Criação?"
A luz mencionada aqui é a concepção de D'us sobre luz como fonte do supremo
poder, visão, potencial e bondade. Esta luz foi armazenada e mais tarde dada aos
tsadikim (justos) de cada geração como espírito Divino para perceber o futuro e o
passado, e para conciliar vários problemas e dificuldades.
Além disso, nos primeiros mil anos, (correspondendo ao primeiro dia), as pessoas
tinham vidas muito longas (Adam, por exemplo, viveu 930 anos).
O conceito de Chessed, portanto, representa a bondade de D'us tanto ao criar a luz
infinita como em conceder vitalidade ao homem.
O Segundo Dia da Criação foi imbuído com Guevurá, contração e julgamento.
Este foi o dia em que D'us separou as águas invasivas nos âmbitos superiores e
inferiores.
Historicamente, o Segundo Milênio presenciou um julgamento severo contra os
habitantes do mundo.
Este período está repleto de dificuldades, começando com o Dilúvio, que D'us fez
para destruir o mundo inteiro (exceto Nôach e os habitantes da Arca).
Este período também incluiu o devastador episódio da Torre de Babel.
Uma geração inteira se rebelou contra D'us, construindo um torre para ascender
até o trono de D'us e destruí-Lo. D'us consequentemente "confundiu sua
linguagem" (Sobre este dia da Criação, a Torá declara as palavras ki tov ("foi bom")
duas vezes.), dando ao povo uma cacofonia de setenta idiomas para impedi-los de
conversarem uns com os outros.
A confusão resultante, chamada ―Bavel‖ ou ―Babel‖, significa ―confusa‖ ou
―obscurecida‖.
O Terceiro Dia da Criação foi um dia de Tiferet — ―beleza‖ e ―misericórdia".
Neste dia, as flores e gramas foram criadas, juntamente com todas as cores do
universo. O Terceiro Milênio viu a mão misericordiosa de D'us na redenção do povo
hebreu do Egito e a Outorga da Torá.
A Torá é chamada Tiferet, ou beleza.
A beleza não é monocromática ou monótona; é criada mesclando-se e
harmonizando várias cores ou sons.
Assim, a Torá é uma harmoniosa mistura de mandamentos positivos e negativos, e
uma síntese dos elementos espirituais e físicos da Criação.
Durante este período, recebemos também as mitsvot, mandamentos para
seguirmos os caminhos de D'us.
O Quarto dia da Criação foi Netsach, ―vitória‖ e ―resistência‖.
Este foi o dia em que D'us criou duas luminárias no céu, o sol e a lua.
Este foi o milênio no qual foram construídos os dois Templos Sagrados.
O Primeiro Templo Sagrado era espiritualmente maior — e assim comparado ao sol.
O Segundo Templo, que é comparado à lua, irradiava uma luz menos forte.
Além disso, o Talmud declara que Netsach está associado com Jerusalém, a cidade
do nosso destino, nossa fé e nossa suprema Redenção.
O Quinto Dia da Criação foi Hod.
Hod significa ―reconhecimento‖.
Pode também denotar ―devastação‖.
Este foi o dia no qual D'us criou os "monstros do mar" e o oceano começou a
enxamear com criaturas.
As aves também foram criadas neste dia e começaram a voar pelo céu.
O Quinto Milênio foi uma geração de massacres, expulsões e horríveis dificuldades
para o povo judeu.
Está declarado no livro de Eichá (Lamentações): "O dia inteiro foi devastador‖.
Devemos porém equilibrar a devastação de Hod, com o fato de que em toda esta
era, o povo judeu reconheceu apaixonadamente a D'us.
O quinto "dia" foi o milênio em que milhares de judeus, ao morrerem durante as
Cruzadas, clamaram ―Shemá Yisrael — D'us é nosso Senhor, D'us é Um."
O povo judeu, mesmo nas vascas da aniquilação, reconheceu Seu Criador.
O sexto dia da Criação foi Yessod, que significa tanto construir um alicerce quanto
conectar.
Este foi o dia em que Adam, o primeiro homem, o alicerce da raça humana, foi
criado. D'us primeiro formou o mundo inteiro e então trouxe o homem a ele.
Com isso aprendemos que é obrigação do homem formar uma conexão ou vínculo
entre o material e o espiritual, usando cada aspecto do mundo físico a serviço de
D'us.
Yessod também representa o Sexto Milênio.
Como explica a Chassidut, Adam é o protótipo de Mashiach, que é o homem
perfeito.
A palavra "Adam" é formada pelo ―Alef‖ (Guematria um) que representa o intelecto,
a primeira das dez faculdades da pessoa.
―Dalet‖, a segunda letra de Adam, é a primeira letra de ―Dibur‖, ou ―Fala‖.
―Mem‖ significa ―maasê‖, ―ação‖.
Assim Adam, ou Mashiach, será perfeito em pensamento, palavra e ação.
Além disso, o Or Hachaim escreve que ―as centelhas da Redenção começaram
primeiro a aparecer no ano 5009 do Sexto Milênio (o ano 1740 do Calendário
Gregoriano)‖.
Como o Talmud declarou que "todos os tempos afixados para a chegada de
Mashiach já passaram", cabe a nós intensificar os atos de bondade para introduzir a
chegada de Mashiach agora.

Enquanto o desenho do Vav se parece com um ―gancho‖, a palavra ‗vav‖ realmente


significa "gancho".
Um gancho é algo que segura duas coisas juntas.
É também um meio de conectar o espiritual e o físico.
"Se um homem está conectado ao Alto, ele não cai abaixo."

Num nível sintático, acrescentar um Vav ao início de qualquer palavra cria o


significado "e"; por exemplo, ―ve' ele‖ significa "e estas coisas".
Dentro de uma frase, "e" é o gancho que conecta uma palavra ou frase à seguinte.
Além disso, o Vav agregado a um verbo converte aquele verbo do passado para o
tempo futuro, ou do futuro para o tempo passado.
Por exemplo, a palavra ―haya‖ em hebraico significa "era".
A palavra ―vehaya‖ significa "será". Simplesmente agregando o vav, o passado é
transformado em futuro.
Ao contrário, considere a palavra ―yehi‖, que significa "será", como em ―Yehi or" —
[E D'us disse,[ "Que haja luz", Coloque um Vav na frente — ―vayehi‖ — e o
significado se torna "Houve luz", no tempo passado.
Com isso em mente, podemos apreciar uma lição do Rebe, declarada em seu
comentário sobre o Tanya:
"Na Torá há cinquenta e três porções. Todas, exceto dez, começam com um Vav.
Similarmente o Tanya, também conhecido como a Lei Escrita do Chassidismo, tem
cinquenta e três capítulos em sua primeira seção. Todos os cinquenta e três, com a
exceção de dez, começam com um Vav."
Por que dez capítulos da Torá e do Tanya não começam com a letra Vav?
Talvez a resposta seja a seguinte: A Torá é frequentemente comparada à água.
Assim como a água desce as montanhas escarpadas até o vale abaixo sem mudar
sua essência que dá vida, também a Torá chega ao homem em sua forma original,
essencial. A Torá começou no Céu, emanando de D'us, e então viajou — e viaja
continuamente — aqui para o mundo físico, totalmente intacta.
Essa mensagem é transmitida através da letra Vav, que é um gancho conectando o
reino mais elevado ao inferior; o conduto que permite à Torá fluir até o homem.
Historicamente, a Torá também conecta as leis e costumes do passado ao
presente; e assim o presente ao futuro.
Como o Vav, que tem a capacidade de mudar uma palavra, frase ou ideia do
passado ao futuro e vice-versa, a Torá está tanto dentro do tempo como além do
tempo.
Seus ensinamentos eternos unem a vida no início da Criação com os assuntos
atuais da vida moderna.
Alguém poderia dizer que as dez porções da Tora e os dez capítulos do Tanya que
não começam com um Vav atraem atenção aos Dez Mandamentos e aos Dez
Pronunciamentos (da fala) com os quais D'us criou o mundo.
Como explica o Zohar: "Se um judeu segue os Dez Mandamentos da Torá, o mundo
que foi criado com os Dez Pronunciamentos continuará a existir. Se, no entanto, ele
não o fizer, D'us não o permita, então o mundo reverterá ao caos primordial."
Assim, o Vav nos ensina o efeito monumental que temos sobre o mundo ao
estarmos conectados no alto e trazendo a Torá aqui para a terra em nossos
pensamentos, fala e ações.

O Rebe de Lubavitch, Rabi Menachem Mendel Schneerson nos ensina:


"A letra Vav é a letra da Emet [Verdade]".
[A letra] vav [tem o valor numérico de seis]. Refere-se a Zeer Anpin [―pequenas
faces" — os seis atributos Divinos inferiores no mundo espiritual exaltado de
Atsilut, sendo que o principal atributo é Tiferet, no meio entre os extremos da
direita e esquerda], que é [portanto] chamado de emet [o caminho da verdade].

Vav [6], quando contado junto com seus números prévios, [o valor numérico das
letras] alef, , bet, guimel, dalet, hei [1-2-3-4-5], totaliza 21, e 21 ao quadrado [21x
21 = 441] é [o valor numérico da palavra] emet.
Vav [6] termina no mesmo dígito mesmo quando é multiplicado por si mesmo
qualquer número de vezes. 6 x 6 = 36, 6 x 36 = 216, 6 x 216 = 1296, e assim por
diante. O total sempre termina em 6.
[Seis] é integralmente igual a suas partes [i.e.,] sua metade [3], junto com um
terço [2], e um sexto [1], totalizam 6.
Em sua introdução a Tzemach David, Rabi David Ganz (1541-1613), erudito de
Torá, matemático especialista e astrônomo escreve: "O número 6 é um número que
permanece integral [mesmo] em suas partes, pois um sexto é um, um terço é 2 e a
metade é 3, e quando você acrescenta essas partes 1, 2 e 3, elas totalizam 6, que
é exatamente igual ao número original [6] sem resto ou menos. Você deveria saber
que entre [o] único dígito [números], nenhum outro número permanece integral
em suas partes, exceto o 6.
(Também 28 — e outros números — têm a mesma qualidade, [i.e., metade dele,
14, junto com um quarto, 7, um sétimo, 4, a décima quarta parte, 2, e a vigésima
oitava, 1, somam 28])
Nas dezenas [dígitos duplos] há 28, nas centenas [dígitos triplos] há 196, nos
milhares [dígitos quádruplos] há 8.124, e assim por diante.
Você deve também saber que o número 6 inclui as formas... [de tudo] no âmbito
da existência física. [Há] três formas, que são a circular, a quadrada e a
triangular...
Já é conhecido que o formato de um triângulo, antes de as linhas serem
desenhadas, é indicado por três pontos e um quadrado é indicado por quatro
pontos. Portanto você deveria saber que um círculo é indicado por seis pontos, pois
quando você faz um círculo com um compasso e mede todo o círculo ao redor, ao
longo de todo o percurso da perna do compasso, marcando [distâncias iguais] com
pontos, haverá um total de seis pontos.
Quando uma linha [equidistante] é então desenhada a partir de cada ponto até o
próximo, a medida de cada linha entre dois pontos é a mesma que a medida da
metade do diâmetro do círculo [i.e., o raio], e haverá 6 linhas, como o número de
pontos, etc."

Tudo que é físico tem seis direções [equivalentes aos pontos finais de suas três
dimensões, altura, comprimento e largura].
Para um ponto, linha e superfície [que carecem de todas as seis direções] são
apenas desenhos [mas não realidade].
O vav [que em hebraico serve como prefixo denotando "e"] combina opostos (como
no vav de vehanorá ["e o Impressionante" na primeira bênção da prece Shemoná
Esre , que o distingue dos atributos anteriores]).
Quando você inicia uma palavra com um vav, ["e"] isso acrescenta ao sujeito
anterior, e [também] separa do sujeito anterior.
Vav [como prefixo a um verbo passado ou futuro no Hebraico Escritural] converte o
passado para o tempo futuro e vice-versa [futuro em passado].
Vav quando grafado foneticamente — vav, alef, vav] tem o mesmo valor numérico
[13] de echad ["um"], pois [tem a função de] combinar e unificar.
Seis [vezes o raio de um círculo] totaliza [a circunferência] do círculo [ou três vezes
seu diâmetro, como vemos no Talmud:
"Tudo aquilo que tem a circunferência de três larguras da mão tem uma largura
[diâmetro] de uma largura da mão".

Aplicações:
O Vav é uma letra incrivelmente poderosa de conexão, de continuidade, de
unificação através do tempo e do espaço.
Quando o Vav se conecta conosco, é uma oportunidade para aprofundarmos nosso
senso de unidade e conexão com todas as coisas e com todas as eras.
Uma das doenças de nosso tempo é a sensação de desconexão.
Falta a muitos de nós uma intimidade mais profunda com o lugar físico em que
vivemos e com os animais, plantas, rios, montanhas, pedras e insetos que ele
contém.
Freqüentemente estamos desconectados de nossos vizinhos, familiares, amigos.
Às vezes estamos desconectados de nosso próprio corpo e de nossas emoções.
E estamos desconectados do mundo dos nossos antepassados.
Com freqüência nos sentimos desconectados de Deus.
Na verdade, passamos boa parte de nossas vidas tentando nos conectar de algum
modo, derrubar os muros da separação aparente.
O Vav, como uma das vinte e duas energias em forma de letra com que Deus criou
o universo, oferece o alento de que a conexão está profundamente embutida na
própria estrutura da criação.
A energia conectiva do Vav está embutida na mais sagrada forma do nome de
Deus,  , Yud-Hei-Vav-Hei.
O Vav nos mostra que talvez não estejamos, na verdade, tão isolados quanto
imaginamos.
Como desenvolver, no nível físico, um senso de conexão semelhante ao Vav?
Uma das maneiras é tomando consciência de nossos pés.
Ali estão eles, na terra, conectando-nos com este planeta em rotação onde
vivemos.
Podemos, por alguns momentos, plantar nossos pés firmemente no chão e sentir o
poder da terra entrando em nosso corpo, mesmo com a gravidade nos puxando
para baixo.
Nossos pés formam o Vav da conexão, por estar na fronteira misteriosa, no limite
entre nós e o planeta.
Eles nos conduzem pela vida, percorrendo a superfície do mundo, e nos conectam
com toda a vida neste globo.
Mesmo quando não percebemos a interconexão, estamos sempre conectados.
É possível, na verdade, romper com a idéia de dualidade entre nós e o planeta e
experienciar nosso ato de caminhar como a própria terra caminhando, e nosso ato
de respirar, ativa ou passivamente como o planeta respirando.
Comer é um profundo ato de união.
As plantas, os animais e os líquidos que nosso corpo absorve misteriosamente se
transformam em "nós".
Na mesa da Páscoa, nós nos unimos aos nossos antepassados ao experimentar as
ervas amargas da aflição e a secura do matzah ázimo do deserto.
Foi provavelmente durante um seder de Páscoa que Jesus e seus discípulos
comeram a Última Ceia.
A partilha do matzah e do vinho por Jesus tornou-se o protótipo do sacramento da
comunhão.
Na verdade, sempre que comemos, bebemos ou mesmo respiramos, estamos
participando de uma comunhão, entrando em união com o sol, a chuva, o solo, a
força vital da planta ou do animal e também com as energias dos seres humanos
que cultivaram o alimento, o transportaram, o venderam e o cozinharam.
Em reconhecimento a tudo isso, os judeus observantes lavam as mãos e recitam
uma prece antes de cada refeição e orações de ação de graças depois.
Todo ato de comer ou beber é um milagre — um milagre de conexão.
Ao valorizar o alimento desse modo, nós alimentamos nossa consciência Vav ao
mesmo tempo que nutrimos nosso corpo.
Por sua energia de conexão e unificação, o Vav ajuda a curar um universo
fraturado.
A partir do rabino Isaac Luria, do século XVI, os cabalistas desenvolveram uma
idéia conhecida como "rompimento dos vasos".
No princípio, Deus emanava luz divina.
Para que essa luz estivesse acessível ao mundo finito, ela foi vertida em vasos
correspondentes às dez Sefirot, ou ramos, da Árvore da Vida.
Os vasos dos três ramos superiores conseguiram acomodar a luz, mas, ao entrar
nos ramos inferiores, o grande poder da luz divina foi demais para os vasos; eles se
romperam e a luz se dispersou.
Desde então, uma das responsabilidades fundamentais do ser humano é trabalhar
pelo tikkun — reparar os vasos e unificar os fragmentos de luz dispersos e exilados.
O aparecimento do Messias vai marcar a consumação desse processo permanente
de restauração.
Quando o último vaso se rompeu, a Shekhinah, o aspecto feminino e imanente da
Divindade, foi exilada.
O tikkun busca reunir a Shekhinah, a Divina Noiva, com o aspecto masculino e
transcendente da Divindade.
O estudioso Gershom Scholem afirma que "a verdadeira finalidade da Torah, de
certo modo", é levar a Shekhinah de volta à união com Deus.
O rabino Luria ensinou que o cumprimento de cada um dos 613 mandamentos deve
vir acompanhado de uma afirmação de que o ato é praticado em nome da união do
Santíssimo e da Shekhinah.
O rompimento dos vasos e o exílio da Shekhinah têm um paralelo na queda do
Jardim do Éden.
Com o rompimento dos vasos, a própria natureza de Deus se divide.
As partes masculina e feminina da Divindade, o transcendente e o imanente,
exilam-se uma da outra.
Não surpreende que nós, seres humanos, sintamos um vazio ou separação dentro
de nós mesmos.
Não surpreende a existência de tamanho abismo e tensão entre homens e
mulheres.
O Vav colabora com o processo de tikkun.
Ele concilia os opostos.
Como se diz, "Isto e aquilo são verdadeiros".
O Vav recolhe as centelhas dispersas da luz divina nas seis extremidades do
universo e também no passado e no futuro.
Quem seleciona o Vav está sendo chamado a participar do grande processo
unificador de tikkun.
Toda pessoa tem um papel-chave a cumprir na recuperação das centelhas da
divindade, na união da Noiva com o Noivo, desfazendo o abismo entre a mulher e o
homem.
O Vav nos inspira a tornarmo-nos agentes de conexão, de reunião, para ajudar a
preparar a era messiânica na qual termina o exílio, restauram-se os vasos da luz
divina e reinam a completude e a harmonia.
O Vav nos estimula a encontrar nosso papel específico no processo de restauração
da luz da criação.
Como vamos colaborar com o tikkun?
É nosso desafio e nosso destino.
Algumas pessoas tentam o tikkun olam, o "conserto do mundo", sob uma forma
bastante prática, por meio da participação política, da ação no meio ambiente e do
envolvimento comunitário.
Outros enfrentam o desafio do tikkun de modo mais místico.
O Vav comunica o caráter geral do processo, ou seja, conexão e unificação.
Com nossas preces e ações praticadas com kavanah, intenção, nós contribuímos,
cada um à sua maneira única, para esse trabalho cósmico de restauração.

A Sombra do Vav
Ficar "preso" é um dos lados negativos do Vav.
Todos os tipos de vício são uma espécie de excesso de conexão.
Estaremos viciados em novidades, em elogios, em trabalho, em estímulos, em
nossos melodramas pessoais?
Estaremos excessivamente identificados com uma outra pessoa?
É maravilhoso ter uma conexão profunda com alguém — mas essa conexão pode
facilmente descambar para uma co-dependência doentia.
O Vav serve para nos lembrar de cultivar e apreciar nossas conexões com os
outros, mas sem descuidar de cultivar também nossa individualidade própria e
única.

Comentários Pessoais por Richard Seidman


Às vezes, quando saio perambulando pelas ruas das cidades, as pessoas parecem
muito diferentes de mim.
Sinto-me separado delas, separado da terra, separado de meus antepassados,
separado de mim mesmo.
Nos momentos felizes, porém, o Vav vem em meu auxílio.
O Vav me faz lembrar que, nas raízes, nós estamos todos conectados; nas raízes
fazemos parte, na verdade, da mesma árvore.
O Vav é vertical, como uma árvore.
As árvores conectam o céu com a terra.
O Vav conecta você comigo.
Os frutos dessa árvore são a beleza e a vida.
O Vav me incita a observar além da aparência superficial e enxergar a teia de
conexões que me cerca.
Conectando-me com todas as coisas, o Vav me conecta comigo mesmo.
Textos Complementares

 Vav - Vidui (Confissão)


Quando homem ou mulher cometer algum dos pecados em que caem os homens,
ofendendo ao Senhor, tal pessoa é culpada
Confessará o pecado que cometer; e, pela culpa, fará plena restituição, e lhe
acrescentará a sua quinta parte, e dará tudo àquele contra quem se fez culpado.
Números 5:6-7

O conceito judaico de confissão e reparação dos pecados é baseado nessa


passagem da Bíblia, que trata de uma pessoa desonesta com respeito a questões
financeiras (roubo, retenção de salário, trapacear uma pessoa num empréstimo
entre outras).
Como esses pecados são considerados não apenas afrontas à vítima, mas também
a Deus, Deus exige que o pecador se arrependa, confesse e pague a quantia de
dinheiro roubada com juros para poder ser perdoado.
A atividade mais importante do Yom Kippur, o Dia da Reconciliação, é chamada de
Vidui, que quer dizer "confissão" e não "reparação".
Pode parecer estranho que a atividade mais importante desse dia mais sagrado do
ano seja as confissões que os penitentes devem fazer em voz alta, às vezes juntos
com o resto da congregação.
Afinal, o arrependimento não é um processo interior, uma conversa pessoal que
cada um tem com Deus?
A resposta é sim e não.
Apesar de o arrependimento se dar em nosso coração, sem a confissão — isso é, o
ato de dizer "Eu pequei" e admitir a própria culpa — jamais nos arrependemos
verdadeiramente, fazemos a reparação nem somos capazes de seguir em frente no
sentido de reparar os danos cometidos.
A letra Vav é mais comumente conhecida como o prefixo usado para denotar a
palavra "e" e, como tal, ela é encontrada centenas de vezes na Bíblia, ligando
palavras e conceitos.
Vídui tem um propósito semelhante: como o seu passado informa o seu presente e
o seu futuro, a honestidade para consigo mesmo — isto é, admitir suas falhas e
expressar remorso pelos erros cometidos — irá ajudar a ligar o passado ao futuro
de uma maneira mais produtiva.
Expressar sua culpa em voz alta e enfrentar as conseqüências permite que você
prossiga em sua vida e ajuda realmente a alcançar o autoconhecimento.
É especialmente interessante notar que no judaísmo, a confissão (Vidui) é feita não
apenas no Yom Kippur, mas também no dia em que a pessoa se casa e quando se
encontra no leito de morte.
Segundo a tradição judaica, a noiva e o noivo, imersos no mikveh (banho
ritualístico), fazem jejum até o dia do casamento e recitam as orações do Yom
Kippur imediatamente antes de irem para a cerimônia.
A noiva também usa tradicionalmente um vestido branco e o noivo um manto
branco, chamado kíttl, o qual no futuro será usado para ir à sinagoga todos os anos
no Yom Kippur e, finalmente, servir como a vestimenta com a qual será sepultado.
O dia do casamento é conhecido como um Yom Kippur próprio para o casal, em que
cada um deve refletir sobre sua própria vida até o momento presente, perceber o
que está faltando em sua vida e purificar-se tanto física quanto espiritualmente
para o futuro.
Os elos — as letras Vavs — que ligam esses três momentos da vida (Dia de
Reconciliação, casamento e morte) são mais do que simbólicos.
O Vidui nos leva a um lugar de purificação e de autoconhecimento, que é crucial em
qualquer evento importante que marca a nossa vida.
Reconhecer as próprias faltas uma vez por ano, esforçar-se por passar uma esponja
no passado para recomeçar a vida de casado e fazer as pazes com Deus antes de
morrer são todos elementos essenciais de uma vida verdadeiramente realizada.

A carta Vav aparece numa consulta quando a pessoa está necessitando fazer algum
tipo de confissão.
Essa necessidade pode não ter nada a ver com "pecado" ou falhas.
Mas simplesmente, de tempos em tempos, todos nós precisamos admitir certas
verdades para nós mesmos, assumir nossos atos em voz alta e assumir a
responsabilidade pelo que fizemos.
O passado não deixará de atormentá-lo enquanto você não lidar devidamente com
ele; portanto, não espere ter o controle de sua vida.
Permita-se dizer o que precisa ser dito.
O resto é conseqüência.

Por: Deepka Chopra

O Bahir (com comentários de Aryeh Kaplan)

29. O que é a letra Vav?


Disse ele: Existe um Heh superior e um Heh inferior.

Comentário:
Refere-se aos dois Hehs do Tetragrama, que são separados pela letra Vav.
Como os dois Hehs em YHVH possuem conotações diferentes, deve existir algo que
os liga.
É a letra Vav.
Na condição de prefixo, a letra Vav significa "e", sendo, portanto, uma ligação.
Em hebraico, a palavra Vav significa, também, gancho.
No Tetragrama, Yud está relacionado à coisa dada; o primeiro Heh, à mão que dá;
e o Heh final, à mão que recebe (ver verso 8).
Nesse contexto, Vav é o braço que se estende para dar, e a letra, é, portanto,
escrita na forma de um braço.
Isso é, também, o significado esotérico do fato que o cúbito, a extensão de um
braço, consiste de seis larguras de uma mão, indicado pelo Vav, o qual tem valor
numérico seis.

30. Perguntaram-lhe: Mas o que é Vav?


Disse ele: O mundo foi selado com seis direções.
Perguntaram: Vav não é uma letra sozinha?
Ele respondeu: Está escrito (Salmos 104:2): "Ele Se cobre de luz como num
manto, [estende o céu como cortina]."

Comentário:
O valor numérico do Vav é seis, correspondendo às seis direções do universo físico.
O espaço físico tem três dimensões, e cada dimensão subentende duas direções.
As seis direções são leste, oeste, norte, sul, acima e abaixo.
Aqui, dá-se às letras do Tetragrama o seu significado no "continuum" tempo-
espaço, o qual tem sua correspondência no mundo espiritual.
Yud representa Chochmá-Sabedoria, que é a coisa dada, enquanto o Heh inicial é
Biná-Compreensão, a "Mão" que contém a coisa, de modo a dá-la.
No sentido do tempo-espaço, Yud é o passado, a coisa dada, enquanto o Heh inicial
é o futuro, que contém o que o passado lhe dá.
No intercâmbio entre passado e futuro está o "continuum" tridimensional do
espaço, consistindo de seis direções e representado pela letra Vav.
São essas as três primeiras letras do tetragrama: YHV.
Esses conceitos têm, igualmente, sua correspondência em um sentido conceituai,
espiritual.
O relacionamento mais primário possível é o que existe entre o Criador e a criação,
isto é, o relacionamento causa e efeito.
Causa e Efeito são representados por Keter-Coroa e Malchut-Reino, a primeira e a
última das Dez Sefirot.
Após o conceito de causa e efeito, outro conceito vem à existência: o dos opostos.
Todavia, para falarmos de opostos, devemos estar, também, habilitados a falar de
similaridades.
Assim sendo, dois novos conceitos vêm à existência, a saber, similaridade e
oposição.
Na linguagem da filosofia, trata-se de tese e antítese, enquanto que na
terminologia cabalística, esses dois são Chochmá-Sabedoria e Biná-Compreensão, o
Yud e o He iniciais do Tetragrama.
Ao falarmos em termos de similaridade e oposição, criamos ainda outro conceito,
ou seja, o de relacionamento.
Em termos filosóficos, trata-se da síntese entre a tese e a antítese.
Em nossa presente terminologia, é o Vav do tetragrama.
Nesse ponto, na seqüência lógica, temos cinco conceitos, isto é, causa e efeito, que
são Keter-Coroa e Malchut-Reino; similaridade e oposição, que são Chochmá-
Sabedoria e Biná-Compreensão; e relacionamento.
O conceito de relacionamento é expresso pelo Zer Anpin (Face Pequena),
examinado nos versos 53, 81 e 140.
Até o conceito do relacionamento ser introduzido, existiam apenas quatro pontos
abstratos, a saber, Keter-Coroa/Malchut-Reino e Chachmá-Sabedoria/Biná-
Compreensão.
Com o conceito do relacionamento, vem à existência um "continuum"
tridimensional conceituai, de seis direções, representado pelo Vav, que ora
examinamos.
Nessa representação, cada um dos quatro conceitos abstratos originais faz surgir
um relacionamento.
Conseqüentemente, Chochmá-Sabedoria faz surgir Chessed-Amor; Biná-
Compreensão faz surgir Guevurá-Força; Keter-Coroa faz surgir Tiferet-Beleza; e
Malchut-Reino faz surgir Yessod-Fundação.
Conforme observamos anteriormente (no verso 2), no sentido espiritual,
similaridade é proximidade, enquanto oposição é distância.
Todavia, para dar, o doador deve estar próximo ao receptor, e, assim sendo, no
sentido espiritual, deve haver um elemento de similaridade entre doador e
receptor.
Por isso, Chochmá-Sabedoria, que é o conceito de similaridade, faz surgir Chessed-
Amor, que é o conceito de conceder.
De modo oposto, Biná-Compreensão, que é diferenciação, faz surgir Guevurá-
Força, o conceito de restrição.
De maneira semelhante, Tiferet-Beleza se deriva de Keter-Coroa, o conceito da
causa. Para ser uma causa, deve dar a quantidade exata de existência, ou
motivação, necessária ao efeito.
Esse é o conceito de doação dosada, representado por Tiferet-Beleza.
Todavia, como Tiferet-Beleza é a síntese entre Chesed-Amor e Guevurá-Força, é,
em geral, representado abaixo desses dois.
Em geral, diz-se que Malchut-Reino, o conceito do efeito, é o elemento feminino da
criação. Sendo Yedsod-Fundação derivado de Malchut-Reino, é, naturalmente,
atraído por ele e motivado a se ligar a ele.
Por isso, diz-se que Yessod-Fundação corresponde ao órgão sexual.
Temos, portanto, quatro novos conceitos, a saber, Chessed-Amor, Guevurá-Força,
Tiferet-Beleza e Yessod-Fundação, derivados dos quatro originais.
Agora que introduzimos o conceito de relacionamento, esses quatro conceitos não
mais são meramente pontos abstratos no espaço conceituai, mas estão ligados pelo
conceito do "relacionamento".
Os dois pares são qual duas linhas que se cruzam, criando as quatro direções de
um "continuum" bidimensional.
Podemos, arbitrariamente, mostrar isso em termos de espaço físico.
Sendo a causa, normalmente, considerada "acima" de seu efeito, a dimensão que
liga Keter-Coroa e Malchut-Reino pode ser designada como a dimensão acima-
abaixo.
De modo semelhante, a relação Sabedoria-Compreensão pode ser designada como
a dimensão esquerda-direita ou leste-oeste.
Cria, então, um espaço conceituai bidimensional .
Mas, existindo o conceito de relacionamento, devemos falar, também, do
relacionamento entre as duas dimensões em si.
No exemplo conceituai do espaço, podemos dizer que uma linha é traçada entre as
duas linhas existentes. Observamos, imediatamente, que o relacionamento causa-
efeito, Coroa-Reino, era o relacionamento primário.
O relacionamento tese-antítese, Sabedoria-Compreensão, foi somente introduzido
para tornar possível o relacionamento causa-efeito.
O relacionamento Coroa-Reino pode, portanto, ser chamado de dimensão primária,
enquanto o relacionamento Sabedoria-Compreensão é a dimensão secundária.
Gera um conceito totalmente novo, isto é, as qualidades de ser primário ou
secundário.
Esses, por sua vez, formam uma nova, terceira dimensão, que pode ser atribuída à
dimensão diante-atrás.
Em sentido cabalístico, é a dimensão que liga Netzach-Vitória e Hod-Esplendor.
Com a introdução desses dois novos conceitos, está completo o Zer Anpin, com
suas seis Sefirot, a saber, Chessed-Amor, Guevurá-Força, Tiferet-Beleza, Netzach-
Vitória, Hod-Esplendor e Yessod-Fundação.
São essas as seis direções de um "continuum" conceituai, representado pelo Vav,
que ora examinamos.
Essas seis Sefirot, juntamente às quatro originais, formam, então, as Dez Sefirot.
As seis direções conceituais, representadas pelo Vav, correspondem às seis
direções físicas do "continuum" espacial.
Além disso, conforme explica o Sefer Yetzirá, Sabedoria-Compreensão delineia a
dimensão do tempo, enquanto Coroa-Reino representa a dimensão espiritual e
moral entre o bem e o mal. ,
Portanto, a criação consiste de cinco dimensões ou dez direções.
Sendo Keter-Coroa a mais próxima de Deus, diz-se representar o bem.
De modo oposto, sendo Malchut-Reino a mais afastada de Deus, pois é um efeito
receptor, diz-se, por isso, representar o mal.
Nesse contexto, dizemos que Chochmá-Sabedoria representa o passado, enquanto
Biná-Compreensão, o futuro. Sabedoria é similaridade e unidade, e há apenas um
passado. Compreensão é dissimilaridade e pluralidade, e há muitos futuros
possíveis. O fato de haver muitos futuros possíveis torna o livre-arbítrio viável.
Portanto, diz-se que Biná-Compreensão é a raiz suprema do livre-arbítrio e,
conseqüentemente, do mal.
Uma vez que o passado fertiliza o futuro, Sabedoria e o passado são machos,
enquanto Compreensão e o futuro são fêmeas.
Por isso, ensina-se que "Deus deu à fêmea Compreensão adicional".
Além do mais, temos conhecimento do passado, mas não do futuro.
O futuro, que é o elemento feminino, é, portanto, deficiente em conhecimento, e,
por isso, ensina-se que "as mulheres são fracas em conhecimento".
Isso está, também, relacionado ao motivo pelo qual as mulheres estão isentas dos
mandamentos dependentes do tempo.
Pergunta o autor: "Vav não é uma letra sozinha?"
Todas as seis Sefirot do Zer Anpin são, de fato, um único conceito, a saber:
―relacionamento".
Ele responde que os "céus" estão estendidos.
Embora seja um único conceito, é representado por seis conceitos independentes,
que são as suas seis Sefirot.
Por essa razão, a palavra hebraica para céu, Shamaim, está sempre no plural.
É o plural da palavra Sham, que significa "lá".
Portanto, literalmente, se refere a todos os lugares que possam ser considerados
"lá".
O conceito "lá", todavia, embora seja um único conceito, traz, também, implícitas
as seis direções.
Diz-se, portanto, que os céus estão "estendidos".

82. Quais são as sete partes do corpo do homem?


Está escrito (Gênese 9:6): "À imagem de Deus, Ele criou o homem."
Está, também, escrito (Gênese 1:27): "A imagem de Deus Ele o criou" —
contando todos os seus membros e partes.
Mas dissemos: A que se assemelha a letra Vav?
Encontra-se uma alusão no versículo (Salmos 104:5) "Ele espalha luz qual
uma vestimenta". Pois Vav nada mais é do que as seis direções.
Ele respondeu: A aliança da circuncisão e a companheira do homem são
consideradas uma só.[Circuncisão é a Sefirá Fundação, e "sua
companheira", o Reino. Quando são computados em separado, existem
sete Sefirot inferiores, mas, quando considerados como um, existem
apenas seis.]
Suas duas mãos, então, formam três; sua cabeça e corpo, cinco; e suas
duas pernas, formam sete.[Os dois braços são Amor e Força, o corpo é
Beleza, e as pernas, Vitória e Glória. A isso, Fundação e Cabeça [de sua
companheira] são acrescentadas, perfazendo um total de sete.]
Correspondendo a eles, estão seus poderes no céu.
Está, portanto, escrito (Eclesiastes 7:14): "Deus fez tanto um quanto seu
oposto."
São esses os dias [da semana, conforme está escrito] (Êxodo 31:17):
"Porque seis dias Deus criou o céu e a terra."
As Escrituras não dizem "em seis dias", porém, "seis dias".
Ensina que cada dia [da semana] tem seu próprio poder específico.

Comentário:
Aqui, encontramos a explicação básica de todos os antropomorfismos na Bíblia, e
em outros textos.
Embora saibamos que Deus é absolutamente incorpóreo, não possuindo corpo,
configuração ou forma, ensina-se que "Ele pede emprestado os termos de Suas
criaturas para expressar Seu relacionamento à Sua criação" (Mechilta, sobre Êxodo
19:18). Esses termos são usados alegoricamente, mas, ao mesmo tempo, cada um
possui significado definido em termos nas Sefirot.
O versículo diz ter sido o homem criado à "imagem de Deus", e isso significa que o
homem se assemelha às Sefirot na estrutura de seu corpo e de sua mente.
É especialmente verdadeiro à respeito da Personificação (Partzun) do Zer Anpin,
que é o Homem Divino.
Foi dito anteriormente, contudo, que as Sefirot do Zer Anpin são representadas
pelo Vav (ver verso 130), porque é formado de seis Sefirot. E surge a pergunta,
como podemos dizer que tem sete partes?
Responde-se que Malchut-Reino está, também, incluído, pois Yesod-Fundação e
Malchut-Reino estão ligados.
A palavra Ouvido (Ozen), tem a conotação de comunhão.
Em tempo de comunhão, quando Macho e Fêmea estão unidos, Vav se torna Zain.
Aqui, o ensinamento parece difícil de ser compreendido.
Computando os sete, ao invés de contar o "cônjuge" como o sétimo elemento, é
enunciado como "cabeça". Entretanto, de fato, isso está relacionado ao Bat, a
"Filha", onde Chochmá-Sabedoria é atraído para baixo através de Malchut-Reino.
Zer Anpin possui Chochmá-Sabedoria apenas quando está ligado à sua Noiva, e
somente então tem uma cabeça.
Isso está relacionado ao ensinamento talmúdico de que um homem está incompleto
enquanto não tiver esposa.
Vav tem a forma de uma linha, e um pequeno quadrado à esquerda.
A forma de Zain é uma linha, e um quadrado completo ao topo, que se estende à
direita e à esquerda.
Quando Zer Anpin é representado pelo Vav, tem apenas o hemisfério cerebral
esquerdo, que é Biná-Compreensão.
Quando é representado pelo Zain, os hemisférios cerebrais esquerdo e direito estão
presentes, indicando que tem tanto Chochmá-Sabedoria quanto Biná-Compreensão.
Quando ambos, Chochmá-Sabedoria e Biná-Compreensão, existem, sua confluência
gera Daat-Conhecimento, que os vincula ao corpo.
Por isso, a "cabeça" pode, também, ser computada.
Mas quando apenas Biná-Compreensão está presente, Daat-Conhecimento não
existe, e, como a cabeça não pode influenciar o corpo, não é computada no estado
do Vav.

Por: Aryeh Kaplan

O Alfabeto Sagrado – Vav: A comunicação

Josy Eisenberg — A sexta das vinte e duas letras, a letra vav, corresponde ao V
francês.
Ela é interessante sob muitos aspectos, embora aparentemente seja uma letra que
signifique sobretudo e em primeiro lugar a coordenação: em hebraico, quando se
quer dizer "e", usa-se a letra vav.
Mas é muito mais do que isto se nos referimos à letra precedente, a letra hei, que
representa o espaço: a sexta letra, vav, conota de preferência o tempo.

Adin Steinsaltz — O vav tem vários sentidos: o tempo, a duração.


Mas não se trata do tempo no sentido abstrato do termo.
O que designa o tempo e o espaço abstratos, potenciais são, de preferência, duas
letras: as duas primeiras letras do Tetragrama, o iud designando o tempo e o hei o
espaço.
Quanto ao vav, terceira letra do Santo Nome divino — o Tetragrama YHVH quando
ele aparece neste Nome é com outro sentido: o que é comum ao tempo e ao
espaço.
O vav sendo a sexta letra do alfabeto, ele designa a coordenação do espaço.
O alto, o baixo e as quatro direções: as seis dimensões.

J. E. — Há uma primeira aplicação evidente da relação do número seis com o


tempo: os seis dias da semana.
Existe até mesmo uma primeira leitura da primeira palavra da Torá —Bereshit, "no
princípio" — onde nos é dito que ele pode ser lido: Bara shit, literalmente "Ele o
criou em seis dias".
Ademais, na escatologia judaica a história humana durou supostamente seis mil
anos.

A. S. — O tempo é um dos conceitos mais complicados tanto em filosofia quanto na


ciência: o que é o tempo?.
Existem nele diversos aspectos.
Há um tempo mensurável; outro que não se pode medir.
Há o tempo que passa e o tempo do intervalo.
O tempo representado pelo vav está ligado ao espaço: um tempo limitado.
Não é o tempo nos diversos sentidos que lhe são dados, o tempo do qual falam os
filósofos, mas sim o dos físicos modernos: o tempo como dimensão do espaço.
Ele é um dos fatores com os quais se define o espaço.
Ele não é como nosso tempo habitual.
O vav seria mais como uma equação matemática.
Posso escrevê-la + T ou – T e transcrevê-la + B, – B ou zero.
Ele é ao mesmo tempo o elo entre as coisas e o sinal de transformação do passado
em futuro, e reciprocamente.

- Uma letra que inverte

J. E. — O senhor acaba de fazer alusão a uma das coisas mais características e


mais específicas da letra vav e, pode-se dizer, da língua hebraica: a capacidade de
transformar o passado em futuro e o futuro em passado.
Em francês isto se denomina o vav conversível.
A língua hebraica possui, com efeito, algo que não existe — que eu saiba — em
nenhuma outra língua.
Quando se toma uma palavra no futuro, por exemplo "eu serei", e se põe no início
"e" (= vav), em vez de significar "e eu serei" isto significa "e eu fui"; do mesmo
modo, "eu fui" se tornará "eu serei".
São especulações que se encontram sobretudo a respeito da palavra vaiehi, "e foi",
e vehaia, "e será".
Um exemplo: logo no início da Torá está escrito: "E disse Deus: 'Seja luz!' E foi
luz".
Este versículo, sem dúvida o mais conhecido de toda a Bíblia, apresenta, no
entanto, a despeito de sua simplicidade, um verdadeiro enigma: com efeito, de que
luz se trata?.
Certamente não a dos astros, que serão criados somente no terceiro dia, digamos
no terceiro tempo, da Criação.
Eis por que os rabinos dizem que há duas luzes.
A luz "que foi" não é a mesma que aquela da qual se diz "e seja luz".
Com efeito, quando Deus diz "seja luz", trata-se da luz absoluta.
Na exegese judaica, os termos "que seja..." e "... foi" designam sempre conceitos
antagonistas. "Que seja" conota o ideal, um desejo, uma esperança: é sempre da
ordem do futuro.
Tudo pode ainda acontecer!
Mas quando se diz "foi", de acordo com a exegese rabínica, esta expressão está
tingida de tristeza.
As coisas foram, elas não são mais, não se pode mudar mais nada!
Há algo fechado no passado, ao passo que no futuro tudo ainda está em aberto!
Deus desejava um mundo ideal: "Que seja uma luz total".
Mas em nosso mundo esse ideal é irrealizável.
Devemos nos contentar com uma meia luz.
É o tema dos "vasos quebrados": o mundo material se fissurou quando foi
confrontado com a "luz absoluta".
Esta luz não é perceptível aqui embaixo: está reservada para os Justos no além,
segundo o Talmud: aqui embaixo devemos nos contentar com a luz "que foi": luzes
que estão na dimensão de nosso conhecimento.
"E seja luz." "Esta luz foi escondida para os Justos no mundo vindouro" (Talmud).
Ora, esta exegese repousa precisamente sobre a irrupção, neste famoso versículo,
da letra vav.
Releiamos o versículo: "E seja luz!" se diz em hebraico ―iehi or‖; quanto ao segundo
termo deste versículo, ―vaiehi or‖, ele é precedido por um vav e se lê doravante: "E
foi luz".
A adjunção do vav transformou assim uma luz total, aquela que deveria ser, em
uma luz limitada, aquela que foi.
Esta é a diferença entre "ser" e "ter sido", entre o que esperamos e o que nos
acontece, entre a teoria e a realidade.
Magia do "vav", que é, no entanto, em primeiro lugar conjunção de coordenação;
por exemplo: "Deus criou os céus 'e' (vav) a Terra".
Neste versículo, o vav não conota nenhuma inversão.
Ele significa simplesmente "e".

A S. — Seriam os céus idênticos à Terra?


É todo o problema de duas coisas que são iguais ou opostas.
Por exemplo, nesta frase:
"um homem e uma mulher", qual é a natureza deste "e"?
Eles sobem em um ônibus.
A ligação pode perfeitamente ser neutra.
Tudo depende do que eles pensam.
Pode haver uma relação de amor, ou então cada um olha para o outro e eles
guardam distância.
Pode também acontecer que cada um tenha vontade de jogar o outro para fora do
veículo.
O vav liga, mas com todas estas diferentes possibilidades: ligação ou rejeição.
Não esqueçamos que o sentido primeiro da palavra vav é um gancho; aliás, é bem
esta a forma desta letra.
Um objeto sobre o qual se pode suspender as coisas.

J. E. — E quando isso aparece pela primeira vez na Torá é um gancho que permite
a construção do Tabernáculo: isto é muito importante.
Os ganchos que seguravam as tapeçarias do Tabernáculo se denominam em
hebraico vavim (plural de vav).

A. S. — Determinamos assim as duas primeiras e principais funções do vav: por um


lado, ligar duas palavras; por outro, opor, transformar o passado em futuro e o
futuro em passado — como vimos com o exemplo da luz, quando se passou de
"Que seja a luz" a "E foi luz" e a luz total está manifestadamente oculta.

- A história: queda ou elevação?

J. E. — De repente, quando o futuro se torna passado, isto pode suscitar uma


tristeza, como uma espécie de desilusão.
O que esperamos ao projetarmo-nos no futuro é magnífico!
Mas quando acontece nada é igual.
Seria este o sentido da passagem do futuro ao passado?
Quando o futuro se torna realidade seria sempre uma perda?

A. S. — O futuro está totalmente aberto; mas a realidade obedece a leis: ela é


limitada.
Os rabinos dizem que no início Deus queria fundar o mundo unicamente sobre a
justiça.
Tal mundo não era viável: ele não permitia nenhuma flexibilidade.
Do mesmo modo, o mundo não podia subsistir apenas pelo amor e pela gratuidade.
Eis por que o mundo vive na imperfeição e na esperança "de outra coisa".
É a concepção geral da história, muito específica do pensamento judaico e de sua
concepção do tempo: para onde vai o tempo?
Todos os povos antigos pensavam que ele ia do alto para baixo, que o mundo não
parava de cair.

J. E. — Sobretudo entre os gregos, que falavam da "idade de ouro" seguida por


uma decadência.
É uma visão pessimista da história, que se encontra no adágio dos "bons velhos
tempos".

A. S. — É o que se lê em Daniel, com a estátua de cabeça de ouro que representa a


idade de ouro.
Era o caso na Babilônia, mas também no mundo nórdico.
Toda a sua mitologia repousa sobre este "menos luz".
Ela se degrada na história.
Existe igualmente outra concepção do tempo, a de Spengler: o tempo cíclico.
O tempo volta sobre si próprio.
Ele gira em círculos, não vai a lugar nenhum.

J. E. — O eterno retorno: a história se repete, o mundo é cíclico... "Uma geração


passa, outra vem, e o mundo é sempre o mesmo" (Eclesiastes 1,4).

A. S. — Vocês dizem na França: "Mais as coisas mudam, mais é a mesma coisa!".


Não é o caso do pensamento judaico no que concerne à história.
Aliás, tratei deste problema em um artigo no qual eu comparava Moisés e Mao Tsé-
tung.
Eu falava de nossa concepção: talvez o mundo caia cada vez mais baixo, mas em
certo ponto será bem preciso que ele volte a subir!

J. E. — Qual é então, segundo o senhor, a diferença entre Moisés e Mao?

A. S. — Moisés pensa que Deus pode nos ajudar.


Mao não crê em Deus, daí o que ele fez na China.
Mas eles têm algo em comum: um mundo de esperança e de progresso.
Algo superior ao passado: um "que seja" mais forte que um "e foi".

- Seis: a outra Torá

J. E. — Há também outro aspecto interessante, pois se diz com frequência que o


vav representa a Torá.
Diz-se também isto em relação à Torá oral, porque há seis partes da Lei, mas, de
modo geral, o vav é frequentemente considerado como representando a Torá.
Aliás, a Torá oral — o Talmud — é constituída de seis grandes seções, divididas em
tratados.

A. S. — Por que a Torá?


Porque o vav, por certo, representa o tempo e também o espaço.
Mas, para além destas duas significações, o vav representa antes a comunicação:
algo que se passa e se desvela no tempo e também no espaço.
A essência do vav, por conseguinte, é a passagem de um lugar a outro.
A definição da Torá é da mesma ordem.
A Torá de Deus permanece no céu.
Não é esta Torá que recebemos.
Nossa Torá é aquela que desce em direção ao homem, que desce como a forma do
vav.
Eis por que se diz que as Tábuas da Lei mediam seis palmos por seis palmos.
Vav, vav, vav: a Torá escrita.
E também vav, vav, vav: a Torá oral.
A Torá escrita é fixa.
A Torá oral, esta, evolui.
Em hebraico denomina-se halachá: o que avança.
É exatamente a natureza do vav: uma fonte que jorra.

J. E. — Há, com efeito, uma grande diferença entre o hei e o vav.


O hei tem por valor numérico 5: como os cinco livros da Torá escrita.
Ao passo que o vav representa os seis livros da Torá oral.
Com a Torá oral, com efeito, as coisas podem avançar.
A Torá escrita é frequentemente de difícil interpretação.
Mas, ao mesmo tempo, o senhor diz "comunicação", eu acrescentaria "revelação",
porque nas quatro letras do nome de Deus há tudo — o Ser segundo os rabinos —,
o iud e o hei — as duas primeiras letras do nome de Deus — representam o que
está escondido, mas a palavra que na Torá diz "revelação" começa pelo vav e pelo
hei.
O que significa que a "parte revelada" passa pelo vav.
"As coisas escondidas são de Deus; e as coisas visíveis são para nós e nossos
filhos."
As palavras "as coisas escondidas" começam pela letra hei; as palavras "as coisas
visíveis", por um vav.
As quatro letras do Tetragrama servem de base para toda a realidade.
As duas primeiras letras representam o mundo escondido: o pensamento divino.
E as duas últimas, começando pelo vav: o que é revelado.

A. S. — Na ordem das letras do Nome divino, o vav representa o estágio da


revelação: passa-se de um mundo a outro.
Nesta passagem, todas as concepções da relação entre o tempo e o espaço estão
incluídas, concepções ultramodernas, ora espaço, ora tempo.
J. E. — O vav, e isto não existe praticamente para nenhuma letra, salvo para o iud
— veremos isto mais tarde, na décima letra —, é ao mesmo tempo uma consoante
e uma vogal.
Enquanto vogal, ela nem sempre aparece.
A palavra pode se escrever seja com um vav, seja com um ponto no lugar do vav.
Mas no plano filosófico e sobretudo exegético, na interpretação da Torá, quando a
mesma palavra aparece, seja ela male, isto é, cheia com um vav, seja ela chaser,
defectível, lacunar, isto é, sem vav, é que há algo que é da ordem da falta.
É o caso de certos nomes, por exemplo Eliahu, o profeta Elias: ele é escrito às
vezes com um vav, às vezes sem vav; o mesmo para Iaacov (Jacob).
Quando a Torá escreve uma palavra lacunar, na qual falta uma letra, há sempre
uma razão: por exemplo, no início da Torá está escrito que Deus criou as
luminárias, o sol e a lua, mas está escrito sem vav, como se faltasse algo.
A palavra "luminária" tem uma dupla ausência: faltam dois vav.

A. S. — É para nos dizer que estas luminárias não estão verdadeiramente


completas.
É a mesma coisa com a palavra toldot, "história": quando está escrita sem vav, é
uma história lacunar; a comunicação não se fez.
Tomemos um exemplo em um campo diferente.
Como vivemos?
Nossa vida é construída sobre um modo particular de relação: o DNA.
No DNA, cada célula transmite uma informação completa a outra célula.
Se há uma falta — se o vav é imperfeito — a célula está doente.

J. E. — Uma doença genética...

A. S. — Ou outra anomalia: isto não funciona.


É assim, aliás, que se qualifica a velhice ou a morte.
Portanto, o que conta é que o vav esteja completo, a fim de que a transmissão se
faça.
Será, aliás, a mesma coisa com a letra iudi: a palavra toldot significa "história",
mas também parto.
Se está escrita com vav é que a criança está viva, se não é que ela não é viável.
J. E. — O nascimento de Jacob e Esaú está escrito sem vav: defectível.
Neste "parto", trata-se de uma família em que há uma falta; às vezes, nas famílias,
nem tudo funciona, ou então esta geração não pode transmitir.

A. S. — E é o contrário com o nascimento de Peretz, o ancestral de David: tudo é


perfeito.

J. E. — O valor numérico de vav é 6.


Como os seis dias da semana, isto marca o tempo, em suas diversas declinações: a
semana tem seis dias, o mundo seis mil anos...
Lembremos que no pensamento judaico há um ciclo de seis mil anos de vida.

A. S. — O número 6 está ligado à concepção dos números na Antiguidade: ela era


fundada sobre o número 6.
Embora a revolução francesa tenha tentado expulsar este número e substituí-lo,
sem motivo aparente, pelo número 10: a semana de dez dias.
Por que os revolucionários pensaram que 10 seria mais racional que 6?

J. E. — Mesmo em Roma não havia essa divisão dos seis dias, mas um calendário
de dez dias.

A. S. — Pode-se em matemática construir um sistema binário, o 1 e o 0 — é o caso


para os computadores.
Mas pode-se também funcionar tendo como base o 6.
O Maharal de Praga comenta longamente esta sequência: 6, 60, 600.000.

J. E. — O senhor está falando dos seiscentos mil hebreus, os que saíram do


deserto... O senhor aludiu ao fato de que nas sociedades antigas tudo repousava
sobre o número 6.
Muitos historiadores do mundo sumério, do Código de Hamurabi, disseram que o
número 6 possuía um valor particular: isto expressa a ideia de "muito".
Alguns arqueólogos quiseram até mesmo dizer que quando se diz que havia
seiscentos mil hebreus que saíram do Egito é um modo de dizer "muitos, muitos
hebreus".
"Muitos": é o máximo, pois ao passar do valor numérico 6 ao valor 7 entramos na
kedushá, "santidade", na santidade do shabat — sétimo dia da semana; 6 designa
um mundo material perfeito.
Mas falta-lhe a transcendência.

A. S. — Para o judaísmo, o número 7 designa um tempo que está além dos seis
dias.
Com o shabat, sétimo dia, entra-se em outra dimensão.
De fato, e não somente por causa da Cabalá, conservamos o 6 em dois casos:
primeiro, o relógio; nossos relógios funcionam todos sobre o 6, e em geometria
têm-se os 360 graus e subdivisões em 90 e em 6 — é um círculo completo.
Quanto às horas, elas são igualmente múltiplos de 6.
Vinte e quatro: 4 vezes 6.
É toda uma concepção do tempo: um ciclo completo!
Eis por que este número designa sempre um mundo perfeito, uma estrutura
completa.

J. E. — Efetivamente, o número 6 aparece com muita frequência na Torá e na


Bíblia.
Em um célebre episódio, vê-se o profeta Isaías ter uma revelação do trono celeste.
Ele viu anjos, serafins — anjos de fogo — que voavam em volta do trono celeste.
Ora, eles tinham seis asas.
"Vi o Eterno, sentado sobre um trono... Serafins estavam diante dele. Cada um
tinha seis asas. Com duas asas, cobriam a face; com duas asas, cobriam seus pés;
com duas asas, voavam."
Isaías 6,2

A. S. — Têm-se aqui três atitudes.


Em primeiro lugar, em relação ao que está em cima: ali, eles se cobrem a face; os
anjos não podem olhar acima de si próprios, acima de seu nível.
Ezequiel dizia: "Acima dos anjos, há como que uma assustadora camada de verniz".
[Ezequiel 1,22, na versão da Bíblia Hebraica:
"Acima de suas cabeças havia algo que se assemelhava a um firmamento,
resplandecente como o reflexo de luz sobre o gelo, e que se estendia sobre todas
elas".
E na versão de A Bíblia:
"Acima das cabeças dos seres vivos, a semelhança de um firmamento, faiscando
como cristal resplandecente; ele se estendia acima de suas cabeças, bem acima".]
Não se pode passar nem ver.
Está escrito: "O homem não pode Me ver e viver".
É preciso ler: nem o homem nem os seres "vivos" (apelidos dos anjos, chamados
"santos vivos"), os haiot.
Ninguém pode Me ver.
Assim, o anjo cobre sua face com duas asas.
Na escala humana, há coisas que é melhor não ver.
Moisés cobriu sua face: ele não pode ver.
Algumas coisas poderiam nos tornar cegos.
Às vezes devo mostrar que não quero ver "mais alto".
Enfim, os anjos têm duas asas para cobrir seus pés.
Em outras palavras, aquilo que desce até a terra está sempre em perigo.
Em primeiro lugar, porque os pés se sujam.
Os cabalistas comentaram muito o versículo que diz: "Suas pernas descem para a
morte".
Quanto mais uma criatura é baixa, mais ela se aproxima da morte.

J. E. — As pernas, os pés — é também o que toca a terra, o que está em contato


com a matéria.

A. S. — Eis por que se deve proteger os pés e usar sapatos.


Daí as duas asas para cobrir os pés: é preciso fortemente proteger o contato com o
"mundo de baixo".
O baixo, protegemo-lo da sujeira.
Quanto ao alto, é preciso tomar cuidado para que ele não se queime: portanto, os
anjos se cobrem a face.

J. E. — É efetivamente muito simbólico.


Os anjos nos ensinam como nós, homens, devemos nos conduzir.
Não tentar ir muito alto, tomar cuidado quando estamos embaixo, sobre a terra.
E há também duas asas para voar!
Por que um homem voa?

A. S. — Os anjos são enviados.


Os serafins, estes, servem ao Eterno.
Eles têm por única tarefa estar com Ele.
E o que fazem o tempo todo?
Eles voam.
Estão em permanente oscilação, sobem e descem.
Como dizia Ezequiel: "Os haiot correm e voltam como o relâmpago".
Eles têm duas asas para voar: é o que lhes permite existir.
Eles guardam o seu lugar voando o tempo todo.
Se parassem de voar, cairiam.
Se subissem, queimariam suas asas!

J. E. — Estas duas asas significam que o homem deve fazer um esforço para se
elevar como os pássaros, ele está sempre entre o céu e a terra; se ele para de
voar, ele cai.
É uma das lições da letra vav.

Por: Josy Eisenberg e Adin Steinsaltz


As Letras Hebraicas – Parte 11


Zayin

Som: Z

Significado: O significado da palavra Zayin é uma arma; uma coroa.

Conceito: O homem de Tradição é um homem cercado de sinais, alias quase tudo


para ele é sinal. E essa reflexão nos faz perceber que nem sempre estamos no
domínio dos nossos passos, dos nossos movimentos. Nem sempre estamos no
arbítrio dos nossos rumos, de nossas trilhas, muitas vezes é o Sagrado que nos
coloca em um caminho. E Zayn nos abre a sensibilidade para perceber o
movimento do Sagrado na existência.
O poder de "or chozer" (luz Divina refletida rumo ao Alto pela Criação) para
ascender além de seu próprio ponto de origem.
O Zayin é uma letra de assertividade e poder.
Sua forma lembra uma espada e seu nome tem relação com 
, raiz hebraica para
"armas".
O Zayin corresponde ao sete.
O sete representa completude.
É comum descrevermos seis direções espaciais — leste, oeste, norte, sul, acima e
abaixo — mais uma sétima, uma direção para dentro, um ponto focal interior.
Deus descansou no sétimo dia, depois de concluir o trabalho exterior de criar o
universo.
Como é a sétima letra do Aleph Beit, o Zayin simboliza o Shabbat, o período que
reservamos para descansar e para recordar e comemorar aquele dia inicial de
descanso e celebração, quando todas as coisas eram novas.
O Zayin é, portanto, um paradoxo.
Esse sinal de arma de guerra é também símbolo da paz do Shabbat.
O desafio do Zayin é integrar as duas coisas.
É possível, para nós, ser "guerreiros pacíficos"?
É possível manejar a espada adequadamente, para defender e inspirar vida e
beleza em vez de causar mais morte, mais destruição e mais alienação?
O próprio sentido profundo da letra, como ocorre com todas as letras do Aleph Beit,
ensina como enfrentar o desafio.
Zayin é uma letra de assertividade e poder.
Sua forma lembra uma espada e tem relação com a raiz da palavra ―armas‖.
A espada do Zayin nos ajuda proteger tudo o que é importante para o nosso
crescimento interior.
O Zayin nos convoca para luta e nos remete ao desafio de estarmos alertas e
vigilantes para não nos deixarmos atrair para o materialismo - nosso ego.
É o poder do livre arbítrio que nos proporciona as escolhas e os pactos que
estabelecemos a partir destas escolhas .
Trata-se de uma letra de discernimento do que é correto a ser feito, entre o que é
verdadeiro ou falso em nossa vida – espada pode cortar.
Pode significar determinação.

Formato: A letra Zayin é um Vav com uma coroa.

Número: Zayin representa o número 7.


O Sêfer Ietsirá fala das seis direções espaciais – leste, oeste, norte, sul, acima e
abaixo – a sétima direção para dentro.
O valor numérico do Zayin é sete, correspondendo à sétima direção, ao sétimo dia.
Estas direções estão relacionadas às sefirot da Árvore da vida.
O SI diz que foi necessário um dia para completar cada uma das direções.
O Shabat é o ponto central que liga todas as direções e as suporta, simboliza o
Sagrado ocupando o lugar central.
Representa Malchut ligada a Keter,corresponde à completude.
O centro está relacionado ao ―centro do seu ser‖ um momento de quietude e
reflexão.
O Shabat deve ser um dia diferente dos demais.
O sete é o numero de conclusão do espaço e do tempo e da reflexão depois do ciclo
concluído
Paradoxo – arma X quietude do Shabat. O desafio do Zayin é integrar as duas
coisas.
Para manejar a espada adequadamente para defender e inspirar em vez de destruir
é necessário quietude.
O valor pleno do nome Zayin é igual a 67, valor numérico da palavra Biná,
representando a análise e o discernimento.
O conceito da Shemitá, no sétimo ano, representa uma sensação de renovação,
certeza e confiança.

Espaço: No espaço, Zayin representa constelação dos Gêmeos.

Tempo: No tempo Zayin é responsável pela criação da Sivan.

Corpo: Zayin está relacionado ao pé esquerdo.

Medicina: Zayin é a letra que nos reporta à ideia de movimento, de ação, de


caminhar em direção a algum lugar.

Arquétipo: Zevulun.

Aplicação:
Lembre-se do sabbath, lembre-se de descansar.
Maneje a espada que protege aquilo que é precioso.

Sombra:
A sombra pode ser a preguiça, desânimo, falta de mobilidade (inércia), indulgência
excessiva (para si mesmo), excesso de agressividade
Indolência. Guerra e agressão sem motivo.

Reflexão:
Existe algo que eu deva eliminar para fazer jus ao que é realmente importante para
mim?

Ação sugerida:
Nesse fim de semana, comemore o sabbath de um modo que seja satisfatório e
significativo para você, reduzindo as tarefas e pressões do cotidiano a um mínimo.

Canal-Caminho: De Chochmá a Guevurá.

Sefer Yetziyrah: “Ele fez a letra Zayin reinar sobre a locomoção, corou-a,
combinou-a com cada uma das outras e, com elas, formou: gêmeos no universo
Siyvan no ano e o pé esquerdo na Nefesh...” (S. Y. 5.9)

Comentários:
A palavra Zayin vem do aramaico e significa "arma".
Trata-se de uma letra de poder e de discernimento.
É o poder do livre-arbítrio que proporciona a escolha de fazer ou de não fazer.
Zayin força a se assumir, a tomar a responsabilidade.
O Bahir diz-nos, com relação ao valor numérico da palavra, que "ele corresponde
ao número de dias da semana. Isto para ensinar que cada dia possui seu próprio
poder".
O poder é liberdade e independência das forças criadas.
As letras Zayin e Resh regem, respectivamente, o mazal de Teomim (Gêmeos) e o
planeta Kochav (Mercúrio) que referem-se ao mês de Sivan (Maio/Junho).
Invertidas, temos a palavra hebraica ―raz‖, que significa "segredo" ou "mistério".
Somadas, temos a guematria 207, a mesma que ―Or‖ ("Luz").
Meditar nas letras do mês de Sivan é uma das práticas recomendadas para que os
segredos do universo sejam revelados através da Luz da Cabalá.
Zayin é a sétima letra do alfabeto hebraico, e sete é o número associado ao
Shabat, o casamente da Shechiná (Malchut, o mundo físico) com Zeir Anphim (o
mundo espiritual).
Como toda oportunidade de revelação espiritual conta com a presença da contra
inteligência à espreita, Zayin é também a espada com que nos defendemos da má
inclinação.

O Maguid de Mezritch, sucessor do Baal Shem Tov, nos ensina que o versículo,
―Uma mulher de valor é a coroa do seu marido‖, alude à forma da letra Zayin.
A letra anterior, Vav, representa a ―or yashar‖ (―luz direta‖) que descende de D’us
para os mundos.
O Zayin, cuja forma é parecida com a do Vav, embora com uma coroa no topo,
reflete a ―or yashar‖ do Vav como ―or chozer‖ (―luz de regresso‖).
―Or chozer‖ ascende com tamanha força que ela atinge um estado de consciência
mais elevado do que o do ponto de origem revelado do ―or yashar‖.
Ao alcançar a esfera inicialmente supra consciente de Keter (a ―coroa‖), ela
expande sua consciência para a direita e para a esquerda.
Na verdade, ―não existe nenhuma esquerda naquele Um Primordial [o nível de
Keter], pois tudo é direita‖.
Isto significa que a consciência de D’us (esquerda) neste nível inicialmente supra
consciente é indistinguível, em seu aspecto de conexão direta com D’us, da mais
elevada manifestação de amor a D’us (direita).
A experiência de ―or chozer‖, subsequente à consumação do processo criativo
inerente em ―or yashar‖, a criação do homem no sexto dia, é o segredo do sétimo
dia da criação — o Shabat.
A ―Rainha Shabat‖, que, geralmente, representa a mulher em relação ao homem —
―a mulher de valor é a coroa de seu marido‖ — tem o poder de revelar em seu
marido sua própria coroa supra consciente, a experiência do prazer sereno e da
vontade sublime inatas ao dia do Shabat.

―Quem é uma boa [literalmente, ―kosher‖] mulher? Aquela que faz a vontade de
seu marido.‖
A Chassidut explica a palavra ―faz‖ também significa ―retifica‖, conforme dito na
conclusão do relato da Criação (o estabelecimento do sétimo dia, o Shabat):
―que D’us criou para fazer‖ — ―fazer‖ no sentido de ―retificar‖ (implicando, assim,
que D’us nos deu a tarefa de completar a retificação de Sua Criação), conforme
explicado pelos Sábios.
Assim, a ―mulher kosher‖ é aquela que retifica a vontade de seu marido ao elevá-lo
a uma nova consciência das esferas anteriormente supra conscientes da alma.

O desenho de Zayin é a forma de uma espada, o topo do Zayin é o punho, e a


perna é a lâmina.
Outra interpretação do desenho do Zayin é que representa uma coroa e um cetro.
O Zayin portanto alude a poder e autoridade.
O valor numérico da letra Zayin, como dissemos, é sete.
O sete representa o sétimo dia da semana, o Shabat, o dia em que D'us descansou.
Mas o que isso significa?
Se D'us é infinito, por que Ele teve de descansar?
Um ser humano, um mortal, está cansado após uma semana dura de trabalho,
portanto precisa de uma pausa.
Mas D'us, o Ser imortal?
A resposta é que o descanso não é para D'us, mas para nós.
Como trabalhamos seis dias por semana, e parecemos ser os donos do nosso
destino, podemos facilmente vir a acreditar que somos nós que temos o poder de
determinar nosso sucesso. Portanto D'us instrui:
"No sétimo dia você deve parar, Deve examinar o mundo ao seu redor e entender
que tudo vem de Mim."
O Shabat é o dia de nos concentrarmos no Criador do universo.
Vemos também que muitos dos alimentos que comemos no Shabat estão
conectados com o número sete.
Após a ―shul‖ (―estudo na escola‖) na noite da sexta-feira e no dia do Shabat, é
feito um Kidush (―literalmente - ―santificação‖ – benção sobre o vinho).
A palavra hebraica para vinho é ―yayin‖, que se escreve ‖yud-yud-nun’.
Se acrescentarmos a Guematria, será igual a 70, ou 7 (Segundo o cálculo
conhecido como mispar katan (a "pequena contagem") na qual os zeros tirados, o
setenta é considerado como sete).
Após o Kidush, todos então se lavam e voltam à mesa para recitar a bênção e
comer ―chalá‖ — ―pão‖.
A Guematria de chalá é 43, e 4 + 3 = 7.
Depois de comer a chalá, é claro que eles têm peixe, ―gefilte fish‖.
A palavra ―peixe‖ (―dag‖) é escrita dalet = 4 e guimel = 3, totalizando 7.
Depois do gefilte fish, eles vão para a sopa, que é ―marak‖: mem = 40, reish =
200, kuf = 100. Juntos eles totalizam 340, e 3 e 4 = 7.
Depois da sopa, eles continuam com a carne.
A carne (―bassar‖): bet = 2, shin = 300, reish = 200, totalizando 502 — mais uma
vez o 7.
Todos os pratos são um delicioso lembrete de que estão participando do sétimo dia,
o sagrado Shabat.
Além dos alimentos, que se inclui também - sorvete = 52.
A vela de Shabat também tem valor numérico de 7. ―Ner‖ é igual a 250.
A santidade do sete não somente é verdadeira no microcosmo, mas também no
macrocosmo.
Com o Primeiro Dia da Criação representando os primeiros mil anos da existência
do mundo, o Segundo Dia representando o segundo milênio, etc., o Shabat
representando o Sétimo Milênio, que é "um dia de repouso e tranquilidade para
toda a eternidade".
Como estamos atualmente no ano 5772 da Criação, estamos agora no Sexto
Milênio.
Para entender qual "tempo" estamos habitando naquele milênio, precisamos fazer
alguns cálculos: mil anos representam um dia, ou 24 horas de criação.
Um mil dividido por 24 são 41,67 anos por hora universal.
Se então dividirmos 772 por 41,67 (os anos restantes após remover a raiz 5.000,
significando o Sexto Milênio) teremos 15,39. Estamos assim atualmente 15,39
horas (aproximadamente 15 horas e 23 minutos) após o pôr-do-sol precedente, e
estamos na "tarde da sexta-feira" quase no Shabat.
Estamos vivendo quase no Sétimo Milênio, o Shabat eterno, o "dia" da eterna
tranquilidade.
E quando começamos a nos preparar realmente para o Shabat, e para a chegada
de Mashiach?
Seja pelo relógio ou pelo calendário, é sexta-feira ao meio-dia.
A preparação para essa era não é algo que possamos deixar para o último minuto.
É algo que devemos construir com intenção e júbilo.
Uma das coisas que o Rebe nos instruiu a fazer nesta geração para nos preparar
para o Mashiach é estudar os conceitos relativos ao tema de Mashiach,
especialmente como são esclarecidos nos ensinamentos da Chassidut.
Embora o Mashiach certamente vá chegar por volta do ano 6.000, o Rebe nos diz
que sua vinda é iminente devido à teshuvá coletiva e às boas ações que temos feito
nos últimos dois mil anos deste exílio final.
Rabi Chaim Vital nos diz que comparada à Torá de Mashiach, a Torá revelada que
aprendemos agora é ―hevel‖ — ―nada‖.
Como foi relatado no texto sobre o alef, o Baal Shem Tov subiu certa vez à câmara
de Mashiach no céu e perguntou: "Mashiach, quando você vai chegar? Quando vai
libertar os judeus desse terrível e sombrio exílio?"
Mashiach respondeu: "Quando os mananciais dos teus ensinamentos [i.e., os
ensinamentos da Cabala e do Chassidut] se espalharem pelo mundo inteiro. O
mundo todo então começará a aprender os segredos da Torá. Então eu chegarei."
O Alter Rebe explanou sobre os ensinamentos do Baal Shem Tov em seu Tanya e
em outras obras, e esta filosofia tem sido transmitida até o Rebe, o sétimo Rebe de
Chabad-Lubavitch.
Portanto, cabe a todo judeu que "espera a vinda de Mashiach" mergulhar nestes
ensinamentos.
A pessoa não deve esperar até dominar todo o Talmud antes de começar a estudar
estas percepções místicas.
Assim como o Shulchan Aruch (o Código da Lei Judaica) nos diz que na tarde da
sexta-feira é costume provar as comidas do Shabat, nesta geração devemos provar
um pouco do Milênio do Shabat, quando estaremos preocupados em estudar os
segredos da Torá.
A maneira de ―provar" este milênio é estudando os ensinamentos da Cabala e
Chassidut e infundindo a aura de Mashiach em nossas atividades diárias.
O Midrash nos diz que quando D'us criou o mundo, a Divindade estava manifesta
na vida cotidiana, física. Porém, sete pecados graves fizeram D'us remover-Se sete
níveis deste mundo.
O primeiro pecado foi o de Adam, no Jardim do Éden.
Depois de Adam, houve o pecado de Cain, que assassinou seu irmão.
Então houve o pecado de Enosh, que começou a adorar ídolos... e assim por diante,
até o sétimo pecado, que completou a retirada de D'us para o céu mais distante.
Então veio Avraham, que reverteu a tendência.
Ao ensinar sua geração sobre o Único D'us, ele trouxe D'us do sétimo céu um nível
abaixo até o sexto.
Os atos justos de seu filho Yitschac trouxeram D'us mais um nível abaixo, até o
quinto.
Yaacov aproximou D'us um nível mais... até que finalmente Moshê (o sétimo líder
de Israel) trouxe D'us de volta à terra, entre nós no Monte Sinai.
Após receber os Dez Mandamentos, o povo judeu pecou com o Bezerro de Ouro.
D'us então removeu-Se do mundo presente e ascendeu de volta ao sétimo céu.
Este ciclo de sobe e desce, mitsvot versus pecados, santidade versus o mal, tem se
repetido no decorrer da história.
Em nosso ciclo atual, o retorno de D'us ao mundo começou com o Alter Rebe.
O Alter Rebe trouxe D'us de volta do sétimo para o sexto nível.
A progressão tem continuado até esta geração atual, que está preparada para a
revelação de Mashiach.
O Rebe tem nos dito repetidamente que nossa geração é a sétima geração desde o
Alter Rebel, e portanto a geração da Redenção.
Assim como foi a geração de Moshê (a sétima) que deixou o Egito, também a nossa
geração deixará esta ―galut‖, ou ―exílio‖.
Alguém poderia perguntar por que somos tão merecedores?
Por que é a nossa geração que merece deixar o exílio?
A resposta é esta: o Shabat, o dia mais sagrado da semana, é o sétimo dia.
O sétimo é amado por D'us1.
Não são necessariamente as nossas qualidades individuais, mas o mero fato de nos
encontrarmos nesta era, que faz de nós a última geração do exílio e a primeira
geração da Redenção.
Na tarde da sexta-feira, na véspera do Shabat, começamos a sentir esta aura, esta
luz e inspiração especiais à beira da era da chegada de Mashiach.

O nome Zayin também significa "coroa".


Na verdade existem ―coroas‖, chamadas ―zayenin‖ em muitas das letras do alef-
bet.
Segundo a Lei Judaica, sete letras (conhecidas pelo acrônimo ―shatnez getz‖)
devem ser escritas com coroas: Shin, Ayin, Tet, Nun, Zayin, Guimel, Tsadik.

E, como dissemos antes, a palavra Zayin também significa "armas".


Além disso, Zayin significa ―zan‖, "sustentar".
Em essência, estas três definições estão relacionadas.
O Shabat, a coroa da Criação, é também o dia que abençoa e portanto sustenta a
semana seguinte. Ao guardarmos o Shabat, acessamos essas bênçãos, que então
nos dá a arma para vencer toda a negatividade, especialmente o ―yetser hará‖, a
―má inclinação‖.
Como foi declarado anteriormente, uma das coisas que nos tenta durante a semana
de trabalho é a nossa crença de que são somente a nossa capacidade e nossos
esforços que moldam e controlam nosso destino.
Essa crença então abre a porta para a má inclinação em todas as suas facetas.
A coroa e a espada do Shabat nos lembram que D'us e somente D'us é o Mestre do
nosso destino, e essa crença nos dá a capacidade para vencer todas as forças
negativas.
Na verdade, as bênçãos são nossas armas mais reais, mais confiáveis.
Os significados do Zayin também são paralelos ao Sétimo Milênio.
Quando D'us criou o mundo, Ele não queria um mundo de guerra e destruição, ódio
e inveja, doença e morte.
Ele poderia facilmente ter criado um mundo perfeito, mas desejava, em vez disso,
que o homem tivesse o mérito de ajudá-Lo a atingir aquele estado. Saber disso nos
dá a força para nos sustentar e aumentar a nossa fé durante aqueles momentos
difíceis do exílio, e superar as trevas e a dificuldade que estamos enfrentando.
Quando Mashiach chegar, não haverá mais o mal sobre a terra — como está
escrito: "... e o espírito da impureza será removido de sobre a terra".
Acreditar no Mashiach ajuda a provocar a transformação sobre a qual falou o
Profeta Yeshayahu: "Eles transformarão suas espadas em arados e suas lanças em
instrumentos de jardinagem. Nação não erguerá espada contra nação, nem
aprenderão mais sobre a guerra".
Tudo isto está contido na letra Zayin.

Aplicação
 , zakor, "lembrar", começa com Zayin.
"Lembra-te do dia do sábado, para o santificar" foi um dos Dez Mandamentos, ou
dez "pronunciamentos", que Moisés trouxe do monte (Êx. 20:8).
Ao respeitar, sob a forma que nos parecer apropriada, o sabbath, nós nos
lembramos dele, no sentido de recolher.
No Shabbat, nós nos recriamos lembrando-nos da criação.
Uma das maneiras de fazer isso é saindo do mundo da agitação, dos horários de
comércio e de trabalho, da própria modernidade, e entrando no santuário do tempo
sagrado.
Durante o Shabbat, nós descansamos e acolhemos em nossa vida o aspecto
feminino da Divindade — a Shekhinah, a Rainha do Sabbath.
Escolher o Zayin pode indicar um momento de recolher-se, de ficar mais perto de
casa, com a família e os amigos, de estar com a natureza, de afastar-se dos
negócios mundanos, de estudar, rezar e cantar.
O Talmud diz:
"O que foi criado no sétimo dia? A tranqüilidade, a serenidade, a paz e o repouso".
O Zayin representa um momento de voltar-se para o sabbath íntimo, para a sétima
direção, a direção interior, e cultivar a paz.
É também um momento de diversão!
Em seu clássico livro O Sabbath, Abraham Joshua Heschel ensina:
"Ao contrário do Dia do Perdão, o Sabbath não é dedicado exclusivamente a metas
espirituais".
É um dia do corpo e da alma.
"O conforto e o prazer constituem parte integrante da observância do Sabbath."
O Talmud diz: "Santifique o Sabbath com refeições seletas, com roupas bonitas; dê
prazer a sua alma e eu o recompensarei por esse mesmo prazer".
Vimos que o Zayin nos convida a lembrar.
Tradicionalmente os iroqueses se lembram não apenas dos antepassados como
também dos que ainda virão.
Ao tomar uma decisão importante, eles pensam nas crianças que vão nascer sete
gerações mais tarde.
Como essa decisão as afetará?
O Zayin nos lembra de nos retirar do dia-a-dia e observar nossa vida dessa
perspectiva.
O que precisamos ajustar na nossa vida atual para melhor servir a sétima geração,
que, para nós hoje, são as crianças do século vinte e um?
Shmitah, o ano sabático, ocorre a cada sete anos.
Shmitah é o período de descanso do solo, de repouso da terra.
Quando aparece em nossas mãos, o Zayin pode significar um momento de adotar
alguma forma de sabático, dar-nos um tempo, renovar nossas perspectivas e
saborear um pouco a liberdade.
Para ter liberdade, porém, normalmente é preciso lutar para conquistá-la, e depois
defendê-la.
É nesse ponto que o Zayin enquanto arma se liga às pacíficas qualidades sabáticas
da letra.
Para proteger nosso sagrado momento de Shabbat, precisamos manejar a espada
que guarda as fronteiras.
Precisamos defender o precioso espaço da alma, proteger os aspectos femininos de
nós mesmos e a natureza, que pode estar ameaçada pelas demandas das outras
pessoas e de nossa cultura apressada e materialista, com seus resquícios
patriarcais.
Como é fácil esquecer-se de lembrar-se do sabbath — em sentido literal e figurado.
O Zayin é um apelo à incisividade, àquela aguda clareza da mente e da intenção
que protege o que é precioso.
Robert Bly diz, em João de Ferro: "Mostrar a espada não significa necessariamente
lutar. Pode sugerir também uma alegre determinação".
Quando Adão e Eva foram expulsos do Jardim do Éden, foi colocada na entrada
uma espada flamejante, circundando e protegendo a Árvore da Vida.
Todos nós trazemos a espada flamejante que guarda a árvore da vida interior.
Quando estamos determinados a respeitar aquilo que é verdadeiramente
importante para nós, eliminando tudo o que não for, nós manejamos habilmente a
espada do Zayin.
William Blake invoca a inspiração de Zayin em seu prefácio a Milton:
"Não abandonarei minha Luta Mental / Nem minha Espada descansará em minhas
mãos / Enquanto não construirmos Jerusalém / Na verde e aprazível terra inglesa"
A escolha da letra Zayin é uma convocação para a luta.
É o desafio de manter-nos alertas e vigilantes e não nos deixar atrair para o sono
pelo canto de sereia do comércio e do materialismo.
Nós temos uma oportunidade permanente de construir Jerusalém, Yerushalayim —
a "visão do Shalom", a cidade da paz — aqui mesmo, neste momento, exatamente
onde estamos.

A Sombra do Zayin
O sabbath ocorre apenas uma vez a cada sete dias.
Parte de sua beleza está no contraste com o resto da semana.
Basta um excesso de descanso e prazer, de refeições seletas e vestes bonitas, e
nossa vida rapidamente perde o equilíbrio.
A preguiça e a indulgência excessiva são duas armadilhas que é preciso ter em
mente quando se seleciona o Zayin.
Uma outra armadilha é a do excesso de agressividade.
É importante manejar a espada que defende as fronteiras e protege o que deve ser
protegido, mas sem tornar-se violento e paranóico.
O Zayin evoca a parte da natureza humana que é ávida pela guerra, que é sedenta
de sangue, que justifica a agressão em nome de todas as formas de ideologia e
racionalizações.
Quando selecionamos o Zayin, é um lembrete de que a tendência obscura para a
guerra e para a violência está em cada um de nós.
Quando admitimos a presença dessas tendências destrutivas em nossa natureza,
somos capazes de evitar levá-las à prática ou projetá-las num "outro" qualquer.

Comentários Pessoais por Richard Seidman


Você já segurou uma espada de verdade?
É pesada!
Ainda assim, existe um modo de manejar a espada sem se esgotar — um "esforço
sem esforço", ou wu wei, como se diz em chinês.
O Zayin ensina que o esgotamento, na verdade, tende mais a ocorrer quando nos
recusamos a segurar a espada que protege nosso tesouro, nosso tempo sagrado.
Quando eu era diretor executivo de uma organização não-lucrativa de plantio de
árvores, nós nos vimos iniciando um projeto atrás do outro, até que a equipe e os
voluntários acabaram passando dos limites e sucumbindo ao stress.
Então pendurei dois avisos no escritório.
Um deles dizia: "É o plantio de árvores, estúpido" — para nos lembrar de nos
concentrarmos na missão central da organização e nos ajudar a resistir à tentação
de nos dispersar em atividades paralelas.
O outro dizia: "Diga não aos outros projetos" — para nos fazer desistir de acumular
cada vez mais trabalho.
Identificar as prioridades essenciais e dispor-se a defendê-las: esse é o trabalho do
Zayin.
Há um certo tipo de espada que hoje sei usar com mestria.
É leve, mas eficiente.
Você pode usá-la também, se quiser.
É a palavra "não".

Textos Complementares

 Zayin - Zachor et Yom HáShabbat (Lembrar do Sabbat,


Dia do Descanso)

Lembra-te do dia de sábado, para o santificar


Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra.
Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem
tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu
animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque, em seis dias, fez o
Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou;
por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou.
Êxodo 20:8-11

Como Zayin é a sétima letra do alfabeto hebraico, faz sentido que o mandamento
para observar o dia do descanso, o Sabbath (que, no judaísmo, é o sétimo dia da
semana), comece com a palavra Zachor ("lembrar").
Por que esse mandamento diz para "lembrar" e "santificar" em vez de "fazer"
alguma atividade?
E por que a passagem acima também diz que não apenas os chefes de família
devem deixar de trabalhar, mas também todo o círculo ampliado da família —
incluindo os animais?
Abraham Joshua Heschel, um dos mais importantes filósofos judeus do século XX,
escreveu que o Sabbath nos traz para a esfera do tempo e nos afasta da esfera do
espaço.
Como passamos a vida inteira vendo o mundo em termos de objetos físicos —
coisas que desejamos possuir, lugares que queremos ver e assim por diante — é
importante tirar um dia para enfocar objetos invisíveis como "momentos sagrados"
no tempo.
Você não consegue ver, tocar ou ouvir uma experiência espiritual, mas você a sente
num nível superior e pode recordá-la todos os dias pelo resto de sua vida.
Se você escalasse até o topo de uma montanha e incluísse na visão a sensação que
você teria — a consciência da beleza da natureza —, seria uma experiência de
tempo e não de espaço.
Você aprecia a paisagem física, sim, mas seu sentimento de comunhão com aquele
mundo físico é totalmente espiritual.
Isso é o que acontece no sétimo dia da criação: Deus criou o céu e a terra, os
mares, os animais, as plantas e a raça humana; e finalmente, no sétimo dia, Ele
lança um olhar sobre tudo que fez, decide fazer uma pausa e faz dessa pausa uma
parte regular do ritmo da vida na terra — uma parte sagrada.
O Sabbath é a primeira coisa de toda a criação que foi descrita como "sagrada".
Mas como você pode santificar algo que não é físico?
Como pode um dia, que não é nada mais do que um conceito mental que usamos
para marcar o tempo e observar o curso da história, tornar-se um objeto sagrado?
Heschel respondeu que celebrar o Sabbath é uma maneira de celebrar a
"sacralidade do tempo", uma maneira de assumir o controle sobre nossa vida e nos
voltarmos para nós mesmos.
E para fazermos isso, nós temos não apenas que parar de trabalhar fisicamente,
mas também que nos colocar em um ambiente onde tudo ao redor e todos que
fazem parte de nossa vida, também façam essa pausa.
Durante seis dias da semana, nós utilizamos as nossas capacidades para dominar o
mundo ao nosso redor — trabalhando, construindo, criando novos objetos e coisas
desse tipo.
É importante, então, usar o sétimo dia para construir a nós mesmos, parar de
trabalhar e simplesmente contemplar a beleza do mundo ao nosso redor.
É como se toda a semana fosse a escalada para o topo da montanha e o Sabbath
fosse a pausa que fazemos quando chegamos ao topo — onde podemos finalmente
ver tudo de uma nova perspectiva.
Em todas as religiões, existe um Dia de descanso, embora varie de tradição para
tradição quanto a qual o dia da semana.
O que é comum a todas elas é a idéia de um dia santificado e destacado do resto
da semana.
O conceito de um dia de descanso também faz parte da Cabala — é a própria
essência da lei da limitação, a disposição de nossa vida que nos permite ganhar
muito mais simplesmente fazendo menos.

A carta Zayin é um lembrete de que você precisa parar e permitir-se experimentar


o silêncio.
As semanas passam-se em ciclos de atividades e experiências que se repetem
incessantemente — trabalhar, comer, dormir; trabalhar, comer, dormir.
Muitas vezes consideramos os períodos de descanso como sendo perda de tempo,
mas a verdade é que o silêncio, a meditação e as experiências espirituais são os
momentos mais gratificantes de nossa vida.
Conhecer e valorizar a importância do dia do Sabbath é uma coisa — lembrá-lo,
Zachor, é algo completamente diferente.
O conhecer é um ato teórico, enquanto lembrar é um ato prático.
Encontre uma maneira de fazer do Sabbath uma realidade para você, um dia
sagrado destacado do resto da semana, para simplesmente ser e não ter que fazer
nada.

Por: Deepak Chopra

Aprendendo a Iniciar com a Letra Zayin

ZoMEIM – ―O homem mau conspira contra o justo e range seus dentes para ele.
Meu Senhor (Hashem) rir-se dele, já que Ele viu que o seu dia se aproxima.‖

O assunto do qual esses versos tratam é dessa forma: É difícil entender de onde
um pensamento estranho se origina em uma pessoa justa, se ela ora com grande
devoção.
Não tem os nossos Rabinos de memória abençoada dito em Yoma 38b que ―o que
vem ser purificado é dado divina assistência?‖
O que se segue dará uma resposta à pergunta: Quando aconteceu a quebra, a
destruição dos vasos (à época da criação), as chispas (mesmo que faíscas) dos
Neshamos caíram dos mundos, mas através das orações dos justos, elas subiram
pouco a pouco, passo a passo. Assim, quando uma pessoa justa se levanta em
oração e se liga à medida espiritual em que ela está atualmente, um pensamento
estranho cairá em sua direção vinda daquela medida.
Conseqüentemente, quando a pessoa chega a um nível espiritual muito mais
superior, um pensamento estranho cai até chegar à pessoa vinda da atual medida
espiritual em que ela se encontra.
Porém, uma pessoa justa precisa saber de qual medida e de qual mundo esse
pensamento estranho vem.
Ela também precisa saber como elevá-lo àquele mundo e a medida em que ela está
atualmente; mas o problema é que as vezes a pessoa justa deseja elevá-lo, mas
ela não se sente capaz em fazê-lo.
A razão para isto é que um pensamento estranho cai até a pessoa de um nível
espiritual mais elevado que ela ainda terá de alcançar; entretanto, isso se torna
impossível para ela elevá-lo pelo fato da pessoa se encontrar atualmente em um
nível inferior do que o nível do pensamento estranho se originou.
Ainda assim, a pergunta necessita de mais esclarecimentos: Por que o pensamento
estranho vem a essa pessoa antes do tempo?
Saiba, pois tenho um costume (palavras de Rabbeinu), que quando há um conflito
com uma determinada pessoa justa, um pensamento estranho cai daquele conflito
para outra pessoa justa; mas pelo fato da pessoa desejar elevá-lo, ela realmente
não consegue, ela freia com força– o desejo de todos aqueles que criam conflitos.
Esse é o significado do verso: “O homem mau conspira” – significado para pensamento
estranho. “Contra a pessoa justa e range seus dentes para ela” – significa que a pessoa
justa deseja elevar o pensamento estranho.
‖Mas Hashem rir-se dela, pois Ele tem visto que o seu dia se aproxima‖ – significa
que ela ainda tem que alcançar o nível espiritual do qual um pensamento estranho
se origina. Portanto, de onde um pensamento estranho procede?
O versículo seguinte explica: ―O homem mau tirou a espada‖-Rashi explica a
palavra espada como uma terminologia de guerra; significando que uma disputa
tem se suscitado a uma certa pessoa justa.
O versículo após essa passagem continua ―A espada delas‖...isso quer dizer ―no
coração dessa pessoa justa, mas por tanto desejar elevar o pensamento estranho
com o poder dessa vontade de querer agir assim, ―e seus arcos serem quebrados‖,
ou seja, a disputa será quebrada como previamente foi explicada aqui.
(LM 1:96)

Fonte: Likutey Moharan

O Bahir (com comentários de Aryeh Kaplan)

53. Por que é [o ouro] chamado ZaHaV?


Porque inclui três atributos, [que são aludidos nas suas três letras, Zain,
Heh, Bet].
[0 primeiro atributo é] Macho, (Zachar). Esse é Zain.
[O segundo é] a Alma. Esse é Heh.
[0 valor numérico de Heh é cinco, fazendo alusão aos] cinco nomes da
alma: Nefesh, Ruach, Neshamá, Chayá, Yechidá.
Qual é o propósito do Heh?
É um trono para Zain.
Está, portanto, escrito (Eclesiastes 5:7): "Pois um zela acima do outro."
Bet é seu sustento. Está, portanto, escrito (Gênese 1:1): "No (Bet)
princípio [Deus] criou..."

Comentário:
As seis primeiras das sete Sefirot inferiores, desde Chessed-Amor à Yessod-
Fundação, estão personificadas como Zer Anpin (Face Pequena), o arquétipo da
personificação masculina (ver verso 81 e 140).
Essa personificação masculina é o "Homem no trono", avistado por Ezequiel:
"E sobre essa forma de trono, havia a semelhança da aparência de um Homem"
(Ezequiel 1:26).
Embora as sete Sefirot inferiores incluam, também, Malchut-Reino, o elemento
feminino, o autor fala agora a respeito de um nível antes da fêmea ser extraída do
macho.
Esse nível corresponde a Adão antes que Eva fosse extraída dele.
O "Macho", representado pelo Zain, está no Universo de Atzilut-Proximidade,
enquanto o Trono está no Universo de Beriyá-Criação, que é, também, o mundo
das almas.
Nesse sentido, Heh é um trono para Zain.
Em outro sentido, Heh representa Biná-Compreensão, a Mãe do Macho, que é,
também, a raiz das almas (ver verso 51).
É o primeiro Heh do Tetragrama (ver comentário sobre verso 29).
A alma contém cinco níveis, e esses níveis correspondem às Sefirot e Universos na
maneira apresentada no Quadro seguinte:

Os Cinco Nívos da Alma

Sefirá Universo Nível Sul


Keter-Coroa Adão Kadmon Yechidad-Singularidade
Chochmá-Sabedoria Atzilut-Proximidade Chayá-Vitalidade
Biná-Compreensão Beriyá-Criação Neshamá-Sopro
As Seis Seguintes Yetzirá-Formação Ruah-Espírito do Vento
Malchut-Reino Asiyá-Manifestação Nefesh-Alma

Dessas cinco, apenas as três mais inferiores estão envolvidas com o "ser" do
homem.
As duas mais elevadas, Chayá-vitalidade e Yechidá-Singularidade, são consideradas
Envoltórios (makifin), que não influenciam diretamente o homem.
Uma razão para isso é que o mais elevado dos dois níveis existe em um plano
acima do tempo (ver comentário sobre verso 51).
Esses níveis entrarão no "ser" do homem apenas no Mundo Vindouro.
O conceito dessas partes da alma pode ser compreendido por intermédio da
analogia a um soprador de vidro.
Um sopro deixa os lábios do soprador de vidro, viaja pelo seu tubo de sopro como
um vento e, afinal, descansa no objeto que ele está formando, modelando-o da
maneira que deseja.
O sopro é Neshamá-Sopro, que possui seu significado literal.
Está indicado no versículo "E Deus soprou em suas narinas um sopro (Neshamá) de
vida" (Gênese 2:7).
É transmitido abaixo para o homem sob a forma de um "vento", que é o nível de
Ruah-Espfrito do Vento.
Quando descansa no homem, é chamado Nefésh-Alma, que se origina da raiz
Nafash, "descansar".
Nesse esquema, o nível de Chayá-Vitalidade representaria o sopro antes mesmo
que deixe o Soprador, enquanto ainda é parte integrante de sua força vital.
O nível de Yechidá-Singularidade, seria o próprio desejo que O move a soprar.
Já foi observado que Bet representa Chochmá-Sabedoria, o sustento de todas as
coisas. A chave para esse ensinamento é a letra Heh, que é inferior a Zain, seu
trono, e, ao mesmo tempo, está acima dele.
Similarmente, embora o ouro seja mais valioso que a prata, está manifesto em
nível inferior.
O motivo para isso envolve importante conceito.
O principal propósito de Deus na criação era o de dar.
Sendo impossível à criação aceitar tudo o que Deus tem para dar, Ele deve,
também, restringir.
O conceito de restrição, portanto, preenche uma função secundária na criação.
Prata e Chessed-Amor representam dar, estando, portanto, em nível mais elevado
que ouro e Guevurá-Força, que representam restrição.
Mas, embora dar seja mais elevado que receber, o que está restrito é sempre maior
do que o dado. Na verdade, o motivo disso é reservado precisamente porque é
muito elevado para ser dado.
Portanto, aquilo que é dado é prata, enquanto o que reservado é o tão valioso ouro.
Isso é evidenciado pelos cinco níveis da alma, onde os dois mais elevados são
reservados.
No sentido que está aqui representada, a palavra HaZahav ("ouro", HZHV) é, de
fato, uma inversão do Tetragrama YHVH, com Zain substituindo Yud. 53. Por que
é [o ouro] chamado ZaHaV?
Porque inclui três atributos, [que são aludidos nas suas três letras, Zain,
Heh, Bet].
[0 primeiro atributo é] Macho, (Zachar). Esse é Zain.
[O segundo é] a Alma. Esse é Heh.
[0 valor numérico de Heh é cinco, fazendo alusão aos] cinco nomes da
alma: Nefesh, Ruach, Neshamá, Chayá, Yechidá.
Qual é o propósito do Heh?
É um trono para Zain.
Está, portanto, escrito (Eclesiastes 5:7): "Pois um zela acima do outro."
Bet é seu sustento. Está, portanto, escrito (Gênese 1:1): "No (Bet)
princípio [Deus] criou..."

Comentário:
As seis primeiras das sete Sefirot inferiores, desde Chessed-Amor à Yessod-
Fundação, estão personificadas como Zer Anpin (Face Pequena), o arquétipo da
personificação masculina (ver verso 81 e 140).
Essa personificação masculina é o "Homem no trono", avistado por Ezequiel:
"E sobre essa forma de trono, havia a semelhança da aparência de um Homem"
(Ezequiel 1:26).
Embora as sete Sefirot inferiores incluam, também, Malchut-Reino, o elemento
feminino, o autor fala agora a respeito de um nível antes da fêmea ser extraída do
macho.
Esse nível corresponde a Adão antes que Eva fosse extraída dele.
O "Macho", representado pelo Zain, está no Universo de Atzilut-Proximidade,
enquanto o Trono está no Universo de Beriyá-Criação, que é, também, o mundo
das almas.
Nesse sentido, Heh é um trono para Zain.
Em outro sentido, Heh representa Biná-Compreensão, a Mãe do Macho, que é,
também, a raiz das almas (ver verso 51).
É o primeiro Heh do Tetragrama (ver comentário sobre verso 29).
A alma contém cinco níveis, e esses níveis correspondem às Sefirot e Universos na
maneira apresentada no Quadro seguinte:

Os Cinco Nívos da Alma

Sefirá Universo Nível Sul


Keter-Coroa Adão Kadmon Yechidad-Singularidade
Chochmá-Sabedoria Atzilut-Proximidade Chayá-Vitalidade
Biná-Compreensão Beriyá-Criação Neshamá-Sopro
As Seis Seguintes Yetzirá-Formação Ruah-Espírito do Vento
Malchut-Reino Asiyá-Manifestação Nefesh-Alma

Dessas cinco, apenas as três mais inferiores estão envolvidas com o "ser" do
homem.
As duas mais elevadas, Chayá-vitalidade e Yechidá-Singularidade, são consideradas
Envoltórios (makifin), que não influenciam diretamente o homem.
Uma razão para isso é que o mais elevado dos dois níveis existe em um plano
acima do tempo (ver comentário sobre verso 51).
Esses níveis entrarão no "ser" do homem apenas no Mundo Vindouro.
O conceito dessas partes da alma pode ser compreendido por intermédio da
analogia a um soprador de vidro.
Um sopro deixa os lábios do soprador de vidro, viaja pelo seu tubo de sopro como
um vento e, afinal, descansa no objeto que ele está formando, modelando-o da
maneira que deseja.
O sopro é Neshamá-Sopro, que possui seu significado literal.
Está indicado no versículo "E Deus soprou em suas narinas um sopro (Neshamá) de
vida" (Gênese 2:7).
É transmitido abaixo para o homem sob a forma de um "vento", que é o nível de
Ruah-Espfrito do Vento.
Quando descansa no homem, é chamado Nefésh-Alma, que se origina da raiz
Nafash, "descansar".
Nesse esquema, o nível de Chayá-Vitalidade representaria o sopro antes mesmo
que deixe o Soprador, enquanto ainda é parte integrante de sua força vital.
O nível de Yechidá-Singularidade, seria o próprio desejo que O move a soprar.
Já foi observado que Bet representa Chochmá-Sabedoria, o sustento de todas as
coisas. A chave para esse ensinamento é a letra Heh, que é inferior a Zain, seu
trono, e, ao mesmo tempo, está acima dele.
Similarmente, embora o ouro seja mais valioso que a prata, está manifesto em
nível inferior.
O motivo para isso envolve importante conceito.
O principal propósito de Deus na criação era o de dar.
Sendo impossível à criação aceitar tudo o que Deus tem para dar, Ele deve,
também, restringir.
O conceito de restrição, portanto, preenche uma função secundária na criação.
Prata e Chessed-Amor representam dar, estando, portanto, em nível mais elevado
que ouro e Guevurá-Força, que representam restrição.
Mas, embora dar seja mais elevado que receber, o que está restrito é sempre maior
do que o dado. Na verdade, o motivo disso é reservado precisamente porque é
muito elevado para ser dado.
Portanto, aquilo que é dado é prata, enquanto o que reservado é o tão valioso ouro.
Isso é evidenciado pelos cinco níveis da alma, onde os dois mais elevados são
reservados.
No sentido que está aqui representada, a palavra HaZahav ("ouro", HZHV) é, de
fato, uma inversão do Tetragrama YHVH, com Zain substituindo Yud.

80. Qual é o significado da letra Zain na palavra OZeN(ouvido)?


Dissemos que tudo aquilo que o Santo Abençoado trouxe ao Seu mundo
tem um nome emanando de seu conceito.
Está, portanto, escrito (Gênese 2:19): "Tudo o que o homem chamou, cada
alma viva, esse foi o seu nome."
Ensina que o corpo de cada coisa era assim.
E como sabemos que o nome de cada coisa é o seu corpo?
Está escrito (Provérbios 10:7): "A memória dos justos será bendita, o
nome dos ímpios apodrecerá."
O que, de fato, apodrece: seus nomes ou seus corpos?
[Devemos concordar que são seus corpos.]
Aqui, também, [o nome de cada coisa se refere ao] seu corpo.

Comentário:
Aqui, a lição importante é que o nome de cada coisa é sua essência espiritual, e
está intimamente relacionado à sua entidade física.

Por: Aryeh Kaplan

O Alfabeto Sagrado – Zain: A sétima dimensão

Josy Eisenberg — A letra zain tem uma importância particular, pois ela representa o
número 7, um verdadeiro número de ouro no judaísmo.
Esta letra é muito ambígua.
Por um lado, zain representa, em sua grafia, uma espada, portanto a guerra, e por
outro a raiz "z-n" significa o alimento, alimentar-se — maZoN: é a vida.

Adin Steinsaltz — Visualmente, zain é um vav (sexta letra) com, além disso, uma
coroa na cabeça.
Mas além dos dois sentidos que o senhor evocou, a espada e o alimento, e outros
mais, zain representa um adorno.
É uma letra decorada: um vav com um adorno por cima.
Um vav coroado, um vav, especial.

J. E. — Se damos importância às relações entre a sexta e a sétima letras, isto se


deve ao fato de que o alfabeto hebraico se desenrola como uma sinfonia.
Cada nota — cada letra — toma seu sentido a partir da letra que a precede, ela a
desenvolve, a completa e a ultrapassa.
Sete é um seis com um a mais...
Por exemplo, alef, a primeira letra, designa a unidade. Bet, a segunda é, por seu
valor numérico 2, o símbolo da dualidade e da multiplicidade.
É um a mais.
Acontece o mesmo com o vav, tanto por sua forma quanto por seu valor numérico.
Ele representa as seis dimensões do espaço: o alto, o baixo e os quatro pontos
cardeais.
Estas dimensões se desenrolam no espaço, e cada uma delas, no fim das contas,
tem mesmo a forma de um vav.
Mas o que se passa quando, ao coroar o vav, cria-se a sétima letra?
Cria-se o zain.
Eis que surge uma nova dimensão.

A. S. — Se o vav designa as seis dimensões do espaço é que existe uma


coordenação destas "flechas".
Sozinhas, elas partem em todos os sentidos, mas elas não têm centro!
A função do zain — o número 7 — é a de coordená-las.
Portanto, o número 6 designa dimensões sem centralidade, ao passo que o 7
inscreve que estas dimensões têm um centro.
Todas as significações do número 7 no judaísmo giram, aliás, em torno deste
problema: 7 não é um número simples.
É um ponto central (seis mais o centro).

J. E. — É mesmo assim um número primo!

A. S. — Por certo, é um número primo.


Mas ele expressa também algo que se poderia chamar de "plenitude ou perfeição".
Pois o zain está no centro, e é daí que partem todas as direções.
Em primeiro lugar, 7 designa o tempo: a semana de sete dias.
No centro há o shabat, dia que tem uma significação particular, e depois seis dias,
que são apenas dias comuns.
Um "dia" que tem um sentido e seis outros que têm menos sentido.

- Shabat: o tempo do meio

J. E. — No que se refere esta centralidade do shabat, ela expressa também o fato


de que no judaísmo o shabat não é somente o sétimo dia da semana, é também
seu meio.
Há três dias antes do shabat e três dias depois, mas esses dias não têm a mesma
significação.
Diz-se geralmente que os três dias que o precedem constituem a preparação ao
shabat; ao passo que os três dias que o seguem se beneficiam das energias do
shabat.
A. S. — Há até mesmo algo a mais: em hebraico, os dias da semana não têm
nome, eles têm apenas um número!
Primeiro dia após o shabat, segundo dia...
Em todas as línguas, cada dia leva um nome.
Para nós, o único dia que leva um nome é shabat.

J. E. — O calendário judaico comporta efetivamente esta curiosa particularidade:


diz-se "1° dia" para domingo, "2° dia" para segunda-feira etc.
Estes dias não têm nome próprio.
A razão disso é simples.
No Ocidente, os dias da semana são nomeados seja em função dos astros, seja em
função dos deuses da mitologia grega, seja em função dos dois.
Assim segunda-feira (lundi) é o dia da lua.
Em espanhol isto é ainda mais claro: lunes.
Terça-feira (mardi) é o dia de Marte, o planeta, mas também o deus da guerra.
O mesmo para quarta-feira (mercredi), Mercúrio, deus do comércio e dos ladrões.
Na quinta-feira (jeudi) ―cai-se de Caribde a Cila‖: é, com efeito, o dia do deus dos
deuses, Júpiter e seu Olimpo.
[Tradução literal de "on tombe de Charybde en Sgilla que significa evitar um mal
para cair em um mal maior.]
E o que dizer da sexta-feira (vendredi), dedicada a Vênus, deusa do amor?
Quanto a sábado, ele tira seu nome do planeta Saturno e de sua sulfurosa
reputação.
Compreendemos por que o judaísmo renunciou a estas diversas denominações
pagãs, astronômicas, astrológicas, mitológicas e deu um nome somente para um
dia, sagrado e central: o sétimo dia, shabat.
Seja dito de passagem, este nome não significa "descanso", mas "cessação", pois
no sétimo dia Deus cessa...

A. S. — A concepção judaica é de que, em vez de ter seis dias comuns seguidos do


shabat, tem-se com o sétimo dia um dia central que dá sentido aos outros dias.
Aliás, o que é verdadeiro para o shabat o é igualmente para as festas que duram
sete dias e para os meses: pois é o sétimo mês que é o mais sagrado.

J. E. — O sétimo mês, mês sagrado, eis o que pode surpreender!


Na Bíblia, com efeito, no momento da "saída do Egito", Moisés institui para os
hebreus como primeiro mês do ano o aniversário do Êxodo.
"Este mês será para vós o primeiro dos meses do ano" (Êxodo 12,2).
Assim, o ano novo judaico deveria se situar na primavera.
Por diversas razões e notadamente pelo fato de o sétimo mês compreender toda
uma série de festas, os rabinos fizeram deste mês o verdadeiro começo do ano
judaico.
Celebra-se, notadamente, Rosh Hashaná*, o ano novo, ao som do shofar, e depois
Kipur, o Grande Perdão, e enfim Sucot, a Festa das Cabanas.
O sétimo mês é assim o mais sagrado do ano.

- De 6 a 7

A. S. — O número 6 designa a natureza.


Mas 7 é a transcendência.
O que permite passar da realidade comum à santidade.
É o ponto central da realidade.

J. E. — Seria esta a função do shabat?

A. S. — Efetivamente, pois é a do número 7.


Mostrou-se que há precisamente, no judaísmo, sete dias sagrados.
Dois dias de Páscoa (Pessach)
Um dia de Pentecostes (Shavuot)
Um dia da Festa das Cabanas (Sucot)
Um dia do ano novo (Rosh Hashaná)
Um dia da Festa da Torá (Simchat Torá)
Além disso, Iom Kipur é denominado o shabat do shabat, porque é a sétima festa
do ciclo das festividades: é a apoteose das seis festas.

J. E. — Para voltar ao coroamento desta letra, representada pelo shabat,


comentou-se muito a relação entre o vav e o zain.
O vav mais uma coroa: é a relação entre o homem e sua mulher no dia do shabat.
"Eishet chaïl ateret baala" — a mulher é a coroa do homem.
Esta coroa que está sobre o vav vem também coroar o homem.

A. S. — Isto está perfeitamente de acordo com o nosso tema: o shabat enquanto


dia de descanso.
J. E. — Segundo a tradição, os dias andam de dois em dois.
O sétimo dia estando sozinho, Deus lhe disse: Israel será tua noiva (kalá).
É uma história de amor.
Eis por que sexta-feira à noite acolhe-se o shabat com o hino: "Vai, noivo, ao
encontro de tua noiva...", canto de amor que exalta o encontro erótico do shabat e
do povo judeu.

A. S. — Mas por outro lado, de modo bem contraditório, existem estas duas
significações da palavra zain, desta raiz: a guerra e o alimento!

J. E. — O zain tem a forma de uma espada.


A raiz zain nun, "z" e "n", forma palavras que designam ao mesmo tempo a guerra,
o alimento e a prostituição.
O senhor evitou usar este termo, o que eu entendo, para falar do prazer.
A guerra e o prazer, como Eros e Tânatos.

A. S. — É preciso, para esclarecer este ponto importante, voltar à diferença entre o


7 e o 6.
O 6 é um número simétrico (3 + 3), ao passo que o 7 é orientado: o zain tem uma
direção.
E pelo fato de que o número 7 não é simétrico ele pode partir para duas direções
diferentes: seja matar, seja alimentar.

J. E. — Digamos que a partir do momento em que se introduz o conceito de


santidade introduz-se também seu contrário: o mal.
Porque nas seis primeiras letras, isto é, alef, a unidade, bet, a bênção, guimel/
dalet, a caridade etc., o mal não aparece.
E quando aparece a sétima letra — a espada — vê-se aparecer ao mesmo tempo a
santidade e a guerra.
Pode-se até mesmo falar de "guerra santa", o Jihad.

A. S. — Isto acontece assim que abandono a simetria do vav e do número 6.


Isto é verdadeiro tanto para a semana — seis dias — quanto para os meses: seis
meses mais seis meses.
Quando chego ao número 7, não há mais simetria.
Eis por que esta letra é perigosa, muito perigosa.
Aliás, não se usa esta letra na linguagem.
Tudo o que tem uma finalidade precisa só pode ir a uma única direção, ou a outra
direção, mas não sofre compromisso.

- A vida: um combate

J. E. — Alguns comentadores dizem que ele tem a forma de um punhal, pois a vida
é um combate permanente.
Seria então preciso um punhal para avançar na vida.

A. S. — O provérbio diz que se ganha seu pão na ponta da espada.


Diz-se igualmente no Talmud que a prece é um combate.
Um combate interior ou exterior.
É preciso diferenciar a prece na qual um homem expressa que se sente bem, na
qual ele agradece a Deus e canta, daquela em que o homem espera uma resposta.
Neste caso, ela é como uma violência.

J. E. — Quando rezo, exerço uma pressão sobre Deus: seria uma forma de combate
na qual a prece se torna espada?
A. S. — Como prece, a espada está ligada à questão da vida, da morte e do amor.
Penso em um célebre provérbio talmúdico: "Enquanto nos amávamos, poderíamos
ter dormido tranquilamente sobre o fio de uma espada; mas agora até mesmo uma
cama de cinquenta metros de largura não nos seria mais suficiente!".

J. E. — A primeira aparição da espada na Torá acontece na sétima geração.


Tubal-Caim, o primeiro ferreiro, faz parte da sétima geração da história bíblica.

A. S. — Encontra-se, portanto, ao mesmo tempo, a santidade e seu contrário.


Com efeito, no momento em que há luz, há também necessariamente escuridão.
Toda santidade suscita seu contrário.
É a mesma oposição do que aquela entre a semana e o shabat, ou aquela entre o
sétimo mês e os outros meses do ano.

J. E. — Há também esta dimensão na Menorá do Templo, o candelabro do Templo.


Ele tem sete braços que iluminam o Templo.

A. S. — O número 7 é muito corrente.


A Bíblia fala também dos sete pilares da sabedoria.

J. E. — Há também — lembremos — os sete pastores de Israel: Abrahão, Isaac,


Jacob, Moisés, Aarão, José e David.
Estes sete pastores representam o modo pelo qual a kedushá, "a santidade",
atravessa a história.

A. S. — Os livros antigos falam dos sete planetas que fixam o tempo e são sempre
ligados aos sete dias da semana.
Existem numerosas ocorrências deste número 7: é o que vem acrescentar um a
mais.
Um provérbio diz: "Todos os sétimos são preciosos".
Em outras palavras, 7 é um número especial.
Por outro lado, assim como há o sétimo dia, há também o sétimo ano: o ano
sabático — a shemitá.
Seis anos comuns e depois chega o shabat da terra.
E enfim o jubileu: sete vezes sete anos, seguidos do quinquagésimo.
O ano sabático se assemelha ao shabat: não se faz nada, não se cria.
O ano sabático tem algo em comum com o duplo aspecto da morte.
A morte, por um lado, é uma destruição da vida.
Por outro, ela leva à transcendência: morro aqui embaixo para ir mais alto...
Do mesmo modo, o ano sabático permite elevar-se mais.
Certamente, por um lado, a terra está em repouso, porém, por outro, o ano
sabático consiste em devolver sua posse ao seu verdadeiro dono: o Santo-bendito-
seja.
No sétimo ano, as vacas, os bezerros, os tigres e os leões, todos os animais têm o
direito de usufruir de minha terra: deixo de ser seu proprietário.
Em outras palavras, se o zain é uma espada, ela tem por função pôr um fim ao
instinto de propriedade.

- O pão e a guerra

J. E. — Demoremo-nos por um instante na relação que há entre zain, "a espada", e


mazon, "alimento".
Encontra-se uma relação similar entre lechem, "pão", e milchamá, "a guerra".
Estes dois termos, tão diferentes, têm a mesma raiz.
Nada de surpreendente: a falta de pão conduz à guerra.
Os problemas econômicos constituem uma fonte recorrente de conflitos.
A. S. — A guerra perturba a ordem do mundo.
Rabi Nachman de Bratzlav dizia: "Quando tudo está em paz, sem polêmica alguma,
isto prova que não existe homem sábio!".
Pois o próprio do sábio é ver o que não vai bem, fazer as coisas se moverem.
A quietude e o consenso são, assim, sinal de certa inconsciência.
Voltemos ao 6 e ao 7: com o número 6 não há polêmica.
No templo havia duas vezes seis pães propostos (oferecidos a cada semana no altar
do Templo): uma perfeita simetria.
Ao contrário, chegando ao 7, essa mesma simetria adquire outro sentido.
Pois este número define o modelo do mundo: é ao mesmo tempo o "centro" e tudo
o que o cerca, o conteúdo e aquele pelo qual este se revela.
Juntos, o centro e a periferia (o 6 e o 7) constroem um novo modelo; que implica
também a possibilidade da contradição.

J. E. — Como evocamos a contradição, eu tomaria o exemplo de dois verbos: lazun,


"alimentar-se", e zenut, "prostituir-se".
Estas duas palavras têm praticamente as mesmas letras, salvo que em uma há um
vav e em outra um hei.
Qual é a relação entre o alimento e a prostituição?

A. S. — Como eu dizia: toda coisa compreende necessariamente seu contrário.


É um efeito da linguagem.
Ao afirmar-se algo pode-se negá-lo: se não, não se pode.

J. E. — Pode-se dizer que as prostitutas são coagidas a exercer esta atividade pela
falta de alimento?

A. S. — O Talmud, em alguns casos, concede toda a herança para as filhas


dizendo: "Que elas tenham o que 'comer' a fim de que elas 'não se prostituam!"
A prostituição é o contrário do alimento: é sua destruição.
Pois se trata precisamente de um tipo de relação que não deve ser de modo algum
fecundo!
Trata-se de uma relação (sexual) que, em tempos normais, é feita para dar a vida.
Aqui, é o contrário: se uma criança nasce, é a catástrofe.
De fato, a diferença entre o alimento e a prostituição é que a prostituição procede
de uma destruição do crescimento.

- A letra da santidade

J. E, — Voltemos à santidade.
O Gaon de Vilna demonstrou que "tudo o que está ligado à santidade do shabat se
traduz pelo número 7".
Analisemos os elementos que representam o shabat.
Pão de shabat: chalá — valor numérico: 8 + 30 + 5 = 43, ou seja: 4 + 3 = 7.
Vela: ner — valor numérico: 250, ou seja, 2 + 5 = 7.
Carne: basar — valor numérico: 502, ou seja, 5 + 2 = 7.
Peixe: dag — valor numérico: 4 + 3 = 7.
Vinho: iain — valor numérico: 10 + 10 + 50 = 70, ou seja, 7.

A. S. — Aqui abre-se uma nova dimensão: o que se passa com os múltiplos de 7?


Por exemplo, 70.
Há 70 nomes para Jerusalém, para a Presença divina e até mesmo 70 nomes de
Deus.
Em todos os seus múltiplos, 7 será o signo de uma perfeição.
J. E. — Deve-se precisar que recitamos todo dia 18 bênçãos, a prece cotidiana, a
amidá, todos os dias da semana, mas no shabat recitamos apenas shevá brachot —
7 bênçãos.
Há também no dia do casamento as shevá brachot, as "sete bênçãos" que se
recitam para os recém-casados.

A. S. — No dia do casamento, segurando uma taça de vinho que o casal vai beber,
o rabino recita 7 bênçãos após as quais o casal será proclamado unido diante de
Deus.
Uma vez mais, o número 7 conota a perfeição e a conclusão.
O amor, o casamento e a procriação constituem a finalidade última imposta a cada
homem e a cada mulher desde Adão e Eva.
Colocado sob o signo do 7, o casamento fecha assim o ciclo do zain, que tínhamos
iniciado com o shabat, sétimo dia da semana; ele também é signo de alegria e
plenitude.

Por: Josy Eisenberg e Adin Steinsaltz


As Letras Hebraicas – Parte 12


Chet

Som: CH (gutural, como em "chutzpah")

Significado: O significado da palavra Chet é medo, e também pecado. Graça.


Chutzpah (Atrevimentos). Vida.
A forma do Chet é a de um arco ou portal.
A vida nova surge quando deixamos a vida antiga para trás, atravessamos o limiar
e entramos no desconhecido, no infinito.
Essas travessias, porém, podem ser uma fonte de medo.
O Chet é a chave das palavras hebraicas "vida", 
, chayim, e "medo", 
,
chitah.
Estar vivo é ter medo.
O Chet nos ensina a negociar fins e começos em nossa vida, neste mundo
assustador, com  , chesed — graça e amor-bondade.

Conceito: Chet nos remete a visão, e quando falamos em visão não nos referimos
apenas ao ato de ver.
Visão é percepção. Percepção da existência.
A liberdade é questão fundamental dentro de um caminho espiritual.
E o que significa liberdade?
Ela é basicamente a liberdade de visão. Ser livre para ver implica em ser livre da
percepção superficial do mundo manifesto, o que significa ser livre da primeira
visão.
Chet evoca um lugar fechado onde as forças devem aprender a viver juntas.
Esta letra nos permite exceder as limitações para chegar a trancedência.
Chet designa uma barreira, que separa o interior do exterior.
É uma letra de discriminação, marcando a separação entre as coisas de valor e as
coisas vazias.
Uma outra conexão do Chet é vitalidade, inicial de vida (Chay).
Chet simboliza o equilíbrio universal, é um reservatório de energia e de força vital.
Chet é um elemento de separação colocado voluntariamente a fim de instalar a
harmonia.

Formato: A letra Chet é uma cerca. Chet também simboliza a união, o casamento,
pois é a junção de um Vav, que representa o homem, e um Zayn, que representa a
mulher.
Rav Isaac Luria nos ensina que a forma de Chet é a reunião de um Zayin com um
Vav à direita., ou seja, assim o Chet torna-se uma força capaz de reunir as
divergências do Zayin e do Vav, do feminino e masculino.
Simboliza a Chupá (Tenda) do casamento.

Número: Chet representa o número 8. Infinito.


O Chet é a oitava letra do Aleph Beit.
Como o sete é um número da completude, o oito significa um tempo de novos
inícios, a entrada num novo ciclo.
No oitavo dia, começa uma nova semana.
Na oitava nota, soa uma nova oitava, maior.
A palavra "novo", em hebraico,  , chadash, começa com Chet.
Além do número oito, o Chet é também o infinito (cujo símbolo é um oito deitado),
o domínio inumerável fora do tempo e do espaço.
O numero oito é o serviço divino para aqueles que querem se elevar. Simboliza a
transcendência, o domínio fora do tempo e do espaço – infinito (oito deitado)
Tradicionalmente, o oitavo dia é o da circuncisão, sinal de um pacto com a Luz.

Espaço: No espaço, Chet representa constelação de Carangueijo (Câncer).

Tempo: No tempo Chet é responsável pela criação de Tamuz.

Corpo: Chet está relacionada à mão direita.

Medicina: Chet nos abre a possibilidade da visão... visão espiritual.

Arquétipo: Reuven.

Aplicação:
Entrar num nível superior, levar as coisas para uma nova oitava.
Atravessar um portal em direção a novos inícios.
Sentir o medo e ainda assim fazer.

Sombra:
Incapacitar-se por medo.
Sempre buscar o novo.
Perder-se em arrogância, grosseria, agressividade.

Reflexão:
Em que chupah metafórico estou entrando, ou em qual estou agora, ou de qual
estou saindo?
Por que transformação estou passando?

Ação sugerida:
Faça hoje alguma coisa que exija um certo chutzpah (Atrevimento).

Canal-Caminho: De Chessed a Tiferet.

Sefer Yetziyrah: “Ele fez a letra Chet reinar sobre a visão, coroou-a, combinou-a
com cada uma das outras, e com elas formou: Câncer no Universo, Tamuz no ano e
a mão direita na Nefesh...” (S. Y. 5.10)

Comentários:
Na etimologia tradicional Chet é "enclausuramento", lugar fechado onde as forças
devem aprender a viver em conjunto ou a se destruir.
Esta é a razão pela qual a palavra "Chet" quer dizer ao mesmo tempo "pecado " e
"purificação".
A destruição das forças é o pecado, a harmonia das forças a purificação.
O Bahir fala-nos da forma do Chet de seguinte maneira:
"Todas as direções estão fechadas com exceção da abertura ao norte a fim de por
ali deixar penetrar seja o bem seja o mal".
O texto do Bahir confirma a dupla natureza de Chet.
Chet é a oitava letra do alfabeto e oito é um número ligado à transcendência da
experiência física, a comunhão com a Shechiná.
Em sua forma, temos uma letra Zayin (a mulher/Malchut) e uma letra Vav (o
homem/Zeir Anphin) unidas.
Não é por acaso ser Chet a inicial de ―chupá‖, a tenda que recebe um casal durante
a cerimônia de casamento (lembre-se que também nos referimos a estas duas
letras na construção da palavra ―Tamuz‖, ou seja, quando partimos a palavra
―Tamuz‖, temos ―Tam‖, que significa "unir", mais as letras Vav = homem e Zayn =
mulher).
Chet evoca coisas positivas, como ―chen‖ ("graça"), ―chayim‖ ("vida") e ‗chadash‖
("novo"), mas também um alerta: ―chayt‖ ("pecado"), que pode ser evitado se
houver ―chitah‖ ("temor").
Pecado, para a Cabalá, não é a falta.
Adam não pecou ao comer do fruto proibido.
Pecou, sim, ao transferir a culpa de sua falta para Chavá (Eva).
Chayt significa, literalmente, "perder a marca" ou, em outras palavras, ―viver uma
Mentira‖.
A ―marca‘ a que chayt se refere é a letra ―Tav‘.

Chet é a letra da vida (chaim, da raiz chayah, cuja a letra mais importante é o
chet).
A Chassidut ensina que existem dois níveis de vida — a ―vida essencial‖ e a ―vida
que vivifica‖.
D‘us, Ele próprio, está no estado de ―vida Essencial‖.
Seu poder de criação permeando continuamente toda a realidade é ―vida que
vivifica‖. Assim é também na nossa alma: a essência de sua raiz, que é uma com
D‘us, possui o estado de ―vida essencial‖.
O reflexo da luz da alma que brilha aqui embaixo para vivificar o corpo e sua
experiência física está no nível da ―vida que vivifica‖.
O segundo nível de vida, a vida como nós geralmente a conhecemos, se manifesta
como pulsação, o segredo de ―ir e vir‖.
De acordo com o Arizal, a letra Chet é formada pela combinação das duas letras
anteriores, Vav e Zayin, com uma linha fina em forma de ponte, chamada de
―chatoteret‖ (―corcunda‖).
A nova energia gerada pela união do Vav — ―or yashar‖ — e o Zayin — ―or chozer‖
— é o segredo de ―pairar‖ ou ―tocar sem tocar‖.
A ideia de ―pairar‖ aparece bem no começo da Criação: ―E o espírito de D‘us
‗pairou‘ sobre a água.‖
A palavra ―pairar‖ (―merachefet‖) é a décima oitava palavra na Torá.
Ela é a primeira palavra da Torá que é numericamente um múltiplo de vinte e seis,
o valor do Nome Havayah (merachefet = 728 = 26 vezes 28).
Vinte e oito é o valor numérico de koach, ―poder‖.
Assim, o segredo completo indicado pelo valor numérico da palavra ―pairar‖ é ―o
poder de D‘us‖.
Na Cabalá, esta palavra é, em particular, o segredo do poder Divino de ressuscitar
as 288 faíscas caídas que ―morreram‖ no processo da ―quebra dos receptáculos‖
(―merachefet‖ sendo uma permutação de ―meit rapach‖, ―288 morreram‖).
Os Sábios nos ensinam que o ―Espírito de D‘us‖ citado aqui é, na verdade, a alma
de Mashiach (que muda para ―shem chai‖, ―o nome vivo‖).

―Pairar‖ é representado na Torá ―como uma águia que se ergue de seu ninho e
paira sobre seu filhote‖, conforme ensinado pelo Maguid de Mezritch.
Para não esmagar seu filhote e seu ninho, a águia paira sobre seu ninho enquanto
alimenta seu filhote, ―tocando sem tocar‖.
A águia aqui é uma metáfora para D‘us em relação aos Seus filhos, Israel, em
particular, e para a totalidade de Sua Criação em geral.
Se D‘us revelasse completamente Sua Presença suprema ou removesse Seu poder
de recriação contínua, o mundo imediatamente deixaria de existir.
Portanto, ao ―pairar‖ sobre a realidade criada, D‘us continua a sustentar e manter
Sua Criação, concedendo, simultaneamente, a cada criatura — ou, na terminologia
da Cabalá, cada receptáculo — a habilidade de crescer e se desenvolver
―independentemente‖.
A letra Chet alude, deste modo, ao equilíbrio delicado entre a revelação da
Presença de D‘us para nós (o Vav do Chet) e a ocultação de Seu poder criativo de
Sua Criação (o Zayin do Chet).
Este estado ―pairador‖, ―tocando sem tocar‖, é o começo do fenômeno da ―vida que
vivifica‖.
O ―tocando sem tocar‖ de Cima se reflete, consequentemente, como ―indo e vindo‖
na pulsação interior de cada criatura viva. ―E as criaturas vivas [chayot] vão e vêm
como um raio‖. Não leia ―chayot‖ (―criaturas vivas‖), mas ―chayut‖ (―força vital‖).

A própria ―chatoteret‖, a sublime linha fina que conecta os dois componentes ou


movimentos da ―vida que vivifica‖, aponta para cima.
Ela alude a ―Ele que habita no topo do mundo‖— D‘us, que é a ―Vida Essencial‖.
Na verdade, Sua Essência paradoxalmente preenche e sustenta toda a realidade
criada, enquanto, ao mesmo tempo, ―paira‖ acima do nível da própria força vital
―pairadora‖, imperscrutável e além da percepção humana.

A oitava letra do alef-bet é o Chet.


O Chet, segundo o Arizal', é uma fusão de duas letras: o Vav e o Zayin.
No topo do Vav e do Zayin há um chatoteret, uma ponte que une os dois.
Na essência, o Vav representa o princípio masculino, o marido.
Zayin representa o princípio feminino, a esposa.
A ponte que os une é D'us.
O Maguid de Mezritch esclarece o versículo "A mulher de valor é a coroa de seu
marido"' da seguinte maneira: o Zayin, a coroa, significa a posição da mulher de
valor salvaguardando o homem.
O desenho do Chet é representativo de outro tipo de ponte.
Se o relacionamento entre Vav (homem) e Zayin (mulher) é para ser completo,
eles se unem sob uma ―chupá‖, uma ―canópia nupcial‖.
O formato do Chet parece uma ―canópia nupcial‖.
A palavra ―chupá‖ até começa com um Chet, pois a palavra ‖chupá‖ significa ―Chet
po‖, ―Chet (D'us, homem e mulher) está po (aqui)‖.
Chet é o coração do casamento.
Homem e mulher são realmente unidos somente quando se juntam sob a chupá
com o terceiro parceiro, que é D'us.
O Talmul nos diz que se o homem e a mulher (―ish veisha‖) são meritórios, a Divina
presença habitará entre eles.
A palavra ―ish‖, ―homem‖, escreve-se ―alef, yud, shin‖.
―Isha‖, ―mulher‖, é escrita ―alef, shin, hei‖.
Em ambas, ish e isha, encontramos as letras Alef e Shin.
Alef e shin escrevem ―esh‖, a palavra hebraica para ―fogo‖.
O fogo que existe entre homem e mulher alimenta um relacionamento apaixonado,
―cheio de fogo‖. Porém se houver somente esta chama acendendo o casamento, o
fogo da paixão poderia ser facilmente ser transformado num fogo de destruição.
D'us deveria também estar no casamento, e felizmente Ele está: o ―Yud‖ de ish, o
homem, quando combinado com o ―Hei‖ de isha, a mulher, denota o próprio Nome
de D'us.
A comparação do relacionamento entre homem e mulher ao fogo ilustra o segredo
de um casamento saudável.
Quando duas pessoas decidem se casar, geralmente há fogo e paixão.
Porém por algum motivo, dois ou três anos depois, o entusiasmo geralmente se foi.
Para onde foi a paixão?
Quando um relacionamento começa, é como uma fogueira, e quem precisa cuidar
de uma fogueira?
Acredita-se que ela vai durar para sempre.
Mas na verdade, a chama tem de ser alimentada.
Por exemplo, um marido pode surpreender a mulher com flores para o Shabat.
Uma esposa pode comprar um presente para o marido.
Eles podem assistir juntos a uma aula ou estabelecer um tempo para estudar uma
porção da Torá a cada semana.
Eles podem fazer longas caminhadas românticas.
Além disso, um fogo não pode ser sustentado a menos que o casal trabalhe junto
para atingirem uma meta em comum.
Colaborar em diferentes projetos pode ajudar a conectar marido e mulher.
Por exemplo, planejar uma bela refeição de Shabat com muitos convidados é uma
boa maneira de se conectar.
O importante é lembrar que não se deve esperar que o casamento dure por si
mesmo.
A chave para manter o fogo em um casamento é nutrir os canais de comunicação e
objetivo.
Os dois parceiros devem trabalhar juntos para fortalecer os chatoteret, a ponte,
que une a eles e une a ambos com D'us.

O valor numérico de chet é oito.


No oitavo dia após o nascimento, um menino tem um ―brit‖ (aliança, pacto).
O que tem um brit a ver com casamento?
Bem, pode-se dizer que após o casamento espera-se que haja filhos, e portanto um
brit. Mas na essência, o número oito representa transcendência — um nível além da
natureza e do intelecto.
Tudo no mundo do tempo gira em torno do número sete: os sete dias da semana, o
sétimo ano sendo Sabático, a observância de um ano Hakhel a cada sete anos.
O oito, no entanto, representa a transcendência, um nível que vai além da ordem
natural.
Para explicar, o Midrash nos diz que houve um debate entre Yitschac e Yishmael, os
dois filhos de Avraham.
Yishmael disse:
"Sou melhor do que você. Por que? Porque tive meu brit aos treze anos, portanto
fiz isso racionalmente. Pensei sobre isto, fiz minha escolha e assim quis. E ainda me
lembro até hoje. Você, por outro lado, Yitschac, não se lembra de nada; jamais
pôde escolher. Você não teve a oportunidade de concordar. Foi feito à força, sem o
seu consentimento."
Yitschac olhou para Yishmael e disse:
"Não, pelo contrário. Sou eu o melhor, porque tive meu brit aos oito dias e não aos
treze anos."
O que Yitschac quis dizer?
A palavra brit, como sabemos, significa "pacto", um vínculo entre dois lados.
Se dois colegas se gostam, dizem: "Agora estamos nos tratando bem, somos
amigos. Mas e quanto ao futuro? Vamos sentar e fazer um pacto para garantir que
seremos amigos para sempre. Para sempre significa que embora possa haver má
época em que, talvez logicamente, nos separemos — talvez não estejamos nos
entendendo, ou um de nós está fazendo o outro sofrer — este pacto nos manterá
unidos."
Este brit é o pacto que um judeu faz com D'us no oitavo dia de vida.
Alguém pode dizer a D'us: "Não sou perfeito e não cumpro Sua Torá ao pé da letra.
Mas Você é meu D'us. Portanto, Você me protegerá, me sustentará e cuidará de
mim."
Por outro lado, mesmo se D'us não nos trata da maneira que pensamos merecer
ser tratados, mesmo se Ele nos permite estar na ―galut‖ (exílio) mais um momento,
D'us não o permita, não O rejeitaremos. Não O abandonaremos, porque temos um
brit — um pacto além do intelecto — exigindo que fiquemos juntos. Podemos assim
entender a vantagem de um brit feito no oitavo dia versus aquele feito aos treze
anos.
Embora a pessoa tenha livre arbítrio no último caso, sua escolha é feita num nível
racional.
Em contraste, um brit realizado no oitavo dia representa o vínculo de alguém com
D'us que desafia todos os níveis de intelecto e a ordem natural.
Da mesma maneira, o casamento do povo judeu com D'us é também um
relacionamento que transcende a lógica.
É um pacto supra racional, conectando ambas as partes para toda a eternidade.

O significado da palavra ―Chet‖ também é ―chayut‖, que significa "vida".


A vida somente pode ser considerada verdadeira quando está infundida com
Divindade, porque o corpo em si é temporário, e qualquer coisa temporária não
pode ser verdadeira.
A verdadeira vida é imortal e eterna.
A maneira de se adquirir vida eterna é conectar-se com D'us através do estudo de
Tora e do cumprimento das mitsvot. Além disso, o Zohar nos diz que antes de um
indivíduo se casar, ele é somente "metade de uma pessoa".
É apenas quando ele se une com sua ―bashert‖ (alma gêmea) pelo casamento que
se torna integral e completo.
Como o casamento permite que alguém se conecte com D'us no sentido supremo,
então unir-se com a alma gêmea é considerado a "verdadeira vida".
Além disso, o Arizal explana sobre essa ideia de plenitude em termos das mitsvot
específicas que uma mulher não é obrigada a cumprir, explicando que ele de fato
recebe o mérito da mitsvá quando esta é cumprida pela sua alma gêmea.
Por exemplo, quando o marido de uma mulher coloca tefilin (ou qualquer mitsvá
que ela não precise cumprir), ela recebe o benefício espiritual da observância do
marido.
Por outro lado, se as duas partes são igualmente obrigadas a cumprir uma mitsvá,
o cumprimento de um não isenta o outro da obrigação. Um exemplo seria comer
matsá em Pessach, um mandamento para homens e mulheres. Se o marido come
matsá em Pessach, a mulher ainda é obrigada a fazê-lo. E se o marido come matsá
mas ela come pão, ela transgrediu o mandamento, independentemente das ações
dele.
Almas gêmeas são parceiras neste aspecto; antes mesmo do seu casamento.
Como certas mitsvot somente pode ser feitas dentro do contexto do casamento,
este processo de mérito compartilhado não é considerado completo até que as duas
metades da alma se unam sob a ―chupá‖.
A participação de D'us no casamento é o chatoteret, a ponte, que leva a união à
concretização e cria chayut - vitalidade eterna.

O Talmud declara: "É tão difícil para D'us combinar duas pessoas como foi a
Abertura do Mar Vermelho."
Obviamente, essa declaração faz surgir algumas questões.
O que o Mar Vermelho tem a ver com casamento?
E como podemos chamar algo que D'us faz de "difícil"?
D'us é onipotente, infinito.
Porém dizemos que Sua realização de um casamento é tão difícil como a Abertura
do Mar Vermelho!
Além disso, se alguém queria falar sobre algo difícil, por que mencionar o Mar
Vermelho?
No grande esquema das coisas, por que não mencionar algo ainda mais intimidador
— como a criação do universo?!
A resposta é a seguinte. Quando D'us criou o mundo, Ele o formou ex-nihilo — do
nada para algo.
Se um empreiteiro recebe o trabalho de construir uma casa a partir do nada, é
relativamente fácil.
Não há paredes de pé para atrapalhá-lo e não há limites para restringi-lo.
Ele pode fazer o que quiser para criar a casa perfeita.
Mas o que acontece quando um indivíduo se muda para uma casa que está
dilapidada?
E se as paredes estiverem tortas e ele tiver de endireitá-las?
E se o encanamento existente está aos pedaços?
É muito mais difícil transformar aquela estrutura numa casa perfeita.
Encontramos um paralelo direto na Abertura do Mar Vermelho.
A natureza da água é fluir.
Mas o que D'us fez no Mar?
Ele tomou a natureza fluida da água e a transformou na natureza de rocha sólida
Ele teve de mudar completamente a substância de sua norma elementar.
O mesmo se aplica aos casamentos.
Há duas pessoas diferentes que vieram de dois lares diferentes com duas
educações diversas. Não basta o desafio de um ser do sexo masculino e o outro do
feminino. Além disso, ele gosta das janelas abertas; ela prefere as janelas
fechadas. Ele gosta do campo; ela da cidade. A mãe dele fazia peixe gefilte dessa
maneira. A dela fazia daquela maneira.
Portanto temos dois opostos se juntando e tentando se fundir em um.
Para que o casamento dê certo, a natureza e a constituição de cada pessoa deve
mudar.
Agora podemos entender por que é tão difícil para D'us criar um casamento quanto
foi abrir o Mar Vermelho, porque para duas pessoas se juntarem, cada qual deve
mudar seus hábitos e modos enraizados.
Para que um casamento sobreviva, e melhor ainda, floresça, é preciso haver um
terceiro elemento, um terceiro parceiro, D'us, que ajuda as duas naturezas a se
fundir.
Na Abertura do Mar, D'us soprou um vento a noite inteira para manter a água em
pé.
Por quê?
Porque se queremos transformar a natureza de algo, devemos infundir
continuamente aquele elemento com vida, sopro e força nova.
Portanto um casamento — que exige mudança constante pelos dois indivíduos
envolvidos — deve ser continuamente infundido com o espírito de D'us.
Este é o verdadeiro ―Chet‖, a verdadeira chayut - vitalidade: homem, mulher e D'us
se unindo no eterno pacto do casamento.

Aplicação
O Chet, esse poderoso símbolo de transformação, é a primeira letra de  ,
chupah, o dossel matrimonial.
Na verdade o Chet se parece com um chupah.
O chupah é ao mesmo tempo abrigo e início da jornada da vida matrimonial.
Quando o par de noivos está sob o chupah, estão num espaço liminar — num lugar
santo, solene e intermediário.
Quando saem do chupah, suas vidas mudaram profundamente.
Nascem para o mundo como casal.
O Chet suscita algumas perguntas: em que chupah metafórico você está entrando,
ou em qual está agora, ou de qual está saindo?
Com o que ou quem você está decidindo casar-se, unir-se?
Quais as transformações radicais por que você está passando?
Na cerimônia de casamento, bebe-se o vinho da bênção e todos brindam dizendo
"l‘chayim!" ("à vida!")
O Chet nos incita a transpor o portal da transformação com espírito vibrante, gozar
da vivacidade de ser um ser humano e aceitar a vida, venha o que vier, bom ou
não.
Venha o que vier.
Gevalt!
A vida é uma idéia assustadora.
Comer e procurar evitar ser comido.
A maioria de nós, hoje, não corremos o risco de ser devorados por animais
selvagens, mas há outras forças que podem nos consumir: os micróbios, os
empregos extenuantes, as emoções debilitantes, as doenças, as drogas e o álcool,
o consumismo em geral e, para todos, essencial e inevitavelmente, a morte.
O xamã e mestre maia Martín Prechtel diz que a frase "o amor move o mundo" é
imprecisa.
Não é o amor, e sim o medo, que faz o mundo girar, ensina.
O amor é o que o torna tolerável.
Com o Chet, atravessamos um portal e deixamos para trás o otimismo ingênuo.
O Chet assinala uma iniciação — da inocência para a consciência dos perigos que
cercam nossa vida.
O livro de Jó diz que Deus "suspende a terra sobre o nada" (Jó 26:7).
Há uma parte profunda de nós que teme cair no abismo do nada, ou ser engolido
por ele — pelo vazio infinito que nos espera bem debaixo de nossos pés, logo
depois de nosso próximo pensamento, de nossa próxima respiração.
Apesar disso, a força vitalizante do Chet é a da chayim, da própria vida.
O desafio dessa letra está resumido na frase "sinta o medo e faça mesmo assim".
O Chet nos convida a permitir que uma consciência madura da morte e do perigo
nos informe e aprofunde nossa aceitação da vida.
A morte pode ser uma aliada, ajudando-nos a perceber o quanto a vida é preciosa.
"O bom guerreiro sempre tem medo", diz a Avó numa fábula dos índios modoc.
Chutzpah,  , significa "iniciativa e ousadia".
O Chet nos ensina o "santo chutzpah" , a disposição de cometer erros, correr riscos
e enfrentar o desconhecido para criar algo novo.
A forma do Chet é uma ponte, com a linha horizontal conectando as duas verticais.
O rabino Nachman de Bratislava ensinava que "tudo neste mundo é uma ponte
muito estreita. E acima de tudo jamais tenha medo de nada".
O rabino Nachman sabia como enfrentar o medo.
Seu filho querido morreu criança.
Certa vez o rabino empreendeu uma arriscada peregrinação à Terra Santa, no auge
das guerras napoleônicas.
Durante boa parte de sua curta vida ele foi maníaco-depressivo.
Apesar disso, o rabino Nachman foi capaz de atravessar a ponte estreita de sua
vida com um bom humor, uma sabedoria e uma coragem que até hoje estimulam e
fortalecem a muitos.
Ele previu, de fato, que "minha luz não se apagará até o dia do Messias".
Um outro mestre hassídico, o rabino Moshe Leib, dizia:
"Este mundo é como caminhar sobre o fio de uma espada. De um lado está o
mundo dos mortos, do outro, o mundo dos mortos, e o caminho da vida está no
meio".
O caminho da vida é o caminho do Chet.
Wu-Men, um mestre zen chinês do século XII, ecoa o rabino Nachman e o rabino
Moshe: "Exatamente na fronteira entre o nascimento e a morte está a Grande
Liberdade".
Nós caminhamos por essa fronteira o tempo todo.
O Chet nos convida a caminhar sobre ele com chesed, graça e amor-bondade, e
vivenciar essa liberdade.
Em seu poema "Walking Home from the `Duchess of Malfi'", Gary Snyder diz:
"Dores de morte e amor, / Nascimento e guerra, / terra aba-tida, / abençoe / Com
mais amor, / não menos"
Esse modo de abençoar não é um caminho fácil.
O caminho do Chet não é fácil.
É preciso tempo para desenvolver na sabedoria  , chokhmah (mais uma
palavra que começa com Chet) — de incorporar essa atitude diante da vida e do
medo.
Muitos feriados judaicos duram oito dias, mostrando que nós precisamos de um
certo tempo para atravessar o portal e atingir a completude.
A transformação normalmente não acontece de uma só vez.
Os oito dias de Chanukah, por exemplo, exaltam o caráter cíclico do tempo no
solstício de inverno e recordam o milagre do óleo para um só dia que durou por
oito.
Ao comer e viver em humildes sukkot, tendas, durante os oito dias do Sukkot, nós
recordamos os quarenta anos que os judeus viveram em tendas durante sua estada
no Sinai.
Na Diáspora, a Páscoa é observada durante oito dias para comemorar a fuga do
Egito e os longos anos de errâncias dos hebreus pelo deserto.
Durando oito dias, essas festas permitem que nos aprofundemos no tempo sagrado
e compreendamos mais intensamente o quanto nossos antepassados lutaram para
vencer os desafios da vida.
Em Israel, o oitavo dia do Sukkot é conhecido como Shemini Atzeret, a
"Convocação do Oitavo Dia", e Simchat Torah, a "Alegria da Torah".
(Na Diáspora, essas festas são comemoradas em dois dias diferentes.)
Terminada a colheita, o Shemíní Atzeret assinala o dia tradicional da prece por
chuvas, para ajudar na safra seguinte.
O Simchat Torah comemora o término do ciclo anual de leituras da Torah e o início
do ciclo seguinte.
Ambos são festas vitalizadas pelo Chet, porque comemoram encerramentos e
saltos para o desconhecido, para o Chet — a infinidade — de novos inícios, mais
uma vez.
O rabino Nachman, na verdade, aconselhava que se saltasse, literalmente, durante
o Simchat Torah.
Ensinava que, nesse dia, as pessoas deviam dançar, dar cambalhotas e pular,
esforçando-se para desafiar a lei da gravidade e transcender as limitações do
mundo físico.
O rabino Aryeh Kaplan escreve que, ao dançar com a Torah no Simchat Torah,
"estamos expressando o fato de que nesse dia nós somos capazes de transcender o
físico (...), indo além de todas as barreiras e limitações que imaginávamos
impossíveis de superar".
Esse é o chutzpah do Chet: saltar para o infinito, para o desconhecido — para além
das barreiras que parecem nos impedir!

A Sombra do Chet
Sentir que "tudo neste mundo é uma ponte muito estreita", como disse o rabino
Nachman, pode ser insuportável.
Podemos ficar paralisados de medo, incapazes até de percorrer a ponte, ou em
terror pânico, agindo desvairada e perigosamente.
O desafio do Chet é tornar o medo um aliado, para que, em vez de representar
pressão e terror, ele nos conecte mais profundamente com a vida e se torne uma
fonte de energia.
Vimos que o Chet simboliza o chadash, o novo.
Embora o frescor e a inovação sejam maravilhosos, é fácil viciar-se na novidade.
Será que estamos buscando novidades o tempo todo?
Nunca estamos satisfeitos?
Desprezamos ou desconstruímos levianamente aquilo que é venerável e que o
tempo consagrou?
O novo nem sempre significa "o melhor".
Ao contrário, aquilo que já passou pelo teste do tempo normalmente pode ser mais
sólido e íntegro do que a invenção mais recente.

O Chet é a primeira letra de , chayt.
Normalmente traduzido como "pecado", chayt significa literalmente "errar o alvo".
A impulsividade do Chet talvez precise ser moderada, e é prudente mirar um pouco
melhor antes do salto.
Chayt faz lembrar também dos aspectos negativos do chutzpah, como a arrogância
e a grosseria.

Comentários Pessoais por Richard Seidman:


No casamento de uns amigos meus, o rabino me convidou a entrar embaixo do
dossel e oferecer uma bênção.
Eu estava sentado bem perto do chupah, mas, assim que entrei embaixo dele,
senti-me como se tivesse entrado num campo de força invisível, mas
extraordinariamente poderoso.
A sensação me lembrou da época em que eu entrara na árvore sagrada durante
uma Dança do Sol dos lakotas.
Quando eu mesmo me casei, algumas semanas depois dos meus amigos, descobri
que o chupah era um recipiente mágico, alquímico.
O Chet é o chupah.
O Chet forma um campo de força transformador.
Nesse campo de força acontecem milagres.
Quando saímos pelo portal do Chet, nossa vida se aprofunda e se reanima.
L‘chayim!

Textos Complementares:

 Chet - Challah
... ao comerdes do pão da terra, apresentareis oferta ao Senhor das primícias da
vossa farinha grossa apresentareis um bolo como oferta; como oferta da eira,
assim o apresentareis.
Números 15:19-20

A Bíblia refere-se muitas vezes ao conceito de "reservar": grãos das lavouras


deviam ser reservados para os pobres; as primeiras frutas de cada estação deviam
ser apresentadas como oferendas durante os festivais de colheita; animais eram
sacrificados como oferendas nos tempos do Templo Sagrado; e 10% da renda da
pessoa devia ser reservado para caridade.
Na passagem acima, os judeus são orientados a reservarem uma porção do
primeiro pão de cada fornada que assarem para o Sumo Sacerdote.
Hoje, quando não existe mais o Templo Sagrado no centro da vida cerimonial
judaica e os Sacerdotes não exercem mais a mesma função, o mandamento passa
a ser: um pedaço de massa é tirado da primeira fornada e jogado no fundo do
forno para queimar, simbolizando a destruição do Templo e o exílio que resultou
dessa destruição.
Existem inúmeros costumes que retratam a perda do Templo, tais como a
substituição de sacrifícios por serviços cerimoniais, usando sal no pão para
simbolizar a amargura de viver num mundo imperfeito e deixando uma pequena
parte de uma casa recém-construída inacabada para representar a destruição da
estrutura física do Templo.
Mas "Tomar o Challah", como é chamado o costume, significa mais do que
meramente preservar um antigo e hoje praticamente irrelevante mandamento.
Ao removermos fisicamente um pequeno pedaço de massa e impossibilitá-lo de ser
comido, chegando mesmo a rejeitá-lo totalmente, estaremos nos lembrando que
tudo que possuímos é provisório.
Você pode achar que toda a massa é sua — afinal, você pagou pelos ingredientes,
misturou-os e observou a sua fermentação — mas, na realidade, nada pertence
apenas a você.
O trigo e os ovos lhe são providos, além da água, por uma fonte superior e,
deixando que parte dessa provisão se vá, você está reconhecendo essa fonte.
A raiz da palavra Challah não tem, na verdade, nada a ver com pão (que, em
hebraico, se chama lechem); ela é chol, que significa "ordinário".
Os dias da semana são divididos em Shabbat e chol, Sábado e dias úteis.
Challah, a comida santificada apesar de suas origens ordinárias, é feita para ser
comida no Sábado.
Algo tão ordinário como o trigo é elevado a um nível no qual possa ser abençoado e
santificado como parte integrante da refeição do Sábado.
O conceito de Challah estende-se à nossa vida: todos nós precisamos aprender a
lição cabalística de compartilhar para equilibrar as energias do universo.
O que possuímos não é nunca inteiramente nosso e podemos nunca necessitar
realmente de todos os objetos em nossa posse.
É crucial tornar o ato de dar, parte de nossa consciência, seja para reconhecer o
poder superior que protege a nós todos, lembrar a dura realidade da vida ou dar
graças pelo que já possuímos.

Quando a carta Chet aparece numa consulta é para nos ensinar como abrir mão do
que não necessitamos.
Podemos sobreviver somente com pão e água, mas ainda assim buscamos coisas
incrivelmente sofisticadas, como se fossem necessárias.
É hora de abrir mão.
Doe as peças de roupa que não usa mais para uma instituição de caridade; doe
suprimentos de comida a uma instituição que serve sopa aos necessitados; faça
uma lista de suas dependências e, em seguida, ponha fogo nela.
Depois disso, você vai sentir uma liberdade muito maior.

Por: Deepka Chopra

O Bahir (com comentários de Aryeh Kaplan)

34. Perguntaram-lhe:
Por que a letra Chet é aberta? E por que seu ponto vogal é um pequeno
Patach? (A referência aparente é à palavra Ruach (espírito ou vento) em
Gênese 1:2. O relacionamento entre o Chet e o Patach é ímpar, pois no
final de uma palavra, a vogal é lida antes de sua consoante, sendo esse o
único caso onde isso ocorre)
Disse ele: Porque todas as direções (Ruach-ot) estão fechadas, exceto o
norte, que está aberto ao bem e ao mal.
Perguntaram-lhe: Como podes dizer que isso é para sempre? Não está
escrito (Ezequie11:4):" Olhei, um vento tempestuoso soprava do norte,
uma grande nuvem, e um fogo chamejante"? Fogo nada mais é que raiva
tenaz, conforme está escrito (Levítico 10:2): "E saiu fogo de diante de
Deus, que os consumiu e os matou."
Disse ele: Não há dificuldade. Um caso fala de quando Israel cumpre a
Vontade de Deus, enquanto o outro fala de quando não se cumpre a Sua
vontade. Quando Israel não cumpre a Sua Vontade, o Fogo, então, se
aproxima [para destruir e punir]. Mas, quando cumprem a Vontade de
Deus, então o Atributo da Misericórdia os envolve e os cerca, conforme
está escrito (Miquéias 7:18): "Ele tira o pecado e perdoa a rebeldia."

Comentário:
Todas as letras, até o Vav, já foram examinadas, enquanto Zain será explicado
posteriormente (verso 53).
O debate se volta para Chet, a oitava letra do alfabeto hebraico.
Na resposta, há uma referência a Ruch-ot (direções ou ventos), e, assim, esse
debate está no contexto da palavra Ruach (espírito ou vento), conforme surge em
Gênese 1:2.
Esse versículo já foi examinado (ver verso 2) e continua-se, aqui, o estudo.
A letra Chet é a letra final da palavra Ruach e, debaixo dela, encontra-se o ponto
vogal Patach. O Chet final é único sob esse aspecto, pois em todos os outros casos
a vogal é lida depois de sua letra acompanhante, enquanto o Patach é sempre lido
antes de seu Chet primário no final de uma palavra.
Dizem os cabalistas que a letra Chet representa a Sefirá Yexsod-Fundação, que
corresponde ao órgão masculino.
Esse órgão contém dois dutos, um para reprodução e outro para descarregar
resíduos, representados pelas duas pernas do Chet.
O duto envolvido na reprodução é a origem do bem, enquanto o envolvido na
descarga dos resíduos é a origem do mal.
O principal conceito do Chet é o de uma abertura de abaixo, indicada pela forma da
letra, que é, de fato, fechada em três lados e aberta ao fundo.
Isso é reforçado pelo Patach sob o Chet, pois a palavra Patach significa,
literalmente, "abertura".
O autor declara que o Chet na palavra Ruach indica as três direções ou ventos —
Ruch-ot em hebraico — que são fechadas.
Essas direções fechadas são sul, leste e oeste, correspondendo, respectivamente,
às Sefirot Chessed-Amor, Tiferet-Beleza e Yessod-Fundação.
A única direção aberta é o norte, que corresponde a Guevurá-Força.
O conceito de Chessed-Amor é o de dar livremente, enquanto o de Guevurá -Força
é o de restrição.
Diz-se que Força é restrição no sentido do ensinamento: "Quem é forte, aquele que
restringe seu anseio" (Avot 4:1). É óbvio que o homem pode restringir sua
natureza, mas se o homem o pode fazer, então Deus, decerto, pode.
A natureza de Deus, todavia, é de fazer o bem, e, portanto, quando Ele restringe
Sua natureza, o resultado é o mal.
Por isso, diz-se que a Sefirá Guevurá-Força é a origem do Mal.
O norte está associado ao mal em muitas passagens (ver versos 162,163 e 199).

Diz-se que é "aberto", pois a existência do mal abre a porta ao livre-arbítrio.


Diz-se que "vento tempestuoso", "grande nuvem" e "fogo chamejante",
mencionados por Ezequiel, representam as três Cascas (Klipot) do mal (conforme o
Zohar). Essas Cascas são a origem de todo o mal, e, nesse versículo, estão
associadas ao Norte.
A Casca mais próxima do mundo físico é o fogo, e é o que destrói e pune.
Por isso, diz-se que a punição de Guehinom é o fogo.
A Sefirá Guevurá-Força corresponde ao segundo dia da criação.
Diz o Talmud que, no relato da criação, a expressão, "era bom", não ocorre no
segundo dia, pois nesse dia os fogos de Guehinom foram criados.
Existe tensão constante entre Chessed-Amor e Guevurá-Força, sendo esses os
atributos de misericórdia e justiça, respectivamente.
Quando Israel cumpre a vontade de Deus, o atributo da misericórdia está em
ascendência.

Por: Aryeh Kaplan

O Alfabeto Sagrado – Chet - A letra da vida

Josy Eisenberg — Para descobrir esta letra, a oitava do alfabeto hebraico,


começaremos por uma palavra que caracteriza esta letra: chaim, "a vida".
Isto é verdade não somente para o homem, mas também para Deus, com
frequência nomeado Elchai — Deus vivo.

Adin Steinsaltz — No judaísmo, a palavra chaim, "a vida", tem quase sempre um
sentido positivo.
E seu contrário, "a morte", mavet, é geralmente sinônimo do mal.
Eis por que o judaísmo recusa o fato de que a morte possa ser santa.
Pelo contrário, ela é impura.
Aliás, toda coisa impura é um pouco morta, ao passo que aquilo que é saudável e
vivo é correto.
Este termo, a vida, é usado, por um lado, para o homem e igualmente para o
Santo-bendito-seja.
É também usado para a água!
Fala-se de "água viva".
A expressão "água viva" designa águas limpas e potáveis.
As "outras" águas, em hebraico, diz-se delas que "apanharam": as águas salgadas
ou poluídas apanharam uma doença!
As águas boas, estas, são ditas "vivas".
São elas que servem para nos purificar do contato com a morte ou a lepra.
Tudo começou com o conceito de "Deus vivo": o Santo-bendito-seja é identificado
com a vida.
Lá onde há vida há Deus.

J. E. — É o que temos em comum com Deus, mesmo se dizemos que nossa vida é
apenas o oitavo do oitavo da vida de Deus.
A vida é santa, pois é o que temos em comum com Deus.

- Viva a vida

A. S. — Em primeiro lugar, Deus é a própria vida, a tal ponto que para Ele não
posso conceber o contrário!
O pensamento judaico exclui absolutamente um conceito como o de "morte de
Deus".
O próprio conceito de Deus está ligado à ideia de vida, pois a vida carrega o fluxo
de tudo o que é.
Deus é denominado nos Salmos "Fonte de vida"... Ele é precisamente o "Lugar de
onde nasce toda vida".
Assim, chamamo-lo "Deus de vida" ou ainda "Deus vivo": de quem provém toda
vida.
E a Torá afirma que todo aquele que se liga a Deus é vivo!
"E vós, que vos ligastes ao Eterno, vosso Deus, estais todos vivos hoje."
Deuteronômio 4,4
Diz-se que os Justos, mesmo mortos, estão vivos.
A Bíblia qualifica Benaiahu, um general do rei David, de "filho de um homem vivo"!
Temos o direito de nos perguntar: seriam os outros filhos de mortos?
É que somente um Justo está realmente vivo: os outros não o estão
completamente!
Daí o valor da vida, que tem um sentido não apenas na teologia ou na metafísica,
mas também na ética: é o valor supremo.
Nada equivale à vida!
Para preservá-la, deve-se até mesmo transgredir todas as leis da Torá!
J. E. — É notadamente o caso para o shabat.
Se uma vida corre perigo, todos os interditos do shabat são suspensos.

A. S. — O valor da vida vem do fato de que ela é um atributo de Deus.


Lá onde há vida há divino, até mesmo na mais ínfima forma de vida.
É o que denominamos a "centelha divina", por mais minúscula que seja, enquanto a
pessoa está viva!
Um pequeno réptil morto é impuro, mas não um réptil vivo!
Porque ele está vivo!
O conceito de vida se assemelha um pouco ao de santidade, salvo que a santidade
é transcendente e a vida é imanente.

J. E. — De acordo com a tradição judaica, esta vida, para o homem, começa


quando Deus criou o homem.
Mas a vida começou antes do homem, desde a criação do mundo.
"E o Eterno insuflou em Adão 'um sopro de vida'." Gênesis 2,7
Este versículo é precedido da menção à anterioridade da vida: "E o sopro de vida
pairava sobre a face das águas." Gênesis 1,3
O "sopro", ruach, é o início da vida!

A. S. — Com efeito, mas não esqueçamos o que diz, em substância, a continuação


deste versículo: "A alma do homem é mais viva do que tudo!"
Entre todas as criaturas, o homem é o degrau mais alto da vida.
Deste ponto de vista nós somos "a vida".
É o caráter fundamental de nossa presença aqui embaixo.

- A coexistência pacífica

J. E. — Analisemos agora a forma da letra chet.


Pelo seu grafismo, ela evoca uma porta.

A. S. — O chet é, na realidade, constituído de duas pernas com um teto.


Segundo os cabalistas, as duas pernas do chet são na realidade duas letras: o zain,
sétima letra, e o vav, sexta letra.
Uma representa a expansão de Deus e a outra a elevação do homem.
O teto do chet reúne assim as duas grandes dimensões da relação do homem com
Deus: a imanência e a transcendência.
Em princípio, estas duas letras, vav e zain, que constituem o chet, não têm relação:
cada uma segue sua própria direção.
Uma vai de cima para baixo e a outra de baixo para cima.
Quanto ao teto que as reúne, ele define a função de Deus.
Deus é aquele que pode reunir o que não pode ficar junto: os paradoxos.

J. E. — Um exemplo impressionante: a palavra "céus" ou "céu", shamaim, é


constituída da combinação das palavras "fogo", esh, e "água", maim.
O que quer dizer que é somente Deus que pode manter o equilíbrio dos contrários
na natureza.

A. S. — Com efeito!
Ele faz que coexistam o alto e o baixo.
O fogo e a água são dois elementos contrários; e no chet há um teto que os reúne.
É uma das funções desta letra.
Além disso, em textos muito antigos conta-se que cada letra veio pedir a Deus que
criasse o mundo através dela.
E o argumento da letra chet era o de que ela é a inicial das palavras mais bonitas:
"a vida" e "a bondade", chaim e chessed!
Mas Deus a fez observar que ela representava também o contrário!
Pois ela é a inicial da palavra chet, que significa pecado.
Ela também se encontra na palavra "serpente" e mesmo na palavra da unidade,
echad, "um"!
É uma letra ambivalente.
Eis um exemplo: a diferença entre a palavra que designa o pão, chametz, e aquela
que designa o pão ázimo, matzá, é simplesmente o que separa a letra hei da letra
chet.
O hei é aberto, pode-se sair dele, como o princípio da teshuvá — o retorno a Deus
— na qual se encontra a letra hei.
Pelo contrário, o chet é fechado.
Só tem uma abertura para baixo!
Só se pode cair!
Certas letras têm uma abertura para cima, como o tet, nona letra do alfabeto!
O chet, este, se abre para baixo.
É sua ambivalência.

- Letra da graça

J. E. — Falaremos adiante da ambivalência do chet, que significa, aliás, pecado.


Abordemos agora outra palavra que tem como inicial o chet: chen, "a graça".
É um conceito importante no judaísmo.
Ele designa o bem que Deus concede a alguém que não o mereceu.
Ele caracteriza diversos personagens da Torá, notadamente Noé, "... que encontrou
graça aos olhos do Eterno".
O nome de Noé — Noach — é o anagrama da palavra chen, "a graça".
De José, diz-se igualmente que ele encontrou graça aos olhos de seu amo.
É sobretudo com Moisés que se encontra essa noção de "graça", quando ele diz ao
Eterno: "Se encontrei graça a teus olhos...".
E, evidentemente, essa noção de "graça", nós a encontramos frequentemente na
prece.

A. S. — É preciso aqui estabelecer uma diferença entre o chen, "a graça", e


diversos conceitos muito próximos, tais como chessed, "a bondade", chaniná, "a
anistia".
Chen é efetivamente a graça, mas não no sentido teológico.
Diria antes no sentido estético!
Pois dizer que alguém encontra graça a meus olhos é irracional!
Não posso explicar por que tal pessoa me agrada.
Tudo que posso dizer é que a meus olhos isto é belo!
Nomeia-se isto "a graça".
Aliás, é o que pedimos a Deus em nossas preces: "Que possamos encontrar
'bondade' e 'graça' a Teus olhos e aos olhos de todos!".

J. E. — É preciso dizer que em francês, para evocar esta noção, diz-se "Ele tem
charme".
Aliás, em idish* , usa-se a palavra chen precisamente para qualificar o charme.

A. S. — É o termo apropriado.
Quando Moisés diz: "Se eu pudesse encontrar graça a Teus olhos...", ele não diz a
Deus: "Sou grande, sou justo!", mas "Pudesse eu Te agradar!... Consideras-me boa
pessoa? Como Noé, que encontrou graça a Teus olhos...".
A graça é uma forma de plenitude e também de projeção.
J. E. — Podemos acrescentar que quando alguém é gracioso ou Deus lhe concede a
graça esta palavra deve ser aproximada da palavra chinam, "a gratuidade", um
derivado de chen.
Quer dizer que se esta pessoa recebe o que ela não merece trata-se de uma forma
de gratuidade pela qual ela é gratificada.

A. S. — Efetivamente, é a mesma raiz, uma coisa que se faz somente por "graça".
Assim como Deus diz a Moisés: "Darei graça a quem Eu quiser dar graça...".
Se falamos de graça, então é porque não há uma boa razão para fazê-lo.
[Este sentido da palavra graça fica ainda mais claro em português quando dizemos,
por exemplo, "de graça".]

J. E. — Dar graça a alguém é também o que um rei concede a um de seus súditos.

A. S. — Com efeito: mesmo a graça no sentido jurídico do termo, a saber, quando


se perdoam delitos cometidos, não é porque o delinquente o mereça: é como uma
dádiva do céu.
Aliás, não é por acaso que a palavra chen é constituída das iniciais das palavras
"sabedoria escondida", chochmá nisteret, que designa a Cabalá.
Diz-se de um cabalista que ele "conhece o chen, a graça".
Pois a Cabalá não é uma ciência como a matemática ou qualquer outra ciência, nem
mesmo o Talmud: é uma forma de conhecimento, e aceder a ela é uma graça.

- Graça e gratuidade

J. E. — A ideia de que recebemos algo gratuitamente é fundamental no judaísmo,


pois temos sempre o sentimento de nada merecer.
Como nesta bela prece de Iom Kipur, que começa assim.
"Eis me diante de Ti, pobre em boas ações...".
O que diz esta prece é isto: não valho nada, não mereço nada, e até mesmo comer,
isto não vem de mim, mas do céu.
Aliás, no alfabeto, a sétima letra significa "alimentar" e a oitava "graça": "Tu nos
alimenta por graça".
É por isso que nas preces após as refeições, bircat hamazon, fala-se de chen no
início e no fim da prece.
No início, está escrito: "Tu alimentas toda carne por graça e por bondade".
Recebemos o alimento como um dom gratuito de Deus.

A. S. — A graça se situa naquele que recebe.


Não se trata do conceito teológico de uma graça que vem do alto, embora haja
uma relação entre essas duas graças.
Aqui trata-se, antes, de ser amado — como se diz na prece após a refeição:
"... ajuda-nos a encontrar graça", a "... encontrar graça aos olhos dos homens e de
Deus".

J. E. — De certo modo, chessed, "a misericórdia de Deus", pode se manifestar a


uma pessoa mesmo se esta não tiver chen, "charme".
É a diferença que existe entre chessed e rachamim, "bondade" e "compaixão".
Pode-se citar a este respeito uma muito bela passagem do Derech mitzvotecha,
"O caminho de teus mandamentos", obra fundamental do rabino Menachem Mendel
de Liadi.
Ele insiste naquilo que diferencia a piedade da bondade.
Este comentário toma como exemplo nosso pai Abrahão, que concede a
hospitalidade por pura bondade, e não por compaixão.
O que fazemos por "bondade" é algo que realizamos porque temos vontade de
fazê-lo, e não porque o outro precisa.
Ao contrário, a compaixão, nós a exercemos porque o outro dela precisa.
A. S. — A graça é ainda outra coisa.
E isto é muito complexo.
No livro dos Provérbios, Salomão diz: "A graça é mentira" (31,30).
Pois o "charme" tem um tempo certo.
Não que seja mentiroso, enganoso, mas ele não tem substância.
Alguém me encanta, mas não posso dizer por que nem quanto tempo isso durará!

J. E. — No bircat hamazon, a prece após a refeição, a noção de graça aparece


várias vezes, notadamente quando se diz: "Pudesse eu encontrar graça aos olhos
de Deus e dos homens".
É que o judaísmo insiste na necessidade de levar em conta o "outro".
É preciso encontrar "graça" aos olhos de Deus, mas também aos olhos do homem.
Tudo que evocamos — chaim, "a vida", chen, "a graça" — diz respeito ao campo do
positivo.
Mas há também o lado negativo: chet, "o pecado", que não é somente o nome da
letra.
Lembremos que em hebraico a palavra chet significa "pecado"!

A. S. — Ela significa pecado ao se combinar com a letra tet: chet + tet.


O pecado decorre da vida.
Ele é dela consequência: assim que aparecem a vida e o homem aparece o pecado.
Donde a relação entre chaim, "a vida", e chet, "o pecado": é a face escura da vida.
A vida tem duas faces: uma é clara, a outra é escura.
Se eu não estivesse vivo não poderia pecar!

J. E. — Justamente, o Talmud diz: "Ein mita bli chet" — ninguém morre sem ter
pecado.
Poder-se-ia dizer de outro modo: "Não há vida sem pecado".

A. S. — A morte pode, efetivamente, ser a consequência do pecado.


Aliás, com a morte o pecado cessa.
Conta-se que um homem havia escrito sobre si próprio: "Sou tão ruim!".
Ora, era um grande justo!
Ele acrescentava: "O que me consola é que, uma vez morto, pararei de pecar!".
Dito isto, a vida não é somente imanente.
Ela também é fluida.
Ela não é estática.
E, como se passa de um estado a outro, o pecado é um momento de fracasso.
De fato, todas as virtudes que começam com a letra chet, como a bondade, a graça
ou ainda a misericórdia, têm também sua face escura.
Tomemos a bondade: ela implica a existência de uma face escura: é preciso que
uma pessoa esteja necessitada.
Está escrito nos Salmos: "O mundo repousa sobre a bondade..." .
Este versículo coloca um problema.
Seria por isto que Deus criou um mundo sem igualdade?
Para que a bondade possa se expandir?

J. E. — Em outras palavras, se quero exercer um ato de bondade, é preciso que


alguém sofra.

A. S. — Com efeito!
E é verdade também para a compaixão.
O que há de mais belo?
Mas ela exige um sofrimento, uma ferida, uma vítima.
Acerca desta zona de sombra se escreveu muito, notadamente os psicólogos.
Em toda parte em que há luz há sombra.-
Ora, a vida é luz, portanto ela tem necessariamente uma zona de sombra.
O pecado nada mais é do que uma espécie de torção, de desvio.
Uso a vida para fins que não são os dela!
Mas só o posso fazer se estou em vida!

- Os fracassados da vida

J. E. — Deve-se precisar que a palavra chet significa erro, mais do que pecado.
Traduz-se com frequência por pecado, mas é preciso saber que a palavra chet
designa na Bíblia um arqueiro que erra seu alvo.
Quer dizer: em algum lugar, ao pecar, erramos o alvo de nossa vida.
Para terminar a análise da letra chet, devemos evocar o valor numérico desta letra:
8. E este número no judaísmo tem sua importância.

A. S. — É o que escreve o Maharal de Praga em seu comentário acerca do sentido


dos números.
O número 7 representa a natureza em sua plenitude.
Ele representa a coordenação das seis dimensões por um ponto central.
Sem este ponto central, o sétimo, nada tem sentido: é somente com o ponto
central que se obtém a plenitude.
Por exemplo, o shabat é o sétimo dia e confere sentido e conteúdo para a semana.
Qual é então o sentido do 8?
Ele representa a transcendência.
O que pode ainda acontecer a um mundo realizado?
Os sete dias?
Ele atingiu sua plenitude.
Mas o que há além?
Há o 8, a oitava dimensão.
Encontra-se também esta bela ideia no Maharal de Praga: "Existem somente três
números importantes: o 7, que é a santidade e a plenitude; o 8, que o transcende,
e, enfim, o 10, número perfeito".

J. E. — Este texto do Maharal que o senhor cita lembra que a semana de sete dias
é cíclica.
É preciso poder ir além.
Esta é a função simbólica do candelabro do Templo.
Ele tinha sete braços.
Após a vitória comemorada em Chanucá apareceu um candelabro com oito braços.
O oitavo braço manifesta a irrupção do irracional e da transcendência, para além do
determinismo histórico.

A. S. — O 8 ultrapassa todos os limites.


O 7 é o número natural perfeito; o 8 é o tempo do Messias — Mashiach.

J. E. — De acordo com o Talmud, quando chegarem os tempos messiânicos,


durante sete anos será o apocalipse.
Mas no oitavo ano o filho de David, o Messias, Mashiach ben David, se revelará.
Estamos verdadeiramente na transcendência, na "meta-história".

A. S. — Podemos também falar de "metafísica do mundo": 7 designa o mundo físico


e 8 aquilo que está além.
Eis por que a circuncisão — brit milá — tem lugar no oitavo dia.
Ela não faz parte da semana: ela está além.
É a mesma coisa para o sacrifício — korban — que se traz no oitavo dia.
Aliás, existem na Torá vários ciclos de 7: sete vezes sete semanas entre a Páscoa e
Pentecostes; o ano sabático: sete vezes sete anos; e depois o oitavo ano
(o quinquagésimo) é o que se denomina o jubileu.
Assim como depois de sete vezes sete dias é a festa de Pentecostes.
Em todos os ciclos, chego ao meu limite e, depois, o ultrapasso.

Por: Josy Eisenberg e Adin Steinsaltz


As Letras Hebraicas – Parte 13


Tet (Teth)

Som: T

Significado: Tet significa força e também uma serpente, ibur em hebraico.


Bondade. Cajado. Barro.

Conceito: Tet nos remete a audição dos ventos... e essa audição é quando o
Sagrado nos escuta.
O Talmud ensina que é um bom sinal quando a letra Tet aparece num sonho,
porque o primeiro Tet da Torah aparece na palavra , tov, "bom":
"E viu Deus que era boa a luz" (Gên. 1:4).
O Tet simboliza a bondade essencial, fundamental.
O Tet é o símbolo da energia primordial do feminino.
A letra tem a forma de uma cobra enrolada em torno de si mesma.
Séculos antes de ser associada ao mal, a serpente era uma representação do
feminino divino.
A forma do Tet sugere também um vaso ou taça, símbolos do ventre.
Por ser a nona letra e o número nove, o Tet preside o ritmo dos nove meses da
gestação.
Essa letra de bondade contém o poder da gestação e o potencial da vida.
Ao mesmo tempo, os cabalistas associam o Tet a uma imagem-chave da potência

masculina, a vara ou cajado, porque é a última letra da palavra hebraica ,

shevet, "vara", e a letra central de , mateh, "cajado".
A vara e a serpente estão intimamente ligadas no folclore e no imaginário.
Moisés lança sua vara na terra e ela se transforma numa serpente.
Em seguida, ele apanha a serpente e ela se translorma em vara outra vez
(Ex. 4:2-4).
Um incidente curioso ocorreu durante a errância dos judeus pelo deserto.
Para proteger as pessoas das cobras venenosas que as mordiam e matavam,
Moisés fez uma imagem de serpente de cobre, no estilo xamânico, e a colocou
sobre uma haste.
Quando as pessoas eram mordidas, olhavam para a serpente de cobre e se
curavam (Núm. 21:9)
A imagem das duas serpentes — ou uma serpente com duas cabeças — enroladas
em torno de uma vara é antiga, anterior aos israelitas.
Simboliza a poderosa combinação do masculino e do feminino, e é considerada
vivificante e curativa.
A imagem sobrevive até hoje sob a forma do caduceu — selo de Asclépio, bastão de
Hermes e símbolo da profissão de médico.
O Tet é uma espécie de caduceu em forma de letra.
Mas o Tet está relacionado também à morte.
Os reis marcavam os locais de sepultamento com o símbolo do Tet.
A palavra "morte", em várias línguas, soa parecida com Tet (às vezes pronunciada
―Teth‖) como a palavra inglesa death e a alemã tot.

O Tet faz parte da palavra , teet, "barro" em hebraico.
O barro é a matriz da morte e da vida, ao mesmo tempo.
Todas as coisas retornam à terra ao morrer, absorvidas novamente pelo barro.
Mas o barro é também a matéria, ou mater, primordial, a Mãe Natureza, a origem
da vida, na qual germina a criação.
O Tet, portanto, representa a procriação, gestação, florescimento e perecimento de
todas as coisas.
O Tet ensina que isso tudo, esse ciclo sem fim de vida e de morte, é tov — é bom.

Formato: A letra Tet tem o formato de um recipiente com uma aba invertida, uma
bolsa de água, ou seja, Tet é um recipiente que colhe a Luz do Mundo Infinito
porque tem uma abertura para o alto.
Também simboliza uma mulher grávida.

Número: Tet representa o número 9.


Tet simboliza a mudança de estado. Seu valor numérico nove = gestação.

Espaço: No espaço, Tet representa a Constelação do Leão.

Tempo: No tempo Tet é responsável pela criação de Av.

Corpo: Tet está relacionada ao rim esquerdo.

Medicina: Tet desperta em nós o sentido da escuta.

Arquétipo: Shimon. tribo dos grandes construtores.

Aplicação:
Dar-se um tempo de concepção e gestação.
Livrar-se do que já se desenvolveu demais e precisa ser abandonado.
Cultivar o poder criativo do feminino e o poder enérgico do masculino.

Sombra:
Enfatizar em excesso a "bondade".
Otimismo polianesco; pensamento positivo fácil.

Reflexão:
O que já superei, o que preciso largar, abandonar, para abrir caminho para a vida
nova?

Ação sugerida:
Plante uma semente.
Depois, proteja-a e cuide dela enquanto se desenvolve e germina.

Canal-Caminho: De Chochmá a Tiferet.

Sefer Yetziyrah: “Ele fez a letra Tet reinar sobre a audição, coroou-a, combinou-a
com cada uma das outras e, com elas formou: Leão no universo, Av o ano e o rim
esquerdo na Nefesh...” (S. Y. 5.11)

Comentários:
Alguns vêem nesta letra uma serpente, outros um escudo.
O Sêfer Bahir vê nela de preferência um ventre.
Em hebraico "Tet" quer dizer "lodo", "lama".
Tudo isto pode nos mostrar que Tet é uma letra que simboliza a mudança de
estado, ela é a única com abertura para o alto.
O escudo e a lama representam o envelope protetor que propicia a mutação, a
"troca da pele", como se fosse uma serpente.
O ventre é também um órgão de transformação, o alimento é trocado dentro dele
em quintessência simbolizada pela letra seguinte ―Yud‖.
O Talmud diz-nos que a visão do Tet em sonho nos anuncia boas coisas.
O Tet representa ―teto‖ ou ―ideia de proteção‖, ―lugar seguro‖, etc.
Todas as ideias despertadas por esta letra derivam da união entre a segurança e a
proteção por intermédio da Sabedoria.
Simboliza o principio da conservação, o amor como ato puro e sem desejos.
Ê a sabedoria, o mistério insondável da letra Tet.
A pronúncia de Teth é feita colocando-se a ponta da língua na raiz dos dentes
superiores e pronunciando o som como se a língua estivesse enchendo a boca.
Esta letra encontra-se associada ao planeta Marte, à nota musical Sol, à cor
vermelha, à alquimia mental e à faculdade da clariaudiência.
É expressão de prudência nos impulsos.
É o gênio protetor, é a iniciação.
Seu signo zodiacal é Leão.
O Tet é o princípio vivo em comunhão consigo mesmo.
No Plano Espiritual, é a manifestação da luz divina nas obras humanas, a sabedoria
absoluta, a comunhão do pensador com seu pensamento e a coisa pensada.
No Plano Mental, gera a prudência, a discrição, a clareza e o conhecimento; o
discernimento, o juízo imparcial.
No Plano Físico, ajuda o desenvolvimento molecular e o conhecimento do amor
universal.
Acena com descobertas e com a ordenação, além de bons amigos.
Em Magia, o silêncio e a prudência: as armaduras do sábio.
No entanto, o silêncio não é absoluto.
O sábio deve falar quando necessário.
O sábio é dono de si mesmo e, por isso, faz-se dono dos demais.
O super-homem impõe silêncio aos apetites e ao temor para não escutar mais do
que a razão. Esse super-homem é um rei sem coroa e um sacerdote sem sotaina.
No entanto, nem o reino, nem o sacerdócio podem ser concedidos.
Eles têm de ser conquistados.
O super-homem tende a elevar a sociedade cambaleante e caída.
Porém, para fabricar ouro ele precisa de ouro.
Há necessidade que se produzam super-homens, sábios, prudentes e circunspectos,
para reconstruir a vida em meio à decomposição e à morte.

Tet é a nona letra do alfabeto hebraico.


Geralmente associada à palavra ―tov‖ ("bom"), identifica sempre algo impregnado
pela energia da Shechiná, o que reforça o conceito de que, no mês de Av (Julho-
Agosto – Mês de Leão), que é regido por esta letra, a Shechiná pode estar oculta,
mas não está ausente.
Mas não é só isso: ―Tov‖ também se refere à imensa bondade do Eterno, que
assiste seus filhos em todos os momentos e, em especial, durante os períodos mais
difíceis, quando os nossos limites são testados para que provemos a nossa
fidelidade ao pacto.

Conta o Midrash que existe uma diferença entre a primeira versão das Tábuas da
Lei (Shemot 20:2-14) e a segunda (Devarim 5:6-18): o acréscimo da letra ―Teth‖,
a única letra do alfabeto que não aparece na primeira versão.
O Eterno já sabia que as primeiras Tábuas seriam quebradas e omitiu a letra Teth
para que a bondade não desaparecesse do mundo.
Na segunda versão, Teth entra no quinto pronunciamento ("Honrarás a teu pai e a
tua mãe, como te ordenou o Eterno, teu Deus, para que se prolonguem os teus
dias e para que seja bem para ti na terra que o Eterno, teu Deus, te dá").
Como nada é por acaso, a segunda versão das Tábuas da Lei contém 17 palavras a
mais que a primeira (em hebraico, obviamente), a guematria de ―tov‖.

Meditar na letra Tet reforça a nossa bondade e o reconhecimento da bondade de


Deus em todas as coisas.
Também auxilia na revelação de coisas perdidas, ocultas ou escondidas.
Como dito, tet é a letra inicial da palavra tov, ―bom‖ (ou ―bem‖).
A forma do tet é ―invertida‖, simbolizando assim o bem oculto, invertido, conforme
explicado no Zohar: ―Seu bem está oculto dentro de você.‖
A forma da letra anterior cheth simboliza a união do noivo e da noiva consumida
através da concepção.
O segredo do teth (numericamente equivalente a nove — os nove meses de
gestação —) é o poder da mãe de carregar seu bem interior, oculto — o feto —
durante todo o período da gravidez.
A gravidez é o poder de transformar o potencial em realização.
A revelação de uma energia nova e efetiva, a revelação do nascimento, é o segredo
da letra seguinte do alef-beit, o yud. O yud revela o ponto principal da ―Vida
Essencial‖, conforme compreendido no segredo da concepção do cheth e
concretizado, impregnado, no teth.

Dentre os oito sinônimos para ―beleza‖ em Hebraico, tov — ―bom‖ — refere-se ao


estado mais interno, oculto e ―modesto‖ de beleza. Este nível de beleza é
personificado na Torá por Rebeca e Batsheva, que são descritas como ―muito
bonitas [bondosas] em aparência.‖

No começo da Criação, a aparência da luz é definida como ―boa‖ aos olhos de D‘us:
―E D‘us viu que a luz era boa.‖
Nossos Sábios interpretam isto como significando ―boa para ser mantida oculta
para os tzadikim na Época Vindoura.‖
―E onde Ele a escondeu? Na Torá, pois ‗não há outro bem senão a Torá.‘‖

O Baal Shem Tov nos ensina que a ―Época Vindoura‖ se refere também a cada
geração. Cada alma de Israel é um tzadik em potencial (como é dito, ―e todo seu
povo é de tzadikim‖), conectado à boa luz oculta na Torá. Quanto mais o indivíduo
realiza seu potencial para ser um tzadik, mais bondade ele revela de dentro do
―ventre‖ da Torá.
No primeiro versículo da Torá — ―No começo D‘us criou os céus e a terra‖ —, as
letras iniciais de ―os céus e a terra‖ representam o ―Nome oculto‖ de D‘us na
Criação (alef-hei-vav-hei), de acordo com a Cabalá.
O valor numérico deste Nome é dezessete — o mesmo da palavra tov, ―bom‖.
A palavra tzadik equivale a 12 vezes 17 = 204 — o valor total das doze
permutações das quatro letras deste Nome oculto.
Tzadikim, que são chamados de ―bons‖, possuem o poder do Nome oculto
(derivado de ―os céus e a terra‖), a bondade oculta necessária para unir céu e terra
e, portanto, revelar a luz interior e o propósito da Criação.
Assim como o alef possui o poder de sustentar opostos — o poder do firmamento
de juntar as águas superiores e inferiores —, assim também o teth possui a força
de unir os mundos superior e inferior, ―céus e terra‖.
A Chassidut nos ensina que no serviço da alma, tal poder se manifesta no homem
quando este assume o estado de ―estar no mundo e fora do mundo‖
simultaneamente.
Estar ―no mundo‖ significa estar totalmente consciente da realidade mundana a fim
de retificá-la. Estar ―fora do mundo‖ quer dizer estar completamente ciente de que,
na verdade, ―não existe ninguém além dEle.‖

Outra ligação entre luz e bem encontra-se na história sobre o nascimento de


Moisés: ―E ela [Yocheved, mãe de Moisés] viu que ele era bom.‖
Rashi cita o Midrash que explica que no nascimento de Moisés uma intensa luz
encheu o cômodo.
De acordo com o tradicional Messorá, o teth da palavra tov (―bom‖) neste versículo
é escrito em tamanho bem grande. Isto alude ao Bem Divino Absoluto concedido à
alma de Moisés, cuja missão de vida era concretizar a promessa da redenção do
Egito e a revelação da Torá no Sinai.
O exílio egípcio é comparado ao ventre onde Israel esteve fecundo, sob forma
latente, por duzentos e dez anos.
No Sinai, céu e terra se uniram, conforme explicado na letra alef.
Assim, o ensinamento completo sobre o teth é que através do serviço da alma,
toda a realidade se torna ―grávida‖ com a bondade e beleza Infinitas de D‘us,
trazendo assim harmonia e paz para ―céus e terra‖.

O desenho do teth é como uma panela, um recipiente com uma borda invertida,
representando o bem oculto ou invertido.
Outra interpretação do teth representa um homem inclinando a cabeça para D'us
em prece e agradecimento.
Como os dois estão conectados?
Explicamos na letra anterior, a letra cheth, como representando o conceito de
casamento.
Após a união entre marido e mulher, então se D'us quiser, há a concepção.
O teth representa o bem oculto que existe dentro do útero (o recipiente) da mãe.
Este bem oculto é concretizado através das preces da pessoa a D'us, pedindo um
filho saudável.
O valor numérico de teth é nove. Isso corresponde aos nove meses de gravidez.
Além disso, o número nove é um número "verdadeiro".
Verdade ou (emet) é escrita alef — a primeira letra do alef-bet; mem — a letra do
meio; e o tav — a última letra.
A lição é que algo que é verdadeiro deve ser verdadeiro no princípio, meio e fim.
Essas três letras tem 'pé', isto é, elas não caem ao ficarem de pé, diferente das
letras de Sheker – shin, cof, resh – ―mentira‖ que não tem pé.

O que torna o nove um número "verdadeiro" é que se você multiplicar qualquer


número inteiro por nove, a soma de seus dígitos também é nove, por exemplo:
2 x 9 = 18 = 1+8 = 9
3 x 9 = 27 = 2+7 = 9
9 x 9 = 81 = 8+1 = 9
Finalmente, a Guematria de emet é 441: alef = 1, mem = 40, tav = 400.
4 e 4 e 1 = 9.
O nove representa o número da verdade.

O significado de teth é ―tov‖, que significa "bom" ou "melhor".


Há uma história no Talmud sobre o grande sábio da Tora, Nachum Ish Gamzu, que
sempre dizia: "Gam zu letová — Isso também é para o melhor."

Certo dia, Nachum Ish Gamzu viajou até o Imperador Romano para entregar-lhe
um baú repleto de metais preciosos e joias como presente em nome da sua
comunidade. Naquela noite ele dormiu numa estalagem e colocou o baú com o
tesouro num local escondido. Enquanto Nachum dormia, o estalajadeiro trocou o
baú por outro.
Na manhã seguinte, quando Nachum Ish Gamzu estava para deixar a pousada,
abriu o baú, e para seu desgosto ali não havia mais diamantes de rubis. Em vez
disso, o baú inteiro estava cheio de areia.
Nachum Ish Gamzu disse: "Gam zu letová — Isso também é para o melhor," e
continuou a viagem.
Chegou ao palácio e disse: "Imperador, por causa de nosso grande respeito pelo
senhor, minha cidade está lhe enviando este presente." O Imperador abriu o baú e
viu a areia. Ele pensou, bem, deve haver algo mais por baixo disso.
Examinou a areia, enfiando a mão de um lado a outro do baú. Porém tudo que
conseguia achar era areia. O Imperador disse: "Por zombar de mim, vou condená-
lo à morte." A reação de Nachum Ish Gamzu, é claro, foi "Gam zu letová."
Imediatamente, entrou na sala um dos conselheiros do soberano (o Talmud nos diz
que era o Profeta Eliahu disfarçado de senador romano). "O que está dizendo?"
disse Eliahu. "Acredita que os judeus sejam tão tolos? Acha que fariam a bobagem
de dar-lhe simples areia?! Esta deve ser a mesma areia que Avraham (o Patriarca)
usou quando lutou contra os quatro reis'. Avraham, com as próprias mãos,
conquistou os reis mais poderosos de sua época. Sabe como ele fez isso? Possuía
areia mágica. Ele a atirou ao ar e a areia se transformou em facas, lanças e
flechas." "Verdade?" respondeu o Imperador. "Vamos tentar."
Naquela época, as forças do Imperador estavam em meio a uma guerra. Estavam
tentando conquistar uma província vizinha, então o Imperador enviou o baú às
linhas de frente com seus soldados e eles começaram a atirar mancheias de areia
na direção do inimigo. E veja só, a areia foi transformada naquelas armas secretas
mágicas!
Em um ou dois dias, o exército romano conseguiu dominar toda a província.
O Imperador agradeceu a Nachum Ish Gamzum, dizendo: "Como você fez isso por
mim, vou recompensá-lo com um baú de ouro e prata. Leve-o de volta ao seu povo
e diga-lhes que se precisarem de alguma coisa, devem me procurar. Ficarei feliz
em ajudá-los." A caminho de volta para casa, Nachum Ish Gamzu parou na mesma
estalagem. O proprietário perguntou-lhe: "Que presente deu ao Imperador para ele
lhe demonstrar tamanha honra?" Ele respondeu: "Bem, sabe, eu tinha este
baú cheio de areia. Levei-o ao Imperador e essa areia mágica se transformou em
flechas e lanças que foram atiradas aos inimigos."
O estalajadeiro, ouvindo isso, disse para si mesmo: "Uau! É a areia do meu
quintal!" Então, o que fez o homem? Encheu uma carroça inteira de areia, levou-a
ao Imperador e disse: "Sabe aquela areia que Nachum ish Gamzum lhe trouxe
semana passada? Esta é da mesma qualidade."
O Imperador ficou contente e de imediato enviou a carroça de areia para suas
tropas. Quando a 'areia mágica" provou não ter valor, o furioso Imperador ordenou
a execução do estalajadeiro enganador.

Há uma outra história famosa do Talmud, esta sobre Rabi Akiva.


Rabi Akiva, aluno de Nachum Ish Gamzu, costumava dizer: "Kal deavid Rachmana
letav avid — Tudo que D'us faz, deve ser para o bem."

Conta-se que Rabi Akiva viajava com uma vela, um galo e um burro; a vela para
poder estudar Torá à noite, o galo — seu despertador — para acordá-lo e poder
estudar Torá, e finalmente o burro para carregar seus pertences.
Rabi Akiva parou em uma cidade.
Tentou conseguir alojamento mas não havia quarto disponível.
Foi de casa em casa mas ninguém o hospedou.
Então o que fez?
Foi até os bosques vizinhos e montou acampamento.
De repente, um forte vento apagou a vela.
Poucos momentos depois, um leão feroz surgiu por trás da tenda e matou o burro.
O que restava?
O galo.
Um felino surgiu e o devorou.
Rabi Akiva ficou completamente abalado.
O que ele disse? "Tudo que D'us faz, deve ser para o bem."
Na manhã seguinte, Rabi Akiva descobriu que um bando de ladrões tinha atacado a
cidade durante a noite, matando impiedosamente as pessoas e roubando seu
dinheiro. Os ladrões escaparam para a floresta. Se tivessem visto a vela, Rabi Akiva
teria tido o mesmo destino dos aldeões.
D'us salvara sua vida extinguindo a vela e levando seus animais.

Ora, há uma grande diferença entre a terminologia de Nachum Ish Gamzum e a de


Rabi Akiva. Nachum Ish Gamzu dizia: "Gam zu letová":
Embora algo possa parecer negativo, é bom em si mesmo.
O baú cheio de areia foi bom por si mesmo, independentemente da perda das joias.
E assim foi.
Esta era sua filosofia, sua ética de vida.
A abordagem de Nachum Ish Gamzu não era a de que mais tarde ele veria o valor
da areia; seu valor foi imediato e intrínseco.
Por outro lado, na história de Rabi Akiva, a perda real do burro e do galo, segundo
ele, não foi boa.
Mas era uma perda pequena comparada a uma perda maior.
Rabi Akiva terminaria vendo o bem no dia seguinte.
Porém o sacrifício imediato foi visto como negativo.
Todos nós podemos aprender uma lição prática do que vimos acima.
Quando estamos fazendo uma viagem, por exemplo, o pneu do carro pode estourar
de repente. Pensamos: "Oh não! Isso vai atrapalhar nossos planos, Teremos de
passar horas mudando o pneu. Então teremos de ficar num hotel em vez de fazer a
viagem num só dia." Ora, poderíamos dizer: "Talvez D'us esteja nos salvando de
uma situação pior que poderia ter ocorrido se continuássemos a viagem como
planejado."
Porém o emet — a verdade — é que ficar ao lado da estrada com um pneu furado
naquela hora é boa em si mesma. Até os eventos que não são percebidos
prontamente como positivos são totalmente bons, pois tudo vem de D'us e D'us é
todo bem.
Esta é a lição do tet

Aplicação
Como a Chet, a letra anterior do Aleph Beit, traz a energia do casamento, por meio
de sua forma de chupah — o dossel matrimonial —, essa nona letra, o Tet, contém
a fase seguinte da vida: o poder de concepção e gestação, literal e
metaforicamente.
O Tet está no centro da palavra , mitah, "cama" em hebraico.
A cama é o locas da procriação, onde o homem se une à mulher para criar uma
nova vida.
O Tet simboliza uma nova criação.
Quando o Tet aparece em nossas mãos, algumas boas perguntas que se pode fazer
são as seguintes: que nova vida está se desenvolvendo em mim?
Em que nível e o que estou "gestando"?
O que está oculto, em gestação, preparando-se para nascer?
As grávidas sentem freqüentemente o instinto de aninhar, refugiar-se e proteger a
nova vida que se desenvolve dentro delas.
A escolha do Tet oferece uma oportunidade de acalentar e nutrir em silêncio uma
nova idéia ou projeto e deixá-la amadurecer interiormente, aos poucos, antes de
expô-la ao mundo exterior, que às vezes é cruel.
O Tet pode indicar também uma fase de mudança, do mesmo modo como a
serpente muda de pele.
O que nós já superamos, o que precisamos abandonar, deixar morrer, para abrir
caminho para a vida nova?
O Tet pode representar um período de silenciosa reflexão e proteção.
A cobra fica muito vulnerável depois de se desfazer da pele antiga e antes de
fortalecer a nova.
É hora de retrair-se e evitar riscos.
O tov do Tet é uma intensa e profunda bondade interior, a bondade primordial da
criação, independente das circunstâncias.
Certa vez, dois irmãos perguntaram ao líder hassídico, o Maggid de Mezritch, como
era possível bendizer a Deus pelo bem e pelo mal igualmente.
O Maggid lhes disse que, para descobrir a resposta, deveriam visitar seu aluno, o
reb Zusya.
O reb Zusya era terrivelmente pobre e sofrido, mas ficou perplexo quando os
irmãos o encontraram e lhe fizeram a pergunta.
"Não sei por que o Maggid lhes disse para me procurar. Nunca tive um dia ruim na
vida".
De modo semelhante, o mestre zen Yun-Men disse a seus ouvintes:
"Não quero perguntar-lhes sobre o décimo quinto dia; falem-me sobre o que vem
depois do décimo quinto".
O décimo quinto dia é o dia da lua cheia, que simboliza a completude ou
iluminação.
Em outras palavras, Yun-Men está perguntando: "Não me falem sobre o estado de
iluminação, em que tudo é completo e pleno. O que vocês têm a dizer sobre o que
vem depois da iluminação?"
Nenhum dos alunos sabia a resposta, e então, respondendo à própria pergunta,
Yun-Men disse: "Todo dia é um bom dia".
A frase de Yun-Men pode facilmente ser mal compreendida ou banalizada.
Como o reb Zusya, Yun-Men está falando do nível de realidade essencial,
fundamental.
Esses dois mestres não estão adocicando o sofrimento.
Não estão, como o dr. Pangloss no Cândido de Voltaire, pontificando que tudo está
bem no melhor dos mundos possíveis.
As palavras de Yun-Men, ressoando através dos séculos, formam a base de um
famoso koan do zen.
Os koans não são enigmas inexplicáveis: são apresentações diretas e cogentes da
realidade fundamental.
Representam temas essenciais da vida que precisam ser decifrados.

Os koans servem para se incorporar, e não simplesmente para se especular sobre


eles.
Como se incorpora "todo dia é um bom dia"?
Esse é o desafio do discípulo zen ao receber esse koan de seu mestre.
É um desafio que não se pode enfrentar com um otimismo ingênuo, fácil,
polianesco.
A bondade de que o reb Zusya e Yun-Men estão falando vai além de uma filosofia
superficial e diz respeito a uma experiência direta da vida fundamental.
O Tet nos desafia a experienciar a vida nesse nível profundo, absoluto, em que a
essência da criação de Deus é o poder das coisas como são — um nível em que o
"bom" e o "mau" deixam de existir.
No plano relativo, porém, de nossas vidas, em que existem o bem e o mal e todas
as outras dualidades, devemos estar de olhos abertos para a realidade do mal, agir
para atenuar sua força e aspirar ao bem maior.
Já vimos que o Tet é a chave das palavras hebraicas  
, shevet, e , mateh,
"vara" e "cajado".
Davi canta o poder da vara e do cajado num salmo repleto da energia do Tet:
"Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum,
porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam" (Salm. 23:4).
Mesmo na mais horrível das circunstâncias, esse cajado afasta o medo e nos ajuda
a experienciar que "todo dia é um bom dia".
A letra Tet, que tem a forma de uma taça, nos lembra que nossa taça transborda
bênçãos.
Mesmo que isso não seja visível agora, a bondade está se desenvolvendo e logo
nascerá para o mundo.
"Certamente que a bondade [tov,  ] e a misericórdia me seguirão todos os dias
da minha vida" (Salm. 23:6).
Quando o Tet, esse caduceu em forma de letra, aparece, é um momento de
equilibrar em nós a parte masculina e a parte feminina e utilizar seu poder
composto.
O Tet é uma letra poderosa, que ativa a potência ajudando-nos a gestar inspiração,
e em seguida ajudando-nos a gestar essa nova semente ou vida até que ela esteja
pronta para emergir para o mundo.
Então, se Deus quiser, olharemos enfim para nossa nova criação e diremos, como
fez o Santíssimo no princípio, que ela é de fato, tov— muito boa.

A Sombra do Tet
Entender e experienciar verdadeiramente cada dia como um bom dia, sem fechar
os olhos para a realidade da dor e do sofrimento, é uma tarefa imensa.
Um dos perigos do Tet é o de aplicar o "pensamento positivo" de modo superficial.
"Ah, tudo é para o bem", dizemos despreocupadamente, negando certas partes de
nós mesmos ao adotar uma filosofia do contentamento.
A palavra "polianesco" vem da sempre contente heroína de um romance
sentimental do século XIX.
O perigoso, no polianismo, é que ele realmente dá poder à sombra para que, no
fim, ela venha à tona com mais força, seja de dentro ou de fora.
Depois, há o perigo de impor o "pensamento positivo" aos outros, culpando as
vítimas de doenças ou acidentes, por exemplo, por não terem tido uma atitude
suficientemente positiva, e responsabilizando, assim, elas mesmas por sua
condição.
É fácil polarizar a experiência, tentar repelir os sofrimentos graves da vida tentando
convencer a nós mesmos de que na verdade tudo está bem.
O Tet, por outro lado, representa equilíbrio, e não polarização; aceitação, e não
rejeição; realismo, e não fanatismo; consciência, e não sentimento.

Comentários Pessoais por Richard Seidman


Tenho um amigo chamado Francesco Patricolo, um gênio excêntrico que faz, entre
outras coisas, poesia jazz rap.
Numa de suas composições, Francesco canta:
"Nos anos 50, fui um Beatnik, um Edsel evolutivo.
Nos anos 60, fui um Hippie, um subproduto não utilizado da Revolução Industrial.
Nos anos 70, fui um Punk, uma banda de um homem só numa banheira móvel.
Nos anos 80, fui um Yuppie, uma vitral num zoológico.
Hoje, nos anos 90, no fim do século XX, sou um Dumpy Grumpy [Algo como
"desanimado", "entediado", "amuado", "apático"].
Às vezes eu mesmo me sinto um Dumpy Grumpy.
Nesses momentos o mundo parece cruel, as pessoas parecem feias e tudo parece
triste.
O Tet tem o poder de livrar-me desse clima de melancolia e negatividade.
O Tet me reconforta com uma sensação calorosa.
Sinto-me seguro em seu refúgio.
Aos poucos, tomo consciência do bem que sustenta minha vida.
Talvez hoje, afinal, seja um bom dia!

Textos Complementares:

 Tet - Tov (Bondade)


Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom.
Houve tarde e manhã, o sexto dia.
Gênesis 1:31

Ao término de cada dia dos primeiros dias da criação, Deus contempla o que fez e
todas as vezes considera que foi "bom".
Mas no último dia, depois de ter criado a humanidade, e o mundo ter a sua forma
final e estar pronto para funcionar por si mesmo, Ele o declara "muito bom".
Muitos comentadores apontam para o fato de apesar de o mundo ser um "bom"
lugar mesmo sem os seres humanos, com eles, o mundo pôde realizar seu
potencial máximo.
Quando a raça humana foi criada, o mundo tornou-se um lugar "muito bom", no
qual tudo poderia acontecer.
Dificilmente nós apreciamos o mundo no qual vivemos e as realidades mundanas
de nossa vida.
Ar para respirar, alimento para comer, solo sobre o qual caminhar e luz solar para
nos dar energia, tudo isso é tomado como certo.
E mais importante, nós não apenas tomamos por certo o mundo da natureza ao
nosso redor e os milagres diários da vida na terra, mas ficamos tão apegados à
nossa percepção distorcida das coisas que o planeta pode chegar a nos parecer um
lugar repleto de energia negativa.
Observe um bebê e você vai se lembrar do quanto o nosso mundo é um Lugar
fascinante.
O recém-nascido vê tudo como sendo novo e maravilhoso, cheio de cores, sons e
odores — ele nota coisas que nós mal conseguimos perceber.
É assim que o mundo deve ter parecido para Deus no sexto dia da criação.
Ao afirmar sua bondade essencial, ele nos incentivou a ver o mundo renovado a
cada dia em lugar de tomá-lo por certo.

A Tet é a nona letra do alfabeto hebraico e seu símbolo é desenhado como uma
estrutura quase fechada com uma parte interna protegida.
Essa representa os nove meses de gravidez, o estado de espera repleto de
expectativas, curiosidades e consciência dos milagres da natureza.
Ela também simboliza concretização, a conclusão do processo de concepção:
nascimento, uma nova vida e a criação de um mundo totalmente novo, um
universo pessoal.
Tov, bondade, é o nosso estado natural de ser.
Quando bebês, somos intrinsecamente bons, ligados somente à natureza.
É só quando crescemos e nos distanciamos de nossa bondade inata que nos
esquecemos de apreciar os pequenos milagres da vida cotidiana.
Essa declaração feita no princípio dos tempos nos ensina a sermos gratos ao mundo
em que estamos vivendo neste momento, e não esperar até sermos velhos e
frágeis para lamentarmos a vida perdida.
Devemos procurar olhar para o mundo como se ele estivesse sendo criado a cada
novo dia.
A carta Tet proporciona a você um sentimento de gratidão pelo que tem neste
mundo.
Você só enxerga o que não tem, como as coisas que deseja possuir e o status que
deseja alcançar?
Ou você reconhece que a sua vida e o mundo ao seu redor são tov me'od, ou seja,
muito bons?
A criação não é algo que aconteceu apenas uma vez, no principio dos tempos.
Cada respiração é uma nova criação, cada segundo é o começo de uma nova
existência.
Perder isso de vista é deixar de ver o lado bom de nossa vida.
Portanto, esta carta está pedindo para você ver o mundo com os olhos de um
recém-nascido e valorizar a bondade.

Por: Deepka Chopra

O Alfabeto Sagrado – Tet - A letra da bondade

Josy Eisenberg — A nona letra do alfabeto hebraico, a letra tet, aparece pela
primeira vez na Torá no início da Criação do mundo, em que está escrito:
"Vaiar Elohim et haor ki tov... — E viu Deus que a luz era boa..." (Gênesis 1,4).
A palavra tov quer dizer "bom".
E é preciso saber que este tov desempenhou um papel importante no pensamento
judaico.

Adin Steinsaltz — A definição fundamental do Bem é: o que é justo, o que está em


ordem, o que está como deve.
É evidentemente o caso quando a Torá diz: "E viu Deus que era bom".
Trata-se bem mais do que de uma simples apreciação.
Em hebraico, à diferença de outras línguas, a palavra "bom" tem uma conotação ao
mesmo tempo moral e estética.

J. E. — É exatamente como na filosofia grega.


Platão diz que o bom e o bem são exatamente a mesma coisa.

A. S. — Todavia, em grego há duas palavras: kalos e agatos!


Em hebraico há apenas uma.
Diz-se "bom de coração", mas também "bom ao olhar", "boa presença".
Neste caso, bom ou bem significam simplesmente a perfeição.
Quando Deus diz "A Criação é boa", ele quer dizer que ela é perfeita!
Eis por que este julgamento é ao mesmo tempo ético e estético.
Dizer que a Criação é boa é dizer que ela é perfeita, embora às vezes haja ao
mesmo tempo luz e trevas!

O mundo era tohu e bohu, trevas sobre a face do abismo...


E disse Deus: 'Seja luz!' E foi luz.
E viu Deus que a luz era boa.
Gênesis 1,2-4

[Lê-se no Gênesis: "E a terra era vã e vazia, e [havia] escuridão sobre a face do
abismo‖.]

J. E. — Poderíamos dizer que existem dois tov.


Um tov que diz respeito a Deus e um tov que diz respeito ao nosso mundo.
No livro do Gênesis — Sefer Bereshit, no princípio da Criação — Deus diz, a cada
etapa: "Isso é bom!".
É, de fato, um julgamento que Ele formula sobre o mundo.
Lembremos também que está escrito: "Hodu laShem ki tov — Louvem o Eterno
pois Ele é bom" (Salmos 100,5).
Tov é um atributo de Deus, até mesmo seu principal atributo.

A. S. — Isto está ligado à ideia de plenitude.


Quando a filha do Faraó vê Moisés ela diz "Ele é tov!".
Como se pode dizer de um bebê que ele é bom?
Isto quer dizer: ele é perfeito, ele é completo.
Do mesmo modo, quando dizemos que Deus é "bom" isto significa: "Ele é
perfeito!".
Aliás, diz-se frequentemente que toda a glória da letra tet é a de ser a inicial da
palavra tov.
Tet é sinônimo de "bem".
Acrescentemos esta famosa sentença: é da natureza do "bom" fazer o "bem".

J. E. — Demoremo-nos por um instante naquilo que o senhor acaba de evocar.


Quando Deus diz: "O mundo é tov", Ele entende por isso que "tudo é bem...", como
se o mal não estivesse presente.
Quando dizemos de Deus que ele é tov, isto não quer dizer que ele faz o "bem",
mas que ele é "bom".
Os Salmos dizem: "O mal não abrigas em Ti......‖ O senhor citou um texto muito
importante, que explica por que Deus criou o mundo: "É por que é da natureza do
bom querer fazer o bem".

A. S. — Se é da natureza daquele que é bom fazer o bem, seria também necessário


que seu meio seja como Ele!
Pois se é bom para mim, mas ruim para os outros, não é verdadeiramente bom!
Se um homem é bom, ele não saberia agir de modo diverso do que fazendo o bem.
Conta-se no livro de Samuel que um emissário chegou.
E se disse: "É um homem bom, só pode trazer boas notícias!".

J. E. — Eis o que nos permitirá responder a uma questão teológica fundamental:


"Por que Deus criou o mundo?".
Está dito: "Porque é da natureza do bom querer fazer o bem!".
A Criação manifesta a bondade de Deus.
Ele detinha o monopólio da existência.
Mas, se aceitamos o postulado de que viver é bom, podemos dizer que Deus não
quer guardar este monopólio da vida para Si.
Por conseguinte, ele "compartilha" com o homem esse "bem".
Compreendemos agora por que Ele nos criou.
Ele considera que a vida é bela e que a vida é boa.

A. S. — É a definição do Justo, e Deus é chamado de "Justo do mundo".


O Justo é altruísta...
Há, no entanto, diversos tipos de Justos.
A Bíblia diz que Noé era justo e igualmente Abrahão.
Mas entre Noé e Abrahão há uma diferença: Noé, tendo entrado na Arca, pensou
apenas em si próprio e fechou sua porta!

J. E. — Há um muito belo provérbio em idish: "É um Justo em seu casaco de


pele...".
Este provérbio significa que tal Justo não é um Justo completo.
Ele é justo para se sentir bem aquecido!
Para ter boa consciência.

A. S. — Abrahão, ele, é também um Justo, mas de outra espécie: ele só pensa em


fazer o bem.
Ele não se contenta em ser bom por natureza, para si próprio.
Se ele não visse os outros sua bondade seria imperfeita.
Ser bom é fazer o bem.
A árvore do conhecimento compreende, ao mesmo tempo, o bem e o mal.
Ela é, aliás, denominada árvore do "conhecimento do bem e do mal".
É uma dicotomia.
A árvore da vida é completamente boa: mas a árvore do conhecimento compreende
o bem e o mal: ao mesmo tempo o que ela possui e o que lhe falta!

- Quando o verdadeiro bem se oculta

J. E. — O rabino Michaël Munk escreveu um livro sobre as letras hebraicas.


Ele nos propõe uma explicação do famoso Midrash — comentários rabínicos — que
trata da letra tet: visto que a letra tet é uma tão bela letra, Deus deveria ter
iniciado a Criação com esta letra!
De acordo com os rabinos, antes da Criação do mundo todas as letras teriam se
apresentado diante de Deus.
É, evidentemente, uma imagem.
Cada uma teria reivindicado o privilégio de ser a primeira letra da Torá.
Quando a letra tet se apresentou diante de Deus ela disse: "Eu sou o bem, inicie
Tua criação comigo!".
Segundo o Zohar, Deus teria recusado, lembrando-lhe que o tov — o verdadeiro —
está escondido, como está escrito: "Quão grande é o bem que Tu escondeste para
os que Te temem" (Salmos 31,20): "Tu não és perfeito, pois uma parte de ti está
escondida!", diz-lhe Deus.
Assim, voltando ao rabino Munk, ele propõe uma explicação psicológica.
Ele fala de nossa ignorância do verdadeiro "bem", pois o "bem" é uma concepção
subjetiva: eu quero este carro, portanto é bom para mim!
Em nosso mundo, uma parte do bem nos é inacessível.
O verdadeiro tov, nós não sabemos realmente onde ele se encontra.
Não se trata somente das beatitudes, não se pode esquecer que há também muito
"mal" neste mundo, o que oculta a dimensão do bem.
É por esta razão que pedimos a Deus em nossas preces: "Concede-nos os anseios
de nosso coração para o nosso bem".

A. S. — É o problema do bem, pois ele exige a perfeição.


Ele não pode ser dividido, daí suas dificuldades em se impor aqui embaixo.
Quando se vê quanto aqui reina o mal, compreende-se por que nosso mundo não
pôde ser criado em nome do bem, portanto pelo tet.
Acontece com este bem — tov, o tet — o que acontece às vezes até mesmo a
pessoas muito distintas: a falta de paciência.
Ele não pode coexistir com um mundo tão complexo quanto o nosso.
Se o nosso mundo fosse inteiramente bom, já não seria o nosso mundo!
Pois ele foi construído com a letra bet, signo de dicotomia, ao passo que o tet, por
ser o signo do bem, conota a perfeição.
Em hebraico as pedras preciosas são denominadas "pedras boas"; uma pedra
perfeita é "boa".
Mas nosso mundo não pode ser construído com pedras preciosas.
Do mundo vindouro diz-se: "Tuas portas serão (feitas) de safiras" (Isaías 54,12).
No mundo do além se poderá construir toda uma cidade com diamantes.
Mas aqui embaixo é preciso usar vigas, madeira e metal.
É outra coisa!
É um dos aspectos do tet: ele comporta consequências cheias de sentido e
ambivalentes.
Por um lado, fala-se do instinto do bem e do instinto do mal.
O instinto do bem deseja o bem: é sua natureza.
A vontade de ser bom não procede do bem, mas da oposição ao instinto do mal.
Esta vontade se situa em um mundo imperfeito.
Não é o lugar do tet: este aspira a um mundo melhor.
Tanto mais que o tet, combinado com a letra chet, designa o pecado, em hebraico:
chet.
Ele "completa" o pecado: juntas, estas duas letras constituem o pecado.
Há um aspecto um pouco particular do pecado: ele consiste em sempre querer
melhor.
É um desejo de fazer mais e de querer mais ainda.
Possuo algo, mas quero mais ainda!
E pouco importa que este "mais" não exista: o fundamento de todo pecado é a
tentativa de preencher esta falta.
Ademais, se o pecado fosse inteiramente nu, sem rastro de bem, ele não seduziria!
É preciso, evidentemente, que ele possa parecer "bom".

J. E. — Ele tem necessariamente algo de atraente e sedutor...

A. S. — Senão ninguém pecaria!


É o próprio princípio do pecado: ninguém busca o mal absoluto!
Quando se peca é que se busca algo, mas que seja bom e apetitoso!
É a sedução do pecado: o chet, "pecado", busca encontrar o tet, "o bem".
Eis por que a grafia do pecado é a atração do chet — o pecado — pelo tet, o Bem
absoluto.

- O melhor é o inimigo do bom

J. E. — A ordem das vinte e duas letras sagradas do alfabeto hebraico é sempre


significativa.
A letra chet, que precede a letra tet, designa as pulsões de vida; ela é,
notadamente, a inicial da palavra chaim, que significa "a vida".
Mas combinada com a letra tet ela se torna o contrário: chet, "o pecado".
É paradoxal, pois esta letra em sua essência é uma letra de bênção.
É a inicial da palavra tov: o bom, o belo, o bem.
Mas é também o excesso: eis por que quando o tet se junta ao chet se forma a
palavra pecado.
Já o dissemos: é a combinação do chet — oitava letra — com o tet — nona letra —
que forma a palavra "pecado".

A. S. — O mal busca o bem, mas de modo imperfeito.

J. E. — Eu diria, de preferência, que o "mal" pretende buscar nosso bem!

A. S. — Efetivamente, e esta pretensão existe em qualquer pecado: é para o nosso


"bem"!
Ademais, repito: o pecado que não se reveste de bem não é perigoso!
Ele se torna perigoso quando pretende ser vantajoso para nós.
Por exemplo, caso eu prepare uma refeição que não seja suficiente, posso
completá-la.
Ter fome é apenas um pequeno pecado.
Mas o que dizer de um homem que se senta à mesa de um restaurante por cinco
horas seguidas?
Estas astúcias do mal que pretende ser o bem são correntes na história dos
partidos políticos e também em filosofia.
O comunismo não podia se construir sobre o mal absoluto.
Ele era cheio de ideias generosas, de boa vontade, expressas por pessoas de
qualidade, mas que juntas fizeram dele um pecado!

J. E. — É uma construção muito lógica. Deus cria o mundo, mas o mundo não é
inteiramente bom: o mal está presente.
A bondade profunda e verdadeira está escondida.
Segundo o Talmud, ela será revelada somente aos Tzadikim — os Justos — no
mundo vindouro.
Pois a morte está presente em nosso mundo como dimensão do mal.
A morte está implícita na vida.
E aqui intervém uma exegese bastante surpreendente do Rabi Meier.
Está dito, no fim da narrativa da Criação: "E viu Deus tudo o que fez e eis que era
muito bom" (Gênesis 1,31).
Ao precisar que "é muito bom", Deus se dá um certificado de satisfação.
Ora, Rabi Meier havia escrito em seu Sefer Torá, precisamente neste trecho: "Não
se deve ler meod — muito bom —, mas "mavet" — a morte.
Como se fosse preciso compreender: a vida, isto é bom, a morte, isto é muito
bom!"
Meod e mavet comportam as mesmas letras.
O que significa que é a "morte" que é "muito boa".
A vida é somente "boa"!

A. S. — "Muito" é o extremo. É quando eu quero que o bem seja melhor ainda...


J. E. — Existe justamente em francês uma expressão interessante: "O melhor é o
inimigo do bom".

A. S. — É exatamente isto: o problema daquilo que quer ser "muito bom".


Pois o Santo-bendito-seja desejou um mundo "muito bom" e o criou assim.
Ora, este "muito" o enfraquece, pois inclui o "mal", a "morte" e toda espécie de
males.
Por quê? Porque Deus cria um mundo perfeito: tudo nele existe.
Mas nós não nos contentamos: queremos um mundo ainda melhor.
Salomão dizia: "Não sejas justo demais" (Eclesiastes 7,16).
Muito: é o Anjo da morte.
Aliás, pode-se observar isto em nosso mundo com as pessoas que se drogam.
Eles querem melhor, e é a morte!

J. E, — Em outras palavras: "bom" é a vida, "muito bom" é a morte.


A saber: o fato de tomar consciência do Anjo da morte nos permite ir mais longe.
A palavra meod, "muito", implica uma capacidade de progresso.
Se eu não tivesse consciência de minha "morte", talvez não tivesse um meod em
mim.
Os filósofos nomeiam isto: o sentimento de minha finitude.

A. S. — Lá onde cessa o bem começa a morte.


Esta noção de "limite" existe igualmente em matemática.
Existe um limite que se tenta transpor para sair do campo, mas sem destruir o que
se encontra no campo.
É o problema existencial: melhor, talvez seja bom; muito, não o é mais!
Pior: já é penetrar no mundo do mal.

- O homem — o limite

J. E. — Portanto, esta palavra meod nos indica nossos limites e nos convida a não
os ultrapassar.
É preciso saber que esta palavra é o anagrama da palavra Adam (Adão) — o
homem.
As mesmas três letras: alef, dalet, mem.
Isto nos ensina que a natureza profunda do homem é a busca do meod: do melhor.

A. S. — Está na natureza humana.


Adão e Eva estão no jardim do Éden: uma vida idílica!
Mas falta-lhes algo.
E nesta pequena coisa se encontra a morte.

J. E. — É um ponto importante.
Neste mundo, que é ambivalente, há duas coisas que são, ao mesmo tempo,
opostas e fundamentais na Torá: o puro e o impuro.
Ora, tamê, "impuro", e tahor, "puro",começam com a mesma letra: o tet.
O homem está, portanto, entre o tamê e o tahor, entre o impuro e o puro.
Entre a vida e a morte.

A. S. — Tudo o que foi criado comporta também o "outro lado", é assim que a
Cabalá denomina o "mal".
E, efetivamente, o puro e o impuro começam ambos com a letra tet.
Pois eles somente existem juntos!
O puro só tem sentido em relação ao impuro.
J. E. — É preciso lembrar este magnífico versículo no livro de Jó: "Quem tira o puro
do impuro? Somente o Um" (Jó 14,4).
E o senhor dá um sentido ainda mais forte: sem o impuro não haveria o puro.

A. S. — Exatamente.
Compreendemos este versículo assim: "Somente Deus (o Um) pode transformar o
impuro em puro".
Todavia, tanto o puro quanto o impuro constituem, cada um, um ciclo completo.
E cada um desses ciclos tem sua própria lógica interna.

- 9 vezes 9

J. E. — As letras têm muitas identidades.


Há, em primeiro lugar, a da forma.
Tratando-se do tet, ele tem a forma de um ventre, a vida, e de uma serpente, a
morte.
Mas é também a nona letra; ora, curiosamente, a soma de todos os múltiplos de 9
é invariavelmente 9.
9 x 2 = 18, 8 + 1 = 9;
9 x 3 = 27, 2 + 7 = 9;
9 x 5 = 45, 4 + 5 = 9...
O que significa essa constante?

A, S. — É um círculo fechado: dele não se sai.


De certo modo, 9 é um número perfeito.
É 3 x 3.
Ora, 3 tem certa perfeição.
Portanto, 3 x 3 representa uma forma ainda mais perfeita.
Quanto ao número que vem logo a seguir, 10, é um número sagrado.
Ele pertence a outras categorias do que as do campo do 9 e de seus múltiplos
divisíveis.

J. E. — Lembremos que o 3 é uma perfeição porque ele evoca a tese, a antítese e a


síntese.

A. S. — Efetivamente.
O número 9, sendo um círculo fechado, coloca um problema.
Para ultrapassá-lo é preciso mudar de dimensão: ir ao 10.
Aliás, este número 9, que aparece em uma cantiga que se canta no dia da Páscoa,
designa os nove meses da gravidez.
Por um lado, este tempo é um tempo de plenitude.
Nossos rabinos diziam outrora o que dizem hoje todos os psicólogos: o tempo mais
feliz seria quando estávamos no ventre de nossa mãe!
É a letra tet: a gravidez.
Mas é preciso dele sair para dar a vida.
Encontra-se a mesma ideia na Cabalá, se consideramos a função das nove
primeiras sefirot — as dez hipóstases que constituem o modelo do universo — no
seio das dez sefirot.
Elas são construídas em tríades de três: é mais uma vez o tet.
Mas elas só podem se desenvolver indo mais longe: através da décima sefirá.

- A letra da serpente

J. E. — Todas estas ambiguidades que evocamos — a morte, a vida, o puro, o


impuro... — se encontram no modo pelo qual se pronuncia a letra tet.
Pode-se pronunciá-la tit: é a lama, o barro.
E os rabinos nos lembram que Adão nasceu da lama.
A. S. — O homem está encerrado em sua condição material.
Somente Deus pode ser o "bem" perfeito.
Para os homens isto é impossível.

J. E. — Salvo o fato de que o tet tem a forma de um ventre — o que dá a vida —,


ele também tem a forma de uma serpente — nachash.
E o anagrama da palavra nachash dá a palavra choshen — o peitoral usado pelo
grão sacerdote, o cohen gadol.
Qual é a relação entre a serpente e a letra tet?

A. S. — É exatamente o círculo perfeito.


A serpente que morde sua cauda.
Aliás, a primeira serpente, a do Gênesis, é precisamente aquela que propõe aos
homens "ainda mais bem".
Ela diz a Adão e Eva: "Vocês não têm o suficiente: vocês poderiam ser perfeitos!".
Ela quer a perfeição absoluta.
Aliás, o número 9, pelo fato de ter a forma da argola e de seus múltiplos serem
sempre iguais a 9, tem algo que diz respeito à perfeição que conhecemos.
Por exemplo, os gases raros.
Eles não suportam qualquer mistura.
Por quê?
Porque são perfeitos.
Nada lhes falta.
E eles não têm nada em demasia.
E é por isso que subsistem sem fazer nada.
Para que a vida seja possível, é preciso que as coisas se mexam.
A serpente, que se fecha sobre si própria, não é perfeita, assim como a gravidez: é
um tempo magnífico, mas que não pode persistir.
Eis por que o tet deverá ir mais longe e mais alto: quer dizer, a letra iud, a décima
letra.

Por: Josy Eisenberg e Adin Steinsaltz


As Letras Hebraicas – Parte 14


Yud (Yod)

Som: Y

Significado: O significado da palavra Yud é o de uma mão; impulsionar.


O Yud é a menor letra do Aleph Beit.
Apesar disso, o Yud tem grande força e energia primal.
O Yud é um dínamo, uma usina.
Yud tem a mesma raiz hebraica de  , ―yad‖, que significa ao mesmo tempo "mão"
e "poder".
Na verdade, o pequeno Yud contém o infinito.
Segundo a teoria do bigbang da criação do universo, toda a matéria emergiu de um
pequeno ponto, que explodiu, expandiu-se e gradativamente aglutinou-se em
galáxias e sistemas solares.
O Yud representa aquele ponto inicial, aquela pequena semente da qual brota toda
a criação.
O Yud é a força elemental e desencadeante da vida.
A raiz hebraica de Yud significa também "impelir".
Depois do casamento do Chet e da concepção e gestação do Tet, o Yud impele a
própria manifestação.
O Yud é uma letra cósmica.
É a única letra do Aleph Beit suspensa no ar, sem um apoio no solo deste mundo.
O Talmud ensina que Deus usou a letra Hei para criar "Este Mundo", enquanto a
letra Yud foi criada para criar "O Mundo Futuro".
Na gramática do hebraico o Yud indica, do mesmo modo, o Mundo Futuro
denotando o tempo futuro dos verbos.
A energia primordial e desencadeante do Yud se manifesta em alguns dos mundos
que ele inicia.
O Yud é a primeira letra do santíssimo nome de Deus, o  , Yud-Hei-Vav-Hei (ou
YHVH).

Há uma abreviação de YHVH grafada com dois Yuds, o honorifico ― ‖ que
geralmente se lê como Adonai e se traduz como "Senhor".
O Yud inicia um outro nome comum da Divindade,  , Yah.
É também a primeira letra do povo judaico,  , Yisrael, assim como de
-, "judaísmo", -, "judeu", e - , "Jerusalém".
A menor de todas as letras é a que inicia as palavras mais poderosas.

Conceito: O conceito da letra Yud é a concentração do infinito dentro do finito.


A menor das letras nos remete à sensibilidade.
Toda a doença começa na perda de sensibilidade, na perda da escuta sensorial,
escuta do tato. Se nós recuperarmos essa sensibilidade, passamos a perceber com
muito mais propriedade as nossas necessidades, porque o Sagrado o tempo todo
nos comunica as nossas necessidades.
O Yud contém o infinito.
Toda matéria surgiu de um pequeno ponto que explodiu (Big bang).
É a menor letra, mas tem uma grande força e energia primal – é a semente que dá
origem a toda Criação.
A palavra Yud quer dizer impulsionar ou impelir.
Vem da palavra Yad que quer dizer mão, poder.
A mão é o grande agente transformador e a transformação deve ser o agente
impulsionador da nossa vida. A mão simboliza a potência, a supremacia, a força.
As sefirot tem uma relação com os dedos das mãos.
Em equilíbrio são divididas em 3 colunas mas também podem ser ser expostas em
apenas duas ordens: direita e esquerda.
Quando saem do estado de equilíbrio e deslocam-se a direita ou a esquerda, uma
poderosa tensão é promovida - poderosas forças espirituais são canalizadas.
Diversas ações utilizam as mãos para canalizar forças espirituais: Bênção
sacerdotal, bênção para os filhos, abrir as mãos durante a oração.
A Guematria de Yad (mão) é 14.
A mão tem 14 falanges.
A união das duas mãos (14+14) produz uma força, chamada ―koach‖.
Na Cabala, Koach é nossa Santidade escondida, é a permanência da Luz no meio
das trevas.
Coach é a qualidade essencial de Chochmah, o receptáculo original, a centelha
capaz de iluminar todas as Sefirot.
Chochmá é o nível da alma correspondente a letra Yud no Tetragrama.
Depois do casamento simbolizado pela letra Chet e da gestação do Tet, a letra Yud
impele a manifestação (filho).
Na gramática esta letra denota o tempo futuro dos verbos.
Segundo o Talmud a letra Hei criou ―esse mundo‖ e Yud existe para ―criar o Mundo
futuro‖, representando no Tetragrama, o plano mais elevado da Árvore da Vida.
Força de transformação – nos leva para uma poderosa onda de mudança ( a
palavra êxodo começa com Yud) – somos levados para um novo nível de
experiência.
Estimula à objetividade, à concentração.
Desperta a capacidade de abandonar o que não é mais necessário e clareza no que
queremos levar para o futuro.
É a menor letra e nos remete ao conceito de pequenez e humildade com grandeza
– reduzir o ego sem subestimar nosso grande potencial para criatividade, o amor e
a libertação.
O desafio do Yud é sentir-se estável em meio à mudança.
O Yud é uma representação simbólica do tsimtsum.
O ―Tzimtzum‖ é um dos mais importantes conceitos filosóficos da Cabalá. Essa
teoria explica a auto-restrição da Luz Divina por um ato de livre escolha, a fim de
gerar um espaço para Criação. Literalmente ―Tzimtzum‖ quer dizer ―restrição‖,
―redução‖, possuindo ainda a idéia de ―contração‖.
Yud é a capacidade de agir.
Yud é um simples ponto mostrando duas direções: alta e baixa.
É uma das letras pai que derivam das mães. Yud deriva da letra Mem, ligada a
energia da água e da sefirá de Chochmá.
―Yud é a imagem do eixo de uma roda cujo impulso mínimo pode desenvolver um
imenso movimento‖.

Formato: A letra Yud é um ponto suspenso, com uma ponta projetando-se para
cima e um apêndice seguindo para baixo.
É a única letra do alfabeto hebraico que flutua; todas as outras têm uma base de
apoio na linha.
Isso é um indicativo de que a letra Yud tem o potencial de vencer a energia da
gravidade.
O Zohar, há mais de 2.000 anos atrás, já falava que a força da gravidade é uma
energia negativa, porque puxa você para um mundo denso.
A energia da letra Yud seria a grande fórmula de salvação para que você possa não
ter a inclinação pelo lado negativo – Virgem = purificação.

Número: Yud representa o número 10.


O poder do Yud reflete-se também em seu número.
O Yud vale dez.
As crianças aprendem a contar nos dez dedos de suas yadayim, mãos.
(No hebraico, a palavra "mão", , yad, também conota, como em inglês, "poder",
como na expressão "mão de Deus".)
Dez é a base do sistema decimal.
Deus criou o mundo com dez pronunciamentos.
Existem dez mandamentos e dez Sefirot, ou ramos, da Árvore da Vida, e são
necessárias dez pessoas para completar um quórum de prece, ou minyan.
O dia mais importante do calendário judaico é o Yom Kippur, o décimo dia do novo
ano.
O basilar e dinâmico número Yud, dez, é a base de nossa capacidade de medir a
existência.

Espaço: No espaço, Yud representa a Constelação da Virgem.

Tempo: No tempo Yud é responsável pela criação de Elul.

Corpo: Na alma e conseqüentemente refletindo no corpo, Yud está relacionada a


mão esquerda.

Medicina: Yud nos desenvolve o tato, a sensibilidade,o sensorial.

Qualidade: Ação.

Arquétipo: Gad.

Aplicação:
Alinhar-se com o movimento e a mudança deixando claras as prioridades e
abandonando o que não é mais necessário.
"Que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu
Deus."

Sombra:
Perder o chão, "desligar-se".
Movimento excessivo e frenético.

Reflexão:
Qual é a melhor maneira de concentrar nossas energias para aproveitar a onda de
transformação do Yud com o máximo de graciosidade possível e chegar em
segurança a um lugar novo?
Estarei preso a opiniões e apegos do ego capazes de impedir o poder transformador
do Yud, ou de tornar a viagem mais difícil?
Que espécie de futuro você quer?

Ação sugerida:
Dê hoje mesmo um pequeno passo em direção à realização desse futuro.

Canal-Caminho: De Tiferet a Netsach

Sefer Yetziyrah: ―Ele fez a letra Yud reinar sobre a ação, coroou-a, combinou-a
com cada uma das outras e, com elas, formou: Virgem no Universo, Elul no ano e a
mão esquerda na Nefesh...‖ (S. Y. 5.12)

Comentários:
Segundo o Zohar, todas as letras já existiam antes de Bereshit (criação).
O que dá origem ao Ein Sofer Or (antes do Bereshit) é a letra Yud; é um ponto
central no vazio onde toda a realidade densa e física está concentrada.
No momento em que este Yud se rasga, ele forma uma fenda – o Vav é um Yud
que se rasga, que se estica.
Neste momento, esta fenda se inclina e se parte, formando dois Yud, dando origem

à letra Aleph ( tem um Vav inclinado no meio, e dois Yud, um acima e outro
abaixo).
Os dois Yud são as águas de cima e as águas de baixo, a realidade espiritual e a
realidade física.

Yud vem de "yad", a ―mão‖ com o punho e os dedos estendidos.


Esta letra simboliza, por seu valor, o fato de o mundo ter sido criado por dez
palavras.
Yud é a menor letra do alfabeto e, no entanto, é a que contém mais poder.
Ela nos mostra que o mais ínfimo dos germes pode produzir o maior dos universos
e a menor das intenções resultar em grandes forças.
Yud é a imagem do eixo de uma roda cujo impulso mínimo pode desenvolver um
imenso movimento.
Ele simboliza o poder de manifestação e de ação tal qual a mão no corpo.
Yud é a menor letra do alfabeto hebraico, mas a primeira do Tetragrama, por isso é
associada ao Eterno.
Toda vez que Yud é reforçada ou excluída em um texto da Torá, sabe-se que ali a
Presença Divina desempenha um papel importante.
Antes de enviar Hoshua para a Terra Prometida, por exemplo, Moshé acrescenta
uma letra Yud ao seu nome, tornando-o Yehoshua (Josué).
Este recurso permitiu que ele não fosse influenciado pela opinião dos outros 11
espiões - respeitados líderes de suas tribos.
Por ser a única letra que se sustenta no ar, Yud representa a superação da
natureza material e dos condicionamentos robóticos, o que se estende para o
conceito de ―emuná‖ ("certeza") - aquilo que nos sustenta mesmo sem uma base.
Yud é a força que nos impulsiona para buscarmos o sagrado, a "mão do Eterno"
(yad - "mão") que eleva o espírito humano.
Meditar na letra Yud nos coloca em contato com a Shechiná (Presença Divina) e
retifica o nosso Malchut, o receptor que dá forma à Luz Espiritual em nossas vidas.

Segundo o Zohar, todas as letras já existiam antes de Bereshit (criação).


O que dá origem ao Ein Sof Or (antes do Bereshit) é a letra Yud; é um ponto
central no vazio onde toda a realidade densa e física está concentrada.
No momento em que este Yud se rasga, ele forma uma fenda – a letra Vav é um
Yud que se rasga, que se estica.
Neste momento, esta fenda se inclina e se parte, formando dois Yud, dando origem
à letra Aleph (ver o formato da mesma – tem um Vav inclinado no meio, e dois
Yud, um acima e outro abaixo).
Os dois Yud são as águas de cima e as águas de baixo, a realidade espiritual e a
realidade física.

A letra yud, um pequeno ponto suspenso, revela a faísca do bem essencial oculto
dentro da letra teth.
Após o tzimtzum, a contração da Luz Infinita de D’us para ―fazer lugar‖ para a
Criação, ainda permaneceu dentro do espaço vazio um ponto único e potencial, ou
―impressão‖.
O segredo deste ponto é o poder do Infinito de conter fenômenos finitos dentro
dEle e expressá-los para a aparente realidade exterior.
A manifestação finita começa de um ponto dimensional zero, desenvolvendo-se,
posteriormente, em uma linha de dimensão única e em uma superfície
bidimensional.
Isto está aludido na soletração completa da letra yud (yud-vav- dalet): ―ponto‖
(yud), ―linha‖ (vav) e ―superfície‖ (dalet).
Estes três estágios correspondem na Cabalá a: ―ponto‖ (nekudá), ―espectro‖
(sefirá) e ―figura‖ (partzuf).
O ponto inicial, o poder essencial do yud, é o ―pouco que comporta muito‖.
O ―muito‖ se refere à Infinitude simples de D’us oculta dentro do ponto inicial de
revelação, que reflete o potencial Infinito do ponto de desenvolver e se expressar
em todos os múltiplos fenômenos finitos de tempo e espaço.

Antes do tzimtzum, o poder da limitação estava oculto, latente dentro da Essência


Infinita de D’us.
Depois do tzimtzum, este poder de limitação foi revelado, e, paradoxalmente, a
própria Essência Infinita de D’us, que ―escondia‖ o poder de limitação, tornou-se
agora oculta (não de verdade, mas apenas dentro da perspectiva humana limitada)
dentro do ponto de luz contraída.
De dentro deste ponto de limitação se revela o segredo das dez sefirot, os canais
Divinos de luz através dos quais D’us continua fazendo Seu mundo existir.

Dez, o valor numérico do yud, é também o número dos mandamentos


(literalmente, ―declarações‖) revelados por D’us ao Seu Povo, Israel, no Sinai.
Todos os mandamentos e, de fato, cada letra da Torá, possui o poder do ―pouco
que comporta muito‖; cada um é um canal para a revelação da Luz Infinita de D’us
dentro da realidade finita.

A décima letra do alef-bet — e também a menor — é o yud.


No nível mais simples, o desenho do yud é um ponto: um ponto que representa o
poder essencial de D'us; o Único D'us, que é indivisível.
Além disso, o yud se parece com uma chama que se eleva sempre mais alta,
representando a alma de um ser humano ansiando por unir-se com D'us.
Além disso, o yud representa o método pelo qual a bênção desce de D'us até o Seu
povo. Yud se escreve Yud+Vav+Dalet
O yud representa uma gota seminal, o poder concentrado de D'us.
O vav representa uma descida, pois sua forma é a de um conduto — e através
disso as bênçãos de D'us viajam aqui para o mundo.
O dalet, tendo altura e largura, representa o mundo físico, significando como as
bênçãos de D'us se manifestam em todo aspecto da natureza.
Isso nos ensina que as bênçãos de D'us não residem apenas no céu.
Elas descem para este mundo corpóreo e nos dotam com saúde física, sustento e
sucesso.
Talvez seja por isso que a primeira letra de cada uma das três passagens da
Bênção Sacerdotal (em hebraico) comece com o yud:
Que D'us te abençoe e te guarde.
Que D'us brilhe Seu semblante sobre ti e seja bondoso contigo.
Que D'us volte Seu semblante para ti e te conceda paz.

Além disso, toda letra do alef-bet começa com o yud, um ponto.


Isso ilustra a espiritualidade inerente de toda letra do alfabeto hebraico, e que a
Torá, e os ensinamentos de D'us são todos para o bem do Yid, ou ―judeu‖.

O equivalente numérico do yud é dez.


Até agora, temos discutido os integrantes do alef-bet com um dígito.
Agora entramos no âmbito dos números com dois dígitos.
Depois do yud, a guematria de cada letra aumenta dez, em vez de um, yud é dez,
kaf é vinte, lamed é trinta, mem quarenta, e assim por diante.
No Judaísmo, o número dez é muito significativo.
No decorrer dos ensinamentos da Torá, Talmud, Cabalá e Chassidut, o número dez
é um tijolo fundamental para todo aspecto da Criação.
Primeiramente, há os Dez Pronunciamentos da Fala com os quais D'us criou o
mundo.
Em seguida vêm as dez gerações de Adam a Nôach,
Houve as dez pragas que D'us enviou sobre o povo egípcio, e dez milagres que Ele
realizou para Seu povo para salvá-lo daquelas pragas.
D'us desafiou o povo hebreu com dez testes no deserto.
E, é claro, D'us nos deu os Dez Mandamentos.

O fato de que o dez representa santidade e Divindade é outro motivo para a


importância do yud.
O Talmud nos diz que quando dez judeus se reúnem, D'us está na presença deles.
O Tanya dá um exemplo do quanto é poderosa aquela congregação.
Declara que se um anjo voasse sobre a sala na qual dez judeus estão reunidos —
mesmo se não houvesse palavras de Torá trocadas entre eles — o anjo seria
queimado para fora da existência pela luz sagrada que irradia de sua energia
combinada.
Este é o poder de dez almas.
E se estas dez almas estão reunidas para estudo de Torá e prece, muito mais
poderosa então é a sua força.
Como sabemos sobre a santidade do dez?
Pela história dos Meraglim — os Espiões.

Moshê enviou doze espiões para percorrerem a Terra de Canaã (a Terra de Israel).
Dois dos espiões, Yehoshua e Calev, fizeram um relatório positivo: "Se D'us
desejar... certamente podemos subir e conquistá-la"'. Os outros dez reportaram
negativamente: "Não podemos enfrentar aquelas pessoas... É uma terra que
devora seus habitantes".
D'us respondeu: "Quanto tempo mais devo permanecer entre essa perversa
congregação (edá)?" referindo-se obviamente a estes dez homens.
Com isso aprendemos que uma congregação (edá) refere-se a um grupo de dez,
um minyan.
Muitas perguntas importantes logicamente se seguem.
Por que o conceito de dez homens constituindo um minyan é baseado no fato de
que houve dez espiões perversos retornando da Terra de Israel?
Como sabemos, em última análise, que dez traidores representam uma prova de
que D'us somente pode habitar entre uma comunidade de pelo menos dez, e que a
Shechiná (uma manifestação da Divindade) pode existir somente nesse tipo de
reunião?
Examinando a traição dos espiões, notamos que, na essência, eles não foram
pecadores tão graves.
Os Espiões eram os líderes de dez das Doze Tribos.
Foram pessoas sagradas.
Quando Moshê os enviou para a Terra de Israel, eles viram uma terra linda, o solo
rico, um clima maravilhoso, e frutos grandes, suculentos.
Quando voltaram, disseram a Moshê: "É uma terra que devora seus habitantes" —
querendo dizer — "Não é que não possamos conquistar fisicamente os habitantes
de Canaã, mas se morarmos neste ambiente materialista, não há maneira de
conseguirmos manter nosso nível espiritual atual. Seremos engolidos pelo seu
materialismo."
D'us nos escolheu para estudarmos Sua sagrada Torá.
Ele nos escolheu para sermos uma luz entre todas as nações do mundo.
Como poderia o povo hebreu conseguir isto se, morando em Israel, cedendo a este
mundo de fisicalidade, eles se esquecessem das suas responsabilidades?
Em vez de estudar e rezar o dia inteiro, eles estariam trabalhando o solo.
Estariam colhendo a deliciosa produção. E se esqueceriam de tudo aquilo pelo qual
vieram.
No deserto, o povo hebreu foi essencialmente sustentado.
Eles tiveram maná do Céu para comer. Tinham água do Poço de Minam para beber.
Suas roupas eram lavadas e mantidas pelas Nuvens de Glória. Portanto, o que
faziam o dia inteiro?
Eles discutiam as instruções e mergulhavam em seus segredos.
Na Introdução à Mishná de Rambam, ele discute como a Lei Oral foi entregue ao
povo. A cada vez que D'us dava uma lei a Moshê, este a ensinava quatro vezes:
primeiro a Aharon, depois aos filhos de Aharon, então aos setenta anciãos, e depois
ao povo judeu...
Depois disso tudo, a nação se dividiu em pequenos grupos e discutiu a lei
particular, analisando-a repetidamente até que estivessem certos de cada um dos
seus aspectos.
Esta era a rotina diária do povo hebreu no deserto.
Os espiões de Moshê eram grandes eruditos de Torá e hebreus sagrados.
Eles disseram: "Vejam, se estamos indo para a Terra de Israel, não teremos tempo
para sentar e discutir todos os mínimos detalhes da Halachá. Não teremos a
oportunidade de analisar a lei em profundidade, ou transmiti-la escrupulosamente
aos nossos filhos. Por este motivo, Israel é uma terra que devorará seus
habitantes. O povo hebreu ficará imerso no físico, e não no espiritual."
Os espiões portanto disseram a Moshê: "Não queremos ir."
Obviamente isso era um pecado, mas por que era um pecado pelo qual foram
mortalmente punidos?
Porque a intenção original e fundamental de D'us ao nos trazer ao mundo não foi
para evitar a fisicalidade, mas para transformar o físico em espiritual.
Este é o supremo objetivo da nação hebraica.
Portanto o episódio dos Espiões representa um paradoxo bastante singular.
Eles pecaram porque não seguiram o objetivo Divino de conquistar a terra.
Por outro lado, eles tinham um argumento válido.
Sabiam das tentações que esperavam pelo povo.
Agora imagine este cenário. Uma mãe acorda o filho de oito anos para ir à escola e
ele diz: "Não! Não quero ir e não vou!" Como a mãe reage? Ela diz: "Levante! Você
vai para a escola queira ou não queira" — ou — "Oh, você não quer ir para a
escola? Não há problema. Mas terá de ficar na cama pelos próximos quarenta
anos!"
Obviamente ela dirá para ele ir à escola.
Da mesma forma, quando os Espiões disseram: "Não queremos ir para a terra," por
que D'us simplesmente não os ignorou e exigiu que fossem mesmo assim?
Porque eles não estavam preparados.
Havia muito mais estudo para ser feito.
Ora, se apenas estivéssemos ao nível dos Espiões — comprometidos com o estudo
de Torá e ansiando por sermos espirituais e conectados a D'us todos os minutos do
dia!
À sua própria maneira, os Espiões queriam que a era de Mashiach começasse
naquele mesmo instante.
Porém a época simplesmente não era a certa.
Primeiro, o povo hebreu tinha de entrar na Terra.
Eles tinham de trabalhá-la e levar seus frutos a D'us, exemplificando como tudo
neste mundo físico está conectado ao espiritual.
Então, e somente então — naquela era e na nossa — estaríamos prontos para a
vinda de Mashiach.
Esta é a riqueza da passagem da qual derivamos o conceito de um minyan.
Até o dia de hoje, sempre que dez ―judeus‖ se reunirem por qualquer motivo, é um
quorum de santidade..

O significado do yud é um Yid — um ―judeu‖.


O yud pode representar também um yad — a mão, uma alusão a D'us, pois
dizemos que D'us os tirou do Egito com uma mão poderosa.
Como diferenciamos entre o yud que representa D'us e o yud que se refere ao
homem?
Vemos muitas vezes em nossos livros de preces que o Nome de D'us é composto de
dois yuds consecutivos, um imediatamente após o outro.
Os dois yuds constituem uma força vital em dois dos nomes de D'us:
O primeiro nome de D'us, o Tetragrama, é escrito — Yud — Hei —Vav — Hei.
O Tetragrama representa D'us como Ele é além da natureza.
O segundo nome de D'us é Adonai — que é — Alef — Dalet — Nun — Yud.
Isso significa como D'us, o Mestre do Universo, Se manifesta na natureza.
O yud no início do Tetragrama e o yud ao final de Adonai vêm juntos — um yud
seguido pelo outro yud — para representar uma fusão dessas duas expressões da
Divindade.
Esta fusão é uma afirmação do fato de que embora vivamos num mundo físico de
"ordem" natural, D'us é verdadeiramente o único Criador da natureza.
O yud é também a primeira letra nos dois nomes para um judeu.
O primeiro é Yisrael –
Os judeus são chamados benei Yisrael — os filhos de Israel.
Yisrael significa tanto "Eu sou a cabeça", como "Ministro de D'us".
A terminologia "ministro de D'us" representa o aspecto espiritual de um judeu
quando ele reza, estuda Torá, realiza atos de amor, bondade e todas as outras
mitsvot.
O segundo nome para um judeu é benei Yaacov — os filhos de Yaacov.
Yaacov é uma fusão fonética da letra yud e a palavra ―akev‖.
Yud representa D'us.
Akev significa "calcanhar", a parte mais baixa do homem.
O calcanhar é aquilo que usamos para pisar sobre a terra.
Portanto, a missão de um judeu é seguir até as profundezas do mundo materialista
e infundi-lo com o yud de D'us, com Divindade.
Isso não é verdadeiro somente no que diz respeito à terra de Israel ou a sinagoga.
Refere-se a todo lugar em que um judeu põe o pé.
Devemos viajar do Shabat até o dia de semana e da prece aos negócios com a
mesma intenção, com a mesma paixão de cumprir e completar a criação de D'us.
Dissemos que há dois nomes para um judeu.
Mas de onde realmente deriva a palavra "judeu" (―yehudi‖ em hebraico)?
Nem sequer vemos o termo Yehudi em nossos textos até a Meguilá de Esther, o
rolo que lemos em Purim.
Na Meguilat Esther, Mordechai se recusou a inclinar-se ao perverso Haman.
Está escrito: "Um homem, um judeu (ish Yehudi), estava em Shushan, a capital, e
seu nome era Mordechai."
O Talmud observa que Mordechai não veio da tribo de Yehuda.
Ele pertencia à tribo de Binyamin.
Ele deveria portanto ter sido chamado "Mordechai o Binyaminita (Yemini),"
O Talmud continua, e declara que todo aquele que nega a idolatria e assim
reconhece a D'us é chamado um Yehudi —Yehuda, ou o judeu.
É interessante notar que a letra yud, quando colocada no início de uma palavra,
representa a constância.
Este conceito é ilustrado no versículo em Yiov: "Assim Yiov faz (yaase) todos os
seus dias."
O verbo ―assá‖, "fazer", se referiria tipicamente a uma realização de uma única vez.
Aqui, no entanto, um yud o precede.
O yud habilita ―assa‖ com continuidade.
Yiov fez oferendas queimadas para seus filhos não apenas esta única vez, mas todo
ano naquela época — todos os seus dias.
O mesmo conceito é verdadeiro sobre o nome de D'us.
O nome de D'us é escrito Yud-Hei-Vav-Hei.
A palavra ―hove‖ (Hei, Vav, Hei) significa "o presente".
D'us cria continuamente o mundo — agora mesmo, até enquanto você está lendo
isso.
O yud na frente de ―hove‖ nos lembra que a Criação não foi uma ocorrência
singular.
Em vez disso, D'us está formando o mundo novamente a cada momento.

A palavra Yehudá (i.e., Yehudi) — o judeu, também começa com um yud.


O Alter Rebe explica que Yehudá significa "louvor" e "reconhecimento"
(etimologicamente, vem da palavra ―hod‖, louvar).
Um judeu, por natureza, louva a D'us.
Porém isso não é feito meramente uma ou duas vezes durante a vida, ou sequer
uma ou duas vezes ao dia.
O louvor é expresso a todo momento de nossa existência terrena.
Este é o ―yuid‖ que é colocado antes da palavra radical ―hod‖, "louvar".
Representa o desejo contínuo e inato de um judeu louvar a D'us.
Obviamente, alguns dias aquele desejo pode estar oculto e podemos não estar
conscientes dele. Mas jamais pode obscurecer a conexão perpétua e irrestrita do
judeu com D'us.
À luz desse fato, podemos reexaminar um dos períodos mais sombrios da história
judaica.
Hitler — que seu nome seja apagado — forçou todos os judeus a usarem uma
estrela amarela com a palavra "Jude" (i.e., Yehudi) sobre ela.
Em retrospecto, podemos dizer que a tentativa de Hitler de extinguir a centelha
judaica na verdade serviu para reacendê-la e distingui-la.
Usar a estrela significava que até nos tempos mais horríveis, o povo judeu jamais
deixaria de amar e louvar a D'us.
Yehudá — louvar a D'us constantemente — está entranhado em nosso próprio ser.
Yud. O poder indivisivel de D'us. Sua mão, Seu nome. Um corredor até um nível
elevado de conexão e entendimento— para sempre entranhado em nosso nome
judaico e em nosso desejo inerente de louvar a Ele.

Aplicação
O Yud conserva a energia da criação original, dessa vez expressa como força
transformadora.
O Yud nos leva com rapidez, numa poderosa onda de mudança, para o amanhã,
para o mundo futuro.
A palavra "êxodo", , yetziyah, começa com essa letra.
Quando o Yud impele sua própria manifestação em nossa vida, nós estamos sendo
empurrados, querendo ou não, para um novo nível de experiência.
Um êxodo pode ser assustador, estimulante, trágico, promissor.
O Yud nos mostra que, não importa o que pensemos de um êxodo, é impossível
apegar-se ao passado.
A vida está continuamente nos empurrando para o desconhecido.
A tremenda energia do Yud se concentra em sua forma pequena.
A letra, que em si mesma é pouco mais do que um ponto, nos estimula à
objetividade, à concentração.
Qual é a melhor maneira de concentrar nossas energias para aproveitar a onda de
transformação do Yud com o máximo de graciosidade possível e chegar em
segurança a um lugar novo?
Podemos ser obrigados a priorizar, a abandonar o que não é mais necessário, a ter
clareza quanto ao que realmente queremos levar conosco para o futuro.
O Yud é uma letra de grande força, mas, por ser tão pequena, simboliza também a
humildade.
O Yud certamente não é pretensioso, orgulhoso, ostentatório.
Seu poder é contido, quase oculto.
É fácil subestimar o Yud.
Moisés, um homem tímido por seu defeito de fala e descrito na Torah como "mui
manso" (Núm. 12:3), conduziu, apesar disso, uma nação inteira ao êxodo, da
escravidão para a liberdade.
O monte Sinai, onde esse homem modesto falou diretamente com Deus e recebeu
a Torah, era uma montanha relativamente pequena e de aparência nada
imponente.
Mesmo os hebreus eram, e ainda são, uma tribo pequena.
A Torah os descreve como "menos em número do que todos os povos" (Deu. 7:7).
A pequenez e a humildade, porém, não impedem a grandeza.
"Deus exalta quem se humilha", diz o Zohar.
O Yud nos convida a nos humilhar e a reduzir o apego ao ego, mas ao mesmo
tempo sem subestimar nosso enorme poder e potencial para a criatividade, o amor
e a libertação.
Miquéias preceitua agir de acordo com a energia do Yud: "Que pratiques a justiça, e
ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus" (Miq. 6:8).
Percorrer o mundo com esse tipo de atitude é um êxodo do egoísmo estreito para
liberdade expansiva.
Um poema do poeta sufi Rumi expressa o paradoxo representado pelo Yud:
Sou tão pequeno que mal posso ser visto.
Como é possível um amor tão grande dentro de mim?
Veja seus olhos.
São pequenos, mas vêem coisas enormes.

É claro que é mais fácil falar de humildade do que praticá-la.


Havia dois comerciantes ricos que competiam para ver quem era mais devoto.
Depois de encerradas as longas cerimônias na sinagoga e de todas as outras
pessoas terem ido embora, os dois permaneceram em seus lugares e continuaram
rezando.
Ali ficaram, enquanto o shamash, ou zelador, do templo varria o chão e arrumava
as coisas em torno deles.
Por fim, um dos comerciantes levantou-se e proclamou em voz alta:
"Aos olhos de Deus, não sou nada!" — e sentou-se.
Pouco depois o segundo comerciante se levantou e bradou:
"Aos olhos de Deus, não sou nada!".
E em seguida sentou-se.
O shamash, que estivera observando, impressionou-se bastante e, inspirado, gritou
também: "Aos olhos de Deus, não sou nada!".
O primeiro comerciante voltou-se, então, para o segundo, apontou para o shamash
e sussurrou, sarcasticamente: "Veja só quem pensa que não é nada!".
O Yud não convida à modéstia falsa e afetada.
Ele representa, ao contrário, a profunda humildade do momento em que
percebemos que há um grande fluxo de energia cósmica impelindo a nós e ao
universo adiante, em direção ao futuro.
Há forças maiores em jogo do que nossas pequenas vontades.
Quando abandonamos a ilusão do controle e nos harmonizamos com o profundo
poder de transformação do Yud, o futuro pode ser menos inquietante, e a
mudança, menos traumática.
Aperte seu cinto — o Yud está levando você para a melhor viagem de sua vida!

A Sombra do Yud
Por ser a única letra suspensa no ar, o Yud é a menos sólida de todas as letras do
Aleph Beit.
Um dos perigos do Yud é o de perder o chão, "desligar-se".
Quando estamos concentrados demais no êxodo, no avanço para o "Mundo Futuro",
podemos perder o que está bem aqui, à nossa frente.
Quando estamos com a cabeça nas nuvens, podemos tropeçar na pedra que há no
meio do caminho.
Precisamos prestar atenção no presente, mesmo enquanto avançamos para o
futuro.
O Yud se move rápida e poderosamente e introduz essas qualidades
transformadoras em nossa vida.
O movimento excessivo e frenético, porém, pode ser incômodo ou prejudicial.
Às vezes basta que a mudança nos surpreenda e já não sabemos mais onde
estamos.
Mas outras vezes, com uma intenção ou ação bem definida, podemos temperar a
mudança, desacelerá-la um pouco até atingir um ritmo e um alcance mais
manejáveis.
Mudar por mudar é muitas vezes inútil.
Mas mudar é inevitável.
O desafio do Yud é o de sentir-se estável mesmo em meio à mudança.

Comentários Pessoais por Richard Seidman


"Para onde estamos indo?", pergunta um dos batutinhas a Stymie no velho seriado
de cinema Our Gang, numa cena em que os garotos estão descendo uma ladeira
num carrinho improvisado.
"Eu não sei, amigo, mas já estamos chegando!", responde Stymie.
Quando o Yud me impulsiona adiante, e sinto o vento soprar em minhas orelhas, e
sei que há alguma mudança radical acontecendo, cada vez mais veloz, penso em
Stymie.
"Já estamos chegando!"
O Mundo Futuro está vindo rápido.
A humildade, então, aparece naturalmente, quando percebo que não faço idéia do
que vai acontecer depois.
Em momentos assim, rezo pedindo graça e compostura diante da mudança, e
suplico a Yah, a Yud-Hei, que me dê proteção e orientação.

Textos Complementares:

 Yud - Yosef (José)


Disse José a seus irmãos: "Agora chegai-vos a mim."
E chegaram-se.
Então, disse: "Eu sou José, vosso irmão — a quem vendestes para o Egito. Agora,
pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me haverdes
vendido para aqui; porque, para conservação da vida, Deus me enviou adiante de
vós. Porque já houve dois anos de fome na terra, e ainda restam cinco anos em
que não haverá lavoura nem colheita. Deus me enviou adiante de vós, para
conservar vossa sucessão na terra e para vos preservar a vida por um grande
livramento. Assim, não fostes vos que me enviastes para cá, e sim Deus, que me
pôs por pai de Faraó, e senhor de toda a sua casa, e como governador em toda a
terra do Egito."
Gênesis 45:4-8

A lenda de José é uma das mais dramáticas de toda a história.


Nascido como primeiro filho de Jacó com sua amada esposa, Raquel, José é um dos
doze filhos que formarão as doze tribos de Israel.
Mas José é diferente de seus irmãos, que são filhos de Lia e de duas servas — ele é
obviamente o preferido e o herdeiro espiritual da família.
Ele e seu irmão menor, Benjamin, que nasceu de Raquel, que morreu ao pari-lo,
foram sempre tratados de maneira diferente dos outros dez meninos.
Quando, já adolescente, José começou a ter sonhos de superioridade — sonhos nos
quais ele prevê que seus irmãos irão um dia curvar-se diante dele —, seus irmãos
decidem que já tiveram o bastante desse "sonhador".
Eles o jogam numa fossa escura e o vendem como escravo.
Depois disso, eles tiram sua túnica especialmente multicolorida, embebem-na em
sangue como prova de que ele foi morto.
Eles então vão até Jacó e comunicam a "morte" do irmão.
Entretanto, em vez de desaparecer na obscuridade de uma vida de escravo, uma
vez no Egito, José conseguiu usar seus talentos para subir ao topo, interpretando
sonhos e ganhando uma reputação que iria conduzi-lo ao palácio do Faraó para
interpretar as visões inexplicáveis do governante.
Quando José se mostrou capaz de ver a mensagem oculta nos sonhos do Faraó
com sete vacas magras devorando sete vacas gordas como sinal de sete anos de
abundância seguidos de sete anos de miséria, ele foi promovido a segundo
comandante do Faraó e abriu seu caminho para o comando do Egito num período
crucial da história.
Quando a fome se instalou, Jacó enviou seus outros filhos para o Egito em busca de
provisões — e, assim, eles entraram em contato com o irmão que atraiçoaram
tantos anos antes.
Não reconhecendo o José já adulto, seus irmãos curvaram-se diante do homem que
eles tomaram por um líder egípcio.
Depois de muitos meses testando os homens e mandando-os de um lado para
outro entre o Egito e Canaã, José finalmente se revelou como o irmão há muito
perdido e mandou buscar seu pai.
Depois de todo esse tempo, o seu sonho inicial finalmente se concretizou: ele
conseguiu tal posição de poder que seus irmãos se curvaram diante dele e, assim,
ele teve sua vingança.
Mas em vez de demonstrar sua dor e raiva, José disse a eles que entendia que tudo
que havia acontecido foi para levá-lo onde estava — a inveja deles e a trama contra
ele, o tempo que servira como escravo e tudo mais —, era para ser, porque em
conseqüência disso, ele era capaz de prover alimento para a família numa época de
fome devastadora.
A maioria de nós não consegue nem imaginar-se no lugar de José, sendo tão
"grande" quanto ele foi.
A raiva que sentimos contra o que aconteceu no passado torna-se uma força que
domina os nossos atos.
Mas José, talvez pela quantidade de tempo que havia se passado, ou talvez pelo
conhecimento inato da natureza do mundo, vê o reencontro de maneira diferente:
ele quer se assegurar de que seus irmãos estão arrependidos de seus atos, mas
quando percebe o remorso deles, ele parece abrir mão de sua própria raiva e
necessidade de vingança.
Dessa maneira, José consegue centrar-se no presente em vez de no passado e se
dispor a seguir em frente com sua família agora reunida.
A vida toda de José foi de sonhos e realizações.
Sendo um sonhador nato, ele sempre soube que as imagens que via em sua mente
não eram meros produtos de sua imaginação, mas sinais de coisas que iriam
acontecer em sua vida real.
Quando jovem, esse conhecimento era visto como esnobismo, mas já adulto,
amadurecido por suas árduas experiências, o seu dom passou a ser valorizado e
acabou levando-o a reunir-se com a família.
O Yud, sendo a menor letra do alfabeto hebraico, é muitas vezes considerado como
sendo um "ponto".
Esse ponto minúsculo encontra-se no âmago de nosso coração — é a força
propulsora que nos move de uma fase da vida para outra, a motivação que nos
acompanha em cada ação que realizamos.
José sofreu por seu ponto essencial (seu talento), mas com o tempo, ficou claro
para todos que ele não era um mero sonhador, mas um profeta e que todos os
seus sonhos um dia se tornariam realidade.
A carta Yud aparece em momentos de escuridão física ou espiritual.
Como José, você foi lançado numa cisterna metafórica e terá que redefinir sua vida.
Você pode se sentir incompreendido, não valorizado ou simplesmente confuso — a
única saída dessa escuridão é pelo reconhecimento do pequeno ponto em sua alma
que o leva a seguir em frente na vida.
José ensina sobre o poder de acreditar em si mesmo.
Você precisa saber que sua vida é sempre repleta de propósitos e que tudo que
acontece com você tem uma razão de ser.
A chave para a realização pessoal está no reconhecimento de sua singularidade e,
então, em aprender como aplicar seus talentos especiais para mudar seu mundo e
chegar a uma compreensão clara de seu passado, presente e futuro.
Medite sobre o poder do perdão.
Procure ser mais como José que, por ter perdoado seus irmãos pelos atos
cometidos, consegue reunir de volta a sua família.

Por: Deepka Chopra

O Alfabeto Sagrado – Iud: Dez sobre dez

Josy Eisenberg — Abordamos agora uma letra particularmente importante.


Todas as letras têm sua importância, mas desta podemos dizer que é santa e
consagrada pelo fato de ser a décima.
E, como diz a Torá, "Todo décimo será santo." Levítico 27,32

Adin Steinsaltz — Iud é uma letra muito interessante, com múltiplas significações.
Ademais, é uma das letras que mais frequentemente se encontram na gramática
hebraica, por ter numerosas funções.

J. E. — Evocamos muito a letra alef como sendo o princípio do mundo.


Nos Salmos está escrito: "É com Yah [as duas letras iud e hei] que Deus criou o
mundo...".
Lembremos que tanto iud como hei são letras que formam, com a letra vav, o
Tetragrama: Iud Hei Vav Hei.
O Talmud comenta este texto dos Salmos dizendo: "Com o iud, Ele criou o mundo
vindouro — olam abá —, e com o hei, este mundo".

A. S. — A letra iud concentra tudo o que pode existir.


Todas as letras ocupam certo espaço; em contrapartida, graficamente, o iud ocupa
o menor lugar possível.
É como se todas as energias da existência tivessem se concentrado em um único
pequeno ponto.

J. E. — Pode-se dizer que é a energia fundamental concentrada? Como um átomo?

A. S. — Em certo sentido, se queremos qualificar a energia que produziu o


universo, antes do big bang, pensamos no que se denomina em astronomia "anãs
brancas": estrelas realmente muito pequenas, mas cuja massa é maior que a do
Sol.

J. E. — É o que se poderia denominar a menor "matéria-prima".


Sem o iud o mundo não existiria...

A. S. — O iud é o símbolo de uma coisa particular: o ponto.


Pois não podemos dar uma forma geométrica ao ponto.
Ele não tem comprimento, nem largura, nem profundidade.
E o que se aproxima mais do ponto é a letra iud.
Como foi dito anteriormente, é a mais forte concentração possível: tudo está aí.
J. E. — O próprio nome da maioria das letras do alfabeto hebraico tem uma
significação.
Para o iud, seu sentido primeiro é a mão.
A mão se diz em hebraico iad.
Denomina-se também iad o pequeno cetro que serve para ler na Torá.

A. S. — Quando dizemos que foi com o iud que Deus criou o mundo, isto significa
que esta letra comporta a passagem do "nada" ao "ser".
Daquilo que não era àquilo que acontece.
É o princípio absoluto.
Depois, a partir deste ponto inicial, tudo se desenvolverá e se exteriorizará.
É o sentido do "ponto".

J. E. — Este ponto que o senhor evoca é simbolizado pela mão, e a mão é o poder
— koach.
Por conseguinte, o iud é, de certo modo, o "poder criador".
E é notável que o valor numérico da palavra "mão" seja igual a 14 e o da palavra
"poder" seja igual a 28: o total das duas mãos.

A. S. — Efetivamente, é mesmo o poder criador.


Eis por que a letra iud, em gramática, designa o futuro.

- Uma letra que tem futuro

J. E — O senhor aborda o aspecto gramatical.


Em hebraico, quando se quer colocar um verbo no plural coloca-se um iud antes do
radical.

A. S. — Como na maioria das línguas, a gramática hebraica recorre a prefixos e


sufixos.
Colocando uma letra antes ou depois de uma raiz verbal conjuga-se e declina-se.
Tomemos, por exemplo, o verbo "guardar" em hebraico: shamar.
Como para qualquer raiz hebraica, ele é constituído de três letras: shin, mem,
reish.
Ao se acrescentar um iud no início deste verbo ele passa a significar "ele guardará".
Não é por acaso que a letra que define o futuro é também a letra do início de dois
Nomes divinos: o Tetragrama e o nome Yah, que já evocamos.

J. E. — Com efeito, o iud é mesmo a inicial do Tetragrama, e todos os


comentadores estão de acordo em dizer que, se o mundo foi criado com um iud, é
porque ele é a própria expressão da humildade: é a menor letra concebível, é
apenas um ponto!
É também uma lição dada ao homem: aprender a se tornar pequeno.

A. S. — É o mesmo nome em muitas línguas para a menor das letras.


Por exemplo, em grego o jota.
É igualmente a única letra que não ocupa realmente espaço.
É apenas um pontinho preto!
Todas as outras letras ocupam espaço, em comprimento ou largura.
O iud, este, representa somente um ponto central, mas com uma forte
concentração.

J. E. — A humildade atravessa toda a Bíblia, tanto para os homens quanto para os


céus.
É assim que Moisés — Moshe — é nomeado "o mais humilde dos homens".
Quanto à Torá, ela foi revelada em cima de uma montanha bem pequenina.
Jacob — Iaacov — disse: "Eu sou pequeno".
Do mesmo modo, David se apresenta como "o menor".
Assim, este iud nos lembra constantemente que devemos ser conscientes de nossa
pequenez.

A. S. — Esta pequenez se aplica a temas muito diversos.


Tomemos, por exemplo, o problema da cor: a escrita é preta.
Ora, a cor da pupila, a parte do olho que vê, é preta, e é a menor parte do olho.
Assim como na física: o preto é a cor que mais absorve e também que mais reflete,
o que não é o caso das outras cores.
Uma especificidade igualmente válida para um personagem como Jacob, designado
como sendo "pequeno", ou ainda para o profeta Isaías, que se qualificou como
sendo "pequeno".
Nós não somos o maior dos povos, mas um pequeno povo.
O profeta dizia: "Como Jacob poderia sobreviver, sendo tão pequeno!".
Mas o infinitamente pequeno tem também uma vantagem: não se pode destruí-lo!

J. E. — Poder-se-ia dizer, com efeito, que o iud, por ser pequeno, portanto quase
indestrutível, constitui o símbolo e o paradigma da existência judaica?
É preciso lembrar que o iud tira sua "grandeza" do fato de ser a inicial, ao mesmo
tempo, do Tetragrama — YHVH — e de Israel — Israel.
Sabemos que a primeira letra indica a finalidade e a direção de um conceito.
Não é por acaso que o nome de Deus e o nome do povo judeu, Israel, começam
pela mesma letra.

A. S. — Iehudi: iud é, ao mesmo tempo, a inicial do nome de Deus, de Israel e do


nome "judeu".
Aliás, de modo geral e com diversas possíveis pronúncias, em todo caso entre os
ashkenazim — os judeus alemães — a letra iud significava simplesmente: um
judeu.

J. E. — Precisemos que em idish diz-se ayid para dizer "um judeu".

A. S. — Dizia-se: seja um yid, seja um yud, símbolo da judeidade.

J. E. — Iud é, ao mesmo tempo, símbolo da pequenez, da humildade e do caráter


indestrutível, por ser infinitamente pequeno: nosso povo existe desde vários
milênios...

- A letra do judeu

A. S. — O iud é a letra de base.


Ele possui duas extremidades: uma aponta para o alto, a outra para baixo.
Pelo alto, ele recebe.
Pelo baixo, ele transmite, embora ele em si, já o dissemos, pareça insignificante!

J. E. — Observamos que o judeu é denominado um yid em idish.


Um mestre do hassidismo, Simcha Bunem, havia sido apelidado "o iehudi" — o
judeu — porque tinha o hábito de dizer: "Toda manhã, acordo pagão e devo me
tornar judeu".
Este mestre fez uma observação muito interessante.
O iud, dizia este mestre, é um ponto; ora, há um modo abreviado de escrever o
nome de Deus: colocar dois iud um ao lado do outro.
Antes de continuar o ensinamento deste rabino, explique-nos: por que se
representa Deus por dois iud?
A. S. — Esta grafia tem uma história muito interessante.
No início, nos manuscritos, escrevia-se iud vav iud.
O total destas três letras (26) equivale ao valor numérico do Tetragrama.
Depois ele se tornou iud iud iud.
Depois, para abreviar mais ainda, guardaram-se apenas dois iud.
Eis o que eu chamaria de destino histórico do iud.
Em muitos livros, notadamente os de preces, escreve-se o nome de Deus: Iud Iud.

J. E. — Assim, Simcha Bunem dizia: podemos ler isto de outro modo. Iud quer dizer
um "judeu"; quando se escreve Iud Iud — Deus — é como se colocássemos um
judeu ao lado de outro judeu!
Em outras palavras, quando se reúnem dois judeus, na fraternidade e na
comunidade, pode-se conhecer Deus.
Ele seguia com outra lição: "Iud é também um 'ponto'. Ora, em um versículo da
Bíblia, quando se termina uma frase, coloca-se um ponto por cima de outro ponto,
isto é, um iud sobre um iud. Se um judeu se acha superior a outro judeu, é, então,
o fim da `frase', a comunicação é impossível".

A. S. — Existe um tema muito popular: em cada judeu, há um pequeno ponto de


judeidade.
O "pequeno ponto do judeu" é um jogo com a letra iud (yid).
Mas é também o símbolo da permanência judaica.
O iud é uma letra bem pequenina, e, o que quer que eu faça — posso cortá-la e
ainda recortá-la —, restará sempre este pequeno ponto, o iud...
É o núcleo duro.

J. E. — De fato, em idish ele se intitula pintkele yid, o pequeno ponto de judeidade.


Ele simboliza o núcleo duro indestrutível que há em todo judeu.
Ora, para um matemático como o senhor, o iud tem um interesse particular.
Seu valor numérico é 10, dez é um número extraordinariamente importante.

- Dez: a letra da santidade

A. S. — Este número conota valores muito diversos.


Nos textos antigos já está dito que 1 e 10 são, na verdade, o mesmo número.
A diferença reside na base: 1 nas unidades e 10 nas dezenas.
Assim, há um elo muito forte entre o iud e o alef.
Eis por que a diferença é de grau, não de natureza.
Eu elevo o 1 à potência superior 10.
Acontece o mesmo em matemática.

J. E. — Segundo a Torá, as coisas criadas andam sempre "dez a dez": o mundo é


criado com "dez palavras", a Lei pelos dez mandamentos, na Cabalá há dez
degraus do ser — as dez sefirot...
Dez é uma espécie de plenitude: tudo o que está em potência no alef irá se
desenvolver no iud.

A. S. — O Maharal de Praga explicava o sentido dos números do seguinte modo:


cada número tem uma significação particular: 1 é o número fundamental; 6
designa o mundo comum; 7, o mundo e sua orientação; 8, o que está "além" do
mundo.
O iud é metafísico: ele conota a transcendência.
O iud — 10 — expressa tudo o que está para além de qualquer numeração.
Ele expressa uma ultrapassagem muito significativa.
Por exemplo, os rabinos dizem que hoje toca-se uma harpa com 7 cordas.
No tempo do Messias ela terá 8 cordas e no mundo vindouro terá 10 cordas!
Será a plenitude do mundo perfeito.
Eis por que temos uma longa lista de coisas santas que andam sempre em grupos
de dez: as dez palavras da criação, os dez mandamentos.
E mesmo as dez pragas do Egito.

J. E. — Os rabinos explicam que houve dez pragas no Egito porque dez é o número
da plenitude.

A. S. — O número dez volta sem cessar.


Na Cabalá, fala-se de dez círculos em que o início e o fim são idênticos: formam
uma só cadeia.
Eis por que 1 e 10 são a mesma coisa.
O 1 está presente no dez, mas de modo diferente.
É igualmente a razão pela qual o número 10 é particularmente respeitado, não
somente como número, mas porque ele conota a perfeição.

- O santo décimo

J. E. — Eu gostaria de voltar para um versículo que já evocamos: "Todo décimo


será santo".
O décimo confere santidade ao "todo".
Por exemplo, o minian — o quorum necessário para efetuar a prece pública.
Se há apenas nove homens na sinagoga, é o décimo homem que chega que cria
uma verdadeira comunidade.

A. S. — É, efetivamente, um número "sagrado".


Assim como o dízimo — um décimo da colheita — ou ainda o dia do perdão,
Iom Kipur: é o décimo dia do mês (10 Tishrei).
Aqui se manifesta outra modalidade da relação entre o 1 e o 10.
O ano novo, Rosh Hashaná, é no primeiro dia do mês, ao passo que Iom Kipur é no
décimo dia.
Com Rosh Hashaná, início do ano, é um começo; com Iom Kipur, atinge-se a
plenitude: o 10.

J. E. — O senhor falou do maasser — o dízimo.


O fato de dar um décimo de sua colheita ao Templo é particularmente importante...

A. S. — Claro, o décimo é sagrado por essência, nas mais diversas modalidades,


pois ele é signo de um sistema perfeito.

J. E. — Mostramos que os dois iud, um ao lado do outro, conotam, para o primeiro,


Deus em sua transcendência e, para o segundo, Deus em sua imanência.
Mas eles têm também uma função antropológica: eles descrevem a natureza
particular da identidade humana.
Com efeito, quando na Torá está escrito: Deus criou — vayitzer —Adão, esta
palavra, vayitzer, se escreve normalmente com um só iud, mas tratando-se da
criação de Adão se escreve com dois iud.
É um modo impressionante de evocar a dualidade humana.

A. S. — Encontra-se uma ideia semelhante no livro de Ester.


Há duas grafias: escreve-se a palavra iehudim — os judeus — às vezes com um
iud, às vezes com dois.
Explica-se isto assim: por um lado, existem judeus que se sentem sempre judeus:
escreve-se seu nome com um só iud.
Outros, que se sentiam judeus apenas em caso de perseguições, se juntam então
aos outros: é o segundo iud.
Lembremos que iud significa judeu.
Na época da perseguição de Haman, no livro de Ester, quiseram matar todos os
judeus, sem distinção: aqueles que acreditavam no Céu — a Torá — assim como
aqueles que não acreditavam.

- O homem e seu duplo

J. E. — Se Deus criou o homem com dois iud é que ele tem duas inclinações, a boa
e a má, o ietser tov e o ietser hara.

A. S. — Segundo a Cabalá, a criação do mundo se fez em quatro etapas:


a Emanação, a Criação, a Formação e a Ação.
Esta última etapa é nosso baixo mundo.
Com a criação do homem e seus dois instintos, passa-se da unidade da Criação à
dualidade do homem, que também caracteriza a letra iud.
De fato, esta letra é tudo menos uma letra simples.
Aliás, seu valor numérico — 10 — desempenha um papel essencial em nossa
civilização.
De certo modo, nosso mundo repousa inteiramente sobre o sistema decimal.
Poder-se-ia dizer que com o iud a Revolução Francesa produziu ainda mais iud —
judeus — no mundo: antes dela, o sistema decimal afetava apenas poucas coisas,
ao passo que ele estava muito em voga entre os judeus.
Criando o calendário revolucionário, a semana de dez dias, os republicanos
introduziram no mundo inteiro um sistema especificamente judaico.
Outro aspecto das coisas: o lugar do iud na Cabalá.
Ele faz parte de diversas especulações acerca da escrita do Nome divino: há um
sistema em que se declina cada uma das quatro letras — YHVH —em diversas
grafias.
Mas, como cada uma destas letras pode se ortografar diversamente (exemplo: iud
pode se escrever iud ou ID), chega-se a quatro valores numéricos diferentes do
Tetragrama, conforme se escreva ou não se escreva o hei com alef, letra muda: 45,
52, 63 e 72.

J. E. — Para concluir, voltemos à palavra iad, "a mão", que é o sentido da letra iud.
Escrevendo-se iad, ela significa um "lugar".
Ora, está escrito na Torá: "Quando partirás para a guerra, escolherás um 'lugar'
para cavar tua fossa séptica" (Deuteronômio 23,13).
É a primeira vez que aparece a palavra iad como significando um "lugar".
Todos nós conhecemos o memorial da Shoá em Jerusalém, Iad Vashem.
Isso quer dizer, literalmente: um lugar — iad — e um nome shem.
É uma citação do profeta Isaías que diz a respeito de pais estéreis: "Eu lhes darei
em Minha casa e dentro de Minhas Muralhas um lugar (iad) e um nome (shem);
(isto será) melhor do que filhos e filhas" (Isaías 56,5).
Daí esta ideia extraordinária, após a Shoá, de dar o nome de Iad Vashem ao museu
da Shoá em Jerusalém.
Este nome corresponde exatamente à ideia de que aqueles que não têm sepultura
terão, pelo menos, um "lugar" e um "nome".

A. S. — Desde sempre existiram no judaísmo dois nomes para designar uma estela.
O primeiro nome, após a era bíblica, é nefesh, isto é, uma "alma".
Mas depois, para todo tipo de mausoléu, dizia-se iad; por exemplo, o iad de um rei
vitorioso.
Se a isto chamávamos "mão" (iad) era como que para dizer: siga esta mão, é para
lá que se deve ir.
É uma recordação.
Coloco uma "mão" para que ele continue a existir.
Ademais, e isto não somente em hebraico, mas também em outras línguas, é
também o modo pelo qual se nomeia um amigo.
Diz-se iedid e se escreve iad + iad, isto é, uma mão mais uma mão.
A amizade é uma mão que segura outra mão: duas mãos juntas.

Por: Josy Eisenberg e Adin Steinsaltz


As Letras Hebraicas – Parte 15

 
Caf (kaf, Chaf) Caf final

Som: K

Significado: O significado da palavra caf é a palma da mão.


Uma mão esticada, pronta para receber, em todos os sentidos.
A mão estendida apontando para outra pessoa significa que ela é bem vinda (para
mostrar que está sem arma, levanta-se as mãos).
A mão pode receber e dar, negociar e abençoar.
A mão simboliza a potência, a supremacia, a força.
Estar nas mãos de alguém é ser submisso a sua vontade. Como todos os grandes
símbolos, a mão pode exprimir a perda de uma potência, a expressão ―voltar de
mãos vazias‖, nos demonstra isto.
Canalizamos energia vital através das palmas das mãos (união da palma da mão
com kavaná (concentração).
Temos 14 falanges em cada mão, totalizando 28. Em hebraico o número 28
escreve-se com as letras caf + chet e nos revela uma palavra muito importante
para a mística: Coach = Força.
Coach não é uma força externa, é a nossa Santidade escondida, é a
permanência da Luz no seio das trevas, é a qualidade essencial de Chochmá
(Sabedoria), capaz de iluminar todas as sefirot.
Caf é a inicial de kavaná (concentração, foco) – energizada pelo Caf.
Kavaná nos ajuda a desenvolver a determinação, coragem, perseverança, atenção
concentrada.
Quando estamos dispersos o Caf nos ajuda a nos conectar ao fluxo.
Canalizamos energia vital através das palmas das mãos (união da palma da mão
com kavaná).
É um símbolo de conclusão.
A curvatura do Caf é um símbolo de humildade e da lei do retorno.
A palavra ―Keter‖ (coroa) em hebraico começa com Caf e representa a força divina
que recebemos.
Esta letra simboliza a realeza e a majestade (soberania sobre nossa própria vida).
Keter é a sefirá mais elevada da Árvore da Vida, é a dimensão mais próxima da
Luz.
Malchut também contém um Caf. Malchut é a morada da Shechiná , o aspecto
feminino da Divindade.
Trata-se portanto, de uma letra ligada à esfera superior e à inferior (Caf sofit).

Sendo a primeira letra de 
, kisay, "trono", e , keter, "coroa", e uma letra-
chave de , melekh, e  , malkhah, "rei" e "rainha", o Kaf simboliza a
realeza e a majestade.
Keter é também o nome da mais alta Sefirah, ou ramo, da Árvore da Vida.
Cada Sefirah reflete um aspecto ou energia da Divindade.
O Keter é a "coroa de Deus", o reino mais próximo do Paraíso, além da
compreensão humana.
O nome do ramo mais baixo da Árvore da Vida,  , Malkhut, "realeza",
também contém um Kaf.
O Malkhut é a morada de Shekhinah, o aspecto feminino da Divindade.
É o reino mais próximo de nossa vida terrena, física.
O Kaf, portanto, está ligado tanto à esfera superior quanto à inferior.
É ao mesmo tempo transcendente e base do ser.
O Kaf é uma das cinco letras que tomam uma forma diferente quando aparecem no
fim de uma palavra.
A forma final do Kaf se estende além da linha da escrita, simbolizando a conexão
do celestial e do terreno, Keter e Malkhut, espírito e matéria.
Como palavra, Kaf,  , significa a palma da mão (e a planta do pé).
As palmas estão associadas ao trabalho produtivo, como na expressão "o trabalho
das tuas palmas" [A expressão está no Salmo 128:2; nas Bíblias em português,
porém, é geralmente traduzida como "o trabalho das tuas mãos"].
As palmas têm poder de criar ou conquistar.

Conceito: O caf é a vida que se sobrepõe ao estado de mortificação.


E vida para a Tradição é sentido.
E sentido só é sentido quando é algo de grandeza.
É o sopro da vida que restabelece a comunicação com o Sagrado.
Perder o sopro da vida é perder o brilho da existência.
É perder a vitalidade necessária para realizar o nosso intento maior, que é
reintegrar-se ao Sagrado.
Todo conhecimento espiritual, todo aprendizado espiritual, só se justifica se for
para apontar na direção do sopro da vida.
Caf revela também a capacidade de trazer para fora o potencial latente em cada
indivíduo.
É a capacidade de criar ou conquistar.
A mensagem do Caf é a de que cada um de nós tem um dom individual a ofertar,
um brilho a que somente nós podemos dar vida.
Os 10 ditos de Gênesis são as expressões criadoras do mundo, da mesma forma, as
mãos nos permitem exprimir nossa capacidade criadora.
Podemos dizer que bloquear as mãos é o mesmo que bloquear a criatividade e a
expressão.
Quando não podemos dizer as coisas as mãos as dizem.
Caf representa o potencial para a coordenação, liderança.
Realeza e majestade nos remete a idéia de Rei ou governante.
Caf = Kef = rocha, representando a força e a estabilidade.

Formato: A letra caf é um cercado de três lados com cantos redondos,


assemelhando-se à coroa de uma cabeça em perfil lateral.
O caf final: A mesma figura, com sua base caída em extensão vertical.

Número: Caf representa o número 20.


Este número simboliza igualmente num receptáculo suficientemente solido para
experiência.
A Torá diz que deve-se entrar para o exército com 20 anos.

Espaço: No espaço caf representa o sol e sua energia, que é a fonte vital de todo o
nosso sistema solar, a fonte da vida.

Tempo: No tempo caf é responsável pela criação do Domingo.

Corpo: Caf está relacionada ao olho esquerdo.

Medicina: Caf desperta dentro de cada um de nós a Vida.


O sopro da vida frente à morte.
Quando você dança em um ritual até a morte pára para te ver.
Quando os guerreiros dançam no rito, até o anjo da morte pára para admirar... e
isso paralisa a morte. A morte fica encantada com a dança.
Por que?
Porque quando você dança, quando você está atento ao seu movimento dentro de
alguma coisa, e isso é dança, você está presente, você move o Sopro da Vida. Isso
paralisa a morte, e isso é cura.

Dom: Vida (boa saúde).

Arquétipo: Moshê.

Aplicação:
Agir como rei ou rainha.
Desenvolver uma kavanah clara e forte.

Sombra:
Tornar-se tirano.
Arrogância e teimosia.

Reflexão:
Qual é o dom pessoal que tenho a ofertar, o brilho a que somente eu posso dar
vida?
Qual é o melhor modo de começar ou continuar a manifestar esse dom?

Ação sugerida:
Hoje, durante trinta minutos, comporte-se como se você fosse um rei ou rainha
nobre, corajoso e bondoso.
E fale com os outros como se eles também fossem reis ou rainhas.

Canal- Caminho: De Chessed a Netzach.

Sefer Yetziyrah: “Com kaf ele formou o sol, o dia um, o olho esquerdo, a vida e a
morte.” (S. Y. 4.14)

Comentários:
Caf (Kaf) representa a palma da mão, mas o ideograma pode nos sugerir o
antebraço. Não devemos esquecer também de "keph", ―rochedo‖, representando a
força e a estabilidade.
Aliás, as raízes cuja inicial é Caf evoca a força interior, o poder do Yud que se
desenvolve pelo interior (da mão-yud que é a palma-caph) como "coach", o
"poder".
Caf é a décima-primeira letra do alfabeto hebraico.
É inicial de ―kisay‖ ("trono") e, na verdade, é dito que "o trono do Eterno" tem a
sua base formada por uma seqüência de letras Caf, daí a sua associação com a Lei
do Retorno, pois tudo o que fazemos é projetado para a base do trono e enviado de
volta.
Não há injustiça no mundo; cada um colhe o que semeou, sempre.
Meditar na letra Caf faz surgir em nossa consciência o motivo pelo qual estamos
passando por determinadas situações.
Também esclarece o propósito de acontecimentos que se repetem ciclicamente em
nossas vidas.
Embora este exercício possa ser feito em qualquer momento do ano, trabalhar com
Caf nos dias que antecedem o dia 9 do mês de Av pode ser realmente útil no
despertar de uma nova visão das coisas, lembrando que, muitas vezes, o erro se
encontra oculto nos detalhes.
O que isto significa?
Significa, entre outras coisas, que não são poucas as pessoas que em nome do que
é certo agem de forma errada, e isso coloca tudo a perder.
Por isso devemos injetar Entendimento (atributo de Biná) em todas as nossas
ações, que é, a um só tempo, fazer o que deve ser feito da forma adequada e no
momento apropriado.
As duas letras da pronúncia completa do caf são as primeiras letras das palavras
em hebraico coach (―potencial‖) e poel (―real‖). Assim, o caf alude ao poder latente
dentro da esfera espiritual de se manifestar totalmente na esfera física da
realidade.
D’us cria o mundo continuamente; do contrário, a Criação imediatamente
desapareceria.
Seu potencial é, portanto, concretizado a cada momento.
Este conceito é mencionado como ―o poder de concretizar o potencial sempre
presente dentro do concretizado‖.
De acordo com a Chassidut nós aprendemos que esta deve ser a consciência inicial
da pessoa ao acordar.
Como o significado literal da letra caf é ―palma‖ — o lugar do corpo onde o
potencial é concretizado — esta consciência se reflete no costume de juntar uma
palma da mão com a outra ao acordar, antes de recitar a prece de ―Mode Ani‖:
―Eu agradeço a Ti, Rei vivo e eterno, por ter restaurado minha alma dentro de mim
com misericórdia; Tua fidelidade é grande.‖

Juntar as palmas da mão é um ato e sinal de subjugação similar ao ato de se


curvar diante de um rei.
Enquanto ao se curvar a pessoa anula completamente sua consciência na presença
do Rei, ao juntar as palmas da mão ela entra em um estado de súplica e prece ao
Rei para que Ele revele nova vontade da (Vontade de) Sua coroa Divina ao Seus
súditos.

Caf é também a raiz da palavra kipá (etimologicamente, a raiz da palavra ―cap‖, em


inglês), o yarmulke ou solidéu.
Com relação à criação do homem está escrito: ―O Senhor colocou Sua Palma [caf]
sobre mim.‖ Nossos Sábios se referem a Adão como ―a formação das Palmas [caf]
do Santo, Bendito seja.‖
A consciência da presença das ―Palmas‖ de D’us sobre a cabeça do indivíduo,
durante Sua criação contínua, torna-se o solidéu (kipá) em sua cabeça.
Ainda mais elevado, o próprio poder de concretizar o potencial manifesto em Suas
Palmas deriva fundamentalmente de Sua coroa (o poder da vontade) acima de Sua
cabeça (i.e., a Vontade ―suprarracional‖).

Como verbo, caf significa ―subjugar‖ ou ―coagir‖.


O Talmude nos ensina que no momento da entrega da Torá no Sinai, ―Ele
suspendeu a montanha acima deles como um barril‖.
A Chassidut explica que a motivação Divina expressa neste ato foi, realmente, de
grande amor por Israel. Tanto amor foi demonstrado através de todas as
extraordinárias revelações no Sinai nas quais o povo foi ―coagido‖, por assim dizer,
a responder em aceitação, com amor, ao jugo dos Céus.
A própria montanha parecia envolver vigorosamente o povo.
Aqui o segredo do caf é do ―muito‖ revelado a partir do ―pequeno‖ ponto do yud.

Como já dito, a décima primeira letra do alef-bet é o caf.


O desenho do caf talvez possa ser descrito como um cano curvado em dois lugares.
O conceito de se curvar representa submissão a uma força e entidade mais elevada
— o Rei de todos os reis, D'us Todo Poderoso.
O caf é às vezes pronunciado chaf, dependendo basicamente de sua colocação
dentro de uma palavra.

A Guematria do caf é vinte. Vinte pode ser dividido entre dez e dez.
O primeiro dez representa os Dez Pronunciamentos com os quais D'us criou o
mundo.
O segundo dez representa os Dez Mandamentos.
Juntos, eles se tornam um caf.
Em Bamidbar está escrito: "Dez-dez é o caf (Literalmente "pesando dez [shecalim]
cada). Se você pegar a palavra ―esrim‖ (vinte em hebraico) e somar as suas letras,
chega a 620: ayin = 70, shin = 300, reish = 200, yud = 10, mem = 40.
O 620 é também a Guematria da palavra Keter: caf = 20, tav =400, reish = 200.
Keter significa coroa, o ornamento colocado sobre a cabeça do rei.
Keter também nos lembra das 620 letras dos Dez Mandamentos.
D'us coroou a nação judaica dando-lhes a Tora.
E tornou-se a razão de ser dos hebreus seguir os 613 mandamentos e as sete Leis
Rabínicas — que juntas totalizam 620.
Os sete estatutos da Lei Rabínica são: acender as velas de Shabat e Yom Tov, ler a
Meguilá de Purim, acender velas de Chanucá, lavar as mãos antes de partir o pão,
as bênçãos antes das refeições, o eruv, e a recitação de Halel em Yom Tov.
Significativamente, a primeira letra de Keter é caf.
Na Cabalá, a Sefirá (ou atributo) de Keter representa um nível que está além do
intelecto. A coroa é colocada no alto da cabeça.
Obviamente, nossa cabeça é o recipiente que encerra o cérebro, a base do intelecto
e do pensamento. Porém a coroa repousa acima da cabeça, além do raciocínio.
O que pode ser maior que o intelecto?
Desejo e vontade.
Em hebraico, isso é chamado ―ratzon‖.
O desejo é uma força poderosa, convidando-nos a explorar possibilidades que a
racionalidade mostraria serem erradas ou difíceis.
Digamos, por exemplo, que você gostaria de ter sucesso numa determinada
ocupação. Embora você possa ter faltado em todas as aulas na escola, pode
perseverar e ser bem-sucedido se tiver disposição e vontade.
Por quê?
Porque você quer.
O poder, a coroa, do desejo é tão potente que tem a capacidade de transcender e
realmente transformar o seu intelecto.
Por sua vez, há outro conceito que transcende até o desejo, e é o prazer (taanug).
Se uma pessoa extrai prazer de algo, automaticamente irá gravitar no rumo
daquilo.
Como resultado, mobilizará seu intelecto e criará uma estratégia para atingi-lo.
É por isso que Keter é representado pela letra caf — vinte — para nos ensinar que
há dois níveis, ou faculdades, dentro da coroa: desejo e prazer, com cada faculdade
contendo dez aspectos.
Estes aspectos também são conhecidos como as dez sagradas Sefirot (esferas), os
dez blocos construtores da Criação. Três dos dez níveis residem na dimensão do
intelecto — Sabedoria, Entendimento e Conhecimento — e sete ocupam a dimensão
das emoções - Amor, Temor, Misericórdia, Vitória, Louvor (Reconhecimento),
Fundação (Vínculo) e Soberania (Fala).
As duas faculdades da coroa do caf — prazer e desejo — englobam duas vezes os
três níveis do intelecto e sete níveis de emoção para um total de vinte níveis.

O Talmud declara que a coroa da Torá é a Halachá — Lei.


Por que é especificamente lei (i.e., aquelas coisas que devemos e não devemos
fazer) que é considerada a coroa da Torá?
Para a resposta, podemos olhar para a razão pela qual D'us nos deu a Torá.
Não recebemos a Torá para termos algumas histórias bonitas para nos entreter,
para lermos aos nossos filhos na hora de dormir, ou para analisá-las numa aula de
literatura.
Pelo contrário, o objetivo da Torá é que obedeçamos Sua lei, i.e., que cumpramos o
desejo de D'us e ao fazê-lo darmos prazer a Ele. Portanto, está declarado no
Talmud: "Grande é o estudo de Torá, pois leva à ação‖. Como a coroa, o supremo
propósito da Torá é ir além da cabeça, além do intelecto, e nos inspirar a agir em
concordância com a vontade de D'us, assim nos refinando como pessoas e
completando o propósito de D'us na Criação.

Um dos significados da letra caf é "colher". O radical da palavra "colher" é ―cafaf ―—


―curvar-se‖. Como discutimos anteriormente, o caf é uma letra curvada.
Isso representa o aspecto de submeter-se a um poder maior. Essa noção de
submissão — e humildade — pode ser vista claramente na diferença entre as
palavras ―anochi‖ e ―ani‖.
Ambas significam "Eu".
Quando uma pessoa passa o dia inteiro dizendo "Eu, Eu, Eu", tem um problema
com o egoísmo.
Como se supera esta autovalorização?
Acrescentando-se um caf ao ―ani‖, o Eu, e transformando-o em ―anochi‖.
Quando o "Eu" se submete a D'us, quando reconhece e se curva a um poder mais
elevado através do caf, não é mais o "Eu" egoísta. Em vez disso, é anochi, o "Eu"
que serve como um canal para fazer a vontade de D'us.

Há na verdade dois cafs.


Há o caf curvado e o reto, ou caf final
Qual a diferença?
Explicamos previamente que Keter, a coroa do rei, é formada por dois níveis:
prazer e desejo.
Também foi descrita como representando os aspectos interno e externo do rei.
Neste caso, interno se refere ao relacionamento do rei consigo mesmo, ao passo
que o externo é seu relacionamento com o mundo, seu reino.
Quanto ao aspecto interno do rei — eles não precisa necessariamente ser rei, estar
sob as incessantes exigências de seu cargo.
Ele deseja viver dentro dos limites da própria vontade, o mundo interior de estudo,
erudição, espiritualidade e família.
Este é o significado da passagem: "Dos ombros para cima ele era mais alto que o
restante de seu povo", ou seja, isolado do povo.
A coroa do rei, no entanto, exige também o caf reto, que se desenrola para descer
até os seus súditos; o nível externo da existência do rei.
Ele é conclamado a interagir, a ser responsável e benevolente ao seu reino.
O caf curvo representa o rei introvertido ou invertido — que permanece isolado
dentro de seu mundo interiorizado.
O caf reto (semelhante ao vav) representa o rei que desce de seu nível alto e chega
aos outros a fim de comunicar-se com eles e os governar.
É interessante, porém, observarmos que quando se afixa o caf reto como sufixo a
uma palavra, isso acrescenta a palavra "você" ao radical.
Como está escrito: "Eu exaltarei Você meu D'us, o Rei".
Quando você fala diretamente com uma pessoa, diz "você": lecha - , ou becha -
escrito com um caf reto.
O caf final então literalmente se desdobra para incluir a pessoa com quem você
está falando. Isso representa o fato de que o rei apareceu a nós e podemos falar
com ele face a face.
A letra caf. Curvar-se. Submeter-se à coroa — o Rei, D'us, o governante do
universo.

Aplicação
Os personagens dos contos de fadas, como os dos sonhos, representam arquétipos
que indicam certas qualidades dentro de cada um de nós.
Os reis e rainhas são figuras-chave nas fábulas do mundo inteiro.
Às vezes esses contos falam de príncipes ou princesas vagando perdidos pelo
mundo, inconscientes ou excluídos de sua descendência real.
São obrigados a passar por várias provas e aprofundar sua sabedoria e experiência
de vida antes de poder reivindicar seu direito ao trono.
A letra Kaf é o sonho ou conto de fada da realeza interior.
O Kaf nos convida a reivindicar soberania e majestade sobre nossa própria vida.
Há um poema de William Stafford, "A Story That Could Be True" ["História que
Poderia Ser Verdadeira] , que trata dessa possibilidade:
Se você fosse trocado na maternidade e
sua verdadeira mãe morresse!
sem contar a história,
ninguém sabe seu nome,
e em algum lugar do mundo
seu pai está perdido e precisa de você,
mas você está muito distante.
Ele não tem como saber
o quanto você é verdadeiro, o quanto está preparado.
Quando vêm o vento forte
e os assaltos da chuva,
você fica na esquina, tremendo de frio.
As pessoas passam —
e você se pergunta como podem estar calmas.
Falta a elas o murmúrio
que passa todos os dias pela sua mente —
'Afinal, quem é você, peregrino?' —,
e a resposta que você é obrigado a dar,
não importa quão frio e lúgubre
o mundo ao seu redor é:
"Talvez eu seja um rei"

"Talvez eu seja um rei." "Talvez eu seja uma rainha." O Kaf nos lembra que, não
importa qual seja nossa situação exterior, cada um de nós é rei e rainha da própria
experiência.
Como o Keter e o Malkhut fazem parte da própria estrutura do cosmos, como
revelam suas poderosas posições na Arvore da Vida, o Keter e o Malkhut interiores,
a coroa santa e a realeza sagrada, são inerentes à nossa própria natureza.

Como você agiria se fosse um rei ou uma rainha?


Com que grau de dignidade, responsabilidade e segurança você se comportaria e
lidaria com os outros?
Quando aparece o Kaf, é uma oportunidade de agir como se fosse o caso — não de
maneira pomposa ou arrogante, não tiranicamente, mas de modo a incorporar o
arquétipo do rei ou rainha nobre e bom.
No mito e na fábula, o bom governante restaura no país a ordem, a saúde, a
criatividade e a prosperidade.
A aceitação do poder do Kaf pode ajudar a inserir essas qualidades em nossa vida.
"Majestade" se define como "poder, autoridade ou dignidade de soberano (...);
grandeza; magnitude ou esplendor de qualidade ou caráter".
O livro mais influente do misticismo judaico é o Zohar — O Livro do Esplendor.
"Esplendor", aqui, refere-se ao brilho de Deus, mas também à criação de Deus, o
que inclui os seres humanos.
Reivindicar o esplendor é reivindicar nosso direito hereditário como filhos do
Santíssimo.
Enquanto "palma", o Kaf nos convida a criar algo de esplêndido no mundo com o
trabalho de nossas mãos.
Essa criação pode ser literalmente um trabalho manual, como costura, marcenaria,
culinária, cerâmica ou qualquer tipo de arte ou ofício manual.
E essa criação pode ser também, é claro, trabalho de nossas mãos em sentido
metafórico.
A mensagem do Kaf é a de que cada um de nós tem um dom individual a ofertar,
um brilho a que somente nós podemos dar vida.
Relacionado ao mesmo tempo a "criação" e "coroa", o Kaf comunica o poder de
criar uma "obra coroadora", uma realização nobre que ajude a manifestar o reino
de Deus aqui mesmo.
Para realizar uma obra coroadora, é preciso ter uma forte e bem definida intenção,
ou kavanah,  — mais uma palavra energizada pelo Kaf.
Há séculos os sábios judeus vêm ensinando que uma kavanah forte é essencial
para uma prece eficaz e para a execução das ações sagradas.
Os textos cabalísticos estão repletos de instruções e práticas detalhadas de como
atingir os estados transcendentes direcionando a concentração.
Cultivar uma intenção clara e concentrada, porém, é útil à realização de qualquer
ato, não apenas dos atos "místicos".
A palavra kavanah,  
, vem da raiz , kiven, "intencionar".
O Kaf nos convida a intencionar nossos pensamentos e ações com cuidado, a
discernir melhor nossos objetivos.
Determinação, coragem, perseverança e atenção concentrada são qualidades da
kavanah evocadas pela letra Kaf.
Em diversas artes marciais, como o tai chi e o aikidõ, os alunos aprendem a
concentrar e fazer circular o chi ou ki, a energia da vida e força essencial do corpo
e do universo.
Uma das palavras hebraicas para "energia",  (koach), começa com Kaf.
Em geral o koach, ou ki é direcionado com as palmas das mãos.
No sentido de "palma", o Kaf nos leva a canalizar nossa própria energia vital com a
clareza, o controle e a força de um artista marcial.
Quando estamos dispersos ou sem foco, o Kaf é o sensai, o rebbe, o mestre que
nos ajuda a nos reconectar ao fluxo do ki no dojo — centro de treinamento — que é
nossa vida.
Desse modo, o Kaf como kavanah e o Kaf como "palma" se unem e nos
proporcionam maior mestria e poder, quando concentramos nossa intenção e
dirigimos nossa energia vital a um objetivo majestoso.

A Sombra do Kaf
O poder é sedutor.
Corrompe facilmente.
Um rei ou uma rainha pode tornar-se tirano.
Por nos convidar a um maior poder e majestade, o Kaf é passível de abusos.
Algumas das armadilhas são a arrogância, a soberba, a hipocrisia e a manipulação.
A vontade é traiçoeira.
Se não tomamos cuidado, uma intenção forte e clara pode rapidamente se
transformar em obstinação destrutiva.
Sem perceber nos tornamos déspotas.
Quando se trabalha com a poderosa energia do Kaf, uma das precauções contra as
ciladas dessa dinâmica é lembrar-se de uma prece simples: "Não se faça a minha
vontade, mas a tua".

Comentários Pessoais por Richard Seidman


Avanço rapidamente para o instrutor de aikidõ, com a mão erguida, como se fosse
golpeá-lo.
De repente me vejo voando pelos ares.
Quando percebo, estou no chão, deitado de costas, e o atento instrutor está a
vários passos de distância, olhando calmamente para mim.
Como ele fez isso?
Parecia que ele mal se moveu para reagir ao meu ataque — e mesmo assim não há
dúvida de que estou aqui, no chão.
O instrutor era mestre do ki.
Com movimentos sutis das mãos e do corpo e uma intenção poderosa, ele fora
capaz de redirecionar minha própria energia e me mandar para os ares.
A letra Kaf é o mestre de aikidõ do alfabeto hebraico.
Sólido, objetivo, dignificado e poderoso, o Kaf é uma letra com que não se pode
brincar ou subestimar.
Mas que aliado poderoso!
Quando o Kaf está plenamente integrado em nosso ser, nós avançamos com
segurança em meio a circunstâncias instáveis, em sintonia com o fluxo de ki da
vida.

Textos Complementares:

 Caf - Calev (Calebe)


"Porém o meu servo Calebe, visto que nele houve um outro espirito, e perseverou
em seguir-me, eu o farei entrar na terra que espiou, e a sua descendência a
possuirá."
Números 14:24

Depois do grande êxodo do Egito, Moisés conduziu o povo hebreu para a Terra
Prometida.
Mas quando se aproximavam da fronteira, eles começaram a ficar ansiosos e com
medo.
Para aliviar seus medos, Moisés enviou uma delegação de espiões, um de cada
tribo, para observar o que se passava por lá e trazer informações que pudessem
acalmar os antigos escravos.
Os espiões passaram quarenta dias na Terra Prometida e voltaram relatando uma
situação complicada: de fato, lá havia abundância de leite e mel, mas também de
inimigos de proporções gigantescas — "Éramos, aos nossos próprios olhos, como
gafanhotos e assim também o éramos aos seus olhos!", foi o que eles disseram
(Números 13-33).
Ao ouvirem essa notícia, as pessoas que haviam deixado o Egito havia tão pouco
tempo ficaram arrasadas.
Elas não conseguiam entender por que tinham que sofrer tanto e se perguntavam
se não seria melhor voltar para o Egito do que enfrentar um futuro de guerra com
um inimigo insuperável.
Mas dois dos espiões, Josué e Calebe, viam a situação de uma outra perspectiva.
Calebe assegura os hebreus de que eles poderão conquistar os inimigos e a Terra
Prometida; na verdade, ele diz a eles que a terra é "muito, muito boa" e que, como
eles têm Deus do seu lado, não têm nada com que se preocupar.
Mas as pessoas não o ouvem.
Quando Deus toma conhecimento do que está acontecendo, Ele fica enfurecido.
Depois de tudo que Ele fez para libertar esse povo da escravidão e levá-lo para a
sua própria terra, eles ainda têm pouca fé em sua capacidade de seguirem em
frente.
Ele decreta, então, que ninguém, a não ser Calebe e Josué, que viram as coisas
como elas realmente eram, do grupo original que havia fugido do Egito, teria
permissão para entrar na Terra Prometida.
Em seu lugar, esse seria o começo dos quarenta anos que passariam vagando pelo
deserto, um ano para cada dia que os espiões haviam passado na Terra Prometida
e só depois de passados os quarenta anos e a primeira geração ter morrido, a nova
geração teria permissão para entrar nela.

O que faz com que Calebe diga: "Eia! Subamos e possuamos a terra, porque,
certamente, prevaleceremos contra ela!" (Números 13:30), quando todos os outros
estão claramente perdendo as esperanças?
O que torna Calebe e Josué diferentes dos outros espiões e de todas as outras
pessoas?
Os espiões dizem que "éramos, aos nossos próprios olhos, como gafanhotos"
quando descrevem os gigantes que vivem na terra e o que eles, em comparação,
parecem ser.
Isso quer dizer que eles se perceberam como gafanhotos, insignificantes e fracos
quando comparados com os habitantes da terra.
Mas isso não quer dizer que eles eram muito menores — quer dizer que eles
haviam perdido a confiança em si mesmos, que se consideravam inferiores e que
viam os desafios pela frente como impossíveis de serem superados.
Isso estava acontecendo porque por anos e anos aquelas pessoas haviam sofrido
como escravos no Egito e continuavam se sentindo como se fossem escravos:
fracos, pequenos e amedrontados diante do grande e poderoso capataz.
Os espiões haviam, de alguma maneira, projetado sua mentalidade de escravos no
relatório que fizeram, e como os outros estavam imbuídos dessa mesma
mentalidade, eles acreditaram.
Calebe, por outro lado, já havia superado essa mentalidade e estava preparado
para aceitar as novas realidades da liberdade e da independência.
Infelizmente, seriam necessários quarenta anos de trabalho emocional e cura
psicológica para que os outros pudessem acompanhá-lo.

A letra Caf é considerada como símbolo da concretização.


Como a coroa (Keter), que simboliza o poder humano supremo (Koach), a letra Caf
representa o conhecimento do potencial humano e a realização desse potencial.
Caf é também a primeira letra da palavra Kavana, um termo importante na Cabala.
Kavana significa "intenção", ou a energia com a qual você procura realizar coisas.
O resultado de seus esforços está diretamente ligado à sua intenção.
Calebe tinha boas intenções e procurou fazer com que os outros enxergassem o
que ele estava vendo.
Por essa pureza de intenção, ele foi recompensado com a capacidade de entrar na
Terra Prometida, enquanto todos os outros foram impedidos.
Exatamente como Calebe foi capaz de ver uma realidade diferente e expressar sua
confiança nela, essa carta aponta para o fato de que você deve se esforçar para ver
as coisas de uma perspectiva mais ampla e não se deixar enredar pelo passado.

Por: Deepka Chopra

O Nome “Israel-Kaf”

A palavra Israel em hebraico se escreve ; ou seja, os valores numéricos


correspondentes a cada letra são:  30,  1,  200, 300 e  10.
Reorganizamos esses números da seguinte forma:
300 / 30 / 200 / 10 / 1 e, com a ajuda de D-us, percebemos que existe uma certa
correlação entre os dados, ou seja, do 10 vai-se ao 1, do 300 vai-se ao 30
(diminuindo 10 vezes).
O único número que está só é o 200; pela lógica e pela posição das letras, pulando
de três em três letras (da direita para a esquerda), encontramos um valor
"aparentemente oculto" 10 (dez) vezes menor, isto é, o (20) que corresponde ao

da letra (Kaf).
Desta, com a configuração original, o nome seguindo o mesmo padrão, ficaria
 (Israel Kaf).
Uma forma distinta de reencontrar este 20 oculto, é pela série de diferenças em
módulo "l" (valor absoluto [> 0]), dos valores do nome  (Israel), conforme a
Figura 25 – Diferença em Módulo do Nome Israel anexa.
Procuramos, em toda a Tora, se existe alguma seqüência de letras formando a
palavra  (Israel Kaf). E, por incrível que pareça, foi encontrada em 32
ocasiões diferentes, sendo que a primeira aparição ocorre em Bereshit (Gênesis)
XXXII:29, dizendo:
"Não, Jacob não será mais o teu nome, mas sim Israel, pois lutaste com (o Anjo
de) D-us e venceste". (Ver Figura 26 - Procurando Israel Kaf)
A palavra "pois" ( — Ki), está justamente na seqüência da palavra Israel, onde a
letra n (Kaf) aparece.
Lembre-se que o número 32 é o valor da primeira mais a última letra da Tora,
formando a palavra Lev — Coração — além de outros significados.
Trinta e dois (32), é o número de vezes que o Nome de D-us "E-lokim" aparece no
primeiro capítulo do Gênesis (Bereshit), desta forma mostrando os 32 modos gerais
de sabedoria (10 sefirót [falas fundamentais das emanações da Luz de D-us] com
as 22 letras) em que o Altíssimo, define os limites espaço / tempo da manifestação
Divina.
O Nome "E-lokim", demonstra a capacidade do Criador de manifestar em uma
criação concreta e limitada, os poderes geradores do infinito.

Por que a letra (Kaf)?


A palavra hebraica Kaf significa, literalmente, "palma" (da mão) ou "colher", que se
assemelham ao desenho da letra Kaf.
Está escrito em Gênesis (Bereshit) XXXII: 24-25:
"E ficou Yaacov sozinho; e lutou um homem com ele, até a aurora, e viu [o
homem] que não podia com ele [Yaacov]; e tocou-o na junta da coxa ( Kaf) de
Yaacou ...".
O Rashi explica, que o osso da coxa que está encaixado ao osso do quadril recebe o
nome de ( —Kaf), porque a carne que está sobre ele tem um formato similar à
da palma da mão, em forma de concha.
A partir desse evento, surgiu o nome Israel.


O Rabino Glazerson comenta que no Rosh Miliin, a letra (Kaf) representa a palma
da mão, isto é, a parte do corpo que produz, constrói.
 
Podemos perceber que o (Kaf) se assemelha muito com a letra (Beit), não só
no aspecto, mas também no seu valor numérico (  = 20 e  = 2).
O nome da  (Kaf) significa também "colher", que é o instrumento que tem a
forma arredondada, semelhante à palma da mão.
A "colher" cheia, ou seja, a letra (Kaf), junto com o  (malei — cheio) —
preenchido, cumprido —, onde juntando os dois encontramos  (Malach —
anjo).

O Midrash diz que a letra  (Kaf — 20) representa o mundo.


O (Beit — 2) por sua vez, representa a casa.
Segundo os nossos sábios, D-us construiu nosso mundo para nele ter uma moradia.
Assim, casa e mundo são sinônimos de moradia.


A letra ( — Kaf) é o início das palavras: (Koach ) Força, (Kavod) Honra,
(Kavir) grande, poderoso.
O(  —Kaf) está intrinsecamente ligado com o povo de Israel através das palavras:
( — Kipá) solidéu – (Kova) Chapéu e (Kisui) cobertura da cabeça para
senhoras.

 — Kipá) solidéu, é uma junção do nome da letra  ( Kaf —


A palavra (
palma da mão) com a letra  (Hei) que possui o valor numérico de 5, fazendo
alusão aos 5 dedos da mão.
Assim, a palma da mão com os 5 dedos quando colocada sob a cabeça, tem um
formato côncavo, lembrando o solidéu (Kipá).

Podemos encontrar na Torá, em Êxodo (Shemot) IX:29, o seguinte:


"E disse-lhe Moisés: Logo que eu tiver saído da cidade estenderei as minhas palmas
das mãos a D-us" — ... ...
Nesta frase, encontraremos a seqüência de letras que forma a palavra Itkafia

( — submissão da natureza física) — usada na Chassidut (Mística
Chassídica) — onde o Rabino Yitzchak Ginsburgh, explica que a letra Kaf dá o poder
para superar as forças da natureza e vencer o mal.

No Salmo 139:5 encontramos:


(Achor vakedem tsartáni, vatáshet alai capêcha) — "Tu me amparas de todos os
lados e em qualquer tempo colocando sobre mim sua ( 
Kaf — palma) da mão
protetora".

Em Provérbios (Mishlêi) VI:3 está escrito:


"Faça isso então, meu filho, e salve-se, uma vez que você chegou à palma da mão
do seu próximo...".
Rashi — um dos maiores comentaristas da Torá — diz:
"Uma vez que você chegou para a palma da mão do Amigo no Sinai, e aceitou Sua
Divindade, humilhe-se diante de D-us, trazendo o seu próximo para perto Dele".

Das 32 vezes em que aparece a palavra  (Israel Kaf) na Torá, a última
ocorre em Deuteronômio (Devarim) XXXIV:9 dizendo:
"E Josué (Yehoshua), filho de Nun estava cheio de sabedoria; portanto Moisés
(Moshê) tinha posto, sobre ele, as suas mãos (palma da mão)..."
A guimátria ATBaSh de  (495) possui os mesmos números da guimátria
Absoluta de Josué (Yehoshua), filho de Nun) — 549.
Após apresentar a série ao Rabino David Weitman — a qual achou interessante — e
usando de seu brilho intelectual, chamou-me a atenção na continuação da mesma
seqüência no texto sagrado, que não pára por aí, mas segue ao invés de diminuir

(10) dez vezes, aumenta (10) vezes a partir da letra (Kaf), gerando as palavras
Israel Ki Sarita, ou em hebraico, conforme Figura 27.

Podemos observar ainda mais, que as letras que ficam nas extremidades desta
  
seqüência — de (Yud — 10) ao outro (Yud — 10), são (Mem — 40) e 
 (Tav — 400) — dez vezes mais, além de que, do  (Mem) até o  (Tav),
encontramos 10 letras intermediárias.
Também temos, a partir da primeira letra  (Yud), somando-se o conjunto de 3 em
 —510,  —51 e  —510) uma relação de 10 vezes entre eles.
3 letras (
Com essas letras podemos formar as palavras:  (Yashar Elech Yashar
— reto andarei reto), dando concordância ao versículo em Deuteronômio (Devarim)
XVI:20:
"A justiça, e somente a justiça, seguirás".
A letra (Kaf) possui o valor numérico = 20.
Vinte em hebraico se escreve Esrim ( = 620), que é o mesmo valor da
palavra Keter ( — coroa).
Podemos perceber que o número de letras no relato dos 10 mandamentos é 620; e

a última letra, ou seja, a 620ª é a letra (Kaf).
No Sefer Bereshit (Gênesis), encontrarmos 2774 letras  (Kaf), assim:
2+7+7+4 = 20.

A título de curiosidade, podemos também utilizar a guimátria do valor reduzido na


seqüência, que fica conforme a figura 28
Assim, encontramos a repetição dos números 231.

Conforme já mencionado anteriormente, as letras da palavra  — Israel


também podem formar ‖, ou seja, (Yesh — ―existem‖ — 231 portões) o
valor das letras ‖.
Se prestarmos atenção, podemos perceber um número razoável de fotos em que
eminentes sábios de nossa geração mostram às pessoas a palma de sua mão

" (Kaf)" como se fosse uma forma de cumprimento.
Será?...
Pesquisando nos anais históricos, encontramos um fato curioso que diz respeito ao
Brasil.
Uma das personalidades mais destacadas na época colonial em nosso país foi João
Ramalho.
Sendo judeu português, como muitos, vítima da intolerância religiosa, devido às
perseguições da Inquisição foi forçado a emigrar ao Brasil, chegando a São Vicente
em 1532.
O interessante, é que cada vez que assinava o seu nome, colocava um sinal 
 
(Kaf), entre os dois nomes: João Ramalho. (Ver figura 30)
Este fato despertou muita atenção, sendo matéria polêmica de muitos artigos
históricos, tais como o extenso tratado do historiador brasileiro Horácio de Carvalho
intitulado: O Kaf de João Ramalho (1903).
Por que João Ramalho, assim como outros judeus na mesma época, utilizava esse
sinal?
Boa parte dos historiadores explica o sinal 
como sendo uma forma secreta de se
apresentarem como pertencentes ao povo de Israel.
Outra explicação, encontrada num ensaio de co-autoria de Júlio de Gouveia,
publicado na (Crônica Israelita — 1945) de nome "João Ramalho e a Inquisição", é
a associação com o termo rabínico " Kefuim — coagidos", significando
aqueles que foram obrigados, forçados, a abandonarem a fé judaica.

Assim, para não se exporem, utilizavam o sinal (Kaf), como identificação entre si.
O curioso é que, será que os judeus daquela época já conheciam a associação entre
o 
Kaf e a palavra  Israel.

Por último, realizamos a busca com a palavra 


(Israel-Kaf), — ela aparece
na Torá em 32 ocasiões, conforme a tabela 31. Confira!

Por: David Zumerkorn


O Alfabeto Sagrado – Kaf: As três coroas

Josy Eisenberg — Demonstramos em nossas conversas precedentes que o sentido


primeiro de uma letra intervém quando ela é a inicial de um nome importante.
A letra kaf é a inicial da palavra kéter — coroa divina —, que desempenha um papel
fundamental na mística judaica.

Adin Steinsaltz — Em primeiro lugar, kaf é a décima primeira letra.


Ela coroa as dez primeiras.
Na Cabalá, as dez primeiras letras do alfabeto representam as dez sefirot, as dez
emanações, e kéter, a coroa, é o signo do que está além destas dez letras.
O kaf é outro mundo: o infinito.
É um mundo de outra natureza: pois é a letra que segue a décima, o iud.
Passa-se do iud — a décima letra: o mundo criado — ao Kaf — a décima primeira
letra: o mundo divino.
Se a décima letra completa o ciclo das dezenas, com o kaf começa outra dimensão:
o que está além do visível.

J. E. — Na Cabalá, a coroa, kéter, figura frequentemente sobre a cortina da Arca


sagrada como emblema da vontade de Deus, pois o que distingue o rei de um
homem comum é precisamente o fato de ele ter uma coroa.
A coroa representa portanto, simbolicamente, o poder de Deus, a realeza.

A. S. — Por um lado, com efeito, é o emblema da realeza.


Por outro, a coroa designa o que está além de todas as coisas.
Ela não faz parte da configuração do mundo, nem mesmo das sefirot (emanações):
ela está além de toda construção.

- Os trompetes da reputação

J. E. — Há um célebre texto dos Pirkê Avot — Ética dos Pais* — que diz que
existem quatro coroas para cada ser humano.
Rabi Shimon dizia: "Existem três coroas. Em primeiro lugar, a da Torá, que é a
coroa do saber.
A segunda coroa é a da realeza ou do poder.
E a terceira coroa é a do sacerdócio.
Temos, portanto, o saber, o poder e o sagrado, que os sacerdotes do Templo
transmitem.
Mas a elas se acrescenta uma quarta coroa: a da boa reputação: "A coroa do bom
nome supera as outras coroas" (Ética dos Pais).
Um comentário hassídico diz que a coroa da realeza, nem todos podem tê-la,
tampouco podem todos ter a coroa do sacerdócio: é preciso, para isso, pertencer à
linhagem dos sacerdotes, ser cohen.
Por conseguinte, para nós, simples judeus, só nos resta a coroa da Torá.
Isto é muito importante: a Torá é considerada o patrimônio virtual de todo judeu.
Ora, a palavra kéter tem por valor numérico 620, e há 620 letras no texto dos Dez
Mandamentos.
O que quer dizer que é a Kéter Torá — a coroa da Torá — que, coroando o homem,
lhe confere sua dignidade.
Um simples judeu não pode aspirar à coroa do sacerdócio nem à da realeza.
Mas a coroa da Torá, cada um pode obtê-la.

A. S. — Quando se representa a coroa, frequentemente se desenham três coroas


superpostas.
É assim que a arte judaica representa os segredos do mundo com grande
simplicidade.
Mas há também uma quarta coroa: a do "bom nome".
É outra forma de coroa: ela pertence ao homem enquanto homem.
Aqui o que conta não é nem o que sei, nem o que faço, mas o que sou.

J. E. — A dimensão do "bom nome" corresponde também à imagem social, a


imagem de nós próprios que a sociedade nos reenvia.

A. S. — A reputação é uma coroa muito pessoal.


Permita-me uma pequena digressão.
Se o fundador do hassidismo foi nomeado Baal Shem Tov — o homem do bom
nome — é porque se trata de uma alusão ao fato de que ele possuía a coroa do
"bom nome"!
Isto significa que este homem não é um erudito nem um sacerdote.
A coroa que ele veste é só a de sua personalidade.

J. E. — O alfabeto hebraico apresenta muitas particularidades.


Além de uma sucessão de letras, o fato de que cada letra tenha um valor numérico
faz que esta sucessão seja também uma sucessão de algarismos.
Ademais, existe uma relação estreita entre cada letra, a precedente e a seguinte.
Assim se constituem verdadeiros pares.
Por exemplo, o alef e o bet juntos formam a palavra av, "pai".
Por conseguinte, para bem compreender o sentido do kaf, a décima primeira letra
do alfabeto, é preciso rememorar o sentido da letra que a precede, de quem ela
está duplamente próxima, pelo lugar e pelo sentido: a saber, a letra iud.

J. E. — No que se refere ao encadeamento das letras, a letra que precede a letra


kaf, iud, significa, entre outras coisas, "a mão" — iad.
Mas a letra kaf também quer dizer "a mão".
Mais exatamente, a "palma da mão".

- Jogos de mãos

A. S. — A palma é uma parte da mão.


Mas ela é mais limitada que a mão.
Pois a mão tem funções muito diversas.
Ela pode ser tanto a mão fechada, a mão que bate ou a mão que dá.
Já a palma da mão não tem todas estas funções.
Na realidade, a palma da mão é aquilo que recebe.
Deve-se também estar atento à forma da letra.
Tomemos o exemplo do zain, a sétima letra: ela significa uma "espada".
Aliás, a letra zain tem precisamente a forma de uma espada.
Quanto à letra kaf, ela tem a forma da palma da mão: a que recebe, a que segura,
contrariamente ao iud, que representa a mão que dá.
Assim, a relação do iud e do kaf constitui um dos pares fundamentais do
pensamento judaico: o "dar-receber".

J. E. — Na Cabalá distinguem-se dois tipos de vontades, tanto em Deus quanto no


homem: haratzón lekabel ve haratzón leashpia — a vontade de receber e a vontade
de dar.
Ora, os dois termos hebraicos que designam a mão, iad por um lado e kaf por
outro, correspondem a estas duas formas: Iad hanotenet — a mão que dá; ao
passo que o kaf é iad hamekabelet — a mão que recebe.
Há um paradoxo nestas significações, porque o kaf é a mão que recebe, mas,
paralelamente, o verbo kafo, derivado do kaf, significa obrigar ou submeter.
Temos aqui duas ideias antagônicas: a mão pode receber, mas ela pode também
obrigar.

A. S. — Na realidade, obrigar e receber são duas faces de uma mesma realidade.


O kaf é uma letra encurvada.
Posso pegar uma coisa para curvá-la ou torcê-la.
Ora, obrigar é fazer [alguém se] dobrar.

- O outro kaf

J. E. — Eis agora uma nova particularidade do alfabeto hebraico: cinco de suas


vinte e duas letras se escrevem de outro modo quando se encontram no fim da
palavra: o kaf, o tzadik, o mem, o nun e o pei.
É evidente que quando se pode escrever uma letra de duas maneiras é que ela tem
uma dupla significação.


A. S. — Kaf é a primeira das cinco letras que têm esta particularidade.
Uma grafia no início e no meio de uma palavra, e outra no fim da palavra.
Denomina-se isto "kaf comum" e "kaf curvado".
O kaf comum aparece como um tipo de variante do kaf curvado.
Em etíope é a mesma coisa.
Os eruditos, aliás, se colocam uma questão: qual é a forma original? Seria o kaf
comum ou o kaf curvado? O kaf reto é um kaf curvado que foi endireitado?
Por outro lado, em muitos livros de mística as letras finais têm um valor maior do
que as letras comuns, uma forma mais bem acabada.

J. E. — A este respeito há um comentário hassídico muito pertinente, que concerne


à diferença entre o kaf comum e o kaf final.
O kaf comum, de acordo com este comentário, se assemelha a um homem
curvado.
Ele está, de certo modo, orando, à espera e à busca de algo.
Ao passo que o kaf final é completamente reto.
Ora, há dois tipos de identidade do povo judeu.
Ele se denomina ora Iaacov — Jacob —, da raiz acov, "torto", ora Israel, da raiz
iashar, run, "reto".
E o profeta Isaías disse: "Um dia, o que está torto será endireitado" (Isaías 40,4).
Isto significa que enquanto o povo judeu estiver no galut — exílio — o povo judeu
estará "curvado"; quando ele reencontrar sua terra — Israel — o povo voltará a ser
iashar — "reto".
O kaf curvado — o judeu humilhado no exílio — se reerguerá!

A. S. — Há outro aspecto do kaf: a letra kaf tem também diversos usos


gramaticais.
Em primeiro lugar, é o artigo possessivo: "isto é teu".
Se acrescentamos um kaf no fim da palavra "mulher", esta passa a significar "tua
mulher": ishtecHál — a tua.
Ele tem também outra função: quando colocado no início da palavra, é o kaf de
comparação. E aí ele significa: "aproximadamente".
[É importante lembrar que a letra kaf se transcreve K ou C quando se apresenta
com um pontinho dentro; e KH ou CH, quando se apresenta sem o pontinho dentro.
Neste caso se pronuncia como a letra chet (como o J espanhol).
É o caso do kaf final.]

J. E. — Em um texto da Torá, Deus diz a Moisés: "À meia-noite eu ferirei os


primogênitos" — Bachatzót.
Mas Moisés, quando transmite a mensagem ao povo, diz outra coisa "Por volta de
meia-noite..." — Kachatzót (Êxodo 11,4), com um kaf.
O Midrash comenta: "Deus pode intervir à meia-noite exata. Mas como não temos o
conhecimento da hora exata dizemos: 'aproximadamente'. É por isso que Moisés
diz: `Kachatzót... Por volta de meia-noite...' Para que o Faraó não possa dizer:
'Vosso Deus não está no horário’‖.
Há também outra significação para o kaf.
Não se trata somente de forçar outrem, mas também de forçar nosso próprio
instinto para dominá-lo.
Eis por que na liturgia suplica-se a Deus que "force" nossas pulsões a se colocarem
a serviço de Deus.
Aliás, derivado do kaf, o verbo kafo significa igualmente "subjugar".

- Nas mãos de Deus

A. S. — Existe ainda outro kaf que aparece em vários lugares; ele designa a
proteção.
Deus diz a Moisés: "Colocarei a palma de minha mão sobre ti..." (Êxodo 33,22).
É preciso lembrar que é colocando as mãos sobre a cabeça de outrem que se o
abençoa.
Isto significa também "guardar": guardo um objeto colocando a mão sobre ele.
Eu o preservo.
No entanto, "guardar" é um verbo ambíguo.
Este homem que domina seus instintos é alguém que se "mutila" ou alguém que se
protege?
Quando se diz que um homem está sob proteção em um lugar diz-se que o
"guardamos".
O que é preciso compreender?
Que este homem está sob vigilância, subjugado, ou então que ele está protegido?
É uma casa ou uma prisão?

J. E. — Por outro lado, a palma da mão representa igualmente a propriedade, a


posse.
Para os sacrifícios no Templo oferecia-se uma "palma" (um punhado) de farinha e
de incenso.
Isso nos remete a este famoso provérbio: "Melhor um simples punhado na
serenidade que duas mãos cheias no pesar" (Eclesiastes 4,6).
Em outras palavras, mais vale uma pequena fortuna em uma casa tranquila do que
uma imensa fortuna em um palácio cheio de contendas.

A. S. — No culto do Templo, com efeito, fala-se frequentemente de "palma" a


respeito das oblações, que se oferecem com duas mãos.
Assim é apresentada a mais importante oblação (korban): o incenso é oferecido no
altar no dia de Kipur com as duas mãos.
É ao mesmo tempo prender e proteger.
Não se diz "estar" nas mãos de Deus?

- Toca aqui

J. E. — Há também o fato de que os seres humanos se deem as mãos para se


cumprimentar.
A palavra: "amigo", iedid, é composta de duas vezes iad!
Quando se colocam duas mãos juntas, iad + iad, forma-se a palavra "amigo"...
A mão intervém igualmente na noção de juramento, em que se diz "tkiat kaf',
literalmente "plantar a palma de sua mão".

A. S. — Quando dois homens se dão as mãos, se "apertam" as mãos, esse gesto


bem significa que uma mão segura a outra.
Existe um costume que é da ordem do que dizemos: o juramento que o senhor
evocou.
"Plantar a palma de sua mão."
É uma expressão muito antiga, que figura já na Bíblia.
Eu dou a minha mão e, assim fazendo, me comprometo.
É, ao mesmo tempo, "aceitar" e se "submeter".

J. E. — Dizem que um dia todas as nações farão o kaf, elas prestarão juramento e
fidelidade ao Deus único.
"Todas as nações, batam palmas" (Salmos 47,2).

A. S. — "Plantar" sua mão significa também que duas pessoas estão felizes de ter
conseguido chegar a um acordo, com o qual elas se comprometem reciprocamente.
Na realidade, este tipo de comprometimento existe na Lei judaica desde a Idade
Média: dar sua mão a outrem é uma promessa, um juramento.
É até mesmo mais forte do que um juramento ou uma assinatura.
Por exemplo, na versão sefaradi do contrato de casamento — Ketubá — o noivo se
compromete, através de um juramento solene, designado precisamente como
"plantar a palma de sua mão", dando a mão ao rabino sob o dossel nupcial.

J. E. — Este costume, que se denomina em francês "Toca aqui!", existe ainda hoje.
Na Antiguidade batia-se uma mão na outra para um acordo sobre uma venda ou
uma transação.
Hoje em dia os comerciantes de diamante de Antuérpia continuam.
Quando fazem uma venda de diamantes eles pronunciam as palavras "mazal ou
brachá" — sorte e bênção —, que substituem o contrato.
Esta fórmula é suficiente para comprometer a palavra de cada um.

A. S. — O senhor sabe, em algum lugar, a mão é específica da espécie humana:


nós nos damos as mãos.
Os animais não se dão as mãos!
Minha mão, de certo modo, me representa.
Eu a dou, eu me dou.
Em hebraico, ao se dar as mãos, se diz: "Coloco minha alma em minha mão".
É uma expressão retirada da Bíblia.
É todo o tema da mão aberta, daquilo que é perfeitamente visível.
De um ponto de vista fisiológico, isto é verdade: a criança nasce com as mãos
abertas, como se quisesse pegar tudo.
Mas quando se morre as mãos estão fechadas, não me resta mais nada!
É a diferença entre a mão e a palma da mão: o início e o fim.

- Retidão e curvatura: os dois judeus

J. E. — Abordemos agora a simbólica destas duas mãos: iad, a mão reta, e kaf, a
palma da mão, a "retidão" e a "curvatura".
Havia dois tipos de shofar, o chifre de carneiro que se toca no ano novo (Rosh
Hashaná) e no dia do perdão (Iom Kipur).
Aquele que usamos deve ser curvo: esta curvatura representa o símbolo da
humildade.
Sabemos que durante estes momentos solenes — Rosh Hashaná e Iom Kipur —
pedimos perdão pelos nossos erros: estamos humildes e curvados.
Mas no Bet Hamikdash — o Templo de Jerusalém — o shofar era reto.
O que quer dizer que há duas situações do povo judeu: a postura na qual o povo
deve estar curvado, cheio de humildade, e a postura retilínea, de retidão.
Todo ser humano deve passar pela postura curvada.
Ele deve suportar o peso de seus erros, até reencontrar uma estatura reta, na qual
reencontrará sua dignidade.
A. S. — O problema da salvação de Israel está, na realidade, ligado aos nomes que
leva Jacob.
Seu primeiro nome, Jacob — Iaacov significa curvado, submetido ao poder de
outrem.
Ao passo que o nome de Israel conota o poder.

J. E. — Este segundo nome, Israel, Jacob o recebe no decorrer de um famoso


episódio: seu combate com um anjo que veio agredi-lo.
Este último, vencido, diz ao patriarca: "Jacob não será mais teu nome, senão
Israel, pois venceste um Elohim" (Gênesis 32,29).
Israel significa: aquele que combate com Deus.
Mais tarde, a Torá dotará o povo judeu de um terceiro nome: ieshurun, que
significa "aquele que é reto".

A. S. — Israel ou Ieshurun — o que é reto — se torna o contrário exato de Jacob,


aquele que é entortado por si próprio e com os outros.

J. E. — Evoca-se com frequência o fato de que o nome de Jacob — Iaacov —


designe o judeu no exílio.
Na Bíblia, Jacob esteve longamente no exílio.
Ele teve que fugir da Terra Santa.
A palavra "Israel" designa, ao contrário, o judeu que vive na Terra Santa.
Não é por acaso que o Estado de Israel leva este nome.

A. S. — É sempre a mesma diferença entre o kaf curvo e o kaf reto.

J. E. — Poderíamos dizer, a respeito desta ambivalência do homem, que a utilização


da palavra kaf se expressa igualmente na linguagem judiciária: kaf zerut e kaf chov
— inocente ou culpado.
Os dois pratos da balança da justiça são denominados kaf: o kaf da inocência e o
kaf da culpa, representados pelos dois pratos.

A. S. — O kaf é sempre ambivalente.


Seria signo da atividade ou da passividade? Signo da submissão ou da obrigação?
É um pouco a mesma coisa, exceto que aquele que se inclina o faz
voluntariamente, ao passo que aquele a quem se obriga faz aparentemente o
mesmo gesto, mas é o outro que lhe impõe.

J. E. — Estas duas posturas do kaf, retidão e curvatura, expressam a ideia de que


há dois momentos na vida: os momentos em que é preciso saber se inclinar e os
momentos em que é preciso se endireitar.
Justamente, duas das principais sefirot se denominam netzach e hod.
Netzach quer dizer "vitória" e hod, "reconhecimento" e "submissão".
São duas atitudes que o homem deve explorar: seja saber vencer a si próprio, seja
vencer outrem.
De certo modo, saber "convencê-lo" ou então saber "reconhecer" que o outro tem
razão.
Os dois kaf significam, em suma: às vezes você tem razão, às vezes sou eu que
tenho razão.

Por: Josy Eisenberg e Adin Steinsaltz


As Letras Hebraicas – Parte 16


Lamed

Som: L

Significado: O significado da palavra Lamed é aprender, ensinar e também ―vara‖.


A raiz hebraica de Lamed —  significa ao mesmo tempo "aprender" e
"ensinar".
Representa também a aguilhada, ou aguilhão, que se usa para conduzir o gado.
Como prefixo, Lamed significa, entre outras preposições, "para", "em direção a" e
"em".
Lamed indica movimento em direção a alguma coisa.
É também a primeira letra de  , lev, "coração".
O Lamed é a letra mais alta do Aleph Beit.
Tradicionalmente descrito como "uma torre elevando-se no ar", o Lamed ultrapassa
a linha superior da escrita de todas as outras letras.
Lamed significa tanto aprender como ensinar, remetendo ao princípio básico da
Cabalá – receber para compartilhar.
O Lamed implica em uma meta para o qual devemos ir, mas indica também a
transição em que nos encontramos antes de atingir este novo estado.
É um ―processo‖ de elevação.
Lamed pode igualmente simbolizar a escolha de ―algo‖ para nos conduzir.
É possível que o nome da letra seja derivada do hebraico ―lamadh‖, conduzir.
Deixar-se conduzir pela sabedoria espiritual.
É a expressão da força interior, o movimento para o exterior da riqueza interior.
Lamed é a energia direta necessária para iniciar toda a ação, como também as
restrições que devemos fazer para progredir.

Conceito: A potência que é a força do Lamed, é o resultado da concentração do


grande intento em uma direção específica.
O grande intento é o ato doador, é intento doador.
E o desejo genuíno é o elemento diferencial do ser humano.
Só a internalização dessa força pode produzir transformações significativas e
singulares na existência.

Formato: A letra Lamed l é um vav em formato de torre pousado sobre um caf.


A forma desta letra é que mais se eleva no alfabeto.
A Torá termina por um Lamed, após receber todo o conhecimento da sabedoria
espiritual temos a possibilidade da elevação de nossa consciência.

Número: Lamed representa o número 30.


O numero 30, valor do Lamed, representa o perfeito equilíbrio celeste.
Este estado potencial de perfeição existe em todas as pessoas e uma estimulação
pode fazer brotar.
O valor pleno de Lamed ( ) é igual a 74.
Este número corresponde ao valor numérico da palavra eternidade em hebraico,
remetendo a ideia de que através da elevação de consciência podemos eliminar os
processos de falência.
Lamed é formado por um Caf e Vav, nos permitindo encontrar 26, o mesmo valor
numérico do Tetragrama.

Espaço: No espaço, Lamed representa a Constelação da Balança (Libra).


Tempo: No tempo Lamed é responsável pela criação da Tishrei.

Corpo: Na alma e conseqüentemente refletindo no corpo, Lamed está relacionada


a vesícula biliar.

Medicina: Lamed trabalha em nós a sexualidade.

Sentido: Toque físico e intimidade.

Arquétipo: Efraim.

Aplicação:
Mover-se.
Pensar grande.
Aprender e ensinar conforme nosso coração.

Sombra:
Grandiosidade.
Vício em trabalho.
Aprendizado estreito, livresco.

Reflexão:
Qual é minha paixão e meu prazer?
Qual é o desejo do meu coração?
Como ir em direção a esse desejo?

Ação sugerida:
Hoje mesmo, dê os primeiros passos em direção à execução de um projeto ou
trabalho que você vem adiando.

Canal-Caminho: De Hod a Yessod

Sefer Yetziyrah: “Ele fez a letra Lamed reinar sobre a copulação, corou-a,
combinou-a com cada uma das outras e, com elas formou: Libra no universo,
Tish’rê no ano e a vesícula biliar na Nefesh...” (S. Y. 5.13)

Comentários:
A tradição dá a esta palavra o sentido de "vara", mas também o de ensinar,
aprender, instruir.
A vara conduz o gado para fazê-lo avançar e Lamed toma então o sentido de guia,
de instrutor ou de aquele que ensina.
É a expressão da força interior, do movimento da riqueza interior em direção do
exterior.
Dizem ainda que Lamed é uma asa que se movimenta.
Apesar de tudo, o nome desta letra evidencia, de preferência, o poder intelectual
com "lemed", o estudo ou a ciência.
A Árvore das Vidas é conhecida também como os 32 Caminhos da Sabedoria .
O número 32 em hebraico , escreve-se com Lamed (última letra da Torá) e Beit (a
primeira letra da Torá) .
Assim, a Torá está envolvida pelo 32 e trás o ―caminho‖ no seu coração, pois
Lamed e Beit formam a palavra ―lev‖ que significa ―coração‖ .

As letras Lamed e Beit compartilham também uma outra definição.


Como prefixos, Lamed significa ―para‖ e Beit quer dizer ―em‖ ou ―dentro‖.
Isto nos leva a conclusão que o verdadeiro Caminho da Sabedoria é ―para dentro‖,
ou seja, um caminho de introspecção e contração (autoconhecimento).
Os 32 Caminhos da Sabedoria são Caminhos que devem ser desbravados por cada
indivíduo .
Não há uma ―estrada pública‖ para os mistérios .
O mês de Tishrei ((Setembro-Outubro) – mês de Libra) é o mês do "sentimento
correto" e é governado pela letra lamed, que, conforme já dissemos, é a primeira
letra da palavra "coração" (lev)

Lamed é a letra que mais sobe do alfabeto hebraico, indicando uma visão
antecipada ou mais abrangente das coisas.
Como palavra, significa tanto "aprender" como "ensinar" e, num estágio mais
avançado, aquele que aprende para poder ensinar.
Seu desenho é formado pela composição das letras Caf (20) e Vav (6), e assim,
Lamed estimula a busca do sagrado, dos sentimentos mais elevados, das
dimensões superiores (26 é a guematria do Tetragrama Sagrado).
Por ser a última letra da Torá, representa o homem evoluído depois de ter
assimilado os ensinamentos deixados pelo Eterno.

Como dissemos acima, Lamed é a única letra do alef-beit cujo formato ascende
acima do limite superior das letras.
Entende-se disso como refletindo a grande saudade existencial e a aspiração do
lamed de retornar à sua fonte suprema e absoluta na essência do Infinito Ser
Divino.
Esta é a experiência da verdadeira teshuvá (retorno) de Rosh Hashaná e Yom
Kipur.
A Infinita Luz de D’us desce e se torna manifesta nos dois lameds do Lulav (Folha
de palmeira) na Festa de Sucot (Festa das Cabanas).

Em ―As Letras de Rabi Akiva‖, a pronúncia completa da letra lamed (lamed-mem-


dalet) é lida como na frase: ―um coração que entende conhecimento‖ (―lev meivin
da’at‖).
O valor numérico desta frase (608) equivale a ―coração‖ (32) vezes ―Eva‖ (19), i.e.,
―o coração de Eva‖.
Em seu comentário sobre a história do Jardim do Éden, o episódio inicial da
humanidade, Rabi Avraham Ibn Ezra afirma que Adão é o segredo do cérebro; Eva,
o segredo do coração; a cobra, o segredo do fígado.
Na Cabalá e na Chassidut estas correspondências fundamentais são desenvolvidas
e explicadas de modo profundo.
Adão e Eva, macho e fêmea, são os protótipos das forças espirituais de dar e
receber. A união marital e doação do macho para a fêmea estão relacionadas com o
segredo do conhecimento, conforme é dito:
―E Adão conheceu sua esposa Eva.‖
Por esta razão, Adão e Eva são frequentemente vistos como uma representação do
professor e seu aluno. O professor contrai seu intelecto em um ponto (yud) a fim
de transmitir seu ensinamento a seu aluno, enquanto o aluno anula seus níveis
anteriores de concepção para se tornar um recipiente apropriado para os
ensinamentos novos e extraordinários de seu mestre.
Particularmente, a forma do lamed representa a aspiração do aluno realmente
devotado em aprender da boca de seu professor.
Lembrando que o significado literal da letra lamed é ―aprender‖ (ou ―ensinar‖).
A semente da sabedoria, representada pela letra yud, descende do cérebro (Adão)
para impregnar a consciência completa do coração (Eva).
O coração anseia (de modo ascendente) por receber este ponto de discernimento
do cérebro.
Este é o segredo da forma da letra lamed, o coração ascendendo no desejo de
conceber e compreender (―entender conhecimento‖) o ponto de sabedoria, o yud
situado no topo da letra lamed.
Nossos Sábios se referem ao lamed como ―uma torre flutuando no ar‖. Trezentas
leis relacionam-se ao segredo desta ―torre flutuante‖.
Em nosso estudo da Torá, a ―torre flutuante‖ é a expressão de nosso amor e
devoção aos ensinamentos da Torá, nosso desejo em compreender sua verdade
interior, que nos eleva acima da ―barreira da gravidade‖ da preocupação terrena.

Nós aprendemos que o Baal Shem Tov colocava a palma de sua mão no coração de
uma criança judia e abençoava-a para que esta fosse um ―judeu quente‖. A palma,
o poder de concretizar o potencial, se manifesta — no nível espiritual interior — na
―vontade [coroa, keter] do coração‖ para conceber e se unir com a Vontade de
D’us, os ensinamentos da Torá.
O lamed, o coração, anseia de forma ascendente e se conecta com o yud do insight
Divino.
Isto se reflete na forma da letra lamed — um Kaf (ou caf) elevando-se até um yud.
Este também é o segredo da sequência espiritual indicada pelas letras da palavra
―Kli ou keli‖, ―recipiente‖ (kaf-lamed-yud): o poder de concretizar o potencial (a
palma [kaf] do Baal Shem Tov), manifestado no anseio do coração [lamed] de se
elevar para conceber o segredo da sabedoria Divina [yud].
Por toda a Torá, do começo ao fim, o coração simboliza o conceito primordial de
recipiente, o segredo de Eva.

A décima segunda letra do alef-bet é o lamed.


O desenho do lamed, como já dito, são duas letras fundidas juntas': o vav e o kaf .
A Cabalá diz que a letra lamed é comparada a uma torre voando no ar.

A Guematria de lamed é trinta.


Está declarado em Ética dos Pais: "Quando alguém atinge a idade de trinta anos,
chega à idade da força total".
Vemos na Torá que quando o povo hebreu estava no deserto, os levitas que
carregavam os pesados recipientes tinham de estar entre as idades de trinta e
cinquenta, pois estes são os anos mais fortes do homem.
Qual foi o propósito subjacente de os hebreus viajarem quarenta anos pelo
deserto?
Por um lado, sabemos que foi o resultado do pecado dos Espiões.
A incursão de quarenta dias na Terra de Israel evocou o decreto de D'us de
permanecerem no deserto por quarenta anos.
Mas por que eles tiveram de vagar pelo deserto?
Por que não ficar em um local?
Montar acampamento e ali ficar durante quarenta anos?
Qual foi o motivo para terem de enfrentar um total de quarenta e duas jornadas
diferentes em quarenta anos?

O propósito das viagens do povo judeu no deserto foi transformá-lo num jardim:
levar D'us a um local desolado. Como carregavam com eles a Arca Sagrada — e
dentro dela a Torá — todo e cada um dos acampamentos dos hebreus se tornou
não somente um jardim espiritual, mas um jardim no sentido literal.
Esta tornou-se uma lição e um marco para o povo judeu em todos os seus futuros
exílios.
D'us estava informando a eles: No decorrer da história, vocês terão de viajar. Irão
de um país a outro, e a outro.
Mas aonde quer que vão, devem levar a Arca de D'us junto — introduzindo
Divindade àquela área, elevando-a e tornando seus habitantes mais refinados e
espirituais.
Este é o objetivo de um hebreu.
Este poder de transformar o mundo seriamente começa quando completamos trinta
anos.
Até então estamos apenas treinando.
O Midrash Shmuel declara que a pessoa tem a habilidade de orientar e influenciar
os outros para o bem com a idade de trinta anos.
Até então, está apenas lançando os alicerces.
Encontramos outra guematria interessante em relação ao lamed.
Tanto o alef (na forma da palavra ―ulfana‖) quanto o lamed (como em ―lamed‖)
representam D'us como um professor.
Qual é a conexão entre as duas letras?
O desenho do alef é formado de dois yuds e um vav; 10 e 10 e 6 = 26.
O lamed é formado de um kaf e um vav: 20 e 6 = 26.
Vinte e seis é a guematria do nome de D'us, o Tetragrama Yud-Hei-Vav-Hei. Porém
há uma marcante diferença entre os estilos de ensinar do alef e do lamed.
O alef é mais teórico, enquanto o lamed é mais prático.
Por exemplo, o alef representa a Lei Escrita da Torá (histórias e conceitos em geral)
ao passo que o lamed se concentra na Lei Oral (como aplicar na prática estes
conceitos no comportamento do dia-a-dia da pessoa).
Alef, sendo a primeira letra, representa o primeiro passo para adquirir
conhecimento, e portanto é mais teórica. A letra lamed aparece na metade do alef-
bet, e portanto é mais profunda dentro do processo. A essa altura, você está
preparado para traduzir o conhecimento teórico em aplicações práticas.

Em uma outra fonte, o Rebe escreve' que o kaf do lamed representa o ser humano,
que é formado de uma alma Divina e uma alma animalesca, cada uma das quais
possui dez faculdades (totalizando vinte).
O vav representa D'us habitando entre elas.
O valor numérico do kaf é vinte. Quando D'us habita entre elas, Ele acrescenta
Suas Dez Sefirot, ou energias Divinas, perfazendo trinta, que é o lamed.
Talvez seja por isso que o Zohar chama o lamed de uma torre voando pelo ar. O
vav do lamed representa Divindade, espiritualidade, encontrada no alto, "no ar".
O vav, que é um conduto, atrai essa Divindade dos reinos espirituais para o mundo
físico, até ser interiorizado no kaf, o ser humano.
Esta fusão de espiritual e físico imbui o lamed com a capacidade de ensinar
conceitos muito elevados numa maneira prática.

Lamed significa aprender e ensinar — encontrado nas preces diárias com a


expressão ―lilmod ulelamedl‖ (Bênção antes do Shemá). Mas a palavra lamed, o
mandamento de ensinar, não é dirigido meramente para professores de escolas, é
uma diretriz para todo indivíduo.
Toda pessoa pode influenciar seu amigo ou aluno, e todo pai tem duas obrigações
de ensinar aos seus filhos o conhecimento de D'us: boas ações e ética.
A Torá nos diz" que "Ensinarás teus filhos e falarás a eles sobre essas coisas" (i.e.,
os mandamentos da Tora e as responsabilidades).
O Rambam nos informa que esta passagem é a premissa para a mitsvá de Talmud
Torá, o estudo Torá; que através do mandamento de ensinar aos nossos filhos,
sabemos nossa própria obrigação de estudar a Tora.
Pois como podemos ensinar a Torá aos nossos filhos se nós próprios não a
aprendemos?
Poderíamos fazer uma pergunta simples: Por que temos de aprender indiretamente
sobre este mandamento tão essencial?
Se D'us queria nos dizer que somos obrigados a estudar Torá, por que Ele não disse
apenas "Estudem Torá!"?
Por que temos de aprender sobre esta mitsvá por meio do mandamento – ―Ensina
os teus filhos"?
O Rebe explica que quando se trata de estudar Torá, a pessoa é sempre uma
criança, e assim o mandamento de "ensina teus filhos" também pode se aplicar a
nós. Jamais se deve dizer: "Oh, mas agora já tenho cinquenta anos. Já li a Tora
inteira mais de vinte vezes. Você não pode me ensinar nada de novo".
Pelo contrário, a Torá é infinita.
Não importa quantas vezes tenhamos mergulhado nela, sempre podemos descobrir
uma nova percepção ou um significado mais profundo oculto. Devemos abordá-la
como crianças, prontos para receber e escutar.
Como está declarado em Ética de Nossos Pais: "Quem é sábio? Aquele que aprende
com todos".
"Todos" pode significar até alguém mais jovem do que nós.
Até mesmo os seus filhos.

Lamed é alta e elegante como uma palmeira (Lulav) à noite, sob a luz do luar
(L'Vanah) e para sempre (L'olam), enquanto todo mundo dorme, Lamed estuda os
livros sagrados. Embora tenha a aparência de um corpo curvado pra estudar, seu
coração (Lev) sobe como uma chama (Lahav), ficando acima das outras letras. Daí
vem a sabedoria e a força pra dizer "não" (Lo). Um idólatra diz sim, sempre sim,
mas aquele que estuda as escrituras, ouve "isto tu não o farás". Por sua elevação,
Lammed foi escolhido pra dizer "não".

No shabbat, cantamos Lecha Dodí (Venha, amada), venha e ensine-me, estude


comigo, fale-me sobre os 36 justos (Lamed-Vav Tsadikim) que levam no coração a
dor do mundo inteiro.

Se podemos compreender como o pão (Lechem), a chama (Lahav), e o coração


(Lev) compartilham de Lamed, então nós também nos tornamos Lamed: um
guarda vigilante, de pé, sempre alerta em seu posto.

Aplicação
Quando o elevado Lamed, o aguilhão, ergue a cabeça e se mostra a nós, talvez
precisemos ser aguilhoados para entrar em movimento.
Existe algum projeto ou atividade no qual possamos usar um aguihão?
O Lamed significa um momento de fazer as coisas acontecerem, de iniciar a ação.
Quando estamos procrastinando, o Lamed é o aguilhão que diz:
"Vamos! Está na hora de seguir em frente!"
Como o Lamed é a primeira letra de lev, coração, o movimento que ele exige deve
estar em harmonia com nosso ser interior.
Onde está nossa paixão e nosso prazer?
Como o Lamed, enquanto preposição, significa "para" ou "em direção a", ele
simboliza a aspiração e o movimento do coração em direção a um objetivo ou
finalidade — e em direção ao desejo do coração.
Um discípulo pediu ao Vidente de Lublin que lhe mostrasse um caminho universal
para servir a Deus.
O grande rabino respondeu que era impossível revelar às pessoas um caminho
específico para servir a Deus, porque havia muitos caminhos e as pessoas são
muito diferentes entre si.
O Vidente, porém, deu o seguinte conselho: "Cada pessoa deve observar
cuidadosamente a qual dos caminhos seu coração a inclina, e então escolher esse
caminho com toda a sua força".
O Lamed nos incita a observar cuidadosamente e em seguida escolher com toda a
nossa força.
O que está nos impedindo?
A incerteza, o desespero, a falta de confiança, o medo?
Rumi escreveu:
Esses curiosos de loja espirituais que ficam perguntando à toa:
"Quanto custa?" "Ah, estou só olhando."
(...)
Mesmo que você não saiba o que quer,
compre alguma coisa,
para participar da troca geral.
Inicie um projeto grandioso e tolo,
como fez Noé.
Não importa absolutamente nada
o que as pessoas pensam de você.

Quando somos vítimas da ambivalência, da procrastinação, da timidez, da confusão


ou de qualquer coisa que inibe uma ação adequada, o Larned nos dá coragem.
"Escolha!", incita-nos a letra.
"Selecione alguma coisa!"
Sendo a maior letra do Aleph Beit, o Lamed nos encoraja a "pensar grande", a
iniciar um projeto grandioso.
Mesmo que ele pareça tolo, sem dúvida aprenderemos com a experiência.
Como escreveu Dan Millman, em O Caminho do Guerreiro Pacifico, "É melhor
cometer um erro com toda a sua força do que evitar cuidadosamente os erros com
o espírito trêmulo".
Os remorsos em nossa vida giram mais em torno de ações não praticadas do que
em erros ativos.
O reb Zusya dizia que no próximo mundo, depois de sua morte, ninguém lhe
perguntaria: "Zusya, por que você não foi como Moisés?"
A pergunta, em vez disso, seria: "Zusya, por que você não foi um pouco mais como
Zusya?"
Esse é nosso desafio: ser nós mesmos plenamente, ser completamente quem
somos, fiéis ao nosso âmago, ao nosso lev, sem nos intimidar, mas em pé,
elevando-nos em nossa individualidade única, como a letra Lamed.
A vida é o processo de aprender quem somos, e  , lamed, significa
"aprendizado".
Às vezes esse aprendizado ocorre num ambiente educacional formal.
A escolha dessa letra pode indicar um momento propício para assistir a um curso,
seguir um programa de estudos, voltar para a escola.
Mas o ambiente não importa muito.
O Lamed nos lembra de aprender onde quer que possamos nos encontrar, de
estudar a vida.
Lamed significa também "ensino".
O aprendizado e o ensino andam juntos.
A tradição judaica sempre deu grande valor a ambos.
A profissão de , melamed, ou professor de crianças, sempre foi honrada.
Na verdade o nome do coração do estudo judaico tradicional, o Talmud, -,
vem da raiz , Lamed.
O ensino e o aprendizado, para ser maximamente eficazes, devem vir do lev,
coração, e tocar o coração.
O Lamed nos adverte contra o aprendizado seco, céptico, abstrato, ou o ensino
embotado e sem paixão.
Como diz a canção do musical Damn Yankees, "Você precisa ter coração!".
É o coração que nos move, é o coração que cria professores memoráveis e é o
coração que nos permite tocar os outros.
O Lamed, a letra do aguilhão, do aprendizado, do ensino, da aspiração e do

coração, é a última letra da última palavra da Torah, , Yisrael.
É uma letra grande e contém um grande poder.
Quando nos harmonizamos com a energia primal do Lamed, passamos por lições
profundas, aprendendo quem deveríamos ser.

A Sombra do Lamed
O aguilhão do Lamed pode sair do nosso controle.
Nós nos tornamos submissos, jamais nos satisfazemos e ficamos sempre
aguilhoando a nós mesmos ou aos outros, exigindo um esforço cada vez maior.
Em vez de alimentar a criatividade e a realização, essa mania de controle pode
levar ao vício no trabalho e à exaustão, ou mesmo à loucura.
Quando concentramos a energia de estudo e aprendizado do Lamed muito
restritamente, para um aprendizado meramente livresco, podemos nos tornar
cerebrais em excesso, alienados do corpo e do mundo natural.
Quando nos lembramos de que a palavra "dança",  , machol, contém um
Lamed, o espírito da dança pode informar nosso aprendizado e evitar que ele se
torne seco, sem vida ou desproporcional.
O "pensar grande" pode facilmente transformar-se em pomposidade e presunção.
O egoísmo, mais do que a aspiração do coração, pode levar a um desejo de
destacar-se da multidão, elevar-se acima de todos, como o alto Lamed.
Talvez seja necessário lembrar que, como disse E. E Schumaker, "o negócio é ser
pequeno".

Afinal, aquela gloriosa palavra, , Yisrael, começa com a menor letra do Aleph
Beit, antes de terminar com a maior.
Nossas grandiosas ambições talvez precisem ser temperadas com uma certa
humildade e com o coração.

Comentários Pessoais por Richard Seidman


Há um extraordinário contador de histórias em Boston chamado Brother Blue.
Durante um intervalo de uma de suas apresentações, aproximei-me daquele
venerável bardo para agradecer-lhe.
Brother Blue foi amistoso e despretensioso. "O que você faz?", perguntou-me.
Na época eu estava trocando de emprego, de modo que hesitei e gaguejei; quando
estava começando a dizer o que eu fazia, Brother Blue me interrompeu.
Encarando-me com um olhar penetrante, perguntou com autoridade: "O que você
quer fazer?"
Mais uma vez hesitei e gaguejei, e finalmente ele abaixou os olhos e me deixou ir.
Mas eu havia entendido.
O Lamed, o aguilhão, de sua observação me atingiu em cheio.
O que eu mais quero fazer?
Qual é minha paixão mais profunda?
E o que Deus quer de mim?
Qual é meu destino?
Frederick Buechner escreveu: "O lugar para onde Deus o chama é o lugar para
onde convergem a sua alegria maior e a carência maior do mundo".
As palavras de Brother Blue deram clareza a tudo isso para mim.
Sua pergunta simples, mas poderosa, continua me impulsionando, ajudando-me a
dar clareza a minha intenção e a ir em direção ao desejo do meu coração.
O Lamed pergunta, com seu aguilhão, a cada um de nós :"0 que você quer fazer?"

Textos Complementares:

 Lamed - Leah (Lia)


Labão tinha duas filhas: Lia, a mais velha, e Raquel, a mais moça.
Lia tinha os olhos baços, porém Raquel era formosa de porte e de semblante.
Gênesis 29:16-17

Quando Jacó viu Raquel, a filha do seu tio Labão, ele apaixonou-se à primeira vista.
Por isso, ele concordou em trabalhar para Labão durante sete anos para
desposá-la.
Conforme prossegue a narrativa, Jacó estava tão envolvido com Raquel que os anos
se passaram como se fossem minutos.
Mas na sua noite de núpcias, Lia, a filha mais velha, foi mandada para o recinto
nupcial no lugar de Raquel.
Pela manhã, Jacó percebeu que contraiu matrimônio com a pessoa errada e foi
confrontar Labão.
Mas o que estava feito estava feito e, portanto, Jacó concordou em trabalhar mais
sete anos para poder se casar com a sua verdadeira amada.
Pelo resto de suas vidas, as duas irmãs disputaram a atenção de Jacó, criando uma
família que refletia essa rivalidade, apesar do bem maior que adviria dessa
situação.
O engano é um fator importante nessa trama: não foi só Labão que enganou Jacó,
mas também Raquel, ao dar à sua irmã sinais secretos de que ela e Jacó haviam
combinado antes das núpcias para que Lia não ficasse constrangida.
E Lia também concordou em participar da farsa.
De acordo com certos comentadores da Bíblia, quando Jacó acordou pela manhã,
ele primeiro confrontou Lia, perguntando como ela tinha podido mentir e
fingir que era sua irmã.
Lia respondeu que havia agido de maneira muito semelhante à de seu marido
recente, que certa vez mentira para seu próprio pai e fingira ser seu irmão gêmeo
mau, Esaú, para obter os benefícios do primogênito.
Tendo esse fato na base de seu casamento, não é de surpreender que esse
triângulo amoroso tenha sido um dos mais famosos da história!
Lia é descrita como dotada de olhos "baços" — em outras palavras, ela é a menos
atraente das irmãs.
Enquanto alguns estudiosos da Bíblia afirmam que essa descrição indica que ela era
estrábica, outros observam que seus olhos haviam se estragado de tanto chorar, a
ponto de ficar com a visão fraca.
Por que Lia teria chorado tanto, mesmo antes de ter conhecido e se casado com
Jacó e iniciado sua relação menos que perfeita?
De acordo com fontes cabalísticas, Lia fora predestinada a se casar com Esaú e
Raquel com Jacó; os dois casais deveriam gerar doze filhos homens, cada um dos
quais se tornaria o chefe de uma tribo, e todas elas juntas formariam o povo judeu.
Lia, que sabia que Esaú era um homem do campo que não seguiria seu destino,
lamentava constantemente o fato de, por isso, não poder cumprir sua parte na
história de seu povo.
Quando Jacó conheceu Raquel, ele ficou imediatamente apaixonado por ela, não só
porque ela era muito bonita, mas porque eles "estavam predestinados" a serem um
casal.
Quando desposou Lia, ele teve que se esforçar muito para chegar a termo com as
mentiras que havia pregado em sua vida e com a maneira como elas rearranjaram
a saga da família limpa e ordenada que ela estava destinada a ser.
Lia foi a que melhor entendeu a situação e, apesar de sofrer por ser a esposa que
era vista por todos como "a segunda opção", ela se consolou com o fato de poder,
afinal, cumprir o seu destino.
Casada com Jacó e tendo seis filhos dele, ela conseguiu afinal tornar-se uma
matriarca.
Lia é o exemplo consumado de uma mulher de valor — alguém que sofre por seus
ideais, mas que permanece irresoluta em sua fé e devoção.
Depois de uma longa vida ao lado de Jacó, os dois desenvolvem um vínculo que, no
final, torna-se mais forte e duradouro do que aquele que ele tivera com Raquel.
Como eles tiveram que aplacar a raiva que sentiam um pelo outro e como o amor
dela por ele não foi correspondido por muito tempo (a despeito da família que
estavam construindo juntos), Lia e Jacó representam uma relação adulta e madura
que se aprofunda e se renova com o passar do tempo.
No final, é Lia quem é sepultada ao lado de Jacó quando morre e são os filhos de
Lia que irão cumprir os papéis mais importantes na história como chefes da
linhagem messiânica e da classe sacerdotal.
Lamed é a maior letra do aleph-bet, estendendo-se até as esferas superiores.
É a letra com a qual se escreve a palavra "lamed", que significa "aprender" ou
"ensinar".
Por isso, o Lamed representa uma forma espiritual mais elevada de conhecimento.
Segundo a Cabala, Lia representa o mundo superior da Shekinah (a forma feminina
de Deus) revelada, enquanto Raquel representa o mundo inferior dessa face
feminina de Deus no exílio.
Com isso em mente, podemos ver outra interpretação dos "olhos baços" de Lia: se
os olhos são as janelas da alma, então a alma de Lia é a que reconhece o próprio
sofrimento.
Ela viu seu caminho na vida e assumiu seu controle, mudando as circunstâncias de
sua vida para colocar as coisas em ordem.
Lia assume claramente a responsabilidade por seu destino — ela é quem o revela.

A carta Lamed vem para refletir o conhecimento interior de Lia.


Aceite-se e entenda que quaisquer falhas que você possa achar que tem são, em
essência, seus atributos mais fortes.
Quando chegar a entender e aceitar realmente o seu destino, você vai encontrar os
meios para realizá-lo.
Levante-se e olhe para dentro das janelas da sua própria alma — você vai
encontrar os instrumentos necessários para transformar seus sonhos em realidade.

Por: Deepka Chopra

O Alfabeto Sagrado – Lamed: A letra do estudo

Josy Eisenberg — A letra lamed ocupa uma posição particular no alfabeto, em


primeiro lugar porque do ponto de vista de sua grafia é a maior letra.
Tratando-se do nome desta letra, ela significa "estudar" ou "ensinar".
A palavra "Talmud" é uma declinação de lamed.
Os rabinos acoplaram esta palavra com um acrônimo constituído de lamed, mem,
dalet. "Lev mevin daat" — "O coração compreende o conhecimento".
Não há nada de mais importante no judaísmo do que o estudo.

Adin Steinsaltz — Não há judaísmo sem estudo.


Todas as religiões têm dois fundamentos: em primeiro lugar a "fé", com ou sem
dogmas, e depois a ação, o que eu devo "fazer".
No judaísmo há um terceiro fundamento: o que devo estudar?
Se eu não estudo, não sou um judeu completo, mesmo que eu faça tudo que devo
fazer e que eu tenha fé!
O estudo tem um valor que vai muito além de sua função primeira: conhecer as
leis, o "catecismo".
No mundo judaico o estudo é uma comunhão.
É aí que encontramos Deus.
Este encontro se faz através do texto.
Encontro Deus e me uno a ele.
É aí que reside o valor do estudo, quer tenha em vista a prática, quer seja
totalmente teórico.
Por conseguinte, uma letra que é sinônima de estudo como o lamed é,
evidentemente, muito importante.
Tanto mais que o verbo lamed significa, ao mesmo tempo, estudar e ensinar.
O que não é o caso em todas as línguas.
Isto tem sentido: estudar e ensinar não são coisas diferentes, pois aquele que
ensina também aprende.

"Todos os meus mestres me tornaram sábio, mas mais ainda meus alunos."
- Talmud

Estudar e ensinar — uma grande coisa.


Acrescento que deste verbo é derivada a palavra malmad, que significa "aguilhão".
É igualmente uma aprendizagem, salvo o fato de que se pode educar os homens
sem vara!

J. E. — Justamente, a propósito do que o senhor acaba de evocar, encontra-se no


Tanach — a Bíblia — a história de um juiz que combateu os filisteus: "Shamgar
bateu os filisteus com a vara de manejar bois" (Juízes 3,31).
Deduz-se que às vezes, para ensinar, uma vara, uma pequena "violência" pode ser
necessária, sem excessos evidentemente.

- O coração tem razões

A. S. — Para voltar ao sentido dado ao lamed e a seu acróstico:

Lev — coração = LA
Mevin — compreendendo = ME
Daat — conhecimento = D

É preciso saber que a palavra cérebro não existe na Bíblia, só se fala do coração.
Considera-se que é o coração que pensa.
J. E. — Há a este respeito um célebre texto na Torá:
"Deus não vos tem dado um coração para conhecer" (Deuteronômio 29,3).
Isto nos ensina que no judaísmo, mais precisamente na psicologia bíblica, o
conhecimento passa pelo coração.

A. S. — Na prece cotidiana, o shema, está dito: "Estas palavras estarão em teu


coração".
Aqui isto significa: "tu deves compreendê-las".
A palavra "coração" tem um sentido muito amplo na Bíblia.
Pode-se defini-lo como a parte "cognitiva" do homem, tanto no plano intelectual
quanto no emocional.
Depois, pode-se diferenciar o cérebro e o coração.
Uma vez feita essa diferenciação, as pessoas se interrogam frequentemente sobre
a "distância" que os separa.
A maior questão na vida permanece: quais são as relações entre o coração e a
razão? Às vezes eles nem sequer se falam!

J. E. — O problema das relações entre o "cérebro" e o "coração" foi central no


hassidismo, notadamente no hassidismo chabad, o Lubavitch.
O fundador do movimento, Rabi Shneor Zalman de Liadi, insiste constantemente:
"É preciso que o cérebro comande o coração".
Bem se pode dizer que há uma relação evidente entre o cérebro e as emoções,
embora exista uma ambivalência do coração, que é suposto ser, ao mesmo tempo,
sede dos pensamentos e dos sentimentos.
A Bíblia situa os sentimentos de preferência nos rins.
As pulsões vêm dos rins: o judaísmo é claro em relação a isto.

A. S. — Na realidade, nós não podemos sentir nenhuma emoção sem discernimento


prévio.
Não posso amar se não há um "objeto" a ser amado, nem odiar sem "objeto" de
meu ódio.
Meu cérebro me indica todos estes objetivos.
O coração é, decerto, capaz de fabricar emoções, mas antes disso é preciso
conceber as coisas.
Antes tenho que saber do que estou falando.
Depois decidir se sou a favor ou contra.
Uma vez estabelecido que "há alguma coisa", a palavra é do coração.
J . E. — De acordo com os filósofos, não há conhecimento "objetivo".
Até mesmo em física encontra-se este princípio.
Quer dizer, mais precisamente, que o cérebro transmite um dado ao coração.
Este julga se o dado lhe convém ou não, mas este julgamento se opera segundo
critérios subjetivos.

A. S. — Com efeito, o coração tem sua própria lógica.

J. E. — Lembremos a este respeito este pensamento do filósofo Pascal: "O coração


tem razões que a própria razão desconhece!".
Pode-se dizer que o cérebro tem um conhecimento "global" e que, depois, o
coração distingue o bem do mal, entre o que lhe convém e o que lhe desagrada?

A. S. — A função do cérebro é pensar as coisas com objetividade.


O coração busca compreender, de modo subjetivo, de que modo isto é importante
para mim.
Aliás, o verbo "conhecer", além destes conceitos evocados, tem uma significação
muito precisa.
Toda vez que se encontra o verbo daat, que designa diversos conhecimentos, ele
expressa sempre o fato de que isto me "concerne" (me diz respeito).

J. E. — Daat tem também um sentido crítico.

A. S. — A primeira vez que se encontra este verbo é com Adão e Eva.

"Adão 'conheceu' Eva."


- Gênesis 4,1

Depois fala-se de "conhecer" o bem e o mal.


Estas duas significações aparecem simultaneamente.
Pois o pecado da árvore do conhecimento não é o do conhecimento, mas o fato de
que nós não possamos conhecer nada sem nos comprometer.

J. E. — Existem dois termos para evocar o conhecimento:

Daat: o que sei e me importa, eu me comprometo.


Haker: conhecimento objetivo, distância, eu me distancio.

Se analisamos a palavra haker — hakará —, ela vem da palavra ―nochri’,


"o estrangeiro", e podemos deduzir que todo conhecimento consiste em estabelecer
com o estrangeiro uma relação particular: "Eu sou o sujeito, ele é o objeto".
Mas o daat é o contrário.
Como o senhor evocou, alguns anos atrás, há coisas que eu sei: 2 + 2 são quatro.
Mas saber isto não muda em nada meu destino.
Ao passo que daat, isto é, saber que Deus existe — isto muda tudo.
Para voltar ao lamed, ao ensino, precisamos sobretudo aprender coisas que são
importantes para nós: estudar a Torá.
Justamente, quando encontramos, quase sistematicamente, a palavra lamed, ela
nos ordena sempre estudar a Torá.
Como neste versículo: "Moisés diz: Eu vos ensinei leis e mandamentos".

A. S. — A Torá impregna a pessoa inteira: é isto, aprender.


- A letra de Deus

J. E. — O estudo é fundamental no judaísmo, ele constitui uma das vocações do ser


humano.
Estudar equivale, decerto, a saber como realizar as vontades de Deus.
Mas há uma "segunda dimensão": a relação com o divino.
Nós não podemos nos comunicar "diretamente" com Deus.
Nós só podemos nos comunicar por intermédio de Sua palavra, isto é, a Torá.
Ela é como uma carta que Deus nos enviou.
Nós podemos "conhecê-lo" por esta "carta".
É um pouco como uma correspondência com uma pessoa que vive em um país
estrangeiro: não se pode vê-la fisicamente, mas se pode ler suas "cartas".

A. S. — Há milhares de livros que falam de números.


Por que tantos livros?
Porque cada número tem sua identidade própria, além do fato de servir para
contar.
Os números constroem a matemática exatamente como as letras da Torá
constroem o mundo, tal como está escrito no Livro da Criação — Sefer Ietsirá: duas
letras constroem.
É a arquitetura do mundo.

J. E. — As duas primeiras letras do alfabeto, alef e bet, formam av — "o pai".

A. S. — Voltando à nossa letra, o lamed é também a inicial da palavra "coração" —


lev.
Esta palavra tem por valor numérico 32.
Ora, 32 não é somente o número de nossos dentes.
Na Cabalá fala-se dos trinta e dois caminhos da sabedoria: os trinta e dois
caminhos que conduzem do pensamento à inteligência.
Aliás, o lamed em si é também um número; seu valor numérico é 30.
Mas, sobretudo, existem numerosas especulações acerca da combinação do "lamed
mais o vav", cujo valor numérico é 36.

- Os trinta e seis Justos

J. E. — Abordemos, justamente, este tema do lamed-vav, de valor numérico 36.


Ele conduz a uma denominação: os lamedvavnikim — aqueles que fazem parte dos
trinta e seis Justos.

A. S. — Por que trinta e seis?


A origem se encontra no Talmud.
Diz-se aí que o mundo não pode continuar a existir se nele não se encontram pelo
menos tinta e seis homens justos.
Na realidade, o Talmud pergunta se era realmente preciso criar o homem.
Por si só, este é um problema.
Em toda nossa literatura, até recentemente, fala-se sem cessar dos trinta e seis
Justos, os Tzadikim — que justificam a Criação.
Em dado momento, especificou-se que esses Justos eram necessariamente "Justos
escondidos".
Diz-se também que eles próprios não sabem que são Justos escondidos.
Quanto ao número 36, a melhor explicação que se pode dar está ligada ao número
70.

J. E. — É preciso lembrar que 70 é o número de membros que constituem o


Sanedrin, o supremo Tribunal, e mais o presidente, o que resulta ao todo em
setenta e um membros.
Mas é também o número de nações ou etnias que existem no mundo.
Portanto, 70 é um número sagrado.

A. S. — A ideia é a necessidade de uma "maioria" para que o mundo mereça existir.


Ora, 36 de 70 é exatamente a maioria do Sanedrin!

J. E. — A respeito destes "Justos" existem textos que especificariam se eles devem


ser judeus ou se pode haver Justos entre as nações?

A. S. — Na verdade, existe outro texto no Talmud em que está dito que as nações
sobrevivem graças a trinta Justos: os Justos das nações.
Não esqueçamos que o lamed é 30!
Ademais, existe uma lista, aliás incompleta, de acordo com a qual, ao se falar
geralmente dos sete mandamentos de Noé, portanto das sete leis universais,
atribuem-se precisamente aos não judeus, os descendentes de Noé, trinta
mandamentos a ser cumpridos.
Por exemplo, uma coisa que eu creio ser praticamente universal, mesmo entre os
povos que não têm tabus, e que figura na lista das coisas proibidas aos
descendentes de Noé: os humanos não comem carne humana!
Este interdito não figura em lugar algum, nem mesmo na Lei judaica!
Há, decerto, povos que comem de tudo.
Mas existe toda espécie de tabus.
J. E. — Tomemos um exemplo: os ingleses não comem carne de cavalo.
Simplesmente porque eles têm um amor especial pelas corridas de cavalos.
Cada país tem sua cultura!

A. S. — Em Israel e com certeza também na França, se alguém mata um cão para


comê-lo será perseguido!
De qualquer modo, em nenhum lugar do mundo se come carne humana, nem
mesmo entre os povos que comem formigas ou gafanhotos.
Isto mostra bem que existem valores universais.
Ao passo que talvez, do ponto de vista da ciência, a carne humana poderia ser a
melhor para a espécie humana!
Isto não "se faz"!
Estes valores universais fundam os sete, até mesmo os trinta mandamentos dos
descendentes de Noé, isto é, de toda a humanidade.

- Do estudo à ação

J. E. — A noção de estudo é a significação principal da letra lamed: "ani lomed"


significa "eu estudo".
Mas estudar não basta, é preciso também agir.
Na Torá encontram-se numerosas discussões sobre a relação entre maassê, "a
ação", e limud, "o estudo".

A. S. — O estudo: no judaísmo, esta palavra designa prioritariamente o estudo da


Torá, dever sagrado por excelência.
É a profunda lição do sentido da letra lamed.
Aliás, a própria palavra "Talmud" é derivada de lamed.
Esta profunda relação do lamed com a Torá conheceu um destino muito singular na
obra do rei Salomão.
Em um dos mais famosos textos da Bíblia, o rei filósofo enumera os vinte e oito
principais momentos da vida, positivos e negativos.

"Há um tempo para nascer e um tempo para morrer. Um tempo para plantar e um
tempo para arrancar o que foi plantado. Um tempo para a guerra e um tempo para
a paz. Um tempo para destruir e um tempo para construir. Um tempo para chorar e
um tempo para dançar. Um tempo para jogar pedras e um tempo para juntá-las.
Um tempo para amar e um tempo para odiar. Um tempo para rasgar e um tempo
para coser. Um tempo para abraçar e um tempo para se afastar do abraço."
- Eclesiastes 3 ss.

J. E. — Nos versículos deste texto há uma particularidade. Cada versículo começa


com um lamed, salvo este: "Um tempo para chorar e um tempo para dançar".
Este versículo quer dizer que há um tempo para o "luto" e um tempo para o
"casamento".
Desta reflexão os rabinos retiraram uma lei importante: "Não se interrompe o
estudo da Torá para a chegada do Messias".
Em contrapartida, suspende-se o estudo da Torá quando há um casamento ou um
enterro.

A. S. — Em sua forma gráfica o lamed é composto de duas letras: é um kaf ao qual


se acrescenta um vav.

É assim que se constrói: l = k + e.


É sistematicamente uma combinação destas duas letras.
Tudo se passa como se a letra kaf, que por sua forma contém coisas e as guarda
em seu interior, alargasse sua superfície.
Pode-se dizer as coisas de outro modo.
Ela se eleva... Ela recebe uma espécie de canal de cima para baixo.
O vav que a ela se acrescentou a completa.
É uma combinação.
Aliás, algumas letras "descem" abaixo da linha.
Mas o lamed é a única que sobe acima da linha.

J. E. — É uma forma de transcendência: o estudo permite elevar-nos.


Justamente, é interessante constatar que na estrutura do lamed, se contabilizamos
as duas letras que a formam: vav, valor 6, e kaf, valor 20, ou seja: valor 26, temos
o valor numérico do nome de Deus.
Com efeito, se somamos as quatro letras que constituem o Tetragrama — o nome
inefável de Deus — isto dá: "iud/10 — hei/5 — vav/6 — hei/5", ou seja YHVH,
chegamos ao número 26, que representa classicamente Deus na mística judaica.

- Mostrar o caminho

A. S. — O lamed tem igualmente uma função gramatical que se pode perfeitamente


ligar a seu sentido primeiro, estudar: ele conota a direção.
Quando colocado na frente de uma palavra ele significa "ir" em uma direção, "ir"
para um lugar determinado.
Este primeiro sentido é muito frequente na Bíblia.
Nesta ordem de ideias, lamed expressa igualmente uma intenção e uma meta.
É também a direção no sentido geográfico do termo.
Aliás, a intenção e a meta não são dois conceitos diferentes, salvo que um é
geográfico e o outro racional, ou metafísico, até mesmo físico.
Mas trata-se sempre de uma direção.
Se eu tivesse que definir o que significa "estudar", principalmente estudar a Torá,
seria exatamente isto: construir uma direção.
A Torá não é uma coisa banal, a Torá é: "Para onde vou?".
Se eu tivesse que definir a Torá na linguagem da física, eu diria que o lamed e o
estudo não são nem um ponto, nem uma coisa, mas um vetor.
Uma flecha que mostra para onde vamos.

J. E. — Outro aspecto: o lamed como primeira letra da palavra lev, "coração".


No caso, a Torá começa com a letra bet, primeira letra da palavra bereshit — no
princípio —, e termina com a letra lamed, última letra da palavra Israel.
Juntas, essas duas letras formam a palavra lev, "coração".
O que quer dizer que o coração e o conhecimento englobam toda a Torá.
Segundo o Talmud, há duas utilizações do bet e do lamed.
Trata-se de duas expressões: quando se diz a uma pessoa "Vai em paz" ou "Vai
para a paz".
No primeiro caso começa com a letra bet e no outro começa pelo lamed.
E Itró — Jetró — disse a Moisés: "Vai em paz" (Êxodo 4,18).
Ao se separar de alguém usa-se a expressão "Vai em paz" e não "para a paz",
porque o rei David disse a seu filho Absalão: "Vai na paz" (2 Samuel 15,9), e ele
morreu logo após esta "bênção".
Há justamente a este respeito um uso: quando queremos dizer até logo a uma
pessoa, devemos dizer-lhe: "Vai em paz", mas, em contrapartida, quando se deve
honrar um morto, diz-se: "Vai para a paz", porque ele vai para o mundo da paz —
olam hashalom.
É uma bela ilustração dos diversos usos do lamed e do bet.

Por: Josy Eisenberg e Adin Steinsaltz


As Letras Hebraicas – Parte 17


Mem Mem final 
Som: M

Significado: O significado da palavra Mem é água. A palavra Mem também


significa mancha, em aramaico.

Conceito: É possível afirmar que a água é o veículo através do qual o Sagrado


imprime sua mensagem. Por isso mesmo é o elemento doador de vida. Sem água
não há vida de espécie alguma.
A água é a mãe de todas as funções essenciais.
No mundo antigo a mãe era a geradora e a responsável por transmitir os valores
elementares da Tradição.
Esse é o papel das águas.
A água não só nos nutre fisicamente, também nos transmite as mensagens do
Shefa, o fluxo do Sagrado. A água é o próprio Shefa.

Formato: A letra Mem é um tanque, com uma ligeira abertura em seu canto
inferior esquerdo.
O Mem sofit: Um tanque completamente fechado.
O Mem aberto é o conhecimento revelado, o Mem fechado (sofit) é conhecimento
restrito.
Todo conhecimento deve ser aberto, mas a letra Mem sofit representa a experiência
interior.

Número: Representa o número 40.


Seu valor numérico aparece sistematicamente na Torá para assinalar um
isolamento e uma transformação (a travessia do deserto).
Este valor designa o tempo necessário para terminar um processo de maturação e
purificação. Vemos isso na Torá o tempo todo: choveu torrencialmente 40 dias e 40
noites (Dilúvio); Moisés ficou 40 dias e 40 noites no Monte Sinai para receber a
Torá; os hebreus caminharam 40 anos para chegar à terra prometida.
Permutando as letras da expressão ―mem shanái‖ (40 anos) obtemos a palavra
neshamá. A Neshamá é o nível da alma profundamente consciente e ligado ao
Entendimento.
Representa nossa natureza intelectual, que tenta encontrar sentido no mundo e
colaborar com a construção da consciência que temos do mesmo.
Você pode ficar 10 anos estudando Cabalá, entender é diferente.

Espaço: No espaço, Mem representa a Água.

Tempo: No tempo Mem é responsável pela criação do Inverno.

Corpo: Mem está relacionada ao abdômen, ao ventre.

Medicina: Ativa o shefa, através das águas... e abre as nossas possibilidades... e


nossos méritos.

Qualidade: Amor expressando-se como água.


Arquétipo: Mashiach ben David.

Aplicação:
Expressar compaixão.
Deixar as lágrimas rolarem.
Aspirar a ser fluido e flexível.

Sombra:
Submergir em paixões destrutivas.
Afogar-se em tristeza.

Reflexão:
Há algum ponto de minha vida emocional onde estou represado, onde há um
bloqueio?
Como posso libertar minhas emoções para que circulem mais fluidamente?

Ação sugerida:
Nos próximos sete dias, faça alguma forma de mikveh.
Ele pode variar desde um mikveh completo, formal, até um rápido mergulho num
rio, lago, piscina termal ou mesmo em sua banheira.
O mais importante é imergir com intenção de purificação.
Em seguida, beba um simples copo d'água.

Canal-Caminho: De Netzach a Hod.

Sefer Yetziyrah: “Com Mem: as águas, a terra, o frio, o ventre, o patamar do


mérito.” (S.Y 3.10)

Comentários:
Segundo o Sefer Yetzirah, o texto seminal do misticismo das letras hebraicas,
existem três letras-mães no Aleph Beit, cada uma das quais representa um
elemento estrutural.
 , o Aleph, significa o ar.
, o Shin, representa o fogo.
, o Mem, é a letra da água.
Em hebraico, a palavra "água", , mayim, começa e termina com Mem.
Várias palavras relacionadas a "água" começam com Mem, como , mayahn,
"origem", , mizraka, "fonte", e , motza, "nascente".
O Mem representa o ritmo natural e fluido da vida.
Em várias línguas a palavra "mar" e o som "m" estão relacionados à palavra "mãe".
Em hebraico, por exemplo, 
(yahm) significa "mar", e (ahm) significa "mãe".
Em francês, mer significa "mar" e mère, "mãe".
A água é a primeira mãe.
Durante nove meses nós flutuamos na água salgada do ventre materno.
"Mama" é uma das primeiras palavras que o bebê fala.
Os adultos dizem "mmm" quando gostam do sabor de alguma coisa.
A raiz da palavra hebraica 
, rachamim, "misericórdia" ou "compaixão", é
, rechem, "ventre".
Rachamim termina com as mesmas letras de mayim: Mem-Yud-Mern.
Essa letra-mãe, Mem, representa a qualidade materna da compaixão.
A Torah descreve os Treze Atributos da Misericórdia revelados a Moisés no monte
Sinai.
Mem é a décima terceira letra do Aleph Beit.
Em várias culturas, treze é um número do poder da mulher, uma vez que há treze
ciclos lunares e menstruais num ano solar.
Entre os Treze Atributos da Misericórdia estão a beneficência, a generosidade, a
tolerância, a verdade, a paciência, a compaixão e o amor (Ex. 34:6-7).
No sistema numérico hebraico, o Mem vale quarenta, número associado à
purificação.
O  , mikveh, tradicional—banho cerimonial de purificação (adotado mais
comumente pelas judias ortodoxas, depois de concluído um ciclo menstrual) —
contém pelo menos quarenta medidas de água pluvial.
O Grande Dilúvio durou quarenta dias e quarenta noites.
 , Moisés (cujo nome, que começa com Mem, significa "resgatado das águas")
jejuou e rezou durante quarenta dias em cada uma de suas três estadias no monte
Sinai para receber a Torah.
Os hebreus vagaram durante quarenta anos no deserto antes de ser considerados
prontos para ingressar na terra prometida.
O quarenta representa um processo de limpeza, um ciclo de purificação.
A purificação definitiva ocorrerá quando "a terra se encher do conhecimento do
Senhor, como as águas cobrem o mar" (Isa. 11:9).
Então o mundo estará pronto para receber o  , Mashiach, o Messias, cujo nome
começa com Mem, a letra-mãe.

Como dito, esta letra representa (segundo o Sêfer Yetzirá) a ‗"água".


Ela nos remete também à ideia de "matriz" e representa o ventre da mulher capaz
de dar a vida.
O Bahir ensina que:
"...o fundamento do Mem é o princípio masculino e que a abertura da letra
simboliza o princípio feminino.
Da mesma forma que o macho não pode engendrar sem se abrir, o Mem não pode
dar a vida senão com a condição de se abrir.
Da mesma forma a mulher dá a vida abrindo-se para, em seguida, se fechar.
O mesmo acontece com o Mem que fica ora fechado, ora aberto."

Seu valor numérico 40 volta sistematicamente na Torá para nos mostrar um


isolamento e uma transformação (a travessia do deserto).

A Mem é a décima terceira letra do alfabeto hebraico.


A Cabalá nos ensina que ―treze mems‖ aparecem no ―ar primordial‖, o ―espaço‖
(cósmico) no qual a letra lamed flutua. Cada atributo de misericórdia é, de fato,
uma contração de sabedoria relativamente Infinita, no nível do supraconsciente
(―águas que não têm fim‖), para canalizar e revelar um lampejo de sabedoria no
―anteparo‖ da consciência.
A sabedoria consciente atrai seus pontos de discernimento primordialmente do
atributo de misericórdia mencionado na Torá como ―Ele preserva bondade por
milhares de gerações‖, cujas letras iniciais formam a palavra em hebraico para
―torrente‖, ―a primeira palavra da frase anteriormente citada‖, ―a torrente que flui,
a fonte da sabedoria.‖
Particularmente, nós aprendemos que existem treze canais de fluxo desde a origem
supraconsciente até o começo da consciência. Estes canais correspondem aos Treze
Atributos de Misericórdia revelados a Moisés no Sinai, bem como aos treze
princípios de interpretação da Torá, a ―lógica‖ (suprarracional) da Torá.

Em at‘bash, o mem se transforma em yud, o ponto de sabedoria ou discernimento


revelado, a gota de água que emerge da fonte do mem.

As palavras ―um‖ (echad) e ―amor‖ (ahava) equivalem, ambas, a treze, o segredo


da letra mem.
O mem final, fechado, a origem da fonte de sabedoria conectada e envolvida em
sua origem subterrânea, supraconsciente, corresponde ao segredo de echad, ―um‖.
O mem aberto, de onde emerge o ponto (yud) do discernimento consciente, é a
primeira manifestação de amor (i.e., a vontade de se ligar ao outro) na alma.
A conexão entre as duas fontes do mem, a fonte ―fechada‖ e a fonte ―aberta‖,
ocorre pelo poder dos Treze Atributos de Misericórdia Divina.
Este é o segredo do Nome Essencial de D‘us, Havayah — o ―Nome da Misericórdia‖.
O Nome Havayah equivale a 26 = duas vezes 13, a união de ―um‖ e ―amor‖, o
poder de atrair para a consciência a sabedoria da Torá.

Como dissemos a letra mem é a décima terceira letra do alefbet.


Há duas formas de mem: o mem aberto e o mem fechado.
Como explica o Talmudl, o mem aberto representa a Torá revelada e o mem
fechado representa os segredos da Torá.
O Arizal declara: "É uma mitsvá revelar os segredos da Torá".
Como agora nos encontramos na Era Messiânica, não somente é permitido, mas é
uma obrigação vivenciar uma antecipação dos ensinamentos de Mashiach, que são
os segredos da Torá. Este nível de Torá é representado pelo mem fechado
O Rambam inicia seu primeiro livro, a Mishnê Torá, com uma seção de leis
intitulada ―Os Alicerces da Torá." Nessa seção, ele discute D'us, os anjos e os céus,
e explica: "Isso que lhe contei até agora é chamado 'os segredos da Criação e os
segredos da carruagem (Em hebraico, ―Maasê Hamerkav‖. As interpretações
místicas da carruagem celestial de D'us como expressas na visão do Profeta
Yechezkel).
Essas percepções místicas são conceitos cabalísticos complexos.
Porém o Rambam decidiu ensiná-los como uma fundação - um pré-requisito para
todos que estudam Torá.
Em sua introdução à Mishnê Torá, o Rambam escreve: "Depois que alguém estuda
os Cinco Livros de Moshê, olha imediatamente no meu livro, pois estou escrevendo-
o para os jovens e para os velhos." Como a Mishnê Torá discute os segredos da
Torá, e uma criança de dez anos começa a estudar logo que aprende o Chumash,
está aprendendo misticismo desde o inicio de seus estudos.
A compreensão da magnitude de D'us, de seus caminhos instigantes e insondáveis,
deve preceder até as leis essenciais da Torá revelada, como o Shemá, Shabat e
tefilin.

Além disso, o mem representa o ―útero‖ (―rechem‖) - que termina com um mem
fechado.
O mem fechado representa os nove meses em que o útero está fechado.
O mem aberto representa o período do parto, quando o útero está aberto.

A Guematria do mem é quarenta. Quarenta é o número de dias em que choveu


sobre a terra durante o Dilúvio. Quarenta é também o número de dias que Moshê
passou no Monte Sinai. Moshê na verdade subiu á montanha em três vezes
diferentes.
A primeira estadia de quarenta dias ocorreu quando ele recebeu a Torá.
Então Moshê desceu com as Tábuas, mas despedaçou-as quando viu o Bezerro de
Ouro que o povo tinha feito em sua ausência.
Na manhã seguinte Moshê retornou à montanha para outros quarenta dias, para
rezar em prol do povo hebreu. Quando Moshê voltou ao acampamento, D'us
chamou~o para que retornasse à montanha, dessa vez com suas próprias tábuas.
Então Moshê cavou sob sua tenda e encontrou duas pedras de safira.
Ele as levou consigo ao Monte Sinai pelos terceiros e últimos quarenta dias,
e D'us gravou os Dez Mandamentos sobre elas (Há uma outra opinião declarando
que o próprio Moshê gravou as Segundas Tábuas.)
Era o dia Dez de Tishrei quando Moshê desceu da montanha com a lei de D'us
depois daqueles últimos quarenta dias.
D'us declarou: "Eu perdoei [o povo judeu] como tu pedistes."
O auge desses três períodos de quarenta dias, o Dez de Tishrei, Yom Kipur, é
portanto o dia em que nós, jejuamos e rezamos para expiar os nossos pecados.
Há outras importantes referências ao número quarenta na Torá: os espiões
de Moshê percorreram a terra durante quarenta dias.
Os henreus estiveram no deserto durante quarenta anos. E um micve, um banho
ritual, é formado por quarenta seá (cerca de 2OO galões).
Qual é o conceito de quarenta?
Representa uma metamorfose, uma transformação.
Após quarenta dias, o embrião de uma criança começa a assumir uma forma
reconhecível (Segundo os médicos, são necessários cerca de quarenta dias para
detectar um batimento cardíaco num embrião humano).
Além disso, um micve (com seus quarenta seá) tem a capacidade de mudar
uma pessoa de um estado de impureza para a pureza. E se alguém deseja passar
por uma conversão, deve imergir numa mic‖ve, e então sua alma ‖judaica‖ é
revelada.
D'us enviou um dilúvio sobre o mundo durante quarenta dias e quarenta noites.
As águas do dilúvio não foram por Vingança, com geralmente se presume, mas por
expiação, para purificar e transformar o mundo, da mesma maneira que um micve
purifica uma pessoa.
Cada uma das permanências de quarenta dias de Moshê no céu significou uma
transformação.
Os primeiros quarenta dias foram para receber a Torá, e quando um indivíduo
estuda Torá, ele ou ela desenvolve a capacidade de mudar para melhor.
A segunda estadia foi para a prece, tefílá.
Quando uma pessoa reza, pode mudar um mau decreto; neste caso, a intenção de
D'us de aniquilar o povo hebreu. De fato, por causa da súplica de Moshê, D'us
resolveu conceder Sua misericórdia e mais uma vez oferecer-lhes a Sua Torá.
A subida final representou a teshuvá (arrependimento) - também uma
transformação - porque depois que a pessoa se arrependeu, não é mais a pessoa
que era quando pecou. Quando Moshê finalmente voltou ao povo hebreu com a lei
de D'us, eles estavam num nível de expiação - e assim finalmente preparados para
se tornarem a nação de D'us.
Além disso, as palavras Torá, Tefílá e Teshuvá começam com um tav, que tem
o valor numérico de 400, ou 40 X 10 (i.e., servir a D'us com todas as faculdades
durante quarenta dias).
Os quarenta anos que os hebreus passaram no deserto também constituíram
uma transformação. A nação que tinha se rebelado contra D'us tinha se
metamorfoseado numa nação que estava preparada para aderir à Sua palavra.

A palavra mem representa ―mayim‖, que significa água.


A água constitui o elemento vital em nossas vidas: um ser humano é em grande
parte composto de água e a maior parte da terra é coberta com ela.
A Torá, o elemento mais vital em nossa vida espiritual é mencionada como água,
como está escrito: ―Ein mayim ela Torá‖ – ―Não há água além da Torá."
Como nos diz o Profeta:―Aquele que está sedento deve beber água", significando
que a sede de um judeu pela espiritualidade jamais será saciada olhando para
outras culturas ou religiões. A única coisa que sacia a sede é água, que é a Torá.
Assim como um peixe não pode sobreviver sem água, um judeu não pode
sobreviver sem Torá.

Conta-se a história de um peixe e uma raposa.


O peixe estava ocupado fugindo da rede de um pescador quando viu uma raposa
espiando à beira do lago. A raposa chamou o peixe, dizendo: "Peixinho, para
onde vai?" O peixe respondeu: "Os pescadores estão tentando me apanhar,
portanto estou tentando nadar para longe!"
Fingindo estar preocupada, a traiçoeira raposa ofereceu: “Peixinho, saia da água.
Eu o protegerei."
O peixe respondeu: "Raposa tola, na água ainda tenho uma chance. Porém se eu
deixar a água, certamente vou morrer."

Um judeu sem Torá é como um peixe sem água.


Obviamente sabemos que a água não está isenta de dificuldades.
Há o antissemitismo. Há as mudanças de país em país, tentando sobreviver à
Inquisição Espanhola e ao Holocausto. Porém mesmo em meio ao massacre, há a
perseverado como povo. No momento em que se abandona a cultura, no momento
em que deixa-se ―a água‖ - nossa conexão com D'us e com a Torá - estamos
espiritualmente mortos.
A Torá também é comparada à água porque a água viaja inalterada do topo da
montanha até os vales mais baixos.
Assim D'us trouxe a mesma Torá profunda, intelectual que Ele tinha no céu aqui
para o mundo físico.
O Zohar afirma que D'us olhou na Torá para criar o mundo.
A Torá serve como um projeto da Criação. A riqueza e a força de sua água esculpe,
e continua a esculpir, a fundação do mundo inteiro.
A Mishná, a Lei Oral da Torá, começa e termina com a letra mem.
Sua primeira palavra é ―Meeimatai‖ e a palavra que a conclui é ―bashalom‖, ―paz".
Além disso, o Rambam também inicia e termina sua grande obra, a Mishnê
Torá, com um mem - começando o primeiro capítulo com a palavra Meshoch,
e concluindo o último volume com a palavra mechassim.

Como já dito, o mem também representa o útero. Em essência, água é o útero da


Criação. A Torá começam: "No princípio D'us criou os céus e a terra."
O próximo versículo declara que antes de D'us criar o céu e a terra ―... o espírito de
D'us pairou sobre as águas".
Que águas?
Como as águas da terra ainda não tinham sido criadas, as águas aqui mencionadas
são o útero do qual a Criação emergiu, o local da gestação antes que o mundo
viesse a existir.
A micve incorpora também este conceito.
Quando alguém imerge na micve, é como entrar no útero da Criação, um estado do
mundo ainda não nascido.
No instante em que a pessoa emerge, é renascida.
Num nível mais prático, o indivíduo submerso numa micve está num meio onde ele
ou ela não pode sobreviver e terminará por morrer. Quando a pessoa emerge da
água, é renovada.
A palavra micve também começa com a letra mem.
Está declarado em Yeshayahuü: "Lemarbe hamisra uleshalom", que significa:
―Seu governo (i.e., o reinado de Mashiach) que aumentará e será abençoado
com paz eterna‖.
No decorrer de toda a Torá, a forma final do mem aparece no meio de uma palavra
somente uma vez - aqui, na palavra ―lemarbe‖.
Qual é o significado disso?
Que Mashiach encerrará o exílio.

Discutimos anteriormente que as três linhas da letra bet- duas horizontais e uma
vertical - representam três direções (ou cantos) da terra.
O lado norte, aquele que está aberto para o mal, permanece não resolvido.
Com a chegada de Mashiach, o quarto lado do bet de Bereshit - Criação - é
completado e a letra bet é transformada num mem‖. E o surgimento dessa forma
do mem por sua vez facilita a consumação de seu próprio desenho, no qual o mem
fechado – os aspectos secretos ou ocultos da Torá - toma o lugar do mem aberto,
os aspectos revelados da Torá. Pois juntamente com a paz eterna de Mashiach virá
a explicação dos motivos para o exílio, e a dor e sofrimento do povo gebreu que
o acompanhou.

Aplicação
Todos nós temos uma intimidade natural com a água.
Todos nós flutuávamos nas águas do ventre materno antes de nascer.
Todos os dias a água entra em nossa boca e percorre nosso corpo.
Sessenta e cinco por cento de nosso corpo, na verdade, é composto de água.
O Mem é a letra que faz chover essa sustentadora e essencial  rnayim
chayim — a água da vida literal e metafórica.
Quando o Mem flui para nossa vida, somos convidados a ser como a água —
fluidos, flexíveis, livres.
O Mem nos conduz quando "seguimos o fluxo".
Isso não significa conformar-se indulgentemente ou acriticamente às expectativas
sociais, ou ser totalmente passivos.
Significa permitirmo-nos nascer no rio da vida de um modo natural e orgânico.
O rio das emoções faz parte do fluxo da vida.
Há algum lugar em nossa vida emocional onde estamos bloqueados, onde há uma
represa?
O Mem nos impele a procurar um modo de deixar que nossas emoções voltem a
fluir.
Estaremos tentando deter um dilúvio de sofrimento tornando-nos emocionalmente
frios ou entorpecidos?
A palavra "tumor", nas montanhas maias da Guatemala, pode ser traduzida como
"tristeza solidificada".
Os maias acreditam que, quando as pessoas não sofrem adequadamente, o que
inclui liberar o fluxo das lágrimas, a tristeza endurece e causa problemas físicos e
emocionais.
A solução é encontrar um modo seguro de liberar nossas lágrimas, a fim de que as
emoções tristes possam se liquefazer novamente e sair do corpo em vez de ficar
presas dentro dele.
O Mem nos incita a irrigar a vida com nossas lágrimas, para que a felicidade possa
brotar novamente.
O rabino Nachman de Bratislava escreveu:
"Como é bom conseguir despertar seu coração e suplicar a Deus até as lágrimas
escorrerem dos seus olhos e você parecer uma criança chorando para os pais!"
Num conto dos irmãos Grimm, "A Água da Vida", há um rei acamado, agonizando,
e o único modo de ele se recuperar é que alguém encontre e leve até ele a Água da
Vida.
Os três filhos do rei vão, um por um, em busca da preciosa água.
O mais jovem consegue, enfim, entrar num castelo encantado.
Mas, antes de localizar a fonte de onde jorra a Água da Vida, ele é obrigado a
atravessar um grande saguão cheio de homens transformados em pedra — os
aventureiros anteriores, paralisados e congelados.
Michael Meade, em seu comentário sobre a história, diz: "Viver no fim do século XX
é como participar de um imenso luto. É como um funeral permanente, um grande
perecimento da vida do mundo (...). Quando o coração conhece a tristeza, mas
jamais chora, a tristeza fica presa como uma tempestade dentro do coração.
Quando a tempestade não tem por onde vazar, ela se agiganta e se transforma
numa pedra bruta. O choro limpa o coração e o mantém aberto".
Para encontrar a água sagrada que restaura a vida no reino, é preciso ser capaz de
suportar o conhecimento da morte e da perda sem transformar-se em pedra.
O choro nos permite isso.
Chorar é uma forma de purificação.
O mikveh, o banho ritual, é outra.
Quando o Mem aparece, é um momento de mikveh, de imergir nas
rejuvenescedoras e purificantes mayim chayirn, águas da vida.
Pode ser um mikveh literal ou figurado, como a renovação proporcionada por uma
caminhada solitária pela floresta.
O segredo é limpar-se de tudo o que vem se acumulando há tempos e nascer de
novo.
O Mem nos convida a nos examinar e verificar o que não está fluindo conforme
nossos desejos mais profundos, e em seguida reafirmar nossa intenção de viver
conforme esses desejos.
A influência purificadora do Mem nos inspira a personificar mais plena e
coerentemente os Treze Atributos da Misericórdia.
Quando expressamos compaixão, bondade, paciência para com nós mesmos, e
também para com os outros, nós nos harmonizamos com a energia materna do
Mem.
 , Miriam, cujo nome começa e termina com Mem, personifica várias
qualidades dessa letra.
Miriam ajuda a salvar seu irmão Moisés, ainda bebê, ao deixá-lo no rio para evitar o
decreto do faraó de matar todos os meninos judeus que nascessem.
É também uma parteira notável.
Depois de passar pelas águas do mar Vermelho, Miriam faz as mulheres hebraicas
cantarem e dançarem.
A água do poço de Miriam e o  , manna (mais uma palavra relacionada ao Mem),
permitem aos hebreus sobreviver durante seus quarenta anos vagando pelo
deserto.
O Mem, como símbolo de Miriam, nos leva a cantar e louvar a Deus por nossa
sobrevivência até aqui.
Atravessamos águas profundas.
Nossa luta ainda não terminou — mas ainda estamos vivos!
O Mem nos lembra também que existem poços profundos que nós não
conhecemos.
Existem antigas correntes subterrâneas e ocultas abastecendo esses poços.
Quando as encontramos e enchemos nossas caçambas, nós criamos uma conexão
com essas correntes profundas da vida.
Mesmo quando atravessamos o  , midbar, a desolação e o deserto, a
antiquíssima torrente das mayim chayim nos mantém.

A Sombra do Mem
A Torah fala não apenas das mayim chayim, mas também das "águas do mal", que
simbolizam as paixões destrutivas ou prejudiciais.
As torrentes de sentimentos podem nos submergir, ou submergir os outros através
de nós, levando embora as noções de certo e de errado.
Podemos ser inundados de grandes emoções.
O desafio do Mem é nadar pelas regiões aquosas da emoção sem se afogar e sem
perder de vista a terra firme da moral.
Um outro perigo do Mem é o de nos apegarmos à nossa tristeza como emblema de
honra, ou fonte de identidade, em vez de liberar nossas lágrimas como oferenda à
terra e a Deus.
Quando somos capazes de ofertar nossas lágrimas dessa maneira, elas irrigam uma
nova vida e preparam o solo para que se desenvolvam novas bênçãos.

Comentários Pessoais
Estou numa tenda do suor dos lakotas.
Escuridão total.
Extraordinariamente quente.
O suor está realmente escorrendo de mim e caindo sobre as tábuas de cedro que
cobrem o chão.
Embora todas as músicas cerimoniais até esse ponto tenham sido no idioma lakota,
o líder inicia, surpreendentemente, uma canção em inglês e hebraico.
"Tire água do poço vivo com alegria. Tire água do poço vivo com alegria. Mayim
chayim, águas da vida, shalom."
Como é estranho e bonito ouvir as palavras hebraicas de Isaías nesse contexto
indígena.
Quando a porta da tenda se abre, no fim daquela série de preces, alguém traz um
balde d'água.
Antes que cada um beba sua caneca da preciosa água da vida, o líder derrama um
pouco, como ofertório, sobre as pedras aquecidas no centro da tenda.
"Mini wakan", diz ele, em lakota; "mini wa chozen".
"A água é sagrada, a água é vida".
Depois de tanto calor e de tanto transpirar, tiramos água do balde e bebemos com
alegria.
O líder ensina que a água é medicinal; é sagrada.
Para meu corpo, sedento e suado nesse momento, isso é um fato óbvio e delicioso,
e não apenas uma teoria ou sentimento.
No mundo, a letra Mem até hoje me faz lembrar de mini wakan, mini wa chozen.
Mayim kadosh, mayim chayim.
A água é sagrada, a água é vida.

Textos Complementares:

Mem - Miriam
Porque os cavalos de Faraó, com os seus carros e com os seus cavalarianos,
entraram no mar, e o Senhor fez tornar sobre eles as águas do mar; mas os filhos
de Israel passaram a pé enxuto pelo meio do mar
A profetisa Miriam, irmã de Aarão, tomou um tamborim, e todas as mulheres
saíram atrás dela com tamborins e com danças.
E Miriam lhes respondia: "Cantai ao Senhor, porque gloriosamente triunfou e
precipitou no mar o cavalo e o seu cavaleiro."
Êxodo 15:19-21

Miriam é uma das primeiras líderes femininas da história e, especificamente, uma


das primeiras líderes das mulheres.
A cena descrita acima se desenrola quando da fuga dos judeus do Egito para
escaparem da escravidão, tendo Moisés como seu líder.
Quando eles chegam à beira da água e vêem o exército do Faraó aproximando-se,
Moisés realiza o milagre de separar as águas do mar e eles podem atravessar por
chão firme.
Mas quando o último dos judeus tinha acabado de atravessar, as águas retornam,
afundando o Faraó com todos os seus homens e cavalos.
Quando as pessoas vêem essa cena miraculosa e constatam que foram novamente
salvas, elas começam a cantar e Miriam conduz as mulheres em sua própria forma
singular de celebração.
Miriam é chamada aqui de "irmã de Aarão" para ressaltar que mesmo antes do
irmão caçula deles, Moisés, o epítome da profecia, ter nascido, a própria Miriam já
tinha dons proféticos.
Na verdade, segundo alguns comentadores da Bíblia, Miriam foi a primeira
responsável pelo nascimento de Moisés.
Sabemos que era ela que vigiava seu cesto de vime às margens do Nilo quando a
filha do Faraó o encontrou ali e, com isso, salvou sua vida — mas você sabia que se
não fosse ela, não teria existido nenhum bebê?
Miriam tinha seis anos de idade quando seus pais se separaram.
O Faraó havia decretado que todos os recém-nascidos do sexo masculino de família
hebraica seriam lançados e afogados no rio, enquanto os bebês do sexo feminino
tinham permissão para viver.
Isso era para garantir que o Faraó continuasse sendo o mais poderoso ditador com
menos oposição.
Joquebede e Amrão (assim como muitos outros casais) preferiram separar-se a
correr o risco de criar um filho que seria condenado a uma morte tão cruel.
Embora Miriam convença seus pais a se casarem de novo com o argumento de que
o Faraó podia ter feito o decreto contra os meninos, mas deixando-se dominar pelo
medo, Joquebede e Amrão estavam de fato impedindo que até mesmo meninas
nascessem.
Além do mais, ela havia previsto o futuro e sabia, mesmo antes de ele ter sido
concebido, que Moisés seria o salvador de seu povo.
Portanto, foi graças à sua irmã mais velha que Moisés nasceu, que ele não morreu
afogado no rio e que foi criado na casa do Faraó, onde adquiriu as habilidades de
líder das quais iria necessitar para tornar-se o condutor de seu povo para o Êxodo.
Devido a seu dom especial da intuição desde muito pequena, Miriam era muito
querida por seu povo.
E como ela era a favor de as mulheres assumirem o controle da situação, incitando
as jovens esposas a desafiarem o decreto do Faraó e continuarem formando suas
famílias, ela foi associada com o movimento de mulheres em seus primeiros
estágios.
As feministas de hoje colocam uma Taça para Miriam ao lado de Elias na mesa da
ceia de Páscoa, simbolizando as muitas diferentes formas de salvação que existem
para os mais diferentes tipos de pessoas.
A letra Mem é muitas vezes associada ao simbolismo da água (mayyim) e não é
coincidência o fato de que, ao viajarem pelo deserto, os judeus irem acompanhados
de um miraculoso poço de água móvel que lhes era dado pelo mérito dos atos de
Miriam.
Quando ela morreu, o poço secou, significando sua contribuição crucial ao sustento
de um povo desesperado.
Miriam representa a força vital que impele a todos nós.
Da mesma maneira que precisamos de água para viver, precisamos também ser
capazes de nos rejubilar diante dos milagres da vida, cantando e dançando quando
nos acontecem coisas boas; mas precisamos também perseverar nos tempos
difíceis, prosseguir vivendo mesmo nas circunstâncias mais adversas.
Essas são as lições que nós, homens e mulheres igualmente, podemos aprender
com Miriam, a Profetisa.

A carta Mem representa a qualidade de liderança.


Quando ainda era criança, Miriam reconheceu sua própria definição de justiça e
defendeu os direitos de sua família e, com isso, fez o melhor possível de uma
situação difícil e, finalmente, contribuiu para a sua solução.
Todos nós temos no fundo um pouco de liderança, mesmo quando crianças
pequenas.
A chave está no reconhecimento de nosso potencial e na sua afirmação.
Seja conduzindo um povo a atravessar cantando os tempos difíceis ou provendo o
equivalente à tão necessária água no deserto, sempre há uma maneira de tomar a
si o encargo de ajudar a melhorar a vida dos outros.
Use essa carta para meditar sobre os modos pelos quais você pode ter maior
clareza de seu potencial de liderança em qualquer aspecto de sua vida.

Por: Deepka Chopra

O Bahir (com comentários de Aryeh Kaplan)

84. O Mem aberto. O que é o Mem aberto?


Inclui ambos, macho e fêmea.
O que é o Mem fechado?
É feito na forma de uma barriga que vem de cima.
Mas o Rabino Rahumai disse que a barriga é como a letra Tet.
Ele disse que a barriga é como a letra Tet por dentro, enquanto eu digo que
é como a letra Mem por fora.

Comentário
A letra Mem representa o presente, que é o útero do futuro (ver verso 37 e 50).
Em seu aspecto externo, representa Daat-Conhecimento, enquanto em seu aspecto
interno, é Keter-Coroa.
Mem tem valor numérico quarenta, que consiste de quatro passos, cada passo
contendo dez elementos.
Esses quatro passos são Keter-Coroa, Chochmá-Sabedoria, Biná-Compreensão e
Daat-Conhecimento
No verso seguinte, observamos ser o Mem aberto, que ocorre no meio da palavra,
a fêmea, enquanto o Mem fechado, que fica no final da palavra, é o macho.
A letra Mem, em si, é formada por Mem Mem, com ambos, o Mem aberto e o
fechado, e, por isso, inclui tanto o macho quanto a fêmea, pois contém ambos,
Chochmá-Sabedoria e Biná-Compreensão, Pai e Mãe.
O Mem é o ventre aberto abaixo para dar à luz.
Por outro lado, o Tet é o ventre aberto em cima para receber do Macho.
Em outro sentido, existem duas Sefirot fêmeas, Biná-Compreensão, a Mãe divina, e
Malchut-Reino, a Noiva divina.
Mem é o útero de Biná-Compreensão, enquanto Tet é o de Malchut-Reino.
Uma vez que Biná-Compreensão é uma das três insondáveis Sefirot superiores,
pode ser vista apenas externamente.
Por outro lado, Malchut-Reino é o útero do universo, e portanto visível apenas pelo
lado de dentro.
Estamos dentro da letra Tet, olhando para cima através de sua pequena abertura
no topo.

85. O que é um Mem?


Não lê Mem, porém Maim (água).
Assim como a água é úmida, do mesmo modo a barriga está sempre úmida.
Por que o Mem aberto inclui ambos, macho e fêmea, enquanto o Mem
fechado é macho?
Ensina que o Mem é, principalmente, macho.
A abertura lhe foi, então, acrescentada em nome da fêmea.
Assim como o macho não pode dar à luz, do mesmo modo o Mem fechado
não pode dar à luz.
E, assim como a fêmea tem uma abertura através da qual dá a luz, do
mesmo modo pode o Mem aberto dar à luz.
Por isso, Mem é aberto e fechado.

Comentário:
Conforme mencionado anteriormente, a água representa o conceito da
transformação, sendo esse também o principal conceito nascimento.
Aqui, o ensinamento inclui a totalidade do mistério da Mikvá, banheira ritual usada
para purificação.
A Mikvá contém quarenta (medidas) de água, e quarenta é o valor numérico de
Mem. Portanto, a Mikvá representa o útero.
Ao entrar na Mikvá, é como se a pessoa reentrasse no útero e, quando emerge, é
como se renascesse.
O conceito do Mem é o do presente, enquanto água representa transformação.
O presente é a arena de toda a transformação.
O conceito da água contém ambos os aspectos, macho e fêmea.
Estão indicados pela água acima e abaixo do firmamento (Gênese 1:7).
A água masculina é transformação ativa, enquanto a água feminina é
transformação passiva, sendo as duas, ação e reação, respectivamente.

Por: Aryeh Kaplan

O Alfabeto Sagrado – Mem: Do igual ao mesmo'

Josy Eisenberg — Já explicamos que frequentemente é a inicial da palavra que


expressa seu sentido profundo.
A respeito da letra mem, notar-se-á que há duas palavras com grande importância
no judaísmo que começam pela letra mem: maim, "água", e malchut, "realeza".
São também dois conceitos fundamentais no pensamento judaico.
Há uma similitude quase evidente no modo de escrever mem — a letra — e a
palavra maim — a água.

Adin Steinsaltz — Houve até mesmo um tempo em que a palavra "água" se


escrevia exclusivamente com dois mem, sem o iud.
O mem é, na realidade, uma letra muito fluida, tanto em sua própria significação
quanto em suas relações com outras letras ligadas à água.
Por exemplo, o banho ritual, mikvê, que também começa com mem, ou a palavra
mar, iaM, que termina com a letra mem.
Quanto à palavra céu, shaMaim, ela também é marcada por essa letra.

J. E. — Maim — a água — é um símbolo que ocupa um lugar importante: "Somente


há água na Torá", diz o Talmud.
Um modo de dizer: "A Torá é indispensável para a vida."

A. S. — Em primeiro lugar, a água é o fundamento de toda vida, e não somente do


ponto de vista da biologia.
Ela é a própria origem da Criação.
No princípio, o mundo era constituído somente de água.

"E o espírito de Deus pairava sobre a face das águas."


- Gênesis 1,2

Podemos também observar, em biologia, que o feto se desenvolve na água.

J. E. — Quanto ao corpo do homem, ele é constituído em 90% por água.

A. S. — Eis por que a água é a fonte de toda vida.


Ainda que haja outros aspectos.
A Bíblia fala de águas "poderosas", as águas das tempestades, os tsunamis, as
águas do abismo: metsulot, que começa também com mem.
Mas, de modo geral, a água é a fonte de toda bênção.

J. E. — A água é igualmente o símbolo de ahavá, "o amor".


Notadamente para Abrahão, de quem se diz: "Recorda-te de Abrahão, seu coração
derretia como água" (Preces do ano novo).

A. S. — No hassidismo, diz-se que existem dois tipos de amor: o desejo, que é


comparado ao fogo, e o amor sereno, comparado à água.
Ademais, é a água que permite a fecundidade.

J. E. — Há, com efeito, no judaísmo uma dialética fundamental!


A do fogo e da água.
O fogo é o que vai de baixo para cima, é um chamado, uma forma de nostalgia de
Deus.
Em contrapartida, a água que desce do céu é o que Deus nos revela e nos concede,
é por isso que se diz que é também o símbolo da Torá, que vem "de cima".
Resumindo, o que vem de cima tem como símbolo a água, e o que vem de baixo, o
fogo.

A. S. — A água é sempre signo da bênção.


O que vem de cima, como a "palavra" de Deus, é comparado com a água.
Moisés diz: "Que minha palavra escorra como água" (Deuteronômio).
É a verdadeira bênção!
No entanto, segundo o pensamento judaico, Deus criou cada coisa (o bem) e seu
contrário (o mal).
Assim, há sempre uma dualidade com respeito à água.
Eis por que o mem comporta, ao mesmo tempo, o "bem" e o "mal".
Por exemplo, a palavra "morte", met; ou ainda o Dilúvio: Mabul.

J. E. — Há outra particularidade em relação ao mem.


Há duas grafias para o mem, a primeira no início ou no meio da palavra, e a
segunda no final da palavra, o que se denomina o "mem final" — mem sofit.
O primeiro mem é aberto e designa o mundo visível; o mem final, que é fechado,
designa o mundo escondido ou o mundo concluído.
O mem final, com efeito, evoca a sofiut, espécie de finalidade absoluta.
Há, a este respeito, um versículo que diz: "Teu poder concerne todas as gerações.
Teu reino se estende a todos os mundos" (Salmos 145,12/13).
O rabino Elie Munk, em seu comentário, sugere que essa pluralidade designa o
mundo visível e o mundo invisível.
A malchut — a realeza — é o mundo de Deus; em contrapartida, o poder e a
dominação significam a soberania de Deus sobre a Terra.
Podemos dizer que há transcendência e imanência na letra mem.
Poder e realeza designam esses dois aspectos da divindade.

A. S. — Há uma diferença entre a realeza e o poder: a realeza é da ordem do


consenso.
Eis por que em Rosh Hashaná — o ano novo —proclama-se a realeza divina —
malchut —, que começa com mem.
Ao passo que o poder, a ele nos submetemos, por bem ou por mal.
Mas o mem tem outra particularidade: ele se escreve com apenas duas letras.
Não há vogal: a letra que se denomina mem se escreve MM.
Ela é como que fechada em si própria.
Uma questão se coloca para as cinco letras que têm uma grafia diferente ao final da
palavra, tanto do ponto de vista literário quanto do ponto de vista filosófico: qual é
o mem original?
O mem comum, aberto, ou o mem final, fechado? Qual deu origem ao outro?
A interpretação do mem aberto e do mem fechado aparece em numerosas reflexões
tanto no Talmud quanto na Cabala, e também naquilo que diz respeito ao valor
numérico do mem.
O mem comum tem por valor numérico 40, ao passo que o mem final vale muito
mais.
Pois o mem final está carregado de uma muito forte energia.
Está dito que nas Tábuas da Lei o mem permaneceu "por milagre"!
Não se podia escrevê-lo normalmente, foi um verdadeiro milagre.

J. E. — Que milagre é este que o senhor evoca?


Ele se refere a uma particularidade do dom da Torá no monte Sinai.
Moisés recebeu as Tábuas da Lei, das quais se diz que foram gravadas por Deus
nas pedras.
De acordo com a tradição, as letras dos Dez Mandamentos eram legíveis na frente
e no verso das tábuas.
Em outras palavras, as letras atravessavam as tábuas de um lado ao outro,
segurando-se em um simples ponto de ligação.
O que era impossível para duas letras inteiramente redondas: o mem e o samech.
Por conseguinte, elas se mantinham por milagre.

- Lugar e Deus

J. E. — O judaísmo está fundado na ideia de malchut — realeza de Deus —, que é


também um dos nomes de Deus.
Há muitos nomes de Deus, mas existe um que começa com mem: makom — o
lugar.
Há um início e um fim.
Com frequência, para falar de Deus, os textos dizem somente: "o lugar".

A. S. — Este termo "lugar" é misterioso.


Por que Deus é denominado "lugar"?

J. E. — De acordo com os textos, é porque Ele é o lugar do mundo, ao passo que o


mundo não é Seu lugar, o mundo não O limita.

A. S. — Einstein não conhecia muito bem o judaísmo; mas o que sempre o


impressionou muito foi o fato de que Deus não esteja em nenhum lugar: o lugar
está em Deus!
Por que se designa Deus pelo "Lugar"?
Para estabelecer uma distância com Ele.
Eu não o chamo por Seu Nome.
Falo simplesmente de um lugar, o Tabernáculo ou o Templo, dois nomes que, aliás,
começam ambos por mem!
Assim, não falo de Seu "Ser", mas de Sua "Existência".
Observemos que este termo é usado para consolar os enlutados: "Que o Lugar vos
console".
É ainda um modo de colocar Deus a distância.
No luto, não se fala de Deus, mas do Lugar: "Que Ele preencha tua falta...".
Ninguém quer associar diretamente Deus à morte ou à falta, então se diz "o Lugar".

J. E. — É de certo modo um eufemismo.

A. S. — Com efeito, para não associar Deus a algo brutal!

J. E, — Há, apesar de tudo, constantemente esta ideia de que quando o mem está
no início de uma palavra ele significa um verdadeiro início; em contrapartida,
quando ele está no fim da palavra seu sentido é a meta ou a finalidade.
Quando usamos a palavra haMakom — o Lugar — para consolar uma pessoa em
luto é para expressar nossa incompreensão em face da morte, afirmando, ao
mesmo tempo, que ela tem um sentido que se desvelará no "final".
Este mem final, fechado, permanece o símbolo do irracional.

A. S. — Com a morte, tudo acaba.


Ora, o mem aberto, ao contrário, conota sempre, na gramática, algo que se inicia:
algo que existe realmente.

- Um 13 que dá sorte

J. E. — Abordemos o aspecto numerológico da letra.


Em primeiro lugar, alguns comentadores trabalharam sobre o fato de que é a
décima terceira letra do alfabeto.
Ora, o número 13 ocupa um lugar particular no judaísmo.
A. S. — Na tradição judaica, o número 13 tem a "reputação" de dar sorte, o
número do mazal — sorte ou destino...
Associa-se este número somente às coisas boas.

J. E. — Contrariamente à tradição ocidental, até mesmo cristã, na qual o 13 pode


dar azar.

A. S. — 13 é o valor numérico da palavra "Um" — echad: 1 + 8 + 4 = 13.


Assim como da palavra "amor" — ahavá: 1 + 5 + 2 + 5 = 13.
Ora, 13 + 13 = 26: é o valor numérico do nome de Deus, o Tetragrama, aliás
considerado expressão do Deus de amor, ao passo que Elohim designa o Deus de
justiça.

J. E. — Três vezes ao dia, de manhã, à noite e antes de dormir, recita-se o Shemá


Israel, "Escuta Israel" — fechando os olhos para melhor se concentrar.
As duas palavras-chave desta prece, que estão uma atrás da outra, são: primeiro,
a palavra "um" — o Eterno é Um — e depois a palavra "amor" — tu amarás.
Sendo 13 o valor numérico para cada uma destas palavras, somando estas duas
palavras o resultado é 26, que é o valor numérico do nome inefável de Deus, YHVH,
o Tetragrama.
Há, portanto, dois números de ouro no judaísmo: 26 e 13.
Ora, acontece que o número 13 designa os treze atributos da misericórdia de Deus.
Na noite da festa de Páscoa, durante o seder, ao final da refeição ritual, recita-se
uma cantiga em que figuram os números mais significativos, de 1 a 13: 1 é Deus;
2, as Tábuas da Lei; 3, os Patriarcas; 4, as quatro mães de Israel; 5, os cinco livros
da Torá...
Esta cantiga termina com o número que designa as treze formas do amor divino: o
amor, a paciência, a misericórdia, o perdão...

A. S. — Treze são, ao mesmo tempo, as treze medidas da misericórdia divina e as


treze modalidades da interpretação da Torá.
O mem é, assim, em essência, um instrumento de medida que permite contar as
coisas mais diversas: as de cima — as virtudes divinas — e as de nosso mundo.

J. E. — Outro aspecto do mem é que ele também é a inicial do nome de Moshe —


Moisés — e de Mashiach — o Messias.
Duas grandes figuras do judaísmo.

A. S. — Mem, inicial de Moisés — Moshe —, assim como de maim — água.

J. E. — Lembremos que quando a filha do Faraó o denomina Moshe é porque ela o


tirou das águas... Mas este nome significa literalmente: "aquele que tira — que
salva".
E Moisés foi marcado, toda a sua vida, pela água: travessia do Mar Vermelho,
milagre da rocha da qual ele fez jorrar água.

A. S. — Já que ela fala de Moisés "tirado das águas", como a filha do Faraó podia
conhecer o hebraico?
Será que as mulheres francesas conhecem o hebraico?
Moshe é um nome egípcio.
Encontramo-lo em Tut-Mosis.
Isto significa simplesmente: "água".
Moisés é água.
Moisés é "a grande fonte".
Na Cabalá se diz que Deus "irriga" o mundo.
Moisés vê o fluxo divino que desce como água, de cima para baixo, para alimentar
as coisas.
Trata-se, na realidade, das águas de Moisés, o homem das águas.
Além disso, a última letra de Abraham (Abrahão), o mem, é a primeira letra de
Moshe! Moisés começa onde termina Abraham.

J. E. — O mem está também fortemente presente na lei oral: a Mishná.


Trata-se da parte haláchica do Talmud, que se inicia com a letra mem e termina
com a letra mem: a última palavra da Mishná é "Beshalom" — em paz.

A. S. — O 40, valor numérico do mem, tem múltiplas significações.

J. E. — Ele conota, entre outras coisas, o julgamento de Deus.


Com efeito, existem dois eventos que duraram quarenta dias.
Por um lado, o Mabul, o Dilúvio.
E por outro, quando o profeta Jonas vai a Nínive, ele diz: "Mais quarenta dias e
Nínive será destruída".
Assim, nestas diversas passagens da Bíblia o julgamento de Deus se estende por
quarenta dias.
O famoso ―dies irae‖ — o dia da cólera divina — dura quarenta dias.

A. S. — Volta-se ao conceito de "medida" que já evocamos.


Mem mede sempre alguma coisa — 40 —, tanto no tempo quanto no espaço.
Por exemplo, para o tempo, a mudança: os quarenta primeiros dias do feto.

J. E. — É uma forma de plenitude que o senhor descreve.


Como para o feto que, após quarenta dias, se torna um embrião e começa a
"viver".

A. S. — Do mesmo modo, os quarenta dias nos quais Moisés ficou no monte Sinai.
A propósito dos quarenta dias do Dilúvio: existe uma similitude entre o Dilúvio e o
dom da Torá: Mabul — Dilúvio — e matan — dom.
O Dilúvio é queda d'água.
E — já o evocamos — a Torá é comparada à água.

"A terra será plena do conhecimento de Deus, assim como o mar é cheio de água."
- Isaías

Os quarenta dias do Dilúvio: isto não acontece todo dia.


Deus até mesmo prometeu que isto só aconteceria uma vez.
Do mesmo modo, este número 40 volta várias vezes no episódio do dom da Torá.
Moisés recebeu as Tábuas da Lei durante quarenta dias.
Depois, quarenta dias de preces após o pecado do Bezerro de Ouro.
E ainda quarenta dias para receber as segundas Tábuas.
Em outras palavras, se os homens se tornam melhores, em vez do Dilúvio, é a Torá
que eles recebem!
Com certeza, o Dilúvio é em primeiro lugar uma catástrofe, mas ele descreve o que
pode se tornar mais tarde uma bênção: água sem limites.

J. E. — Acrescentemos que o Dilúvio permitiu a construção de outro mundo.


É de certo modo apagar algo para "escrever" de novo.

- Trinta e nove em vez de quarenta

A. S. — O mem, enquanto medida, aparece também em outro conceito: 40 menos


1.

J, E. — Aqui, abordamos um tema muito singular: efetivamente, tudo o que tem a


medida de 39 é denominado, segundo o Talmud, "40 menos 1".
Por que denominá-los assim?

A. S. — Porque 40 é um número perfeito: é a plenitude.

J. E. — Efetivamente.
Mas por que trinta e nove trabalhos proibidos no shabat?
O Talmud diz: "40 menos 1".
Onde está a imperfeição?

A. S. — Os rabinos discutem para saber como se poderia chegar a quarenta


trabalhos.
Mas aqui a ideia subjacente a este número "40 menos 1" é uma medida.
Como em matemática, "tende-se a 40..."‗

J. E. — Com respeito ao castigo com "pauladas", a Torá diz: "quarenta golpes", mas
os rabinos interpretam "40 menos 1".
Porque há o perigo de que o quadragésimo golpe seja mortal, portanto há uma
forma de compaixão.
Trata-se de uma precaução para evitar o pior.

A. S. — Lembremos que a morte — mavet — se inicia com um mem, assim como a


palavra "morte" em francês.
Mas é também seu contrário.
Em quase todas as línguas a primeira letra que os seres humanos pronunciam é
mem.
Ima — mamãe — em hebraico, e em outras línguas também: mama, mother,
matushka .
Outra vez, o mem designa um início.
E esse início tem todo tipo de prolongamentos.

J. E. — Uma das particularidades do alfabeto sagrado é que muitas destas letras


são também produtos da combinação de letras.
Assim, se acrescentamos à letra dalet, a quarta letra, um vav, sexta letra, obtemos
uma terceira letra, o hei, a quinta letra.
Do mesmo modo, a letra lamed se obtém acrescentando um vav à letra kaf.
Acontece o mesmo, e é o caso de dizê-lo, para construir a décima terceira letra,
mem: associa-se o kaf e o vav.
E também muitas letras são na realidade duplas.
O que duplica sua significação.

A. S. — Mem é o espaço.
Com o mem final, esse espaço é fechado, protegido.
Ao passo que o mem comum é aberto para baixo: pode-se "cair"...
Ele é quase fechado, mas tem uma saída.
Pois toda letra que inclui o vav expressa o que esta letra (vav) significa: pode-se ir
mais longe. Um prolongamento.
Ir de um lugar ao outro, é sempre o que conota o vav.
É a letra da passagem.

J. E. — O vav participa de diversas combinações.


Já mostramos que um vav mais um kaf formam a letra lamed: um vav sobre o kaf.
Uma segunda configuração: se o vav é acoplado ao kaf, ele forma mem.
Ora, vav (valor numérico 6) combinado com kaf (20), tem por valor numérico 26: o
do Tetragrama YHVH.
Em outras palavras, quando se decompõe, o mem é outra versão do grande Nome
divino.
Por: Josy Eisenberg e Adin Steinsaltz
As Letras Hebraicas – Parte 18

 
Nun Nun final 
Som: N

Significado: O significado da palavra Nun é um peixe; reino; um herdeiro real.


Fertilidade. Crescimento e declínio, queda e ressurreição. Jubileu

Conceito: Sempre que falamos na letra Nun, nos referimos ao olfato associado a
ela. O olfato é o sentido mais antigo no ser humano, sentido este que perdemos no
instante da ruptura original.
Antes da queda do Jardim do Éden, éramos dotados de um faro típico do faro dos
mamíferos, que é bastante aguçado.
Com a ruptura perdemos esse faro, associado ao instinto.
O instinto essencial é uma espécie de intuição animal, e essa mesma intuição
animal é o que faz com que um simples inseto consiga antever uma tempestade e
nós não.
Na ordem do Aleph Beit, depois do Mem, a letra da água, vem o Nun.
Em aramaico, antiga língua semítica aparentada ao hebraico, a palavra Nun
significa "peixe".
O grande peixe que engoliu Jonas é um famoso nun bíblico.
, Jonas, com a letra Nun no meio de seu nome, desobedece à vontade de Deus.
É atirado ao mar e passa três dias no ventre do peixe.
Dentro do nun gigante, ele encontra, em vez da morte, a vida; em vez da
destruição, a renovação.
Jonas sai de sua ordália vivo e transformado (embora ainda tenha que aprender
algumas lições sobre compaixão e perdão).
O Nun, enquanto "peixe", representa também fertilidade e produtividade.
O peixe se reproduz relativamente rápido.
No Gênesis, os peixes foram as primeiras criaturas abençoadas: "Frutificai e
multiplicai-vos, e enchei as águas nos mares" (Gên. 1:22).
Os peixes são também um bom fertilizante, colaborando com a abundância da
safra.
O Nun está relacionado à raiz das palavras hebraicas nav, , "brotar", e
n'nun, 
, "florescer" ou "vicejar".
Mas, como muitas outras letras hebraicas, o Nun contém um paradoxo.
O Nun significa o oposto de brotar e de florescer, pois está relacionado à raiz do
sinônimo hebraico de "declínio" e "degenerado", .
O Nun abrange ao mesmo tempo criação e destruição, fluxo e refluxo.
Como peixes nadando entre as marés inconstantes do mar, o Nun habita as
circunstâncias inconstantes da vida.

Formato: A letra Nun é um servo curvado com uma coroa em seu topo.
O Nun final: a mesma figura com sua base caída na extensão vertical.

Número: Nun representa o número 50.


Depois de um ciclo de sete vezes sete anos sabáticos, vem o Jubileu, Yovayl, o
qüinquagésimo ano.
Durante o ano do Jubileu, os escravos são libertados, as dividas são perdoadas e a
terra volta para seu proprietário original.
O Jubileu é um período de liberdade, libertação e retorno.
Na Cabala, cinqüenta é também o número das "portas do entendimento".
As cinqüenta portas correspondem aos cinqüenta dias do Omer (literalmente, uma
medida de trigo), o período entre a Páscoa e o Shavuot.
A Páscoa comemora a fuga da escravidão no Egito, e Shavuot celebra a
transmissão da Torah a Moisés no monte Sinai.
O Nun marca o processo de rompimento dos grilhões da escravidão e o caminho
para a revelação e para o lar.
"Jubileu", yovayl, significa literalmente "chifre de carneiro".
O som dos chifres de carneiro ajuda a destruir as muralhas de Jericó.
A pessoa que lidera os hebreus nessa batalha é Josué, a quem a Torah sempre se
refere como "Josué, filho de Nun".
Depois da morte de Moisés, o filho de Nun é quem finalmente conduz o povo à
terra natal prometida.

Espaço: No espaço, Nun representa a Constelação do Escorpião.

Tempo: No tempo Nun é responsável pela criação de Chesvan.

Corpo: Na alma e conseqüentemente refletindo no corpo, Nun está relacionada aos


intestinos.

Medicina: Nun desperta em nós o sentido do Olfato. O ―faro‖.

Arquétipo: Menashe.

Aplicação:
Nadar, acompanhando as cheias e vazantes da vida.
Derrubar as muralhas da separação, da ignorância, do medo, do ódio.
Desfrutar de um jubileu de liberdade.

Sombra:
Frieza. Indiferença.

Reflexão:
Estou me apegando a conceitos ultrapassados e a antigos e negativos padrões de
pensamento e de ação?
Como posso me libertar deles e nadar com mais liberdade nas correntes da vida?

Ação sugerida:
Eleve seu coração e seu espírito cantando um niggun durante pelo menos cinco
minutos hoje.
Se você não conhece nenhum niggun, procure alguém que possa ensiná-lo ou
invente um, cantando "dai, dai, dai" ao som de alguma música sua.

Canal-Caminho: De Netzach a Yessod. ·

Sefer Yetziyrah: “Ele fez a letra Nun reinar sobre o olfato, corou-a, combinou-a
com cada uma das outras e, com elas formou: Escorpião no universo, Chesh’van no
ano e o intestino na Nefesh...” (S. Y. 5.13)

Comentários:
Em geral esta letra representa um "peixe", mas também pode vir ligada a imagem
de uma "serpente". De fato, a palavra serpente, "nachash", começa por Nun.
Ela é a letra da fecundidade e da proliferação.
Mas o Bahir transforma a palavra Nun em "Yinun" que significa "emanar" (e
―ionizar‖, em hebraico moderno), representando a energia do cérebro servindo-se
do corpo e, por extensão, a Neshamá aspirada pelas narinas.
Diz o Bahir:
"Nun ensina que o cérebro constitui o essencial da coluna vertebral e que é dela
que ele tira constantemente sua substância. Sem a coluna vertebral, o cérebro não
poderia subsistir, porque o corpo inteiro só funciona pelo cérebro. Ora, sem o corpo
inteiro, o cérebro não existiria. Eis porque a coluna vertebral se serve do cérebro.
É o que significa o Nun curvado."

Como já dito, Nun significa "peixe" e a imagem do peixe está associada à figura do
―tsadik‖ ("justo"), aquele que alcançou o nível de Guevurá no seu processo de
crescimento espiritual.
Segundo o Tanya, o tsadik é aquele que eliminou por completo a má inclinação de
seu coração (ou possui um pequeno resíduo sob absoluto controle).
Adicionalmente, Nun tem guematria 50, um número associado ao entendimento e à
liberdade.
49 é a guematria de ―cholé‖ ("doença"), de modo que 50 também representa a
cura de todos os males que limitam o nosso crescimento.

A meditação na letra Nun, entre outras coisas, vai nos ajudar a descobrir os
pequenos escorpiões (Nun é a letra que formou de Escorpião no Universo) que
trazemos dentro de nós: aqueles sentimentos camuflados de medo, ódio, mágoa,
etc. que surgem de uma hora para outra em momentos críticos e voltam a se
esconder sem que sejam resolvidos.

O Nun é conhecida como a letra do Mashi que representa a humildade do justo


frente à Presença Divina e "aquele que curva a sua cabeça para a unção".
Nun é considerada também como sendo a letra de Mashiach, como está escrito
(com referência a Mashiach):
"antes do sol, está seu nome Ye-non [de nun]" (Tehilim 72:17).

Como radical do verbo, nun significa "reinar".


Como substantivo, significa "o herdeiro do trono".
O oitavo mês é o mês de Mashiach, pois oito significa a eterna revelação do
sobrenatural (o estado consumado de natureza retificada é o segredo do número
sete).
Como a "harpa" deste mundo possui sete cordas, a harpa de Mashiach possui oito
cordas.
Assim como 8 transcende o 7, assim também 50 (o valor numérico de nun)
transcende 49, 7 ao quadrado.
Neste mundo, o nun está curvado, confinado pelos limites da natureza.
Com a vinda de Mashiach, o nun "se endireita" (o formato do nun final), rompe os
limites da natureza e desce "abaixo da linha" até os reinos subterrâneos da
realidade a fim de ali revelar a luz infinita e abrangente de D’us.

Em aramaico, como já dito, Nun significa "peixe".


O Mem, nossa letra anterior, as ―águas do mar‖, é o ambiente natural onde "nada"
a Nun.
Ela "nada" na Mem, coberta pelas águas do "mundo oculto", onde as criaturas não
são conscientes de si mesmos.
Ao contrário dos peixes, os animais terrestres que são expostos na face da terra,
têm autoconsciência.
As almas de Israel dividem-se em duas categorias gerais, simbolizada pelos peixes
e animais terrestres.
Os dois protótipos dessas categorias são o Leviatã e as Behemoth.
Behemoth é o monstro da terra por excelência, em oposição a Leviatã, o monstro
do mar, e Ziz, o monstro do ar.
Atualmente, estas duas categorias de almas correspondem às duas tendências
inatas e atrativas para a alma, para as duas dimensões da Torá, uma oculta e
secreta e a outra legal e revelada.
No futuro, os dois protótipos do Leviatã e Behemoth vão se juntar à batalha, cada
um "matará" o ego do outro, e então se unirão em uma verdadeira unidade.
A "carne" dos dois será servida no banquete dos tzadikim no Mundo Vindouro.
As almas dos tzadikim "consomem" a mesma raiz de consciência de nosso presente
nível de alma, para integra-la ("digerir") a algo totalmente novo e com nível mais
elevado de consciência.
Leviatã equivale, por guematria, a Malchut ("Reino", 496).
Na Cabalá, Malchut no mundo da Emanação Divina, é representado pelo mar, cuja
maré é controlada pelo poder da lua, o símbolo do Rei Davi (ao ver a lua nova,
dizemos: "David rei de Israel vive para sempre")
Quando Malchut desce para dar vida a mundos inferiores, é simbolizado pela terra.
Assim, o leviatã é o símbolo da Fonte Divina do "reino".
Lembrando que rm hebraico, Nun também significa "reino", e em particular
"herdeiro do trono".

Nun é a primeira letra de Nefilah, ―Cair‖.


A maior queda é julgar os outros e a si mesmo.
Nun é o antídoto para qualquer tipo de queda – incluindo auto depreciação e vícios
O ―nun‖ é a décima quarta letra do alef-beit, que equivale a ―David‖, o progenitor
do eterno Reinado de Israel.
O herdeiro de David é Mashiach ben David, sobre quem é dito: ―Enquanto durar o
sol, seu nome reinará.‖
Nossos Sábios nos ensinam que um dos nomes de Mashiach é Yinon (―reinará‖),
que vem da mesma raiz de nun. Mashiach também é mencionado como ―o aborto‖,
ou, literalmente, ―aquele que tombou‖.
Como aprenderemos no segredo da letra samech, o nun não aparece no Salmo
145, mas é mantido pela misericórdia transcendente de D’us, conforme expresso
pela letra seguinte, samech.
De um modo geral, nun corresponde, na Torá, à imagem de queda.
A alma de Mashiach vive continuamente caindo e morrendo; não fosse pela
presença constante da Mão de D’us ―pegando-o‖, ela se despedaçaria no chão e
morreria.
A consciência da queda é o reflexo do estado abnegado do peixe, em seu ambiente
natural de água, quando forçado a se revelar em terra seca.
Isto é como a experiência de um tzadik oculto quando forçado pelo Céu a se revelar
pelo bem de Israel e do mundo. Nós vemos isto exemplificado na vida e nos
ensinamentos do Baal Shem Tov, que será, então, epitomado na vida de Mashiach.
Basicamente, o ―destino‖ de Mashiach e sua geração é assumir a dimensão de mar
sobre a terra, para vivenciar, paradoxalmente, a autoconsciência abnegada,
conforme dito no versículo de Isaías com o qual Maimônides conclui seu Código de
Lei Judaica (cuja seção final, ―As Leis dos Reis‖, culmina com a descrição da vinda
de Mashiach): ―Pois a terra estará repleta do conhecimento de D’us como as águas
que cobrem o mar.‖

A décima quarta letra do alef-bet é o nun.


Há dois tipos de nun.
O nun "curvado" (nun kefufá) ou começa ou está no meio de uma palavra.
O ereto, ou nun final (nun peshutá), é empregado somente ao final da palavra.
O Talmud nos diz que o nun kefufá representa aquele que está curvado e o nun
peshutá aquele que é ereto.
O Maharal explica' que os dois nuns representam as duas abordagens fundamentais
no serviço a D'us: temor e amor.
A primeira pessoa serve a D'us por reverência, medo. Portanto, está curvada.
A segunda pessoa serve a D'us por amor e assim fica ereta.
Esta pessoa é também caracterizada pela generosidade, porque o amor representa
abertura.
Outra interpretação é encontrada na obra do Shala , onde está declarado que o nun
curvado alude a alguém que caiu e o nun ereto a alguém que se endireitou
novamente.
Rashi comenta que se uma pessoa está "curvada" durante sua vida, isso significa
que é humilde. É subserviente à lei e à ordem, à Torá e a D'us. No Mundo Vindouro
ficará alta e ereta, pois D'us a abençoará com enorme recompensa.
É interessante notar que num debate haláchico, o veredicto final em Lei Judaica não
é necessariamente concedido àquele que é mais inteligente. Em vez disso, é
decidido com base na opinião da pessoa mais humilde.
O que a Torá nos diz sobre Moshê?
Não que era um brilhante erudito, mas sim um exemplo de humildade.
O mesmo é verdadeiro sobre Yehoshua, o sucessor de Moshê.
Assim como algumas fontes comparam Moshê a um peixe, um nun, Yehoshua é
chamado "benNun," o filho (discípulo) do grande peixe (Moshê).
Note que Moshê nasceu no mês de Adar, que corresponde a mazal ―dagim‖ ou
Peixes. Além disso, nun significa "peixe" em aramaico.

A Torá não nos informa sobre o intelecto de Yehoshua, mas sim que era discípulo
de Moshê — estava sempre ao lado de Moshê e na sua tenda.
Por que ele mereceu herdar de Moshê a liderança do povo judeu?
Porque ele abraçava a humildade com todo o seu ser.
Antes mesmo de o Rei David se tornar rei, ele era famoso como "o veredicto final‖
Como declara o Talmud: "D'us está com ele." Por que? Porque "a lei segue de
acordo com ele.".
O Rei Shaul, seu predecessor, era brilhante, mas a Halachá foi determinada de
acordo com David. Sabemos que David era muito humilde - ele era chamado "o
servo do Senhor" e "Meu servo David".
Além disso, Hilel, o famoso rabino e erudito Tanaico, enfrentou muitas vezes seu
colega Shamai para determinar a Lei Judaica. Shamai na verdade era
intelectualmente mais afiado que Hilel, mas a Halachá foi decidida de acordo com
Hilel por causa de sua humildade e bondade.
O Hayom Yomi declara: "A qualidade singular de Mashiach é que ele será humilde.
Embora ele vá ser supremo em grandeza — pois ensinará Tora aos Patriarcas e
também a Moshê — assim, também, ele será supremo em humildade e auto
anulação, pois também ensinará as pessoas simples."
Não importa se a pessoa serve a D'us por amor ou temor, ou se é curvado ou
ereto, a centelha de Mashiach encontrada dentro de cada um de nós vai nos dotar
com a humildade para abraçar a diversidade da criação.

A Guematria de nun é cinquenta.


Há cinquenta "portões" ou níveis de Bina, entendimento.
É por isso que os hebreus contaram quarenta e nove dias — sete semanas
completas de Pessach a Shavuot — para se prepararem a receber a Torá.
A famosa questão é: por que a Torá nos diz para contar cinquenta dias após
Pessach, quando imediatamente depois diz para contar sete semanas completas,
que são apenas quarenta e nove dias?
A resposta é que um indivíduo somente pode alcançar quarenta e nove níveis de
intelecto por si mesmo.
O quinquagésimo nível, aquele da transcendência, somente pode ser fornecido por
D'us. Portanto D'us diz:
―Vocês façam o seu e Eu farei o Meu. Se vocês atingirem o quadragésimo nono
nível, Eu os abençoarei com o quinquagésimo; a camada mais elevada de Biná,
entendimento".
No Calendário Judaico, um ano a cada cinquenta é chamado o ano de ―Yovel‖, ou
―Jubileu‖. No Ano Jubileu, todas as terras em Israel "recebem sua liberdade", e
retornam ao seus proprietários originais.
Como o conceito de liberdade e a Torá estão conectados?
Está escrito na Ética de Nossos Pais: "Aquele que estuda Torá é realmente livre"",
mas para o cético desafiar esta declaração seria muito fácil.
"Livre? O que quer dizer, livre? A Torá está repleta de restrições! Diz que não devo
fazer isto e não devo fazer aquilo. Bela liberdade!"
Porém, na verdade, quando alguém estuda Tora, é livre das restrições falsas e
materialistas da sociedade.
Livre de suas inclinações egoístas e animalescas.
Tem o poder de confrontar e transcender esses obstáculos.
Além disso, a Torá dá ao indivíduo a capacidade de maximizar seu potencial, de ser
o melhor possível.
Como exemplo, quando você está comendo um alimento bom e nutritivo, seu
desempenho é aumentado.
Sim, você pode sobreviver com sanduíches e coca-cola, porém a verdade é que
quando você come alimentos saudáveis, está apto a produzir melhor.
O mesmo se aplica a viver segundo as leis da Torá.
Talvez você acredite que não precisa da Torá em sua vida, que pode sobreviver
muito bem sem ela. Afinal, tem todas as facilidades para viver relativamente livre
de estresse, e sua vida social está a todo vapor. Porém quando você decide levar
uma vida no estilo de Torá, logo percebe que está apto a operar num plano de
existência muito mais elevado que o indivíduo comum.
Você sente que está no controle de sua vida e não escravizado aos ditames dos
falsos valores da sociedade.

O Zohar nos diz que o nun representa ―onaá‖ — ―engano‖.


Ao olho humano, este mundo parece ser controlado pelas leis da natureza, pois não
se pode ver D'us. Esta falsa realidade, portanto, é uma total decepção.
A missão de todos nós é revelar e atrair a luz infinita de D'us aqui para este mundo
(A luz infinita de D'us, também conhecida como abrangente ou transcendente
(sovev kol almin), não pode ser percebida através dos sentidos humanos. Essa luz
será revelada, porém, nos estágios finais da Era Messiânica, a Ressurreição dos
Mortos), a fim de que possamos ver a verdadeira realidade do mundo — que tudo é
Divindade e que a Divindade é tudo.
Isso é feito apegando-se a D'us e cumprindo Seus mandamentos.
Este conceito é expresso no nun ereto, longo (final), que tem um desenho
semelhante ao vav, um conduto.
Em contraste com o vav, porém, sua perna se estende por baixo da linha de base.
Isso implica na descida do fluxo de energia Divina e até os abismos mais profundos.
Isso ocorrerá finalmente com a chegada de Mashiach.

Nun significa também "reinado".


Há um versículo em Tehilim sobre Mashiach, que declara:
"Que seu nome (Yinon) perdure para sempre, como o sol."
Segundo Rashi, Yinon se refere a reinado. Se partirmos a palavra "Yinon" em duas
— yud e nun — nun significa ―reinado‖, e colocando um yud antes de uma palavra
isso denota continuidade.
Portanto, o nome Yinon sugere que o reinado de Mashiach durará para sempre.
Em aramaico, nun significa peixe. Outro significado de nun é um ―bar nafli‖, ―aquele
que caiu‖, ou um aborto.
Na porção da Tora, intitulada Balak, o profeta Bilam profetiza a vinda de dois reis.
O primeiro é o Rei David. O segundo é o Rei Mashiach, que surgirá dos
descendentes de David nos últimos dias.
O Midrash declara que supunha-se originalmente que David tinha morrido através
de um aborto. Ele conseguiu sobreviver somente porque Adam (o primeiro homem)
concedeu a David setenta de seus próprios anos (Adam viveu 930 anos (Bereshit
5:5). Supunha-se originalmente que ele teria vivido por 1.000 anos (Zohar I, pág.
168 a)).
Mashiach, descendente de David, é chamado ―bar nafli", literalmente traduzido
como "o filho daquele que caiu," ou aborto.
Um aborto causa grande dor e sofrimento à mãe e àqueles que lhe são próximos.
O papel da dor e do sofrimento é um elemento importante da presença de Mashiach
na terra. Como ele sente o sofrimento do povo, ele rezará ardentemente em prol
deles para trazer a redenção e a cura.
O Rei David é conhecido como David ben Yishai — o filho de Yishai.
É interessante notar que a guematria de "ben Yishai" é 372, o mesmo valor das
palavras - - bar nafli.

O Talmud nos relata que houve um debate sobre o nome de Mashiach.


Um grupo dizia que o nome de Mashiach é Menachem. O outro grupo afirmava que
é Shilo. O terceiro grupo dizia que o nome de Mashiach é Yinon.
O quarto grupo dizia Chanina.
Na essência, todos estavam corretos.
Mashiach (escreve-se Mem, Shin, Yud, Chet) é um acrônimo de todos os quatro
nomes.
O mem de Mashiach representa Menachem, que significa ―consolo‖, pois Mashia-ch
virá e trará consolo ao povo judeu, amenizando seu sofrimento e angústia do exílio
e pela destruição do Primeiro e Segundo Templos Sagrados.
Então ele será Shilo (shin), que significa que se tornará rei e reinará sobre o povo,
restaurando a lei e a ordem. Shilo, que também significa "presentes a ele", refere-
se à obrigação da pessoa de levar presentes ao rei.
Então ele será Yinon (yud), que significa o peixe que se multiplica rapidamente e
perdura.
Sob o reinado de Mashiach, o mundo será frutífero e se multiplicará.
O último nome é Chanina (chet). Chanina significa ―chen‖, ―graça‖.
Mashiach por fim trará a graça, paz e harmonia ao mundo.
Além disso, o Talmud nos diz que uma pessoa que sonha "e vê Chanina" está
destinada a testemunhar "muitos e muitos milagres", porque há dois nuns na
palavra.
A palavra nun também significa ―nes‖, milagre.
Dois nuns denotam ―nissei nissim‖: muitos e muitos milagres.
Na era de Mashiach, todos vão testemunhar grandes maravilhas e milagres.

Em conclusão, nun, que representa humildade, é o recipiente para todas as


bênçãos de D'us. Intelectualmente, quando alguém é humilde, atinge o
quinquagésimo (a coroação) nível de entendimento; num nível material, a pessoa
atinge grande riqueza material através da capacidade de "multiplicar-se como um
peixe". Através dos nossos esforços para atingir a humildade, seremos abençoados
tanto material como espiritualmente com a vinda de Mashiach.

Aplicação
Assim como Josué derrubou as muralhas de Jericó, o Nun também rompe as
muralhas de nossa vida.
As limitações, sejam auto impostas ou impostas externamente, caem diante do
poder do Nun.
Existem vários tipos de muralhas: o ódio, o medo, o preconceito, a ignorância, a
ilusão.
O Nun proporciona a coragem de que essas muralhas podem cair.
Nós, como Jonas, podemos encontrar vida e esperança numa situação
aparentemente sem saída.
Mas, como no caso de Jonas, a ressurreição exige uma transformação radical.
Depois de sobreviver no ventre da besta, não podemos simplesmente voltar à vida
de sempre.
O Nun nos desafia a viver como se tivéssemos emergido das profundezas e
recuperado milagrosamente a vida, cuidando do que é realmente importante e
abandonando conceitos ultrapassados e limitados e velhos padrões negativos de
pensamento e de ação.
O Nun rompe limites, elimina barreiras e separações e nos conduz a um jubileu de
emancipação.
Nas palavras do spiritual negro e do famoso discurso "I have a dream" ["Eu tenho
um sonho"] do reverendo dr. Martin Luther King, Jr., o Nun canta:
"Livres enfim! Livres enfim! Graças a Deus Todo-Poderoso, estamos livres enfim!".
Esse é o sonho do Nun.
Um dos modos de tornar real o sonho de liberdade está sugerido no processo de
contar o Omer, dia após dia.
Essa prática refaz, simbólica e metafisicamente, a passagem dos judeus de sua
recente fuga da escravidão para a profunda revelação de Deus, por meio da Torah,
no Sinai.
Essa passagem é uma jornada gradativa, passo a passo.
Inclui vários momentos de dúvida, apostasia. e medo.
Precisamos de disciplina, perseverança e fé para viajar da escravidão à iluminação.
O Nun nos conduz no caminho da libertação do que quer que seja limitante e
opressivo e nos encoraja: "Continue caminhando! A Terra Prometida está adiante".
Quando se conta o Omer, diariamente durante cinqüenta dias, enumera-se:
"Hoje é o __° dia do Omer".
Para os cabalistas, cada dia do Omer corresponde a uma combinação diferente das
qualidades das Sefirot, os ramos da Árvore da Vida.
Medita-se sobre as qualidades sagradas de cada dia e procura-se incorporá-las.
Os cinqüenta dias do Omer evocam as Cinqüenta Portas do Entendimento.
Não se pode atravessar todas essas portas místicas de uma vez; é um processo
gradativo, para a vida inteira.
Na verdade, quem atravessa a qüinquagésima porta, já está além do nosso plano
de existência atual.
O Nun estimula a observar e afirmar os pequenos passos de progresso que nós
vamos dando conforme avançamos gradativamente em direção à libertação e à
iluminação.
Por outro lado, quando as muralhas da ilusão e da separação caem, elas caem
mesmo!
A iluminação vem de repente, provocada por um som, uma visão, uma palavra, um
cheiro.
O mundo se impõe a nós, as separações e barreiras se desfazem e a contagem ou
prática passo a passo, dia após dia, cede completamente.
A Terra Prometida está bem aqui!
Parte da tensão, ou dialética, do Nun é entre libertação súbita e disciplina diária.
Como lidar com a terrível responsabilidade da liberdade quando ela surge?
Os escravos fugitivos — os hebreus — recebem os Dez Mandamentos e a Torah
para ajudá-los.
Liberdade não significa fazer tudo o que quisermos.
Nosso comportamento está circunscrito por uma ordem ética.
Depois de receber a Torah, os hebreus passam mais quarenta anos vagando antes
de se fixar.
Depois da revelação, a vida continua, dia após dia.
Essa, portanto, é a verdadeira substância da liberdade: comer, dormir, caminhar,
trabalhar, divertir-se, rezar, falar, cantar.
A estrada para a Terra Prometida é a Terra Prometida.
Com o Nun, nadamos à vontade entre as cheias e vazantes da vida.
Ora nubladas, ora ensolaradas.
Ora tempestuosas, ora calmas.
Ora quentes, ora frias.
Com lágrimas, risos, enfado, exuberância, cansaço e renovação, medo e exaltação,
nós nadamos no grande Oceano.
Em "The Poor Thing" ["O Pobre Coitado"], fábula de Robert Louis Stevenson, um
pobre pescador propõe casamento à filha de um nobre rico dizendo: "Imagine
nossos filhos, os coraçõezinhos curiosos, as cabecinhas brancas. E que isso seja
suficiente, porque é tudo o que Deus oferece".
A vida cotidiana comum é ela mesma o grande tesouro.
"Livres enfim!", diz o velho spiritual.
O Nun inicia e termina a palavra hebraica niggun, , "música" ou "melodia".
Pode-se dizer que os niggunim são os "spirituals judaicos".
Essas canções sem letra dos hassidim servem para derrubar as muralhas entre o
humano e o divino, elevar quem canta às alturas do êxtase, abrir as próprias portas
do Paraíso.
Quando o Nun surge nadando em nossa vida, é um bom momento de aprender e
cantar alguns niggunim.
Eles abrem nosso coração, elevam nosso espírito e ajudam a derrubar as muralhas.

A Sombra do Nun
Os peixes são frios e ardilosos.
Quando personificamos muito literalmente o Nun, corremos o risco de procurar
evitar as pessoas ou a vida escondendo-nos embaixo d'água, mergulhando fundo
para desaparecer de vista.
Podemos acabar nadando em águas solitárias.
Na tentativa de ser livres, podemos nos ver encurralados em cavernas auto
impostas.
O Nun nos desafia a encontrar um equilíbrio saudável entre liberdade e disciplina,
espontaneidade e método, fluxo e refluxo.
Quando nos apegamos demais a apenas uma dessas dicotomias, acabamos
capturados pela armadilha do pensamento dualista.

Comentários Pessoais por Richard Seidman


No Koko An Zen Center de Honolulu, há uma inscrição no bloco de madeira que se
usa para bater durante as cerimônias: Como Um Peixe, Como Um Tolo.
A frase descreve um certo tipo de liberdade, uma falta de autoconsciência, uma
total imersão no momento, o que se valoriza muito no Zen.
O Nun simboliza essa liberdade, a liberdade de um peixe nadando na água ou de
um pássaro voando pelos ares, naturalmente à vontade no meio onde vivem.
O Nun não se importa com inteligência ou boas idéias.
O Nun não se importa se obtenho sucesso ou fracasso em algo.
Quando surge o Nun, lembro a mim mesmo: "Seja mais tolo, e mais tolo ainda.
Seja como um peixe, como um tolo!"

Textos Complementares:

Num - Noach (Noé)


Eis a história de Noé — Noé era homem justo e integro entre os seus
contemporâneos; Noé andava com Deus.
Gênesis 6:9

Dez gerações se sucederam entre Adão e Eva e Noé — mas quando a sua história
começa a ser narrada na Bíblia, a sociedade não havia evoluído muito.
O mundo de fato havia caminhado rapidamente para um estado de coisas
lamentável: as pessoas eram conhecidas por roubarem, enganarem, serem
violentas e sexualmente imorais.
Mas Noé manteve-se íntegro e, assim, quando Deus decidiu que o mundo inteiro
precisava ser destruído por um terrível dilúvio para depois poder ser totalmente
reconstruído, Ele colocou a salvo apenas Noé e sua família.
Muito se tem dito a respeito da qualificação "em suas gerações".
Segundo alguns, Noé foi a única pessoa realmente boa de todas as dez gerações
que haviam existido.
Para outros, a situação é menos positiva: Noé pode ter sido bom quando
comparado com todos os seus vizinhos, mas se colocado numa outra época e num
outro lugar, ele não teria sido descrito da mesma maneira.
Uma das interpretações faz uma comparação entre uma moeda de prata e um pote
de moedas de cobre.
Comparada às moedas de cobre, a de prata brilha, mas se colocada ao lado de uma
moeda de ouro, não há nenhuma dúvida de qual é a mais valiosa.
Noé distingue-se das outras grandes figuras da história bíblica pelo fato de não
questionar nem discutir com Deus.
Quando Deus vai até ele e diz que pretende destruir todo o mundo perverso, mas
salvar a ele e sua família por meio da arca, Noé não pergunta por que, não tenta
fazer Deus mudar de idéia ou desistir de suas intenções destrutivas.
Pelo contrário, ele segue exatamente as instruções quanto às medidas da arca e o
número de animais a levar consigo e prepara-se para fazer o que Deus mandou.
Não foi o que aconteceu com Abraão quando, muitos anos depois, ele foi informado
de que a cidade de Sodoma seria destruída por causa da imoralidade que imperava
nela: ele tenta barganhar com Deus para salvar, pelo menos, as poucas pessoas
boas que existiam entre os ímpios.
O silêncio de Noé é, neste caso, tão controverso como sua descrição do que é ser
íntegro "em suas gerações".
De um lado, ele é obediente e tem plena fé na vontade de Deus; de outro, ele não
exerce a vontade e a capacidade do homem para negociar, interpretar e expressar-
se por si mesmo, com as quais veio ao mundo e isso é uma decepção.
É sempre difícil saber quando ser forte e calar e quando se levantar para lutar em
defesa dos próprios interesses e, especialmente, quando a situação requer essa ou
aquela resposta.
Se Noé respondeu ou não "corretamente" às circunstâncias que lhe foram colocadas
não é a questão — o mais importante é saber que ele "andava com Deus", vivia sua
vida com um senso de propósito, sabendo que havia uma força superior guiando
sua vida.
Era isso que o distinguia do resto da sociedade e o tornava merecedor da arca e de
ser o patriarca das novas gerações e o novo começo do mundo.
Quando o dilúvio terminou e o mundo voltou a funcionar, Deus fez uma aliança com
Noé.
Ele enviou um arco-íris através do céu e, com ele, prometeu jamais voltar a
destruir o mundo de uma forma tão avassaladora.
Noé, por sua vez, estabeleceu o que ficou conhecido como Leis de Noé, as sete
diretrizes básicas para o comportamento moral que surgiram muito antes dos Dez
Mandamentos.
Essas leis (não matar, não cometer idolatria, não roubar, não praticar incesto, não
cortar a carne de um animal vivo, não blasfemar e não prestar falso testemunho
diante de um tribunal) aplicam-se a toda a humanidade, independentemente de
idade, raça ou religião.
O fato de nossas leis básicas que regem o comportamento moral levarem o nome
de Noé nos diz algo muito importante: ser íntegro, mesmo que venham a existir
nas futuras gerações outros que superarão em muito a nossa integridade, merece a
criação de todo um novo mundo.
A carta Nun vem nos ensinar a Teoria da Relatividade Espiritual: tudo é relativo.
Vemos as coisas de uma determinada maneira com base em nossas experiências de
vida, mas os outros, com suas diferentes experiências de vida, vêem do ponto de
vista contrário.
Certo e errado são categorias subjetivas que estão em constante mudança.
Por mais que nos seja impossível suportar as injustiças, e todos nós temos que nos
esforçar para manter os princípios mais básicos da moralidade e da justiça, não
podemos de maneira alguma julgar os outros de acordo com nossos próprios
critérios.
Noé não era perfeito, nós não somos perfeitos e o mundo em que vivemos não é
perfeito.
Esta carta pede para você aceitar a si mesmo e procurar modos para melhorar o
seu comportamento.
Aceite o mundo, mas não fique sentado esperando que ele desmorone quando pode
ser ativo e ajudar a fazer dele um lugar melhor.
De um cego não se pode esperar que pinte paisagens de um mundo que ele nunca
viu; portanto, é importante saber que você só pode julgar a si mesmo de acordo
com suas próprias capacidades e circunstâncias.

Por: Deepka Chopra

O Bahir (com comentários de Aryeh Kaplan)

83. Qual é o significado do Nun [na palavra OZeN]?


Ensina que o cérebro é a parte principal da medula espinhal.
Constantemente nutre-se daí e, se não fosse pela medula espinhal, o
cérebro não resistiria.
E, sem o cérebro, o corpo não resistiria.
Todo o corpo existe a fim de prover as necessidades do cérebro.
E, se o corpo não resistisse, o cérebro também não resistiria.
A medula espinhal é o canal que liga o cérebro a todo o corpo.
É representado pelo Nun inclinado.[A letra Nun assume duas formas:
inclinada, no meio da palavra, e ereta no final.]
Mas [na palavra OZeN], o Nun é ereto.
O Nun ereto está sempre no final de uma palavra. Ensina que o Nun ereto
inclui ambos, o inclinado e o ereto.
Mas o Nun inclinado é a Fundação.
Ensina que o Nun ereto inclui ambos, macho e fêmea.

Comentário:
A letra Nun tem a forma de um Zain alongado, e seu valor numérico é cinqüenta.
Se observarmos o Diagrama da Àrvore da Vida, veremos que existem quatro Sefirot
na linha central: Keter-Coroa, Tiferet-Beleza, Yesod-Fundação e Malchut-Reino.
Quando a quase-Sefirá, Daat-Conhecimento, é também incluída, a linha central tem
cinco elementos, e é esse o significado do Nun.
Cada um desses cinco elementos é multiplicado por dez, resultando em cinqüenta -
valor numérico do Nun.
É esse o conceito da medula espinhal, que une o corpo ao cérebro.
Anteriormente, foi dito que o Nua é Biná-Compreensão (ver verso 61), devido ao
fato de Keter-Coroa ser somente compreendida por intermédio de Biná-
Compreensão, o conceito do Ouvido.
Por essa razão, a "cabeça" do Nun é inclinada ligeiramente à esquerda, indicando a
preponderância de Biná-Compreensão.
Nun é, também, a letra final de Ozen, que significa "ouvido".
É o conceito do Filho, Ben em hebraico, onde Chochmá-Sabedoria, associado ao