As Letras Hebraicas – Introdução
O que é a Cabala?
A palavra hebraica cabala provém da raiz kabel, que significa "receber".
A cabala é um conjunto de escrituras místicas baseadas num livro chamado Zohar
(também conhecido como "O Livro do Esplendor"), que é uma interpretação dos
livros que, em seu conjunto, são conhecidos como a Torá Oral.
A Torá Escrita, também conhecida como os Cinco Livros de Moisés, o Antigo
Testamento, ou simplesmente Torá, é o texto original da fé judaica.
A Torá Oral interpreta a Torá e a aplica à vida cotidiana, enquanto o Zohar se
concentra no motivo pelo qual uma pessoa escolhe viver dessa ou daquela maneira.
E esse motivo, conforme acaba se revelando, é muito simples: porque viver a vida
como um ser espiritual totalmente desperto é o maior poder que se pode alcançar.
É também a coisa mais difícil de se realizar, uma vez que implica abrir mão das
verdades externas e voltar-se para os aspectos internos de si mesmo.
A Cabala procura nos levar a uma consciência pré-bíblica, uma esfera de valores
atemporais que existiram antes da religião institucionalizada.
Esse estado de ser é de pura religiosidade: é o momento que precede a oração,
quando você fecha os olhos e antes sente as forças que estão fora de sua
compreensão, mais do que as palavras contidas na prece ou como elas são ditas.
Para funcionar no plano místico da Cabala, a pessoa precisa estar preparada para
receber coisas e aceitar forças que estão fora e acima de seu controle.
Receber, nesse caso, é também deixar ir, abrir mão de idéias preconcebidas, do
ego e do medo.
Se nos permitirmos receber e abraçar o conhecimento e a consciência do
pensamento cabalístico, nós logo seremos capazes de acessar a energia que
interliga todas as coisas e traz mais sentido para as nossas vidas.
Números e Letras
A Cabala nos ensina que é possível interpretar e reinterpretar as lendas e fábulas
tradicionais da Tora em níveis infinitos de significação.
Pelo uso de técnicas de meditação, nós podemos chegar a ver os mitos com um
nível de profundidade que jamais imaginamos ser possível.
Olhando para as letras hebraicas que formam as palavras nos livros da Torá,
podemos ver formas e figuras que ilustram as narrativas que suas palavras contam.
E pelo uso da gematria (uma forma antiga de matemática sagrada na qual a cada
letra é atribuído um valor numérico e, em seguida, ela é analisada de acordo com o
número que cada palavra totaliza), nós podemos nos levar a um estado mental
onde até mesmo as próprias letras têm muitos níveis de significação.
Essa altera, portanto, a nossa percepção das palavras e contribui para aumentar as
múltiplas interpretações da Tora.
Conforme os cabalistas vêm afirmando há milhares de anos, nós humanos somos
um microcosmo do universo.
Essa é uma referência ao fato de existir 22 letras no alfabeto hebraico e 22
cromossomos no corpo humano — e existe também uma lenda, segundo a qual
Deus, na verdade, criou o ser humano servindo-se das letras do alfabeto.
Independentemente dessa teoria, nós podemos também tirar a conclusão de que
nós, como pessoas, estamos estreitamente ligados às letras que formam a nossa
história e encontramos meios de nos ver em sua própria constituição.
Em resumo, os cabalistas ensinam que existem modos infinitos de manipular as
palavras e as letras, como também centenas de técnicas para colocar as sentenças
em ordem inversa até elas se revelarem para nós de cada ângulo imaginável.
Assim como a equação E=mc2 é muito mais do que um amontoado de letras e
números (é a abreviatura simbólica de uma lei da natureza extremamente
complexa), cada letra do Aleph-Bet representa muito mais do que ela própria.
Um exemplo interessante de gematria é a própria palavra Cabala.
Usando o valor numérico atribuído às letras na tabela 1, podemos ver que as letras
que formam essa palavra são: Kuf (100), Bet (2), Lamed (30) e Heh (5),
resultando no total de 137.
Na física quântica, o número em código mais importante — e mais básico — é o
"número absoluto", que descreve a energia exata na qual o universo inteiro vibra.
Esse número é representado como alfa, o qual é definido pela velocidade da luz e
cujo valor é 1/137, o valor reciproco da palavra Cabala.
Se aprofundar um pouco mais a análise, você vai descobrir que existem números
infinitos de palavras cujo valor numérico soma um total muito maior.
Além da gematria, os cabalistas também fazem uso da teoria do a‘t‘ba'sh, pela qual
cada letra corresponde à letra da extremidade oposta do alfabeto, de maneira que
Aleph, a primeira letra, corresponde a Tav, a última, e Bet, a segunda letra,
corresponde a Shin, a penúltima letra do alfabeto, e assim sucessivamente.
Com apenas essas duas fórmulas em mente, você pode começar a imaginar os
níveis de significação que é possível criar.
A Tora Física
Como com tudo no mundo, não há nada de acidental no modo como é produzido o
manuscrito da Tora.
Em primeiro lugar, para ser uma Tora perfeitamente "kosher" para ser usada nas
cerimônias da sinagoga, o rolo tem que ser feito de pergaminho e cada letra
precisa ser escrita à mão por um escriba, chamado Sofer, que é especialmente
treinado na arte da caligrafia bíblica.
Cada letra deve não apenas ser desenhada com perfeição à mão, mas também, se
acontecer de uma letra ou mesmo parte dela ficar rabiscada ou borrada, terá que
ser reparada para poder voltar a ser usada.
Isso pode parecer exagero para as sensibilidades do mundo moderno — afinal, não
podemos simplesmente ler o mesmo texto nos livros impressos profissionalmente?
O que importa se a extremidade de uma letra estiver um pouco borrada?
A resposta é que, durante séculos, os cabalistas afirmaram que a cada ser humano
corresponde uma letra contida no rolo da Torá.
Conseqüentemente, se uma única pessoa foi prejudicada — isso é, se um membro
do grupo encontrar-se de alguma maneira prejudicado ou ocultado — é preciso que
trabalhemos para reparar o erro antes de podermos prosseguir como um todo.
Assim como a sua vida não seria completa se você se concentrasse apenas em si
mesmo, a Tora não pode funcionar sem seus leitores.
Outro aspecto interessante a respeito da escrita do manuscrito da Tora é que ela
tem que ser realizada com a intenção totalmente pura do escriba.
Esse processo difícil e esmerado pode levar muito tempo para ser concluído e
requer treinamento e concentração.
Além da pressão para produzir algo que seja, em essência, totalmente perfeito, o
escriba tem que ainda ter intenções puras ao escrever o manuscrito e estar sempre
pensando no bem da comunidade que irá ler sua obra.
Como com todas as coisas, o escriba tem que ter a motivação para compartilhar e
ter uma atitude energeticamente positiva.
As Letras da Criação
A palavra hebraica para "letra", , ―ot‖, significa também "sinal", "prodígio" ou
"milagre".
Há milhares de anos os sábios judeus vêm ensinando que as letras do alfabeto
hebraico, o Aleph Beit, incorporam poderes maravilhosos e miraculosos.
De acordo com o mais antigo livro conhecido sobre misticismo judaico, The Sefer
Yetzirah (O Livro da Criação), escrito há mais de quinze séculos, Deus formou todo
o universo pronunciando as vinte e duas letras.
A partir do vazio do silêncio, com a vibração da fala cósmica de Deus, todas as
coisas nasceram.
"E disse Deus: 'Haja luz. E houve luz‖.
Como manifestações da fala de Deus, as letras do Aleph Beit são portanto os blocos
energéticos e vibracionais da criação.
São análogas a elementos físicos.
Assim como, por exemplo, um átomo de gás oxigênio se une a dois átomos de gás
hidrogênio para formar uma molécula de água, uma letra se combina a outra, do
mesmo modo, criando novos entes.
Diz a rabina Marcia Prager:
"Essa percepção das palavras e letras hebraicas como elementos espirituais
constitutivos da existência constitui a base da maior parte da doutrina mística
judaica".
As letras são arquétipos.
Cada uma expressa um poder primordial ou energia criativa específica.
, Beit, por exemplo, é o signo de "casa".
Mem, é a letra da água e do ventre.
David Abram o expressa do seguinte modo:
"Para os cabalistas, cada letra do Aleph Beit tem sua própria personalidade, sua
própria magia profunda, seu próprio modo de organizar toda a existência em torno
de si".
A obra-prima do misticismo judaico do século XIII, o Zohar, O Livro do Esplendor,
diz:
"Pois quando o mundo foi criado, foram as letras celestiais que deram início a todos
os mecanismos do mundo inferior, literalmente segundo seu padrão. Portanto,
quem tiver delas um conhecimento e observá-las é amado na terra e no céu".
Durante séculos os místicos e eruditos judeus vêm cultivando o conhecimento e a
observação do Aleph Beit, e um vasto folclore e tradição mística surgiu em torno
das letras.
No século XIII, Abraão Abulafia desenvolveu práticas para meditar sobre as letras
que formam os nomes sagrados de Deus.
Ele ensinou como permutar e combinar essas letras de modo a evocar estados
espirituais elevados.
Abulafia e outros cabalistas criaram elaboradas teorias relativas ao papel de cada
letra, sua força numérica e sua posição especial na criação e formação das palavras
da Torah.
Eles acreditavam no poder das letras hebraicas de afetar a realidade de maneiras
profundas.
Alguns rabinos e estudiosos invocavam, por exemplo, fórmulas na tentativa de criar
golems, criaturas antropomórficas feitas de argila.
A palavra "fórmula" indica os poderes mágicos inerentes à combinação das letras.
Uma fórmula bastante conhecida, a palavra encantatória "abracadabra", talvez
derive do hebraico , abra k‘adabra, que significa literalmente "eu crio ao falar".
O poder das letras de manifestar-se como objetos físicos se reflete na raiz comum
dos termos hebraicos para "palavra" e "coisa",
dibur, e , davar.
As palavras são coisas, e as coisas são palavras manifestadas.
Na Torah, os Dez Mandamentos não são chamados de "Mandamentos", mas de
―aseret ha'debrot‖, os "Dez Pronunciamentos" ou "Dez Frases".
O Zohar descreve como a voz de Deus criou as tábuas que continham os Dez
Pronunciamentos:
"Quando surgiram, as letras eram muito refinadas, entalhadas com precisão,
brilhantes, cintilantes. Todo Israel viu as letras voarem pelo espaço, em todas as
direções, e gravarem-se nas tábuas de pedra".
No século XVIII, surgiu na Europa oriental o movimento conhecido como
hassidismo.
Era liderado por Israel ben Eliezer, conhecido como o Baal Shem Tov, ou o Mestre
do Bom Nome.
Já havia existido outros Baal Shems ou Mestres do Nome antes de Israel ben
Eliezer.
O título aludia à mestria na habilidade de combinar e permutar as letras do nome
sagrado de Deus para fins de cura e bênção.
O Baal Shem Tov ensinou uma forma jovial e acessível de misticismo.
Rejeitando a visão legalística do judaísmo rabínico tradicional, o Baal Shem Tov e
seus seguidores enfatizavam o poder da prece simples e sincera.
Essa atitude se reflete nas histórias didáticas relativas ao Aleph Beit.
Numa delas, um pobre fazendeiro judeu ia para a cidade a cavalo para orar na
sinagoga pelo Yom Kippur.
Mas uma forte neblina baixou sobre o campo e ele não conseguiu se orientar.
Quando veio a escuridão, ele se perdeu na floresta e teve de passar a noite do Yom
Kippur ali, sozinho.
O fazendeiro não tinha nenhum livro de preces.
E não sabia as preces de cor.
Cheio de angústia, clamou: "Oh, Deus, o que posso fazer? Como posso rezar para
vós?"
Então lembrou-se do alfabeto que aprendera na infância.
Disse: "Já sei. Vou recitar todas as letras do Aleph Beit e Vós, o Santíssimo,
conheceis todas as palavras e podeis juntar as letras para formar as preces certas
do Yom Kippur".
Assim, passou a noite inteira repetindo continuamente as letras.
Ao ouvir essa história, o Baal Shem Tov disse que essa prece humilde não apenas
havia sido agradável a Deus como seu poder era tão grande que muitas pessoas,
mesmo entre as mais eruditas, tiveram suas preces aceitas naquele Yom Kippur
apenas por causa da sinceridade e pureza do Aleph Beit daquele simples
fazendeiro.
A atitude de que cada letra do Aleph Beit é sagrada se revela no modo como se faz
um rolo da Torah.
Toda Torah é manuscrita.
Não pode haver uma só letra omitida, rasurada ou borrada, e nenhuma letra pode
tocar outra.
Se isso acontecer, todo o rolo é considerado inválido.
Em Nine Gates to the Hasidic Mysteries [As Nove Portas dos Mistérios Hassidicos],
Jiri Langer diz: "Quando um livro está tão desgastado que não se pode mais usá-lo,
o curador o leva para o cemitério e o enterra. Nem mesmo o mais ínfimo pedaço de
papel contendo caracteres hebraicos pode ser deixado ao léu ou pisado; é preciso
enterrá-lo. Pois cada letra hebraica é um nome de Deus".
Há séculos os místicos judeus (e também alguns cristãos) vêm recorrendo a esses
"nomes de Deus" para orientação e inspiração.
Há séculos as pessoas vêm meditando sobre as letras e refletindo sobre seus
poderes especiais.
Ao tentar ganhar intimidade com os blocos da criação, esses buscadores espirituais
anseiam conhecer mais intimamente o Criador.
O Baal Shem Tov ensinou: "Entre em cada letra com toda a sua força. Deus habita
cada letra e, ao entrar, você se une a Deus".
Forças Energéticas
As letras do alfabeto hebraico representam as 22 Forças energéticas utilizadas em
todo o processo da Criação.
Cada letra está associada a uma energia que ela é capaz de transportar a partir de
sua ressonância mórfica (som e forma).
Estas letras e suas mais diversas formas de combinação, despertam as várias
forças espirituais a que cada uma delas está conectada.
A letra atua como uma ―chave‖ que nos permite abrir portas e para isso é
necessário ter a ―chave certa‖ para a ―porta certa‖.
O conhecimento do significado energético das letras do alfabeto hebraico, ampliará
a nossa percepção em relação as ―chaves‖ e as ―portas‖ que elas nos permitem
acessar.
Os sinais do Aleph Beit (alfabeto hebraico) também podem ser utilizados como uma
ferramenta de consulta e orientação - como guias.
As letras hebraicas são usadas de formas distintas, ou seja, com significados
diferentes:
- Um significado literário que é usado para a comunicação entre as pessoas, da
mesma forma que qualquer outro alfabeto existente;
- Um significado numérico, porque os nomes em hebraico são, na verdade,
sentenças numéricas.
Cada sentença nos dá informações úteis para percebermos qual a energia que está
contida naquela palavra.
Em resumo o valor numérico de uma letra, palavra ou frase, tem uma relação
direta com seu significado energético;
- Um significado energético, porque cada letra está associada a uma energia
diferente no Universo.
Através das características de suas formas e ressonâncias, elas atuam como uma
antena que nos conecta com as Forças Primordiais da Criação.
Conta o Midrash:
As letras competem por uma preciosa oportunidade
As letras do Alef Bet estavam reunidas em volta de D‘us, com muita expectativa e
alvoroço.
Uma feliz letra seria escolhida em breve para iniciar a primeira palavra sagrada da
Torá, o mais precioso tesouro do mundo.
Qual seria ela?
Cada uma esperava que D‘us a escolhesse entre todas as outras e juntas clamavam
por sua atenção.
"Por favor, D‘us, comece a Torá comigo!" gritavam todas juntas.
Fonte: Chabad
Neste estudo abordaremos, da forma mais profunda possível, cada uma das letras
hebraicas.
Lembramos que em muitos casos vamos nos referir ao Alfabeto Hebraico como
Alef-bet
Para as vogais, o termo é Nekudot
Organizador
As Letras Hebraicas – Parte 1
As letras são instrumentos, são como "chaves" que nos permitem acessar ao
mundo da primeira e da segunda visão.
E essas "chaves" são igualmente formadoras de palavras (descrições da realidade).
Tudo o que somos e sentimos é fruto da forma como nos relacionamos com as
descrições que temos do mundo.
Letras são instrumentos que nos ajudam a compreender o ritmo das descrições e
com isso acessar a totalidade de seu conteúdo.
Normalmente ficamos apenas com uma pequena parcela das descrições da
existência.
Essa parcela "desnatada" é o que os antigos chamavam de "inventário".
Basicamente recebe esse nome por se tratar de uma abordagem simplificada da
vida.
Um guerreiro espiritual deve saber conviver com a totalidade da descrição.
Para os sábios, as letras hebraicas são formadas por uma força de expressão por
intermédio de uma impressão perceptível conhecida pelo nome de "fogo preto".
Mas também existe uma parte da descrição que perdemos, que é justamente o
espaço em branco ao redor da letra.
Esta parte da descrição é conhecida pelo nome de "fogo branco".
Esse fogo branco é o mistério contido em todas as coisas, trata-se de uma parcela
da descrição da qual não temos domínio.
É o mistério e o sinal mais evidente de constatar que a Presença Divina reside em
tudo.
Por isso mesmo é que o navi (inspirado) não pode supor a vida como sendo uma
questão de desvendamento de causas e efeitos exatos.
Em tudo reside o mistério e o que nos cabe é ficar à vontade com esse mistério.
Podemos estabelecer uma comunhão com as letras por intermédio de três aspectos
fundamentais: sua forma, seu som e seu movimento.
Quanto mais exploramos os aspectos de contato com as letras, mais próximos
estaremos de suas propriedades.
Isso é para os neviim (inspirados) um exercício perpétuo.
Dentre as questões essenciais da existência existem:
- Alef - O silêncio
- Bet - A sabedoria
- Guimel - O sustento
- Dalet - A frutificação
- Hei - O sentido
- Vav - O pensamento
- Zain - O movimento
- Chet - A visão
- Tet - O aprendizado
- Yod - O toque
- Caf - A vida
- Lamed - A potência
- Mem - A possibilidade (mérito)
- Nun - O aroma
- Samech - O sonhar
- Ayin - O intento
- Pei - A liberdade
- Tzadi - O alimento
- Kof (ou Kuf) - O contentamento
- Resh – A paz
- Shin - O dever
- Tav - A beleza
A raiz hebraica "ot" está ligada à raiz "avah" que quer dizer "marcar", "designar",
"indicar", mas que, tomada em outro contexto, significa "curvar", "dobrar",
"inclinar".
O último sentido é comum à raiz "ôt" em que vemos o Aleph de "ot" transformar-se
em Ayin.
Isso simboliza a passagem do Aleph da luz do mundo de Atzilut, ao Ayin da "veste
de pele" do mundo de Assiá.
Uma das coisas mais importantes dentro da conhecimento das origens é a
compreensão dos mistérios por trás da transformação da luz em "tecido" "pele".
A migração do Aleph ao Ayin nos descreve o processo de criação de um símbolo, de
uma luz infinita a um receptáculo finito.
As 22 otiot, no mundo de Atzilut, são luzes que iluminam individualmente um
aspecto da luz primordial.
Para compreendê-las e conhecê-las é preciso limitá-las a nosso conhecimento e
forçá-las a curvarem-se às leis da natureza do mundo material.
É preciso desviar o sentido primeiro e luminoso, para fechá-lo em uma forma fixa
que será apenas um conhecimento indireto da verdade, uma alegoria.
A raiz "zer" toma então todo o seu sentido e, através da luz indireta do símbolo,
será preciso retomar o sentido luminoso de ot por meio da palavra e do
pensamento.
Por motivos gramaticais, algumas letras hebraicas têm duas pronúncias diferentes
(exemplo.: bet e veit, kaf e chaf, pei e fei, shin e sin, tav e sav), como você
descobrirá no decorrer deste nosso estudo.
Independentemente de sua pronúncia numa palavra específica, chamaremos a letra
por seu nome principal (exemplo: bet, kaf, pei, etc.)
É importante notar que muitas palavras em hebraico, como ocorre em todos os
idiomas semíticos, embora possam foneticamente soar diferentes — compartilham
o mesmo radical e portanto estão inter-relacionadas.
Por exemplo, alef, aluf e ulfana têm todas o mesmo radical comum de alef, lamed e
pei, e portanto seus significados estão conectados.
Além disso, segundo a Cabala, quando as mesmas letras são transpostas para
formar palavras diferentes, elas retêm a energia comum de sua guematria
compartilhada.
Por causa disso, as palavras mantêm uma conexão nas diferentes formas.
Encontramos um exemplo clássico disto com as palavras ―hatzar‖ (problemas),
―ratza‖ (um desejo de correr apaixonadamente para a "arca" da Torá e da prece) e
―tzohar‖ (uma luz que brilha do interior).
Todas as três palavras compartilham as mesmas três letras: tzaclik, reish e hei em
combinações diferentes.
O Baal Shem Tov explica' da seguinte maneira a conexão entre as três letras:
Quando alguém está passando por problemas (hatzar) e corre para estudar Torá e
rezar com grande desejo (ratza), é iluminado com uma luz Divina vinda de dentro
(tzohar) que o ajuda a transformar seus problemas em bênçãos.
Como uma letras hebraica irradia luz, percepção e claridade, é chamada ―ot‖,
conectada com a passagem ―ata boker‖ ("manhã que virá").
Assim, escolhemos chamar nossos textos de Letras da Luz — a luz da sabedoria e
entendimento que emana das letras da Torá.
Além da luz nas letras escritas sobre material impresso (por exemplo, as letras
num Rolo de Tora), há uma luz intrínseca em cada letra, independentemente de ter
sido escrita em papel.
Estas são as letras da Criação.
O Alfabeto da Criação
Em seu livro: ―O Poder da Cabala‖, Rabi Yehuda Berg, escreve:
―Todos já ouviram falar do código genético humano, conhecido pelas iniciais DNA.
Mas poucas pessoas fora da comunidade cientifica sabem explicar o que é o DNA ou
descrever o que ele faz, realmente.
O DNA é bem mais descrito como um manual de instruções para as nossas células.
Todas as células começam num estado indiferenciado.
Nosso DNA, então, determina quais células evoluirão para se tornarem órgãos
internos, ossos, a substância do cérebro, ou outros tecidos. Hoje a ciência está se
voltando para a terapia genética para encontrar as curas de diversas doenças
serias, porque, se conseguimos mudar as instruções do DNA, podemos mudar o ser
humano.
Como todos os manuais de instrução, o DNA é escrito numa língua que utiliza um
alfabeto.
No final da década de 1950, os geneticistas quebraram o código genético da vida e
determinaram que o alfabeto do DNA é composto de ―quatro‖ letras, que eles
designaram com A,T,C e G.
A,T,C e G são quatro tipos diferentes de nucleotídeos que se combinam para criar
20 aminoácidos, que produzem as ―palavras‖ e as frases’que compõe o código
genético de cada individuo.
Os seres humanos têm cerca de três bilhões de letras em seus códigos genéticos.
As diferenças entre os indivíduos estão na combinação e na seqüência dos quatro
nucleotídeos. Uma copia completa de nosso manual de instrução do DNA esta
contida dentro de cada célula de nosso corpo. Cada célula contém a biblioteca
completa de três bilhões de letras.
Tudo o que somos, na verdade, num sentido físico é um conjunto de letras vivas;
um alfabeto vivente, andante, respirante e falante.
E mais, o universo inteiro é alfabético por natureza.
Assim como as letras, os átomos se combinam para criar estruturas mais
complicadas, como moléculas.
Assim como as palavras se combinam para formar frases, as moléculas se
combinam para criar diferentes tipos de matéria.
O renomado astrofísico Hubert Reeves dá exemplos de nosso universo alfabético
em seu livro ―A Hora do deslumbramento‖. Reeves escreve:
Na química, a água é uma palavra composta por duas letras, chamadas de
hidrogênio e oxigênio...... A imensa variedade de pedras, minerais e formações
rochosas deriva de um combinação de somente um pequeno número de átomos:
oxigênio, silicone, ferro, cálcio, alumínio, magnésio e alguns outros. Com essas
letras podemos escrever toda a geologia..........quando exploramos o nosso sistema
solar, as estrelas em nossa Via Láctea e nas galáxias mais distantes, descobrimos
que os mesmos átomos ocorrem em todos os lugares e se combinam de acordo
com as mesmas leis. Essa linguagem atômica, definitivamente é universal.
Reeves conclui que a natureza não é estruturada como uma língua, mas que, ao
contrario, a língua é estruturada como a natureza.
De forma extraordinária, toda a informação sobre o DNA e sobre como o universo é
estruturado alfabeticamente foi descoberta recentemente, no decorrer dos últimos
50 anos.
Bem mais extraordinário foi um homem que viveu a cerca de quatro mil anos; um
homem que pode ser mais bem descrito como o primeiro geneticista do mundo.
Seu nome foi Abraão e ele é o pai do judaísmo, do cristianismo e do islamismo.
Abrão foi o autor do primeiro livro conhecido de Cabala, o Livro da FormaçÃo .
Este antigo manuscrito cabalístico antecede a Bíblia por muitos séculos.
No Livro da Formação, Abraão escreveu que o universo inteiro tinha os seus blocos
construtivos genéticos.
Além disso ele disse que esses blocos construtivos eram de natureza alfabética.
Abraão descreveu uma serie de forças energéticas primordiais, como nucleotídeos
cósmicos, que se combinavam para formar toda a realidade espiritual e física.
Mais especificamente, Abraão revelou como a Luz unificada do Criador se
fragmentou em 22 forças distintas para criar o nosso universo.
Esta é uma noção mística maravilhosa.
Quem sabe, de maneira ainda mais maravilhosa, nós também possamos nos tornar
poetas da criação, utilizando o alfabeto do Criador para inscrever um novo livro de
nossas vidas.
Podemos nos tornar geneticistas espirituais, usando as 22 letras para fazer a
reengenharia da constituição genética de nossas almas.
Podemos alterar nossas naturezas reativas e transformar nossas vidas.
Mas como são essas 22 forças primordiais?
Como manejá-las e controla-las?
As 22 Forças da Criação
“Vinte e duas letras bases: Ele (o Criador) as esculpiu, as gravou, as permutou; Ele
as pesou, as transformou, e com elas representou tudo o que foi formado e tudo o
que viria a ser formado”.
(Livro da Formação ou Sêfer Yetzirah).
Alfabeto Universal
As letras do alfabeto hebraico transcendem religião, raça, geografia e o próprio
conceito de língua.
Sua influência é universal.
Seu alcance, abrangente.
Seu poder é compartilhado com toda a humanidade, apesar de esta verdade
controversa ter ficado enterrada por milênios.
Algum dos maiores pensadores da história compreenderam essa verdade e a sua
força universal: cientistas, filósofos, matemáticos, médicos
Benefícios práticos
Diferentes seqüências de letras liberam enormes quantidades de influencias
espirituais, que nos dão o poder emocional e a força interna para pararmos o nosso
comportamento reativo.
Diferentes combinações de letras criam diferentes combinações de energia, da
mesma forma como diferentes combinações de notas musicais criam diferentes
melodias.
A Luz que elas emitem purifica os nossos corações.
Sua influência espiritual purifica os impulsos destrutivos do nosso ser.
Sua energia santificada elimina emoções impetuosas e intolerantes, medo e
ansiedades. Elas têm o poder de nos ajudar a deixar de ser tiranos
temperamentais, passando a ser pessoas equilibradas e com compaixão.
As letras podem despertar a cura, o sustento financeiro e o bem estar emocional.
Continua
As Letras Hebraicas – Parte 2
Continua
As Letras Hebraicas – Parte 3
A Analogia
Por correspondência analógica, o símbolo é aquilo que representa outra coisa que
não a sua natureza.
Ele se classifica segundo três funções principais:
1- O símbolo é uma entidade abstrata que torna mais sensível o que parece não
ser.
Esta entidade é a mesma para o conjunto da memória humana, ou inconsciente
coletivo (o símbolo teve sempre a qualidade de união ou de ligação).
Ele age de forma consciente ou inconsciente.
2- O símbolo designa a ligação de um grupo a uma idéia ou a uma situação, ele
define limites.
3- O símbolo nunca é neutro nem estático, ele tem o papel de indicar ou lembrar.
A estrela de David não se contenta apenas de evocar o judaísmo, ela lembra os seis
dias da criação e a união do espírito e da matéria e o desejo de receber unido ao
desejo de compartilhar.
O Drash
Há um grau do estudo da Cabalá, denominado, "Drash", cujo sentido é
"interpretação figurada".
A interpretação simbólica é um domínio delicado, e, além disso, o sentido de um
símbolo liga-se à história da memória humana, ao consciente coletivo.
Como se sabe, para a Cabalá, as letras hebraicas, tomadas como símbolo, marcam
um valor preciso, provoca a possibilidade de um sistema de valores.
Signos e símbolos possuem entre eles relações evidentes que devem ser
elucidadas.
Sem considerar os aspectos místicos, nossa vida quotidiana é plena de símbolos
que utilizamos sem cessar.
Basta prestarmos atenção ao código de trânsito, com suas cores e seus grafismos.
Por isso, devemos deduzir que o símbolo é um código de vida, um meio de
comunicação e de transmissão.
Mesmo os códigos da vida quotidiana obedecem à dupla natureza do signo-símbolo.
Voltemos ao exemplo do código de trânsito; nos cruzamentos, quando o semáforo
está vermelho devemos parar, quando verde, podemos passar.
O vermelho como signo é uma convenção, mas, como símbolo, quer dizer "perigo",
com uma comunicação inconsciente lembrando a excitação e o sangue.
O signo verde é a convenção da passagem livre, tendo por trás a idéia de natureza
e de apaziguamento, de calma.
Uma experiência primitiva está inserida no símbolo e o recurso de lançarmos mão
dele tem por objetivo reunir a significação à linguagem primitiva.
Para encontrarmos o sentido real de um símbolo, é necessário irmos além da etapa
de fixação e de conceituação.
O pensamento está no nível dos símbolos e jorra a partir deles.
Para a Cabalá Contemplativa, existem três formas de se trabalhar com as letras
hebraicas:
Nas relações humanas, os símbolos existem tanto entre as formas divinas, quanto
nas relações cotidianas.
O poder do símbolo já a muito tempo vem sendo reconhecido pelos grandes
pensadores.
Na Tradição cabalista, a forma das letras sempre esteve repleta de mistérios.
O hebraico é uma língua simbólica, dotada de duplo sentido, um usual e outro
oculto e místico.
Para Rav Abuláfia, o formato das letras constitui a proteção das coisas sagradas,
mas o cabalista deveria ir além de seu uso corrente, aplicando as palavras um
sistema de vocalização onde fosse possível desconstruir as palavras e as frases,
pois, a língua usual não seria capaz de exprimir as mais altas experiências
espiritual do alfabeto.
Por meio desta linguagem mística, as experiências extáticas da meditação se
metamorfoseiam em milagres, em parábolas e em acontecimentos quase reais.
A língua crepuscular apresenta um teatro simbólico e cria um mito das lutas
interiores e exteriores que o homem coloca no caminho da evolução.
A escala de 32 Veredas da Sabedoria dá-nos a possibilidade de definir o símbolo,
de construí-lo, de interpretá-lo, de realizá-lo e de transcendê-lo.
As Letras-Símbolos
O Sêfer Yetzirá estrutura o alfabeto hebraico em 3 letras mães, 7 duplas e 12
simples, com as quais estabelece relações simbólicas sobre o corpo, o espaço, as
sensações.
Todas as 22 letras dão-nos um ensinamento simbólico fundamental ao trabalho
contemplativo com os nomes sagrados e em todas as operações místicas da
Cabalá.
As "otiot" (letras) são símbolos e pontos de orientação com os quais a Luz do
Mundo Infinito marcou a via do retorno e deixou forças permitindo que a alma
desperte.
Tais forças não estão limitadas à forma dada pela tinta, as letras são apenas pontos
de partida.
A palavra "ot" ( ) quer dizer "marca", "signo", mas existe ainda o interesse em
observarmos a estrutura dessa palavra.
Vemos o Aleph ( ) unido a Tav ( ) por intermédio de Vav ( ).
Sabemos que Vav é a letra da junção e da reunião, é uma espécie de liga espiritual,
todas as coisas são conectadas por sua presença.
O próprio Tetragrama está unido por Vav, que une os dois Hêi’s.
Assim, "ot" mostra a união de Aleph e de Tav, o começo e o fim do mundo das
letras.
Tal união simboliza a unificação das forças do cosmo inteiro que as técnicas do
Tzeruf (permutação) permitem realizar progressivamente.
O conjunto das letras, de Aleph a Tav, chama-se "otiot", ou seja, "ot" na forma
plural.
O valor numérico de "otiot" é igual a 823 ( 1+6+400+10+6+400), número
que, raramente, encontramos na guematria, já que poucas palavras têm este valor.
Entretanto existe pelo menos um outro, "tachtiah", o "fundo" ou o "abismo", que,
por sua equivalência, sugere a profundeza sem fundo representada pelas otiot.
Isso porque elas nos permitem passar da forma ao som, em seguida, do
pensamento aos inúmeros graus da alma, até o Ein-Soph.
Porém, "tachtiah" pode ser lido também "tachath Yah", ou seja, "sob Yah", sob as
duas primeiras letras do Tetragrama (Yud e Hei).
Encontramos a palavra "tachtiah" no Salmo 86:13, como vemos:
"Tua bondade é grande para comigo, e Tu libertas minha alma das profundezas do
abismo".
Mas, se considerarmos o segundo sentido dessa palavra, o versículo do Salmo
passa a ser:
"Tua chessed é grande para comigo, e Tu libertas minha alma do inferno abaixo de
Yah".
Cada uma das vinte e duas letras hebraicas é um canal (virtudes metafísicas) que
nos conecta, nos liga do finito ao infinito.
Cada um é um estado particular de contração espiritual e força de vida.
A forma de cada letra representa sua forma individual de transformação da energia.
Toda letra que emerge em pensamento e fala é retirada da essência interna, da
inteligência e emoções da alma.
Antes da existência das letras, da associação e criação em palavras, elas estavam
ainda impossibilitadas de dar vida às criaturas individuais.
Através de D’us (HaShem), a energia foi transformada através destes canais
espirituais, e assim, puderam transformar-se em letras escritas.
Para os sábios da cabala as letras são o fundamento de tudo, a medida de todas as
coisas mensuráveis, visto através delas e por meio de suas combinações operam-se
as diferenças entre todas coisas existentes e mensuráveis. (conforme Rabi Azriel)
Ler, escanear, meditar, visualizar e proferir, nos ajudam a trazer diferentes forças
dentro da nossa alma e ambiente.
A meditação nas letras irá modificar nosso padrão mental, mexendo com energias
que estão contidas no ambiente ou em nós, liberando-as.
Contemplamos cada letra, cada palavra e conceito para desdobrar seu significado,
trazendo o aspecto mais íntimo, a essência.
Tudo é uma só energia, onde não existe definição de bem e mal, quem define
somos nós, a partir das relações, sair do interno para o externo, através das letras
podemos conduzir estes conceitos, estas forças, transformando-as, trazendo pra
dentro de nossa alma, interagindo, estamos abrindo portas do inconsciente.
Assim nos tornamos dono do nosso destino, pois conduzimos o destino (luz).
Um Mapa da Espiritualidade
A Tora é o texto principal do Judaísmo, o ―Velho Testamento‖ no Cristianismo, bem
como um texto Cabalístico.
Suas letras mostram toda a informação que irradia do Criador.
Nas letras hebraicas há dois tipos básicos de linhas, representando dois tipos de
Luz.
As linhas verticais representam a Luz da Sabedoria ou do prazer.
As linhas horizontais representam a Luz da Misericórdia ou da correção.
(Existem também diagonais e linhas circulares que têm significados específicos em
cada letra).
Os códigos são oriundos das mudanças na Luz, à medida que ela desenvolve o
nosso Kli (desejo, recipiente, receptor, ou ainda, nós mesmos).
Certas combinações de letras podem ser usadas no lugar da linguagem das Sefirot
e dos Partzufim (Faces ou Rostos), quando descrevemos ações espirituais.
Os objetos e as ações mostradas nas letras e suas combinações, também podem
dar uma descrição do mundo espiritual.
A chave para se ler a Torah desta forma é O Zohar.
Em essência, o livro contém comentários sobre as cinco partes da Torah, e explica
o que está oculto no texto de Moisés.
As letras representam a informação sobre o Criador.
Mais precisamente, elas descrevem a experiência do indivíduo sobre o Criador.
Os Cabalistas descrevem o Criador como uma Luz branca, ―o fundo do papel onde
são escritas as letras e as palavras‖.
As percepções da criatura sobre o Criador enfatizam diferentes sensações que uma
pessoa sente experimentando-O, usando letras e palavras.
É por isso que a escritura hebraica tradicional é feita com letras pretas sobre um
fundo branco.
Acontece que as letras hebraicas são como um mapa da espiritualidade,
descrevendo todos os desejos espirituais.
O modo como elas se conectam, nos dá a Torah.
Pontos e Linhas
Os pontos e as linhas nas letras hebraicas são formas sobre o papel, que está em
branco e vazio.
O papel é a Luz ou o Criador.
A tinta preta é a criação.
Uma linha vertical ( | ) significa que a Luz desce de Cima - do Criador para a
criação. Uma linha horizontal ( _ ) significa o Criador está se relacionando com toda
a existência (como a varredura de uma paisagem)
“Gravou-as... “
As letras hebraicas têm três partes básicas: topo, centro e base.
O topo e a base consistem geralmente de grossas linhas horizontais, enquanto que
o centro consiste de linhas verticais mais finas.
As bases das letras foram "gravadas como um jardim".
É daqui que se tira material da matriz deixando um vazio.
Os lados das letras foram então "entalhados como um muro".
Estas são as linhas verticais que separam as letras entre si, como as paredes.
Finalmente, os topos das letras foram acrescentados como um teto que as cobre.
Segundo algumas autoridades, o processo se refere também à Criação do espaço.
Mesmo se tomássemos a palavra mais sutil que possa ser usada... as palavras ―Luz
Superior‖ ou até mesmo ―Luz Simples‖, ainda são derivadas ou emprestadas da luz
solar, ou luz da vela, ou uma luz de satisfação que a pessoa sente ao solucionar
alguma dúvida importante. …
Como nós podemos utilizá-las no contexto espiritual e Sagrado?
É exatamente assim quando precisamos achar alguma lógica nessas palavras, que
nos ajude em relação à habitual negociação na busca da sabedoria.
Aqui, devemos ser muito rigorosos e precisos usando descrições definitivas.
A Benção
A letra Bet é a primeira da Torah e a segunda no Alfabeto Hebraico.
Ela é a primeira da Torah porque Bet representa a conexão corrigida entre Bina e
Malchut, chamada ―Beracha ou Brachá‖‖ (benção).
Uma bênção é recebida quando Malchut (a criação, nós) consegue se conectar à
Bina (o Criador).
Nós só nos conectamos a Ele quando queremos ser como Ele, e esse é o significado
de uma ―conexão corrigida‖.
Quando Malchut pede para ser como Bina — isto é, quando você e eu queremos ser
como o Criador — é chamada benção (Beracha) de ―uma conexão corrigida‖.
È bom saber que nós estudamos as qualidades do Criador do mesmo modo que
determinamos as cores de um objeto.
Quando vemos uma bola vermelha, significa que a bola refletiu a cor vermelha; é
por isso que podemos vê-la.
Da mesma forma, quando rejeitamos (refletimos) um fragmento da Luz do Criador,
sabemos exatamente o que rejeitamos.
É por isso que o único modo de conhecermos o Criador é rejeitando primeiro toda a
Sua Luz.
Só então podemos decidir o que queremos fazer com ela.
Aqui estão os valores numéricos de cada nível, expressos em termos da Luz que
representam, e o nível no qual preenchem seus vasos:
Bina — Luz (100); Kli (1)
ZA — Luz (10); Kli (10)
Malchut — Luz (1); Kli (100)
Nós já dissemos que se duas palavras somarem o mesmo número, ambas têm o
mesmo significado espiritual.
Então, a declaração que a Cabala faz abaixo é muito interessante (ainda que um
pouco complexa):
A Natureza e o Criador são a mesma coisa.
O fato de não os vermos assim não torna isso menos verdadeiro, assim como o fato
de não percebermos uma bactéria a olho nu não impede que ela afete nossos
corpos.
Na Cabala, uma xícara representa um Kli, ou seja, um desejo de receber.
Portanto, a natureza e o nosso Kli são a mesma coisa.
Também aqui, o fato de não os sentirmos não significa que isso não seja
verdade, mas o fato de ambos terem os mesmos valores significa que temos a
oportunidade de corrigir (transformar) nossos desejos para combinarem com a
estrutura da natureza.
Quando combinamos nossos desejos (Kli) com os da natureza, também os
combinamos com o Criador (porque a natureza e o Criador são sinônimos).
Em palavras simples, quando igualarmos nosso Kli com a natureza, descobriremos
o Criador.
Em termos de uma equação, é como:
Se A = B, e B = C, então A = C.
Nós já dissemos que não há mal na Cabala; é tudo uma questão de como nos
relacionamos às situações que nos encontramos.
O Faraó é considerado uma força má.
Mas os Cabalistas inverteram as letras hebraicas do nome Faraó, e descobriram
que, na verdade, ele significa ―Oref H‖ (a face posterior do Criador).
Em outras palavras, o Faraó é o Criador, forçando-nos duramente a progredir em
direção à espiritualidade, porque não estamos nos esforçando o suficiente.
Se nos esforçarmos bastante, descobriremos que o Faraó é realmente o nosso
amigo.
Em resumo
As letras hebraicas carregam valores numéricos.
Continua
As Letras Hebraicas – Parte 4
A letra Aleph é uma consoante sem som e representa o ar, o Mem a água e o Shin
é o fogo.
Segundo o Sêfer Ietsirá, falando de uma forma simples, a água representa a
matéria, o fogo energia e o ar, é o que permite que os dois interajam
Yud = Chochmá = água = Mem
Hei = Biná = fogo = Shin
Vav = seis sefirot = Ar = Aleph
Ao fazermos a união das letras Pai e Mãe, isto é, a união do masculino com o
feminino ao nível do espiritual, fazemos acontecer esta mesma união ao nível físico,
gerando vitalidade.
As Letras e os Números
O valor guemátrico ("peso") das letras tem sua origem com os anjos, ainda no
momento da criação.
Isso se deve ao fato de que, assim como os homens, as letras e sua capacidade
criativa também são detentoras de cinco níveis de alma:
Os 3 mundos
A Cabala ensina haver 3 mundos: o mundo passado, este mundo e o mundo futuro
(expressões tradicionais).
Tudo está no Um e o Um está em tudo; os mundos passado e futuro são todo
espirituais.
As letras do *Carro de D’us* Y-H-V-H ensinam esta realidade:
Yod-He-Vav-He são as 4 letras; He como ideograma significa *fortaleza* e os dois
He simbolizam os 2 mundos completos, passado e futuro.
O Vav simboliza o mundo presente ou "este mundo", letra que é a terça parte de
um He, i.e., o mundo presente está em construção, pois o passado já não existe e
o futuro ainda será, por isso mesmo estão completos enquanto o presente é
construtivo.
O Yod logo no início, letra que é a metade do Vav, simboliza que todos os 3
mundos formam um só, pois o Yod contém todas as outras letras assim como D´us
contém todos os mundos.
O alfabeto hebraico, ainda muito próximo dos hieróglifos permite a dupla
interpretação fonética e ideográfica.
Podemos ler as palavras no seu sentido sonoro ou como ideogramas.
A leitura fonética dá a Massorah, o texto da Bíblia [Torah] tal como o temos hoje.
A leitura ideográfica transmite Parash, a interpretação "oculta".
As três letras "mãe" - Alef, Mem e Shin - correspondem aos três "elementos"
básicos da criação - Ar, Água e Fogo - e as três divisões gerais do corpo: Peito (ar),
Abdômen (água) e Cabeça (fogo), respectivamente.
As sete letras "duplas" - Bet, Guimel, Dalet, Caf, Pei, Resh, Tav - correspondem no
corpo aos sete "portais" da cabeça (cada um serve como portal para os sentidos da
visão, audição, olfato e paladar, a sensação da realidade externa, para entrar na
consciência da alma).
Cada portal, quando santificado, serve como um portal através do qual recebe-se
um dom Divino ou bênção:
As doze letras "simples" - He, Vav, Zayin, Chet, Tet, Yud, Lamed, Nun, Samech,
Ayin, Tsadic, Kuf - correspondem aos doze membros básicos e órgãos do corpo.
Cada um destes "controla" (muitas vezes de forma misteriosa, pois nenhum
relacionamento óbvio é aparente) um sentido espiritual ou talento da alma (os
talentos particulares de cada uma das doze tribos de Israel):
Os significados do Alef-Bet
A partir de nosso próximo texto, falaremos dos significados de cada uma das vinte
e duas letras do alfabeto hebraico - "os blocos de construção da Criação" - como
são chamadas na antiga obra mística Sêfer Yetziyrah.
Entre os muitos significados teremos:
- Conceito: O princípio conceitual subjacente associado com a letra.
- Significado: O significado literal do nome da letra.
- Formato: A associação visual primária relacionada ao formato das letras.
- Número: O valor numérico da letra segundo calculado pela Guematria.
Associações:
- Qualidade, dom ou sentido: Expressões inatas ou adquiridas de experiência
vivida, controlada pelos membros acima e órgãos da alma.
- Arquétipo: Figuras arquetípicas da história de Israel.
- Canal: Os canais horizontais, verticais e diagonais conectando as Dez Sefirot.
- Da letra Caf até Tzadic, as diferentes ordens de anjos que habitam o Mundo
Visível ou Astrológico, regido pela Divina Sabedoria que criou esta infinidade de
globos que circundam a imensidade do espaço, tendo cada um o seu protetor e
diretor.
Da letra Kuf até Tav, o Mundo Elementar, que dá alma e vida a todas as criaturas.
Na esfera dos elementos, reina a ordem dos anjos que influem sobre o destino dos
homens. Eles cuidam das gerações e da multiplicação das diferentes espécies de
criaturas até o infinito.
2 - O desenho.
Consiste em desenhar as letras na forma casher (apropriada), o que já é uma
contemplação, onde repetimos o ato da criação.
3 - O Nefesh Chaim.
Significa "vidas da nefesh".
A Nefesh é nossa alma residual, mais densa, a alma instintiva.
É uma prática corporal criada por Rav Avraham Abuláfia que consiste em "imitar" a
forma das letras do mês e da parashá com o corpo e as mãos.
O Nefesh Chaim nos ajuda a "domar" as letras e a nos conectar com as energias
vigentes no mês e na semana.
4 - O Krav Kadosh.
Significa "combate sagrado" e consiste numa meditação em movimento, onde com
um bastão (mateh) ou o corpo "desenhamos" as letras no espaço.
Desenvolve a nossa kavaná (concentração).
O Alfabeto Sagrado:
Um diálogo entre os Rabino Josy Eisenberg e o Rabino Adin Steinsaltz.
O alfabeto hebraico, que comporta vinte e duas letras, é considerado no
judaísmo um alfabeto sagrado: é em hebraico que, na Bíblia, Deus se dirige
ao povo de Israel e, por intermédio dele, ao mundo inteiro.
Trata-se, portanto, de algo mais do que uma língua: é antes o instrumento
da Revelação.
Deus fala aos homens e Ele lhes dá a Lei.
Foi nesta língua que Deus pensou — portanto criou — o universo.
Pode-se dizer que o hebraico é uma língua criativa: o universo,
globalmente, e a natureza, no detalhe, não são nada além de uma
combinação de letras.
Para o Criador, o Pensamento e a Palavra são idênticos.
Quando o Gênesis, a cada dia da narrativa da criação, emprega a
expressão: "E disse Deus", "Seja luz!", "Façamos o homem", trata-se
simplesmente de um modo de falar.
Como diz o Talmud, a Torá "fala a linguagem dos homens".
Deus pensa a luz e surge a luz.
Dizer que Deus fala é simplesmente afirmar que Ele nomeia o que Ele
realiza.
Efetivamente, de certo modo, na consciência humana, as coisas existem
somente quando se pode nomeá-las.
Dito de outro modo: as letras são como átomos cujas inúmeras
combinações permitiram a diversidade das coisas da vida.
E, uma vez que a Torá descreve a criação do mundo antes de contar a
história de suas origens, cada letra é portadora de vida.
A leitura do alfabeto hebraico constitui, por conseguinte, o código genético
da vida.
Cada uma das letras possui um valor numérico.
Algumas são reforçadas por uma grafia diferente quando se encontram no
final da palavra.
Elas não são unicamente um instrumento para a escrita e para a
linguagem: elas estão, segundo a Cabalá e o Talmud, na origem da criação
do mundo.
O Sefer Ietsirá — o Livro da Criação — afirma: o mundo foi criado com dez
números e vinte e duas letras.
Cada letra correspondendo a um valor numérico, isto permitiu aos
comentadores da Torá, da época talmúdica até nossos dias, desenvolver
outra dimensão da interpretação da Torá, à base de cálculo: o método
denominado "gematria".
O Baal Haturim utilizou este método de modo sistemático para fazer um
comentário de grande profundidade.
Esta perspectiva é apenas um dos métodos utilizados pelos rabinos para
sondar o complexo e rico mundo da interpretação da Torá.
A grafia da letra também propõe uma visão e uma interpretação diferentes
que vêm enriquecer toda a sua simbólica.
Assim, o samech representa, por sua forma, o "círculo", ou seja, a
dimensão do infinito.
Quando a letra nun está no final da palavra sua grafia é reta e quando se
encontra no início ou no meio da palavra ela é curvada, como para lembrar
o destino do povo judeu em exílio sobre sua terra, ou ainda a posição do
homem em função de sua situação social...
A letra se reveste assim de uma nova significação segundo seu lugar no
alfabeto.
Ain significa, em seu sentido primeiro, "o olho".
Pei, que vem depois de ain, significa "a boca" (Pe).
A exegese daí deduz que antes de falar é preciso se integrar, o olho sendo
também o receptáculo do saber e da compreensão.
Para a Cabalá, o olho esquerdo tem a função de "juiz" e o direito a do
discernimento.
A ordem é importante e nos permite também entrever outros caminhos de
sabedoria e inteligência.
Continua
As Letras Hebraicas – Parte 5
Som: Silencioso
[No hebraico moderno, quando há um símbolo de vogal sob o Aleph, o som dessa
vogal é pronunciado.
O segol, por exemplo — os três pontinhos abaixo do Aleph em
, eloheinu,
indicam o som "e".]
Conceito: Alef é o vento (ar)... o sopro do vento...e o vento para o mundo antigo
não é um atributo geofísico, é um atributo cósmico, um atributo divino.
O vento existia muito antes do mundo existir.
Alef também representa a palavra (linguagem) que legisla.
O princípio de todas as coisas... o silêncio...o selo da unidade em tudo que existe.
Formato: A letra Alef é formada por três letras: Um Yod em cima, outro Yod
embaixo, e um Vav dividindo ao meio...o homem ligando o céu à terra.
O ar, o vento, é o elemento intermediário entre o Sagrado e a criatura.
Vento é inspiração, não é a sensação de brisa.
Corpo: Alef está relacionado ao peito, que é um dos três centros de força do
homem.
O sistema respiratório.
Aplicação:
Concentrar nossas energias no que é fundamental e basilar.
Abrir-nos para a tristeza e a alegria da vida.
Aceitar o jugo de uma prática espiritual.
Sombra:
Ambivalência.
Niilismo.
Reflexão:
Quais são minhas prioridades?
Em que ponto da vastidão do universo vou concentrar minhas energias?
Ação sugerida:
Feche os olhos.
Ao abri-los, imagine que você acabou de nascer e está vendo, ouvindo, cheirando e
sentindo as coisas deste mundo, inclusive seu próprio corpo, pela primeira vez.
Experiencie o renascimento para o mundo em torno de você com um gosto mais
intenso pela novidade de cada momento.
Pratique isso algumas vezes hoje, em situações variadas.
Sefer Yetziyrah: “Com o Alef formou o Ruach, o ar, o temperado, o peito, a língua
que legisla.” (S.Y 3.10)
Comentários:
A letra Alef significa ―boi‖ e o seu traçado corresponde a uma cabeça de boi com os
chifres.
O alfabeto hebraico é o único a começar por um silêncio, Alef é a representação do
equilíbrio perfeito.
Mesmo que o Alef seja audível, o Sêfer Bahir diz que ―a orelha é feita à imagem do
Alef ele é o essencial dos dez comandos‖.
Esta letra significa os mundos de antes e de após a criação.
As palavras Unidade (Echad) e Amor (Ahavá) começam pela letra Alet, que
representa a permanência da unicidade.
Alef é formada por três letras: duas letras Yud e uma letra Vav no meio.
Este formato simboliza, entre outras coisas, as polaridades superior e inferior,
juntos por uma força mediadora, representando assim, os três pilares da Árvore da
Vida.
Yud superior é o pilar da direita, o Yud abaixo é o pilar da esquerda e o Vav é o
pilar central.
A nefesh (um dos níveis da alma) é para Cabalá, a alma corporal, seria o que as
pessoas comumente chamam de energia vital.
Nesta energia vital que governa o corpo humano, a letra Alef é responsável pelo
dorso superior, especialmente o peito e o sistema respiratório.
Alef = Keter
A primeira entre as dez Sefirot ainda contém a essência da Unidade, pois é formada
pela mesma ―substância‖ que forma Or ( Luz do Mundo Infinito ).
Keter, a Coroa é o primeiro recipiente da Luz do Mundo Infinito, sendo nada menos
que Adam Kadmon (o Homem Primordial).
A palavra Keter também significa ―circundar‖, e é por isso que se diz que Keter
―circunda toda a criação.
Quando meditamos em Alef também nos conectamos com a Energia de Keter =
unicidade, certeza
Keter é chamada em hebraico de Ayin, nada – relacionado a infinitude.
Permutando as letras de Ayin temos Ani = eu ( )
Remetendo a idéia de que o ser humano e as emanações cósmicas obedecem a
uma mesma organização.
A qualidade que a energia representada pela letra Alef desperta no espírito humano
é a compaixão, a capacidade de colocar-se no ―lugar do outro‖.
O Alef indica o momento de despojar-se do supérfluo, nos voltarmos ao básico ao
essencial.
O Alef, como já dito, é formado por dois yuds (a décima letra do alfabeto hebraico)
— um no alto, à direita, e outro embaixo, à esquerda — unidos por um vav (a sexta
letra) em diagonal.
Ele representa as águas superiores e inferiores e o firmamento entre elas, conforme
ensinado pelo Arizal (Rabi Isaac Luria), que recebeu e revelou novas percepções
dentro da milenar sabedoria da Cabala.
A água é mencionada pela primeira vez na Torá no relato sobre o primeiro dia da
Criação: ―E o espírito de D‘us pairou (pairava) sobre a superfície da água‖.
Naquele momento as águas superiores e inferiores eram indistinguíveis.
Seu estado é referido como ―água dentro de água‖.
No segundo dia da Criação, D‘us separou as duas águas ―estendendo‖ o firmamento
entre elas.
O Talmud relata sobre quatro sábios que entraram no Pardes, o pomar místico de
elevação espiritual que é alcançado somente por meio de intensa meditação e
contemplações cabalísticas.
O mais notável dos quatro, Rabi Akiva, disse aos outros antes de entrar:
―Quando vocês chegarem ao local da rocha de puro mármore, não digam ‗água-
água‘, pois consta que ‗aquele que fala mentiras não ficará diante de meus olhos‘‖.
O Arizal explica que o lugar da ―rocha de puro mármore‖ é onde a águas superiores
e inferiores se unem.
Aqui não se pode evocar ―água-água‖ como que estabelecendo uma divisão entre a
água superior e a inferior.
―O local da rocha de puro mármore‖ é o local da verdade – o poder Divino de
sustentar simultaneamente dois opostos.
Nas palavras de Rabi Shalom ben Adret: ―o paradoxo dos paradoxos‖.
Aqui a ―exaltação de D‘us‖ e Sua proximidade com o homem se unem com a
―baixeza do homem‖ e sua ―distância‖ de D‘us.
A Torá começa com a letra beit (bet) (a segunda letra do alfabeto hebraico):
―Bereishit (No início) D‘us criou os céus e a terra‖.
Os Dez Mandamentos, a revelação Divina para o povo hebreu no Monte Sinai,
começa com a letra alef: ―Anochi [Eu] sou D‘us, seu D‘us, que tirou vocês da terra
do Egito, da casa da escravidão‖.
O Midrash afirma que a ―realidade superior‖ foi separada da ―realidade inferior‖,
pois D‘us decretou que a realidade superior não descende, nem tampouco a
realidade inferior ascende.
Na entrega da Torá, D‘us anulou Seu decreto, sendo Ele Próprio o primeiro a
descer, como está escrito: ―E D‘us desceu sobre o Monte Sinai‖.
A realidade inferior, por sua vez, ascendeu: ―E Moshe se aproximou da nuvem…‖.
A união da ―realidade superior‖, o yud superior, com a ―realidade inferior‖, o yud
inferior, através do vav conectivo da Torá, é o segredo fundamental da letra alef.
Conta-se que o Alter Rebe, Rabi Shneur Zalman de Liadi, queria ensinar o alef-bet
ao seu filho.
Chamou um dos seus discípulos ao seu estúdio para discutir o assunto.
O Rebe disse: "Você tem uma mitsvá (conexão, mandamento) e eu tenho uma
mitsvá.
Sua mitsvá é sustentar sua família.
Minha mitsvá é ensinar meu filho.
Vamos trocar as mitsvot.
Você ensinará meu filho, e eu pagarei para que você possa sustentar sua família."
O Alter Rebe explicou exatamente como essa instrução deveria ser feita.
"Você começará com a letra alef. O que é um alef?"
O Alter Rebe continuou metodicamente em yidish: "A pintele fun oybin, a pintele
fun untin, a kav be' emtza — [O alef é] um ponto acima, um ponto abaixo, e uma
linha diagonal suspensa no meio."
O que é um alef?
Se fosse apenas um arranjo de golpes de caneta ao acaso designados para fazer o
leitor dizer o som "ah", esta pergunta seria irrelevante.
O alef é uma letra não-articulada cujo som é determinado somente pela vogal
acompanhante.
Todo aspecto da construção do alef foi Divinamente desenhado para nos ensinar
algo.
Contraste isso com uma criança aprendendo a ler em português pela primeira vez.
Jamais será ensinada por que um A maiúsculo parece um prédio e um a minúsculo
parece uma bolha de sabão.
Porém o hebraico é diferente.
O desenho de um alef é na verdade formado de três letras diferentes: a letra yud
ou ponto acima; um yud ou um ponto abaixo; e um vav diagonal, ou linha
suspensa no meio.
O yud acima representa D'us, que está acima (ou além) da nossa compreensão.
Em comparação à Sua verdadeira essência, nosso entendimento é um mero ponto.
O yud abaixo representa um yid ou yehudim — o povo hebreu que mora aqui na
terra.
A única maneira de podermos apreender a sabedoria Divina — ao ponto que uma
pessoa é capaz — é sendo humilde.
Quando percebemos que somos apenas um ponto ou um pontinho comparado ao
Todo Poderoso D'us, nos tornamos um recipiente para receber Sua Divina
sabedoria.
A diagonal do Vav representa a fé de um hebreu — que o une com D'us.
Há um outro ensinamento afirmando que o vav suspenso representa a Torá.
Como a Torá é o que une um hebreu e D'us, o alef representa esta unidade entre a
humanidade e D'us.
A linha vertical do vav representa hierarquia; a submissão de um súdito ao seu rei
(conforme será explicado no texto da letra hei)..
Este é o desenho, ou forma, do alef.
Podemos ver que cada golpe do alef (e de todas as outras letras) tem um propósito
especial, e que há muito mais ao aprender o alef-bet que somente dominar os seus
sons.
Falemos novamente da Guematria (Gematria)
Como sabemos, toda letra do alef-bet tem um valor numérico, ou guematria.
A guematria de alef é ―um‖, representando o um (ou unicidade de) D'us, como
dizemos na famosa prece:
"Ouve, ó Israel, o Eterno é Um, o Eterno é nosso D'us, D'us é Um.‖
Num nível mais complexo, explicamos que a forma do alef compreende três letras:
dois yuds e um vav.
A guematria do yud é dez — dois yuds sendo vinte.
Um vav é seis; a soma de todos os três totaliza vinte e seis.
Um dos grandes Nomes de D'us é o Nome de Quatro Letras, o Tetragrama, ou
Nome Inefável (Yud+Hei+Vav+Hei).
A Guematria do yud (=10), o Hei ( =5), o Vav (=6) e o Hei ( =5) totaliza 26, o
mesmo que o yud-vav-yud do alef.
Através da conexão de suas respectivas guematrias, o alef representa o Nome
Inefável de D'us.
Aplicação:
Quando o Alef se materializa em nossas mãos, é uma oportunidade de nos
lembrarmos do que é principal.
O Alef indica um momento de despojar-se do supérfluo e voltar ao básico, ao
essencial, aquilo que é fundamental em nossa existência.
Quais são nossas prioridades?
Em que ponto da vastidão do universo vamos concentrar nossas energias?
O Alef é uma letra transcendente que ao mesmo tempo se adapta aos elementos
físicos.
Quando selecionamos o Alef, temos um grande desafio: fixar-nos na terra, no ar e
no fogo da vida cotidiana e ao mesmo tempo permanecer conscientes do vazio
cósmico do Ayin, do nada.
"Perguntaram ao rabino Aaron de Karlin o que aprendera de seu mestre, o Grande
Maggid.
'Absolutamente nada', disse ele.
E, quando insistiram para que explicasse o que queria dizer com isso, acrescentou:
'O absolutamente nada é o que aprendi. Aprendi o sentido do nada. Aprendi que
sou absolutamente nada — e que, apesar disso, Eu Sou'.
A ambigüidade básica da existência que o rabino Aaron descreve é expressa pelo
Alef.
A palavra "ambigüidade" tem um sentido original de "avançar em duas direções".
O Alef avança em duas direções: para a unidade e para a inumerabilidade, para o
nada e para o Eu Sou.
O sutra budista do "Coração da Sabedoria Perfeita" descreve a mesma dinâmica:
"Forma é exatamente vazio, vazio é exatamente forma".
O rabino Yerachmiel Ben Yisrael o expressou da seguinte maneira:
"Deus deve ser ao mesmo tempo Yesh e Ayin, Ser e Vazio. Yesh e Ayin residem na
totalidade (shlemut) de Deus e são expressões dela".
Como é possível abarcar ao mesmo tempo forma e vazio, algo e nada?
Como é possível perceber a unidade da criação na infinita variedade de suas
formas?
O Reb. Yerachmiel escreveu:
"A finalidade do judaísmo não é outra senão a finalidade de qualquer religião
autêntica: a unificação do Yesh e do Ayin, do Ser e do Vazio, na consciência
desperta da humanidade".
Como descobrimos a unidade de forças aparentemente tão confinantes?
A forma da letra Alef dá algumas pistas.
Os sábios judeus ensinam que o Alef representa:
(1) um jugo de boi;
(2) as águas superiores e inferiores, separadas pelo céu; e
(3) uma escada.
Cada uma dessas imagens nos dá alguma orientação para nos conciliarmos com a
ambigüidade do Alef — a ambigüidade de nossas vidas.
Além do fato de que a forma do Alef lembra um jugo de boi (especialmente na sua
forma histórica fenícia, mais antiga), a palavra Alef está relacionada à raiz da
palavra , aluf — que também significa "boi", em hebraico.
O boi é um animal de enorme poder e força.
Quando domado e subordinado, esse poder ajuda as pessoas a cultivar o campo e
fornece o alimento da vida.
"Pela força do boi há abundância de colheitas" (Prov. 14:4).
O boi representa o poder espiritual que temos dentro de nós.
O jugo simboliza a disciplina que controla essa incrível energia do boi e a direciona
para fins positivos e frutíferos.
A prece central do judaísmo é a Shemá: "Ouve, Israel, YHVH é nosso Deus, YHVH é
Um".
[YHVH corresponde a , Yud-Hei-Vav-Hei. É o nome impronunciável de Deus,
geralmente traduzido como "Adonai" ou "Senhor".]
Para conhecer essa unidade, precisamos primeiro ter uma Kavaná, ou intenção, de
fazê-lo.
Em seguida, precisamos do jugo de uma prática espiritual que nos ajude a preparar
o solo de nossas mentes, corpos e almas para experienciar diretamente essa
unidade.
Esse jugo pode tomar a forma de prece diária, meditação, movimento atento ou
estudo.
O Alef nos encoraja a aceitar pelo menos um desses jugos e começar a ―arar‖.
O grande rabino Isaac Luria ensinava que a forma do Alef, incorporando a
ambigüidade de avançar em duas direções, tem um outro tipo de significado.
O Alef é formado por uma letra Yud no canto superior direito e um Yud no canto
inferior esquerdo, com a letra Vav posicionada diagonalmente no meio.
No Gênesis, Deus diz: "Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação
entre águas e águas" (Bereshit/Gênesis 1:6).
De acordo com o rabino Luria, o Yud superior significa as águas superiores, que
simbolizam as alegrias de perceber-se próximo de Deus.
O Yud inferior representa as águas inferiores, que simbolizam a amargura e a
tristeza de perceber-se longe de Deus.
O Vav, no meio, ao mesmo tempo separa e conecta essas duas águas.
Há dois lados numa só vida espiritual, fluindo e refluindo como dois oceanos
misteriosos.
O Alef é, portanto, um equivalente judaico do símbolo do yin-yang, a imagem
chinesa das tendências complementares.
O Alef abarca ao mesmo tempo a ambigüidade e o equilíbrio entre forma e vazio,
separação e unidade, unicidade e inumerabilidade.
O Zohar descreve essa situação: "O pranto se aloja num lado do meu coração,
enquanto a alegria se aloja no outro".
O Alef nos ensina a abarcar os dois lados da vida, a tristeza e a alegria, o amargo e
o doce, para experienciar a integridade, a completude indivisa de nossas vidas.
O Alef revela o poder de enxergar pelo menos dois lados das diversas situações que
enfrentamos, de conservar uma perspectiva dialética saudável.
A forma do Aleph representa uma escada em ascensão da direita para a esquerda.
Jacó sonhou com uma escada posta na terra e alcançando o céu, pela qual os anjos
de Deus subiam e desciam (Gên. 28:12-15).
O Alef é a conexão, a ponte que torna possível para os anjos, portadores das
mensagens divinas, transitar livremente entre o celestial e o terreno, entre o
mundo do vazio infinito e o mundo da forma singular, entre o inumerável e o uno.
Quando nos identificamos com o Alef, nós nos tornamos o boi imperturbável a arar
o campo, preparando o solo para um novo crescimento.
Nós nos tornamos o céu e as águas, simultaneamente divididas e unidas.
E nós nos tornamos a escada que faz a conexão entre céu e terra, formando a
passagem por onde os anjos sobem e descem, abrindo o caminho para a
comunicação com o Santíssimo.
E então, como Jacó ao acordar do sonho da escada, podemos dizer:
"Na verdade o Senhor está neste lugar; e eu não o sabia (...). Quão terrível é este
lugar! Este não é outro lugar senão a casa de Deus; e esta é a porta dos céus"
(Bereshit/Gênesis 28:16-17).
A Sombra do Alef
Um dos perigos do Alef é a paralisia da ambivalência.
Quando vemos os dois lados, podemos tornar-nos como Hamlet, incapazes de
escolher e de agir.
Podemos incitar a nós mesmos à ação, mesmo reconhecendo que "não escolher" é
em si uma escolha.
Por estar tão próximo do Ein Sof, do Nada Absoluto, o Alef traz o perigo de levar ao
niilismo, à crença de que a existência é sem sentido e inútil.
Se nos desviamos até esse extremo, podemos retomar a outra direção para a qual
se dirige o Alef, para a forma e a plenitude.
O Alef avança nos dois sentidos.
Podemos estar atentos à tendência de ficar presos num ou noutro lado da forma e
do vazio.
Quando não conseguimos vivenciar a consciência da Unicidade corremos o risco da
estagnação gerada pela ambivalência.
A dualidade reforça no ser humano a incapacidade de escolher e de agir.
Comentário:
A Torá emana de Chochmá-Sabedoria, enquanto Alef alude à Keter-Coroa, que é
superior à Sabedoria.
Keter-Coroa não é discernível nesse mundo, sendo, por isso, Chochmá-Sabedoria o
mais elevado nível capaz de ser percebido.
O alfabeto contém letras como conceitos abstratos, e, portanto, pode começar pelo
Alef. Mas a Tora se ocupa da percepção de Deus, e, por isso, deve principiar pelo
Bet, que é uma alusão à Chochmá-Sabedoria.
69. Qual é o significado de "Ouvi a Tua fama e temi, [Ó Deus, faz viver a
Tua obra no meio dos anos]"?
Por que diz o versículo "temi" depois de "ouvi a Tua fama" e não depois de
"no meio dos anos"?
Mas foi "a Tua fama" que "temi".
O que é "a Tua fama"?
É o lugar onde escutam os relatos.
Por que diz o versículo "ouvi", e não "compreendi"?
[A palavra "ouvi" tem a conotação de compreensão], conforme
encontramos (Deuteronômio 38:49): "Uma nação cuja linguagem não se
ouve."
Comentário:
Aqui, está claramente evidente que a "audição" está no nível de Biná-
Compreensão.
O nível da "audição" nas alturas é o atributo por intermédio do qual Deus "ouve" a
oração.
De acordo com a Cabala, a visão de Ezequiel da Carruagem aconteceu no Universo
de Yetzirá-Formação, o nível do Zer Anpin.
Aqui, a visão mencionada é, por isso, Biná-Compreensão tal como é revelada no
Zer Anpin, que, conforme mencionado anteriormente, é o conceito do "coração" .
O medo não é dos "dias", que são as Sefirot do Zer Anpin, mas de Biná-
Compreensão.
Comentário:
Diz, portanto, o Talmud, que Alef significa Aluf Biná - "Aprender a Compreender".
Conforme já observamos, Alef representa Keter-Coroa.
A palavra Alef (ALePh), portanto, tem as mesmas letras de PeLeA, que significa
oculto, pois Keter-Coroa é a Sefirá oculta.
Embora diga-se que os olhos, ouvidos, nariz e boca representem diferentes Sefirot,
estão todos em Keter-Coroa.
A Coroa é aquilo que está acima e fora da cabeça, e todos esses órgãos são janelas
abrindo-se na cabeça.
Então, de fato, o Ouvido é Biná-Compreensão de Arich Anpin, a Personificação de
Keter-Coroa.
Ensina-se que cada letra nutre a seguinte.
Sendo Alef a primeira, nutre, portanto, todas as outras.
A letra Alef tem, também, a forma de um cérebro, indicando, mais uma vez, Keter-
Coroa.
Alef consiste, também, de um Yud acima à direita, um Yud abaixo à esquerda, e
uma linha diagonal separando os dois Yuds.
Adin Steinsaltz — Em primeiro lugar, sua polissemia: as letras não servem apenas
para formar palavras.
Como indica a tabela abaixo, cada letra forma um mundo à parte.
E isto em várias dimensões: numérica, filológica, semântica e gráfica.
Por exemplo, a letra que se pronuncia ain tem por valor numérico 70.
Em hebraico ela significa "olho".
Aliás, esta letra tem efetivamente a forma de dois olhos.
Outro exemplo: a letra zain, que tem por valor o número 7.
Em hebraico ela significa "espada", da qual, aliás, tem a forma.
J. E. — Em nossas conversas nos propomos analisar este mundo das letras. Cada
uma delas contém um vasto universo de significações e de valores.
O seu a seu dono: começamos com a primeira letra, alef.
- Um homem, um alef
A. S. — É um dos aspectos da Torá, mas também uma definição de homem.
Todas as palavras que designam o homem começam com um alef.
A. S. — O alef é uma letra muito concentrada pelo fato de ser a primeira letra,
portadora de tantas significações.
As outras letras, mesmo se sua forma for mais complexa, não levam uma tão
pesada carga.
Por exemplo: o Tetragrama começa com um iud (Iud Hei Vav Hei) , ao passo
que o nome Adonai — Senhor — começa com alef, pois o Tetragrama designa a
transcendência, ao passo que o nome "Senhor" recobre a totalidade da existência.
De resto, o Santo-bendito-seja designa a Si próprio por um nome que começa com
alef:
J. E. — Pode-se recordar que anokhi — "Eu (sou o Eterno)", termo pelo qual se
iniciam os Dez Mandamentos — tem por inicial alef.
J. E. — O senhor acaba de evocar o Ein Sof, o Infinito, que começa também com
um alef.
É um dos nomes de Deus no qual se encontra a mais forte concentração de energia
divina.
Se não há vogal, a letra é muda: como para o H em francês, é preciso colocar um I
ou um A para que se possa pronunciá-la.
Para muitos comentadores, isto reenvia ao silêncio de Deus que precedeu a
"Palavra".
Há anteriormente o silêncio; lembremos que o vocábulo chashmal ("a eletricidade"
em hebraico moderno) é constituído do vocábulo "silêncio" (chash) seguido do
vocábulo "palavra" (mal): o mundo existe porque ele é precedido por uma letra
silenciosa antes que surja o bet, a segunda letra do alfabeto, que designa a
realidade complexa — bet = dois.
- Do touro ao aluno
J. E. – Falamos sobre a forma alef, agora abordaremos a significação do "nome" da
letra.
Contrariamente ao alfabeto francês, no qual o nome das letras — a, b, c... — não
tem um sentido específico, em hebraico cada letra tem um sentido.
A letra alef tem até mesmo muitos.
O primeiro, que pode parecer surpreendente, é "touro".
E o segundo, que se pronuncia aluf, quer dizer "mestre" e "amigo".
Em hebraico moderno ele significa "general".
E assim sucessivamente.
A mensagem da Torá não pode ser mais clara.
Estudando o alfabeto, a criança aprende, desde a sua mais tenra idade, que o bê-á-
bá do judaísmo repousa sobre o estudo e a caridade.
J. E. — É preciso dizer que uma das significações da letra alef é o verbo ensinar.
E há um versículo no livro de Jó que diz: "Alefecha chochmá" — eu te ensinarei a
sabedoria.
Se alef é o inicio e se chochmá — "sabedoria" — está associada a alef, é realmente
porque o início de toda coisa é a sabedoria e o ensinamento. Tomemos o exemplo
da palavra ulpan, que designa, em Israel, as escolas nas quais se aprende o
hebraico: esta palavra vem do verbo alef, ensinar.
A. S. — Comentou-se muito o fato de que a Torá não se inicia com alef, mas com
bet, primeira letra do Gênesis: "Bereshit — No princípio...".
O ponto central é que o alef significa um.
Ora, um significa também "estar só" (être seul).
É o que aparece na expressão: "O Eterno é um".
Ele é o Único (Il est le Seul).
A letra bet, por sua vez, como número, exprime a dualidade.
O mundo não poderia ter sido criado "um", uniforme: ele está colocado sob o signo
da dualidade.
O judaísmo propõe uma dialética da natureza e da lei que se assemelha àquela,
clássica, da natureza e da cultura.
A lei é uma: eis por que os Dez Mandamentos se iniciam com a letra alef.
O mundo é complexo: eis por que o texto do Gênesis se inicia com a letra bet:
"Bereshit... — No princípio...".
Beit (Bet) Vet
Formato: A letra Beit a é um cercado de três lados aberto ao lado esquerdo (lado
―norte‖.
Este cercado é formado por três letras Vav
Bet é aberto para o norte – receber recipiente, estar aberto para o outro,
julgamento
Espaço: No espaço, Beit está ligada à força astrológica conhecida pelo nome de
Shabatai (Saturno) que é uma força que promove o Shav (retorno) Batai (minha
filha).
Esse é todo o sentido essencial do significado deste astro.
O "retorno da filha" é o retomo de Asherá (a deusa da satisfação).
Essa satisfação é a celebração do espaço, da terra.
No Shabat há o casamento do espaço (Asherá) com o tempo (Yihav'há).
Esse espaço é o sentido de habitação, moradia, presença.
Arquétipo: Avraham.
Aplicação:
Respirar para o abdômen é encontrar sua casa.
Fazer de seu lar um Beit Midrash, uma casa de estudo.
Ser uma bênção.
Sombra:
Sentir-se espiritualmente superior aos outros.
Reflexão:
Quais seriam três maneiras específicas de ser uma bênção hoje?
Ação sugerida:
Abençoe alguém hoje, em voz alta.
Sefer Yetziyrah: “Com Bet Ele formou Saturno, o Shabat, o olho direito, a
sabedoria e a tolice” (S. Y. 4.14)
Comentários:
Bet (Beit) representa a "casa", a "habitação".
É a letra que começa a criação (Bereshit), o espaço criado em que tudo se
desenrola.
Ela representa o primeiro desdobramento da unicidade, a ruptura do equilíbrio,
para que o movimento seja.
Bet simboliza a união dos dois princípios do masculino e feminino, desde a primeira
palavra da Torá.
Em diferentes níveis, Bet é ao mesmo tempo a casa do universo, a habitação
celestial e física, o núcleo familiar e por extensão a mãe que rege o lar e que educa
os filhos em seu seio.
O ponto no interior do Bet de "Bereshit" ("No Princípio...") contém tudo o que será
o universo.
Da mesma forma, o filho levará durante toda a sua vida a marca de sua semente
original,
Bet é a letra que encabeça o texto da criação, a primeira letra da Torá e ganhou
este posto porque era a única letra "imune" à influência do ―satan‖.
Na verdade, o fator decisivo é que Bet traz a energia da Brachá ("bênção") onde
quer que se apresente.
E o que é uma bênção?
Abençoar não é projetar Luz em algo negativo.
Seria como servir água limpa em um copo sujo.
Quando abençoamos algo, elevamos o aspecto negativo do que é abençoado para
que ele seja capaz de receber Luz.
Isto significa que se o satan se apropria de Bet ele simplesmente deixa de existir.
Bet traz a força da criação e da transformação das maldições em bênçãos -
uma das missões do cabalista.
Associada à letra Ayin (―olho‖), passamos a perceber que, de fato, toda maldição é
uma bênção disfarçada, pois só através dos revezes e das dificuldades somos
estimulados a evoluir.
Esta é a única letra a reger não só dois meses seguidos como 2/3 do período do
Inverno, associado à energia da sefira de Guevurá.
Quando associada a letra Tsade (Tsadik = justo), Bet promove, em especial, a
mobilização de um grupo em uma causa comum.
E, como já dito, a letra Bet refere-se a Casa, a casa de D´us: ―Minha casa será uma
Casa de Oração para todos os povos.‖
Consta no Midrash que a Motivação Divina para a criação foi que D´us ―desejou‖ ter
uma morada na realidade inferior, nos mundos inferiores.
A concretização deste desejo começou com a criação do homem, uma alma Divina
investida em um corpo físico, e prosseguiu com a multiplicação do homem, para
―conquistar‖ o mundo todo e torná-lo o reino de D’us.
Conta-se que o Rei Ptolomeu 11 (283-246 AEC) queria uma tradução grega da Torá
(a Septuaginta), Ele reuniu 72 anciãos de Israel e confinou-o em 72 casas
diferentes.
Visitou cada um deles e disse: "Traduza para mim o Livro de Moshê, seu mestre."
Milagrosamente, cada tradução dos Sábios era idêntica às outras, embora,
independentemente, eles tivessem feito algumas mudanças na tradução.
Os anciãos judeus acharam que se dessem a Ptolomeu as palavras literais de D'us a
Moshê — Ptolomeu poderia ficar equivocado ou usá-las contra o povo judeu.
Significativamente, todos os Sábios tinham alterado o primeiro versículo da Torá.
Em vez de escrever – ―Bereshit [No] princípio, D'us criou..." eles escreveram -
"Elokim [D'us] criou, [no] princípio," assim começando a Torá com a letra alef, em
vez de com a letra bet.
O desenho do bet, a segunda letra do alef-bet, tem três linhas: duas horizontais e
uma vertical.
Essas três linhas representam as direções leste, sul e oeste.
A linha horizontal encima representa o leste.
A linha vertical é o sul, e a horizontal abaixo é o oeste.
O desenho do bet é semelhante ao caminho do sol, que se ergue a leste e se põe a
oeste.
O Midrash declara que a letra bet é similar à construção do mundo.
Uma ilustração contemporânea disso é oferecida pelos geólogos.
Quando se olha para a terra, vê-se que há massas de terra a leste, oeste e sul.
Mesmo por debaixo da calota de gelo do Polo Sul, encontra-se o continente da
Antártica.
Porém abaixo da massa congelada do Polo Norte, não há nada.
O norte é "aberto".
A lição imediata que derivamos do bet é que o mundo foi criado incompleto.
O trabalho da humanidade é então completar a Criação, aperfeiçoando-a.
Fazemos isto por meio de nossas boas ações e tornando o mundo um lugar melhor
para habitar.
Além disso, o norte representa o mal, como está escrito: "Do norte o mal será
liberado sobre todos os habitantes da terra."
A declaração de D'us é uma resposta direta à visão de Jeremia, de um caldeirão
fervente cuja abertura é ao norte, uma visão que pressagia a destruição do
primeiro Templo Sagrado
A Babilônia, a nação que destruiu o Templo Sagrado, de fato, atacou pelo norte.
Não basta entender que o norte representa o mal; temos uma obrigação de lutar
para superar este mal.
Precisamos também reconhecer que o lado "aberto", este aspecto nortista, existe
tanto dentro quanto fora do indivíduo.
Numa pessoa, é chamado de yetser hará — a má inclinação, que nos tenta e nos
convence a pecar.
O único antídoto é esforçar-se para se aperfeiçoar, o que por sua vez contribui para
a perfeição do mundo.
Essa correção, ou tikun, de si mesmo — e portando do mundo — está incorporada
no desenho da letra bet.
A pessoa deve verbalizar essa bênção introdutória todo dia antes de iniciar seu
estudo de Tora, Rabino Yoel Sirkis explica' que o objetivo do estudo de Torá é
"apegar-se e se tornar um com D'us através da santidade de Sua palavra, e assim
fazer com que a Shechiná, a Divina Presença, habite entre nós."
De fato, há dois níveis no nosso relacionamento com a Torá.
O primeiro é acreditar com completa fé que a Torá vem de D'us (e, portanto, está
além do intelecto humano); e o segundo, é que somente por causa da compaixão e
amor de D'us por seu povo é que Ele nos permite entender a Torá intelectualmente.
Se alguém nega a divindade da Torá, não pode entender adequadamente seus
conceitos Divinos.
Nosso intelecto por si mesmo é incapaz de chegar ao verdadeiro significado do
conteúdo da Torá.
Portanto, a Torá começa com um bet, a segunda letra do alef-bet.
Isso é para nos sugerir que quando nos esforçamos para adquirir o entendimento
da Torá meramente com o intelecto, estamos faltando com o propósito fundamental
da Torá: tornarmo-nos um só com D'us — o Alef.
Outra explicação:
Novamente, o significado do bet é baiyit, ―casa‖, "lar" em hebraico.
Por que D'us criou o mundo?
O Midrash" nos diz que D'us desejava um lar.
Como se define um lar?
Um lar é o local para onde você retorna após terminar seus assuntos mundanos.
Você tira os sapatos, veste roupas mais confortáveis e relaxa.
Você não precisa organizar um show nem se "vender" para ninguém.
É um local onde o verdadeiro "eu" se torna vivo.
D'us também queria um lugar onde Ele pudesse ser Ele mesmo e se unir com Sua
noiva, o povo hebreu (a humanidade).
Este foi o objetivo da Criação.
Este é o bet de baiyit, a primeira letra da Torá, o projeto da Criação.
Com bet significando Criação, notamos que o radical da palavra Bereshit — é rosh,
que significa cabeça.
O prefixo é um bet.
As últimas duas letras da palavra são yud e tav.
Juntos, yud e tav formam baiyit — casa, lar.
No princípio, quando D'us criou o mundo, Seu taavá (desejo) era que a cabeça (que
é D'us) habitasse no bait, Seu lar.
E como se faz um lar para D'us?
Vivendo a letra bet.
Aplicações
Todos procuram um lar.
A letra Beit nos desafia a santificar, ou tornar sagrado, o lugar onde estivermos
atualmente, mesmo enquanto vagamos, procuramos e ansiamos por nosso
verdadeiro lar, por nossa morada original.
Nós sentimos o anseio, a tristeza, a sensação de deslocamento daqueles que são
exilados de sua terra natal?
Nós nos sentimos, como Moisés de algum modo, "peregrinos numa terra estranha?"
Nós nos sentimos perdidos, longe de casa?
Quando isso acontece, o Beit nos oferece a esperança de poder encontrar também
a liberdade dos primeiros israelitas, que instalavam suas tendas onde quer que se
encontrassem e que depois fizeram do deserto seu lar, entre as paisagens
inconstantes de suas vidas.
Eram como aquela figura misteriosa conhecida como "Passolargo" no Senhor dos
Anéis de Tolkien, que era conhecido pelo verso "Nem todos os que vagueiam estão
perdidos".
Bashô, o poeta japonês do haicai, escreveu, no século XVII:
Percorrer o mundo
Para lá e para cá
Cultivando um campo.
Em meio a suas peregrinações, de um extremo ao outro da zona rural do Japão,
Bashô encontrou seu lar, seu campo para cultivar, bem diante de si.
Nós podemos encontrar o nosso também!
Um dos modos de nos sentirmos mais em casa no mundo é sentindo-nos em casa
em nosso corpo.
Respirar plenamente e profundamente é um modo fundamental de fazer isso.
Respirando para o abdômen, voltamos para a casa que há em nós mesmos.
Diz-se que nós não podemos estar em casa no mundo se não tivermos uma base
no abdômen.
Pode-se respirar profundamente agora mesmo.
Pode-se praticar essa respiração abdominal, profunda, mas suave, todos os dias.
Pode-se, por exemplo, respirar fundo sempre que o telefone toca, antes de
atendê-lo.
Pode-se respirar fundo quando se está esperando pelo sinal verde do semáforo, ou
num elevador.
Pode-se encontrar oportunidades regulares, diárias, de realmente fixar-se no Beit
do abdômen.
O Beit nos convida a reconhecer a beleza, a maravilha, a santidade de nosso eu
físico tal como ele é, sem considerações de forma, peso ou altura.
Ao mesmo tempo, ele pode nos inspirar a tomar as medidas necessárias para
proteger, nutrir e curar nosso corpo — prestando atenção, por exemplo, nos
alimentos que fazemos entrar nessa casa santa, nesse recipiente alquímico que é
nosso corpo.
O Beit é aberto para o lado esquerdo, aberto para o futuro (uma vez que o hebraico
é lido da direita para a esquerda).
Isso nos lembra de permanecer abertos para receber convidados, sejam eles
viajantes ou novas idéias.
Nossos modelos são Abraão e Sara, cuja tenda não tinha paredes e que
espontaneamente acolheram três estranhos, sem perceber que eram anjos sob
forma humana.
O Beit nos estimula a estar abertos para o dar e receber da comunidade humana e
da comunidade espiritual, e acolher os anjos, os "mensageiros do Altíssimo", em
nossa consciência.
Quando fazemos isso, acolhendo pessoas e idéias, as paredes de nossa casa
interior se expandem, e nossos lares se tornam ―Batei Midrash‖, santuários de
estudo e conhecimento.
Ler, estudar e falar nos traz somente até aqui, porém.
É possível ir além das palavras e da razão, além da idéia de unidade, para a
experiência direta e vívida do agora.
Hakuin, mestre zen japonês do século XVI, escreveu:
"Com a forma que não é forma, você vai e vem sem jamais sair de casa".
Ein Sof é um termo para o Nada Absoluto de Deus.
Quando alcançamos o domínio que está além da forma, o Ein Sof do Santíssimo,
estamos sempre em casa.
Abandonando nossas idéias preconcebidas, não nos apegando aos nossos
pensamentos, sentindo o chão sob nossos pés e vendo o céu aberto sobre nós,
podemos nos sentir em casa com as circunstâncias inconstantes de nossa vida.
Então nossa casa, não importa o quanto ela seja frágil ou humilde, torna-se uma
casa de oração para todos os povos, uma bênção para todos.
Quando ouvimos a voz do Beit, somos convidados a ponderar a natureza da
bênção.
O que significa abençoar?
O que significa ser abençoado?
Deus prometeu a Abrão que ele se tornaria uma bênção.
Como podemos nos tornar uma bênção em nosso local, em nosso tempo,
beneficiando as pessoas que encontramos e a própria terra, e beneficiando o que
não vemos também?
Uma das maneiras é tomar consciência do quanto nós já somos abençoados.
A sensação de ser abençoados nos abre para a descoberta de maneiras tangíveis de
abençoar os outros.
O verdadeiro desafio, porém, é abençoar mesmo quando não nos sentimos assim,
ou mesmo quando nos sentimos amaldiçoados.
É possível abençoar nessas condições?
O Beit desafia cada um de nós a manter a intenção de abençoar durante nosso
percurso, para lá e para cá, pelas paisagens de nossa vida.
A Sombra do Beit
Há um risco em levar muito ao pé da letra o desejo de que nossa casa seja uma
casa de oração para todos os povos.
A crença de que nossa casa espiritual é melhor do que todas as outras, de que
nosso modo de prática espiritual merece tornar-se predominante, tem justificado
guerras, perseguições e atrocidades ao longo da história.
Hoje existe até mesmo violência de judeus contra outros judeus com visões
diferentes do que significa ser judeu.
É um exemplo do perigo que inevitavelmente acompanha esse pensamento
chauvinista.
O Beit nos lembra de estar atentos à tendência, dentro de nós mesmos, a qualquer
sentimento de superioridade hipócrita.
Textos complementares:
Bet - Migdal Bavel (Torre de Babel)
Ora, em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar
Sucedeu que, partindo eles do Oriente, deram com uma planície na terra de
Senaar; e habitaram ali.
E disseram uns aos outros: "Vinde, façamos tijolos e queimemo-los bem."
Os tijolos serviram-lhes de pedra, e o betume, de argamassa.
Disseram: "Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue
até os céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados
por toda a terra."
Então, desceu o Senhor para ver a cidade e a torre, que os filhos dos homens
edificavam; e o Senhor disse:
"Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo;
agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer.
Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a
linguagem de outro."
Destarte, o Senhor os dispersou dali pela superfície da terra; e cessaram de edificar
a cidade.
Chamou-se-lhe, por isso, o nome de Babel, porque ali confundiu o Senhor a
linguagem de toda a terra e dali o Senhor os dispersou por toda a superfície dela.
Gênesis 11:1-9
Quando crianças, dizem-nos que a lenda da "Torre de Babel" é uma fábula que
serve para explicar por que nós humanos falamos tantas línguas diferentes e por
que vivemos em tantos cantos diferentes do mundo.
Não é comum nos contarem a verdade mais complexa, segundo a qual depois de as
pessoas terem construído sua famosa torre (imaginando que iam poder chegar ao
céu e de lá se enfurecerem contra Deus), elas foram punidas com justamente o que
estavam tentando evitar: a dispersão através do mundo, como também o
surgimento de diferentes línguas.
Essa dispersão é vista como um castigo, pois agora as pessoas que um dia haviam
sido de "um único propósito" constituem diferentes povos, tomados por diferenças
e conflitos — estado de coisas que vai levar a um tamanho desentendimento que
eles jamais haviam podido imaginar.
A geração de pessoas que veio logo após a primeira destruição do mundo pelo
dilúvio, que lemos na história de Noé, procurou usar sua unidade de propósito
contra Deus em vez de buscar meios de usar esse dom para o bem.
Elas não valorizaram o dom da Unidade que lhes fora dado e, portanto, foram
punidas com a condição contrária.
Elas teriam agora que enfrentar o desafio de terem que aprender a entender a
língua, a cultura e até mesmo a geografia uns dos outros para poderem realizar
qualquer coisa enquanto grupo.
Eles foram reduzidos a uma torre de babel — ninguém conseguia entender
nenhuma palavra do que o outro dizia — e a uma grande confusão (a palavra
hebraica ―mebubal‖ significa "confuso").
Hoje, não conhecemos nenhuma outra realidade que não seja a da diversidade e da
dissonância cultural.
Mas no princípio dos tempos, nós éramos Um.
Essa Unidade, que é também um indício da proximidade com Deus, não conseguiu
resistir nem mesmo por um período relativamente curto da história humana.
O resto do tempo seria uma volta gradual à aproximação, uma jornada de Tikkun
Olam (Cura do Mundo) que levaria milhares de anos para ser realizada.
Em nosso mundo do século XXI, estamos apenas começando a vivenciar a
correção, o Tikkun, da Torre de Babel.
Hoje, formamos uma sociedade globalizada, entendemos as línguas uns dos outros
e passamos o tempo todo realizando intercâmbios nas esferas política, econômica e
social.
O mundo continua em desarmonia, mas está ficando um pouco melhor a cada dia
que passa.
A letra Bet, que corresponde ao número dois, é também a primeira letra da Torá.
Isso é para nos ensinar que nada jamais é tão evidente quanto gostaríamos que
fosse.
O fato de a Torá começar com a letra Bet em vez de Aleph sugere que sempre é
importante olhar os dois lados de toda situação — e nunca tomar nada como certo.
Temos que ver as coisas tanto da perspectiva espiritual quanto da material, das
perspectivas branca e negra e de tantos pontos de vista quantos forem possíveis.
Essa é a lição de Babel: pensar que nós, enquanto espécie humana, podemos nos
juntar para alterar as forças da natureza ou nos rebelar contra as forças superiores
sobre as quais não temos nenhum controle é a forma suprema de arrogância.
Por esse erro, nós tivemos que ser separados, falando diferentes línguas e
ocupando lugares tão dispersos que passamos a sentir falta de como as coisas
costumavam ser e a tentar reparar o dano para que possamos um dia voltar a nos
unir para sempre.
A carta Bet costuma ser tirada pela pessoa que está em conflito.
Você está vendo as coisas de uma só maneira, quando, na realidade, precisa olhar
para a situação de uma infinidade de ângulos alternativos.
Considere a questão de sua consulta de diferentes perspectivas, colocando-se na
posição contrária e pensando nas várias possibilidades de tomar iniciativa em vez
de simplesmente reagir.
Medite sobre a lenda da Torre de Babel.
Imagine o calor da animosidade que levou aquelas pessoas a construírem uma
torre tão portentosa.
Agora, respire... e imagine como o mundo poderia ter sido se não tivéssemos
presumido que com nossa força e poder seríamos literalmente capazes de subir ao
céu e alterar as forças da natureza.
Nada é tão simples como supomos inicialmente: ao contrário, a vida é uma teia
intricada de perspectivas e prioridades.
Você só consegue encontrar a paz quando vê as coisas de muitos diferentes
ângulos e, então, chega a entender mais claramente a verdade de seu próprio
coração.
Comentário
Na condição de prefixo, a letra Bet significa "em".
Pode indicar um "preenchimento".
O "preencher" alude à (Isaías 6:3):
"Sua glória preenche toda a terra. "
A primeira letra da Torá é Bet, segunda letra do alfabeto hebraico.
É, também, a primeira letra da palavra Berachá, que significa "bênção".
Quando estudamos a Torá, nos referimos, em geral, aos Cinco Livros de Moisés, ou,
em sentido mais amplo, à toda estrutura teológica que está fundamentada nesses
Livros.
Todavia, em sentido cabalístico, a palavra "Torá" se refere ao plano da criação em
sua totalidade.
Quando os cabalistas falam da imanência e da transcendência de Deus, dizem que
Ele "preenche todos os mundos e envolve todos os mundos" (Zohar).
A letra Bet se refere ao intercâmbio entre esses dois conceitos e, assim, o nome da
letra Bet está relacionado à palavra Bait, que significa "casa".
O conceito que diz "Deus preenche todos os mundos" é indicado pela palavra
"Bênção".
Sempre que Deus revela Sua Essência em qualquer coisa, diz-se que Ele "abençoa"
aquela coisa, e o versículo, portanto, diz: "o que preenche é a bênção de Deus".
O veículo dessa bênção não é outro senão a Torá.
Para que um Deus totalmente transcendental se relacione com Sua criação, uma
série de Dez Sefirot (Emanações) teve que ser trazida à existência.
As duas primeiras dessas Sefirot são Keter-Coroa e Chochmá-Sabedoria.
A primeira Sefirá é chamada Coroa, pois é a coroa usada acima da cabeça.
Portanto, a Coroa se refere a coisas que se encontram acima da capacidade de
compreensão da mente.
Por conseguinte, a Sabedoria é a primeira coisa que a mente pode apreender e,
assim sendo, é chamada de "começo".
Sendo Chochmá-Sabedoria a segunda Sefirá, e a letra Bet, segunda letra do
alfabeto hebraico, contém uma alusão a essa Sefirá.
Comentários
A palavra Berachá (bênção) está intimamente relacionada à palavra Berech, que
significa "joelho".
Do mesmo modo que dobrar os joelhos abaixa o corpo, assim o conceito de
Berachá abaixa a Essência de Deus de modo que ele possa Se relacionar com o
universo, e ser compreendido através de Seus atos.
A "Bênção", por conseguinte, é nossa compreensão mais elevada de Deus, que é o
"Lugar ao qual todo joelho se dobra".
É a casa (Balt) que se deve buscar antes de ser possível encontrar o Rei.
Outra vez mais, contém uma alusão à Sefirá Chochmá-Sabedoria, representada
pela letra Bet.
Aqui, um importante conceito, a ser encontrado muitas vezes, é a idéia cabalística
de que antes de haver um "despertar de acima", deve haver primeiro "um
despertar de abaixo".
Isto é, antes que qualquer sustento espiritual seja concedido, deve haver primeiro
algum esforço por parte do recipiente.
Relaciona-se intimamente ao conceito de que cada recipiente da Luz de Deus deve
ser, também, doador, conforme observado anteriormente.
A palavra "Bênção" se refere principalmente ao sustento dado como resultado de
um "despertar de abaixo".
Os principais meios de tal "despertar" são a Torá e os mandamentos.
Comentários:
Aqui, o Rabino Rahumai explica que a Sefirá Chochmá-Sabedoria, representado
pelo Bet, é a transição entre a transcendência de Deus e Sua imanência.
Não apenas envolve, como, também, "preenche".
A Sabedoria é o canal da Essência de Deus e, portanto, sustenta todas as coisas.
Na condição de elo entre Criador e criação, é o veículo que contém o potencial de
todas as coisas.
Assim sendo, diz o Talmud:: "Quem possui Sabedoria? Aquele que vê o que ainda
não nasceu".
Chochmá-Sabedoria é o conceito através do qual Deus percebeu, inicialmente, toda
a criação (e, portanto, corresponde aos olhos), e por isso, diz-se: O ter
aconselhado. Encontramos referência a esse fato em um Midrash, que diz haver
Deus buscado o conselho da Torá antes de criar o universo.
Já foi dito que a Torá é comparada ao Mar.
A Torá é representada pela água, pois flui das mais elevadas fontes espirituais para
impregnar os níveis espirituais mais inferiores, e até mesmo o mundo físico, que se
encontra abaixo de todos.
Aqui, contudo, a analogia é usada em sentido diferente e a Torá é comparada a
uma fonte d'água que jorra da rocha.
A rocha representa o poder do Tzimtzum-Constrição, o qual refreia a Luz Divina.
Conforme observamos na Introdução, depois do processo do Tzimtzum, uma linha
de Luz foi impulsionada para o Espaço Vazio.
Essa "linha de Luz" é a "fonte".
Para conter alguma coisa, um vaso deve ser capaz de impedir que essa coisa se
espalhe.
Uma peneira não pode conter a água.
A mesma força que atua como Vaso para manter a Luz de Deus também serve, por
conseguinte, para refreá-la e constringi-la.
Esse é o conceito de Bohu, conforme examinado anteriormente. Aqui, é
representado como uma rocha, e as Escrituras, similarmente, falam das "Rochas de
Bohu" (Isaías 34:11).
As sete últimas das Dez Sefirot correspondem aos sete dias da semana.
Essas sete Sefirot inferiores são chamadas de Atributos (Midot). A
cima dessas sete, estão as três sefirot superiores, chamadas de Mentalidades
(Mochin), a saber: Keter-Coroa, Chochmá-Sabedoria e Biná-Compreensão.
A Torá se origina da Sabedoria de Deus e está, portanto, dois níveis acima das sete
Sefirot inferiores.
Por isso diz-se que a Torá foi criada dois "dias" antes dos sete dias da criação.
Na Cabala, encontramos as seguintes correspondências:
14. Por que a letra Bet é fechada em todos os lados e aberta na frente?
Ensina que é a Casa (Bait) do mundo.
Deus é o lugar do mundo, e o mundo não é Seu lugar.
Não leia Bet, porém Bait (casa).
Está, portanto, escrito (Provérbios 24:3): "Com a sabedoria se constrói
uma casa, e com a compreensão ela se firma, [e com o conhecimento
enchem-se os quartos]."
Comentário:
Deus abrange todas as coisas, até espaço e tempo, e não é abrangido por elas.
Isso também é verdadeiro em relação a Chochmá-Sabedoria, que é o conceito do
Princípio — sem fim — antes da criação do espaço e do tempo.
A respeito do significado do Bet, ver comentário sobre verso 3.
Comentário:
Os dois órgãos principais da expressão humana, a boca e o órgão sexual, são
"abertos" na frente.
O Bet representa Chochmá-Sabedoria, a primeira Sefirá através da qual Deus Se
expressa.
Chochmá-Sabedoria é apenas uma sefira, mas, todavia, é uma emanação da glória
de Deus, e não deveria ser considerada, de forma alguma, igual a Deus.
Portanto, Bet tem uma denteação acima de sua cauda protuberante, indicando um
receptáculo, e em alusão ao fato de que recebe sua existência de um poder ainda
mais elevado, isto é, do Alef.
Alef é a primeira Sefirá, que é Keter-Coroa.
É totalmente oculto, e serve apenas para receber de Deus, refreando Sua luz para
que não subjugue a criação. Por isso, o Alef é aberto atrás.
Até mesmo Keter-Coroa deve receber existência da Entidade Infinita, que é
infinitamente mais elevada que essa Sefirá.
É mais do que certamente verdadeiro a respeito de Chochmá-Sabedoria, que é a
segunda, após Keter-Coroa.
Embora Keter-Coroa seja o mais elevado elemento da criação concebível, é
infinitamente inferior à Entidade Infinita.
Diz o Zohar que, apesar de Keter ser a luz mais brilhante, é total escuridão quando
comparada à Entidade Infinita.
Assim sendo, mesmo o Alef principia por um Bet, isto é, na forma do Alef existe um
Bet diagonal.
Comentário:
A letra Bet tem uma "cauda" apontando para trás. (ver o verso 14 sobre o Bet).
Josy Eisenberg — De acordo com o mais antigo livro da mística judaica, o Sefer
Ietsirá — Livro da Criação — algumas vezes atribuído a Abrahão, o mundo foi
criado por trinta e duas vozes da sabedoria divina: vinte e duas letras e dez
números.
São, pois, em primeiro lugar, as vinte e duas letras do alfabeto hebraico que
constituem, de certo modo, o código genético de toda realidade.
Combinando estas vinte e duas letras duas a duas, como dois átomos, chega-se já
a quatrocentos e quarenta e duas combinações.
São outras tantas moléculas de ser.
Cada letra da Torá é assim portadora de uma enorme energia criadora, cada uma
tendo sua identidade própria e até mesmo um sentido.
Como dissemos a respeito da letra alef, as letras do alfabeto, estas letras sagradas,
têm uma tripla significação pela sua forma, pelo seu nome e pelo seu valor
numérico.
Cada letra atua nestas estas três dimensões.
O bet — como o B em francês — é uma letra de extrema importância, uma vez que
em um célebre texto Deus decidiu iniciar o mundo, a Torá pela letra bet. "Bereshit
— No princípio...".
Adin Steinsaltz — Ao olhar de perto, observa-se que há uma letra que se assemelha
ao bet, porém em um sentido vertical: o chet.
O bet é fechado em três lados e aberto em um só lado.
O chet é igualmente fechado em três lados e aberto em um só.
A diferença entre a forma destas duas letras se traduz na diferença de seus
sentidos.
J. E. — Apenas uma pequena observação: as duas letras que o senhor citou, e que
são completamente fechadas, o samech e o mem, formam no hebraico a palavra
sam, que designa um "veneno".
As outras letras têm sempre uma "porta", e a palavra sam, que designa também
Satã, não tem abertura...
J. E. — Com efeito, é preciso dizer que, quando se olha a letra bet, ela vira as
costas para a letra alef', que designa a unidade e a transcendência.
Em outras palavras: há algo antes do mundo que não podemos compreender.
[Deve-se considerar que a língua hebraica se lê da esquerda para a direita. Sendo
alef a primeira letra e bet a segunda e considerando o formato de bet (quase um
quadrado — sem o lado esquerdo), então se compreende como o bet dá as costas à
alef.]
J. E. — É por esta razão que a letra bet é o início da palavra brachá, bênção.
A definição principal da bênção é justamente a multiplicação.
- Do um nasce o múltiplo
A. S. — A famosa questão dos teólogos "Como do um nasce o múltiplo?" é
simplesmente a passagem do alef ao bet.
O fato de que a Criação começa por bet significa que o mundo começa
precisamente pela multiplicidade.
Um mundo em que há mais que um: um mundo bipolar.
Ora, um mundo bipolar suscita atração, energia, mas também distância, ódio e
guerra.
É tudo isso que implica a Criação.
A. S. — A casa é um instrumento.
O verdadeiro sentido da letra bet seria "o que é potencial".
O que fazer desse potencial?
Se eu construo uma casa, ela não faz nada por si própria!
O problema é este: "O que vai entrar e sair dela?".
O bem ou o mal?
Este problema se coloca desde a origem.
Ele repousa sobre o fato de que as águas de cima estão agora separadas das águas
de baixo.
O mundo primordial era só água.
Agora, tudo está dividido.
O mundo não é mais homogêneo, ele contém diversas possibilidades: pode-se
escolher.
Se nós buscamos definir o que é o mundo e qual é sua relação com Deus, diremos
que Deus é Um, único, invariável.
Ele não tem que escolher entre diversas possibilidades.
Ao passo que com o mundo aparecem os limites e todas as possibilidades.
E isto começa com o bet e a criação do mundo.
J. E. — Com efeito, pela letra bet o mundo pode se desenvolver, no plano material,
através da brachá.
Nós podemos multiplicar as coisas e enriquecer o mundo: esta é a vocação da
inteligência dos homens.
Observemos também que o bet é não somente a primeira letra da brachá, a
bênção, de beria, a criação, mas também de bina, a inteligência.
Quando o alef e o bet estão juntos eles formam a palavra av — pai.
Penso que o alef designa a função do pensamento geral e o bet é a biná: a
capacidade por meio desta dualidade de distinguir as coisas umas das outras.
Chochmá, o pensamento geral, é atribuída ao homem; ao passo que a biná,
notadamente na Cabalá, é atribuída à mulher: é a capacidade de diferenciação.
E isto começa desde a concepção de uma criança: é o óvulo da mulher que escolhe
qual espermatozoide vai fecundá-lo.
A. S. — É como em árabe.
O nun aparece na palavra bat, filha, posto no plural banot, em hebraico, bint em
árabe.
Em outras palavras, o nun está no interior, assim como na palavra binian,
"construção".
Aliás, segundo a Cabalá, há um elo entre o bet e o nun, em seu valor numérico,
uma vez que nun é cinquenta e há cinquenta portas da inteligência.
Portanto bet e nun são homólogos.
Há também outro aspecto.
Visualmente, a palavra nun é como um bet cortado em dois.
É um meio-bet.
J. E. — O fato de dizer que o bet nos impele a agir na vida equivale a dizer que o
mundo é duplo, mas também nos indica a beleza do mundo.
Com o alef sabemos que Deus existe; com o bet sabemos que temos algo a fazer.
Há uma grande lógica na sucessão das letras do alfabeto hebraico.
O alef nos remete ao infinito, o bet nos remete à criação do mundo e à nossa
responsabilidade em sua construção.
A. S. — Uma vez que aprendi os primeiros fundamentos, tudo o que tenho a fazer é
entrar no mundo da ação.
Gimmel (Guímel)
Som: G
Porque será que Bet precede Guimel, e Guimel corre de volta para Bet?
Porque Bet representa a casa que está aberta à todos.
Dom: Riqueza.
O Guimel nos faz exaltar a ―riqueza‖ que surge quando abandonamos tudo – nossos
apegos, nossas comparações entre pessoas, nossos conceitos sobre nós mesmos.
Compartilhar com medida e nos ―moldes do outro‖.
Aplicação:
Saber que temos a força e resistência de que precisamos.
Praticar atos de amor-bondade.
Alimentar a cultura e a Deus com nossa arte e criatividade.
Sombra:
Zelo missionário desorientado.
Reflexão:
Quais são as oportunidades de amor-bondade que surgem no curso de um dia
comum?
Como eu poderia fazer para aproveitar essas oportunidades com mais freqüência?
Ação sugerida:
Pratique hoje um ato exterior de amor-bondade.
Sefer Yetziyrah: “Com Guimel ele formou Júpiter, o quinto dia, o ouvido direito, a
riqueza e a pobreza.” (S. Y. 4.14)
Comentários:
Guimel vem de "gamal", o camelo.
Este é um símbolo de prosperidade.
Tal aquisição vem da casa de Bet que simboliza o recipiente, a reserva que ajuda a
atravessar o deserto da existência.
Mas, esta reserva é tanto uma força de sustentação quanto um fardo hereditário.
É uma acumulação saída da rotação do "guilgul" (a rotação das vidas =
reencarnação) e também o que a vida no Bet trouxe como Tikun (necessidade de
aprimoramento).
Guimel é a letra associada ao planeta Tsedek (Júpiter).
Se Dalet representa o homem pobre, Guimel é o homem rico que vai ao seu
encontro para ajudar.
Com as mesmas letras de Guimel escrevemos gamal ("camelo") e da mesma forma
que o animal suporta uma longa jornada com um suprimento interno de água,
Guimel nos supre com Luz Espiritual quando vivenciamos os nossos desertos
pessoais - períodos de restrição, de reveses, etc.
Inicial de Guedulá ("abundância"), Guimel evoca o desprendimento, o auxílio que
antecede a necessidade e a energia dos três Patriarcas - Avraham, Yitschak e
Yaacov.
Guimel é a única letra que não aparece nos 72 Nomes de D-us, mas como cada
Nome é composto por três letras, na verdade Guimel se faz presente em todos eles
como pano de fundo.
Meditar em Guimel ativa a energia do terceiro pilar, que neutraliza a oposição de
forças contrárias e as faz trabalhar em conjunto.
Guimel, cujo valor numérico é três, tem a forma de um pé que caminha,
representando, em níveis diferentes, a expressão do movimento dinâmico.
Em relação a anjos, aos quais se refere como "aqueles que ficam em pé", refere-se
aos homens como "aqueles que caminham":
"E Eu o farei aquele que caminha dentre aqueles que ficam em pé"
(Zecharyá 3:7).
O que é um Guimel?
A letra Guimel representa o benfeitor ou doador de caridade.
O desenho da letra guimel é explicado no Talmud como, já dissemos, um homem
rico correndo para dar caridade a um pobre.
Segundo a Cabala, o desenho do Guimel é composto de duas letras.
A primeira é um Vav, representando o homem, porque fica ereto.
Ao lado direito do homem está a segunda letra, um Yud, que significa tanto o pé
quanto o ato de doar.
Em nossas vidas vemos que a parte superior do corpo, acima da cintura, tem uma
tendência para o egoísmo, a predisposição de "tomar".
Nosso intelecto com frequência existe por si mesmo, aplicando suas faculdades
para garantir suas necessidades.
A boca, estômago e trato digestivo são empregados na absorção de comida e
bebida.
A porção inferior do corpo, porém, é a parte que dá aos outros.
Com nossas pernas caminhamos distâncias a fim de ajudar outra pessoa.
Nossas mãos entram nos bolsos para pegar o dinheiro que será dado à caridade.
O Yud pode representar também o órgão reprodutor, a fonte da semente de vida
humana.
Outra sugestão é que por causa de seu longo pescoço, o Guimel parece um camelo.
Ora, como é que o Guimel realmente significa o homem rico correndo atrás do
pobre?
A resposta pode ser encontrada talvez na diferença entre os termos "caridade" e
"tsedacá".
Caridade significa que você é um benfeitor.
É um homem rico e proeminente e tem pena e concede misericórdia à pessoa
pobre, sem lar, dando-lhe caridade.
Tsedacá, em contraste, tem um significado basicamente diferente.
A definição de tsedacá é integridade ou justiça — ou seja, fazer a coisa certa.
No caso da tsedacá, seu dinheiro na verdade não lhe pertence; D'us o emprestou a
você para que quando um pobre chegar, você possa dar-lhe seu dinheiro.
Você tem até a obrigação de correr atrás dele e "devolver" o dinheiro; que,na
verdade jamais pertenceu a você.
Além disso, a pessoa faz tsedacá porque D'us devolve na mesma moeda.
A fim de receber a bênção Divina, é preciso fazer algo pelos outros.
O ato de tsedacá vai ainda mais longe.
Você está obrigado a criar uma ponte entre o pobre e si mesmo.
Vocês não deveriam ser duas entidades separadas, segregadas.
Deve haver algo para fundir os dois.
O maior nível de caridade não é dar alguns reais para alguém, um presente de uma
única vez, e então dizer: "Adeus, não vou vê-lo de novo."
O maior nível de caridade é ajudar a pessoa a se estabelecer, nutri-la até que
amadureça, e então desmamá-la para que jamais precise pedir dinheiro
novamente.
Isso é feito colocando-a num negócio ou dando-lhe um emprego.
Este é o conceito de Guimel; a mistura de elementos diferentes num todo
harmonioso.
Assim como o Guimel significa a conexão entre o pobre e o rico, também
representa o fusor, a ponte, entre o mundo material e a realidade de D'us.
Aplicação:
Quando selecionamos o Guimel, estamos sendo levados a investigar nossa
"natureza de camelo", a capacidade de nos nutrirmos a nós mesmos e aos outros, e
com isso praticar atos de amor-bondade.
O camelo, como já dissemos, é um animal notável.
É capaz de viajar longas distâncias pelo deserto, passando dias sem beber água,
trazendo em seu corpo uma fonte interna de alimentação e reabastecimento.
O Guimel nos estimula, pois mesmo que estamos viajando por um deserto quente,
seco e intimidante, já temos dentro de nós os recursos de que precisamos para
sobreviver.
Não apenas temos o suficiente para nossas necessidades próprias como temos o
suficiente para dividir com os outros e praticar atos de bondade.
O Guimel afirma que nós somos "ricos".
Com essa abundância, o desejo de dividir se manifesta naturalmente em nós.
O falecido rabino Shlomo Carlebach nos conta uma história comovente sobre como
encontrou um limpador de rua corcunda, em Israel, que quando criança, fora aluno
do famoso "Rebbe do Gueto de Varsóvia", Kalonymus Kalman Shapira.
O varredor de rua descreveu como o reb Kalonymus sempre terminava suas lições
dizendo: "Crianças, preciosas crianças, lembrem-se de que não há nada no mundo
maior do que fazer um favor a alguém".
Esse ensinamento deu ao limpador de rua a força para resistir ao suicídio e
sobreviver ao campo de concentração de Auschwitz.
"Você sabe quantos favores se pode fazer à noite em Auschwitz?", perguntou a
Shlomo.
Depois, esse ensinamento o ajudou a resistir ao desespero e à tentação de matar-
se em Tel Aviv.
"Você sabe quantos favores se pode fazer nas ruas do mundo?", perguntou.
Esse limpador de rua, corcunda (como um camelo) por ter sido espancado em
Auschwitz, encontrara na prática dos atos de amor-bondade o próprio alimento e a
capacidade de continuar vivo.
O Guimel lembra a todos nós: "Crianças, lembrem-se de que não há nada no
mundo maior do que fazer um favor a alguém".
O símbolo do camelo pode indicar que alguém passou recentemente, ou ainda está
passando, por algum tipo de experiência de "deserto".
Isso pode tomar a forma de falta de dinheiro, saúde, amigos ou inspiração.
O Guimel nos estimula a acreditar em nossos próprios recursos interiores.
Como o camelo, nós temos o que precisamos dentro de nós.
Ainda que, como o camelo, nós talvez andemos lentamente, ou desajeitadamente,
ou com dificuldade de começar, nós avançamos imperturbáveis pelo deserto.
O Guimel nos dá a certeza de que vamos sobreviver.
Não apenas temos o suficiente para sobreviver como temos o suficiente para
compartilhar.
Os ensinamentos do judaísmo enumeram boas ações específicas, como sepultar os
mortos, escoltar a noiva até o dossel matrimonial, visitar os doentes, confortar os
aflitos, plantar árvores.
Há infinitas outras maneiras de alimentar o mundo, desde pequenos atos de
bondade a projetos grandiosos e nobres.
Boa parte da sociedade moderna parece perdida num deserto cultural.
O Guimel mostra que, assim como o camelo viaja pelo deserto com seu alimento
dentro do corpo, nós temos as dádivas de que precisamos para sobreviver nesse
deserto cultural.
E, assim como o Guimel representa um rico que vai ao encontro de um necessitado
para compartilhar sua fortuna, essa letra sugere que podemos encontrar maneiras
de alimentar nossa cultura coletiva cada vez mais estéril.
Nossa arte, nossa música, nossos poemas, nossas histórias ou quaisquer outras
obras de beleza podem alimentar uma alma faminta de cultura, e alimentar o
próprio Espírito.
Apresentá-las ao mundo como uma oferenda a Deus e às pessoas pode ser um dos
maiores atos de amor-bondade que se pode praticar.
Textos complementares
"Todos de Israel são responsáveis uns pelos outros" (Talmud Shavuot 39a, Sotá
37a e Rosh Hashaná 29a). Este nível de responsabilidade somente é possível
quando cumpre-se o mandamento "e amará seu próximo como a si mesmo".
Comentário:
Guimel contém uma alusão à Biná-Compreensão, a Mão que concede a Sabedoria
(ver comentário sobre verso 8).
A menos que seja compreendida, a Sabedoria não tem significado, enquanto que
por intermédio da Compreensão, pode-se conceder Sabedoria à outra pessoa.
20. E por que existe uma cauda na parte mais inferior de Guimel?
Ele disse: Guimel tem uma cabeça no topo e é qual uma calha.
Do mesmo modo que a calha, Guimel recolhe o que vem de cima, através
de sua cabeça, e dispensa através de sua cauda.
Isso é Guimel.
Comentário:
O Guimel consiste de uma cabeça, um corpo e uma cauda.
Recebe da cabeça, e dispensa sabedoria por intermédio de sua cauda.
Comentário:
Quando Guimel é alongado "na cabeça", se torna Dalet.
Resta sua cauda, que converte o Dalet em Heh.
Entretanto, de acordo com a interpretação do Gaon de Vilna (HaGra), Guimel e
Dalet estão no lugar de Vav Heh.
A cauda do Guimel é removida, formando Vav, e essa cauda converte Dalet em
Heh.
Conforme mencionado anteriormente, Guimel é Bina-Compreensão, o primeiro Heh
em YHVH, enquanto Dalet é Malchut-Reino, o Heh final.
Uma vez que ambos, Guimel e Heh, se referem à mesma Sefirá, devem estar
próximos.
O autor responde a essa dificuldade ao dizer que Malchut-Reino, e, portanto o Heh,
deve seguir o Dalet. Por isso, diz o autor que "na cabeça, Guimel está no lugar do
Heh".
- A letra da retribuição
Dar, simplesmente.
Com efeito, a utilização mais corrente do verbo guemol, derivado da letra guimel, é
o dom totalmente gratuito.
Ela procede de um célebre texto do Talmud.
O mundo repousa sobre três coisas: a Torá, o serviço a Deus, o dom totalmente
gratuito (a beneficência).
A Torá é, ao mesmo tempo, o estudo da palavra divina e, evidentemente, a
observância aos mandamentos.
O serviço a Deus era, outrora, o culto ao Templo de Jerusalém.
Ele é hoje substituído pelas preces cotidianas, denominado serviço do coração.
E enfim, terceiro pilar no qual se encontra o verbo guimel: "guemilut hassadim" —
a beneficência.
Literalmente, "retribuir bondades".
Esta expressão designa, de modo geral, a caridade, a doação de dinheiro aos
pobres ou, de preferência, às instituições caritativas, para preservar melhor o
anonimato dos pobres, mas designa também diversos deveres: hospitalidade,
solidariedade, acompanhamento no luto assim como na alegria.
Atos gratuitos, dos quais não se espera nem retorno nem recompensa.
J. E. — Isto talvez explique por que duas das mais importantes funções do homem,
denominadas guedula e guebura, o fato de crescer e o fato de se tornar forte, têm
um sentido também na mística judaica.
Guedula designa a "bondade", guebura designa o "rigor": ela também começa com
um guimel.
Quando a Torá diz que Isaac desmamou, isto significa que ele pode doravante ser
guibor — grande e forte...
- Três a três
J. E. — Estas três primeiras letras do alfabeto constituem, com efeito, o inicio de
uma invocação cabalística do nome divino: "Ana Bekoá Gadol" — por tua grande
força de graça.
De modo geral, o número 3 remete sempre à santidade, como no célebre texto de
Isaías: "Santo, santo, santo é o Eterno...".
Outro texto do Talmud coloca toda a identidade judaica sob o signo do tríptico.
A Bíblia judaica é, com efeito, constituída de três grandes partes.
Primeiro, a Torá, sacrossanta, revelada a Moisés no monte Sinai com seus cinco
livros, denominados Pentateuco.
Depois os Profetas: oito livros.
E, enfim, os Hagiógrafos, diversos escritos denominados Santas Escrituras: onze
livros; no total, vinte e dois livros.
A revelação é tríplice.
É também o caso do povo judeu, dividido em três grupos: os "cohen", os
sacerdotes, os "levitas", que os assessoravam no Templo, e, enfim, os judeus, por
assim dizer, "comuns", denominados Israel.
J. E. — Diz-se em francês que os namorados vão dois a dois, mas com os judeus
tudo vai três a três...
A. S. — É também a origem da vogal com três pontos: segol, assim como de uma
nota de música bíblica constituída de três pontos.
Ora, esta vogal de três pontos, segol, significa igualmente povo eleito: segula.
Estamos ainda no mundo do livre-arbítrio.
É a terceira dimensão que dá seu sentido ao que precedia, onde tudo era ainda
apenas potencial.
J. E. — Quer dizer que "eu escolho entre o bem e o mal", eu escolho entre o alef e
o bet, mas só posso me realizar no guimel.
A. S. — É a realização!
A. S. — De fato.
Mas voltemos à forma do guimel.
Esta letra que caminha nos diz algo interessante: para que a realidade exista, esta
síntese não deve ser imóvel, mas dinâmica.
Em outras palavras, não é uma síntese que eu possa concluir.
Estou apenas no começo.
J. E. — Com efeito, como já o dissemos muitas vezes, as letras vão também duas a
duas, o alef vai com o bet, o guimel vai com o dalet — o rico deve ir ao encontro do
pobre e abrir-lhe sua porta.
Não é por acaso que depois do guimel — terceira letra — se apresenta o dalet —
quarta letra —, precisamente a letra do pobre.
Dalet
Som: D
Diz-se que o Dalet sugere também uma pessoa prostrada por estar carregando um
fardo pesado e um pobre pedindo esmolas de porta em porta.
Dom: Descendentes.
Saber planejar a própria vida e acesso a memória de vidas passadas.
Arquétipo: Yaacov.
Aplicação:
Abrir as portas de nossos sentidos.
Permanecer abertos para o nosso vilarejo.
Abrir o nosso coração para a tristeza e para a alegria.
Andar com humildade.
Sombra:
Falsa humildade.
Humildade excessiva.
Reflexão:
Qual é o desejo ardente em meu coração que sobe até o céu como uma fumaça?
Como posso agir mais plenamente conforme esse desejo?
Ações sugeridas:
Descubra um modo de abrir-se mais à situação ou à pessoa para a qual a porta do
seu coração está fechada.
Sefer Yetziyrah: ―Com dalet ele formou Marte, o terceiro dia, a narina direita, a
semente e a desolação.‖ (S. Y. 4.14)
Comentários:
A letra Dalet representa o batente da porta
É a porta do mundo e a estabilidade da criação vinda do Bet.
Mas a penetração na matéria espessa da criação empobrece a luz de Ein Sof
(Mundo Infinito), do qual a letra Guimel possui ainda a riqueza.
No Zohar, dalet é lido como ―que não tem ou possui nada (d’leit)‖.
Isto expressa a característica da mais inferior das Emanações Divinas, a sefirá de
Malchut, ―reino ou reinado‖, que não possui nenhuma luz além daquela que recebe
das sefirot mais elevadas.
No serviço a D’us realizado pelo homem, o dalet caracteriza ―shiflut‖, ―humildade‖,
a percepção de que a pessoa não possui nada.
Juntamente com a consciência do seu poder de livre-arbítrio, a pessoa deve saber
que D’us lhe concede o poder de alcançar sucesso, e não pensar, D’us não permita,
que suas conquistas originam-se de ―meu poder e da força de minha mão‖.
Qualquer feito neste mundo — particularmente a realização de uma mitzvá, o
cumprimento da vontade de D’us — depende da ajuda Divina.
Isto é especialmente verdadeiro na luta da pessoa contra sua má inclinação, seja
ela manifestada por meio de uma paixão física, da resistência obstinada em aceitar
o jugo dos Céus, ou por apatia, preguiça, etc.
Como ensinam nossos Sábios: ―Não fosse pela ajuda de D’us, [o homem] não
conseguiria vencer [sua má inclinação].‖
O Talmud descreve a situação onde um homem carrega um objeto pesado e
aparece outro homem para ajudá-lo, colocando suas mãos sob o objeto, quando,
na realidade, o primeiro homem está carregando todo o peso sozinho.
O segundo homem é mencionado como ―um ajudante simplesmente aparente‖.
Assim somos nós, explica o Baal Shem Tov, com relação a D’us.
Definitivamente, toda a força da pessoa vem de Cima.
O livre-arbítrio não é nada mais do que a expressão da vontade da pessoa de
participar do ato Divino.
Ela simplesmente coloca sua mão sob o peso carregado exclusivamente por D’us.
―Para o Senhor, D’us, é bondade, pois o Senhor retribui ao homem de acordo com
seu ato.‖
O Baal Shem Tov observa: De fato o pagamento de acordo com o feito da pessoa
não é um ato de bondade (chessed), mas de julgamento (din)! Ele responde: ―de
acordo com seu ato‖ pode ser lido ―como se o ato fosse seu‖.
Assim, a bondade suprema de D’us é revestir a recompensa ―imerecida‖ com uma
aparência de merecimento, a fim de não envergonhar o receptor.
O Nome de D’us neste versículo é Adnut, que também são as letras da palavra
hebraica diná, ―julgamento‖, indicando o aspecto Divino de julgamento através do
qual a benevolência de D’us (chessed) se expressa de forma mais ampla.
O Zohar lê chessed como chas d’leit, ―tendo compaixão do dalet‖, i.e., daquele que
não possui nada.
O dalet é a quarta letra do alef-bet. O Talmud diz que o dalet representa a pessoa
pobre. Daí a expressão gomel dalim: o benfeitor que doa ao beneficiário.
O Talmud também nos diz que quando observamos o formato do dalet, sua única
perna se estica para a direita — na direção do guimel.
Isso ensina ao pobre que ele tem de se tornar disponível para receber a caridade
do benfeitor.
Similarmente, a pequena extensão no lado direito da barra horizontal do dalet se
parece com uma orelha, pois o pobre deve sempre estar ouvindo pela presença do
homem rico.
No entanto, o lado esquerdo desta barra não confronta o guimel, o doador, mas fica
de frente para a esquerda, na direção da letra hei, que representa D'us.
Isso nos ensina que devemos doar discretamente para caridade, e não constranger
o pobre.
Este deve colocar sua fé em D'us, que é o supremo Doador do universo.
A Mishná nos diz que no Templo Sagrado, havia um aposento chamado "a Câmara
Silenciosa".
A pessoa devia entrar sozinha nesta sala e fechar a porta diretamente atrás de si.
Na sala havia uma grande caixa.
A pessoa tinha uma opção; colocar dinheiro na caixa ou tirar algum para si.
Obviamente, o homem rico colocava dinheiro ali. E após ele, também sozinho,
entrava o pobre, que tirava dinheiro.
Tudo era feito discretamente.
O homem rico não podia ver para quem estava fazendo caridade. O pobre não
sabia de quem estava recebendo.
Uma segunda abordagem ao formato ou desenho do dalet é que representa um
batente ou um dintel.
A linha vertical é o batente; a linha horizontal é o lintel.
Qual é a conexão entre a porta e o homem pobre?
Geralmente, um homem pobre precisa bater às portas.
Há também uma terceira interpretação fornecida pelos ensinamentos da Chassidut.
Essa opinião enfatiza que o dalet é composto de um reish e um yud.
Qual a diferença entre o dalet e o reish? Um yud.
Se alguém afixar um yud ao canto superior direito do reish, o reish se torna um
dalet.
O yud, uma letra muito pequena, representa a humildade.
Essa humildade é o que separa o reish do dalet.
A mezuzá em nossos batentes contém o famoso parágrafo da prece conhecida
como o Shemá.
No Shemá dizemos: "Ouve, ó Israel, o Eterno é nosso D'us, o Eterno é Um."
A palavra echad, um, como em "D'us é Um", é escrita com as letras alef, chet,
dalet.
O que acontece se o yud for removido do dalet e este se tornar um reish?
A palavra não é mais echad, mas ―acher‖, ―outro‖.
Se este erro for cometido, então ficaria: "Ouve, ó Israel, o Eterno é nosso D'us, o
Eterno é outro (i.e., outros deuses)."
Tão crítico é o aspecto de yud, humildade, na crença na unicidade de D'us, que sua
omissão poderia causar rejeição a D'us, que Ele não permita, e a crença em outros
poderes onipotentes no universo.
O Midrash nos diz que se alguém trocar o reish pelo dalet, está destruindo todos os
mundos.
Aplicação:
Quando surge em nossa vida, o Dalet nos incita a examinar a natureza da
verdadeira riqueza.
O Dalet nos pede para abrir nossa porta e receber as dádivas que o universo quer
nos entregar.
Nossa capacidade de reconhecer e receber essas dádivas depende de nossa
humildade.
Não é fácil reconhecer que somos necessitados e permitir-nos aceitar o que os
outros nos oferecem.
Quando não somos presunçosos, quando somos pobres de ego e de opiniões, a
porta se abre para que a inspiração e as dádivas divinas entrem em nossa vida.
Selecionar o Dalet é um lembrete para cultivar a humildade.
Quando nos tornamos arrogantes e nos inflamos com nossa própria importância,
esquecendo-nos de reconhecer a centralidade de Deus?
A palavra humildade vem de "humus", que significa "terra".
A palavra "humano" tem uma etimologia semelhante, assim como a palavra
hebraica , Adam, que significa ao mesmo tempo "homem" e "terra".
Quando nos tornamos mais humildes, nos tornamos mais humanos.
A humildade vem da conexão com nossas raízes, perto do solo.
O Dalet, encurvado para o chão, nos convida a recordar essa conexão, que nosso
corpo e nosso alimento, e nossa própria vida, dependem da terra.
Não estamos separados, e não somos autossuficientes.
Estamos, ao contrário, conectados a tudo e dependemos de tudo.
Quando estamos passando por uma época difícil, sentindo-nos tristes e pobres, o
Dalet é a voz de estímulo que diz que essa mesma dificuldade pode ser a porta pela
qual bênçãos ainda maiores entrarão.
O controverso rabino Jesus disse:
"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus".
Receber dádivas e bênçãos de graça pode em si mesmo ser uma dádiva oferecida
aos outros.
O Talmud diz que a mãe quer alimentar o bebê mais do que o bebê quer o
alimento.
Às vezes damos, às vezes recebemos.
Às vezes a porta gira num sentido, às vezes no outro.
Se estivermos abertos para qualquer situação — não carregados de idéias
arrogantes sobre nós mesmos, por um lado, nem de idéias excessivamente auto
condenatórias, por outro —, encontraremos a resposta adequada.
Os sentidos são as portas de nosso corpo.
Ao abri-los mais completamente, as bênçãos fluem com naturalidade.
Essas bênçãos nos agraciam com as riquezas do mundo comum, sob formas como
o canto de um pássaro, o reflexo da luz do sol sobre folhas verdes, o cheiro da
cebola, o sabor da maçã.
Quando nosso tempo está tomado por atividades e pela preocupação arrogante
com assuntos "mais importantes", e nossa mente está cheia de idéias, nós
fechamos a porta para essas bênçãos simples, para a humilde vida cotidiana que,
afinal, é nossa única vida.
Nos vilarejos maias tradicionais das montanhas da Guatemala, as casas têm
entrada, mas não têm porta.
Não há, na verdade, uma palavra que signifique "porta" na língua maia.
A entrada permite o livre fluxo de sons e vistas e a entrada e saída de pessoas na
casa, cada casa estando conectada ao resto do vilarejo conforme um antiqüíssimo
padrão natural e familiar.
Nos últimos anos, depois que as portas foram introduzidas em muitos desses
vilarejos, as pessoas começaram a proteger mais seus pertences e a compartilhar
menos; a socialização informal diminuiu e os furtos aumentaram.
Em pouco tempo todos começaram a pôr cadeados nas portas e a mantê-las
fechadas.
A estrutura social desses vilarejos se desfez.
Uma das mensagens do Dalet para nós é a descoberta de um modo de permanecer
abertos para nossos vilarejos.
Entradas definem um dentro e um fora e conferem uma proteção importante, mas
portas fechadas e travadas podem bloquear a circulação saudável de pessoas e
idéias.
O Dalet nos pede para abrir a porta para nosso coração.
O sofrimento do mundo e a dor em nossa própria vida pode nos levar a um
fechamento, a cerrar a porta diante dessas dificuldades emocionais.
O Dalet nos estimula a ter a coragem de enfrentar esses sentimentos, abrirmo-nos
a eles.
"Coragem" vem de coeur, "coração" em francês.
É corajoso sentir, com o coração, as desgraças do mundo.
Boa parte de nossa vida e da cultura moderna se baseia, na verdade, em distrair-
nos do cotejo com essa dor.
Preces simples e sinceras têm grande poder.
O hassidismo emergiu na Europa oriental, no século XVIII, como reação contra a
natureza livresca e abstrusa do judaísmo erudito tradicional e das práticas
cabalísticas esotéricas.
O hassidismo enfatizou a importância da prece humilde e sincera.
Um antigo mestre escreveu:
"Não pense que as palavras da prece vão até Deus quando você as pronuncia.
Não são as próprias palavras que sobem, mas o desejo ardente de seu coração que
sobe, como uma fumaça, até o céu.
Se sua prece consiste apenas em palavras e letras e não contém o desejo de seu
coração, como ela poderá alcançar Deus?"
O Dalet nos dá a confiança de que, se oferecermos nossas preces de maneira
humilde e sincera, a sabedoria e a criatividade fluirão para nós.
Durante um Rosh Hashanah, o Baal Shem Tov instruiu seu discípulo, o reb Wolf
Kitzes, no modo certo de tocar o shofar, o chifre do carneiro.
O Baal Shem ensinou-lhe as kavanot, ou as intenções piedosas específicas de que o
aluno precisava para concentrar-se, durante cada sopro.
Mas, no serviço, quando chegou o momento de tocar, o pobre reb Wolf, nervoso,
esqueceu-se de todas as kavanot e de todas as preces.
Era tudo o que ele conseguia fazer para tocar o shofar na seqüência certa.
Depois, estava infeliz, de coração partido, e com lágrimas nos olhos confessou ao
Baal Shem Tov seu fracasso em manter a kavanah apropriada ao tocar o shofar.
O Baal Shem Tov o confortou com a seguinte história:
Existem muitas chaves para as várias portas da casa de Deus.
Mas existe uma chave-mestra que abre todas as portas.
A chave-mestra é o machado.
Cada uma das kavanot para o shofar é como uma chave que abre uma das portas.
A chave-mestra, o machado — ensinou o Baal Shem Tov —, é o coração partido.
Com a chave-mestra, todas as portas se escancaram e vai-se diretamente à
presença de Deus.
Paradoxalmente, quando abrimos nossos corações à plenitude da mágoa e da
tristeza, nós nos abrimos para receber alegria também.
Os mestres hassídicos ensinam que uma das melhores maneiras de abrir nosso
coração é por meio do canto e da dança.
O rabino Nachman de Bratislava, neto do Baal Shem, disse:
"O modo mais direto de nos ligarmos a Deus a partir deste mundo material é por
meio da música".
Escreveu também:
"Adquira o hábito de cantar canções. Isso lhe dará uma nova vida e vai enchê-lo de
alegria".
E, em outra passagem, disse:
"Adquira o hábito de dançar. Isso afasta a depressão e expulsa o sofrimento".
As niggunim, melodias sem letra dos hassidim, têm o poder de abrir as portas do
coração a sentimentos simultâneos de alegria e tristeza.
Podemos incorporar a ressonância do Dalet aprendendo e cantando regularmente
algumas dessas canções simples e bonitas.
Um dos modos como a pobreza ou humildade do Dalet se manifesta é na renúncia
ao nosso apego à noção de um eu como algo separado dos outros.
Quando abandonamos as barreiras entre nós e "os outros", e entre nós e Deus, o
resultado é que nos abrimos profundamente.
As portas se escancaram.
Walt Whitman exortava: "Desatarraxe as travas de suas portas! / Desatarraxe as
pró-prias portas de seus umbrais!"
O Dalet é o número quatro.
O quatro é um número de totalidade, plenitude e completude.
Existem quatro elementos, quatro direções cardeais, quatro estações, quatro
Mundos na cosmologia cabalística e quatro letras no Nome Sagrado de Deus
( , Yud/Hei/Vav/Hei).
Paradoxalmente, o empobrecido e necessitado Dalet incorpora esse número de
totalidade.
Abandonando tudo, sem possuir nada, o pobre Dalet recebe as bênçãos de todo o
universo.
Em seu vazio mesmo, o Dalet se torna repleto.
O Dalet nos estimula a não ter medo de ser "pobres de Espírito".
Ele promete uma profunda plenitude e completude, com os quatro elementos, as
quatro direções, as quatro estações e o Nome Sagrado conspirando para fazer
entrar novas bênçãos pelas portas da nossa vida.
A Sombra do Dalet:
Uma das sombras do Dalet é a da falsa humildade.
Alimentamos um desejo de ser elogiados por ser nobres em nossos sacrifícios ou
em nosso comportamento exterior modesto?
Temos orgulho de nossa humildade?
Selecionar a letra pode ser um lembrete para ficarmos atentos a essa tendência
sutil.
Uma outra sombra do Dalet é a humildade excessiva.
A falta de autoestima é epidêmica em nossa cultura, levando à depressão e a
comportamentos autodestrutivos.
Em muitos casos, um pouco menos de humildade e um pouco mais de orgulho
podem ser exatamente o necessário.
Comentários Pessoais por Richard Seidman
Olá, Dalet.
Uma das razões por que temos mezuzzot em nossas portas é para nos lembrarmos
de que os umbrais são sagrados.
Entrar e sair — é disso que nossa vida é feita.
O ar entra e sai de nossos pulmões, o sangue entra e sai de nosso coração, as
idéias entram e saem de nossa mente — entrar e sair, entrar e sair.
Meu avô tinha um plano para entrar no céu.
Ele ficaria abrindo e fechando os portões do céu.
Por fim, o guardião dos portões gritaria, exasperado:
"Chega! Entre ou saia de uma vez!" — e meu avô entraria.
O Dalet, por outro lado, está ao mesmo tempo dentro e fora, nem dentro nem fora.
Ele representa a liberdade do umbral.
No umbral todas as coisas são novas.
No umbral tudo é possível.
Nosso tesouro está logo ali — no umbral!
Textos Complementares:
Comentário:
Em geral, diz-se que Dalet, a quarta letra do alfabeto hebraico, representa Malchut-
Reino, a última das Dez Sefirot.
Enquanto cada um dos outros nove dão ao que estão abaixo de si, Malchut-Reino,
sendo o mais inferior, não pode dar.
Como não pode dar, de maneira alguma se assemelha a Deus, e, nesse sentido, é
chamado de pobre.
Assim como os absolutamente destituídos, apenas recebe, mas não pode dar.
36. Seus alunos perguntaram: Por que a letra Dalet é grossa dos lados?
(É engrossado, e não é escrito por uma linha fina, como no Resh)
Ele respondeu: Por causa do Segol que está no pequeno Patach. (Patach e
Segol são pontos vogais. O significado é um tanto ambíguo, mas pode se
referir ao formato da letra, que se assemelha ao Patach e ao Segol.
Alternativamente, pode se referir ao fato de que na palavra Dalet, a
primeira vogal é um Patach, e a segunda é um Segol. Dalet significa
"porta", e Patach, "abertura". A respeito do Segol, ver versos 89, 90, 178)
Está, portanto, escrito (Salmos 24:7): "As aberturas (pitchey) do Mundo."
Ali Ele colocou um Patach acima e um Segol abaixo. Por isso é grossa.
Comentário:
A letra Dalet consiste de duas linhas, uma ao topo, da direita para a esquerda, e a
outra, do lado direito, em linha reta para baixo.
A primeira linha liga Chochmá-Sabedoria à Biná-Compreensão, enquanto a segunda
linha une Chochmá-Sabedoria à Chessed-Amor.
Patach é a vogal associada à Chochmá-Sabedoria, enquanto Segol está associada à
Chessed-Amor.
A palavra Dalet significa porta e a palavra Patach significa abertura.
Uma vez que Chochmá-Sabedoria representa a nossa mais elevada percepção do
Divino, é a abertura de Deus para Se revelar.
Segol relaciona-se à palavra Segulá, um remédio que funciona sem qualquer
motivo aparente.
Segol, portanto, corresponde à Sefirá Chessed-Amor, que dá livremente, mesmo
sem motivo.
A Sefirá Guevurá-Força, por outro lado, restringe, e dá somente o merecido, com
justiça rigorosa.
As duas "portas do mundo" são Patach e Segol. Patach é uma abertura natural,
enquanto Segol é a abertura que dá mesmo sem motivo.
Ambas estão na porta que é Dalet.
A. S. — Por quê?
Porque ele tem vergonha.
Existem pessoas tão pobres que elas não têm mais vergonha.
Mas existem aquelas que buscam ainda preservar sua dignidade.
Elas precisam receber, elas mendigam, mas não querem mais ver aqueles que lhes
dão.
"Não ver quem dá" é um tema fundamental na concepção judaica de caridade.
Ainda que isto represente um inconveniente: aquele que recebe não pode
agradecer!
Ele recebe sem estar face a face com aquele que dá.
Ele vai aqui e ali para receber, está certamente incomodado, mas ele estende a
mão!
O conceito de dal tem, no entanto, um sentido muito mais amplo.
Ele engloba situações que nada têm a ver com a pobreza material.
Pode-se até dizer que, mesmo se entre nós existem pessoas mais ou menos ricas,
pessoas que possuem e outras que nada têm, quando nos encontramos diante de
Deus somos todos pobres.
A. S. — Enquanto um pobre sabe que é pobre, ele tem pelo menos uma vantagem:
ele sabe onde se encontra!
Eis por que o Talmud diz que existem três coisas insuportáveis para o espírito: uma
delas é um dal orgulhoso!
Pois o pobre tem que saber que é pobre.
É precisamente porque ele não tem nada que ele pode receber!
Aquele que é orgulhoso nunca pode receber algo!
Mas o homem que se sabe pobre, ele sim, pode receber!
Existem numerosas metáforas para ilustrar esta capacidade de receber quando
nada se tem: menos se possuem coisas, mais se pode receber.
Os rabinos citam com frequência o seguinte exemplo: "Qual é a parte do olho que
me permite ver?"
Não é o branco do olho, mas sua parte preta, como um "buraco preto".
É o centro do olho, mas é "vazio"!
É como na física, a matéria escura, o buraco negro: é ele que recebe.
A. S. — No livro das Crônicas, David dá a lista de tudo o que ele ofereceu para
construir o futuro Templo.
David ofereceu todo o ouro e o dinheiro necessários para os objetos do culto.
Valores absolutamente colossais que equivaleriam hoje a mais de bilhões!
E ele declara: "Eu, o pobre, eis o que dei, mas tudo vem de Ti e é de Tua mão que
nós demos a Ti" (1 Crônicas 29,14).
Eu não possuo nada.
Eu apenas transmito e torno a dar o que recebi.
J. E. — Talvez isto explique como David, nos Salmos, pôde se identificar com o
pobre por meio de todo tipo de preces.
A. S. — Eis um homem para o qual se abriu a porta: ele poderia ter sido livre.
Ele recusa!
Ele prefere servir.
Colocam-se-lhe, então, obstáculos.
Não sairá mais por esta porta.
Ele decidiu — pois não se pode obrigá-lo — ficar "pobre"!
Ele escolheu a servidão.
Eis bem o problema: se alguém é pobre, não deve disso se gabar.
Assim como um ignorante não deve se gabar de sê-lo!
A questão é: eu sou pobre em relação a quem?
Mas se é em relação a outrem, no caso um amo, então não convém aceitar ser
"pobre"!
J. E. — Tudo isso é simbólico: na vida, pode acontecer com frequência que lhe
abram uma porta, mas você se recusa a entrar.
A. S. — É o que ocorre com o homem ao qual se abre a porta para que ele saia.
Ele nem entra!
Estará sempre em servidão.
É sempre o mesmo problema: "Diante de quem sou pobre?".
Nos Salmos, há um versículo muito violento: "Sou tosco, nada sei, sou como uma
besta diante de Ti" (Salmos 73,22).
Isto não significa que sou geralmente um animal!
Diante de Ti me sinto "besta", mas diante de nenhum outro.
O desejo de incultura induz a outro aspecto da "pobreza".
Pois o dalet é uma letra ambivalente.
Por um lado, designa a pobreza, a queda, o vazio; por outro, é a porta aberta para
poder receber ou estudar.
Querer saber é querer aprender.
Mesmo no plano social, o que leva as pessoas a querer enriquecer é que elas têm
sempre fome!
Aquele que se sente rico está satisfeito com seu destino: nunca será milionário!
Tornar-se-á milionário aquele que se sente pobre, carente, nada tendo e que quer
progredir.
Isto é válido em muitos aspectos, para o enriquecimento pessoal assim como para
o imperialismo de um país ou para a aquisição do saber.
Mas corre-se o risco também de perder tudo...
A. S. — Os cabalistas vão mais longe: eles dizem que Sua residência principal está
precisamente sobre a terra!
O que faria Deus no céu?
Há anjos demais!
Tudo vai bem!
Ele deseja residir sobre a terra!
É um pouco o símbolo de seu poder: a saber, mostrar que ele pode até mesmo
estar presente aqui embaixo!
E que Ele está com o oprimido — daka —, esta palavra que também começa com
um dalet.
Onde está Deus?
Ele está com aqueles que estão "embaixo", na parte inferior da escada.
Não com a "fina flor"!
Segundo o Talmud, quando um homem é orgulhoso Deus proclama: "Ele e eu, nós
não podemos coabitar! Ele ocupa todo o espaço!"
Para que Eu possa ser, é preciso que o homem se sinta pequeno.
Eis por que o hassidismo desenvolveu o conceito de abnegação: chegar a se sentir
como nada, ser absolutamente nada.
Chegar a isso exige um difícil combate que não é, evidentemente, cômodo para os
ricos, mas tampouco o é para os pobres.
Conta-se que um dia um muito respeitável rabino vai visitar os discípulos do Rabi
de Kotz, que é muito niilista.
Ele não confere o menor valor às pessoas mais respeitadas.
Não se presta a elas nenhuma honra!
Ele (o visitante) lá está, em busca do filho de seu rabino, quando escuta de repente
alguém gritar: "Eis Hirsch que chega!".
Ele pensa: "Se prestam honras a este homem, ele deve ser excepcional!".
Ele vai vê-lo, descobre um homem vestido com trapos e não entende por que lhe
prestam tanta honra.
Ele pergunta:
— Quem é? Ele é de uma grande família?
— Não, é o filho do sapateiro.
— Ele é sábio?
— Ele mal sabe ler!
— Rico?
— Bem vê seu aspecto!
— Então por que correm?
— Porque ele é humilde.
Quando ele contou esta história a seu mestre, este riu e disse: "Se ele não é de boa
família, nem sábio, nem rico, por que não seria ele humilde?".
Esta história percorreu o círculo dos rabinos, e um deles disse: "Pelo contrário! Se
ele não é nada disso, ele pode se sentir tentado a ser orgulhoso!".
Portanto, se ele é verdadeiramente humilde, isto é uma grande coisa!
Isto é bem verdadeiro do ponto de vista psicológico.
Quando possuímos algo, podemos chegar a dizer: não é importante.
Mas se não temos nada é preciso provar que existimos, que somos importantes.
É exatamente nosso problema: o pobre sabe que é pobre.
A. S. — É a mesma raiz.
O balde com o qual se tira água do poço se denomina deli, da raiz dal.
Pois o balde não para de descer e subir.
Ele entra em um sistema em que se pode cair e subir.
É a mesma corda.
Esses dois estados estão ligados um ao outro, e isto é verdade em vários campos,
notadamente em física: ação e reação.
Se quero descer, ou que me façam descer, posso também subir.
E só posso querer subir se desci.
J. E. — O fundador do hassidismo, o Baal Shem Tov, disse: "Deus nos fez descer
sobre a terra para que possamos subir mais alto".
J. E. — O senhor acaba de falar deste mundo inferior: eis o que nos leva a outro
aspecto da letra dalet.
Cada letra tem um valor numérico: dalet é o 4.
O número 4 tem uma função muito importante, notadamente na mística judaica em
que se fala do arba olamot — os quatro mundos a partir de Deus até o homem:
nosso mundo é o quarto, o mundo inferior.
E por outro lado 4 são também as quatro letras do nome de Deus: Iud Hei Tav Hei.
J. E. — Por que o número 4 é tão fundamental? Por que o nome de Deus tem
quatro letras? Por que quatro estados da humanidade: o mineral, o vegetal, o
animal e o homem? Há sem dúvida uma relação entre o nome de Deus — o
Tetragrama — e a criação do mundo?
J. E. — O senhor me abriu uma muito boa porta, dalet, para passar à letra hei,
explicando que há uma quinta taça...
Hei (He)
Som: H (aspirado)
O Hei é uma das letras de som mais suave.
Seu som é simplesmente uma respiração ou exalação.
Conceito: A letra Hei é a que fala da comunicação, da palavra, de algo que é dito e
de algo que é comunicado.
Nesse sentido nos caberia a gente refletir que existe uma palavra, existe uma
comunicação que é inerente as comunicações humanas, mas existe uma palavra,
existe uma comunicação que disponibiliza no mundo, mas que não necessariamente
está ligado à intenção humana, é como se fosse uma comunicação que existe por
trás da comunicação cognitiva, uma palavra por trás da palavra.
Quase que uma mensagem subliminar contida em toda mensagem.
Arquétipo: Yehudá.
Aplicação:
Prestar atenção e ouvir a pequena ―voz silenciosa‖.
Saber distinguir a inspiração luminosa do ego.
Como saber qual a voz que está falando?
Qual a decisão nos possibilita trabalhar nosso tikun?
1 - O tikun nos traz sempre um desafio.
2 – A voz da Luz não tem lógica, o ego tem.
3 – A voz do ego deixa tudo como está, não muda nada.
Sombra:
Ficar preso na fragmentação
Autoengano.
Reflexão:
O que a "pequena voz silenciosa" de Deus está me dizendo hoje?
Ação sugerida:
Pelo menos três vezes ao dia, respire fundo três vezes, olhe para cima, olhe para
baixo e para os lados e diga em voz alta: "Hineini! Eis-me aqui!"
Comentários:
A letra Hei representa uma "janela".
É a letra do sopro de vida, por excelência.
A janela é o modo de comunicação entre os diferentes níveis do físico e do
espiritual.
Hei tem valor 5, representando os cinco níveis da alma: Ruach, Chaiá, Yehidá,
Néfesh, Neshamá.
O Sêfer Bahir confirma o símbolo da janela para a letra Hei.
"Qual é a função do Hêi? Isto se compara a um rei que tinha uma filha boa,
agradável, bonita e perfeita. Ele a casou com um príncipe, vestiu-a ricamente,
enfeitou-a com uma coroa.
Deu-lhe um grande dote.
O rei, daí em diante, pode viver fora de sua casa?
Tem a possibilidade de ficar com ela durante o dia?
Você disse não. O que fez ele? Ele preparou uma janela entre ele e ela e toda vez
que a filha tinha necessidade de seu pai ou o pai de sua filha eles se comunicavam
através desta janela".
Hei, por sua vez, é a janela que permite quem está dentro veja o lado de fora e
vice-versa.
Esta abertura permite a visão além dos limites, e ver além (ou ver dentro) é o
principal recurso do cabalista para que ele não se torne um prisioneiro do mundo
das aparências, dominado pela contra inteligência.
Meditar em Dalet e Hei equilibra os pilares da direita e da esquerda da Árvore das
Vidas, evocando a energia do pilar central (o desejo de receber para compartilhar)
e da Shechiná (também representada por Hei), ampliando a nossa percepção da
realidade espiritual que nutre a realidade material.
O nome da letra hei aparece no versículo, ―Peguem (hei) para vocês sementes‖.
―Peguem‖ (hei) expressa a revelação da personalidade no ato de se dar para o
outro.
Dar aos outros como uma forma de auto expressão é o maior dom da pessoa.
No segredo da letra guimel, o homem rico dá de si ao homem pobre sob a forma de
caridade.
A forma mais elevada de caridade é quando o doador está completamente oculto do
receptor, a fim de não envergonhá-lo, como está escrito, ―O presente oculto
subjuga a ira‖.
Aqui, no segredo da letra hei, o próprio presente é a relação e a expressão da
pessoa, atraindo o receptor para a essência do doador.
José, que pronunciou o versículo ―peguem para vocês sementes‖, corresponde à
sefirá de Yessod, cuja função é expressar a personalidade sob a forma de doação
de sementes, conforme explicado na Cabalá.
Quando José deu grãos pela primeira vez a seus irmãos, eles não o reconheceram
— similarmente ao dalet em relação ao guimel.
Quando ele se revelou aos seus irmãos (e, portanto, a todo o Egito), sua doação
tornou-se a do hei.
Ao invés de grãos, ele agora dava sementes.
Aplicação
Quando o Hei sussurra em nossa consciência, podemos ter a certeza de que
estamos num estado santificado, perto do Nome Sagrado, próximos do aspecto
maternal de Deus.
Essa proximidade, no entanto, pode adotar a forma exterior de esperanças ou
relacionamentos destruidos.
O Hei é uma das duas únicas letras do Aleph Beit compostas de duas partes
desconectadas, ou quebradas.
Mas o Hei oferece a certeza de que, assim como a semente deve se quebrar e se
abrir dentro da mãe-terra para brotar, nós somos quebrados e abertos para que
surja uma nova vida.
O Hei diz: "Veja! Está aqui! Aqui mesmo, dentro e diante de você, está a
expressão, a manifestação mesma da Divindade!"
A Torah narra que Deus indica a fé de Abrão e Sarai adicionando um Hei, a letra
inicial de Deus, a seus nomes.
Assim, Sarai,
, torna-se Sara,
, e Abrão,
, torna-se Abraão, .
Em seguida, apesar de sua idade avançada, Abraão consegue engravidar Sara, e
Sara consegue conceber e dar à luz Isaac, iniciando a longa linhagem do povo
hebreu.
A letra Hei ajuda a santificar Abraão e Sara, simbolizando sua capacidade de
manifestar uma nova vida, de modo inesperado e miraculoso, afetando o destino do
mundo inteiro.
O Hei pode também nos transformar.
O nome de Isaac significa "riso" e "prazer".
Quando os efeitos, suaves mas poderosos, do Hei informam nossa vida, como o fez
com Abraão e Sara, pode encerrar-se um período de esterilidade, e a alegria e os
sons do riso e do prazer voltam a ecoar por nossa casa.
Além de significar "veja!" ou "olhe!", o Hei, como prefixo, equivale a um artigo
definido.
O Talmud diz que Deus usou as letras Yud e Hei, que formam o nome sagrado
, Yah, para criar o universo.
O Yud foi usado para criar o "Mundo Futuro", e o Hei, para criar "Este Mundo".
Quando o Hei se manifesta em nossa consciência, estamos sendo solicitados a
prestar atenção no que está diante de nós, a olhar para as coisas concretas de
nossa vida, a fixar-nos n'Este Mundo.
Hei como "o" é um artigo definido; refere-se a um objeto ou coisa específica, e não
a uma generalidade ou abstração.
Teremos nos perdido em abstrações, nos alienado de nosso corpo, de nossa
experiência física?
O Hei nos lembra de prestar atenção nos aspectos específicos e definidos de nossa
vida.
Certa vez o rebbe Nachman viu um de seus discípulos com pressa.
"Já olhou para o céu nesta manhã?", perguntou o rebbe.
"Não, rebbe, não tive tempo."
"Acredite: em cinqüenta anos tudo o que você está vendo aqui hoje terá
desaparecido. Haverá um outro mercado, com outros cavalos, outras carroças,
pessoas diferentes. Eu não estarei aqui, e você também não. Logo, o que é tão
importante que você não tenha tempo de olhar para o céu?"
Num sentido semelhante, a autora Simone Weil escreveu:
"A prece consiste em atenção".
Moisés era uma pessoa que prestava atenção.
Certo dia, enquanto apascentava o rebanho de seu sogro, Moisés viu um fogo vindo
de uma sarça.
Ao olhar, percebeu que a sarça não estava sendo consumida pelo fogo.
Moisés disse: "Preciso ir até lá e investigar esse maravilhoso fenômeno. Por que a
sarça não se consome?"
Moisés estava no lugar certo e no momento certo para tomar consciência dessa
estranha visão.
Sobretudo ele estava atento a ela; primeiro foi capaz de notá-la, e então dispôs-se
a interromper seus planos e desviar-se para investigá-la.
A Torah prossegue: "E vendo o Senhor que Moisés se virava para lá a ver, bradou
Deus a ele do meio da sarça, e disse: 'Moisés, Moisés!"
"E ele disse: Eis-me aqui'."
Esse "Eis-me aqui", ou , hineini, exemplifica o poder do Hei.
Então Deus disse a Moisés:
"Tira os teus sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa"
(Êx. 3:2-4).
Essa é a mensagem do Hei: a santidade está aqui mesmo!
O lugar onde estamos, onde quer que seja, é terra santa.
A sarça ainda está ardendo.
O fogo do imediato queima com brilho e calor.
A questão é se nós vamos ou não prestar atenção e notar.
A vida está sempre nos dando uma oportunidade de responder hineini!
Veja, aqui mesmo, neste mesmo corpo, neste mesmo lugar, está o divino.
A palavra "ei" está diretamente relacionada à sua parente hebraica.
O Hei nos pede atenção: "Ei! Aqui está! Não está mais oculto!"
A interjeição "a-há!" carrega a energia do Hei.
Podemos estar atentos a experiências "a-há!" — quando de repente alguma coisa
se encaixa, de repente entendemos.
Um dos sinais de que isso aconteceu é um influxo de riso e prazer.
Por outro lado, as revelações podem vir de modo silencioso e sutil, sussurrando em
nossa consciência.
O profeta Elias, em dificuldades desesperadoras, fugiu para o deserto e foi levado
até o monte Horebe.
No topo do monte, "eis que passava o Senhor, como também um grande e forte
vento que fendia os montes e quebrava as penhas diante da face do Senhor; porém
o Senhor não estava no vento: e depois do vento um terremoto; também o Senhor
não estava no terremoto: e depois do terremoto um fogo; porém também o Senhor
não estava no fogo: e depois do fogo uma voz mansa e delicada" — às vezes
traduzida como "uma pequena voz silenciosa" (I Re. 19:11-12).
Em meio ao clamor do mundo, ao tumulto de nossa vida, a voz do Hei respira
silenciosamente, murmurando seu som suave, mas poderoso.
Boa parte de nossa vida se consome no redemoinho de pensamentos e idéias, no
terremoto das ações, no fogo das emoções.
O Hei indica um momento de desviar-se de tudo isso e ouvir o pequeno som do
divino.
Segundo a tradição, depois de ser levado ao céu, Elias (cujo nome hebraico,
, Eliahu, contém um Hei) começou a servir como mensageiro de Deus,
ajudando e instruindo os seres humanos e preparando para o advento do Messias.
Na Páscoa, nós aprontamos um lugar para Elias, servimos a ele uma taça de vinho
e deixamos a porta aberta para sua visita.
Quando suspiramos profundamente, vocalizando o "aaaah!" do Hei e aquietando
nossa mente e nosso corpo, nós nos preparamos para ouvir ou sentir o som suave
e murmurante da inspiração divina ecoando em nosso abdômen.
Ao fazê-lo, nós aprontamos em nossa vida um lugar para que Elias nos visite, nos
preparamos para ouvir mensagens do céu.
Em seguida, nós descemos da montanha, renovados e rejuvenescidos, prontos para
viver no mundo outra vez, dando vida a mais beleza e prazer.
A Sombra do Hei
Um dos perigos da letra fragmentada Hei é o de ficar preso na fragmentação.
Um coração partido, como um osso partido, pode nos aleijar.
Nosso desafio é fazer com que os aspectos fragmentados de nossa vida informem
nossa completude, acrescentando a nossa natureza não o desespero e a falta de
perspectiva, mas a maturidade e a profundidade.
O "som suave e murmurante" tem uma sombra também.
Nem sempre é fácil distinguir a inspiração divina do autoengano.
Temperar a confiança em nossas revelações com um pouco de humildade pode nos
ajudar a evitar impor nossa visão aos outros de maneira destrutiva e arrogante.
Textos Complementares
.
Hei -
Hinneni (―Eu estou aqui‖)
Comentários
Quando Deus mudou o nome de Abrão para Abraão, Ele o fez acrescentando a letra
Heh.
De acordo com a tradição, o número de partes do corpo humano é 248.
Quando Deus acrescentou esse Heh ao nome de Abraão, Ele lhe concedeu domínio
sobre as cinco partes finais de seu corpo, a saber, os dois olhos, dois ouvidos, e o
órgão sexual, conforme mencionado no Talmud.
A letra Heh tem valor numérico cinco, e é uma alusão aos cinco níveis da alma.
O fato dessa letra ter sido acrescentada ao nome de Abraão indica que esses cinco
níveis finais lhe foram concedidos.
Outra conotação da letra Heh é "manter".
O valor numérico de Heh é cinco, em alusão aos cinco dedos da mão.
Está igualmente indicado pelo modo como a letra Heh é usada como prefixo e
sufixo.
No final de uma palavra, indica o feminino, e é também usada como sufixo para
apontar o feminino possessivo. Como prefixo, é o artigo que abarca e especifica um
determinado objeto.
Em ambos os contextos, a letra Heh tem o teor de delinear e manter.
Essa é, também, a conotação dos dois Hehs no Tetragrama,
formado por Yud Heh Vav Heh.
O primeiro Heh corresponde à Sefirá Biná-Compreensão, e essa é a "mão" com a
qual Deus concede a recompensa do Mundo Vindouro, O Heh final é a Sefirá
Malchut-Reino, e é a mão que Ele nos concede, para que sejamos capazes de
aceitar essa recompensa.
Assim sendo, por intermédio desse Heh, Abraão se tornou merecedor do Mundo
Vindouro.
É comparado ao mar, pois, qual o mar, é um receptáculo.
A "forma" de Deus na qual Ele criou o homem é, de fato, a forma prototípica do
homem. Essa "forma" ou "projeto" era o primeiro pensamento de Deus acerca da
criação, e, por isso, é o mais alto nível da criação.
Textos cabalísticos posteriores referem-se a essa "forma" como Adão Kadmon
(Homem Primevo).
Esse "plano" contém 248 partes, e quando Abraão foi aperfeiçoado por intermédio
do mandamento da circuncisão, tornou-se sua exata contraparte.
Comentarios
A forma gramatical Rash é, realmente, encontrada em diversas passagens, tais
como Deuteronômio 1:21, 2:24, 2:31, e 1 Reis 21:15.
O autor diz que Deus deve estar incluído na totalidade dos trabalhos do homem,
isto é, todos esses trabalhos devem ser feitos em nome de Deus, e não meramente
por qualquer futura recompensa antecipada.
Pode-se, então, "herdar Deus", uma vez que a principal recompensa futura é a
percepção da Entidade Infinita.
No Tetragrama, o Yud é pertinente à Chochmá-Sabedoria, enquanto o Heh, à Biná-
Compreensão.
Deus já dera o Heh a Abraão, e, portanto, pode-se conjecturar que o Yud deva
permanecer oculto, e que não seja concedido no Mundo Vindouro.
Por isso, Deus diz: "Pega tudo", ambos, o Yud e o Heh.
Em certo sentido, o filho nessa parábola é uma referência a Abraão.
O exemplo ensina, também, que Deus deve ser buscado, e que não é, meramente,
uma recompensa.
Se o filho buscasse os tesouros e não perguntasse pelo Rei, não teria recebido
nada.
Apenas após buscar o próprio Rei, recebeu todos os tesouros.
O Yud e o Heh correspondem, também, aos "dois mil anos" mencionados no verso
5.
Comentário:
Quando Guimel é alongado "na cabeça", se torna Dalet.
Resta sua cauda, que converte o Dalet em Heh.
Entretanto, de acordo com a interpretação do Gaon de Vilna (HaGra), Guimel e
Dalet estão no lugar de Vav Heh.
A cauda do Guimel é removida, formando Vav, e essa cauda converte Dalet em
Heh.
Conforme mencionado anteriormente, Guimel é Bina-Compreensão, o primeiro Heh
em YHVH, enquanto Dalet é Malchut-Reino, o Heh final.
Uma vez que ambos, Guimel e Heh, se referem à mesma Sefirá, devem estar
próximos.
O autor responde a essa dificuldade ao dizer que Malchut-Reino, e, portanto o Heh,
deve seguir o Dalet. Por isso, diz o autor que "na cabeça, Guimel está no lugar do
Heh".
Isto é, quando se referem à Biná-Compreensão, Guimel e Heh representam a
mesma Sefirá, e Biná-Compreensão está na cabeça. Mas, "na cauda, Dalet está no
lugar do Heh.
Na Sefirá Malchut-Reino, que é a cauda de todas as Sefirot, Dalet e Heh
representam a mesma Sefirá.
Josy Eisenberg — Não nos esqueçamos de que as letras hebraicas existiam antes
da criação do mundo e da Bíblia.
A quinta letra do alfabeto hebraico, a letra hei, corresponde à letra H em francês,
sobretudo ao H aspirado.[ Pronuncia-se como o H de half em inglês.]
Com a quinta letra do alfabeto descobrimos pela primeira vez uma das letras do
nome inefável de Deus.
Há, com efeito, quatro letras no Tetragrama — o nome impronunciável de Deus.
A segunda letra é a letra hei.
Isto revela a importância desta letra.
Cita-se frequentemente este versículo da Torá para ilustrar a dimensão do "dom":
"José diz a seus irmãos: hei (eis) lachem (para vós) zera (semente)".
Os comentadores estabelecem uma relação entre a letra hei, que é uma letra de
abertura, e o "dom", o princípio de "doar".
O que subentende que esta letra é a letra do "dom", o que poderia ser o "dom da
Torá".
Cada letra corresponde a um mundo: a letra hei corresponde a olam aze, isto é, ao
nosso mundo, e a letra iud a olam abá , o "mundo vindouro".
De acordo com o pensamento judaico foi, com efeito, com as duas letras do nome
sagrado Yah que Deus criou os dois mundos.
Com o hei Ele criou o universo visível e com iud o mundo dos céus.
J. E. — Esta mini diferença entre a letra hei, que é aberta, e a letra chet, fechada,
alimenta, com efeito, inumeráveis comentários durante a noite da Páscoa judaica.
A levedura, que é proscrita, é um mundo fechado que se diz chametz e começa
com chet, a letra do pecado.
Esta palavra conota o "pecado": é o pão da escravidão.
Pelo contrário, a letra hei, última letra da palavra matzá, "pão ázimo", conota o que
representa a matzá: o pão da libertação.
Passando da levedura, que começa com chet, ao pão ázimo, passa-se do pecado à
liberdade.
+ =
O dalet, já o evocamos, representa a pobreza.
Em hebraico, pobre se diz "dal".
Na Cabalá, a "pobreza" representa o reino terrestre que não tem luz própria.
O hei completa o dalet acrescentando-lhe o vav, símbolo daquilo que desce do alto.
Completando o dalet com o vav, ele deixa de ser pobre, ele adquire a plenitude:
hei.
- A palavra: um sopro
A. S. — Há dois tipos de hei: o hei superior e o hei inferior, segunda e última letra
do Tetragrama.
Elas têm algo em comum: a forma do espaço.
Mas não é exatamente o mesmo espaço.
O espaço designado pelo primeiro hei é o mundo superior; o segundo hei é nosso
mundo daqui de baixo.
Existe, no entanto, outra leitura, também muito antiga, que aparece nos poemas de
um dos grandes mestres da Cabalá, o santo Ari de Safed — Ari Hakadosh.
Cada letra tem sua forma particular de "pronúncia".
Isto é verdade tanto para as consoantes quanto para as vogais.
O hei é exceção.
Ele é sem voz: impronunciável, é um H mudo.
J. E. — Como o mundo foi criado com a letra hei, o hei representa o ruach Elohim
— o sopro de Deus, o sopro criador.
"E o sopro de Deus soprava sobre a face das águas" (Gênesis 1,2).
A. S. — Como falamos?
Toda palavra é, na realidade, um hei mais alguma coisa!
O hei fornece o ar necessário para articular.
É modulando que pronuncio uma letra, segundo sua modulação.
Não posso pronunciar uma letra sem exalar um sopro: é o fundamento da criação.
Assim, está escrito: "Pela palavra do Eterno os céus foram feitos e pelo seu Sopro
todas as suas hostes celestes" (Salmos 33,6).
Apenas um sopro, ar!
Esta letra sem consistência foi chamada pelo Ari Hakadosh: "letra leve sem
materialidade".
Letra leve, sem peso: uma letra que não se ouve.
- Do conhecimento à interrogação
A. S. — O que existe.
O que "é".
Todas as conjugações do verbo "ser" (passado, presente e futuro) compreendem
sempre os dois hei!
Pois a letra designa o existente.
- A quinta dimensão
A. S. — Isto significa que existe uma dimensão que vai além da natureza.
Vav
Corpo: Vav está relacionada ao rim direito que registra os aspectos da nossa
reatividade.
Arquétipo: Yissachar.
Aplicação:
Conectar-nos com a terra por meio dos pés.
Manter nossa conexão com a rede da vida quando alimentamos nosso corpo.
Descobrir nosso caminho de tikkun, de restauração.
Sombra:
Ficar preso.
Co-dependência.
Reflexão:
De que maneiras eu posso colaborar com o processo de conexão, de reunião, de
tikkun?
Ação sugerida:
Hoje, durante alguns minutos, sente-se em silêncio e observe ou perceba sua
respiração.
Ao fazer isso, imagine que você não está bem respirando ativamente, mas
passivamente.
É a atividade perpétua do Ruach Ha-olam, o Sopro do Mundo (um dos nomes de
Deus).
Sefer Yetziyrah: “Ele fez a letra Vav reinar sobre o pensamento, coroou-a,
combinou-a com cada uma das outras e, com elas, formou: touro no universo, Iyar
no ano e o rim direito na Nefesh...” (S. Y. 5.)
Comentários:
Esta letra representa tanto um ―prego‖, como um ―gancho‖.
Podemos ainda imaginá-lo um suporte sobre o qual repousaria um mastro dobrado
ou ainda um repouso de cabeça substituindo o travesseiro.
Em hebraico, Vav serve de conjunção de coordenação e representa tudo o que
reúne as coisas entre elas.
Seu valor ―seis‖ faz dizer aos textos da Cabalá que esta letra sela as seis direções
do universo, como vemos no Bahir:
"A quê é comparável o Vav? Àquele que "se orna de luz como uma vestimenta‖.
O Vav designa também as seis direções‖.
Vav, a sexta letra do alfabeto, é uma letra de conexão, ou seja, tem por função
estabelecer uma ponte entre uma coisa e outra, sendo assim, no mês de Iyar, é
uma ligação entre Pêssach (a liberdade física em Nissan) e Shavuót (a liberdade
espiritual em Sivan).
Independente do momento do ano, a letra Vav corresponde a Zeir Anphin (partzuf
formado pelas sefirot Chessed, Guevurah, Tiferet, Netzach, Hod e Yessod) na
Árvore das Vidas (a comunicação entre o mundo físico e os mundos superiores) e
ao homem, responsável pela elevação dos cinco mundos.
Combinada com ―Pei‖, a boca, temos o poder criador do verbo para promover a
reengenharia da alma ao longo de todo o mês de Iyar - a Contagem do Ômer.
Contar, literalmente, o Ômer é muito importante.
Não basta saber que é o segundo dia da terceira semana, por exemplo.
A palavra corresponde à ação e, após a bênção que é pronunciada, é preciso dizer
que estamos ―no segundo dia da terceira semana‖.
Esta é a "chave" para realmente acessarmos esta combinação de energias em cada
um de nós.
Tudo que nos parece um ―falo‖, ―vela‖, ―haste‖, ―gancho‘, ―cola‖, é símbolo do Vav.
No início da Criação, quando a Luz Infinita preenchia toda a realidade, D‘us contraiu
Sua Luz para criar um espaço vazio, que seria o ―lugar‖ necessário para a
existência dos mundos finitos.
Para dentro deste vácuo, D‘us ―puxou‖ (figurativamente falando) uma única linha
de luz proveniente da Fonte Infinita.
Este raio de luz é o segredo da letra Vav.
Embora a linha pareça ser uma só, ela, no entanto, possui duas dimensões — uma
força externa e uma interna —, e ambas fazem parte do processo de Criação e de
interação contínua entre a força criativa e a realidade criada.
A força externa da linha é o poder de diferenciar e separar os diversos aspectos da
realidade, estabelecendo, assim, uma ordem hierárquica — alto e baixo — dentro
da Criação.
A força interna da linha é o poder de revelar a inclusão inerente aos diversos
aspectos da realidade, um dentro do outro, unindo-os, assim, como um todo vital.
Esta propriedade da letra Vav, em seu uso no hebraico, é denominada ―vav
hachibur‖, o ―vav da conexão‖ — ―e‖.
O primeiro Vav da Torá — ―No começo D‘us criou os céus e [vav] a terra‖ — serve
para unir espírito e matéria, céu e terra, por toda a Criação.
Este Vav, que aparece no começo da sexta palavra da Torá, é a vigésima segunda
palavra do versículo.
Ele alude ao poder de conectar e inter-relacionar todas as vinte e duas forças
individuais da Criação: as vinte e duas letras do alfabeto Hebraico, do alef até o
tav.
(A palavra ―et‖ [que aparece antes dos dois exemplos da palavra ―os‖ neste
versículo, e é escrita alef-tav] é geralmente considerada como representante de
todas as letras do alfabeto, de alef a tav. Nossos Sábios interpretam a palavra
neste versículo como uma inclusão de todos os diversos objetos da Criação
presentes no céu e na terra.).
O número seis também significa os seiscentos mil hebreus homens, com idades
entre 20 a 60 anos, que deixaram o Egito.
Além disso, representa a Torá porque a palavra Yisrael - é um acrônimo
significando: ―Ali há seiscentas mil letras da Torá" e se uma tetra da Torá
estiver faltando, quebrada ou rachada, D'us não o permita, o Rolo de Torá inteiro é
declarado não-casher — impróprio para ser lido.
Similarmente, se um hebreu se afasta de seu caminho, se esta perdido ou
profanado, toda a nação hebraica esta também carente ou profanada.
Somos considerados incompletos.
Encontramos outro exemplo de "seis" quando o povo hebreu estava no Egito e
oprimido pelo trabalho estafante.
O faraó engendrou muitas tramas contra o povo hebreu para que não se
multiplicassem. Porém os hebreus continuaram a se propagar numa taxa
inacreditável.
Na verdade, a Tora nos diz que as mulheres hebreias tinham seis filhos de uma
vez.
O mundo foi criado em seis dias — Os Seis Dias da Criação.
A primeira palavra da Tora é Bereshit - ("No principio"), que é composta de
seis letras.
Além disso a Torái declara claramente: "D'us criou seis dias".
Há também seis ―alefs‖ no primeiro versículo da Torá.
O primeiro Vav na Torá é encontrado no inicio da sexta palavra (―veet‖).
Portanto, a Criação esta conectada com o número seis.
Cada um dos seis dias foi criado com um atributo emocional diferente.
Além disso, a progressão desses seis dias é consistente com a declaração do
Talmud (que vimos no texto da letra Alef) que D'us criou o mundo (como sabemos)
para existir por 6.000 anos.
Se olharmos para cada dia da Criação, podemos observar cada um dos seis
milênios e seu atributo correspondente.
O primeiro dia da Criação foi Chessed — o atributo da bondade.
Este foi o dia em que D'us disse: "Que haja luz."
Essa luz era infinita, uma luz que a pessoa poderia potencialmente ter usado para
ver de um lado ao outro do mundo.
Por fim, porém, D'us reclamou aquela luz, pois Ele reconheceu que seu potencial
também poderia ser usado para o mal.
Alguém poderia perguntar: "Como poderia haver luz no primeiro dia se o sol e a lua
somente foram formados no Quarto Dia da Criação?"
A luz mencionada aqui é a concepção de D'us sobre luz como fonte do supremo
poder, visão, potencial e bondade. Esta luz foi armazenada e mais tarde dada aos
tsadikim (justos) de cada geração como espírito Divino para perceber o futuro e o
passado, e para conciliar vários problemas e dificuldades.
Além disso, nos primeiros mil anos, (correspondendo ao primeiro dia), as pessoas
tinham vidas muito longas (Adam, por exemplo, viveu 930 anos).
O conceito de Chessed, portanto, representa a bondade de D'us tanto ao criar a luz
infinita como em conceder vitalidade ao homem.
O Segundo Dia da Criação foi imbuído com Guevurá, contração e julgamento.
Este foi o dia em que D'us separou as águas invasivas nos âmbitos superiores e
inferiores.
Historicamente, o Segundo Milênio presenciou um julgamento severo contra os
habitantes do mundo.
Este período está repleto de dificuldades, começando com o Dilúvio, que D'us fez
para destruir o mundo inteiro (exceto Nôach e os habitantes da Arca).
Este período também incluiu o devastador episódio da Torre de Babel.
Uma geração inteira se rebelou contra D'us, construindo um torre para ascender
até o trono de D'us e destruí-Lo. D'us consequentemente "confundiu sua
linguagem" (Sobre este dia da Criação, a Torá declara as palavras ki tov ("foi bom")
duas vezes.), dando ao povo uma cacofonia de setenta idiomas para impedi-los de
conversarem uns com os outros.
A confusão resultante, chamada ―Bavel‖ ou ―Babel‖, significa ―confusa‖ ou
―obscurecida‖.
O Terceiro Dia da Criação foi um dia de Tiferet — ―beleza‖ e ―misericórdia".
Neste dia, as flores e gramas foram criadas, juntamente com todas as cores do
universo. O Terceiro Milênio viu a mão misericordiosa de D'us na redenção do povo
hebreu do Egito e a Outorga da Torá.
A Torá é chamada Tiferet, ou beleza.
A beleza não é monocromática ou monótona; é criada mesclando-se e
harmonizando várias cores ou sons.
Assim, a Torá é uma harmoniosa mistura de mandamentos positivos e negativos, e
uma síntese dos elementos espirituais e físicos da Criação.
Durante este período, recebemos também as mitsvot, mandamentos para
seguirmos os caminhos de D'us.
O Quarto dia da Criação foi Netsach, ―vitória‖ e ―resistência‖.
Este foi o dia em que D'us criou duas luminárias no céu, o sol e a lua.
Este foi o milênio no qual foram construídos os dois Templos Sagrados.
O Primeiro Templo Sagrado era espiritualmente maior — e assim comparado ao sol.
O Segundo Templo, que é comparado à lua, irradiava uma luz menos forte.
Além disso, o Talmud declara que Netsach está associado com Jerusalém, a cidade
do nosso destino, nossa fé e nossa suprema Redenção.
O Quinto Dia da Criação foi Hod.
Hod significa ―reconhecimento‖.
Pode também denotar ―devastação‖.
Este foi o dia no qual D'us criou os "monstros do mar" e o oceano começou a
enxamear com criaturas.
As aves também foram criadas neste dia e começaram a voar pelo céu.
O Quinto Milênio foi uma geração de massacres, expulsões e horríveis dificuldades
para o povo judeu.
Está declarado no livro de Eichá (Lamentações): "O dia inteiro foi devastador‖.
Devemos porém equilibrar a devastação de Hod, com o fato de que em toda esta
era, o povo judeu reconheceu apaixonadamente a D'us.
O quinto "dia" foi o milênio em que milhares de judeus, ao morrerem durante as
Cruzadas, clamaram ―Shemá Yisrael — D'us é nosso Senhor, D'us é Um."
O povo judeu, mesmo nas vascas da aniquilação, reconheceu Seu Criador.
O sexto dia da Criação foi Yessod, que significa tanto construir um alicerce quanto
conectar.
Este foi o dia em que Adam, o primeiro homem, o alicerce da raça humana, foi
criado. D'us primeiro formou o mundo inteiro e então trouxe o homem a ele.
Com isso aprendemos que é obrigação do homem formar uma conexão ou vínculo
entre o material e o espiritual, usando cada aspecto do mundo físico a serviço de
D'us.
Yessod também representa o Sexto Milênio.
Como explica a Chassidut, Adam é o protótipo de Mashiach, que é o homem
perfeito.
A palavra "Adam" é formada pelo ―Alef‖ (Guematria um) que representa o intelecto,
a primeira das dez faculdades da pessoa.
―Dalet‖, a segunda letra de Adam, é a primeira letra de ―Dibur‖, ou ―Fala‖.
―Mem‖ significa ―maasê‖, ―ação‖.
Assim Adam, ou Mashiach, será perfeito em pensamento, palavra e ação.
Além disso, o Or Hachaim escreve que ―as centelhas da Redenção começaram
primeiro a aparecer no ano 5009 do Sexto Milênio (o ano 1740 do Calendário
Gregoriano)‖.
Como o Talmud declarou que "todos os tempos afixados para a chegada de
Mashiach já passaram", cabe a nós intensificar os atos de bondade para introduzir a
chegada de Mashiach agora.
Vav [6], quando contado junto com seus números prévios, [o valor numérico das
letras] alef, , bet, guimel, dalet, hei [1-2-3-4-5], totaliza 21, e 21 ao quadrado [21x
21 = 441] é [o valor numérico da palavra] emet.
Vav [6] termina no mesmo dígito mesmo quando é multiplicado por si mesmo
qualquer número de vezes. 6 x 6 = 36, 6 x 36 = 216, 6 x 216 = 1296, e assim por
diante. O total sempre termina em 6.
[Seis] é integralmente igual a suas partes [i.e.,] sua metade [3], junto com um
terço [2], e um sexto [1], totalizam 6.
Em sua introdução a Tzemach David, Rabi David Ganz (1541-1613), erudito de
Torá, matemático especialista e astrônomo escreve: "O número 6 é um número que
permanece integral [mesmo] em suas partes, pois um sexto é um, um terço é 2 e a
metade é 3, e quando você acrescenta essas partes 1, 2 e 3, elas totalizam 6, que
é exatamente igual ao número original [6] sem resto ou menos. Você deveria saber
que entre [o] único dígito [números], nenhum outro número permanece integral
em suas partes, exceto o 6.
(Também 28 — e outros números — têm a mesma qualidade, [i.e., metade dele,
14, junto com um quarto, 7, um sétimo, 4, a décima quarta parte, 2, e a vigésima
oitava, 1, somam 28])
Nas dezenas [dígitos duplos] há 28, nas centenas [dígitos triplos] há 196, nos
milhares [dígitos quádruplos] há 8.124, e assim por diante.
Você deve também saber que o número 6 inclui as formas... [de tudo] no âmbito
da existência física. [Há] três formas, que são a circular, a quadrada e a
triangular...
Já é conhecido que o formato de um triângulo, antes de as linhas serem
desenhadas, é indicado por três pontos e um quadrado é indicado por quatro
pontos. Portanto você deveria saber que um círculo é indicado por seis pontos, pois
quando você faz um círculo com um compasso e mede todo o círculo ao redor, ao
longo de todo o percurso da perna do compasso, marcando [distâncias iguais] com
pontos, haverá um total de seis pontos.
Quando uma linha [equidistante] é então desenhada a partir de cada ponto até o
próximo, a medida de cada linha entre dois pontos é a mesma que a medida da
metade do diâmetro do círculo [i.e., o raio], e haverá 6 linhas, como o número de
pontos, etc."
Tudo que é físico tem seis direções [equivalentes aos pontos finais de suas três
dimensões, altura, comprimento e largura].
Para um ponto, linha e superfície [que carecem de todas as seis direções] são
apenas desenhos [mas não realidade].
O vav [que em hebraico serve como prefixo denotando "e"] combina opostos (como
no vav de vehanorá ["e o Impressionante" na primeira bênção da prece Shemoná
Esre , que o distingue dos atributos anteriores]).
Quando você inicia uma palavra com um vav, ["e"] isso acrescenta ao sujeito
anterior, e [também] separa do sujeito anterior.
Vav [como prefixo a um verbo passado ou futuro no Hebraico Escritural] converte o
passado para o tempo futuro e vice-versa [futuro em passado].
Vav quando grafado foneticamente — vav, alef, vav] tem o mesmo valor numérico
[13] de echad ["um"], pois [tem a função de] combinar e unificar.
Seis [vezes o raio de um círculo] totaliza [a circunferência] do círculo [ou três vezes
seu diâmetro, como vemos no Talmud:
"Tudo aquilo que tem a circunferência de três larguras da mão tem uma largura
[diâmetro] de uma largura da mão".
Aplicações:
O Vav é uma letra incrivelmente poderosa de conexão, de continuidade, de
unificação através do tempo e do espaço.
Quando o Vav se conecta conosco, é uma oportunidade para aprofundarmos nosso
senso de unidade e conexão com todas as coisas e com todas as eras.
Uma das doenças de nosso tempo é a sensação de desconexão.
Falta a muitos de nós uma intimidade mais profunda com o lugar físico em que
vivemos e com os animais, plantas, rios, montanhas, pedras e insetos que ele
contém.
Freqüentemente estamos desconectados de nossos vizinhos, familiares, amigos.
Às vezes estamos desconectados de nosso próprio corpo e de nossas emoções.
E estamos desconectados do mundo dos nossos antepassados.
Com freqüência nos sentimos desconectados de Deus.
Na verdade, passamos boa parte de nossas vidas tentando nos conectar de algum
modo, derrubar os muros da separação aparente.
O Vav, como uma das vinte e duas energias em forma de letra com que Deus criou
o universo, oferece o alento de que a conexão está profundamente embutida na
própria estrutura da criação.
A energia conectiva do Vav está embutida na mais sagrada forma do nome de
Deus, , Yud-Hei-Vav-Hei.
O Vav nos mostra que talvez não estejamos, na verdade, tão isolados quanto
imaginamos.
Como desenvolver, no nível físico, um senso de conexão semelhante ao Vav?
Uma das maneiras é tomando consciência de nossos pés.
Ali estão eles, na terra, conectando-nos com este planeta em rotação onde
vivemos.
Podemos, por alguns momentos, plantar nossos pés firmemente no chão e sentir o
poder da terra entrando em nosso corpo, mesmo com a gravidade nos puxando
para baixo.
Nossos pés formam o Vav da conexão, por estar na fronteira misteriosa, no limite
entre nós e o planeta.
Eles nos conduzem pela vida, percorrendo a superfície do mundo, e nos conectam
com toda a vida neste globo.
Mesmo quando não percebemos a interconexão, estamos sempre conectados.
É possível, na verdade, romper com a idéia de dualidade entre nós e o planeta e
experienciar nosso ato de caminhar como a própria terra caminhando, e nosso ato
de respirar, ativa ou passivamente como o planeta respirando.
Comer é um profundo ato de união.
As plantas, os animais e os líquidos que nosso corpo absorve misteriosamente se
transformam em "nós".
Na mesa da Páscoa, nós nos unimos aos nossos antepassados ao experimentar as
ervas amargas da aflição e a secura do matzah ázimo do deserto.
Foi provavelmente durante um seder de Páscoa que Jesus e seus discípulos
comeram a Última Ceia.
A partilha do matzah e do vinho por Jesus tornou-se o protótipo do sacramento da
comunhão.
Na verdade, sempre que comemos, bebemos ou mesmo respiramos, estamos
participando de uma comunhão, entrando em união com o sol, a chuva, o solo, a
força vital da planta ou do animal e também com as energias dos seres humanos
que cultivaram o alimento, o transportaram, o venderam e o cozinharam.
Em reconhecimento a tudo isso, os judeus observantes lavam as mãos e recitam
uma prece antes de cada refeição e orações de ação de graças depois.
Todo ato de comer ou beber é um milagre — um milagre de conexão.
Ao valorizar o alimento desse modo, nós alimentamos nossa consciência Vav ao
mesmo tempo que nutrimos nosso corpo.
Por sua energia de conexão e unificação, o Vav ajuda a curar um universo
fraturado.
A partir do rabino Isaac Luria, do século XVI, os cabalistas desenvolveram uma
idéia conhecida como "rompimento dos vasos".
No princípio, Deus emanava luz divina.
Para que essa luz estivesse acessível ao mundo finito, ela foi vertida em vasos
correspondentes às dez Sefirot, ou ramos, da Árvore da Vida.
Os vasos dos três ramos superiores conseguiram acomodar a luz, mas, ao entrar
nos ramos inferiores, o grande poder da luz divina foi demais para os vasos; eles se
romperam e a luz se dispersou.
Desde então, uma das responsabilidades fundamentais do ser humano é trabalhar
pelo tikkun — reparar os vasos e unificar os fragmentos de luz dispersos e exilados.
O aparecimento do Messias vai marcar a consumação desse processo permanente
de restauração.
Quando o último vaso se rompeu, a Shekhinah, o aspecto feminino e imanente da
Divindade, foi exilada.
O tikkun busca reunir a Shekhinah, a Divina Noiva, com o aspecto masculino e
transcendente da Divindade.
O estudioso Gershom Scholem afirma que "a verdadeira finalidade da Torah, de
certo modo", é levar a Shekhinah de volta à união com Deus.
O rabino Luria ensinou que o cumprimento de cada um dos 613 mandamentos deve
vir acompanhado de uma afirmação de que o ato é praticado em nome da união do
Santíssimo e da Shekhinah.
O rompimento dos vasos e o exílio da Shekhinah têm um paralelo na queda do
Jardim do Éden.
Com o rompimento dos vasos, a própria natureza de Deus se divide.
As partes masculina e feminina da Divindade, o transcendente e o imanente,
exilam-se uma da outra.
Não surpreende que nós, seres humanos, sintamos um vazio ou separação dentro
de nós mesmos.
Não surpreende a existência de tamanho abismo e tensão entre homens e
mulheres.
O Vav colabora com o processo de tikkun.
Ele concilia os opostos.
Como se diz, "Isto e aquilo são verdadeiros".
O Vav recolhe as centelhas dispersas da luz divina nas seis extremidades do
universo e também no passado e no futuro.
Quem seleciona o Vav está sendo chamado a participar do grande processo
unificador de tikkun.
Toda pessoa tem um papel-chave a cumprir na recuperação das centelhas da
divindade, na união da Noiva com o Noivo, desfazendo o abismo entre a mulher e o
homem.
O Vav nos inspira a tornarmo-nos agentes de conexão, de reunião, para ajudar a
preparar a era messiânica na qual termina o exílio, restauram-se os vasos da luz
divina e reinam a completude e a harmonia.
O Vav nos estimula a encontrar nosso papel específico no processo de restauração
da luz da criação.
Como vamos colaborar com o tikkun?
É nosso desafio e nosso destino.
Algumas pessoas tentam o tikkun olam, o "conserto do mundo", sob uma forma
bastante prática, por meio da participação política, da ação no meio ambiente e do
envolvimento comunitário.
Outros enfrentam o desafio do tikkun de modo mais místico.
O Vav comunica o caráter geral do processo, ou seja, conexão e unificação.
Com nossas preces e ações praticadas com kavanah, intenção, nós contribuímos,
cada um à sua maneira única, para esse trabalho cósmico de restauração.
A Sombra do Vav
Ficar "preso" é um dos lados negativos do Vav.
Todos os tipos de vício são uma espécie de excesso de conexão.
Estaremos viciados em novidades, em elogios, em trabalho, em estímulos, em
nossos melodramas pessoais?
Estaremos excessivamente identificados com uma outra pessoa?
É maravilhoso ter uma conexão profunda com alguém — mas essa conexão pode
facilmente descambar para uma co-dependência doentia.
O Vav serve para nos lembrar de cultivar e apreciar nossas conexões com os
outros, mas sem descuidar de cultivar também nossa individualidade própria e
única.
A carta Vav aparece numa consulta quando a pessoa está necessitando fazer algum
tipo de confissão.
Essa necessidade pode não ter nada a ver com "pecado" ou falhas.
Mas simplesmente, de tempos em tempos, todos nós precisamos admitir certas
verdades para nós mesmos, assumir nossos atos em voz alta e assumir a
responsabilidade pelo que fizemos.
O passado não deixará de atormentá-lo enquanto você não lidar devidamente com
ele; portanto, não espere ter o controle de sua vida.
Permita-se dizer o que precisa ser dito.
O resto é conseqüência.
Comentário:
Refere-se aos dois Hehs do Tetragrama, que são separados pela letra Vav.
Como os dois Hehs em YHVH possuem conotações diferentes, deve existir algo que
os liga.
É a letra Vav.
Na condição de prefixo, a letra Vav significa "e", sendo, portanto, uma ligação.
Em hebraico, a palavra Vav significa, também, gancho.
No Tetragrama, Yud está relacionado à coisa dada; o primeiro Heh, à mão que dá;
e o Heh final, à mão que recebe (ver verso 8).
Nesse contexto, Vav é o braço que se estende para dar, e a letra, é, portanto,
escrita na forma de um braço.
Isso é, também, o significado esotérico do fato que o cúbito, a extensão de um
braço, consiste de seis larguras de uma mão, indicado pelo Vav, o qual tem valor
numérico seis.
Comentário:
O valor numérico do Vav é seis, correspondendo às seis direções do universo físico.
O espaço físico tem três dimensões, e cada dimensão subentende duas direções.
As seis direções são leste, oeste, norte, sul, acima e abaixo.
Aqui, dá-se às letras do Tetragrama o seu significado no "continuum" tempo-
espaço, o qual tem sua correspondência no mundo espiritual.
Yud representa Chochmá-Sabedoria, que é a coisa dada, enquanto o Heh inicial é
Biná-Compreensão, a "Mão" que contém a coisa, de modo a dá-la.
No sentido do tempo-espaço, Yud é o passado, a coisa dada, enquanto o Heh inicial
é o futuro, que contém o que o passado lhe dá.
No intercâmbio entre passado e futuro está o "continuum" tridimensional do
espaço, consistindo de seis direções e representado pela letra Vav.
São essas as três primeiras letras do tetragrama: YHV.
Esses conceitos têm, igualmente, sua correspondência em um sentido conceituai,
espiritual.
O relacionamento mais primário possível é o que existe entre o Criador e a criação,
isto é, o relacionamento causa e efeito.
Causa e Efeito são representados por Keter-Coroa e Malchut-Reino, a primeira e a
última das Dez Sefirot.
Após o conceito de causa e efeito, outro conceito vem à existência: o dos opostos.
Todavia, para falarmos de opostos, devemos estar, também, habilitados a falar de
similaridades.
Assim sendo, dois novos conceitos vêm à existência, a saber, similaridade e
oposição.
Na linguagem da filosofia, trata-se de tese e antítese, enquanto que na
terminologia cabalística, esses dois são Chochmá-Sabedoria e Biná-Compreensão, o
Yud e o He iniciais do Tetragrama.
Ao falarmos em termos de similaridade e oposição, criamos ainda outro conceito,
ou seja, o de relacionamento.
Em termos filosóficos, trata-se da síntese entre a tese e a antítese.
Em nossa presente terminologia, é o Vav do tetragrama.
Nesse ponto, na seqüência lógica, temos cinco conceitos, isto é, causa e efeito, que
são Keter-Coroa e Malchut-Reino; similaridade e oposição, que são Chochmá-
Sabedoria e Biná-Compreensão; e relacionamento.
O conceito de relacionamento é expresso pelo Zer Anpin (Face Pequena),
examinado nos versos 53, 81 e 140.
Até o conceito do relacionamento ser introduzido, existiam apenas quatro pontos
abstratos, a saber, Keter-Coroa/Malchut-Reino e Chachmá-Sabedoria/Biná-
Compreensão.
Com o conceito do relacionamento, vem à existência um "continuum"
tridimensional conceituai, de seis direções, representado pelo Vav, que ora
examinamos.
Nessa representação, cada um dos quatro conceitos abstratos originais faz surgir
um relacionamento.
Conseqüentemente, Chochmá-Sabedoria faz surgir Chessed-Amor; Biná-
Compreensão faz surgir Guevurá-Força; Keter-Coroa faz surgir Tiferet-Beleza; e
Malchut-Reino faz surgir Yessod-Fundação.
Conforme observamos anteriormente (no verso 2), no sentido espiritual,
similaridade é proximidade, enquanto oposição é distância.
Todavia, para dar, o doador deve estar próximo ao receptor, e, assim sendo, no
sentido espiritual, deve haver um elemento de similaridade entre doador e
receptor.
Por isso, Chochmá-Sabedoria, que é o conceito de similaridade, faz surgir Chessed-
Amor, que é o conceito de conceder.
De modo oposto, Biná-Compreensão, que é diferenciação, faz surgir Guevurá-
Força, o conceito de restrição.
De maneira semelhante, Tiferet-Beleza se deriva de Keter-Coroa, o conceito da
causa. Para ser uma causa, deve dar a quantidade exata de existência, ou
motivação, necessária ao efeito.
Esse é o conceito de doação dosada, representado por Tiferet-Beleza.
Todavia, como Tiferet-Beleza é a síntese entre Chesed-Amor e Guevurá-Força, é,
em geral, representado abaixo desses dois.
Em geral, diz-se que Malchut-Reino, o conceito do efeito, é o elemento feminino da
criação. Sendo Yedsod-Fundação derivado de Malchut-Reino, é, naturalmente,
atraído por ele e motivado a se ligar a ele.
Por isso, diz-se que Yessod-Fundação corresponde ao órgão sexual.
Temos, portanto, quatro novos conceitos, a saber, Chessed-Amor, Guevurá-Força,
Tiferet-Beleza e Yessod-Fundação, derivados dos quatro originais.
Agora que introduzimos o conceito de relacionamento, esses quatro conceitos não
mais são meramente pontos abstratos no espaço conceituai, mas estão ligados pelo
conceito do "relacionamento".
Os dois pares são qual duas linhas que se cruzam, criando as quatro direções de
um "continuum" bidimensional.
Podemos, arbitrariamente, mostrar isso em termos de espaço físico.
Sendo a causa, normalmente, considerada "acima" de seu efeito, a dimensão que
liga Keter-Coroa e Malchut-Reino pode ser designada como a dimensão acima-
abaixo.
De modo semelhante, a relação Sabedoria-Compreensão pode ser designada como
a dimensão esquerda-direita ou leste-oeste.
Cria, então, um espaço conceituai bidimensional .
Mas, existindo o conceito de relacionamento, devemos falar, também, do
relacionamento entre as duas dimensões em si.
No exemplo conceituai do espaço, podemos dizer que uma linha é traçada entre as
duas linhas existentes. Observamos, imediatamente, que o relacionamento causa-
efeito, Coroa-Reino, era o relacionamento primário.
O relacionamento tese-antítese, Sabedoria-Compreensão, foi somente introduzido
para tornar possível o relacionamento causa-efeito.
O relacionamento Coroa-Reino pode, portanto, ser chamado de dimensão primária,
enquanto o relacionamento Sabedoria-Compreensão é a dimensão secundária.
Gera um conceito totalmente novo, isto é, as qualidades de ser primário ou
secundário.
Esses, por sua vez, formam uma nova, terceira dimensão, que pode ser atribuída à
dimensão diante-atrás.
Em sentido cabalístico, é a dimensão que liga Netzach-Vitória e Hod-Esplendor.
Com a introdução desses dois novos conceitos, está completo o Zer Anpin, com
suas seis Sefirot, a saber, Chessed-Amor, Guevurá-Força, Tiferet-Beleza, Netzach-
Vitória, Hod-Esplendor e Yessod-Fundação.
São essas as seis direções de um "continuum" conceituai, representado pelo Vav,
que ora examinamos.
Essas seis Sefirot, juntamente às quatro originais, formam, então, as Dez Sefirot.
As seis direções conceituais, representadas pelo Vav, correspondem às seis
direções físicas do "continuum" espacial.
Além disso, conforme explica o Sefer Yetzirá, Sabedoria-Compreensão delineia a
dimensão do tempo, enquanto Coroa-Reino representa a dimensão espiritual e
moral entre o bem e o mal. ,
Portanto, a criação consiste de cinco dimensões ou dez direções.
Sendo Keter-Coroa a mais próxima de Deus, diz-se representar o bem.
De modo oposto, sendo Malchut-Reino a mais afastada de Deus, pois é um efeito
receptor, diz-se, por isso, representar o mal.
Nesse contexto, dizemos que Chochmá-Sabedoria representa o passado, enquanto
Biná-Compreensão, o futuro. Sabedoria é similaridade e unidade, e há apenas um
passado. Compreensão é dissimilaridade e pluralidade, e há muitos futuros
possíveis. O fato de haver muitos futuros possíveis torna o livre-arbítrio viável.
Portanto, diz-se que Biná-Compreensão é a raiz suprema do livre-arbítrio e,
conseqüentemente, do mal.
Uma vez que o passado fertiliza o futuro, Sabedoria e o passado são machos,
enquanto Compreensão e o futuro são fêmeas.
Por isso, ensina-se que "Deus deu à fêmea Compreensão adicional".
Além do mais, temos conhecimento do passado, mas não do futuro.
O futuro, que é o elemento feminino, é, portanto, deficiente em conhecimento, e,
por isso, ensina-se que "as mulheres são fracas em conhecimento".
Isso está, também, relacionado ao motivo pelo qual as mulheres estão isentas dos
mandamentos dependentes do tempo.
Pergunta o autor: "Vav não é uma letra sozinha?"
Todas as seis Sefirot do Zer Anpin são, de fato, um único conceito, a saber:
―relacionamento".
Ele responde que os "céus" estão estendidos.
Embora seja um único conceito, é representado por seis conceitos independentes,
que são as suas seis Sefirot.
Por essa razão, a palavra hebraica para céu, Shamaim, está sempre no plural.
É o plural da palavra Sham, que significa "lá".
Portanto, literalmente, se refere a todos os lugares que possam ser considerados
"lá".
O conceito "lá", todavia, embora seja um único conceito, traz, também, implícitas
as seis direções.
Diz-se, portanto, que os céus estão "estendidos".
Comentário:
Aqui, encontramos a explicação básica de todos os antropomorfismos na Bíblia, e
em outros textos.
Embora saibamos que Deus é absolutamente incorpóreo, não possuindo corpo,
configuração ou forma, ensina-se que "Ele pede emprestado os termos de Suas
criaturas para expressar Seu relacionamento à Sua criação" (Mechilta, sobre Êxodo
19:18). Esses termos são usados alegoricamente, mas, ao mesmo tempo, cada um
possui significado definido em termos nas Sefirot.
O versículo diz ter sido o homem criado à "imagem de Deus", e isso significa que o
homem se assemelha às Sefirot na estrutura de seu corpo e de sua mente.
É especialmente verdadeiro à respeito da Personificação (Partzun) do Zer Anpin,
que é o Homem Divino.
Foi dito anteriormente, contudo, que as Sefirot do Zer Anpin são representadas
pelo Vav (ver verso 130), porque é formado de seis Sefirot. E surge a pergunta,
como podemos dizer que tem sete partes?
Responde-se que Malchut-Reino está, também, incluído, pois Yesod-Fundação e
Malchut-Reino estão ligados.
A palavra Ouvido (Ozen), tem a conotação de comunhão.
Em tempo de comunhão, quando Macho e Fêmea estão unidos, Vav se torna Zain.
Aqui, o ensinamento parece difícil de ser compreendido.
Computando os sete, ao invés de contar o "cônjuge" como o sétimo elemento, é
enunciado como "cabeça". Entretanto, de fato, isso está relacionado ao Bat, a
"Filha", onde Chochmá-Sabedoria é atraído para baixo através de Malchut-Reino.
Zer Anpin possui Chochmá-Sabedoria apenas quando está ligado à sua Noiva, e
somente então tem uma cabeça.
Isso está relacionado ao ensinamento talmúdico de que um homem está incompleto
enquanto não tiver esposa.
Vav tem a forma de uma linha, e um pequeno quadrado à esquerda.
A forma de Zain é uma linha, e um quadrado completo ao topo, que se estende à
direita e à esquerda.
Quando Zer Anpin é representado pelo Vav, tem apenas o hemisfério cerebral
esquerdo, que é Biná-Compreensão.
Quando é representado pelo Zain, os hemisférios cerebrais esquerdo e direito estão
presentes, indicando que tem tanto Chochmá-Sabedoria quanto Biná-Compreensão.
Quando ambos, Chochmá-Sabedoria e Biná-Compreensão, existem, sua confluência
gera Daat-Conhecimento, que os vincula ao corpo.
Por isso, a "cabeça" pode, também, ser computada.
Mas quando apenas Biná-Compreensão está presente, Daat-Conhecimento não
existe, e, como a cabeça não pode influenciar o corpo, não é computada no estado
do Vav.
Josy Eisenberg — A sexta das vinte e duas letras, a letra vav, corresponde ao V
francês.
Ela é interessante sob muitos aspectos, embora aparentemente seja uma letra que
signifique sobretudo e em primeiro lugar a coordenação: em hebraico, quando se
quer dizer "e", usa-se a letra vav.
Mas é muito mais do que isto se nos referimos à letra precedente, a letra hei, que
representa o espaço: a sexta letra, vav, conota de preferência o tempo.
J. E. — E quando isso aparece pela primeira vez na Torá é um gancho que permite
a construção do Tabernáculo: isto é muito importante.
Os ganchos que seguravam as tapeçarias do Tabernáculo se denominam em
hebraico vavim (plural de vav).
J. E. — Mesmo em Roma não havia essa divisão dos seis dias, mas um calendário
de dez dias.
A. S. — Para o judaísmo, o número 7 designa um tempo que está além dos seis
dias.
Com o shabat, sétimo dia, entra-se em outra dimensão.
De fato, e não somente por causa da Cabalá, conservamos o 6 em dois casos:
primeiro, o relógio; nossos relógios funcionam todos sobre o 6, e em geometria
têm-se os 360 graus e subdivisões em 90 e em 6 — é um círculo completo.
Quanto às horas, elas são igualmente múltiplos de 6.
Vinte e quatro: 4 vezes 6.
É toda uma concepção do tempo: um ciclo completo!
Eis por que este número designa sempre um mundo perfeito, uma estrutura
completa.
J. E. — Estas duas asas significam que o homem deve fazer um esforço para se
elevar como os pássaros, ele está sempre entre o céu e a terra; se ele para de
voar, ele cai.
É uma das lições da letra vav.
Zayin
Som: Z
Arquétipo: Zevulun.
Aplicação:
Lembre-se do sabbath, lembre-se de descansar.
Maneje a espada que protege aquilo que é precioso.
Sombra:
A sombra pode ser a preguiça, desânimo, falta de mobilidade (inércia), indulgência
excessiva (para si mesmo), excesso de agressividade
Indolência. Guerra e agressão sem motivo.
Reflexão:
Existe algo que eu deva eliminar para fazer jus ao que é realmente importante para
mim?
Ação sugerida:
Nesse fim de semana, comemore o sabbath de um modo que seja satisfatório e
significativo para você, reduzindo as tarefas e pressões do cotidiano a um mínimo.
Sefer Yetziyrah: “Ele fez a letra Zayin reinar sobre a locomoção, corou-a,
combinou-a com cada uma das outras e, com elas, formou: gêmeos no universo
Siyvan no ano e o pé esquerdo na Nefesh...” (S. Y. 5.9)
Comentários:
A palavra Zayin vem do aramaico e significa "arma".
Trata-se de uma letra de poder e de discernimento.
É o poder do livre-arbítrio que proporciona a escolha de fazer ou de não fazer.
Zayin força a se assumir, a tomar a responsabilidade.
O Bahir diz-nos, com relação ao valor numérico da palavra, que "ele corresponde
ao número de dias da semana. Isto para ensinar que cada dia possui seu próprio
poder".
O poder é liberdade e independência das forças criadas.
As letras Zayin e Resh regem, respectivamente, o mazal de Teomim (Gêmeos) e o
planeta Kochav (Mercúrio) que referem-se ao mês de Sivan (Maio/Junho).
Invertidas, temos a palavra hebraica ―raz‖, que significa "segredo" ou "mistério".
Somadas, temos a guematria 207, a mesma que ―Or‖ ("Luz").
Meditar nas letras do mês de Sivan é uma das práticas recomendadas para que os
segredos do universo sejam revelados através da Luz da Cabalá.
Zayin é a sétima letra do alfabeto hebraico, e sete é o número associado ao
Shabat, o casamente da Shechiná (Malchut, o mundo físico) com Zeir Anphim (o
mundo espiritual).
Como toda oportunidade de revelação espiritual conta com a presença da contra
inteligência à espreita, Zayin é também a espada com que nos defendemos da má
inclinação.
O Maguid de Mezritch, sucessor do Baal Shem Tov, nos ensina que o versículo,
―Uma mulher de valor é a coroa do seu marido‖, alude à forma da letra Zayin.
A letra anterior, Vav, representa a ―or yashar‖ (―luz direta‖) que descende de D’us
para os mundos.
O Zayin, cuja forma é parecida com a do Vav, embora com uma coroa no topo,
reflete a ―or yashar‖ do Vav como ―or chozer‖ (―luz de regresso‖).
―Or chozer‖ ascende com tamanha força que ela atinge um estado de consciência
mais elevado do que o do ponto de origem revelado do ―or yashar‖.
Ao alcançar a esfera inicialmente supra consciente de Keter (a ―coroa‖), ela
expande sua consciência para a direita e para a esquerda.
Na verdade, ―não existe nenhuma esquerda naquele Um Primordial [o nível de
Keter], pois tudo é direita‖.
Isto significa que a consciência de D’us (esquerda) neste nível inicialmente supra
consciente é indistinguível, em seu aspecto de conexão direta com D’us, da mais
elevada manifestação de amor a D’us (direita).
A experiência de ―or chozer‖, subsequente à consumação do processo criativo
inerente em ―or yashar‖, a criação do homem no sexto dia, é o segredo do sétimo
dia da criação — o Shabat.
A ―Rainha Shabat‖, que, geralmente, representa a mulher em relação ao homem —
―a mulher de valor é a coroa de seu marido‖ — tem o poder de revelar em seu
marido sua própria coroa supra consciente, a experiência do prazer sereno e da
vontade sublime inatas ao dia do Shabat.
―Quem é uma boa [literalmente, ―kosher‖] mulher? Aquela que faz a vontade de
seu marido.‖
A Chassidut explica a palavra ―faz‖ também significa ―retifica‖, conforme dito na
conclusão do relato da Criação (o estabelecimento do sétimo dia, o Shabat):
―que D’us criou para fazer‖ — ―fazer‖ no sentido de ―retificar‖ (implicando, assim,
que D’us nos deu a tarefa de completar a retificação de Sua Criação), conforme
explicado pelos Sábios.
Assim, a ―mulher kosher‖ é aquela que retifica a vontade de seu marido ao elevá-lo
a uma nova consciência das esferas anteriormente supra conscientes da alma.
Aplicação
, zakor, "lembrar", começa com Zayin.
"Lembra-te do dia do sábado, para o santificar" foi um dos Dez Mandamentos, ou
dez "pronunciamentos", que Moisés trouxe do monte (Êx. 20:8).
Ao respeitar, sob a forma que nos parecer apropriada, o sabbath, nós nos
lembramos dele, no sentido de recolher.
No Shabbat, nós nos recriamos lembrando-nos da criação.
Uma das maneiras de fazer isso é saindo do mundo da agitação, dos horários de
comércio e de trabalho, da própria modernidade, e entrando no santuário do tempo
sagrado.
Durante o Shabbat, nós descansamos e acolhemos em nossa vida o aspecto
feminino da Divindade — a Shekhinah, a Rainha do Sabbath.
Escolher o Zayin pode indicar um momento de recolher-se, de ficar mais perto de
casa, com a família e os amigos, de estar com a natureza, de afastar-se dos
negócios mundanos, de estudar, rezar e cantar.
O Talmud diz:
"O que foi criado no sétimo dia? A tranqüilidade, a serenidade, a paz e o repouso".
O Zayin representa um momento de voltar-se para o sabbath íntimo, para a sétima
direção, a direção interior, e cultivar a paz.
É também um momento de diversão!
Em seu clássico livro O Sabbath, Abraham Joshua Heschel ensina:
"Ao contrário do Dia do Perdão, o Sabbath não é dedicado exclusivamente a metas
espirituais".
É um dia do corpo e da alma.
"O conforto e o prazer constituem parte integrante da observância do Sabbath."
O Talmud diz: "Santifique o Sabbath com refeições seletas, com roupas bonitas; dê
prazer a sua alma e eu o recompensarei por esse mesmo prazer".
Vimos que o Zayin nos convida a lembrar.
Tradicionalmente os iroqueses se lembram não apenas dos antepassados como
também dos que ainda virão.
Ao tomar uma decisão importante, eles pensam nas crianças que vão nascer sete
gerações mais tarde.
Como essa decisão as afetará?
O Zayin nos lembra de nos retirar do dia-a-dia e observar nossa vida dessa
perspectiva.
O que precisamos ajustar na nossa vida atual para melhor servir a sétima geração,
que, para nós hoje, são as crianças do século vinte e um?
Shmitah, o ano sabático, ocorre a cada sete anos.
Shmitah é o período de descanso do solo, de repouso da terra.
Quando aparece em nossas mãos, o Zayin pode significar um momento de adotar
alguma forma de sabático, dar-nos um tempo, renovar nossas perspectivas e
saborear um pouco a liberdade.
Para ter liberdade, porém, normalmente é preciso lutar para conquistá-la, e depois
defendê-la.
É nesse ponto que o Zayin enquanto arma se liga às pacíficas qualidades sabáticas
da letra.
Para proteger nosso sagrado momento de Shabbat, precisamos manejar a espada
que guarda as fronteiras.
Precisamos defender o precioso espaço da alma, proteger os aspectos femininos de
nós mesmos e a natureza, que pode estar ameaçada pelas demandas das outras
pessoas e de nossa cultura apressada e materialista, com seus resquícios
patriarcais.
Como é fácil esquecer-se de lembrar-se do sabbath — em sentido literal e figurado.
O Zayin é um apelo à incisividade, àquela aguda clareza da mente e da intenção
que protege o que é precioso.
Robert Bly diz, em João de Ferro: "Mostrar a espada não significa necessariamente
lutar. Pode sugerir também uma alegre determinação".
Quando Adão e Eva foram expulsos do Jardim do Éden, foi colocada na entrada
uma espada flamejante, circundando e protegendo a Árvore da Vida.
Todos nós trazemos a espada flamejante que guarda a árvore da vida interior.
Quando estamos determinados a respeitar aquilo que é verdadeiramente
importante para nós, eliminando tudo o que não for, nós manejamos habilmente a
espada do Zayin.
William Blake invoca a inspiração de Zayin em seu prefácio a Milton:
"Não abandonarei minha Luta Mental / Nem minha Espada descansará em minhas
mãos / Enquanto não construirmos Jerusalém / Na verde e aprazível terra inglesa"
A escolha da letra Zayin é uma convocação para a luta.
É o desafio de manter-nos alertas e vigilantes e não nos deixar atrair para o sono
pelo canto de sereia do comércio e do materialismo.
Nós temos uma oportunidade permanente de construir Jerusalém, Yerushalayim —
a "visão do Shalom", a cidade da paz — aqui mesmo, neste momento, exatamente
onde estamos.
A Sombra do Zayin
O sabbath ocorre apenas uma vez a cada sete dias.
Parte de sua beleza está no contraste com o resto da semana.
Basta um excesso de descanso e prazer, de refeições seletas e vestes bonitas, e
nossa vida rapidamente perde o equilíbrio.
A preguiça e a indulgência excessiva são duas armadilhas que é preciso ter em
mente quando se seleciona o Zayin.
Uma outra armadilha é a do excesso de agressividade.
É importante manejar a espada que defende as fronteiras e protege o que deve ser
protegido, mas sem tornar-se violento e paranóico.
O Zayin evoca a parte da natureza humana que é ávida pela guerra, que é sedenta
de sangue, que justifica a agressão em nome de todas as formas de ideologia e
racionalizações.
Quando selecionamos o Zayin, é um lembrete de que a tendência obscura para a
guerra e para a violência está em cada um de nós.
Quando admitimos a presença dessas tendências destrutivas em nossa natureza,
somos capazes de evitar levá-las à prática ou projetá-las num "outro" qualquer.
Textos Complementares
Como Zayin é a sétima letra do alfabeto hebraico, faz sentido que o mandamento
para observar o dia do descanso, o Sabbath (que, no judaísmo, é o sétimo dia da
semana), comece com a palavra Zachor ("lembrar").
Por que esse mandamento diz para "lembrar" e "santificar" em vez de "fazer"
alguma atividade?
E por que a passagem acima também diz que não apenas os chefes de família
devem deixar de trabalhar, mas também todo o círculo ampliado da família —
incluindo os animais?
Abraham Joshua Heschel, um dos mais importantes filósofos judeus do século XX,
escreveu que o Sabbath nos traz para a esfera do tempo e nos afasta da esfera do
espaço.
Como passamos a vida inteira vendo o mundo em termos de objetos físicos —
coisas que desejamos possuir, lugares que queremos ver e assim por diante — é
importante tirar um dia para enfocar objetos invisíveis como "momentos sagrados"
no tempo.
Você não consegue ver, tocar ou ouvir uma experiência espiritual, mas você a sente
num nível superior e pode recordá-la todos os dias pelo resto de sua vida.
Se você escalasse até o topo de uma montanha e incluísse na visão a sensação que
você teria — a consciência da beleza da natureza —, seria uma experiência de
tempo e não de espaço.
Você aprecia a paisagem física, sim, mas seu sentimento de comunhão com aquele
mundo físico é totalmente espiritual.
Isso é o que acontece no sétimo dia da criação: Deus criou o céu e a terra, os
mares, os animais, as plantas e a raça humana; e finalmente, no sétimo dia, Ele
lança um olhar sobre tudo que fez, decide fazer uma pausa e faz dessa pausa uma
parte regular do ritmo da vida na terra — uma parte sagrada.
O Sabbath é a primeira coisa de toda a criação que foi descrita como "sagrada".
Mas como você pode santificar algo que não é físico?
Como pode um dia, que não é nada mais do que um conceito mental que usamos
para marcar o tempo e observar o curso da história, tornar-se um objeto sagrado?
Heschel respondeu que celebrar o Sabbath é uma maneira de celebrar a
"sacralidade do tempo", uma maneira de assumir o controle sobre nossa vida e nos
voltarmos para nós mesmos.
E para fazermos isso, nós temos não apenas que parar de trabalhar fisicamente,
mas também que nos colocar em um ambiente onde tudo ao redor e todos que
fazem parte de nossa vida, também façam essa pausa.
Durante seis dias da semana, nós utilizamos as nossas capacidades para dominar o
mundo ao nosso redor — trabalhando, construindo, criando novos objetos e coisas
desse tipo.
É importante, então, usar o sétimo dia para construir a nós mesmos, parar de
trabalhar e simplesmente contemplar a beleza do mundo ao nosso redor.
É como se toda a semana fosse a escalada para o topo da montanha e o Sabbath
fosse a pausa que fazemos quando chegamos ao topo — onde podemos finalmente
ver tudo de uma nova perspectiva.
Em todas as religiões, existe um Dia de descanso, embora varie de tradição para
tradição quanto a qual o dia da semana.
O que é comum a todas elas é a idéia de um dia santificado e destacado do resto
da semana.
O conceito de um dia de descanso também faz parte da Cabala — é a própria
essência da lei da limitação, a disposição de nossa vida que nos permite ganhar
muito mais simplesmente fazendo menos.
ZoMEIM – ―O homem mau conspira contra o justo e range seus dentes para ele.
Meu Senhor (Hashem) rir-se dele, já que Ele viu que o seu dia se aproxima.‖
O assunto do qual esses versos tratam é dessa forma: É difícil entender de onde
um pensamento estranho se origina em uma pessoa justa, se ela ora com grande
devoção.
Não tem os nossos Rabinos de memória abençoada dito em Yoma 38b que ―o que
vem ser purificado é dado divina assistência?‖
O que se segue dará uma resposta à pergunta: Quando aconteceu a quebra, a
destruição dos vasos (à época da criação), as chispas (mesmo que faíscas) dos
Neshamos caíram dos mundos, mas através das orações dos justos, elas subiram
pouco a pouco, passo a passo. Assim, quando uma pessoa justa se levanta em
oração e se liga à medida espiritual em que ela está atualmente, um pensamento
estranho cairá em sua direção vinda daquela medida.
Conseqüentemente, quando a pessoa chega a um nível espiritual muito mais
superior, um pensamento estranho cai até chegar à pessoa vinda da atual medida
espiritual em que ela se encontra.
Porém, uma pessoa justa precisa saber de qual medida e de qual mundo esse
pensamento estranho vem.
Ela também precisa saber como elevá-lo àquele mundo e a medida em que ela está
atualmente; mas o problema é que as vezes a pessoa justa deseja elevá-lo, mas
ela não se sente capaz em fazê-lo.
A razão para isto é que um pensamento estranho cai até a pessoa de um nível
espiritual mais elevado que ela ainda terá de alcançar; entretanto, isso se torna
impossível para ela elevá-lo pelo fato da pessoa se encontrar atualmente em um
nível inferior do que o nível do pensamento estranho se originou.
Ainda assim, a pergunta necessita de mais esclarecimentos: Por que o pensamento
estranho vem a essa pessoa antes do tempo?
Saiba, pois tenho um costume (palavras de Rabbeinu), que quando há um conflito
com uma determinada pessoa justa, um pensamento estranho cai daquele conflito
para outra pessoa justa; mas pelo fato da pessoa desejar elevá-lo, ela realmente
não consegue, ela freia com força– o desejo de todos aqueles que criam conflitos.
Esse é o significado do verso: “O homem mau conspira” – significado para pensamento
estranho. “Contra a pessoa justa e range seus dentes para ela” – significa que a pessoa
justa deseja elevar o pensamento estranho.
‖Mas Hashem rir-se dela, pois Ele tem visto que o seu dia se aproxima‖ – significa
que ela ainda tem que alcançar o nível espiritual do qual um pensamento estranho
se origina. Portanto, de onde um pensamento estranho procede?
O versículo seguinte explica: ―O homem mau tirou a espada‖-Rashi explica a
palavra espada como uma terminologia de guerra; significando que uma disputa
tem se suscitado a uma certa pessoa justa.
O versículo após essa passagem continua ―A espada delas‖...isso quer dizer ―no
coração dessa pessoa justa, mas por tanto desejar elevar o pensamento estranho
com o poder dessa vontade de querer agir assim, ―e seus arcos serem quebrados‖,
ou seja, a disputa será quebrada como previamente foi explicada aqui.
(LM 1:96)
Comentário:
As seis primeiras das sete Sefirot inferiores, desde Chessed-Amor à Yessod-
Fundação, estão personificadas como Zer Anpin (Face Pequena), o arquétipo da
personificação masculina (ver verso 81 e 140).
Essa personificação masculina é o "Homem no trono", avistado por Ezequiel:
"E sobre essa forma de trono, havia a semelhança da aparência de um Homem"
(Ezequiel 1:26).
Embora as sete Sefirot inferiores incluam, também, Malchut-Reino, o elemento
feminino, o autor fala agora a respeito de um nível antes da fêmea ser extraída do
macho.
Esse nível corresponde a Adão antes que Eva fosse extraída dele.
O "Macho", representado pelo Zain, está no Universo de Atzilut-Proximidade,
enquanto o Trono está no Universo de Beriyá-Criação, que é, também, o mundo
das almas.
Nesse sentido, Heh é um trono para Zain.
Em outro sentido, Heh representa Biná-Compreensão, a Mãe do Macho, que é,
também, a raiz das almas (ver verso 51).
É o primeiro Heh do Tetragrama (ver comentário sobre verso 29).
A alma contém cinco níveis, e esses níveis correspondem às Sefirot e Universos na
maneira apresentada no Quadro seguinte:
Dessas cinco, apenas as três mais inferiores estão envolvidas com o "ser" do
homem.
As duas mais elevadas, Chayá-vitalidade e Yechidá-Singularidade, são consideradas
Envoltórios (makifin), que não influenciam diretamente o homem.
Uma razão para isso é que o mais elevado dos dois níveis existe em um plano
acima do tempo (ver comentário sobre verso 51).
Esses níveis entrarão no "ser" do homem apenas no Mundo Vindouro.
O conceito dessas partes da alma pode ser compreendido por intermédio da
analogia a um soprador de vidro.
Um sopro deixa os lábios do soprador de vidro, viaja pelo seu tubo de sopro como
um vento e, afinal, descansa no objeto que ele está formando, modelando-o da
maneira que deseja.
O sopro é Neshamá-Sopro, que possui seu significado literal.
Está indicado no versículo "E Deus soprou em suas narinas um sopro (Neshamá) de
vida" (Gênese 2:7).
É transmitido abaixo para o homem sob a forma de um "vento", que é o nível de
Ruah-Espfrito do Vento.
Quando descansa no homem, é chamado Nefésh-Alma, que se origina da raiz
Nafash, "descansar".
Nesse esquema, o nível de Chayá-Vitalidade representaria o sopro antes mesmo
que deixe o Soprador, enquanto ainda é parte integrante de sua força vital.
O nível de Yechidá-Singularidade, seria o próprio desejo que O move a soprar.
Já foi observado que Bet representa Chochmá-Sabedoria, o sustento de todas as
coisas. A chave para esse ensinamento é a letra Heh, que é inferior a Zain, seu
trono, e, ao mesmo tempo, está acima dele.
Similarmente, embora o ouro seja mais valioso que a prata, está manifesto em
nível inferior.
O motivo para isso envolve importante conceito.
O principal propósito de Deus na criação era o de dar.
Sendo impossível à criação aceitar tudo o que Deus tem para dar, Ele deve,
também, restringir.
O conceito de restrição, portanto, preenche uma função secundária na criação.
Prata e Chessed-Amor representam dar, estando, portanto, em nível mais elevado
que ouro e Guevurá-Força, que representam restrição.
Mas, embora dar seja mais elevado que receber, o que está restrito é sempre maior
do que o dado. Na verdade, o motivo disso é reservado precisamente porque é
muito elevado para ser dado.
Portanto, aquilo que é dado é prata, enquanto o que reservado é o tão valioso ouro.
Isso é evidenciado pelos cinco níveis da alma, onde os dois mais elevados são
reservados.
No sentido que está aqui representada, a palavra HaZahav ("ouro", HZHV) é, de
fato, uma inversão do Tetragrama YHVH, com Zain substituindo Yud. 53. Por que
é [o ouro] chamado ZaHaV?
Porque inclui três atributos, [que são aludidos nas suas três letras, Zain,
Heh, Bet].
[0 primeiro atributo é] Macho, (Zachar). Esse é Zain.
[O segundo é] a Alma. Esse é Heh.
[0 valor numérico de Heh é cinco, fazendo alusão aos] cinco nomes da
alma: Nefesh, Ruach, Neshamá, Chayá, Yechidá.
Qual é o propósito do Heh?
É um trono para Zain.
Está, portanto, escrito (Eclesiastes 5:7): "Pois um zela acima do outro."
Bet é seu sustento. Está, portanto, escrito (Gênese 1:1): "No (Bet)
princípio [Deus] criou..."
Comentário:
As seis primeiras das sete Sefirot inferiores, desde Chessed-Amor à Yessod-
Fundação, estão personificadas como Zer Anpin (Face Pequena), o arquétipo da
personificação masculina (ver verso 81 e 140).
Essa personificação masculina é o "Homem no trono", avistado por Ezequiel:
"E sobre essa forma de trono, havia a semelhança da aparência de um Homem"
(Ezequiel 1:26).
Embora as sete Sefirot inferiores incluam, também, Malchut-Reino, o elemento
feminino, o autor fala agora a respeito de um nível antes da fêmea ser extraída do
macho.
Esse nível corresponde a Adão antes que Eva fosse extraída dele.
O "Macho", representado pelo Zain, está no Universo de Atzilut-Proximidade,
enquanto o Trono está no Universo de Beriyá-Criação, que é, também, o mundo
das almas.
Nesse sentido, Heh é um trono para Zain.
Em outro sentido, Heh representa Biná-Compreensão, a Mãe do Macho, que é,
também, a raiz das almas (ver verso 51).
É o primeiro Heh do Tetragrama (ver comentário sobre verso 29).
A alma contém cinco níveis, e esses níveis correspondem às Sefirot e Universos na
maneira apresentada no Quadro seguinte:
Dessas cinco, apenas as três mais inferiores estão envolvidas com o "ser" do
homem.
As duas mais elevadas, Chayá-vitalidade e Yechidá-Singularidade, são consideradas
Envoltórios (makifin), que não influenciam diretamente o homem.
Uma razão para isso é que o mais elevado dos dois níveis existe em um plano
acima do tempo (ver comentário sobre verso 51).
Esses níveis entrarão no "ser" do homem apenas no Mundo Vindouro.
O conceito dessas partes da alma pode ser compreendido por intermédio da
analogia a um soprador de vidro.
Um sopro deixa os lábios do soprador de vidro, viaja pelo seu tubo de sopro como
um vento e, afinal, descansa no objeto que ele está formando, modelando-o da
maneira que deseja.
O sopro é Neshamá-Sopro, que possui seu significado literal.
Está indicado no versículo "E Deus soprou em suas narinas um sopro (Neshamá) de
vida" (Gênese 2:7).
É transmitido abaixo para o homem sob a forma de um "vento", que é o nível de
Ruah-Espfrito do Vento.
Quando descansa no homem, é chamado Nefésh-Alma, que se origina da raiz
Nafash, "descansar".
Nesse esquema, o nível de Chayá-Vitalidade representaria o sopro antes mesmo
que deixe o Soprador, enquanto ainda é parte integrante de sua força vital.
O nível de Yechidá-Singularidade, seria o próprio desejo que O move a soprar.
Já foi observado que Bet representa Chochmá-Sabedoria, o sustento de todas as
coisas. A chave para esse ensinamento é a letra Heh, que é inferior a Zain, seu
trono, e, ao mesmo tempo, está acima dele.
Similarmente, embora o ouro seja mais valioso que a prata, está manifesto em
nível inferior.
O motivo para isso envolve importante conceito.
O principal propósito de Deus na criação era o de dar.
Sendo impossível à criação aceitar tudo o que Deus tem para dar, Ele deve,
também, restringir.
O conceito de restrição, portanto, preenche uma função secundária na criação.
Prata e Chessed-Amor representam dar, estando, portanto, em nível mais elevado
que ouro e Guevurá-Força, que representam restrição.
Mas, embora dar seja mais elevado que receber, o que está restrito é sempre maior
do que o dado. Na verdade, o motivo disso é reservado precisamente porque é
muito elevado para ser dado.
Portanto, aquilo que é dado é prata, enquanto o que reservado é o tão valioso ouro.
Isso é evidenciado pelos cinco níveis da alma, onde os dois mais elevados são
reservados.
No sentido que está aqui representada, a palavra HaZahav ("ouro", HZHV) é, de
fato, uma inversão do Tetragrama YHVH, com Zain substituindo Yud.
Comentário:
Aqui, a lição importante é que o nome de cada coisa é sua essência espiritual, e
está intimamente relacionado à sua entidade física.
Josy Eisenberg — A letra zain tem uma importância particular, pois ela representa o
número 7, um verdadeiro número de ouro no judaísmo.
Esta letra é muito ambígua.
Por um lado, zain representa, em sua grafia, uma espada, portanto a guerra, e por
outro a raiz "z-n" significa o alimento, alimentar-se — maZoN: é a vida.
Adin Steinsaltz — Visualmente, zain é um vav (sexta letra) com, além disso, uma
coroa na cabeça.
Mas além dos dois sentidos que o senhor evocou, a espada e o alimento, e outros
mais, zain representa um adorno.
É uma letra decorada: um vav com um adorno por cima.
Um vav coroado, um vav, especial.
- De 6 a 7
A. S. — Mas por outro lado, de modo bem contraditório, existem estas duas
significações da palavra zain, desta raiz: a guerra e o alimento!
- A vida: um combate
J. E. — Alguns comentadores dizem que ele tem a forma de um punhal, pois a vida
é um combate permanente.
Seria então preciso um punhal para avançar na vida.
J. E. — Quando rezo, exerço uma pressão sobre Deus: seria uma forma de combate
na qual a prece se torna espada?
A. S. — Como prece, a espada está ligada à questão da vida, da morte e do amor.
Penso em um célebre provérbio talmúdico: "Enquanto nos amávamos, poderíamos
ter dormido tranquilamente sobre o fio de uma espada; mas agora até mesmo uma
cama de cinquenta metros de largura não nos seria mais suficiente!".
A. S. — Os livros antigos falam dos sete planetas que fixam o tempo e são sempre
ligados aos sete dias da semana.
Existem numerosas ocorrências deste número 7: é o que vem acrescentar um a
mais.
Um provérbio diz: "Todos os sétimos são preciosos".
Em outras palavras, 7 é um número especial.
Por outro lado, assim como há o sétimo dia, há também o sétimo ano: o ano
sabático — a shemitá.
Seis anos comuns e depois chega o shabat da terra.
E enfim o jubileu: sete vezes sete anos, seguidos do quinquagésimo.
O ano sabático se assemelha ao shabat: não se faz nada, não se cria.
O ano sabático tem algo em comum com o duplo aspecto da morte.
A morte, por um lado, é uma destruição da vida.
Por outro, ela leva à transcendência: morro aqui embaixo para ir mais alto...
Do mesmo modo, o ano sabático permite elevar-se mais.
Certamente, por um lado, a terra está em repouso, porém, por outro, o ano
sabático consiste em devolver sua posse ao seu verdadeiro dono: o Santo-bendito-
seja.
No sétimo ano, as vacas, os bezerros, os tigres e os leões, todos os animais têm o
direito de usufruir de minha terra: deixo de ser seu proprietário.
Em outras palavras, se o zain é uma espada, ela tem por função pôr um fim ao
instinto de propriedade.
- O pão e a guerra
J. E. — Pode-se dizer que as prostitutas são coagidas a exercer esta atividade pela
falta de alimento?
- A letra da santidade
J. E, — Voltemos à santidade.
O Gaon de Vilna demonstrou que "tudo o que está ligado à santidade do shabat se
traduz pelo número 7".
Analisemos os elementos que representam o shabat.
Pão de shabat: chalá — valor numérico: 8 + 30 + 5 = 43, ou seja: 4 + 3 = 7.
Vela: ner — valor numérico: 250, ou seja, 2 + 5 = 7.
Carne: basar — valor numérico: 502, ou seja, 5 + 2 = 7.
Peixe: dag — valor numérico: 4 + 3 = 7.
Vinho: iain — valor numérico: 10 + 10 + 50 = 70, ou seja, 7.
A. S. — No dia do casamento, segurando uma taça de vinho que o casal vai beber,
o rabino recita 7 bênçãos após as quais o casal será proclamado unido diante de
Deus.
Uma vez mais, o número 7 conota a perfeição e a conclusão.
O amor, o casamento e a procriação constituem a finalidade última imposta a cada
homem e a cada mulher desde Adão e Eva.
Colocado sob o signo do 7, o casamento fecha assim o ciclo do zain, que tínhamos
iniciado com o shabat, sétimo dia da semana; ele também é signo de alegria e
plenitude.
Chet
Conceito: Chet nos remete a visão, e quando falamos em visão não nos referimos
apenas ao ato de ver.
Visão é percepção. Percepção da existência.
A liberdade é questão fundamental dentro de um caminho espiritual.
E o que significa liberdade?
Ela é basicamente a liberdade de visão. Ser livre para ver implica em ser livre da
percepção superficial do mundo manifesto, o que significa ser livre da primeira
visão.
Chet evoca um lugar fechado onde as forças devem aprender a viver juntas.
Esta letra nos permite exceder as limitações para chegar a trancedência.
Chet designa uma barreira, que separa o interior do exterior.
É uma letra de discriminação, marcando a separação entre as coisas de valor e as
coisas vazias.
Uma outra conexão do Chet é vitalidade, inicial de vida (Chay).
Chet simboliza o equilíbrio universal, é um reservatório de energia e de força vital.
Chet é um elemento de separação colocado voluntariamente a fim de instalar a
harmonia.
Formato: A letra Chet é uma cerca. Chet também simboliza a união, o casamento,
pois é a junção de um Vav, que representa o homem, e um Zayn, que representa a
mulher.
Rav Isaac Luria nos ensina que a forma de Chet é a reunião de um Zayin com um
Vav à direita., ou seja, assim o Chet torna-se uma força capaz de reunir as
divergências do Zayin e do Vav, do feminino e masculino.
Simboliza a Chupá (Tenda) do casamento.
Arquétipo: Reuven.
Aplicação:
Entrar num nível superior, levar as coisas para uma nova oitava.
Atravessar um portal em direção a novos inícios.
Sentir o medo e ainda assim fazer.
Sombra:
Incapacitar-se por medo.
Sempre buscar o novo.
Perder-se em arrogância, grosseria, agressividade.
Reflexão:
Em que chupah metafórico estou entrando, ou em qual estou agora, ou de qual
estou saindo?
Por que transformação estou passando?
Ação sugerida:
Faça hoje alguma coisa que exija um certo chutzpah (Atrevimento).
Sefer Yetziyrah: “Ele fez a letra Chet reinar sobre a visão, coroou-a, combinou-a
com cada uma das outras, e com elas formou: Câncer no Universo, Tamuz no ano e
a mão direita na Nefesh...” (S. Y. 5.10)
Comentários:
Na etimologia tradicional Chet é "enclausuramento", lugar fechado onde as forças
devem aprender a viver em conjunto ou a se destruir.
Esta é a razão pela qual a palavra "Chet" quer dizer ao mesmo tempo "pecado " e
"purificação".
A destruição das forças é o pecado, a harmonia das forças a purificação.
O Bahir fala-nos da forma do Chet de seguinte maneira:
"Todas as direções estão fechadas com exceção da abertura ao norte a fim de por
ali deixar penetrar seja o bem seja o mal".
O texto do Bahir confirma a dupla natureza de Chet.
Chet é a oitava letra do alfabeto e oito é um número ligado à transcendência da
experiência física, a comunhão com a Shechiná.
Em sua forma, temos uma letra Zayin (a mulher/Malchut) e uma letra Vav (o
homem/Zeir Anphin) unidas.
Não é por acaso ser Chet a inicial de ―chupá‖, a tenda que recebe um casal durante
a cerimônia de casamento (lembre-se que também nos referimos a estas duas
letras na construção da palavra ―Tamuz‖, ou seja, quando partimos a palavra
―Tamuz‖, temos ―Tam‖, que significa "unir", mais as letras Vav = homem e Zayn =
mulher).
Chet evoca coisas positivas, como ―chen‖ ("graça"), ―chayim‖ ("vida") e ‗chadash‖
("novo"), mas também um alerta: ―chayt‖ ("pecado"), que pode ser evitado se
houver ―chitah‖ ("temor").
Pecado, para a Cabalá, não é a falta.
Adam não pecou ao comer do fruto proibido.
Pecou, sim, ao transferir a culpa de sua falta para Chavá (Eva).
Chayt significa, literalmente, "perder a marca" ou, em outras palavras, ―viver uma
Mentira‖.
A ―marca‘ a que chayt se refere é a letra ―Tav‘.
Chet é a letra da vida (chaim, da raiz chayah, cuja a letra mais importante é o
chet).
A Chassidut ensina que existem dois níveis de vida — a ―vida essencial‖ e a ―vida
que vivifica‖.
D‘us, Ele próprio, está no estado de ―vida Essencial‖.
Seu poder de criação permeando continuamente toda a realidade é ―vida que
vivifica‖. Assim é também na nossa alma: a essência de sua raiz, que é uma com
D‘us, possui o estado de ―vida essencial‖.
O reflexo da luz da alma que brilha aqui embaixo para vivificar o corpo e sua
experiência física está no nível da ―vida que vivifica‖.
O segundo nível de vida, a vida como nós geralmente a conhecemos, se manifesta
como pulsação, o segredo de ―ir e vir‖.
De acordo com o Arizal, a letra Chet é formada pela combinação das duas letras
anteriores, Vav e Zayin, com uma linha fina em forma de ponte, chamada de
―chatoteret‖ (―corcunda‖).
A nova energia gerada pela união do Vav — ―or yashar‖ — e o Zayin — ―or chozer‖
— é o segredo de ―pairar‖ ou ―tocar sem tocar‖.
A ideia de ―pairar‖ aparece bem no começo da Criação: ―E o espírito de D‘us
‗pairou‘ sobre a água.‖
A palavra ―pairar‖ (―merachefet‖) é a décima oitava palavra na Torá.
Ela é a primeira palavra da Torá que é numericamente um múltiplo de vinte e seis,
o valor do Nome Havayah (merachefet = 728 = 26 vezes 28).
Vinte e oito é o valor numérico de koach, ―poder‖.
Assim, o segredo completo indicado pelo valor numérico da palavra ―pairar‖ é ―o
poder de D‘us‖.
Na Cabalá, esta palavra é, em particular, o segredo do poder Divino de ressuscitar
as 288 faíscas caídas que ―morreram‖ no processo da ―quebra dos receptáculos‖
(―merachefet‖ sendo uma permutação de ―meit rapach‖, ―288 morreram‖).
Os Sábios nos ensinam que o ―Espírito de D‘us‖ citado aqui é, na verdade, a alma
de Mashiach (que muda para ―shem chai‖, ―o nome vivo‖).
―Pairar‖ é representado na Torá ―como uma águia que se ergue de seu ninho e
paira sobre seu filhote‖, conforme ensinado pelo Maguid de Mezritch.
Para não esmagar seu filhote e seu ninho, a águia paira sobre seu ninho enquanto
alimenta seu filhote, ―tocando sem tocar‖.
A águia aqui é uma metáfora para D‘us em relação aos Seus filhos, Israel, em
particular, e para a totalidade de Sua Criação em geral.
Se D‘us revelasse completamente Sua Presença suprema ou removesse Seu poder
de recriação contínua, o mundo imediatamente deixaria de existir.
Portanto, ao ―pairar‖ sobre a realidade criada, D‘us continua a sustentar e manter
Sua Criação, concedendo, simultaneamente, a cada criatura — ou, na terminologia
da Cabalá, cada receptáculo — a habilidade de crescer e se desenvolver
―independentemente‖.
A letra Chet alude, deste modo, ao equilíbrio delicado entre a revelação da
Presença de D‘us para nós (o Vav do Chet) e a ocultação de Seu poder criativo de
Sua Criação (o Zayin do Chet).
Este estado ―pairador‖, ―tocando sem tocar‖, é o começo do fenômeno da ―vida que
vivifica‖.
O ―tocando sem tocar‖ de Cima se reflete, consequentemente, como ―indo e vindo‖
na pulsação interior de cada criatura viva. ―E as criaturas vivas [chayot] vão e vêm
como um raio‖. Não leia ―chayot‖ (―criaturas vivas‖), mas ―chayut‖ (―força vital‖).
O Talmud declara: "É tão difícil para D'us combinar duas pessoas como foi a
Abertura do Mar Vermelho."
Obviamente, essa declaração faz surgir algumas questões.
O que o Mar Vermelho tem a ver com casamento?
E como podemos chamar algo que D'us faz de "difícil"?
D'us é onipotente, infinito.
Porém dizemos que Sua realização de um casamento é tão difícil como a Abertura
do Mar Vermelho!
Além disso, se alguém queria falar sobre algo difícil, por que mencionar o Mar
Vermelho?
No grande esquema das coisas, por que não mencionar algo ainda mais intimidador
— como a criação do universo?!
A resposta é a seguinte. Quando D'us criou o mundo, Ele o formou ex-nihilo — do
nada para algo.
Se um empreiteiro recebe o trabalho de construir uma casa a partir do nada, é
relativamente fácil.
Não há paredes de pé para atrapalhá-lo e não há limites para restringi-lo.
Ele pode fazer o que quiser para criar a casa perfeita.
Mas o que acontece quando um indivíduo se muda para uma casa que está
dilapidada?
E se as paredes estiverem tortas e ele tiver de endireitá-las?
E se o encanamento existente está aos pedaços?
É muito mais difícil transformar aquela estrutura numa casa perfeita.
Encontramos um paralelo direto na Abertura do Mar Vermelho.
A natureza da água é fluir.
Mas o que D'us fez no Mar?
Ele tomou a natureza fluida da água e a transformou na natureza de rocha sólida
Ele teve de mudar completamente a substância de sua norma elementar.
O mesmo se aplica aos casamentos.
Há duas pessoas diferentes que vieram de dois lares diferentes com duas
educações diversas. Não basta o desafio de um ser do sexo masculino e o outro do
feminino. Além disso, ele gosta das janelas abertas; ela prefere as janelas
fechadas. Ele gosta do campo; ela da cidade. A mãe dele fazia peixe gefilte dessa
maneira. A dela fazia daquela maneira.
Portanto temos dois opostos se juntando e tentando se fundir em um.
Para que o casamento dê certo, a natureza e a constituição de cada pessoa deve
mudar.
Agora podemos entender por que é tão difícil para D'us criar um casamento quanto
foi abrir o Mar Vermelho, porque para duas pessoas se juntarem, cada qual deve
mudar seus hábitos e modos enraizados.
Para que um casamento sobreviva, e melhor ainda, floresça, é preciso haver um
terceiro elemento, um terceiro parceiro, D'us, que ajuda as duas naturezas a se
fundir.
Na Abertura do Mar, D'us soprou um vento a noite inteira para manter a água em
pé.
Por quê?
Porque se queremos transformar a natureza de algo, devemos infundir
continuamente aquele elemento com vida, sopro e força nova.
Portanto um casamento — que exige mudança constante pelos dois indivíduos
envolvidos — deve ser continuamente infundido com o espírito de D'us.
Este é o verdadeiro ―Chet‖, a verdadeira chayut - vitalidade: homem, mulher e D'us
se unindo no eterno pacto do casamento.
Aplicação
O Chet, esse poderoso símbolo de transformação, é a primeira letra de ,
chupah, o dossel matrimonial.
Na verdade o Chet se parece com um chupah.
O chupah é ao mesmo tempo abrigo e início da jornada da vida matrimonial.
Quando o par de noivos está sob o chupah, estão num espaço liminar — num lugar
santo, solene e intermediário.
Quando saem do chupah, suas vidas mudaram profundamente.
Nascem para o mundo como casal.
O Chet suscita algumas perguntas: em que chupah metafórico você está entrando,
ou em qual está agora, ou de qual está saindo?
Com o que ou quem você está decidindo casar-se, unir-se?
Quais as transformações radicais por que você está passando?
Na cerimônia de casamento, bebe-se o vinho da bênção e todos brindam dizendo
"l‘chayim!" ("à vida!")
O Chet nos incita a transpor o portal da transformação com espírito vibrante, gozar
da vivacidade de ser um ser humano e aceitar a vida, venha o que vier, bom ou
não.
Venha o que vier.
Gevalt!
A vida é uma idéia assustadora.
Comer e procurar evitar ser comido.
A maioria de nós, hoje, não corremos o risco de ser devorados por animais
selvagens, mas há outras forças que podem nos consumir: os micróbios, os
empregos extenuantes, as emoções debilitantes, as doenças, as drogas e o álcool,
o consumismo em geral e, para todos, essencial e inevitavelmente, a morte.
O xamã e mestre maia Martín Prechtel diz que a frase "o amor move o mundo" é
imprecisa.
Não é o amor, e sim o medo, que faz o mundo girar, ensina.
O amor é o que o torna tolerável.
Com o Chet, atravessamos um portal e deixamos para trás o otimismo ingênuo.
O Chet assinala uma iniciação — da inocência para a consciência dos perigos que
cercam nossa vida.
O livro de Jó diz que Deus "suspende a terra sobre o nada" (Jó 26:7).
Há uma parte profunda de nós que teme cair no abismo do nada, ou ser engolido
por ele — pelo vazio infinito que nos espera bem debaixo de nossos pés, logo
depois de nosso próximo pensamento, de nossa próxima respiração.
Apesar disso, a força vitalizante do Chet é a da chayim, da própria vida.
O desafio dessa letra está resumido na frase "sinta o medo e faça mesmo assim".
O Chet nos convida a permitir que uma consciência madura da morte e do perigo
nos informe e aprofunde nossa aceitação da vida.
A morte pode ser uma aliada, ajudando-nos a perceber o quanto a vida é preciosa.
"O bom guerreiro sempre tem medo", diz a Avó numa fábula dos índios modoc.
Chutzpah, , significa "iniciativa e ousadia".
O Chet nos ensina o "santo chutzpah" , a disposição de cometer erros, correr riscos
e enfrentar o desconhecido para criar algo novo.
A forma do Chet é uma ponte, com a linha horizontal conectando as duas verticais.
O rabino Nachman de Bratislava ensinava que "tudo neste mundo é uma ponte
muito estreita. E acima de tudo jamais tenha medo de nada".
O rabino Nachman sabia como enfrentar o medo.
Seu filho querido morreu criança.
Certa vez o rabino empreendeu uma arriscada peregrinação à Terra Santa, no auge
das guerras napoleônicas.
Durante boa parte de sua curta vida ele foi maníaco-depressivo.
Apesar disso, o rabino Nachman foi capaz de atravessar a ponte estreita de sua
vida com um bom humor, uma sabedoria e uma coragem que até hoje estimulam e
fortalecem a muitos.
Ele previu, de fato, que "minha luz não se apagará até o dia do Messias".
Um outro mestre hassídico, o rabino Moshe Leib, dizia:
"Este mundo é como caminhar sobre o fio de uma espada. De um lado está o
mundo dos mortos, do outro, o mundo dos mortos, e o caminho da vida está no
meio".
O caminho da vida é o caminho do Chet.
Wu-Men, um mestre zen chinês do século XII, ecoa o rabino Nachman e o rabino
Moshe: "Exatamente na fronteira entre o nascimento e a morte está a Grande
Liberdade".
Nós caminhamos por essa fronteira o tempo todo.
O Chet nos convida a caminhar sobre ele com chesed, graça e amor-bondade, e
vivenciar essa liberdade.
Em seu poema "Walking Home from the `Duchess of Malfi'", Gary Snyder diz:
"Dores de morte e amor, / Nascimento e guerra, / terra aba-tida, / abençoe / Com
mais amor, / não menos"
Esse modo de abençoar não é um caminho fácil.
O caminho do Chet não é fácil.
É preciso tempo para desenvolver na sabedoria , chokhmah (mais uma
palavra que começa com Chet) — de incorporar essa atitude diante da vida e do
medo.
Muitos feriados judaicos duram oito dias, mostrando que nós precisamos de um
certo tempo para atravessar o portal e atingir a completude.
A transformação normalmente não acontece de uma só vez.
Os oito dias de Chanukah, por exemplo, exaltam o caráter cíclico do tempo no
solstício de inverno e recordam o milagre do óleo para um só dia que durou por
oito.
Ao comer e viver em humildes sukkot, tendas, durante os oito dias do Sukkot, nós
recordamos os quarenta anos que os judeus viveram em tendas durante sua estada
no Sinai.
Na Diáspora, a Páscoa é observada durante oito dias para comemorar a fuga do
Egito e os longos anos de errâncias dos hebreus pelo deserto.
Durando oito dias, essas festas permitem que nos aprofundemos no tempo sagrado
e compreendamos mais intensamente o quanto nossos antepassados lutaram para
vencer os desafios da vida.
Em Israel, o oitavo dia do Sukkot é conhecido como Shemini Atzeret, a
"Convocação do Oitavo Dia", e Simchat Torah, a "Alegria da Torah".
(Na Diáspora, essas festas são comemoradas em dois dias diferentes.)
Terminada a colheita, o Shemíní Atzeret assinala o dia tradicional da prece por
chuvas, para ajudar na safra seguinte.
O Simchat Torah comemora o término do ciclo anual de leituras da Torah e o início
do ciclo seguinte.
Ambos são festas vitalizadas pelo Chet, porque comemoram encerramentos e
saltos para o desconhecido, para o Chet — a infinidade — de novos inícios, mais
uma vez.
O rabino Nachman, na verdade, aconselhava que se saltasse, literalmente, durante
o Simchat Torah.
Ensinava que, nesse dia, as pessoas deviam dançar, dar cambalhotas e pular,
esforçando-se para desafiar a lei da gravidade e transcender as limitações do
mundo físico.
O rabino Aryeh Kaplan escreve que, ao dançar com a Torah no Simchat Torah,
"estamos expressando o fato de que nesse dia nós somos capazes de transcender o
físico (...), indo além de todas as barreiras e limitações que imaginávamos
impossíveis de superar".
Esse é o chutzpah do Chet: saltar para o infinito, para o desconhecido — para além
das barreiras que parecem nos impedir!
A Sombra do Chet
Sentir que "tudo neste mundo é uma ponte muito estreita", como disse o rabino
Nachman, pode ser insuportável.
Podemos ficar paralisados de medo, incapazes até de percorrer a ponte, ou em
terror pânico, agindo desvairada e perigosamente.
O desafio do Chet é tornar o medo um aliado, para que, em vez de representar
pressão e terror, ele nos conecte mais profundamente com a vida e se torne uma
fonte de energia.
Vimos que o Chet simboliza o chadash, o novo.
Embora o frescor e a inovação sejam maravilhosos, é fácil viciar-se na novidade.
Será que estamos buscando novidades o tempo todo?
Nunca estamos satisfeitos?
Desprezamos ou desconstruímos levianamente aquilo que é venerável e que o
tempo consagrou?
O novo nem sempre significa "o melhor".
Ao contrário, aquilo que já passou pelo teste do tempo normalmente pode ser mais
sólido e íntegro do que a invenção mais recente.
O Chet é a primeira letra de , chayt.
Normalmente traduzido como "pecado", chayt significa literalmente "errar o alvo".
A impulsividade do Chet talvez precise ser moderada, e é prudente mirar um pouco
melhor antes do salto.
Chayt faz lembrar também dos aspectos negativos do chutzpah, como a arrogância
e a grosseria.
Textos Complementares:
Chet - Challah
... ao comerdes do pão da terra, apresentareis oferta ao Senhor das primícias da
vossa farinha grossa apresentareis um bolo como oferta; como oferta da eira,
assim o apresentareis.
Números 15:19-20
Quando a carta Chet aparece numa consulta é para nos ensinar como abrir mão do
que não necessitamos.
Podemos sobreviver somente com pão e água, mas ainda assim buscamos coisas
incrivelmente sofisticadas, como se fossem necessárias.
É hora de abrir mão.
Doe as peças de roupa que não usa mais para uma instituição de caridade; doe
suprimentos de comida a uma instituição que serve sopa aos necessitados; faça
uma lista de suas dependências e, em seguida, ponha fogo nela.
Depois disso, você vai sentir uma liberdade muito maior.
34. Perguntaram-lhe:
Por que a letra Chet é aberta? E por que seu ponto vogal é um pequeno
Patach? (A referência aparente é à palavra Ruach (espírito ou vento) em
Gênese 1:2. O relacionamento entre o Chet e o Patach é ímpar, pois no
final de uma palavra, a vogal é lida antes de sua consoante, sendo esse o
único caso onde isso ocorre)
Disse ele: Porque todas as direções (Ruach-ot) estão fechadas, exceto o
norte, que está aberto ao bem e ao mal.
Perguntaram-lhe: Como podes dizer que isso é para sempre? Não está
escrito (Ezequie11:4):" Olhei, um vento tempestuoso soprava do norte,
uma grande nuvem, e um fogo chamejante"? Fogo nada mais é que raiva
tenaz, conforme está escrito (Levítico 10:2): "E saiu fogo de diante de
Deus, que os consumiu e os matou."
Disse ele: Não há dificuldade. Um caso fala de quando Israel cumpre a
Vontade de Deus, enquanto o outro fala de quando não se cumpre a Sua
vontade. Quando Israel não cumpre a Sua Vontade, o Fogo, então, se
aproxima [para destruir e punir]. Mas, quando cumprem a Vontade de
Deus, então o Atributo da Misericórdia os envolve e os cerca, conforme
está escrito (Miquéias 7:18): "Ele tira o pecado e perdoa a rebeldia."
Comentário:
Todas as letras, até o Vav, já foram examinadas, enquanto Zain será explicado
posteriormente (verso 53).
O debate se volta para Chet, a oitava letra do alfabeto hebraico.
Na resposta, há uma referência a Ruch-ot (direções ou ventos), e, assim, esse
debate está no contexto da palavra Ruach (espírito ou vento), conforme surge em
Gênese 1:2.
Esse versículo já foi examinado (ver verso 2) e continua-se, aqui, o estudo.
A letra Chet é a letra final da palavra Ruach e, debaixo dela, encontra-se o ponto
vogal Patach. O Chet final é único sob esse aspecto, pois em todos os outros casos
a vogal é lida depois de sua letra acompanhante, enquanto o Patach é sempre lido
antes de seu Chet primário no final de uma palavra.
Dizem os cabalistas que a letra Chet representa a Sefirá Yexsod-Fundação, que
corresponde ao órgão masculino.
Esse órgão contém dois dutos, um para reprodução e outro para descarregar
resíduos, representados pelas duas pernas do Chet.
O duto envolvido na reprodução é a origem do bem, enquanto o envolvido na
descarga dos resíduos é a origem do mal.
O principal conceito do Chet é o de uma abertura de abaixo, indicada pela forma da
letra, que é, de fato, fechada em três lados e aberta ao fundo.
Isso é reforçado pelo Patach sob o Chet, pois a palavra Patach significa,
literalmente, "abertura".
O autor declara que o Chet na palavra Ruach indica as três direções ou ventos —
Ruch-ot em hebraico — que são fechadas.
Essas direções fechadas são sul, leste e oeste, correspondendo, respectivamente,
às Sefirot Chessed-Amor, Tiferet-Beleza e Yessod-Fundação.
A única direção aberta é o norte, que corresponde a Guevurá-Força.
O conceito de Chessed-Amor é o de dar livremente, enquanto o de Guevurá -Força
é o de restrição.
Diz-se que Força é restrição no sentido do ensinamento: "Quem é forte, aquele que
restringe seu anseio" (Avot 4:1). É óbvio que o homem pode restringir sua
natureza, mas se o homem o pode fazer, então Deus, decerto, pode.
A natureza de Deus, todavia, é de fazer o bem, e, portanto, quando Ele restringe
Sua natureza, o resultado é o mal.
Por isso, diz-se que a Sefirá Guevurá-Força é a origem do Mal.
O norte está associado ao mal em muitas passagens (ver versos 162,163 e 199).
Adin Steinsaltz — No judaísmo, a palavra chaim, "a vida", tem quase sempre um
sentido positivo.
E seu contrário, "a morte", mavet, é geralmente sinônimo do mal.
Eis por que o judaísmo recusa o fato de que a morte possa ser santa.
Pelo contrário, ela é impura.
Aliás, toda coisa impura é um pouco morta, ao passo que aquilo que é saudável e
vivo é correto.
Este termo, a vida, é usado, por um lado, para o homem e igualmente para o
Santo-bendito-seja.
É também usado para a água!
Fala-se de "água viva".
A expressão "água viva" designa águas limpas e potáveis.
As "outras" águas, em hebraico, diz-se delas que "apanharam": as águas salgadas
ou poluídas apanharam uma doença!
As águas boas, estas, são ditas "vivas".
São elas que servem para nos purificar do contato com a morte ou a lepra.
Tudo começou com o conceito de "Deus vivo": o Santo-bendito-seja é identificado
com a vida.
Lá onde há vida há Deus.
J. E. — É o que temos em comum com Deus, mesmo se dizemos que nossa vida é
apenas o oitavo do oitavo da vida de Deus.
A vida é santa, pois é o que temos em comum com Deus.
- Viva a vida
A. S. — Em primeiro lugar, Deus é a própria vida, a tal ponto que para Ele não
posso conceber o contrário!
O pensamento judaico exclui absolutamente um conceito como o de "morte de
Deus".
O próprio conceito de Deus está ligado à ideia de vida, pois a vida carrega o fluxo
de tudo o que é.
Deus é denominado nos Salmos "Fonte de vida"... Ele é precisamente o "Lugar de
onde nasce toda vida".
Assim, chamamo-lo "Deus de vida" ou ainda "Deus vivo": de quem provém toda
vida.
E a Torá afirma que todo aquele que se liga a Deus é vivo!
"E vós, que vos ligastes ao Eterno, vosso Deus, estais todos vivos hoje."
Deuteronômio 4,4
Diz-se que os Justos, mesmo mortos, estão vivos.
A Bíblia qualifica Benaiahu, um general do rei David, de "filho de um homem vivo"!
Temos o direito de nos perguntar: seriam os outros filhos de mortos?
É que somente um Justo está realmente vivo: os outros não o estão
completamente!
Daí o valor da vida, que tem um sentido não apenas na teologia ou na metafísica,
mas também na ética: é o valor supremo.
Nada equivale à vida!
Para preservá-la, deve-se até mesmo transgredir todas as leis da Torá!
J. E. — É notadamente o caso para o shabat.
Se uma vida corre perigo, todos os interditos do shabat são suspensos.
- A coexistência pacífica
A. S. — Com efeito!
Ele faz que coexistam o alto e o baixo.
O fogo e a água são dois elementos contrários; e no chet há um teto que os reúne.
É uma das funções desta letra.
Além disso, em textos muito antigos conta-se que cada letra veio pedir a Deus que
criasse o mundo através dela.
E o argumento da letra chet era o de que ela é a inicial das palavras mais bonitas:
"a vida" e "a bondade", chaim e chessed!
Mas Deus a fez observar que ela representava também o contrário!
Pois ela é a inicial da palavra chet, que significa pecado.
Ela também se encontra na palavra "serpente" e mesmo na palavra da unidade,
echad, "um"!
É uma letra ambivalente.
Eis um exemplo: a diferença entre a palavra que designa o pão, chametz, e aquela
que designa o pão ázimo, matzá, é simplesmente o que separa a letra hei da letra
chet.
O hei é aberto, pode-se sair dele, como o princípio da teshuvá — o retorno a Deus
— na qual se encontra a letra hei.
Pelo contrário, o chet é fechado.
Só tem uma abertura para baixo!
Só se pode cair!
Certas letras têm uma abertura para cima, como o tet, nona letra do alfabeto!
O chet, este, se abre para baixo.
É sua ambivalência.
- Letra da graça
J. E. — É preciso dizer que em francês, para evocar esta noção, diz-se "Ele tem
charme".
Aliás, em idish* , usa-se a palavra chen precisamente para qualificar o charme.
A. S. — É o termo apropriado.
Quando Moisés diz: "Se eu pudesse encontrar graça a Teus olhos...", ele não diz a
Deus: "Sou grande, sou justo!", mas "Pudesse eu Te agradar!... Consideras-me boa
pessoa? Como Noé, que encontrou graça a Teus olhos...".
A graça é uma forma de plenitude e também de projeção.
J. E. — Podemos acrescentar que quando alguém é gracioso ou Deus lhe concede a
graça esta palavra deve ser aproximada da palavra chinam, "a gratuidade", um
derivado de chen.
Quer dizer que se esta pessoa recebe o que ela não merece trata-se de uma forma
de gratuidade pela qual ela é gratificada.
A. S. — Efetivamente, é a mesma raiz, uma coisa que se faz somente por "graça".
Assim como Deus diz a Moisés: "Darei graça a quem Eu quiser dar graça...".
Se falamos de graça, então é porque não há uma boa razão para fazê-lo.
[Este sentido da palavra graça fica ainda mais claro em português quando dizemos,
por exemplo, "de graça".]
- Graça e gratuidade
J. E. — Justamente, o Talmud diz: "Ein mita bli chet" — ninguém morre sem ter
pecado.
Poder-se-ia dizer de outro modo: "Não há vida sem pecado".
A. S. — Com efeito!
E é verdade também para a compaixão.
O que há de mais belo?
Mas ela exige um sofrimento, uma ferida, uma vítima.
Acerca desta zona de sombra se escreveu muito, notadamente os psicólogos.
Em toda parte em que há luz há sombra.-
Ora, a vida é luz, portanto ela tem necessariamente uma zona de sombra.
O pecado nada mais é do que uma espécie de torção, de desvio.
Uso a vida para fins que não são os dela!
Mas só o posso fazer se estou em vida!
- Os fracassados da vida
J. E. — Deve-se precisar que a palavra chet significa erro, mais do que pecado.
Traduz-se com frequência por pecado, mas é preciso saber que a palavra chet
designa na Bíblia um arqueiro que erra seu alvo.
Quer dizer: em algum lugar, ao pecar, erramos o alvo de nossa vida.
Para terminar a análise da letra chet, devemos evocar o valor numérico desta letra:
8. E este número no judaísmo tem sua importância.
J. E. — Este texto do Maharal que o senhor cita lembra que a semana de sete dias
é cíclica.
É preciso poder ir além.
Esta é a função simbólica do candelabro do Templo.
Ele tinha sete braços.
Após a vitória comemorada em Chanucá apareceu um candelabro com oito braços.
O oitavo braço manifesta a irrupção do irracional e da transcendência, para além do
determinismo histórico.
Tet (Teth)
Som: T
Conceito: Tet nos remete a audição dos ventos... e essa audição é quando o
Sagrado nos escuta.
O Talmud ensina que é um bom sinal quando a letra Tet aparece num sonho,
porque o primeiro Tet da Torah aparece na palavra , tov, "bom":
"E viu Deus que era boa a luz" (Gên. 1:4).
O Tet simboliza a bondade essencial, fundamental.
O Tet é o símbolo da energia primordial do feminino.
A letra tem a forma de uma cobra enrolada em torno de si mesma.
Séculos antes de ser associada ao mal, a serpente era uma representação do
feminino divino.
A forma do Tet sugere também um vaso ou taça, símbolos do ventre.
Por ser a nona letra e o número nove, o Tet preside o ritmo dos nove meses da
gestação.
Essa letra de bondade contém o poder da gestação e o potencial da vida.
Ao mesmo tempo, os cabalistas associam o Tet a uma imagem-chave da potência
masculina, a vara ou cajado, porque é a última letra da palavra hebraica ,
shevet, "vara", e a letra central de , mateh, "cajado".
A vara e a serpente estão intimamente ligadas no folclore e no imaginário.
Moisés lança sua vara na terra e ela se transforma numa serpente.
Em seguida, ele apanha a serpente e ela se translorma em vara outra vez
(Ex. 4:2-4).
Um incidente curioso ocorreu durante a errância dos judeus pelo deserto.
Para proteger as pessoas das cobras venenosas que as mordiam e matavam,
Moisés fez uma imagem de serpente de cobre, no estilo xamânico, e a colocou
sobre uma haste.
Quando as pessoas eram mordidas, olhavam para a serpente de cobre e se
curavam (Núm. 21:9)
A imagem das duas serpentes — ou uma serpente com duas cabeças — enroladas
em torno de uma vara é antiga, anterior aos israelitas.
Simboliza a poderosa combinação do masculino e do feminino, e é considerada
vivificante e curativa.
A imagem sobrevive até hoje sob a forma do caduceu — selo de Asclépio, bastão de
Hermes e símbolo da profissão de médico.
O Tet é uma espécie de caduceu em forma de letra.
Mas o Tet está relacionado também à morte.
Os reis marcavam os locais de sepultamento com o símbolo do Tet.
A palavra "morte", em várias línguas, soa parecida com Tet (às vezes pronunciada
―Teth‖) como a palavra inglesa death e a alemã tot.
O Tet faz parte da palavra , teet, "barro" em hebraico.
O barro é a matriz da morte e da vida, ao mesmo tempo.
Todas as coisas retornam à terra ao morrer, absorvidas novamente pelo barro.
Mas o barro é também a matéria, ou mater, primordial, a Mãe Natureza, a origem
da vida, na qual germina a criação.
O Tet, portanto, representa a procriação, gestação, florescimento e perecimento de
todas as coisas.
O Tet ensina que isso tudo, esse ciclo sem fim de vida e de morte, é tov — é bom.
Formato: A letra Tet tem o formato de um recipiente com uma aba invertida, uma
bolsa de água, ou seja, Tet é um recipiente que colhe a Luz do Mundo Infinito
porque tem uma abertura para o alto.
Também simboliza uma mulher grávida.
Aplicação:
Dar-se um tempo de concepção e gestação.
Livrar-se do que já se desenvolveu demais e precisa ser abandonado.
Cultivar o poder criativo do feminino e o poder enérgico do masculino.
Sombra:
Enfatizar em excesso a "bondade".
Otimismo polianesco; pensamento positivo fácil.
Reflexão:
O que já superei, o que preciso largar, abandonar, para abrir caminho para a vida
nova?
Ação sugerida:
Plante uma semente.
Depois, proteja-a e cuide dela enquanto se desenvolve e germina.
Sefer Yetziyrah: “Ele fez a letra Tet reinar sobre a audição, coroou-a, combinou-a
com cada uma das outras e, com elas formou: Leão no universo, Av o ano e o rim
esquerdo na Nefesh...” (S. Y. 5.11)
Comentários:
Alguns vêem nesta letra uma serpente, outros um escudo.
O Sêfer Bahir vê nela de preferência um ventre.
Em hebraico "Tet" quer dizer "lodo", "lama".
Tudo isto pode nos mostrar que Tet é uma letra que simboliza a mudança de
estado, ela é a única com abertura para o alto.
O escudo e a lama representam o envelope protetor que propicia a mutação, a
"troca da pele", como se fosse uma serpente.
O ventre é também um órgão de transformação, o alimento é trocado dentro dele
em quintessência simbolizada pela letra seguinte ―Yud‖.
O Talmud diz-nos que a visão do Tet em sonho nos anuncia boas coisas.
O Tet representa ―teto‖ ou ―ideia de proteção‖, ―lugar seguro‖, etc.
Todas as ideias despertadas por esta letra derivam da união entre a segurança e a
proteção por intermédio da Sabedoria.
Simboliza o principio da conservação, o amor como ato puro e sem desejos.
Ê a sabedoria, o mistério insondável da letra Tet.
A pronúncia de Teth é feita colocando-se a ponta da língua na raiz dos dentes
superiores e pronunciando o som como se a língua estivesse enchendo a boca.
Esta letra encontra-se associada ao planeta Marte, à nota musical Sol, à cor
vermelha, à alquimia mental e à faculdade da clariaudiência.
É expressão de prudência nos impulsos.
É o gênio protetor, é a iniciação.
Seu signo zodiacal é Leão.
O Tet é o princípio vivo em comunhão consigo mesmo.
No Plano Espiritual, é a manifestação da luz divina nas obras humanas, a sabedoria
absoluta, a comunhão do pensador com seu pensamento e a coisa pensada.
No Plano Mental, gera a prudência, a discrição, a clareza e o conhecimento; o
discernimento, o juízo imparcial.
No Plano Físico, ajuda o desenvolvimento molecular e o conhecimento do amor
universal.
Acena com descobertas e com a ordenação, além de bons amigos.
Em Magia, o silêncio e a prudência: as armaduras do sábio.
No entanto, o silêncio não é absoluto.
O sábio deve falar quando necessário.
O sábio é dono de si mesmo e, por isso, faz-se dono dos demais.
O super-homem impõe silêncio aos apetites e ao temor para não escutar mais do
que a razão. Esse super-homem é um rei sem coroa e um sacerdote sem sotaina.
No entanto, nem o reino, nem o sacerdócio podem ser concedidos.
Eles têm de ser conquistados.
O super-homem tende a elevar a sociedade cambaleante e caída.
Porém, para fabricar ouro ele precisa de ouro.
Há necessidade que se produzam super-homens, sábios, prudentes e circunspectos,
para reconstruir a vida em meio à decomposição e à morte.
Conta o Midrash que existe uma diferença entre a primeira versão das Tábuas da
Lei (Shemot 20:2-14) e a segunda (Devarim 5:6-18): o acréscimo da letra ―Teth‖,
a única letra do alfabeto que não aparece na primeira versão.
O Eterno já sabia que as primeiras Tábuas seriam quebradas e omitiu a letra Teth
para que a bondade não desaparecesse do mundo.
Na segunda versão, Teth entra no quinto pronunciamento ("Honrarás a teu pai e a
tua mãe, como te ordenou o Eterno, teu Deus, para que se prolonguem os teus
dias e para que seja bem para ti na terra que o Eterno, teu Deus, te dá").
Como nada é por acaso, a segunda versão das Tábuas da Lei contém 17 palavras a
mais que a primeira (em hebraico, obviamente), a guematria de ―tov‖.
No começo da Criação, a aparência da luz é definida como ―boa‖ aos olhos de D‘us:
―E D‘us viu que a luz era boa.‖
Nossos Sábios interpretam isto como significando ―boa para ser mantida oculta
para os tzadikim na Época Vindoura.‖
―E onde Ele a escondeu? Na Torá, pois ‗não há outro bem senão a Torá.‘‖
O Baal Shem Tov nos ensina que a ―Época Vindoura‖ se refere também a cada
geração. Cada alma de Israel é um tzadik em potencial (como é dito, ―e todo seu
povo é de tzadikim‖), conectado à boa luz oculta na Torá. Quanto mais o indivíduo
realiza seu potencial para ser um tzadik, mais bondade ele revela de dentro do
―ventre‖ da Torá.
No primeiro versículo da Torá — ―No começo D‘us criou os céus e a terra‖ —, as
letras iniciais de ―os céus e a terra‖ representam o ―Nome oculto‖ de D‘us na
Criação (alef-hei-vav-hei), de acordo com a Cabalá.
O valor numérico deste Nome é dezessete — o mesmo da palavra tov, ―bom‖.
A palavra tzadik equivale a 12 vezes 17 = 204 — o valor total das doze
permutações das quatro letras deste Nome oculto.
Tzadikim, que são chamados de ―bons‖, possuem o poder do Nome oculto
(derivado de ―os céus e a terra‖), a bondade oculta necessária para unir céu e terra
e, portanto, revelar a luz interior e o propósito da Criação.
Assim como o alef possui o poder de sustentar opostos — o poder do firmamento
de juntar as águas superiores e inferiores —, assim também o teth possui a força
de unir os mundos superior e inferior, ―céus e terra‖.
A Chassidut nos ensina que no serviço da alma, tal poder se manifesta no homem
quando este assume o estado de ―estar no mundo e fora do mundo‖
simultaneamente.
Estar ―no mundo‖ significa estar totalmente consciente da realidade mundana a fim
de retificá-la. Estar ―fora do mundo‖ quer dizer estar completamente ciente de que,
na verdade, ―não existe ninguém além dEle.‖
O desenho do teth é como uma panela, um recipiente com uma borda invertida,
representando o bem oculto ou invertido.
Outra interpretação do teth representa um homem inclinando a cabeça para D'us
em prece e agradecimento.
Como os dois estão conectados?
Explicamos na letra anterior, a letra cheth, como representando o conceito de
casamento.
Após a união entre marido e mulher, então se D'us quiser, há a concepção.
O teth representa o bem oculto que existe dentro do útero (o recipiente) da mãe.
Este bem oculto é concretizado através das preces da pessoa a D'us, pedindo um
filho saudável.
O valor numérico de teth é nove. Isso corresponde aos nove meses de gravidez.
Além disso, o número nove é um número "verdadeiro".
Verdade ou (emet) é escrita alef — a primeira letra do alef-bet; mem — a letra do
meio; e o tav — a última letra.
A lição é que algo que é verdadeiro deve ser verdadeiro no princípio, meio e fim.
Essas três letras tem 'pé', isto é, elas não caem ao ficarem de pé, diferente das
letras de Sheker – shin, cof, resh – ―mentira‖ que não tem pé.
Certo dia, Nachum Ish Gamzu viajou até o Imperador Romano para entregar-lhe
um baú repleto de metais preciosos e joias como presente em nome da sua
comunidade. Naquela noite ele dormiu numa estalagem e colocou o baú com o
tesouro num local escondido. Enquanto Nachum dormia, o estalajadeiro trocou o
baú por outro.
Na manhã seguinte, quando Nachum Ish Gamzu estava para deixar a pousada,
abriu o baú, e para seu desgosto ali não havia mais diamantes de rubis. Em vez
disso, o baú inteiro estava cheio de areia.
Nachum Ish Gamzu disse: "Gam zu letová — Isso também é para o melhor," e
continuou a viagem.
Chegou ao palácio e disse: "Imperador, por causa de nosso grande respeito pelo
senhor, minha cidade está lhe enviando este presente." O Imperador abriu o baú e
viu a areia. Ele pensou, bem, deve haver algo mais por baixo disso.
Examinou a areia, enfiando a mão de um lado a outro do baú. Porém tudo que
conseguia achar era areia. O Imperador disse: "Por zombar de mim, vou condená-
lo à morte." A reação de Nachum Ish Gamzu, é claro, foi "Gam zu letová."
Imediatamente, entrou na sala um dos conselheiros do soberano (o Talmud nos diz
que era o Profeta Eliahu disfarçado de senador romano). "O que está dizendo?"
disse Eliahu. "Acredita que os judeus sejam tão tolos? Acha que fariam a bobagem
de dar-lhe simples areia?! Esta deve ser a mesma areia que Avraham (o Patriarca)
usou quando lutou contra os quatro reis'. Avraham, com as próprias mãos,
conquistou os reis mais poderosos de sua época. Sabe como ele fez isso? Possuía
areia mágica. Ele a atirou ao ar e a areia se transformou em facas, lanças e
flechas." "Verdade?" respondeu o Imperador. "Vamos tentar."
Naquela época, as forças do Imperador estavam em meio a uma guerra. Estavam
tentando conquistar uma província vizinha, então o Imperador enviou o baú às
linhas de frente com seus soldados e eles começaram a atirar mancheias de areia
na direção do inimigo. E veja só, a areia foi transformada naquelas armas secretas
mágicas!
Em um ou dois dias, o exército romano conseguiu dominar toda a província.
O Imperador agradeceu a Nachum Ish Gamzum, dizendo: "Como você fez isso por
mim, vou recompensá-lo com um baú de ouro e prata. Leve-o de volta ao seu povo
e diga-lhes que se precisarem de alguma coisa, devem me procurar. Ficarei feliz
em ajudá-los." A caminho de volta para casa, Nachum Ish Gamzu parou na mesma
estalagem. O proprietário perguntou-lhe: "Que presente deu ao Imperador para ele
lhe demonstrar tamanha honra?" Ele respondeu: "Bem, sabe, eu tinha este
baú cheio de areia. Levei-o ao Imperador e essa areia mágica se transformou em
flechas e lanças que foram atiradas aos inimigos."
O estalajadeiro, ouvindo isso, disse para si mesmo: "Uau! É a areia do meu
quintal!" Então, o que fez o homem? Encheu uma carroça inteira de areia, levou-a
ao Imperador e disse: "Sabe aquela areia que Nachum ish Gamzum lhe trouxe
semana passada? Esta é da mesma qualidade."
O Imperador ficou contente e de imediato enviou a carroça de areia para suas
tropas. Quando a 'areia mágica" provou não ter valor, o furioso Imperador ordenou
a execução do estalajadeiro enganador.
Conta-se que Rabi Akiva viajava com uma vela, um galo e um burro; a vela para
poder estudar Torá à noite, o galo — seu despertador — para acordá-lo e poder
estudar Torá, e finalmente o burro para carregar seus pertences.
Rabi Akiva parou em uma cidade.
Tentou conseguir alojamento mas não havia quarto disponível.
Foi de casa em casa mas ninguém o hospedou.
Então o que fez?
Foi até os bosques vizinhos e montou acampamento.
De repente, um forte vento apagou a vela.
Poucos momentos depois, um leão feroz surgiu por trás da tenda e matou o burro.
O que restava?
O galo.
Um felino surgiu e o devorou.
Rabi Akiva ficou completamente abalado.
O que ele disse? "Tudo que D'us faz, deve ser para o bem."
Na manhã seguinte, Rabi Akiva descobriu que um bando de ladrões tinha atacado a
cidade durante a noite, matando impiedosamente as pessoas e roubando seu
dinheiro. Os ladrões escaparam para a floresta. Se tivessem visto a vela, Rabi Akiva
teria tido o mesmo destino dos aldeões.
D'us salvara sua vida extinguindo a vela e levando seus animais.
Aplicação
Como a Chet, a letra anterior do Aleph Beit, traz a energia do casamento, por meio
de sua forma de chupah — o dossel matrimonial —, essa nona letra, o Tet, contém
a fase seguinte da vida: o poder de concepção e gestação, literal e
metaforicamente.
O Tet está no centro da palavra , mitah, "cama" em hebraico.
A cama é o locas da procriação, onde o homem se une à mulher para criar uma
nova vida.
O Tet simboliza uma nova criação.
Quando o Tet aparece em nossas mãos, algumas boas perguntas que se pode fazer
são as seguintes: que nova vida está se desenvolvendo em mim?
Em que nível e o que estou "gestando"?
O que está oculto, em gestação, preparando-se para nascer?
As grávidas sentem freqüentemente o instinto de aninhar, refugiar-se e proteger a
nova vida que se desenvolve dentro delas.
A escolha do Tet oferece uma oportunidade de acalentar e nutrir em silêncio uma
nova idéia ou projeto e deixá-la amadurecer interiormente, aos poucos, antes de
expô-la ao mundo exterior, que às vezes é cruel.
O Tet pode indicar também uma fase de mudança, do mesmo modo como a
serpente muda de pele.
O que nós já superamos, o que precisamos abandonar, deixar morrer, para abrir
caminho para a vida nova?
O Tet pode representar um período de silenciosa reflexão e proteção.
A cobra fica muito vulnerável depois de se desfazer da pele antiga e antes de
fortalecer a nova.
É hora de retrair-se e evitar riscos.
O tov do Tet é uma intensa e profunda bondade interior, a bondade primordial da
criação, independente das circunstâncias.
Certa vez, dois irmãos perguntaram ao líder hassídico, o Maggid de Mezritch, como
era possível bendizer a Deus pelo bem e pelo mal igualmente.
O Maggid lhes disse que, para descobrir a resposta, deveriam visitar seu aluno, o
reb Zusya.
O reb Zusya era terrivelmente pobre e sofrido, mas ficou perplexo quando os
irmãos o encontraram e lhe fizeram a pergunta.
"Não sei por que o Maggid lhes disse para me procurar. Nunca tive um dia ruim na
vida".
De modo semelhante, o mestre zen Yun-Men disse a seus ouvintes:
"Não quero perguntar-lhes sobre o décimo quinto dia; falem-me sobre o que vem
depois do décimo quinto".
O décimo quinto dia é o dia da lua cheia, que simboliza a completude ou
iluminação.
Em outras palavras, Yun-Men está perguntando: "Não me falem sobre o estado de
iluminação, em que tudo é completo e pleno. O que vocês têm a dizer sobre o que
vem depois da iluminação?"
Nenhum dos alunos sabia a resposta, e então, respondendo à própria pergunta,
Yun-Men disse: "Todo dia é um bom dia".
A frase de Yun-Men pode facilmente ser mal compreendida ou banalizada.
Como o reb Zusya, Yun-Men está falando do nível de realidade essencial,
fundamental.
Esses dois mestres não estão adocicando o sofrimento.
Não estão, como o dr. Pangloss no Cândido de Voltaire, pontificando que tudo está
bem no melhor dos mundos possíveis.
As palavras de Yun-Men, ressoando através dos séculos, formam a base de um
famoso koan do zen.
Os koans não são enigmas inexplicáveis: são apresentações diretas e cogentes da
realidade fundamental.
Representam temas essenciais da vida que precisam ser decifrados.
A Sombra do Tet
Entender e experienciar verdadeiramente cada dia como um bom dia, sem fechar
os olhos para a realidade da dor e do sofrimento, é uma tarefa imensa.
Um dos perigos do Tet é o de aplicar o "pensamento positivo" de modo superficial.
"Ah, tudo é para o bem", dizemos despreocupadamente, negando certas partes de
nós mesmos ao adotar uma filosofia do contentamento.
A palavra "polianesco" vem da sempre contente heroína de um romance
sentimental do século XIX.
O perigoso, no polianismo, é que ele realmente dá poder à sombra para que, no
fim, ela venha à tona com mais força, seja de dentro ou de fora.
Depois, há o perigo de impor o "pensamento positivo" aos outros, culpando as
vítimas de doenças ou acidentes, por exemplo, por não terem tido uma atitude
suficientemente positiva, e responsabilizando, assim, elas mesmas por sua
condição.
É fácil polarizar a experiência, tentar repelir os sofrimentos graves da vida tentando
convencer a nós mesmos de que na verdade tudo está bem.
O Tet, por outro lado, representa equilíbrio, e não polarização; aceitação, e não
rejeição; realismo, e não fanatismo; consciência, e não sentimento.
Textos Complementares:
Ao término de cada dia dos primeiros dias da criação, Deus contempla o que fez e
todas as vezes considera que foi "bom".
Mas no último dia, depois de ter criado a humanidade, e o mundo ter a sua forma
final e estar pronto para funcionar por si mesmo, Ele o declara "muito bom".
Muitos comentadores apontam para o fato de apesar de o mundo ser um "bom"
lugar mesmo sem os seres humanos, com eles, o mundo pôde realizar seu
potencial máximo.
Quando a raça humana foi criada, o mundo tornou-se um lugar "muito bom", no
qual tudo poderia acontecer.
Dificilmente nós apreciamos o mundo no qual vivemos e as realidades mundanas
de nossa vida.
Ar para respirar, alimento para comer, solo sobre o qual caminhar e luz solar para
nos dar energia, tudo isso é tomado como certo.
E mais importante, nós não apenas tomamos por certo o mundo da natureza ao
nosso redor e os milagres diários da vida na terra, mas ficamos tão apegados à
nossa percepção distorcida das coisas que o planeta pode chegar a nos parecer um
lugar repleto de energia negativa.
Observe um bebê e você vai se lembrar do quanto o nosso mundo é um Lugar
fascinante.
O recém-nascido vê tudo como sendo novo e maravilhoso, cheio de cores, sons e
odores — ele nota coisas que nós mal conseguimos perceber.
É assim que o mundo deve ter parecido para Deus no sexto dia da criação.
Ao afirmar sua bondade essencial, ele nos incentivou a ver o mundo renovado a
cada dia em lugar de tomá-lo por certo.
A Tet é a nona letra do alfabeto hebraico e seu símbolo é desenhado como uma
estrutura quase fechada com uma parte interna protegida.
Essa representa os nove meses de gravidez, o estado de espera repleto de
expectativas, curiosidades e consciência dos milagres da natureza.
Ela também simboliza concretização, a conclusão do processo de concepção:
nascimento, uma nova vida e a criação de um mundo totalmente novo, um
universo pessoal.
Tov, bondade, é o nosso estado natural de ser.
Quando bebês, somos intrinsecamente bons, ligados somente à natureza.
É só quando crescemos e nos distanciamos de nossa bondade inata que nos
esquecemos de apreciar os pequenos milagres da vida cotidiana.
Essa declaração feita no princípio dos tempos nos ensina a sermos gratos ao mundo
em que estamos vivendo neste momento, e não esperar até sermos velhos e
frágeis para lamentarmos a vida perdida.
Devemos procurar olhar para o mundo como se ele estivesse sendo criado a cada
novo dia.
A carta Tet proporciona a você um sentimento de gratidão pelo que tem neste
mundo.
Você só enxerga o que não tem, como as coisas que deseja possuir e o status que
deseja alcançar?
Ou você reconhece que a sua vida e o mundo ao seu redor são tov me'od, ou seja,
muito bons?
A criação não é algo que aconteceu apenas uma vez, no principio dos tempos.
Cada respiração é uma nova criação, cada segundo é o começo de uma nova
existência.
Perder isso de vista é deixar de ver o lado bom de nossa vida.
Portanto, esta carta está pedindo para você ver o mundo com os olhos de um
recém-nascido e valorizar a bondade.
Josy Eisenberg — A nona letra do alfabeto hebraico, a letra tet, aparece pela
primeira vez na Torá no início da Criação do mundo, em que está escrito:
"Vaiar Elohim et haor ki tov... — E viu Deus que a luz era boa..." (Gênesis 1,4).
A palavra tov quer dizer "bom".
E é preciso saber que este tov desempenhou um papel importante no pensamento
judaico.
[Lê-se no Gênesis: "E a terra era vã e vazia, e [havia] escuridão sobre a face do
abismo‖.]
J. E. — É uma construção muito lógica. Deus cria o mundo, mas o mundo não é
inteiramente bom: o mal está presente.
A bondade profunda e verdadeira está escondida.
Segundo o Talmud, ela será revelada somente aos Tzadikim — os Justos — no
mundo vindouro.
Pois a morte está presente em nosso mundo como dimensão do mal.
A morte está implícita na vida.
E aqui intervém uma exegese bastante surpreendente do Rabi Meier.
Está dito, no fim da narrativa da Criação: "E viu Deus tudo o que fez e eis que era
muito bom" (Gênesis 1,31).
Ao precisar que "é muito bom", Deus se dá um certificado de satisfação.
Ora, Rabi Meier havia escrito em seu Sefer Torá, precisamente neste trecho: "Não
se deve ler meod — muito bom —, mas "mavet" — a morte.
Como se fosse preciso compreender: a vida, isto é bom, a morte, isto é muito
bom!"
Meod e mavet comportam as mesmas letras.
O que significa que é a "morte" que é "muito boa".
A vida é somente "boa"!
- O homem — o limite
J. E. — Portanto, esta palavra meod nos indica nossos limites e nos convida a não
os ultrapassar.
É preciso saber que esta palavra é o anagrama da palavra Adam (Adão) — o
homem.
As mesmas três letras: alef, dalet, mem.
Isto nos ensina que a natureza profunda do homem é a busca do meod: do melhor.
J. E. — É um ponto importante.
Neste mundo, que é ambivalente, há duas coisas que são, ao mesmo tempo,
opostas e fundamentais na Torá: o puro e o impuro.
Ora, tamê, "impuro", e tahor, "puro",começam com a mesma letra: o tet.
O homem está, portanto, entre o tamê e o tahor, entre o impuro e o puro.
Entre a vida e a morte.
A. S. — Tudo o que foi criado comporta também o "outro lado", é assim que a
Cabalá denomina o "mal".
E, efetivamente, o puro e o impuro começam ambos com a letra tet.
Pois eles somente existem juntos!
O puro só tem sentido em relação ao impuro.
J. E. — É preciso lembrar este magnífico versículo no livro de Jó: "Quem tira o puro
do impuro? Somente o Um" (Jó 14,4).
E o senhor dá um sentido ainda mais forte: sem o impuro não haveria o puro.
A. S. — Exatamente.
Compreendemos este versículo assim: "Somente Deus (o Um) pode transformar o
impuro em puro".
Todavia, tanto o puro quanto o impuro constituem, cada um, um ciclo completo.
E cada um desses ciclos tem sua própria lógica interna.
- 9 vezes 9
A. S. — Efetivamente.
O número 9, sendo um círculo fechado, coloca um problema.
Para ultrapassá-lo é preciso mudar de dimensão: ir ao 10.
Aliás, este número 9, que aparece em uma cantiga que se canta no dia da Páscoa,
designa os nove meses da gravidez.
Por um lado, este tempo é um tempo de plenitude.
Nossos rabinos diziam outrora o que dizem hoje todos os psicólogos: o tempo mais
feliz seria quando estávamos no ventre de nossa mãe!
É a letra tet: a gravidez.
Mas é preciso dele sair para dar a vida.
Encontra-se a mesma ideia na Cabalá, se consideramos a função das nove
primeiras sefirot — as dez hipóstases que constituem o modelo do universo — no
seio das dez sefirot.
Elas são construídas em tríades de três: é mais uma vez o tet.
Mas elas só podem se desenvolver indo mais longe: através da décima sefirá.
- A letra da serpente
Yud (Yod)
Som: Y
Formato: A letra Yud é um ponto suspenso, com uma ponta projetando-se para
cima e um apêndice seguindo para baixo.
É a única letra do alfabeto hebraico que flutua; todas as outras têm uma base de
apoio na linha.
Isso é um indicativo de que a letra Yud tem o potencial de vencer a energia da
gravidade.
O Zohar, há mais de 2.000 anos atrás, já falava que a força da gravidade é uma
energia negativa, porque puxa você para um mundo denso.
A energia da letra Yud seria a grande fórmula de salvação para que você possa não
ter a inclinação pelo lado negativo – Virgem = purificação.
Qualidade: Ação.
Arquétipo: Gad.
Aplicação:
Alinhar-se com o movimento e a mudança deixando claras as prioridades e
abandonando o que não é mais necessário.
"Que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu
Deus."
Sombra:
Perder o chão, "desligar-se".
Movimento excessivo e frenético.
Reflexão:
Qual é a melhor maneira de concentrar nossas energias para aproveitar a onda de
transformação do Yud com o máximo de graciosidade possível e chegar em
segurança a um lugar novo?
Estarei preso a opiniões e apegos do ego capazes de impedir o poder transformador
do Yud, ou de tornar a viagem mais difícil?
Que espécie de futuro você quer?
Ação sugerida:
Dê hoje mesmo um pequeno passo em direção à realização desse futuro.
Sefer Yetziyrah: ―Ele fez a letra Yud reinar sobre a ação, coroou-a, combinou-a
com cada uma das outras e, com elas, formou: Virgem no Universo, Elul no ano e a
mão esquerda na Nefesh...‖ (S. Y. 5.12)
Comentários:
Segundo o Zohar, todas as letras já existiam antes de Bereshit (criação).
O que dá origem ao Ein Sofer Or (antes do Bereshit) é a letra Yud; é um ponto
central no vazio onde toda a realidade densa e física está concentrada.
No momento em que este Yud se rasga, ele forma uma fenda – o Vav é um Yud
que se rasga, que se estica.
Neste momento, esta fenda se inclina e se parte, formando dois Yud, dando origem
à letra Aleph ( tem um Vav inclinado no meio, e dois Yud, um acima e outro
abaixo).
Os dois Yud são as águas de cima e as águas de baixo, a realidade espiritual e a
realidade física.
A letra yud, um pequeno ponto suspenso, revela a faísca do bem essencial oculto
dentro da letra teth.
Após o tzimtzum, a contração da Luz Infinita de D’us para ―fazer lugar‖ para a
Criação, ainda permaneceu dentro do espaço vazio um ponto único e potencial, ou
―impressão‖.
O segredo deste ponto é o poder do Infinito de conter fenômenos finitos dentro
dEle e expressá-los para a aparente realidade exterior.
A manifestação finita começa de um ponto dimensional zero, desenvolvendo-se,
posteriormente, em uma linha de dimensão única e em uma superfície
bidimensional.
Isto está aludido na soletração completa da letra yud (yud-vav- dalet): ―ponto‖
(yud), ―linha‖ (vav) e ―superfície‖ (dalet).
Estes três estágios correspondem na Cabalá a: ―ponto‖ (nekudá), ―espectro‖
(sefirá) e ―figura‖ (partzuf).
O ponto inicial, o poder essencial do yud, é o ―pouco que comporta muito‖.
O ―muito‖ se refere à Infinitude simples de D’us oculta dentro do ponto inicial de
revelação, que reflete o potencial Infinito do ponto de desenvolver e se expressar
em todos os múltiplos fenômenos finitos de tempo e espaço.
Moshê enviou doze espiões para percorrerem a Terra de Canaã (a Terra de Israel).
Dois dos espiões, Yehoshua e Calev, fizeram um relatório positivo: "Se D'us
desejar... certamente podemos subir e conquistá-la"'. Os outros dez reportaram
negativamente: "Não podemos enfrentar aquelas pessoas... É uma terra que
devora seus habitantes".
D'us respondeu: "Quanto tempo mais devo permanecer entre essa perversa
congregação (edá)?" referindo-se obviamente a estes dez homens.
Com isso aprendemos que uma congregação (edá) refere-se a um grupo de dez,
um minyan.
Muitas perguntas importantes logicamente se seguem.
Por que o conceito de dez homens constituindo um minyan é baseado no fato de
que houve dez espiões perversos retornando da Terra de Israel?
Como sabemos, em última análise, que dez traidores representam uma prova de
que D'us somente pode habitar entre uma comunidade de pelo menos dez, e que a
Shechiná (uma manifestação da Divindade) pode existir somente nesse tipo de
reunião?
Examinando a traição dos espiões, notamos que, na essência, eles não foram
pecadores tão graves.
Os Espiões eram os líderes de dez das Doze Tribos.
Foram pessoas sagradas.
Quando Moshê os enviou para a Terra de Israel, eles viram uma terra linda, o solo
rico, um clima maravilhoso, e frutos grandes, suculentos.
Quando voltaram, disseram a Moshê: "É uma terra que devora seus habitantes" —
querendo dizer — "Não é que não possamos conquistar fisicamente os habitantes
de Canaã, mas se morarmos neste ambiente materialista, não há maneira de
conseguirmos manter nosso nível espiritual atual. Seremos engolidos pelo seu
materialismo."
D'us nos escolheu para estudarmos Sua sagrada Torá.
Ele nos escolheu para sermos uma luz entre todas as nações do mundo.
Como poderia o povo hebreu conseguir isto se, morando em Israel, cedendo a este
mundo de fisicalidade, eles se esquecessem das suas responsabilidades?
Em vez de estudar e rezar o dia inteiro, eles estariam trabalhando o solo.
Estariam colhendo a deliciosa produção. E se esqueceriam de tudo aquilo pelo qual
vieram.
No deserto, o povo hebreu foi essencialmente sustentado.
Eles tiveram maná do Céu para comer. Tinham água do Poço de Minam para beber.
Suas roupas eram lavadas e mantidas pelas Nuvens de Glória. Portanto, o que
faziam o dia inteiro?
Eles discutiam as instruções e mergulhavam em seus segredos.
Na Introdução à Mishná de Rambam, ele discute como a Lei Oral foi entregue ao
povo. A cada vez que D'us dava uma lei a Moshê, este a ensinava quatro vezes:
primeiro a Aharon, depois aos filhos de Aharon, então aos setenta anciãos, e depois
ao povo judeu...
Depois disso tudo, a nação se dividiu em pequenos grupos e discutiu a lei
particular, analisando-a repetidamente até que estivessem certos de cada um dos
seus aspectos.
Esta era a rotina diária do povo hebreu no deserto.
Os espiões de Moshê eram grandes eruditos de Torá e hebreus sagrados.
Eles disseram: "Vejam, se estamos indo para a Terra de Israel, não teremos tempo
para sentar e discutir todos os mínimos detalhes da Halachá. Não teremos a
oportunidade de analisar a lei em profundidade, ou transmiti-la escrupulosamente
aos nossos filhos. Por este motivo, Israel é uma terra que devorará seus
habitantes. O povo hebreu ficará imerso no físico, e não no espiritual."
Os espiões portanto disseram a Moshê: "Não queremos ir."
Obviamente isso era um pecado, mas por que era um pecado pelo qual foram
mortalmente punidos?
Porque a intenção original e fundamental de D'us ao nos trazer ao mundo não foi
para evitar a fisicalidade, mas para transformar o físico em espiritual.
Este é o supremo objetivo da nação hebraica.
Portanto o episódio dos Espiões representa um paradoxo bastante singular.
Eles pecaram porque não seguiram o objetivo Divino de conquistar a terra.
Por outro lado, eles tinham um argumento válido.
Sabiam das tentações que esperavam pelo povo.
Agora imagine este cenário. Uma mãe acorda o filho de oito anos para ir à escola e
ele diz: "Não! Não quero ir e não vou!" Como a mãe reage? Ela diz: "Levante! Você
vai para a escola queira ou não queira" — ou — "Oh, você não quer ir para a
escola? Não há problema. Mas terá de ficar na cama pelos próximos quarenta
anos!"
Obviamente ela dirá para ele ir à escola.
Da mesma forma, quando os Espiões disseram: "Não queremos ir para a terra," por
que D'us simplesmente não os ignorou e exigiu que fossem mesmo assim?
Porque eles não estavam preparados.
Havia muito mais estudo para ser feito.
Ora, se apenas estivéssemos ao nível dos Espiões — comprometidos com o estudo
de Torá e ansiando por sermos espirituais e conectados a D'us todos os minutos do
dia!
À sua própria maneira, os Espiões queriam que a era de Mashiach começasse
naquele mesmo instante.
Porém a época simplesmente não era a certa.
Primeiro, o povo hebreu tinha de entrar na Terra.
Eles tinham de trabalhá-la e levar seus frutos a D'us, exemplificando como tudo
neste mundo físico está conectado ao espiritual.
Então, e somente então — naquela era e na nossa — estaríamos prontos para a
vinda de Mashiach.
Esta é a riqueza da passagem da qual derivamos o conceito de um minyan.
Até o dia de hoje, sempre que dez ―judeus‖ se reunirem por qualquer motivo, é um
quorum de santidade..
Aplicação
O Yud conserva a energia da criação original, dessa vez expressa como força
transformadora.
O Yud nos leva com rapidez, numa poderosa onda de mudança, para o amanhã,
para o mundo futuro.
A palavra "êxodo", , yetziyah, começa com essa letra.
Quando o Yud impele sua própria manifestação em nossa vida, nós estamos sendo
empurrados, querendo ou não, para um novo nível de experiência.
Um êxodo pode ser assustador, estimulante, trágico, promissor.
O Yud nos mostra que, não importa o que pensemos de um êxodo, é impossível
apegar-se ao passado.
A vida está continuamente nos empurrando para o desconhecido.
A tremenda energia do Yud se concentra em sua forma pequena.
A letra, que em si mesma é pouco mais do que um ponto, nos estimula à
objetividade, à concentração.
Qual é a melhor maneira de concentrar nossas energias para aproveitar a onda de
transformação do Yud com o máximo de graciosidade possível e chegar em
segurança a um lugar novo?
Podemos ser obrigados a priorizar, a abandonar o que não é mais necessário, a ter
clareza quanto ao que realmente queremos levar conosco para o futuro.
O Yud é uma letra de grande força, mas, por ser tão pequena, simboliza também a
humildade.
O Yud certamente não é pretensioso, orgulhoso, ostentatório.
Seu poder é contido, quase oculto.
É fácil subestimar o Yud.
Moisés, um homem tímido por seu defeito de fala e descrito na Torah como "mui
manso" (Núm. 12:3), conduziu, apesar disso, uma nação inteira ao êxodo, da
escravidão para a liberdade.
O monte Sinai, onde esse homem modesto falou diretamente com Deus e recebeu
a Torah, era uma montanha relativamente pequena e de aparência nada
imponente.
Mesmo os hebreus eram, e ainda são, uma tribo pequena.
A Torah os descreve como "menos em número do que todos os povos" (Deu. 7:7).
A pequenez e a humildade, porém, não impedem a grandeza.
"Deus exalta quem se humilha", diz o Zohar.
O Yud nos convida a nos humilhar e a reduzir o apego ao ego, mas ao mesmo
tempo sem subestimar nosso enorme poder e potencial para a criatividade, o amor
e a libertação.
Miquéias preceitua agir de acordo com a energia do Yud: "Que pratiques a justiça, e
ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus" (Miq. 6:8).
Percorrer o mundo com esse tipo de atitude é um êxodo do egoísmo estreito para
liberdade expansiva.
Um poema do poeta sufi Rumi expressa o paradoxo representado pelo Yud:
Sou tão pequeno que mal posso ser visto.
Como é possível um amor tão grande dentro de mim?
Veja seus olhos.
São pequenos, mas vêem coisas enormes.
A Sombra do Yud
Por ser a única letra suspensa no ar, o Yud é a menos sólida de todas as letras do
Aleph Beit.
Um dos perigos do Yud é o de perder o chão, "desligar-se".
Quando estamos concentrados demais no êxodo, no avanço para o "Mundo Futuro",
podemos perder o que está bem aqui, à nossa frente.
Quando estamos com a cabeça nas nuvens, podemos tropeçar na pedra que há no
meio do caminho.
Precisamos prestar atenção no presente, mesmo enquanto avançamos para o
futuro.
O Yud se move rápida e poderosamente e introduz essas qualidades
transformadoras em nossa vida.
O movimento excessivo e frenético, porém, pode ser incômodo ou prejudicial.
Às vezes basta que a mudança nos surpreenda e já não sabemos mais onde
estamos.
Mas outras vezes, com uma intenção ou ação bem definida, podemos temperar a
mudança, desacelerá-la um pouco até atingir um ritmo e um alcance mais
manejáveis.
Mudar por mudar é muitas vezes inútil.
Mas mudar é inevitável.
O desafio do Yud é o de sentir-se estável mesmo em meio à mudança.
Textos Complementares:
Adin Steinsaltz — Iud é uma letra muito interessante, com múltiplas significações.
Ademais, é uma das letras que mais frequentemente se encontram na gramática
hebraica, por ter numerosas funções.
A. S. — Quando dizemos que foi com o iud que Deus criou o mundo, isto significa
que esta letra comporta a passagem do "nada" ao "ser".
Daquilo que não era àquilo que acontece.
É o princípio absoluto.
Depois, a partir deste ponto inicial, tudo se desenvolverá e se exteriorizará.
É o sentido do "ponto".
J. E. — Este ponto que o senhor evoca é simbolizado pela mão, e a mão é o poder
— koach.
Por conseguinte, o iud é, de certo modo, o "poder criador".
E é notável que o valor numérico da palavra "mão" seja igual a 14 e o da palavra
"poder" seja igual a 28: o total das duas mãos.
J. E. — Poder-se-ia dizer, com efeito, que o iud, por ser pequeno, portanto quase
indestrutível, constitui o símbolo e o paradigma da existência judaica?
É preciso lembrar que o iud tira sua "grandeza" do fato de ser a inicial, ao mesmo
tempo, do Tetragrama — YHVH — e de Israel — Israel.
Sabemos que a primeira letra indica a finalidade e a direção de um conceito.
Não é por acaso que o nome de Deus e o nome do povo judeu, Israel, começam
pela mesma letra.
- A letra do judeu
J. E. — Assim, Simcha Bunem dizia: podemos ler isto de outro modo. Iud quer dizer
um "judeu"; quando se escreve Iud Iud — Deus — é como se colocássemos um
judeu ao lado de outro judeu!
Em outras palavras, quando se reúnem dois judeus, na fraternidade e na
comunidade, pode-se conhecer Deus.
Ele seguia com outra lição: "Iud é também um 'ponto'. Ora, em um versículo da
Bíblia, quando se termina uma frase, coloca-se um ponto por cima de outro ponto,
isto é, um iud sobre um iud. Se um judeu se acha superior a outro judeu, é, então,
o fim da `frase', a comunicação é impossível".
J. E. — Os rabinos explicam que houve dez pragas no Egito porque dez é o número
da plenitude.
- O santo décimo
J. E. — Se Deus criou o homem com dois iud é que ele tem duas inclinações, a boa
e a má, o ietser tov e o ietser hara.
J. E. — Para concluir, voltemos à palavra iad, "a mão", que é o sentido da letra iud.
Escrevendo-se iad, ela significa um "lugar".
Ora, está escrito na Torá: "Quando partirás para a guerra, escolherás um 'lugar'
para cavar tua fossa séptica" (Deuteronômio 23,13).
É a primeira vez que aparece a palavra iad como significando um "lugar".
Todos nós conhecemos o memorial da Shoá em Jerusalém, Iad Vashem.
Isso quer dizer, literalmente: um lugar — iad — e um nome shem.
É uma citação do profeta Isaías que diz a respeito de pais estéreis: "Eu lhes darei
em Minha casa e dentro de Minhas Muralhas um lugar (iad) e um nome (shem);
(isto será) melhor do que filhos e filhas" (Isaías 56,5).
Daí esta ideia extraordinária, após a Shoá, de dar o nome de Iad Vashem ao museu
da Shoá em Jerusalém.
Este nome corresponde exatamente à ideia de que aqueles que não têm sepultura
terão, pelo menos, um "lugar" e um "nome".
A. S. — Desde sempre existiram no judaísmo dois nomes para designar uma estela.
O primeiro nome, após a era bíblica, é nefesh, isto é, uma "alma".
Mas depois, para todo tipo de mausoléu, dizia-se iad; por exemplo, o iad de um rei
vitorioso.
Se a isto chamávamos "mão" (iad) era como que para dizer: siga esta mão, é para
lá que se deve ir.
É uma recordação.
Coloco uma "mão" para que ele continue a existir.
Ademais, e isto não somente em hebraico, mas também em outras línguas, é
também o modo pelo qual se nomeia um amigo.
Diz-se iedid e se escreve iad + iad, isto é, uma mão mais uma mão.
A amizade é uma mão que segura outra mão: duas mãos juntas.
Caf (kaf, Chaf) Caf final
Som: K
Espaço: No espaço caf representa o sol e sua energia, que é a fonte vital de todo o
nosso sistema solar, a fonte da vida.
Arquétipo: Moshê.
Aplicação:
Agir como rei ou rainha.
Desenvolver uma kavanah clara e forte.
Sombra:
Tornar-se tirano.
Arrogância e teimosia.
Reflexão:
Qual é o dom pessoal que tenho a ofertar, o brilho a que somente eu posso dar
vida?
Qual é o melhor modo de começar ou continuar a manifestar esse dom?
Ação sugerida:
Hoje, durante trinta minutos, comporte-se como se você fosse um rei ou rainha
nobre, corajoso e bondoso.
E fale com os outros como se eles também fossem reis ou rainhas.
Sefer Yetziyrah: “Com kaf ele formou o sol, o dia um, o olho esquerdo, a vida e a
morte.” (S. Y. 4.14)
Comentários:
Caf (Kaf) representa a palma da mão, mas o ideograma pode nos sugerir o
antebraço. Não devemos esquecer também de "keph", ―rochedo‖, representando a
força e a estabilidade.
Aliás, as raízes cuja inicial é Caf evoca a força interior, o poder do Yud que se
desenvolve pelo interior (da mão-yud que é a palma-caph) como "coach", o
"poder".
Caf é a décima-primeira letra do alfabeto hebraico.
É inicial de ―kisay‖ ("trono") e, na verdade, é dito que "o trono do Eterno" tem a
sua base formada por uma seqüência de letras Caf, daí a sua associação com a Lei
do Retorno, pois tudo o que fazemos é projetado para a base do trono e enviado de
volta.
Não há injustiça no mundo; cada um colhe o que semeou, sempre.
Meditar na letra Caf faz surgir em nossa consciência o motivo pelo qual estamos
passando por determinadas situações.
Também esclarece o propósito de acontecimentos que se repetem ciclicamente em
nossas vidas.
Embora este exercício possa ser feito em qualquer momento do ano, trabalhar com
Caf nos dias que antecedem o dia 9 do mês de Av pode ser realmente útil no
despertar de uma nova visão das coisas, lembrando que, muitas vezes, o erro se
encontra oculto nos detalhes.
O que isto significa?
Significa, entre outras coisas, que não são poucas as pessoas que em nome do que
é certo agem de forma errada, e isso coloca tudo a perder.
Por isso devemos injetar Entendimento (atributo de Biná) em todas as nossas
ações, que é, a um só tempo, fazer o que deve ser feito da forma adequada e no
momento apropriado.
As duas letras da pronúncia completa do caf são as primeiras letras das palavras
em hebraico coach (―potencial‖) e poel (―real‖). Assim, o caf alude ao poder latente
dentro da esfera espiritual de se manifestar totalmente na esfera física da
realidade.
D’us cria o mundo continuamente; do contrário, a Criação imediatamente
desapareceria.
Seu potencial é, portanto, concretizado a cada momento.
Este conceito é mencionado como ―o poder de concretizar o potencial sempre
presente dentro do concretizado‖.
De acordo com a Chassidut nós aprendemos que esta deve ser a consciência inicial
da pessoa ao acordar.
Como o significado literal da letra caf é ―palma‖ — o lugar do corpo onde o
potencial é concretizado — esta consciência se reflete no costume de juntar uma
palma da mão com a outra ao acordar, antes de recitar a prece de ―Mode Ani‖:
―Eu agradeço a Ti, Rei vivo e eterno, por ter restaurado minha alma dentro de mim
com misericórdia; Tua fidelidade é grande.‖
A Guematria do caf é vinte. Vinte pode ser dividido entre dez e dez.
O primeiro dez representa os Dez Pronunciamentos com os quais D'us criou o
mundo.
O segundo dez representa os Dez Mandamentos.
Juntos, eles se tornam um caf.
Em Bamidbar está escrito: "Dez-dez é o caf (Literalmente "pesando dez [shecalim]
cada). Se você pegar a palavra ―esrim‖ (vinte em hebraico) e somar as suas letras,
chega a 620: ayin = 70, shin = 300, reish = 200, yud = 10, mem = 40.
O 620 é também a Guematria da palavra Keter: caf = 20, tav =400, reish = 200.
Keter significa coroa, o ornamento colocado sobre a cabeça do rei.
Keter também nos lembra das 620 letras dos Dez Mandamentos.
D'us coroou a nação judaica dando-lhes a Tora.
E tornou-se a razão de ser dos hebreus seguir os 613 mandamentos e as sete Leis
Rabínicas — que juntas totalizam 620.
Os sete estatutos da Lei Rabínica são: acender as velas de Shabat e Yom Tov, ler a
Meguilá de Purim, acender velas de Chanucá, lavar as mãos antes de partir o pão,
as bênçãos antes das refeições, o eruv, e a recitação de Halel em Yom Tov.
Significativamente, a primeira letra de Keter é caf.
Na Cabalá, a Sefirá (ou atributo) de Keter representa um nível que está além do
intelecto. A coroa é colocada no alto da cabeça.
Obviamente, nossa cabeça é o recipiente que encerra o cérebro, a base do intelecto
e do pensamento. Porém a coroa repousa acima da cabeça, além do raciocínio.
O que pode ser maior que o intelecto?
Desejo e vontade.
Em hebraico, isso é chamado ―ratzon‖.
O desejo é uma força poderosa, convidando-nos a explorar possibilidades que a
racionalidade mostraria serem erradas ou difíceis.
Digamos, por exemplo, que você gostaria de ter sucesso numa determinada
ocupação. Embora você possa ter faltado em todas as aulas na escola, pode
perseverar e ser bem-sucedido se tiver disposição e vontade.
Por quê?
Porque você quer.
O poder, a coroa, do desejo é tão potente que tem a capacidade de transcender e
realmente transformar o seu intelecto.
Por sua vez, há outro conceito que transcende até o desejo, e é o prazer (taanug).
Se uma pessoa extrai prazer de algo, automaticamente irá gravitar no rumo
daquilo.
Como resultado, mobilizará seu intelecto e criará uma estratégia para atingi-lo.
É por isso que Keter é representado pela letra caf — vinte — para nos ensinar que
há dois níveis, ou faculdades, dentro da coroa: desejo e prazer, com cada faculdade
contendo dez aspectos.
Estes aspectos também são conhecidos como as dez sagradas Sefirot (esferas), os
dez blocos construtores da Criação. Três dos dez níveis residem na dimensão do
intelecto — Sabedoria, Entendimento e Conhecimento — e sete ocupam a dimensão
das emoções - Amor, Temor, Misericórdia, Vitória, Louvor (Reconhecimento),
Fundação (Vínculo) e Soberania (Fala).
As duas faculdades da coroa do caf — prazer e desejo — englobam duas vezes os
três níveis do intelecto e sete níveis de emoção para um total de vinte níveis.
Aplicação
Os personagens dos contos de fadas, como os dos sonhos, representam arquétipos
que indicam certas qualidades dentro de cada um de nós.
Os reis e rainhas são figuras-chave nas fábulas do mundo inteiro.
Às vezes esses contos falam de príncipes ou princesas vagando perdidos pelo
mundo, inconscientes ou excluídos de sua descendência real.
São obrigados a passar por várias provas e aprofundar sua sabedoria e experiência
de vida antes de poder reivindicar seu direito ao trono.
A letra Kaf é o sonho ou conto de fada da realeza interior.
O Kaf nos convida a reivindicar soberania e majestade sobre nossa própria vida.
Há um poema de William Stafford, "A Story That Could Be True" ["História que
Poderia Ser Verdadeira] , que trata dessa possibilidade:
Se você fosse trocado na maternidade e
sua verdadeira mãe morresse!
sem contar a história,
ninguém sabe seu nome,
e em algum lugar do mundo
seu pai está perdido e precisa de você,
mas você está muito distante.
Ele não tem como saber
o quanto você é verdadeiro, o quanto está preparado.
Quando vêm o vento forte
e os assaltos da chuva,
você fica na esquina, tremendo de frio.
As pessoas passam —
e você se pergunta como podem estar calmas.
Falta a elas o murmúrio
que passa todos os dias pela sua mente —
'Afinal, quem é você, peregrino?' —,
e a resposta que você é obrigado a dar,
não importa quão frio e lúgubre
o mundo ao seu redor é:
"Talvez eu seja um rei"
"Talvez eu seja um rei." "Talvez eu seja uma rainha." O Kaf nos lembra que, não
importa qual seja nossa situação exterior, cada um de nós é rei e rainha da própria
experiência.
Como o Keter e o Malkhut fazem parte da própria estrutura do cosmos, como
revelam suas poderosas posições na Arvore da Vida, o Keter e o Malkhut interiores,
a coroa santa e a realeza sagrada, são inerentes à nossa própria natureza.
A Sombra do Kaf
O poder é sedutor.
Corrompe facilmente.
Um rei ou uma rainha pode tornar-se tirano.
Por nos convidar a um maior poder e majestade, o Kaf é passível de abusos.
Algumas das armadilhas são a arrogância, a soberba, a hipocrisia e a manipulação.
A vontade é traiçoeira.
Se não tomamos cuidado, uma intenção forte e clara pode rapidamente se
transformar em obstinação destrutiva.
Sem perceber nos tornamos déspotas.
Quando se trabalha com a poderosa energia do Kaf, uma das precauções contra as
ciladas dessa dinâmica é lembrar-se de uma prece simples: "Não se faça a minha
vontade, mas a tua".
Textos Complementares:
Depois do grande êxodo do Egito, Moisés conduziu o povo hebreu para a Terra
Prometida.
Mas quando se aproximavam da fronteira, eles começaram a ficar ansiosos e com
medo.
Para aliviar seus medos, Moisés enviou uma delegação de espiões, um de cada
tribo, para observar o que se passava por lá e trazer informações que pudessem
acalmar os antigos escravos.
Os espiões passaram quarenta dias na Terra Prometida e voltaram relatando uma
situação complicada: de fato, lá havia abundância de leite e mel, mas também de
inimigos de proporções gigantescas — "Éramos, aos nossos próprios olhos, como
gafanhotos e assim também o éramos aos seus olhos!", foi o que eles disseram
(Números 13-33).
Ao ouvirem essa notícia, as pessoas que haviam deixado o Egito havia tão pouco
tempo ficaram arrasadas.
Elas não conseguiam entender por que tinham que sofrer tanto e se perguntavam
se não seria melhor voltar para o Egito do que enfrentar um futuro de guerra com
um inimigo insuperável.
Mas dois dos espiões, Josué e Calebe, viam a situação de uma outra perspectiva.
Calebe assegura os hebreus de que eles poderão conquistar os inimigos e a Terra
Prometida; na verdade, ele diz a eles que a terra é "muito, muito boa" e que, como
eles têm Deus do seu lado, não têm nada com que se preocupar.
Mas as pessoas não o ouvem.
Quando Deus toma conhecimento do que está acontecendo, Ele fica enfurecido.
Depois de tudo que Ele fez para libertar esse povo da escravidão e levá-lo para a
sua própria terra, eles ainda têm pouca fé em sua capacidade de seguirem em
frente.
Ele decreta, então, que ninguém, a não ser Calebe e Josué, que viram as coisas
como elas realmente eram, do grupo original que havia fugido do Egito, teria
permissão para entrar na Terra Prometida.
Em seu lugar, esse seria o começo dos quarenta anos que passariam vagando pelo
deserto, um ano para cada dia que os espiões haviam passado na Terra Prometida
e só depois de passados os quarenta anos e a primeira geração ter morrido, a nova
geração teria permissão para entrar nela.
O que faz com que Calebe diga: "Eia! Subamos e possuamos a terra, porque,
certamente, prevaleceremos contra ela!" (Números 13:30), quando todos os outros
estão claramente perdendo as esperanças?
O que torna Calebe e Josué diferentes dos outros espiões e de todas as outras
pessoas?
Os espiões dizem que "éramos, aos nossos próprios olhos, como gafanhotos"
quando descrevem os gigantes que vivem na terra e o que eles, em comparação,
parecem ser.
Isso quer dizer que eles se perceberam como gafanhotos, insignificantes e fracos
quando comparados com os habitantes da terra.
Mas isso não quer dizer que eles eram muito menores — quer dizer que eles
haviam perdido a confiança em si mesmos, que se consideravam inferiores e que
viam os desafios pela frente como impossíveis de serem superados.
Isso estava acontecendo porque por anos e anos aquelas pessoas haviam sofrido
como escravos no Egito e continuavam se sentindo como se fossem escravos:
fracos, pequenos e amedrontados diante do grande e poderoso capataz.
Os espiões haviam, de alguma maneira, projetado sua mentalidade de escravos no
relatório que fizeram, e como os outros estavam imbuídos dessa mesma
mentalidade, eles acreditaram.
Calebe, por outro lado, já havia superado essa mentalidade e estava preparado
para aceitar as novas realidades da liberdade e da independência.
Infelizmente, seriam necessários quarenta anos de trabalho emocional e cura
psicológica para que os outros pudessem acompanhá-lo.
O Nome “Israel-Kaf”
O Rabino Glazerson comenta que no Rosh Miliin, a letra (Kaf) representa a palma
da mão, isto é, a parte do corpo que produz, constrói.
Podemos perceber que o (Kaf) se assemelha muito com a letra (Beit), não só
no aspecto, mas também no seu valor numérico ( = 20 e = 2).
O nome da (Kaf) significa também "colher", que é o instrumento que tem a
forma arredondada, semelhante à palma da mão.
A "colher" cheia, ou seja, a letra (Kaf), junto com o (malei — cheio) —
preenchido, cumprido —, onde juntando os dois encontramos (Malach —
anjo).
A letra ( — Kaf) é o início das palavras: (Koach ) Força, (Kavod) Honra,
(Kavir) grande, poderoso.
O( —Kaf) está intrinsecamente ligado com o povo de Israel através das palavras:
( — Kipá) solidéu – (Kova) Chapéu e (Kisui) cobertura da cabeça para
senhoras.
Das 32 vezes em que aparece a palavra (Israel Kaf) na Torá, a última
ocorre em Deuteronômio (Devarim) XXXIV:9 dizendo:
"E Josué (Yehoshua), filho de Nun estava cheio de sabedoria; portanto Moisés
(Moshê) tinha posto, sobre ele, as suas mãos (palma da mão)..."
A guimátria ATBaSh de (495) possui os mesmos números da guimátria
Absoluta de Josué (Yehoshua), filho de Nun) — 549.
Após apresentar a série ao Rabino David Weitman — a qual achou interessante — e
usando de seu brilho intelectual, chamou-me a atenção na continuação da mesma
seqüência no texto sagrado, que não pára por aí, mas segue ao invés de diminuir
(10) dez vezes, aumenta (10) vezes a partir da letra (Kaf), gerando as palavras
Israel Ki Sarita, ou em hebraico, conforme Figura 27.
Podemos observar ainda mais, que as letras que ficam nas extremidades desta
seqüência — de (Yud — 10) ao outro (Yud — 10), são (Mem — 40) e
(Tav — 400) — dez vezes mais, além de que, do (Mem) até o (Tav),
encontramos 10 letras intermediárias.
Também temos, a partir da primeira letra (Yud), somando-se o conjunto de 3 em
—510, —51 e —510) uma relação de 10 vezes entre eles.
3 letras (
Com essas letras podemos formar as palavras: (Yashar Elech Yashar
— reto andarei reto), dando concordância ao versículo em Deuteronômio (Devarim)
XVI:20:
"A justiça, e somente a justiça, seguirás".
A letra (Kaf) possui o valor numérico = 20.
Vinte em hebraico se escreve Esrim ( = 620), que é o mesmo valor da
palavra Keter ( — coroa).
Podemos perceber que o número de letras no relato dos 10 mandamentos é 620; e
a última letra, ou seja, a 620ª é a letra (Kaf).
No Sefer Bereshit (Gênesis), encontrarmos 2774 letras (Kaf), assim:
2+7+7+4 = 20.
- Os trompetes da reputação
J. E. — Há um célebre texto dos Pirkê Avot — Ética dos Pais* — que diz que
existem quatro coroas para cada ser humano.
Rabi Shimon dizia: "Existem três coroas. Em primeiro lugar, a da Torá, que é a
coroa do saber.
A segunda coroa é a da realeza ou do poder.
E a terceira coroa é a do sacerdócio.
Temos, portanto, o saber, o poder e o sagrado, que os sacerdotes do Templo
transmitem.
Mas a elas se acrescenta uma quarta coroa: a da boa reputação: "A coroa do bom
nome supera as outras coroas" (Ética dos Pais).
Um comentário hassídico diz que a coroa da realeza, nem todos podem tê-la,
tampouco podem todos ter a coroa do sacerdócio: é preciso, para isso, pertencer à
linhagem dos sacerdotes, ser cohen.
Por conseguinte, para nós, simples judeus, só nos resta a coroa da Torá.
Isto é muito importante: a Torá é considerada o patrimônio virtual de todo judeu.
Ora, a palavra kéter tem por valor numérico 620, e há 620 letras no texto dos Dez
Mandamentos.
O que quer dizer que é a Kéter Torá — a coroa da Torá — que, coroando o homem,
lhe confere sua dignidade.
Um simples judeu não pode aspirar à coroa do sacerdócio nem à da realeza.
Mas a coroa da Torá, cada um pode obtê-la.
- Jogos de mãos
- O outro kaf
A. S. — Kaf é a primeira das cinco letras que têm esta particularidade.
Uma grafia no início e no meio de uma palavra, e outra no fim da palavra.
Denomina-se isto "kaf comum" e "kaf curvado".
O kaf comum aparece como um tipo de variante do kaf curvado.
Em etíope é a mesma coisa.
Os eruditos, aliás, se colocam uma questão: qual é a forma original? Seria o kaf
comum ou o kaf curvado? O kaf reto é um kaf curvado que foi endireitado?
Por outro lado, em muitos livros de mística as letras finais têm um valor maior do
que as letras comuns, uma forma mais bem acabada.
A. S. — Existe ainda outro kaf que aparece em vários lugares; ele designa a
proteção.
Deus diz a Moisés: "Colocarei a palma de minha mão sobre ti..." (Êxodo 33,22).
É preciso lembrar que é colocando as mãos sobre a cabeça de outrem que se o
abençoa.
Isto significa também "guardar": guardo um objeto colocando a mão sobre ele.
Eu o preservo.
No entanto, "guardar" é um verbo ambíguo.
Este homem que domina seus instintos é alguém que se "mutila" ou alguém que se
protege?
Quando se diz que um homem está sob proteção em um lugar diz-se que o
"guardamos".
O que é preciso compreender?
Que este homem está sob vigilância, subjugado, ou então que ele está protegido?
É uma casa ou uma prisão?
- Toca aqui
J. E. — Dizem que um dia todas as nações farão o kaf, elas prestarão juramento e
fidelidade ao Deus único.
"Todas as nações, batam palmas" (Salmos 47,2).
A. S. — "Plantar" sua mão significa também que duas pessoas estão felizes de ter
conseguido chegar a um acordo, com o qual elas se comprometem reciprocamente.
Na realidade, este tipo de comprometimento existe na Lei judaica desde a Idade
Média: dar sua mão a outrem é uma promessa, um juramento.
É até mesmo mais forte do que um juramento ou uma assinatura.
Por exemplo, na versão sefaradi do contrato de casamento — Ketubá — o noivo se
compromete, através de um juramento solene, designado precisamente como
"plantar a palma de sua mão", dando a mão ao rabino sob o dossel nupcial.
J. E. — Este costume, que se denomina em francês "Toca aqui!", existe ainda hoje.
Na Antiguidade batia-se uma mão na outra para um acordo sobre uma venda ou
uma transação.
Hoje em dia os comerciantes de diamante de Antuérpia continuam.
Quando fazem uma venda de diamantes eles pronunciam as palavras "mazal ou
brachá" — sorte e bênção —, que substituem o contrato.
Esta fórmula é suficiente para comprometer a palavra de cada um.
J. E. — Abordemos agora a simbólica destas duas mãos: iad, a mão reta, e kaf, a
palma da mão, a "retidão" e a "curvatura".
Havia dois tipos de shofar, o chifre de carneiro que se toca no ano novo (Rosh
Hashaná) e no dia do perdão (Iom Kipur).
Aquele que usamos deve ser curvo: esta curvatura representa o símbolo da
humildade.
Sabemos que durante estes momentos solenes — Rosh Hashaná e Iom Kipur —
pedimos perdão pelos nossos erros: estamos humildes e curvados.
Mas no Bet Hamikdash — o Templo de Jerusalém — o shofar era reto.
O que quer dizer que há duas situações do povo judeu: a postura na qual o povo
deve estar curvado, cheio de humildade, e a postura retilínea, de retidão.
Todo ser humano deve passar pela postura curvada.
Ele deve suportar o peso de seus erros, até reencontrar uma estatura reta, na qual
reencontrará sua dignidade.
A. S. — O problema da salvação de Israel está, na realidade, ligado aos nomes que
leva Jacob.
Seu primeiro nome, Jacob — Iaacov significa curvado, submetido ao poder de
outrem.
Ao passo que o nome de Israel conota o poder.
Lamed
Som: L
Arquétipo: Efraim.
Aplicação:
Mover-se.
Pensar grande.
Aprender e ensinar conforme nosso coração.
Sombra:
Grandiosidade.
Vício em trabalho.
Aprendizado estreito, livresco.
Reflexão:
Qual é minha paixão e meu prazer?
Qual é o desejo do meu coração?
Como ir em direção a esse desejo?
Ação sugerida:
Hoje mesmo, dê os primeiros passos em direção à execução de um projeto ou
trabalho que você vem adiando.
Sefer Yetziyrah: “Ele fez a letra Lamed reinar sobre a copulação, corou-a,
combinou-a com cada uma das outras e, com elas formou: Libra no universo,
Tish’rê no ano e a vesícula biliar na Nefesh...” (S. Y. 5.13)
Comentários:
A tradição dá a esta palavra o sentido de "vara", mas também o de ensinar,
aprender, instruir.
A vara conduz o gado para fazê-lo avançar e Lamed toma então o sentido de guia,
de instrutor ou de aquele que ensina.
É a expressão da força interior, do movimento da riqueza interior em direção do
exterior.
Dizem ainda que Lamed é uma asa que se movimenta.
Apesar de tudo, o nome desta letra evidencia, de preferência, o poder intelectual
com "lemed", o estudo ou a ciência.
A Árvore das Vidas é conhecida também como os 32 Caminhos da Sabedoria .
O número 32 em hebraico , escreve-se com Lamed (última letra da Torá) e Beit (a
primeira letra da Torá) .
Assim, a Torá está envolvida pelo 32 e trás o ―caminho‖ no seu coração, pois
Lamed e Beit formam a palavra ―lev‖ que significa ―coração‖ .
Lamed é a letra que mais sobe do alfabeto hebraico, indicando uma visão
antecipada ou mais abrangente das coisas.
Como palavra, significa tanto "aprender" como "ensinar" e, num estágio mais
avançado, aquele que aprende para poder ensinar.
Seu desenho é formado pela composição das letras Caf (20) e Vav (6), e assim,
Lamed estimula a busca do sagrado, dos sentimentos mais elevados, das
dimensões superiores (26 é a guematria do Tetragrama Sagrado).
Por ser a última letra da Torá, representa o homem evoluído depois de ter
assimilado os ensinamentos deixados pelo Eterno.
Como dissemos acima, Lamed é a única letra do alef-beit cujo formato ascende
acima do limite superior das letras.
Entende-se disso como refletindo a grande saudade existencial e a aspiração do
lamed de retornar à sua fonte suprema e absoluta na essência do Infinito Ser
Divino.
Esta é a experiência da verdadeira teshuvá (retorno) de Rosh Hashaná e Yom
Kipur.
A Infinita Luz de D’us desce e se torna manifesta nos dois lameds do Lulav (Folha
de palmeira) na Festa de Sucot (Festa das Cabanas).
Nós aprendemos que o Baal Shem Tov colocava a palma de sua mão no coração de
uma criança judia e abençoava-a para que esta fosse um ―judeu quente‖. A palma,
o poder de concretizar o potencial, se manifesta — no nível espiritual interior — na
―vontade [coroa, keter] do coração‖ para conceber e se unir com a Vontade de
D’us, os ensinamentos da Torá.
O lamed, o coração, anseia de forma ascendente e se conecta com o yud do insight
Divino.
Isto se reflete na forma da letra lamed — um Kaf (ou caf) elevando-se até um yud.
Este também é o segredo da sequência espiritual indicada pelas letras da palavra
―Kli ou keli‖, ―recipiente‖ (kaf-lamed-yud): o poder de concretizar o potencial (a
palma [kaf] do Baal Shem Tov), manifestado no anseio do coração [lamed] de se
elevar para conceber o segredo da sabedoria Divina [yud].
Por toda a Torá, do começo ao fim, o coração simboliza o conceito primordial de
recipiente, o segredo de Eva.
O propósito das viagens do povo judeu no deserto foi transformá-lo num jardim:
levar D'us a um local desolado. Como carregavam com eles a Arca Sagrada — e
dentro dela a Torá — todo e cada um dos acampamentos dos hebreus se tornou
não somente um jardim espiritual, mas um jardim no sentido literal.
Esta tornou-se uma lição e um marco para o povo judeu em todos os seus futuros
exílios.
D'us estava informando a eles: No decorrer da história, vocês terão de viajar. Irão
de um país a outro, e a outro.
Mas aonde quer que vão, devem levar a Arca de D'us junto — introduzindo
Divindade àquela área, elevando-a e tornando seus habitantes mais refinados e
espirituais.
Este é o objetivo de um hebreu.
Este poder de transformar o mundo seriamente começa quando completamos trinta
anos.
Até então estamos apenas treinando.
O Midrash Shmuel declara que a pessoa tem a habilidade de orientar e influenciar
os outros para o bem com a idade de trinta anos.
Até então, está apenas lançando os alicerces.
Encontramos outra guematria interessante em relação ao lamed.
Tanto o alef (na forma da palavra ―ulfana‖) quanto o lamed (como em ―lamed‖)
representam D'us como um professor.
Qual é a conexão entre as duas letras?
O desenho do alef é formado de dois yuds e um vav; 10 e 10 e 6 = 26.
O lamed é formado de um kaf e um vav: 20 e 6 = 26.
Vinte e seis é a guematria do nome de D'us, o Tetragrama Yud-Hei-Vav-Hei. Porém
há uma marcante diferença entre os estilos de ensinar do alef e do lamed.
O alef é mais teórico, enquanto o lamed é mais prático.
Por exemplo, o alef representa a Lei Escrita da Torá (histórias e conceitos em geral)
ao passo que o lamed se concentra na Lei Oral (como aplicar na prática estes
conceitos no comportamento do dia-a-dia da pessoa).
Alef, sendo a primeira letra, representa o primeiro passo para adquirir
conhecimento, e portanto é mais teórica. A letra lamed aparece na metade do alef-
bet, e portanto é mais profunda dentro do processo. A essa altura, você está
preparado para traduzir o conhecimento teórico em aplicações práticas.
Em uma outra fonte, o Rebe escreve' que o kaf do lamed representa o ser humano,
que é formado de uma alma Divina e uma alma animalesca, cada uma das quais
possui dez faculdades (totalizando vinte).
O vav representa D'us habitando entre elas.
O valor numérico do kaf é vinte. Quando D'us habita entre elas, Ele acrescenta
Suas Dez Sefirot, ou energias Divinas, perfazendo trinta, que é o lamed.
Talvez seja por isso que o Zohar chama o lamed de uma torre voando pelo ar. O
vav do lamed representa Divindade, espiritualidade, encontrada no alto, "no ar".
O vav, que é um conduto, atrai essa Divindade dos reinos espirituais para o mundo
físico, até ser interiorizado no kaf, o ser humano.
Esta fusão de espiritual e físico imbui o lamed com a capacidade de ensinar
conceitos muito elevados numa maneira prática.
Lamed é alta e elegante como uma palmeira (Lulav) à noite, sob a luz do luar
(L'Vanah) e para sempre (L'olam), enquanto todo mundo dorme, Lamed estuda os
livros sagrados. Embora tenha a aparência de um corpo curvado pra estudar, seu
coração (Lev) sobe como uma chama (Lahav), ficando acima das outras letras. Daí
vem a sabedoria e a força pra dizer "não" (Lo). Um idólatra diz sim, sempre sim,
mas aquele que estuda as escrituras, ouve "isto tu não o farás". Por sua elevação,
Lammed foi escolhido pra dizer "não".
Aplicação
Quando o elevado Lamed, o aguilhão, ergue a cabeça e se mostra a nós, talvez
precisemos ser aguilhoados para entrar em movimento.
Existe algum projeto ou atividade no qual possamos usar um aguihão?
O Lamed significa um momento de fazer as coisas acontecerem, de iniciar a ação.
Quando estamos procrastinando, o Lamed é o aguilhão que diz:
"Vamos! Está na hora de seguir em frente!"
Como o Lamed é a primeira letra de lev, coração, o movimento que ele exige deve
estar em harmonia com nosso ser interior.
Onde está nossa paixão e nosso prazer?
Como o Lamed, enquanto preposição, significa "para" ou "em direção a", ele
simboliza a aspiração e o movimento do coração em direção a um objetivo ou
finalidade — e em direção ao desejo do coração.
Um discípulo pediu ao Vidente de Lublin que lhe mostrasse um caminho universal
para servir a Deus.
O grande rabino respondeu que era impossível revelar às pessoas um caminho
específico para servir a Deus, porque havia muitos caminhos e as pessoas são
muito diferentes entre si.
O Vidente, porém, deu o seguinte conselho: "Cada pessoa deve observar
cuidadosamente a qual dos caminhos seu coração a inclina, e então escolher esse
caminho com toda a sua força".
O Lamed nos incita a observar cuidadosamente e em seguida escolher com toda a
nossa força.
O que está nos impedindo?
A incerteza, o desespero, a falta de confiança, o medo?
Rumi escreveu:
Esses curiosos de loja espirituais que ficam perguntando à toa:
"Quanto custa?" "Ah, estou só olhando."
(...)
Mesmo que você não saiba o que quer,
compre alguma coisa,
para participar da troca geral.
Inicie um projeto grandioso e tolo,
como fez Noé.
Não importa absolutamente nada
o que as pessoas pensam de você.
A Sombra do Lamed
O aguilhão do Lamed pode sair do nosso controle.
Nós nos tornamos submissos, jamais nos satisfazemos e ficamos sempre
aguilhoando a nós mesmos ou aos outros, exigindo um esforço cada vez maior.
Em vez de alimentar a criatividade e a realização, essa mania de controle pode
levar ao vício no trabalho e à exaustão, ou mesmo à loucura.
Quando concentramos a energia de estudo e aprendizado do Lamed muito
restritamente, para um aprendizado meramente livresco, podemos nos tornar
cerebrais em excesso, alienados do corpo e do mundo natural.
Quando nos lembramos de que a palavra "dança", , machol, contém um
Lamed, o espírito da dança pode informar nosso aprendizado e evitar que ele se
torne seco, sem vida ou desproporcional.
O "pensar grande" pode facilmente transformar-se em pomposidade e presunção.
O egoísmo, mais do que a aspiração do coração, pode levar a um desejo de
destacar-se da multidão, elevar-se acima de todos, como o alto Lamed.
Talvez seja necessário lembrar que, como disse E. E Schumaker, "o negócio é ser
pequeno".
Afinal, aquela gloriosa palavra, , Yisrael, começa com a menor letra do Aleph
Beit, antes de terminar com a maior.
Nossas grandiosas ambições talvez precisem ser temperadas com uma certa
humildade e com o coração.
Textos Complementares:
Quando Jacó viu Raquel, a filha do seu tio Labão, ele apaixonou-se à primeira vista.
Por isso, ele concordou em trabalhar para Labão durante sete anos para
desposá-la.
Conforme prossegue a narrativa, Jacó estava tão envolvido com Raquel que os anos
se passaram como se fossem minutos.
Mas na sua noite de núpcias, Lia, a filha mais velha, foi mandada para o recinto
nupcial no lugar de Raquel.
Pela manhã, Jacó percebeu que contraiu matrimônio com a pessoa errada e foi
confrontar Labão.
Mas o que estava feito estava feito e, portanto, Jacó concordou em trabalhar mais
sete anos para poder se casar com a sua verdadeira amada.
Pelo resto de suas vidas, as duas irmãs disputaram a atenção de Jacó, criando uma
família que refletia essa rivalidade, apesar do bem maior que adviria dessa
situação.
O engano é um fator importante nessa trama: não foi só Labão que enganou Jacó,
mas também Raquel, ao dar à sua irmã sinais secretos de que ela e Jacó haviam
combinado antes das núpcias para que Lia não ficasse constrangida.
E Lia também concordou em participar da farsa.
De acordo com certos comentadores da Bíblia, quando Jacó acordou pela manhã,
ele primeiro confrontou Lia, perguntando como ela tinha podido mentir e
fingir que era sua irmã.
Lia respondeu que havia agido de maneira muito semelhante à de seu marido
recente, que certa vez mentira para seu próprio pai e fingira ser seu irmão gêmeo
mau, Esaú, para obter os benefícios do primogênito.
Tendo esse fato na base de seu casamento, não é de surpreender que esse
triângulo amoroso tenha sido um dos mais famosos da história!
Lia é descrita como dotada de olhos "baços" — em outras palavras, ela é a menos
atraente das irmãs.
Enquanto alguns estudiosos da Bíblia afirmam que essa descrição indica que ela era
estrábica, outros observam que seus olhos haviam se estragado de tanto chorar, a
ponto de ficar com a visão fraca.
Por que Lia teria chorado tanto, mesmo antes de ter conhecido e se casado com
Jacó e iniciado sua relação menos que perfeita?
De acordo com fontes cabalísticas, Lia fora predestinada a se casar com Esaú e
Raquel com Jacó; os dois casais deveriam gerar doze filhos homens, cada um dos
quais se tornaria o chefe de uma tribo, e todas elas juntas formariam o povo judeu.
Lia, que sabia que Esaú era um homem do campo que não seguiria seu destino,
lamentava constantemente o fato de, por isso, não poder cumprir sua parte na
história de seu povo.
Quando Jacó conheceu Raquel, ele ficou imediatamente apaixonado por ela, não só
porque ela era muito bonita, mas porque eles "estavam predestinados" a serem um
casal.
Quando desposou Lia, ele teve que se esforçar muito para chegar a termo com as
mentiras que havia pregado em sua vida e com a maneira como elas rearranjaram
a saga da família limpa e ordenada que ela estava destinada a ser.
Lia foi a que melhor entendeu a situação e, apesar de sofrer por ser a esposa que
era vista por todos como "a segunda opção", ela se consolou com o fato de poder,
afinal, cumprir o seu destino.
Casada com Jacó e tendo seis filhos dele, ela conseguiu afinal tornar-se uma
matriarca.
Lia é o exemplo consumado de uma mulher de valor — alguém que sofre por seus
ideais, mas que permanece irresoluta em sua fé e devoção.
Depois de uma longa vida ao lado de Jacó, os dois desenvolvem um vínculo que, no
final, torna-se mais forte e duradouro do que aquele que ele tivera com Raquel.
Como eles tiveram que aplacar a raiva que sentiam um pelo outro e como o amor
dela por ele não foi correspondido por muito tempo (a despeito da família que
estavam construindo juntos), Lia e Jacó representam uma relação adulta e madura
que se aprofunda e se renova com o passar do tempo.
No final, é Lia quem é sepultada ao lado de Jacó quando morre e são os filhos de
Lia que irão cumprir os papéis mais importantes na história como chefes da
linhagem messiânica e da classe sacerdotal.
Lamed é a maior letra do aleph-bet, estendendo-se até as esferas superiores.
É a letra com a qual se escreve a palavra "lamed", que significa "aprender" ou
"ensinar".
Por isso, o Lamed representa uma forma espiritual mais elevada de conhecimento.
Segundo a Cabala, Lia representa o mundo superior da Shekinah (a forma feminina
de Deus) revelada, enquanto Raquel representa o mundo inferior dessa face
feminina de Deus no exílio.
Com isso em mente, podemos ver outra interpretação dos "olhos baços" de Lia: se
os olhos são as janelas da alma, então a alma de Lia é a que reconhece o próprio
sofrimento.
Ela viu seu caminho na vida e assumiu seu controle, mudando as circunstâncias de
sua vida para colocar as coisas em ordem.
Lia assume claramente a responsabilidade por seu destino — ela é quem o revela.
"Todos os meus mestres me tornaram sábio, mas mais ainda meus alunos."
- Talmud
Lev — coração = LA
Mevin — compreendendo = ME
Daat — conhecimento = D
É preciso saber que a palavra cérebro não existe na Bíblia, só se fala do coração.
Considera-se que é o coração que pensa.
J. E. — Há a este respeito um célebre texto na Torá:
"Deus não vos tem dado um coração para conhecer" (Deuteronômio 29,3).
Isto nos ensina que no judaísmo, mais precisamente na psicologia bíblica, o
conhecimento passa pelo coração.
A. S. — Na verdade, existe outro texto no Talmud em que está dito que as nações
sobrevivem graças a trinta Justos: os Justos das nações.
Não esqueçamos que o lamed é 30!
Ademais, existe uma lista, aliás incompleta, de acordo com a qual, ao se falar
geralmente dos sete mandamentos de Noé, portanto das sete leis universais,
atribuem-se precisamente aos não judeus, os descendentes de Noé, trinta
mandamentos a ser cumpridos.
Por exemplo, uma coisa que eu creio ser praticamente universal, mesmo entre os
povos que não têm tabus, e que figura na lista das coisas proibidas aos
descendentes de Noé: os humanos não comem carne humana!
Este interdito não figura em lugar algum, nem mesmo na Lei judaica!
Há, decerto, povos que comem de tudo.
Mas existe toda espécie de tabus.
J. E. — Tomemos um exemplo: os ingleses não comem carne de cavalo.
Simplesmente porque eles têm um amor especial pelas corridas de cavalos.
Cada país tem sua cultura!
- Do estudo à ação
"Há um tempo para nascer e um tempo para morrer. Um tempo para plantar e um
tempo para arrancar o que foi plantado. Um tempo para a guerra e um tempo para
a paz. Um tempo para destruir e um tempo para construir. Um tempo para chorar e
um tempo para dançar. Um tempo para jogar pedras e um tempo para juntá-las.
Um tempo para amar e um tempo para odiar. Um tempo para rasgar e um tempo
para coser. Um tempo para abraçar e um tempo para se afastar do abraço."
- Eclesiastes 3 ss.
- Mostrar o caminho
Mem Mem final
Som: M
Formato: A letra Mem é um tanque, com uma ligeira abertura em seu canto
inferior esquerdo.
O Mem sofit: Um tanque completamente fechado.
O Mem aberto é o conhecimento revelado, o Mem fechado (sofit) é conhecimento
restrito.
Todo conhecimento deve ser aberto, mas a letra Mem sofit representa a experiência
interior.
Aplicação:
Expressar compaixão.
Deixar as lágrimas rolarem.
Aspirar a ser fluido e flexível.
Sombra:
Submergir em paixões destrutivas.
Afogar-se em tristeza.
Reflexão:
Há algum ponto de minha vida emocional onde estou represado, onde há um
bloqueio?
Como posso libertar minhas emoções para que circulem mais fluidamente?
Ação sugerida:
Nos próximos sete dias, faça alguma forma de mikveh.
Ele pode variar desde um mikveh completo, formal, até um rápido mergulho num
rio, lago, piscina termal ou mesmo em sua banheira.
O mais importante é imergir com intenção de purificação.
Em seguida, beba um simples copo d'água.
Comentários:
Segundo o Sefer Yetzirah, o texto seminal do misticismo das letras hebraicas,
existem três letras-mães no Aleph Beit, cada uma das quais representa um
elemento estrutural.
, o Aleph, significa o ar.
, o Shin, representa o fogo.
, o Mem, é a letra da água.
Em hebraico, a palavra "água", , mayim, começa e termina com Mem.
Várias palavras relacionadas a "água" começam com Mem, como , mayahn,
"origem", , mizraka, "fonte", e , motza, "nascente".
O Mem representa o ritmo natural e fluido da vida.
Em várias línguas a palavra "mar" e o som "m" estão relacionados à palavra "mãe".
Em hebraico, por exemplo,
(yahm) significa "mar", e (ahm) significa "mãe".
Em francês, mer significa "mar" e mère, "mãe".
A água é a primeira mãe.
Durante nove meses nós flutuamos na água salgada do ventre materno.
"Mama" é uma das primeiras palavras que o bebê fala.
Os adultos dizem "mmm" quando gostam do sabor de alguma coisa.
A raiz da palavra hebraica
, rachamim, "misericórdia" ou "compaixão", é
, rechem, "ventre".
Rachamim termina com as mesmas letras de mayim: Mem-Yud-Mern.
Essa letra-mãe, Mem, representa a qualidade materna da compaixão.
A Torah descreve os Treze Atributos da Misericórdia revelados a Moisés no monte
Sinai.
Mem é a décima terceira letra do Aleph Beit.
Em várias culturas, treze é um número do poder da mulher, uma vez que há treze
ciclos lunares e menstruais num ano solar.
Entre os Treze Atributos da Misericórdia estão a beneficência, a generosidade, a
tolerância, a verdade, a paciência, a compaixão e o amor (Ex. 34:6-7).
No sistema numérico hebraico, o Mem vale quarenta, número associado à
purificação.
O , mikveh, tradicional—banho cerimonial de purificação (adotado mais
comumente pelas judias ortodoxas, depois de concluído um ciclo menstrual) —
contém pelo menos quarenta medidas de água pluvial.
O Grande Dilúvio durou quarenta dias e quarenta noites.
, Moisés (cujo nome, que começa com Mem, significa "resgatado das águas")
jejuou e rezou durante quarenta dias em cada uma de suas três estadias no monte
Sinai para receber a Torah.
Os hebreus vagaram durante quarenta anos no deserto antes de ser considerados
prontos para ingressar na terra prometida.
O quarenta representa um processo de limpeza, um ciclo de purificação.
A purificação definitiva ocorrerá quando "a terra se encher do conhecimento do
Senhor, como as águas cobrem o mar" (Isa. 11:9).
Então o mundo estará pronto para receber o , Mashiach, o Messias, cujo nome
começa com Mem, a letra-mãe.
Além disso, o mem representa o ―útero‖ (―rechem‖) - que termina com um mem
fechado.
O mem fechado representa os nove meses em que o útero está fechado.
O mem aberto representa o período do parto, quando o útero está aberto.
Discutimos anteriormente que as três linhas da letra bet- duas horizontais e uma
vertical - representam três direções (ou cantos) da terra.
O lado norte, aquele que está aberto para o mal, permanece não resolvido.
Com a chegada de Mashiach, o quarto lado do bet de Bereshit - Criação - é
completado e a letra bet é transformada num mem‖. E o surgimento dessa forma
do mem por sua vez facilita a consumação de seu próprio desenho, no qual o mem
fechado – os aspectos secretos ou ocultos da Torá - toma o lugar do mem aberto,
os aspectos revelados da Torá. Pois juntamente com a paz eterna de Mashiach virá
a explicação dos motivos para o exílio, e a dor e sofrimento do povo gebreu que
o acompanhou.
Aplicação
Todos nós temos uma intimidade natural com a água.
Todos nós flutuávamos nas águas do ventre materno antes de nascer.
Todos os dias a água entra em nossa boca e percorre nosso corpo.
Sessenta e cinco por cento de nosso corpo, na verdade, é composto de água.
O Mem é a letra que faz chover essa sustentadora e essencial rnayim
chayim — a água da vida literal e metafórica.
Quando o Mem flui para nossa vida, somos convidados a ser como a água —
fluidos, flexíveis, livres.
O Mem nos conduz quando "seguimos o fluxo".
Isso não significa conformar-se indulgentemente ou acriticamente às expectativas
sociais, ou ser totalmente passivos.
Significa permitirmo-nos nascer no rio da vida de um modo natural e orgânico.
O rio das emoções faz parte do fluxo da vida.
Há algum lugar em nossa vida emocional onde estamos bloqueados, onde há uma
represa?
O Mem nos impele a procurar um modo de deixar que nossas emoções voltem a
fluir.
Estaremos tentando deter um dilúvio de sofrimento tornando-nos emocionalmente
frios ou entorpecidos?
A palavra "tumor", nas montanhas maias da Guatemala, pode ser traduzida como
"tristeza solidificada".
Os maias acreditam que, quando as pessoas não sofrem adequadamente, o que
inclui liberar o fluxo das lágrimas, a tristeza endurece e causa problemas físicos e
emocionais.
A solução é encontrar um modo seguro de liberar nossas lágrimas, a fim de que as
emoções tristes possam se liquefazer novamente e sair do corpo em vez de ficar
presas dentro dele.
O Mem nos incita a irrigar a vida com nossas lágrimas, para que a felicidade possa
brotar novamente.
O rabino Nachman de Bratislava escreveu:
"Como é bom conseguir despertar seu coração e suplicar a Deus até as lágrimas
escorrerem dos seus olhos e você parecer uma criança chorando para os pais!"
Num conto dos irmãos Grimm, "A Água da Vida", há um rei acamado, agonizando,
e o único modo de ele se recuperar é que alguém encontre e leve até ele a Água da
Vida.
Os três filhos do rei vão, um por um, em busca da preciosa água.
O mais jovem consegue, enfim, entrar num castelo encantado.
Mas, antes de localizar a fonte de onde jorra a Água da Vida, ele é obrigado a
atravessar um grande saguão cheio de homens transformados em pedra — os
aventureiros anteriores, paralisados e congelados.
Michael Meade, em seu comentário sobre a história, diz: "Viver no fim do século XX
é como participar de um imenso luto. É como um funeral permanente, um grande
perecimento da vida do mundo (...). Quando o coração conhece a tristeza, mas
jamais chora, a tristeza fica presa como uma tempestade dentro do coração.
Quando a tempestade não tem por onde vazar, ela se agiganta e se transforma
numa pedra bruta. O choro limpa o coração e o mantém aberto".
Para encontrar a água sagrada que restaura a vida no reino, é preciso ser capaz de
suportar o conhecimento da morte e da perda sem transformar-se em pedra.
O choro nos permite isso.
Chorar é uma forma de purificação.
O mikveh, o banho ritual, é outra.
Quando o Mem aparece, é um momento de mikveh, de imergir nas
rejuvenescedoras e purificantes mayim chayirn, águas da vida.
Pode ser um mikveh literal ou figurado, como a renovação proporcionada por uma
caminhada solitária pela floresta.
O segredo é limpar-se de tudo o que vem se acumulando há tempos e nascer de
novo.
O Mem nos convida a nos examinar e verificar o que não está fluindo conforme
nossos desejos mais profundos, e em seguida reafirmar nossa intenção de viver
conforme esses desejos.
A influência purificadora do Mem nos inspira a personificar mais plena e
coerentemente os Treze Atributos da Misericórdia.
Quando expressamos compaixão, bondade, paciência para com nós mesmos, e
também para com os outros, nós nos harmonizamos com a energia materna do
Mem.
, Miriam, cujo nome começa e termina com Mem, personifica várias
qualidades dessa letra.
Miriam ajuda a salvar seu irmão Moisés, ainda bebê, ao deixá-lo no rio para evitar o
decreto do faraó de matar todos os meninos judeus que nascessem.
É também uma parteira notável.
Depois de passar pelas águas do mar Vermelho, Miriam faz as mulheres hebraicas
cantarem e dançarem.
A água do poço de Miriam e o , manna (mais uma palavra relacionada ao Mem),
permitem aos hebreus sobreviver durante seus quarenta anos vagando pelo
deserto.
O Mem, como símbolo de Miriam, nos leva a cantar e louvar a Deus por nossa
sobrevivência até aqui.
Atravessamos águas profundas.
Nossa luta ainda não terminou — mas ainda estamos vivos!
O Mem nos lembra também que existem poços profundos que nós não
conhecemos.
Existem antigas correntes subterrâneas e ocultas abastecendo esses poços.
Quando as encontramos e enchemos nossas caçambas, nós criamos uma conexão
com essas correntes profundas da vida.
Mesmo quando atravessamos o , midbar, a desolação e o deserto, a
antiquíssima torrente das mayim chayim nos mantém.
A Sombra do Mem
A Torah fala não apenas das mayim chayim, mas também das "águas do mal", que
simbolizam as paixões destrutivas ou prejudiciais.
As torrentes de sentimentos podem nos submergir, ou submergir os outros através
de nós, levando embora as noções de certo e de errado.
Podemos ser inundados de grandes emoções.
O desafio do Mem é nadar pelas regiões aquosas da emoção sem se afogar e sem
perder de vista a terra firme da moral.
Um outro perigo do Mem é o de nos apegarmos à nossa tristeza como emblema de
honra, ou fonte de identidade, em vez de liberar nossas lágrimas como oferenda à
terra e a Deus.
Quando somos capazes de ofertar nossas lágrimas dessa maneira, elas irrigam uma
nova vida e preparam o solo para que se desenvolvam novas bênçãos.
Comentários Pessoais
Estou numa tenda do suor dos lakotas.
Escuridão total.
Extraordinariamente quente.
O suor está realmente escorrendo de mim e caindo sobre as tábuas de cedro que
cobrem o chão.
Embora todas as músicas cerimoniais até esse ponto tenham sido no idioma lakota,
o líder inicia, surpreendentemente, uma canção em inglês e hebraico.
"Tire água do poço vivo com alegria. Tire água do poço vivo com alegria. Mayim
chayim, águas da vida, shalom."
Como é estranho e bonito ouvir as palavras hebraicas de Isaías nesse contexto
indígena.
Quando a porta da tenda se abre, no fim daquela série de preces, alguém traz um
balde d'água.
Antes que cada um beba sua caneca da preciosa água da vida, o líder derrama um
pouco, como ofertório, sobre as pedras aquecidas no centro da tenda.
"Mini wakan", diz ele, em lakota; "mini wa chozen".
"A água é sagrada, a água é vida".
Depois de tanto calor e de tanto transpirar, tiramos água do balde e bebemos com
alegria.
O líder ensina que a água é medicinal; é sagrada.
Para meu corpo, sedento e suado nesse momento, isso é um fato óbvio e delicioso,
e não apenas uma teoria ou sentimento.
No mundo, a letra Mem até hoje me faz lembrar de mini wakan, mini wa chozen.
Mayim kadosh, mayim chayim.
A água é sagrada, a água é vida.
Textos Complementares:
Mem - Miriam
Porque os cavalos de Faraó, com os seus carros e com os seus cavalarianos,
entraram no mar, e o Senhor fez tornar sobre eles as águas do mar; mas os filhos
de Israel passaram a pé enxuto pelo meio do mar
A profetisa Miriam, irmã de Aarão, tomou um tamborim, e todas as mulheres
saíram atrás dela com tamborins e com danças.
E Miriam lhes respondia: "Cantai ao Senhor, porque gloriosamente triunfou e
precipitou no mar o cavalo e o seu cavaleiro."
Êxodo 15:19-21
Comentário
A letra Mem representa o presente, que é o útero do futuro (ver verso 37 e 50).
Em seu aspecto externo, representa Daat-Conhecimento, enquanto em seu aspecto
interno, é Keter-Coroa.
Mem tem valor numérico quarenta, que consiste de quatro passos, cada passo
contendo dez elementos.
Esses quatro passos são Keter-Coroa, Chochmá-Sabedoria, Biná-Compreensão e
Daat-Conhecimento
No verso seguinte, observamos ser o Mem aberto, que ocorre no meio da palavra,
a fêmea, enquanto o Mem fechado, que fica no final da palavra, é o macho.
A letra Mem, em si, é formada por Mem Mem, com ambos, o Mem aberto e o
fechado, e, por isso, inclui tanto o macho quanto a fêmea, pois contém ambos,
Chochmá-Sabedoria e Biná-Compreensão, Pai e Mãe.
O Mem é o ventre aberto abaixo para dar à luz.
Por outro lado, o Tet é o ventre aberto em cima para receber do Macho.
Em outro sentido, existem duas Sefirot fêmeas, Biná-Compreensão, a Mãe divina, e
Malchut-Reino, a Noiva divina.
Mem é o útero de Biná-Compreensão, enquanto Tet é o de Malchut-Reino.
Uma vez que Biná-Compreensão é uma das três insondáveis Sefirot superiores,
pode ser vista apenas externamente.
Por outro lado, Malchut-Reino é o útero do universo, e portanto visível apenas pelo
lado de dentro.
Estamos dentro da letra Tet, olhando para cima através de sua pequena abertura
no topo.
Comentário:
Conforme mencionado anteriormente, a água representa o conceito da
transformação, sendo esse também o principal conceito nascimento.
Aqui, o ensinamento inclui a totalidade do mistério da Mikvá, banheira ritual usada
para purificação.
A Mikvá contém quarenta (medidas) de água, e quarenta é o valor numérico de
Mem. Portanto, a Mikvá representa o útero.
Ao entrar na Mikvá, é como se a pessoa reentrasse no útero e, quando emerge, é
como se renascesse.
O conceito do Mem é o do presente, enquanto água representa transformação.
O presente é a arena de toda a transformação.
O conceito da água contém ambos os aspectos, macho e fêmea.
Estão indicados pela água acima e abaixo do firmamento (Gênese 1:7).
A água masculina é transformação ativa, enquanto a água feminina é
transformação passiva, sendo as duas, ação e reação, respectivamente.
- Lugar e Deus
J. E, — Há, apesar de tudo, constantemente esta ideia de que quando o mem está
no início de uma palavra ele significa um verdadeiro início; em contrapartida,
quando ele está no fim da palavra seu sentido é a meta ou a finalidade.
Quando usamos a palavra haMakom — o Lugar — para consolar uma pessoa em
luto é para expressar nossa incompreensão em face da morte, afirmando, ao
mesmo tempo, que ela tem um sentido que se desvelará no "final".
Este mem final, fechado, permanece o símbolo do irracional.
- Um 13 que dá sorte
A. S. — Já que ela fala de Moisés "tirado das águas", como a filha do Faraó podia
conhecer o hebraico?
Será que as mulheres francesas conhecem o hebraico?
Moshe é um nome egípcio.
Encontramo-lo em Tut-Mosis.
Isto significa simplesmente: "água".
Moisés é água.
Moisés é "a grande fonte".
Na Cabalá se diz que Deus "irriga" o mundo.
Moisés vê o fluxo divino que desce como água, de cima para baixo, para alimentar
as coisas.
Trata-se, na realidade, das águas de Moisés, o homem das águas.
Além disso, a última letra de Abraham (Abrahão), o mem, é a primeira letra de
Moshe! Moisés começa onde termina Abraham.
A. S. — Do mesmo modo, os quarenta dias nos quais Moisés ficou no monte Sinai.
A propósito dos quarenta dias do Dilúvio: existe uma similitude entre o Dilúvio e o
dom da Torá: Mabul — Dilúvio — e matan — dom.
O Dilúvio é queda d'água.
E — já o evocamos — a Torá é comparada à água.
"A terra será plena do conhecimento de Deus, assim como o mar é cheio de água."
- Isaías
J. E. — Efetivamente.
Mas por que trinta e nove trabalhos proibidos no shabat?
O Talmud diz: "40 menos 1".
Onde está a imperfeição?
J. E. — Com respeito ao castigo com "pauladas", a Torá diz: "quarenta golpes", mas
os rabinos interpretam "40 menos 1".
Porque há o perigo de que o quadragésimo golpe seja mortal, portanto há uma
forma de compaixão.
Trata-se de uma precaução para evitar o pior.
A. S. — Mem é o espaço.
Com o mem final, esse espaço é fechado, protegido.
Ao passo que o mem comum é aberto para baixo: pode-se "cair"...
Ele é quase fechado, mas tem uma saída.
Pois toda letra que inclui o vav expressa o que esta letra (vav) significa: pode-se ir
mais longe. Um prolongamento.
Ir de um lugar ao outro, é sempre o que conota o vav.
É a letra da passagem.
Nun Nun final
Som: N
Conceito: Sempre que falamos na letra Nun, nos referimos ao olfato associado a
ela. O olfato é o sentido mais antigo no ser humano, sentido este que perdemos no
instante da ruptura original.
Antes da queda do Jardim do Éden, éramos dotados de um faro típico do faro dos
mamíferos, que é bastante aguçado.
Com a ruptura perdemos esse faro, associado ao instinto.
O instinto essencial é uma espécie de intuição animal, e essa mesma intuição
animal é o que faz com que um simples inseto consiga antever uma tempestade e
nós não.
Na ordem do Aleph Beit, depois do Mem, a letra da água, vem o Nun.
Em aramaico, antiga língua semítica aparentada ao hebraico, a palavra Nun
significa "peixe".
O grande peixe que engoliu Jonas é um famoso nun bíblico.
, Jonas, com a letra Nun no meio de seu nome, desobedece à vontade de Deus.
É atirado ao mar e passa três dias no ventre do peixe.
Dentro do nun gigante, ele encontra, em vez da morte, a vida; em vez da
destruição, a renovação.
Jonas sai de sua ordália vivo e transformado (embora ainda tenha que aprender
algumas lições sobre compaixão e perdão).
O Nun, enquanto "peixe", representa também fertilidade e produtividade.
O peixe se reproduz relativamente rápido.
No Gênesis, os peixes foram as primeiras criaturas abençoadas: "Frutificai e
multiplicai-vos, e enchei as águas nos mares" (Gên. 1:22).
Os peixes são também um bom fertilizante, colaborando com a abundância da
safra.
O Nun está relacionado à raiz das palavras hebraicas nav, , "brotar", e
n'nun,
, "florescer" ou "vicejar".
Mas, como muitas outras letras hebraicas, o Nun contém um paradoxo.
O Nun significa o oposto de brotar e de florescer, pois está relacionado à raiz do
sinônimo hebraico de "declínio" e "degenerado", .
O Nun abrange ao mesmo tempo criação e destruição, fluxo e refluxo.
Como peixes nadando entre as marés inconstantes do mar, o Nun habita as
circunstâncias inconstantes da vida.
Formato: A letra Nun é um servo curvado com uma coroa em seu topo.
O Nun final: a mesma figura com sua base caída na extensão vertical.
Arquétipo: Menashe.
Aplicação:
Nadar, acompanhando as cheias e vazantes da vida.
Derrubar as muralhas da separação, da ignorância, do medo, do ódio.
Desfrutar de um jubileu de liberdade.
Sombra:
Frieza. Indiferença.
Reflexão:
Estou me apegando a conceitos ultrapassados e a antigos e negativos padrões de
pensamento e de ação?
Como posso me libertar deles e nadar com mais liberdade nas correntes da vida?
Ação sugerida:
Eleve seu coração e seu espírito cantando um niggun durante pelo menos cinco
minutos hoje.
Se você não conhece nenhum niggun, procure alguém que possa ensiná-lo ou
invente um, cantando "dai, dai, dai" ao som de alguma música sua.
Sefer Yetziyrah: “Ele fez a letra Nun reinar sobre o olfato, corou-a, combinou-a
com cada uma das outras e, com elas formou: Escorpião no universo, Chesh’van no
ano e o intestino na Nefesh...” (S. Y. 5.13)
Comentários:
Em geral esta letra representa um "peixe", mas também pode vir ligada a imagem
de uma "serpente". De fato, a palavra serpente, "nachash", começa por Nun.
Ela é a letra da fecundidade e da proliferação.
Mas o Bahir transforma a palavra Nun em "Yinun" que significa "emanar" (e
―ionizar‖, em hebraico moderno), representando a energia do cérebro servindo-se
do corpo e, por extensão, a Neshamá aspirada pelas narinas.
Diz o Bahir:
"Nun ensina que o cérebro constitui o essencial da coluna vertebral e que é dela
que ele tira constantemente sua substância. Sem a coluna vertebral, o cérebro não
poderia subsistir, porque o corpo inteiro só funciona pelo cérebro. Ora, sem o corpo
inteiro, o cérebro não existiria. Eis porque a coluna vertebral se serve do cérebro.
É o que significa o Nun curvado."
Como já dito, Nun significa "peixe" e a imagem do peixe está associada à figura do
―tsadik‖ ("justo"), aquele que alcançou o nível de Guevurá no seu processo de
crescimento espiritual.
Segundo o Tanya, o tsadik é aquele que eliminou por completo a má inclinação de
seu coração (ou possui um pequeno resíduo sob absoluto controle).
Adicionalmente, Nun tem guematria 50, um número associado ao entendimento e à
liberdade.
49 é a guematria de ―cholé‖ ("doença"), de modo que 50 também representa a
cura de todos os males que limitam o nosso crescimento.
A meditação na letra Nun, entre outras coisas, vai nos ajudar a descobrir os
pequenos escorpiões (Nun é a letra que formou de Escorpião no Universo) que
trazemos dentro de nós: aqueles sentimentos camuflados de medo, ódio, mágoa,
etc. que surgem de uma hora para outra em momentos críticos e voltam a se
esconder sem que sejam resolvidos.
A Torá não nos informa sobre o intelecto de Yehoshua, mas sim que era discípulo
de Moshê — estava sempre ao lado de Moshê e na sua tenda.
Por que ele mereceu herdar de Moshê a liderança do povo judeu?
Porque ele abraçava a humildade com todo o seu ser.
Antes mesmo de o Rei David se tornar rei, ele era famoso como "o veredicto final‖
Como declara o Talmud: "D'us está com ele." Por que? Porque "a lei segue de
acordo com ele.".
O Rei Shaul, seu predecessor, era brilhante, mas a Halachá foi determinada de
acordo com David. Sabemos que David era muito humilde - ele era chamado "o
servo do Senhor" e "Meu servo David".
Além disso, Hilel, o famoso rabino e erudito Tanaico, enfrentou muitas vezes seu
colega Shamai para determinar a Lei Judaica. Shamai na verdade era
intelectualmente mais afiado que Hilel, mas a Halachá foi decidida de acordo com
Hilel por causa de sua humildade e bondade.
O Hayom Yomi declara: "A qualidade singular de Mashiach é que ele será humilde.
Embora ele vá ser supremo em grandeza — pois ensinará Tora aos Patriarcas e
também a Moshê — assim, também, ele será supremo em humildade e auto
anulação, pois também ensinará as pessoas simples."
Não importa se a pessoa serve a D'us por amor ou temor, ou se é curvado ou
ereto, a centelha de Mashiach encontrada dentro de cada um de nós vai nos dotar
com a humildade para abraçar a diversidade da criação.
Aplicação
Assim como Josué derrubou as muralhas de Jericó, o Nun também rompe as
muralhas de nossa vida.
As limitações, sejam auto impostas ou impostas externamente, caem diante do
poder do Nun.
Existem vários tipos de muralhas: o ódio, o medo, o preconceito, a ignorância, a
ilusão.
O Nun proporciona a coragem de que essas muralhas podem cair.
Nós, como Jonas, podemos encontrar vida e esperança numa situação
aparentemente sem saída.
Mas, como no caso de Jonas, a ressurreição exige uma transformação radical.
Depois de sobreviver no ventre da besta, não podemos simplesmente voltar à vida
de sempre.
O Nun nos desafia a viver como se tivéssemos emergido das profundezas e
recuperado milagrosamente a vida, cuidando do que é realmente importante e
abandonando conceitos ultrapassados e limitados e velhos padrões negativos de
pensamento e de ação.
O Nun rompe limites, elimina barreiras e separações e nos conduz a um jubileu de
emancipação.
Nas palavras do spiritual negro e do famoso discurso "I have a dream" ["Eu tenho
um sonho"] do reverendo dr. Martin Luther King, Jr., o Nun canta:
"Livres enfim! Livres enfim! Graças a Deus Todo-Poderoso, estamos livres enfim!".
Esse é o sonho do Nun.
Um dos modos de tornar real o sonho de liberdade está sugerido no processo de
contar o Omer, dia após dia.
Essa prática refaz, simbólica e metafisicamente, a passagem dos judeus de sua
recente fuga da escravidão para a profunda revelação de Deus, por meio da Torah,
no Sinai.
Essa passagem é uma jornada gradativa, passo a passo.
Inclui vários momentos de dúvida, apostasia. e medo.
Precisamos de disciplina, perseverança e fé para viajar da escravidão à iluminação.
O Nun nos conduz no caminho da libertação do que quer que seja limitante e
opressivo e nos encoraja: "Continue caminhando! A Terra Prometida está adiante".
Quando se conta o Omer, diariamente durante cinqüenta dias, enumera-se:
"Hoje é o __° dia do Omer".
Para os cabalistas, cada dia do Omer corresponde a uma combinação diferente das
qualidades das Sefirot, os ramos da Árvore da Vida.
Medita-se sobre as qualidades sagradas de cada dia e procura-se incorporá-las.
Os cinqüenta dias do Omer evocam as Cinqüenta Portas do Entendimento.
Não se pode atravessar todas essas portas místicas de uma vez; é um processo
gradativo, para a vida inteira.
Na verdade, quem atravessa a qüinquagésima porta, já está além do nosso plano
de existência atual.
O Nun estimula a observar e afirmar os pequenos passos de progresso que nós
vamos dando conforme avançamos gradativamente em direção à libertação e à
iluminação.
Por outro lado, quando as muralhas da ilusão e da separação caem, elas caem
mesmo!
A iluminação vem de repente, provocada por um som, uma visão, uma palavra, um
cheiro.
O mundo se impõe a nós, as separações e barreiras se desfazem e a contagem ou
prática passo a passo, dia após dia, cede completamente.
A Terra Prometida está bem aqui!
Parte da tensão, ou dialética, do Nun é entre libertação súbita e disciplina diária.
Como lidar com a terrível responsabilidade da liberdade quando ela surge?
Os escravos fugitivos — os hebreus — recebem os Dez Mandamentos e a Torah
para ajudá-los.
Liberdade não significa fazer tudo o que quisermos.
Nosso comportamento está circunscrito por uma ordem ética.
Depois de receber a Torah, os hebreus passam mais quarenta anos vagando antes
de se fixar.
Depois da revelação, a vida continua, dia após dia.
Essa, portanto, é a verdadeira substância da liberdade: comer, dormir, caminhar,
trabalhar, divertir-se, rezar, falar, cantar.
A estrada para a Terra Prometida é a Terra Prometida.
Com o Nun, nadamos à vontade entre as cheias e vazantes da vida.
Ora nubladas, ora ensolaradas.
Ora tempestuosas, ora calmas.
Ora quentes, ora frias.
Com lágrimas, risos, enfado, exuberância, cansaço e renovação, medo e exaltação,
nós nadamos no grande Oceano.
Em "The Poor Thing" ["O Pobre Coitado"], fábula de Robert Louis Stevenson, um
pobre pescador propõe casamento à filha de um nobre rico dizendo: "Imagine
nossos filhos, os coraçõezinhos curiosos, as cabecinhas brancas. E que isso seja
suficiente, porque é tudo o que Deus oferece".
A vida cotidiana comum é ela mesma o grande tesouro.
"Livres enfim!", diz o velho spiritual.
O Nun inicia e termina a palavra hebraica niggun, , "música" ou "melodia".
Pode-se dizer que os niggunim são os "spirituals judaicos".
Essas canções sem letra dos hassidim servem para derrubar as muralhas entre o
humano e o divino, elevar quem canta às alturas do êxtase, abrir as próprias portas
do Paraíso.
Quando o Nun surge nadando em nossa vida, é um bom momento de aprender e
cantar alguns niggunim.
Eles abrem nosso coração, elevam nosso espírito e ajudam a derrubar as muralhas.
A Sombra do Nun
Os peixes são frios e ardilosos.
Quando personificamos muito literalmente o Nun, corremos o risco de procurar
evitar as pessoas ou a vida escondendo-nos embaixo d'água, mergulhando fundo
para desaparecer de vista.
Podemos acabar nadando em águas solitárias.
Na tentativa de ser livres, podemos nos ver encurralados em cavernas auto
impostas.
O Nun nos desafia a encontrar um equilíbrio saudável entre liberdade e disciplina,
espontaneidade e método, fluxo e refluxo.
Quando nos apegamos demais a apenas uma dessas dicotomias, acabamos
capturados pela armadilha do pensamento dualista.
Textos Complementares:
Dez gerações se sucederam entre Adão e Eva e Noé — mas quando a sua história
começa a ser narrada na Bíblia, a sociedade não havia evoluído muito.
O mundo de fato havia caminhado rapidamente para um estado de coisas
lamentável: as pessoas eram conhecidas por roubarem, enganarem, serem
violentas e sexualmente imorais.
Mas Noé manteve-se íntegro e, assim, quando Deus decidiu que o mundo inteiro
precisava ser destruído por um terrível dilúvio para depois poder ser totalmente
reconstruído, Ele colocou a salvo apenas Noé e sua família.
Muito se tem dito a respeito da qualificação "em suas gerações".
Segundo alguns, Noé foi a única pessoa realmente boa de todas as dez gerações
que haviam existido.
Para outros, a situação é menos positiva: Noé pode ter sido bom quando
comparado com todos os seus vizinhos, mas se colocado numa outra época e num
outro lugar, ele não teria sido descrito da mesma maneira.
Uma das interpretações faz uma comparação entre uma moeda de prata e um pote
de moedas de cobre.
Comparada às moedas de cobre, a de prata brilha, mas se colocada ao lado de uma
moeda de ouro, não há nenhuma dúvida de qual é a mais valiosa.
Noé distingue-se das outras grandes figuras da história bíblica pelo fato de não
questionar nem discutir com Deus.
Quando Deus vai até ele e diz que pretende destruir todo o mundo perverso, mas
salvar a ele e sua família por meio da arca, Noé não pergunta por que, não tenta
fazer Deus mudar de idéia ou desistir de suas intenções destrutivas.
Pelo contrário, ele segue exatamente as instruções quanto às medidas da arca e o
número de animais a levar consigo e prepara-se para fazer o que Deus mandou.
Não foi o que aconteceu com Abraão quando, muitos anos depois, ele foi informado
de que a cidade de Sodoma seria destruída por causa da imoralidade que imperava
nela: ele tenta barganhar com Deus para salvar, pelo menos, as poucas pessoas
boas que existiam entre os ímpios.
O silêncio de Noé é, neste caso, tão controverso como sua descrição do que é ser
íntegro "em suas gerações".
De um lado, ele é obediente e tem plena fé na vontade de Deus; de outro, ele não
exerce a vontade e a capacidade do homem para negociar, interpretar e expressar-
se por si mesmo, com as quais veio ao mundo e isso é uma decepção.
É sempre difícil saber quando ser forte e calar e quando se levantar para lutar em
defesa dos próprios interesses e, especialmente, quando a situação requer essa ou
aquela resposta.
Se Noé respondeu ou não "corretamente" às circunstâncias que lhe foram colocadas
não é a questão — o mais importante é saber que ele "andava com Deus", vivia sua
vida com um senso de propósito, sabendo que havia uma força superior guiando
sua vida.
Era isso que o distinguia do resto da sociedade e o tornava merecedor da arca e de
ser o patriarca das novas gerações e o novo começo do mundo.
Quando o dilúvio terminou e o mundo voltou a funcionar, Deus fez uma aliança com
Noé.
Ele enviou um arco-íris através do céu e, com ele, prometeu jamais voltar a
destruir o mundo de uma forma tão avassaladora.
Noé, por sua vez, estabeleceu o que ficou conhecido como Leis de Noé, as sete
diretrizes básicas para o comportamento moral que surgiram muito antes dos Dez
Mandamentos.
Essas leis (não matar, não cometer idolatria, não roubar, não praticar incesto, não
cortar a carne de um animal vivo, não blasfemar e não prestar falso testemunho
diante de um tribunal) aplicam-se a toda a humanidade, independentemente de
idade, raça ou religião.
O fato de nossas leis básicas que regem o comportamento moral levarem o nome
de Noé nos diz algo muito importante: ser íntegro, mesmo que venham a existir
nas futuras gerações outros que superarão em muito a nossa integridade, merece a
criação de todo um novo mundo.
A carta Nun vem nos ensinar a Teoria da Relatividade Espiritual: tudo é relativo.
Vemos as coisas de uma determinada maneira com base em nossas experiências de
vida, mas os outros, com suas diferentes experiências de vida, vêem do ponto de
vista contrário.
Certo e errado são categorias subjetivas que estão em constante mudança.
Por mais que nos seja impossível suportar as injustiças, e todos nós temos que nos
esforçar para manter os princípios mais básicos da moralidade e da justiça, não
podemos de maneira alguma julgar os outros de acordo com nossos próprios
critérios.
Noé não era perfeito, nós não somos perfeitos e o mundo em que vivemos não é
perfeito.
Esta carta pede para você aceitar a si mesmo e procurar modos para melhorar o
seu comportamento.
Aceite o mundo, mas não fique sentado esperando que ele desmorone quando pode
ser ativo e ajudar a fazer dele um lugar melhor.
De um cego não se pode esperar que pinte paisagens de um mundo que ele nunca
viu; portanto, é importante saber que você só pode julgar a si mesmo de acordo
com suas próprias capacidades e circunstâncias.
Comentário:
A letra Nun tem a forma de um Zain alongado, e seu valor numérico é cinqüenta.
Se observarmos o Diagrama da Àrvore da Vida, veremos que existem quatro Sefirot
na linha central: Keter-Coroa, Tiferet-Beleza, Yesod-Fundação e Malchut-Reino.
Quando a quase-Sefirá, Daat-Conhecimento, é também incluída, a linha central tem
cinco elementos, e é esse o significado do Nun.
Cada um desses cinco elementos é multiplicado por dez, resultando em cinqüenta -
valor numérico do Nun.
É esse o conceito da medula espinhal, que une o corpo ao cérebro.
Anteriormente, foi dito que o Nua é Biná-Compreensão (ver verso 61), devido ao
fato de Keter-Coroa ser somente compreendida por intermédio de Biná-
Compreensão, o conceito do Ouvido.
Por essa razão, a "cabeça" do Nun é inclinada ligeiramente à esquerda, indicando a
preponderância de Biná-Compreensão.
Nun é, também, a letra final de Ozen, que significa "ouvido".
É o conceito do Filho, Ben em hebraico, onde Chochmá-Sabedoria, associado ao