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Rosa Iavelberg
Sobre a autora
Rosa Iavelberg Doutora em Arte-Educação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
Professora da graduação e da pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Coordenou e
elaborou os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte do Ensino Fundamental de 1a a 4a séries na Secretaria de
Educação do Ensino Fundamental do Ministério da Educação, e é uma das elaboradoras do documento de 5a a 8a séries.
Consultora de Artes dos Referenciais Curriculares Nacionais de Educação Infantil. Atua na Formação Contínua de
Professores e também em assessorias a projetos sociais na área de Arte. rosaiavelberg@uol.com.br.
CDU 371.13:7.01
Nos anos 80, Alixa trabalhou com livre expressão. Seu conflito estava refletido em
uma ambigüidade, pois, como artista, vivia ao mesmo tempo um processo rico em
pesquisa e um processo empobrecedor com os alunos, aplicando a didática da escola
renovada, restrita ao fazer e à auto-expressão.
Para gostar de aprender arte 17
Alixa expõe um trabalho em grande formato em papel kraft 200g, sobre o qual
usou parafina, tinta acrílica, betume e pastel. Na produção da textura, coloca e retira
telas de tapeçaria sobre tinta para obter efeitos.
18 Rosa Iavelberg
Contextualização
Essa obra do artista Alixa foi produzida em 1985. Na década anterior, em pleno
governo militar, na Amazônia, estava sendo construída a Rodovia de Integração Nacional,
a Transamazônica, que pretendia atravessar o Brasil de leste a oeste. Com a abertura
das estradas e com a vinda de imigrantes para ocupar essa área, aconteceram inúmeros
conflitos entre os colonizadores e os indígenas por causa da posse das terras. Tal
contato também promoveu a miscigenação dos valores e bens culturais desses dois
grupos.
O artista Alixa, nascido em Macapá, em 1960, após sua formação acadêmica, passou
a interessar-se pela temática indígena (em 1979); começou a fazer pesquisas em revistas
publicadas pela FUNAI. Sua produção plástica daquela época visava à reinterpretação
da realidade indígena através da assimilação dos seus signos e símbolos culturais.
O artista abandona então o tema e realiza trabalhos figurativos e abstratos. Em
1985, volta ao índio, procurando principalmente a relação cultural desse “ser da floresta”
com o meio urbano. A reflexão sobre a aculturação indígena gera uma série de trabalhos,
intitulados “Olhos que não querem ver”, da qual essa obra sem título faz parte.
Alixa representa na obra um indígena da tribo caiapó, reconhecida pelo cabelo de
corte arredondado e pintado com tinta natural avermelhada, produzida com sementes
de urucum. Na obra, estão presentes elementos da cultura urbana que já foram incorpo-
rados à realidade do indígena: a caneta Bic e o telefone.
Em 1992, Alixa tem o primeiro contato pessoal com os índios:
Encontrei o índio aculturado, incapaz de se proteger das investidas do homem dito civilizado,
que levou crenças, costumes e hábitos a esse ser da floresta, influenciado pela máquina e sob
regime cultural do homem branco; começo a produzir figuras de seres deformados com suas
parafernálias corporais – como a pintura e adereços – agregada às do homem da cidade – a
sandália Havaiana, os calções Adidas, a espingarda, a Coca-cola, a bola de futebol, o tênis, o gás
de cozinha, o telefone, a caneta Bic, etc.
Para gostar de aprender arte 21
Reflexão e discussão
• O que lhe sugere a utilização de objetos da cultura urbana industrializada pelo
índio caiapó (telefone e caneta Bic) na imagem criada pelo artista?
• Por que a caneta está enfiada na orelha do índio caiapó?
• Quais as diferenças da pintura do cabelo, do corpo e dos colares nas culturas
indígenas e nas culturas urbanas contemporâneas?
• Você acha que incorporar um objeto ou conhecimento de outra cultura é bom?
Até que ponto pode-se assimilá-los sem perder a identidade de origem?
• Durante a conquista da Amazônia, os portugueses introduziam nas comunidades
indígenas seus elementos culturais. Em contrapartida, vários objetos e comporta-
mentos indígenas foram assimilados pela população. Que elementos ainda hoje
nos acostumamos a ver no dia-a-dia dos paraenses?
Atividades
• Desenhe objetos da sua cultura de origem.
• Visite a exposição sobre os índios amazônicos no Museu Emilio Goeldi2 e desenhe
os objetos que mais lhe chamaram a atenção.
• Baseado na discussão sobre a aculturação indígena, faça uma composição utilizan-
do as formas pesquisadas, de modo que interfiram elementos da sua cultura.
A incorporação da cultura dos alunos à arte pode servir para uma articulação com
as demais áreas, o que certamente é um ótimo ponto de conexão com outros conteúdos
dela, além de ser um recorte mobilizador do gosto por aprendê-la.