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PORTUGUÊS JURÍDICO

COMUNICAÇÃO, COMPREENSÃO E
INTERPRETAÇÃO
Marília Rodrigues Mazzola

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Olá!
Você está na unidade Comunicação, compreensão e interpretação. Conheça aqui os elementos da

comunicação e as funções da linguagem. Aprenda o que é ler, saiba compreender e interpretar textos e entenda o

que está implícito em um texto, quais são seus pressupostos e subentendidos, diferenciando-os das inferências.

Por fim, também estude o texto jurídico e suas especificidades, aprendendo sobre o seu vocabulário: homônimos,

parônimos denotação, conotação, arcaísmos, latinismo e recursos gráficos (aspas, etc, sic).

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1 Elementos da comunicação
Seja qual for o tipo de comunicação, pode-se afirmar que sempre haverá algo a ser transmitido. E também

sempre haverá uma razão para isso.

Mas para que o processo comunicativo seja realmente efetivo, alguns elementos são necessários por condicionar

a própria realização da comunicação nas relações sociais. De acordo com Setti (201?), há 6 elementos envolvidos

no processo comunicativo:

Assista aí

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Emissor

É a pessoa que emite uma mensagem.

Receptor

Trata-se da pessoa que recebe a mensagem ou a quem ela é direcionada.

Mensagem

É aquilo que é comunicado.

Canal

É o meio físico por meio da qual a mensagem é enviada.

Código

É o grupo de sinais que forma a linguagem utilizada para enviar a mensagem.

Referente

É o assunto sobre o qual versa a mensagem.

A ênfase dada a cada um desses elementos do processo comunicacional influencia a análise da própria

comunicação. Afinal, está é uma interação aberta e há diferentes ângulos para se analisar o processo

comunicativo, segundo os elementos nele envolvidos. Uma propaganda que tenta convencer o receptor a

adquirir determinado produto, por exemplo, terá uma linguagem diferente de um soneto.

Estudar os elementos pertencentes à comunicação permite que se controle melhor os possíveis resultados

esperados com a emissão de uma mensagem. Por isso, vamos nos ater a cada um deles.

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Assista aí

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1.1 Emissor

Como vimos, o emissor é aquele que emite uma mensagem. Também pode ser chamado de fonte e pode ser uma

instituição, um indivíduo, uma empresa e qualquer um que produza informação. No âmbito jurídico, por exemplo

, “é o sujeito ativo (autor) que provoca a máquina judiciária”, conforme ensina Gonçalves (apud REOLON, 2010, p.

185).

O emissor, no entanto, não é tudo na comunicação. A importância do destinatário também está no mesmo

patamar e precisa ser levada em conta. Afinal, o processo de comunicação ocorre tanto na codificação da

informação feita pelo emissor, como também na decodificação dada pelo receptor.

1.2 Receptor

Se a informação é produzida por alguém (emissor), então ela também precisa ser enviada a outrem. Esse outrem,

portanto, é o receptor que a recebe, o destinatário. Na linguagem jurídica, trata-se do polo passivo e, portanto,

daquele que é provocado em sua conduta, conforme afirma Reolon (2010).

Assim como o emissor, o receptor também pode ser uma empresa, uma pessoa, etc. Ele se apropria da mensagem

recebida e decodifica o que nela se encontra, segundo seus entendimentos.

Assista aí

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1.3 Mensagem

A mensagem, por sua vez, nada mais é do que o conjunto de informações transmitidas pelo emissor. Pode-se

dizer que é o objeto utilizado na comunicação, o conteúdo propriamente dito.

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1.4 Canal de comunicação

Se há uma informação transmitida, partindo de um emissor em direção a um receptor, então também é preciso

um meio para que ela possa ser conduzida. Esse transporte da informação ocorre através do canal de

comunicação.

O canal de comunicação é o elemento que conduz a mensagem e a transmite. É, portanto, o meio que possibilita a

transmissão e o fluxo da mensagem (REOLON, 2010, p. 185). No fluxo da comunicação, o emissor (ou

codificador) transforma a mensagem em sinais e o receptor (ou decodificador) reconstrói seu significado, na

outra ponta.

O envio de qualquer mensagem sempre é feita por meio de sinais e signos que são enviados do emissor ao

receptor por meio de um conduite, ou, simplesmente, canal de comunicação. Um exemplo de canal de

comunicação muito usado no mundo contemporâneo é o celular.

1.5 Código

A forma como a mensagem é transmitida se configura como o elemento da comunicação chamado de código. O

código, portanto, é a

convenção pré-determinada ou definida (a língua, por exemplo), pelo emissor e receptor, de modo a

permitir a compreensão no plano da decodificação da mensagem. O código tem a função de viabilizar

a unidade comunicacional, a padronização sígnia (REOLON, 2010, p. 185).

A própria língua portuguesa é um exemplo de código.

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1.6 Referente

O ato comunicativo precisa de um contexto para que possa ocorrer de forma fluida, sem ruídos. Este contexto é

chamado de referente. Trata-se, basicamente, do próprio assunto da mensagem, por meio do qual se integram os

dados e o contexto.

O referente, portanto, leva em conta tudo que está relacionado a mensagem. Por isso,

(...) é constituído pelos dados e contexto, oferecendo, no momento da comunicação, percepções

influenciadas pelos objetos reais, situação do local, sensibilidade do receptor e outras circunstâncias

que permeiam a comunicação (REOLON, 2010, p. 185).

Veja um esquema visual que resume a teoria da comunicação e seus elementos:

Figura 1 - Elementos da comunicação


Fonte: Fonte: elaborado pela autora (2020).

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2 Funções da linguagem
É a partir da comunicação que se realizam interações, que se demonstram objetivos e intuitos e que se dá

sentido às coisas no mundo. Toda comunicação tem relevância e função, mesmo quando se tratar de um mero

ato de comunicação com pouca ou nenhuma informação.

Como visto, a ênfase dada aos elementos comunicativos definirá a análise feita acerca do processo de

comunicação. Roman Jakobson (1986-1982) foi um linguista russo responsável pelo desenvolvimento da função

da linguagem. Para ele, a comunicação vai muito além da mera transmissão de informações.

Sendo assim, pode-se dizer que as funções da linguagem são recursos de ênfase que atuam, cada qual, abordando

um diferente elemento da comunicação. Assim, em cada ato comunicativo e dependendo da finalidade que ele

tiver, uma das funções da linguagem irá se destacar.

2.1 Função cognitiva

Na função cognitiva, também chamada de função referencial ou denotativa, o elemento de destaque é o

contexto. Isso porque, nessa função de linguagem, o foco é a necessidade de se transmitir dados, de maneira

objetiva e direta e sem apresentar opinião pessoa. A linguagem, portanto, é direta, denotativa.

A função cognitiva se prende à elaboração do texto a partir dos referentes, ou seja, levando em consideração os

elementos contextuais que estão fora da linguagem, mas a que a linguagem remete. Uma mensagem irá

apresentar essa função quando estiver orientada para o referente. O objetivo, portanto, é informar o receptor.

Um exemplo de função cognitiva são os textos científicos, que colocam os fatos em evidência e trabalham em

terceira pessoa, na voz passiva. Por se tratar ainda de uma função de linguagem predominante, pode ser vista em

variados tipos de textos, inclusive no jurídico que referencia ideias, argumentos e pedidos, por exemplo.

É encontrada também em propagandas, textos jornalísticos, científicos, didáticos, etc., em razão da

impessoalidade na transmissão de informação.

As principais características da função referencial, segundo Perez (2012), são:

Nos textos em que prevalece a função referencial, a mensagem está centrada no referente, ou seja, naquilo de

que se fala;

Normalmente, são textos escritos na terceira pessoa (ele);

Nos textos em que prevalece a função referencial, as frases são estruturadas na ordem direta, evitando assim

inversões na estrutura sintática das orações que possam prejudicar o entendimento da mensagem.

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2.2 Função emotiva

A função emotiva também é conhecida como função expressiva e, diferente da cognitiva, seu destaque está no

remetente. Nesse sentido, a comunicação trata de sentimentos, opiniões e emoções, pois o que se destaca é o

mundo interior daquele que transmite a mensagem: ele fala de si e expressa um ponto de vista próprio.

Assim, os textos que exploram essa função são pessoas, subjetivos. O discurso é construído na primeira pessoa e

traz marcas gramaticais como reticências, aspas, etc. Um exemplo muito comum são as biografias e as cartas de

amor.

Por isso, as principais características da função referencial, segundo Perez (2012), envolvem:

verbos e pronomes em primeira pessoa;

interjeições (responsáveis por revelar o estado emocional do

falante;

adjetivos valorativos;

sinais de pontuação, como reticências e pontos de exclamação.

Sendo assim, a função emotiva predomina em poemas e escritos literários. No entanto, pode estar presente

também em qualquer texto, até mesmo em uma sentença judicial. Veja, por exemplo, como uma juíza de Direito

de Cambuí (MG) fez para negar indenização a um homem que alegou comprar uma falsa picanha no

supermercado:

Vou lhe contar um fato, que é de arrepiar! O homem foi ao supermercado, para picanha comprar. Iria

de um churrasco participar. Comprou picanha fatiada, quis economizar! Na festa foi advertido, o tira-

gosto estava duro, comentou após ter comido. Seu amigo atestou, não era picanha não! Bora

reclamar, para não ficar na mão. A requerida recusou, não quis a carne trocar. Por tal desaforo,

resolveu demandar. Queria danos morais, como forma de enricar e picanha verdadeira comprar”

(MIGALHAS, 2018).

Vale ressaltar, porém, que em textos argumentativos, dado seu caráter objetivo, o uso da função emotiva deve

ser evitado.

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2.3 Função conativa

Na função conativa, ou função apelativa, o elemento de destaque dessa função é o destinatário, uma vez que a

ideia central é influenciá-lo. Por isso, costuma-se usar a segunda e terceira pessoa em uma linguagem vocativa e

imperativa, que vá direto ao assunto.

Um exemplo muito comum são os discursos, os sermões e os textos e publicidade e propaganda.

Fique de olho
É comum uma mensagem apresentar mais de uma função da linguagem, fazendo com que uma
predomine sobre a outra. No universo da propaganda, por exemplo, as funções de linguagem
são primordiais para atingir um objetivo, que costuma ser a venda de um serviço ou produto.
Assim, a depender do público-alvo que se busca atingir, haverá o uso de mais de uma função de
linguagem. Por exemplo, a publicidade para crianças utilizada diversos recursos, tais como
figuras, cores, símbolos e personagens.

2.4 Função fática

A função fática tem como destaque o canal de comunicação e as maneiras de testá-lo. Por isso, os exemplos mais

comuns da função fática são conversas monossilábicas e pequenas expressões como “alô”, “tudo bem” e “boa

tarde”, por exemplo.

A ideia principal dessa função de linguagem é estabelecer um contato entre emissor e receptor, para verificar se

há um possível ruído nesse processo comunicacional. Por isso, ela é muito comum em redes sociais,

possibilitando a criação de um vínculo solidário e uma integração entre os participantes do diálogo.

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2.5 Função poética

A função poética tem como destaque a mensagem. Os textos exploram a função poética, a afetividade, a

linguagem conotativa e o uso de metáforas. As palavras (e suas combinações) são valorizadas ao extremo.

Segundo Perez (2012), o centro de interesse da comunicação na função poética é o próprio texto e, por isso,

alguns recursos são utilizados para chamar a atenção do destinatário para a mensagem. Forma e conteúdo

ganham um novo arranjo para provocar no leitor o prazer estético. Recursos como efeitos sonoros e rítmicos,

além do uso das diversas figuras de linguagem, colaboram na tentativa de deslocar a mensagem de uma

estrutura convencional que tolhe a criatividade artística.

Alguns exemplos de textos que utilizam da linguagem figurada são as obras literárias, as letras de música,

algumas propagandas. A função poética também é muito utilizada em poesias, no qual há destaque para a

métrica, as rimas e a cacofonia, por exemplo.

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2.6 Função metalinguística

2.6 Função metalinguística

A função metalinguística tem como destaque o código ou a língua. Isso porque se trata de uma função de

linguagem muito comum no cotidiano, quando há, por exemplo, a retomada de um assunto anteriormente

tratado entre os interlocutores.

A função metalinguística da linguagem está presente em diversos gêneros textuais e também no cinema, nas

artes plásticas, etc. Os textos que a exploram colocam o código em destaque, como, por exemplo, os dicionários,

as gramáticas e os textos que analisam outros textos, as poesias que abordam o assunto poesia.

Para Jackobson (apud PEREZ, 2012), todo processo de aprendizado da linguagem, particularmente a aquisição,

pela criança, da língua materna, faz largo uso das operações metalinguística. Isso ocorre porque o processo de

conhecimento da uma língua envolve perguntas sobre o próprio código, para sua compreensão e entendimento.

Veja abaixo um esquema que resume as funções de linguagem:

Figura 2 - Sistemas de comunicação de Roman Jakobson


Fonte: Fonte: Bonini, 2003, s./p.

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3 Compreensão e interpretação de textos
Como visto na unidade 1, significação é o processo de construção do significado com o uso de signos. Para que

haja comunicação, é preciso que um signo tenha significado. E significar é interpretar.

Como ensina Bessa (2006, p. 41),

a necessidade de interpretar diz respeito a que um signo não significa por si mesmo. Ele é significado

no contexto do uso que se faz dele: em um código e em uma situação. As condições que você tem

para interpretar o que está lendo individualmente são diferentes das condições que teria se estivesse

lendo com outros.

Para Bessa (2006), sem a transformação que as pessoas fazem de signos para outros signos e de códigos para

outros códigos, na busca da significação, não há interpretação (BESSA, 2006, p. 41). Assim, pode-se afirmar que

interpretar é significar os signos.

Segundo os estudos semióticos, surgem três tipos de signos a partir das operações dialógico-comunicativas. O

entendimento de receptor e emissor permite a tradução de signos através de outros signos. No entendimento de

Bessa (2006, p. 52), as operações de comunicação são:

De semelhança
Por exemplo, quando se quer significar um pássaro, pode-se falar p-á-s-s-a-r-o. Se o interlocutor não entende a

palavra falada, pode-se, então, desenhar um pássaro. O desenho é um tipo de signo (representação) criado por

semelhança com o referente (um pássaro). Assim também a fotografia, a escultura na maioria das vezes e as

pinturas que retratam paisagens, pessoas e objetos são signos interpretados por semelhança. Esses signos são

chamados de ícones.
De contigüidade ou interpretação por associação de um objeto a outro, mesmo que eles não sejam
semelhantes
Por exemplo: a fumaça como signo de fogo; a nuvem como signo de chuva. Fumaça e nuvem não significam fogo e

chuva por semelhança, mas porque a presença de um indica o outro. Por isso esses signos são chamados de

índices.
De contigüidade instituída, que é a criação de signos por convenção
O uso destes signos depende da instituição de regras de uso. Eles são chamados símbolos. Como exemplos

podemos citar as palavras da linguagem oral e da linguagem escrita (exceto quando imitam sons da natureza,

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como nas onomatopéias: bééé! Coach! Buuu!). Os símbolos, assim como os índices, não têm semelhança com os

seus referentes. Ou você acha que a palavra “cadeira” se parece com uma cadeira? E a palavra “palavra”, se parece

com o que?

O que se conclui é que signos, sozinhos, nada significam. É o que se faz da intepretação ou significação deles que

se cria a mensagem.

E como esse processo de interpretação e significação depende do receptor, então, a mensagem recebida pode ser

diferente da mensagem enviada pelo emissor.

Figura 3 - Emissor e receptor: interpretação da mensagem


Fonte: Alexander Limbach, Shutterstock (2020).

#PraCegoVer: Na imagem, dois indivíduos trocam informações entre si. A interpretação da fala do emissor pelo

receptor é muito importante para a comunicação.

Portanto, pode se constatar, é preciso compreender os signos para interpretar. Só assim, o receptor pode

desenvolver uma visão crítica a respeito dos fatos e da mensagem que lhe foi transmitida.

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3.1 O que é ler?

A leitura é uma operação sobre o código escrito. Como ensina Paulino et al (apud Hillesheim et al, 2011, p. 307):

A etimologia da palavra ler - do latim legere - tem vários níveis de significados: contar/enumerar as

letras; colher; roubar.

O primeiro nível de significado - contar/enumerar as letras - corresponde ao primeiro ato da leitura:

soletrar, repetir fonemas, agrupar sílabas, palavras e frases.

O segundo nível - colher - refere à noção de algo já pronto, na qual existe um sentido

predeterminado: a tarefa do leitor é compreender o sentido do texto dado pelo autor.

Por fim, o último nível - roubar - implica subversão, clandestinidade: "não se rouba algo com

conhecimento e autorização do proprietário, logo esta leitura do texto vai se construir à revelia do

autor, ou melhor, vai acrescentar ao texto outros sentidos".

A leitura é, então, uma atividade cognitiva. Trata-se de uma operação complexa, que necessita de habilidades por

parte do receptor, especialmente habilidade de processamento de dados, codificação e decodificação de signos, e

ainda compreensão da linguagem oral (Gough & Tunmer, 1986 apud COELHO, CORREA, 2017).

Uma primeira noção de leitura como uma ação que se dá a partir de algo preexistente: o sentido já está dado e

basta ao leitor, a partir da aquisição de determinadas competências, compreendê-lo. Nesta perspectiva, a leitura

é concebida como um processo passivo, que depende exclusivamente da capacidade de apropriação do leitor das

ideias que já estão colocadas no texto (Hillesheim et al, 2011).

Enfim, o ato de ler influencia a todos e, assim, contribui com o desenvolvimento geral do indivíduo.

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4 Compreensão e interpretação de textos
Como pode-se perceber, para se viver em sociedade é preciso ler. Ler permitirá com que o indivíduo se

transforme em um sujeito cultural, influenciando a realidade em que vive. Por outro lado, ler também é

interpretar.

Embora decifrar o código permita a compreensão do conteúdo de uma mensagem em um primeiro momento,

compreender um texto não se limita ao ato de decodificação.

Segundo Hillesheim et al (2011, p. 308) “compreender e decifrar não são equiparáveis. Assim, não é suficiente,

por exemplo, conhecer os significados das palavras de um texto para compreendê-lo, sendo que se faz

imprescindível a intervenção do que se coloca como segunda instância da leitura: colher".

A atividade de leitura, na fase primária, nada mais é do que a criptografia: quando a pessoa apenas percebe o

significado subjacente e desvenda o código, partindo da premissa que o leitor já o conhece.

Mas, segundo o modelo hermenêutico, é necessária a interpretação da mensagem. Seria a segunda fase da

leitura, o colher. Como ensinam Hillesheim et al (2011, p.308),

no modelo hermenêutico, o significado é construído a partir do processo interpretativo,

considerando-se o sinal, mas indo além do que uma simples decodificação. Nessa ótica, um mesmo

sinal pode adquirir diferentes sentidos para distintos intérpretes ou para o mesmo intérprete em

diferentes circunstâncias. Neste modelo é um equívoco falar em códigos, visto que, mesmo supondo

que estes existam, considera-se que a escolha do código a utilizar é determinada pelo intérprete e

pelos seus propósitos. A atividade do intérprete, neste caso, é de criação e não de descoberta.

Ler também implica o pensamento do outro, pois há um diálogo entre o leitor e o texto que envolve o emissor da

mensagem. Para isso é preciso compreender a mensagem.

A compreensão é uma habilidade metacognitiva. Para ler e compreender narrativas, “é preciso controlar a

compreensão, detectando inconsistências e corrigindo-as, para que o texto faça sentido, desde o nível elementar,

que envolve habilidades de decodificação, aos níveis mais complexos” (COELHO, CORREA, 2017, p. 46).

A compreensão é realizada de forma estratégica, através de simultâneos níveis de processamento e de

representação, segundo o Modelo de Processamento de Texto, proposto por Kintsch & van Dijk (1978), sobre o

qual falam COELHO e CORREA:

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A forma de processamento refere-se à maneira como as informações são transformadas em ideias,

por meio das proposições, e a forma de representação diz respeito à construção da representação do

texto em três níveis: a representação da estrutura de superfície, que opera no nível linguístico

(decodificação), a representação do texto base, na qual são inseridas as relações semânticas entre os

diferentes componentes e partes do texto, tanto em nível local (microestrutura), quanto global

(macroestrutura) e a representação do modelo situacional, que inclui, além das representações

oriundas da base textual, aquelas originadas e adicionadas pelo conhecimento prévio do leitor,

incluindo aí, seu conhecimento sobre os diversos tipos e gêneros textuais (Kintsch & Rawson, 2013

apud COELHO, CORREA, 2017, p. 42).

A busca da compreensão é feita pela construção (tanto de uma representação do significado, como do texto-

base), quanto pela ativação, na memória, dos conhecimentos prévios pertinentes do leitor, que são integrados ao

texto-base (COELHO, CORREA, 2017, p. 42).

A partir de agora, passa-se a explorar alguns elementos linguísticos importantes para a compreensão e

interpretação geral de textos.

4.1 Implícitos

Para que a leitura seja efetiva, deve o leitor possuir conhecimentos linguísticos e também do próprio mundo.

Somente munido desses dois conhecimentos, pode ele fazer a devida interpretação de uma mensagem, daquilo

que é perceptível superfície textual, e também do que se encontra em um nível mais profundo.

Essa decodificação, que envolve o domínio do código e do mundo, permite uma atribuição de sentido ao texto,

lendo-o e compreendendo-o.

Como ensinam Fontana e Schuster (2016, p. 192), “os sentidos muitas vezes não se encontram na superfície do

texto, mas se constroem por meio de elementos nele expressos (o dito) bem como por meio dos presentes em

sua estrutura profunda (o não dito)”.

É o que a doutrina chama de implícitos. Os implícitos podem ajudar na construção de um ponto de vista (do

emissor) e servem também como proteção dele. Assim, auxiliam na atividade argumentativa. Segundo a

literatura especializada, os implícitos são divididos em pressupostos e subentendidos.

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4.2 Pressupostos

Pressupostos são ideias não manifestadas de maneira explícita. Quando implícitos, os temas e matérias se

processam a partir de uma palavra ou expressão (um marcador linguístico). Estão presente no texto e na fala.

O pressuposto, portanto, não depende do contexto. Isso porque as informações decorrem do que está marcado

linguisticamente.

Segundo Platão e Fiorin (apud FRANÇA, 2012, p. 67), pode-se definir pressupostos como “ideias não expressas

de maneira explícita, que decorrem logicamente do sentido de certas palavras ou expressões contidas na frase”.

Os pressupostos são marcados por:

• Certos advérbios

Os resultados da pesquisa ainda não chegaram até nós (pressuposto - os resultados já deviam ter

chegado ou os resultados vão chegar mais tarde).

• Certos verbos

O caso do contrabando tornou-se público (pressuposto - o caso não era público).

• Orações adjetivas

Os candidatos a prefeito, que só querem defender seus interesses, não pensam no povo (pressuposto -

todos os candidatos a prefeito têm interesses individuais).

• Adjetivos

Os partidos radicais acabarão com a democracia no Brasil (pressuposto - existem partidos radicais no

Brasil).

O emprego de pressupostos auxilia na atividade argumentativa. Eles introduzem um assunto, e assim, “o ouvinte

é transformado em cúmplice, uma vez que a ideia que foi colocada implicitamente no texto não é posta em

discussão, ela simplesmente é colocada como se fosse aceita por todos” (FONTANA; SCHUSTER, 2016, p. 195).

Portanto, ele é parte integrante do sentido do enunciado.

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4.3 Subentendidos

Ao contrário do pressuposto, o subentendido não é marcado linguisticamente. O subentendido é uma informação

implícita veiculada por um falante, cuja atualização depende da situação de comunicação. É, então, uma

insinuação presente por trás de uma informação.

São, portanto, inferências tiradas do contexto. O receptor precisa de um raciocínio para justamente compreender

a mensagem. Assim, o subentendido depende do ouvinte, que deve se fazer uma série de perguntas para buscar

as possíveis insinuações feitas pelo emissor na mensagem.

O subentendido “na maioria das vezes, é usado pelo falante como proteção, ou seja, para poder transmitir a

informação que deseja ou que quer que seja de conhecimento de outros sem se comprometer. Portanto, “o

subentendido diz sem dizer, sugere, mas não diz” (FIORIN & SAVIOLI apud FONTANA; SCHUSTER, 2016, p. 196).

Desta forma, pode-se afirmar que o subentendido é a decodificação de sentido pelo destinatário da mensagem.

4.4 Inferências

Segundo a doutrina especializada, “inferências são proposições que derivam, por alguma regra específica, de

outra proposição” (MOURA apud FRANÇA, 2012, p. 64).

Elas se baseiam no conhecimento linguístico e do mundo, pois permitem que o receptor complete a lacuna

existente na mensagem através desses dois saberes. Assim, o receptor processa a informação da mensagem, ao

escolher um signo que melhor se adequar à lacuna e verifique a pertinência da sua utilização.

No caso de um texto escrito, as palavras podem ser inferidas no próprio texto (inferências intratextuais), ou no

conhecimento prévio do leitor (inferências extratextuais), conforme ensinam Coelho e Correa (2017).

Pode-se destacar ainda as inferências pragmáticas, que trata de um signo não explicitamente posto, ou seja, que

não constituía o objeto da mensagem, mas que se compreender pela formulação da mensagem,

independentemente da situação de comunicação.

Fique de olho
No que tange à implícitos e inferências, Meneses ensina (2012) que há um princípio geral
denominado princípio de cooperação que determina que os interlocutores devem se mostrar
cooperativos, contribuindo para construir o sentido do texto de acordo com o objetivo ou
orientação imposta pelo intercâmbio verbal no qual participam.

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5 O texto jurídico e suas especificidades
Como já visto anteriormente, o texto é uma construção de significados, uma estrutura que modela as frases para

que não fiquem soltas e possam manter o seu significado primitivo autônomo. Afinal, “num texto, o sentido de

uma frase é dado pela correlação que ela mantém com as demais” (Fioin apud FONTANA; SCHUSTER, 2016, p.

192).

Cada ciência possui sua linguagem própria, que deve ser dominada para a pratica profissional efetiva (WAGNER,

2008, p. 161). Assim, a busca de coerência entre o escrito e o compreendido ganha ainda maior importância no

texto jurídico, pois há especial necessidade de compreender e bem utilizar a palavra escrita e a linguagem,

lembrando-se as relações do contexto, entre o mundo e a palavra.

Quando o leitor entra em contato com o texto, a maior dificuldade é encontrar a unidade existente dentre tantos

significados. Isso ganha ainda maior proporção diante de um texto técnico, como o jurídico.

Segundo WAGNER (2008, p. 161), a linguagem jurídica é a linguagem profissional mais antiga que se conhece. É

um veículo natural de comunicação, e também o próprio instrumento de trabalho.

Figura 4 - Textos jurídicos: diferentes tipos, diferentes especificidades


Fonte: Roman Motizov, Shutterstock (2020).

#PraCegoVer: A imagem mostra livros de legislação e Direito ao lado de um martelo, símbolo da Justiça.

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Assim como outras ciências, o Direito possui linguagem própria, com vocabulário especial, de difícil

compreensão. Então, há a necessidade de precisão dos conceitos, para muitos dos quais dificilmente se

encontram formas alternativas mais simples de substituição.

Para isso é importante conhecer alguns elementos da língua portuguesa que impactam o texto jurídico.

5.1 Homônimos

Segundo Bechara (2009, p. 333) homonímia é “propriedade de duas ou mais formas, inteiramente distintas pela

significação ou função, terem a mesma estrutura fonológica, os mesmos fonemas, dispostos na mesma ordem e

subordinados ao mesmo tipo de acentuação”.

Existem ainda homônimos que se escrevem com as mesmas letras mas correspondem a fonemas distintos.

Há ainda a homonímia da língua escrita, quando os fonemas são iguais mas as palavras possuem grafia e

significados diversos. Por exemplo: “coser ‘costurar’; cozer ‘cozinhar’; expiar ‘sofrer’; espiar ‘olhar

sorrateiramente’; sessão ‘ato de assistir’; cessão ‘ato de ceder’; cela ‘quarto para enclausuramento’; sela ‘peça de

arreio’” (BECHARA, 2009, p. 333).

A homonímia pode ser confundida com a polissemia, que é a existência de mais de um sentindo para uma

locução ou uma palavra.

Segundo Bechara (2009, p. 333), “têm sido propostos alguns critérios para aclarar se se trata de uma mesma

palavra com dois ou mais significados diferentes (polissemia) ou de duas palavras distintas com idênticos

fonemas (homonímia)”:

critério histórico-etimológico, que é o que fazem, em geral, os dicionários;

a consciência linguística do falante;

critério das relações associativas;

critério dos campos léxicos.

Mesmo diante da existência de homônimos, a comunicação ainda é possível em razão do contexto, que trará o

significado adequada para a situação que é apresentada ao receptor.

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5.2 Parônimos

São palavras parecidas na forma, mas que possuem diferentes significados. Segundo Wagner (2008, p. 165):

denominam-se parônimas as palavras de sentido diverso, mas que se aproximam pela forma gráfica

ou mesmo pelo som. Tal afinidade pode suscitar confusões, gerar equívocos e levar a situações

jocosas ou mesmo embaraçosas (...).

Os parônimos possibilitam impropriedade lexicais e erros que ocorrem quando uma palavra usada não era

adequada para aquele contexto. Existem vários parônimos na língua portuguesa, e alguns deles, relacionados à

área jurídica são trazidos por Wagner (2008), como é o caso de tráfico (comércio ilegal) e tráfego (trânsito).

O profissional de Direito deve aprimorar sua linguagem, de sorte a não realizar trocas impensadas de palavras. O

ideal é ajustar com precisão crescente as palavras às ideias, nomeando o pensamento de maneira lógica e

designando corretamente a ideia na linguagem jurídica.

5.3 Denotação

Denotação é a significação objetiva da palavra; é a palavra em estado de dicionário. Além do sentido referencial,

literal, cada palavra remete a inúmeros outros sentidos, virtuais, conotativos, que podem ser apenas sugestivos,

evocando ideias de ordem abstrata, subjetiva.

Segundo Eduardo Sabbag (2014, p. 1),

a linguagem denotativa é aquela que deve nortear os petitórios, sendo exteriorizada por meio do

idioma nacional. Com efeito, é patente a imprescindibilidade do uso do idioma nacional nos atos

processuais, além de corresponder a uma exigência que decorre de razões vinculadas à própria

soberania nacional, como projeção caracterizadora da norma inserida na Constituição Federal, art.

13, caput, que proclama ser a Língua Portuguesa o idioma oficial da República Federativa do Brasil.

Assim, a linguagem denotativa reflete o mundo, a realidade objetiva. Por isso, no texto jurídico deve prevalecer a

denotação.

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5.4 Conotação

Conotação é a significação subjetiva da palavra. Ocorre quando ela evoca outras realidades devido às associações

que provoca.

Segundo Sabbag (2014, p. 1), a conotação é a linguagem figurativa que alcança o mundo subjetivo, diferente da

realidade posta. Designa tudo o que o termo possa avocar, com interpretações diferentes e múltiplas,

dependendo do contexto que se conferir. Por meio da linguagem conotativa, transcende-se a realidade.

Ao utiliza-la no texto jurídico, e face a sua implicação de sentidos figurativos ou subjetivos, pode-se criar

dubiedade no texto, razão pela qual seu uso deve ser evitado.

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5.5 Arcaísmos

Os arcaísmos são representados por palavras e expressões que, por diversas razões, saem de uso e acabam

esquecidas por uma comunidade linguística, embora permaneçam em comunidades mais conservadoras, ou

lembrados em formações deles originados.

Dubois (apud BULHÕES, 2006, p. 95/96) define arcaísmo como

uma forma léxica ou uma construção sintática pertencente, numa dada sincronia, a um sistema

desaparecido ou em via de desaparecimento. Num dado momento, numa comunidade lingüística,

existem simultaneamente, segundo os grupos sociais e segundo as gerações, diversos sistemas

lingüísticos. Em particular, existem formas que só pertencem aos locutores mais velhos; estas serão

consideradas arcaísmos em relação à norma comum [...]. 3. Em estilística, o arcaísmo é o emprego de

um termo pertencente a um estado de língua antigo e não mais usado na língua contemporânea; o

arcaísmo faz parte do conjunto de desvios entre a língua padrão e a comunicação literária.

Para alguns estudiosos os arcaísmos são vícios de linguagem. Ainda, segundo Bulhões (2006, p. 92):

A utilização de palavras e expressões distantes da linguagem usual, como os preciosismos, só é válida

caso o texto por inteiro acompanhasse tal estilo de linguagem, como ocorre, por exemplo, na escrita

poética. Se o termo aparece no texto isoladamente, em desarmonia com o contexto, causa uma falsa

sensação de erudição, além de ocasionar um ruído comunicacional por meio do afastamento do foco

da atenção por parte do destinatário da mensagem, e, até mesmo, o insucesso da comunicação em si,

ao ocasionar uma possível incompreensão por parte do remetente do conteúdo dessa mensagem.

Exemplos de arcaísmos jurídicos são expressões tais como “Pretório Excelso” (significando a máxima instância,

ou no Brasil, Supremo Tribunal Federal) e “objurgatório” (tradução de censurável).

5.6 Latinismo

O latinismo pode ser considerado como uma forma de enfeite, um ornamento para uma peça jurídica. É muito

comum de encontrar nos textos da área e os mais comuns são a quo (que significa recorrido) e ex vi legis

(traduzido em por força de lei), por exemplo.

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5.7 Recursos gráficos

Segundo Wagner (2008, p.163) “o ato comunicativo jurídico não se faz apenas como linguagem enquanto língua

(conjunto de probabilidade linguísticas postas à disposição do usuário), mas também, como discurso, o

pensamento organizado à luz das operações do raciocínio”.

Por isso, a combinação de letras e de sinais gráficos nas peças processuais é tão importante quanto a mensagem

a ser transmitida. O uso das aspas seria um exemplo. Nos textos jurídicos José Maria da Costa (2005, p. 1/2)

coloca:

1) Do gótico "haspa", também conhecidas por comas ou vírgulas dobradas (às vezes em forma de

cunhas), são sinais (" " ou ' ') com que, normalmente, se abrem e fecham citações, sendo bastante

oportunas algumas considerações para seu uso.

2) Quando, dentro do trecho já entre aspas, há necessidade de novas aspas, estas são simples.1 Ex.:

Deu nos jornais: "O articulista defende, como forma de melhoria nas relações jurídicas, uma assim

chamada 'globalização' das leis".

3) Se o sinal de pontuação pertence à citação, fica ele dentro das aspas, como o ponto de interrogação

no seguinte exemplo: Por que você não disse "Eu vou?".

4) Se, porém, pertence o sinal de pontuação ao autor, fica ele depois das aspas, como é o caso do

ponto final no seguinte exemplo. Ex.: Como já dizia Hipócrates, traduzido por Sêneca, "a arte é longa,

e a vida é breve".

5) Nas palavras de Celso Cunha, "quando a pausa coincide com o final da expressão ou sentença que

se acha entre aspas, coloca-se o competente sinal de pontuação depois delas, se encerram apenas

uma parte da proposição; quando, porém, as aspas abrangem todo o período, sentença, frase ou

expressão, a respectiva notação fica abrangida por elas".2

6) Para Luiz Antônio Sacconi, "o ponto vem após as aspas", se "não foram estas que deram início ao

período". Ex.: Napoleão disse: "Do alto destas pirâmides quarenta séculos vos contemplam".

7) Complementa, todavia, tal autor com a observação de que "as aspas aparecem depois da

pontuação somente quando abrangem todo o período". Ex.: "O Brasil espera que cada um cumpra o

seu dever."3

8) Interessante lembrete ainda vem do mesmo gramático acerca dos trechos de outros autores,

empregados, por exemplo, na elaboração dos arrazoados jurídicos: "se a citação ou a transcrição não

começar com a palavra inicial, colocar-se-ão reticências logo após a abertura das aspas. Da mesma

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forma, devem ser usadas as reticências no final, antes do fechamento das aspas, se a intenção é não

terminar a referida citação ou transcrição".4

9) A esse respeito, assim se expressa Josué Machado: "Quando a pausa coincide com o final da

expressão ou sentença que se acha entre aspas, coloca-se o competente sinal de pontuação depois

delas, se encerram apenas uma parte da proposição; quando, porém, as aspas abrangem todo o

período, sentença, frase ou expressão, a respectiva notação fica abrangida por elas".5

10) Ainda para a ordem de colocação entre as aspas e o ponto, Cândido de Oliveira estabelece duas

regras:

a) "Primeiro ponto final e por último aspas, se toda a declaração (o período inteiro, da maiúscula

inicial ao ponto final) estiver entre aspas";

b) "Primeiro aspas e depois ponto final, se somente a parte derradeira do período receber aspas".6

11) As palavras e expressões estrangeiras, de igual modo, devem vir entre aspas, permitindo-se

também explicitar tal circunstância com o uso de grifo equivalente, sublinha, itálico ou negrito. Ex.:

"O magistrado negou liminar ao pedido, fundado na inexistência do 'periculum in mora'".

12) Veja-se, nesse sentido, o ensino de Eduardo Carlos Pereira em corroboração ao fato de que se

escrevem "sublinhadas ou em grifo as palavras de língua estrangeira, que se intercalam no discurso".

13) Artur de Almeida Torres também observa a possibilidade de emprego das aspas, "quando se

deseja chamar a atenção do leitor para certos vocábulos que devem ser postos em evidência: Aquele

'sim' me confortou".8

14) Ensina, ainda, Luciano Correia da Silva que "não se usam aspas nas atribuições nominais ou dos

epônimos: Fundação Roberto Marinho, Rodovia Castelo Branco, EEPSG Horácio Soares, Fundação

Educacional Miguel Mofarrej, Fórum João Mendes Júnior".

15) Em critério aparentemente diverso, todavia, em outra passagem, manda que se usem tais sinais

"em nomes de livros, jornais, obras de arte...", como, por exemplo, "Folha de S. Paulo".9

16) Ultime-se com a observação de Hêndricas Nadólskis e Marleine Paula Marcondes Ferreira de

Toledo no sentido de que, em tais hipóteses, em vez de empregar aspas, pode-se optar pelo destaque

gráfico do negrito ou do itálico,10 a que se pode acrescer também a sublinha. Exs.:

a) Não se demonstrou o "fumus boni júris";

b) Não se demonstrou o fumus boni juris;

c) Não se demonstrou o fumus boni juris;

d) Não se demonstrou o fumus boni juris.

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17) No caso da consulta, o ideal seria observar a questão das aspas duplas e aspas simples, com o

acréscimo de que, ante o elemento complicador dos nomes dos órgãos de imprensa, sejam eles

escritos em itálico. Ou, em termos mais práticos:

"Eu falei: 'Mas me importa a restauração da minha honra. A Veja está fazendo um verdadeiro

linchamento.' Ele respondeu: 'Roberto, na Veja não tenho nenhuma ação, porque a Veja é tucana'. Eu

falei: 'Mas O Globo e a Globo estão repetindo o linchamento.' Ele falou: 'No Globo eu falo por cima. Dá

para segurar.' Retirar a assinatura foi o meu maior erro. Depois que fiz isso, recrudesceu o noticiário

contra o PTB. Eu entendi que foi uma armadilha do Zé Dirceu para mim. Recrudesceu o noticiário, e

eu vi claramente a mão do governo.

Ele também ensina:

1) Trata-se de advérbio latino, que significa assim.

2) De acordo com ensinamento de Vitório Bergo, é latinismo que, geralmente, se encontra entre

parênteses, "para indicar que um trecho transcrito não foi alterado, mas se apresenta textualmente,

ainda que com ele não concorde o transcritor".1

3) Para Luiz Antônio Sacconi, tal vocábulo tem por função "demonstrar a fidelidade de algum trecho

transcrito". Ex.: "A república, este sim, é o melhor regime" (sic).2

4) No conceito de Domingos Paschoal Cegalla, constitui "latinismo que se coloca entre parênteses,

após uma palavra ou citação, para indicar que são autênticas, embora erradas ou estranhas".3

5) Não destoa desse ensino Napoleão Mendes de Almeida: "Palavra latina que significa assim.

Emprega-se entre parênteses, antes ou depois de uma citação, para indicar que o original vai ser ou

foi reproduzido fielmente, com as mesmas palavras, como foram proferidas ou escritas".4

6) Em termos técnicos, usa-se com muita freqüência antes, no meio ou depois de uma citação, para

indicar que houve fiel reprodução do original, com as mesmas palavras, conforme foram escritas

(geralmente para eximir a quem cita da responsabilidade atinente a algum erro de grafia ou de

sintaxe). Ex.:

a) "Registrava textualmente a sentença que 'as testemunhas, talvez por medo ou coação, não

deporam ("sic") nos termos previstos pela legislação civil em vigor'" (o correto é depuseram);

b) "Qualquer mudança deve vigir ("sic") apenas a partir de 2002" (o correto é viger).

7) O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, que é o veículo

oficial indicador das palavras existentes em nosso idioma, registra-o com a especificação de se tratar

de advérbio latino.5

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8) Assim, por se tratar de palavra pertencente a outro idioma, há de vir entre aspas, em negrito,

itálico, com sublinha ou grifo equivalente, indicador de tal circunstância (COSTA, 2007, p. 1 e 2).

O que se verifica é que a comunicação, a leitura, e a intepretação de textos são habilidades essenciais para o

mundo jurídico, uma vez que a leitura e a produção de textos técnicos, com suas especificidades exige do

operador jurídico tai conhecimentos.

é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• compreender os elementos da comunicação: emissor, receptor, mensagem código canal e referente;
• conhecer as diferentes funções da linguagem: expressiva, poética, conativa, fática e metalinguística;
• aprender sobre o ato da leitura e a necessidade de interpretação da mensagem;
• conhecer as diferenças entre implícitos, pressupostos, subentendidos e inferências;
• verificar as particularidades do texto jurídico: latinismos, arcaísmos, recursos gráficos, homônimos,
parônimos, conotações e denotações.

Referências
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. Disponível em: <

https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4198645/mod_folder/content/0/2%20Bibliografia%20de%

20Refer%C3%AAncia/BECHARA_ModernaGramaticaPortuguesa.pdf?forcedownload=1>. Acesso em: 6 dez.

2019.

BESSA, D. D. Teorias da comunicação. Brasília: Universidade de Brasília, 2006. Disponível em: <http://portal.

mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/profunc/10_2_teor_com.pdf>. Acesso em: 4. dez. 2019.

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