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ANÁLISE DO EPISÓDIO “DESPEDIDAS EM BELÉM”

Ideias importantes:
- Este episódio está inserido no Plano da Viagem.

- Os marinheiros portugueses partiram de Lisboa no dia 8 de Julho de 1497

- Depois de preparadas as naus, os marinheiros preparam-se espiritualmente

- As pessoas que estão a assistir à partida sentem-se tristes, desesperadas,


receosas e saudosas

- Os marinheiros também partem com dúvidas e receios

- Os marinheiros partem sem as despedidas habituais, para evitar maior


sofrimento e para não haver desistências.

- (Estrofe 84) Estado de espírito: ansiosos, felizes

- (Estrofe 86) Preparação espiritual

- Objectivo da Viagem (estrofe 85): “Pera buscar do mundo novas partes”

- (Estrofe 87) Mostra que o narrador é Vasco da Gama e o receptor/ narratário


é o Rei de Melinde

- (Estrofe 88) Reacção das pessoas à partida dos marinheiros

- (Estrofe 89) Descrição dos sentimentos (medo)

- (Estrofe 90) Discurso de uma mãe que vê o filho partir

- (Estrofe 91) Discurso de uma esposa que vê o marido partir

- (Estrofe 92) Reacção da Natureza (triste, comovida e chora)

- (Estrofe 93) Sofrimento é mais para quem fica mas, os marinheiros partem
sem as despedidas habituais

- O narrador é participante e autodiegético.

*Este episódio está divido em três partes:

a. Introdução [est. 84-86]: localizada a acção no espaço-tempo, observamos o


alvoroço geral dos últimos preparativos para o embarque da “gente marítima e a de
Marte” (marinheiros e soldados). Prontas as naus, os nautas reúnem-se em oração na
ermida de Nossa Senhora de Belém.
b. Desenvolvimento [est. 87-92] Descreve-se a “procissão solene” do Gama e seus
companheiros desde o “santo templo” (ermida) até aos batéis, pelo meio da “gente
da cidade”, homens e mulheres, velhos e meninos, com relevo especial para as mães
e as esposas. Tanto os que partiam como os que ficavam se entristeciam e a
despedida assume grande emotividade, transmitida pelo discurso directo e pelo uso
de interrogações retóricas. Temos a mãe que se despede do filho “Porque me deixas,
mísera e mesquinha? Porque de mi te vas, ó filho caro,” [est. 90, vv. 5-6] dizendo
que tinha esperança que ele fosse o seu consolo na velhice e agora ele a deixava
triste e sozinha apenas para morrer; e a esposa que lamenta que ele desta forma
desfaça o seu amor “nosso vão contentamento/quereis que com as velas leve o
vento?” .

c. Conclusão [est. 93] Refere-se ao embarque que, por vontade do Gama, se fez sem
as despedidas habituais para diminuir o sofrimento, tanto dos que partiam como dos
que ficavam.

Figuras de estilo
Estrofe Nome da figura Exemplo
de Estilo
84 Perífrase “Porque a gente marítima e a de Marte”
86 Perífrase “ Que sempre as nautas ante os olhos anda/
Pera o sumo Poder, que a etérea Corte”
87 Apóstrofe “ Certifico-me, ó Rei, que, se contemplo”
89 Enumeração “Mães, Esposas, Irmãs, que o temeroso”
90 Apóstrofe “ Qual vai dizendo: - “ó Filho, a quem eu
tinha”
90 Dupla Adjectivação “ Que em choro acabará, penoso e amaro”
91 Apóstrofe/ Dupla “ Qual em cabelo:”ó doce e amado esposo”
Adjectivação
91 Aliteração “Quereis que com as velas leve o vento?”
 

Despedidas em Belém e Mar Português


Luís de Camões e Fernando Pessoa enalteceram os Descobrimentos portugueses e a dor,
o sofrimento e o sacrifício das pessoas envolvidas directa (marinheiros) ou
indirectamente (familiares, amigos) nesse feito.

Luís de Camões exprime estes sentimentos através da narração que Vasco da Gama faz
ao rei de Melinde. Vasco da Gama narra a partida da armada para a viagem de
descoberta do caminho marítimo para a Índia, em analepse, dando particular relevo às
despedidas dos navegadores portugueses em Belém (Canto IV, est. 88-93). Fernando
Pessoa revela estes mesmos sentimentos no poema "Mar Português" que pertence à
segunda parte da Mensagem. Esta segunda parte da obra, também denominada “Mar
Português”, retrata a ânsia do desconhecido e o esforço heróico da luta que os
portugueses travaram com o mar.

Os dois textos evidenciam o grande sofrimento e dor dos Portugueses no momento da


partida das naus:

- Luís de Camões refere o doloroso sacrifício e desespero das mães, esposas e irmãs:
"Mães, Esposas, Irmãs, que o temeroso/ Amor mais desconfia, acrescentavam/ A
desesperação e frio medo/ De já nos não tornar a ver tão cedo"(est.89, vv.5-8).

- Fernando Pessoa realça a dor das mães, dos filhos e das noivas que perderam a sua
oportunidade de constituir família: "Por te cruzarmos, quantas mães choraram / Quantos
filhos em vão rezaram! / Quantas noivas ficaram por casar" (vv3-5). Constatamos, pois,
que os dois Poetas evidenciaram mais o sofrimento das mães e privilegiaram o
sentimento de dor dos familiares mais próximos dos nautas.

Mas, os dois textos apresentam uma diferença significativa quanto à abrangência do


sofrimento, relativamente às pessoas atingidas por esse sentimento dentro de todo um
país. Camões neste excerto considera que a dor, o sofrimento e o sacrifício afectaram
somente as pessoas da cidade de Lisboa: " A gente da cidade, aquele dia, / (Uns por
amigos, outros por parentes, / Outros por ver somente) concorria" (est.88,vv.1-3). Já
Fernando Pessoa diz que o sofrimento atingiu todas as regiões de Portugal:" Ó mar
salgado, quanto de teu sal/ São lágrimas de Portugal!" (vv.1-2) Nacionaliza o
sofrimento, a dor, todos os portugueses sofreram com a partida dos marinheiros, porque
no mar desconhecido facilmente se perderiam, a dúvida era global, muitos davam-nos já
por perdidos, tendo quase a certeza de não os tornar a ver.

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