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Estado e Constituigao - 18 INGO WOLFGANG SARLET MAQUIAVEL, “O PRINCIPE” ea formagao do Estado Moderno A varia, po'AByOGADO sitar nge Wotan Sat Capa, projet gif diagremscso “Uvraria do Advogade Eatora argue Borba "Fone (800.5. 7563 ‘cttorsairariandoedvopado.com br Impresso no Baal / Printed in Beat Notas do direitor / organizador A Colegio Estado e Constituigio chega a0 décimo itavo titulo, Um marco em termos deste tipo de pro- jeto editorial com caniter académico critico reflexive, fe seriedade a pesquisa jurfdica, Traz, o Prof. Ingo, um trabalho de juventude, como ele mesmo refere, pordan ‘onde jé se prenuncia 6 autor referencial que se tomnou ‘com 0 passar do tempo, [Neste texto, Ingo, enfrenta questao fundante e fan- damental para os que, como nés e esta Colecio, tem na instituigao politico-juridiea do Estado seu foco de aten. ‘to ¢ reflexio, trazendlo as origens e dialogando com aquele que esta em suas fundagdes Niccolo Machiavelli eseu "0 Principe”. ‘Mesmo com as ressalvas postas por Ingo W. Sarlet, 4 incorporagao deste titulo ao conjunto de texios que fazem parte da Cololecio Estado e Constituigao ajuda partir de ma nao fratura entre Teoria do Estado e Teo “Allds, como 0 proprio titulo desta, “Estamos felizes por contar com Ingo entre n6s e, satisfetos por, juntamente com a Livraria do Advogs” 0, dispontbilizar este seu estudo. oe ‘Boa leitura e abrigado pelo prestfgio que tem sido dado todos ov thas agulveusidoe: Porto Alegre, fevereizo de 2017, Prof. Dr. Jose Luis Bolzan de Morais Prof Dr. Jone Luis Bolzan de Morals Professor do PRGD /UNISINOS e UT Notas preliminares acerca do contexto da redagao do texto! ‘Tendo em conta que também o termo Estado con vencionalmente se ulliza de modo adjetivado (Gomes Canotilho) nao ha também nesse dominio como dis- ppensar acordos semanticos prévios idade Se significados que se tem atribuido, adjetivadas do Estado. to, da {que ocorre em relacio a bem a exp: revela unissona quanto a sua compreensso, ‘Assim, pata efeitos do texto que ora se republi- ‘monogréfica, transcorridos mais de vin- 2 pmeira publica integral (Revita fega a surgir e se difundir na Burop: partir do Seculo XI (lembrem’se aque casos de Por Rugal depois da reconquista e da Siclia de Frederico I), mas particularmente a0 longo dos Séculos XV, XV a forme de organizacto poiticn do assim designacs Estado Absoluto, embors tamban ngul nto ce pose alastar “muito antes pelo contriio uma considearel dose de diversidade estruturasao gradual e diferenciada do Estado Moder no eno modo de exercicio do Poder Politico pelos seus ‘tulares. aspectos nucleares da presente monografia reside nfo apenas no fato de, ao que se sabe, ter sido.0 primeiro 2 usar 0 termo Estado referido a uma particular forma de ordem politica, mas também pela importancia de sa ‘obra para a compreensio de sew contexto, estrutura € a anslise do mesmo autor, Flarenca possa ser considers ‘dao primeiro Estado Modemo do Mundo” No que diz respeito a Maquiavel, personagem gue vivenciou plenamente 0 ambiente fecundo da Re- contrério, a presente monografia tem ium alcarce mut to mais modesto, objetivando apenas contextuslizar 6 relacionar entre si tanto a dinamica da evolucao histo. sco-concreta da figura do Estado Modemo, quanto # cevolusso da nogio de Estado no campo do pensamento politico com © pensamento de Maquiavel na sua obra ais conhecida e difundida, O Principe, inspirado na controversa figura de César Borgia e dedicado a Louren- Go de Médico ser nee texto que Maguavel ebo- ia de um Estado como unidade de poder, ha de ser mantido a "qualquer custo” _apresentado originalmente como monografia de conclu so do Curso de Bacharelado em Ciencias Juridieas da Si TE, a eae etek One Pe 2000, em especialy 236m Usuivesade do Vale do Rio dos Sings (UNISINOS) em rofmoe Tl a PUCRS ¢ Desetargar o TRS Prefacio Ainda que se privilegie como marco referencial para os estudios politico-jiridices e culturais de uma ideias e as obras comsagradas de italiano Nicolau Maquiavel tornaram-se “Maquiavel, ‘0 Principe’ ea Formacio do Es- tado Modemo”, do consagrado Professor e Magistrado Ingo W. Sarlet, revela-se preciosa e didatica introducs0, um dos principais tedricos do pensamento politica © {a construgao do Estado nacional secularizado, revela nfo somente a preocupacso ’ riqueza historica da discussio, mas fambém a correta uilizagio e manuseio de autores: nacionais e estrangeiros que ainda continuam sendo Prof. Dr. Antonio Carlos Wolkmer Peogidor do CNP noel Ad Introdugao itaduras militares latino-americanas,* ‘exemplos vivos e trgicos dessa rea- HIS que se considerar, todavia, que a estrutura bs- sica assumida pelo Estado na atvalidade e a propria nogao de Estado na esfera do pensamento flos6fico © politico contemporaneo nem sempre existiram como com elas nos deparamos hoje em dia. Basta lancarmos um olhar sobre a Histéria ¢ veremos confirmada esta Afirmagio: as formas de organizacao politica e social los homens ¢ as suas ideias encontram-se em constan- te processo de transformagao. ‘Afirma-se ter sido Maquiavel,na sa obra mais f- mosa, “O Principe”, quem pela primeira vez ensaiow uma justificacao do Estado quando este se afirmou em carter definitive e com as caracteritieas easencinis que ‘mantém até hoje. Tanto Maquiavel camo °O Principe” ispensam malores apresentagdes. Ambos, autor © obra, foram até hoje objeto de intimeros estudos, muito ‘embora ainda estejamos longe de apreender, em cart ter definitivo, o seu verdadeiro significado, Diante disso, confrontamo-nos com algumas ques- toes que, paraa compreensao do fendmeno Estado, cer- tamente sao de interesse fundamental e que justificam plenamente a escolha do tema e do titulo do presente frabalho. Basicamente, em “O Principe”, justificou teo- Estado. Em suma, qual é'exatamente a ia de fato existe) entre Maquiavel, "O Principe” eo Estado modemo em formagie = i STS ee ae Levando em conta esses objetivos,dividimos 0 nosso traballio cm quatro eapition-no primeira. mama Sbordagemn de outer mass fstoaco,anfoctmnoe © pro- Siema a formerto historca do Estado moderno & Se \do na acepgao moderna do termo e, » como e quando efetivamente se deu No segundo capitulo, que fandamentalmente term trata de uma abordagem critics do problema do Estado ‘Ro pensamento medieval, mas simpleamente de cstabe. Iecer qual a nogio de Estado e se houve alguma eval Go no que tange a esse aspecto. No capitulo seguinte, Maquiavel e “O Principe” Finalmente, no ultimo capitulo, ne do nosso trabalho: a nogao de Estado em Maquiavel em “0 Principe”. Ai, baseados nos dados colhides e Analisados nos capitulos anteriores, poderemos ent2o partir para a andlise da relagio entre Maquiavel, "O Principe” e 0 Estado Modemo, objeto precipuo do nos- so esttdo, 18 soo WOLFEAN SARL [Ss do ean adene 19 1. A formagio do Estado Modern 1.1.0 problema do Estado na Idade Média Mesmo nos dias atuais, no sio poucos os que ainda guardam, a respeito do perfodo historico, tradi noe Soma do Bande Moen 23 Jizado do termo ao se referirem a organizagio politica ‘medieval. Nao cabe, porem, a ne, entrar mals & fans ‘a analise desce problema, Importante ¢ que se tena fem mente ofato de que a palavea Estado, aplcada Sor, ganizacio poltica na Idade Média, tem um sentido & Sonteddo diverse do que ov lw dt stuaimente Foi talvez Hermann Heller o autor que melhor ca- vé-se logo que a tarefa de definir 0 1 Idade Média certamente no das ¢ que, conjugados, permitem uma caracterizasio do Estado medieval. Estes elementos, fundamentalmente, foram trés: o cristianismo, as invasoes dos barbaros ¢ 6 f De fato, segundo a maior parte dos autores, deve- -se principalmente a Igreja e a0 feudalismo a falta de unidade e centralizagao politica na Idade Média. No centanto, para que se compreenda melhor o modo pelo ual estes fatores contribuiram para a caracterizagio do caréter olidrquico do Estado medieval impoe-se, desde logo, uma andlise mais aprofundada dos meses. (© feudalismo foi uma presenca tipica na Europa Ocidental, principalmente entre os séculos IX ¢ Xill, Para Ganshof, 0 tipo de sociedade também denomina do de “regime feudal” & proprio dos Estados nascidos fem consequéncia das divisoes do Império Carolingio, ‘como ¢ 0 caso de Alemanha, Fs Reino de Borgo. loocorsido ainda nna Inglaterra, certas regides da Espanha e nos Estados Iatinos do Oriente préximo.” feudalismo somente poder ser bem= -compreendido se for corretamente enguuadraco no seu contexto hist6rico. Esta ¢ também a opiniao de Gian franco Poggi, para quem “cada sistema de governo deve ser visto contra tm fundo mais amplo de fendme- ‘nos culturais, econémicos, sociais e tecnologicos” Durante a Idade Media, estes fendmenos esta- eee Brel Moceme 2s (condes), 08 quais representavam 0 governo local, e dos smissi dominic, funcionarios enviac sdos pelo Innperador Comms mined de scalizar a administayto dos primel- yuu no ecbor nantes ence Secor Ma afc e weap tinue io se a asalngen, GE uma rela merenente (Toma do Bands Moser 2 contratual, mas, sim, intensamente pessoal, marcada por um gr tetido de ‘emocional joverno. A relacio vassalo-suserano desen rincipaimente entre meados dos séculos IX ‘ult na principal tendéncia, da divisao de cada grande Foi, contudo, nessa época, marcada sobretudo pela fragmentagto do poder politico e p - necida nogao de autoridades, que se fer sentir a forca a 2: JELLINER Goong yep cee ean 29 divino do Império Romano ¢ a ideta crist8 sobre o ca- ‘ter universal do “Reine de Cristo” como governo do mundo foram as dus concepgées que conduziram 9 organizagio espiritual do Imperio Mundial, encarnado ‘no poder do Papa eo sistenta hierarquico da Igrea.™ De fato, foi 0 cristianiamo, na opiniio de Dal- so Dalla bse ds aepirgao §tniversalade maim ‘undo em que a unidade politica nto passava de un {deal Para el, orenforgos envidaclos por parte da igre- jarno sentido de converter toda a humnantiade 90 is ‘com este pensamento que, no ano de 800, 0 Papa Lego Ill confere a Carlos Magno 0 titulo de Imperador, evento que marca 0 inicio da intervencao da gr ado." durante quase toda a Idade Média, Isso explica por que, no entender de J.L. Brierly, Igreja retardou sensivelmente 0 aparecimento de Esta (© poder estava sempre dividido. Segundo Brierly, até ‘mesmo na Inglaterra, pais que sempre se caracterizou ppela sua rebeldia em relacio a interferéncia do Papa, IRao se duividava da existincia de certas limitagies 20 poder do Estado e de que a Igreja exercia sobre 03 seus ‘Siditos uma série de prerrogativas.” Diante do exposto, evidenciam-se, de forma bas- tante cristalina, os motives que explicam o cardter plus ralista ou “poliirquico” do Estado na Idade Média. Império, que teoricamente representava a ordem pol tiea superior, fracassou na sua tentativa de restabelecer a unidade do mundo romano. A autoridade do Impe- rador, com raras excecoes, NAO passou, na maior Parte do tempo, de uma mera aspiracao. 20 recreate ccem e autoridade, 0 germe de criagdo do Estado mo 12. O surgimento do Estado Moderno Ao tratarmos da caracterizagso do Estado medie- val, vimos q iam presents raul pace, semos oportunamente, completa is com 0 cardter polidrguico da s0- Sem embargo, é nest partir do séeulo XIl, que ese evidenciarem as forcas que, num periodo de tempo SSDALLARI Dano de Abrupt p62 32 col WOLF SAREE relativamente curto (cerca de tés séculos), vo condu- ‘Apenas o faremos a titulo exemplifieativo e na medida fem que isso se torne necessario para a melhor compre- fensio do processo. quico, politicamente centralizado e soberano, "tanto {ntema como externamente, é, por um lado, 0 resultado ddas lutas entre os diversos poderes presentes na Idade Média: aIgreja,o Império, os reise os senhores feudais, Por outro lado, surgi o Estado moderne da formagso das comunidades nacionais, assentes sobre uma por ‘0 delimitada de terzt6rio, como acorreu na Espanha, Frangae Inglaterra" No entender de De La Cueva, “a0 iniciar-se a bai- xa Idade Média, as pretensbes a0 dominio universal SS ROUANTZAS Neon PtP eo las ois p97 See do ies 3 isso representa a primeira vit6ria do poder laico sobre oespintuals poser alco sob "Dessa forma, Pode-se afirmar, juntamente com {de la Cueva, que "a tormagso dos Estados sno uu Fea Coc de. 980 proprios do | talealadara © 0 tact De fato, a formagso do Estado moderno deu-se, tendo como pano de fundo, toda uma conjunture, todo lum contexto em que os valores do mundo medieval, gradativamente, foram sendo substituidos por novas concepgoes de vida, baseados na razs0 e na liberdade ‘do homem.* Nelson Saldanha entende que a época cha- ‘mada de Renascimento €0 ponto de referéncia historica esse processo. Nela convergiram varias transforma: ‘oes decisivas, como o humanismo cientifico eliterario, © advento da economia monetaria, as expansGes mari. Igreja € 0 Fstado, tendo afirmado “a intencSo da autori- dade civil de ser suprema em seu territorio, derrotando Sefinitivamente o timo rival do Estado unificado que comegava a surgir”= Foi por obra da Reforma que © Conflito antreIgrejae Eetado ce dacidts om favor do fimo. Até mesmo nos patses caldlicas por exceléncia, a Trea teve os seus alicerces tao abalados, que nfo mais teve condicées de, como forca politica, competir com © poder do Estado. Em 1685, a Paz de Westflia pos um fim ao longo conto religioso denominado “guerra dos tints anos" Este evento, segundo os autores, marcou a aceltacao da nova ordem politica na Europa ocidental,evidenclando Claramente a exsténcia de uin novo upo de Estado ™ De fato,a partir da Renascenca, as poliérquias me- levaistransformaram-se em unidades de poder cont ‘huas e centralizadas. A palavra Estado passou entao a ter um contetido e significado completamente nove” Este novo tipo de Estado € 0 que habitualmente se denomina Estado moderna. Como jé foi visto, ele se Originow da luta pela centralizagio do poder politico ‘has mios dos reis e de um longo processo de eabore. Glo das nacionalidades, que se conatituit num fendme- a monarquia absoluta a forma com que, pela primeira vez, 0 Estado modemno se apresentot hha Europa ocidental. O Estado modemo surgiu como Estado absoluto. SpE Um ot Seats ane Moderne 37 Isso se explica pelo fato de que, na época em que se formow o Estado modemo, o sentimento de unlio fo entender de Georg Jellinek, a monarquia ab- “formou uma wnidade interior de tert6rios S GROPP acta To Comey cm Magi SPOULANTZAS Nios op cif. 8 Saganvan OPN armageddon 39. 2. A concepeao de Estado na tradicfio da filosofia politica medieval 2.1, A patristica e as bases floséficas da concep¢io medieval de Estado No capitulo anterior, vimos que o carste lista da sociedade medieval impediu, durante Fla sido intwoduaido na literatura apenas século XVI, por intermédio da obra "O Principe”, de Maquiavel. Diante disso, convém ressaltar, palavra Estado nfo se fez presente nv fico das autores mediev: ciedade politica de ent ‘como respublica cio ‘20 se referirem a concepeao de sociedade ‘bra dos pensadores medi igd0 mals correla e ade PPresente isso, e conscientes de que o Estado me- dieval consiste em algo diverso do que © ‘derno que conhecemos, podemos, de ime: SEIRTREYES Pen apa CHEVALLI, eucunsHnr o ECR iene 41 fico dos fdsofos da'idade Média. a ‘Tendo-te afirmado como religito oficial do mun- 40 romano, jem de Constantino, o cristianismno 0 Império Romano do Oc niko, apolado na gia acto igreja, a sumentar cada ver ais @ sua sa, cNGSRRPS do pensamento, como rligito «floso- ‘nfucncia. Originalmente, a doutrina de Cristo néo tinha ne~ nhum significado politico. imente uma limitagao do poder tir des eg ~ de lpm futons, temporal que a perdurar praticamente durante toda 42 noo WOUTARG SARLET influencia dominante, no campo do pensamento, até S.Tomé de Aquino. Aurélio Agostinho (354-430) viveu no final do jedicar, de corpo e alma, a0 estudo da doutrina cristé ea elaborar a sua vasta obra, Ordenado padre em 391 e consagrado Bispo em 395, governou @ Igreja de Hipona até o fim da sua vida, quanlo contava setenta e cinco anos de idade. Santo Agostinho legou-nos uma obra extensa e va~ iadano campo da teologia e da filosofia. A'nés, pore interessa particularmente a sua “De civitate Del” (A et dade de Deus), certamente a sua obra mais significati va, Para Giorgio Del Vecchio, “em nenhuma outra obra se poders observar melhor a diferenga entre o conceito hnelénico e 0 conceito eristao de Estado” ‘Sem embargo, percebe-se na obra de Santo Agosti- ‘ho a profunda influéncia da teoria platonica das iaelas, © do ideal estoico da igualdade fundamental dos ho- mens. Coube a Santo Agostinho a tarefa de compat bilizar estes elementos do pensamento classico com 0 [Pensamento erist3o, Muito embora o Estado ideal de Plato possa, em. se assemelhar 4 cidade celeste de Agostinho, ‘essa grande retamaroc aids plo ensamenlo ests: tansjdo do logos grge pare 0 cio 44 ioe warren Sant ‘Santo Agostino pecuou eure mundo, mit além do mands da tala ralerl greg No pensamento de Platio, especialmente na sua obra “A Repub fim do Estado é universal e compreende a virtude de tostos os individuos, e¢ justam« avirtude por exceléncia, que deve reinar atingivel através da razao, mas somente pela fe. ‘A Cidade de Deus agostiniana encontra-se no céu, endona terra. Todavia, a ela corresponde uma na terra, cesta € representada pela comunidade de fidis, ou seja, [pela Igreja. Esta tem como finalidade precipua obter «| A civitas terrena nfo corresponde a um Estado fem particular, sendo fruto do pecado original. Des- ‘2 maneira, justifica-se 0 dominio do homem sobre © homem. © govemo e a autoridade passam assim a ser uma necessidade, pois o pecado, que corrompeu a CASRN Frat Mt do sade p98. “DeL VECCIHIO, lrg op. tp 9. Minted Samo 45 ‘ordem natural das coisas, deve ser castigado. Segundo Ginado a cidade celeste. Santo Agostinho, porém, nao rejeita a necessida- de da ordem politica. O Estado terreno ¢ importante © justifica-se pela sua finalidade, que ¢ louvavel: manter {2 paz ea ordem entze os homens. Ngo obstante, tem 0 Estado carater provisério, pois fatalmente ha de vir 0 dia.em que dard lugar ao “Reino de Deus”" leis da justiga sao irrevogavets e inviolaveis porque ex Puiment « ondest divina, ou sea, a voutadle do que se poderia chamar de supremo legislador” essa forma, a verdadeira justiga é a justisa divi- nna que, por sua vez, somente se encontra no "Reino de Deus”, na civites ceestis. Daf se conclul que alo pode Segundo Agostnho, é Igreja que decide se 0 Estado & justo ou no, pois a Tei eterna de Deus limita o Direito Positive que nto a pode contrarar, sob pena de se tor. nar injusto Isso explica por que, no sistema de Santo estabetecimento do "Reino de Dean. A fren por sun ‘vex, prefigura acidade celeste que tende a order sbso- Ite, pois € doteda de juriadicaa universal Para Cart Freche 6a muda principale decisiva presente no pensamento de Santo Agostino. E'cia que lovars hturamente 8 separagio entre o Esta: ppereceram. Pelo contrério, tomaram-se urna influéncia Sominante nos séculos que se seguiram a sta morte Depois de Santo Agostino, principalmente nos tés primeiros séculos da Idade Média, poucas Figuras se destacaram no campo do pensamento. Entre elas, poderiamos mencionar Sao Isidora de Sevilha © 0 Papa a7 essa teoria passou a ser desenvalvida, tornando-se fun- damental para a compreensao do problema do Estado nna ldade Média. a da Fetado.@ 0 pensamento segue & morte de Santo Agos- wente nos trés primeiros séculos da convertido a0 cristianismo. Além disso, houve uma certa estabilizacao na ordem feudal, o que diminult as ‘guerras internas.”= y Serra, sob 0 impéri 18 Oto donor pensamento agostiniano de diasolver a sociedade tem- poral na espisitual, a natureza no sobrenatural CHEVALIER Jagune Dm aade See 49 A partir de Gregério VII, manifesta-se de forma bastante acirrada a luta entre o poder espiritual e 0 po- der temporal. Esse conflito nao deixou, porém, de ter profundos reflexos no campo do perisamento, pois adeptos de ambos os partidos procuravain justificar teoricamente as suas posigoes. Foi principalmente nes” ‘mas jaa partir do século IX, que comesou a se lstica representa 0 timo perfodo do pen- samento cristio e deve a sua denominagso a0 fato de irgido nas escolas da época: canventos, abadias, mais tarde, também nas universidades, No entender de Truyol y Serra, um dos tragos ca racteristicos da escoldstica medieval é que ela carece de luma unidade doutrinal, pois 0 vigor especulativo dos ‘seus principais representantes foi muito grande, levan- do a afirmagao dos seus temperamentas individuals” Diversamente da Patristica, a Escoléstica tem um, cardter bem mais especulativo. Seu principal objetivo consistiu, basicamente, em dar uma base ldgica e racio- ‘al aos dogm. 105. “A tese de que a filosofia esti 0 servigo da teologia foi o principio basico da Esco- listica. Beste modo, a Escolastica medieval procarava colocar um fundamento floséfico sob todo 0 edificio aa fer" ‘Tudavia, até Santo Tomas de Aquino (meados do ‘século XIID, @ influéncia dominante no pensamento ‘medieval continuaria sendo a de Santo Agostino, Pro- vavelmente, isto se deve ao fato de, apenas a partir do século XII, as obras de Aristételes terem sido divulge das na Europa ocidental. Isso, para a afirmagao da pen samento escol foi de importancia fundamental. cated *POKROVSKL, V.8 op. city. 142143, ea eee A Escoléstica pré-tomista, principalmente nos sé- cculos Xe XM, caracteriza-se pelo conilito entre os de- fensores incondicionais da £6, também denominados foram unanimese categéricos em dialéticos que a cultivavam, (Os dialétices, por sua vez, afirmavam que a raz30_ 6 um dos elementos indispensiveis da verdadeira relt- Salisbury (1110-1185), escolésti- co inglés, quem efetuows a primeira tentativa realizada nna Idade Média de sistematizacio da flosofia politica antes da Sto Tons de Aquino. Inspirava-se sobretudo no ideal da comunidad, segundo a concepgao cicero” nniana, e defendia o ponto de vista segundo © qual 0 principe nao é mals do que um ministro do sacerdo~ te, subordinado ao Papa. O principe, segundo ele, ests submetido as leis divinas, ¢ 0 menosprezo dessas leis tiranicidio como um método legitim governante iniguo.” ‘A partir do século XII e, principalmente no século XII, assistimos, na Idade Média, a0 que se poderia cha- mar de um verdadeiro renascimentolintelectual. A cria- $80 das universidades, como foi o caso das de Paris ¢ Oxford, ea proliferacto das escolas de Ditelto levaram fe eliminar un ee iSemue do Bats Medero st ‘2 uma intensificagio da vida intelectual e dos estudos, 4a teologia, ilosofia e do Direito. Srabe para o latim. Sem divida, foram os arabes que levaram a filosofia de Aristoteles a0 conhecimento do de Aristételes no mundo islfmico, TSo grande seria a Influéncia de Aristoteles que o proprio Tomas de Aqui- no, em meados do século XIII ria coordenar um traba- Iho de traducao direta da obra de AristGteles do grego para olatim. No entender de George H. Sabine: “Ariststeles dew 8 Idade Média uma nova visio da vida intelectual fgrega e a crenga de que a razao é a chave que necessa- Flamente abried a porta para o conhecimento do mundo natural. Do século XIII até o presente, jamais se perdeu inteiramente esse estimulo” Sem dtivida, foi Santo Tomas de Aquino o maior vulto da flosofia escoldstica. Para Truyel y Serra, af losofia de Tomas de Aquino é 0 ponto culminante do pensamento cristio medieval ea maior autoridade in- {electual do catolicisme.” Toms de Aquino nasceu em 1225, na Campania, Santo Tamas de Aquino expés a filosofia social ¢ politica da Idade Média em sua forma classiea. No que Entende Santo Tomés que o Estado nasce do ins- tututo social do homem. Segundo ele, a natureza social {ar submetidos a sm controle, pois 0 egotsmo levs-os & Drocurarem satnirer an suay Recesniades c/a coma: ‘nao como fruto do pecado original” Justifica-se, assim, aopinidode Ernst Cassirer, para quem Santo Tomas de Aquino, apesar de nunca tet pos [SMAYER. IP. Trgetar del Pema Pii, 6, « DE VECCHO, EE ieee 83 to em diivida os dogmas da Igreja Catélica, nfo podia aceitar a concepcio tradicional de que o Estado ¢ uma do poder temporal ao espiritual. O Estado que se opoe a Igreja carece de legitimidade, pois o Papa é 0 repre- 4 co wourcANO SAREE

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