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Autor
Luiz Percival Leme Britto
1.a edição
144 p.
ISBN: 85-7638-281-4
CDD 372.4
3.ª reimpressão
Letramento e alfabetismo......................................................................................................51
Compreensões históricas do alfabetismo.................................................................................................51
Relação entre letramento e alfabetismo...................................................................................................53
Alfabetismo no Brasil..............................................................................................................................54
Evolução histórica do alfabetismo...........................................................................................................55
Níveis de alfabetismo..............................................................................................................................57
Caminhos e possibilidades.......................................................................................................................59
Informação e conhecimento..................................................................................................111
A norma moderna....................................................................................................................................111
Constituindo a informação . ....................................................................................................................112
A informação como produto....................................................................................................................115
O que faz da notícia uma notícia?............................................................................................................116
Informação X conhecimento ..................................................................................................................118
Referências............................................................................................................................139
Anotações..............................................................................................................................143
E
ste livro trata de um tema que nos é bastante familiar: a reflexão sobre as práticas de leitura e
escrita na sociedade de cultura escrita e sobre as formas de ensiná-las. Nele, você encontrará
reflexões e análises sobre a relação entre língua e sociedade, sobre usos e conhecimentos, sobre
os modos como estas coisas participam na vida da gente e os sentidos que têm. Encontrará estudos
sobre comunicação, preconceito, informação. Encontrará, a todo o momento, um convite a pensar
sobre a língua, principalmente a língua escrita e os sentidos que ela tem em nossas vidas.
A perspectiva adotada nestas aulas não é a de oferecer modelos. Aqui, você não encontrará a
exposição de regras ou padrões de como ensinar a escrever e a ler, de como fazer o letramento. E isto
por duas outras razões.
A primeira razão decorre da idéia de que conhecer como se apresenta em nossas vidas a língua
escrita, seus usos e funcionamento, sua razão de ser na sociedade e na vida humana, é mais importan-
te e anterior ao aprendizado de regras de uso. De nada vale saber uma regra se não sabemos sua ori-
gem, seu sentido e seus valores. Muitas vezes o ensino de regras, como se fossem verdades absolutas,
esconde uma visão autoritária e preconceituosa de sociedade e de aprendizagem. A atividade reflexiva
sobre a língua, sobre seus usos e valores deve colaborar para que o estudante possa se ver como al-
guém que participa do mundo, que atua nele, intervindo na sociedade para torná-la mais justa e equi-
librada. Deve também contribuir para indagações mais pessoais sobre as formas de ser humano.
A segunda razão diz respeito à compreensão que tenho de como as pessoas desenvolvem suas
capacidades no uso da língua, em particular da escrita. Aprender a escrever e a ler (e outra coisa não
é o letramento senão isso) é aprender a organizar o pensamento de um certo modo, reinvestir cons-
tantemente em sua formação e na realização de suas expectativas. Para isto vale a pena ler, escrever
e ensinar a ler e escrever.
Em alguns momentos, talvez, você considere a análise muito amarga, desanimadora. Mas, so-
mente conhecendo a realidade como ela é, poderemos agir sobre a mesma, modificando-a e tornan-
do-a mais próxima de nossos sonhos.
Espero, com estas aulas, não só contribuir para sua formação, mas também incentivá-lo a so-
nhar com uma sociedade em que todos possam ler, escrever, trabalhar e, acima de tudo, viver com
qualidade.
Luiz Percival Leme Britto
A
presenta-se, nesta aula, uma análise de como a sociedade de cultura escrita
se constitui e se organiza, a importância da linguagem, o papel da escrita
na vida diária, assim como as formas de as pessoas serem, aprenderem e
atuarem nesta sociedade.
O mundo escrito
Quando pensamos sobre escrita, a primeira imagem que vem à cabeça é a
de uma linha de letras dispostas numa folha de papel. A esta imagem associamos
imediatamente à idéia de leitura, de livros, cadernos, jornais, revistas.
Esta imagem tem lógica. Afinal, ela remete ao fundamento da escrita, algo
que participa intensamente de nossa vida nas atividades mais variadas, incluindo
os afazeres cotidianos, o trabalho, as relações sociais, as atividades
culturais. Não seria exagerado dizer que a maioria de nossas ações do
dia-a-dia é diretamente mediata pela escrita. O que quer dizer o
“espaço escrito”?
Se pararmos para refletir sobre a sociedade em que vivemos e
observarmos como ela se organiza, como se distribuem as coisas no
espaço, veremos que a presença da escrita é ainda maior do que supúnhamos.
Tomemos como exemplo a imagem de um rio. Um rio qualquer, como por
exemplo, aquele que aparece no início do romance “O Guarani”, de José de Alen-
car. É o Paquequer. O narrador disserta longamente sobre este rio, descrevendo
como suas águas, serpenteando pela serra, vão cavando o espaço. O rio progride
no ritmo de uma serpente, em função das formas que formam o fluxo de sua tor-
rente. O rio é antigeométrico.
Pensemos agora no desenho de em um rio urbano, como por exemplo, o rio
Tietê que corta a cidade de São Paulo. Ele já não serpenteia, não se estreita ou
se alarga conforme avança. Não tem várzeas, nem mata ciliar; seus limites são
estabelecidos por margens de concreto, as quais recebem um gigantesco fluxo de
veículos. O rio é uma linha, um desenho geométrico ladeado por grandes aveni-
das. Ele é assim não porque tenha sido sempre desta forma, mas porque ganhou a Professor Doutor do Pro-
marca da urbanidade desenhada, projetada, esquadrinhada. grama de Pós-graduação da
Universidade de Sorocaba;
Na sociedade contemporânea, os lugares têm suas dimensões estabelecidas Presidente da Associação de
Leitura do Brasil; Autor dos
muito mais por sua projeção no papel que pelo próprio espaço físico. O mesmo livros A sombra do caos —
ensino de língua x tradição
ocorre com as chuvas e os ventos: as imagens de clima que se oferecem, em ani- gramatical; Contra o con-
senso — cultura escrita, edu-
mações, nos noticiários, são formas de representação e compreensão da realidade cação e participação.
Língua e mundo
Com a língua, a gente dá nome às coisas, reconhece os objetos do mundo,
cria modos de ser e de ver. O educador Paulo Freire, ao defender sua concepção
de educação, insistia no fato de que as palavras são mais do que um instrumento
de comunicação. Para ele, a grande questão da alfabetização está relacionada à
tomada de consciência coletiva e a possibilidade de, pela aprendizagem da palavra
escrita, fazer novas e mais significativas leituras de mundo.
Para exemplificar a importância da consciência e auto-reconhecimento,
Paulo Freire conta um episódio de uma atividade de educação de adultos analfa-
betos, realizada com camponeses no Chile.
“Descubro agora”, disse outro camponês chileno, ao se lhe problematizar as relações ho-
mem-mundo, “que não há homem sem mundo”. E, ao perguntar-lhe o educador, em nova
problematização: “admitindo que todos os seres humanos morressem, mas ficassem as
árvores, os pássaros, os animais, os mares, os rios, a Cordilheira dos Andes, seria isto
mundo?” “Não”, respondeu decidido: “faltaria quem dissesse: isto é o mundo”. (FREIRE,
1976, p. 23).
A primeira impressão, essa idéia pode parecer sem sentido. Afinal, a ma-
téria física que faz o universo é independente da vida e da vontade humana, já
existia há muito tempo, antes de aparecer a humanidade, e continuará a existir
mesmo depois que não existirem mais homens e mulheres.
Mas o mundo, a vida humana – dirá o camponês chileno – existem porque
os homens e as mulheres não apenas existem, como sabem que existem, e repre-
sentam e afirmam sua existência, assim como afirmam a existência de todas as
outras coisas que os rodeiam, com suas palavras.
Poder dizer, poder falar uma língua, me permite pensar e me relacionar
com o outro, me faz ser gente, me faz humano, homem ou mulher, me faz ter
consciência de mim mesmo, do outro, do mundo e da vida. E esta possibilidade de
relacionar-se com o outro que faz de uma pessoa um ser social.
Mas é preciso perceber que a condição humana é social, e isso não apenas
no sentido de que a gente vive em grupos de uma forma organizada. Também as
abelhas e as formigas fazem isso. O ser humano é social num sentido mais pro-
fundo: sua sociabilidade está relacionada com sua capacidade de simbolizar e de
conhecer sua própria condição.
Por tudo isso, pode-se dizer que a língua é parte da condição humana, e é
base de todas as culturas. E enquanto coisa humana e fundamental para a vida,
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A sociedade de cultura escrita
para cada indivíduo e para a sociedade, ela é objeto de reflexão de muitas manei-
ras: científica, normativa, artística.
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Letramento no Brasil
Esta forma de ser da língua é resultado do fato dela ser um produto essen-
cialmente social e histórico. Ela não é a criação de uma mente brilhante nem so-
brevive porque se definem regras e modelos. A língua é o fruto da própria história
dos grupos humanos, que, se constituindo, constituíram as formas de simbolizar
e de compreender a realidade. Por isso é que se pode afirmar que o ser humano é
um ser histórico.
A língua é parte da vida humana em sua história concreta e participa de
todas as esferas de constituição dos sujeitos, tanto em sua singularidade como
em seu pertencimento a um grupo social. Ela está na base da cultura. O lingüista
russo Mikhail Bakhtin identifica esse fato e analisa suas implicações:
A palavra penetra literalmente em todas as relações entre indivíduos, nas relações de cola-
boração, nas de base ideológica, nos encontros fortuitos da vida cotidiana, nas relações de
caráter político etc. As palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e
servem de trama a todas as relações sociais em todos os domínios. (...) A palavra constitui
o meio no qual se produzem lentas acumulações quantitativas de mudanças que ainda não
tiveram tempo de adquirir uma nova qualidade ideológica, que ainda não tiveram tempo
de engendrar uma forma ideológica nova e acabada. A palavra é capaz de registrar as fases
transitórias mais íntimas, mais efêmeras das mudanças sociais. (BAKHTIN, 1981, p. 41).
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A sociedade de cultura escrita
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Letramento no Brasil
Agora vivo em paz, juntamente com a minha velha tia Scolastica, que
quis oferecer-me abrigo na sua casa. Minha estapafúrdia ventura fez-me, re-
pentinamente, subir no seu conceito. Durmo na mesma cama em que faleceu
minha mãe e passo grande parte do dia aqui, na biblioteca, em companhia de
padre Elígio, que ainda está longe de ter conseguido uma arrumação criteriosa
para os velhos livros poeirentos.
Levei perto de seis meses para escrever esta minha estranha história, au-
xiliado por ele. De tudo o que aqui relatei, ele guardará segredo, como se o
tivesse sabido sob o sigilo sacramental.
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A sociedade de cultura escrita
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Letramento no Brasil
regiões mais pobres do país. Na região Norte, 48,2% dos bebês não tinham
certidão de nascimento. No Nordeste, o percentual era de 35,6%.
O Sudeste é a região com o maior percentual de crianças registradas perto
do nascimento: só 6,3% ficam sem a certidão no ano do parto. A seguir, apa-
recem as crianças do Sul (11,3%) e o Centro-Oeste (19,7%).
Mesmo ainda em patamares elevados, os números melhoraram na década
de 90. Em 1991, 29,2% das crianças brasileiras não eram registradas. No Nor-
te, o percentual chegava a 65,1%. No Nordeste, a 53,6%.
Para chegar aos sem-registro, o IBGE compara o número de registrados
com as estimativas para o total de nascimentos.
O IBGE pesquisou também a retirada tardia da certidão. Em 1990, 25,6%
das crianças recebiam o registro até dez anos após o nascimento. Em 2001, o
percentual foi de 27,5%. Para o gerente do Departamento de Indicadores So-
ciais do IBGE, Antônio Tadeu de Oliveira, isso mostra que mais gente está se
regularizando. O fenômeno, segundo ele, é mais intenso nos anos eleitorais,
quando as pessoas são estimuladas a tirar título de eleitor.
Como solução, Oliveira sugere que o governo incentive hospitais e ma-
ternidades a ter convênios com cartórios para que o registro ocorra no local
de nascimento. É que cerca de 95% dos partos, segundo o IBGE, são feitos na
rede hospitalar. Em 2000, 2,5 milhões de crianças foram registradas, contra
3,2 milhões nascidos na rede de hospitais. Para 2000, a projeção do total de
nascimentos do IBGE era de 3,5 milhões.
Mortes
Para o IBGE, mais dramática é a falta de registro de mortes, pois não há
outra oportunidade para ele ser feito a não ser logo após o óbito. Em 2001,
22,8% dos mortos não entraram nas estatísticas. Em 1991, o percentual era de
28,3%. No Nordeste, chegou a 42,7% em 2001. Segundo o IBGE, a situação
estimula os cemitérios clandestinos.
A leitura desta notícia permite ver a enorme correlação que existe entre a
escrita e os modos de inserção social. É exatamente nas regiões mais pobres do
país, menos urbanizadas e industrializadas, onde se verificam os maiores índi-
ces de crianças sem registro de nascimento. Nas regiões mais desenvolvidas, o
grupo dos sem-registro é o das pessoas mais pobres. Estas pessoas vivem uma
situação em que são submetidas à cultura escrita, produzem para ela e pouco se
beneficiam dela.
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A sociedade de cultura escrita
A ordem da escrita
É difícil imaginar eventos em que a escrita, em palavras e outros símbolos,
não se apresente de algum modo. Ela está no bilhete e na declaração de guerra, nos
contratos de compra e venda e nas certidões de nascimento e outros documentos
de identificação das pessoas, nos álbuns de família e nos testamentos. Ela é visível
e significativa nos espaços urbanos, nas escolas, nas placas de rua, nas fachadas
das lojas, nas igrejas, agremiações e clubes, nos locais de trabalho e de lazer.
A força da escrita fica evidenciada de muitas maneiras. O domí-
nio e o uso da escrita são usados como indicador de desenvolvimento
e progresso de sociedades. A porcentagem da população alfabetizada
Como e por que a
é um importante índice de desenvolvimento social e a meta de esten- escrita surgiu?
der a alfabetização a todos como condição de cidadania é priorizada
por inúmeros países.
A importância do surgimento da escrita para a história das civilizações é
tão grande que é considerada como um marco fundamental do desenvolvimento.
Costuma-se chamar de pré-história o período anterior à escrita.
Mesmo assim, cabe fazer uma pergunta aparentemente óbvia: Para que ser-
ve a escrita?
A pergunta tem pelo menos três respostas que se complementam.
A primeira resposta é que a escrita é um instrumento de comunicação à
distância, permitindo que se relacionem verbalmente pessoas afastadas uma da
outra no espaço e no tempo. Através de um texto escrito, uma pessoa localizada
em Recife pode comunicar-se com outra em Porto Alegre. E pode escrever hoje
para ser lida daqui a uma semana, um mês, um ano.
Durante muito tempo, este foi o único processo de comunicação à distância.
Talvez por isso ainda se afirme que aí reside a razão da invenção da escrita. Existe
uma história de que a invenção da escrita aconteceu porque as pessoas, em tempos
antigos, tinham necessidade de se comunicar à distância. Como a voz não chegava
onde estava aquele com quem se queria falar e nem sempre os mensageiros eram
de confiança ou não conseguiam transmitir a mensagem como haviam recebido, a
solução foi criar um sistema estável, que representasse o que se queria dizer.
Essa é uma história interessante e até poderia ser verdadeira. Afinal, as
cartas são um pedaço importante nas relações entre as pessoas e entre diversas
instituições. Elas fazem parte da vida particular de muita gente (as correspondên-
cias pessoais e, em tempos mais recentes, as eletrônicas) e também da atividade
pública, em que se multiplicam as cartas comerciais, os ofícios, comunicados etc.
Mas a história foi outra. A escrita, mesmo servindo para a comunicação à distân-
cia e tendo sido usada pra isso desde muito cedo, tem sua origem ligada a outras
necessidades das sociedades organizadas.
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Letramento no Brasil
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A sociedade de cultura escrita
Escrita e poder
Não há relação direta entre desenvolvimento tecnológico e transformações
nos processos de produção da informação com a efetiva democratização ou com
o fim das desigualdades. E isto porque, como adverte o educador francês Jean
Foucambert
A importância da escrita deve ser encarada não apenas em função de seu papel como
meio de comunicação e expressão, mas também, e sobretudo, como instrumento de pen-
samento. De um pensamento adaptado às novas exigências do progresso tecnológico. Se
existe uma relação entre o mercado de trabalho e a leitura e, conseqüentemente, a escola,
é preciso, nessa nova necessidade global, procurar dar para o maior número possível de
pessoas uma formação intelectual que desenvolva a utilização de operações abstratas e,
portanto, um domínio melhor da língua escrita, cujo exercício torna viável esse modo de
pensamento. (FOUCAMBERT, 1997, p. 12)
Mas é preciso cautela para não derivar desta análise um raciocínio ingênuo
de que quanto mais a pessoa aprender a escrita, mesmo neste sentido forte de um
sistema amplo e complexo, melhor se colocará na escala social.
Há um vínculo estrito entre a escrita e as formas de exercício do poder, em
pelo menos dois sentidos. Em primeiro lugar, está o fato de que uma técnica tão
poderosa será, na sociedade de classes, desigualmente distribuída e desigualmen-
te possuída. Quem mais domina as formas e objetos da escrita e mais faz uso dela
são os grupos que detêm o poder econômico e social. Em toda sua história, e até
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Letramento no Brasil
hoje, a escrita foi produzida e apropriada pelos grupos dominantes, ainda que sempre tenha havido
muitas formas de ruptura e de disputa.
Em função dessa posse desigual, os processos de escritas e os objetos culturais a ela vinculados
(seja porque nasceram dela, seja por que se transformaram ao se incorporarem a este modelo) ga-
nham, principalmente nas formas hegemônicas de cultura, a feição e os valores daqueles grupos que
a controlam, mesmo que haja expansão de certas formas de uso. A produção da arte, dos discursos
jurídicos e morais, das normatizações de comportamento e de formas de compreender a vida, a pró-
pria expressão oral (que é uma fala original, mas uma fala espelhada nas práticas escritas), tudo isso
comporta um viés de classe, de expressão de poder.
A apropriação dos discursos referenciados neste sistema decorre das possibilidades objetivas de
participação e inserção da pessoa nos espaços sociais, o que, por sua vez, se relaciona com as formas
pelas quais as diferentes classes sociais e frações de classe se organizam e articulam a distribuição e
a posse deste “bem social”.
Uma educação democrática supõe o compromisso político com transformações nas estruturas
de poder e não apenas de formação de indivíduos competentes para disputar, em condições desiguais,
um lugar ao sol.
1. Reunidos em pequenos grupos, façam uma breve análise de como o espaço em que vivem ma-
nifesta a lógica da sociedade de cultura escrita. Não se limitem à presença objetiva do escrito,
considerando também a geografia.
2. Cada participante deve listar as situações de uso da escrita em sua vida, incluindo tanto as ati-
vidades de cotidiano, como as de estudo, trabalho e lazer. Em seguida, o grupo deve fazer um
quadro das várias listas e verificar o que é comum e o que é particular de cada pessoa.
4. A partir do que estudamos e de suas considerações pessoais sobre a vida em sociedade, redija
um texto em que analise as relações entre escrita, leitura e poder e os caminhos que podemos
trilhar para buscar uma sociedade mais justa e equilibrada.
A presença do escrito nas sociedades contemporâneas é tal que ela supera toda capacidade de conservação, mes-
mo para a maior biblioteca do mundo, que é a do Congresso dos Estados Unidos, que seleciona e a outras biblio-
tecas os materiais que não pode aceitar. Aliás, é preciso pensar não apenas nos livros, mas também em todos os
materiais impressos. Qualquer um pode fazer a experiência, observando quantos materiais impressos chegam na
sua caixa de correio. (CHARTIER, 1999, p. 27)
Considerando essa observação do historiador francês Roger Chartier, faça uma verificação dos
impressos que participam de suas vidas e analise a importância (ou a irrelevância) de cada um deles.
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A sociedade de cultura escrita
CHARTIER, Roger. A Aventura do Livro do Leitor ao Navegador. São Paulo: Unesp, 2000.
Neste livro, ricamente ilustrado e de linguagem acessível e estilo agradável, o historiador fran-
cês conta a história do livro e as transformações por que passa a sociedade contemporânea, em parti-
cular as relações com o escrito, em função das novas tecnologias da informação.
OLSON, David. O Mundo no Papel – as implicações conceituais e cognitivas da leitura e da escrita.
São Paulo: Ática, 1997.
O livro analisa os elementos constitutivos do aprendizado da leitura e da escrita e as implicações
para o pensamento e para a produção do conhecimento dos modos de ser da cultura escrita, tratando
de esclarecer sobre as instituições e atividades comerciais, legais, religiosas, políticas literárias e cien-
tíficas quando os documentos escritos passam a ter um papel fundamental na sociedade ocidental.
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Letramento no Brasil
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