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Poder Judiciário

JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária de Santa Catarina
Gab. Juiz Federal GILSON JACOBSEN (SC-3C)

RECURSO CÍVEL Nº 5015820-55.2020.4.04.7200/SC


RELATOR: JUIZ FEDERAL GILSON JACOBSEN
RECORRENTE: DENILSON ACARI SIQUEIRA (AUTOR)
RECORRIDO: UNIÃO - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO (RÉU)

VOTO

Trata-se de recurso da parte autora contra sentença que julgou


improcedente pedido de reconhecimento do direito de receber Adicional de
Compensação por Disponibilidade Militar no percentual de 41% do soldo, bem
como o pagamento das diferenças devidas.

O recorrente, inicialmente, requer a concessão do benefício da


justiça gratuita. No mérito, defende que o Adicional de Compensação por
Disponibilidade Militar tem característica de reajuste geral e que o
escalonamento previsto no art. 9º da Lei 13.954/19 ofende o principio da
isonomia e o art. 37, X, da Constituição Federal. Esclarece a natureza da verba
discutida e que não pode ser paga em percentuais distintos. Afirma que a
situação descrita não implica a incidência da Súmula 37 do STF. Por fim,
pede a reforma da sentença e a procedência do pedido inicial.

Foram apresentadas contrarrazões.

JUSTIÇA GRATUITA

O benefício da gratuidade da justiça é garantido pelo art. 98, caput,


do Código de Processo Civil, verbis:

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com


insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os
honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.

No tocante ao pedido formulado por pessoa natural, o art. 99, § 3º,


do CPC estabelece que a alegação de insuficiência de recursos presume-se
verdadeira, até prova em contrário.

Por sua vez, o art. 99, § 2º, Código de Processo Civil, autoriza o
magistrado a ponderar sobre a condição econômica do requerente, com base
nos elementos acostados aos autos:
[...]

§ 2o O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos


que evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão
de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a
comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos.

Em relação ao critério objetivo da renda mensal, o Tribunal Regional


Federal da 4ª Região vem decidindo no sentido de "ser razoável presumir e
reconhecer a hipossuficiência do jurisdicionado, quando os rendimentos
líquidos da parte interessada, e considerados, para tal fim, apenas, os
descontos obrigatórios/legais (tais como Imposto de Renda e Contribuição
Previdenciária) e, excepcionalmente, gastos com saúde (apurada a gravidade
da doença no caso concreto e os gastos respectivos, ainda que não
descontados em folha de pagamento), não superarem o teto dos benefícios da
previdência social".

Nesse sentido:

ADMINISTRATIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ASSISTÊNCIA


JUDICIÁRIA GRATUITA. PESSOA FÍSICA. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA.
RENDIMENTOS SUPERIORES AO TETO DOS BENEFÍCIOS DO RGPS.
INDEFERIMENTO DO BENEFÍCIO.

1. Para o requerimento do benefício da justiça gratuita basta a declaração da


parte requerente no sentido de que não possui condições de arcar com os
ônus processuais, descabendo outros critérios para infirmar a presunção legal
de pobreza, restando à contraparte a comprovação em sentido contrário.

2. É entendimento desta Terceira Turma que devem ser apurados, para o fim


de concessão da AJG, os rendimentos líquidos da parte interessada, e
considerados, para tal fim, apenas, os descontos
obrigatórios/legais (tais como Imposto de Renda e Contribuição
Previdenciária) e, excepcionalmente, gastos com saúde (apurada a gravidade
da doença no caso concreto e os gastos respectivos, ainda que não
descontados em folha de pagamento). Mostrando-se razoável presumir a
hipossuficiência da parte quando sua renda mensal não superar
o teto dos benefícios da Previdência Social.

3. Ausentes os pressupostos legais para a concessão do benefício, há de ser


indeferido o benefício de gratuidade de justiça, em especial por auferir renda
superior ao teto dos benefícios do RGPS. (TRF4, AG 5041339-
35.2019.4.04.0000, TERCEIRA TURMA, Relatora VÂNIA HACK DE ALMEIDA,
juntado aos autos em 18/02/2020). (grifo posto).

No caso concreto, entendo que o autor faz jus ao benefício da


gratuidade da justiça, pois as fichas financeiras anexadas ao evento 1 indicam
que ele auferia rendimento líquido mensal inferior ao teto dos benefícios da
Previdência Social na data do ajuizamento da ação.

Defiro o benefício da gratuidade da justiça.

MÉRITO

Em que pesem os respeitáveis argumentos lançados no recurso,


entendo que não são suficientes para infirmar o que foi decidido em relação às
preliminares e ao mérito, de modo que a sentença merece confirmação pelos
próprios fundamentos, nos termos do art. 46 da Lei nº 9.099/95, combinado
com o art. 1º da Lei nº 10.259/2001, salientando:

(...)

A parte autora alega, em síntese, que a Lei n.º 13.954/2019 criou o Adicional
de Compensação por Disponibilidade Militar, contrariando disposições
constitucionais, em especial o artigo 37, inciso X, da Constituição Federal.

Afirma que a variação do percentual do adicional (entre 5% e 41%) não tem


motivação plausível, uma vez que todos os integrantes das Forças Armadas
têm idêntica dedicação exclusiva e disponibilidade permanente,
independentemente do cargo que ocupam. Assim, sustenta que o adicional
de Compensação por Disponibilidade Militar deve ser aplicado de forma
igualitária a todos os militares.

O adicional de compensação por disponibilidade militar foi introduzido no


ordenamento jurídico pela Lei 13.954/2019, que promoveu alterações na
legislação militar, reestruturando a carreira e dispondo sobre o Sistema de
Proteção Social dos Militares, bem como revogando dispositivos e anexos da
MP 2.215/2000.

Dispõe o art. 8º da Lei 13.954/2019:

"Art. 8º É criado o adicional de compensação por disponibilidade militar,


que consiste na parcela remuneratória mensal devida ao militar em
razão da disponibilidade permanente e da dedicação exclusiva, nos
termos estabelecidos em regulamento.

§ 1º É vedada a concessão cumulativa do adicional de compensação por


disponibilidade militar com o adicional de tempo de serviço de que trata
o inciso IV do caput do art. 3º da Medida Provisória nº 2.215-10, de 31 de
agosto de 2001, sendo assegurado, caso o militar faça jus a ambos os
adicionais, o recebimento do mais vantajoso.

§ 2º Os percentuais de adicional de compensação por disponibilidade


militar inerentes a cada posto ou graduação, definidos no Anexo II a esta
Lei, não são cumulativos e somente produzirão efeitos financeiros a
partir da data nele indicada.

§ 3º O percentual do adicional de compensação por disponibilidade


militar é irredutível e corresponde sempre ao maior percentual inerente
aos postos ou graduações alcançados pelo militar durante sua carreira
no serviço ativo, independentemente de mudança de círculos
hierárquicos, postos ou graduações.

§ 4º O percentual do adicional de compensação por disponibilidade


militar a que o militar faz jus incidirá sobre o soldo do posto ou da
graduação atual, e não serão considerados:

I - postos ou graduações alcançados pelo militar como benefício, na


forma prevista em lei, em decorrência de reforma, morte ou
transferência para a reserva;

II - percepção de soldo ou de remuneração correspondente a grau


hierárquico superior ao alcançado na ativa, em decorrência de reforma,
morte ou transferência para a reserva; e
III - percepção de pensão militar correspondente a grau hierárquico
superior ao alcançado pelo militar em atividade, em decorrência de
benefícios concedidos pela Lei nº 3.765, de 4 de maio de 1960.

§ 5º O adicional de compensação por disponibilidade militar comporá os


proventos na inatividade."

A criação do Adicional de Compensação por Disponibilidade Militar, na forma


trazida pela Lei n.º 13.954/2019, não pode ser interpretada como revisão
remuneratória geral, como aventado na inicial.

De fato, o art. 37, inciso X, da Constituição Federal define que a remuneração


e o subsídio dos servidores públicos somente poderão ser fixados ou
alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso,
assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de
índices.

A previsão de percentuais escalonados para o pagamento do adicional


de compensação por disponibilidade militar, conforme posto ou graduação do
militar, não constitui justificativa juridicamente hábil a motivar a interferência
do Poder Judiciário na criação de hipótese nova, qual seja, a majoração dos
vencimentos da carreira dos servidores militares, mediante a extensão do
percentual máximo previsto na norma a todos os militares. A opção pela
adoção de valores variáveis a depender do cargo ocupado representa escolha
essencialmente política, baseada nas características próprias da carreira,
tarefas desempenhadas, grau de responsabilidade, entre outros, que
somente cabe aos Poderes Executivo (que detém a iniciativa de lei) e
Legislativo analisarem.

Cumpre esclarecer que, sendo as Forças Armadas constitucionalmente


estruturadas sobre os pilares da hierarquia e da disciplina, a diferenciação de
percentuais para pagamento da vantagem em discussão não ofende o
princípio da isonomia, senão a aplica com a consideração basilar dos dois
princípios referidos.

A diferenciação entre os percentuais para graduações e postos diferentes é


condizente com a estrutura hierarquizada de reconhecimento de antiguidade
e mérito das Forças Armadas (art. 2º, Lei n. 6.880/1980).

Questão semelhante já foi objeto de análise pelos Tribunais Superiores


quando da edição da Lei n. 9.442/97, que criou a Gratificação de Condição
Especial de Trabalho para os militares. Assentou-se na jurisprudência que a
diferenciação de valores devidos com base na posição hierárquica do servidor
militar não ofende o princípio da isonomia. Cito como exemplo os julgados a
seguir:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. GRATIFICAÇÃO DE


CONDIÇÃO ESPECIAL DE TRABALHO - GCET. ESCALONAMENTO PREVISTO
EM LEI, DE ACORDO COM A HIERARQUIA DOS POSTOS E GRADUAÇÕES
DAS FORÇAS ARMADAS. PRINCÍPIO DA ISONOMIA. NÃO-VIOLAÇÃO. É
firme no Supremo Tribunal Federal o entendimento de que o cálculo
escalonado da Gratificação de Condição Especial de Trabalho (GCET),
instituída pela Lei nº 9.442/97, não ofende o princípio da isonomia.
Precedentes: REs 386.723, 396.602, 403.554, 409.193, 410.776,
443.457-AgR e 452.337-AgR. Agravo regimental desprovido (STF, RE-
AGR 434388/RS, Rel. Min. Ayres Brito, DJe de 30-6-2008).

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. MILITAR. LEI


ESTADUAL Nº7.059/02. ESCALONAMENTO. INEXISTÊNCIA DE
VINCULAÇÃO A6O6SALÁRIO MÍNIMO. RECURSO DESPROVIDO.I - O
Colendo Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento segundo o
qual é válido o cálculo escalonado da Gratificação de Militar,não
podendo, no entanto, ser vinculado ao salário mínimo.II - Impossível a
interpretação que pretendem os recorrentes da Lei7.059/02 de vincular
a gratificação do Coronel situado no topo do quadro ao salário mínimo
percebido pelo soldado recruta.Recurso desprovido ( STJ, RMS 24929/PB,
Rel. Min. Jorge Mussi, DJe 29/06/2012).

O escalonamento dos percentuais do adicional em questão, trazidos no Anexo


II da Lei n.º 13.954/2019, portanto, não se reveste de revisão geral,
como prevista na Constituição Federal. Assim, não cabe ao Poder Judiciário o
seu reexame ou revisão.

Neste sentido, tem-se a Súmula Vinculante n.º 37, do Supremo Tribunal


Federal:

Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função


legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob
fundamento de isonomia.

(...).

Verifico que o tema já foi apreciado por esta Turma Recursal quando
julgou o Recurso Cível nº 5013762-79.2020.4.04.7200, Relator Juiz Federal
Adamastor Nicolau Turnes, em sessão virtual encerrada em 16/12/2020. Dos
fundamentos da referida decisão, extraio o seguinte trecho:

(...)

Em recurso, o autor insitiu na tese de que o caput do art. 8º da Lei n.


13.954/19 conferiria o direito ao adicional em percentuais idênticos, vez que
teria como fator gerador a "disponibilidade permanente e a dedicação
exclusiva", a que estão sujeitos todos os militares, sem distinção de patente.

Contudo, o mesmo art. 8º, em seus incisos 2º e 3º, deixa claro que o
benefício é devido em percentuais distintos, de acordo com o posto na
carreira (grifei):

§ 2º Os percentuais de adicional de compensação por disponibilidade


militar inerentes a cada posto ou graduação , definidos no Anexo II a esta
Lei, não são cumulativos e somente produzirão efeitos financeiros a
partir da data nele indicada.

§ 3º O percentual do adicional de compensação por disponibilidade


militar é irredutível e corresponde sempre ao maior percentual inerente
aos postos ou graduações alcançados pelo militar durante sua
carreira no serviço ativo, independentemente de mudança de círculos
hierárquicos, postos ou graduações.

Além disso, somente haveria que se cogitar de percentuais idênticos caso se


tratasse da revisão geral remuneratória prevista no art. 37, X da Constituição
Federal:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos


Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
[...]

X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o §


4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei
específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada
revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices;

Contudo, a Lei n. 13.954/19 não se enquadra na hipótese supra. Assim é


porque após a EC 18/98, que distinguiu servidores civis e militares, o art. 37,
X da CF somente é aplicável aos servidores civis.

Nesse sentido (grifei):

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR MILITAR. LEI N.º


11.784/2008. REESTRUTURAÇÃO OU CONCESSÃO DE MELHORIAS A
ALGUMAS CARREIRAS DETERMINADAS POR RAZÕES DIVERSAS
DAQUELAS DE ATUALIZAÇÃO DOS VENCIMENTOS. POSSIBILIDADE. A
garantia isonômica posta no artigo 37, inciso X, da Constituição Federal
diz respeito à revisão geral anual de vencimentos, na qual não se
enquadram os reajustes trazidos pela Lei n.º 11.784/2008. Por outro
lado, o inciso X do artigo 37 da Constituição Federal de 1988 não mais
se aplica aos militares, conforme a nova redação do artigo 142, § 3º,
inciso VIII, da Constituição Federal, com a redação que lhe foi dada pela
Emenda Constitucional n.º 18/2008. Não há óbice, portanto, à edição de
lei específica alterando a remuneração e o subsídio de apenas uma ou
determinadas categorias de servidores públicos, ou para que se aplique
índices diferenciados de reajuste para cada cargo público. (TRF4, AC nº
5019742-65.2010.4.04.7100/RS, 4ª Turma, Relator Des. Federal Vivian
Josete Pantaleão Caminha, DJE de 08/07/2015)

No mais, destacou o recorrente o entendimento firmado pelo STF no Tema


340:

Estende-se o reajuste de 28,86% aos servidores militares contemplados


com índices inferiores pelas Leis 8.622/1993 e 8.627/1993, já que se
trata de revisão geral dos servidores públicos, observadas, entretanto,
as compensações dos reajustes concedidos e a limitação temporal da
Medida Provisória 2.131/2000, atual Medida Provisória 2.215-10/2001.

Contudo, a tese supra diz respeito a reajuste específico concedido antes da


EC 18/98, pelo que não pode ser aplicada por analogia no caso concreto.

(...).

O Adicional de Compensação por Disponibilidade Militar, embora


implique aumento de remuneração para a maioria dos militares, não tem
natureza de reajuste geral de vencimentos, pois a Lei n. 13.954/2019 trata da
reestruturação da carreira militar.

O pagamento diferenciado do adicional, escalonado de acordo com


o posto ou graduação, não ofende o princípio da isonomia, pois está amparado
no art. 142 da Constituição Federal que determina a organização das Forças
Armadas com base na hierarquia.

Além disso, o art. 37, X, da Constituição Federal não se aplica mais


aos militares desde a edição da EC 18/98, que deu nova redação ao art. 142, §
3º, inciso VIII, da CF/1988. Atualmente, o dispositivo constitucional está
disciplinado nos seguintes termos:

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas
com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do
Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos
poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da
ordem.

(...)

§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-


se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições:

(...)

VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII, XII, XVII, XVIII,
XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV, bem como, na forma da lei e
com prevalência da atividade militar, no art. 37, inciso XVI, alínea "c";

(...)

Nesse sentido, destaco a jurisprudência da Turma Nacional de


Uniformização:

Trata-se de pedido de uniformização nacional suscitado pela parte ora


requerente destinado a reformar acórdão, em que se discute a possibilidade
de concessão de gratificação de condição especial de trabalho em
percentuais distintos aos militares conforme estabelecido na Lei nº 9.442/97.
Passo a decidir. A Turma Nacional de Uniformização, por meio do PEDILEF
nº 200235007016774, firmou orientação no sentido de que: "Não ofende a
Constituição a concessão de gratificação em percentual diferenciado
ao servidor militar, em vista da hierarquia dos postos e graduações".
Confira-se: ADMINISTRATIVO. MILITAR . GRATIFICAÇÃO DE CONDIÇÃO
ESPECIAL DE TRABALHO. LEI Nº 9.442, DE 14.3.97. PRINCÍPIO DA ISONOMIA.
1. O princípio constitucional da isonomia veda apenas as
discriminações desarrazoadas. Não ofende a Constituição a
concessão de gratificação em percentual diferenciado ao
servidor militar, em vista da hierarquia dos postos e graduações,
uma vez que o fator de discriminação encontra suporte no art. 142,
que impõe a organização das Forças Armadas com base na
hierarquia. 2. Recurso conhecido e improvido. Ademais, verifica-se que a
referida matéria encontra-se sedimentada em outros Tribunais. A título
exemplificativo colaciono os seguintes julgados: Supremo Tribunal Federal no
julgamento da AI 640915 AgR/DF: EMENTA Agravo regimental no agravo de
instrumento. Militar. Gratificação de Condição Especial de Trabalho (GCET).
Lei nº 9.442/97. Princípio da isonomia. Violação. Ausência. Precedentes. 1. O
cálculo da Gratificação de Condição Especial de Trabalho (GCET), prevista na
Lei nº 9.442/97, com base em índices diferenciados em razão da hierarquia
da carreira militar, não ofende o princípio da isonomia. 2. Agravo regimental
não provido. (AI 640915 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma,
julgado em 02/08/2011, DJe-189 DIVULG 30-09-2011 PUBLIC 03-10-2011
EMENT VOL-02599-03 PP-00387) Superior Tribunal de Justiça no julgamento
do REsp 510507/DF: ADMINISTRATIVO. SERVIDOR MILITAR. RECURSO
ESPECIAL. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. EXAME. IMPOSSIBILIDADE.
GRATIFICAÇÃO DE CONDIÇÃO ESPECIAL DE TRABALHO ? GCET. LEI 9.442/97.
ESCALONAMENTO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E IMPROVIDO.1. É firme a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no sentido de ser inviável o
conhecimento do recurso especial por suposta violação de dispositivos
constitucionais, por se tratar de competência exclusiva do Supremo Tribunal
Federal.2. A Suprema Corte pacificou o entendimento segundo o qual é válido
o cálculo escalonado da Gratificação de Condição Especial de Trabalho ?
GCET, instituída pela Lei 9.442/97, com base na hierarquia militar.3. Recurso
especial conhecido e improvido.(REsp 510.507/DF, Rel. Ministro ARNALDO
ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 10/10/2006, DJ 30/10/2006, p.
374) In casu, nota-se que as conclusões do acórdão recorrido não estão
acordes com o posicionamento pacificado da TNU. Assim, considerada a
sistemática dos recursos representativos da controvérsia, dos sobrestados
por força de repercussão geral e dos incidentes de uniformização
processados na TNU, de acordo com a qual devem ser observadas as
diretrizes estabelecidas nos arts. 1.030, II, do CPC e art. 17, do RITNU, o feito
será devolvido à origem para aplicação do entendimento pacificado. Pelo
exposto, com fundamento no art. 16, II, do RITNU, dou provimento ao agravo
para admitir o incidente de uniformização e determinar a restituição à
origem, a fim de que se proceda à adequação do julgado, se o caso. Intimem-
se. (PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEI
(PRESIDÊNCIA) 0002806-34.2005.4.03.6201, MINISTRO PAULO DE TARSO
SANSEVERINO - TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO.) - grifei

O Tribunal Regional Federal da 4ª Região segue a mesma linha de


entendimento:

MILITAR. LEI N.º 11.784/2008. REESTRUTURAÇÃO OU CONCESSÃO DE


MELHORIAS A ALGUMAS CARREIRAS DETERMINADAS POR RAZÕES DIVERSAS
DAQUELAS DE ATUALIZAÇÃO DOS VENCIMENTOS. POSSIBILIDADE. A garantia
isonômica posta no texto constitucional (artigo 37, inciso X, CF/1988), diz
respeito tão-somente a revisão geral anual de vencimentos, na qual não se
enquadram os reajustes trazidos pela Lei n.º 11.784/2008. Por outro lado, o
inciso X do artigo 37 da Constituição Federal de 1988 não mais se aplica aos
militares, conforme a nova redação do artigo 142, § 3º, inciso VIII, CF/1988,
com a redação que lhe foi dada pela Emenda Constitucional n.º 18/2008. Não
há óbice, desta forma, para a edição de lei específica alterando a
remuneração e o subsídio de apenas uma ou determinadas categorias de
servidores públicos ou que se aplique índices diferenciados de reajuste para
cada cargo público. (TRF4, AC 5003997-11.2011.4.04.7100, QUARTA TURMA,
Relator LUÍS ALBERTO D'AZEVEDO AURVALLE, juntado aos autos em
17/11/2016)

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR MILITAR. LEI N.º 11.784/2008.


REESTRUTURAÇÃO OU CONCESSÃO DE MELHORIAS A ALGUMAS CARREIRAS
DETERMINADAS POR RAZÕES DIVERSAS DAQUELAS DE ATUALIZAÇÃO DOS
VENCIMENTOS. INAPLICABILIDADE DO INCISO X DO ART. 37 DA
CONSTITUIÇÃO AOS MILITARES. REFLEXOS NOS RENDIMENTOS DE PENSÃO. 1.
A Lei nº 11.784/08 apenas definiu o novo escalonamento vertical entre os
postos e graduações dos militares, que se reflete na diferença do valor do
soldo entre cada um dos graus da hierarquia militar. Assim, não se trata de
revisão geral anual prevista no art. 37, inciso X, da CF, mas de modificação
na estrutura de remuneração dos militares. 2. A garantia isonômica posta no
artigo 37, inciso X, da Constituição Federal diz respeito à revisão geral anual
de vencimentos, na qual não se enquadram os reajustes trazidos pela Lei n.º
11.784/2008. 3. Por outro lado, o inciso X do artigo 37 da Constituição Federal
de 1988 não mais se aplica aos militares, conforme a nova redação do artigo
142, § 3º, inciso VIII, da Constituição Federal, com a redação que lhe foi dada
pela Emenda Constitucional n.º 18/1998. 4. Não havendo falar em revisão
geral de benefício, descabe a tese autoral de aplicar o referido percentual aos
rendimentos de pensão. (TRF4, AC 5021998-87.2010.4.04.7000, QUARTA
TURMA, Relatora SALISE MONTEIRO SANCHOTENE, juntado aos autos em
19/04/2016)

Por fim, ainda que fosse possível a aplicação do princípio da


isonomia aos militares, a Súmula 339 do STF impede a majoração
dos vencimentos dos servidores públicos por decisão judicial com base no
referido princípio constitucional.

Dessa forma, nego provimento ao recurso no ponto.

PREQUESTIONAMENTO e SUCUMBÊNCIA

Considero prequestionados os dispositivos enumerados pelas partes


nas razões e contrarrazões recursais, declarando que a decisão encontra
amparo nos dispositivos da Constituição Federal de 1988 e na legislação
infraconstitucional, aos quais inexiste violação.

Condeno o recorrente ao pagamento de honorários advocatícios


(art. 55 da Lei n. 9.099/95 c/c o art. 1º da Lei n. 10.259/01), fixados em 10%
(dez por cento) sobre o valor da condenação e, não havendo, sobre o valor
atualizado da causa. Ressalvo que a condenação em honorários, a fim de evitar
retribuição insignificante ao advogado, não pode ser inferior ao salário mínimo
vigente na data do acórdão, atualizado monetariamente. Fica suspensa a
execução caso tenha sido deferido o benefício da gratuidade da justiça.

DISPOSITIVO

Ante o exposto, voto por NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.

Documento eletrônico assinado por GILSON JACOBSEN, Juiz Federal , na forma do artigo 1º, inciso III,
da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A
conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador
720006944241v3 e do código CRC 8c3aeb18.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): GILSON JACOBSEN
Data e Hora: 17/3/2021, às 19:9:43

5015820-55.2020.4.04.7200 720006944241 .V3


Poder Judiciário
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária de Santa Catarina
Gab. Juiz Federal GILSON JACOBSEN (SC-3C)

RECURSO CÍVEL Nº 5015820-55.2020.4.04.7200/SC


RELATOR: JUIZ FEDERAL GILSON JACOBSEN
RECORRENTE: DENILSON ACARI SIQUEIRA (AUTOR)
ADVOGADO: REINALDO DENIS VIANA BARBOSA (OAB SC042945)
RECORRIDO: UNIÃO - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO (RÉU)

ACÓRDÃO

A 3ª Turma Recursal de Santa Catarina decidiu, por unanimidade,


NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, nos termos do voto do(a) Relator(a).

Florianópolis, 25 de março de 2021.

Documento eletrônico assinado por GILSON JACOBSEN, Relator do Acórdão , na forma do artigo 1º,
inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março
de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
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