Em 1790, a Lei 7-16 e a Lei 6-11 acabaram por consagrar que as reclamações
contra atos ilegais da Administração deveriam ser deduzidas junto do Rei e, mais tarde,
com a monarquia constitucional, essa competência era atribuída aos Ministros. Este
sistema ficou conhecido com um sistema de “justice reteneu” ou de justiça reservada
nas mãos do Governo. Mais tarde, a Constituição do ano VIII criou o Conselho de
Estado como um órgão consultivo do Chefe de Estado com competência para apreciar
e emitir pareceres sobre as questões contenciosas, pareceres que careciam de
homologação do Chefe de Estado. No mesmo ano, foram criados, nos Departamentos,
os Conselhos de Prefeitura com funções contenciosas junto do Prefeito, que as exercia
sem necessidade de homologação.
Com esta lei fica concluído o processo de separação entre a administração ativa
e a consultiva, assumindo esta agora a natureza de jurisdição contenciosa
administrativa, separação que passa a ser um princípio que tem que ser respeitado
pelo Governo e no seio da própria Administração. Mas, essa mesma Lei, ao criar um
Tribunal de Conflitos para dirimir os conflitos de competência entre a jurisdição
ordinária e a administrativa, completa também a separação entre essas jurisdições.
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
Ana Braga – A77167
1926. O Conselho de Estado passa a conhecer exclusivamente dos recursos interpostos
das decisões proferidas pelos Tribunais administrativos.
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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Código do Processo nos Tribunais Administrativos. Trata-se da mais radical reforma do
contencioso feita em Portugal desde 1933.
JUSTIÇA ADMINISTRATIVA
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
Ana Braga – A77167
É este o estatuto que a revisão da Constituição de 1997 vai manter e reforçar, não só
reafirmando que os tribunais administrativos constituem uma categoria especial de
tribunais, como regulando “de um modo novo a garantia constitucional de acesso à
jurisdição administrativa”.
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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Contudo, para além da Constituição, a lei ordinária continuou a ser uma
importante fonte formal da justiça administrativa.
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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Tribunais integrados numa ordem jurisdicional única, mesmo que no interior desta
ordem sejam criados tribunais especializados em questões de natureza
administrativa.
Neste modelo, poderá ser atribuída competência aos tribunais que integrem
uma ordem jurisdicional própria diferente da ordem jurisdicional comum, com os
seus próprios tribunais superiores. O modelo pode comportar uma ordem
jurisdicional unitária ou uma dualidade de ordens jurisdicionais, composta pelos
tribunais comuns e pelos tribunais administrativos. O importante para a
caracterização deste modelo é o facto de a competência para julgar as questões
de contencioso administrativo ser atribuída aos tribunais, ou seja, à jurisdição e
não á Administração.
Com este modelo, procura-se assegurar uma plena e eficaz proteção dos
administrados e, para tal, o particular e a administração são reconhecidos como
sujeitos processuais colocados processualmente em pé de igualdade, isto é, com
iguais direitos e deveres, e o poder jurisdicional é pleno, no sentido de ser
reconhecido ao juiz amplos poderes de cognição e de decisão. O objetivo
dominante deste modelo é a proteção dos direitos individuais.
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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O ART 8º ETAF estabelece um hierarquia entre os Tribunais Administrativos, no
topo da qual se situa o Supremo Tribunal Administrativo que é a ultima instância em
matéria de competência dos Tribunais Administrativos. Contudo, em certos casos, o
STA, através da secção de contencioso administrativo, decide em primeira instância,
sendo que, nesses casos, cabe ao Pleno dessa secção do STA decidir em última
instância.
a) Plenário
Nos termos do ART 28º ETAF, o Plenário é composto pelo Presidente, pelos
Vice-Presidentes e pelos 3 juízes mais antigos de cada uma das secções. Assim,
o Plenário é composto por 9 juízes - o Juiz Presidente do STA, os 2 Juízes Vice-
Presidentes (ART 13º ETAF), 3 Juízes da Secção do Contencioso Administrativo
e 3 Juízes da Secção do Contencioso Tributário. Nos termos do ART 23 nº1 h)
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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ETAF, que atribuí ao Presidente a competência genérica de presidir às seções e
apurar o vencimento das conferências, o Plenário é presidido pelo Presidente
do STA.
Nos termos do ART 30º ETAF, o plenário só pode funcionar com a presença
de, pelo menos, quatro quintos dos juízes que devam intervir na conferência,
com arredondamento por defeito. Deste modo, estabelece-se um quórum que
impõe a presença de um elevado e representativo número de juízes, o que tem
em vista assegurar uma forte e séria presença dos mesmos e garantir que as
decisões terão que ser tomadas por um número representativo dos membros
do Plenário.
A competência que é atribuída à Secção pelo ART 24º ETAF deve ser
entendida como a competência que esta deve exercer através das suas
Subsecções. As competências do Pleno da Secção são as referidas no ART 25º
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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ETAF, sendo que uma delas é apreciar as recursos proferidos pela Secção em 1º
grau de jurisdição.
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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os TAC têm sede em Almada, Aveiro, Beja, Braga, Castelo Branco, Coimbra,
Funchal, Leiria, Lisboa, Loulé, Mirandela, Penafiel, Ponta Delgada, Porto, Sintra e
Viseu. Os Tribunais Administrativos de Círculo funcionam com juiz singular e em
coletivo. Significa isso que os julgamentos nestes tribunais podem ser feitos por
um único juiz, que é o princípio-regra (ART 40º ETAF) ou, em coletivo –
facultativamente ou obrigatoriamente – com todos os Juízes do Tribunal sendo
que, neste último caso, estaremos perante uma situação de funcionamento em
formação alargada (ART 41º ETAF).
O juiz tem por função julgar de facto e de direito, ou só de direito, os feitos que
são submetidos à apreciação dos tribunais, o que implica que cabe aos juízes aplicar a
lei aos factos ou à jurisdição, isto é, dizer ou declarar o direito. O estatuto do juiz do
Tribunal Administrativo está consagrado nos ART 215 e 216º CRP, por remissão do ART
57º ETAF. No que se refere aos juízes dos Tribunais Administrativos, a CRP só se refere
a eles para definir a forma de eleição do Presidente do STA, não estabelecendo sequer
qualquer equiparação desses juízes com os dos Tribunais Judiciais, nem consagrando
linhas básicas mínimas de um estatuto para esses juízes.
Garantias
As garantias constitucionais de que gozam os juízes são especiais e visam
permitir-lhes exercer, com liberdade e de forma justa e legal, as suas funções.
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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a) Inamovibilidade
Nos termos do ART 216º CRP, este princípio da inamovibilidade traduz-se na
proibição de modificação da situação funcional do Magistrado Judicial, salvo nos
casos expressamente previstos na lei. A inamovibilidade não tem assim uma
natureza absoluta, visto que pode haver situações em que se torna possível a
modificação compulsiva da sua situação funcional – transferência, suspensão,
aposentação e demissão.
b) Independência
Tradicionalmente, a independência dos juízes era concebida como a exclusiva
vinculação do juiz à lei e à sua consciência, pelo que teriam de julgar nos termos
da CRP e da lei, sem sujeição ao dever de obedecer a ordens ou instruções.
Contudo, estariam sempre vinculados às decisões dos tribunais superiores
proferidas exclusivamente em via de recurso.
c) Irresponsabilidade
Tradicionalmente, a irresponsabilidade era entendida pela doutrina no sentido
de os juízes serem irresponsáveis pelos seus julgamentos, o que se traduzia em
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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não poderem ser pessoalmente responsáveis pelas suas decisões, mesmo que
estas fossem porventura ilegais ou prejudiciais de direitos e interesses legítimos
de terceiros. É esta ideia de irresponsabilidade que a CRP de 1976 sempre
consagrou e que está atualmente presente no ART 216º nº2. De acordo com esta
disposição constitucional, só nos casos expressamente previstos na lei é que o juiz
pode ser responsabilizado, o que permite afirmar que o princípio da
irresponsabilidade transporta a ideia de que o juiz não pode ser condicionado na
sua função pelo medo de uma punição ou a esperança de um prémio.
A irresponsabilidade pode ser política, civil, penal e disciplinar, pelo que a lei
tem que prever os casos excecionais de responsabilização do juiz em cada uma
dessas modalidades. Sob o ponto de vista penal e civil, a responsabilidade dos
juízes tem que ser apreciada pelos Tribunais, sendo certo que gozam do privilégio
de foro especial, enquanto a responsabilidade disciplinar, que decorre da violação
do Estatuto dos Magistrados Judiciais, terá de ser exercida pelo Conselho Superior
dos Tribunais Administrativos e Fiscais no caso dos juízes desses tribunais.
Incompatibilidades
As incompatibilidades dos juízes estão previstas no ART 216º nº3/4 CRP. Trata-
se de duas incompatibilidades de natureza diversa, mas que têm a ver com a efetiva
realização do princípio da dedicação exclusiva, segundo o qual o juiz não pode nem
deve exercer nenhuma outra função remunerada que não seja a de julgar, a que se
deve dedicar em exclusividade e a tempo inteiro. O sentido deste princípio está, não
apenas em impedir que o juiz se disperse por outras atividades, pondo em risco a sua
função, mas também em evitar que ele crie dependências profissionais ou comerciais
que ponham em risco a sua independência.
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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Este princípio das incompatibilidades não impede o juiz de exercer funções, não
remuneradas, no ensino ou na investigação, que podem ser importantes meios de
aperfeiçoamento técnico-jurídico dos Magistrados Judiciais e contribuir para a
melhoria da própria qualidade do serviço judicial por eles prestado através dos seus
julgamentos e decisões. Mas não podem receber efetivamente remuneração sob
qualquer forma. Podem ainda os juízes integrar comissões de serviço estranhas à
atividade dos tribunais, desde que autorizados pelo respetivo Conselho Superior.
A competência do Conselho vem definida no ART 74º ETAF e acaba por ser a da
gestão administrativa dos recursos humanos (juízes) e da disciplina da respetiva
Magistratura e da gestão da distribuição dos processos. O Conselho nomeia, coloca,
transfere, promove e aprecia o mérito dos juízes, exerce sobre eles ação disciplinar,
fixa critérios de distribuição dos processos nos Tribunais Administrativos, fixa o
número máximo de processos a distribuir a cada magistrado, elabora o plano anual de
inspeção e alista de antiguidade dos juízes. O Conselho funciona como um tribunal
para conhecer das impugnações administrativas interpostas das decisões
materialmente administrativas dos juízes Presidentes dos TAC e do TCA.
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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a) Princípio do Dispositivo ou Autorresponsabilidade das partes
Trata-se de um princípio que precipita no processo jurisdicional, a
autonomia da vontade na regulamentação dos interesses individuais e auto-
responsabiliza as partes pelo impulso processual, impondo-lhes o dever de, em
prazo legal ou judicialmente fixado, dinamizar a marcha do processo com a
prática de atos processuais, legal ou judicialmente impostos, necessários e
indispensáveis para o efeito.
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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c) Princípio do contraditório
O processo, sendo concebido como uma discussão legalmente
regulamentada entre as partes, implica que cada parte tenha de ser convidada
a alegar as suas razões de facto ou de direito e a oferecer as provas necessárias
para demonstrar a verdade dos factos por ela alegados, bem como a controlar
as provas oferecidas pela outra parte e a pronunciar-se sobre elas. É essa acesa
discussão entre as partes que irá permitir o estabelecimento da verdade e
permitir a pronúncia de uma decisão processualmente justa.
Este princípio tem uma quádrupla dimensão: uma petitória, uma decisória,
uma cautelar e uma executiva. A dimensão petitória traduz-se no
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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reconhecimento do direito de apresentação em juízo de todo o tipo de pedido
e de utilizar o correspondente meio processual. A dimensão decisória consiste
no reconhecimento do direito de a pronúncia jurisdicional ser plena, isto é, na
afirmação de que a jurisdição administrativa é uma jurisdição plena que pode
emitir, com respeito pela lei, toda a espécie de pronúncia. A dimensão cautelar
supõe que todo o tipo de providências podem ser pedidas e concedidas na
jurisdição administrativa, sempre que a respetiva adoção seja considerada
necessária para garantir a utilidade da decisão a proferir no processo principal,
sendo de admitir todas as providências típicas ou atípicas, nominadas ou
inominadas. A dimensão executiva supõe que todo o tipo de providências de
execução possam ser adotadas pela jurisdição administração.
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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e) Princípio da legalidade das formas processuais e do exercício da jurisdição
Os termos do processo são e têm de ser os estabelecidos na lei, não
podendo o juiz fixar outros, senão nos caos expressamente admitidos por lei.
Este princípio impõe aa submissão do juiz à lei vigente e a consequente
obrigação de a aplicar nas suas decisões (ART 203/204º CRP).
f) Princípio da imediação
Traduz-se principalmente no contacto pessoal entre o juiz d as diversas
fontes de prova. Toda a prova deve ser feita perante o juiz da causa e o juiz
deve sempre recorrer a uma fonte de prova que implique menos ilações no iter
probatório em de outra que esteja mais distante do facto a provar.
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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a) Princípio da preclusão ou da oportunidade
Cada ato deve ser praticado no momento e lugar processualmente
próprios, sob pena de ficar precludida a sua produção. Os fundamentos da ação
e da defesa e a apresentação de prova devem ser feitos nos momentos
processualmente consagrados para o efeito, e só nos casos legalmente
estabelecidos é que poderão ser praticados noutros momentos. Ultrapassado o
momento próprio em que deve ter lugar um determinado ato sem que a parte
o tenha praticado, não mais poderá validamente tal ato ser praticado.
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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f) Princípio da economia processual
Este princípio estabelece que em cada processo se deve procurar obter o
máximo resultado com o menor número de meios possível. A economia
processual é revelada, nomeadamente, na admissibilidade da cumulação de
pedidos (ART 4º CPTA), na coligação de réus e de autores (ART 12º CPTA), na
apensação de processos (ART 28º CPTA), na alteração da instância (ART 70º
CPTA), nos poderes de pronúncia do tribunal (ART 71º CPTA).
DA AÇÃO E DO PROCESSO
Conceito de ação
A ação é o direito subjetivo público à jurisdição atribuído por lei a toda a pessoa
singular ou coletiva. É o tipo de tutela que se visa obter ou o concreto fim prosseguido
pelo titular desse direito à jurisdição que determina no momento do seu concreto
exercício a classificação das ações em dois grandes tipos: declarativas e executivas. Por
outro lado, dentro de cada tipo, a concreta natureza da tutela pretendida pelo titular
do direito à jurisdição configurada na concreta pretensão ou no concreto objeto do
pedido, constituirá o critério de classificação de diferentes formas de processo em
cada um dos tipos da ação.
Conceito de processo
O processo é uma sequência ordenada de atos jurídicos dirigidos a um
determinado fim. Esse fim é essencialmente o da composição de conflitos de
interesses geradores de litígios feita por uma autoridade imparcial, o tribunal. Tais
litígios, no processo administrativo, resultam de conflitos de interesses de natureza
publicista, mesmo quando o interesse em causa seja privado. Neste processo, o que
está em causa é um conflito entre a Administração lato sensu e um particular ou entre
pessoas coletivas de direito público, decorrente da ofensa de direitos ou interesses
tipicamente públicos, ou de interesses nomeadamente privados, com relevância
pública, que deram causa à intervenção da Administração.
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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O processo administrativo é uma sequência ordenada de atos jurídicos,
preestabelecidos pela lei, tendentes à composição por um órgão imparcial, o tribunal,
de litígios de natureza jurídico-publicista. Para determinar as várias formas do
processo, o critério que deve ser utilizado é o do concreto objeto do pedido, pois este
objeto é o elemento que nos permite articular a forma e a função do processo. A
função do processo tem a ver com os tipos de ação em que se integra e com o fim que
cada processo visa prosseguir.
Objeto do processo
Existem 3 grandes correntes doutrinais acerca do objeto do processo:
Corrente substantivista: defende a equivalência entre a pretensão processual e
a substantiva, e que o objeto do processo é o próprio direito substantivo,
identificando assim o objeto do processo com a pretensão material que se quer
fazer valer;
Corrente processualista: defende que o objeto do processo é uma estrutura
complexa no seio da qual a causa de pedir se articula com o pedido, sendo o
objeto constituído pela causa de pedir e pelo pedido;
Corrente mista: defende que o objeto do processo é o litígio.
Estrutura do processo
O processo é uma sequência ordenada de atos jurídicos preestabelecidos cuja
ordenação não é arbitrária. Está estabelecido por fases e, dentro de cada fase, por atos
sequenciais predeterminados por lei e/ou ordenados pelo juiz. Nos termos do ART35º
nº1 CPTA, o processo declarativo nos tribunais administrativos rege-se pelo desposto
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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nos títulos II e III e pelas disposições gerais, sendo-lhe subsidiariamente aplicável o
disposto na lei civil. O processo administrativo tem 4 fases:
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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apresentação de novas provas. De seguida, feitas as alegações orais pelos
mandatários das partes, cabe ao tribunal decidir por sentença ou por acórdão e
ordenar a notificação às partes da decisão proferida.
Conceito de partes
As partes são as pessoas que requerem e as pessoas contra quem se requer a
providência judiciária a que tende a ação. Não se deve confundir as partes com os
sujeitos processuais, dado que estes são não só as partes mas também o tribunal e
todos aqueles que podem intervir no processo para auxiliar as partes, como as
testemunhas e os peritos. Àquela pessoa que requer a providência chama-se autor,
demandante ou requerente; àquela pessoa contra quem se requer a providência
chama-se réu, demandado ou requerido.
Partes principais
No processo administrativo, o autor e o réu são partes principais, tal como está
previsto nos ART 9º, 10º e 12º CPTA. Para além destes, existe a figura dos
contrainteressados. De acordo com o ART 57º CPTA, os contrainteressados são todos
aqueles a quem o provimento do processo impugnatório possa diretamente prejudicar
ou que tenham legítimo interesse na manutenção do ato impugnado e que possam ser
identificados em função da relação material em causa ou dos documentos contidos no
processo administrativo. Deste modo, o contrainteressado tanto pode ser a pessoa a
quem interessa a manutenção do ato, como aquela a quem interessa a destruição
deste.
É com base na fundamentação invocada pelo autor para a anulação do ato que
se determina quem e quantos são os terceiros a quem deve ser atribuída a qualidade
de contrainteressados. Deste modo, o critério legal acaba por deixar na disponibilidade
do autor a determinação dos sujeitos procedimentais que devem ser processualmente
constituídos contrainteressados. Como é obrigatório demandar os contrainteressados,
estes podem assumir no processo uma de três posições:
Posição de demandado, pugnando com este pela manutenção do ato, sempre
que entenda que o provimento do processo possa diretamente prejudicá-lo e,
por isso, tem interesse na manutenção do ato impugnado;
Posição de demandante, pugnando com este pela destruição, sempre que
entenda que o provimento do pedido impugnatório lhe é diretamente
favorável;
Posição neutral ou indiferença por se ter desinteressado do destino do ato, por
este ter passado a ser indiferente para ele.
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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O demandante, no exato momento em que demanda os contrainteressados,
não sabe concretamente que posição cada um destes vai tomar, mas sabe que é
obrigado a demandá-los a todos sob pena de ilegalidade. Os contrainteressados
podem autonomamente fazer seus os direitos pleiteados, como podem não fazer
nada, mas são obrigados a intervir no processo. A não indicação dos
contrainteressados pelo demandante constitui uma exceção dilatória que conduz á
absolvição da instância, não ficando o autor impedido de apresentar, no prazo de 15
dias a contar da notificação da decisão de absolvição, nova petição agora com a
indicação dos contrainteressados. O contrainteressado é assim uma parte principal
atípica.
Ministério Público
No que se refere à posição processual do MP, este pode figurar como parte
principal, quando propõem ou contesta a ação. Nos termos do ART 62º CPTA, o MP
pode ainda vir a figurar como parte principal quando, no exercício da ação pública,
intervém numa causa pendente para, assumindo a posição do autor, prosseguir a ação
impugnatória, requerendo o prosseguimento dos autos, sempre que o autor originário,
por desistência ou qualquer outra circunstância, tenha dado causa ao término da ação
e desde que a decisão não tenha transitado em julgado. Neste caso, o MP através de
uma intervenção principal espontânea ad substituendo, assume a posição do autor
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
Ana Braga – A77167
autor, suscitar questões que determinem a nulidade ou inexistência do ato
impugnado. Para tanto, a lei impõe, não a sua citação, mas sim que lhe seja fornecida
cópia da petição e dos documentos que a acompanham, ato este que vem substituir a
“vista” dos autos (ART 85º CPTA).
De acordo com o ART 85º nº4 CPTA, o MP dispõe de um prazo de 30 dias para
emitir a sua pronúncia. Decorrido esse prazo, o MP não pode emitir mais pronúncias,
configurando uma invalidade processual qualquer intervenção sua para esses efeitos
depois de decorrido o prazo. Este prazo começa a correr depois da notificação de
junção do processo administrativo aos autos ou depois da apresentação da última
contestação, caso não tenha sido junto aos autos o processo administrativo.
Partes acessórias
As partes acessórias são pessoas com interesses legalmente protegidos,
interessadas na resolução do litígio a favor do demandante ou do demandado. Em
virtude dos seus interesses, aparecem no processo associadas a uma das partes
principais para com ela colaborar ativamente com vista a permitir-lhes ganhar a ação.
As partes acessórias surgem depois de o processo ter sido instaurado e a partir de um
dado momento da marcha processual.
LEGITIMIDADE ATIVA
O regime regra da legitimidade ativa está consagrado no ART 9º CPTA, que
começa por estabelecer que o critério de aferição de legitimidade é a relação material
controvertida, quando determina que o autor é considerado parte legítima quando
alegue ser parte na relação material controvertida. Os titulares desta relação material
são os titulares dos interesses em litígio. No ART 9º nº2 CPTA, a legitimidade não
decorre da titularidade da relação material controvertida, mas exclusivamente do
interesse em agir, dado que as entidades referidas não são titulares dessa relação
jurídica, mas sim de interesses difusos.
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
Ana Braga – A77167
não tenham obtido resposta à sua pretensão, quer por omissão, quer por recusa do
ato. Nos termos do ART 73º CPTA, tem legitimidade ativa para pedir a declaração de
ilegalidade com força obrigatória geral de normas imediatamente operativas e
emanadas ao abrigo de disposições do direito administrativo, quem seja prejudicado
pela aplicação da norma ou possa previsivelmente vir a sê-lo em momento próximo,
tendo ainda legitimidade o MP e as pessoas ou entidades referidas no ART 9º nº2
CPTA. Nos termos do ART 77º CPTA, tem legitimidade ativa para pedir a declaração da
ilegalidade por omissão, o MP e as pessoas referidas no ART 9º nº2 CPTA e quem
alegue um prejuízo diretamente decorrente da situação omissiva.
LEGITIMIDADE PASSIVA
De acordo com o ART 10º nº1 CPTA, cada ação deve ser proposta contra a
outra parte na relação material controvertida e, quando for caso disso, contra as
pessoas ou entidade titulares de interesses contrapostos aos do autor. O regime
especial da legitimidade passiva no processo administrativo relativa à validade e
execução de contratos está previsto no ART 77º-A CPTA.
Litisconsórcio
Pode ocorrer uma pluralidade ativa, quando dois ou vários autores ou
requerentes propõem uma ação contra um réu ou requerido, e pluralidade passiva
quando um autor ou requerente propõe uma ação contra dois ou vários réus ou
requeridos. Em ambos os casos estamos perante uma cumulação subjetiva. O
litisconsórcio traduz-se numa cumulação subjetiva ou uma pluralidade das partes com
vista a deduzir ou a contestar um único pedido.
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Direito Processual Administrativo – 1º Teste
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ocorrência de uma exceção dilatória (ART 87º nº2 CPTA), de que resulta a absolvição
da instância.
Coligação
Há coligação sempre que haja pluralidade de pedidos e pluralidade de partes.
Para haver coligação tem que haver litigantes distintos e pedidos diferentes. Deste
modo, cada autor tem de formular discriminadamente o seu pedido, dado que os
autores quando decidiram juntar-se não foi para fazer o mesmo pedido, mas sim
pedidos diversos, e sendo vários os réus, estes não são demandados para um único
pedido, mas sim para vários pedidos.
De acordo com o ART 12º nº1 a) e b) CPTA, pode haver coligação desde que a
causa de pedir seja a mesma, ou que os pedidos estejam entre si numa relação de
dependência ou prejudicialidade ou, ainda, quando a procedência dos pedidos
dependa da apreciação dos mesmos factos, da interpretação e aplicação da mesma
regra de direito ou de cláusulas de contrato análogas.
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