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4. Nesse breve apanhado. não se darão exemplos de notacões “insignificantes”. pois Q insigni-
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7. As seis versões sucessivas desta descrição são dadas por À. Albalat, Le travail du style, Pa-
ris, Armand Colin, 1903, pp. 72 ss.
8. Mecanismo bem localizado por Valéry, em Littérature, quando comenta o verso de Bau-
delaire: “La servanre au grand coeur...” (“Este verso veio a Baudelaire... F Baudelaire con-
tinuou. Enterrou a cozinheira num gramado, o que é contra o costume, mas conforme
à rima, etc.”)
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tituições (os mastros como uma floresta de agulhas, as ilhas como gran-
des peixes negros parados, as nuvens como vagas aéreas que se quebram
em silêncio contra uma falésia); vê-se enfim que toda a descrição é
construída com vistas a aparentar Rouen a uma pintura; é uma cena
pintada que a linguagem assume (Assim, vista do alto, a paisagem
inteira tinha o aspecto imóvel de uma pintura”); o escritor reali-
za aqui a definição que Platão dá ao artista, que é um fazedor em
terceiro grau, pois que imita o que é já a simulação de uma essên-
cia. Desse modo, embora a descrição de Rouen seja perfeitamen-
te “impertinente” com relação à estrutura narrativa de Madame
Bovary (não se pode ligá-la a nenhuma segiiência funcional nem
a nenhum significado caracterial, atmosferial ou sapiencial), ela
não é absolutamente escandalosa, apenas se vê justificada pela ló-
gica da obra, ao menos pelas leis da literatura: seu “sentido” exis-
te, ele depende da conformidade, não ao modelo, mas às regras
culturais da representação.
Todavia, a finalidade estética da descrição flaubertiana é toda
a de imperativos “realistas”, como se a exatidão do refe-
rente, superior ou indiferente a qualquer outra função, ordenasse
e justificasse sozinha, aparentemente, descrevê-lo, ou — no caso das
descrições reduzidas a uma palavra — denotá-lo; as injunções esté-
ticas aqui se penetram — ao menos a título de álibi — de injunções
referenciais: é provável que, caso se chegasse a Rouen de diligência,
a vista que se teria ao descer a encosta que conduz à cidade não
seria “objetivamente” diferente do panorama descrito por Flaubert.
Essa mistura — esse chassé-croisé — de injunções tem dupla vanta-
gem: por uma parte, a função estética, ao dar sentido “ao trecho”,
pára o que se poderia chamar de vertigem da notação, pois, a par-
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10. Citado por R. Bray, Formation de la doctrine classique, Paris, Nizet, 1963, p. 208.
11, Ilusão claramente ilustrada pelo programa que Thiers designava 20 historiador: “Ser
simplesmente verdadeiro, ser o que são as próprias coisas, não ser nada mais do que
elas, nada ser senão por elas, como elas, tanto quanto elas.” (Ver nota 10, p. 178.)
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1968, Communications.
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