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25/10/2021
Número: 0000732-10.2019.4.01.3602
Classe: AÇÃO PENAL - PROCEDIMENTO ORDINÁRIO
Órgão julgador: 1ª Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Rondonópolis-MT
Última distribuição : 05/07/2019
Valor da causa: R$ 0,00
Processo referência: 0000732-10.2019.4.01.3602
Assuntos: Crimes de Responsabilidade
Objeto do processo: 4506920194013602
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
Ministério Público Federal (Procuradoria) (AUTOR)
Polícia Federal no Estado de Mato Grosso (PROCESSOS
CRIMINAIS) (AUTORIDADE)
ONDANIR BORTOLINI (REU) ULLI BAPTISTELLA BARBIERI (ADVOGADO)
ZAID ARBID (ADVOGADO)
FABIANO DALLA VALLE (REU) JOIFER ALEX CARAFFINI (ADVOGADO)
DENILSON DE OLIVEIRA GRACIANO (REU) CARLOS HENRIQUE ALVES RODRIGUES (ADVOGADO
DATIVO)
VICTOR GUILHERME MOYA (ADVOGADO)
ODECI TEREZINHA DALLA VALLE (REU) JOIFER ALEX CARAFFINI (ADVOGADO)
Ministério Público Federal (Procuradoria) (FISCAL DA LEI)
EBENEZER ALVES PAULINO (TESTEMUNHA)
PEDRO BARBOSA DA SILVA (TESTEMUNHA)
BRUNO COSTA DE TOLEDO (TESTEMUNHA)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
74510 25/10/2021 18:36 Sentença Tipo D Sentença Tipo D
4997
Subseção Judiciária de Rondonópolis-MT
1ª Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Rondonópolis-MT
S E N T E N Ç A - Tipo D
(servindo como MANDADO, CARTA PRECATÓRIA e OFÍCIO)
1. RELATÓRIO
Extrai-se das peças informativas em anexo que ONDANIR BORTOLINI, ODECI TEREZINHA
DALLA VALLE, DENILSON DE OLIVEIRA GRACIANO e FABIANO DALLA VALLE, agindo de
modo livre e consciente e de comum acordo, entre o ano de 2007 e de 2015, desviaram R$
56.560,00 (cinquenta e seis mil e quinhentos e sessenta reais) em favor da empresa Produtiva
Construção Civil LTDA — EPP (CNPJ/MF N° 07.547.502/0001-86) durante a execução de
serviços de construção de escola na prefeitura municipal de ltiquira/MT.
O Convênio n° 830484/2007 foi aditado duas vezes. O primeiro termo aditivo teve como objeto a
prorrogação da vigência do Convênio por 300 dias a partir de 12/12/2009, vencendo em
7/10/2010. O segundo termo aditivo também teve como objeto a prorrogação do Convênio por
180 dias a partir de 8/10/2010, vencendo em 5/4/2011.
Assinado eletronicamente por: VICTOR DE CARVALHO SABOYA ALBUQUERQUE - 25/10/2021 18:36:10 Num. 745104997 - Pág. 1
http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102518360997100000738140674
Número do documento: 21102518360997100000738140674
Em 5/6/2009, a Controladoria Geral da União produziu o Relatório de Demandas Especiais n°
00190.030022/2007-99 e constatou diversas irregularidades na obra em comento, as quais
foram confirmadas pela perícia que confeccionou o Laudo 099/2012 - UTEC/DPF/ROO/MT.
O Laudo de Perícia Federal Criminal constatou cinco irregularidades. A primeira conclusão foi
no sentido que o Plano de Trabalho no valor de R$ 950.254,19 (novecentos e cinquenta mil,
duzentos e cinquenta e quatro reais e dezenove centavos), datado de 2/6/2008, não é o Plano
de Trabalho apresentado previamente ao FNDE pela municipalidade de Itiquira para a
celebração do Convênio n° 830484/2007, tendo em vista que o Convênio n° 830484/2007 é
datado de 31/12/2007 com valor de R$ 707.070,71.
Constatou-se também que os originais das notas fiscais de n° 0083 e 0095 relativas,
respectivamente, à quarta e quinta medição, continuavam sem apresentar o devido atesto dos
serviços executados, conforme constatação relatada pela CGU.
Saliente-se que o então prefeito municipal, ONDANIR BORTOLINI, a então tesoureira, ODECI
TEREZINHA DALLA VALLE, bem como o então secretário de Administração e Finanças,
FABIANO DALLA VALLE, eram responsáveis pela execução financeira do Convênio n°
830484/2007.
Conclui-se, dessa forma, que R$ 56.560,00 (cinquenta e seis mil e quinhentos e sessenta reais),
ou seja, 8,08% do valor da obra foi desviado em favor da empresa Produtiva Construção Civil
LTDA.
Assim agindo, o ora deputado estadual ONDANIR BORTOLINI, ODECI TEREZINHA DALLA
VALLE, DENILSON DE OLIVEIRA GRACIANO e FABIANO DALLA VALLE incorreram nas
sanções do art.Art. V, incisos 1 do Decreto- Lei n° 201/67, verbis.
Art. 11 São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário,
independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores:
§ 1° Os crimes definidos nêste artigo são de ação pública, punidos os dos itens 1 e II. com a Pena de
reclusão, de dois a doze anos, e os demais, com a pena de detenção, de três meses a três anos.
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§ 2° A condenação definitiva em qualquer dos crimes definidos neste artigo, acarreta a perda de cargo e a
inabilitação, pelo prazo de cinco anos, para o exercício de cargo ou função pública, eletivo ou de
nomeação. sem prejuízo da reparação civil do dano causado ao patrimônio público ou particular.
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Educação e a Prefeitura Municipal de Itiquira/MT, à época governada pelo Prefeito ONDANIR
BORTOLINI. Tal pacto tinha como objeto a construção de escola infantil (PROINFANCIA) no
valor global de R$ 950.257,19, sendo somente R$ 7.070,71 a título de contrapartida.
ii) pagamento indevido das 4ª e 5ª medições sem o devido atesto da execução da despesa;
v) divergências entre o Projeto Básico Padrão do FNDE e o Projeto Básico que balizou a
proposta de preços e a planilha de custos da contratada.
Extrai-se dos autos que o então Secretário de Administração e Finanças FABIANO DALLA
VALLE (filho de Odeci e sobrinho de Ondanir) era o responsável pela execução financeira do
Convênio, e que os pagamentos indevidos à empresa contratada, de responsabilidade de
DENILSON DE OLIVEIRA GRACIANO, foram feitos por meio de cheques emitidos por
ONDANIR BORTOLINI e pela Tesoureira da Prefeitura à época ODECI TEREZINHA DALLA
VALLE (irmã de Ondanir), razão pelo qual estes figuram como demandados da denúncia.
Vale registrar, ainda, a existência de uma Ação Civil Pública por Improbidade em face dos
mesmos requeridos. Trata-se do processo n° 5232-32.2013.4.01.3602, o qual também tramita
perante a Subseção Judiciária de Rondonópolis e se encontra conclusa para sentença.
[...]
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Prefeito Municipal ONDANIR BORTOLINI, tendo como Tesoureira ODECI TEREZINHA DALLA
VALLE (irmã do então Prefeito) e como Secretário de Administração e Finanças FABIANO
DALLA VALLE (sobrinho do então Prefeito e filho da Tesoureira mencionada). Já a empresa
contratada era administrada por DENILSON DE OLIVEIRA GRACIANO e de propriedade dele.
O então Prefeito, à época em seu último ano de mandato, ao assim agir, juntamente com
ODECI TEREZINHA DALLA VALLE e FABIANO DALLA VALLE, efetivamente desviaram renda
pública em favor da empresa Produtiva Construção Civil Ltda. Com efeito, os valores
desembolsados a maior entre os meses de setembro e dezembro de 2008, os quais somam R$
77.244,87 se deram sem a devida contrapartida e sem atesto de engenheiro responsável
momentos antes do término da gestão municipal, incorrendo, portanto, no delito tipificado no art.
1°, I, do Decreto-Lei n°201/1967.
É inegável que tais irregularidades na execução da obra foram praticadas com liame subjetivo
do sócio e único administrador dessa empresa, DENILSON DE OLIVEIRA GRACIANO, pois
este ciente das ilicitudes e pendências (quantitativas e qualitativas) nos serviços prestados,
recebeu os valores indevidos e pagos a maior, concretizando o desvio de recursos públicos em
proveito próprio, iniciado pelos demais denunciados.
Registre-se, ainda, que os assuntos financeiros das obras do município de Itiquira/MT eram, de
fato, tratados com FABIANO DALLA VALLE e ODECI TEREZENHA DALLA VALLE, os quais
tinham pleno conhecimento das irregularidades existentes na execução do Convênio n°
830484/2007 (SIAFI 603204), firmado entre o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
Assinado eletronicamente por: VICTOR DE CARVALHO SABOYA ALBUQUERQUE - 25/10/2021 18:36:10 Num. 745104997 - Pág. 5
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e a Prefeitura Municipal de Itiquira/MT, evidenciado pela ausência de condutas para regularizá-
los e pela corroboração na efetiva execução desse desvio de recursos públicos em proveito
alheio.
Em razão da conduta ilícita acima descrita, não havia saldo suficiente para o pagamento da
contratada por parte da Prefeitura municipal, o que levou à paralisação da obra em diversos
momentos, ocasionando consideráveis prejuízos à população beneficiária dos serviços
educacionais.
Com efeito, conforme consta do Relatório de Demandas Especiais da CGU, em 14/04/2009 foi
feita vistoria in loco, tendo sido informado que a obra ficou paralisada entre o fim de dezembro
de 2008 e o início de abril de 2009, sendo que o percentual de execução física da obra era de
apenas 63%, quando já havia sido feito o pagamento de 73,35% em dezembro de 2008. Como
se vê, portanto, a obra restou suspensa ainda durante a gestão do requerido e mesmo diante de
pagamentos excedentes, realizados no fim da gestão do Prefeito ONDANIR BORTOLINI, tendo,
inclusive, ocasionado o adiamento do início das atividades escolares.
Ademais, por corolário das condutas dos denunciados, o Prefeito buscou da nova gestão
promoveu regularização mediante a continuidade da execução e o pagamento da obra,
dificultada pela as ilicitudes e pendências apontadas acima. Isso porque, mesmo após o término
do contrato, que se deu em dezembro de 2014, nota-se que somente 91,90% da obra havia sido
devidamente executada até abril de 2016, enquanto que os valores a cargo do FNDE haviam
sido repassados em sua integralidade (vide extrato juntado às fis. 258/259-verso).
Daí se pode concluir que o percentual de execução que restava para a obra ser executada em
sua completude corresponde a 8,08%, os quais, em valores financeiros históricos,
correspondem a aproximadamente R$ 76.012,73 (8,08% de R$ 940.751,65, valor transferido
pelo FNDE com vistas a honrar com o Convênio objeto dos autos). Tais verbas, com efeito,
guardam estrita aproximação com o valor de dano ao erário federal que já havia sido calculado,
nos idos de 2012, pela Polícia Federal no Laudo Pericial n° 099/2012 — UTEC/DPF/ROOÍMT
(fis. 84/98).
[...]
No que diz respeito ao grau de culpabilidade, deve ela ser considerada desfavorável aos
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denunciados frente presença de dispares outras circunstâncias judiciais, nos termos da da
doutrina e jurisprudência. Vejamos:
[...]
Com efeito, há demasiado desvalor nas circunstâncias do crime, pois à época, ONDANIR
exercia a função de Prefeito, figura de maior representatividade no âmbito do município, tendo
sido reeleito para a gestão 2004-2008 com quase 70% dos votos válidos. Trata-se de um papel
altamente relevante na comunidade local, cujas elevadas responsabilidades demandam e
evidenciam uma conduta diferenciada com vistas zelar pela escorreita aplicação das verbas
públicas em favor dos cidadãos, especialmente aquelas destinadas à educação (no caso dos
autos), o que não se deu. Em razão disso, o grau de reprovabilidade de sua conduta deve ser
valorada com maior grau ante os demais denunciados. Deve, ainda, ser considerado, para
tanto, o concurso de 4 agentes infratores com vistas a viabilizar a perpetração do crime.
Deveras, uma simples consulta em sítios de busca na internet é possível constatar a enorme
quantidade de notícias amplamente divulgadas de fatos delituosos envolvendo o seu nome,
especialmente relacionados a lavagem de capitais, corrupção ativa, corrupção passiva,
peculatos, crimes eleitorais, entre outros. Sem contar a existência de ações civis de
improbidades administrativas que o requerido também responde perante as justiças federal e
estadual. Nesse sentido:
[...]
Importa, ainda, tecer esclarecimentos acerca das conjunturas de tempo e local em que se deu o
cometimento do fato delitivo, bem como aos instrumentos utilizados para tanto. A saber, mister
recordar que tal crime de responsabilidade foi perpetrado já no fim do mandato do ex-Prefeito
acusado, de modo que este detinha conhecimento de que tais desvios gerariam repercussões
negativas para a gestão seguinte e afetariam a credibilidade e a respeitabilidade do alcaide
sucessor perante a população e à Prefeitura, o que fatalmente ocorreu.
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negativos à comunidade, especialmente às centenas de crianças as quais tiveram tolhidos,
durante 4 anos, seus direitos de acesso à educação, constitucionalmente garantida e de
fundamental importância.
Ademais, não se pode ignorar o cometimento do crime com abuso de poder ou violação de
dever inerente a cargo público por parte dos réus ONDANIR BORTOLINI, ODECI TEREZINHA e
FABIANO DALLA VALE, pois estes, muito além de se valeram de suas condições de agentes
públicos para agirem com clara violação às regras de Direito Público, especialmente aos
regramentos estabelecidos no bojo da execução dos contratos firmados com a Administração
Pública, utilizaram-se de funções de direção e confiança, cada qual dentro de suas respectivas
atribuições, para, assim, beneficiarem um terceiro em detrimento da comunidade usuária do
serviço público educacional.
No tocante aos denunciados ODECI TEREZINHA DALLA VALLE e FABIANO DALLA VALLE, os
quais também exerciam o munus público à época do delito, nas qualidades de servidores
municipais nomeados (tesoureira e secretário de finanças, respectivamente), a eles também
devem ser consideradas, para fins de exasperação da pena em tese aplicada com eventual
condenação, o grau de culpabilidade, as circunstâncias do crime e suas consequências.
Frente ao concurso de agentes para perpetração do crime ora imputado, comunica-se a todos
os denunciados o desvalor das circunstâncias e consequências do crime, bem como da
culpabilidade, ressaltando - em relação a DENILSON DE OLIVEIRA GRACIANO - que este foi o
beneficiário direto dos valores desviados do Contrato n° 100/2008, em momentos distintos,
decorrente do Convênio firmado entre o FNDE e a Prefeitura de Itiquira/MT, o que demonstra
um alto do grau de reprovabilidade.
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Por fim, vale enfatizar que os denunciados ONDANIR, FABIANO e ODECI agiram de maneira
similar em relação aos demais convênios fiscalizados pela CGU, também objetos do Relatório
de Demandas Especiais nº 00190.030022/2007-99 (fls. 09/52). As situações irregulares
apontadas dizem respeito a inúmeras falhas nos contratos licitatórios firmados com uma outra
empresa de engenharia, chamada TRIPOLO, em que restaram constatados favorecimentos da
aludida entidade em diversas ocasiões. Frisem-se os consideráveis danos causados ao erário
na monta de R$ 690.053,03 (em valor, históricos) em razão do Convênio TT-153/2005 firmado.
Deveras, como bem se vê, esses três acusados agiram com deliberado menosprezo e
menoscabo com a coisa pública, visto que as irregularidades constatadas não se deram
somente no bojo do Contrato n° 100/2008, mas em diversos outros que também foram objetos
de auditoria por parte da Controladoria Geral da União - CGU.”
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atipicidade (id 397001938).
É o relatório.
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2. FUNDAMENTAÇÃO
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Deveras, as notas fiscais referentes às 4ª e 5ª medições (de n° 0083 e 0095, datadas de
10/09/2008 e 17/12/2008, respectivamente, e que, juntas, totalizaram R$ 225.000,00) não foram
atestadas pelo engenheiro responsável pelo acompanhamento da execução da obra, no entanto
foram emitidos indevidamente cheques assinalados pelo Prefeito ONDANIR BORTOLINI e pela
Tesoureira ODECI TEREZINHA DALLA VALLE, tendo como beneficiária a empresa contratada,
de propriedade e sob a responsabilidade de DENILSON DE OLIVEIRA GRACIANO, recebedora
de valores a maior, no exercício de 2008, considerados os preços contratuais estabelecidos.
O então Prefeito, à época em seu último ano de mandato, ao assim agir, juntamente com
ODECI TEREZINHA DALLA VALLE e FABIANO DALLA VALLE, efetivamente desviaram renda
pública em favor da empresa Produtiva Construção Civil Ltda. Com efeito, os valores
desembolsados a maior entre os meses de setembro e dezembro de 2008, os quais somam R$
77.244,87 se deram sem a devida contrapartida e sem atesto de engenheiro responsável
momentos antes do término da gestão municipal, incorrendo, portanto, no delito tipificado no art.
1°, I, do Decreto-Lei n°201/1967.
É inegável que tais irregularidades na execução da obra foram praticadas com liame subjetivo
do sócio e único administrador dessa empresa, DENILSON DE OLIVEIRA GRACIANO, pois
este ciente das ilicitudes e pendências (quantitativas e qualitativas) nos serviços prestados,
recebeu os valores indevidos e pagos a maior, concretizando o desvio de recursos públicos em
proveito próprio, iniciado pelos demais denunciados.
Registre-se, ainda, que os assuntos financeiros das obras do município de Itiquira/MT eram, de
fato, tratados com FABIANO DALLA VALLE e ODECI TEREZENHA DALLA VALLE, os quais
tinham pleno conhecimento das irregularidades existentes na execução do Convênio n°
830484/2007 (SIAFI 603204), firmado entre o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
e a Prefeitura Municipal de Itiquira/MT, evidenciado pela ausência de condutas para regularizá-
los e pela corroboração na efetiva execução desse desvio de recursos públicos em proveito
alheio.
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penúltimo quadrimestre, firmou contrato e assumiu deliberadamente obrigação financeira (na
monta de R$ 950.254,19, dos quais R$ 940.751,65 ficariam a cargo do FNDE) com a empresa
Produtiva Construção Civil Ltda. em 05/07/2008, em favorecimento desta, possuindo mera
expectativa de complementação mediante termo aditivo da diferença, uma vez que o Convênio
originalmente previa a transferência de recursos de apenas R$ 700.000,00 por parte do FNDE.
Em razão da conduta ilícita acima descrita, não havia saldo suficiente para o pagamento da
contratada por parte da Prefeitura municipal, o que levou à paralisação da obra em diversos
momentos, ocasionando consideráveis prejuízos à população beneficiária dos serviços
educacionais.
Com efeito, conforme consta do Relatório de Demandas Especiais da CGU, em 14/04/2009 foi
feita vistoria in loco, tendo sido informado que a obra ficou paralisada entre o fim de dezembro
de 2008 e o início de abril de 2009, sendo que o percentual de execução física da obra era de
apenas 63%, quando já havia sido feito o pagamento de 73,35% em dezembro de 2008. Como
se vê, portanto, a obra restou suspensa ainda durante a gestão do requerido e mesmo diante de
pagamentos excedentes, realizados no fim da gestão do Prefeito ONDANIR BORTOLINI, tendo,
inclusive, ocasionado o adiamento do início das atividades escolares.
Ademais, por corolário das condutas dos denunciados, o Prefeito buscou da nova gestão
promoveu regularização mediante a continuidade da execução e o pagamento da obra,
dificultada pela as ilicitudes e pendências apontadas acima. Isso porque, mesmo após o término
do contrato, que se deu em dezembro de 2014, nota-se que somente 91,90% da obra havia sido
devidamente executada até abril de 2016, enquanto que os valores a cargo do FNDE haviam
sido repassados em sua integralidade (vide extrato juntado às fis. 258/259-verso).
Daí se pode concluir que o percentual de execução que restava para a obra ser executada em
sua completude corresponde a 8,08%, os quais, em valores financeiros históricos,
correspondem a aproximadamente R$ 76.012,73 (8,08% de R$ 940.751,65, valor transferido
pelo FNDE com vistas a honrar com o Convênio objeto dos autos). Tais verbas, com efeito,
guardam estrita aproximação com o valor de dano ao erário federal que já havia sido calculado,
nos idos de 2012, pela Polícia Federal no Laudo Pericial n° 099/2012 — UTEC/DPF/ROOÍMT
(fis. 84/98).”
Assinado eletronicamente por: VICTOR DE CARVALHO SABOYA ALBUQUERQUE - 25/10/2021 18:36:10 Num. 745104997 - Pág. 13
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Número do documento: 21102518360997100000738140674
A referida obra foi licitada mediante a realização da Tomada de Preços n.
005/2008 (edital às págs. 62/110 do id 174103889), culminando com a celebração em
05/07/2008 do Contrato n. 100/2008 entre a Prefeitura de Itiquira/MT e a empresa
PRODUTIVA CONSTRUÇÃO CIVIL LTDA. (CNPJ 07.547.502/0001/86), de propriedade
do réu DENILSON DE OLIVEIRA GRACIANO, no valor de R$ 933.811,30 (cópia do
referido contrato administrativo às págs. 157/169 do id 174103889). A ordem de serviço
para início da obra foi emitida no mesmo dia da assinatura da pactuação (05/07/2008 –
pág. 3 do id 174123346).
“Os signatários encontraram cópias de 05 (cinco) notas fiscais emitidas pela empresa
Produtiva Construção Civil Ltda (documentos descritos no item x da seção II - MATERIAL)
relativas ao contrato n° 100/2008 (documento descrito no item iii da seção II - MATERIAL)
celebrado por essa empresa com a Prefeitura Municipal de Itiquira/MT visando a construção de
escola infantil na Rua João Batista Vidotti. Tais notas fiscais estão detalhadas na tabela 01.
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Observa-se que foram pagos 73,35% do valor contratual (R$ 685.000,00 de um total de R$
933.811,30), sendo que a última nota fiscal foi emitida em dezembro de 2008. Segundo consta
em documentação disponibilizada pela Prefeitura Municipal de Itiquira, quando da realização da
vistoria de local, as duas últimas medições realizadas na obra contratada por meio da tomada
de preço n° 05/2008 são as de número quatro e cinco que, por sua vez, deram causa à emissão
das notas fiscais n° 0083 e 0095 da empresa Produtiva. Cópias das planilhas da 4ª e 5ª
medição dos serviços encontram-se no anexo A do presente laudo.
Diversamente das demais notas fiscais que constam dos autos (págs. 56/59 e
66/70 do id 174103881, verifica-se das cópias das Notas Fiscais 0083 e 0095 emitidas
pela PRODUTIVA CONSTRUÇÃO CIVIL LTDA., juntadas às págs. 60/64 do id
174103881, que de fato elas não possuíam o exigido atesto (“Atestamos que os serviços
foram executados em”) assinado pelo engenheiro Guerino Aquilino Netto, CREA/MT
8.874/VD, confiram-se:
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Número do documento: 21102518360997100000738140674
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O engenheiro civil Guerino Aquilino Netto, em suas declarações policiais
(págs. 139/141 do id 174058371), asseverou “que realmente não atestou a quarta e
quinta medição da obra, e não sabe explicar porque houve o pagamento por parte
da prefeitura; QUE afirma que pelo que sabe, o pagamento somente é realizado depois
da medição ser atestada pelo engenheiro responsável pela obra”.
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das obras e não sabe a razão por que isso ocorreu; que o procedimento é o atesto do
servidor antes da realização dos pagamentos; que soube também, inclusive por
fiscalizações exercidas pelo FNDE, acerca de pagamentos feitos, nesse caso, sem a
efetiva execução do serviço; que acredita que foi o setor contábil, em fases posteriores
à engenharia civil, que procedeu a esses pagamentos; que a alteração do projeto básico
ocorreu no início da proposta, em virtude de solicitação do próprio FNDE para adequação
de quantitativos, a qual foi realizada pela Associação Mato-grossense de Municípios –
AMM; a AMM presta assessoria aos municípios, uma vez que conta com profissionais que
atuam ante a deficiência das estruturas dos municípios, a exemplo do ocorre em
Itiquira/MT, em que há apenas o depoente como engenheiro; que, após a medição, o
atesto era fornecido à contabilidade ou administração municipal; que havia um “tudo junto
e misturado” na administração municipal; que ONDANIR era o prefeito à época; que,
assim como o prefeito, ODECI tinha acesso a todos os servidores; que era fácil o acesso
a ONDANIR e ODECI; que simplesmente entregava os procedimentos realizados pelo
setor de engenharia ao setor de contabilidade, o qual realizava os procedimentos
subsequentes; que o prefeito NININHO [ONDANIR] participava dos acontecimentos,
embora não houvesse formalizações; que ligava direta e informalmente ao Prefeito
e se comunicava com os secretários para tratar sobre obras; que confirma que
fornecia ao Prefeito e aos secretários informações acerca do andamento das obras,
de forma que todos participavam; que os gestores tinham conhecimento, por meio
das medições, do que era necessário para realização de pagamentos; que não se
recorda da fiscalização da CGU; que sabe que houve a fiscalização por meio de
documentações; que a obra passou um bom tempo paralisada; que a obra foi concluída e
está funcionando; que não atuou na finalização dessa obra; que já adentrou a escola,
embora não na condição de engenheiro ou fiscal, e entende que ela atende ao que se
destina.
Art. 62. O pagamento da despesa só será efetuado quando ordenado após sua regular
liquidação.
Art. 63. A liquidação da despesa consiste na verificação do direito adquirido pelo credor tendo
por base os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito.
§ 2º A liquidação da despesa por fornecimentos feitos ou serviços prestados terá por base:
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II - a nota de empenho;
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fiscal baseada em uma medição; que a medição é conferida pelo engenheiro da
prefeitura e atesta se a execução corresponde à nota fiscal; depois do atesto do
engenheiro, a contadoria do município procede à liquidação, efetuando o
pagamento; em cada etapa da obra, ocorre uma medição; que se faz necessário
passar por essas fases para posterior liquidação e pagamento; que, como contador
do município de Itiquira/MT, estava subordinado ao Secretário de Finanças, o réu
FABIANO; que conversava com ODECI sempre que necessário sobre o trabalho
desenvolvido ali; que, nesse período, a contabilidade foi exercida pelo depoente; que não
vê a possibilidade de liquidação sem que haja o atesto de medição; que, em janeiro
de 2009, presenciou movimentação na obra, embora não saiba dizer o que estava sendo
feito, e não havia sido finalizada; que não se recorda da sujeição de novo plano de
trabalho perante o FNDE.
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constava da medição, que, por sua vez, ficava anexa ao empenho; que, para emitir a
liquidação, o setor de contabilidade fazia a verificação do atesto; que não tinha outra
experiência como tesoureira antes de assumir o cargo em Itiquira/MT; que não se recorda
de ter feito curso específico do cargo; que os fatos narrados na denúncia ocorreram
durante a execução da obra; que a obra está pronta e funcionando normalmente; que a
obra ficou de 2009 a 2012 parada e foi retomada em 2013; que a orientação que
recebeu é de que, com a liquidação, já havia ocorrido a conferência do cumprimento da
obrigação.
“3) O percentual de obra medida e paga à construtora (73,35%) não se compatibiliza com
o índice de execução física verificado ‘in loco’ por esta fiscalização, tendo em vista a
constatação dos seguintes serviços pagos, porém não executados:
3.1 Item 04.01.710 (Revestimento Interno - Paredes) da Planilha de Medição. Cerâmica 20x20 -
R$ 25.610,91 e Rejuntamento de cerâmica 20x20 - R$ 4.508,29;
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3.4 Totalizando-se os serviços pagos, porém não executados, constata-se a ocorrência de
pagamentos indevidos à contratada de R$ 92.746,76. Em decorrência disso, o percentual
de execução física da obra, em 14.04.2009, era de 63%, enquanto que percentual de
execução financeira era de 73,35%.”
A partir da tabela 02 verifica-se que diversos serviços foram pagos indevidamente pela
Prefeitura Municipal de ltiquira/MT. Considerando a vistoria realizada em 21/06/2012, os
peritos calcularam em R$ 77.244,87 (a preços de junho/2008) os serviços pagos e não
executados no âmbito do contrato n° 100/2008.
Em valores corrigidos para o mês de junho de 2012 pelo INPC/IBGE (Índice Nacional de Preços
ao Consumidor - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), utilizando-se a calculadora do
cidadão do sítio eletrônico do Banco Central (www.bcb.gov.br), os serviços não realizados e
pagos indevidamente correspondem à quantia de R$ 95.748,25.
Em valores corrigidos para o dia 02/07/2012 pela Taxa SELIC (taxa média apurada no Sistema
Especial de Liquidação e de Custódia do Banco Central do Brasil), utilizando-se a calculadora
do cidadão do sítio eletrônico do Banco Central (www.bcb.gov.br), os serviços não realizados e
pagos indevidamente correspondem à quantia de R$ 116.486,07.
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116.000,00 (atualizado) sem que houvesse de fato a execução física da obra
correspondente, a evidenciar o desvio de renda pública, praticado pelos gestores
municipais, em proveito alheio (do empresário contratado).
“QUE em relação a construção da Escola Infantil - Projeto Padrão FNDE (21/26), o declarante
afirma que realmente houve irregularidades em relação a esta obra; QUE explica que essa
obra foi iniciada no fim do mandato do declarante e que o projeto foi elaborado pela
Universidade Federal de Brasília, inicialmente orçado em R$ 1.350.000,00 e que houve uma
alteração realizada pelo FNDE no projeto, onde foram cortados vários itens do projeto original,
entre eles a fundação a qual seria construídas com estacas, reduzindo o valor do projeto para
R$950.000,00; QUE na execução da obra, a empresa executou por equívoco a fundação
do projeto original, gastando boa parte do recurso que deveria ser utilizado em outros
itens da obra; QUE além disso, o pagamento foi realizado conforme a planilha do projeto
original; QUE esse pagamento se deu na ausência do engenheiro responsável; QUE por
esses motivos expostos a obra ficou prejudicada na sua conclusão, mas que o declarante
ficou responsável e está acompanhando todas as obras no município de Itiquira, as quais foram
iniciadas em sua administração e que neste momento a escola já encontra-se em fase de
conclusão e com seu orçamento adequado as valores propostos pelo FNDE”
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muito aquém do valor conveniado; que, foi feita a readequação do projeto, com a
remoção das estacas da fundação e de vigas de uma área aberta; entretanto, a fundação
já havia sido executada e o valor teve que ser glosado, em virtude da readequação; que
preferiu que o contrato não fosse aditado, para que pudesse concluir a obra; que
houve obras em outros municípios que custaram R$ 1.900.000,00 e R$ 1.600.000,00,
mas que em Itiquira custou apenas R$ 900.000,00; que foi feita, ainda, uma devolução de
aproximadamente R$ 100.000,00 que restaram na conta do convênio; que a alteração do
projeto não foi feita pelo município, mas pelo FNDE, para adequação nacional do projeto;
que acompanhou o projeto e o que ocorreu foi isso; que, como gestor, o pagamento
já chegava da tesouraria, mediante empenho e liquidação, para que o cheque fosse
assinado e o pagamento fosse efetuado; que não tem conhecimento de que o
pagamento foi feito sem medição; que, pelo que se recorda, FABIANO, nesse período,
era tesoureiro; que ODECI era chefe de gabinete; que acredita que, em alguns períodos,
ODECI pode ter exercido a função de tesoureira; que o engenheiro, à época, era
Guerino e ele fazia o acompanhamento das obras e das medições; que o
procedimento é esse: da engenharia ia para a contadoria e depois para a tesouraria,
para liquidação; que, então, da tesouraria vinham a liquidação, o empenho e os
cheques para serem assinados para realização do pagamento; que a parte técnica
era feita pelos setores e pelo administrativo e chegava apenas para o prefeito
assinar o cheque; que a obra teve um impasse no decorrer da execução, porque foi
necessário readequar o projeto, mas, como a obra estava adiantada, a fundação já havia
sido executada, e disso adveio o problema; que a obra ficou paralisada durante um
período; que o governo federal, então, aditivou todos os convênios; que pretendeu não
aditivar a conta e foi devolvido o valor de aproximadamente R$ 100.000,00; que o
pagamento da quarta e quinta medições foi feita enquanto ainda era prefeito; que
se tratava de uma medição provisória, e não definitiva; que acompanhou todas as
obras até o final, mesmo depois do fim de seu mandado; que, quanto às medições,
acredita que, em virtude da alteração do projeto e da planilha, alguns itens que
tinham sido pagos, foram excluídos da planilha e os valores ficaram discrepantes;
que não foi autorizado pagar nada além do que estava executado; que a obra ficou
paralisada ainda durante sua gestão; que esteve na obra depois de concluída e que tem
bom padrão de qualidade, porque prezava por isso.
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conta do convênio, do que se conclui que a manobra administrativa foi efetuada com o
intuito de apenas mascarar o pagamento ilícito feito à empresa de DENILSON no final de
2008, quando a obra avançara tão somente 62% em sua execução.
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acompanhou pessoalmente o andamento das obras.
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não executada, passando pela autorização do pagamento indevido, consumando-se no
momento em que a empresa do corréu José Humberto Demes recebeu valores sem que
tivesse efetivamente executado a obra para a qual foi contratada. 5. A posterior
conclusão da obra ou a eventual restituição de valores antes do recebimento da
denúncia, não retira a natureza ilícita do crime, mas tão somente lhe minoram as
consequências negativas, nos termos do art. 16 do Código Penal, reconhecendo-se o
chamado arrependimento posterior. 6. A aprovação de contas do convênio, com
ressalvas, não importa em exclusão do crime, pois a instância administrativa não vincula
a instância penal. 7. Negativas as consequências do crime, pois a população local foi
claramente prejudicada, correndo iminente perigo de vida ao ter que tirar água dos poços com
baldes, ante a execução inadequada do convênio que previa a instalação de bombas d'água
para as comunidades do município de José de Freitas/PI. 8. Declarada a extinção da
punibilidade do réu Pedro Humberto Demes pela prescrição (art. 107, IV c/c art. 109, II c/c art.
115, todos do Código Penal) e, dado provimento parcial à apelação do MPF para condenar o
réu RICARDO SILVA CAMARÇO pelo crime do art. 1º, inciso I do Dec. Lei nº 201/1967, à pena
de 02 anos, 03 meses e 22 dias de reclusão. (ACR 0004220-94.2006.4.01.4000, JUIZ
FEDERAL MARLLON SOUSA, TRF1 - TERCEIRA TURMA, e-DJF1 06/12/2019 PAG.)
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“A partir da tabela 02 verifica-se que diversos serviços foram pagos indevidamente pela
Prefeitura Municipal de ltiquira/MT. Considerando a vistoria realizada em 21/06/2012, os
peritos calcularam em R$ 77.244,87 (a preços de junho/2008) os serviços pagos e não
executados no âmbito do contrato n° 100/2008.”
Por fim, observe-se que a conclusão da obra pública sequer se deu por
iniciativa dos denunciados, vindo a se concretizar somente na segunda gestão posterior
ao mandato de ONDANIR BORTOLINI.
Via de consequência, a distorção entre a execução financeira e física, produzida pela conduta
dos requeridos, tornou-se um problema para os gestores subsequentes, que tiveram que buscar
a reparação do dano num momento em que a empresa adotava postura relapsa e
descompromissada com os deveres assumidos perante a Administração. Ou extinguiam o
contrato, criando um crédito em desfavor da empresa, a ser submetido a um procedimento de
execução árduo, vagaroso e sem garantia de êxito ou toleravam a postura morosa da
contratada em alguma medida, para o fim de garantir a execução dos serviços já remunerados,
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arcando, nesta hipótese, com o prejuízo acarretado pela demora na entrega da obra à
população.
Logo, embora Ondanir não possa ser responsabilizado pelas eventuais falhas das condutas
corretivas adotadas pelos sucessores, não há dúvidas de que contribuiu para as distorções
entre a obra e o projeto contratado e para o atraso de quase 6 (seis) anos para a entrega da
obra. Nesse sentido, as condutas ora analisadas não podem ser enquadradas como meras
irregularidades sanáveis.
[...]
Aliás, diante do acervo documental demonstrando que Denilson de Oliveira Graciano era
sabedor das irregularidades e recebeu as notificações para correção como representante legal
da empresa (fl. 14), pode-se concluir que ele concorreu para a prática do ato de improbidade e
deve ser responsabilizado ao lado da empresa, na forma do artigo 3º da Lei n.9 8.429/92.”
É o que ocorre no presente caso, dado que a figura típica prevista pelo art. 1º,
I, do Decreto-Lei 201/67 se trata de delito funcional de mão própria, que somente pode
ser praticado por prefeito municipal ou por quem esteja no exercício desse cargo.
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plenamente cientes, impõe-se a condenação.
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construção de uma sociedade mais justa e solidária, a qual, como é cediço,
necessariamente passa pela educação das crianças e adolescentes.
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condenação definitiva em qualquer dos crimes previstos no dispositivo legal acarreta a
inabilitação, pelo prazo de 5 anos, para o exercício de cargo ou função pública, eletivo ou
de nomeação, sem prejuízo da reparação civil do dano causado ao patrimônio público.
De igual modo, o art. 92, I, do CP, prevê como efeito não automático da
condenação a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo, quando aplicada pena
privativa de liberdade por tempo igual ou superior a 1 ano nos crimes praticados com
abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública ou quando
aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 anos.
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as decisões judiciais deverão ser motivadas. Na espécie, o efeito da condenação, perda do
cargo e inabilitação para o seu exercício, foi lastreado em dados concretos, a saber,
circunstâncias judiciais desfavoráveis: montante significativo do dano e conduta voltada
contra programa de construção de casas populares. 2. Ordem denegada. (HC 109.587/PR,
Rel. Ministro NILSON NAVES, Rel. p/ Acórdão Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
SEXTA TURMA, julgado em 04/11/2008, DJe 19/12/2008)
Por fim, cumpre fixar, como valor mínimo a ser reparado pelo dano causado à
Administração Pública, o valor histórico de R$ 116.486,07, que se reporta à data de
02/07/2012 e foi fixado pelo laudo pericial de págs. 96/111 do id 174058371, o qual
deverá ser atualizado monetariamente até a data do efetivo pagamento, bem como
acrescido de juros e outros acréscimos legais, conforme normas de regência.
3. DISPOSITIVO
FIXO, nos termos do art. 367, IV, do CPP, como valor mínimo a ser reparado
pelos sentenciados em decorrência do dano causado à Administração Pública, o valor
histórico de R$ 116.486,07, que se reporta à data de 02/07/2012 e foi fixado pelo laudo
pericial de págs. 96/111 do id 174058371, o qual deverá ser atualizado monetariamente
até a data do efetivo pagamento, bem como acrescido de juros e outros acréscimos
legais, conforme normas de regência.
3.1. Dosimetria
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Passo à individualização da pena, conforme os arts. 59 e 68 do Código Penal.
A culpabilidade deve ser censurada com maior rigor, conforme item 2.3.1.
Os antecedentes lhe são favoráveis, conforme folhas de antecedentes e certidões
criminais constantes dos autos. Não há elementos que permitam aferir a conduta social.
Porém, a personalidade do réu, voltada ao crime, deve ensejar o incremento da pena,
consoante item 2.3.3. Os motivos do crime são inerentes à espécie. As circunstâncias e
as consequências devem ser reputadas para a majoração da pena-base, nos termos dos
itens 2.3.4, 2.3.5, 2.3.6 e 2.3.7. Não há o que se valorar no que respeita ao
comportamento da vítima.
Presente a agravante do art. 62, I e III, do CP, conforme item 2.3.8, aumento
a pena, passando a dosá-la em 8 anos e 2 meses de reclusão.
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A culpabilidade é normal ao delito perpetrado. Os antecedentes lhe são
favoráveis, conforme certidões e folhas de antecedentes criminais constantes dos autos.
Não há elementos que permitam aferir a conduta social e a personalidade do agente, não
se podendo considerar a prática isolada do presente crime como indicativa de má
personalidade. Os motivos do crime são inerentes à espécie. As circunstâncias e as
consequências devem ser reputadas para a majoração da pena-base, nos termos dos
itens 2.3.4, 2.3.5, 2.3.6 e 2.3.7. Não há o que se valorar no que respeita ao
comportamento da vítima.
Presente a agravante do art. 61, II, g, do CP, conforme item 2.3.9, aumento a
pena, passando a dosá-la em 5 anos e 3 meses de reclusão.
A culpabilidade deve ser censurada com maior rigor, conforme item 2.3.2.
Os antecedentes lhe são favoráveis, conforme certidões e folhas de antecedentes
criminais constantes dos autos. Não há elementos que permitam aferir a conduta social e
a personalidade do agente, não se podendo considerar a prática isolada do presente
crime como indicativa de má personalidade. Os motivos do crime são inerentes à espécie.
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As circunstâncias e as consequências devem ser reputadas para a majoração da pena-
base, nos termos dos itens 2.3.4, 2.3.5, 2.3.6 e 2.3.7. Não há o que se valorar no que
respeita ao comportamento da vítima.
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b) Servindo cópia desta sentença como expediente, DEPREQUE-SE ao juízo
da Comarca de Itiquira/MT a intimação pessoal de ODECI TEREZINHA DALLA VALLE,
CPF 371.330.479-34, residente na Avenida Pedro Campos, 880, Centro, em Itiquira/MT,
CEP 78790-000, telefone: (65) 3491-1454 e (65) 99630-6930, devendo o oficial de justiça
questionar expressamente à sentenciada acerca do desejo de recorrer.
d) Atualize-se o SINIC/INI.
ASSINATURA ELETRÔNICA
JUIZ(A) FEDERAL INDICADO(A) NO RODAPÉ
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