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Terapia pulpar em dentes decíduos: Relato de caso clínico atendido na

Faculdade de Odontologia da Universidade de Sorocaba (FOUNISO).

Giovanna Di Paschoale
Leticia Maria Moraes Ginez

Resumo:
Contexto: Paciente do sexo masculino, L. G., 5 anos, 18kg, chegou a clinica
da UNISO acompanhado da mãe, com queixa de dores ao escovar os dentes e
sangramento gengival. O paciente tem perfil calmo, em alguns momentos de
cooperação tensa. A mãe relatou que o paciente possui muitas cáries e sente
dor ao escovar os dentes e as vezes ao mastigar, abandonou o tratamento
odontológico que era realizado na UBS. Objetivo: Esse trabalho tem como
objetivo relatar um caso clínico de terapia pulpar em dentes decíduos, em um
paciente de 5 anos tratado na Clínica de Odontologia da Universidade de
Sorocaba e discutir precisamente a importância desse tratamento em dentes
que darão lugar a dentição permanente. Metodologia: Realização da
pulpectomia nos elementos 84 e 85 e, posteriormente, encaminhamento para a
Clínica de Odontopediatria da Faculdade de Odontologia da Uniso.
Resultados: O paciente teve dois elementos tratados, um parcialmente e um
completamente, porém devido ao difícil manejo não foi possível realizar o plano
de tratamento completo que foi proposto. Conclusão: A partir do trabalho
realizado foi possível compreender a relevância do tratamento pulpar em
dentes decíduos, permitindo que os elementos tratados permaneçam em boca
até seu devido período de esfoliação.
Palavras –chave: Tratamento endodôntico. Dentes decíduos. Relato de caso.

1 INTRODUÇÃO

A maioria das pessoas costuma questionar o motivo dos esforços


realizados para a preservação da polpa dos dentes decíduos, já que os
mesmos serão esfoliados, dando lugar aos permanentes. Caso não sejam
tratados podem apresentar riscos aos permanentes sucessores e o principal
objetivo da terapia pulpar em dentes decíduos é a preservação de espaço na
arcada. (HEARGRAVES; COHEN; BERMAN, 2011).

“A perda prematura dos dentes decíduos pode causar alteração do


comprimento da arcada, resultando na mesialização dos dentes permanentes e
na consequente má oclusão.” (HEARGRAVES; COHEN; BERMAN, 2011, p.
732).
Os dentes decíduos desempenham um papel integral no
desenvolvimento da oclusão. A perda prematura de um dente
decíduo em consequência de traumatismo ou infecção tem o
potencial de desestabilizar o desenvolvimento da oclusão com perda
de espaço, colapso do arco, e erupção prematura, retardada ou
ectópica, do dente sucessor permanente. De modo geral, os efeitos
da extração prematura dos dentes decíduos são mais pronunciados
nos segmentos posteriores que na região anterior da dentição.
(CAMERON; WIDMER, 2012, p. 95).

Vale ressaltar que há outros objetivos na preservação dos dentes


decíduos, manter a função da mastigação por exemplo, nesse caso
apresentado principalmente tratamos dois molares inferiores, dentes essenciais
para a trituração dos alimentos.

2 EXPOSIÇÃO DO CASO

Paciente de 5 anos de idade, sexo masculino, compareceu a Clínica de


Odontologia da Universidade de Sorocaba (UNISO) acompanhado da
responsável (mãe), queixava-se de dor em um “dente do fundo” e a
responsável relatou que a “massinha que estava nesse dente caiu”, além da
queixa de sangramento gengival e dor ao escovar os dentes posteriores, disse
que as dentes do filho estavam “muito cariados”. Ainda durante a primeira
consulta foi realizada a anamnese, onde a responsável relatou que o paciente
possui intolerância a glúten e já havia feito tratamento odontológico em uma
Unidade Básica de Saúde (UBS) mas ao mudar de bairro perdeu o vínculo com
a unidade e interrompeu o tratamento do mesmo.

A queixa mais contundente de dor foi diagnosticada no elemento 84,


região também do elemento 85. (Figura 1)

2.1 Anamnese da doença ou queixas atuais

A responsável não relatou nenhuma alteração sistêmica importante, nem


história médica que influenciasse no diagnóstico ou tratamento das lesões.

O exame extraoral não apresentou alterações, já no exame intraoral foi


observado e diagnosticado lesão cariosa nos elementos 51, 54, 55, 61, 64, 65,
84, 85, 74, e 75, sendo os elementos 84, 85, 65 e 75 com comprometimento
pulpar. (Figura 2 e Figura 3).

Os elementos 84 e 85 tiveram seu comprometimento pulpar


confirmados por meio de exame de imagem, radiografia periapical. (Figura 4).

A mãe relatou quando questionada sobre a alimentação do paciente que


o mesmo não faz uso de doces, e refrigerantes, e a escovação é realizada de
1x a 2x por dia, sem uso do fio dental.

2.2 Proposta Terapêutica

A forma de tratamento proposto foi inicialmente a pulpectomia do dente


84 e 85, sendo feito no 84 um tratamento de urgência, o plano de tratamento foi
traçado na primeira consulta, juntamente da anamnese e exame radiográfico.
Na segunda sessão iniciamos pela anestesia, bloqueio do nervo alveolar
inferior com lidocaína a 2% com epinefrina 1:100.000 e posteriormente
iniciamos o tratamento de urgência (acesso e medicação intracanal) no
elemento 84, usamos bolinha de algodão com formocresol na entrada do canal
após acesso e no elemento 85 a remoção da cárie, e inserção de coltosol na
cavidade.

Na terceira sessão realizamos a anestesia sendo utilizada a técnica


infiltrativa na região do elemento 84, utilizamos lidocaína a 2% com epinefrina
1:100.000, posteriormente realizamos o isolamento, retirada da medicação
intracanal do elemento 84, instrumentação do mesmo e inserção de nova
medicação intracanal e selamento da cavidade com coltosol.

Na quarta sessão na tentativa de condicionar o paciente que vinha


apresentando comportamento extremamente resistente e não cooperativo ao
atendimento odontológico então optamos por realizar a remoção da cárie dos
elementos 51 e 61 e restauração com resina composta, durante essa sessão o
paciente se manteve calmo e cooperativo.

Na quinta e ultima sessão foi realizada anestesia infiltrativa na região do


elemento 84 com lidocaína a 2% e epinefrina 1:100.000, a medicação
intracanal foi retirada, e iniciada novamente a instrumentação dos canais, após
instrumentação foi realizada a obturação com pó de hidróxido de cálcio P.A +
iodofórmio + propilenoglicol + OZ (Pasta Guedes Pinto modificada), e
selamento da cavidade com coltosol.

O paciente foi encaminhado para a odontopediatria para realizar os


ademais procedimentos que não foram realizados no estágio supervisionado 3.

Figura 1 – Elementos 84 e 85. Figura 2 – Dentição inferior do paciente.

Fonte: Elaboração própria. Fonte: Elaboração própria.

Figura 3 – Dentição superior do paciente. Figura 4 – RX periapical dos elementos 84 e 85.

Fonte: Elaboração própria. Fonte: Elaboração própria.

3 DISCUSSÃO

“Sabe-se que a incidência de lesões de cárie na dentição decídua é


altamente significante, apesar dos métodos e meios de prevenção que vêm
sendo pesquisados há muitos anos.” (GUEDES-PINTO; MELLO-MOURA,
2016, p. 602). Ao inicio do tratamento é importante também ressaltar a
importância da higienização bucal, ensinando as técnicas adequadas de
escovação ao paciente e ao responsável.

A terapia pulpar efetiva na dentição decídua não deve apenas


estabilizar o dente decíduo afetado, mas também criar um ambiente
favorável à esfoliação normal do dente decíduo, sem danificar o
esmalte em desenvolvimento ou interferir na erupção normal de seu
sucessor permanente. (CAMERON; WIDMER, 2012, p. 118)

Um aspecto fundamental no diagnóstico é o exame radiográfico, uma


vez que este trás noção próxima ao real, se há ou não lesão nos tecidos de
suporte ou se a cárie dentária já atingiu ou está próximo a polpa. (GUEDES-
PINTO; MELLO-MOURA, 2016).

Sobre o complexo dentina-polpa em dentes decíduos podemos pontuar


que a dentina profunda é mais porosa do que a dentina superficial, portanto a
polpa dos dentes decíduos são mais propensas a lesões profundas.
(HEARGRAVES; COHEN; BERMAN, 2011).

A pulpectomia em dentes decíduos deve se atentar a alguns aspectos


para ser bem sucedida, sendo esses: Anatomia da raiz, fisiolofia da raiz e o
germe do dente permanente, verificar sua proximidade ao ápice da raiz.
(HEARGRAVES; COHEN; BERMAN, 2011).

O sucesso do tratamento endodôntico em dentes decíduos é julgado


pelos mesmos critérios que são utilizados para os dentes
permanentes. O dente decíduo tratado deve permanecer firmemente
fixo e funcional, sem dor ou infecção. (HEARGRAVES; COHEN;
BERMAN, 2011, p. 780).

Assim como em dentes permanentes é de suma importância a


instrumentação correta e irrigação adequada, promovendo a maior desinfecção
possível e garantindo o êxito do tratamento endodôntico. Para obturação é
preconizada a pasta Guedes-Pinto.

Os componentes da pasta apresentam propriedades isoladas. O


iodofórmio, apresenta propriedades antissépticas, atividade
antimicrobiana, é radiopaco, promove liberação de iodo, inclusive em
condições desfavoráveis, e possibilita estimulação biológica. O
paramonoclorofenol canforado é antimicrobiano, com discutida ação
bacteriostática e bactericida, e alta citotoxicidade. O Rifocort® é anti-
inflamatório, caracterizando associação corticosteroide-antibiótica, na
qual a corticoterapia evita intensa resposta inflamatória nas primeiras
fases do reparo, e o antibiótico promove precaução profilática.
(GUEDES-PINTO; MELLO-MOURA, 2016, p. 607).
4 CONCLUSÃO

A partir do caso apresentado e o trabalho realizado sobre terapia pulpar


em dentes decíduos observou-se a importância de um correto diagnóstico e
tratamento adequado para que o elemento dental necessitado desse recurso
possa permanecer em função, trazendo inúmeros benefícios para o paciente e
evitando problemas no desenvolvimento oclusal do mesmo. É importante
ressaltar que o manejo e condicionamento do paciente infantil se fazem
extremamente necessários, e também se deve priorizar a higienização bucal
correta e eficiente em crianças desde a erupção dos primeiros dentes
decíduos.
5 REFERÊNCIAS

CUNHA, C.B.C.S.; BARCELOSS,R.; PRIMO, L.G. Soluções irrigadoras e


Materiais Obturadores Utilizados na Terapia Endodôntica de Dentes
Decíduos. Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada.
Paraíba, vol. 5, p. 1-6, num. 1, jan-abr. 2005, núm. 1.

GUEDES-PINTO, A.C.; SANTOS, E.M. Tratamento Endodôntico em Dentes


Decíduos. In: GUEDES-PINTO, A.C.; SANTOS, E.M.; MELLO-MOURA, A.C.V.
Odontopediatria. 9. ed. Rio de Janeiro: Santos, 2017. p. 602-607.

MAHONEY, E.; KILPATRICK, N.; JOHNSTON T. Odontopediatria


Restauradora. In: CAMERON, A.C.; WIDMER, R.P. Manual de
Odontopediatria. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.p. 95-118.

WATERHOUSE, P.J.et al. Endodontia em odontopedriatria: Tratamento


Endodôntico na dentição decídua e permanente jovem. In:HARGREAVES,
K.;COHEN, S. Caminhos da polpa. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.p.
732.
6 CONSENTIMENTO DO PACIENTE

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