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E ENSINO
Introdução
Você já deve ter notado que um texto de qualidade apresenta caracte-
rísticas como originalidade, clareza e autoria. Mas você sabe construir
uma relação entre ideias e frases de tal forma que seu texto revele uma
sequência harmônica e uma organização interna? A coesão e a coerência
textuais são fatores significativos da textualidade; portanto, devem receber
atenção redobrada dos escritores.
Existem diferentes procedimentos e recursos de coesão que podem
contribuir com a unidade e a progressão temática. Nesse sentido, é pre-
ciso alinhar o gênero textual ao contexto e à finalidade comunicativa.
Neste capítulo, você vai estudar a coesão e a coerência e ver como elas
aparecem em textos. Além disso, você vai verificar as formas diferentes
como cada gênero textual comunica as suas mensagens.
A palavra texto tem origem latina: significa tecido. Essas palavras pertencem à mesma
família semântica de “textura” e “contextura”.
Para esses autores, a coesão é, pois, uma relação semântica entre um elemento
do texto e algum outro elemento crucial para a sua interpretação. A coesão,
por estabelecer relações de sentido, diz respeito ao conjunto de recursos
semânticos por meio dos quais uma sentença se liga com a que veio antes,
aos recursos semânticos mobilizados com o propósito de criar textos. A cada
ocorrência de um recurso coesivo no texto, denominam “laço”, “elo coesivo”.
mantenha ao mesmo tempo em que progride, daí a sua ligação com a coerência.
O sentido do texto se constrói com o encadeamento de todas as suas partes.
Portanto, a função da coesão é promover a continuidade do texto, ligar (inter-
ligar) cada parte do texto para que não se perca o fio de raciocínio. É exatamente
essa unidade que favorece a interpretabilidade. Dessa forma, todos os segmentos de
um texto têm de estar presos uns aos outros. Nas palavras de Antunes (2005, p. 48),
Relações
Procedimentos Recursos
textuais
(campo 2) (campo 3)
(campo 1)
Paralelismo
Repetição de unidades do
propriamente léxico
dita de unidades de
gramática
As conjunções ligam orações. Por exemplo: “Estudei muito, mas não passei no concurso”.
Algumas locuções também cumprem esse papel: “Vou à festa desde que não chova”.
Por sua vez, as preposições unem termos da oração. Por exemplo: “Desde dezembro,
não vejo minha irmã”. Novamente, as locuções também cumprem esse papel: “De
acordo com Beatriz, nada mais poderá ser feito”.
[...] além de constituir uma forma de ligar subpartes do texto, concorre ainda
para sinalizar as visões que as pessoas assumem ao dizer certas coisas [...]
esse tipo de retomada é também percebido como uma espécie de resumo, de
recapitulação de blocos anteriores (ANTUNES, 2005, p. 106).
A hiperonímia é uma relação estabelecida entre uma palavra de sentido mais geral
e outra de sentido específico, como “animal” e “vaca”.
o basquete a cesta
Note que, nesse tipo de texto, as frases são mais complexas e as orações
mostram-se mais articuladas. Assim, é preciso estabelecer uma harmonia
que deixe o enunciado com uma simetria sintática. Esse é o caso do trecho
“Essa realidade constitui um desafio a ser resolvido não somente pelos po-
deres públicos, mas também por toda a sociedade” (TAUMATURGO apud
CAMPOS, 2019, documento on-line). As expressões “não somente” e “mas
também” revelam um processo correlativo de adição, um tipo de estrutura
paralela comum nos textos dissertativos.
Observe ainda a expressão “essa realidade”: ela descreve a situação de proble-
mas oriundos do mundo virtual em apenas duas palavras. É comum nos textos
longos, principalmente nos argumentativos, o uso de descrições situacionais
como forma de retomar um termo anterior. Além disso, a própria descrição
revela o ponto de vista da autora: os problemas citados na frase anterior são o
que ela considera uma realidade. Portanto, o uso dessa expressão é uma escolha
de ordem sociocognitiva e mostra determinada percepção acerca da realidade.
De qualquer maneira, é visível que um dos pontos fortes da organização
do texto analisado é o uso de conectores. Ao longo dos parágrafos e dos
períodos, encontram-se elementos que orientam o interlocutor na direção
pretendida. Observe:
14 Texto e os fatores de textualidade I
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Veja que a frase “E agora, José?” é um recurso que une as pontas do texto:
do começo ao fim do poema, há uma indicação clara de que o tema do texto
é o que José pode fazer diante de algumas situações difíceis. A pergunta se
repete, mas as demais partes do texto progridem, alterando as circunstâncias
em que cabe o questionamento a José. Nos textos científicos, também é comum
que apareçam palavras repetidas. Veja:
ANDRADE, C. D. E agora, José? In: MARCELLO, C. Poema "E agora, José?" de Carlos Drum-
mond de Andrade. [S. l.: s. n.], 2019. Disponível em: https://www.culturagenial.com/
poema-e-agora-jose-carlos-drummond-de-andrade/. Acesso em: 14 nov. 2019.
ANTUNES, I. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola, 2005.
CAMPOS, L. V. Confira redações nota mil do Enem 2018. Brasil Escola, mar. 2019. Disponível
em: https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/enem/conheca-as-redacoes-nota-mil-
-enem-2018/345063.html. Acesso em: 14 nov. 2019.
COUTINHO, G. L. A era dos smartphones: um estudo exploratório sobre o uso dos
smartphones no Brasil. Monografia (Graduação) - Universidade de Brasília, Brasília,
2014. Disponível em: http://bdm.unb.br/bitstream/10483/9405/1/2014_GustavoLeu-
zingerCoutinho.pdf. Acesso em: 14 nov. 2019.
GONZÁLES, E. Alberto Fernández vence Macri e será o próximo presidente argentino.
El País, out. 2019. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/27/internacio-
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HALLIDAY, M. A. K.; HASAN, R. Cohesion in english. London: Longman, 1976.
KOCH, I. G. V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 2010.
KOCH, I. G. V.; TRAVAGLIA, L. C. Intencionalidade e aceitabilidade. In: KOCH, I. G. V.;
TRAVAGLIA, L. C. A coerência textual. 17. ed. São Paulo: Contexto, 2007.
NICOLA, J. Língua, literatura e produção de textos. São Paulo: Scipione, 2006. v. 1.
Texto e os fatores de textualidade I 17
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