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FACULDADE DE LETRAS
Disciplina: Diversidade Linguística e Direitos Humanos
Prof. Dra. Christiane Cunha de Oliveira
Discente: Ana Belén Vera
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O primeiro que a autora aponta sobre as teorias do linguista é para sua
radicalização, o que continua aprofundando as dicotomias já existentes e não deixa
espaço para a controvérsia.
A pesquisadora apresenta brevemente a lista em que Bagno desmitifica: a
unidade aparente do português brasileiro e sua dificuldade, que os brasileiros não
sabem falar sua língua materna e que é impossível aprendê-la sem estudar
sistematicamente a língua padrão; que é, por sua vez, considerada um instrumento
de ascensão social. Bagno adjudica todas estas falsas crenças à enraizada
dicotomia língua falada x escrita, produto do elitismo dos gramáticos normativos que
também elaboram os materiais didáticos. Nestes reproduzem preconceitos
linguísticos que na verdade encobrem relações de poder e prestígio vinculados a
fatores socioeconômicos.
A autora discorda em alguns pontos: diz, por exemplo, que a proposta de
Bagno de criar uma ortografia que seja emulação das práticas orais é impraticável,
pois não está levando em conta a artificialidade da escrita e os processos históricos
que levaram a que os morfemas cheguem a serem os grafemas que conhecemos
hoje. Além disso, seria impossível escolher um modelo de fala que guiasse a
ortografia sem cair de novo no desprezo da diversidade linguística que os dois
defendem.
Diante da crítica de Bagno ao ensino da gramática normativa nas escolas
baseadas na norma considerada padrão, Oliveira contrapõe outra definição de
gramática, como um conjunto de estratégias sistematizadas e acordadas por uma
comunidade linguística, que é preciso conhecer para possibilitar a comunicação.
Por último, a autora refuta a afirmação do linguista de que o conhecimento da
norma padrão não necessariamente é um instrumento de ascensão social. Ela
sustenta que de fato é uma ferramenta que possibilita o pleno exercício da cidadania
e a inserção social nas comunidades de maior prestígio.
A continuação a pesquisadora defende as mudanças que têm sido
implementadas nas políticas educativas nos últimos tempos, tanto no ensino
fundamental como no ensino médio, apontam para a necessidade de apropriação
das diferentes normas e gêneros textuais, levando em consideração a situação
comunicativa. Assim, contribuiriam para a valorização da diversidade. Diante desta
postura perguntamo-nos: será que estas mudanças na teoria estão atualmente
configurando um motor de transformação nas práticas educativas cotidianas? Será
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que os docentes estão recebendo a formação necessária para mudar o modelo
historicamente empregado?
Oliveira encerra o artigo apontando as repercussões destas políticas na
universidade, que têm realizado adaptações nas características do exame vestibular
para adequar-se a elas. Embora a autora reconheça que isto tem causado certo
estranhamento na comunidade educativa, por acreditar que incluir outras normas e
variedades implica necessariamente deixar de lado a norma padrão por completo,
acredita que seja uma questão de tempo até serem aceitas.
Este artigo contribui para a nossa pesquisa na medida em que define a noção de
preconceito linguístico e aponta o valor das variedades linguísticas (conceitos
teóricos fundamentais para nosso trabalho) de forma menos radical que o nosso
outro referente, Marcos Bagno, colocando outras vozes na discussão.
Resenha número 2:
"Poder e preconceito"
Carolina Cantarino
Retirado de http://www.labjor.unicamp.br/patrimonio/materia.php?id=217 em 2
de junho de 2014
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levar em consideração o contexto em que cada uma destas variedades se insere.
Nem todas as variações são estigmatizadas, já que aquelas que são empregadas
pelos grupos sociais prestigiados não sofrem condena alguma. Isto implica que o
preconceito linguístico encobre na verdade um preconceito de tipo econômico,
social, histórico, cultural de determinados grupos.
Os linguistas são acusados que buscar "corromper" a língua e sua opinião é
desrespeitada. Segundo Marcos Bagno, a Linguística não é considerada no seu
rigor científico, e prefere-se dar maior importância à opinião dos gramáticos
normativistas que oferecem fórmulas para combater a suposta ignorância dos
brasileiros a respeito de sua própria língua materna. A mídia e os gramáticos
reducionistas continuam assim disseminando mais preconceito.
A outra instituição que cumpriria esse papel é a escola. Segundo Bagno, as
ideias da Sociolinguística já foram, de fato, incluídas nas políticas educativas do
Ministério de Educação do Brasil. Porém, ainda não atingiram os cursos de
formação docente, pelo qual os professores estão despreparados para implementá-
las em sala de aula. O linguista acredita que a escola precisa atualizar-se com
urgência, começar a trabalhar a consciência sobre a diferença entre língua escrita e
língua falada e formar leitores em geral, já que a chamada norma culta não é só
gramática prescritiva. A leitura e a escrita possibilitam o contato do discente com a
norma-padrão e todas as outras variedades e gêneros textuais que circulam na
sociedade.
Por último, a valorização só da norma-padrão aumenta a distancia e as
diferenças hierárquicas entre docente e discentes. Cantarino exemplifica outro
caminho possível através da pesquisa da professora Ione de Silva Jovino sobre o
hip hop na escola. Esta manifestação artística forma parte do universo cultural dos
alunos e deveria ser aproveitado para facilitar seu acercamento à aprendizagem e
não fazer as diferenças maiores. A professora indagou sobre a opinião dos alunos a
respeito da escola e encontrou ideias muito positivas acerca dos valores atribuídos à
instituição como meio para conseguir ferramentas que permitam inserir-se no
mercado de trabalho e ter acesso a informação e conhecimento; igual que o hip hop.
Este artigo oferece uma visão muito interessante sobre por que cada
variedade diatópica e diastrática do português brasileiro deve ser considerada dentro
do seu contexto: é um produto histórico, que forma parte da identidade dessa
comunidade linguística e deve ser respeitada como tal. Além disso, apresenta
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argumentos e visões contundentes contra o preconceito linguístico e sua raiz no
preconceito social. Todos estes são pontos altamente relevantes para nossa
pesquisa.
Resenha número 3
"A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira"
Marcos Bagno
2003, Ed. Parábola, São Paulo. 8va edição (2010)
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realizados pela mesma elite acima mencionada para imitar os modelos europeus e
evitar a instalação duma norma que representasse com mais autenticidade a
idiossincrasia brasileira.
A continuação analisa a mudança linguística, que ocorre no português como
em qualquer outra língua do mundo e não pode ser impedida por decisões políticas.
Considera a existência de diferentes forças que agem sobre a língua: as centrífugas
e as centrípetas. As primeiras são as forças naturais que impulsionam a língua para
mudar. As segundas são as forças geradas desde as instituições exteriores ao
sistema, que com diversas intenções tentam deter os processos naturais de
evolução.
Tomando como base o livro da linguista Stella Maris Bortoni Ricardo, Bagno
define, analisa e oferece exemplos de traços graduais e traços descontínuos. Os
primeiros incluem variações da língua (a respeito da norma padrão) que são
observáveis em todos os grupos sociais, independentemente de variáveis como
formação, classe social, idade, sexo, etc. Estes traços, também presentes nos
grupos prestigiados, não são considerados "erros". No entanto, os traços
descontínuos são característicos de determinados grupos sociais estigmatizados.
Quando a ocorrência se da nestes casos, são alvo de condena por parte dos
“guardiões da gramática normativa.”
Marcos Bagno faz questão de chamar a atenção para a necessidade de os
linguistas assumirem um papel ativo na luta contra o preconceito linguístico, a partir
da visão de quem foi formado e têm elementos empíricos para defender a
diversidade linguística.
Por último, o autor se volta para a necessidade de gerar uma mudança
profunda no imaginário da sociedade sobre o idioma, e isto só é possível através da
educação. Argumenta que as gramáticas normativas empregadas como material
pedagógico só exacerbam o preconceito por oferecerem uma visão maniqueísta da
realidade linguística e não considerar a validade de toda variedade como produto
histórico e elemento de identidade de uma comunidade.
Este trabalho é de enorme utilidade para nossa pesquisa, pois fornece uma
visão muito clara e fundamentada sobre o preconceito linguístico, como surge, as
atitudes e ideias que de fato encobre e as implicações que tem na realidade
brasileira.
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Resenha número 4:
"Da escravidão às migrações: raça e etnicidade nas relações de trabalho no
Brasil"
Ricardo Nóbrega e Verônica Toste Daflon
Retirado de
http://www.academia.edu/541987/Da_escravidao_as_migracoes_raca_e_etnicid
ade_nas_relacoes_de_trabalho_no_Brasil em 6 de junho de 2014
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resistência dos escravos, cuja consciência sobre a sua própria realidade se
agudizou diante do ingresso dos primeiros trabalhadores imigrantes. A abolição,
então, teria sido uma formalidade que chegou quando o regime já estava acabado.
O racismo foi um dos fatores que levou à incorporação de trabalhadores
europeus. A elite dominante aspirava a um branqueamento da população brasileira,
como única via de progresso. Através de políticas públicas começa a estimular-se a
contratação de imigrantes brancos, que além de melhorar a genética do povo
brasileiro, trariam suas tecnologias avançadas e povoariam as regiões rurais.
Porém, suas técnicas se mostraram ineficientes para as condições tropicais e as
comunidades se isolaram, pelo qual também não houve tanta miscigenação como
era esperada. Os trabalhadores começaram a migrar para as áreas urbanas que
estavam começando a desenvolver-se e viraram operários industriais pobres.
Já na segunda República, diante da visão paternalista sobre os negros e o
fracasso da imigração europeia, o projeto de migração interna começa a ser posto
em prática, fundamentado em duas razões: os trabalhadores nordestinos são
considerados naturalmente resistentes e capazes de trabalhar e a mestiçagem
passa a ser o ideal da constituição dum autêntico "povo brasileiro".
Mas como os grupos detentores do poder precisam ter sempre um grupo que
represente a oposição em termos sociais, para eles poderem reafirmar
cotidianamente seu poderio, os trabalhadores nordestinos passam a ser alvo da
marginalização. Ficam por baixo dos trabalhadores brancos pobres por serem
mestiços e passam a ocupar seus lugares nos bairros pobres e posteriormente na
periferia das cidades. Esse estigma é observado até hoje. Os autores apresentam
pesquisas sobre a visão dos paulistas sobre os nordestinos, e os resultados são
alarmantes: os níveis de discriminação são altíssimos, os nordestinos são
associados ao crime e ao retrocesso social, considerados incultos e incapazes de
realizar qualquer atividade produtiva.
Este trabalho é fundamental para a nossa pesquisa, porque nos ajuda a entender
como foi constituído o imaginário sobre os nordestinos imperante até a atualidade, e
no qual se sustentam as práticas discriminatórias, entre elas o preconceito
linguístico.