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Novas abordagens ou concepções pedagógicas sobre a

Educação Física surgem a partir do final da década de 70


visando sua renovação teórico-prática, ou seja, a estruturação
do campo de conhecimentos que são específicos da área.
Dessa forma, surgiram disputas pela hegemonia no
pensamento pedagógico e científico da Educação Física, como
também, a construção de seu campo acadêmico, gerando uma
diversidade de abordagens norteadoras da Educação Física
brasileira.

Cada concepção trouxe sua contribuição para o processo de


transformação que passou e passa a Educação Física no país,
sendo que, isoladas, possuem limitações, mas em conjunto
abordam os elementos teóricos  essenciais vinculados ao
contexto sócio-educacional.

Darido (2003) aponta dez propostas educacionais da Educação


Física que surgem como tentativas de superação da visão mais
tecnicista, biologicista e esportivista do século passado, são
elas: desenvolvimentista; construtivista; crítico-superadora;
sistêmica; psicomotricidade; crítico-emancipatória; cultural;
saúde-renovada; Parâmetros Curriculares Nacionais; e jogos
cooperativos.
Sugestão de leitura: Capítulo 1 do livro Educação Física na
escola: questões e reflexões, da Suraya Darido.
 

Neste nível vamos abordar quatro abordagens dentre as


citadas pela autora, que são consideradas acríticas, ou seja,
possuem uma ação pedagógica que não considera a reflexão
dos conhecimentos por parte dos alunos. São elas:
desenvolvimentista, psicomotricidade, saúde-renovada e jogos
cooperativos.

A abordagem desenvolvimentista foi proposta por Go Tani e


Manoel de Jesus e é baseada nos princípios do crescimento e
desenvolvimento motor e da aprendizagem motora. Dessa
forma, o movimento constitui-se no principal meio e fim desta
concepção, sendo o conceito de habilidade motora
imprescindível para o seu entendimento. Pensada
especificamente para crianças de 04 a 14 anos, o professor de
educação física deve adequar os conteúdos à faixa etária dos
alunos, sendo que estes são desenvolvidos dentro de uma
ordem de habilidades: das mais simples às mais complexas.
Sendo assim, o principal objetivo da Educação Física, nesta
perspectiva, é oferecer experiências de movimento adequadas
ao nível de crescimento e desenvolvimento do indivíduo, a fim
de que a aprendizagem das habilidades motoras seja
alcançada.

Veja o vídeo abaixo e tente identificar qual seria o conteúdo


selecionado pelo professor.

http://www.youtube.com/watch?v=FcfLSRKwo6w
 

Podemos verificar que no vídeo o professor desenvolve


atividades que exploram as habilidades de locomoção como o
andar e correr, estabilização ao passar por determinados
obstáculos e manipulação com a bola.

Seguindo os pressupostos dessa abordagem, esses são os


conteúdos da aula de educação física, as habilidades motoras
básicas e também as habilidades motoras específicas
relacionadas às ações executadas nos jogos, ginásticas e
esportes por exemplo. A avaliação deve ser realizada mediante
a observação sistemática das habilidades motoras realizadas
pelos alunos para verificar a fase em que se encontram e
identificar erros. 

Darido (2003) faz uma crítica à abordagem pelo reducionismo


biológico de não considerar as implicações sociais da
educação física, ou seja, a influência que o meio exerce na
aprendizagem das habilidades motoras por parte das crianças.

Agora veja o próximo vídeo para identificar as características


da abordagem da psicomotricidade.

http://www.youtube.com/watch?v=E8AZ8CiVCFk
 

Para pensar: Quais são os conteúdos tratados por essa


abordagem de acordo com as atividades propostas no vídeo?
De que forma a professora explora esses conhecimentos?
A abordagem da pscicomotricidade foi o primeiro movimento
que surgiu (década de 1970) para contrapor à educação física
tradicional. Nela, há a valorização do processo de
desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor da criança,
utilizando as atividades lúdicas como impulsionadoras dos
processos de desenvolvimento e aprendizagem, valorizando as
aprendizagens significativas, espontâneas e exploratórias da
criança e de suas relações interpessoais.

Le Boulch (1986), que é o autor de base da psicomotricidade


voltada para a educação física, valoriza a consciência corporal,
lateralidade, noção espaço-temporal e a coordenação motora
como conteúdos a serem explorados, considerando estes
aspectos a base de todo o desenvolvimento da criança.

http://www.ufvjm.edu.br/site/revistamultidisciplinar/files/2011/09/
Considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-a-Psicomotricidade-na-
Educa%C3%A7%C3%A3o-Infantil.pdf

Já na abordagem da Saúde Renovada se considera a


educação física como meio de promoção da saúde e indicação
para um estilo de vida ativo, buscando criar nos alunos o gosto
pelo exercício e o conhecimento sobre fisiologia, biomecânica,
nutrição e anatomia, dessa forma, além da prática visa ensinar
conceitos como, saúde, frequência cardíaca, avaliações físicas,
dietas alimentares e lesões esportivas, principalmente no
ensino médio sugere que o objetivo da educação física é
ensinar os conceitos básicos da relação entre atividade física,
aptidão física e saúde.
 Nesta concepção procura-se dar enfoque sócio-cultural às
abordagens biológicas e critica as atividades esportivas
tradicionais enquanto promotoras de saúde. Assim, tira a
exclusividade do esporte nas aulas pela promoção da saúde
através da seleção, organização e desenvolvimento que
conduza a um estilo de vida saudável, buscando a
conscientização, sobretudo, da população escolar sobre os
benefícios da atividade física. Também preocupa-se com os
alunos que normalmente são excluídos das aulas: sedentários,
gordinhos, deficientes.

http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Abordagem-Sa
%C3%BAde-Renovada/695626.html
 

Apesar de encontrarmos pouco na literatura, a abordagem dos


Jogos Cooperativos também é considerada pela Darido (2008),
concepção que visa valorizar a cooperação em detrimento da
competição, já que a estrutura social que determina a essência
da sociedade e na sociedade em que vivemos se valoriza a
competição a todo o momento, assim, utiliza-se os jogos
cooperativos como uma força transformadora dessa situação.
Não se aprofundou nas análises sociológicas e filosóficas
voltados à construção de um modelo educacional voltado para
a cooperação e não considera os efeitos do sistema capitalista.

Veja o exemplo de atividades cooperativas desenvolvidas em


uma escola da rede pública:

http://www.youtube.com/watch?v=I7gkeTHnaDI
 

 Neste material inicial sobre as abordagens pedagógicas da


Educação Física estudamos as concepções consideradas
acríticas, sendo elas, Desenvolvimentista, Psicomotricidade,
Saúde Renovada e Jogos Cooperativos, cada uma com suas
especificidades.

Referências
 

DARIDO, S. C. Educação Física na escola: questões e


reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Abordagem-Sa
%C3%BAde-Renovada/695626.html
http://www.ufvjm.edu.br/site/revistamultidisciplinar/files/2011/09/
Considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-a-Psicomotricidade-na-
Educa%C3%A7%C3%A3o-Infantil.pdf
Continuando a pensar sobre as abordagens pedagógicas da
Educação Física, neste nível iremos começar a abordar as
concepções consideradas críticas ou progressistas:
construtivista, crítico-superadora e crítico-emancipatória.

A abordagem construtivista vem da educação e foi proposta por


Jean Piaget, já para a educação física, a literatura aponta o
professor João Batista Freire como seguidor dessa linha. Nela
se propõe a construção do conhecimento a partir da interação
do aluno com o mundo, respeitando seu universo cultural. Por
conta de o indivíduo ser o grande responsável pelos
aprendizados, existe a indefinição de qual conhecimento será
construído pelo sujeito em sua interação com o mundo.

Enfatiza como fundamental que as situações de ensino sejam


sempre interessantes para a criança, por isso considera o jogo
como o principal conteúdo e estratégia das aulas, assim tira a
especificidade da educação física quando coloca o movimento,
muitas vezes, como um instrumento facilitador da
aprendizagem de conteúdos cognitivos. Com relação a
avaliação, se defende que não deve ser punitiva, vinculada ao
processo e com ênfase no processo de auto-avaliação.  

 
 

Outro aspecto dessa concepção é a importância dos


professores considerar o conhecimento que o aluno leva para a
escola, em se tratando da área de educação física todas as
crianças possuem vivência anterior, por isso se propõe o
resgate da cultura de jogos e brincadeiras dos alunos como: as
brincadeiras de rua, os jogos com regras, as rodas cantadas e
outras atividades que compõem o universo cultural das
crianças.

Uma crítica realizada a abordagem está no fato de não ficar


esclarecido qual o conhecimento se deseja construir por meio
da prática da educação física escolar.

Assista o vídeo e observe como desenvolver uma prática


pedagógica construtivista.

 http://www.youtube.com/watch?v=cclgw2Iy6R0
 

No ano de 1992 o Coletivo de Autores, como ficou conhecido


os responsáveis por elaborar o livro Metodologia do Ensino da
Educação Física, passou a disseminar uma nova abordagem
para o trabalho do professor de educação física, a crítico-
superadora, que é baseada na ideologia marxista, a qual busca
a justiça social, ou seja, esta concepção alerta para o papel
que a educação física deve ter de promover mudanças sociais
e diminuir as desigualdades.
Nesse sentido, esta abordagem valoriza a contextualização dos
fatos e o resgate histórico de cada conteúdo que for ministrado
nas aulas, sendo que estes conteúdos devem ser selecionados
a partir dos critérios, relevância social, contemporaneidade e
características sócio-cognitivas dos alunos e ainda, que os
mesmos conteúdos sejam aprofundados ao longo dos anos de
escolarização.

Quais seriam os conhecimentos a serem ensinados então?


Observe as figuras abaixo e tente identificá-los.

 
 

Os autores apontam que a educação física deve tratar da


cultura corporal, por meio de temas como o jogo e a
brincadeira, a ginástica, o esporte, as lutas e as danças,
sempre confrontando os conhecimentos do senso comum com
o conhecimento científico.

A concepção é criticada por não apresentar propostas efetivas


que dêem elementos para o desenvolvimento de um trabalho
concreto (DARIDO, 2003).

Também com uma concepção crítica da educação física


encontramos a abordagem crítico-emancipatória, prosposta por
Elenor Kunz em seu livro “Transformações didático
pedagógicas do esporte”. A discussão é centrada no ensino
dos esportes e uma ampla reflexão sobre o mesmo, a
emancipação, que é entendida como um processo de
libertação de condições limitantes de sua capacidade racional e
crítica.

Há a defesa da instrumentalização do aluno com


conhecimentos que aliem sua prática com fatores sociais,
políticos, econômicos e culturais. E para desenvolver o
processo ensino e aprendizagem o autor propõe três etapas:

1. Investigação temática (realização dos movimentos);

2. Problematização e crítica (questionamento sobre o tema);


3. Reflexão-ação (compreender o mundo pela ação).

Dessa forma valoriza o mundo do aluno e a sua participação


nas decisões de ensino.

Discustimos nesse nível três abordagens da Educação Física


caracterizadas como progressistas, pois consideram o aluno
como parte do processo ensino aprendizagem, sendo crítico
em relação aos conteúdos explorados nas aulas.

Referências
 

DARIDO, S. C. Educação Física na escola: questões e


reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
http://www2.faesa.br/sicap/setores/setor344/arquivos/Texto
%20-%20Metodologias%20Emergentes.pdf
Dando continuidade ao nosso conteúdo abordagens
pedagógicas da Educação, trataremos agora de mais três
concepções críticas: Cultural, Sistêmica e Ensino Aberto.

Resultado das influências do campo da antropologia sobre a


educação física temos a abordagem cultural ou plural, na qual
o movimento é entendido enquanto manifestação da cultura
própria definida pela história do corpo e vivências individuais.
Jocimar Daólio ressalta que os professores precisam trabalhar
para que as diferenças entre os alunos sejam percebidas e
valorizadas dentro do grupo e então lhe permita compreender,
utilizar e transformar a cultura corporal.

Todo movimento ou técnica corporal é relacionado como


técnica cultural e, assim, a educação física não pode escolher
qual a técnica deve ser ensinada/aprendida, mas tem a tarefa
de oferecer uma base motora que permita ao aluno praticar tais
atividades de forma eficiente. Devemos entender que o que
torna os alunos iguais é sua capacidade de se expressarem de
formas diferentes.
 

Para saber mais leia o artigo:

http://www.efdeportes.com/efd95/pedagog.htm

A partir das ideias de Mauro Betti encontramos a abordagem


Sistêmica, que enxerga como principal fator que influencia as
atividades da área o meio social, assim entende a Educação
Física como um sistema hierárquico aberto porque é
influenciada pela sociedade como um todo assim como acaba
por influenciá-la também.

O objetivo da disciplina conforme essa concepção é introduzir o


aluno no mundo da cultura física, formando o cidadão que vai
usufruir, partilhar, produzir, reproduzir e transformar a cultura
da atividade física. Os conteúdos propostos não diferem das
demais abordagens, porém destaca a importância da vivência
prática, além do conhecimento cognitivo e da experiência
afetiva.

Procura conduzir o aluno na descoberta de motivos da prática


de suas atividades, favorecendo a vivência de atitudes
positivas em relação a atividade através de comportamentos
adquiridos.

São destacados dois princípios de trabalho:

1.      Não exclusão – nenhuma atividade deve excluir qualquer


aluno;
2.      Diversidade – proposta de atividades diferenciadas.

Considera a aprendizagem de conteúdos diversificados e de


atividades variadas  como alicerce para a aquisição da
cidadania na escola.

 Outra abordagem crítica é a Concepção de aulas abertas ou


Ensino Aberto que originou-se na Alemanha. Propõe  a
abertura e participação dos alunos no processo de ensino-
aprendizagem: objetivos, conteúdos, metodologia a avaliação.
Baseia-se nas experiências anteriores, no ensino por
descobertas, na elaboração de exercícios e organização de
aulas.

O espaço da aula serve para construir o conteúdo, assim os


métodos de ensino visam estimular  a ação dos alunos na
resolução de problemas e o professor torna-se um mediador
entre o aluno e o conhecimento, responsável pelo
desenvolvimento da aula. Dessa forma, fundamenta-se na
experiência de movimento do aluno, na sua história de vida e
na concepção de esporte e de movimento construído pela
sociedade ao longo da história e nas aulas de Educação Física.

Veja o quadro a seguir para visualizar melhor as características


dessa metodologia.

AULAS ABERTAS
Reiner Hildebrandt e Ralf

Principais autores Laging da Alemanha


Concepções

Livro abertas no ensino da Educação Física


Teoria Sociológica do

Interacionismo Simbólico / Teoria


Área de base Libertadora
Autores de base Mead/Blumer  / Paulo Freire
Trabalhar o mundo do Movimento,
visando

Finalidade autonomia para as capacidades de ação.


Temática principal/ O mundo do movimento e suas relações
com os outros e as coisas / temas
Conteúdos geradores.
 

Para revisarmos algumas metodologias discutidas neste


caminhos de aprendizagem sobre abordagens pedagógicas da
Educação Física, vamos assistir os dois vídeos abaixo que
apresenta a professora Suraya Darido destacando
características importantes sobre elas.

Parte 1: http://www.youtube.com/watch?v=wlSdK7lduD4

 
Parte 2: http://www.youtube.com/watch?v=MDfbXA5crFA

Assim encerramos nosso caminho ressaltando mais três


abordagens críticas da educação física: Cultural, Sistêmica e
Ensino Aberto. O que se torna importante é conseguirmos
identificar os pontos caracterizadores de cada concepção,
diferenciando uma da outra.

Referências

DARIDO, S. C. Educação Física na escola: questões e


reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

http://www.efdeportes.com/efd95/pedagog.htm

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