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RETOMA | EDUCAÇÃO LITERÁRIA

PORTUGUÊS

12.º ano

Eça de Queirós, Os Maias (integral)


Programa e Metas Curriculares de Português
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
4. Eça de Queirós Contextualização histórico-literária.

Os Maias (integral) A representação de espaços sociais e a crítica de


costumes.

Espaços e seu valor simbólico e emotivo.


A descrição do real e o papel das sensações.
Representações do sentimento e da paixão:
diversificação da intriga amorosa (Pedro da Maia,
Carlos da Maia e Ega).
Características trágicas dos protagonistas (Afonso
da Maia, Carlos da Maia e Maria Eduarda).
Linguagem, estilo e estrutura:
– o romance: pluralidade de ações; complexidade
do tempo, do espaço e dos protagonistas;
extensão;
– visão global da obra e estruturação: título e
subtítulo;
– recursos expressivos: a comparação, a ironia, a
metáfora, a personificação, a sinestesia e o uso
expressivo do adjetivo e do advérbio;
– reprodução do discurso no discurso.

Fontes:
Entre Nós e as Palavras – Português – 11.º ano, Santillana
Preparação para o Exame Nacional 2019 – Português – 12.º ano, Porto Editora 1
Reis, C. (1998), Introdução à Leitura d’ Os Maias, Almedina
I. Contextualização histórico-literária

A década de 50 do século XIX – desenvolvimento económico e estabilidade política.


• desenvolvimento das vias de comunicação iniciado por Fontes Pereira de Melo – política designada por
fontismo;
• algum progresso económico e estabilidade política (período da Regeneração);
• corrente literária em voga — Ultrarromantismo (António Feliciano de Castilho).

A Questão Coimbrã
• A publicação de um prefácio elogioso de António Castilho a um poema de Pinheiro Chagas, em 1865,
inclui uma crítica a um grupo de jovens de Coimbra, acusados de falta de bom senso e de bom gosto.
• Nesse grupo, inclui-se Antero de Quental, que responde a Castilho, num folhetim em que ataca o
Ultrarromantismo.
• As críticas mútuas em textos publicados acumulam-se. Castilho defende a arte pela arte e para Antero a
arte deve estar ao serviço das transformações sociais. Abre-se, com Antero, o caminho à introdução do
Realismo em Portugal.

A Geração de 70
• Vários jovens intelectuais, muitos deles estudantes em Coimbra, revoltaram-se contra a ordem
conservadora estabelecida, considerada retrógrada, questionando a literatura, a ideologia política e a
estrutura social. Entre esses jovens intelectuais incluem-se Eça de Queirós, Antero de Quental, Teófilo
Braga, Oliveira Martins, Guerra Junqueiro e outros.

As Conferências Democráticas do Casino


• organizadas por Antero de Quental em 1871;
• representam o arranque do Realismo em Portugal;
• agitam o marasmo do meio cultural lisboeta, abordando questões políticas, religiosas, artísticas e outras;
• o trabalho de Eça na quarta conferência lança as bases do Realismo português – «O Realismo como Nova
Expressão de Arte». O Realismo representa a «crítica do homem».

O Naturalismo
Trata-se de uma conceção filosófica que recusa explicações que transcendam as ciências naturais. Na
Literatura, analisam-se as circunstâncias sociais que envolvem cada personagem, procurando identificar
variáveis como a hereditariedade, a educação, o meio social ou as condições económicas para explicar o seu
comportamento.

O Realismo
Trata-se de um movimento artístico que surgiu em França e que se baseia numa filosofia que procura
representar de forma fidedigna a realidade exterior, liberta de reflexões intelectuais e de preconceitos. Por
influência do Naturalismo, incorpora a temática social, associada à análise psicológica.

Os Maias
Publicado em 1888, Os Maias, fruto do longo período de escrita — cerca de oito anos – afasta-se
progressivamente dos princípios realistas e naturalistas. Inicialmente, o meio, a educação e a
hereditariedade explicam a evolução e o comportamento das personagens. Contudo, o desenlace é marcado
por uma forte influência do destino.

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II. A representação de espaços sociais e a crítica de costumes

O subtítulo da obra – Episódios da vida romântica – sugere um retrato de uma sociedade com os seus defeitos
e vícios, dentro de uma estética do romance naturalista, abordando temas e episódios de carácter social. Desta
forma, as personagens são apresentadas como produto de fatores naturais — o meio, a hereditariedade, a educação,
etc. Pedro da Maia representa uma personagem caracterizada segundo este cânone. Um Romantismo decadente e
«torpe» conduz a uma vida de boémia, entre «lupanares e botequins» ou, em alternativa, à leitura de «Vidas de
santos». Uma educação tradicionalista e conservadora perturba-lhe o carácter, conduzindo a uma vida amorosa
frágil, um casamento instável e a uma vida tragicamente interrompida pelo suicídio. Herda de sua mãe, Maria
Eduarda Runa, o seu carácter e traços psicológicos.
N’ Os Maias, a educação apresenta dois paradigmas antagónicos. Um modelo de educação à portuguesa,
associada a uma visão católica do mundo, tradicionalista, que valoriza a memorização, o ensino do latim (uma língua
morta) e desvaloriza o desenvolvimento do corpo e o espírito crítico. Pedro da Maia e Eusebiozinho são o exemplo
deste modelo. Crianças nervosas e frágeis, evoluirão como adultos fracos, abúlicos e nervosos. Pedro suicidar-se-á e
Eusebiozinho envolver-se-á com prostitutas espanholas e mostrar-se-á submisso à violência da mulher. Um outro
modelo, a educação britânica, defende a cultura física, uma ética de respeito pelo outro e pela diferença. Carlos da
Maia representa este modelo. Apesar da tragédia que se abate sobre si e a sua família, sobrevive de forma digna,
fruto da educação que recebera.

Episódios representativos
• Jantar no Hotel Central (Cap. VI)
o jantar de homenagem de Ega ao banqueiro Cohen, marido de Raquel, que é amante de Ega;
o primeira vez que Carlos vê Maria Eduarda, à entrada para o hotel;
o estreia de Carlos na elite social lisboeta;
o debatem-se as finanças públicas e a necessidade de reformas;
o contenda literária entre Ega, defensor do Naturalismo, e Alencar, poeta ultrarromântico, que
descamba num ataque pessoal, sublinhando a pouca credibilidade da crítica literária em Portugal.

• Corridas de cavalos (Cap. X)


o Carlos assiste ao evento, na expectativa de ver Maria Eduarda;
o caricatura da sociedade lisboeta, que se procura mostrar cosmopolita, promovendo um evento
que não tem tradição em Portugal;
o Carlos e Craft destacam-se pelo seu à vontade, fruto das suas vivências no estrangeiro;
o Dâmaso destaca-se pelo ridículo, no novo-riquismo do vestuário e nas atitudes;
o a sociedade lisboeta não consegue mostrar-se civilizada e cosmopolita.

• Jantar dos Gouvarinho (Cap. XII)


o oferecido pelo Conde de Gouvarinho a Carlos, num momento em que este já se mostrava
desinteressado do caso amoroso que mantinha com a Condessa de Gouvarinho;
o estreiteza dos pontos de vista do conde e ignorância e estupidez de Sousa Neto;
o incompetência dos políticos.

• Jornais Corneta do Diabo e A Tarde (Cap. XV)


o o jornalismo sem ética – suborno por interesses económicos;
o o gosto por temas polémicos e sensacionalistas.

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• Sarau no Teatro da Trindade (Cap. XVI)
o Carlos assiste por obrigação social;
o o Sr. Guimarães entrega a Ega a caixa com as revelações sobre o parentesco entre Carlos e Maria
Eduarda;
o caricatura da sociedade portuguesa: o gosto pela retórica oca; ausência da família real num
evento de beneficência; a incapacidade de apreciar o verdadeiro talento, protagonizado por
Cruges.

• Passeio final de Carlos e Ega (Cap. XVIII)


o Após dez anos de ausência no país, o episódio revela:
§ o imobilismo de Lisboa, como representação do país;
§ o provincianismo da sociedade;
§ a resignação dos dois amigos ao seu fracasso;
§ a imitação do estrangeiro;
§ a incapacidade de terminar os grandes projetos (como a Avenida);
§ a decadência dos valores.

Outros episódios representativos: os serões no Ramalhete, o chá dos Gouvarinho, as conversas ocasionais.

Representatividade social das personagens

Afonso – português austero, símbolo de virtudes e de uma moral de outrora;


Pedro – exemplo de uma educação romântica portuguesa, sentimental e beata, com tendência para um
comportamento neurótico;
Alencar – poeta ultrarromântico, idealista. É a única personagem que temporalmente atravessa toda a obra;
Cohen – financeiro sem escrúpulos;
Conde de Gouvarinho – político incompetente, ministro e par do reino;
Sousa Neto – representante da administração pública, incompetente e inculto;
Eusebiozinho – exemplo de uma educação romântica portuguesa, retrógrada e deformadora do caráter;
Dâmaso – português vulgar, de um estrato social privilegiado, repleto de defeitos de caráter;
Ega – incoerente nas suas posições, demagogo, vítima de um meio que contesta;
Carlos – português com uma educação esmerada, com gosto pelo requinte, distanciando-se da mediocridade
do meio social em que se insere. Vítima de um diletantismo e de uma ociosidade que o levam a desistir dos
seus projetos de vida;
Cruges – intelectual incompreendido e marginalizado;
Steinbroken – político que não se compromete;
Craft – inglês rico e boémio, distancia-se dos hábitos lisboetas;
Palma Cavalão e Neves – jornalistas corruptos e sem escrúpulos.

João Abel Manta,


As personagens de Eça, c. 1950

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III. Espaços e seu valor simbólico e emotivo

• Lisboa – espaço mais significativo na obra. As suas ruas e praças adquirem uma preponderância fundamental
na narrativa, constituindo como que um cenário onde as personagens se movimentam.
• Santa Olávia – quinta no Douro onde Afonso da Maia se refugia após o suicídio do filho. É um espaço próximo
da natureza, onde Carlos cresce e é educado.
• Coimbra – símbolo de boémia estudantil, é o espaço de formação académica de Carlos.
• Sintra – vila onde Carlos, Cruges e Alencar passeiam, no capítulo VIII. Local de refúgio da sociedade lisboeta.

Espaços físicos interiores


Os espaços físicos interiores representam, frequentemente, um prolongamento do carácter das
personagens, estando, também, revestidos de um importante carácter simbólico.
• o Ramalhete – a descrição inicial depois das obras de recuperação é reveladora do bom gosto e do
diletantismo de Carlos. O jardim, com as estátuas e a cascata de água acompanham o apogeu e o declínio da
família Maia.
• o consultório de Carlos – revela a superficialidade do caráter de Carlos, a sua personalidade frívola e pouco
persistente.
• A «Toca» – o local onde Carlos e Maria Eduarda têm os seus encontros amorosos. Evidencia um gosto
requintado e até exótico, representativo de uma paixão marginal proibida pela moral. O quadro de Vénus e
Marte (duas divindades que são meios-irmãos), no quarto, a coruja empalhada ou o painel tétrico simbolizam
o final trágico daquela paixão.

IV. A descrição do real e o papel das sensações

A descrição é um modo de representação do discurso que é frequente, na obra. O impressionismo literário


valoriza a cor, a luz, os contornos, e os efeitos de observação do real. As sensações que a observação do real
provocam são evidentes, através de um visualismo cromático, com recurso, por vezes, à sinestesia, na associação de
duas ou mais sensações de órgãos dos sentidos diferentes: «uma luz macia, escorregando docemente do azul-ferrete,
vinha dourar as fachadas enxovalhadas». Os adjetivos, os advérbios e as formas verbais do gerúndio contribuem para
a descrição de pormenores quer nos ambientes, quer nas personagens. Destacam-se a descrição do Ramalhete, na
fase de opulência e de decadência, a vista do Tejo a partir do Ramalhete, aspetos de Sintra e da cidade de Lisboa.

V. Representações do sentimento e da paixão: diversificação da intriga amorosa (Pedro da Maia, Carlos


da Maia e Ega)

Todos os elementos da família Maia são negativamente marcados pela paixão. Pedro da Maia viverá um
amor arrebatador com Maria Monforte, obsessivo e fatal. Este sentimento será o mesmo que se evidenciará na
relação incestuosa entre Carlos e Maria Eduarda. Carlos revela um caráter questionável no que respeita aos seus
relacionamentos amorosos. Em Coimbra, enquanto estudante, envolve-se com uma mulher casada – Hermengarda
– e com uma espanhola. Em Lisboa, mantém uma relação adúltera com a Condessa de Gouvarinho, de quem se
desinteressa rapidamente. Ao ver Maria Eduarda, apaixona-se de forma impulsiva, apesar desta estar a acompanhar
Castro Gomes.
Ega mantém, também, uma relação adúltera com Raquel Cohen, mulher do banqueiro, que se envolverá com
o Dâmaso, depois de Ega ter sido escorraçado pelo marido de Raquel.

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Toda a intriga amorosa é marcada pelo adultério, traição e pelos amores tempestuosos e, no caso de Carlos,
incestuosos.

VI. Características trágicas dos protagonistas (Afonso da Maia, Carlos da Maia e Maria Eduarda)

A ação central configura-se numa típica estrutura de tragédia. Verifica-se a presença de um destino inelutável
que se abate sobre as personagens, sobre a família Maia. Outros elementos que aproximam a obra de uma tragédia
clássica são:
• a superioridade física e intelectual das personagens – Afonso, Carlos e Maria Eduarda destacam-se pelas suas
qualidades;
• o papel do destino, da fatalidade, como força que move a ação – a destruição ocorre por força da ação de
um agente dissimulado, aludido, por vezes, ao longo da narrativa, cuja ação é inevitável;
• os indícios e os presságios – os sinais que se revestem de aparências diversas, tornando-se de difícil
identificação e reconhecimento por parte das personagens:
o a alusão a uma lenda sobre a fatalidade dos Maias, por parte de Vilaça;
o as semelhanças físicas entre Carlos e a mãe, reconhecidas por Maria Eduarda;
o o reconhecimento por parte de Ega, de que a sua inconstância sentimental terá consequências;
o a visão de «tabernáculo profanado» da alcova onde se consumam os amores entre Carlos e Maria
Eduarda.
• aspetos estruturais trágicos:
o o desafio – os amores entre Carlos e Maria Eduarda constituem um desafio à ordem moral
estabelecida;
o a peripécia – as alterações súbitas de acontecimentos, a passagem brusca da felicidade para a
desgraça, as revelações inesperadas do Sr. Guimarães a Ega;
o o reconhecimento – Ega, Carlos e Afonso conhecem as revelações, que têm origem no Sr. Guimarães;
o a catástrofe – a morte das personagens: física, no caso de Afonso, do amor, para Carlos e Maria
Eduarda; social para a família Maia;
o a temática do incesto – o amor entre dois irmãos: conhecem-se à amam-se à reconhecem-se à
separam-se.

VII. Linguagem, estilo e estrutura

• O romance: pluralidade de ações

o Estrutura da intriga central


A intriga central – os amores incestuosos entre Carlos e Maria Eduarda – apresenta uma estrutura
tripartida: antecedentes da ação, ação principal (amores e desfecho trágico) e epílogo.
– antecedentes da intriga central – introdução e preparação da ação (Cap. I a IV):
o chegada da família a Lisboa; descrição e antecedentes do Ramalhete, casa da família Maia, no outono
de 1875;
o analepse, que tem como função contextualizar os antecedentes da família e a presença de Carlos, em
Lisboa, em 1875:
§ juventude de Afonso e seu exílio em Inglaterra;
§ vida de Pedro – infância, juventude, relação e casamento com Maria Monforte, suicídio (intriga
secundária);

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§ infância de Carlos – juventude e vida académica em Coimbra – formação; longa viagem pela Europa
(intriga principal).

Neste momento da intriga, o ritmo é rápido, os acontecimentos sucedem-se de forma rápida, aproximando-
se da narrativa de uma novela, percorrendo-se cerca de 55 anos (1821 a 1875).

– intriga principal (Cap. IV a XVII):


Esta segunda parte estende-se ao longo de catorze meses, desde o outono de 1875 à morte de Afonso, no
final de 1876 e partida de Carlos e Ega na sua viagem de volta ao mundo, no início de 1877. O ritmo é lento, próprio
da narrativa de um romance.

– epílogo (Cap. XVIII):


Viagem de Carlos e Ega – janeiro de 1887 a 1878, Carlos em Sevilha em 1886 e reencontro de Carlos e Ega
em janeiro de 1887. O ritmo inicial é retomado, fazendo-se a narração de dez anos através de elipses e resumos. O
passeio final, no capítulo XVIII retoma o ritmo narrativo da segunda parte.

A crónica de costumes, através dos seus múltiplos episódios, constitui uma pluralidade de ações que ocorrem
em alternância com a intriga principal. À medida que a intriga principal avança, os episódios da crónica de costumes
vão perdendo significância.

• A complexidade do tempo

Os Maias abarcam um período de cerca de setenta anos – 1820 a 1887. Desses, apenas catorze meses são
objeto de uma atenção diferenciada – outono de 1875 a janeiro de 1877. O Ramalhete e Afonso da Maia são
apresentados em 1875, depois faz-se uma analepse até 1820 para resumir a história da família. Finalmente,
regressa-se a 1875, para a narração da intriga central. As duas importantes analepses são a inicial e a
referente ao passado de Maria Eduarda. A complexidade do tempo resulta de resumos ou sumários e ainda
de elipses ou omissões. O tempo histórico percorre os principais momentos do século XIX português. Com
Afonso da Maia, evoca-se o advento do liberalismo. Com Pedro da Maia, o Ultrarromantismo. Finalmente,
com Carlos da Maia, evoca-se um país após a Regeneração, sem identidade e sem projetos, consequência de
uma mentalidade romântica.

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• A complexidade do espaço

O espaço define o pano de fundo que serve de cenário à ação. A referência a espaços físicos, n’ Os Maias
adquire uma dupla função:
– é uma forma de ancoragem da ação, contribuindo, a par das referências históricas, para um efeito de
verosimilhança;
– assume uma dimensão simbólica, indo contra o paradigma naturalista.

• A complexidade dos protagonistas

Afonso da Maia – suporte da família Maia em quem todos se refugiam nos momentos de crise. É ele quem
toma conta de Carlos, quando Maria Monforte foge. É a ele quem Carlos recorre para desmentir as
revelações de Guimarães. Afonso simboliza o Portugal liberal de 1820. Encarna a ideia da figura paternal,
protetora, com bom senso, experiência, patriotismo e segurança pelos valores que representa e pela
coerência. Sobrevive à tragédia do filho mas sucumbe perante a do neto.

Carlos da Maia – figura central na obra. O leitor acompanha a sua existência desde a sua formação em Santa
Olávia até ao passeio final, símbolo do desencanto e desalento. Em Coimbra, experiencia uma vida de boémia
e, em Lisboa, mergulha no ócio e na indolência, numa atitude diletante e superficial, perante uma sociedade
que o admira e que ele frequenta. Vive obcecadamente uma paixão por Maria Eduarda e não evita o falhanço
de todos os seus projetos, perante um meio social que o impele para o conforto da preguiça e da frivolidade.
Apesar da sua educação, o meio e a hereditariedade revelar-se-ão fatais para Carlos. Contudo, ao contrário
do pai, não se suicida, superando a tragédia em que se viu cair.

Maria Eduarda – o narrador apresenta a personagem como se estivesse num plano superior ao da
humanidade – um ser superior, que se destaca claramente no seio das mulheres lisboetas. É fisicamente
distinta do protótipo de figura feminina portuguesa – alta, loura, elegante e sofisticada, profundamente
sedutora e sensual. A sua paixão por Carlos torna-se inevitável, dada a proximidade no estilo e a
complementaridade que ambos representam. A sua cultura fascina Carlos e o seu círculo social. Representa
a heroína romântica, perseguida pelo destino, mas que encontra um sentido para a vida no amor, ainda que
apenas por breves instantes.

• Visão global da obra e estruturação – título e subtítulo – A ação do romance baseia-se na história de três
gerações da família Maia – Afonso, Pedro e Carlos – inserida na sociedade portuguesa e especificamente
lisboeta de grande parte do século XIX. O autor define a estrutura da obra, ao destacar o subtítulo – Episódios
da vida romântica. Há, assim, dois níveis narrativos:
o Título – Os Maias – história de uma família ao longo de três gerações. Nela se inclui a intriga
secundária que se insere na intriga principal como uma analepse, que, por seu turno, se constrói
como uma ação fechada.
o Subtítulo – Episódios da vida romântica – episódios narrativos, construídos numa ação aberta, que
caracterizam um estilo de vida romântico, criticando-se os costumes da sociedade lisboeta, em
particular a alta aristocracia e a alta burguesia da década de 70 do século XIX, através da conceção
de ambientes e do comportamento de personagens-tipo.

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• Recursos expressivos
o A comparação – contribui para a descrição de paisagens ou de personagens – «o cipreste e o cedro
envelheciam juntos, como dois amigos num ermo»;
o A ironia – recurso expressivo caracterizador de Eça, destaca as incongruências das personagens ou
contribui para um efeito sátiro de crítica social – «Ega foi generoso» (referência a uma atitude de Ega
em que obrigou Dâmaso a admitir que era um alcoólatra);
o A metáfora – contribui para a descrição de paisagens ou de personagens com intenção crítica ou não
– «um canteirinho de camélias meladas» – referindo-se às senhoras que assistiam à corrida no
hipódromo;
o A personificação – normalmente ao serviço da descrição da natureza – «a curta paisagem do
Ramalhete [...] tomava naquele fim de tarde um tom mais pensativo e triste»;
o A sinestesia – explicitando para uma mistura de sensações, na descrição de espaços – «E por toda a
parte o luminoso ar de abril punha a doçura do seu veludo»;
o O uso expressivo do adjetivo – «um recitativo lento e babujado»; «peles [...] murchas, gastas, moles»;
o O uso expressivo do advérbio – atribui valores inesperados à narração ou à descrição – «apelava
desesperadamente», «estais ambos insensivelmente, irresistivelmente, fatalmente, marchando um
para o outro», «corria o prantozinho da cascata esfiado saudosamente».

• Reprodução do discurso no discurso


• Discurso direto – reproduz as características da oralidade – as pausas, as interjeições. Pode
apresentar verbos introdutores de relato do discurso. Assinalado por aspas ou dois pontos, parágrafo
e travessão:
«O próprio Carlos disse, muito sério:
— Não senhor... ninguém há de fugir, e há de se morrer bem.»

• Discurso indireto – reproduz, com alterações, o discurso original. Implica a utilização da terceira
pessoa gramatical e alterações nos tempos e modos verbais. É marcado por verbos declarativos
(dizer, afirmar, perguntar, etc.) e pela recorrência de orações subordinadas substantivas
completivas:
«Cohen interveio, declarou que o soldado português era valente, à maneira dos turcos.»

• Discurso indireto livre – Reproduz o discurso, combinando as palavras do narrador com as do locutor
ou personagem, sem a presença de verbos introdutores de relato do discurso, mantendo as marcas
do discurso oral:
«O Brown tinha achado uma corujazinha pequena! Queria que o vovô viesse ver, andara a
buscá-lo por toda a casa... Era de morrer a rir... Muito pequena, muito feia, toda pelada, e com dois
olhos de gente grande! E sabiam onde havia o ninho...»

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OS MAIAS EM EXAME
734 | 2014 | 1.ª Fase

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Português A | 2007 | 1.ª Fase

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