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Em quê Devemos obedecer e Guardar

João 14: 21-24


Chamados a Conservar a Unidade do Espírito
Texto Básico: Efésios 4.1-3

Leitura: “Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito pelo


vínculo da paz”. (Efésios 4.3)

Na carta aos Efésios Paulo apresenta a vida cristã em duas perspectivas:


uma que se refere a doutrina e outra que se refere a prática desta doutrina.
Nos capítulos 1 a 3, Paulo enfocou doutrinariamente a salvação,
focalizando a Igreja como sendo parte deste propósito. Já nos três últimos
capítulos 4 a 6, a ênfase do apóstolo é essencialmente na prática,
individual e coletiva a ser vivida no contexto cristão.

Paulo começa o capítulo 4 com um apelo aos seus leitores, para que vivam
de tal modo que o mundo reconheça que eles são verdadeiros filhos de
Deus. O preço da nossa salvação foi altíssimo, por isso importa que vivamos
de modo digno do privilégio recebido. O termo “digno” dá a idéia de
“igual peso” ou “equilíbrio”.

Portanto, com a palavra “digno”, de Efésios 4.1, o apóstolo ensina que


deve haver um equilíbrio entre doutrina e prática. Em outras palavras, não
podemos pôr todo peso para o lado da doutrina e só um pouco para a
prática ou vice-versa.

Uma imagem perfeita para entendermos este conceito são os dois pratos
da balança, onde o equilíbrio é fundamental para que haja justiça. Paulo
explica este conceito em Tito 2.10, quando diz que uma vida que
“encarna” o Evangelho diariamente “orna a doutrina”. A doutrina é o
fundamento, a nossa vida é o ornamento. Por isso, zele ao máximo para
que as coisas que estão “decorando” a sua vida e igreja sejam apropriadas
e coerentes com a verdade do Evangelho.

E mais: a palavra “Espírito”, de Efésios 4.3, tem o “E” maiúsculo, pois se refere
ao Espírito Santo! Isto significa que a igreja não é uma unidade produzida
pelas tradições denominacionais, que às vezes são inteiramente humanas.
O que interessa ao Corpo de Cristo é a unidade gerada pelo Espírito Santo.
Se o Espírito Santo não estiver em nós, não podemos experimentar a
unidade espiritual nem desenvolver o vínculo da paz.

O texto de Efésios 4.3 nos mostra as duas dimensões da unidade e da paz.


Primeiramente, a paz com Deus é mantida ao andar de modo digno da
soberana vocação (chamados para ser filhos de Deus Fil 3.14), que é viver
como filhos de Deus. Em segundo lugar, a paz com os irmãos depende de
andar com toda humildade, mansidão, longanimidade, suportando uns aos
outros em amor. Somado a isso tudo é necessário um esforço consciente
em manter a unidade do Espírito e o vínculo da paz.

Convém ressaltar, também, duas palavrinhas chaves que aparecem nos


versículos 1 e 3, de Efésios 4, cujo conteúdo prático é muito significativo no
tocante a busca da unidade:

A primeira palavra “vivam” ou como traz a Edição Revista e Atualizada


“andeis” é usada oito vezes em Efésios e significa “andar ao redor” ou
“transportar a si próprio”.

Por meio deste termo a vida cristã é descrita como sendo uma atividade,
movimento e progresso, indicando que a vida cristã é um mundo onde há
sempre novas coisas para descobrir e experiências para desfrutar.

A segunda palavra “procurando” ou como traz a Edição Revista e


Atualizada “façam todo esforço” ensina que todo cristão deve ser diligente
(“esforçar-se”) para manter a unidade do Espírito. Isto significa que
devemos nos apressar a fazer alguma coisa, a mostrar grande interesse
para ver a unidade acontecer, não permitindo que as obras da carne, que
dividem e despedaçam, predominem em nossos relacionamentos.

A palavra “conservar” significa “defender”, “guardar”, “reter”. Isto revela


que não temos que criar a unidade, ela já existe para aqueles que
receberam Jesus Salvador e Senhor. Note, Paulo está escrevendo a pessoas
que haviam crido no Evangelho; por conta disto, passaram a fazer parte do
Corpo de Cristo. Qual era o desafio para eles agora?

Não permitir que coisa alguma interfira na unidade do Espírito que já está
estabelecida. Eles eram responsáveis, diante de Deus, para preservar,
manter e defender a unidade do Espírito.
A dignidade da vida cristã implica em vivermos a unidade do Espírito,
equilibrar a conduta com a Palavra de Deus e ter “peso-igual”. Esta é a
base para nos “esforçar”, ser diligentes e investir tempo e energia para
vermos a unidade como realidade em nossos relacionamentos e projetos, a
fim de que passemos no teste da verdadeira conversão.

I. A Natureza da Verdadeira Unidade

Os dois versículos bíblicos frequentemente mais citados são João 17.21 e


Efésios 4.13. Muitas vezes são utilizados como lemas ou declarações no
contexto da unidade. À luz destes textos, surge uma pergunta: qual é a
natureza da verdadeira unidade? Certamente que esta pergunta não
pode ser dirigida com o simples argumento de que com o trabalhar ou o
orar juntos chagaremos à unidade.

Primeiro a doutrina, depois a comunhão! Quando a Bíblia trata do tema


unidade, não se refere a amizade ou comunhão, nem tão pouco diz
respeito apenas em termos objetivos comuns. Qualquer prática que pare
nesse nível, torna o ensino da unidade algo superficial e vago. Antes,
porém, precisamos entender claramente a sã doutrina. Pois a conduta é
sempre resultado dela. Ou seja: o comportamento cristão é subproduto da
aplicação da verdade e do ensino já estabelecido. É por isto que Paulo
começa o tema da unidade, em Efésios 4, à luz do que abordara nos três
capítulos anteriores “Como prisioneiro de Cristo, rogo-lhes que vivam de
maneira digna da vocação que receberam”.

Não se pode ter unidade na igreja a menos que seja alicerçada na


doutrina bíblica. É absolutamente errado começar com a comunhão para
só depois entrar em consenso em relação a verdade. Fazer esta inversão
traz grandes prejuízos.
A unidade espiritual não é mecânica. É algo orgânico e vital, que flui de
dentro para fora do cristão, pelo Espírito Santo. Nesta perspectiva,
precisamos do Espírito Santo tanto para gerar em nós a unidade como para
nos levar a experimentá-la ou colocá-la em prática. Portanto, é
imprescindível que o Espírito Santo esteja operando em nós, do contrário
não experimentaremos a verdadeira unidade.

Ou seja: o Espírito Santo tem que habitar em mim e em você. Ambos temos
que reconhecer a unidade do Espírito um no outro. A lógica é simples: se o
Espírito Santo não habitar em mim, não poderei ter unidade espiritual com
alguém em quem habita o Espírito de Deus. Só existe unidade onde há o
domínio do Espírito Santo em todos.

O propósito de Deus sempre foi de unificar o Seu povo. Temos nos


esforçado para este propósito divino estar expresso no que somos e
fazemos?

II. A Questão do Vínculo da Paz

Na língua grega a palavra para “paz” eirene, geralmente traduzia a


essência dos relacionamentos saudáveis entre dois ou mais indivíduos. O
empenho de pastores, educadores e cristãos em geral, para manter e
defender a unidade do Espírito, deve fundamentar-se no “vínculo da paz”.
O termo “vínculo” significa “atado”. A unidade do Espírito está entrelaçada
com a paz, como fruto do Espírito. Na prática, a paz de Cristo deve atuar
como uma corda que amarra nossos corações e unifica nossas vidas em
torno da Pessoa de Jesus, que é o centro de tudo.

Se concordarmos com o apóstolo Paulo de que a unidade do Espírito é a


unidade da Igreja, a paz de Cristo deveria ser o elo que nos une, mas, hoje
em dia, em alguns contextos, não é isto que se vê. Ora, se não existe a
marca da “unidade do Espírito pelo vínculo da paz”, estamos divorciados
de Cristo, pois a unidade é espiritual e deve se manifestar na igreja, através
dos relacionamentos de seus membros.

A paz, como fruto do Espírito, é o oposto de ódio, contenda e dissensões.


“Paz é o espírito de uma pessoa estar tão embebido da presença do
Espírito de Deus, que ela não se irrita com facilidade. Não é uma pessoa
suscetível. Não se exaspera. Não é facilmente ferido. (…) É uma atitude de
serenidade, calma e força, uma atitude positiva, que reage ao ataque de
outrem com bom ânimo, tranquilidade e grande quietude de espírito”.

O que estamos realizando no Reino de Deus está “atado” a paz de Cristo?


Se a resposta é não, nosso primeiro passo deveria procurar promover a paz
entre nós. Isto implica em refazer relações quebradas, pois fora da
realidade da paz não existe possibilidade de manter a unidade.

É saudável conviver em um ambiente pacificador. Onde a paz de Cristo é


o árbitro nos corações. Jesus disse: “Bem-aventurado os pacificadores”.
Você é um pacificador? Você é um bem-aventurado?

A marca fundamental do viver cristão é a unidade do Espírito pelo vínculo


da paz! Para vivermos isto temos que superar nossa tendência de ficar
distantes emocionalmente uns dos outros. Quando este afastamento é
“intencional”, feito em detrimento da unidade, é no mínimo nefasto! Pois a
regra para viver como Corpo de cristo exige nosso esforço para manter a
unidade. O que pode fazer um povo dividido e desunido?

Portanto, estar junto não significa necessariamente estar unido. Podemos


estar reunidos numa assembleia, mas “divorciados” nas ideias e nos
propósitos comuns. Sabemos que a unidade doutrinária é um dos
elementos que contribuem para a unidade da Igreja. Porém não basta
mantermos a unidade doutrinária nos pontos vitais da fé, sem, contudo,
estar dispostos a buscar o consenso, declinando quando necessário, de
nossas preferências e opiniões pessoais, em favor da harmonia entre nós.

III. Como Manter a Unidade do Espírito

Em Efésios 4.2, a Bíblia descreve três palavras que estabelecem o alicerce


das nossas relações uns com os outros, no contexto de mantermos a
unidade do Espírito:

“Sejam completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando


uns aos outros com amor”.

Primeiramente, temos que ser modestos na opinião sobre nós mesmos:


“sejam completamente humildes”. Ser humilde é ser despojado de si
mesmo, como fez Jesus, pois “a si mesmo se esvaziou” e “a si mesmo se
humilhou”.

Humildade é não buscar glória pessoal. Como disse João Crisóstomo:


“Nada se presta tanto para dividir a Igreja do que o amor pelo poder”.

A humildade se contrapõe ao orgulho e ao individualismo. A pessoa


humilde de coração repudia o orgulho e o egoísmo. Ninguém consegue
manter a unidade com presunção e orgulho.

Em segundo lugar, temos que ser brandos e gentis no trato uns com os
outros: “sejam completamente… dóceis”. Em outra tradução a palavra
“dóceis” é “mansidão”. Este termo tanto se refere a atitude de alguém
para com a Palavra de Deus (Tg 1.21), como para com seu semelhante (1
Cor 4.21).

Ser manso é o mesmo que ter prontidão interior para sofrer o “mal” sem
devolver na mesma moeda ou retaliação. A mansidão não pode ser
confundida com uma atitude covarde.

O inverso da mansidão é a exasperação. A verdadeira mansidão não


discute, nem teima, mas age com brandura nas horas de conflitos. Ser
manso é ter consideração por outra pessoa e ser cortês com ela. Esta é a
principal qualidade para que a unidade seja mantida entre nós.

Em terceiro e último lugar, temos que manter o domínio próprio diante da


imaturidade do outro: “sejam pacientes” – agir com equilíbrio nos
momentos difíceis, sem atitude de vingança ou revide. Ser paciente é ser
longânimo. É não ter pressa para provar que você está certo e que o outro
está errado. É ter que “suportar” as fraquezas uns dos outros, com um
espírito altruísta, para viver a unidade.

Quando a longanimidade é atribuída a Deus, se refere à Sua qualidade de


tolerar os pecados dos homens, sem explodir em ira que fatalmente os
destruiria. Da mesma forma precisamos refletir longanimidade com os
nossos irmãos ao tratar com suas fragilidades ou provocações.

“Suportando uns aos outros em amor”, é o resultado da prática destas três


habilidades espirituais. “Suportar” vai além da paciência conformada ante
a impossibilidade de transformar o comportamento de alguém, ou situação
pela qual passamos. Esta palavra se refere mais objetivamente ao “levar as
cargas uns dos outros”. Ou seja, compartilhar a esperança com aquele que
a perdeu. É a disposição altruísta que deseja para os outros aquilo que se
quer para si próprio. Como o próprio versículo 2 afirma, esta qualidade só
pode ser evidenciada por meio da operação do amor de Deus em nós.

A prática destas três virtudes fortalece a unidade da igreja. Elas são chaves
para vivermos em paz uns com os outros, preservando a unidade do
Espírito.
Aplicação Pessoal
– Que obstáculos para “conservar a unidade” são evidentes na igreja hoje?

– Quais as consequências, para uma igreja local, se esses obstáculos não


forem removidos?

– O que você pretende fazer, especificamente, para colaborar com sua


igreja na superação desses obstáculos?

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