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2.

Breve aparato conceitual


2.1 O que é cultura?
Tendo em vista que este trabalho aborda uma temática cultural, o iniciaremos com
uma breve contextualização sobre o conceito de cultura. É importante ressaltar, desde já, que
existem diferentes interpretações sobre o termo, pois não há um consenso da sua definição.
O objetivo do presente tópico não é discorrer detalhadamente sobre o desenvolvimento
histórico do conceito ou encontrar um denominador comum acerca da sua definição, mas sim
apresentar algumas interpretações, a fim de contribuir para a sua compreensão.
Dito isso, o que é cultura? Já dizia Bauman (2012): “É conhecida a inexorável
ambiguidade do conceito de cultura”. Há séculos, o conceito tem sido debatido em diferentes
áreas do conhecimento, principalmente nas Ciências Humanas e nas Ciências Sociais.
De acordo com Da Matta (2006): “Cultura é, em Antropologia Social e Sociologia, um
mapa, um receituário, um código através do qual as pessoas de um dado grupo pensam,
classificam, estudam e modificam o mundo e a si mesmas”. Contudo, nem sempre ela foi
vista dessa forma.
Segundo Chauí (2012), a cultura vem do verbo latim colere, sendo relacionada ao
trabalho agrícola, ou seja, à atividade de cultivar e colher. Com o passar do tempo, a palavra
foi recebendo outros significados. Por exemplo, nos séculos XVIII e XIX, o conceito
aproximou-se da concepção francesa de civilização (EAGLETON, 2005) e do termo alemão
kultur (LARAIA, 2009). Tratava-se de uma visão eurocentrista que hierarquizava culturas,
diferenciando as “superiores” das “inferiores”.
Nisso, destaca-se o trabalho de Edward Tylor (1871), antropólogo britânico, que
apresentou uma definição formal sobre cultura, pela primeira vez1, em 1871, com a
publicação de “Primitive Culture focuses on social evolution”: “A Cultura ou a Civilização,
tomada em seu amplo sentido etnográfico, é um conjunto complexo que inclui o
conhecimento, as crenças, a arte, a moral, o direito, os costumes e todas as produções dos
homens em sociedade”, (TYLOR, 1871).
Por mais que, atualmente, o conceito não esteja mais atrelado ao de civilização, na
Antropologia, essa visão hierárquica sobre a cultura, permanece, de certa forma, presente no
senso comum. Por isso que, para alguns, a cultura limita-se à música erudita, clássicos
literários e obras artísticas renomadas, por exemplo.

1 Vale ressaltar que a concepção de cultura já era debatida antes. Para mais informações: LARAIA, Roque B.
Cultura: um Conceito Antropológico. 24°. ed. Rio de Janeiro: Zahar. 2009.
Para Da Matta (1981), a cultura e o homem coexistem, ou seja, um não existe sem o
outro. Além disso, o autor diz que nenhuma sociedade deve ser considerada superior à outra e
que cultura, geralmente, é utilizada para discriminar quem não se encaixa na interpretação
hierárquica do termo. Sobre isso, Bauman (2012), disserta:

Tendemos a classificar aqueles com quem travamos contato segundo seu nível
cultural. Se o distinguimos como uma “pessoa culta”, em geral queremos dizer que
ele é muito instruído, educado, cortês, requintado acima de seu estado “natural”,
nobre. Presumimos tacitamente a existência de outros que não possuem nenhum
desses atributos. Uma “pessoa que tem cultura” é o antônimo de “alguém inculto”
(BAUMAN, 2012).

Já na concepção de Laraia (2009), cultura está em constante mudança e relacionada ao


modo como a pessoa enxerga o mundo. Ele acrescenta que o homem é fruto do meio em que
vive e que a cultura é socialmente construída. Essa interpretação remete ao pensamento de Da
Matta (2006), sobre a coexistência entre o indivíduo e a cultura.
As interpretações apresentadas acerca do conceito de cultura possuem suas
particularidades e estão condicionadas ao contexto e a quem as concebeu. Contudo, é possível
observar que, em alguns pontos, há similaridades de pensamento, como no caso de Da Matta
(1981) e Laraia (2009). Além disso, as concepções clássicas, como a de Tylor, servem para
mostrar como que o termo tem sido desenvolvido ao longo dos séculos.
Atualmente, a Antropologia tem buscado reconstruir o conceito (LARAIA, 2009), já
que o mesmo foi fragmentado pelas diferentes vertentes de pensamento. Sendo assim, cultura
permanece dotada de ambiguidade (BAUMAN, 2012), graças a ausência de uma definição
concreta, mas isso não diminui a sua importância, pois trata-se de “um conceito que pode nos
ajudar a compreender melhor o que acontece no mundo em nossa volta”, como disse Da
Matta (1981).
Referências

BAUMAN, Zygmunt. Ensaios sobre o conceito de cultura. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

CHAUÍ, Marilena. Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas. 3 ed. São
Paulo: Moderna, 1982.

DA MATTA, Roberto. Você tem cultura? Jornal da Embratel, Rio de Janeiro, 1981.

EAGLETON, Terry. A Idéia de Cultura. São Paulo: Editora Unesp. 2005.

LARAIA, Roque B. Cultura: um Conceito Antropológico. 24°. ed. Rio de Janeiro: Zahar.
2009.

OLIVEIRA, de Evandro; ALVEZ, Adilson Francelino. Uma Análise Literária sobre o


Conceito de Cultura. n. 11 (2015): Revista Brasileira de Educação e Cultura / Número XI /
Jan-jun 2015.

TYLOR, Edward Burnett. Primitive Culture: Researches Into the Development of Mythology,
Philosophy, Religion, Language, Art and Custom. 1st American, from the 2d English ed.
Boston: Estes & Lauriat, 1874.

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