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VARIAÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL DA PRECIPITAÇÃO NA BACIA

HIDROGRÁFICA DO XINGU, PARÁ.*

Edmundo Wallace Monteiro LUCAS1, Francisco de Assis Salviano de SOUSA2, Ronaldo Haroldo
Nascimento de MENEZES3, Rafael FERREIRA DA COSTA4, Leidiane Leão de OLIVEIRA4, Naurinete
de Jesus da Costa BARRETO5

RESUMO: Dados mensais consistidos de precipitação de quinze estações localizadas na Bacia


Hidrográfica do Xingu (BHX), ao período de 1980 a 2000, obtidos no Inventário das Estações
Pluviométricas da Agência Nacional de Águas – ANA ( http://www.ana.gov.br ) foram utilizados neste
trabalho. O presente trabalho teve o objetivo de analisar a variação espacial e temporal da precipitação
na BHX, para isso, foram gerados mapas da distribuição espacial e temporal da chuva mensal e total
anual na BHX, através do software SURFER. No norte e sudoeste da BHX ocorreram os maiores
volumes de precipitações anuais, variando de 2000 a 2500 mm. No centro e sudeste da BHX variaram
de 1500 a 2000 mm ano-1. A distribuição temporal da precipitação na BHX não é homogênea, três
estações distintas são bem definidas. A estação chuvosa, de dezembro a maio, variando de 150 a 300
mm mês-1. A estação seca, de junho a setembro, com precipitações abaixo de 100 mm mês-1. E uma
terceira, de transição seca-chuva, em outubro e novembro quando as precipitações variaram entre 100 e
150 mm mês-1.

ABSTRACT: Consisted rain monthly data from fifteen measures stations located on Xingu River
Basin (XRB) during 1980 to 2000, obtained in Water National Agency Rainfall Stations Inventory
( http://www.ana.gov.br ) were used in this work. The aim was to analyze space and time variations of
rainfall on XRB, for this, were produced monthly and annual rainfall space and time maps through
SURFER software. The biggest annual rainfall values occurred in the north and southwest of XRB,
varying from 2000 to 2500 mm. In center and southeast regions of XRB values changed between 1500
at 2000 mm year-1. the rainfall time distribution on XRB is not homogeneous, three distinct seasons as
well defined. The rainy season, from December to May, varying from 150 to 300 mm month-1. The dry
season, from June to September, with rainfall below of 100 mm month-1. And a third, dry-to-wet
transition, in October and November when the rainfall varying between 100 and 150 mm month-1.

“Palavras Chaves” Distribuição Mensal e Anual, Agricultura.


___________________________________________________________________________________
(*) Resultados preliminares da Dissertação de Mestrado do primeiro autor em Meteorologia pela UFCG.
(1)Aluno de Pós-graduação da UFCG e Meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia. End.: Eixo Monumental Via
S 1 Sudoeste Cruzeiro/DF CEP: 70680-900. e-mail: edmundo.lucas@inmet.gov.br, Fone: (61) 3344-2192.
(2) Professor da Universidade Federal de Campina Grande. e-mail: fassis@dca.udcg.edu.br, Fone: (61) 3344-2192.
(3) Professor da Universidade Estadual do Maranhão. e-mail: rhmenezes@yahoo.com.br, Fone: (83) 3333-4481.
(4) Alunos de Pós-graduação da Universidade Federal de Campina Grande. e-mail: leidianeoli@gmail.com,
rfcostampeg@bol.com.br, Fone: (83) 3333-4481.
(5) Aluna de Pós-graduação da Universidade Federal de Alagoas. e-mail: netebarreto@gmail.com, Fone: (82) 3214-1369.
2
INTRODUÇÃO
Nos trópicos, devido à grande e constante disponibilidade de energia radiante que aquece a
superfície e transporta enormes quantidades de vapor d’água para a atmosfera favorecendo a formação
de nuvens com grande desenvolvimento vertical que provocam chuvas de grande intensidade. Desta
maneira, precipitação é uma importante variável climatológica nesta região.
Na Amazônia, a irregularidade na distribuição seqüencial das chuvas é fator limitante ao
desenvolvimento do agronegócio e à estabilização da produção agrícola no Estado do Pará (SAGRI,
1996). No período chuvoso, que no Pará se estendendo durante cerca de 7 meses e se inicia nos meses
de outubro e novembro no sul do Estado, quando as chuvas se caracterizam pela forte intensidade. No
período menos chuvoso, são freqüentes as estiagens de duração variável, elevando o risco da
exploração agrícola (Moraes, et al., 2005).
Dos afluentes da Bacia Amazônica, que é a maior bacia hidrográfica do mundo, com uma
drenagem de 5,8 milhões de km², sendo 3,9 milhões no Brasil, destaca-se a Hidrográfica do Xingu
(BHX). A BHX desenvolve-se entre os paralelos 01º23'24'' e 09º48'05'' de latitude sul e entre os
meridianos 50º19'44'' e 55º15'06'' de longitude oeste, abrangendo uma área de 531.250 km2, sendo que
216.823 km2 (40,8%) pertencem ao estado do Mato Grosso e os restantes 59,2% ao estado do Pará,
onde ocupa uma área de aproximadamente 314.427 km2 que corresponde a 25,1% do estado,
abrangendo os municípios de Altamira, São Félix do Xingu, Senador José Porfírio, Vitória do Xingu,
Brasil Novo, parte de Medicilândia, Placas e a parte oeste do município de Anapú. Os principais cursos
d´água formadores dessa bacia, no Pará são os rios: Xingu, Irirí, Curuá, Fresco, Bacajá, Caeté, Ximxim
e Chiche (Melo, 2004). Cacau, café, maracujá, pimenta, castanha, arroz e feijão estão entre os
principais produtos agrícolas locais. Existem também algumas fazendas de gado e, por outro lado,
diversas populações ribeirinhas e comunidades indígenas que se sustentam, basicamente, da pesca.
Existe uma grande necessidade da realização de estudos sobre as características do regime de
chuva na BHX, principalmente na parte sul da bacia onde o acesso ainda é bastante difícil. Desse
modo, o presente trabalho tem o objetivo de analisar a variação espacial e temporal da precipitação na
BHX.

MATERIAL E MÉTODOS
Na elaboração deste trabalho foram selecionadas as estações localizadas na Bacia Hidrográfica
do Xingu (BHX) com dados de chuva consistidos, ao período de 1980 a 2000, a partir de levantamento
do Inventário das Estações Pluviométricas da Agência Nacional de Águas (ANA) disponíveis na
página eletrônica (Figura 1), bem como informações sobre, longitude, latitude, conforme as Tabelas 1.
3
Com o intuito de analisar a variação espacial e temporal da precipitação na BHX, foram
utilizados os dados mensais de precipitação, informações geográficas de latitude e longitude de quinze
estações pluviométricas. Posteriormente foram gerados 13 mapas com a distribuição das chuvas, sendo
12 mapas mensais e um anual na BHX, os quais permitiram identificar os principais padrões de
comportamento pluviométrico sobre a bacia, através do software SURFER 7.0.

Tabela 1. Dados das Estações Pluviométricas 8


-2
da BHX, no Pará.
Nome Latitude Longitude -3
7
1. Cajueiro -5o 39’01” -54o 31’16” 10 5
-4 9
2. Boa Esperança -6o 43’00” -51o 47’00” i
Irir
3. Belo Horizonte -5o 24’29” -52o 54’07”

Latitude Sul (º)


11
-5 6
4. Aldeia do Baú -7o 20’00” -54o 50’00” 3
-3o 43’23” -51o 34’05”

ruá
5. Fazenda Cipaúba 1

Xi
Cu

ng
-6 13
6. Aldeia Bacajá -4o 54’55” -51o 25’46”

u
7. Altamira -3o 12’30” -52o 12’27” 2
-7
8. Porto de Moz -1o 45’00” -052º14’00” 4
9. Kararao -3o 55’00” -52o 53’00” 12
-8 15
10. Brasil Novo -3o 37’00” -52o 32’28”
11. Monte Alegre -4o 39’56” -52o 43’13” 14
-9
12. Faz. Cumarú do Norte -7o 49’32” -50o 49’42”
13. Primavera do Xingu -6o 03’00” -52o 36’00”
14. Mencranotire -8o 39’00” -54o 13’00” -56 -55 -54 -53 -52 -51 -50
15. Kubenkrankein -8o 02’00” -52o 09’00” Longitude Oeste (º)
Figura 1: Localização geográfica das quinze
estações pluviométricas na BHX.
RESULTADOS E DISCUSSÕES [RFC1] Comentário: Se
possível, seria bom colocar
NUMEROS NAS ESTAÇÕES na
Os totais anuais de precipitação nos postos pluviométricos localizados na BHX mediram volumes tabela e na figura. Para saber
quem é quem.
máximos próximos de 2500 mm nas estações da Aldeia do Baú (2469 mm) e de Porto de Moz (2379
mm). Totais mínimos anuais, em torno de 1500 mm ano-1, foram registrados nos postos de Kararao
(1438 mm) e Monte Alegre (1573mm). Os demais onze postos monitorados mediram volumes acima
de 1500 mm ano-1 e abaixo de 2300 mm ano-1 (Figura 2). Moraes et al., (2005) também encontraram
volumes anuais de precipitação da mesma magnitude.
2500
Precipitação Pluvial Anual (mm)

2000

1500

1000

500

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
E sta ç õ e s

Figura 2: Totais anuais de chuva em 15 estações de coleta na BHX, no Pará.


4
De modo geral a variação sazonal da precipitação na BHX é caracterizada na maior parte dos
postos de coleta por três períodos distintos. Uma estação chuvosa que compreende os meses de
dezembro a maio com precipitações entre 150 e 300 mm mês-1. Uma estação seca que compreende os
meses de junho a setembro com volumes abaixo de 100 mm mês-1. E um período de transição entre os
meses secos e chuvosos, que vai de outubro a novembro com precipitações entre 100 e 150 mm mês-1
(Figura 3). A qualidade e quantidade da produção agrícola na região amazônica são determinadas
principalmente pelos totais de chuva e suas distribuições (Molion, 1987).
350

300
Precipitação Pluvial (m m)

250

200

150

100

50

0
JA N FEV M A R A BR M A I JU N JU L A G O SET O U T N O V D EZ
M e se s

Figura 3: Média mensal da chuva das quinze estações de coleta na BHX, no Pará.
A distribuição da precipitação média anual na BHX apresentou que os maiores volumes anuais
ocorreram no extremo norte e sudoeste da bacia, com totais anuais de precipitação entre 2000 e 2500
mm, na parte central e sudeste da bacia a precipitação ocorre entre 1500 e 2000 mm representando a
maior parte da bacia, no extremo noroeste ocorre os menores totais de precipitação anual cerca de 1000
e 1500mm (Figura 4). Moraes et al., (2005) encontraram valores semelhantes para a região sul do Pará.

-2

-3 2450

2300
-4
i
Irir 2150
Latitude (º)

-5
2000
r uá

-6
Xi
Cu

ng

1850
u

-7 1700

-8 1550

1400
-9

-55 -54 -53 -52 -51


Longitude (º)

Figura 4. Distribuição espacial da precipitação anual na BHX, no Pará.


5
Para a distribuição temporal da precipitação ao longo do ano na bacia, onde foi observado que na
parte sul da BHX o período chuvoso já começa em outubro e se estende até abril. No extremo norte,
representado pelo posto de Porto de Moz, o período chuvoso vai de janeiro a julho. Na parte noroeste
da BHX compreendendo a região do rio Irirí encontram-se os menores valores de precipitação durante
o ano. Nos meses junho, julho, agosto e setembro dentro do período seco (média abaixo de 100 mm
mês-1) a precipitação se distribuí mais uniformemente na bacia (Figura 5).

-2 -2 -2 -2

-3 440 -3 -3 -3
370
410
360 390
-4 -4 -4 -4
380
i iri iri i
Irir Ir Ir Irir 320

Latitude (º)
Latitude (º)

Latitude (º)

Latitude (º)
-5 350 -5 -5 -5
310 340

á
ruá

ruá

ruá
320

ru
-6 -6 -6 -6
Xin

Xin

Xin

Xin
Cu
Cu

Cu

Cu
270
gu

gu

gu

gu
290
-7 -7 260 -7 290 -7
260
220

-8 230 -8 -8 -8

200 210 240 170


-9 -9 -9 -9

-55 -54 -53 -52 -51 -55 -54 -53 -52 -51 -55 -54 -53 -52 -51 -55 -54 -53 -52 -51
Longitude (º) Longitude (º) Longitude (º) Longitude (º)

Janeiro Fevereiro Março Abril


-2 -2 -2 -2

-3 -3 240 -3 -3
290
200
210
-4 -4 -4 -4
240 180 75
i i i i
Irir Irir Irir 150 Irir
Latitude (º)
Latitude (º)

Latitude (º)
Latitude (º)

-5 -5 150 -5 -5
190
ruá
ruá

ruá
ruá

120
-6 -6 -6 -6
Xin

Xin

Xin

Xin
Cu
Cu

Cu
Cu

100
gu

gu

gu

gu
140 90 45
-7 -7 -7 -7
60
50
90
-8 -8 30 -8 -8

40 0 0 15
-9 -9 -9 -9

-55 -54 -53 -52 -51 -55 -54 -53 -52 -51 -55 -54 -53 -52 -51 -55 -54 -53 -52 -51
Longitude (º) Longitude (º) Longitude (º) Longitude (º)

Maio Junho Julho Agosto


-2 -2 -2 -2

-3 -3 -3 -3
220 300
200
-4 -4 -4 -4
120
i i i i
Irir Irir 170 Irir Irir 250
Latitude (º)

Latitude (º)

Latitude (º)
Latitude (º)

-5 -5 -5 -5
150
ruá

á
ru

ru
ru

-6 -6 -6 -6
Xin

Xin

Xin

Xin

120 200
Cu

Cu

Cu
Cu
gu

gu

gu

gu

70
-7 -7 -7 100 -7
70 150

-8 -8 -8 -8

20 20 50 100
-9 -9 -9 -9

-55 -54 -53 -52 -51 -55 -54 -53 -52 -51 -55 -54 -53 -52 -51 -55 -54 -53 -52 -51
Longitude (º) Longitude (º) Longitude (º) Longitude (º)

Setembro Outubro Novembro Dezembro


Figura 5. Distribuições espacial e temporal das precipitações mensais na BHX, no Pará.

CONCLUSÃO
A distribuição espacial da precipitação na Bacia Hidrográfica do Xingu (BHX) varia de 1500 mm
a 2500 mm ano-1 aproximadamente, sendo as partes norte e sudoeste da bacia onde ocorrem os maiores
volumes de chuva, principalmente causados pela atuação dos sistemas atmosféricos conhecidos como
Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS)
respectivamente.
6
A distribuição temporal da precipitação na BHX não é homogênea, três estações distintas são
bem definidas. A estação chuvosa, de dezembro a maio, variando de 150 a 300 mm mês-1. A estação
seca, de junho a setembro, com precipitações abaixo de 100 mm mês-1. E uma terceira, de transição
seca-chuva, em outubro e novembro quando as precipitações variaram entre 100 e 150 mm mês-1.
De um modo geral o Software SURFER 7.0 apresentou bons resultados para a análise da
variabilidade espacial e temporal na BHX, porém, deve-se observar a grande carência de postos
pluviométricos nas partes central e sul da bacia causada principalmente pelo difícil acesso a região, que
força uma extrapolação maior dos resultados para as áreas onde não há postos de coleta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS – ANA. Inventário das estações e Séries Históricas.
Disponível em: http://www.ana.gov.br Acesso em abril 2006.
MELO, A.P., Aplicação de modelos estatísticos para previsão de níveis no rio Xingu em
Altamira. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Federal do Pará - UFPA, 2004.
MORAES. B. C., et al., Variação espacial e temporal da precipitação no estado do Pará. Acta
Amazônica. Vol. 35(2), 207-214, 2005.
SAGRI - Secretaria de Agricultura. Levantamento da realidade agrícola do Estado do Pará.
EMATER-PA. Série Documentos. v.5, p.65, 1996.
MOLION, L.C.B. 1987. On the dynamic climatology of the Amazon basin and associated
rain-producing mechanisms. In: The Geophysiology of Amazonia Vegetation and Climate
Interactions. New York, John Wiley and Sons.

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