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EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _ ° VARA CRIMINAL DO FORO

REGIONAL ______________DA COMARCA DE SÃO PAULO/SP.

(Pula 10 linhas)

Processo n° ...

(Pula 2 linhas)

ADOLFO ..., devidamente qualificado nos autos da ação em epígrafe, por intermédio de
sua advogada infra-assinada, vem respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com
fulcro no art. 403, §3° do Código de Processo Penal, por analogia, haja vista que o art. 57 da Lei
de Drogas não prevê a possibilidade de memoriais, conforme o art. 394, §4° do Código de
Processo Penal, apresentar

MEMORIAIS

pelas razões de fato e de direito a seguir expostos.

1 – DOS FATOS

Compulsando os autos, consta que o réu primário, aos 74 anos de idade, no dia
25/03/2015 teria sido obrigado, pelo chefe do tráfico Sorriso, a realizar o transporte de
substancias entorpecentes de um local à outro.

Tal imperatividade se deu pela ameaça de ser expulso de sua residência, que se tratava
de um humilde “barraco” na Favela Zulu, caso não fizesse o que lhe era requisitado.

O indivíduo SORRISO se encontrava armado e exigiu que ADOLFO transportasse a


outro traficante a quantidade de 25 gramas de maconha, onde tal entrega se daria em uma
loja de roupas. Obrigado a cumprir tal ordem, ADOLFO se dirigindo ao local determinado foi
abordado pela Polícia Militar, momento em que a droga foi encontrada e apreendida.

Após o início da persecução penal, o réu foi denunciado pela prática do crime previsto
no art. 33, caput, da Lei n° 11.343/2006. Foi concedida a ele liberdade provisória sem fiança e
com medidas cautelares.

Durante o regular processo, iniciada a audiência de instrução e julgamento, os policiais


que abordaram o Réu confirmaram os fatos narrados na denúncia, afirmando também que o
mesmo apresentou a versão de que transportava as drogas por exigência de SORRISO.

Ao ser interrogado, o Réu confirmou que fazia o transporte da droga e alegou que
somente o fazia, pois fora ameaçado sob pena de ser expulso do local onde reside a mais de 40
anos, não possuindo outro local para se situar. Disse também, que nunca respondeu a nenhum
outro processo.

Após a juntada da Folha de Antecedentes Criminais do réu e do laudo de exame


material que comprovava que a substância se tratava de maconha, conforme previsto na
Portaria n° 344/98 da ANVISA, os autos foram encaminhados ao Ministério Público, que
pugnou pela condenação do Acusado nos exatos termos da denúncia.
2 – DO DIREITO

O réu deve ser absolvido por não caracterizar o fato infração penal. Senão vejamos:

a) Da inexigibilidade de conduta diversa

Para que determinada conduta seja considerada crime, esta deve ser típica, ilícita e
culpável. Sendo um dos elementos da culpabilidade a exigência de conduta diversa, portanto a
inexigibilidade de conduta diversa é causa de exclusão de culpabilidade.

Sorriso estando armado, ao exigir que o réu, um senhor de 74 anos de idade fizesse o
transporte das substâncias sob pena de ser expulso de sua residência, praticou coação moral
irresistível.

Na situação da circunstância fática, não era exigível de ADOLFO um comportamento


conforme o ordenamento jurídico, dentro do que revela a experiência humana. Logo, o art.
386 do Código de Processo Penal dispõe:

“Art. 386 – O Juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que
reconheça:

VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena ou mesmo se


houver fundada dúvida sobre sua existência;”

No mesmo sentido, dispõe o Código Penal:

“Art. 22 – Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não
manifestamente ilegal de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem;”

b) Da subsidiariedade

Caso não seja acolhida a tese absolutória da coação moral irresistível, lembra o
magistério de Eugênio Pacelli:

“Quando a lei estabelece qualquer graduação ou alternativa à sanção penal tradicional, o


acusado ou qualquer pessoa que estiver sob ameaça de sua imposição tem verdadeiro direito
a não ser punido fora dos limites da lei. Quando, por exemplo, há erro na dosimetria da pena,
o réu tem o direito a ver corrigido o equívoco pela não observância das normas legais
restritivas de liberdade. E não só pela legitimação recursal, como também, pela ação de
revisão criminal, art. 626, do CPP [...]”

3 – DOS PEDIDOS

Posto isso, requer a Vossa Excelência se digne:

a) Julgue improcedente a ação penal para a absolvição do acusado pelo crime de tráfico,
com fundamento legal o art. 386, VI, do Código de Processo Penal;
b) Subsidiariamente, a aplicação da pena-base no mínimo legal, por serem todas as
circunstâncias judiciais do art. 59 do CP, favoráveis;
c) O reconhecimento das atenuantes do art. 65, I e III, alíneas C e D, do Código Penal;
d) A aplicação da causa de diminuição do art. 33, § 4º da Lei nº 11.343/06;
e) A aplicação do regime inicial aberto de cumprimento da pena;
f) A substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.

Termos em que,

Pede deferimento.

São Paulo, ...

Seu nome

Oab n° ...

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