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Natal, RN
2017
INGRID ALEXIA SILVÉRIO FREIRE
Natal, RN
2017
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Eunádia Cavalcante
Professora Orientadora – UFRN
____________________________________________________
Professor convidado – UFRN
____________________________________________________
Arquiteto convidado
A GRADECIMENTOS
Não é simples em apenas poucos parágrafos expressar a gratidão a todos aqueles que
contribuíram de alguma forma no decorrer de minha jornada no curso de Arquitetura e
Urbanismo. Começo agradecendo, inicialmente, à minha família: minha mãe Izaura, meu pai
Alexandre e meu irmão Igor, por todo o incentivo e preocupação. Minha mãe, pessoa na qual
me espelho diariamente, por admirar suas conquistas ao longo da vida mesmo quando há
adversidades. Meu pai, que sempre se interessou e elogiou os projetos por mim desenvolvidos,
me fazendo permanecer positiva. Por fim, meu irmão, pelas discussões intelectuais e polêmicas,
e pelos incentivos constantes para que eu aprenda novos programas, o que me ajudou bastante
ao longo do curso.
Agradeço enormemente ao meu companheiro, namorado e amigo, Miguel Alexandre,
que mesmo à distância se faz presente todos os dias, compartilhando os meus sonhos e
expectativas, e me apoiando nos momentos de ansiedade e dúvidas. Obrigada também por
compreender quando não pude estar presente.
As amizades desenvolvidas durante o curso e que quero que permaneçam comigo para
o resto da vida. O pessoal do Seven: Gabi, Jamile, Clidenor, Nathália, Priscila e Malu. Agradeço
todas as alegrias que vivenciamos. Vocês fizeram esses anos de curso os melhores da minha
vida. Ao pessoal do Txutxa, das turmas 2012.1 e 2013.1, por todas as conversas, saídas,
comemorações e ajudas compartilhadas. Aos amigos de Leicester, dos quais tenho uma enorme
saudade. Obrigada por toda a torcida mesmo à distância.
À minha orientadora, Eunádia Cavalcante, pela disponibilidade, apoio e confiança. Por
todo o incentivo quando encontrei dificuldades e pelas dicas preciosas para a realização deste
trabalho.
Aos demais professores do curso, por terem contribuído, direta ou indiretamente, para
o meu conhecimento ao longo do caminho. Em especial ao professor José Augusto, que me
passou informações importantes para o desenvolvimento inicial do TFG, e às professoras que
sempre se mostraram disponíveis quando precisei: Aline Araújo D’amore, Angela Lúcia
Ferreira e Gleice Elali.
Por fim, agradeço imensamente à arquiteta Renata Matos e sua equipe, que foram
minhas fontes diárias de aprendizado nestes últimos dois anos. Seriam necessárias centenas de
páginas para descrever o quanto contribuíram não só para a minha formação profissional como
também para o meu crescimento pessoal. Obrigada pela amizade, confiança e apoio.
“Gente curada demais é gente chata. Todo mundo
tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido:
vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade
mais profunda”
Nise da Silveira.
R ESUMO
Progressively, the Crack epidemic affects, mainly, homeless people from the city of
Natal. The driver or pedestrian that transits over the city during night time views many places
where the ones without a roof use this substance and it is quite clear that they moved away from
social and professional life, due to their dependency. Besides crack, others psychoactives
substances, including alcohol, may result in mental disorders in its users. In this context, the
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) are institutions engaged on the treatment for people
with mental illness based on a work focused on the social reintegration of the patient. The CAPS
Álcool e Drogas (CAPSad), in order, deals specifically with cases that the mental disorder is
due to chemical dependency. This graduation final work joins the areas of Architecture with
Mental Health, aiming, at its end, the elaboration of the project of a CAPSad at South Zone of
Natal. The main concepts that guide the Project are humanization and flexibility in architecture.
Figura 1 – A Nave dos Loucos a caminho do País dos Tolos, 1549 ........................................ 16
Figura 2 – Panóptico de Bentham............................................................................................. 18
Figura 3 – CAPSad Norte ......................................................................................................... 23
Figura 4 – Atual endereço do CAPSad Leste III ...................................................................... 23
Figura 5 – Sala de exames no Chonnam National University Hwasun Hospital ..................... 27
Figura 6 – Ambiente de circulação no Rainbow Babies and Children’s Hospital em Ohio .... 29
Figura 7 – Fukuoka Housing, Fukuoka, Japão ......................................................................... 34
Figura 8 – Fukuoka Housing, Fukuoka, Japão ......................................................................... 34
Figura 9 – Delta Shelter, Washington, EUA ............................................................................ 35
Figura 10 – Museu Nomadic em Nova York ........................................................................... 36
Figura 11 – Container city, em Londres ................................................................................... 36
Figura 12 – Projeto de Referência CAPS AD III ..................................................................... 38
Figura 13 – Tabela de áreas, em anexo à prancha de projeto ................................................... 39
Figura 14 – Zoneamento por tipo de circulação (Layout 01) ................................................... 40
Figura 15 – Zoneamento por tipo de circulação (Layout 02) ................................................... 40
Figura 16 – Caps AD III Leste na Rua Açu ............................................................................. 42
Figura 17 – Croqui esquemático do pavimento térreo ............................................................. 43
Figura 18 – Sala de grupo ......................................................................................................... 44
Figura 19 – Repouso profissional ............................................................................................. 44
Figura 20 – Objetos artesanais criados nas oficinas ................................................................. 44
Figura 21 – Vasos com plantas na parte interna do muro ........................................................ 45
Figura 22 – Vasos com plantas na parte interna do muro ........................................................ 45
Figura 23 – Refeitório .............................................................................................................. 46
Figura 24 – Varal ...................................................................................................................... 46
Figura 25 – Sala de arquivos .................................................................................................... 46
Figura 26 – Farmácia ................................................................................................................ 46
Figura 27 – Trillium Secure Adolescent Inpatient Facility, Corvallis ..................................... 49
Figura 28 – Espaço interno do Centro Hospitalar Adolescente................................................ 49
Figura 29 – Perspectiva da implantação ................................................................................... 50
Figura 30 – Elaboração de pinturas na face interna do muro no pátio do Trillium Family
Services ..................................................................................................................................... 50
Figura 31 – Representação em planta das disposições dos dormitórios ................................... 51
Figura 32 – Implantação do Centro de Reabilitação Infantil na Ilha Pombeba ........................ 52
Figura 33 – Sheds metálicos dão forma à edificação ............................................................... 53
Figura 34 – Espaço interno do Hospital Sarah Kubitschek ...................................................... 53
Figura 35 – Espera com painéis coloridos ................................................................................ 53
Figura 36 – Unidades funcionais .............................................................................................. 60
Figura 37 – Apoio à terapia ...................................................................................................... 61
Figura 38 – Apoio administrativo............................................................................................. 61
Figura 39 – Apoio técnico e logístico ....................................................................................... 62
Figura 40 – Lazer e convivência............................................................................................... 62
Figura 41 – Localização dos CAPS por Zona Administrativa ................................................. 64
Figura 42 – Localização do terreno escolhido no Município de Natal, RN ............................. 66
Figura 43 – Vistas do terreno ................................................................................................... 67
Figura 44 – Terreno com dimensões ........................................................................................ 68
Figura 45 – Análise da topografia ............................................................................................ 68
Figura 46 – Relação do terreno 01 para o terreno destinado à estacionamento ....................... 69
Figura 47 – Mapa de uso dos solos no entorno do terreno ....................................................... 70
Figura 48 – Mapa de gabarito no entorno do terreno ............................................................... 71
Figura 49 – Análise de incidência solar direta sobre cada fachada .......................................... 72
Figura 50 – Sentido dos ventos durante o ano de 2009 ............................................................ 74
Figura 51 – Dimensionamento de Rampas ............................................................................... 76
Figura 52 – Área de transferência e manobra para uso da bacia sanitária ................................ 77
Figura 53 – Mandalas produzidas pelos usuários no Setor de Terapia Ocupacional do Hospital
Pedro II ..................................................................................................................................... 80
Figura 54 – Logotipo elaborado para o CAPSad ...................................................................... 80
Figura 55 – Zoneamento inicial do pavimento térreo............................................................... 82
Figura 56 – Primeira proposta de planta baixa do pavimento térreo ........................................ 83
Figura 57 – Primeira proposta de planta baixa do pavimento superior .................................... 83
Figura 58 – Volumetria esquemática inicial ............................................................................. 85
Figura 59 – Elevação dos blocos para ajuste à topografia ........................................................ 85
Figura 60 – Evolução da cobertura do bloco de containers ...................................................... 86
Figura 61 – Sombreamento da edificação durante o dia nos solstícios .................................... 87
Figura 62 – Modelo usado x Resultados das simulações ......................................................... 87
Figura 63 – Pressões resultantes sobre as fachadas .................................................................. 88
Figura 64 – Planta de locação e coberta ................................................................................... 90
Figura 65 – Planta do estacionamento ...................................................................................... 91
Figura 66 – Pavimento térreo ................................................................................................... 92
Figura 67 – Pavimento superior ............................................................................................... 93
Figura 68 – Classificação dos espaços por tipo de circulação .................................................. 94
Figura 69 – Janela veneziana de alumínio ................................................................................ 97
Figura 70 – Dimensões dos containers do tipo Dry ................................................................. 98
Figura 71 – Fundação dos containers ....................................................................................... 99
Figura 72 – Representação esquemática das salas de atividades coletivas ............................ 100
Figura 73 – Forro de PVC na cor branca ................................................................................ 101
Figura 74 – Estratégia de piso elevado para áreas molhadas ................................................. 101
S UMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12
1 OS ESPAÇOS DE SAÚDE MENTAL........................................................................... 15
1.1 A EVOLUÇÃO DA ASSISTÊNCIA AOS “LOUCOS” .................................................. 15
1.2 A REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA E OS CAPS .......................................... 19
1.2.1 A Reforma em Natal/RN .............................................................................................. 22
2 A ATENÇÃO HUMANIZADA ...................................................................................... 24
2.1 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO ............................................................. 24
2.2 AMBIÊNCIA COMO PARTE DO PROCESSO TERAPÊUTICO ................................. 25
3 ARQUITETURA FLEXÍVEL........................................................................................ 31
3.1 CONCEITOS..................................................................................................................... 31
3.2 PONTOS NORTEADORES DA FLEXIBILIDADE ....................................................... 32
3.2.1 Modulação...................................................................................................................... 32
3.2.2 Margem .......................................................................................................................... 33
3.2.3 Adaptação ...................................................................................................................... 33
3.2.4 Transformação .............................................................................................................. 34
3.2.5 Utilização de sistemas alternativos: containers .......................................................... 35
3.2.6 Aplicações no CAPS ...................................................................................................... 37
4 ESTUDOS DE CASO ...................................................................................................... 38
4.1 PROJETO DE REFERÊNCIA DE CAPS AD III ............................................................. 38
4.2 CAPS AD III LESTE ........................................................................................................ 42
4.2.1 Análise comparativa com o modelo de referência ...................................................... 47
4.3 CENTRO HOSPITALAR ADOLESCENTE, CORVALLIS, EUA ................................. 48
4.4 CENTRO DE REABILITAÇÃO INFANTIL, SARAH-RIO ........................................... 52
4.5 RESUMO DE DIRETRIZES ............................................................................................ 54
5 ANÁLISES INICIAIS DE PROJETO .......................................................................... 55
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA PROPOSTA .......................................................................... 55
5.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO ........................... 56
5.3 RELAÇÕES ESPACIAIS E FUNCIONAIS .................................................................... 60
5.4 ESCOLHA DO TERRENO .............................................................................................. 63
5.4.1 Critérios ......................................................................................................................... 63
5.4.2 Terreno escolhido .......................................................................................................... 66
5.4.3 Entorno .......................................................................................................................... 69
5.4.4 Insolação e ventilação ................................................................................................... 71
5.4.5 Condicionantes legais .................................................................................................... 74
6 EVOLUÇÃO DA PROPOSTA ...................................................................................... 79
6.1 CONCEITO E PARTIDO ARQUITETÔNICO ............................................................... 79
6.2 EVOLUÇÃO DO ZONEAMENTO E PLANTA BAIXA ................................................ 81
6.3 SOLUÇÃO FORMAL ...................................................................................................... 84
6.4 ANÁLISE DE CONFORTO AMBIENTAL .................................................................... 86
7 MEMORIAL DESCRITIVO ......................................................................................... 89
7.1 IMPLANTAÇÃO .............................................................................................................. 89
7.2 DISTRIBUIÇÃO FUNCIONAL E CIRCULAÇÕES ...................................................... 91
7.3 SOLUÇÕES GERAIS ....................................................................................................... 94
7.3.1 Esquadrias ..................................................................................................................... 96
7.4 PARTICULARIDADES DO BLOCO DE CONTAINERS ............................................. 97
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 103
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 104
ANEXO .................................................................................................................................. 109
12
I NTRODUÇÃO
A atenção dada à saúde mental, como formulada hoje, é uma prática relativamente
recente na história da humanidade e sofreu mudanças significativas desde o seu surgimento.
No século XVI a loucura ainda não era inserida em um sentido patológico, era tida como
uma tormenta do espírito. Como não havia espaço específico para eles, os loucos eram
colocados em grandes barcos para serem levados pelos marinheiros a outros portos em busca
de alívio desse sofrimento (GULJOR, 2003). Era a chamada Nau dos Loucos (Figura 1), “esses
barcos que levavam sua carga insana de uma cidade para outra” (FOUCAULT, 1978, p. 13).
Esse costume já apontava para a necessidade de exclusão dos insanos por parte do poder local.
Nogueira (2001) relata que os doentes mentais tinham como seus destinos terras estrangeiras,
ou, muitas vezes, o próprio mar, onde eram “desovados” antes que as embarcações aportassem.
16
Nesse contexto, por volta do século XVIII, foi fundamental o surgimento de um edifício
focado no acolhimento dos doentes mentais, os hospícios. Tais instituições hospitalares eram
de caráter filantrópico. Esse passo foi extremamente significativo para a evolução da assistência
à saúde mental uma vez que representou o advento do “saber” sobre a loucura.
Estes hospícios, muitas vezes, encontravam-se dentro dos hospitais, em alas separadas.
Era a exclusão dentro da própria exclusão. No entanto, às vezes eram edifícios inteiros.
Nogueira (2001) cita como exemplos os hospitais Betlehem na Inglaterra, Hôtel Dieu na França
e Aldeia de Gheel na Alemanha. A situação de conforto ambiental nas instituições, porém, não
era favorável ao tratamento: “Era comum encontrar quartos estreitos com pouca circulação de
ar, ausência de luz e excessiva umidade. Em uma cela que media 4 x 2m, por exemplo,
encontraram-se 13 mulheres internadas” (PESSOTTI, 1996, p. 162 apud NOGUEIRA, 2001,
p. 38). A autora descreve outras características que exprimem a situação de incúria para com os
pacientes: leito de palha no chão ou tablado preso à parede; pedra como parte do mobiliário à
qual o louco poderia ficar acorrentado; existência de uma pequena abertura de comunicação por
onde passavam os alimentos; e utilização comum de grades.
Os manicômios difundiram-se por diversos países no século XIX. A separação do louco
dos outros marginalizados sociais facilitava o estudo sobre novas formas de tratamento e a
análise das doenças, além de buscar as melhorias dos espaços físicos das instituições. Neste
contexto, o manicômio torna-se não só um campo de tratamento, mas também de pesquisa e
documentação. Vale ressaltar que esse movimento de otimizar a organização hospitalar não se
restringe somente à atenção à saúde mental, afinal o ambiente hospitalar – de maneira geral –
passa a ser visto então como um ambiente de cura, não mais como um lugar para morrer.
O espaço manicomial era organizado de maneira que se acreditava ser a melhor forma
de potencializar a cura. Conforme Guljor (2003), existia uma distribuição metódica dos
pacientes pelos espaços: os furiosos, os incuráveis, os mais tranquilos, etc. Além disso, havia a
necessidade da existência de uma vigilância contínua. Por isso, adotou-se o panóptico como
arquétipo, que resultava em um sistema de controle no qual os internados não sabiam se estavam
sendo observados ou não. Esta tipologia arquitetônica (Figura 2) consiste em uma edificação
circular com um pátio central contendo uma torre de vigilância no meio. Foi pensado
originalmente como “a cadeia ideal” pelo filósofo britânico Jeremy Bentham, mas segundo
Foucault (1978) o conceito estendeu-se para outras instalações.
18
A conceito do Panóptico espelha a relação discorrida por Foucault (1978) em sua obra
“Vigiar e Punir” entre dominação versus ordenamento do espaço. A arquitetura nesse contexto
se faz símbolo do poder. Moreira (2014) reflete sobre o pensamento foucaultiano em relação
ao panóptico:
Foucault aponta este procedimento como a emergência da sociedade disciplinar, onde
o indivíduo é isolado em sua cela, sente a vigilância de todos, mas não consegue saber
se na torre de controle o vigia está presente ou não. Um estado consciente e
permanente de visibilidade, onde a sociedade como um todo se torna espionável, mas
ao mesmo tempo, esta espionagem não pode ser verificada. (2014)
Nessa situação de relação de poder e controle das condutas dos pacientes, o tratamento
dado nos manicômios era por repressão moral: punições físicas, humilhações, isolamentos em
solitárias, choques elétricos, camisas de força, indução de convulsões, entre outros
(BORDIGNON, 2013). Como dito, a arquitetura dos edifícios era, em sua maioria, voltada para
lembrar os doentes de suas condições de insensatez e insanidade. As janelas com peitoril alto
para que ficassem acima do nível do olhar, longos corredores com poucas janelas, nenhuma
distinção entre enfermaria e dormitório, além do fato de que todo o mobiliário continha uma
preocupação com seu peso, tamanho e resistência – era estudado para que servisse apenas para
os doentes, como mesas de madeira espessas e cadeiras enormes, conforme descreveu Nogueira
(2001).
No entanto, haviam aqueles que defendiam princípios os quais divergiam das práticas
recorrentes: os psiquiatras Philippe Pinel, mencionado anteriormente, e Jean-Étienne Esquirol
19
são nomes de grande destaque. Ambos acreditavam que, no tratamento moral da loucura, o
espaço físico tem o mesmo valor do medicamento (idem).
O próximo passo dado com relação à assistência dada à saúde mental não só no campo
da teoria, mas da prática igualmente, aconteceu no cenário pós Segunda Guerra Mundial. Havia
na população de inúmeros países um sentimento de repúdio à violência, dadas as consequências
catastróficas da guerra. Surgem então movimentos de Luta Antimanicomial. O primeiro
movimento fundamental para a quebra de conceitos que vinham sendo praticados há mais de
um século foi o da psicoterapia institucional. Guljor (2003, p. 32) relata que o movimento:
Vários outros movimentos foram surgindo a partir de então, porém nenhum deles
contestava a competência da psiquiatria, somente propunham reformulações no ambiente asilar.
Foram os casos da Psiquiatria de Setor na França – propunha criação de novas instituições
intermediárias e extra-hospitalares (DESVIAT, 1999 apud GULJOR, 2003) – e das
comunidades terapêuticas na Inglaterra, as quais eram grupos de discussões formados entre
pacientes e profissionais (PORTAL, 2013).
Finalmente, o movimento denominado Antipsiquiatria surge para questionar os valores
e práticas psiquiátricas “[...] questionando não somente a psiquiatria, que não vinha dando
respostas aos problemas surgidos com a doença mental, mas à própria doença mental enquanto
doença [...]” (SILVA, 2006, p. 40). Essa busca por extinguir a exclusão do portador de
transtornos mentais, a reformulação de seus espaços e a pesquisa por novos tratamentos, no
contexto mencionado, configura-se como o processo denominado Reforma Psiquiátrica.
Fortalece-se, portanto, o conceito de desinstitucionalização, que visa superar o hospital
psiquiátrico e de trabalhar, junto ao paciente, na sua reinserção social, ou seja, de evitar a
internação e a ausência da família no processo.
formação profissional voltada à área da saúde mental ainda não acompanhar inteiramente as
mudanças institucionais.
A atenção à saúde pública no Brasil é recente: somente na década de 60 o país assume
a responsabilidade de administrá-la. Com a atenção à saúde geral, veio também à saúde mental,
para a qual ainda resistia o modelo manicomial e tradicional, com a existência de diversos
hospitais psiquiátricos espalhados pelo território.
Uma figura relevante que merece destaque no caminho traçado pela psiquiatria
brasileira até se atingir a reforma foi a médica Psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999). Ela
enxergou a riqueza naqueles considerados insensatos e propôs um tratamento que usava a arte
para reabilitar os pacientes (VELOSO, 2017). Contrariava-se à aplicação de choques elétricos
em pacientes – “tratamento” comum na época quando os pacientes tinham surtos – e propôs um
ambiente mais humanizado. Transformou salas abandonadas e imundas em ateliês de pintura,
conforme mostra o filme baseado na vida da alagoana “Nise – O coração da loucura” (2015),
implementando a terapia ocupacional, tratamento que até então era ignorado pelos psiquiatras
tradicionais.
Neste mesmo contexto, na década de 70, Franco Basaglia – psiquiatra italiano precursor
do movimento conhecido como Psiquatria Democrática – vem ao país e provoca um impulso
na direção da Reforma Psiquiátrica Brasileira (SILVA, 2006). Segundo Amarante (2000, p. 87):
[...] um serviço de saúde aberto e comunitário do Sistema Único de Saúde (SUS) [...]
O objetivo dos CAPS é oferecer atendimento à população de sua área de abrangência,
realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso
ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e
comunitários.
21
Apesar da transição para esse novo sistema ter se iniciado no final da década de 80,
somente em 2001, com a promulgação da Lei Paulo Delgado, é decretado o fechamento dos
manicômios e a consequente substituição destas instituições tradicionais pelos novos modelos.
Na década de 90 só havia 3 CAPS implantados no país. Em 2000 o número subiu para 240,
conforme Dermatini (2007). Segundo essa autora, “o modelo de atendimento aplicado nos
Centros de Atenção Psicossocial tem provado, através da recuperação dos usuários, a
possibilidade se fazer psiquiatria sem necessidade de violência, exclusão e preconceito” (2007,
p. 10).
Uma das grandes conquistas da Reforma Psiquiátrica Brasileira foi a chamada Rede de
Atenção Psicossocial (RAPS), instituída com a Portaria nº 3088 de 23 de dezembro de 2011.
Os objetivos gerais são: promover a ampliação do acesso à atenção psicossocial da população
em geral; criar vínculos entre as pessoas com transtornos mentais e com necessidades
decorrentes do uso de álcool e outras drogas, suas famílias e os pontos de atenção. A RAPS
apresenta diversos componentes, dos quais fazem parte o atendimento ambulatorial dos CAPS
em suas diversas modalidades, as Unidades de Acolhimento, os Serviços Residenciais
Terapêuticos e os leitos destinado à atenção à saúde mental nos hospitais gerais. No tópico
seguinte, veremos como a RAPS articulou-se em Natal, cidade que contempla o universo de
estudo do presente trabalho.
Por fim, vale destacar as modalidades que os CAPS podem contemplar. De acordo com
as informações extraídas do Manual de estrutura física dos Centros de Atenção Psicossocial e
Unidades de Acolhimento (Ministério da Saúde, 2013), esses são os tipos:
Atende pessoas de todas faixas etárias que sofrem transtornos mentais, indicados para
CAPS I
municípios ou regiões com população acima de 15.000 habitantes.
Atende pessoas de todas as faixas etárias que apresentam intenso sofrimento psíquico
CAPS AD decorrente do uso de crack, álcool e outras drogas. Indicado para Municípios ou regiões
de saúde com população acima de cento e cinquenta mil habitantes.
Atende pessoas de todas as faixas etárias com necessidades de cuidados clínicos
CAPS AD
contínuos. Serviço leitos para observação e monitoramento, de atendimento 24h.
III
Indicado para municípios ou regiões com população acima de 150.000 habitantes.
Como afirmado por Silva (2006), o trato com os loucos e, consequentemente, com os
usuários de drogas, em Natal, não foge à regra do que acontece com o restante do país. Com o
movimento da Reforma Psiquiátrica Brasileira, o Rio Grande do Norte se integra às discussões.
Apesar de existir opositores aos novos modelos propostos pela reforma, essas descrenças, no
entanto, não impediram que os trabalhadores em Saúde Mental se organizassem e conseguissem
a realização de inúmeras conferências voltadas tanto aos portadores de transtornos mentais –
incluindo aqueles cujas doenças derivam da dependência em substâncias psicoativas.
Entre 1993 e 1995, foram criados o serviço ambulatorial destinado aos usuários de
álcool e drogas (APA), o primeiro NAPS e a Unidade de Tratamento do Alcoolismo e Outras
Dependências (UTAD) (SILVA, 2006). No entanto, o tratamento ambulatorial mostrou-se
insuficiente em termos da quantidade de atendimentos, apesar de sua fundamental importância.
Nesse sentido, foi necessária a criação do primeiro CAPS álcool e drogas (CAPSad) em Natal,
em 1996, que também se configurou como o primeiro CAPSad do país.
De acordo com o Saúde Mental RN (s.d), atualmente, a cidade de Natal conta com 02
CAPSad – um na Zona Leste e um na Zona Norte – 01 CAPS infanto-juvenil na Cidade da
Esperança e outro CAPS em Lagoa Nova.
Os dois CAPSad do município funcionam em edificações que já existiam, por meio de
aluguel. Uma notícia de 2014 relata que o CAPSad Norte (Figura 3) já passou por histórico de
abandono e esteve fechado em alguns períodos devido a problemas com a edificação:
infiltrações, problemas estruturais como buracos na laje, tendo como consequência a interdição
do setor de nutrição e cozinha (SINDSAÚDE-RN, 2014).
23
O CAPSad Leste (Figura 4), por sua vez, já passou por quatro endereços diferentes.
Conforme Silva (2006), o primeiro espaço, situado à Rua Juvino Barreto, nº 190, era limitado:
“sala de enfermagem insalubre, não possuía área verde para as atividades de jardinagem e
exercícios específicos para desintoxicação” (CENTRO..., 2002, p. 1, apud SILVA, 2006, p. 66).
Após mudança de endereço, foi para a Rua Manoel Dantas, em Petrópolis. Dentre os diversos
problemas, destacou-se o fato de estar numa área consolidada pelo tráfico de drogas, houve
casos de existir oferta de bebidas alcóolicas na calçada do CAPS. Além disso, problemas físicos
nas salas de atendimento como existência de mofo e cupim e falta de privacidade dos espaços,
resultando na quebra de sigilo com o paciente. O terceiro endereço, que é o atual, situa-se na
Rua Monsenhor Severiano, nº 443. O centro tem funcionado em um endereço na Rua Açu
enquanto o outro passa por reformas, de acordo com notícia do Portal da Prefeitura do Natal
(2017). Segundo Silva (2006), a estrutura da casa foi minimamente adequada para atender o
item 6.3 – ESTRUTURA FÍSICA, da resolução 101 de 30 de maio de 2001 da ANVISA.
O que se percebe, portanto, é que a realidade da implementação dos CAPS em casas já
existentes teve como consequência problemas com as estruturas físicas, aliados ao descaso com
a manutenção, que culminaram até com a interrupção da oferta do serviço em determinado caso.
Decerto, um projeto arquitetônico elaborado para o funcionamento de um centro resultaria em
uma estrutura física melhor adaptada à sua função.
24
2 A ATENÇÃO HUMANIZADA
Parece redundante quando falamos que o ambiente voltado à atenção à saúde deve ser
humanizado. Afinal, todo ambiente projetado não deveria considerar quem irá usá-lo? O fato é
que o hospital enquanto edificação, foge, muitas vezes, de sua finalidade: promoção do bem-
estar e saúde. A exemplo do que foi discutido no item 2, os hospitais psiquiátricos que existiam,
até a recente Reforma Psiquiátrica, apresentavam características que pareciam buscar reforçar
para os pacientes suas condições de insanidade: não havia uma preocupação com a eliminação
de corredores e grades, com a utilização de luz natural, entre outras questões.
De maneira resumida, Mezzomo (2002, p. 14-15 apud VASCONCELOS, 2004, p. 23)
afirma que:
Humanizar é resgatar a importância dos aspectos emocionais, indissociáveis dos
aspectos físicos na intervenção em saúde.
Humanizar é adotar uma prática em que profissionais e usuários consideram o
conjunto dos aspectos físicos, subjetivos e sociais que compõem o atendimento à
saúde.
Humanizar refere-se, à possibilidade de assumir uma postura ética de respeito ao
outro, de acolhimento e de reconhecimento dos limites.
Humanizar é fortalecer este comportamento ético de articular o cuidado técnico-
científico, com o inconsolável, o diferente e singular.
Humanizar é repensar as práticas das instituições de saúde, buscando opções de
diferentes formas de atendimento e de trabalho, que preservem este posicionamento
ético no contato pessoal.
percepção de um morador de rua que recorreu ao CAPS seja a mesma de uma pessoa com
família e com trabalho diário, mas que também recorreu ao Centro em busca de tratamento.
Deste modo, compreende-se “[...] a realidade de cada um é construída a partir desses filtros
mentais e, portanto, é individual e única” (BESTETTI, 2014, p. 4).
Uma vez entendido o significado de percepção, pode-se relacioná-la ao meio ambiente.
Vasconcelos (2004) afirma que atualmente, o objetivo principal de muitos centros de saúde,
hospitais, consultórios e clínicas, é poder oferecer aos seus pacientes ambientes projetados que
possam auxiliar na sua recuperação levando benefícios físicos e psicológicos aos pacientes.
Portanto, a ideia é criar ambientes que respeitem a individualidade dos pacientes e que seja
percebido por eles de maneira positiva de modo a garantir seu conforto.
Nesse sentido, a ambiência considera diversos aspectos, pois quando se fala nessa
palavra, pensa-se na humanização por meio de equilíbrio de elementos que compõem o espaço
conforme Bestetti (2014). Ela afirma que o meio ambiente não é composto unicamente pelo
meio material onde se vive, mas pelo efeito moral que esse meio físico induz no comportamento
dos indivíduos.
Pode ser citada a experiência que ocorreu em um CAPSad em Aracaju. Segundo relato
de Bulhões, Vasconcelos e Escóssia (s.d., apud Ministério da Saúde, 2015) havia um espaço no
Centro denominado “Fumódromo”, onde os pacientes iam fumar tabaco. O lugar não era
frequentado pelos trabalhadores, inclusive os da limpeza. Então, foi realizado um trabalho de
grafitagem – elaboração de desenhos – nas paredes do fumódromo, e, com a colaboração dos
usuários, foi construído um jardim. Ferramentas de jardinagem foram adquiridas e uma equipe
ficou encarregada de limpar aquele espaço diariamente. O lugar foi renomeado para “Jardim
Primavera”. Por causa de tais mudanças na ambiência, o espaço começou a ser utilizado de
outras maneiras: existiam horários estabelecidos para ali se fumar, a fim de se obter redução
dos danos causados pelo uso do cigarro, e outras atividades passaram a ser desenvolvidas, como
jardinagem e reuniões em grupo.
Internacionalmente encontram-se vários exemplos interessantes de detalhes no projeto
arquitetônico hospitalar que fazem a diferença na ambiência. O hospital Chonnam National
University Hwasun Hospital, na Coreia do Sul, utilizou painéis no teto que mostram imagens
de um céu ensolarado, servindo de distração durante os exames (RADIOLOGY BAYER,
2017), conforme a Figura 5.
27
Como mencionado, existe uma gama variada de questões a serem contempladas nos
estudos de ambiência, visto que o ambiente construído pode ser percebido através de: forma,
iluminação, cor, textura, sonoridade, temperatura e função (BESTETTI, 2014).
A forma do edifício, mencionada na Cartilha de Ambiência como “morfologia”, refere-
se à configuração de espaços criados. Eles podem ser mais ou menos agradáveis, mas devem
ser sempre adequados (idem). Por exemplo, dificilmente uma enfermaria será mais agradável
do que um jardim. Isto não significa, no entanto, que a enfermaria não deva ser agradável
também. “A morfologia deve traduzir a composição que proporcione maior bem-estar possível
[...]” (ibdem, p. 605). A característica “textura” relaciona-se com a forma, pois está diretamente
conectada à percepção dos espaços e de movimento.
O segundo aspecto relaciona-se à iluminação do edifício, seja ela natural ou artificial. A
iluminação deve, primordialmente, possibilitar a realização das atividades fundamentais para o
funcionamento do serviço de saúde. De acordo com Lermann (2000 apud BITENCOURT, s.d.)
o conforto visual do ambiente pode estimular a consciência na participação da ação terapêutica.
Quanto à iluminação artificial, Vasconcelos (2004) afirma que muitos ambientes de saúde são
iluminados por lâmpadas fluorescentes, mas infelizmente a luz fria é interpretada pelo corpo
humano como escuridão pois não traz nenhum benefício à saúde. Deste modo, as soluções
projetuais devem contemplar aberturas para a paisagem externa de modo a garantir o conforto
luminoso do espaço. Segundo Bitencourt (s.d.), no caso de locais destinados à internação – que
envolve horas ou dias – as condições de percepção do ambiente externo podem trazer mais
28
Ainda hoje, a crendice popular está firmemente ancorada na convicção de que, nas
clínicas para doentes mentais existiriam quartos pintados com cores especiais, que
pacientes agitados pudessem ser conduzidos para quartos azuis para se acalmarem,
que pacientes deprimidos seriam levados para quartos vermelhos para se animarem –
as conhecidas propriedades das cores deveriam compensar o déficit do paciente. A
realidade é que em nenhuma clínica universitária existem esses aposentos para terapia
cromática. [...] Cientificamente, não é comprovável qualquer efeito curativo pela
aplicação de nenhuma cor. (HELLER, 2014, p. 78-79)
No entanto, o que ela destaca é o poder das cores sobre nossos sentimentos e emoções,
sendo isto diretamente relacionado ao contexto em que a cor se insere, como mencionado
anteriormente. Exemplo: é compreensível que uma cantina pintada de vermelho gere raiva nos
seus clientes, afinal a carne vermelha parecerá menos vermelha e os legumes parecerão
artificialmente coloridos. Já em bares, são comuns as salas de estar vermelhas, muito mais
aconchegantes que as azuis (idem).
Resumidamente, tratando especificamente de cada cor, Heller (2014) afirma que o azul
é tido como a cor predileta, uma cor calmante que induz tranquilidade. Para um ambiente, o
azul dá a impressão visual de abrir o espaço, deixando entrar o frio, portanto pode ter uma
sensação desejada em países quentes como o Brasil. “As pessoas com problemas respiratórios
sentem-se mais à vontade em quartos azuis, pois essa cor dá a sensação de maior volume de ar”
(MARTINS, 2004). O vermelho, por sua vez, é associado ao dinamismo, a efeitos estimulantes
e a situações de perigo. O amarelo é associado ao otimismo, recreação, jovialidade e
criatividade. Por fim, o verde reflete fertilidade, esperança e saúde.
As cores podem ser associadas umas às outras para diferentes intenções: destacar algum
elemento construtivo, tornar algum ambiente aconchegante ou, simplesmente, criar uma
atmosfera mais alegre, evitando a monotonia a qual existiria em um corredor
(VASCONCELOS, 2004), da maneira que mostra a Figura 6.
29
O próximo aspecto é a sonoridade do espaço. Uma vez que um dos efeitos crônicos da
dependência química é o aumento das percepções sensoriais, incluindo a percepção auditiva, é
necessário que o projeto arquitetônico contemple, também, aspectos que favoreçam ao conforto
acústico. De acordo com Bestetti (2014), ruídos são necessários ao ser-humano, pois ambientes
demasiadamente silenciosos causam sensação de insegurança e até mesmo medo. No entanto,
ambientes ruidosos demais causam inquietação e/ou irritação. Podem ser pensadas soluções de
revestimento que garantam a absorção interna dos sons e estratégias de isolamento entre locais
que contenham fontes de ruído e locais que necessitem da redução dos sons.
Assim como a iluminação, a temperatura do edifício também é influenciada pelas
aberturas que ele contém. Em climas como o de Natal, a ventilação natural se faz extremamente
necessária para, além de garantir melhores temperaturas internas, permitir que não seja
acumulada umidade dentro dos ambientes. A ventilação também garante renovação de ar, o que
é indispensável, pois quartos com baixa taxa de renovação de oxigênio afetam a qualidade do
sono (idem). Ademais, outros fatores são responsáveis por influenciar no conforto térmico: o
sistema construtivo das paredes e os equipamentos instalados que podem emanar calor.
Quanto à função, cada espaço serve para a realização de determinada atividade e para
garantir o bem-estar, essas atividades devem ser consideradas nas soluções projetuais. Um
jardim pode funcionar como um ponto de encontro para realização de conversas em grupo, já
um quarto de internação não poderia ter essa mesma função. Portanto, as estratégias de projeto
para cada ambiente devem contemplar essas características inerentes às atividades que nele são
desenvolvidas.
30
3 A RQUITETURA FLEXÍVEL
3.1 CONCEITOS
Diversas definições são dadas em arquitetura à palavra flexibilidade. Jorge (2012, p. 39)
afirma que a flexibilidade é “a ferramenta magistral para acompanhar as incertezas
imprevisíveis do futuro”. Villá (2008 apud TEIXEIRA, 2011, p.15), por sua vez, compreende
este conceito como “toda configuração construtiva e formal que permita uma diversidade de
formas de uso, ocupação e organização do espaço, ao longo da vida do edifício, como resposta
às múltiplas e mutáveis exigências da sociedade”. O arquiteto Rem Koolhas (1995, p. 240, apud
SANTOS, 2012, p. 9) afirma que “a flexibilidade não é a antecipação exaustiva de todas as
modificações possíveis. Muitas alterações são imprevisíveis […]. A flexibilidade é a criação de
uma capacidade de ampla margem que permita diferentes e mesmo opostas interpretações e
usos”.
O que os três conceitos têm em comum é conectar flexibilidade à ideia de adaptação às
mudanças necessárias, sejam elas por demanda da sociedade ou por incertezas do futuro. As
definições da palavra, portanto, podem abordar diferentes aspectos conceituais associados a,
por exemplo, adaptabilidade, multifuncionalidade, elasticidade, participação, mobilidade, entre
outros. Ademais, pode ser apresentada de duas formas, de acordo com Barbosa e Qualharini
(2004, p. 15, apud TEXEIRA, 2011, p. 29):
Góes (2004, p. 99), em seu livro “Manual Prático de Arquitetura Hospitalar” cita uma
série de pontos norteadores que devem ser considerados no projeto. Alguns deles podem ser
aplicáveis a um CAPS, tais como:
a) Regularidade na modulação;
b) Estandardização dos espaços e componentes construtivos;
c) Possibilidade e facilidade para implantação e manutenção das instalações.
Villà (2008 apud TEIXEIRA, 2011), do mesmo modo, cita algumas diretrizes possíveis
de incorporação ao projeto do Centro.
d) Procurar a redução da compartimentação, utilizando divisórias que possam
ser movidas ou removidas;
e) Privilegiar a organização que possibilite dar aos espaços diversas funções
sem transformá-los.
Deste modo, a característica flexível em uma edificação pode aparecer de várias
maneiras. Para explanação breve no presente capítulo, foram selecionados os aspectos que
podem ser úteis a um CAPS. São estes: modulação, margem, adaptação e transformação.
3.2.1 Modulação
Filkestein (2009) descreve este aspecto como um elemento de repetição, que aparece na
mesma ordem e na quantidade de vezes que for necessária. Por meio do módulo, podem também
ser geradas subdivisões: meio módulo, quarto de módulo. Sobre a malha modular são
posicionadas as estruturas, esquadrias, equipamentos, etc.
Ademais, outros benefícios associados a um projeto modulado são: padronização dos
materiais e redução de desperdícios, maior precisão dimensional; diminuição de erros de mão-
de-obra; possibilidade de substituição dos componentes padronizados; e, obviamente,
simplificação do projeto. Portanto, torna-se uma estratégia interessante a projetos que busquem
a redução dos custos da obra, como é o caso do projeto a ser elaborado neste trabalho.
3.2.2 Margem
Projetar com margens nas edificações implica em não aplicar as áreas mínimas
necessárias para o funcionamento do ambiente, isto é, utilizar áreas úteis maiores que as
necessárias, facilitando futuras modificações de layout. De acordo com Dorfman (2004, apud
TEIXEIRA, 2011, p. 30), folgas são estratégias que “permitam a um edifício atender a um leque
de funções o mais amplo possível. Folgas, por sua vez, exigem montantes de recursos superiores
àqueles necessários à garantia de desempenhos ótimos”. Deste modo, muitas vezes tendem a
ser interpretadas como desperdícios de recursos.
É uma característica comumente inerente a palácios com salões superdimensionados
para possibilidade da realização de variadas atividades e indústrias, as quais devem prever a
utilização de equipamentos maiores do que os atualmente utilizados, entre outros ambientes de
larga escala.
Ao mesmo tempo, margem pode ter uma relação contrária à explanada anteriormente.
Em vez de utilizar o excesso, deixar uma margem “de segurança” para expansões. É o que
acontece nos projetos de hospitais. Conforme a Portaria 400 de 6/12/1977 (apud GÓES, 2004),
os edifícios de estabelecimentos de assistência à saúde devem ocupar no máximo 50% da área
total do terreno, já prevendo futuras ampliações.
3.2.3 Adaptação
Figura 7 – Fukuoka Housing, Fukuoka, Japão Figura 8 – Fukuoka Housing, Fukuoka, Japão
3.2.4 Transformação
Além dos pontos focados no projeto, podem ser empregados diferentes sistemas
construtivos para facilitar a flexibilidade da edificação. A utilização de containers vem gerando
novos adeptos no mundo e, mais recentemente, no Brasil (MIRANDA, 2016). Em Natal, nos
últimos dois anos, tem se observado também diversas lojas, restaurantes e food trucks que
empregam este sistema.
Dentre as vantagens deste sistema, pode-se destacar: modulação, pois os tamanhos são
padronizados e, portanto, se encaixam facilmente; velocidade, visto que o tempo de se executar
uma construção em container é mais curto do que uma em estrutura convencional; e a
flexibilidade, pois como possuem estrutura independente e são projetados para suportar altas
cargas, é possível, com o passar dos anos, a inserção ou troca de componentes.
Um bom exemplo é Museu Nomadic (Figura 10), do arquiteto Shigeru Ban, composto
por 152 containers. Foi construído primeiro em Nova York, em 2005, para abrigar uma
exposição fotográfica, depois foi desmontado e remontado em Santa Monica, na California, no
início de 2006 (PORTAL METÁLICA, s.d.).
36
4 ESTUDOS DE CASO
edificação (Figura 12) apresenta uma área construída total de 741,23m², distribuída conforme
disposto na Figura 13. O orçamento estimado para a obra desse modelo é de R$1.401.764,34,
podendo variar conforme a região. O projeto foi elaborando utilizando um terreno de dimensões
45 x 31m (1395m²).
circulação do layout 01 e layout 02, respectivamente. A circulação livre refere-se às áreas onde
os pacientes e acompanhantes têm livre acesso. A área de circulação controlada mostra espaços
nos quais o público pode entrar somente com acompanhamento de algum funcionário. Por fim,
a circulação restrita compete aos ambientes nos quais não é permitida a circulação de usuários
e acompanhantes.
O estudo de caso seguinte foi realizado no Caps AD III Leste de maneira direta a partir
de visita in loco e de informações encontradas na dissertação de Silva (2006). O centro está
funcionando atualmente na Rua Açu, nº 418, desde novembro de 2016, enquanto a edificação
anterior, localizada no Barro Vermelho, encontra-se em reforma. A Figura 16 mostra a fachada
da instituição. Com o objetivo de preservar a privacidade dos pacientes, alguns ambientes não
puderam ser fotografados.
Quanto ao funcionamento, assim como todo CAPS III, o CAPS Leste é aberto 24h por
dia, inclusive nos finais de semana e feriados, dispondo de 10 leitos para pacientes que
necessitem estar em acompanhamento direto.
Foi elaborado um croqui esquemático da disposição dos ambientes no pavimento térreo
(Figura 17). Vale salientar que a planta não tem efeito de análise de dimensões dos ambientes,
somente de sua disposição. Como no superior existe somente a sala de direção e um depósito,
não houve necessidade de representá-lo.
43
pudessem se destinar a esse uso. Isso tem como consequência o fato de que a equipe não pode
repousar enquanto estiverem sendo realizadas rodas de conversa.
Além dos momentos de grupo, existem as oficinas, nas quais são feitos trabalhos
manuais em uma sala específica. Não foi possível ter acesso à sala, no entanto, alguns objetos
criados pelos usuários foram vistos. Normalmente, são feitos de material reciclado. Os trabalhos
mostrados na Figura 20 estavam expostos na sala de direção.
Figura 21 – Vasos com plantas na parte interna do Figura 22 – Vasos com plantas na parte interna do
muro muro
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017 Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017 Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017
47
Como foi possível visualizar nas plantas, o acesso à sala de direção funciona através de
uma escada. Um dos problemas encontrados foi que a largura da escada é insuficiente para
passagem de duas pessoas. Não existe outro tipo de acesso ao pavimento superior, como rampa
ou elevador, refletindo, mais uma vez, a falta de acessibilidade na edificação.
A visita à instituição foi imensamente significativa pois possibilitou o entendimento
acerca do real funcionamento de um CAPSad III e do que a equipe técnica da instituição
enfrenta no que tange à falta de espaço físico suficiente. Tais reflexões resultaram no acréscimo
de diversos ambientes ao programa de necessidades do projeto elaborado.
Esta seção contempla uma análise comparativa entre o Caps AD III Leste e o projeto de
referência de um CAPSad III disponibilizado pelo Ministério da Saúde, avaliado no item 4.1.
Inicialmente, os estudos de caso foram observados no que tange aos ambientes que os
projetos contemplam. Como esperado, diversos cômodos contidos no projeto de referência não
foram vistos no estudo direto realizado no Caps Leste, tais como: banheiros adaptados,
banheiros com vestiário, sala de medicação (os pacientes são medicados no próprio posto de
enfermagem), área para embarque e desembarque de ambulância, abrigos de lixo, e os depósitos
anexos a cozinha (um para mantimentos e outro para panelas e talheres).
Com relação à proposta arquitetônica, nota-se similaridades entre as edificações. Vale
salientar que o Caps Leste foi inserido em uma casa já existente e adaptado para tal, mas ainda
assim é interessante investigar as semelhanças. Ambas edificações utilizam a alvenaria de tijolo
como forma de vedação e telhas cerâmicas como cobertura. As soluções empregadas resultam
na dificuldade de flexibilização dos espaços.
No entanto, também são encontradas várias divergências quanto à proposta
arquitetônica, principalmente no que se refere à acessibilidade. No centro existente não há
rampas nem banheiros adaptados, como mencionado anteriormente. Ademais, as aberturas no
projeto de referência são voltadas para jardins internos, enquanto que na instituição visitada, as
esquadrias abrem-se para o recuo lateral, onde são estendidas as roupas dos pacientes.
Por fim, em conversa com a equipe técnica do Caps Leste, foi possível listar alguns
ambientes considerados necessários ao centro e que não fazem parte do programa de
necessidades em ambos os casos, tais como:
Fumódromo: Na instituição em Petrópolis, os usuários se dirigem à calçada para
poder fumar, pois não existe um espaço destinado a isso. Nota-se a mesma
48
O terceiro estudo de referência foi realizado de maneira indireta, isto é, não houve visita
in loco, somente análises por meio do material encontrado em pesquisa. Neste subitem será
mostrado o Centro Hospitalar Adolescente – Trillium Secure Adolescent Inpatient Facility –
em Corvallis, no estado de Oregon, Estados Unidos. O projeto foi elaborado pelo escritório
TVA Architects em 2015.
O edifício, mostrado na Figura 27, é destinado a adolescentes que sofrem de problemas
substanciais de saúde mental e comportamental, segundo informações do Archdaily (2017).
Apesar do foco no internamento de pacientes, o que automaticamente o torna diferente dos
CAPS, algumas soluções projetuais foram identificadas como relevantes à proposta do presente
trabalho.
49
Outra estratégia utilizada foi empregar os próprios blocos como “cerca” – como é
possível ver na Figura 29 –, deixando as áreas de convivência externas seguras e com uma
característica mais humanizada.
Nos muros que precisaram ficar aparentes, realizou-se um tratamento com pinturas,
conforme a Figura 30.
Figura 30 – Elaboração de pinturas na face interna do muro no pátio do Trillium Family Services
Esse estudo trouxe reflexões acerca de soluções de projeto que podem ser adotadas na
proposta do CAPS, tais como: uso de claraboias e de aberturas com peitoris altos; emprego dos
blocos do edifício como limites das áreas externas; e, por último, possibilidades de integrar ou
compartimentar ambientes.
52
Assim como os outros hospitais da Rede Sarah, o principal elemento responsável por
dar forma ao projeto é o shed metálico curvo (Figura 33), que é repetido em dezenas de linhas
paralelas (FRACALOSSI, 2012), conforme a implantação horizontal adotada no projeto
arquitetônico. A horizontalidade dos edifícios favorece a proposta de reabilitação motora do
53
hospital. As aberturas dos sheds são protegidas por venezianas que impedem a incidência direta
de radiação do sol nos vidros das esquadrias (NAHAS, 2011).
Figura 34 – Espaço interno do Hospital Sarah Figura 35 – Espera com painéis coloridos
Kubitschek
A construção do edifício foi bastante rápida. De acordo com Nahas (2011), o uso de
componentes industrializados fez com que as obras fossem concluídas em apenas seis meses.
Os componentes foram fabricados em Salvador, no Centro de Tecnologia da Rede Sarah, que
se constitui de uma fábrica responsável pela produção dos componentes deste modelo
hospitalar.
A análise do Centro de Reabilitação Infantil Sarah Kubitschek foi útil à presente
proposta de elaboração do CAPS por mostrar aspectos que podem acrescentar ao partido
arquitetônico do Centro. O primeiro, dito anteriormente, refere-se à utilização de aberturas
zenitais, pois a solução se mostraria interessante em um CAPS por garantir entrada de
iluminação natural através do teto, reduzindo a necessidade de aberturas de vidro em alturas
baixas que prejudicaria a segurança dos usuários. O segundo ponto diz respeito à integração
com jardins externos, que ajudam na renovação do ar, na sensação térmica dos ambientes e
provoca melhoras na percepção por parte do usuário visto que diminui a sensação de estar em
uma instituição hospitalar. A terceira característica significativa refere-se ao emprego de
elementos de divisórias e muros com concepções artísticas, garantindo humanização.
Como foi visto no item 1.2, há duas modalidades de CAPS voltadas ao atendimento de
pessoas com transtornos mentais decorrentes da dependência do álcool e outras drogas: o
CAPSad e o CAPSad III. Recomenda-se o CAPSad III para municípios com população acima
de 120.000 habitantes, de acordo com o Ministério da Saúde (2013). Ademais, este centro deve
ser implantado na proporção de um para cada grupo populacional de 200 a 300 mil habitantes.
Considerando que o município de Natal possui uma população de 877.662 habitantes (IBGE,
2016), deveria existir no mínimo três centros com o funcionamento 24h, no entanto há somente
um. Por esta razão, foi priorizada a proposta dessa modalidade de CAPS.
As características e funções do CAPSad III, segundo a Portaria nº 130 de 26 de janeiro
de 2012, compreendem:
Funcionamento 24h (incluindo feriados e finais de semana);
Pode destinar-se a atender adultos, crianças ou adolescentes, conjunta ou
separadamente;
Condicionar o recebimento de usuários transferidos de outros Pontos de
Atenção, para acolhimento noturno, a partir de prévio contato;
Promover inserção, proteção e suporte de grupo para seus usuários, no processo
de reabilitação psicossocial;
Orientar-se pelo princípio de Redução de Danos, que consiste num conjunto de
práticas cujo objetivo é reduzir os danos provocados pelo uso de substância
psicoativas em pessoas que não podem ou não querem parar o consumo;
Alguns pontos importantes sobre o funcionamento de um CAPSad 24h são (idem):
Atendimento em grupos para psicoterapia, grupo operativo e atividades de
suporte social, dentre outras;
Atendimento individual para consultas em geral, atendimento psicoterápico e de
orientação, dentre outros;
Atividades de reabilitação psicossocial, tais como resgate e construção da
autonomia, alfabetização ou reinserção escolar, acesso à vida cultural, manejo
56
Área unitária
Quantidade mín. Área total
Ambiente Atividade Ambiência desejada Quantidade adotada mín. obrigatória
obrigatória adotada
(m²)
Recepção Primeiro contato de usuários e Sensação de
1 1 30 30
familiares acolhimento
Salas de Espaço para consultas, entrevistas, Aconchego,
atendimento terapias privacidade, silêncio 3 3 9 9
individualizado
Salas de Atendimentos em grupo e Dinamicidade
atividades desenvolvimento de práticas
2 3 24 72
coletivas corporais, expressivas e
comunicativas
Sala de leitura Leitura individual e coletiva Aconchego, silêncio - 1 - 25
Espaço de Encontros de usuários, visitantes, Iluminação natural
convivência familiares, troca de experiências e 1 1 65 65
conversas
Fumódromo Local onde é permitido que os Espaço aberto provido
- 1 - 16
usuários fumem de ventilação natural
Banheiros Banheiros com dimensões que -
adaptados com seguem a NBR 9050. Pode conter
2 2 4,8 9,6
chuveiro e vestiários.
sanitário
Sala de Aplicação de medicamentos Poltrona confortável
medicação para pacientes
1 1 5 5
receberem os
medicamentos
Posto de Espaço destinado ao trabalho da Deve permitir conexão
enfermagem equipe técnica visual com parte 1 1 6 6
externa da sala
Quarto coletivo Destinado ao acolhimento noturno, Privacidade
4 5 9 45
com com duas camas
58
acomodações
individuais
BWCs anexos aos No quarto coletivo com os leitos, o -
5 6 3,6 21,6
quartos coletivos banheiro deverá ser adaptado
Quarto coletivo Destinado ao acolhimento noturno, Privacidade, conforto
com dois leitos acústico, boa taxa de 1 1 14 14
renovação do ar
Quarto de Destinado ao repouso profissional, Privacidade, conforto
plantão onde a equipe pode guardar seus acústico, boa taxa de 1 2 9 18
pertences pessoais renovação do ar
Sala Escritório onde trabalha a equipe -
1 1 22 22
administrativa administrativa do centro
Sala de Reuniões de equipe, de projeto com Cadeiras confortáveis,
reunião/Auditório usuários e familiares, reuniões conforto acústico 1 1 20 50
intersetoriais, etc
Almoxarifado Deve permitir armazenamento de -
1 1 5 5
materiais necessários
Sala para arquivo Onde ficam armazenados os -
1 1 5 5
prontuários
Refeitório Realização das refeições Local agradável, com
vista para ambientes 1 1 60 60
externos
Copa (cozinha) Manipulação de alimentos e Ambiente que favoreça
realização de ações coletivas com a higiene e espaço
1 1 16 16
os usuários suficiente para a
realização de oficinas
Despensa para Armazenagem dos ingredientes -
- 1 - 10
alimentos utilizados nas refeições
Despensa e Lavagem e guarda de louças, -
lavagem de panelas, talheres e demais utensílios - 1 - 6
utensílios
59
Este tópico consiste na elaboração de síntese das relações espaciais e funcionais que
acometem os ambientes especificados no item anterior. Estes foram divididos em 4 unidades
funcionais que se relacionam a partir das atividades desenvolvidas neles, conforme a Figura 36.
Agrupar os cômodos em unidades auxilia na compreensão das relações entre eles e na percepção
da necessidade de proximidade entre ambientes de funções conectadas.
refeições diárias. Diretamente conectado ao refeitório deve estar a cozinha e seus componentes:
despensa de alimentos e área para lavagem e guarda de utensílios.
Outra observação relevante refere-se ao D.M.L e à rouparia. De acordo com o Manual
de Estrutura Física (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013), o D.M.L deve conter espaço para
máquina de lavar e para secagem das roupas, portanto, é interessante que se a rouparia não
estiver diretamente conectada a este ambiente, deve situar-se próxima.
Por fim, como o próprio nome já mostra, a última unidade funcional contempla os
espaços destinados à convivência entre usuários: salas de atividades coletivas, espaços interno
e externo de convivência, sala de TV, sala de leitura, fumódromo, espaço de esportes. Os
componentes de lazer devem: possibilitar a troca de experiências, a realização de pequenos
eventos (saraus); ser atrativos e apresentar um ar de informalidade. O Manual de Estrutura
Física (MINISTÉRIO..., 2013, p. 18) afirma que “é importante lembrar que o espaço de
convivência não é equivalente a corredores”. Os ambientes, mostrados na Figura 40, não
necessariamente devem estar diretamente conectados, mas é importante que exista facilidade
de circulação entre eles.
Após elaboração do programa de necessidades, que teve como resultado a área útil
estimada para o centro – sendo este um dos requisitos para a escolha de terreno – foi possível
elaborar uma série de outros critérios a serem considerados nesta análise. Observou-se não só
o terreno em si, como também o seu entorno, acessos, e inserção dentro da Rede de Atenção
Psicossocial.
5.4.1 Critérios
Diante dos critérios considerados, o terreno escolhido fica situado no Bairro de Capim
Macio, Zona Sul do Município de Natal, Rio Grande do Norte, como mostra a Figura 42. Trata-
se de um lote de esquina e pode ser acessado por duas vias. Ao Noroeste está a Rua Francisco
Pignataro e, ao Sudoeste, a Rua Industrial João Mota.
Atualmente, o lote encontra-se sem uso. Há poucas árvores e bastante solo acumulado
em alguns trechos (Figura 43).
Quanto aos aspectos físicos, o terreno possui 1643,86m² de área e tem formato
levemente trapezoidal. As dimensões podem ser visualizadas na Figura 44.
68
Ademais, a análise topográfica do terreno mostra que há uma diferença de 3 metros entre
a cota mais baixa do terreno (que fica mais ao sul) e a mais alta (mais ao norte) (Figura 45).
A facilidade de acesso ao lote foi um ponto significativo para a escolha. Ele está situado
a aproximadamente 400m da Avenida Engenheiro Roberto Freire, uma das principais vias da
cidade (de classificação Via Arterial I) que começa em Capim Macio e segue até a Vila de
69
Ponta Negra. Ademais, localiza-se a 600m de distância da Avenida Ayrton Senna, outra
importante avenida (Via Arterial I). Existem lotes próximos sem uso, deste modo é possível
locar o estacionamento em um destes lotes e priorizar no terreno principal a edificação com
seus espaços livres (Figura 46), senão teria que ser buscado um lote com maiores dimensões e,
consequentemente, mais distante das vias principais, o que seria negativo para a proposta do
centro.
5.4.3 Entorno
principais orientações da norma supracitada são: utilizar grandes aberturas para ventilação,
sombrear as aberturas e empregar ventilação cruzada.
Em uma análise elaborada no software The Solar Tool (Figura 49), simulou-se fachadas
paralelas aos limites do terreno e, assim, foi possível encontrar informações referentes aos
meses do ano e horas do dia em que estas faces estariam recebendo incidência solar direta.
Todas as fachadas recebem radiação direta todos os meses do ano, a variação ocorre
somente nos horários que a incidência acontece. A face voltada para Nordeste recebe incidência
direta no verão aproximadamente até às 9h da manhã, e no inverno até às 14h. Já a fachada
Noroeste só começa a receber radiação direta, no verão, a partir das 14h30 e, no inverno, a partir
das 10h. A fachada sudeste, nos meses de junho e julho, fica sombreada a partir das 10h30,
enquanto em janeiro e fevereiro, a partir das 13h30. Por fim, a face voltada para o sudoeste, no
inverno, é sombreada até às 15h, enquanto que nos meses mais quentes, somente até por volta
das 10h30. O Quadro 02 sintetiza as informações dispostas neste parágrafo.
73
considerada para o Código será inferior a 6m, enquanto que a área construída superior a 750m².
Portanto, as exigências são: prevenção fixa (hidrantes); prevenção móvel (extintores de
incêndio); sinalização; escada convencional; instalação de hidrante público. Ademais, o Art 9º
determina que a largura mínima exigida para escada convencional é de 1,60m.
79
6 EVOLUÇÃO DA PROPOSTA
Para Neves (1989, p. 121) esta representa a segunda etapa do processo projetual, que
constitui “[...] em síntese, o trabalho de processar as informações básicas, imaginar a ideia
preliminar do projeto e expressá-la numa forma perceptível através do desenho”.
Dentro dessa perspectiva, as informações adquiridas a partir do referencial empírico
nortearam o conceito do projeto, resumido na palavra “Traços”, que se relaciona à arteterapia a
partir do emprego de cores variadas e de elementos que possam fazer os pacientes deixaram
seus registros na própria edificação. A história da psiquiatra Nise da Silveira, mencionada
anteriormente, foi uma das principais referências à concepção deste conceito pois a médica
implementou ateliês de pintura no manicômio onde trabalhava e notou os efeitos terapêuticos
positivos causados nos pacientes. As produções, atualmente, são expostas no Museu de Imagens
do Inconsciente no Rio de Janeiro. A Figura 53 destaca algumas das mandalas produzidas pelos
usuários, as quais revelavam diversas formas geométricas e cores.
80
Figura 53 – Mandalas produzidas pelos usuários no Setor de Terapia Ocupacional do Hospital Pedro II
Tanto a Rua Industrial João Mota quanto a Rua Francisco Pignataro são classificadas
como vias locais pelo Plano Diretor de Natal (2007). Nas visitas in loco notou-se que o fluxo
de veículos nas duas ruas é similar, então por questões de proximidade e melhor adaptação do
projeto à topografia, locou-se a entrada principal pela Rua Industrial João Mota.
Como parte do processo, determinados pontos foram repensados quando a planta baixa
foi iniciada. Por exemplo, os quartos de plantão da equipe médica foram relocados para o
pavimento térreo garantindo maior proximidade com os banheiros de funcionários, mas sem
perder a conexão com os quartos coletivos. Utilizou-se a modulação de 1,20m para as paredes
em alvenaria e para locação dos containers no terreno, se adequando ao conceito de
flexibilidade visto no tópico 3.2.1. A Figura 56 mostra a primeira solução de planta baixa do
pavimento térreo, enquanto a Figura 57, pavimento superior. Na Figura 57 foram acrescentados
retângulos com tracejados em vermelhos para indicar a delimitação dos containers e assim
entender os problemas desta solução.
83
Com essa primeira ideia de planta baixa, foi realizada uma observação a fim de
encontrar possíveis erros e melhorias para o projeto. No térreo, constatou-se que devido à
localização do fumódromo, mesmo estando mais a norte, nas horas do dia que os ventos
possuíssem sentido leste, a fumaça seria levada para dentro da área de convivência, o que
poderia causar desconforto aos usuários não-fumantes. Mesmo que os momentos nos quais se
é permitido fumar sejam controlados, é um incômodo que pode ser evitado relocando este
ambiente para o lado esquerdo do terreno. Outro problema encontrado foi a parede ao norte da
sala de atividades físicas, criando locais escondidos no terreno. Por fim, foram acrescentadas
duas vagas no lote, sendo uma destinada a idoso e outra a pessoas com mobilidade reduzida.
No pavimento superior, notou-se uma divergência no que tange a aplicação das
determinações do código de obras sobre à largura mínima permitida para quartos. Considerando
que a largura do container é 2,44 metros, quando se insere o revestimento interno dos quartos,
estes, do modo como estão colocados, teriam largura interna de aproximadamente 2,30. Mesmo
que a permanência dos usuários nos quartos seja de no máximo dois dias, foi necessário
reconsiderar este problema. Para este caso, a solução foi repensar a planta do pavimento
superior de modo a unir dois containers, eliminar as faces entre eles e posicionar os quartos nos
outros sentidos.
O passo seguinte foi posicionar os blocos na cota mais baixa do terreno. Notou-se que,
em diversos pontos, a edificação ficaria “enterrada” devido ao aclive próprio do lote. Em
consequência disso, os blocos foram elevados até se ajustarem à altimetria do terreno, de
maneira que as alterações a serem feitas na topografia original fossem minimizadas. A Figura
59 mostra como se deu o processo.
Inicialmente, a cobertura para a área dos containers foi dividida em duas partes, se
constituindo de um telhado com uma água e outro com duas. No entanto, o efeito estético
encontrado não foi o esperado, para mais se observou um problema eminente devido a um
possível ponto de infiltração resultante da maneira com a qual os telhados se encontram. O
segundo estudo foi elaborado trazendo mais dinamicidade estética e permitindo a existência de
duas principais calhas para onde as águas pluviais podem ser drenadas e permitir seu
reaproveitamento. A Figura 60 apresenta o desenvolvimento desta coberta.
Antes de seguir para o detalhamento, foi elaborado um estudo para verificar a eficiência
das estratégias adotadas.
Inicialmente, observou-se o sombreamento da edificação no próprio terreno a partir do
software Ecotect Analysis. As datas escolhidas para análise foram o solstício de inverno (21 de
junho) e o solstício de verão (21 de dezembro), por representar as duas situações extremas. A
Figura 61 aponta que a área de convivência externa ficará sombreada em boa parte do dia, o
que é positivo, pois estimula o seu uso.
87
A próxima análise foi feita simulando as principais aberturas dos quartos coletivos que
estão orientadas para o Sudeste. Para isto, utilizou-se o software Solar Tool. Considerou-se a
altura da janela de 1,50m, com peitoril de 0,65m e largura de 1,60m. Foi acrescentado um brise
acima da janela à distância de 1,20m, simulando a altura da coberta acima dos blocos (Figura
62). As simulações mostraram que estas aberturas, tanto no verão quanto no inverno, recebem
insolação somente até aproximadamente 7h30.
Mesmo o resultado sendo apropriado, foi adotado um tipo de janela com aletas
rotacionáveis que permitissem fechamento total. No entanto, o foco do emprego deste sistema
de abertura foi a ausência de vidro e a garantia de privacidade dos pacientes, quando necessário.
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Por fim, utilizou-se o software Autodesk Flow Design para se obter as pressões do vento
resultantes sobre as fachadas (Figura 63). Inicialmente, considerou-se o vento com sentido Sul.
O resultado encontrado são altas pressões sobre a fachada sudoeste e pressões negativas sobre
a fachada nordeste. Deste modo, infere-se que o vento entrará pelos cobogós, pelos brises e
pelas aberturas nos quartos e salas coletivas. Já na simulação com o vento sentido Leste, a
fachada sudeste contempla as maiores pressões, possibilitando a leitura de que, para este caso,
os quartos mais favorecidos são os com abertura voltada para esta fachada (quartos 05 e 06).
7 M EMORIAL DESCRITIVO
7.1 IMPLANTAÇÃO
Como visto, a proposta para o CAPS possui dois terrenos de intervenção. No terreno 01
se situa a edificação, enquanto no terreno 02, o estacionamento com 20 vagas. Os terrenos foram
escolhidos seguindo os critérios mencionados no tópico 5.4: localização, infraestrutura urbana
e uso dos solos no entorno, e dimensões.
O acesso principal acontece pela Rua Industrial João Mota, ao passo que os acessos
secundários (preferencialmente para funcionários), de carga e descarga e abrigos de lixo, na
Rua Francisco Pignataro. No terreno 01 foram adicionadas duas vagas, sendo uma para idoso e
outra para portador de necessidades especiais, visando adequação a norma NBR 9050 que
determina a distância máxima de 50m entre as vagas reservadas e o acesso. Foi acrescentada
uma baia destinada à parada de ambulância caso venha a ser necessário.
90
De maneira geral, a implantação, exposta na Figura 64, foi elaborada com base na
distribuição das unidades funcionais e priorizando as áreas de convivências nos espaços
centrais. Os recuos frontal e lateral esquerdo foram utilizados para área de grama e vegetação,
pensando-se também nas oficinas de jardinagem que são parte do programa da instituição.
Já o estacionamento (Figura 65) possui o acesso de veículos pela Rua Industrial João
Mota e o de pedestres pela Rua Francisco Pignataro, devido à proximidade com a edificação.
O cálculo das vagas foi elaborado considerando o Anexo III do Código de Obras de Natal
(2004), na categoria que caracteriza “Hospital, maternidade, pronto socorro, clínica médica,
91
dentária, consultório, laboratório, etc” de até 2 pavimentos para vias locais, determinado uma
vaga a cada 55m².
Figura 65 – Planta do estacionamento
centro (que não sejam da equipe de funcionário nem usuários) tenham que adentrar muito na
edificação e assim, gerar a possibilidade de incômodo nos indivíduos devido à perda de
privacidade.
As salas coletivas foram todas posicionadas de maneira a permitir integração com a área
de convivência externa ao passo que também possui uma melhor ventilação. O refeitório
também apresenta esta característica de visibilidade da área central, que é arborizada e com
bancos para convivência entre usuários, equipe e familiares. As despensas situadas no refeitório
foram locadas próximas à entrada de carga e descarga. Há uma porta secundária que possibilita
a chegada dos utensílios e alimentos e a saída para depósito no abrigo de lixo.
À direita das salas de atividades está situada a circulação vertical, que dá acesso aos
quartos coletivos de acomodação individual nos pavimentos superiores. Os quartos de plantão
da equipe, destinado ao repouso dos funcionários e acomodação daqueles que irão dormir no
centro, fica situado no pavimento térreo e próximo à escada e plataforma elevatória, para
possibilidade de alcance rápido aos quartos coletivos se existir alguma ocorrência. Na Figura
66 pode-se observar as relações entre os ambientes.
Um aspecto relevante também considerado foi a análise dos tipos de circulações internas
do centro (Figura 68). Foi necessário observar se as circulações livres e controladas se
interceptam em alguma área e se os fluxos estão bem determinados.
94
Nota-se, portanto, que as áreas de circulação livre estão bem conectadas e centrais em
relação ao lote.
Esse item discorrerá sobre as escolhas gerais adotadas para o centro. Algumas
características são diferentes para o bloco constituído de containers, por este motivo estas serão
mencionadas no tópico seguinte.
O sistema construtivo para as paredes externas adotado para o bloco principal (que
contém a recepção, área de convivência interna, etc) e o do refeitório é alvenaria de tijolo
cerâmico com camada de chapisco, reboco, massa acrílica e pintura em tinta acrílica com cor a
depender. As paredes internas são de drywall pintadas na cor branca. Na área de convivência
interna e na recepção foram utilizadas divisórias internas leves de placas de OSB (Oriented
Straight Board) pintadas em diversas cores seguindo a paleta escolhida para o projeto. Estas
divisórias podem ser removidas sem transtornos ao funcionamento da edificação, sendo um dos
95
pontos que traduz a flexibilidade inerente ao projeto. Outra particularidade está no refeitório e
na sala de reunião, pois possuem uma de suas paredes com aplicação de tinta efeito lousa no
lado interno, sendo possível que os usuários produzam e apaguem desenhos com a utilização
de giz na parede.
A cobertura é composta de telhas termoacústicas, também denominadas telhas
sanduíches, com núcleo de poliestireno e a inclinação varia ao longo do projeto. Este tipo de
telha é uma boa solução para redução de ruídos além de amenizar temperaturas internas.
Tomou-se partido sobre os telhados para que estes pareçam flutuar sobre o edifício. Deste
modo, toda a estrutura metálica de sustentação fica exposta.
O sistema de laje empregado foi steel deck, que é composto por uma telha de aço
galvanizado em formato trapezoidal e uma camada de concreto. Esse tipo de sistema funciona
bem tanto em uma edificação com uso de estrutura metálica como estrutura em concreto, sendo
assim, pôde ser aplicado em todos os blocos do projeto. Como, neste caso (onde a maioria dos
vãos variam de dois a quatro metros), não necessita de escoramento, diminui custos com
execução e mão-de-obra, além de reduzir significativamente o tempo da obra.
Quanto ao piso, nas áreas externas é feito de placas cimentícias em cor neutra, nas
dimensões de 1.00m x 1.00m. As áreas molhadas possuem piso cerâmico esmaltado acetinado
com medidas de 0,43cm x 0,43cm. Os espaços internos como salas de atendimento,
administração, sala de reunião, entre outros, possuem aplicação de piso vinílico em manta com
textura que imita madeira.
Foi projetada uma torre destinada aos reservatórios inferior e superior de água. O cálculo
(Tabela 2) foi feito utilizando-se o número de pacientes nos quartos (12 no máximo) e o número
de pacientes por turno (40), e aplicando-se a tabela do Anexo II da Instrução de Serviço 02/2009
da CAERN (2009). Os residentes foram enquadrados na categoria “Residencial normal acima
de 100m² – 200 a 300 l/hab*dia”, tomando como base o valor de 200 litros por dia. Já os
usuários por turno foram classificados como “Ambulatórios, enfermarias ou similares – 200 a
300 l/hab*dia”, também aplicando-se o valor de 300 litros por dia. Considerando uma reserva
de 2,5 dias e a reserva de incêndio de 7200L (mínimo determinado), o volume total resultante
foi 43200L. A escolha por dividir o volume em reservatório superior e inferior tem como
principal motivo o alívio das cargas na estrutura da torre, reduzindo assim o consumo de
concreto e aço.
96
Por fim, foi prevista estrutura mista para a edificação. Nos locais em alvenaria serão
utilizados pilares de concreto armado, enquanto as partes com estrutura metálica e para
sustentação da tesoura do bloco da recepção empregarão pilares metálicos de seção I.
7.3.1 Esquadrias
As portas possuem abertura com altura de 2,10m e em sua maioria são de MDF
laminado. As portas de acesso aos quartos possuem bandeiras fixas em vidro. As esquadrias da
entrada principal e acesso ao refeitório também seguem a solução de veneziana de alumínio.
O bloco que contém as salas de atividades e quartos tem certas particularidades devido
ao sistema construtivo aplicado, e estas são discutidas neste tópico.
Os containers possuem estrutura independente a qual é responsável por suportar grandes
cargas. Seria necessária uma densidade muito alta de carga para exceder o quanto um container
consegue suportar levando em conta o que ele possui de espaço interno, de acordo com Slawik
(2010 apud MIRANDA, 2016). O empilhamento é feito utilizando-se peças de travamento nas
quatro arestas, e o equipamento mais indicado para esse tipo de serviço é o Caminhão Munck,
que apresenta braço hidráulico de içamento dos containers (idem).
No pavimento térreo, foram utilizados dez containers do tipo Dry 20’, o mais usado na
construção civil, de acordo com Miranda (2016). No pavimento superior, usou-se três do tipo
Dry 20’ e três 40’, que possui dimensões maiores. A Figura 70 mostra as medidas destes tipos.
98
Nos banheiros não-acessíveis, foi aplicada a estratégia de piso elevado. Nesta situação,
a cerâmica é aplicada sobre painéis de polipropileno, instalados sempre fora da modulação das
placas, e elevados em relação ao piso com o uso de pedestais de aço (REMASTER, 2016).
Deste modo, os ramais de efluentes sanitários são direcionados aos shafts no vão gerado entre
este sistema e o piso, como exposto na Figura 74. Tal solução ajuda a atender à Norma de
Desempenho, NBR 15.575 por minimizar o ruído hidráulico. Ademais, facilita e reduz custos
de manutenção de áreas molhadas, além de não necessitar criar cortes em diversos pontos dos
painéis dos containers, reduzindo a resistência do sistema estrutural.
Quanto às salas de atividades e quartos, foi aplicado um piso vinílico em manta com
uma textura que imitasse madeira. Esta solução tem fácil aplicação e ajuda no conforto térmico
e acústico do ambiente.
No pavimento superior é possível observar a circulação externa que se conecta ao
container. Para isto, uma chapa metálica foi parafusada no trilho inferior dos containers
superior. Nesta chapa são soldadas vigas no sentido transversal, que sustentam placas de 40mm
compostas de miolo de OSB e as duas faces externas de placas cimentícias. Esta solução resiste
a um carregamento de até 500kg/m² de cargas distribuídas com apoios a cada 1,25m
(BRASGIPS, 2017).
103
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