Você está na página 1de 120

Ingrid Alexia Silvério Freire

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN


CENTRO DE TECNOLOGIA – CT
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO – CAU

INGRID ALEXIA SILVÉRIO FREIRE

CAPS ARTE E VIVÊNCIA


Anteprojeto de um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas para a cidade de
Natal/RN

Natal, RN
2017
INGRID ALEXIA SILVÉRIO FREIRE

CAPS ARTE E VIVÊNCIA


Anteprojeto de um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas para a cidade de
Natal/RN

Trabalho Final de Graduação do Curso de Arquitetura


e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, apresentado no semestre letivo 2017.2
como requisito de obtenção do título de Bacharel em
Arquitetura e Urbanismo.

Orientação: Profª. Drª. Eunádia Silva Cavalcante

Natal, RN
2017
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT

Freire, Ingrid Alexia Silvério.


CAPS arte e vivência: anteprojeto de um centro de atenção
psicossocial álcool e drogas para a cidade de Natal/RN / Ingrid
Alexia Silvério Freire. - Natal, 2017.
109f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande


do Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e
Urbanismo.
Orientadora: Eunádia Silva Cavalcante.

1. Arquitetura hospitalar - Monografia. 2. Saúde mental -


Monografia. 3. Humanização - Monografia. I. Cavalcante, Eunádia
Silva. II. Título.

RN/UF/BSE15 CDU 725.51


INGRID ALEXIA SILVERIO FREIRE

CAPS ARTE E VIVÊNCIA


Anteprojeto de um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas para a cidade de
Natal/RN

Trabalho Final de Graduação do Curso de Arquitetura


e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, apresentado no semestre letivo 2017.2
como requisito de obtenção do título de Bacharel em
Arquitetura e Urbanismo.

Orientação: Profª. Drª. Eunádia Silva Cavalcante

Aprovação em ___ de ____________ de ______.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________
Eunádia Cavalcante
Professora Orientadora – UFRN

____________________________________________________
Professor convidado – UFRN

____________________________________________________
Arquiteto convidado
A GRADECIMENTOS

Não é simples em apenas poucos parágrafos expressar a gratidão a todos aqueles que
contribuíram de alguma forma no decorrer de minha jornada no curso de Arquitetura e
Urbanismo. Começo agradecendo, inicialmente, à minha família: minha mãe Izaura, meu pai
Alexandre e meu irmão Igor, por todo o incentivo e preocupação. Minha mãe, pessoa na qual
me espelho diariamente, por admirar suas conquistas ao longo da vida mesmo quando há
adversidades. Meu pai, que sempre se interessou e elogiou os projetos por mim desenvolvidos,
me fazendo permanecer positiva. Por fim, meu irmão, pelas discussões intelectuais e polêmicas,
e pelos incentivos constantes para que eu aprenda novos programas, o que me ajudou bastante
ao longo do curso.
Agradeço enormemente ao meu companheiro, namorado e amigo, Miguel Alexandre,
que mesmo à distância se faz presente todos os dias, compartilhando os meus sonhos e
expectativas, e me apoiando nos momentos de ansiedade e dúvidas. Obrigada também por
compreender quando não pude estar presente.
As amizades desenvolvidas durante o curso e que quero que permaneçam comigo para
o resto da vida. O pessoal do Seven: Gabi, Jamile, Clidenor, Nathália, Priscila e Malu. Agradeço
todas as alegrias que vivenciamos. Vocês fizeram esses anos de curso os melhores da minha
vida. Ao pessoal do Txutxa, das turmas 2012.1 e 2013.1, por todas as conversas, saídas,
comemorações e ajudas compartilhadas. Aos amigos de Leicester, dos quais tenho uma enorme
saudade. Obrigada por toda a torcida mesmo à distância.
À minha orientadora, Eunádia Cavalcante, pela disponibilidade, apoio e confiança. Por
todo o incentivo quando encontrei dificuldades e pelas dicas preciosas para a realização deste
trabalho.
Aos demais professores do curso, por terem contribuído, direta ou indiretamente, para
o meu conhecimento ao longo do caminho. Em especial ao professor José Augusto, que me
passou informações importantes para o desenvolvimento inicial do TFG, e às professoras que
sempre se mostraram disponíveis quando precisei: Aline Araújo D’amore, Angela Lúcia
Ferreira e Gleice Elali.
Por fim, agradeço imensamente à arquiteta Renata Matos e sua equipe, que foram
minhas fontes diárias de aprendizado nestes últimos dois anos. Seriam necessárias centenas de
páginas para descrever o quanto contribuíram não só para a minha formação profissional como
também para o meu crescimento pessoal. Obrigada pela amizade, confiança e apoio.
“Gente curada demais é gente chata. Todo mundo
tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido:
vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade
mais profunda”
Nise da Silveira.
R ESUMO

Gradativamente, a epidemia do Crack afeta, principalmente, os moradores de rua do


município de Natal. O motorista ou pedestre que transita pela cidade durante a noite visualiza
diversos pontos onde os sem-abrigo fazem uso desta substância e nota-se, nitidamente, que
estes se afastaram do convívio social e profissional em virtude de sua dependência. Além do
crack, outras substâncias psicoativas, incluindo o álcool, podem resultar em transtornos mentais
nos usuários. Nesse contexto, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são instituições
voltadas ao tratamento de pessoas com distúrbios psicológicos a partir de um trabalho focado
na reinserção social do usuário. O CAPS Álcool e Drogas (CAPSad), por sua vez, lida
especificamente com os casos em que o transtorno mental é decorrente da dependência química.
O presente Trabalho Final de Graduação une as áreas da Arquitetura com a Saúde Mental,
objetivando, ao seu final, a elaboração do Anteprojeto de um CAPSad na Zona Sul de Natal.
Os principais conceitos que norteiam o projeto são humanização e flexibilidade na arquitetura.

Palavras-chave: Saúde mental; Arquitetura Hospitalar; Humanização


A BSTRACT

Progressively, the Crack epidemic affects, mainly, homeless people from the city of
Natal. The driver or pedestrian that transits over the city during night time views many places
where the ones without a roof use this substance and it is quite clear that they moved away from
social and professional life, due to their dependency. Besides crack, others psychoactives
substances, including alcohol, may result in mental disorders in its users. In this context, the
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) are institutions engaged on the treatment for people
with mental illness based on a work focused on the social reintegration of the patient. The CAPS
Álcool e Drogas (CAPSad), in order, deals specifically with cases that the mental disorder is
due to chemical dependency. This graduation final work joins the areas of Architecture with
Mental Health, aiming, at its end, the elaboration of the project of a CAPSad at South Zone of
Natal. The main concepts that guide the Project are humanization and flexibility in architecture.

Keywords: Mental health; Healthcare architecture; Humanization


L ISTA DE FIGURAS

Figura 1 – A Nave dos Loucos a caminho do País dos Tolos, 1549 ........................................ 16
Figura 2 – Panóptico de Bentham............................................................................................. 18
Figura 3 – CAPSad Norte ......................................................................................................... 23
Figura 4 – Atual endereço do CAPSad Leste III ...................................................................... 23
Figura 5 – Sala de exames no Chonnam National University Hwasun Hospital ..................... 27
Figura 6 – Ambiente de circulação no Rainbow Babies and Children’s Hospital em Ohio .... 29
Figura 7 – Fukuoka Housing, Fukuoka, Japão ......................................................................... 34
Figura 8 – Fukuoka Housing, Fukuoka, Japão ......................................................................... 34
Figura 9 – Delta Shelter, Washington, EUA ............................................................................ 35
Figura 10 – Museu Nomadic em Nova York ........................................................................... 36
Figura 11 – Container city, em Londres ................................................................................... 36
Figura 12 – Projeto de Referência CAPS AD III ..................................................................... 38
Figura 13 – Tabela de áreas, em anexo à prancha de projeto ................................................... 39
Figura 14 – Zoneamento por tipo de circulação (Layout 01) ................................................... 40
Figura 15 – Zoneamento por tipo de circulação (Layout 02) ................................................... 40
Figura 16 – Caps AD III Leste na Rua Açu ............................................................................. 42
Figura 17 – Croqui esquemático do pavimento térreo ............................................................. 43
Figura 18 – Sala de grupo ......................................................................................................... 44
Figura 19 – Repouso profissional ............................................................................................. 44
Figura 20 – Objetos artesanais criados nas oficinas ................................................................. 44
Figura 21 – Vasos com plantas na parte interna do muro ........................................................ 45
Figura 22 – Vasos com plantas na parte interna do muro ........................................................ 45
Figura 23 – Refeitório .............................................................................................................. 46
Figura 24 – Varal ...................................................................................................................... 46
Figura 25 – Sala de arquivos .................................................................................................... 46
Figura 26 – Farmácia ................................................................................................................ 46
Figura 27 – Trillium Secure Adolescent Inpatient Facility, Corvallis ..................................... 49
Figura 28 – Espaço interno do Centro Hospitalar Adolescente................................................ 49
Figura 29 – Perspectiva da implantação ................................................................................... 50
Figura 30 – Elaboração de pinturas na face interna do muro no pátio do Trillium Family
Services ..................................................................................................................................... 50
Figura 31 – Representação em planta das disposições dos dormitórios ................................... 51
Figura 32 – Implantação do Centro de Reabilitação Infantil na Ilha Pombeba ........................ 52
Figura 33 – Sheds metálicos dão forma à edificação ............................................................... 53
Figura 34 – Espaço interno do Hospital Sarah Kubitschek ...................................................... 53
Figura 35 – Espera com painéis coloridos ................................................................................ 53
Figura 36 – Unidades funcionais .............................................................................................. 60
Figura 37 – Apoio à terapia ...................................................................................................... 61
Figura 38 – Apoio administrativo............................................................................................. 61
Figura 39 – Apoio técnico e logístico ....................................................................................... 62
Figura 40 – Lazer e convivência............................................................................................... 62
Figura 41 – Localização dos CAPS por Zona Administrativa ................................................. 64
Figura 42 – Localização do terreno escolhido no Município de Natal, RN ............................. 66
Figura 43 – Vistas do terreno ................................................................................................... 67
Figura 44 – Terreno com dimensões ........................................................................................ 68
Figura 45 – Análise da topografia ............................................................................................ 68
Figura 46 – Relação do terreno 01 para o terreno destinado à estacionamento ....................... 69
Figura 47 – Mapa de uso dos solos no entorno do terreno ....................................................... 70
Figura 48 – Mapa de gabarito no entorno do terreno ............................................................... 71
Figura 49 – Análise de incidência solar direta sobre cada fachada .......................................... 72
Figura 50 – Sentido dos ventos durante o ano de 2009 ............................................................ 74
Figura 51 – Dimensionamento de Rampas ............................................................................... 76
Figura 52 – Área de transferência e manobra para uso da bacia sanitária ................................ 77
Figura 53 – Mandalas produzidas pelos usuários no Setor de Terapia Ocupacional do Hospital
Pedro II ..................................................................................................................................... 80
Figura 54 – Logotipo elaborado para o CAPSad ...................................................................... 80
Figura 55 – Zoneamento inicial do pavimento térreo............................................................... 82
Figura 56 – Primeira proposta de planta baixa do pavimento térreo ........................................ 83
Figura 57 – Primeira proposta de planta baixa do pavimento superior .................................... 83
Figura 58 – Volumetria esquemática inicial ............................................................................. 85
Figura 59 – Elevação dos blocos para ajuste à topografia ........................................................ 85
Figura 60 – Evolução da cobertura do bloco de containers ...................................................... 86
Figura 61 – Sombreamento da edificação durante o dia nos solstícios .................................... 87
Figura 62 – Modelo usado x Resultados das simulações ......................................................... 87
Figura 63 – Pressões resultantes sobre as fachadas .................................................................. 88
Figura 64 – Planta de locação e coberta ................................................................................... 90
Figura 65 – Planta do estacionamento ...................................................................................... 91
Figura 66 – Pavimento térreo ................................................................................................... 92
Figura 67 – Pavimento superior ............................................................................................... 93
Figura 68 – Classificação dos espaços por tipo de circulação .................................................. 94
Figura 69 – Janela veneziana de alumínio ................................................................................ 97
Figura 70 – Dimensões dos containers do tipo Dry ................................................................. 98
Figura 71 – Fundação dos containers ....................................................................................... 99
Figura 72 – Representação esquemática das salas de atividades coletivas ............................ 100
Figura 73 – Forro de PVC na cor branca ................................................................................ 101
Figura 74 – Estratégia de piso elevado para áreas molhadas ................................................. 101
S UMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12
1 OS ESPAÇOS DE SAÚDE MENTAL........................................................................... 15
1.1 A EVOLUÇÃO DA ASSISTÊNCIA AOS “LOUCOS” .................................................. 15
1.2 A REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA E OS CAPS .......................................... 19
1.2.1 A Reforma em Natal/RN .............................................................................................. 22
2 A ATENÇÃO HUMANIZADA ...................................................................................... 24
2.1 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO ............................................................. 24
2.2 AMBIÊNCIA COMO PARTE DO PROCESSO TERAPÊUTICO ................................. 25
3 ARQUITETURA FLEXÍVEL........................................................................................ 31
3.1 CONCEITOS..................................................................................................................... 31
3.2 PONTOS NORTEADORES DA FLEXIBILIDADE ....................................................... 32
3.2.1 Modulação...................................................................................................................... 32
3.2.2 Margem .......................................................................................................................... 33
3.2.3 Adaptação ...................................................................................................................... 33
3.2.4 Transformação .............................................................................................................. 34
3.2.5 Utilização de sistemas alternativos: containers .......................................................... 35
3.2.6 Aplicações no CAPS ...................................................................................................... 37
4 ESTUDOS DE CASO ...................................................................................................... 38
4.1 PROJETO DE REFERÊNCIA DE CAPS AD III ............................................................. 38
4.2 CAPS AD III LESTE ........................................................................................................ 42
4.2.1 Análise comparativa com o modelo de referência ...................................................... 47
4.3 CENTRO HOSPITALAR ADOLESCENTE, CORVALLIS, EUA ................................. 48
4.4 CENTRO DE REABILITAÇÃO INFANTIL, SARAH-RIO ........................................... 52
4.5 RESUMO DE DIRETRIZES ............................................................................................ 54
5 ANÁLISES INICIAIS DE PROJETO .......................................................................... 55
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA PROPOSTA .......................................................................... 55
5.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO ........................... 56
5.3 RELAÇÕES ESPACIAIS E FUNCIONAIS .................................................................... 60
5.4 ESCOLHA DO TERRENO .............................................................................................. 63
5.4.1 Critérios ......................................................................................................................... 63
5.4.2 Terreno escolhido .......................................................................................................... 66
5.4.3 Entorno .......................................................................................................................... 69
5.4.4 Insolação e ventilação ................................................................................................... 71
5.4.5 Condicionantes legais .................................................................................................... 74
6 EVOLUÇÃO DA PROPOSTA ...................................................................................... 79
6.1 CONCEITO E PARTIDO ARQUITETÔNICO ............................................................... 79
6.2 EVOLUÇÃO DO ZONEAMENTO E PLANTA BAIXA ................................................ 81
6.3 SOLUÇÃO FORMAL ...................................................................................................... 84
6.4 ANÁLISE DE CONFORTO AMBIENTAL .................................................................... 86
7 MEMORIAL DESCRITIVO ......................................................................................... 89
7.1 IMPLANTAÇÃO .............................................................................................................. 89
7.2 DISTRIBUIÇÃO FUNCIONAL E CIRCULAÇÕES ...................................................... 91
7.3 SOLUÇÕES GERAIS ....................................................................................................... 94
7.3.1 Esquadrias ..................................................................................................................... 96
7.4 PARTICULARIDADES DO BLOCO DE CONTAINERS ............................................. 97
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 103
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 104
ANEXO .................................................................................................................................. 109
12

I NTRODUÇÃO

O motorista ou pedestre que transita pela Avenida Jaguarari na cidade de Natal/RN,


durante a noite, visualiza moradores de rua usuários de crack os quais nitidamente se afastaram
do convívio social e profissional em virtude de sua dependência. Não só nas ruas, mas também
nas próprias moradias de diversos bairros do município, o consumo e dependência de drogas
cresce cada vez mais. Percebe-se que a realidade da capital norte rio-grandense acompanha o
restante do país.
No Brasil, a estimativa é que existam 23 milhões de pessoas com transtornos mentais,
englobadas na contagem de 400 milhões em todo o mundo, de acordo com a Organização
Mundial da Saúde (apud WALBERT, 2013). Dos brasileiros, 5 milhões estão entre o nível
moderado e grave das doenças, ainda conforme mostrado pela OMS. Segundo Azevedo e
Miranda (2010), o consumo do álcool e outras drogas são causa de 12% de todos os transtornos
mentais graves que acometem a população acima de 12 anos no país. De maneira geral, as
características do Rio Grande do Norte se assemelham aos outros estados do Nordeste, que,
com o cenário similar ao da região Norte, apresenta a maior prevalência de dependentes do
álcool dentre os drogadictos – acima dos 16% (idem). Portanto, o vício nos entorpecentes se
constitui um problema de saúde pública.
Em 2013 o Rio Grande do Norte aderiu ao programa federal “Crack, é possível vencer”
que tem como objetivo a prevenção ao uso, o tratamento e a atenção ao usuário e o combate ao
tráfico da droga. O segundo eixo mencionado, voltado aos cuidados do paciente, visa ampliar
e melhorar a rede de saúde para os dependentes. A ideia inicial do programa previa que, até
2015, tivessem sido abertos mais três Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas
(CAPSad) em Natal, sendo dois com funcionamento 24 horas.
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são instituições públicas de serviços de
saúde aberto que fazem parte do Sistema Único de Saúde (SUS) e destinam-se ao tratamento
de pessoas que sofrem com transtornos mentais. Os CAPS Álcool e Drogas (frequentemente
abreviado como CAPSad ou CAPS AD), por sua vez, são serviços de atenção para pacientes
com transtornos decorrentes do uso frequente e dependência de substâncias psicoativas tais
como crack, álcool e outras drogas.
Os CAPS surgiram no contexto da Reforma Psiquiátrica (associada a Reforma Sanitária
Brasileira) iniciada a partir da década de 70, a qual tem como principal objetivo a substituição
do antigo modelo de hospitais psiquiátricos – denominados hospícios ou manicômios – a partir
13

da implantação de um novo modelo de tratamento terapêutico o qual dirige-se principalmente


aos familiares e à reinserção do usuário na sociedade. A Política Nacional de Humanização da
Atenção e Gestão do SUS (HumanizaSUS) dedica-se à elaboração e sistematização de conceitos
a serem seguidos na implementação dessas instituições.
Nesse contexto da Reforma, a busca por um ambiente cada vez mais humanizado e
inclusivo para os familiares dos pacientes é contínua. Vale salientar que os métodos de
tratamento e atenção à população já foram e podem ainda ser transformados com o tempo,
portanto um projeto arquitetônico bem elaborado e voltado para a flexibilidade da edificação é,
por sua vez, de extrema importância. Ademais, os ambientes de um CAPS devem transparecer
positividade e permitir a livre circulação, visto que se opõem à ideia segregadora do asilo. Os
usuários muitas vezes veem o Centro como um abrigo, um lugar de acolhimento, e, portanto, o
espaço destinado deve ser amplo e possibilitar uma variada gama de atividades e de locais para
troca de vivências e reflexão.
Deste modo, o trabalho tem como objetivo geral a elaboração do anteprojeto de um
Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas na Zona Sul de Natal. Pois, enquanto há
centros voltados à assistência de Saúde Mental na Zona Leste e Norte da cidade, na Zona Sul
existe somente um ambulatório de prevenção e álcool, tabagismo e outras drogas (APTAD)
localizado em Neópolis.
Os objetivos específicos, por sua vez, são: Reunir soluções arquitetônicas voltadas para
o bem-estar e humanização da assistência à saúde que atendam às exigências para o
funcionamento de um CAPSad; elaborar a proposta para um edifício focado em promover o
acesso a atividades laborais, esportivas, culturais e lúdicas, auxiliando na reintegração social
dos pacientes; e, por fim, utilizar estratégias para otimização de custos com foco no emprego
de materiais e soluções projetuais que possibilitem uma edificação flexível.
Para a elaboração do projeto, buscou-se sistematizar as etapas de seu desenvolvimento
a fim de organizar e embasar o processo de criação de forma a apresentar o resultado final de
maneira clara. Usou-se como base o processo de planejamento arquitetônico descrito por Laert
Neves (1989), o qual define uma série de etapas que serão adotadas.

[…] no processo de planejamento arquitetônico que começa numa primeira


etapa, a indutiva, a de conduzir o pensamento desde o ponto inicial. a de querer
elaborar o projeto, armazenando e analisando informações. Passando à segunda etapa,
a criativa. quando a mente desencadeia o processo de síntese, dando como resposta a
idéia da solução arquitetônica, ao desafio criado. E indo à terceira etapa, a da evolução
da ideia, que é ao mesmo tempo indutiva e criativa, na qual a idéia arquitetônica
esboçada na etapa anterior é aperfeiçoada, nos diversos aspectos envolventes, até
chegar ao ponto final, à da conclusão do projeto. (NEVES, 1989, p.11)
14

O primeiro passo a que se refere Neves (1989) contempla a armazenagem de


informações para elaboração do projeto. Essa fase se reflete no Referencial Teórico, Referencial
Empírico e Análise das condicionantes, pois discorrem sobre o contexto que motivou a
elaboração do projeto – variáveis teóricas – e os aspectos que o envolvem – variáveis físicas. O
Referencial Teórico está contemplado nos três primeiros capítulos do trabalho, enquanto que o
Empírico e Análise são capítulos distintos. A segunda etapa, a criativa, é representada pelo
estudo preliminar a partir da visualização da evolução da proposta: foi criado um zoneamento
inicial que se integra às ideias formais a partir da adoção de um conceito. A terceira e última
etapa é contemplada no último capítulo do trabalho e nas pranchas de projeto apensas, uma vez
que são dedicados a mostrar a proposta final e suas características de maneira descritiva,
explicitando os detalhes técnicos que venham a ser relevantes, bem como a apresentação das
plantas, cortes e fachadas.
Portanto, resumidamente, nota-se que, na presente estruturação, o processo se divide em
5 etapas principais: referencial teórico, referencial empírico, análises das condicionantes,
concepção e, por fim, a proposta final. Deve-se lembrar que o procedimento é cíclico, sendo
necessário muitas vezes voltar a uma etapa anterior mesmo já estando em outra mais avançada.
Ao longo de cada etapa, os procedimentos foram determinados tendo como base os objetivos
específicos previamente citados, para que no final se possa atingir o objetivo geral proposto de
elaborar o anteprojeto de um CAPSad.
15

1 O S ESPAÇOS DE SAÚDE MENTAL

Entende-se que o tratamento dado aos indivíduos com transtornos mentais é um


processo complexo que leva em consideração forças influentes pertencentes a uma ordem
política e econômica responsáveis por causar certa resistência (SILVA, 2006) dependendo da
época na qual essas forças se inserem. Para compreender de uma melhor forma os métodos e
espaços utilizados voltados à atenção desses pacientes, é necessário analisar também o
entendimento de cada época sobre o que é “loucura” e qual papel social é designado ao louco.
Desta forma, o subitem a seguir tratará de um breve histórico acerca do modo como as doenças
mentais eram vistas no decorrer dos séculos e as consequentes mudanças na utilização dos
ambientes institucionais a partir dessas visões, para que se possa compreender o atual modelo
assistencial em Saúde Mental, sua complexidade e relação com a arquitetura.

1.1 A EVOLUÇÃO DA ASSISTÊNCIA AOS “LOUCOS”

A atenção dada à saúde mental, como formulada hoje, é uma prática relativamente
recente na história da humanidade e sofreu mudanças significativas desde o seu surgimento.
No século XVI a loucura ainda não era inserida em um sentido patológico, era tida como
uma tormenta do espírito. Como não havia espaço específico para eles, os loucos eram
colocados em grandes barcos para serem levados pelos marinheiros a outros portos em busca
de alívio desse sofrimento (GULJOR, 2003). Era a chamada Nau dos Loucos (Figura 1), “esses
barcos que levavam sua carga insana de uma cidade para outra” (FOUCAULT, 1978, p. 13).
Esse costume já apontava para a necessidade de exclusão dos insanos por parte do poder local.
Nogueira (2001) relata que os doentes mentais tinham como seus destinos terras estrangeiras,
ou, muitas vezes, o próprio mar, onde eram “desovados” antes que as embarcações aportassem.
16

Figura 1 – A Nave dos Loucos a caminho do País dos Tolos, 1549

Fonte: Tendências do imaginário, 2014

A primeira tipologia arquitetônica destinada exclusivamente às pessoas com transtornos


mentais foi a reutilização dos antigos leprosários amplamente habitados a partir da Alta Idade
Média. Tais edifícios foram usados pelos portadores de hanseníase até o final do século XVI,
quando o número de pessoas com a doença diminuíra bastante. Foucault (1978, p. 9) reflete
sobre o caráter exclusivo dos leprosários e a extinção da hanseníase: “A lepra se retira, deixando
sem utilidade esses lugares obscuros e esses ritos que não estavam destinados a suprimi-la, mas
sim a mantê-la a uma distância sacramentada, a fixá-la numa exaltação inversa”.
Essas edificações ficaram vazias por certo tempo até o poder local ocuparem-nas com
os doentes venéreos e, em seguida, com os loucos, que consolidaram sua ocupação por volta do
final do século XVII (BORDIGNON, 2013). Segundo Guljor (2003, p. 26) “o legado asilar da
lepra foi imposto aos loucos quase dois séculos após através de seu asilamento nos ‘hospitais’”.
As instituições não tinham caráter médico, mas, sim, buscavam excluir aqueles que – pelo
julgamento do poder – não deveriam estar em sociedade: seres incômodos. Nas palavras de
Nogueira (2001), “um espaço de amontoado de indivíduos cujo desenho expressava algo de
caráter metafísico: um lugar de transição entre a vida e a morte”.
No entanto, os loucos ainda eram internados junto a desempregados, prostitutas, pobres
e presidiários, isto é, todas as pessoas consideradas incômodas. Tal fato fez surgir divergências
uma vez que os indivíduos tinham seu local de internamento questionado pelo risco que
representavam ao ter contato com outros tipos de pacientes internados (GULJOR, 2003).
Philippe Pinel, um renomado médico francês, em meados do século XVIII, defende a ideia de
loucura como patologia – surge, então, o conceito de “doença mental” – portanto, necessitaria
de um isolamento específico para o seu tratamento (BORDIGNON, 2013).
17

Nesse contexto, por volta do século XVIII, foi fundamental o surgimento de um edifício
focado no acolhimento dos doentes mentais, os hospícios. Tais instituições hospitalares eram
de caráter filantrópico. Esse passo foi extremamente significativo para a evolução da assistência
à saúde mental uma vez que representou o advento do “saber” sobre a loucura.
Estes hospícios, muitas vezes, encontravam-se dentro dos hospitais, em alas separadas.
Era a exclusão dentro da própria exclusão. No entanto, às vezes eram edifícios inteiros.
Nogueira (2001) cita como exemplos os hospitais Betlehem na Inglaterra, Hôtel Dieu na França
e Aldeia de Gheel na Alemanha. A situação de conforto ambiental nas instituições, porém, não
era favorável ao tratamento: “Era comum encontrar quartos estreitos com pouca circulação de
ar, ausência de luz e excessiva umidade. Em uma cela que media 4 x 2m, por exemplo,
encontraram-se 13 mulheres internadas” (PESSOTTI, 1996, p. 162 apud NOGUEIRA, 2001,
p. 38). A autora descreve outras características que exprimem a situação de incúria para com os
pacientes: leito de palha no chão ou tablado preso à parede; pedra como parte do mobiliário à
qual o louco poderia ficar acorrentado; existência de uma pequena abertura de comunicação por
onde passavam os alimentos; e utilização comum de grades.
Os manicômios difundiram-se por diversos países no século XIX. A separação do louco
dos outros marginalizados sociais facilitava o estudo sobre novas formas de tratamento e a
análise das doenças, além de buscar as melhorias dos espaços físicos das instituições. Neste
contexto, o manicômio torna-se não só um campo de tratamento, mas também de pesquisa e
documentação. Vale ressaltar que esse movimento de otimizar a organização hospitalar não se
restringe somente à atenção à saúde mental, afinal o ambiente hospitalar – de maneira geral –
passa a ser visto então como um ambiente de cura, não mais como um lugar para morrer.
O espaço manicomial era organizado de maneira que se acreditava ser a melhor forma
de potencializar a cura. Conforme Guljor (2003), existia uma distribuição metódica dos
pacientes pelos espaços: os furiosos, os incuráveis, os mais tranquilos, etc. Além disso, havia a
necessidade da existência de uma vigilância contínua. Por isso, adotou-se o panóptico como
arquétipo, que resultava em um sistema de controle no qual os internados não sabiam se estavam
sendo observados ou não. Esta tipologia arquitetônica (Figura 2) consiste em uma edificação
circular com um pátio central contendo uma torre de vigilância no meio. Foi pensado
originalmente como “a cadeia ideal” pelo filósofo britânico Jeremy Bentham, mas segundo
Foucault (1978) o conceito estendeu-se para outras instalações.
18

Figura 2 – Panóptico de Bentham

Fonte: NASCIMENTO, 2011

A conceito do Panóptico espelha a relação discorrida por Foucault (1978) em sua obra
“Vigiar e Punir” entre dominação versus ordenamento do espaço. A arquitetura nesse contexto
se faz símbolo do poder. Moreira (2014) reflete sobre o pensamento foucaultiano em relação
ao panóptico:
Foucault aponta este procedimento como a emergência da sociedade disciplinar, onde
o indivíduo é isolado em sua cela, sente a vigilância de todos, mas não consegue saber
se na torre de controle o vigia está presente ou não. Um estado consciente e
permanente de visibilidade, onde a sociedade como um todo se torna espionável, mas
ao mesmo tempo, esta espionagem não pode ser verificada. (2014)

Nessa situação de relação de poder e controle das condutas dos pacientes, o tratamento
dado nos manicômios era por repressão moral: punições físicas, humilhações, isolamentos em
solitárias, choques elétricos, camisas de força, indução de convulsões, entre outros
(BORDIGNON, 2013). Como dito, a arquitetura dos edifícios era, em sua maioria, voltada para
lembrar os doentes de suas condições de insensatez e insanidade. As janelas com peitoril alto
para que ficassem acima do nível do olhar, longos corredores com poucas janelas, nenhuma
distinção entre enfermaria e dormitório, além do fato de que todo o mobiliário continha uma
preocupação com seu peso, tamanho e resistência – era estudado para que servisse apenas para
os doentes, como mesas de madeira espessas e cadeiras enormes, conforme descreveu Nogueira
(2001).
No entanto, haviam aqueles que defendiam princípios os quais divergiam das práticas
recorrentes: os psiquiatras Philippe Pinel, mencionado anteriormente, e Jean-Étienne Esquirol
19

são nomes de grande destaque. Ambos acreditavam que, no tratamento moral da loucura, o
espaço físico tem o mesmo valor do medicamento (idem).
O próximo passo dado com relação à assistência dada à saúde mental não só no campo
da teoria, mas da prática igualmente, aconteceu no cenário pós Segunda Guerra Mundial. Havia
na população de inúmeros países um sentimento de repúdio à violência, dadas as consequências
catastróficas da guerra. Surgem então movimentos de Luta Antimanicomial. O primeiro
movimento fundamental para a quebra de conceitos que vinham sendo praticados há mais de
um século foi o da psicoterapia institucional. Guljor (2003, p. 32) relata que o movimento:

Defendia que o hospital psiquiátrico era o espaço terapêutico privilegiado, se


resolvidas suas características doentias. [...]. A repressão e violência reproduzidas em
seu interior, o caráter de segregação e o poder médico eram combatidos como forma
de transformar o espaço hospitalar em local competente para condução da cura.

Vários outros movimentos foram surgindo a partir de então, porém nenhum deles
contestava a competência da psiquiatria, somente propunham reformulações no ambiente asilar.
Foram os casos da Psiquiatria de Setor na França – propunha criação de novas instituições
intermediárias e extra-hospitalares (DESVIAT, 1999 apud GULJOR, 2003) – e das
comunidades terapêuticas na Inglaterra, as quais eram grupos de discussões formados entre
pacientes e profissionais (PORTAL, 2013).
Finalmente, o movimento denominado Antipsiquiatria surge para questionar os valores
e práticas psiquiátricas “[...] questionando não somente a psiquiatria, que não vinha dando
respostas aos problemas surgidos com a doença mental, mas à própria doença mental enquanto
doença [...]” (SILVA, 2006, p. 40). Essa busca por extinguir a exclusão do portador de
transtornos mentais, a reformulação de seus espaços e a pesquisa por novos tratamentos, no
contexto mencionado, configura-se como o processo denominado Reforma Psiquiátrica.
Fortalece-se, portanto, o conceito de desinstitucionalização, que visa superar o hospital
psiquiátrico e de trabalhar, junto ao paciente, na sua reinserção social, ou seja, de evitar a
internação e a ausência da família no processo.

1.2 A REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA E OS CAPS

Vimos como se iniciou o processo de Reforma Psiquiátrica ao redor do mundo e sua


influência no espaço terapêutico e agora trataremos sobre como o movimento aconteceu no
Brasil. De fato, diversos autores afirmam que o país ainda se encontra em um processo de
transição. Em conformidade com o que foi dito por Bordignon (2013), isso se deve ao fato da
20

formação profissional voltada à área da saúde mental ainda não acompanhar inteiramente as
mudanças institucionais.
A atenção à saúde pública no Brasil é recente: somente na década de 60 o país assume
a responsabilidade de administrá-la. Com a atenção à saúde geral, veio também à saúde mental,
para a qual ainda resistia o modelo manicomial e tradicional, com a existência de diversos
hospitais psiquiátricos espalhados pelo território.
Uma figura relevante que merece destaque no caminho traçado pela psiquiatria
brasileira até se atingir a reforma foi a médica Psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999). Ela
enxergou a riqueza naqueles considerados insensatos e propôs um tratamento que usava a arte
para reabilitar os pacientes (VELOSO, 2017). Contrariava-se à aplicação de choques elétricos
em pacientes – “tratamento” comum na época quando os pacientes tinham surtos – e propôs um
ambiente mais humanizado. Transformou salas abandonadas e imundas em ateliês de pintura,
conforme mostra o filme baseado na vida da alagoana “Nise – O coração da loucura” (2015),
implementando a terapia ocupacional, tratamento que até então era ignorado pelos psiquiatras
tradicionais.
Neste mesmo contexto, na década de 70, Franco Basaglia – psiquiatra italiano precursor
do movimento conhecido como Psiquatria Democrática – vem ao país e provoca um impulso
na direção da Reforma Psiquiátrica Brasileira (SILVA, 2006). Segundo Amarante (2000, p. 87):

No Brasil, a reforma psiquiátrica é um processo que surge mais concretamente e,


principalmente, a partir da conjuntura de redemocratização em fins da década de 70.
Tem como fundamentos apenas uma crítica conjuntural ao subsistema nacional de
saúde mental, mas também – e principalmente – uma crítica estrutural ao saber e às
instituições clássicas [...]

O início da longa trajetória de desinstitucionalização acontece com a realização da I


Conferência Nacional de Saúde Mental realizada em 1987, de acordo com Silva (2006). A
conferência é marcada por novas modalidades de atenção que visam a substituição do modelo
tradicional. Surgem as ideias de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e NAPS (Núcleo de
Atenção Psicossocial). Com o processo de redemocratização do país, a Constituição de 1988
torna possível a criação de CAPS por todo o país (idem).
De acordo com o próprio Ministério da Saúde (2004, p. 13), um CAPS é:

[...] um serviço de saúde aberto e comunitário do Sistema Único de Saúde (SUS) [...]
O objetivo dos CAPS é oferecer atendimento à população de sua área de abrangência,
realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso
ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e
comunitários.
21

Apesar da transição para esse novo sistema ter se iniciado no final da década de 80,
somente em 2001, com a promulgação da Lei Paulo Delgado, é decretado o fechamento dos
manicômios e a consequente substituição destas instituições tradicionais pelos novos modelos.
Na década de 90 só havia 3 CAPS implantados no país. Em 2000 o número subiu para 240,
conforme Dermatini (2007). Segundo essa autora, “o modelo de atendimento aplicado nos
Centros de Atenção Psicossocial tem provado, através da recuperação dos usuários, a
possibilidade se fazer psiquiatria sem necessidade de violência, exclusão e preconceito” (2007,
p. 10).
Uma das grandes conquistas da Reforma Psiquiátrica Brasileira foi a chamada Rede de
Atenção Psicossocial (RAPS), instituída com a Portaria nº 3088 de 23 de dezembro de 2011.
Os objetivos gerais são: promover a ampliação do acesso à atenção psicossocial da população
em geral; criar vínculos entre as pessoas com transtornos mentais e com necessidades
decorrentes do uso de álcool e outras drogas, suas famílias e os pontos de atenção. A RAPS
apresenta diversos componentes, dos quais fazem parte o atendimento ambulatorial dos CAPS
em suas diversas modalidades, as Unidades de Acolhimento, os Serviços Residenciais
Terapêuticos e os leitos destinado à atenção à saúde mental nos hospitais gerais. No tópico
seguinte, veremos como a RAPS articulou-se em Natal, cidade que contempla o universo de
estudo do presente trabalho.
Por fim, vale destacar as modalidades que os CAPS podem contemplar. De acordo com
as informações extraídas do Manual de estrutura física dos Centros de Atenção Psicossocial e
Unidades de Acolhimento (Ministério da Saúde, 2013), esses são os tipos:

Tabela 1 – Modalidades dos CAPS

Atende pessoas de todas faixas etárias que sofrem transtornos mentais, indicados para
CAPS I
municípios ou regiões com população acima de 15.000 habitantes.

Semelhante ao CAPS I, porém indicado para municípios ou regiões com população


CAPS II
acima de 70.000 habitantes.

Proporciona serviços de atenção contínua, com atendimento 24h, incluindo feriados e


CAPS III finais de semana, ofertando acolhimento noturno. Indicado para Municípios ou regiões
de saúde com população acima de cento e cinquenta mil habitantes.
22

Atende pessoas de todas as faixas etárias que apresentam intenso sofrimento psíquico
CAPS AD decorrente do uso de crack, álcool e outras drogas. Indicado para Municípios ou regiões
de saúde com população acima de cento e cinquenta mil habitantes.
Atende pessoas de todas as faixas etárias com necessidades de cuidados clínicos
CAPS AD
contínuos. Serviço leitos para observação e monitoramento, de atendimento 24h.
III
Indicado para municípios ou regiões com população acima de 150.000 habitantes.

Atende crianças e adolescentes que apresentam transtornos mentais. Indicado para


CAPSi
municípios ou regiões com população acima de setenta mil habitantes.

Fonte: Ministério da Saúde, 2013

1.2.1 A Reforma em Natal/RN

Como afirmado por Silva (2006), o trato com os loucos e, consequentemente, com os
usuários de drogas, em Natal, não foge à regra do que acontece com o restante do país. Com o
movimento da Reforma Psiquiátrica Brasileira, o Rio Grande do Norte se integra às discussões.
Apesar de existir opositores aos novos modelos propostos pela reforma, essas descrenças, no
entanto, não impediram que os trabalhadores em Saúde Mental se organizassem e conseguissem
a realização de inúmeras conferências voltadas tanto aos portadores de transtornos mentais –
incluindo aqueles cujas doenças derivam da dependência em substâncias psicoativas.
Entre 1993 e 1995, foram criados o serviço ambulatorial destinado aos usuários de
álcool e drogas (APA), o primeiro NAPS e a Unidade de Tratamento do Alcoolismo e Outras
Dependências (UTAD) (SILVA, 2006). No entanto, o tratamento ambulatorial mostrou-se
insuficiente em termos da quantidade de atendimentos, apesar de sua fundamental importância.
Nesse sentido, foi necessária a criação do primeiro CAPS álcool e drogas (CAPSad) em Natal,
em 1996, que também se configurou como o primeiro CAPSad do país.
De acordo com o Saúde Mental RN (s.d), atualmente, a cidade de Natal conta com 02
CAPSad – um na Zona Leste e um na Zona Norte – 01 CAPS infanto-juvenil na Cidade da
Esperança e outro CAPS em Lagoa Nova.
Os dois CAPSad do município funcionam em edificações que já existiam, por meio de
aluguel. Uma notícia de 2014 relata que o CAPSad Norte (Figura 3) já passou por histórico de
abandono e esteve fechado em alguns períodos devido a problemas com a edificação:
infiltrações, problemas estruturais como buracos na laje, tendo como consequência a interdição
do setor de nutrição e cozinha (SINDSAÚDE-RN, 2014).
23

Figura 3 – CAPSad Norte Figura 4 – Atual endereço do CAPSad Leste III

Fonte: Google Street View, 2014

Fonte: Google Street View, 2014

O CAPSad Leste (Figura 4), por sua vez, já passou por quatro endereços diferentes.
Conforme Silva (2006), o primeiro espaço, situado à Rua Juvino Barreto, nº 190, era limitado:
“sala de enfermagem insalubre, não possuía área verde para as atividades de jardinagem e
exercícios específicos para desintoxicação” (CENTRO..., 2002, p. 1, apud SILVA, 2006, p. 66).
Após mudança de endereço, foi para a Rua Manoel Dantas, em Petrópolis. Dentre os diversos
problemas, destacou-se o fato de estar numa área consolidada pelo tráfico de drogas, houve
casos de existir oferta de bebidas alcóolicas na calçada do CAPS. Além disso, problemas físicos
nas salas de atendimento como existência de mofo e cupim e falta de privacidade dos espaços,
resultando na quebra de sigilo com o paciente. O terceiro endereço, que é o atual, situa-se na
Rua Monsenhor Severiano, nº 443. O centro tem funcionado em um endereço na Rua Açu
enquanto o outro passa por reformas, de acordo com notícia do Portal da Prefeitura do Natal
(2017). Segundo Silva (2006), a estrutura da casa foi minimamente adequada para atender o
item 6.3 – ESTRUTURA FÍSICA, da resolução 101 de 30 de maio de 2001 da ANVISA.
O que se percebe, portanto, é que a realidade da implementação dos CAPS em casas já
existentes teve como consequência problemas com as estruturas físicas, aliados ao descaso com
a manutenção, que culminaram até com a interrupção da oferta do serviço em determinado caso.
Decerto, um projeto arquitetônico elaborado para o funcionamento de um centro resultaria em
uma estrutura física melhor adaptada à sua função.
24

2 A ATENÇÃO HUMANIZADA

Compreende-se que cabe ao arquiteto a tarefa de garantir um ambiente de qualidade ao


indivíduo que interage com o espaço construído. Segundo Vasconcelos (2004, p. 12), “um
ambiente de qualidade é um ambiente que atende as necessidades de seus usuários garantindo-
lhes segurança, conforto físico e psicológico na realização de suas atividades”. Para
entendermos o que é humanização, precisamos considerar o ser humano e suas necessidades.
No presente capítulo serão abordadas as estratégias de humanização dos estabelecimentos de
atenção à saúde, as quais servirão de embasamento para a elaboração do projeto.

2.1 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO

Parece redundante quando falamos que o ambiente voltado à atenção à saúde deve ser
humanizado. Afinal, todo ambiente projetado não deveria considerar quem irá usá-lo? O fato é
que o hospital enquanto edificação, foge, muitas vezes, de sua finalidade: promoção do bem-
estar e saúde. A exemplo do que foi discutido no item 2, os hospitais psiquiátricos que existiam,
até a recente Reforma Psiquiátrica, apresentavam características que pareciam buscar reforçar
para os pacientes suas condições de insanidade: não havia uma preocupação com a eliminação
de corredores e grades, com a utilização de luz natural, entre outras questões.
De maneira resumida, Mezzomo (2002, p. 14-15 apud VASCONCELOS, 2004, p. 23)
afirma que:
Humanizar é resgatar a importância dos aspectos emocionais, indissociáveis dos
aspectos físicos na intervenção em saúde.
Humanizar é adotar uma prática em que profissionais e usuários consideram o
conjunto dos aspectos físicos, subjetivos e sociais que compõem o atendimento à
saúde.
Humanizar refere-se, à possibilidade de assumir uma postura ética de respeito ao
outro, de acolhimento e de reconhecimento dos limites.
Humanizar é fortalecer este comportamento ético de articular o cuidado técnico-
científico, com o inconsolável, o diferente e singular.
Humanizar é repensar as práticas das instituições de saúde, buscando opções de
diferentes formas de atendimento e de trabalho, que preservem este posicionamento
ético no contato pessoal.

Nesse contexto de discussão da humanização do ambiente hospitalar, surge em 2003 a


Política Nacional de Humanização da Gestão e Atenção do Sistema Único de Saúde – abreviada
por PNH ou HumanizaSUS. O HumanizaSUS aposta na inclusão de trabalhadores, usuários e
25

gestores na produção e gestão do cuidado e dos processos de trabalho (MINISTÉRIO DA


SAÚDE, 2013). As principais diretrizes da política são:
1. Acolhimento: Reconhecimento do que o paciente traz como legítima e singular
necessidade de saúde;
2. Gestão participativa e cogestão: Inclusão de novos agentes nos processos de análise
e discussão da gestão;
3. Ambiência: Criação de espaços acolhedores, saudáveis, e confortáveis, respeitando
a privacidade do paciente e propiciando lugares de encontros de pessoas;
4. Clínica ampliada e compartilhada: ferramenta teórica e prática cuja finalidade é
contribuir para uma abordagem clínica do adoecimento e do sofrimento, a partir da
utilização de recursos que permitam enriquecimento dos diagnósticos;
5. Valorização do trabalhador: Inclusão do trabalhador nas tomadas de decisão;
6. Defesa dos direitos do usuário: Incentivo aos usuários dos conhecimentos de seus
direitos garantidos por lei.
Entende-se que o projeto arquitetônico atua intensa e diretamente sobre o terceiro item,
ambiência. O HumanizaSUS dispõe de uma “Cartilha de Ambiência” que pode funcionar como
ferramenta para o projeto de ambientes hospitalares. A Cartilha (Ministério da Saúde, 2010, p.
5) define o termo como “[...] o tratamento dado ao espaço físico entendido como espaço social,
profissional e de relações interpessoais que deve proporcionar atenção acolhedora, resolutiva e
humana”.

2.2 AMBIÊNCIA COMO PARTE DO PROCESSO TERAPÊUTICO

Antes de adentrar no tema ambiência, é relevante definir o que é a percepção humana.


Bestetti (2014) define o termo como a tradução dos estímulos ambientais. Ela está diretamente
relacionada a fatores subjetivos inerentes a cada indivíduo, tais como as experiências vividas e
os valores culturais do grupo social do qual o indivíduo faz parte.
Tratando-se de dependentes de álcool e outras drogas, a percepção torna-se
profundamente sensível e delicada. São indivíduos que, de maneira geral, recorreram a
substância psicoativas como um meio de fuga da realidade, ou anestesiante das situações de
estresse, conforme Melo et al (2012). Muitas vezes, são pessoas que viveram situações de
abandono familiar, de prática de violência ou casos de extrema pobreza. Ademais, dentre os
próprios drogadictos há diferenças na percepção, obviamente: não se pode afirmar que a
26

percepção de um morador de rua que recorreu ao CAPS seja a mesma de uma pessoa com
família e com trabalho diário, mas que também recorreu ao Centro em busca de tratamento.
Deste modo, compreende-se “[...] a realidade de cada um é construída a partir desses filtros
mentais e, portanto, é individual e única” (BESTETTI, 2014, p. 4).
Uma vez entendido o significado de percepção, pode-se relacioná-la ao meio ambiente.
Vasconcelos (2004) afirma que atualmente, o objetivo principal de muitos centros de saúde,
hospitais, consultórios e clínicas, é poder oferecer aos seus pacientes ambientes projetados que
possam auxiliar na sua recuperação levando benefícios físicos e psicológicos aos pacientes.
Portanto, a ideia é criar ambientes que respeitem a individualidade dos pacientes e que seja
percebido por eles de maneira positiva de modo a garantir seu conforto.
Nesse sentido, a ambiência considera diversos aspectos, pois quando se fala nessa
palavra, pensa-se na humanização por meio de equilíbrio de elementos que compõem o espaço
conforme Bestetti (2014). Ela afirma que o meio ambiente não é composto unicamente pelo
meio material onde se vive, mas pelo efeito moral que esse meio físico induz no comportamento
dos indivíduos.
Pode ser citada a experiência que ocorreu em um CAPSad em Aracaju. Segundo relato
de Bulhões, Vasconcelos e Escóssia (s.d., apud Ministério da Saúde, 2015) havia um espaço no
Centro denominado “Fumódromo”, onde os pacientes iam fumar tabaco. O lugar não era
frequentado pelos trabalhadores, inclusive os da limpeza. Então, foi realizado um trabalho de
grafitagem – elaboração de desenhos – nas paredes do fumódromo, e, com a colaboração dos
usuários, foi construído um jardim. Ferramentas de jardinagem foram adquiridas e uma equipe
ficou encarregada de limpar aquele espaço diariamente. O lugar foi renomeado para “Jardim
Primavera”. Por causa de tais mudanças na ambiência, o espaço começou a ser utilizado de
outras maneiras: existiam horários estabelecidos para ali se fumar, a fim de se obter redução
dos danos causados pelo uso do cigarro, e outras atividades passaram a ser desenvolvidas, como
jardinagem e reuniões em grupo.
Internacionalmente encontram-se vários exemplos interessantes de detalhes no projeto
arquitetônico hospitalar que fazem a diferença na ambiência. O hospital Chonnam National
University Hwasun Hospital, na Coreia do Sul, utilizou painéis no teto que mostram imagens
de um céu ensolarado, servindo de distração durante os exames (RADIOLOGY BAYER,
2017), conforme a Figura 5.
27

Figura 5 – Sala de exames no Chonnam National University Hwasun Hospital

Fonte: Radiology.bayer, 2017

Como mencionado, existe uma gama variada de questões a serem contempladas nos
estudos de ambiência, visto que o ambiente construído pode ser percebido através de: forma,
iluminação, cor, textura, sonoridade, temperatura e função (BESTETTI, 2014).
A forma do edifício, mencionada na Cartilha de Ambiência como “morfologia”, refere-
se à configuração de espaços criados. Eles podem ser mais ou menos agradáveis, mas devem
ser sempre adequados (idem). Por exemplo, dificilmente uma enfermaria será mais agradável
do que um jardim. Isto não significa, no entanto, que a enfermaria não deva ser agradável
também. “A morfologia deve traduzir a composição que proporcione maior bem-estar possível
[...]” (ibdem, p. 605). A característica “textura” relaciona-se com a forma, pois está diretamente
conectada à percepção dos espaços e de movimento.
O segundo aspecto relaciona-se à iluminação do edifício, seja ela natural ou artificial. A
iluminação deve, primordialmente, possibilitar a realização das atividades fundamentais para o
funcionamento do serviço de saúde. De acordo com Lermann (2000 apud BITENCOURT, s.d.)
o conforto visual do ambiente pode estimular a consciência na participação da ação terapêutica.
Quanto à iluminação artificial, Vasconcelos (2004) afirma que muitos ambientes de saúde são
iluminados por lâmpadas fluorescentes, mas infelizmente a luz fria é interpretada pelo corpo
humano como escuridão pois não traz nenhum benefício à saúde. Deste modo, as soluções
projetuais devem contemplar aberturas para a paisagem externa de modo a garantir o conforto
luminoso do espaço. Segundo Bitencourt (s.d.), no caso de locais destinados à internação – que
envolve horas ou dias – as condições de percepção do ambiente externo podem trazer mais
28

conforto, pela simples percepção e orientação do tempo. A noção do horário é significativa


também no sentido biológico uma vez que afeta o metabolismo, temperatura corporal,
frequência cardíaca e pressão sanguínea.
O terceiro ponto, o qual envolve inúmeros estudos tanto na área de arquitetura como na
área de psicologia, são as cores. Heller (2014) admite que não existe cor destituída de seu
significado, pois a impressão causada por cada cor é determinada pelo seu contexto. Afinal, a
cor percebida numa vestimenta será percebida de modo diferente do que a mesma cor em um
ambiente, em uma comida, ou uma obra de arte. Sobre a relação das cores com os transtornos
mentais, ela afirma que:

Ainda hoje, a crendice popular está firmemente ancorada na convicção de que, nas
clínicas para doentes mentais existiriam quartos pintados com cores especiais, que
pacientes agitados pudessem ser conduzidos para quartos azuis para se acalmarem,
que pacientes deprimidos seriam levados para quartos vermelhos para se animarem –
as conhecidas propriedades das cores deveriam compensar o déficit do paciente. A
realidade é que em nenhuma clínica universitária existem esses aposentos para terapia
cromática. [...] Cientificamente, não é comprovável qualquer efeito curativo pela
aplicação de nenhuma cor. (HELLER, 2014, p. 78-79)

No entanto, o que ela destaca é o poder das cores sobre nossos sentimentos e emoções,
sendo isto diretamente relacionado ao contexto em que a cor se insere, como mencionado
anteriormente. Exemplo: é compreensível que uma cantina pintada de vermelho gere raiva nos
seus clientes, afinal a carne vermelha parecerá menos vermelha e os legumes parecerão
artificialmente coloridos. Já em bares, são comuns as salas de estar vermelhas, muito mais
aconchegantes que as azuis (idem).
Resumidamente, tratando especificamente de cada cor, Heller (2014) afirma que o azul
é tido como a cor predileta, uma cor calmante que induz tranquilidade. Para um ambiente, o
azul dá a impressão visual de abrir o espaço, deixando entrar o frio, portanto pode ter uma
sensação desejada em países quentes como o Brasil. “As pessoas com problemas respiratórios
sentem-se mais à vontade em quartos azuis, pois essa cor dá a sensação de maior volume de ar”
(MARTINS, 2004). O vermelho, por sua vez, é associado ao dinamismo, a efeitos estimulantes
e a situações de perigo. O amarelo é associado ao otimismo, recreação, jovialidade e
criatividade. Por fim, o verde reflete fertilidade, esperança e saúde.
As cores podem ser associadas umas às outras para diferentes intenções: destacar algum
elemento construtivo, tornar algum ambiente aconchegante ou, simplesmente, criar uma
atmosfera mais alegre, evitando a monotonia a qual existiria em um corredor
(VASCONCELOS, 2004), da maneira que mostra a Figura 6.
29

Figura 6 – Ambiente de circulação no Rainbow Babies and Children’s Hospital em Ohio

Fonte: Yee, 2002, apud Vasconcelos, 2004

O próximo aspecto é a sonoridade do espaço. Uma vez que um dos efeitos crônicos da
dependência química é o aumento das percepções sensoriais, incluindo a percepção auditiva, é
necessário que o projeto arquitetônico contemple, também, aspectos que favoreçam ao conforto
acústico. De acordo com Bestetti (2014), ruídos são necessários ao ser-humano, pois ambientes
demasiadamente silenciosos causam sensação de insegurança e até mesmo medo. No entanto,
ambientes ruidosos demais causam inquietação e/ou irritação. Podem ser pensadas soluções de
revestimento que garantam a absorção interna dos sons e estratégias de isolamento entre locais
que contenham fontes de ruído e locais que necessitem da redução dos sons.
Assim como a iluminação, a temperatura do edifício também é influenciada pelas
aberturas que ele contém. Em climas como o de Natal, a ventilação natural se faz extremamente
necessária para, além de garantir melhores temperaturas internas, permitir que não seja
acumulada umidade dentro dos ambientes. A ventilação também garante renovação de ar, o que
é indispensável, pois quartos com baixa taxa de renovação de oxigênio afetam a qualidade do
sono (idem). Ademais, outros fatores são responsáveis por influenciar no conforto térmico: o
sistema construtivo das paredes e os equipamentos instalados que podem emanar calor.
Quanto à função, cada espaço serve para a realização de determinada atividade e para
garantir o bem-estar, essas atividades devem ser consideradas nas soluções projetuais. Um
jardim pode funcionar como um ponto de encontro para realização de conversas em grupo, já
um quarto de internação não poderia ter essa mesma função. Portanto, as estratégias de projeto
para cada ambiente devem contemplar essas características inerentes às atividades que nele são
desenvolvidas.
30

Um outro aspecto considerado pela Cartilha de Ambiência é a privacidade. Segundo o


Ministério da Saúde (2010), a privacidade diz respeito à proteção da intimidade do paciente. A
criação de divisórias, de cortinas, utilização de isolamento acústico entre espaços de livre
circulação e áreas de consultório são algumas das estratégias que podem ser adotadas. Quando
se fala em tratamento de indivíduos com transtornos mentais, garantir a privacidade do paciente
torna-se uma questão imprescindível uma vez que são pessoas em situações psicologicamente
vulneráveis e que necessitam não só confiar no profissional – psicólogo ou psiquiatra – como
também no sigilo de suas informações.
Por fim, o estudo de todos estes aspectos causa influência sobre o modo como o projeto
é concebido, pois são pontos de grande relevância para a criação de um ambiente de bem-estar
e convívio social. Um estudo do Instituto de Ciências Biomédicas da USP constatou que as
atividades e ambientes que usuários de drogas frequentam podem influenciar na possibilidade
de recaídas (PELLEGRINI, 2011). É necessário que o dependente químico esteja realizando
atividades e inserido em ambientes que gerem prazer.
Deste modo, a morfologia do CAPS proposto pode incorporar diversos espaços para
realização de tarefas prazerosas e, aliada à iluminação, proporcionar aberturas para integração
com a natureza e iluminação natural, de modo que não haja sensação de aprisionamento. As
cores podem ser usadas de maneira a contribuir para a sensação desejada no ambiente que se
encontram, como por exemplo: tons que transmitem tranquilidade nas salas de consulta e
enfermagem (azul, verde) e tons de dinamicidade nos ambientes de oficinas (amarelo,
vermelho). Além disso, pode-se incorporar paredes destinadas à arteterapia, isto é, incentivo
para que os pacientes pintem, usando suas cores favoritas, típicas situações da vida ou algo que
desejam expressar, pois de acordo com Heller (2014, p.81), “os médicos constatam o sucesso
da arteterapia como coadjuvante psicológica do tratamento”. Nota-se, portanto, que não é
preciso soluções arquitetônicas de alto valor de orçamento ou complexidade de execução para
garantir humanização dos ambientes, basta se atentar aos pontos mencionados.
31

3 A RQUITETURA FLEXÍVEL

Observou-se a partir do Capítulo 2 do presente trabalho que, quanto ao ambiente


destinado ao tratamento da saúde mental, diversas mudanças têm sido feitas no decorrer dos
anos conforme as pesquisas na área avançam. Deste modo, a flexibilidade espacial mostra-se
um instrumento de aplicação significativa em um CAPSad visto que isso permite que a
edificação seja facilmente adaptável, caso novos métodos de tratamento venham a
surgir. Nesse sentido, a palavra “flexibilidade” pode abordar tanto conceitos referentes às
diferentes possibilidades de disposição do espaço físico, quanto características construtivas a
serem explanadas.

3.1 CONCEITOS

Diversas definições são dadas em arquitetura à palavra flexibilidade. Jorge (2012, p. 39)
afirma que a flexibilidade é “a ferramenta magistral para acompanhar as incertezas
imprevisíveis do futuro”. Villá (2008 apud TEIXEIRA, 2011, p.15), por sua vez, compreende
este conceito como “toda configuração construtiva e formal que permita uma diversidade de
formas de uso, ocupação e organização do espaço, ao longo da vida do edifício, como resposta
às múltiplas e mutáveis exigências da sociedade”. O arquiteto Rem Koolhas (1995, p. 240, apud
SANTOS, 2012, p. 9) afirma que “a flexibilidade não é a antecipação exaustiva de todas as
modificações possíveis. Muitas alterações são imprevisíveis […]. A flexibilidade é a criação de
uma capacidade de ampla margem que permita diferentes e mesmo opostas interpretações e
usos”.
O que os três conceitos têm em comum é conectar flexibilidade à ideia de adaptação às
mudanças necessárias, sejam elas por demanda da sociedade ou por incertezas do futuro. As
definições da palavra, portanto, podem abordar diferentes aspectos conceituais associados a,
por exemplo, adaptabilidade, multifuncionalidade, elasticidade, participação, mobilidade, entre
outros. Ademais, pode ser apresentada de duas formas, de acordo com Barbosa e Qualharini
(2004, p. 15, apud TEXEIRA, 2011, p. 29):

Portanto, a flexibilidade aplicada à edificação pode ser dividida como flexibilidade


inicial, aquela que é oferecida ao primeiro usuário, permitindo a mudança de paredes,
áreas, disposição das instalações, etc.; e a flexibilidade contínua, que permite
modificações após a entrega da obra, permitindo adaptações ao longo da sua vida útil,
32

chegando até a revitalização do local, ajustando-se às necessidades dos usuários e a


implantação de novas tecnologias.

A questão da flexibilidade na arquitetura, por conseguinte, envolve tanto procedimentos


projetuais e construtivos, derivados do sistema de projeto adotado, como também soluções
relativas à forma de utilização do espaço, como expressado por Filkestein (2009). Nesse
sentido, na interseção entre a arquitetura com a área da saúde, um dos grandes objetivos ao se
pensar em uma edificação flexível é a elaboração de um projeto que permite que alterações
internas e/ou externas sejam realizadas sem causar grandes inconvenientes na funcionalidade
do edifício. Isso é necessário pela razão de que quando se está lidando com instituições públicas
de saúde, sob nenhuma hipótese o funcionamento deve ser prejudicado.

3.2 PONTOS NORTEADORES DA FLEXIBILIDADE

Góes (2004, p. 99), em seu livro “Manual Prático de Arquitetura Hospitalar” cita uma
série de pontos norteadores que devem ser considerados no projeto. Alguns deles podem ser
aplicáveis a um CAPS, tais como:
a) Regularidade na modulação;
b) Estandardização dos espaços e componentes construtivos;
c) Possibilidade e facilidade para implantação e manutenção das instalações.
Villà (2008 apud TEIXEIRA, 2011), do mesmo modo, cita algumas diretrizes possíveis
de incorporação ao projeto do Centro.
d) Procurar a redução da compartimentação, utilizando divisórias que possam
ser movidas ou removidas;
e) Privilegiar a organização que possibilite dar aos espaços diversas funções
sem transformá-los.
Deste modo, a característica flexível em uma edificação pode aparecer de várias
maneiras. Para explanação breve no presente capítulo, foram selecionados os aspectos que
podem ser úteis a um CAPS. São estes: modulação, margem, adaptação e transformação.

3.2.1 Modulação

A modulação relaciona-se à ideia da industrialização da construção civil e tem por


objetivo a redução do trabalho de montagem das unidades, de seus subsistemas e dos
componentes funcionais, conforme dito por Jonas Junior (2015).
33

Filkestein (2009) descreve este aspecto como um elemento de repetição, que aparece na
mesma ordem e na quantidade de vezes que for necessária. Por meio do módulo, podem também
ser geradas subdivisões: meio módulo, quarto de módulo. Sobre a malha modular são
posicionadas as estruturas, esquadrias, equipamentos, etc.
Ademais, outros benefícios associados a um projeto modulado são: padronização dos
materiais e redução de desperdícios, maior precisão dimensional; diminuição de erros de mão-
de-obra; possibilidade de substituição dos componentes padronizados; e, obviamente,
simplificação do projeto. Portanto, torna-se uma estratégia interessante a projetos que busquem
a redução dos custos da obra, como é o caso do projeto a ser elaborado neste trabalho.

3.2.2 Margem

Projetar com margens nas edificações implica em não aplicar as áreas mínimas
necessárias para o funcionamento do ambiente, isto é, utilizar áreas úteis maiores que as
necessárias, facilitando futuras modificações de layout. De acordo com Dorfman (2004, apud
TEIXEIRA, 2011, p. 30), folgas são estratégias que “permitam a um edifício atender a um leque
de funções o mais amplo possível. Folgas, por sua vez, exigem montantes de recursos superiores
àqueles necessários à garantia de desempenhos ótimos”. Deste modo, muitas vezes tendem a
ser interpretadas como desperdícios de recursos.
É uma característica comumente inerente a palácios com salões superdimensionados
para possibilidade da realização de variadas atividades e indústrias, as quais devem prever a
utilização de equipamentos maiores do que os atualmente utilizados, entre outros ambientes de
larga escala.
Ao mesmo tempo, margem pode ter uma relação contrária à explanada anteriormente.
Em vez de utilizar o excesso, deixar uma margem “de segurança” para expansões. É o que
acontece nos projetos de hospitais. Conforme a Portaria 400 de 6/12/1977 (apud GÓES, 2004),
os edifícios de estabelecimentos de assistência à saúde devem ocupar no máximo 50% da área
total do terreno, já prevendo futuras ampliações.

3.2.3 Adaptação

O que chamamos de adaptação, na verdade, inclui uma série de estratégias. A adaptação


consiste na fácil modificação interna do ambiente evitando grandes reformas e situações que
venham gerar transtornos. Em outras palavras, um espaço construído é composto por elementos
34

estruturais, paredes de serviço (destinadas à passagem de instalações), e elementos que podem


se configurar como temporários. Esses componentes temporários, geralmente internos, são as
peças-chave que exercem influência sobre a compartimentação dos ambientes.
Um bom artifício para garantir adaptabilidade são as paredes divisórias internas leves,
mas, como lembra Filkestein (2009), esses elementos devem atender um requisito principal que
é satisfazer as necessidades de privacidade visual e acústica. As paredes divisórias leves podem
permitir instalação de portas, e algumas até suportam a passagem das instalações prediais. É
usual a utilização do gesso, paredes de drywall (gesso acartonado), ou da madeira.
Outra estratégia são as divisórias móveis, que podem desaparecer por completo ou
parcialmente. A Figura 7 e a Figura 8 mostram uma habitação em Fukuoka, no Japão, projetada
pelo arquiteto Steven Holl, na qual foram empregadas divisórias móveis que possibilitavam
alterações rápidas na planta, como integrar ou compartimentar ambientes.

Figura 7 – Fukuoka Housing, Fukuoka, Japão Figura 8 – Fukuoka Housing, Fukuoka, Japão

Fonte: KRONENBURG, 2007, apud TEIXEIRA, Fonte: Integrated 4x, 2012


2011

3.2.4 Transformação

A transformação consiste em alterações físicas que modificam a aparência da edificação


e isso reflete nas suas formas de uso, conforme dito por Teixeira (2011). Esse tipo de estratégia
permite a construção abrir, fechar, expandir ou contrair.
Um bom exemplo é a residência chamada Delta Shelter (Figura 9), do arquiteto Olson
Kundig, em Washington, nos EUA, mostrada por Santos (2012, p. 39):
35

Esta habitação tem um sistema construtivo pré-fabricado, que utiliza essencialmente


ferro no exterior e madeira no interior. A particularidade do projecto é a sua fachada
dinâmica, que através do movimento de um volante faz deslizar parte da fachada,
possibilitando o seu encerramento total ou abertura parcial.

Figura 9 – Delta Shelter, Washington, EUA

Fonte: SANTOS, 2012

3.2.5 Utilização de sistemas alternativos: containers

Além dos pontos focados no projeto, podem ser empregados diferentes sistemas
construtivos para facilitar a flexibilidade da edificação. A utilização de containers vem gerando
novos adeptos no mundo e, mais recentemente, no Brasil (MIRANDA, 2016). Em Natal, nos
últimos dois anos, tem se observado também diversas lojas, restaurantes e food trucks que
empregam este sistema.
Dentre as vantagens deste sistema, pode-se destacar: modulação, pois os tamanhos são
padronizados e, portanto, se encaixam facilmente; velocidade, visto que o tempo de se executar
uma construção em container é mais curto do que uma em estrutura convencional; e a
flexibilidade, pois como possuem estrutura independente e são projetados para suportar altas
cargas, é possível, com o passar dos anos, a inserção ou troca de componentes.
Um bom exemplo é Museu Nomadic (Figura 10), do arquiteto Shigeru Ban, composto
por 152 containers. Foi construído primeiro em Nova York, em 2005, para abrigar uma
exposição fotográfica, depois foi desmontado e remontado em Santa Monica, na California, no
início de 2006 (PORTAL METÁLICA, s.d.).
36

Figura 10 – Museu Nomadic em Nova York

Fonte: Archdaily, 2016

Este caso é reflete a capacidade de mudança em edificações que empreguem esta


solução. Outra situação é a Container City (Figura 11), em Londres, que teve a conclusão da
obra em cinco meses, utilizando 20 containers. Inicialmente eram somente três andares, que
ofereciam espaços com os mais diferentes usos. Depois, devido à alta demanda, foi
acrescentado um andar, seja ele para residência ou escritório (PORTAL METÁLICO, s.d.).

Figura 11 – Container city, em Londres

Fonte: Rex, 2011


37

3.2.6 Aplicações no CAPS

Após análise de alguns dos pontos norteadores da flexibilidade em uma edificação, é


necessário considerar a possibilidade dos seus rebatimentos no projeto arquitetônico do
CAPSad. Ressalta-se que, uma vez que o Centro é uma instituição financiada pelo Governo, é
imprescindível considerar os fatores otimização de orçamento, disponibilidade de materiais e
mão-de-obra.
O atributo “modulação” é facilmente aplicável e, de fato, indispensável em, pelo menos,
partes do projeto, pois é capaz de tornar a montagem simples e rápida, facilitando o trabalho
desenvolvido pela mão-de-obra. No entanto, como os CAPS remetem sempre a uma ideia de
“casa”, a modulação deve ser usada com cautela para que a edificação não retorne aos aspectos
tradicionais dos manicômios e perca o seu caráter de aconchego.
O atributo “margem”, por sua vez, não pode ser aplicado facilmente, pois, como dito
anteriormente, a edificação deve apresentar um orçamento baixo. Todavia, é interessante pensar
os ambientes de maneira que seja possível sua ampliação em caso de uma necessidade.
A “adaptação” pode ser utilizada nos espaços internos à instituição. Pode-se utilizar os
móveis como divisórias e/ou paredes leves. Ressalta-se que deve haver uma atenção especial
para que exista um isolamento acústico funcional entre as salas de consulta e demais ambientes,
pois como visto no item 2.2 o cuidado exigido com relação à privacidade dos pacientes.
A “transformação” também deve ser aplicada com segurança visto que pode resultar em
custos altos. A utilização de brises de alumínio que, de alguma forma, possam ser manipulados
é uma boa estratégia para imprimir flexibilidade às fachadas sem implicar em soluções de alto
valor de orçamento.
Por fim, o emprego de containers, por questões de dimensionamento, não se aplicaria
eficientemente a todos os ambientes do CAPS, como refeitórios, salas de reunião, entre outros.
No entanto, demonstra ser uma boa solução para espaços reduzidos como quartos e salas de
administração. Ademais, torna-se uma boa estratégia de redução de custos ao passo que
algumas pessoas relataram que conseguiram reduzir até 30% dos custos da obra se comparado
a uma construção de sistema convencional (alvenaria e concreto), de acordo com Xavier (2015).
38

4 ESTUDOS DE CASO

Para embasamento empírico da elaboração da proposta de anteprojeto de um CAPSad,


buscou-se referências de projetos existentes e modelos oferecidos pelo próprio Ministério da
Saúde, a fim de avaliá-los quanto às questões formais, funcionais e estéticas.

4.1 PROJETO DE REFERÊNCIA DE CAPS AD III

O Ministério da Saúde dispõe de Projetos de Referências para as diferentes modalidades


de CAPS, incluindo o CAPSad III. Além disso, conta com um Manual de Estrutura Física dos
Centros de Atenção Psicossocial e Unidades de Acolhimento (2013). Neste subitem será feita
uma análise do projeto disponibilizado.
O projeto foi elaborado pela empresa Verroni Arquitetos Associados em 2014. A

edificação (Figura 12) apresenta uma área construída total de 741,23m², distribuída conforme

disposto na Figura 13. O orçamento estimado para a obra desse modelo é de R$1.401.764,34,
podendo variar conforme a região. O projeto foi elaborando utilizando um terreno de dimensões
45 x 31m (1395m²).

Figura 12 – Projeto de Referência CAPS AD III

Fonte: Ministério da Saúde, 2014


39

Figura 13 – Tabela de áreas, em anexo à prancha de projeto

Fonte: Ministério da Saúde, 2014

A planta baixa pode ser visualizada no Anexo A do presente documento. A proposta


conta com duas opções de layout. Na primeira, existem quatro quartos coletivos com
acomodações individuais, todos com seus respectivos banheiros. No segundo layout, dois dos
ambientes destinados aos quartos coletivos com acomodações individuais tornam-se sala de
atividades coletivas, com seus respectivos banheiros transformando-se em depósitos anexos às
salas.
Elaborou-se diagramas de zoneamento dos setores da unidade para facilitar o
entendimento do projeto. A Figura 14 e a Figura 15 mostram os zoneamentos por tipo de
40

circulação do layout 01 e layout 02, respectivamente. A circulação livre refere-se às áreas onde
os pacientes e acompanhantes têm livre acesso. A área de circulação controlada mostra espaços
nos quais o público pode entrar somente com acompanhamento de algum funcionário. Por fim,
a circulação restrita compete aos ambientes nos quais não é permitida a circulação de usuários
e acompanhantes.

Figura 14 – Zoneamento por tipo de circulação (Layout 01)

Fonte: Adaptado de Ministério da Saúde, 2014

Figura 15 – Zoneamento por tipo de circulação (Layout 02)

Fonte: Adaptado de Ministério da Saúde, 2014


41

As áreas livres, portanto, contemplam: salas de atividades coletivas, banheiros públicos


adaptados, recepção e acolhimento, áreas de convivência externa e interna e refeitório. As áreas
de circulação controlada são: quartos coletivos (com acomodações individuais e para
acolhimento noturno), sala de medicação, salas de atendimento e sala de reunião. Por último,
as áreas de circulação restrita são: almoxarifado, sala administrativa, arquivo, farmácia, posto
de enfermagem, rouparia, quarto de plantão com banheiro anexo, D.M.L., utilidades, abrigo de
resíduos sólidos, cozinha, higienização, depósito de panelas e talheres, depósito de
mantimentos, serviços, abrigo G.L.P. e banheiros para funcionários.
A partir do zoneamento, percebe-se que a zona de circulação livre está toda conectada.
No entanto, os ambientes de circulações restritas estão, de certa forma, distantes entre si. O
banheiro com vestiário para funcionários, por exemplo, está do lado das salas de atendimento
e da sala de reunião. Provavelmente, outra solução melhor seria incorporá-lo a uma área
separada e restrita com todos os ambientes de circulação destinada aos funcionários, utilizando
barreiras físicas (portas ou divisórias) para impedir visualmente a entrada de pacientes. Outro
exemplo é o almoxarifado, que estaria situado de maneira mais funcional se estivesse localizado
próximo à sala de administração e arquivo.
Um ponto interessante na proposta é o emprego de jardins internos. Todos os quartos
coletivos (com exceção do acolhimento noturno) contemplam vistas para o jardim interno, o
que colabora com a ambiência da edificação. As salas de atendimento também possuem
aberturas voltadas para o outro jardim.
Nota-se que o projeto não segue modulação, mas há várias paredes alinhadas que
facilitam a disposição estrutural. De acordo com o memorial descritivo, as paredes são de
alvenaria de tijolo cerâmico furado (baiano) com espessura de 15cm. Nas áreas molhadas, a
parede foi revestida com cerâmica 33 x 45cm, utilizando nos cantos vivos cantoneiras de
alumínio. No piso foi aplicado revestimento cerâmico 35 x 35cm.
Outra questão relevante quanto a Projetos de Referência é a possível ausência de
adaptação à disposição dos ventos locais e direção do sol. Em uma situação hipotética na qual
o vento incide sobre a fachada principal (Fachada 01), nota-se que as salas privilegiadas serão
as do setor restrito (posto de enfermagem, sala administrativa, quarto de plantão, entre outras)
enquanto os quartos coletivos e as salas de atividades ficariam prejudicadas.
Último ponto observado é que os banheiros pertencentes aos quartos coletivos com
acomodações individuais não são adaptados para portadores de necessidades especiais,
provavelmente por uma questão de se priorizar a esquadria do quarto voltada ao jardim interno.
42

4.2 CAPS AD III LESTE

O estudo de caso seguinte foi realizado no Caps AD III Leste de maneira direta a partir
de visita in loco e de informações encontradas na dissertação de Silva (2006). O centro está
funcionando atualmente na Rua Açu, nº 418, desde novembro de 2016, enquanto a edificação
anterior, localizada no Barro Vermelho, encontra-se em reforma. A Figura 16 mostra a fachada
da instituição. Com o objetivo de preservar a privacidade dos pacientes, alguns ambientes não
puderam ser fotografados.

Figura 16 – Caps AD III Leste na Rua Açu

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

Quanto ao funcionamento, assim como todo CAPS III, o CAPS Leste é aberto 24h por
dia, inclusive nos finais de semana e feriados, dispondo de 10 leitos para pacientes que
necessitem estar em acompanhamento direto.
Foi elaborado um croqui esquemático da disposição dos ambientes no pavimento térreo
(Figura 17). Vale salientar que a planta não tem efeito de análise de dimensões dos ambientes,
somente de sua disposição. Como no superior existe somente a sala de direção e um depósito,
não houve necessidade de representá-lo.
43

Figura 17 – Croqui esquemático do pavimento térreo

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

A diretora informou que a instituição atende aproximadamente 80 pacientes por dia,


sendo 40 por turno. Por mês, cerca de 250 pacientes passam pelo centro. Os usuários dividem-
se em atividades realizadas ao longo do dia, como os grupos terapêuticos, grupos operacionais,
oficinas, dentre outras.
O grupo terapêutico, como mostrado pelo Relatório de Atividades Desenvolvidas no
ano 1996 (1996, p.09 apud SILVA, 2006, p.71) “[...] trabalha diretamente com aspectos
emocionais e de personalidade dos pacientes observando suas relações interpessoais, avaliando-
se a questão da dependência e suas consequências [...]”. O grupo operativo, por sua vez,
conforme observado por Silva (2006), é o momento no qual se discutem ausências, autorizações
para saídas para resolução de problemas pessoais ou médicos. No entanto, o objetivo principal
é discutir as recaídas (CENTRO, 1996 apud SILVA, 2006). Existem duas salas que são
utilizadas para a realização destes grupos (Figura 18). O mobiliário consiste em cadeiras
(algumas com mesas) e armários. Alguns problemas foram encontrados com relação à
disposição das salas. Para se ter acesso à segunda sala, é necessário passar por dentro da
primeira, o que pode resultar em interrupções enquanto as duas salas estiverem com momentos
de grupo. O segundo problema diz respeito à presença de uma área de repouso profissional
anexa à sala (Figura 19), separada somente por um armário, devido à falta de cômodos que
44

pudessem se destinar a esse uso. Isso tem como consequência o fato de que a equipe não pode
repousar enquanto estiverem sendo realizadas rodas de conversa.

Figura 18 – Sala de grupo Figura 19 – Repouso profissional

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017


Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

Além dos momentos de grupo, existem as oficinas, nas quais são feitos trabalhos
manuais em uma sala específica. Não foi possível ter acesso à sala, no entanto, alguns objetos
criados pelos usuários foram vistos. Normalmente, são feitos de material reciclado. Os trabalhos
mostrados na Figura 20 estavam expostos na sala de direção.

Figura 20 – Objetos artesanais criados nas oficinas

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017


45

Encontram-se também os resultados das oficinas de jardinagem na parte interna do muro


frontal do centro (Figura 21 e Figura 22). A diretora informou que no endereço anterior havia
uma área externa na qual era mantido um jardim e na edificação atual, infelizmente, não há
espaço para isso.

Figura 21 – Vasos com plantas na parte interna do Figura 22 – Vasos com plantas na parte interna do
muro muro

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017


Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

Existem três quartos de acolhimentos, sendo dois masculinos e um feminino. Somente


o quarto feminino possui banheiro anexo. Os banheiros destinados aos quartos masculinos
ficam entre eles. O mobiliário dos quartos consiste em camas ou leitos hospitalares e armários.
Nenhum dos banheiros existentes na instituição é adaptado a portadores de necessidades
especiais. Questionou-se a diretora se no endereço anterior, que está em reforma, existem
banheiros adaptados e a resposta foi negativa.
As refeições dos pacientes são realizadas no refeitório. O espaço, além de contar com
mesas e cadeiras de plástico, tem uma mesa de pebolim (Figura 23). Os funcionários realizam
as refeições separados dos pacientes, na copa, que fica anexa à cozinha. Os alimentos são
mantidos em dois freezers (carnes e frangos em um, peixes em outro) e na geladeira (alimentos
do dia-a-dia, como foi informado). A partir da cozinha é possível ter acesso à lavanderia, onde
ficam estendidas as roupas dos pacientes para secar (Figura 24).
46

Figura 23 – Refeitório Figura 24 – Varal

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017 Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

O acesso à sala de arquivos se dá através do refeitório, o que reflete a falta de


planejamento na disposição dos espaços. O mobiliário consiste em, basicamente, estantes para
armazenar os prontuários (Figura 25) e uma escrivaninha com cadeira. Entrando na sala de
arquivos é possível acessar a farmácia (Figura 26), o que a torna distante do posto de
enfermagem. Já o mobiliário da farmácia contempla armários para guarda dos medicamentos e
escrivaninha também.

Figura 25 – Sala de arquivos Figura 26 – Farmácia

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017 Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017
47

Como foi possível visualizar nas plantas, o acesso à sala de direção funciona através de
uma escada. Um dos problemas encontrados foi que a largura da escada é insuficiente para
passagem de duas pessoas. Não existe outro tipo de acesso ao pavimento superior, como rampa
ou elevador, refletindo, mais uma vez, a falta de acessibilidade na edificação.
A visita à instituição foi imensamente significativa pois possibilitou o entendimento
acerca do real funcionamento de um CAPSad III e do que a equipe técnica da instituição
enfrenta no que tange à falta de espaço físico suficiente. Tais reflexões resultaram no acréscimo
de diversos ambientes ao programa de necessidades do projeto elaborado.

4.2.1 Análise comparativa com o modelo de referência

Esta seção contempla uma análise comparativa entre o Caps AD III Leste e o projeto de
referência de um CAPSad III disponibilizado pelo Ministério da Saúde, avaliado no item 4.1.
Inicialmente, os estudos de caso foram observados no que tange aos ambientes que os
projetos contemplam. Como esperado, diversos cômodos contidos no projeto de referência não
foram vistos no estudo direto realizado no Caps Leste, tais como: banheiros adaptados,
banheiros com vestiário, sala de medicação (os pacientes são medicados no próprio posto de
enfermagem), área para embarque e desembarque de ambulância, abrigos de lixo, e os depósitos
anexos a cozinha (um para mantimentos e outro para panelas e talheres).
Com relação à proposta arquitetônica, nota-se similaridades entre as edificações. Vale
salientar que o Caps Leste foi inserido em uma casa já existente e adaptado para tal, mas ainda
assim é interessante investigar as semelhanças. Ambas edificações utilizam a alvenaria de tijolo
como forma de vedação e telhas cerâmicas como cobertura. As soluções empregadas resultam
na dificuldade de flexibilização dos espaços.
No entanto, também são encontradas várias divergências quanto à proposta
arquitetônica, principalmente no que se refere à acessibilidade. No centro existente não há
rampas nem banheiros adaptados, como mencionado anteriormente. Ademais, as aberturas no
projeto de referência são voltadas para jardins internos, enquanto que na instituição visitada, as
esquadrias abrem-se para o recuo lateral, onde são estendidas as roupas dos pacientes.
Por fim, em conversa com a equipe técnica do Caps Leste, foi possível listar alguns
ambientes considerados necessários ao centro e que não fazem parte do programa de
necessidades em ambos os casos, tais como:
 Fumódromo: Na instituição em Petrópolis, os usuários se dirigem à calçada para
poder fumar, pois não existe um espaço destinado a isso. Nota-se a mesma
48

ausência no projeto de referência, o que levaria os pacientes a fumarem nos


jardins internos, não sendo a situação ideal.
 Espaço para a realização de atividades físicas: De acordo com o Ministério da
Saúde (2013), o CAPS deve conter ações que garantam integridade física e
mental. É de conhecimento geral e comprovado cientificamente os benefícios da
atividade física para o ser humano, então é importante que haja espaço para que
os pacientes possam realizá-la.
 Mais salas de atividades coletivas: Tanto o centro analisado como o projeto
modelo possuem duas salas de atividades coletivas. Notou-se que a existência
de mais salas possibilitaria que mais atividades fossem desenvolvidas
simultaneamente.
 Auditório: Observou-se a ausência de um espaço amplo que pudesse contemplar
as assembleias realizadas ao final do mês, nas quais pacientes e familiares são
convidados. No projeto do Ministério da Saúde existe uma sala de reuniões,
porém o espaço não seria suficiente.

4.3 CENTRO HOSPITALAR ADOLESCENTE, CORVALLIS, EUA

O terceiro estudo de referência foi realizado de maneira indireta, isto é, não houve visita
in loco, somente análises por meio do material encontrado em pesquisa. Neste subitem será
mostrado o Centro Hospitalar Adolescente – Trillium Secure Adolescent Inpatient Facility –
em Corvallis, no estado de Oregon, Estados Unidos. O projeto foi elaborado pelo escritório
TVA Architects em 2015.
O edifício, mostrado na Figura 27, é destinado a adolescentes que sofrem de problemas
substanciais de saúde mental e comportamental, segundo informações do Archdaily (2017).
Apesar do foco no internamento de pacientes, o que automaticamente o torna diferente dos
CAPS, algumas soluções projetuais foram identificadas como relevantes à proposta do presente
trabalho.
49

Figura 27 – Trillium Secure Adolescent Inpatient Facility, Corvallis

Fonte: Chestnut, 2017 apud Archdaily, 2017

A instituição proporciona dormitórios privados, espaços terapêuticos e salas de aula


(idem), ficando localizado em uma fazenda e a ideia é que os blocos projetados proporcionam
um simbolismo relacionado às residências de campo. A paleta de cores utilizadas externamente,
por sua vez, busca dar um ar contemporâneo à “Casa de Fazenda”.
Sem ignorar a busca por oferecer aconchego aos usuários, outro ponto relevante é a
preocupação com a segurança deles. Claraboias e clerestórios foram amplamente utilizados por
permitir a conexão com o meio-exterior e diminuir a quantidade de vidro em alturas mais
baixas, que representariam um risco à segurança. Na Figura 28 é possível ver as claraboias no
centro, e, à direita, as aberturas elevadas. Nessa mesma imagem notamos que tanto as vigas
aparentes em madeira quanto o trecho de forro em madeira trazem sensação de conforto ao
ambiente.
Figura 28 – Espaço interno do Centro Hospitalar Adolescente

Fonte: Chestnut, 2017 apud Archdaily, 2017


50

Outra estratégia utilizada foi empregar os próprios blocos como “cerca” – como é
possível ver na Figura 29 –, deixando as áreas de convivência externas seguras e com uma
característica mais humanizada.

Figura 29 – Perspectiva da implantação

Fonte: Adaptado de Archdaily, 2017

Nos muros que precisaram ficar aparentes, realizou-se um tratamento com pinturas,
conforme a Figura 30.

Figura 30 – Elaboração de pinturas na face interna do muro no pátio do Trillium Family Services

Fonte: Trillium Family Services (s.d.)


51

Também foram empregadas soluções de flexibilidade, seguindo os conceitos aprendidos


no item 3 deste trabalho:

O uso de partições operáveis e dormitórios de oito camas permitem que as unidades


sejam reduzidas a unidades de quatro camas, cada uma com sua própria "sala de estar",
ou deixadas abertas, onde todos os 16 pacientes podem ocupar uma sala comum. Esse
tipo de escalabilidade é crucial devido às inúmeras situações e pacientes, que podem
mudar diariamente. (ARCHDAILY, 2017)

A Figura 31 mostra essa gradação. Começando com a unidade individual do dormitório,


que é multiplicado por quatro e a ele adicionado uma sala de estar. Esse bloco é espelhado e é
projetada uma divisória móvel no eixo do espelhamento, criando um bloco maior com oito
quartos o qual é possível integrá-lo por meio da sala de estar ou deixar uma sala de estar para
cada quatro quartos. A essa configuração é adicionada uma sala comum, e todo o modelo é
espelhado.

Figura 31 – Representação em planta das disposições dos dormitórios

Fonte: Archdaily, 2017

Esse estudo trouxe reflexões acerca de soluções de projeto que podem ser adotadas na
proposta do CAPS, tais como: uso de claraboias e de aberturas com peitoris altos; emprego dos
blocos do edifício como limites das áreas externas; e, por último, possibilidades de integrar ou
compartimentar ambientes.
52

4.4 CENTRO DE REABILITAÇÃO INFANTIL, SARAH-RIO

O último estudo de referência escolhido também se realizou de maneira indireta. O


Centro de Reabilitação Infantil Sarah Kubitschek fica localizado no Rio de Janeiro na ilha
Pombeba e faz parte da rede de hospitais Sarah que se constitui de diversas instituições
espalhadas pelo território brasileiro focadas no atendimento a pessoas vítimas de
politraumatismo e problemas locomotores, objetivando seu tratamento (SARAH, 2013). O
arquiteto responsável pelo projeto, João Filgueiras Lima, conhecido como Lelé, adotou diversas
estratégias que também foram empregadas nos outros hospitais da rede.
Na Figura 32 é possível visualizar a implantação do centro na ilha. A instituição fica
quase que inteiramente envolta pela lagoa, então a partir de qualquer ponto é possível apreciar
as belas paisagens do Rio de Janeiro, conforme dito por Nahas (2011).

Figura 32 – Implantação do Centro de Reabilitação Infantil na Ilha Pombeba

Fonte: Google Maps, 2017

Assim como os outros hospitais da Rede Sarah, o principal elemento responsável por
dar forma ao projeto é o shed metálico curvo (Figura 33), que é repetido em dezenas de linhas
paralelas (FRACALOSSI, 2012), conforme a implantação horizontal adotada no projeto
arquitetônico. A horizontalidade dos edifícios favorece a proposta de reabilitação motora do
53

hospital. As aberturas dos sheds são protegidas por venezianas que impedem a incidência direta
de radiação do sol nos vidros das esquadrias (NAHAS, 2011).

Figura 33 – Sheds metálicos dão forma à edificação

Fonte: Arquitetura Brasileira V, 2009

A edificação é delimitada por elementos que seguem a concepção do artista Athos


Bulcão (ARQUITETURA..., 2009), como é possível visualizar na Figura 34. A espera com
divisórias coloridas também foi programada pelo artista (Figura 35).

Figura 34 – Espaço interno do Hospital Sarah Figura 35 – Espera com painéis coloridos
Kubitschek

Fonte: Arquitetura Brasileira V, 2009 Fonte: Arquitetura Brasileira V, 2009


54

A construção do edifício foi bastante rápida. De acordo com Nahas (2011), o uso de
componentes industrializados fez com que as obras fossem concluídas em apenas seis meses.
Os componentes foram fabricados em Salvador, no Centro de Tecnologia da Rede Sarah, que
se constitui de uma fábrica responsável pela produção dos componentes deste modelo
hospitalar.
A análise do Centro de Reabilitação Infantil Sarah Kubitschek foi útil à presente
proposta de elaboração do CAPS por mostrar aspectos que podem acrescentar ao partido
arquitetônico do Centro. O primeiro, dito anteriormente, refere-se à utilização de aberturas
zenitais, pois a solução se mostraria interessante em um CAPS por garantir entrada de
iluminação natural através do teto, reduzindo a necessidade de aberturas de vidro em alturas
baixas que prejudicaria a segurança dos usuários. O segundo ponto diz respeito à integração
com jardins externos, que ajudam na renovação do ar, na sensação térmica dos ambientes e
provoca melhoras na percepção por parte do usuário visto que diminui a sensação de estar em
uma instituição hospitalar. A terceira característica significativa refere-se ao emprego de
elementos de divisórias e muros com concepções artísticas, garantindo humanização.

4.5 RESUMO DE DIRETRIZES

Os estudos empíricos aqui expostos possibilitaram a compilação de elementos projetuais


relevantes para aplicação no CAPS:
1. Circulação livre toda conectada entre si, com espaços centrais no lote, priorizando
áreas de convivência;
2. Salas multifuncionais;
3. Muros com pinturas;
4. Divisórias leves coloridas;
5. Aberturas zenitais;
6. Salas que possam se integrar ou se separar.
Com essas principais diretrizes de projeto aliadas aos temas pesquisados no Referencial
teórico, tornou-se possível a evolução da proposta arquitetônica, que será descrita nos capítulos
a seguir.
55

5 A NÁLISES INICIAIS DE PROJETO

5.1 CARACTERIZAÇÃO DA PROPOSTA

Como foi visto no item 1.2, há duas modalidades de CAPS voltadas ao atendimento de
pessoas com transtornos mentais decorrentes da dependência do álcool e outras drogas: o
CAPSad e o CAPSad III. Recomenda-se o CAPSad III para municípios com população acima
de 120.000 habitantes, de acordo com o Ministério da Saúde (2013). Ademais, este centro deve
ser implantado na proporção de um para cada grupo populacional de 200 a 300 mil habitantes.
Considerando que o município de Natal possui uma população de 877.662 habitantes (IBGE,
2016), deveria existir no mínimo três centros com o funcionamento 24h, no entanto há somente
um. Por esta razão, foi priorizada a proposta dessa modalidade de CAPS.
As características e funções do CAPSad III, segundo a Portaria nº 130 de 26 de janeiro
de 2012, compreendem:
 Funcionamento 24h (incluindo feriados e finais de semana);
 Pode destinar-se a atender adultos, crianças ou adolescentes, conjunta ou
separadamente;
 Condicionar o recebimento de usuários transferidos de outros Pontos de
Atenção, para acolhimento noturno, a partir de prévio contato;
 Promover inserção, proteção e suporte de grupo para seus usuários, no processo
de reabilitação psicossocial;
 Orientar-se pelo princípio de Redução de Danos, que consiste num conjunto de
práticas cujo objetivo é reduzir os danos provocados pelo uso de substância
psicoativas em pessoas que não podem ou não querem parar o consumo;
Alguns pontos importantes sobre o funcionamento de um CAPSad 24h são (idem):
 Atendimento em grupos para psicoterapia, grupo operativo e atividades de
suporte social, dentre outras;
 Atendimento individual para consultas em geral, atendimento psicoterápico e de
orientação, dentre outros;
 Atividades de reabilitação psicossocial, tais como resgate e construção da
autonomia, alfabetização ou reinserção escolar, acesso à vida cultural, manejo
56

de moeda corrente, autocuidado, manejo de medicação, inclusão pelo trabalho,


ampliação de redes sociais, dentre outros;
 Fornecimento de refeições diárias aos pacientes assistidos;
 A equipe mínima é estabelecida para atendimento de 40 usuários por turno;
 Mínimo de 8 e no máximo 12 leitos para acolhimento noturno;
Por fim, o CAPS deverá funcionar em área física específica e independente de qualquer
unidade hospitalar, garantindo acesso privativo e equipe própria.

5.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO

O programa de necessidades foi desenvolvido com base nos estudos de referência


elaborados, nas entrevistas realizadas no CAPSad Leste III com os usuários e equipe, nas
leituras do Manual de Estrutura Física dos CAPS (MINISTÉRIO..., 2013) e dos estudos
realizados por Silva (2006) também no CAPSad Leste III. Além do programa mínimo exigido
pelo Ministério da Saúde, foram acrescentados alguns ambientes considerados importantes para
a funcionalidade do centro e tratamento dos usuários. O pré-dimensionamento seguiu as áreas
mínimas exigidas pelo Manual mencionado (MINISTÉRIO..., 2013), com algumas alterações.
57

Quadro 1– Programa de necessidades

Área unitária
Quantidade mín. Área total
Ambiente Atividade Ambiência desejada Quantidade adotada mín. obrigatória
obrigatória adotada
(m²)
Recepção Primeiro contato de usuários e Sensação de
1 1 30 30
familiares acolhimento
Salas de Espaço para consultas, entrevistas, Aconchego,
atendimento terapias privacidade, silêncio 3 3 9 9
individualizado
Salas de Atendimentos em grupo e Dinamicidade
atividades desenvolvimento de práticas
2 3 24 72
coletivas corporais, expressivas e
comunicativas
Sala de leitura Leitura individual e coletiva Aconchego, silêncio - 1 - 25
Espaço de Encontros de usuários, visitantes, Iluminação natural
convivência familiares, troca de experiências e 1 1 65 65
conversas
Fumódromo Local onde é permitido que os Espaço aberto provido
- 1 - 16
usuários fumem de ventilação natural
Banheiros Banheiros com dimensões que -
adaptados com seguem a NBR 9050. Pode conter
2 2 4,8 9,6
chuveiro e vestiários.
sanitário
Sala de Aplicação de medicamentos Poltrona confortável
medicação para pacientes
1 1 5 5
receberem os
medicamentos
Posto de Espaço destinado ao trabalho da Deve permitir conexão
enfermagem equipe técnica visual com parte 1 1 6 6
externa da sala
Quarto coletivo Destinado ao acolhimento noturno, Privacidade
4 5 9 45
com com duas camas
58

acomodações
individuais
BWCs anexos aos No quarto coletivo com os leitos, o -
5 6 3,6 21,6
quartos coletivos banheiro deverá ser adaptado
Quarto coletivo Destinado ao acolhimento noturno, Privacidade, conforto
com dois leitos acústico, boa taxa de 1 1 14 14
renovação do ar
Quarto de Destinado ao repouso profissional, Privacidade, conforto
plantão onde a equipe pode guardar seus acústico, boa taxa de 1 2 9 18
pertences pessoais renovação do ar
Sala Escritório onde trabalha a equipe -
1 1 22 22
administrativa administrativa do centro
Sala de Reuniões de equipe, de projeto com Cadeiras confortáveis,
reunião/Auditório usuários e familiares, reuniões conforto acústico 1 1 20 50
intersetoriais, etc
Almoxarifado Deve permitir armazenamento de -
1 1 5 5
materiais necessários
Sala para arquivo Onde ficam armazenados os -
1 1 5 5
prontuários
Refeitório Realização das refeições Local agradável, com
vista para ambientes 1 1 60 60
externos
Copa (cozinha) Manipulação de alimentos e Ambiente que favoreça
realização de ações coletivas com a higiene e espaço
1 1 16 16
os usuários suficiente para a
realização de oficinas
Despensa para Armazenagem dos ingredientes -
- 1 - 10
alimentos utilizados nas refeições
Despensa e Lavagem e guarda de louças, -
lavagem de panelas, talheres e demais utensílios - 1 - 6
utensílios
59

Banheiro com Banheiro com espaço para os -


vestiário para funcionários tomarem banho e 2 2 12 24
funcionários trocarem de roupa
Depósito de Espaço com máquina de lavar para -
Material de colocara roupa para lavar e para 1 1 2 2
Limpeza (D.M.L.) secar
Rouparia Separação entre roupa limpa da -
1 1 4 10
suja
Farmácia Armazenagem de medicamentos e -
- 1 - 6
controle dos seus usos
Abrigo de -
recipientes de 1 1 4 4
resíduos (lixo)
Descarte de lixo doméstico
Abrigo externo -
de resíduos 1 1 4 4
sólidos
Área externa de Realização de ações coletivas e Iluminação natural
convivência individuais, encontros entre usuários prioritária 1 1 75 75
e familiares
Sala de Realização de atividades esportivas Ventilação natural
atividades físicas e físicas prioritária, espaço - 1 - 30
sombreado
Sala de TV Convivência e lazer dos usuários Sensação de
- - -¹ 22
acolhimento, conforto
Área externa para Espaço externo suficiente para -
embarque e entrada e saída de ambulâncias
1 1 21 21
desembarque de
ambulância
TOTAL 679,2
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017
60

5.3 RELAÇÕES ESPACIAIS E FUNCIONAIS

Este tópico consiste na elaboração de síntese das relações espaciais e funcionais que
acometem os ambientes especificados no item anterior. Estes foram divididos em 4 unidades
funcionais que se relacionam a partir das atividades desenvolvidas neles, conforme a Figura 36.
Agrupar os cômodos em unidades auxilia na compreensão das relações entre eles e na percepção
da necessidade de proximidade entre ambientes de funções conectadas.

Figura 36 – Unidades funcionais

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

A primeira unidade funcional, apoio à terapia, contempla os ambientes de cuidados


diretos com o paciente, tais como as salas de atendimento, a sala de aplicação de medicamentos
e os quartos coletivos. Os espaços de apoio a esses cômodos também são incorporados a essa
unidade: o posto de enfermagem e farmácia conectam-se diretamente à sala de medicação; a
recepção encaminha os pacientes às salas de atendimento; o quarto de plantão profissional
alocará a equipe próxima ao acolhimento noturno (quartos coletivos). A Figura 37 sistematiza
a conexão entre os componentes dessa unidade.
61

Figura 37 – Apoio à terapia

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

A próxima unidade funcional é o apoio administrativo (Figura 38), a qual compreende


os ambientes relacionados à gestão e administração do centro: sala administrativa, almoxarifado
e sala de arquivo. Embora a sala de reunião também se encaixe como apoio à terapia (podem
existir horas de reuniões entre usuários e equipe), foi colocada nesta unidade por prever,
principalmente, reuniões relacionadas à gestão do CAPS e à política de Saúde Mental no
município. É importante que o apoio administrativo fique próximo à recepção para facilitar o
acesso a prontuários na sala de arquivo e que convidados externos que se dirijam à sala de
reuniões não tenham de circular pelo centro para alcançá-la, protegendo a privacidade dos
usuários.

Figura 38 – Apoio administrativo

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

O apoio técnico e logístico, esquematizado na Figura 39, tem como componentes os


espaços destinados ao melhor funcionamento do centro: D.M.L, rouparia e abrigos de lixo.
Também contempla o refeitório, destinado ao fornecimento de refeição diária aos usuários na
seguinte proporção (MINISTÉRIO..., 2012): os pacientes assistidos durante um turno (quatro
horas) recebem uma refeição diária; pacientes com permanência de dois turnos (oito horas)
recebem duas refeições; por fim, pacientes que permaneçam as 24 horas terão direito a quatro
62

refeições diárias. Diretamente conectado ao refeitório deve estar a cozinha e seus componentes:
despensa de alimentos e área para lavagem e guarda de utensílios.
Outra observação relevante refere-se ao D.M.L e à rouparia. De acordo com o Manual
de Estrutura Física (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013), o D.M.L deve conter espaço para
máquina de lavar e para secagem das roupas, portanto, é interessante que se a rouparia não
estiver diretamente conectada a este ambiente, deve situar-se próxima.

Figura 39 – Apoio técnico e logístico

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

Por fim, como o próprio nome já mostra, a última unidade funcional contempla os
espaços destinados à convivência entre usuários: salas de atividades coletivas, espaços interno
e externo de convivência, sala de TV, sala de leitura, fumódromo, espaço de esportes. Os
componentes de lazer devem: possibilitar a troca de experiências, a realização de pequenos
eventos (saraus); ser atrativos e apresentar um ar de informalidade. O Manual de Estrutura
Física (MINISTÉRIO..., 2013, p. 18) afirma que “é importante lembrar que o espaço de
convivência não é equivalente a corredores”. Os ambientes, mostrados na Figura 40, não
necessariamente devem estar diretamente conectados, mas é importante que exista facilidade
de circulação entre eles.

Figura 40 – Lazer e convivência

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017


63

5.4 ESCOLHA DO TERRENO

Após elaboração do programa de necessidades, que teve como resultado a área útil
estimada para o centro – sendo este um dos requisitos para a escolha de terreno – foi possível
elaborar uma série de outros critérios a serem considerados nesta análise. Observou-se não só
o terreno em si, como também o seu entorno, acessos, e inserção dentro da Rede de Atenção
Psicossocial.

5.4.1 Critérios

A seleção das opções de terreno esteve condicionada pelos fatores a seguir:


 Quanto à localização no município
Para escolha da área na qual seria implantado, foi realizado um mapeamento dos centros
existentes na cidade, como mostra a Figura 41. Atualmente, um CAPSad é localizado
em Petrópolis, enquanto o outro fica na Zona Norte. Existe um CAPS II OESTE situado
em Lagoa Nova, Zona Sul, porém sua atuação foca-se na Zona Oeste da cidade, além
de ser não específico para o tratamento de dependentes de substâncias psicoativas.
64

Figura 41 – Localização dos CAPS por Zona Administrativa

Fonte: Adaptado de Natal, 2007

 Quanto à infraestrutura urbana no entorno


A escolha do terreno também esteve condicionada à disponibilidade de infraestrutura
urbana em seu entorno. Observou-se a pavimentação das ruas, a facilidade de acesso
por meio da rede de transporte público, e a existência das redes elétrica, de telefonia,
sistemas de abastecimento de água e de coleta de esgoto sanitário.
 Quanto às dimensões
Com base no pré-dimensionamento elaborado no item 5.2, o terreno deve comportar
uma edificação de aproximadamente 700m² de área útil, o que levou a considerar um
valor de 900m² de área construída.
65

 Quanto ao uso do solo no entorno construído


A experiência negativa do CAPSad Leste III na Rua Manoel Dantas, em Petrópolis,
mencionada no item 1.2.1, reflete a necessidade de se atentar para os usos no entorno
do terreno. No caso mencionado, o CAPS ficou situado em uma área consolidada de
tráfico de drogas, o que prejudicava o funcionamento do centro, pois os usuários eram
abordados por traficantes e vendedores de bebidas quando deixavam o espaço. Por esta
razão, priorizou-se uma área residencial, que não apresenta registros ou recorrência de
tráfico de drogas, para a implantação do centro.
66

5.4.2 Terreno escolhido

Diante dos critérios considerados, o terreno escolhido fica situado no Bairro de Capim
Macio, Zona Sul do Município de Natal, Rio Grande do Norte, como mostra a Figura 42. Trata-
se de um lote de esquina e pode ser acessado por duas vias. Ao Noroeste está a Rua Francisco
Pignataro e, ao Sudoeste, a Rua Industrial João Mota.

Figura 42 – Localização do terreno escolhido no Município de Natal, RN

Fonte: Natal (2017) editado pela autora


67

Atualmente, o lote encontra-se sem uso. Há poucas árvores e bastante solo acumulado
em alguns trechos (Figura 43).

Figura 43 – Vistas do terreno

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

Quanto aos aspectos físicos, o terreno possui 1643,86m² de área e tem formato
levemente trapezoidal. As dimensões podem ser visualizadas na Figura 44.
68

Figura 44 – Terreno com dimensões

Fonte: Adaptado de CAERN, 2005

Ademais, a análise topográfica do terreno mostra que há uma diferença de 3 metros entre
a cota mais baixa do terreno (que fica mais ao sul) e a mais alta (mais ao norte) (Figura 45).

Figura 45 – Análise da topografia

Fonte: Adaptado de CAERN, 2005

A facilidade de acesso ao lote foi um ponto significativo para a escolha. Ele está situado
a aproximadamente 400m da Avenida Engenheiro Roberto Freire, uma das principais vias da
cidade (de classificação Via Arterial I) que começa em Capim Macio e segue até a Vila de
69

Ponta Negra. Ademais, localiza-se a 600m de distância da Avenida Ayrton Senna, outra
importante avenida (Via Arterial I). Existem lotes próximos sem uso, deste modo é possível
locar o estacionamento em um destes lotes e priorizar no terreno principal a edificação com
seus espaços livres (Figura 46), senão teria que ser buscado um lote com maiores dimensões e,
consequentemente, mais distante das vias principais, o que seria negativo para a proposta do
centro.

Figura 46 – Relação do terreno 01 para o terreno destinado à estacionamento

Fonte: Adaptado de Google Earth, 2017

A infraestrutura bem consolidada de maior parte do bairro, principalmente nesta parte


mais próxima à Avenida Roberto Freire, também foi um fator importante. Nos arredores do lote
é possível acessar facilmente escolas, supermercados, transporte público e equipamentos de
lazer. O entorno do terreno será melhor estudado no próximo tópico deste item.

5.4.3 Entorno

No tocante às características do entorno imediato do lote, percebeu-se que ele está


situado em uma área predominantemente residencial, embora existam alguns serviços e
instituições próximas, como creches, escolas e lares para idosos. A Figura 47 sintetiza as
informações adquiridas referentes ao uso dos solos nos quarteirões vizinhos.
70

Figura 47 – Mapa de uso dos solos no entorno do terreno

Fonte: Adaptado de Google Earth, 2017

Com relação ao número de pavimentos nas edificações nos arredores do terreno, a


predominância é de um pavimento, mas o número de construções com dois pavimentos também
é alto. Existem poucas edificações acima de três pavimentos, e infere-se que isso se deve ao
fato das características dos conjuntos habitacionais ainda estarem preservadas nesta área, como
foi possível notar na visita in loco. Na Figura 48 é possível visualizar essas informações.
71

Figura 48 – Mapa de gabarito no entorno do terreno

Fonte: Adaptado de Google Earth, 2017

Essas características – edificações predominantemente residenciais e de um pavimento


– ressaltam o aspecto que foi procurado no momento anterior à escolha do terreno: buscava-se
uma região relativamente calma e sem grandes fontes de agitação.

5.4.4 Insolação e ventilação

É significativo para o processo de projeto conhecer os aspectos bioclimáticos que


contemplam o terreno em questão. Um maior conhecimento desses permite soluções
arquitetônicas que visem o aproveitamento de luz e ventilação natural, garantindo a ambiência
do centro. Deste modo, as características ambientais foram analisadas com ênfase na insolação
e ventilação.
Nesse contexto, a NBR 15220 discorre sobre o zoneamento bioclimático brasileiro e
diretrizes construtivas. O município de Natal está inserido na Zona Bioclimática 08, na qual as
72

principais orientações da norma supracitada são: utilizar grandes aberturas para ventilação,
sombrear as aberturas e empregar ventilação cruzada.
Em uma análise elaborada no software The Solar Tool (Figura 49), simulou-se fachadas
paralelas aos limites do terreno e, assim, foi possível encontrar informações referentes aos
meses do ano e horas do dia em que estas faces estariam recebendo incidência solar direta.

Figura 49 – Análise de incidência solar direta sobre cada fachada

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

Todas as fachadas recebem radiação direta todos os meses do ano, a variação ocorre
somente nos horários que a incidência acontece. A face voltada para Nordeste recebe incidência
direta no verão aproximadamente até às 9h da manhã, e no inverno até às 14h. Já a fachada
Noroeste só começa a receber radiação direta, no verão, a partir das 14h30 e, no inverno, a partir
das 10h. A fachada sudeste, nos meses de junho e julho, fica sombreada a partir das 10h30,
enquanto em janeiro e fevereiro, a partir das 13h30. Por fim, a face voltada para o sudoeste, no
inverno, é sombreada até às 15h, enquanto que nos meses mais quentes, somente até por volta
das 10h30. O Quadro 02 sintetiza as informações dispostas neste parágrafo.
73

Quadro 02 – Síntese de horários de incidência solar direta sobre as fachadas

FACHADA JUN/JUL DEZ/JAN


NORDESTE Até 14h00 Até 09h30
NOROESTE A partir 10h00 A partir 12h30
SUDESTE Até 10h30 Até 13h30
SUDOESTE A partir 15h00 A partir 10h30
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

Essa análise serve como embasamento para algumas decisões importantes de


zoneamento dos ambientes em planta. Como pode-se perceber, é interessante que os cômodos
onde a radiação direta é mais indesejada fiquem posicionados mais para a fachada nordeste,
pois durante os meses mais quentes estará protegido do sol na maior parte do dia, só recebendo
incidência do sol à tarde por volta de junho e julho (meses mais chuvosos e com temperaturas
mais amenas). A fachada sudoeste torna-se a mais desfavorável no que tange o conforto
térmico, pois nos meses mais quentes do ano está recebendo incidência solar a partir das 10h30
da manhã e durante toda a tarde, em que a temperatura fica mais quente.
Outro ponto importante analisado foi a existência de sombras causadas por edificações
vizinhas. Como visto na Figura 48, as construções que circundam o lote são predominantemente
térreas ou com somente dois pavimentos, não causando sombreamento significativo na área.
Por fim, analisou-se a Rosa dos Ventos para o município de Natal no ano de 2009
(INPE-CRN, 2009) a fim de compreender quais principais faces permitiriam a entrada da
ventilação na edificação. A Figura 50 ilustra o sentido dos ventos sobre o terreno. Percebe-se
que a sua origem varia de leste a sul, tendo a predominância no sudeste.
74

Figura 50 – Sentido dos ventos durante o ano de 2009

Fonte: Adaptado de INPE-CRN, 2009

5.4.5 Condicionantes legais

O Anteprojeto do CAPS deve obedecer diversas exigências legais. Dentre elas,


destacamos aqui o Plano Diretor de Natal (2007), Código de Obras de Edificações do Município
de Natal (2004), ABNT NBR-9050 (2015) e Código De Segurança e Prevenção Contra Incêndio
e Pânico Do Estado Do Rio Grande Do Norte.
Observou-se que, de acordo com o Plano Diretor de Natal (2007), o lote se configura
dentro da zona de adensamento básico. Para terrenos nesta zona, aplica-se o coeficiente de
aproveitamento básico, que é igual a 1,2. Isto é, a edificação deverá ter uma área construída
total de no máximo 1972,63m², valor considerado suficiente para a implementação da
instituição, com base na expectativa resultante do programa de necessidades. Outras
determinações envolvem gabarito, taxa de permeabilidade do solo, taxa de ocupação e recuos
do terreno em relação aos limites do lote. Elaborou-se um quadro resumo com todas as
prescrições exigidas pelo Plano Diretor para o lote em questão, considerando a edificação com
dois pavimentos:
75

Quadro 03 – Prescrições urbanísticas

TERRENO 01 – ZONA DE ADENSAMENTO BÁSICO – CAPIM MACIO

Coeficiente de aproveitamento 1,2


Frontal Mínimo: 3,00 metros
Recuos Lateral Mínimo: 1,50 metros
Posterior: 1,50 metros

Taxa de ocupação 80%


Taxa de Permeabilidade mínima 20%
Gabarito máximo 65 metros
Fonte: Plano Diretor de Natal, 2007

O Código de Obras e Edificações do Município de Natal, instituído pela Lei


Complementar Nº 055 de 27 de janeiro de 2004, regulamenta toda e qualquer obra de
construção, reforma, ampliação e demolição no município, garantindo que os espaços
projetados atinjam padrões de qualidade mínimos para conforto, higiene e saúde dos usuários.
Sendo assim, o Art. 144 estabelece as dimensões, pés direitos e áreas mínimas que os
compartimentos devem ter. Os ambientes os quais o código determina e que se aplicam ao
CAPS foram expostos no Quadro 04.

Quadro 04 – Exigências mínimas para compartimentos


COMPARTIMENTO ÁREA MÍNIMA (m²) DIMENSÃO PÉ DIREITO
MÍNIMA (m) MÍNIMO (m)
Quarto 8,00 2,40 2,50
Banheiro 2,40 1,20 2,40
Cozinha 4,00 1,80 2,50
Fonte: Código de Obras e Edificações do Município de Natal, 2004

Quanto à quantidade de vagas necessárias, esta é prevista no código de acordo com a


área construída total que a edificação possui. A edificação se enquadra na categoria 9, que tem
como usos: Hospital, Maternidade, Pronto Socorro, Clínica Médica, Dentária, Consultório,
Laboratório, etc, apesar de nenhum desses usos refletir exatamente o funcionamento de um
CAPS. Sendo assim, a determinação, para vias locais, é de 1 vaga a cada 55 m² de área
construída, para construções de até dois pavimentos.
76

A NBR-9050 (2015) é a norma que estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem


observados no projeto quanto às condições de acessibilidade. Deste modo, durante o processo
de concepção projetual foram aplicadas diversas exigências dispostas na norma de modo a
garantir que os ambientes pudessem ser usufruídos de maneira autônoma por pessoas com
mobilidade reduzida. Resumidamente, os principais pontos observados foram:
1. Acessos: Todas as entradas da edificação devem ser acessíveis, bem como as rotas
de interligação do edifício. As vagas de estacionamento para pessoas com
deficiência e idosos deve estar a uma distância máxima de 50m de um acesso
acessível;
2. Pisos: Os materiais de revestimentos de pisos devem ser antiderrapantes sob
qualquer condição (seco ou molhado), e devem ter superfície regular, firme e
estável;
3. Desníveis: Eventuais desníveis de até 5mm dispensam qualquer tratamento especial,
desnível de 5mm a 20mm devem possuir inclinação máxima de 1 : 2 (50%);
4. Rampa: Para ser considerado rampa, o piso deve ter declividade maior que 5%. A
inclinação deve seguir as exigências estabelecidas na tabela inserida na própria
norma, mostrada na Figura 51. Para rampas em curva, a inclinação máxima
admissível é de 8,33% e o raio mínimo interno de 3,00m. A largura livre mínima
recomendável é de 1,50m, e a largura mínima admissível de 1,20m;

Figura 51 – Dimensionamento de Rampas

Fonte: NBR 9050, 2015

5. Corrimãos: Devem ser de material rígido, firmemente fixados às paredes ou às


barras de suporte, garantindo condições seguras de utilização;
6. Plataforma de elevação vertical: Deve ser usada a plataforma de percurso aberto
somente até alturas de 2,00m. Nos intervalos de 2,00m a 9,00m somente com caixa
enclausurada;
77

7. Banheiros e vestiários: Recomenda-se que a distância máxima a ser percorrida de


qualquer ponto da edificação até o sanitário ou banheiro acessível seja de 50m. O
dimensionamento deve respeitar o giro de 360º e espaço para área de transferência
para a bacia sanitária, conforme a Figura 52;

Figura 52 – Área de transferência e manobra para uso da bacia sanitária

Fonte: NBR-9050, 2015

8. Corredores: Para corredores de uso público, a largura mínima é 1,50m. Para


corredores de uso comum, 0,90m até 4,00m e 1,20 para até 10,00m.
É importante ressaltar que durante o processo de concepção dos espaços, várias
exigências da norma de acessibilidade que não foram citadas na lista acima foram analisadas.
Neste capítulo, destacou-se somente as mais relevantes, que teriam rebatimento em toda a
edificação.
Finalmente, pelo Código de Segurança e Prevenção Contra Incêndio e Pânico, pode-se
enquadrar o CAPS como “Uso Hospitalar”, pois este uso se refere às edificações destinadas a
hospitais, clínicas, maternidades, casas de repouso, centro clínicos e similares. Determina-se
que as exigências quanto aos dispositivos de proteção contra incêndio devem seguir, além das
particulares designadas para Uso Hospitalar, as mesmas aplicadas para edificações de ocupação
Comercial, Mista e Pública, de acordo com área construída e altura da edificação. Como os
estudos preliminares preveem uma edificação de dois pavimentos, sabe-se que que altura
78

considerada para o Código será inferior a 6m, enquanto que a área construída superior a 750m².
Portanto, as exigências são: prevenção fixa (hidrantes); prevenção móvel (extintores de
incêndio); sinalização; escada convencional; instalação de hidrante público. Ademais, o Art 9º
determina que a largura mínima exigida para escada convencional é de 1,60m.
79

6 EVOLUÇÃO DA PROPOSTA

Nesse capítulo são apresentados os passos iniciais para o desenvolvimento da proposta


arquitetônica elaborada: o conceito que norteou o projeto, o partido arquitetônico e a sua
evolução.

6.1 CONCEITO E PARTIDO ARQUITETÔNICO

Para Neves (1989, p. 121) esta representa a segunda etapa do processo projetual, que
constitui “[...] em síntese, o trabalho de processar as informações básicas, imaginar a ideia
preliminar do projeto e expressá-la numa forma perceptível através do desenho”.
Dentro dessa perspectiva, as informações adquiridas a partir do referencial empírico
nortearam o conceito do projeto, resumido na palavra “Traços”, que se relaciona à arteterapia a
partir do emprego de cores variadas e de elementos que possam fazer os pacientes deixaram
seus registros na própria edificação. A história da psiquiatra Nise da Silveira, mencionada
anteriormente, foi uma das principais referências à concepção deste conceito pois a médica
implementou ateliês de pintura no manicômio onde trabalhava e notou os efeitos terapêuticos
positivos causados nos pacientes. As produções, atualmente, são expostas no Museu de Imagens
do Inconsciente no Rio de Janeiro. A Figura 53 destaca algumas das mandalas produzidas pelos
usuários, as quais revelavam diversas formas geométricas e cores.
80

Figura 53 – Mandalas produzidas pelos usuários no Setor de Terapia Ocupacional do Hospital Pedro II

Fonte: Centro Cultural do Ministério da Saúde, 2014

As mandalas serviram de inspiração para o logotipo do CAPS (Figura 54). O nome


escolhido, por sua vez, “CAPS Arte e Vivência” representa a união do conceito de arte com as
soluções projetuais adotadas que propiciam intensamente a convivência entre os usuários.
Pensou-se em um título com palavras simples para que permitisse o entendimento de todo e
qualquer usuário e fácil associação à proposta da instituição.

Figura 54 – Logotipo elaborado para o CAPSad

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017


81

Ademais, uma série de decisões foram direcionadoras como parte do partido


arquitetônico antes de se iniciar o desenvolvimento da proposta. Como dito por Neves (1989,
p. 123) “projetar é um continuado exercício de tomada de decisões. É importante também
perceber que cada decisão tomada é uma opção feita entre as inúmeras alternativas existentes.
Daí ser fácil entender que a adoção do partido arquitetônico é, sobretudo, o exercício de optar”.
Por exemplo, optou-se por priorizar as áreas de convivência em lugares centrais do terreno,
afastando esses espaços do limite do terreno e evitando que o usuário esteja olhando para um
muro. Outra decisão tomada teve relação com a paleta de cores a ser utilizada. Como visto no
logotipo, adotou-se uma composição de tons de azul e amarelo. O azul, como afirmado por
Heller (2014) é tida como uma cor calmante que induz tranquilidade, enquanto o amarelo é
associado ao otimismo.
Por fim, como reflexo do intuito de projetar uma edificação flexível e empregando
estratégias que reduzissem os custos em relação às soluções convencionais, optou-se pela
utilização de containers nas áreas onde o dimensionamento permitisse sua utilização, o que
findou por ditar amplamente a forma da edificação. O tipo de container empregado e demais
informações a respeito do sistema construtivo serão explicitados no próximo capítulo. Ademais,
outras soluções de flexibilização dos ambientes foram aplicadas.

6.2 EVOLUÇÃO DO ZONEAMENTO E PLANTA BAIXA

Considerando o conceito adotado e as análises realizadas no capítulo 5, pode-se


desenvolver a proposta de projeto arquitetônico adequado para a instituição. Inicialmente, foi
elaborado o zoneamento que guiou a locação dos ambientes na planta baixa. O seu
desenvolvimento foi feito através da técnica de colagem de post-its, cada post-it representando
um dos ambientes contidos no programa de necessidades. A técnica permitiu agilidade na
mudança de ambientes, sendo facilmente possível alterar as posições. Vale destacar que a
análise bioclimática e de relações espaciais e funcionais foram essenciais nesta etapa. Como se
pode notar na Figura 55, que mostra o zoneamento inicial do pavimento térreo, as salas de
atividades foram posicionadas em L para que todas recebessem ventilação. Os quartos são
locados no pavimento superior, acima dos ambientes representados em amarelo. O que está em
amarelo também representa as áreas que serão constituídas pelos containers.
82

Figura 55 – Zoneamento inicial do pavimento térreo

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

Tanto a Rua Industrial João Mota quanto a Rua Francisco Pignataro são classificadas
como vias locais pelo Plano Diretor de Natal (2007). Nas visitas in loco notou-se que o fluxo
de veículos nas duas ruas é similar, então por questões de proximidade e melhor adaptação do
projeto à topografia, locou-se a entrada principal pela Rua Industrial João Mota.
Como parte do processo, determinados pontos foram repensados quando a planta baixa
foi iniciada. Por exemplo, os quartos de plantão da equipe médica foram relocados para o
pavimento térreo garantindo maior proximidade com os banheiros de funcionários, mas sem
perder a conexão com os quartos coletivos. Utilizou-se a modulação de 1,20m para as paredes
em alvenaria e para locação dos containers no terreno, se adequando ao conceito de
flexibilidade visto no tópico 3.2.1. A Figura 56 mostra a primeira solução de planta baixa do
pavimento térreo, enquanto a Figura 57, pavimento superior. Na Figura 57 foram acrescentados
retângulos com tracejados em vermelhos para indicar a delimitação dos containers e assim
entender os problemas desta solução.
83

Figura 56 – Primeira proposta de planta baixa do pavimento térreo

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

Figura 57 – Primeira proposta de planta baixa do pavimento superior

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017


84

Com essa primeira ideia de planta baixa, foi realizada uma observação a fim de
encontrar possíveis erros e melhorias para o projeto. No térreo, constatou-se que devido à
localização do fumódromo, mesmo estando mais a norte, nas horas do dia que os ventos
possuíssem sentido leste, a fumaça seria levada para dentro da área de convivência, o que
poderia causar desconforto aos usuários não-fumantes. Mesmo que os momentos nos quais se
é permitido fumar sejam controlados, é um incômodo que pode ser evitado relocando este
ambiente para o lado esquerdo do terreno. Outro problema encontrado foi a parede ao norte da
sala de atividades físicas, criando locais escondidos no terreno. Por fim, foram acrescentadas
duas vagas no lote, sendo uma destinada a idoso e outra a pessoas com mobilidade reduzida.
No pavimento superior, notou-se uma divergência no que tange a aplicação das
determinações do código de obras sobre à largura mínima permitida para quartos. Considerando
que a largura do container é 2,44 metros, quando se insere o revestimento interno dos quartos,
estes, do modo como estão colocados, teriam largura interna de aproximadamente 2,30. Mesmo
que a permanência dos usuários nos quartos seja de no máximo dois dias, foi necessário
reconsiderar este problema. Para este caso, a solução foi repensar a planta do pavimento
superior de modo a unir dois containers, eliminar as faces entre eles e posicionar os quartos nos
outros sentidos.

6.3 SOLUÇÃO FORMAL

Em se tratando da solução formal, três elementos foram os principais responsáveis por


defini-la: os containers, a topografia e os telhados.
O telhado de duas águas sobre os blocos foi pensado como uma maneira de sair das
soluções convencionais utilizadas em clínicas e hospitais, que normalmente empregam a telha
ocultada pela platibanda.
A partir do desenvolvimento inicial da planta baixa, foram criados os volumes (Figura
58). Estes estão representados na imagem de modo que cada cor representa sua unidade
funcional. Posto que uma das ideias do projeto era criar uma edificação fluida, com circulações
livres e conexão direta com o meio externo, o resultado encontrado foram vários blocos
separados, o que dificultou a criação de um volume particularizado. Optou-se, deste modo, por
fazer a conexão visual entre as unidades através dos telhados, cores e texturas aplicadas.
85

Figura 58 – Volumetria esquemática inicial

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

O passo seguinte foi posicionar os blocos na cota mais baixa do terreno. Notou-se que,
em diversos pontos, a edificação ficaria “enterrada” devido ao aclive próprio do lote. Em
consequência disso, os blocos foram elevados até se ajustarem à altimetria do terreno, de
maneira que as alterações a serem feitas na topografia original fossem minimizadas. A Figura
59 mostra como se deu o processo.

Figura 59 – Elevação dos blocos para ajuste à topografia

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017


86

Inicialmente, a cobertura para a área dos containers foi dividida em duas partes, se
constituindo de um telhado com uma água e outro com duas. No entanto, o efeito estético
encontrado não foi o esperado, para mais se observou um problema eminente devido a um
possível ponto de infiltração resultante da maneira com a qual os telhados se encontram. O
segundo estudo foi elaborado trazendo mais dinamicidade estética e permitindo a existência de
duas principais calhas para onde as águas pluviais podem ser drenadas e permitir seu
reaproveitamento. A Figura 60 apresenta o desenvolvimento desta coberta.

Figura 60 – Evolução da cobertura do bloco de containers

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

Com a definição destas decisões preliminares, a composição detalhada da volumetria


foi surgindo à medida que a planta baixa foi evoluindo. Como é uma solução de somente dois
pavimentos onde a inter-relação entre os ambientes é a prioridade, o diferencial na forma
ressaltou-se a partir da aplicação de cores e elementos como divisórias, brises, entre outros.

6.4 ANÁLISE DE CONFORTO AMBIENTAL

Antes de seguir para o detalhamento, foi elaborado um estudo para verificar a eficiência
das estratégias adotadas.
Inicialmente, observou-se o sombreamento da edificação no próprio terreno a partir do
software Ecotect Analysis. As datas escolhidas para análise foram o solstício de inverno (21 de
junho) e o solstício de verão (21 de dezembro), por representar as duas situações extremas. A
Figura 61 aponta que a área de convivência externa ficará sombreada em boa parte do dia, o
que é positivo, pois estimula o seu uso.
87

Figura 61 – Sombreamento da edificação durante o dia nos solstícios

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

A próxima análise foi feita simulando as principais aberturas dos quartos coletivos que
estão orientadas para o Sudeste. Para isto, utilizou-se o software Solar Tool. Considerou-se a
altura da janela de 1,50m, com peitoril de 0,65m e largura de 1,60m. Foi acrescentado um brise
acima da janela à distância de 1,20m, simulando a altura da coberta acima dos blocos (Figura
62). As simulações mostraram que estas aberturas, tanto no verão quanto no inverno, recebem
insolação somente até aproximadamente 7h30.

Figura 62 – Modelo usado x Resultados das simulações

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

Mesmo o resultado sendo apropriado, foi adotado um tipo de janela com aletas
rotacionáveis que permitissem fechamento total. No entanto, o foco do emprego deste sistema
de abertura foi a ausência de vidro e a garantia de privacidade dos pacientes, quando necessário.
88

Por fim, utilizou-se o software Autodesk Flow Design para se obter as pressões do vento
resultantes sobre as fachadas (Figura 63). Inicialmente, considerou-se o vento com sentido Sul.
O resultado encontrado são altas pressões sobre a fachada sudoeste e pressões negativas sobre
a fachada nordeste. Deste modo, infere-se que o vento entrará pelos cobogós, pelos brises e
pelas aberturas nos quartos e salas coletivas. Já na simulação com o vento sentido Leste, a
fachada sudeste contempla as maiores pressões, possibilitando a leitura de que, para este caso,
os quartos mais favorecidos são os com abertura voltada para esta fachada (quartos 05 e 06).

Figura 63 – Pressões resultantes sobre as fachadas

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

As análises elaboradas refletiram que o projeto seguia as premissas para conforto


ambiental pensadas preliminarmente. As soluções que se referem ao uso de materiais
termoacústicos não foram contempladas neste tópico pois serão descritas no memorial
descritivo.
89

7 M EMORIAL DESCRITIVO

Este capítulo abordará a síntese técnica do projeto, com a compilação de todas as


escolhas feitas e suas respectivas justificativas. Contém informações acerca dos materiais
utilizados, das prescrições urbanísticas, dos aspectos funcionais e formais e outras decisões
projetuais consideradas relevantes ao entendimento da proposta.
Antes de adentrar nas especificações, é interessante acentuar novamente a proposta do
CAPS. O CAPS AD III, também denominado CAPS Arte e Vivência, situado na Zona Sul, mais
precisamente no bairro de Capim Macio, deve ter proposta adequada para o funcionamento 24h
por dia, todos os dias da semana incluindo feriados. É previsto para atender aproximadamente
40 pacientes por turno, com 12 espaços em quartos coletivos para estadia noturna dos usuários
que necessitem de apoio da equipe por um tempo maior. Na instituição devem ser realizadas
atividades de grupo terapêuticos, reuniões, atividades de lazer, oficinas, entre outras. Buscou-
se na concepção a criação de ambientes humanizados que seguissem a Cartilha de Ambiência
do SUS, além de uma edificação que permitisse flexibilidade e adaptação caso mudanças
venham a ser implantadas futuramente, empregando soluções que minimizassem custos.
Ao final, o projeto apresentou uma área construída total de 892,93m² situada no terreno
01 de 1643,86m², com 20 vagas para veículos situadas no terreno 02, que possui 873,03m² de
área.

7.1 IMPLANTAÇÃO

Como visto, a proposta para o CAPS possui dois terrenos de intervenção. No terreno 01
se situa a edificação, enquanto no terreno 02, o estacionamento com 20 vagas. Os terrenos foram
escolhidos seguindo os critérios mencionados no tópico 5.4: localização, infraestrutura urbana
e uso dos solos no entorno, e dimensões.
O acesso principal acontece pela Rua Industrial João Mota, ao passo que os acessos
secundários (preferencialmente para funcionários), de carga e descarga e abrigos de lixo, na
Rua Francisco Pignataro. No terreno 01 foram adicionadas duas vagas, sendo uma para idoso e
outra para portador de necessidades especiais, visando adequação a norma NBR 9050 que
determina a distância máxima de 50m entre as vagas reservadas e o acesso. Foi acrescentada
uma baia destinada à parada de ambulância caso venha a ser necessário.
90

De maneira geral, a implantação, exposta na Figura 64, foi elaborada com base na
distribuição das unidades funcionais e priorizando as áreas de convivências nos espaços
centrais. Os recuos frontal e lateral esquerdo foram utilizados para área de grama e vegetação,
pensando-se também nas oficinas de jardinagem que são parte do programa da instituição.

Figura 64 – Planta de locação e coberta

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

Já o estacionamento (Figura 65) possui o acesso de veículos pela Rua Industrial João
Mota e o de pedestres pela Rua Francisco Pignataro, devido à proximidade com a edificação.
O cálculo das vagas foi elaborado considerando o Anexo III do Código de Obras de Natal
(2004), na categoria que caracteriza “Hospital, maternidade, pronto socorro, clínica médica,
91

dentária, consultório, laboratório, etc” de até 2 pavimentos para vias locais, determinado uma
vaga a cada 55m².
Figura 65 – Planta do estacionamento

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

7.2 DISTRIBUIÇÃO FUNCIONAL E CIRCULAÇÕES

Assim como qualquer outro estabelecimento de assistência à saúde, é primordial a inter-


relação entre os ambientes e a observância à proximidade necessária entre determinados
cômodos. A recepção, por exemplo, onde é realizado o primeiro contato entre o usuário e a
unidade, localiza-se próxima à sala de arquivo e à administração, pois pode ser necessário o
acesso rápido à algum documento ou prontuário. Da recepção é possível encaminhar os usuários
às salas de atendimento individualizados por meio de acesso ao corredor onde ficam os
compartimentos. Estas salas, por sua vez, tem uma saída direta para a circulação onde se
localiza o posto de enfermagem e a sala de medicação. O D.M.L se situa próximo a esta área
para armazenagem temporária dos materiais descartados enquanto estes não são levados ao
abrigo de lixo. O depósito contém máquina de lavar e tanque, onde as roupas sujas serão lavadas
e colocadas para secagem na área de varal e encaminhadas à rouparia. A sala de
reunião/auditório foi colocada perto da área de recepção para evitar que pessoas externas ao
92

centro (que não sejam da equipe de funcionário nem usuários) tenham que adentrar muito na
edificação e assim, gerar a possibilidade de incômodo nos indivíduos devido à perda de
privacidade.
As salas coletivas foram todas posicionadas de maneira a permitir integração com a área
de convivência externa ao passo que também possui uma melhor ventilação. O refeitório
também apresenta esta característica de visibilidade da área central, que é arborizada e com
bancos para convivência entre usuários, equipe e familiares. As despensas situadas no refeitório
foram locadas próximas à entrada de carga e descarga. Há uma porta secundária que possibilita
a chegada dos utensílios e alimentos e a saída para depósito no abrigo de lixo.
À direita das salas de atividades está situada a circulação vertical, que dá acesso aos
quartos coletivos de acomodação individual nos pavimentos superiores. Os quartos de plantão
da equipe, destinado ao repouso dos funcionários e acomodação daqueles que irão dormir no
centro, fica situado no pavimento térreo e próximo à escada e plataforma elevatória, para
possibilidade de alcance rápido aos quartos coletivos se existir alguma ocorrência. Na Figura
66 pode-se observar as relações entre os ambientes.

Figura 66 – Pavimento térreo

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017


93

O posicionamento dos quartos no pavimento superior (Figura 67) garante maior


privacidade e conforto térmico a estes cômodos, pois todos possuem janelas voltadas para o sul
ou para o leste. Dois dos seis quartos tem espaço e banheiros adaptados a portadores de
necessidades especiais, sendo um destes com leitos hospitalares, conforme determina o Manual
de Estrutura Física (2013).

Figura 67 – Pavimento superior

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

Um aspecto relevante também considerado foi a análise dos tipos de circulações internas
do centro (Figura 68). Foi necessário observar se as circulações livres e controladas se
interceptam em alguma área e se os fluxos estão bem determinados.
94

Figura 68 – Classificação dos espaços por tipo de circulação

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

Nota-se, portanto, que as áreas de circulação livre estão bem conectadas e centrais em
relação ao lote.

7.3 SOLUÇÕES GERAIS

Esse item discorrerá sobre as escolhas gerais adotadas para o centro. Algumas
características são diferentes para o bloco constituído de containers, por este motivo estas serão
mencionadas no tópico seguinte.
O sistema construtivo para as paredes externas adotado para o bloco principal (que
contém a recepção, área de convivência interna, etc) e o do refeitório é alvenaria de tijolo
cerâmico com camada de chapisco, reboco, massa acrílica e pintura em tinta acrílica com cor a
depender. As paredes internas são de drywall pintadas na cor branca. Na área de convivência
interna e na recepção foram utilizadas divisórias internas leves de placas de OSB (Oriented
Straight Board) pintadas em diversas cores seguindo a paleta escolhida para o projeto. Estas
divisórias podem ser removidas sem transtornos ao funcionamento da edificação, sendo um dos
95

pontos que traduz a flexibilidade inerente ao projeto. Outra particularidade está no refeitório e
na sala de reunião, pois possuem uma de suas paredes com aplicação de tinta efeito lousa no
lado interno, sendo possível que os usuários produzam e apaguem desenhos com a utilização
de giz na parede.
A cobertura é composta de telhas termoacústicas, também denominadas telhas
sanduíches, com núcleo de poliestireno e a inclinação varia ao longo do projeto. Este tipo de
telha é uma boa solução para redução de ruídos além de amenizar temperaturas internas.
Tomou-se partido sobre os telhados para que estes pareçam flutuar sobre o edifício. Deste
modo, toda a estrutura metálica de sustentação fica exposta.
O sistema de laje empregado foi steel deck, que é composto por uma telha de aço
galvanizado em formato trapezoidal e uma camada de concreto. Esse tipo de sistema funciona
bem tanto em uma edificação com uso de estrutura metálica como estrutura em concreto, sendo
assim, pôde ser aplicado em todos os blocos do projeto. Como, neste caso (onde a maioria dos
vãos variam de dois a quatro metros), não necessita de escoramento, diminui custos com
execução e mão-de-obra, além de reduzir significativamente o tempo da obra.
Quanto ao piso, nas áreas externas é feito de placas cimentícias em cor neutra, nas
dimensões de 1.00m x 1.00m. As áreas molhadas possuem piso cerâmico esmaltado acetinado
com medidas de 0,43cm x 0,43cm. Os espaços internos como salas de atendimento,
administração, sala de reunião, entre outros, possuem aplicação de piso vinílico em manta com
textura que imita madeira.
Foi projetada uma torre destinada aos reservatórios inferior e superior de água. O cálculo
(Tabela 2) foi feito utilizando-se o número de pacientes nos quartos (12 no máximo) e o número
de pacientes por turno (40), e aplicando-se a tabela do Anexo II da Instrução de Serviço 02/2009
da CAERN (2009). Os residentes foram enquadrados na categoria “Residencial normal acima
de 100m² – 200 a 300 l/hab*dia”, tomando como base o valor de 200 litros por dia. Já os
usuários por turno foram classificados como “Ambulatórios, enfermarias ou similares – 200 a
300 l/hab*dia”, também aplicando-se o valor de 300 litros por dia. Considerando uma reserva
de 2,5 dias e a reserva de incêndio de 7200L (mínimo determinado), o volume total resultante
foi 43200L. A escolha por dividir o volume em reservatório superior e inferior tem como
principal motivo o alívio das cargas na estrutura da torre, reduzindo assim o consumo de
concreto e aço.
96

Tabela 2 – Cálculo do volume total da caixa d’água

Consumo per capita (RESIDENTES) 200 l/dia


Consumo per capita (PACIENTES) 300 l/dia
Número dormitórios 6
Número de residentes 12
Número de pacientes 40
Consumo diário 14400l
Volume reservado 36000l
Reserva de incêndio 7200l
Volume total 43200l
Volume R1 (Inferior – 60%) 25920l
Volume R2 (Superior – 40%) 17280l
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

Por fim, foi prevista estrutura mista para a edificação. Nos locais em alvenaria serão
utilizados pilares de concreto armado, enquanto as partes com estrutura metálica e para
sustentação da tesoura do bloco da recepção empregarão pilares metálicos de seção I.

7.3.1 Esquadrias

Para as esquadrias, optou-se por minimizar a utilização de vidro em peitoris baixos e


assim reduzir riscos para os usuários. Nos quartos, onde há necessidade de janelas com peitoril
mais baixo para permitir conexão com o meio externo, a solução adotada foi a de janela
veneziana de alumínio (Figura 69), com aletas rotacionáveis que possibilitam o fechamento e
abertura das esquadrias. As janelas altas e em ambientes como as salas de atendimento são de
alumínio branco com vidro temperado.
97

Figura 69 – Janela veneziana de alumínio

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

As portas possuem abertura com altura de 2,10m e em sua maioria são de MDF
laminado. As portas de acesso aos quartos possuem bandeiras fixas em vidro. As esquadrias da
entrada principal e acesso ao refeitório também seguem a solução de veneziana de alumínio.

7.4 PARTICULARIDADES DO BLOCO DE CONTAINERS

O bloco que contém as salas de atividades e quartos tem certas particularidades devido
ao sistema construtivo aplicado, e estas são discutidas neste tópico.
Os containers possuem estrutura independente a qual é responsável por suportar grandes
cargas. Seria necessária uma densidade muito alta de carga para exceder o quanto um container
consegue suportar levando em conta o que ele possui de espaço interno, de acordo com Slawik
(2010 apud MIRANDA, 2016). O empilhamento é feito utilizando-se peças de travamento nas
quatro arestas, e o equipamento mais indicado para esse tipo de serviço é o Caminhão Munck,
que apresenta braço hidráulico de içamento dos containers (idem).
No pavimento térreo, foram utilizados dez containers do tipo Dry 20’, o mais usado na
construção civil, de acordo com Miranda (2016). No pavimento superior, usou-se três do tipo
Dry 20’ e três 40’, que possui dimensões maiores. A Figura 70 mostra as medidas destes tipos.
98

Figura 70 – Dimensões dos containers do tipo Dry

Fonte: Multicomex, s.d.

Em primeiro lugar, no que tange às fundações, é importante que os containers fiquem


elevados em relação ao solo para evitar os efeitos da corrosão devido à umidade do solo. Neste
projeto as colunas de canto dos containers foram posicionadas sobre blocos de concreto
ciclópico, que adentram o solo para constituir a fundação, como expõe o detalhe elaborado na
Figura 71.
99

Figura 71 – Fundação dos containers

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

Determinadas adaptações foram feitas para adequação à proposta e melhoria dos


espaços internos. Nas salas coletivas, uma das faces longitudinais de cada container foi retirada
para que a união de dois componentes resultasse no espaço suficiente da sala. Na Figura 72 é
possível visualizar quais painéis foram retirados. No container central, foram eliminados tanto
o painel posterior quanto a porta. No lugar destes, foi colocada uma divisória removível de
OSB, garantindo a separação entre salas na maior parte do tempo, porém, possibilitando a
integração destas quando assim os usuários preferissem.
100

Figura 72 – Representação esquemática das salas de atividades coletivas

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2017

No pavimento superior também se observa que determinados painéis laterais,


posteriores e portas inerentes aos containers foram retiradas para o melhor dimensionamento
dos quartos. Com isso, se fez necessário a utilização de reforços estruturais em aço para evitar
a flexão dos trilhos superiores. Ademais, o pavimento superior teve seus painéis de teto
retirados para que se fosse possível elevar a altura do forro e assim se adequar às normas do
Código de Obras (2004) de pé direito mínimo de quartos, estabelecido como 2,40m. No que
tange o isolamento termoacústico das paredes, extremamente necessário para garantir o
conforto dos usuários nestes espaços, no pavimento térreo, este foi construído utilizando-se uma
camada de lã de vidro entre o painel metálico externo e a placa de OSB interna. No pavimento
superior, foi empregado o drywall com revestimento interno de lã de vidro.
O forro nos dois pavimentos é de PVC na cor branca, conforme mostrado na Figura 73
de referência. Na sala de leitura o forro levou um tratamento especial, possuindo uma camada
de lã de vidro sobre ele, para atenuar os ruídos produzidos pela pela passagem do efluente
sanitário pela tubulação de esgoto dos banheiros acessíveis do pavimento superior, já que o
painel superior de um dos containers que compõe esta sala foi retirado. Isto se deu pela
necessidade de se providenciar espaço suficiente para passagem das tubulações, pois a solução
para os banheiros destinados aos portadores de necessidades especiais diferiu dos demais.
101

Figura 73 – Forro de PVC na cor branca

Fonte: Araforros, 2016

Nos banheiros não-acessíveis, foi aplicada a estratégia de piso elevado. Nesta situação,
a cerâmica é aplicada sobre painéis de polipropileno, instalados sempre fora da modulação das
placas, e elevados em relação ao piso com o uso de pedestais de aço (REMASTER, 2016).
Deste modo, os ramais de efluentes sanitários são direcionados aos shafts no vão gerado entre
este sistema e o piso, como exposto na Figura 74. Tal solução ajuda a atender à Norma de
Desempenho, NBR 15.575 por minimizar o ruído hidráulico. Ademais, facilita e reduz custos
de manutenção de áreas molhadas, além de não necessitar criar cortes em diversos pontos dos
painéis dos containers, reduzindo a resistência do sistema estrutural.

Figura 74 – Estratégia de piso elevado para áreas molhadas

Fonte: Remaster, 2016


102

Quanto às salas de atividades e quartos, foi aplicado um piso vinílico em manta com
uma textura que imitasse madeira. Esta solução tem fácil aplicação e ajuda no conforto térmico
e acústico do ambiente.
No pavimento superior é possível observar a circulação externa que se conecta ao
container. Para isto, uma chapa metálica foi parafusada no trilho inferior dos containers
superior. Nesta chapa são soldadas vigas no sentido transversal, que sustentam placas de 40mm
compostas de miolo de OSB e as duas faces externas de placas cimentícias. Esta solução resiste
a um carregamento de até 500kg/m² de cargas distribuídas com apoios a cada 1,25m
(BRASGIPS, 2017).
103

C ONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de desenvolvimento do projeto apresentou diversas questões interessantes


que valem a pena ser ressaltadas ao final deste trabalho.
Inicialmente, encontrou-se pouca bibliografia referente a interseção entre as áreas da
Saúde Mental e da Arquitetura. Existem inúmeras publicações sobre arquitetura hospitalar e
humanização nos estabelecimentos de assistência à saúde. No entanto, especificamente, voltado
para centros de reabilitação ou centros destinados a pessoas com transtornos mentais, pouco
material teórico. O referencial elaborado foi, portanto, uma fusão entre materiais pertencentes
à área da psicologia com a bibliografia direcionada à arquitetura hospitalar. Ademais, houve
dificuldade também em buscar referências projetuais interessantes internacionalmente pois a
proposta de centros com princípios similares aos do CAPS, pelo que se percebeu, é pouco
difundido em outros países. A maioria dos centros de tratamento para dependentes químicos no
exterior ainda permanecem com as ideias de internação. Todavia, o resultado dos referenciais
foi considerado satisfatório, sendo capaz de facilitar o entendimento sobre o que é projetar para
pessoas com transtornos mentais.
Outro obstáculo encontrado surgiu durante o processo de concepção projetual. Por ser
uma instituição pública, desde o princípio se teve a ideia de não utilizar materiais que fugissem
muito dos orçamentos usuais para edificações do tipo. Somando isto com o emprego de
containers, não foi possível elaborar soluções formais “peculiares”. No entanto, a utilização dos
containers, apesar de causar um certo travamento na volumetria, surgiu a partir de um desejo
por sair das estratégias convencionais, visto que este é o último trabalho da graduação.
Os instrumentos escolhidos para a elaboração do projeto foram importantes para
diminuir as dificuldades sobre o desenho e se atingir um melhor grau de detalhamento. Foi o
utilizado o software de Building Information Modeling, Revit, que facilitou a produção dos
desenhos técnicos pois a elaboração das vistas e perspectivas do bloco de containers teriam sido
mais difíceis de elaborar se fossem feitas no software AutoCAD.
Finalmente, apesar dos desafios mencionados, considera-se que foi alcançada uma
proposta que contempla os objetivos iniciais aqui expostos e espera-se que o trabalho sirva de
referência para pesquisas futuras sobre arquitetura para pessoas com transtornos mentais.
104

R EFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15220: Desempenho térmico


de edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.

______. NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.


Rio de Janeiro: ABNT, 2015.

______. NBR 15575: Edificações Habitacionais – Desempenho. Rio de Janeiro: ABNT, 2013.

ARAÚJO, Jéssica. Flex Kids: Proposta para uma Instituição de Educação Infantil
Espacialmente Flexível. 2014. 194 f. TCC (Graduação) - Curso de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2012.

AZEVEDO, Dulcian; MIRANDA, Francisco. Práticas profissionais e tratamento ofertado nos


CAPSad do Município de Natal-RN: com a palavra a família. Escola Anna Nery: Revista
Enfermagem, Natal, v. 1, n. 14, p.56-63, jan. 2010. Tremestral.

BERTOLETTI, Roberta. Uma contribuição da arquitetura para a reforma


psiquiátrica: Estudo no residencial terapêutico Morada São Pedro em Porto Alegre. 2011.
212 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, 2011.

BESTETTI, Maria Luisa. Ambiência: Espaço físico e comportamento. Revista Brasileira de


Geriatria e Gerontologia, Rio de Janeiro, v. 3, n. 17, p.601-610, fev. 2014.

BICHO de Sete Cabeças. Direção de Laís Bodanzky. Roteiro: Luiz Bolognese. 2000. Son..
color.

BITENCOURT, Fábio. A iluminação em ambientes hospitalares: Um componente de saúde


e conforto humano. [200-]. Disponível em:
<http://www.academia.edu/7707354/A_ILUMINAÇÃO_EM_AMBIENTES_HOSPITALAR
ES_UM_COMPONENTE_DE_SAÚDE>. Acesso em: 15 ago. 2017

BORDIGNON, Gabriel Barros. Arquitetura e Saúde Mental: A reforma psiquiátrica em


Santos-SP. In: COLÓQUIO DE PESQUISA EM ARQUITETURA E URBANISMO E
DESIGN, 2., 2013, Uberlândia. Anais... . Uberlândia: Faued, 2013. p. 31 - 39. Disponível em:
<http://www.ppgau.faued.ufu.br/sites/ppgau.faued.ufu.br/files/files/04.pdf>. Acesso em: 04
mar. 2017.

______. Territórios dissidentes: Espaços da loucura na cultura urbana contemporânea. 2015.


196 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de
Uberlândia, Uberlândia, 2015.

CENTRO CULTURAL MINISTÉRIO DA SAÚDE. Nise da Silveira: Vida e obra. 2014.


Disponível em: <http://www.ccms.saude.gov.br/nisedasilveira/mandalas.php>. Acesso em: 20
ago. 2017.
105

CONSTRU-BÁSICO. Guia definitivo: Como construir uma casa container. 2016. Disponível
em: <https://blog.construbasico.com.br/guia-definitivo-como-construir-uma-casa-container/>.
Acesso em: 22 ago. 2017.

CUNHA, Luiz Cláudio. A cor no ambiente hospitalar. In: CONGRESSO NACIONAL DA


ABDEH, 1., 2004, Salvador. Anais... . Salvador: Iv Seminário de Engenharia Clínica, 2004.
p. 58 - 61.

DEMARTINI, Juliana. Um olhar arquitetônico sobre Centros de Atenção Psicossocial


Infantil: O caso do CAPSi de Cuiabá. 2007. 140 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007.

FILKESTEIN, Cristiane. Flexibilidade na arquitetura residencial: Um estudo sobre o


conceito e sua aplicação. 2009. 173 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Arquitetura,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.

FOUCAULT, Michel. História da Loucura. São Paulo: Editora Perspectiva, 1978. Tradução
de: José Teixeira Coelho Netto.

______. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1978. Tradução de Raquel Ramalhete.

GÓES, Ronaldo de. Manual prático de arquitetura hospitalar. São Paulo: Edgard Blücher
Ltda, 2004.

GRESSEL, Steve; HILANDS, Kelly. New Hospital Designs Focus on Reducing Cost,
Improving Health and Flexibility. 2008. Disponível em:
<http://www.facilitiesnet.com/healthcarefacilities/article/New-Hospital-Designs-Focus-on-
Reducing-Cost-Improving-Health-and-Flexibility-Facilities-Management-Health-Care-
Facilities-Feature--9680>. Acesso em: 09 maio 2017.

GULJOR, Ana Paula. Os Centros de Atenção Psicossocial: um Estudo sobre a


Transformação do Modelo Assistencial em Saúde Mental. 2003. 197 f. Dissertação
(Mestrado) - Curso de Saúde Publica, Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo
Cruz, Rio de Janeiro, 2003.

HELLER, Eva. A psicologia das cores: Como as cores afetam a emoção e a razão. São
Paulo: Gustavo Gilli, 2013.

JONAS JUNIOR, Lenilson. Ateliê Ricardo Tinôco: Anteprojeto Arquitetônico de uma


Escola de Desenho Modelo. 2015. 138 f. TCC (Graduação) - Curso de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2015.

JORGE, Liziane. Estratégias de flexibilidade na arquitetura residencial


multifamiliar. 2012. 512 f. Tese (Doutorado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.

MARCHEWKA, Tânia. A humanização na assistência à saúde mental no Hospital Geral.


Revista de Direito Sanitário, São Paulo, v. 8, n. 1, p.43-60, mar. 2007. Tremestral.
106

MARTINS, Vânia. A humanização e o ambiente físico hospitalar. In: CONGRESSO


NACIONAL DA ABDEH, 1., 2004, [s.l]. Anais... . [s.l]: Congresso Nacional da Abdeh,
2004. p. 63 - 67

MEDEIROS, Allan. Natal/RN: Criminalidade amedronta turistas nas praias. 2016.


Disponível em:
<http://www.gostodeler.com.br/materia/6455/natal_rn_criminalidade_amedronta_turistas_nas
_praias.html>. Acesso em: 09 mar. 2017.

MELO, Maria Taís de; SPANHOL, Fernando; ARGENTA, Maritê (Org.). O complexo
universo da dependência química.Palmas: Unitins, 2012.

MIRANDA, Bruno. O uso de contêiners na arquitetura. 2016. 79 f. TCC (Graduação) -


Curso de Arquitetura e Urbanismo, Centro Universitário Senac, São Paulo, 2016.

MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasil). Ambiência. Brasília: Editora MS, 2010. 34 slides, color.

______. Cadernos HumanizaSUS: Saúde Mental. Brasília: Editora MS, 2015. 5 v.

______. Manual de estrutura física dos Centros de Atenção Psicossocial e Unidades de


Acolhimento. Brasília: Editora MS, 2013.

MOREIRA, Pedro da Luz. Foucault e a Arquitetura. 2014. Disponível em:


<http://arquiteturacidadeprojeto.blogspot.com.br/2014/01/foucault-e-arquitetura.html>.
Acesso em: 26 jun. 2017.

MOURA, Éride. Lelé no Rio. Projeto Design, [s. L.], v. 266, abr. 2002.

NAHAS, Marina. Marina Nahas: Arquitetura mínima sustentável de interesse social. 2011.
Disponível em: <http://marinanahas.blogspot.com.br/2011/12/falando-em-pre-moldados-
lele.html>. Acesso em: 13 ago. 2017.

NATAL. Câmara Municipal. Código de segurança e prevenção contra incêndio e pânico


do Estado do Rio Grande do Norte. Natal, RN, 09 dez. 1974.

______. Câmara Municipal. Lei Complementar nº 055, de 27 de Janeiro de 2004. Dispõe


sobre o Código de Obras de Natal. Natal, 2004.

______. Câmara Municipal. Lei Complementar nº 082, de 21 de junho de 2007. Dispõe


sobre o Plano Diretor de Natal e dá outras providências. Natal, 2007.

NEVES, Laert. Adoção do partido na arquitetura. Salvador: Centro Editorial e Didático da


Ufba, 1989.

NISE - O coração da loucura. Direção de Roberto Berliner. Roteiro: Flavia Castro. [s.l]: Tv
Zero, 2015. Son., color.

NOGUEIRA, Maribel. Saúde Mental e Arquitetura: Um estudo sobre o espaço e o


ambiente e sua inserção no processo terapêutico. 2001. 146 f. Dissertação (Mestrado) - Curso
de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2001.
107

PELLEGRINI, Marcelo. Ambiente influi em chances de recaída de dependentes


químicos. 2011. Disponível em: <http://www.usp.br/agen/?p=71107>. Acesso em: 26 jun.
2017.

PORTAL MET@LICA. Container City: Um novo conceito em arquitetura sustentável.


[201-]. Disponível em: <http://wwwo.metalica.com.br/container-city-um-novo-conceito-em-
arquitetura-sustentavel>. Acesso em: 10 nov. 2017.

REMASTER. Remaster: Floor & Ceilings Solutions. [201-]. Disponível em:


<https://www.remaster.com.br/piso-area-molhada>. Acesso em: 12 set. 2017.

RUEDA, André. O enriquecimento ambiental inibe a sensibilização comportamental ao


etanol em camundongos. 2011. 81 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Farmacologia,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.

SANTOS, Marco. Flexibilidade e mutação: Proposta de um sistema modular flexível para


habitação coletiva na Covilhã. 2012. 158 f. Tese (Doutorado) - Curso de Arquitectura,
Universidade da Beira Interior, Covilhã, 2012.

SILVA, Adriana. Tratamento do Centro de Atenção Psicossocial para usuários de álcool


e outras drogas CAPSadII - Leste Natal/RN: Uma avaliação de efetividade. 2006. 171 f.
Dissertação (Mestrado) - Curso de Serviço Social, Centro de Ciência Sociais Aplicadas,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2006.

SILVA, Ana Claudia; MACÊDO, Andrezza. A Implicação do Usuário de Crack com o


Tratamento no CAPS AD Norte em Natal-RN. 2014. Disponível em:
<https://psicologado.com/psicopatologia/saude-mental/a-implicacao-do-usuario-de-crack-
com-o-tratamento-no-caps-ad-norte-em-natal-rn>. Acesso em: 16 mar. 2017.

SOUZA, Jocaff. Moradores da Vila de Ponta Negra, em Natal, reclamam da


violência. 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/rn-
movel/noticia/2013/01/moradores-da-vila-de-ponta-negra-em-natal-reclamam-da-
violencia.html>. Acesso em: 13 mar. 2017.

TEIXEIRA, Bruna. Flexibilidade: Uma contribuição para a sustentabilidade. 2011. 76 f.


Monografia (Especialização) - Curso de Construção Civil, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2011.

TENDÊNCIAS DO IMAGINÁRIO. Michel Foucault e a Nave dos Loucos. 2014.


Disponível em: <https://tendimag.com/2014/07/29/michel-foucault-e-a-nave-dos-loucos/>.
Acesso em: 26 jun. 2017.

TORRE, Eduardo Henrique; AMARANTE, Paulo. Michel Foucault e a História da Loucura:


50 anos transformando a história da psiquiatria. Cadernos Brasileiros de Saúde
Mental, Florianópolis, v. 3, n. 6, p.41-64, jun. 2011. Disponível em:
<http://incubadora.periodicos.ufsc.br/index.php/cbsm/article/view/1502>. Acesso em: 26 jun.
2017.
108

VASCONCELOS, Renata. Humanização de ambientes hospitalares: Características


arquitetônicas responsáveis pela integração interior/exterior. 2004. 177 f. Dissertação
(Mestrado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2004.

WALBERT, Allan. Saúde mental: transtornos atingem cerca de 23 milhões de brasileiros.


2013. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/noticias/saude/2013/05/saude-mental-em-
numeros-cerca-de-23-milhoes-de-brasileiros-passam-por>. Acesso em: 09 mar. 2017.

WALBERT, Allan. Símbolo da reforma antimanicomial, eficácia dos CAPS é


questionada. 2013. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/noticias/saude/2013/05/saude-
mental-em-numeros-cerca-de-23-milhoes-de-brasileiros-passam-por>. Acesso em: 09 mar.
2017.

XAVIER, Michele. A linda história da casa container da Natalí e do Fábio. 2015.


Disponível em: <https://minhacasacontainer.com/2015/04/09/a-linda-historia-da-casa-
container-da-natali-e-do-fabio/>. Acesso em: 26 ago. 2017.
109

ANEXO A – Planta do modelo de referência de CAPS AD III

Você também pode gostar