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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE

EXECUÇÃO PENAL DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – ESTADO DO PARANÁ.

Ref. Processo n.º 0011235813-21.2017.8.16.0030

JOÃO CARLOS DA SILVA, já qualificado nos autos em epígrafe, por seu advogado infra
assinado, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fulcro no art. 197 da Lei de
Execuções Penais, interpor AGRAVO EM EXECUÇÃO, em face da decisão delineada, que
reconheceu a falta disciplinar de natureza grave e determinou a regressão do sentenciado ao regime
fechado.
Requer seja recebido e processado o presente recurso para que, a partir das razões desde já
inclusas, possa Vossa Excelência exercer, caso assim entenda, juízo de retratação concedendo o
direito pleiteado.
Caso Vossa Excelência entenda por manter a decisão denegatória, após manifestação do
ilustre representante do Ministério Público, requer seja encaminhado o presente recurso ao Egrégio
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná - para julgamento.

Termos em que, pede e aguarda deferimento.

Foz do Iguaçu, 06 de Julho de 2021.

MARCUS VINCIUS GAIEVSKI BOM


OAB...

RAZÕES DE AGRAVO EM EXECUÇÃO

Ref. Processo n.º 0011235813-21.2017.8.16.0030


Juízo de Origem: Vara De Execução Penal Da Comarca De Foz do Iguaçu/PR
Agravante: João Carlos Da Silva
Agravada: Ministério Público

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ,


COLENDA CÂMARA, ÍNCLITOS JULGADORES,
DOUTA PROCURADORIA DE JUSTIÇA.
Em que pese o indiscutível conhecimento jurídico do Meritíssimo Juiz a quo, requer-se a
reforma da respeitável sentença que reconheceu a falta disciplinar de natureza grave e determinou a
regressão do sentenciado ao regime fechado, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:

I- DOS FATOS
O Agravante foi condenado pela prática do crime de homicídio simples, previsto no artigo
121, caput do Código Penal, a uma pena de 10 anos de reclusão em regime inicial fechado. O
mesmo iniciou o seu cumprimento da pena em 05 de janeiro de 2017, na penitenciária de Foz do
Iguaçu. No mês de junho de 2020, requereu a concessão de seu livramento condicional. De acordo
com as informações acostadas ao pedido, o condenado sempre ostentou bom comportamento
carcerário, não cometeu nenhuma falta grave, demonstrou bom desempenho no trabalho atribuído
durante o curso da execução. Realizada a audiência de concessão, o condenado foi
condicionalmente liberado.
Após aproximadamente um ano da concessão do benefício, o liberando deixou de comunicar
periodicamente o juízo da execução sua ocupação, bem como, passou a frequentar determinados
lugares aos quais estava proibido.
Após manifestação exclusiva do Ministério Público dando conta de que seria caso de
revogação obrigatória do livramento condicional, determinou o juízo da execução, de forma
fundamentada pelo reconhecimento da falta de natureza grave, bem como revogou o benefício; o
não cômputo do período de livramento na pena a ser cumprida; a expedição de mandado de prisão –
sem oportunizar defesa/justificativa, acerca da infração delineada, violando diretamente os
princípios da ampla defesa, do contraditório e do devido processo legal.
Máxima vênia Excelências, nenhuma excepcionalidade poderia afastar os princípios
norteadores do estado democrático de direito. Ainda mais, quando se refere aos princípios da ampla
defesa, do contraditório e do devido processo legal.
Por fim, insta salientar que em momento algum houve a oportunidade do Agravante
justificar a suposta infração. Razão pela qual, perfeitamente tempestivo o presente recurso.

II- DAS RAZÕES RECURSAIS


Inicialmente, cumpre asseverar que na reconversão de pena restritiva de direitos em
privativa de liberdade e na regressão de regime, sempre se está imputando ao condenado a prática
de um ilícito, o que redunda na imperiosa necessidade da observância dos princípios da ampla
defesa, do contraditório e do devido processo legal.
Os princípios da ampla defesa e do contraditório, decorrem do art. 5º, LV, da Constituição
Federal, que assevera: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.
Além de intimamente relacionados, estão intrinsicamente conectados ao princípio do devido
processo legal. Aliás, a doutrina majoritária, considera os princípios da ampla defesa e do
contraditório, subprincípios do devido processo legal. Cumpre assegurar que o devido processo
legal está previsto no art. 5º, LIV, CF, nos seguintes termos: “ninguém será privado da liberdade
ou de seus bens sem o devido processo legal”.
Consagra-se, portanto, a exigência de um processo formal e regular, realizado estritamente
nos termos legais, impedindo que o Poder Público tome qualquer medida contra alguém, atingindo
os seus direitos/interesses, sem lhe proporcionar o direito ao contraditório e à ampla defesa,
conforme destaca Liebman:
"(...) é a garantia fundamental da justiça e regra essencial do processo, segundo o qual
todas as partes devem ser postas em posição de expor ao juiz suas razões antes que ele profira sua
decisão (...). As partes devem poder desenvolver suas defesas de maneira plena e sem limitações
impostas arbitrariamente. Qualquer disposição legal que contraste com essa regra deve ser
considerada inconstitucional e, por isso, inválida." (LIEBMAN, Henrico Tullio. O princípio do
contraditório no processo civil italiano, in DESTEFENNI, Marcos. Curso de processo civil, Vol. 1,
Tomo 1, pag. 15).
No entanto, in casu, restaram violados os princípios norteadores do estado democrático de
direito, uma vez que o édito condenatório delineado regrediu o Agravante para o regime fechado,
sem oportunizar/realizar audiência justificatória ou defesa escrita, acerca das supostas violações.
Além disso, a Lei de Execução Penal - LEP, determina em seu art. 118, parágrafo segundo,
que o condenado seja ouvido previamente ao recrudescimento da forma de cumprimento de pena.
Vale ressaltar que o Superior Tribunal de Justiça, consolidou o entendimento acerca da
“efetiva” necessidade da realização de audiência justificativa, antes de recrudescer a forma das
reprimendas que o apenado está cumprindo. Nesse sentido, colacionam-se os seguintes julgados:
“É pacífico nesta corte o entendimento no sentido de que a conversão das penas restritivas
de direitos em privativa de liberdade deve ser precedida de audiência de justificativa, com a
presença de defensor” (STJ, 5ª Turma, RHC 29198, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze. Dje:
09.04.2013).
“O reconhecimento da prática infracional e a consequente regressão ao regime mais
gravoso depende da prévia oitiva do apenado em juízo, em audiência na qual lhe seja garantido o
direito à defesa técnica, conforme preleciona o parágrafo segundo do artigo 118 da Lei de
Execução Penal” (STJ, 5ª Turma, HC 235526, Rel. Min. Gilson Dipp. DJ: 20.06.2012).
Na mesma linha, Renato Marcão assevera:
“É importante ressaltar que, antes de converter-se a pena restritiva de direitos em privativa
de liberdade, quando presente uma das hipóteses legais autorizadores, deve-se possibilitar ao
executado o exercício da ampla defesa de seus direitos, com a instauração do devido processo
legal. Nessa ordem de ideias, convém salientar, inclusive, que a decisão proferida no processo de
execução, que converte a pena restritiva de direitos em privativa de liberdade, sem que o acusado
seja previamente ouvido, é nula por inobservância ao contraditório”. (MARCÃO, Renato. Curso de
Execução Penal 11ª edição. São Paulo: Saraiva, 2013. P. 335).
Isto posto, o édito condenatório que regrediu o Agravante para o regime fechado, merece ser
anulado em razão dos preceitos constitucionais acima elencados, bem como em atenção ao art. 118,
parágrafo segundo, da Lei de Execução Penal.

III- REQUERIMENTOS
Diante de todo o exposto, requer:
a) liminarmente seja conhecido e provido o presente recurso, para colocar imediatamente o
Agravante em liberdade, ante a manifesta ilegalidade no recrudescimento da forma de cumprimento
de pena;
b) seja conhecido e provido o presente recurso, para anular o édito condenatório delineado,
uma vez que reconheceu a falta de natureza grave e regrediu o Agravante para o regime fechado,
sem oportunizar a sua justificação (audiência justificatória/justificativa escrita), em manifesta
violação ao direito da ampla defesa, do contraditório e do devido processo legal, além da
transgressão do art. 118 da LEP;
c) seja feita a retratação da decisão recorrida, caso assim entenda o Juízo “ad quo”.

Termos em que, pede e aguarda deferimento.


Foz do Iguaçu, 06 de Julho de 2021.

MARCUS VINCIUS GAIEVSKI BOM


OAB...

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