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UNIVERSIDADE DE BRASILIA – UnB

UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL – UAB


FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FE
CURSO DE PEDAGOGIA A DISTÂNCIA

JOANA D’ARC FERREIRA PINTO

AS MANIFESTAÇÕES DA CULTURA POPULAR NO MUNICÍPIO


DE CARINHANHA/BA – FESTAS, FOLGUEDOS E DANÇAS NO
CONTEXTO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Carinhanha/BA
2013
JOANA D’ARC FERREIRA PINTO

AS MANIFESTAÇÕES DA CULTURA POPULAR NO MUNICÍPIO


DE CARINHANHA/BA – FESTAS, FOLGUEDOS E DANÇAS NO
CONTEXTO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Monografia apresentada como requisito parcial para


obtenção do título de Licenciado em Pedagogia a
Distância, da Faculdade de Educação – FE -
Universidade Aberta Do Brasil - UAB- Universidade de
Brasília - UnB.

Carinhanha/BA
2013
PINTO, Joana D’arc Ferreira. 2013; 65 páginas. As Manifestações Da Cultura Popular
no Município de Carinhanha – Festas, Danças e Folguedos no Contexto do Ensino
Fundamental.
Faculdade de Educação – FE, Universidade Aberta do Brasil - UAB - Universidade de
Brasília – UnB.

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Pedagogia a Distância

FE/UAB/UNB
AS MANIFESTAÇÕES DA CULTURA POPULAR NO MUNICÍPIO
DE CARINHANHA/BA – FESTAS, FOLGUEDOS E DANÇAS NO
CONTEXTO DO ENSINO FUNDAMENTAL.

Monografia apresentada como requisito parcial para


obtenção do título de Licenciado em Pedagogia a
Distância, da Faculdade de Educação – FE -
Universidade Aberta Do Brasil - UAB- Universidade de
Brasília – UnB.

Comissão Examinadora:

Professora Dra. Neuza Maria Deconto (Orientadora)


Faculdade de Educação da Universidade de Brasília

___________________________________________

Professora Dra. Norma Lúcia Neris de Queiroz


Faculdade de Educação da Universidade de Brasília

____________________________________________

Professora Mestre Sandra Regina Santana Costa

____________________________________________
Dedicatória

Dedico primeiramente ao meu Jesus, pela oportunidade que Ele tem me concedido e
por ter me dado à sabedoria de agarrar esta oportunidade.
A minha mãe, que verdadeiramente é um presente de Deus, meu exemplo de mãe e
pai, uma verdadeira guerreira.
Ainda minha família e amigos, a meu padrinho Newilton Oliveira (Titio), que me
presenteou com um computador, internet e tudo que precisei.
A minha tutora Crésia que nos ajudou tanto, fez o que pode, sempre esteve a nossa
disposição. Aos meus tutores Fabrício, Peterson, Cleverson, Everaldo, Débora, meu querido
Henrique Neuto, à professora Rosângela e também Erica Nascimento.
A todos que oraram por mim, intercederam para que eu continuasse nessa caminhada
com força, coragem e paciência.
Agradecimentos

A DEUS, PELA LUZ QUE ME LEVA ADIANTE SEMPRE.


RESUMO

Este trabalho aborda as manifestações da cultura popular no município de Carinhanha/BA - festas,


folguedos e danças - no contexto do ensino fundamental, considerando que as práticas pedagógicas
no Ensino Fundamental podem contribuir com a valorização e reconhecimento das manifestações
da cultura popular brasileira, em sua dimensão de memória e identidade cultural da população local
e do Brasil como um todo. As danças, as festas, os autos, os cortejos e os folguedos populares são
expressões ricas da diversidade cultural brasileira. Em Carinhanha, na Bahia, não podia ser
diferente e a escola, como um espaço público, pode ser um ambiente privilegiado para
aprendizagens que envolvam as culturas populares de um modo geral e, em especial, aquelas
manifestações que ocorrem nesse município. Dessa forma, tendo por objetivo analisar como as
manifestações da cultura popular local são tratadas na prática pedagógica das professoras que atuam
em turmas do 1º ao 4º ano - uma turma de cada ano - do Ensino Fundamental de uma escola
municipal de Carinhanha/BA, o trabalho foi estruturado com base em levantamento teórico sobre o
tema, tendo como referência diversos autores, entre outros: Laraia (2009), Brandão (2009), Arantes
(2000), Burke (1988), Freire (1993) e Viana (2008). E a pesquisa empírica foi desenvolvida dentro
da abordagem qualitativa, que sendo de natureza descritiva possibilitou aprofundamento das
questões relativas à temática, apresentadas nos dados coletados em entrevistas semiestruturadas,
realizadas com as professoras e a coordenadora pedagógica da escola pesquisada. E o resultado
mostrou que nas turmas investigadas, apesar de as professoras reconhecerem a importância das
manifestações da cultura popular brasileira, em sua dimensão de memória e identidade cultural da
população local e do Brasil, nas práticas pedagógicas as manifestações culturais não são trabalhadas
nessa perspectiva.

Palavras chave: cultura, manifestações culturais, cultura popular brasileira, ensino


fundamental.
SUMÁRIO

1ª PARTE: MEMORIAL EDUCATIVO -------------------------------------------------------------------08


1.1-O COMEÇO DE TUDO ----------------------------------------------------------------------------------09
1.2-TRANSIÇÃO-----------------------------------------------------------------------------------------------10
1.3MEUS PRIMEIROS PASSOS NA ESCOLA-----------------------------------------------------------11
1.4- NO ENSINO MÉDIO-------------------------------------------------------------------------------------13
1.4- EU NA UnB: UM SONHO QUASE IMPOSSÍVEL
- PRIMEIRO MOMENTO: O SUSTO! ---------------------------------------------------------------------14

2ª PARTE: TRABALHO MONOGRÁFICO---------------------------------------------------------------20


INTRODUÇÃO-------------------------------------------------------------------------------------------------21
CAPÍTULO I – REFERENCIAL TEÓRICO
1.CULTURA NO BRASIL-----------------------------------------------------------------------------------25
1.2- CULTURA POPULAR----------------------------------------------------------------------------------27
1.3- CULTURA MATERIAL E IMATERIAL------------------------------------------------------------30
1.4 – MEMÓRIA E IDENTIDADE CULTURAL--------------------------------------------------------31
2 - A CULTURA POPULAR NO MUNICÍPIO DE CARINHANHA---------------------------------32
3 –CULTURA POPULAR BRASILEIRA E PERSPECTIVAS EDUCACIONAIS----------------40

CAPÍTULO II – METODOLOGIA
2.1 A PESQUISA-----------------------------------------------------------------------------------------------43
2.2- O LOCAL DA PESQUISA------------------------------------------------------------------------------45
2.3- A COLETA DE DADOS---------------------------------------------------------------------------------46
2.4-OS PARTICIPANTES DA PESQUISA-----------------------------------------------------------------47

CAPÍTULO III - ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ENCONTRADOS


3.1-PRIMEIRA CATEGORIA: CONCEPÇÃO DE CULTURA POPULAR
APRESENTADA PELAS PROFESSORAS----------------------------------------------------------------48
3.2-SEGUNDA CATEGORIA: SENTIDO E SIGNIFICADO DE MEMÓRIA E
IDENTIDADE CULTURAL PARA OS PROFESSORES------------------------------------------------50
3.3 –TERCEIRA CATEGORIA: AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS POPULARES
LOCAIS NA PROPOSTA PEDAGÓGICA E PRÁTICA PEDAGÓGICA DA ESCOLA---------- 52

CONSIDERAÇÕES FINAIS----------------------------------------------------------------------------------56

REFERÊNCIAS-------------------------------------------------------------------------------------------------58

APÊNDICES
1-ENTREVISTAS: Com 05 professores e coordenadora pedagógica
(turmas do 1º ao 4º ano)----------------------------------------------------------------------------------------61

3ª PARTE: PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS NO CAMPO DA PEDAGOGIA------------------64


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1ª PARTE: MEMORIAL EDUCATIVO


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1.1-O COMEÇO DE TUDO

Tudo começou com o casório da minha mãe com meu pai. Eles viveram 4 anos, esses
quatro anos foram de tristeza e dor, minha mãe sofria violência doméstica até mesmo grávida,
eu até nasci com uma marca de uma pancada que minha mãe levou na barriga.

Logo após meu nascimento, quando completei meus 2 anos de idade, meu pai recebeu
uma proposta de emprego na cidade de Brasília, então, ele foi e disse que quando estivesse
trabalhando voltaria para nos buscar, graças a Deus ele não veio até hoje! Há vinte e dois anos
não o vejo. Falei com ele uma vez, por telefone, há mais de 10 anos, então, pus um ponto final
nesta história.

A minha mãe guerreira, meu exemplo de vida, sempre desde muito nova trabalhou em
casa de família, desde os onze anos de idade. Ela trabalhou na casa de uma família quase 30
anos. Fui criada nesse ambiente até os 5 anos de idade, logo após, fomos morar na casa da
minha avó, onde já tinha mais 3 filhos morando com ela, 2 deles filhos com suas famílias. Na
época tinha 16 pessoas na casa, crianças, bebês, adolescentes e adultos. Foi uma época difícil,
lembro-me de muita coisa boa e ruim.

As coisas boas: eu consegui viver o máximo da minha infância, a gente brincava todos os
dias, não importava se fazia chuva ou sol, estávamos lá brincando, a casa cheia de meninos e
meninas, como não brincar, na rua, nas árvores, correndo, subindo em muros, no pé de goiaba.

As coisas ruins: como na época não se pagava bem os empregados e também morávamos
de aluguel, era uma economia tremenda em casa, a gente comia o necessário, vestia e calçava
até as coisas se acabarem. Lembro-me de um fato, que marcou demais minha vida: um dia eram
quase 11h30min da manhã e eu deitada com minha mãe na cama, ouvi uma panela de pressão
chiar, então perguntei a “mainha” se o almoço já estava quase pronto. Ela respondeu: - ô minha
filha, não tem nada lá na cozinha não. E então fui ver e não tinha panela nenhuma na cozinha.
Voltei e falei: - e agora mãe o que vamos comer? Ela respondeu: - não sei! Ficamos caladinhas,
abraçadinhas, esperando a fome passar... Depois disto já passamos por cada coisa! E essas
coisas creio eu que ajudaram na minha formação como pessoa, na construção do meu caráter.
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Falar sobre mim não é uma tarefa fácil, porque é fazer uma reflexão complexa do eu interior
e exterior, é fácil falar, julgar a examinar os outros, mas a nós mesmos é uma tarefa difícil. No
entanto, vou tentar... Eu me chamo Joana D’arc Ferreira Pinto, tenho 24 anos, solteira, preta,
evangélica, filha de Maria José costureira. Moro com minha mãe, não conheço meu pai. Quando
criança morava na casa de minha avó, juntamente com minha mãe, seus irmãos e meus primos.
Quinze pessoas na mesma casa!

Minha mãe trabalhava na casa de uma professora que ganhava muitos livros. Com isto ela
formou uma minibiblioteca em um dos quarto da casa. Eu me lembro de que tinha acesso a esses
livros e passava muito tempo dentro daquele quarto, lendo todo tipo de livro. Infelizmente a casa
pegou fogo e destruiu a minha fábrica de sonhos.

Sou uma pessoa que lida muito bem com as outras pessoas, claro que sou um pouco tímida,
mas quando passo a conhecer e ter um pouco de liberdade com uma pessoa, minha timidez fica de
lado. Atualmente, faço parte de um grupo de teatro evangélico e trabalho na APAE como oficineira
de teatro e isso faz com que eu me sinta ainda mais capaz de realizar o presente trabalho, porque
com experiências em diversas áreas eu posso demonstrar no meu fazer pedagógico a capacidade que
tenho.
Eu me sinto feliz por terminar a Licenciatura em Pedagogia, que foi um sonho bom

realizado!

1.2-TRANSIÇÃO

É um período da vida que passamos por uma grande transformação, na busca da autonomia,
nos permitindo um olhar diferenciado e crítico na entrada de um mundo até então desconhecido do
saber acadêmico. Escolhi este título “Transição”, dentro do Memorial Educativo porque ele conta as
etapas já vencidas, vivenciadas, transformadas, algumas fracassadas e outras de muita vitória. A
transição é uma transformação, não somente na passagem da adolescência para a vida adulta,
quanto na mudança de uma vida pré-destinada a ter um futuro menos promissor, para a escolha do
novo.
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O trecho, a seguir, que retirei do livro Pequeno Príncipe. Ele me chamou atenção pela
mensagem profunda que parece vir da alma: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que
cativas. Tu és responsável pela rosa- Eu sou responsável pela minha rosa... Repetiu o principezinho
a fim de se lembrar”.

Essa rosa é meu futuro, minha vida, minha família, minhas raízes, minha comunidade, enfim,
tudo aquilo que é importante para mim eu me torno responsável por cativar. E na sequência:

E voltou, então, à raposa:


- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o
coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... Repetiu o principezinho, a fim de se
lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves
esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és
responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... Repetiu o principezinho, a fim de se
lembrar. (SAINT-EXUPERY, 2005, p. 38)

1.3- MEUS PRIMEIROS PASSOS NA ESCOLA

Na minha formação educacional, eu comecei numa escolinha particular, onde por uma
parceria eu não pagava a mensalidade, o nome da escola era Pingo Doce, estudei dois anos nela,
fui alfabetizada lá, saí de lá lendo, escrevendo e contando. Logo após fui para uma escola
pública chamada Lindaura Brito de Assunção, lá estudei até a 4ª série. Tive professores
maravilhosos, como a saudosa professora Ovídia, entre outras tantas. Lembro-me que lá
tínhamos um contato de respeito com o professor, mesmo assim não deixávamos de lado as
gracinhas, travessuras, porque éramos crianças e não abríamos mão disso!

Até a quarta série eu era bem aplicada, fazia as tarefinhas todas, era organizada, só não
era muito comportada, pois na época eu era colega dos meus primos. E, então, tiveram que
separar a gente porque estava demais.
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Naquela época era uma loucura quando se falava de estudar num colégio, era como tirar
passaporte, e ainda por cima colocavam medo na gente, falando que lá ia ter vários professores,
ia ter isso e aquilo. E foi isso mesmo que aconteceu, quando fui para a 5ª serie no Colégio
Educandário São José, onde estudei a 8ª serie.

Na 5ª serie lembro que foi um pouco estranho para mim, meus colegas não foram estudar
lá e foi difícil fazer novas amizades, mas as que eu fiz tenho até hoje. Nesta serie sofri Bullying.
A filha da minha diretora era minha colega, ela toda bonita, com cabelão, toda arrumadinha, me
chamava de urubuzenta. Usava este termo tão ridículo para se referir a mim como preta ou
negra, ou qualquer que seja o apelido, eu ouvia aquilo caladinha, na minha, e não me arrependo
de ter me comportado assim.

Na 6ª serie tivemos que mudar de escola por causa de uma reforma do Colégio, e
mudamos para uma escola do município, foi bom pra todos nós, tivemos uma relação bastante
agradável. Foi uma época bem interessante, até uma tentativa de briga sofri, mas fugi, eu não ia
apanhar em vão, de graça, não queria não. Lembro que uma vez os estudantes se ajuntaram e
fizeram um protesto, com abaixo-assinado e tudo e levamos nossas queixas ao prefeito,
reivindicamos a ele melhores condições de estudo, mostramos a estrutura da escola para ele,
tudo isso aconteceu por causa do vandalismo que havia acontecido nos banheiros. E por fim não
mudou nada, na minha concepção ele não levou em consideração, pensou que estivéssemos
brincando ou qualquer coisa do tipo, só sei que ele nos deixou de mão, então, agimos por conta
própria, tínhamos lideres nas salas e passávamos tudo o que acontecia para a direção.

Na 7ª serie já estávamos de volta ao Educandário São José, novos professores, novos


colegas, não demorou muito tive que ser transferida para o período matutino. Foi então que
esbarrei na minha pedra. Uma professora de matemática cismou comigo, tudo era culpa minha,
até o sol ser tão quente.

Quando estávamos quase perto do período de recuperação, 70% da sala ficaram para
recuperação, e eu estava entre os indivíduos e, por incrível que pareça só eu perdi e fui
repetente. Trágico isso não é mesmo? No início sim, depois, quando comecei a estudar fui
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percebendo a diferença de como a minha mais nova professora trabalhava e a outra (o trauma da
minha vida matemática), isso explica minha intimidação em relação à disciplina.

Na 8ª serie, eu já estava na fase da adolescência, estava já ciente da minha entrada no


ensino médio. Esta foi uma série inesquecível, mas lembro-me de pouca coisa, acho que minha
memória lembra mais de coisas antigas do que as mais recentes.

1.3- NO ENSINO MÉDIO

Primeiros passos do ensino médio, o 1º ano. Sala lotada, todo dia era uma maratona para
pegar carteira e quem chegava atrasado sentava até no chão, já aconteceu isso comigo, e na
época achava até hilário, praticamente disputava cadeiras todos os dias. Tive uma professora
maravilhosa, de Português. Ela ficou até o terceiro ano com a gente, eu me apaixonei por
Literatura justamente por causa do incentivo que ela dava li diversos clássicos, como Gabriela
Cravo e Canela, Os miseráveis, O Primo Basílio, entre outros. Desde pequena tive esse mundo
de leitura, já vinha desde quando minha mãe trabalhava na casa da minha madrinha. Eu já lia
aos seis anos e da ortografia não entendia muita coisa, mas me ajudou e muito.

No 2º ano do Ensino Médio, não me lembro de quase nada! Deu-me branco.


Para falar do 3º ano a reta final dessa fase e começo de outra grande etapa da minha vida, começo
citando um trecho do livro de Clarice Lispector (1980, p.155).

Não haverá nenhum espaço dentro de mim para eu saber que existe o tempo,
os homens, as dimensões, não haverá nenhum espaço dentro de mim para notar
sequer que estarei criando instante por instante, não instante por instante: sempre
fundido, porque então viverei, só então viverei maior do que na infância, serei
brutal e malfeita como uma pedra serei leve e vaga como o que se sente e não se
entende me ultrapassarei em ondas, ah, Deus, e que tudo venha e caia sobre mim,
até a incompreensão de mim mesma em certos momentos brancos porque basta
me cumprir e então nada impedirá meu caminho até a morte-sem-medo, de
qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo.

Foi uma série marcante, só tinha 15 alunos, os melhores colegas que tive. Aconteceu de
tudo, brigas, superações, ombro amigo, criticas, união. Lembro-me da nossa última gincana,
tivemos que trabalhar juntamente com o outro 3º ano, que a gente não se dava bem, todo mundo
tinha uma intriga, fazer o quê?
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Nos preparativos para a gincana teve gente que madrugou pintando o muro do Colégio,
perdemos nesta prova, imagine a briga que foi! Mas ganhamos a gincana, o primeiro lugar ficou
com o nosso grupo. Foram lindas as apresentações, teve um teatro como abertura, pois a gincana
era temática, se não me engano falava sobre aquecimento global, algo parecido. Ajuntamos
várias sementes de árvores, frutas nativas da região. Então foi uma das atividades que marcaram
nosso término do Ensino Médio. Logo depois veio o seminário de matemática, com nossa
querida professora Neuza Gusmão, foi o seminário mais emocionante que já tive, momento da
despedida dos meus colegas e da professora, foi um choro terrível, mas valeu a pena, foi lindo.
Lindo. Lindo.

1.4- EU NA UnB: UM SONHO QUASE IMPOSSÍVEL.

- PRIMEIRO MOMENTO: O SUSTO!

Eu, universitária da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília? Neste pedaço de


terra quase não visto no mapa? Pois é, isso mesmo sou eu Joana D’arc Ferreira Pinto, aluna da
UnB, que aos poucos foi se adaptando ao revolucionário formato do curso, que desconstruiu a
ideia de que o aprender só ocorre em uma sala de aula, vi que ocorre com todas as ferramentas
possíveis, em diversos locais.

Caloura matuta, desvairada num mundo virtual, lembro como se fosse hoje, eu confusa,
sem ter pelo menos noção da grandiosidade desse ingresso ao mundo universitário. Os primeiros
semestres foram martirizantes, faltou o amor à primeira vista, mas o amor construído em etapas
foi mais sólido, e isso fez a diferença, fui me envolvendo aos poucos, detalhes foram me
convencendo, me cativando e quando vi, estávamos nos amando. Penso que não foi só um curso
qualquer, foi uma etapa da vida que iniciou outra nova vida, a do conhecimento. Eu dei a
continuação da luz do conhecimento por vontade própria.

Com o término do ensino médio, fiquei um ano só trabalhando, logo depois eu fiz minha
inscrição para o vestibular da FTC e UnB, passei nas duas, tive que optar, preferi a UnB mesmo
não sabendo quão grandiosa era sua dimensão.
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No dia da prova eu não estava legal, tinha chegado de viagem, dormi pouco e estava
cansada, mesmo assim fiz e por um milagre divino passei, até hoje guardo a minha prova. Fiz
minha matrícula no último dia, eu estava louca para fazer Letras, deu um problema na hora da
matrícula e tive que ir para Pedagogia. Hoje vejo que não foi um problema e, sim, a direção
certa para um caminho certo sem arrependimentos!

Eu perdida, saindo do colegial e indo para uma universidade, aqui na minha realidade
simples e humilde, era uma grande felicidade. Pensem na reação da minha mãe e das pessoas
que conhecem toda minha historia de vida? Minha mãe não se aguentava de tanta felicidade, ela
que me criou para não depender de esposo e sim ter liberdade, como ela ficou feliz em saber que
minha realidade ia ser bem diferente da que ela teve.

No primeiro semestre, quase entrei em pânico, depressão na certa, eu não conseguia me


organizar, pressão rolando o tempo todo, e eu ainda não estava entendendo o sistema, tinha
perdido um pouco o interesse pela leitura, e a novidade do momento, internet e computador,
aqui em Carinhanha era chique demais.

Minhas dúvidas, meus medos, incertezas, mudança de comportamento e visão ante o


mundo mudando a cada dia, hoje posso dizer que estou começando saber o que é uma critica. Eu
só falo do que realmente sei estudo e compreendo. O mundo é complexo e mais complexas
ainda são as cabeças, ou ideias que cada um de nós tem.

As disciplinas que me marcaram grandemente foram: Antropologia, Educação Hospitalar,


Projeto 4 fase 2 – Ensino Fundamental, Educação em Geografia, Políticas Públicas
Educacionais. São tantas disciplinas essenciais para mim que não dá para descrever todas. Vou
falar das que mais contribuíram para a minha formação acadêmica.

A primeira sem dúvidas foi Antropologia, com a professora Rosângela, inesquecível,


complexa e desafiadora, aprendi com ela conceitos nunca vistos por mim, a visão de mundo que
eu tinha foi se abrindo, fui saindo do meu mundo e conquistando liberdade. E lembro sempre de
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uma frase que a professora Rosângela citava e que diz muito para mim: “O mundo muda quando
eu mudo”.

Outra disciplina inesquecível foi Educando com necessidades Especiais, onde pude
compreender um pouco sobre como trabalhar e respeitar limites dos alunos ou de outras pessoas
que não estão inseridas no contexto escolar. A disciplina Introdução à Classe Hospitalar também
foi essencial, lembro até hoje do vídeo “Doutores da alegria”, emocionante e motivador, que nos
mostrou o amor, a entrega a serviço do outro, o cuidado, o respeito e, acima de tudo, a
capacidade que o ser humano tem de fazer o outro feliz.

Para somar a minha trajetória na faculdade, a disciplina de História, Identidade e


Cidadania, foi muito útil para nortear o meu projeto até chegar ao TCC. Os projetos I, II, fase I-
projeto 3- fase II, projeto IV- fase I e II e agora o TCC projeto V- fase 2, foram indispensáveis
na elaboração, na escolha e no aprofundamento do tema escolhido para pesquisa.

Todas as disciplinas foram significativas para mim, nenhuma delas passou despercebida do
meu olhar, cada qual fez parte do aprendizado que foi se transformando a cada semestre. Então,
sou grata a todos os professores e tutores. E quanto à disciplina Projeto 5 – fase, sob a
coordenação da professora Neuza Deconto e a Orientadora a distância Laila de Mauro, é
satisfatório saber que podemos contar com competentes profissionais para orientar o TCC, só
tenho que agradecer pela colaboração.

Creio que a fase bem mais difícil foi a do estágio, onde nos dedicamos a buscar a
compreensão da realidade vivida. Essa compreensão se deu através de um simples ato de amor
que recebi e dei, reciprocidade total, daí percebi que não adiantava ter os melhores conteúdos, as
melhores escolas e os melhores professores, pois se estes não fossem cheios de amor nada teria
sentido, seria tudo tão artificial. Esta é a minha visão de compreensão do estágio, esta afirmação
se reforçou quando me deparei com o pensamento de Alves, que diz assim:

O nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma criança: tudo começa


com um ato de amor: Uma semente há de ser depositada no ventre vazio. E a
semente do pensamento é o sonho. Por isso os educadores, antes de serem
especialistas em ferramentas do saber, deveriam se especialistas em amor:
interpretes de sonhos. (ALVES, p. 128).
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O estágio foi uma fase muito linda, que proporcionou ter uma construção do saber única
por causa da experiência vivida diretamente na sala de aula, podendo fazer diagnósticos e a
intervenção. Confesso que na primeira fase eu não tive sucesso, fiquei triste, pois não saiu do
jeito que eu imaginei o resultado não foi como esperado, faltou autoconfiança, até mesmo
despreparo, faltou até mesmo entrosamento com a regente, aí não fluiu.

Já na segunda fase, eu estava como monitora numa sala de aula e bem familiarizada com a
regente e com os alunos. Gostei do trabalho que fiz interdisciplinar e lúdico, sem abrir mão da
fase do letramento. Preparei bem para fechar pelo menos com 50% da minha expectativa. Sem
contar que tive uma ajuda gigantesca da professora, tenho que agradecer muito a ela por ter me
orientado, me conduzido. Obrigada professora Maria do Socorro Sena.

Fechando aqui meu memorial, estou terminando a faculdade, ainda não me casei, isto é
trágico. Nesse meio tempo, eu fiz oficinas para melhorar meu desempenho, pelo menos de
comunicação, pois minha oralidade deixava a desejar.

Para concluir, expresso aqui a satisfação que tenho e o orgulho de poder afirmar quão
grande foram à alegria de construir o projeto de pesquisa e o TCC (trabalho de Conclusão de
Curso). Uma satisfação tão grande que não cabe dentro de mim. Foi um período delicado, de
construção de ideias próprias e embasadas, cuja dedicação teve que ser maior, por se tratar de
um curso que nos prepara para encarar a vida, a realidade, mas também permite viver a utopia,
pois sem sonhos não teríamos condição nenhuma de concluir qualquer projeto de vida.

Para finalizar apresento a música que marcou meu primeiro grêmio estudantil como
professora, pois foi a primeira apresentação que tive o prazer de participar, juntamente com os
alunos. Na época eu era monitora e tive a responsabilidade de cuidar deles no grêmio estudantil,
porque a professora regente precisou se ausentar por conta de uma formação que ela estava
fazendo.
Os meus olhos coloridos
Me fazem refletir
Eu estou sempre na minha
E não posso mais fugir...
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Meu cabelo enrolado


Todos querem imitar
Eles estão baratinado
Também querem enrolar...
Você ri da minha roupa
Você ri do meu cabelo
Você ri da minha pele
Você ri do meu sorriso...
A verdade é que você
Tem sangue crioulo
Tem cabelo duro
Sarará, sarará
Sarará, sarará
Sarará crioulo...
(Olhos Coloridos – Sandra de Sá)
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Referências:

EXUPÉRY, Antoine De Saint. O Pequeño Príncipe – Livro Virtual< Disponível em:


L P://www.portaldetonando.com.br – acesso 01/03/2013 às 15:05.

LISPECTOR, Clarice. Perto de um Coração Selvagem – Livro Virtual< Disponível em:


www.portaldetonando.com.br/forumnovo/ acesso 02/05/2013 às 15:11.

LOPES, M. L L. A Criança Descobrindo, Interpretando e Agindo sobre o Mundo. – Brasília:


UNESCO, Banco Mundial, Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, 2005. 128 – 136 p. – (Série
Fundo do Milênio para a Primeira Infância Cadernos Pedagógicos; 2).

SÁ, Sandra de. Música Olhos Coloridos<Disponível em: http://www.cifraclub.com.br/sandra-de-


sa/olhos-coloridos/ acesso 10/11/2013 às 23:40.
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2ª PARTE: TRABALHO MONOGRÁFICO


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INTRODUÇÃO

O trabalho monográfico, aqui apresentado, buscou abordar as manifestações da cultura


popular brasileira tais como: as danças, festas populares e folguedos, que ocorrem no município de
Carinhanha/BA, e suas possibilidades no contexto escolar. Acredito que as práticas pedagógicas no
Ensino Fundamental podem contribuir com a valorização e reconhecimento das manifestações da
cultura popular brasileira, em sua dimensão de memória e identidade cultural da população local e
do Brasil como um todo. As danças, as festas, os autos, os cortejos e os folguedos populares são
expressões ricas da diversidade cultural brasileira. Em Carinhanha, Estado da Bahia não é diferente.

A escola, como um espaço público pode ser um ambiente privilegiado para aprendizagens
que envolvam o reconhecimento, o respeito e a valorização pelas culturas populares de um modo
geral e, em especial, aquelas manifestações que ocorrem em nosso município. O conhecimento das
formas de expressão materiais e imateriais de nossas manifestações culturais populares, em sua
complexidade histórica, geográfica, social, artística, religiosa, poderá, quem sabe, levar nossas
crianças e jovens a reconhecer-se e orgulhar-se e redescobrir suas raízes e as belezas que estão
guardadas na memória de seus pais, avós e da comunidade onde estão inseridos.

No município de Carinhanha há uma diversidade de manifestações populares, tais como: o


Reisado, a Mulinha de Ouro, Reis de Boi, Dança dos Caboclos, Terno, Contra Dança, Dança de São
Gonçalo, Escola de Samba, Macun Le lê e Encomendação de Almas. Dentre as principais festas
podemos destacar a Festa do Divino, e a Festa de São João. Nessas manifestações participam
pessoas idosas, jovens e crianças de todo o município.

O meu interesse por essa temática surgiu a partir do momento em que presenciei um
ensaio aberto da dança dos caboclos em maio de 2013. Sempre que via as apresentações da Dança
dos Caboclos me chamava muito à atenção, mas nunca soube de onde surgiu a dança, as músicas, a
performance como um todo . Resolvi buscar e conhecer essa manifestação popular e esse estudo e
reflexões me permitiram observar outras ricas e múltiplas expressões artístico-culturais que dão
sentido e singularidade ao povo de nosso município, e que estão pouco a pouco se perdendo.
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Esta dança tem como objetivo resgatar a nossa origem indígena, a beleza, o canto, as
emoções e a importância que este grupo tem para nossa comunidade. O grupo dos Caboclos faz
apresentações ritualísticas na Festa do Divino, apresenta-se em julho, no Encontro das Águas e dos
Amigos. No grupo, uma pessoa toca a viola. O restante dos caboclos bate o arco nas flechas para
marcar a pulsação nos cantos. E trata-se de uma manifestação que há mais de 70 anos vem
passando de geração a geração.

Diante da situação-problema captada por meu olhar como futura pedagoga, percebi que
ainda são raros os estudos sistematizados em torno da temática da cultura popular brasileira e suas
possibilidades pedagógicas no contexto escolar, Embora saiba que o presente estudo é uma modesta
reflexão, espero contribuir para as discussões e as práticas pedagógicas que incluam as
manifestações de nossa cultura popular.

Nesse sentido, vale a pena salientar a importância deste estudo para mim e para a
comunidade escolar na qual estou inserida, no sentido da necessidade de reconhecer e valorizar
parte de nossa memória e identidade cultural. A escola é um dos lugares privilegiados para a
vivência, discussão e reflexão sobre essas questões fundamentais que dizem respeito à identidade e
memória cultural. Além disso, afirmar os valores éticos, estéticos e culturais dessas manifestações
populares é uma forma de resistência à hierarquização das “expressões culturais e sua articulação
em culturas subalternas e culturas dominantes” (SILVA, p. 9, 2008). É premente um novo olhar
para o processo cultural por inteiro, assim como da educação e da escola. A cultura popular
brasileira é um manancial infindável de conhecimentos, saberes e fazeres, maneiras de pensar e
vislumbrar nossas relações sociais, com propostas que possam reinventar o sentido do viver e nossa
dimensão de humanidade.

Ensinar e aprender com as manifestações da cultura ou das culturas populares,


necessariamente, não se dá apenas no espaço escolar. Na verdade, esse aprendizado é intenso e
muito significativo no convívio com nossos pais, avós, tios, tias e demais membros da comunidade
onde nos inserimos. Entretanto, se quisermos realmente um projeto mais equilibrado e humano de
desenvolvimento nacional, temos que ser capazes de reorientar a escola e a educação imprimindo-
lhe um sentido menos utilitarista e menos instrumental. Os saberes e fazeres próprios das
23

manifestações culturais populares, na figura de seus mestres e mestras, seus brincantes trazem
possibilidades reais de tornarmos a escola um espaço pluricultural, multiétnico e diverso.

São muitas as contribuições que as manifestações culturais populares trazem para a escola;
todavia, a mais importante talvez seja a possibilidade “que as manifestações culturais populares têm
de, uma vez integradas no interior do sistema e do processo de ensino formal, revolucioná-lo. A
começar por nos permitir pensar algo mais amplo: quem sabe, uma nova e mais humanizada
estratégia de educação”. (SILVA, p.15, 2008)

Com o sentido de melhor aprofundar o estudo sobre o tema de minha escolha, foi necessário
fazer um recorte, ou a delimitação do mesmo, que assim ficou definido: As manifestações da cultura
popular do município de Carinhanha – Festas, folguedos e danças no contexto do Ensino
Fundamental I, em turmas do 1º ao 4º ano, de uma escola da rede municipal de ensino. A partir
dessa delimitação, formulei a seguinte pergunta de pesquisa: Em que medida as manifestações da
cultura popular do município – festas, danças e folguedos se fazem presentes nas práticas
pedagógicas nas turmas do 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental I da escola pesquisada? A seguir,
defini o objetivo geral do presente estudo, assim delineado: Analisar como as manifestações da
cultura popular local são tratadas na prática pedagógica das professoras que atuam do 1º ao 4º ano –
uma turma de cada ano – do Ensino Fundamental da escola pesquisada. E foi necessário estabelecer
três principais objetivos específicos, que assim ficaram enunciados: a- Analisar a concepção de
cultura popular dos professores que atuam do 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental da escola
pesquisada; b- Investigar o sentido e o significado de memória e identidade cultural para os
professores que atuam nas turmas de 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental da escola pesquisada; c-
Verificar como as manifestações culturais populares locais – festas, folguedos e danças – são
contempladas na proposta e na prática pedagógica da escola.

Para realizar a investigação optei pela abordagem qualitativa da pesquisa de caráter descritivo
e utilizei como instrumento de coleta dos dados a entrevista semiestruturada. Com base nas falas
das entrevistadas, organizei as análises em três categorias, de acordo com os objetivos da pesquisa.

Finalmente, apresento a estrutura deste trabalho monográfico de conclusão do curso de


Pedagogia a Distância, que foi dividida em três partes. Na primeira parte está o memorial educativo,
com relato dos principais fatos do percurso da minha escolarização. Na segunda, a monografia
24

propriamente dita, que foi organizada em três capítulos e considerações finais. Na terceira e última
parte estão as minhas perspectivas profissionais no campo da Pedagogia, após a conclusão do curso.
25

CAPÍTULO I
REFERENCIAL TEÓRICO

1– Cultura no Brasil

A cultura é parte integrante do homem, desde os mais remotos tempos de sua existência no
planeta terra. Ela é parte essencial das relações de qualquer grupo humano, definindo social e
individualmente todos os integrantes desses grupos. Ao viver, o homem produz história construindo
e reproduzindo seus percursos e sua caminhada através da cultura. É a cultura o traço distintivo
entre os seres humanos e os outros animais.

A musica, a dança, jeitos de comer, dormir, rezar, cantar, sonhar, os costumes e os valores
expressam a identidade e a memória de um individuo ou de uma sociedade humana. A cultura,
portanto, significa o modo de vida de um povo e se traduz em seus a atos e elaborações cotidianas
materiais e imateriais. A cultura varia no tempo e no espaço, modificando-se, transformando-se
conforme as relações estabelecidas entre grupos sociais e/ou gerações, expandindo seus repertórios
e/ou alguns aspectos culturais. Dado seu caráter dinâmico e contínuo a cultura é passível de
momentos de grandes desenvolvimentos e transformações, estancamentos, ou até retrocessos.

Para (LARAIA 2009) cultura é vista como o conjunto de manifestações, sendo elas
artísticas, sociais, linguísticas e comportamentais de um povo ou de uma civilização. Portanto,
fazem parte da cultura de um povo as seguintes atividades e manifestações: formas de organizações
sociais, hábitos alimentares, pensamentos, invenções, música, dança, teatro, rituais religiosos,
arquitetura, a língua falada e escrita.

No contexto dessa discussão introdutória em torno da ideia de cultura é importante


destacar o que ensina Brandão (2007):

A cultura é e está tanto nos atos e nos fatos através dos quais nós nos apropriamos
do mundo natural e o transformamos em um mundo humano, quanto está nos
gestos e nos feitos com que nos criamos a nós próprios, ao passarmos – em cada
indivíduo, em um grupo humano ou em toda a nossa espécie – de organismos
biológicos a sujeitos sociais, ao criarmos socialmente os nossos próprios mundos e
ao dotá-los e a nós próprios de algum sentido. (p.9).
26

A discussão sobre o conceito de cultura é bastante complexa e polissêmica. É


preciso pensa-la como algo dinâmico, plural e não uniforme. Nosso país é um bom exemplo
disso, cada região tem suas peculiaridades, que podem ser considerados traços culturais únicos.
Em uma única comunidade, nos maravilhamos com a diversidade cultural ali presente. Ao
lançarmos um olhar sobre o município de Carinhanha constata-se, de imediato, essa realidade.
Há um leque múltiplo e rico de manifestações que aqui expressam em cada uma de suas
celebrações, entre elas, podemos destacar: Os cortejos de Reis e Reisados que, em seu contexto
se apresentam folguedos como a Mulinha de Ouro, o Bois de Reis, entre outros. O carnaval de
rua e de clubes, a Dança dos Caboclos. No campo da religiosidade popular, temos a festa do
Divino, a festa de São João com suas quadrilhas, muito milho, quentão, quermesses, fogueiras,
uma beleza. Merece destaque em nosso município, o ritual de Encomendação das Almas, uma
pratica do denominado catolicismo popular, que ocorre na madrugada da Semana Santa, com
um cortejo de homens e mulheres que entoam cantos lamentosos e rezas para saudar os que já se
foram e lembrar aos vivos que a morte é certa e inexorável.

Somos criadores de teias e tramas, redes e sistemas de regras, códigos de


procedimentos e de conduta e as leis. Nossas relações sociais são permeadas por uma espécie
de “gramática de relacionamentos” que, em certa medida, marca nossos gestos, ideias, visão de
mundo, linguagens, ideologias e religiões. A poesia, a musica, as rezas, as danças, os rituais de
nascimento, acasalamento, a morte, os brinquedos e as brincadeiras, são alguns dos outros fios
também engendram nossas tramas simbólicas de viver e existir, e vão definindo a dinâmica dos
processos culturais.

O Brasil com sua vastidão territorial, sua diversidade linguística, miscigenação racial,
suas cores, ritmos, gera uma dinâmica cultural pluriétnica e multifacetada. Bossi (2003, p.8) assim
se expressa quanto à heterogeneidade da cultura brasileira:

(...) não existe uma cultura brasileira homogênea, matriz de nossos


comportamentos e de nossos discursos. Ao contrário: a admissão do seu caráter
plural é o passo decisivo para compreendê-la como um “efeito de sentido”,
resultado de um processo de múltiplas interações e oposições no tempo e no
espaço.
27

Cada grupo, cada sociedade tem sua própria cultura, não havendo, portanto, a ideia de
unidade cultural, ou até da chamada “identidade nacional”. Culturalmente, nossos pais revela uma
rica heterogeneidade. Isso pode ser constatado pela peculiaridade de nossas manifestações culturais
populares. Em Pernambuco destacamos o frevo, o maracatu, o intenso carnaval de ruas com seus
bonecos gigantes subindo e descendo as ladeiras de Olinda, temos também o Cavalo Marinho, os
Caboclinhos, entre outros. Na Bahia, o carnaval de rua com seus trios elétricos, e o afoxé Filhos de
Gandhi, além é claro, dos notáveis festejos juninos celebrando São João, tornaram-se uma
referência importante de nossas manifestações culturais populares. No Maranhão o Tambor de
Crioula, o Cacuriá e Bumba-meu-Boi, marcas particulares da cultura do estado. No Pará
destacamos o Carimbó, a festa do Círio de Nazaré. No Sudeste e Centro Oeste destacamos o
Gongado ou Reis de Congo, Moçambique em homenagem a São Benedito, Nossa Senhora do
Rosário e Santa Efigênia. No Sul temos o Boi-de-Mamão, o Fandango, só para citar algumas de
nossas mais importantes manifestações populares em sua diversidade e riqueza.

O universo das manifestações culturais populares com suas festas, danças, folguedos,
cortejos, autos, são praticas culturais existentes que se fundam em tradições influenciadas por vários
povos e etnias, não homogêneas e compõem, juntamente, com outras praticas sociais a nossa cultura
brasileira como uma bela colcha – colorida, múltipla e rica.

1.2- Cultura Popular

A cultura popular é um complexo universo que abriga padrões de comportamentos e crenças


de um povo. Para Arantes (2000) os elementos culturais nada significam se olhados
individualmente, e que a cultura é constituída de sistemas simbólicos que se articulam em seus
significados e que são compreendidos de forma diversa pelos diferentes grupos sociais, ganhando
sempre novos significados. Alerta ainda o autor, que o sentido mais profundo da cultura popular, ou
outra, é a “arte de construir com cacos e fragmentos um espelho onde transpareça o mais abstrato e
geral num grupo humano” (2000, p. 78).
28

Arantes (2000), afirma que cultura popular não é um conceito bem definido pelas Ciências
humanas e pela Antropologia social. Seus significados são heterogêneos, remetendo a um amplo
aspecto de concepção. Pode-se atribuir à cultura popular o conceito de saber, como também a
função de resistência a dominação de classes.
Esse vasto, complexo e heterogêneo universo da cultura popular brasileira como campo de
conhecimento e pesquisa, de fato, ainda é pouco debatido e discutido em nosso país, de um modo
geral. No intuito de conceituar introdutoriamente e contextualizar cultura popular no presente
estudo, termo pleno ambiguidades e múltiplas definições, Gabriel (2008) assim explicita seu
entendimento do termo:

Cultura dinâmica, presente no meio rural e urbano, que junta tradição e atualidade
sempre em transformação, um encontro entre tempos e espaços, com essência de
brasilidade, juntando o local com o global, o velho e novo, completando um com o
poder do outro (p.77).

Os debates sobre cultura popular/folclore sempre estiveram e estão na atualidade,


gravitando em torno da necessidade de dois termos: folclore e cultura popular. Esses dois termos-
folclore e cultura popular abrigam uma abundante produção de atividades artísticas e muitos
processos culturais vivos e pulsantes, exigindo de nós reflexão e problematização permanente.
Freire (1993, p. 31) afirma:

Quando falamos de cultura popular estamos nos referindo não apenas às


manifestações festivas e às tradições orais e religiosas do povo brasileiro, mas ao
conjunto de suas criações, às maneiras como se organiza e se expressa, aos
significados e valores que atribui ao que faz (...).

De acordo com Burke (1989, p.25) “a Cultura Popular é definida muitas vezes como a
cultura não oficial, ou da elite, cultura de menor valor ou ainda cultura das classes subalternas”
Essas definições remontam o século XVIII, e, ainda conforme o mesmo autor (p.27) “só passou da
periferia para o centro dos interesses dos historiadores nos últimos quinze anos”. O interesse pelo
assunto na verdade, de acordo com o autor, apareceu entre 1.500 a 1800, por um pequeno grupo de
intelectuais alemães, posteriormente, espalhando-se por outros países da Europa.
29

Ainda conforme Burke (1989, a cultura popular foi bombardeada pelo crescimento, antes
ainda de revolução industrial, e o processo de erradicação do analfabetismo se acelerava e as
condições das estradas da Europa melhoraram em toda Europa).

A exemplo da Europa, no Brasil os estudos sobre folclore e cultura popular se iniciam por
volta da metade do século XIX, com Silvio Romero, Mário de Andrade, Amadeu Amaral, Câmara
Cascudo, Cecilia Meireles, Edison Carneiro, para mencionar apenas alguns estudiosos. Nesse
momento histórico e social do país, se buscava a construção de uma identidade nacional. No
entanto, a cultura popular, conhecida como a cultura que é criada pelo povo e que se articula com
uma concepção de vida e uma visão de mundo, sempre se fez presente na história de nossa
sociedade e na história da humanidade em geral. E destacamos nessa reflexão, o conceito de Rocha
(1996, p.26) sobre cultura popular:

A cultura popular é a forma de viver de um individuo ou grupo social não


direcionada por instituições. Não é de caráter temporário ou modismo, mas
aprendida pela tradição, resultando do cotidiano familiar e comunitário, temporal e
espacialmente.

A transmissão dos saberes e fazeres próprios do sistema de conhecimento das manifestações


da cultura popular está baseado na oralidade. A aprendizagem desses saberes e fazeres é transmitida
de geração a geração inserida na dinamicidade dos processos culturais, daí a imensa capacidade
que tem as expressões culturais populares em resistir e se transformar mantendo sua essência de
memória e identidade.

A construção de identidades, evidentemente, é parte da polifonia de gestos, ações,


expressões, modo de ser de indivíduos e grupos sociais. No entanto, as manifestações artístico
culturais tais como as danças, os cortejos, as festas populares, os autos e os folguedos, trazem em
si, um manancial rico de identidade e memória, revelando a dimensão simbólica, material e
imaterial dos grupos que as praticam.
30

1.3- Cultura Material e Imaterial

Com base no texto de Brandão (2009) a cultura material se realiza e representa o processo e
os produtos do trabalho dos seres humanos, nos atos de transformação da em um mundo
intencionalmente criado, pois uma casa construída, por exemplo, em qualquer lugar é um produto
do fazer humano na criação da cultura através de ações que envolvem práticas fundadas em diversos
saberes.

Já a cultura imaterial não está centrada em seus produtos materializados, como nas
ferramentas usadas pelo homem para a construção de uma casa em uma metrópole ou uma
choupana do interior, mas está na forma como pessoas e grupos sociais organizam conhecimentos,
significados, sociabilidades e outros, que e como atribuem e compartilham socialmente seu
simbolismo, com as palavras e ideias. Dessa forma, fazem parte da cultura imaterial, entre outros,
todo tipo de expressão oral, artes interpretativas, interações sociais, rituais e eventos festivos.

Nesse sentido, Vianna (2008), ressalta que a atual legislação que trata da proteção do
patrimônio cultural brasileiro, tem como referência as recomendações da UNESCO, observadas nas
mudanças que ocorrem na sociedade e no individuo, ao longo da história. E afirma:

Nos artigos 215 e 216 da Constituição promulgada em 1988,o conceito de


Patrimônio Cultural abarca tanto obras arquitetônicas,urbanísticas e artísticas de
grande valor o patrimônio material quanto manifestações de natureza “imaterial”,
relacionadas à cultura no sentido antropológico:visões de mundo, memórias,
relações sociais e simbólicas, saberes e práticas; experiências diferenciadas nos
grupos humanos, chaves das identidades sociais. Incluem-se aí as celebrações e
saberes da cultura popular as festas, a religiosidade, a musicalidade e as danças, as
comidas e bebidas, as artes e artesanatos, os mistérios e mitos, a literatura oral e
tantas, tantas expressões diferentes que fazem nosso país culturalmente tão diverso
e rico. (VIANNA, 2008, p. 121).

Observar a questão da cultura material e imaterial se faz necessária, na medida em que se busca
preservar o patrimônio de nossa cultura, as manifestações culturais espalhadas pelo imenso
território brasileiro e reafirmar a importância de valorizar as manifestações culturais locais.]
31

1.4 – Memória e Identidade cultural

A definição de memória segundo SILVA (2008) refere-se a uma faculdade humana. Para ele:

A faculdade de conservar estados de consciência pretéritos e tudo o que está


relacionado a eles. Bem, a faculdade da memória é responsável por nossas
lembranças. Certo, mas falar de lembranças é falar necessariamente de quem
lembra. Ora, quem efetivamente recorda são os indivíduos. Portanto, toda memória
humana é memória de alguém, de um indivíduo. (p.85)
.

Trata-se de um ato individual, mas como o homem vive e interage com seus pares na
sociedade, é também um ato social. Trocamos e construímos saberes, experiências, tradições,
costumes e crenças nos grupos sociais, que acabam se constituindo em características que são
identificadas em determinado grupo, formando a memória coletiva. E esta representa a cultura de
determinado país, região, cidade, comunidade.

A memória de um povo se constrói por meio de fontes diversas que inclui relatos de histórias
pessoais, familiares e coletivas, que se integram e são reconhecidas nos “lugares de memória”, nos
quais se reconhece a identidade cultural desse povo, como explica Horta (2005, p. 37):

O historiador Pierre Nora definiu como “lugares de memória” 2 locais materiais ou


imateriais nos quais se encarnam ou cristalizam as memórias de uma nação, e onde
se cruzam memórias pessoais, familiares e de grupo: monumentos, uma igreja, um
sabor, uma bandeira, uma árvore centenária podem constituir-se em “lugares de
memória”, como espelhos nos quais, simbolicamente, um grupo social ou um povo
se “reconhece” e se “identifica”, mesmo que de maneira fragmentada. Estes
“lugares”, ou “suportes” da memória coletiva funcionam como “detonadores” de
uma sequência de imagens, ideias, sensações, sentimentos e vivências individuais e
de grupo, num processo de “revivenciamento”, ou de “reconhecimento”, das
experiências coletivas, que têm o poder de servir como substância aglutinante entre
os membros do grupo, garantindo-lhes o sentimento de “pertença” e de
“identidade”, a consciência de si mesmos e dos outros que compartilham essas
Vivências (...)

Nesse contexto, a escola tem papel fundamental, uma vez que por meio da educação é
possível resgatar e significar esses lugares de memória, na realidade histórica, social e cultural de
32

seus alunos, favorecendo o despertar do sentimento de pertencimento e identidade com a cultura


popular local, regional e brasileira.
A comunidade vivencia sua cultura em suas diversas formas de manifestações populares, nas
festas, folguedos, danças e outras, organizadas e apresentadas por grupos formados pelas próprias
famílias, que preservam as tradições de geração a geração. Dessa forma, é essencial que a escola se
reconheça como instituição pertencente a esta comunidade e trabalhe de forma integrada com seus
membros, procurando valorizar e preservar sua memória e identidade cultural.

2. A cultura popular no Município de Carinhanha

O sertão brasileiro é fortemente marcado pela influência da cultura indígena e


africana, principalmente na Bahia. Esta influência aparece nos traços da população, como: a cor da
pele, os costumes, as lendas locais, a alimentação, as canções. E no município de Carinhanha os
caminhos não foram diferentes, em sua cultura popular estão enraizados os traços dos sertões
baianos e podemos observar que suas manifestações culturais são variadas. Temos festas, folguedos
e danças, como: as festas juninas, a festa do divino, reis de caixa, reis de boi, mulinha de ouro, a
dança dos caboclos, a capoeira (macun lê lê), ternos, o carnaval de rua, os contadores de história e
anedotas, cordéis, repentistas, encomendação de almas e outras. As principais, são caracterizadas, a
seguir:

-Terno de Reis

Em Carinhanha, a cultura rica e diversificada se manifesta nos ternos. Uma folia que começa
no dia 25, dia de natal e continua durante o mês de janeiro. A cidade adormece e desperta ouvindo o
batuque dos tambores, no período de 1 a 5 de janeiro, na simplicidade das suas cantorias,
acompanhadas por tocadores de viola, caixa, reco-reco, dois pandeiros e caracaxá, um grupo de
homens sai de casa em casa cantando em homenagem aos Santos Reis, nas quais as ofertas fazem a
alegria dos que religiosamente cumprem a sua missão. No dia 6 de janeiro, tem a reza em
comemoração a Santos Reis que se realiza na residência do chefe (mestre).
33

Segundo contam os moradores de Carinhanha, o clima de festa envolve, durante o período


de janeiro, as comunidades, muito particularmente as que estão na sede do município. Ano após
ano, vivem os carinhanhenses a emoção de acompanhar as apresentações dos Ternos de Reis que
dançam nas casas em troca das ofertas de comida, bebida e algum dinheiro, isso por que neste
período é tempo de festejar os santos reis, ou seja, é uma homenagem aos três reis magos que foram
visitar Jesus em seu nascimento, então os reiseros daqui sai de casa em casa visitando as casas que
conservam a cultura da lapinha e as que também não conservam para visitar e ali fazer as cantorias.

- Festa Junina

A festa junina acontece em todo mês de Junho, a festa está ligada a igreja católica, ou
melhor, ela é uma homenagem ao Santo João Batista, por isso é chamada de São João. Ela acontece
em toda região, desde a sede a zona rural, começa com o acendimento da fogueira, tem casas aqui
que ainda conservam este costume, já outras não. Neste período, toda casa que você for lá irá
oferecer alguma comida típica: canjica, cural conhecido como mingau de milho, animais assados.
As quadrilhas que se apresentam nem sempre é dos componentes da paróquia, a maioria são
de escolas. Quando elas se apresentam, barracas são montadas e as comidas e bebidas típicas são
vendidas, essas comidas e bebidas são: arroz de leite, canjica, amendoim assado, cozido e cru,
quentão, licô de jenipapo, pinga caseira etc.
Há uns oito anos fundaram em Carinhanha uma quadrilha diferente, ela é chamada de
Quadrilha dos Quadrados, composta só por homens, rapazes vestidos de mulheres e rapazes de
homens mesmo.
Ela virou tradição na cidade, agora até banda se apresenta nesta festa, a proporção desta
quadrilha a cada ano aumenta, pois ela é cheia de graça ousada e divertida.

-Terno Reis de Caixa


34

O Rei de Caixa é também conhecido por samba de caixa ou samba no pé. Há quem pense
que são manifestações diferentes, mas os nomes representam na verdade um único Rei. No ritmo da
caixa e no sabor da jurubeba, bebida muito apreciada pelas reiseras no momento do Reis, um grupo
de senhoras que dançam e cantam o samba do Reis de caixa. O som é marcado pela caixa, um
pequeno tambor feito de madeira, corda e couro de animal. Duas baquetas de madeira somadas a
um bom batedor de caixa fazem o som que marca os passos das mulheres que fazem o Reis de
Caixa. O grupo é formado por mulheres de origem humilde e simples. São donas de casa,
lavradouras e pescadoras. Os homens quando presentes são responsáveis pela música, tocando
instrumentos: caixa, pandeiro, flauta, e, às vezes um prato, em que se utiliza uma colher ou faca
para tirar-lhe algum som. (MACKELLENE, et al, 2012, p. 255 – 256).

Ouri, viva, ouri, viva,


Viva os três Reis meu (bis)
Vivo José e Maria, Jesus Cristo verdadeiro.
Ouri, viva, ouri, viva.
Viva nossos Santos Reis
Viva no viva nosso Santos Rei
„Qui de fora nós
Dentro viva você
(canto de pedido para abrir a porta da casa)

-Terno das Ciganas

Segundo Mackellene (2012) em meados de 1996 um grupo de professoras preocupadas com


o resgate cultural e preservação da história local, buscaram através de suas lembranças reavivarem o
terno das ciganas, que antigamente era feito por Dona Maria do bate-papo. Começaram a organizar
as moças e moços com toda pompa e requinte. Levavam dois meses de ensaio, as apresentações
começavam no dia 1º de janeiro e até o último dia deste mesmo mês, as apresentações eram feitas
nas casas que solicitavam a presença desse terno e apresentavam sua famosa dança: a Zíngara.
O grupo era acompanhado pela Filarmônicada Pedro Leite do município de Carinhanha/BA,
com instrumentos de sopro: saxofone, clarineta, pandeiro e surdo. As moças vestiam saias rodadas
longas, de cor vermelha com enfeites dourados e blusas também com detalhes dourados, os
35

acessórios para completar o visual eram colares, pulseiras, bandana vermelha ornamentada com
moedas douradas e chinelos nos pés. Os meninos vestiam calça preta, com uma faixa vermelha na
cintura, camisa branca de manga longa, com um colete preto, um lenço vermelho no pescoço e nos
pés sapato preto. Faziam duas filas indianas: uma com as moças com seus pandeiros batendo ao
ritmo das marchas, e a outra com os meninos. No centro, uma moça levava o estandarte com o
nome do grupo e uma cigana desenhada. O costume era seguir até a porta da igreja para pedir a
bênção, em seguida, percorriam ruas até a casa aonde iam se apresentar.
Mas nunca digas, ó Zíngara,
Que ilusão me espera,
Qual o meu futuro,
Qual aquela por quem vou vivendo assim à toa,
Tu dirás se a sorte será má ou boa,
Para que ela venha consolar-me um dia,
A dor cigana do meu amor.
(parte da música de apresentação da cigana dentro da casa)

-Reis de Boi

Os reis de boi é a manifestação cultural que tenho mais afinidade aqui de Carinhanha, ela é
considerada como uma brincadeira que compreende duas raízes da mesma tradição: “o boi de
Homero e o boi de Oliva”. É um movimento popular que agita e arrasta multidões e atrai atenção
dos turistas e curiosos por conta da sua música com batidas marcantes. A dança é representada
numa doma do próprio boi pelo seu vaqueiro e a beleza dos detalhes do boi, a armação do corpo do
boi, a cara do boi e os chifres, que são de verdade, por isso na hora que ele corre atrás é perigoso, a
pessoa pode ser furada. O boi de oliva é o famoso boi bravo, e tem poder de arrebanhar multidões
pelas ruas da cidade, principalmente os jovens que gostam de provocar o boi, que por sua vez
persegue seus desafiadores. Não há meio termo, quem não sai da frente é atropelado. O boi de
Homero é manso, sua característica é de boi dançante, as crianças menores amam seguir por conta
da sua mansidão, assim como o boi de Oliva tem sua beleza e sua estrutura é similar. Essa distinção
sugere a possibilidade de entretenimento com as pessoas e os grupos sociais, envolvendo-os no seu
ritual, principalmente os jovens que estão sempre dispostos a esbanjar as energias.
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-Mulinha de Ouro

A Mulinha de Ouro em Carinhanha está relacionada a motivações diversas, principalmente


religiosas. Esta dança surgiu principalmente como forma de agradecimento no pagamento de
promessas alcançadas com os Santos Reis. Do mesmo modo, vai à casa de quem quer o folguedo
somente pelo prazer da dança. Sua dona diz que gosta mesmo é da diversão, de ver as pessoas
felizes cantando a música da mulinha; embora em sua residência ela reze a ladainha para Santos
Reis antes de começar a brincadeira. De acordo com Almeida Mackellene L L ( 2012, p. 287).

Na zona do São Francisco, faz-se, durante as festas de Reis, o rancho da mulinha,


sendo animal conduzido por um vaqueiro. O rancho sai para tirar Reis nas casas, a
cujas portas cantam, dançando uma chula, variante da tradicional. Depois de
entrarem, os do rancho abrem roda, para que ao centro dancem animada, em que o
bicho deve revelar grandes qualidades, sempre acompanhados pelo canto tirado por
um dos presentes, repetindo o coro o refrão de um só verso, ao fim de cada verso,
com metro variado.

-Festa do Divino Espírito Santo

A Festa do Divino em Carinhanha é um espaço de manifestação da diversidade das culturas


presentes no município. Nas atividades de caráter religioso, o tríduo, as missas, os batizados e as
procissões mesclam ritos do catolicismo romanizado e práticas do catolicismo popular. Outras
expressões ocupam espaço: o asteamento da bandeira é feito por conta da saudação à Pátria, a
entronização é reflexo da colonização portuguesa, os rituais de coroamento de reis e rainhas foram
empregados na nossa cultura, segundo conta-se, imitando uma dessas entronizações em que um
imperador ia ser coroado, e como tinha pobres ao redor à rainha pediu para um dos pobres sentar-
se na cadeira e receber a coroa. E assim foi percorrendo esse costume que aqui em nosso
município é feito no dia da Festa do Divino. A presença dos caboclos foi inserida a partir do
pedido do Mestre Vital Rodrigues, o fundador deste grupo, ele pensou que seria muito importante
e significante a participação do grupo nessa festa tão marcante da comunidade, já que os índios
fazem parte da nossa formação na identidade cultural.
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-Dança dos Caboclos

Segundo Mackellene et al (2012), Vital Ferreira de Araújo Neto, o Netinho, coordenador


do grupo dos caboclos em Carinhanha/BA conta como se iniciou a dança. Seu avô, Vital Rodrigues
Cerqueira, foi um dia a uma pescaria no Rio Carinhanha, acompanhado de amigos e ao passarem na
região do pontal, antigamente umas matas fechadas, ouviram um canto e ficaram cheios de
curiosidade. Saíram procurando de onde vinha à música e o rumor de dança. Era um grupo de
índios. E narrou:

Quando eles estavam olhando os índios dançando aquelas dança lá, com pena,
capacetezinho assim na cabeça de pena, aqui na cintura umas penas amarradas e
com a cabacinha fazendo aquele barulhozinho e roda em círculo, L? Os índios
usavam a cabacinha, com aquela coisinha lá, parecendo uma semente dentro assim.
Aí eles de longe! Eles tinham medo de estar perto e algum deles ver e pegar eles lá.
Naquela época era perigoso. Então ele achou assim: já que existia o Festejo do
Divino em Carinhanha, ele falou assim: “vou formar um grupo de índios”. (p. 375).

O singelo relato, que pode parecer fantasioso, reúne elementos reais da história social de
Carinhanha; a mais antiga referência aos grupos humanos que habitavam a região e que foram
exterminados física e culturalmente pelos conquistadores brancos, tendo, a partir de então, de
sobreviver no refúgio da mata; e havia aquela que durante muito tempo foi a mais esplendorosa
festa religiosa, a Festa do Divino, espaço que abrigava os mais diferentes significados sob o signo
da ideologia dos colonizadores e o controle social das famílias importantes. E foi recolocado, os
que estavam ocultos, no centro da cidade, à frente da Matriz, no meio da Festa organizada pelos
detentores de poder econômico, político e cultural.

O grupo dos Caboclos faz apresentações ritualísticas na Festa do Divino, apresenta-se em


julho, no Encontro das Águas e dos Amigos. A viola foi introduzida para facilitar um eco certo
com a batida da flecha. No grupo, uma pessoa toca a viola. O restante dos caboclos bate o arco nas
flechas para marcar a pulsação nos cantos.

A manifestação, ainda de acordo com Mackellene et al (2012), procura manter a tradição


que, há mais de 70 anos vem passando de geração a geração. Depois que o Senhor Vital Cerqueira,
coordenador do grupo, faleceu, há 38 anos, quem ficou responsável foi seu filho Antônio Vital.
Falecendo este, seu irmão André de Vital ficou sendo o chefe. Hoje, o chefe é o Senhor Vital
38

Ferreira de Araújo Neto. De olho no futuro, ele se esforça para que os mais novos da família, seus
sobrinhos, assumam essa tradição, para garantir levá-la à frente, mesmo que vá ficando diferente
do que era ou do que é.

Nas roupas usadas pelos caboclos, por eles chamadas de fradas, predominam as cores
vermelha e branca, cores do Império do Divino. O branco significa a Paz e o vermelho o Sangue de
Jesus. A pomba representa o Altíssimo, que pousou sobre Jesus, o Espírito Santo com as labaredas
de fogo. O coro de Curuquinho usa uma saia vermelhas enfeitada com bicos de renda branca.
Trazem no centro do peito nu um adorno formado por um coração vermelho e branco. Na cabeça
um capacete de penas com enfeites em branco e vermelho. Nas mãos, o arco e a flecha. O
caciquinho e o anãozinho, chamados Irmãos mambaços, usam os mesmos adereços. A diferença é
que a saia deles é de pena de ema. O Demeregé, é líder do grupo, usa calça e camisa de manga
comprida. A parte final das roupas, junto dos pulsos e dos pés, é enfeitada com penas miúdas. O
vovô usa cala e camisa vermelha de manga comprida, capacete de penas e a flecha. A vovó,
representada por um homem, usa saia comprida rodada, camisa de manga longa vermelha, o
capacete de penas e uma peruca branca deita de saco de náilon desfiado.

O capitão Pó traja uma roupa estilo policial, calça branca, um camisão de manga comprida
de cor caqui com um cinto preto na cintura, quepe e uma espada. E a cabocla é peça chave dos
caboclos. Ela leva os curuquinhos a fazer o zigue – zague. Traja uma saia rodada vermelha, uma
peruca preta, capacete de penas, camisa de manga longa vermelha, o adorno de coração e uma luva
branca.

-Rituais dos Caboclos na Festa do Divino

Segundo Mackellene et al (2012, p. 383), a participação dos caboclos na festa do Divino


começa no sábado. Neste dia, o grupo se dirige à delegacia de polícia e faz o ritual do pedido de
licença para brincar durante os festejos. Nos dias seguintes, domingo, segunda e terça, às 5 da
manhã, tomam café na casa da mãe de Netinho, uma das maiores incentivadoras dos caboclos.
Segue para a cidade e, juntamente com a Filarmônica, acompanham o cortejo do Imperador, do Rei
e Rainha do dia até a Matriz.
39

Enquanto acontece a celebração da Missa, os caboclos vão ao rio, tomam banho e voltam à
praça. Terminada a Missa, os caboclos se apresentam, e participam do cortejo que leva o imperador
ou rei e a rainha do dia para sua residência. E Netinho considera que uma das melhores partes é o
“choro da cabocla” e quem sabe é seu irmão Zé. Ele próprio é muito tímido e não faz. Antes de
recitar alguns cantos dos caboclos, ele adverte que foi uma invenção do Senhor Vital Rodrigues,
pois ele teve que diferenciar dos cantos dos índios, cantados na linguagem deles: Nega mina
quando morre
Vai na tumba de banguê
Curuquinho ê vai dizendo
Que urubu tem que comê!
Bruuuuuu!
(parte de um dos cantos dos caboclos)
(Mackellene (2012, p. 384).

Esta música é a mais conhecida, na ultima estrofe dão uma forte puxada nos cipós do balaio
e o caciquinho sobe no ar. A vovó que está segurando a mão do índio não deixa que caia e coloca
com graça novamente no balaio sob os aplausos da assistência. O grupo canta:

Quando eu vim da minha terra minha


Quando eu vim da minha terra minha
Minha mão ficou chorano
Eu também chorei com ela
Eu também chorei com ela
E sem remédio eu vim andano
E sem remédio eu vim andano
Quando eu vim da minha terra
Todo mundo rogou
Etindererin, etindererin, etindererim, era,
Etindererin, etindererin, etindererim, era.
( Mackellene, 2012, p. 385)
40

Para a preparação do balaio um dos integrantes tem a responsabilidade de ir ao mato colher


cipó um dia antes da primeira apresentação. No tempo em que Antônio de Vital, pai de Netinho era
líder, os cipós eram colhidos após as 16 horas e levados para a casa dele. Ali, eram cuidadosamente
guardados na sombra de uma mangueira para não secarem.

3– Cultura popular brasileira e perspectivas educacionais:

A pluralidade cultural que existe no Brasil é fruto de um longo processo histórico de


interação entre aspectos étnicos e culturais de diferentes grupos sociais. Nesse sentido, os
Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) propõem discutir essa questão na perspectiva do
conhecimento, respeito e valorização às características e diferenças existentes nesses grupos, que
sofrem influências recíprocas num processo frequente de redefinição da identidade nacional, o que
oferece ao aluno inúmeras possibilidades de conhecer o Brasil em sua complexidade cultural, numa
perspectiva interdisciplinar de tratar os diversos conteúdos curriculares.

Ao valorizar a diversidade cultural brasileira no processo pedagógico, o professor estará


dando oportunidade ao aluno de refletir sobre seus próprios valores, o senso de cooperação e justiça,
as situações de preconceito e discriminação, que interferem nas interações sociais. Nesse sentido, é
fundamental pensar nos alunos como sujeitos históricos, portanto, produtores e consumidores de
culturas, que se manifestam em vários espaços públicos e que nem sempre são visíveis e aceitos
pela escola. Segundo Martins (2008), muitas vezes, parece que o aluno, ao entrar na escola, precisa
deixar seus conhecimentos na porta, para receber outros, que estão geralmente fora de seu contexto
e interesse. Assim, a cultura urbana dos grupos juvenis (roqueiros, góticos, funkeiros e outros)
acaba passando despercebida pelo professor. E quando esses grupos são percebidos, quase sempre
passam pelo controle disciplinar por não corresponderem ao padrão ideal estabelecido pela escola.
Não podemos deixar que o potencial cultural trazido pelos alunos sejam silenciado, mas integra-lo
aos conteúdos cotidianos, dentro de um processo dinâmico de trocas e construções de saberes.

Algumas escolas, seja através de projetos pedagógicos mais progressistas, por meio de ações
isoladas de alguns educadores, que procuram romper com o senso comum, acabam travando
verdadeiras batalhas no sentido de utilizar elementos da cultura urbana no processo de ensino e
aprendizagem. Dessa forma, é preciso observar que o que é moderno e urbano pode ser integrado ao
41

tradicional e rural, e vice-versa, na dinâmica relação que ocorre entre as culturas, especialmente
diante dos avanços tecnológicos atuais.

E voltando aos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p.27), observa-se que, ao tratar de
aspectos relativos à pluralidade cultural na escola, em especial no Ensino Fundamental, eles
apresentam entre seus objetivos pedagógicos:

(...) conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais,


materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de
identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao país; conhecer e
valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos
socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer
discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de
sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais (...).

Nesse sentido, a construção da identidade nacional pode ocorrer em conjunto com a


construção da identidade local. À medida que se conhece e valoriza a memória cultural brasileira,
respeitando as diferenças socioculturais de outras nações, há também o reconhecimento das
manifestações da cultura popular local e, por consequência, o sentimento de pertencimento pessoal e
comunitário e o posicionamento contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de
classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais.

Diante do exposto, é interessante analisar o que diz Silva (2008, p. 17):

A importância da cultura popular para Brandão advém, principalmente, da


descoberta de que ela nos oferece formas de aprendizagem e ensinamentos menos
utilitários e instrumentais do que os disponibilizados em geral por nossas escolas.
A cultura popular, portanto, concebida como um sistema outro de conhecimentos,
sentidos e significados, seria capaz de resgatar para a escola no processo
educacional, toda a riqueza da experiência de diferentes formas de compreender e
interpretar o real, a vida e a condição humana.

Integrar a cultura popular ao sistema educacional ou processo do ensino formal, é mais uma
estratégia pedagógica que traz a possibilidade de rever valores, tais como: respeito, solidariedade,
liberdade, igualdade, pluralidade e identidade. É na escola que os conhecimentos sistematizados,
tendo sua própria forma de trabalho, seus hábitos e valores, integrados à comunidade, que se vai
42

desmarginalizando e incluindo as expressões artísticas e culturais numa troca permanente de saberes


e questionamentos.

A cultura popular, com suas manifestações culturais, como festas, danças, folguedos, danças,
contribui muito na formação das crianças, pois envolve a relação família e comunidade local, que
cultiva as tradições trazidas pelas culturas que se misturaram através dos tempos. No Brasil, essa
mistura se deu desde a invasão dos portugueses a nossas terras, que eram habitadas por índios
nativos e, mais tarde, com a vinda dos negros africanos. Nessas fusões e choques culturais a nossa
identidade foi sendo construída e nos identificando como nação. Dessa forma, mais uma vez, a
reflexão de Silva (2008, p.193) se mostra apropriada:

Não existe motivo pelo qual nossas escolas não possam ser ou se constituir –
através da integração das múltiplas formas de expressão das culturas populares
vivas na sociedade brasileira às formais que costumam povoar nossos currículos –
em um espaço de expressão do corpo que fala, propondo dramatizações, dando
espaço para jogos e brincadeiras, festas e comemorações oriundas do nosso
folclore, do manancial inesgotável de nossos mitos, lendas e contos populares. Dar
espaço na escola para o corpo que fala é, inevitavelmente, dar lugar para a fala do
corpo na escola. No brasileiro é fala miscigenada pelos muitos jeitos e trejeitos
característicos da terra, atravessada de muitas histórias, mistura de tantas tradições,
maneiras se ser, ver e viver, de lugares tão distantes do país onde se encontram
diferentes códigos e valores, L P do encontro de diversidades étnicas, raciais e
sociais que, se puderem afirmar suas diferenças num contexto outro de liberdade e
igualdade, poderão construir, sem dúvida, uma identidade menos excludente, um
sentimento de pertencimento mais representativo dos muitos que somos, um
sentido de nação mais alegre e compartilhada.

É preciso, portanto, um novo olhar da escola para as inúmeras manifestações das


culturas populares que estão vivas nas comunidades, para que possa se transformar em um espaço
dinâmico, plural e alegre que permita o movimento das expressões artísticas, corporais e literárias,
transitando pela riqueza de nossa cultura popular, ampliando possibilidades de interações mais
iguais, solidárias, éticas e democráticas.
43

CAPÍTULO II
METODOLOGIA

É fundamental especificar a metodologia da pesquisa para a identificação da trajetória do


pesquisador ao longo de sua investigação, conforme apontam Ludke e André (1986), ao
explicitarem que em toda e qualquer pesquisa é necessário, por parte do pesquisador, promover um
confronto entre os dados, as evidências, as informações coletadas em campo e o conhecimento
teórico acumulado. Isto tudo, deve estar relacionado ao tema, aos objetivos geral e específico,
integrando todo o processo investigativo, numa relação indissociável entre a teoria estudada e a
prática vivenciada em todo o percurso que envolve a pesquisa. O tema a ser estudado durante este
percurso carece de uma delimitação e especificidade para maior clareza e aprofundamento da
pesquisa como um todo.

Nessa perspectiva, delimitei para o presente estudo as manifestações da cultura popular no


município de Carinhanha/BA – festas, folguedos e danças no contexto do ensino fundamental.
Ainda na esteira de Ludke e André (1986, p.27), “a pesquisa não se realiza numa dimensão
ampliada, acima do ambiente pesquisado, mas sim dentro do próprio universo pesquisado”. Assim,
optei pela análise das possibilidades pedagógicas de algumas das manifestações culturais populares
do Município de Carinhanha-Ba, no contexto do ensino fundamental de uma escola da rede publica
municipal.

2. 1 A pesquisa

Gil (1991) ensina que a pesquisa é um procedimento racional e científico, que deve ser
sistemático e com o objetivo de proporcionar respostas ao problema proposto em torno da temática,
considerando o nível de conhecimento, a utilização cuidadosa dos métodos e técnicas, a experiência
e criatividade do pesquisador.

É necessário, de acordo com Gonsalves (2001), classificar a pesquisa conforme os


objetivos, os procedimentos de coleta de dados, fontes de informação e natureza dos dados. Dessa
forma, considerando os propósitos do presente estudo, fiz opção pela abordagem qualitativa da
44

pesquisa, de caráter exploratório descritivo. E esta se desenvolveu direcionada pelo objetivo geral,
que ficou assim delineado: analisar como as manifestações da cultura popular local são tratadas na
prática pedagógica das professoras que atuam do 1º ao 4º - uma turma de cada ano – do Ensino
Fundamental de uma escola da rede pública de ensino. E buscando maior especificidade, pelos
seguintes objetivos específicos: a) analisar a concepção de cultura popular dos professores que
atuam do 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental da escola pesquisada; b) investigar o sentido e o
significado de memória e identidade cultural para os professores que atuam nas turmas de 1º ao
4º ano do Ensino Fundamental da escola pesquisada; c) verificar como as manifestações culturais
populares locais – festas, folguedos e danças- são contempladas na proposta e na prática
pedagógica da escola.

Quanto à pesquisa exploratória, a autora já citada, acima, afirma:

A pesquisa exploratória é aquela que se caracteriza pelo desenvolvimento e


esclarecimento de ideias, com o objetivo de oferecer uma visão panorâmica, uma
primeira aproximação a um determinado fenômeno que é pouco explorado. Este
tipo de pesquisa também é denominado “pesquisa de base”, pois oferece dados
elementares que dão suporte para a realização de estudos mais aprofundados sobre
o tema. (GONSALVES, 2001, p.65).

No presente estudo recorri, fundamentalmente, à descrição do fenômeno observado, para


melhor conhecer a natureza do mesmo e os processos que o constituem ou nele se realizam, no
contexto da temática da cultura popular brasileira e algumas de suas manifestações que ocorrem no
município de Carinhanha, no âmbito do Ensino Fundamental I. Nesse sentido, ainda segundo
Gonsalves (2001, p.65), “a pesquisa descritiva objetiva escrever as características de um objeto de
estudo”. O que Severino (2001, p.45), complementa ao ressaltar que:

A pesquisa descritiva pode assumir diversos estudos exploratórios onde não se


elaboram hipóteses a serem testadas no trabalho, este tipo de investigação
restringe-se a buscar maiores informações sobre o assunto delimitado no processo
investigativo buscando a familiarização com o fenômeno, ou obter uma percepção
do mesmo e descobrir novas ideias, realizando descrições precisas da situação e
descobrindo relações existentes entre os elementos componentes das mesmas.

Quanto à natureza dos dados, na abordagem qualitativa da pesquisa a discussão, análise e


interpretação do fenômeno e a atribuição de significados são a base do processo investigativo no
45

contexto do tema delimitado, pois a pesquisa qualitativa “preocupa-se com a compreensão, com a
interpretação do fenômeno, considerando o significado que os outros dão às suas práticas”
(GONSALVES, 2001, p. 69).

E Ludke e André (1986 p. 11), assim referem-se à abordagem qualitativa da pesquisa:

A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o
pesquisador como seu principal instrumento. A) Os dados coletados são
predominantemente descritivos. B) a preocupação com o processo é muito maior
do que com o produto. C) O significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida
são focos de atenção especial pelo pesquisador. D) A análise dos dados tende a
seguir um processo indutivo.

Assim, reafirmo que, diante do objeto de estudo da presente investigação no contexto do tema
delimitado, que trata da cultura popular brasileira, analisando algumas das manifestações que
ocorrem no município de Carinhanha, com enfoque para festas populares, danças, folguedos,
cortejos e autos no contexto do Ensino Fundamental I, a abordagem qualitativa foi a mais adequada,
uma vez que o processo de ensino e aprendizagem relacionado à temática foi o foco do trabalho de
investigação.

2.2- O local da pesquisa

O espaço utilizado para realização da pesquisa foi uma escola Municipal com Ensino
Fundamental I, do município de Carinhanha/BA, localizada no bairro São Francisco, Travessa Porto
Alegre s/n. A Escola foi inaugurada em dezembro de 2004, pelo ex-prefeito Geraldo Pereira Costa
(Piau), que em primeira instância tinha nomeado a mesma com o nome de sua irmã, mas a proposta,
entretanto, foi recusada, e outro nome foi sugerido e levado em forma de projeto para a Câmara de
Vereadores. E foi dado à escola o nome de outra pessoa, como uma forma de homenagem por ter
contribuído para a melhoria na educação de Carinhanha. As salas de aula são boas, tanto na
estrutura quanto na promoção do saber, pois tem o cantinho da leitura, tem o alfabeto e várias outras
coisas que ajudam na educação do aluno. A escola é de médio porte, contendo 6047 alunos
matriculados entre o ensino de 1º ao 9º ano e o ensino da EJA – Educação de Jovens e Adultos.
Tem 24 professores e 2 coordenadoras pedagógicas, sendo uma do Ensino Fundamental I e a outra
do Ensino Fundamental II. Possui uma área de 3.240m2, e de área construída 1.764m2. As
46

dependências da escola são: 10 salas de aula , 01 auditório, 01 laboratório de informática, 01


cozinha, 01 almoxarifado, 01 sala de professores, 02 banheiros para professores e funcionários,
feminino e masculino, 01 diretoria, 01 secretaria, 01 pátio e 01 espaço para horta escolar.

É uma escola que recebe em seu espaço um maior percentual de alunos que pertence a
famílias com diversas formações: filhos de pais separados, muitos criados somente pela mãe, outras
por pai e, na grande maioria, por avós e tios, muita das vezes tem o contato com drogas ou com os
usuários. A maioria das famílias não tem trabalho fixo e o único meio de renda são os chamados
(bicos), o que aparece fazem. Alguns alunos junto com suas famílias são contemplados com os
programas “Bolsa Família” e o “PETI” (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil). Há também
no bairro o CRAS (Centro de Referência da Assistência Social), onde se desenvolve um trabalho
bastante direcionado às famílias em situação de risco, promovendo: palestras temáticas, cursos de
artesanato, orientação, atendimento profissional com psicólogos.

2.3- A coleta de dados

Para a coleta de dados a técnica utilizada foi a Entrevista Semiestruturada, com as


professoras das turmas e a coordenadora pedagógica da escola, para conhecer, identificar e analisar
os caminhos pedagógicos utilizados para trabalhar as manifestações populares local, na perspectiva
de se valorizar a memória e identidade cultural do povo.

As entrevistas foram organizadas em blocos, de acordo com os objetivos da pesquisa. Cada


bloco de perguntas foi baseado em um objetivo específico, para subsidiar as análises de forma mais
precisa.

Quanto a essa técnica de pesquisa, Oliveira (2010, p. 25 - 26) ressalta que ela nos permite
respostas subjetivas e afirma: “As entrevistas não são simples reflexos das crenças ou
conhecimentos interiores, mas construções que dependem da identificação de categorias e processo
de explicação”.
47

Nesse sentido, os dados coletados por meio de entrevistas semiestruturadas foram


organizados e sistematizados para análise e interpretação, observando os objetivos propostos. Nesse
sentido vale refletir acerca do que afirma Almeida:

Como toda pesquisa, os dados qualitativos exigem escolhas e interpretações. O


sucesso da análise depende de como os códigos e temas são identificados e
desenvolvidos. Na transcrição deve-se ficar atento a aspectos essenciais como
sobreposições, ênfases, tom de voz, corte de palavras e pausas. (ALMEIDA, 2010,
p.26).

2.4-Os participantes da pesquisa

Os participantes da pesquisa foram 4 professoras de cada turma do 1º ao 4º do Ensino


Fundamental e a coordenadora pedagógica da escola. Com base nos dados retirados das entrevistas,
as entrevistadas, aqui citadas como professoras A, B, C, D, E, foram caracterizadas. A professora
(A) tem 37 anos, é licenciada em Pedagogia, atua há 16 anos na docência, atualmente no 2º ano e é
natural do município de Carinhanha/BA. A professora (B) tem 47 anos, é licenciada em Pedagogia,
atua há 20 anos na docência e agora no 4º ano e é natural do município de Malhada/BA. A
professora (C) tem 37 anos, é licenciada em Pedagogia, atua há 16 anos na docência, atualmente no
3º ano e é natural do município de Carinhanha/BA. A coordenadora pedagógica (D) tem 35 anos, é
licenciada em Pedagogia, atua há 13 anos na docência e está há 01 ano na coordenação pedagógica.
A professora (E) tem 36 anos, é licenciada em Pedagogia, atua há 15 anos na docência e é natural de
Carinhanha/BA.

Nota-se que as professoras são pessoas maduras e experientes, já atuam na docência há mais
de 10 anos e se mostraram capazes e habilidosas e competentes. A professora C me chamou atenção
pela forma como ela tratou este assunto friamente, estranhei este comportando pelo fato das
respostas dela serem sucintas e secas, pareceu que ela não queria ser entrevistada. Dentro desta
possibilidade de indiferença percebi pelo seu relato a falta de domínio com o assunto, ou seja, o
contexto cultural.
48

CAPÍTULO III – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS


ENCONTRADOS

As análises dos dados, retirados das falas das professoras e coordenadora pedagógica, nas
entrevistas semiestruturadas, organizadas em blocos de perguntas, de acordo com os objetivos da
pesquisa, são apresentadas, a seguir, organizadas em três categorias, correspondentes aos blocos das
entrevistas. A primeira categoria refere-se à concepção de cultura popular apresentada pelas
professoras. A segunda diz respeito à percepção que as professores tem do sentido e significado de
memória e identidade cultural. E a terceira mostra como as manifestações culturais populares locais
são contempladas na proposta e prática pedagógica das professoras.

Primeira Categoria: concepção de cultura popular apresentada pelas professoras.

A categoria analisa a concepção de cultura popular apresentada pelas professoras que atuam
em turmas do 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental e a coordenadora pedagógica da escola
pesquisada, por meio das respostas das perguntas elaboradas com este propósito.

À pergunta sobre a concepção de cultura popular, as respostas se mostraram semelhantes e


complementares. Para as professoras cultura popular refere-se a tudo que está ligado à vida do ser
humano, é o conhecimento cultivado pelo povo, envolvendo memórias, costumes, crenças,
tradições, manifestações, como danças, músicas, festas, cortejos, entre outros, que o povo produz e
participa e repassam de geração a geração, formando a identidade de um povo.

Quanto à pergunta sobre conhecimento das manifestações da cultura popular local, citaram
especialmente a festa do divino, o bumba meu boi, o são Gonçalo, as festas juninas, o reisado e o
samba de roda. Uma das falas foi bem ampla, ao responder se conhecia e podia citar as
manifestações culturais locais. A saber:

Professora A: “Sim. As festas como: Festas do Divino Espírito Santo, Festa de São José,
folia de reis e reis de boi, danças como a quadrilha, músicas, manifestações folclóricas como: as
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lendas do lobisomem, do compadre d‟água, as comidas típicas da nossa região, as festas juninas, o
carnaval, onde o costume é de fazer blocos onde as pessoas se divertem nas suas sedes, ou seja,
uma casa ou garagem ou um canto onde eles se encontram para beber, comer, se divertirem. As
celebrações de natal entre outras”.

Sobre as perguntas relativas ao significado das manifestações locais para cada professora e
para o município e qual a mais significativa, bem como se o povo se sente identificado
culturalmente nelas, as falas mostram que as manifestações têm um significado especial por
fazerem parte da infância das entrevistadas, sendo parte da própria história delas. E citaram como
mais significativas as festas juninas, os reis e reisado, ternos de reis. E o que significam para o
município, afirmaram: “significa uma rede de relações entre fazeres e saberes que se interagem
criando um padrão que define a identidade de uma comunidade.” “Elas fazem parte de histórias do
povo do nosso município, onde os mesmos se sentem valorizados”. “O significado delas para o
município diz respeito ao conhecimento das suas próprias raízes, pois estas deixam marcas e
sensações das vivências cotidianas das pessoas enquanto seres construtores das suas próprias
histórias.” “Significa que o município possui uma linda história e que precisa está sendo
resgatada. Sim, porque é integrante desta história”.

Vimos que a compreensão das professoras sobre cultura popular está próxima às reflexões
teóricas apresentadas neste trabalho, que ressaltando a questão da ambiguidade entre os termos
folclore e cultura popular, debatidos por alguns estudiosos, indica que os dois termos englobam
produções artísticas e culturais do povo, sejam em comunidades rurais ou urbanas. E para melhor
situar essa proximidade, vale retomar a afirmação de Freire (1993, p. 31):

Quando falamos de cultura popular estamos nos referindo não apenas às


manifestações festivas e às tradições orais e religiosas do povo brasileiro, mas ao
conjunto de suas criações, às maneiras como se organiza e se expressa, aos
significados e valores que atribui ao que faz (...).
50

Nas falas das professoras aparece o aspecto relativo ao significado da cultura popular local,
no fazer cotidiano do povo, visto como construtor de sua história, repassando as tradições de
geração a geração, buscando suas formas específicas de organização, criação, interação,
significação e valorização de saberes que interagem e formam a identidade desse povo.

Segunda Categoria: Sentido e significado de memória e identidade cultural para os


professores.

A segunda categoria tem por objetivo investigar qual o sentido e o significado de memória e
identidade cultural que as respectivas professoras juntamente com a coordenadora pedagógica
idealizam. Percebo que as respostas se complementam cada qual tem uma linha de raciocínio
seguido conforme sua vivência e como foi aprendido. Para as professoras de modo geral sua visão
de memória e identidade cultural é tudo aquilo que praticamos e que ficam nas nossas mentes, nas
lembranças e que essa lembrança deve ser passada adiante para que não se perca.

Individualizando as respostas levando para o lado subjetivo cada qual teve uma noção de
memória e identidade cultural de forma empírica, baseada em relatos do cotidiano, do dia vivido.
Lembranças eternizadas por fotos, nas tradições, na vivência do cotidiano, espiritualizadas em cada
ser, como se fosse uma conexão entre o surgimento até os dias atuais.

Nos relatos percebe-se a preocupação e a importância que as professoras dão a esta temática,
pois ajuda na compreensão do entendimento da realidade do passado e do presente e
respectivamente a realidade futura. Tudo isso pode contribuir para conhecer o aprender e valorizar a
memória e identidade cultural.

Uma das falas caracteriza a importância do sentido e o significado da memória e a


identidade cultural, quando diz respeito à característica de ensinar e aprender desta temática. A
saber:

Professora A: “Neste sentido o que caracteriza esse processo é quando o aluno aprende
algo que para ele tem um significado importante em sua vida. Percebe-se que quando trabalha algo
vivenciado no seu cotidiano este tem uma melhor atenção com esses temas em estudos, voltados
principalmente na área cultura.”.
51

Dessa forma, vimos que a memória é uma característica marcante do humano, onde consiste
em perceber-se a si mesmo e ao outro. “Por isso, ninguém pode ser privado de memória sem ser
despossuído de identidade”. (Horta; Priore, 2005, p. 4). Por este olhar é sabido que sem memória o
próprio eu, ou o ser humano não se reconheceria, não teria uma identidade, uma história.
Percebe-se então que há uma concordância na ideia da professora A com a afirmação de um
dos autores que subsidiou o presente trabalho:

Mesmo dependendo da percepção, a memória humana é sempre seletiva. Pois a


percepção humana não é apenas uma simples gravação. Ela resulta da junção entre
a capacidade de perceber e o indivíduo que percebe. Mas ela é, também,
inseparável de um filtro afetivo. Tal filtro é, por um lado, modelado pelo social– e
pelo mundo em que está inserida a memória. Mundo que ela apreende e que possui
certa estrutura. Pois ela não pode ser separada do pensamento, das crenças, das
atitudes interiorizadas pelo indivíduo ao longo de sua socialização. Isto tudo,
afinal, é parte de sua própria identidade. (Horta e Priore, 2005, p. 04).

Sendo assim a escola entra com um papel fundamental que é a difusão de conhecimento. As
entrevistadas citaram alguns subsídios que oportunizam essa aprendizagem, é importante resaltar
que a escola de alguma forma tem feito essa dinâmica de trabalho conforme a realidade do aluno e
até mesmo da própria escola. Segundo relato das professoras a escola trabalha com projetos
temáticos e que são culminados no grêmio estudantil, desta forma e neste contexto o grêmio
estudantil e projetos temáticos são importantes e relevantes na construção da identidade e formação
educacional do aluno. Com isso, elas observam que a participação do aluno torna-se cada vez
crescente, porque ele se identifica com o assunto a partir daí os próprios apresentam suas memórias
e aprende mais sobre sua identidade.

Para isso a escola tem outro papel, que é a preservação e a valorização da memória e
identidade do povo. Como já citado, acima, a escola trabalha com projetos temáticos que integram a
parte cultural, juntamente ao educacional, mas de forma fragmenta. Esta junção poderia ser
fantástica se fosse integrada aos conteúdos cotidianamente, fazendo correlações das manifestações
culturais locais com a brasileira e de outras culturas, levando o aluno a fazer descobertas inéditas
sobre a sua identidade com a cultura brasileira e da local, discutindo valores, respeito a diferenças
sociais e culturais, entre outros. Uma das professoras fez uma observação interessante, onde ela cita
que não somente aqui na zona urbana, mas como também na zona rural essas culturas estão
52

desaparecendo, isso porque não são trabalhadas ou não estão inseridas no projeto político
pedagógico das escolas ou porque a comunidade não se interessa mesmo pelo assunto.

É na escola que os conhecimentos sistematizados, tendo sua própria forma de trabalho, seus
hábitos e valores, integrados à comunidade, que se vai desmarginalizando e incluindo as expressões
artísticas e culturais numa troca permanente de saberes e questionamentos. Assim, estimular os
educandos por meio de experiências pedagógicas é uma das pontes que a escola tem de fazer o
aluno se interessar por suas próprias raízes e automaticamente levá-lo à valorização e preservação
da memória e identidade cultural da própria comunidade.

Terceira categoria: As manifestações culturais populares locais na proposta


pedagógica e prática pedagógica da escola.

A terceira categoria tem por objetivo verificar como as manifestações culturais populares
locais; como: festas, folguedos e danças – são contempladas na proposta e na prática pedagógica da
escola.

Conforme as respostas às perguntas da entrevista referentes ao presente aspecto, as


professoras afirmaram que a escola possui uma proposta pedagógica e que essa proposta está
inserida no Projeto Político Pedagógico (PPP), que contempla a parte que fala da importância do
trabalho com áreas da cultura e que, ao analisarem o PPP elas, juntamente com a coordenadora
pedagógica, planejam projetos didáticos, que são desenvolvidos em cada turma de acordo com nível
do aluno.

Ao analisar o PPP da escola, percebi que as concepções pedagógicas enfatizam que a escola
tem função social e que a educação lá mencionada é de forma ampliada enquanto prática social, que
se dá nas relações sociais que os homens estabelecem entre si, nas diversas instituições e
movimentos sociais, sendo, portanto, constituinte e constitutiva dessas relações. Comparando com
as falas das professoras percebi que o todo deixou a desejar. A minha crítica neste contexto tão
delicado é a seguinte: mesmo que as regentes se esforçam e fazem o possível para ajudar,
transformar e dar continuidade na educação de qualidade, tanto ela sendo formal quanto informal,
percebi que falta muita qualificação e interesse maior por parte delas, pois um conhecimento puxa
outro conhecimento. Ao analisar as falas, a visão delas de mundo e de realidade local, percebi que
todas elas têm percepção de tudo o que está se passando ao redor, mas que faz uso da metade de
53

suas competências como professoras para mudar de forma positiva esta realidade, pelo menos no
contexto cultural da escola. Penso que não adianta estudar os mesmos temas, como algumas
citaram, como exemplo, o carnaval e outros movimentos, sem mudar a forma de abordagem,
integrando-os aos conteúdos cotidianos, observando a perspectiva interdisciplinar. E, diante da
variedade das manifestações culturais local, como danças, histórias, anedotas, lendas, folguedos
observei a deficiência na busca do conhecimento da nossa cultura.

Essas atividades, segundo as entrevistadas, são contempladas no coletivo, levando em


consideração as manifestações culturais da cidade. Os temas são pensados e escolhidos a partir da
vivência de cada aluno, ou seja, pelas respostas das professoras, que estão idênticas, os temas dos
projetos são idealizados a partir da escolha do aluno que é a identificação com cada manifestação
como, por exemplo: têm alunos que se identificam com o carnaval, então trabalham o carnaval.
Outros já se identificam com os Reis de boi, então trabalham toda a história dos reis de boi.

Além disso, disseram que são trabalhados os temas do folclore, eles são elaborados de
acordo com as datas comemorativas inseridas nos projetos bimestrais. Neste contexto, as atividades
são auxiliadas pelas professoras em sala de aula, na linguagem regional, onde os mesmos já
conhecem as manifestações do município, com isso torna-se mais fácil a interação na relação
professor/aluno.

A participação do aluno é sem dúvidas a forma mais clara e satisfatória do funcionamento do


ensino/aprendizado. Quando se trabalha com a realidade os alunos participam mais, cobram mais e
se tornam mais criativos, pois isto é o reflexo da identificação com a sua cultura. Estas
participações, segundo as professoras, são feitas por vias orais, escritas, produções, apresentações
culturais na escola, principalmente no grêmio estudantil, no fechamento das unidades temáticas. Se
possível cada serie faz uma ou mais apresentação. Os alunos de 1º ao 4º ano fazem as apresentações
conforme as professoras organizam, principalmente do 1º e 2º ano, pois são menores, então, se
exige menos deles, às vezes eles dançam uma pequena música, quando eles querem se não quiserem
também não são obrigados a participarem. É fascinante saber que o aluno se interessa por um tema
da cultura popular e se esforça para estudá-lo. Este esforço é visto, segundo as professoras, através
de relatos dos próprios alunos que adquiriram conhecimento quando foram atrás de fontes, tais
fontes reveladas através da própria família.
54

As informações apresentadas pelas professoras foram importantes, principalmente na minha


formação como futura pedagoga. Pude perceber que mesmo na dificuldade das transformações e
inserções de outras culturas percebe-se a preocupação dos professores com a realidade, qualidade,
benefícios e práticas direcionadas as nossas culturas. Com isso, chamou minha atenção as seguintes
falas das professoras. A saber:

Professora B: As manifestações populares são partes integrantes da memória de um povo e


podem trazer para o povo de Carinhanha muitas possibilidades de ensino e aprendizagem, como
por exemplo, a de conhecer e preservar a sua identidade.

Professora E: Quando se trabalha manifestações educacionais e culturais nas escolas, são


valorizados e resgatados os costumes vividos de uma região, ou seja, em nossa região.

Professora A: Os benefícios educacionais e culturais que as atividades podem trazer ao


povo carinhanhense é manter sempre viva a cultura local pelo menos por meio de lembranças,
memórias, já que muitas estão extintas.

Diante destes três relatos posso confirmar que vale a pena investir na busca de trabalhar a
questão cultural de forma significativa na educação, focando as manifestações populares locais,
com as dimensões de memória e identidade cultural, pois o saber focado na realidade enriquece e
tem poder para transformá-la, sendo assim as falas das professoras B, E e A entram em
concordância com a afirmação do autor presente neste trabalho, Silva (2008, p. 17):

A importância da cultura popular para Brandão advém, principalmente, da


descoberta de que ela nos oferece formas de aprendizagem e ensinamentos menos
utilitários e instrumentais do que os disponibilizados em geral por nossas escolas.
A cultura popular, portanto, concebida como um sistema outro de conhecimentos,
sentidos e significados, seria capaz de resgatar para a escola no processo
educacional, toda a riqueza da experiência de diferentes formas de compreender e
interpretar o real, a vida e a condição humana.

No entanto, as formas como as práticas foram relatadas não expressam aprofundamento em


questões como sentimento de pertencimento pessoal e coletivo na cultura local, que envolve o
debate sobre diferenças socioculturais (de classe social, crenças, etnia e outras), que seguem na
direção de tornar a escola um espaço mais plural, com interações mais iguais em meio à
diversidade. Há uma concepção que vai de encontro ao que se vê na teoria, apresentada nas falas
55

das professoras, o que é muito positivo, é o primeiro passo para se buscar a forma mais adequada de
desenvolver a prática em consonância com a teoria, o que ainda não parece ocorrer no cotidiano
pedagógico da escola.
56

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Minhas considerações finais estão baseadas na pergunta de minha pesquisa que é: em que
medida as manifestações da cultura popular do município – festas, danças e folguedos se fazem
presentes nas práticas pedagógicas nas turmas de 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental da escola
pesquisada? Para tanto, retomei algumas análises dos resultados da pesquisa.

Vimos que a compreensão das professoras sobre cultura popular está próxima às reflexões
teóricas apresentadas neste trabalho, que ressaltando a questão da ambiguidade entre os termos
folclore e cultura popular, debatidos por alguns estudiosos, indica que os dois termos englobam
produções artísticas e culturais do povo, sejam em comunidades rurais ou urbanas. Aparece, assim,
o aspecto relativo ao significado da cultura popular local, no fazer cotidiano do povo, visto como
construtor de sua história, repassando as tradições de geração a geração, buscando suas formas
específicas de organização, criação, interação, significação e valorização de saberes que interagem e
formam a identidade desse povo.

Nos relatos percebe-se a preocupação e a importância que as professoras dão a esta temática,
pois, segundo elas, ajuda na compreensão do entendimento da realidade do passado e do presente e
respectivamente a realidade futura. No entanto, a questão cultural é trabalhada de forma fragmenta,
quando deveria ser integrada aos conteúdos cotidianos, fazendo correlações das manifestações
culturais locais com a brasileira e de outras culturas, levando o aluno a fazer descobertas sobre sua
identidades com a cultura brasileira e local, discutindo valores, respeito a diferenças sociais e
culturais, entre outros, fazendo o aluno se interessar por suas próprias raízes, o que fará com que
valorize a memória e identidade cultural da própria comunidade.

Comparando as concepções pedagógicas do Projeto Político Pedagógico da escola e


algumas práticas explicitadas, percebi que o todo deixou a desejar. Falta interesse maior por parte
das professoras. Elas têm percepção de tudo o que está se passando ao redor, mas fazem pouco uso
de suas competências para mudar a realidade, pelo menos no contexto cultural da escola. Assim,
não adianta estudar os mesmos temas, como o carnaval, o reisado e outros movimentos culturais,
sem mudar a forma de abordagem, observando a perspectiva interdisciplinar. E, diante da variedade
das manifestações culturais local, como danças, histórias, anedotas, lendas, folguedos, festas,
observei a deficiência na busca do conhecimento da nossa cultura.
57

As formas como as práticas foram relatadas não expressam aprofundamento em questões


como sentimento de pertencimento pessoal e coletivo na cultura local, que envolve o debate sobre
diferenças socioculturais (de classe social, crenças, etnia e outras), que seguem na direção de tornar
a escola um espaço mais plural, com interações mais iguais em meio à diversidade. Há uma
concepção que vai de encontro ao que se vê na teoria, o que pode ser o primeiro passo para se
buscar formas adequadas de desenvolver a prática em consonância com a teoria, o que ainda não
parece ocorrer no cotidiano pedagógico da escola.

Diante dos resultados da pesquisa, sugiro que as professoras revejam suas práticas,
aprofundem mais o tema, os conceitos, leiam autores que subsidiem a dinâmica em sala de aula,
discutam os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e o Projeto Político Pedagógico da escola
(PPP), para buscarem, coletivamente, formas interdisciplinares efetivas de trabalhar a questão
cultural, no processo de ensino e aprendizagem.

Essas sugestões estão baseadas especialmente no fato de que, nos seus relatos as professoras
apontaram a importância da temática que, segundo elas, ajuda na compreensão do entendimento da
realidade do passado, do presente e a futura, e contribui para conhecer, aprender e valorizar a
memória e identidade cultural, no entanto, isso não se reflete nas práticas pedagógicas nas turmas
de 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental da escola pesquisada.
58

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entrevista semi estruturada. Disponível em:
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60

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Secretaria de Educação a Distância, 2008. 119 - 246 p. - (Salto para o futuro).
61

APÊNDICES

1- ROTEIRO DE ENTREVISTAS COM PROFESSORES e coordenadora Pedagógica


(turmas do 1º ao 4º ano)

Bloco I: Dados do entrevistado

- Nome do entrevistado:

- Sexo:

- Idade:

- Nível de Escolaridade:

- Local de nascimento:

- Tempo de exercício na docência

OBSERVAÇÕES_________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________

Bloco II: Concepção de cultura popular dos professores que atuam do 1º ao 4º ano do Ensino
Fundamental.

1-O que você entende por cultura popular?

2-No nosso município temos muitas manifestações da cultura popular. Pode citar algumas?
62

3-Qual o significado dessas manifestações para você? Com qual (quais) dela (s) você mais se
identifica? Por quê?

4-E qual o significado delas para o município? Você acha que o povo se sente identificado
culturalmente nelas? Por quê?

5-Como professora, o que tem a contribuir com o ensino da cultura popular na sala de aula?

OBSERVAÇÕES_________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________

Bloco III: Sentido e significado de memória e identidade cultural para os professores que atuam
nas turmas de 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental.

1-Para você, o que caracteriza a memória e identidade cultural de um povo?

2-É importante a aprendizagem voltada para a preservação e valorização da memória e identidade


cultural nas comunidades? Por quê?

3-E a escola tem oportunizado essa aprendizagem? De que forma?

4-Qual é o papel da escola na preservação e valorização da memória e identidade cultural do povo


da cidade?

5-O que caracteriza o processo de ensinar e aprender que dá sentido e significado à memória e
identidade cultural?
63

OBSERVAÇÕES_________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
Bloco IV: As manifestações culturais populares locais (festas, folguedos e danças) na proposta
pedagógica e prática pedagógica da escola.

1-A escola possui uma proposta pedagógica (ou outro documento didático)? Você a conhece? Sabe
como a questão da cultura/cultura popular é apresentada?

2- Como as atividades culturais são planejadas e realizadas na prática pedagógica da escola? A


cultura local (manifestações culturais) é considerada? Quais manifestações são contempladas e de
que forma? Quais as fontes de pesquisa utilizadas para o planejamento?

3- E como você elabora essas atividades para sua sala de aula? Quais manifestações populares são
trabalhadas?

4-Como os alunos participam dessas atividades? Eles se identificam com a cultura popular local?
Por quê?

5-Qual a sua reflexão em relação aos benefícios educacionais e culturais que as atividades
direcionadas às manifestações populares podem trazer ao povo de Carinhanha?

OBSERVAÇÕES_________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
64

3ª PARTE:

PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS
65

Este curso teve um significado muito grande em minha vida, mudou minha rotina, abriu
minha mente para aprender a conhecer, experimentar, ampliar, construir pontes, fazer escolhas, e
abriu um leque de conhecimentos e formas de construir conhecimentos que eu não imaginava. E
mesmo não estando em sala de aula pude experimentar outras formas de ensino/aprendizado, com
base nas aprendizagens das disciplinas desenvolvidas, como por exemplo: comecei um trabalho
pequeno de oficina de teatro na APAE, onde o ensino é direcionado às necessidades especiais de
cada um. Tive o prazer de trabalhar no CRAS - Grupo de Convivência, onde eu também trabalhava
a parte cênica das crianças. E ajudou e muito quando fui pela primeira vez monitora de uma turma
de 1º ano do Ensino Fundamental I. Então, creio que tenho um caminho muito lindo a ser
percorrido.

Minhas perspectivas profissionais, após a conclusão do curso de Pedagogia, quanto à


formação pedagógica são várias, diante das aprendizagens adquiridas. Pensei em todos os tipos de
área que me interessa fazer uma pós-graduação. A área que está me chamando atenção é de Libras,
tenho curiosidade em aprender e, além do mais, na minha comunidade é raro ter algum profissional
formado nessa área no município.

A segunda alternativa está voltada para uma pós-graduação na área cultural porque percebi a
carência de conhecimento na área, através da pesquisa realizada. E sabemos que quando focamos na
cultura local estamos descobrindo mais um pouco da história cultural brasileira. Fico feliz em saber
que ainda existem pessoas querendo saber e preservar essa cultura, mesmo que seja a minoria.

Com o olhar de futura pedagoga, vejo que tenho a contribuir muito na educação, tanto escolar
quanto extraescolar, creio que o município tem muito a ganhar com a formação de novos
educadores. Em relação a mim, ainda não tenho experiência, mas tenho vontade de mudar, mesmo
que seja uma pequena coisa, já é um grande começo.

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