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Texto de Ranieri Almeida — Canteiros de Obras Restritos

“A alta especulação imobiliária dos grandes centros urbanos, acaba aumentando


o valor do metro quadrado dos terrenos, de forma que as construtoras acabam
inovando com logísticas eficientes nos restritos canteiros de obras.

As políticas públicas brasileiras estimulam a urbanização dos grandes centros


urbanos, seja na questão da infraestrutura de fornecimento de sistemas de energia
e água, seja na mobilidade urbana, o que vem tornando raras as disponibilidades
de terrenos amplos para a construção de novos empreendimentos. Assim, surge o
fenômeno da verticalização dos empreendimentos, no intuito de aproveitar ao
máximo a área do terreno frente à área construída.

Observa-se ainda no cenário acima descrito, que no setor da construção civil, o


ativo de engenharia (ou seja, a edificação em construção que será entregue para
uso), ocupa proporcionalmente a mesma área de produção, seja na movimentação
dos recursos humanos, materiais e equipamentos, seja no estoque destes últimos.
Quanto mais exigente o projeto em termos de prazos, maior será necessária a
velocidade de execução, levando a uma maior concentração de insumos no mesmo
lugar do canteiro de obras. Essa correlação existente entre prazo x canteiro,
influencia na estratégia logística que será utilizada. Logo, a expressão "apertada"
torna-se relativa de acordo com os parâmetros logísticos que foram definidos no
planejamento.

Atenção especial deverá ser dada às redondezas da obra como os tipos de vias que
circundam o terreno (se do tipo expressa ou arterial) o que caracterizaria o fluxo
de veículos que poderiam frequentemente comprometer as manobras dos veículos,
bem como às descargas de materiais. Ainda, o tipo de relevo existente no local
(se íngreme ou nivelado) que poderia impactar, por exemplo, quanto às
inundações dentro da obra em épocas de chuvas torrenciais, além da questão da
infraestrutura existente (energia, água e esgoto) para interligação temporária e
definitiva no local da obra. A vizinhança residencial no entorno pode

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também impactar no ritmo da obra, principalmente quando necessário realizar
serviços noturnos, o que comprometeria o sossego alheio.

O canteiro de obras ideal seria aquele que trouxesse a menor exigência no


planejamento logístico, o que seria refletido em um canteiro fixo, sem
necessidades de realocações para debaixo da estrutura definitiva do
empreendimento, mas para isso seria necessário recuos consideráveis em relação
às divisas da edificação. Por isso a importância do planejamento na escolha do tipo
de canteiro de obras e do seu fluxo logístico, pois impactará diretamente na
produção da obra. É nessa etapa de planejamento que o executor poderá analisar
a viabilidade quanto à quantidade de acessos ao canteiro, pois afinal, nem sempre
muitos acessos são sinônimo de boa logística, considerando que aumenta
proporcionalmente ao risco de falhas no controle de acesso, gerando
consequentemente furtos e sabotagens o que comprometeria o andamento da
obra.

O fator "espaço" no canteiro de obras poderá ainda ser amenizado com a logística
de entrega dos insumos, podendo ser levado em conta entregas mais frequentes,
mas com quantidades reduzidas, de modo a atender às agendas de curto prazo (ou
seja, as frentes de serviço mais imediatas).

O uso de argamassas industrializadas, bem como de estruturas pré-moldadas,


tende a reduzir a quantidade de pessoas num canteiro. A mecanização das
movimentações (por exemplo, gruas, guindastes e elevadores) aumentam a
eficiência no deslocamento de pessoas e materiais.

Perceba que o planejamento prévio é crucial, sendo necessária a simulação de


vários cenários a fim de permitir tomar a decisão mais eficiente, mas sem deixar
de considerar o fator economia. O custo-benefício ótimo de um canteiro de obras
dificilmente será atingido se o planejamento só for iniciado (como medida
paliativa) no momento da execução dos serviços.

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É muito comum a realização de descargas de materiais em horários fora do
expediente de trabalho, gerando assim mais riscos de discordâncias entre o
planejado e o realizado. A conferência dos romaneios é fundamental para
verificação da viabilidade da execução da próxima frente de serviço. Sendo essa
verificação realizada em horários após o período normal de trabalho, o
responsável já se encontraria exaurido, sendo passível de falhas na constatação.
Além disso, o custo da obra cresce, à medida que aumenta a ocorrência desses
tipos de descarregamentos de materiais, sobretudo com os custos de horas extras
aos trabalhadores.

O tipo de logística de movimentação adotada, potencializará ou


mitigará os sinistros de obras, uns mais do que os outros. Logo, recomenda-se que
a segurança do trabalho também participe dessa etapa do planejamento.
As obras que possuem a utilização de gruas, poderão ter sua eficiência aumentada
com a utilização desses equipamentos, realizando as movimentações verticais dos
insumos, levando-os para cada andar cujo serviço em andamento demanda
determinado insumo.

Logo, a comunicação entre o operador da grua, o assistente de içamento e os


encarregados da obra, é fundamental para um bom racionamento dos materiais
(além da redução de acidentes), sobretudo priorizando os serviços mais relevantes
conforme previsto no cronograma do engenheiro. Disponibilizar materiais entre os
andares, evita o uso de grandes áreas para estoque no já tão restrito canteiro.

No gerenciamento da comunicação, dentro do contexto de planejamento, também


deve ser previsto a estratégia a ser adotada junto aos vizinhos da obra, de modo
a criar um vínculo de respeito mútuo em que a construtora se posiciona de forma
proativa para dar segurança e assistência aos vizinhos” (ALMEIDA, 2016. Disponível
em: https://pt.linkedin.com/pulse/canteiro-de-obras-restrito-ranieri-almeida).

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