Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2019; 21:e10548
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1983-21172019210104
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
ARTIGO
I
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Poços de Caldas, MG - Brasil.
II
Universidade de São Paulo, Faculdade de Educação, São Paulo, SP - Brasil.
INTRODUÇÃO
Quadro 1. Síntese de práticas que devem estar presentes em sala de aula de ciências conforme NRC (2011)
Quadro 2. Proposta de normas que devem orientar a construção de explicações científicas em sala de aula
elaborada a partir das normas para produção do conhecimento científico de Longino (2002)
Evidências de normas
Evidências de práticas culturais
culturais
Turnos
(duração) Desenvolver Analisar e
Igualdade Fazer Construir
Fórum e Utilizar Interpretar
Moderada Perguntas Explicações
Modelos Dados
O ENTENDIMENTO DO PROBLEMA
Quadro 4. Episódio 1- Atividade 1- A travessia do rio – 17/09/2012
Evidências de Normas Culturais Evidências de Práticas Culturais
Plane-
Turnos Padrões
Recepti- Analisar e jar e Construir
(2’20’’- 4’18”) Públi- Igualdade
Fórum vidade à Interpre- Executar Explica-
cos de Moderada
Crítica tar dados Investiga- ções
Análise
ções
estudan- estudan-
estudan-
9. Joana: Vai um no barco tes apre- tes apre-
tes apre-
e empurra o outro (inau- sentam sentam
sentam
dível) contribui- hipóteses
hipóteses
ções coerentes
estudan-
estudan-
tes apre- estudan-
estudan- tes apre-
sentam tes apre-
11. Estudante: Só ir na- tes apre- sentam
hipóteses sentam
dando... sentam hipóteses
desconsi- contribui-
hipóteses incoeren-
derando ções
tes
críticas
estudan-
tes apre- estudan- estudan-
13. Maria: Só se tivesse estudan-
sentam tes apre- tes apre-
alguém para empurrar aí tes apre-
hipóteses sentam sentam
pegava a gente e levava sentam
consi- contribui- hipóteses
depois trazia e levava hipóteses
derando ções coerentes
críticas
Turno 20. Professora: Um de cada vez? me explica melhor como é que é isso”
Turno 23. Natan: [se for um amigo por vez] como é que você vai trazer o barco de volta?”
Após o entendimento do problema, como pode ser visto nos dois episódios
que seguem, identificamos momentos em que os estudantes passam a revisar (turnos
76 e 86) e a justificar (turnos 78, 140 e 193) suas hipóteses a partir das críticas recebidas,
o que nos permite dizer que, nessa aula, a sala se configura como um fórum.
Outra norma que discutimos a partir do primeiro episódio diz respeito à
apresentação e estabelecimento dos critérios que devem dar suporte à proposição
e análise de ideias, ou seja, os padrões públicos de análise vigentes naquele momento no
grupo. Pela observação da coluna referente a essa norma, identificamos que, ainda
que os critérios para proposição e análise das ideias tenham sido enunciados no
problema, esses não são adotados pelos estudantes na apresentação das primeiras
hipóteses, seja pela não compreensão ou pelo não acolhimento dos padrões
apresentados. Para estabelecimento desses critérios com o grupo, a professora
parafraseia ou solicita que os estudantes repitam suas hipóteses para, a partir
dessas, definir as condições da situação investigada, como ilustrado nos turnos 10
e 12. Nesse movimento que se estende durante os primeiros minutos da aula, o
grupo negocia sentidos e, coletivamente, compreende que a situação não deve ser
resolvida dentro da lógica cotidiana, mas sim pelo uso do pensamento matemático.
Analisando, conjuntamente, normas e práticas, identificamos relações entre
o estabelecimento dos padrões públicos de análise e uma operação característica
da prática de planejar e executar investigações: o mapeamento de condições relevantes
para construção de uma explicação. Pelo compartilhamento das respostas
apresentadas e pela indicação das condições relevantes explícitas ou implícitas no
enunciado do problema (turnos 10 e 12), a professora ajuda a sala a realizar o
mapeamento de informações que devem ser levadas em conta para a condução
da investigação. Essa operação se assemelha ao realizado pelas comunidades
científicas para identificação de variáveis relevantes para compreensão e resolução
de um problema e para definição de como essas podem ser observadas, medidas e
controladas (NRC, 2011). No problema proposto na aula em análise, as condições
não podem ser modificadas, ou seja, as variáveis estão fixas, contudo, é preciso que
Utilizar
Pensa- Engajar-
Turnos
mento -se em
(11’27” – Recepti- Padrões Mate- Construir Argumen-
12’15”) Igualdade Fazer Per-
Fórum vidade à Públicos mático e Explica- tações
Moderada guntas
Crítica de Análise Ferra- ções Baseadas
mentas de em Evi-
Informá- dências
tica
74. estudan-
Manoel: tes apre- estudan- estudan-
estudan-
(inaudível) sentam tes apre- tes apre-
tes apre-
Dois vai... hipóteses sentam sentam
sentam
deixa um consi- contribui- hipóteses
hipóteses
e pega derando ções coerentes
outro... críticas
professora professora
solicita solicita
profes-
que es- que es-
75. Profes- sora faz professora
tudantes tudantes
professora perguntas solicita
sora: Mas professora revisem defendam
solicita para guiar que es-
quem são critica hipóteses hipóteses
contribui- a cons- tudantes
os dois hipóteses utilizando basean-
ções trução de revisem
que vão? pensa- do-se em
explica- hipóteses
mento informa-
ções
matemá- ções do
tico problema
estu- estu-
estu- dantes dantes
dantes estudan- revisam estudan- defendem
estu-
76. Mano- revisam tes apre- hipóteses tes apre- hipóteses
dantes
el: O de 60 hipóteses sentam utilizando sentam basean-
revisam
e o de 65. consi- contribui- pensa- revisões do-se em
hipóteses
derando ções mento coerentes informa-
críticas matemá- ções do
tico problema
professora
professora
solicita
solicita
profes- que es-
77. Profes- professora que es-
sora faz tudantes
sora: Tá… solicita tudantes
professora perguntas justifi-
professora que es- defendam
o de 60 e o solicita para guiar quem
critica tudantes hipóteses
de 65 pode hipóteses
contribui- a cons- hipóteses
justifi- basean-
ir e vai dar ções trução de utilizando
quem do-se em
quanto? explica- pensa-
hipóteses informa-
ções mento
ções do
matemá-
problema
tico
estu-
estudante
dantes
justificam estu-
estudan- defendem
estu- hipóteses dantes
tes apre- hipóteses
78. Mano- dantes utilizando apresen-
sentam basean-
el: 125 justificam
contribui-
pensa- tam jus-
do-se em
hipóteses mento tificativas
ções informa-
matemá- coerentes
ções do
tico
problema
professora professora
solicita solicita
79. Profes- profes- que es- que es-
sora: Aí professora
sora faz tudantes tudantes
eles po- solicita
professora perguntas apre- avancem
professora que es-
dem ir…. solicita para guiar sentem com
critica tudantes
tá bom… hipóteses
contribui- a cons- hipóteses
apre-
hipóteses
mas e aí ções trução de utilizando basean-
sentem
quem é explica- pensa- do-se em
hipóteses
que volta? ções mento informa-
matemá- ções do
tico problema
estudan- estu-
estudan- tes apre- dantes
80. Mano- tes apre- estudan- sentam estudan- avançam
estudan-
sentam tes apre- hipóteses tes apre- hipóteses
el: O de tes apre-
hipóteses sentam utilizando sentam basean-
60 pega o sentam
consi- contribui- pensa- hipóteses do-se em
de 80 hipóteses
derando ções mento coerentes informa-
críticas matemá- ções do
tico problema
professora
professora
solicita
81. Profes- solicita
que es-
sora: E o professora que es-
profes- tudantes
de 60 com solicita tudantes
professora sora faz justifi-
professora que es- defendam
o de 80... solicita perguntas quem
critica tudantes hipóteses
eles po- hipóteses
contribui- para hipóteses
justifi- basean-
dem estar ções testar utilizando
quem do-se em
no barco hipóteses pensa-
hipóteses informa-
os dois? mento
ções do
matemá-
problema
tico
estu-
estu- dantes
82. Estu- estudan- dantes criticam
estu-
tes apre- indicam hipóteses
dante: Não dantes
sentam inconsis- basean-
vai dá pro- revisam
contribui- tências do-se em
fessora. hipóteses
ções em hipó- informa-
teses ções do
problema
professora
professora
solicita
83. Profes- solicita
profes- que es-
sora: professora que es-
sora faz tudantes
Por que solicita tudantes
professora perguntas justifi-
professora que es- defendam
vai dá? solicita para guiar quem
critica tudantes hipóteses
((apontan- hipóteses
contribui- a cons- hipóteses
justifi- basean-
do para ções trução de utilizando
quem do-se em
estudan- explica- pensa-
hipóteses informa-
te)) ções mento
ções do
matemá-
problema
tico
estu- estu-
dantes dantes
estu-
estu- justificam defendem
estu- dantes
dantes hipóteses hipóteses
84. Estu- dantes apresen-
apresenta utilizando basean-
dante: 140. justificam
contribui- pensa-
tam jus-
do-se em
hipóteses tificativas
ções mento informa-
coerentes
matemá- ções do
tico problema
professora
professora
solicita
85. Profes- solicita
que es-
sora: E professora que es-
profes- tudantes
aí se der solicita tudantes
professora sora faz justifi-
professora que es- defendam
140… solicita perguntas quem
apresenta tudantes hipóteses
Fábio::: hipóteses
contribui- para hipóteses
justifi- basean-
o barco ções testar utilizando
quem do-se em
afunda... hipóteses pensa-
hipóteses informa-
por quê? mento
ções do
matemá-
problema
tico
estu- estu-
estu-
86. dantes dantes
dantes estu-
Estudante: estudante justificam defendem
retomam dantes
apre- hipóteses hipóteses
Por que critérios já apresen-
sentam utilizando basean-
não pode estabele-
contribui- pensa-
tam jus-
do-se em
passar de cidos para tificativas
ções mento informa-
130... análise de coerentes
matemá- ções do
hipóteses
tico problema
em uma sala de aula de ciências, isso [argumentação] deve incluir o professor criando
oportunidades para que os estudantes articulem, por meio da escrita ou conversa, sua
compreensão de um tópico. Ao tornar seu pensamento visível para os colegas, outros
estudantes podem então desafiar, questionar ou construir sobre esses entendimentos.
A ENCENAÇÃO DO PROBLEMA
Utilizar
Pensa-
Turnos mento
Padrões
(27’53’’ - Recepti- Fazer Mate- Construir
Públi- Igualdade
29’35”) Fórum vidade à Pergun- mático e Explica-
cos de Moderada
Crítica tas Ferra- ções
Análise
mentas
de Infor-
mática
professo-
ra solicita
que es-
190. profes- professo-
tudantes
Professora: profes- professo- sora faz ra solicita
avaliem
80… eu sora ra solicita pergun- que es-
hipóteses
posso pôr apresenta contribui- tas para tudantes
utilizando
os dois no hipóteses ções testar avaliem
pensa-
barco? hipóteses hipóteses
mento
matemá-
tico
estudan-
estu-
tes apre- estudan-
estudan- dantes
191. sentam tes apre-
tes apre- apresen-
Estudantes: hipóteses sentam
sentam tam ava-
Não consi- contribui-
hipóteses liações
derando ções
coerentes
críticas
professo-
ra solicita
profes-
que es-
sora faz professo-
tudantes
pergun- ra solicita
professo- justifi-
192. Pro- professo- tas para que es-
ra solicita quem
fessora: ra critica guiar a tudantes
contribui- hipóteses
Vai dá? hipóteses constru- justifi-
ções utilizando
ção de quem
pensa-
explica- hipóteses
mento
ções
matemá-
tico
estu-
dantes
estu-
estudan- justificam
estu- dantes
193. tes apre- hipóteses
dantes apresen-
Estudantes: sentam utilizando
justificam tam jus-
140 contribui- pensa-
hipóteses tificativas
ções mento
coerentes
matemá-
tico
professo-
ra solicita
que es-
tudantes
justifi- professo-
quem ra solicita
professo-
hipóteses que es-
194. ra e es- profes-
utilizando tudantes
Professora: tudantes sora faz
pensa- justifi-
140 vai retomam pergun-
professo- mento quem
acontecer o critérios tas para
ra solicita matemá- hipóteses
quê? [estu- já esta- guiar a
contribui- tico
dantes: vai belecidos constru-
ções estu-
afundar] vai para ção de
estu- dantes
afundar... análise explica-
dantes apresen-
então... de hipó- ções
justificam tam jus-
teses
hipóteses tificativas
utilizando coerentes
pensa-
mento
matemá-
tico
195.
Adriano:
(inaudível)
196.
Professora:
Olha que
legal aquilo
professo-
que ele
ra solicita
pensou professo-
que es-
o… olha o ra solicita
tudantes
que que contribui-
apre-
o Adriano ções
sentem
falou…
hipóteses
repete bem
alto para
ver se está
certo isso
estudan-
estudan- tes apre-
197. Adria-
tes apre- estudan- sentam estudan-
no: O de 80 estudan-
sentam tes apre- hipóteses tes apre-
vai… aí o tes apre-
hipóteses sentam utilizando sentam
de 65 volta sentam
consi- contribui- pensa- hipóteses
para pegar hipóteses
derando ções mento coerentes
o de 60
críticas matemá-
tico
professo-
ra solicita
que es-
198. profes- professo-
tudantes
Professora: professo- sora faz ra solicita
avaliem
Vamos ra solicita pergun- que es-
hipóteses
tentar para contribui- tas para tudantes
utilizando
ver se dá ções testar avaliem
pensa-
certo? hipóteses hipóteses
mento
matemá-
tico
-- --
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BERLAND, L.K.; SCHWARZ, C.V.; KRIST, C.; KENYON,. L.; LO, A.S.; REISER, B.J.
Epistemologies in Practice: Making Scientific Practices Meaningful for Students. Journal of
Research in Science Teaching, v. 53, n. 7, p. 1082–1112, 2016.
BLOOME, D., et al. Microethnographic Approach to the discourse analysis of cultural practices in
classroom language and literacy events . In: BLOOME, D., et al. Discourse analysis and the study
of classroom language and literacy events: a microethnographic perspective. Malwah: Lawrence
Erlbaum Associates, 2005.
FORD, M. J., Educational Implications of Choosing “Practice” to Describe Science in the Next
Generation Science Standards. Science Education, v. 99, n. 5, p. 1041-1048, nov, 2015.
KELLY, G. Inquiry teaching and learning: philosophical considerations. In: MATTHEWS, M.R.
(ed.). International Handbook of Research in History, Philosophy and Science teaching.
Nova York: Springer, 2014.
KRASILCHIK, M. Reformas e realidade: o caso do ensino das ciências. São Paulo em Perspectiva,
São Paulo, v.14, n.1, p. 85-93, 2000.
MUNFORD, D.; LIMA, M.E.C. de C. Ensinar ciências por investigação: em que estamos de acordo?
Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte, v. 9, n. 1, p. 89-11, jun. 2007.
NAYLOR, S., KOGH, B., DOWNING, B. Argumentation and Primary Science. Research in
Science Education, v. 37, n. 1, p 17-39, mar, 2007.
OSBORNE, J. Teaching scientific practices: Meeting the challenge of change. Journal of Science
Teacher Education. v. 25, n. 2, p. 177-196, mar, 2014.
SCARPA, D. L.; TRIVELATO, S. L. F. Movimientos entre cultura escolar y cultura científica: análisis
de argumentos en diferentes contextos. Magis (Editorial Pontificia Universidad Javeriana), v. 6, p.
87-103, 2013.
WINDSCHITL, M., THOMPSON, J., BRAATEN, M. Beyond the scientific method: Model-Based
Inquiry as a new paradigm of preference for school science investigations. Science Education, v.
92, n. 5, p. 941-967, set. 2008.
NOTAS
1
O NRC é o consellho da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos da América e foi
responsável pela condução do relatório A Framework for K-12 Science Education. que, posteriormente,
orientou a construção de parâmetros para o ensino de ciências escolar naquele país (Next Generation
Science Standards), publicado em 2013.
Submetido em 25/06/2018
Aprovado em 12/11/2018
Contato:
Av. Dirce Pereira Rosa, 300 - Jardim Esperança
CEP 37.713-100 - Poços de Caldas, MG - Brasil