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Autora: Jessica Almeida Fontes

Orientadora: Drª Marcela de Oliveira Pessôa

CAPÍTULO I: TRAÇOS GERAIS DA HISTÓRIA SOCIOECONÔMICA DO BRASIL:


A CONSTITUIÇÃO DE UM CAPITALISMO ​SUI GENERIS

Para que se chegar ao objeto principal desta pesquisa, que é a


financeirização da economia brasileira e sua relação com o imperialismo
estadunidense, faz-se necessária uma recapitulação histórica do traços
socioeconômicos gerais do Brasil, permitindo-se compreender de forma ampliada as
implicações de determinados fatores históricos em fenômenos recentes que
equivocadamente nos parecem inéditos. Assim sendo, apresenta-se neste capítulo
um transcurso da história brasileira com enfoque na relação entre infraestrutura
(modificação das relações sociais, dos modos de produção, das relações
internacionais) e superestrutura para, posteriormente, fazermos os devidos
apontamentos sobre o imperialismo, partindo daquelas categorias. Esse trajeto
metodológico se faz importante para entendermos a composição da classe
dominante neste contexto, visto que, segundo Marx (1993​, p. 72​):
As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias
dominantes; isto é, a classe que é a força material dominante da
sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A
classe que tem à sua disposição os meios de produção material
dispõe também dos meios de produção espiritual, de modo que a ela
estão submetidos aproximadamente ao mesmo tempo os
pensamentos daqueles aos quais faltam os meios de produção
espiritual. As ideias dominantes nada mais são que a expressão
ideal das relações materiais dominantes, são as relações materiais
dominantes apreendidas como ideias; portanto, são a expressão das
relações que fazem de uma classe a classe dominante, são as ideias
de sua dominação.

É importante pontuar que a invasão das terras que hoje entendemos como
brasileiras se dá por diversos fatores. Segundo Caio Prado Júnior (1981), o que
antecedeu e impulsionou a colonização das Américas foi principalmente o fato de
que o comércio continental europeu era, antes das Grandes Navegações,
exclusivamente terrestre e limitado à navegação costeira e cabotagem.
Assim, iniciou-se o já sabido processo de invasão das terras do continente
denominado pelos europeus (principalmente espanhóis e portugueses) como
“América” - termo utilizado pela primeira vez pelo cosmólogo Martin Wakdseemüller,
em 1507 - também se iniciando o genocídio e etnocídio da população estimada
entre 57 e 90 milhões de habitantes originários que se distinguiam entre maia, kuna,
chibcha, mixteca, zapoteca, ashuar, huaraoni, guarani, tupinikin, kaiapó, aymara,
ashaninka, kaxinawa, tikuna, terena, quéchua, karajás, krenak, araucanos/mapuche,
yanomami, xavante entre tantos e tantas nacionalidades e povos originários desse
continente.
Em 1530 estreia a ocupação europeia e colonização efetiva do território pelos
portugueses, visto que a costa brasileira apresentava-se propícia para o cultivo da
cana de açúcar, tanto pelo clima quanto pelo solo. A divisão de terras do novo
território era feita de forma a abranger extensas áreas, já que seus donatários
correspondiam a pessoas detentoras de grandes posses na Metrópole, tendo,
portanto, pretensões de ocupar o território como servidores da Corte, não como
pequenos camponeses. A conjuntura foi favorável ao cultivo e produção de açúcar
principalmente no nordeste brasileiro, região mais próxima da Europa.
A partir da monocultura instala-se no Brasil o regime de mão de obra
escravizada. Em conformidade com Caio Prado Jr. (​idem​), além de Portugal não
contar com população suficiente para transferir para as colônias, os europeus
também não costumavam emigrar aos trópicos para trabalho assalariado. “A
escravidão torna-se assim uma necessidade: o problema e a solução foram
​ .
idênticos em todas as colônias tropicais e mesmo subtropicais da América” (​idem, p
21). ​Esta dita necessidade se refere ao favorecimento do capitalismo mercantil
europeu, que se desenvolveu às custas da colônia e as subjugou a um capitalismo
de ordem dependente no cenário mundial das relações internacionais.
Nesse sentido, é através da escravização dos povos africanos e da
superexploração de países deste continente, e também da América e Ásia, que o
próprio sistema capitalista em sua totalidade se fundamenta, pois os países ditos
desenvolvidos basearam seus processos de acumulação primitiva de capital em
suas colônias.
A produção de uma economia colonial, e por isso destinada a um
mercado externo, cada vez maior, era fruto desse trabalho
negro-escravo. E essa economia, que passa pela produção
açucareira, pela mineração, produtos tropicais e termina na fase do
café, é feita pelo negro. No entanto, esse fato não contribui em nada
para que ele consiga um mínimo dessa renda em proveito próprio.
Pelo contrário. Toda essa produção é enviada para o exterior, e os
senhores de escravos ficam com todo o lucro da exportação e
comercialização (MOURA, 1992, p. 12).
Por diversos fatores, no século XVIII o Brasil experimenta o começo da crise
da colonização, período histórico marcado fundamentalmente pela ampla difusão
das ideias liberais; estas que ainda consistiam, como nomeadas por Clóvis Moura
(1992), num liberalismo escravagista que defendia o poder de propriedade de um
ser humano pelo outro e automaticamente excluia a “classe escrava” do direito à
cidadania.
Como os processos históricos não são lineares e a proposta presente não é
trazer um caminho único da “trajetória” brasileira, e sim chamar atenção às
influências entre infraestrutura e superestrutura na história, é importante salientar
ainda que mesmo no período de crise da colonização aconteceu uma variação
estratégica na economia de base agrária, seja com a ascensão da produção de
algodão, seja com a retomada da açúcar, arroz ou anil - também houve
desenvolvimento da pecuária nas regiões centrais.
O aumento da população europeia - e consequente aumento da população
consumidora -, a Revolução Industrial e sua reestruturação das forças produtivas no
âmbito mundial estabelecem a acumulação de capitais brasileira novamente com
base agrária, como destaca Furtado (2005). Este período é de suma importância
para nossa análise, dado o fato de que além de ser a primeira mudança na
configuração das relações de produção no contexto mundial - referente à Divisão
Internacional do Trabalho -, também se modificam as relações coloniais entre Brasil
e Portugal, com a fuga da Corte portuguesa para o Brasil motivada pela expansão
do Império Napoleônico. ​De fato, em 1807, devido ao Bloqueio Continental imposto
por Napoleão a Portugal, cerca de 10.000 pessoas da nobreza portuguesa vieram
às pressas para o Brasil, tomando casas populares para se estabelecerem no novo
lar. Assim, as relações entre Portugal e Inglaterra se modificaram, pois o reinado
luso precisava especialmente da proteção naval inglesa e acabou abrindo os portos
brasileiros, o que se representa como uma concessão que, mesmo de caráter
provisório, se assegurava pelos dominantes interesses ingleses. Então, “fazia-se
impossível o retorno ao passado. E o Brasil entra assim definitivamente na nova
etapa do seu desenvolvimento” (PRADO JÚNIOR, 1981).
Este foi um grande passo em direção à Independência brasileira, motivada
principalmente pelo fato de que Portugal se encontrava em ameaça de perder o
domínio no Brasil. Nesse sentido, a Corte portuguesa tinha intenção de submeter
novamente o país à situação de colônia, não mais de vice-reino, entretanto, Dom
Pedro achou prudente comandar um processo de Independência pacífico, com
portugueses nas classes dominantes. E assim se procedeu.
A perspectiva da agricultura colonial era favorecida largamente pela
conjuntura internacional e interna, já que o café estava valorizado, os concorrentes
debilitados e a mineração em vias de decadência. Porém, a liberdade comercial
consequente da vinda da Corte portuguesa e da abertura dos portos faz com que a
importação aumente, principalmente pelo maior consumo e influência social da
nobreza portuguesa presente no Brasil. Desta forma, é notável o enfraquecimento
das indústrias e do comércio local, já muito humilde, frente à toda sorte de produtos
estrangeiros (PRADO JÚNIOR, ​idem)​ . Todo este cenário envolve fortes movimentos
sociais e políticos, também impulsionados pela crise das finanças públicas, que
eram muito custosas a uma simples colônia.
Fortemente impulsionada pelas revoluções liberais que ocorriam em todo o
mundo, o Brasil se tornou independente em 1822. No que se refere à
superestrutura, como já foi dito, o domínio inglês nas terras brasileiras foram
avançando progressivamente com apoio das instituições e ações imperiais que se
aproximariam de políticas públicas, de forma que o desenvolvimento do Império
brasileiro foi condicionado à demanda inglesa (FONTES; PESSÔA, 2019). Bancos
ingleses se instauram no Brasil e abrem caminho para uma nova forma de
desenvolvimento capitalista: a especulação internacional, como o ​London and
Brazilian Bank​ e o ​London City and Midland Bank ​(SILVA, 2015).
A exploração das pessoas escravizadas também é amplamente legitimada
pelos bancos e empresas neste período, gerenciando as propriedades (agregando
senzalas, casas e escravos na mesma categoria) dos grandes latifundiários do
comércio cafeeiro. Neste momento o capitalismo industrial se desenvolve de forma
que faz surgir um novo elemento na luta de classes mundial, o proletariado industrial
- que teria sua gênese posterior no contexto brasileiro, tendo em vista seu
desenvolvimento ainda agrário.
Já estabelecido o Estado brasileiro, o regime servil entra em crise e expressa
a contradição que representava a escravidão para uma colônia “recém libertada” do
regime colonial. Como se isto não fosse parte da composição do colonialismo,
diversos teóricos (como Joaquim Nabuco) afirmavam na época que seria necessária
a superação do regime de escravidão para o alcance do real progresso e superação
da segregação de castas escancarada no cotidiano. Contudo, o que de fato ocorreu
foi o fortalecimento dos movimentos de quilombagem principalmente entre 1835 e
1845 (MOURA, 1992), cujo progresso demonstrou real ameaça, e a pressão da
Inglaterra para a consolidação da abolição do sistema escravagista ; situação
surpreendente para um país que até meados do século XVIII era responsável por
quase metade do tráfico de humanos. Resistentes ao abolicionismo, Portugal e
Brasil sofrem dura pressão inglesa para aderir ao movimento, que se firma em 1850,
com a interrupção da entrada de africanos escravizados.
Como muito bem atenta Clóvis Moura (​idem​), mesmo após este período a
prática da compra de escravos permanecia, entretanto, agora cercada pelo receio
às leis e à rentabilidade limitada do trabalho escravo, tendo em vista que com o
trabalhador assalariado a produção era maior. Assim, os investidores preferiam
investir seus capitais na especulação. Aqui, as políticas de eugenia tem grande
papel econômico, tendo em vista o forte incentivo à imigração de europeus e o
crescente aumento dessas populações nos centros urbanos (FERNANDES, 1978).
No que tange à República burguesa, sua consumação resultou
principalmente da ação de grandes proprietários em ocupar o poder por meio de um
novo regime, tendo como força apoiadora a insatisfação militar e o Exército. Esta
república surge principalmente para atender aos interesses de uma nova classe que
se pretendia dominante, “que necessitava dominar em partilha o aparelho de
Estado, para colocá-lo inteiramente a seu serviço” (SODRÉ, 1968, p. 274). Uma
classe média - representada pelos militares - interessada em reformas estatais e na
federalização para eleições “amplas”. Com o novo regime, dissolve-se o Poder
Moderador, o direito de representação censitária, a centralização e a indicação de
senadores e os governadores nomeados. Nota-se que,
A adaptação de uma estrutura colonial a uma estrutura externa de
capitalismo em fase imperialista só poderia ser desenvolvida por
uma sobrecarga atirada ao consumidor, às classes dependentes,
àquela que fornecia o trabalho e à classe média (​idem​, p.302).

Na alvorada do republicanismo brasileiro, ocorre a troca da classe dominante


entre a antiga oligarquia açucareira e a oligarquia do café (este que ocupava
fundamental espaço na economia brasileira desde 1830), fortalecendo o poder dos
coronéis latifundiários. Entre o fim do século XIX e início do XX é marcado o auge
da economia voltada à exportação da matéria prima e gêneros tropicais, delimitando
a consolidação do Brasil como uma economia dependente em expansão. Nesse
sentido, o país enfrenta duras consequências como endividamento externo,
resultante dos altos empréstimos públicos (​idem​, p. 343) e a crise do café e da
borracha.
A alternativa possível para a primeira crise da república se encontrava na
descentralização federativa, de forma que cada governo estadual deveria investir
esforços em manter os lucros da classe dominante ligada à exportação do item. “A
partir de 1898, pois, o imperialismo está instalado oficialmente na política do café. A
‘valorização’ se processa à base de empréstimos que, obtidos a alto preço, oneram
pesadamente o país” (​idem​, p. 306), este processo de endividamento se deve
principalmente à economia primário exportadora e às oscilações de preço e da
própria moeda brasileira frente à moeda inglesa (PRADO JÚNIOR, 1981).
Este período de crise foi o grande marcador das finanças políticas
internacionais, concretizando a dependência, de forma que nada mais se
desenvolvera internamente sem a entrada de capitais estrangeiros e para ele,
majoritariamente Inglaterra e Estados Unidos - maior consumidor das exportações
brasileiras. Aparentemente, a estrutura de produção era firme e expansiva - vide as
obras portuárias, ferroviárias, as empresas elétricas etc -, porém, suas bases a
corroíam. Nesse campo, era comum encontrar como fontes de empréstimos
financeiros ao Brasil bancos franceses, ingleses e, particularmente após os anos 40
do século XX, norte-americanos - como o mais famoso ​National City Bank of New
York​, que financiou altos empréstimos à valorização do café.
No período da Primeira Guerra, com a modificação nas relações de trabalho,
o aumento demográfico e a ascensão na capacidade aquisitiva ligada à exportação,
houve também o desenvolvimento vagaroso das indústrias, cujo crescimento se
associava às dificuldades de importação (SODRÉ, 1968). Neste momento de
aparente expansão industrial, também se movia a classe trabalhadora, de forma que
o movimento operário começa a se organizar em busca de melhorias de suas
condições de trabalho, tendo em vista os baixos salários e a excessiva jornada de
trabalho (de até 16 horas diárias), sem contar a superexploração da mão de obra
feminina e de menores de idade. Em 1917 a Revolução Russa instaurava o primeiro
país socialista de toda a História; trabalhadores de todo o mundo tinham sua
esperança política renovada pelo socialismo, de modo que as contradições de
classe e o aumento de greves no Brasil foram mais enfatizados.
Nesse contexto histórico, entre a década de 20 e 40, houve o reforço das
relações entre Estados Unidos e Brasil, partindo da aproximação militar dos países
do Eixo aos países latinoamericanos e da Doutrina Monroe; que se inicia em 1823 e
se alonga desde então como política interamericana, num discurso de iniciar uma
“América para os americanos” e uma colaboração entre nações para o
desenvolvimento conjunto. Entretanto, de 1891 a 1912 se iniciam diversas
intervenções militares por parte dos EUA, expressando o princípio de seu caráter
imperialista.
Durante o período entreguerras, as dificuldades brasileiras fixaram-se na
crise econômica do café, na qual o governo chegou a financiar até 50% das sacas
retidas para regulação e controle do preço, enquanto a burguesia industrial e
setores jovens das forças armadas - movidos pelo desejo de renovação da elite -
ansiavam o desfalecimento do coronelismo e da política do café-com-leite. Foi um
período de grandes embates, dadas as contradições sociopolíticas, cuja luta de
classes se expressou mais explicitamente tanto pelos sindicatos quanto pelo
banditismo social.
Até então, o modelo de desenvolvimento da Primeira República era a
sustentação econômica do país através de um capitalismo dependente agrário
exportador (PRADO JÚNIOR, 1981). Contudo, a transição para o Estado Novo,
mediada pela Segunda República composta pelo Governo Provisório (1930-1934) e
seguida do governo Constitucionalista (-1937), determina uma revolução também
nas relações ideológicas, tendo em vista o uso político da farsa que foi o Plano
Cohen - a invenção da ameaça comunista no cenário político brasileiro.
Também transpareceu esta política de forma muito explícita no Estado Novo,
a ponto da economia chegar a altos níveis inflacionários; através de uma ampla
difusão do pensamento desenvolvimentista e do investimento, às custas de
empréstimos, em infraestrutura urbana. ​Posteriormente, não somente a ditadura
instaurada por Vargas, mas também o Golpe Militar financiado pelos Estados
Unidos e apoiado pelas camadas médias conservadoras já em curso, eram
tentativas de realizar a revolução burguesa (ou liberal) brasileira sem o proletariado
(SODRÉ, 1968). Nesse sentido, se reforça não somente a repressão do aparelho
estatal como também a centralização e outros meios de controle políticos em todos
os âmbitos sociais.
As contradições sociais estavam mais evidentes que nunca neste último
período, enquanto as Forças Expedicionárias Brasileiras (FEB) lutavam na Europa
juntamente com o exército norte americano contra o avanço do fascismo, o Brasil
vivia um regime ditatorial. Vargas, num impulso de continuar no poder, redirecionou
diversas políticas num horizonte populista e fez uma reforma constitucional em
1945. Esta, somada à política nacionalista, fez com que ele conseguisse apoio de
setores trabalhistas e até mesmo dos comunistas brasileiros; entretanto, como já
não atendia aos interesses da classe dominante, dos militares e nem da burguesia
internacional, perdeu o apoio destes ao Estado Novo. Os esforços dos
conservadores eram feitos na intenção de não permitir que a classe operária tivesse
maior influência no campo político burocraticamente, de forma que a frente ampla
democrática foi caracterizada pela resistência contra o fascismo italiano, alimentado
pelos EUA (SODRÉ, 1968).
Ao fim da II Guerra Mundial, era notório que o imperialismo em todos seus
aspectos seria mais incisivo e necessitaria de maior força de dominação (IANNI,
1974). Os Estados Unidos se destacaram mesmo em meio a outras potências
mundiais, como Inglaterra, França e Holanda. Por outro lado, a expansão do campo
socialista foi evidente e sua representação no campo ideológico, fundamental,
determinando a centralidade do proletariado nos processos históricos. Com
Juscelino Kubitschek novamente retornava o esforço industrial em substituir as
importações para satisfação da demanda interna, fazendo com que a indústria
básica se desenvolvesse de forma acelerada e ainda mais dependente do capital
norteamericano.
Enfim, no que se refere às contradições externas, em conformidade com
Sodré (1968), o capital que entra no Brasil, mesmo com juros ou taxas cambiais,
não deixa de “funcionar como estrangeiro”, de forma que em nada agrega e nada
deixa à acumulação interna, sendo “capital nacional legítimo”. No âmbito interno, a
política é de manutenção intensiva da desigualdade e da concentração de
propriedade, com taxas irrisórias aos latifundiários e eliminação da agricultura de
subsistência.
Neste contexto, o que se nota é que o ​Estado ditatorial militar brasileiro
colaborou e articulou de forma maciça com o capital monopolista e imperialista,
corroborando novamente com o enriquecimento dos países dominantes - que, neste
período, foram os Estados Unidos. O imperialismo estadunidense teve ampla
influência no processo de inserção do Brasil no capitalismo monopolista liderado
pelos Estados Unidos.
Foram doutrinas diversas que fixaram a ​diplomacia total ​(IANNI, 1974) dos
Estados Unidos sobre a América Latina, desde a doutrina Nixon, que estabelecia
uma aproximação constante e firme do país, até medidas mais incisivas como o
Congresso de Washington, que estabeleceu a dívida externa e concretizou a
hegemonia do dólar. Este evento teve suas bases sustentadas no liberalismo
econômico e sucedeu no Fundo Monetário Internacional (FMI), cujas medidas
servem para implementação de ajuste financeiro e reforma de políticas econômicas.
É importante salientar ainda que este período de ascensão do liberalismo
econômico se dá pela crise do keynesianismo - que entre 40 e 70 estava em seu
auge e finda com o Choque do Petróleo - e consiste em corte nos gastos públicos e
diminuição do Estado, tendo expressão nos governos de Pinochet (no Chile) e
Ronald Reagan (nos EUA), por exemplo.
Desta forma, nota-se que a acumulação primitiva dos países centrais que
estiveram presentes na exploração do Brasil - principalmente Portugal, Inglaterra e
Estados Unidos - se faz em função do que aqui é espoliado. Como afirma a
socióloga Lélia Gonzalez (1979): ​“Com relação ao capital, a nossa inserção
dependente do mercado mundial (produção de alimentos e de matéria prima)
determinou que a pilhagem, de início, e o comércio exterior, depois, assumissem o
papel de grandes fontes produtoras de lucro, manipuladas a partir das metrópoles”
(p. 2).
REFERÊNCIAS

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Classes​. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1978.
FONTES, Jessica; PESSÔA, Marcela de Oliveira. Imperialismo
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GONZALEZ, Lélia. Cultura, Etnicidade e Trabalho. ​In​: Efeitos Lingüísticos e
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<http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1405-2253201500030
0007&lng=es&nrm=iso>. acessado em 15 dez. 2020.
SODRÉ, Nelson Werneck. ​Formação Histórica do Brasil. ​São Paulo:
Editora Brasiliense, 1968.

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