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Química Orgânica Avançada

7- Reações de Substituição
Nucleofílica
(Mecanismos Intermediários
e Limites)
Profa. Raquel G. Jacob

Liane K. Soares
(lianekrolowsoares@yahoo.com.br)
Substituição Nucleofílica
Mecanismos Intermediários
• As reações de Substituição Nucleofílica podem envolver diferentes
combinações de reagentes:

• Os mecanismos de ionização (SN1) e de deslocamento direto (SN2)


podem ser vistos como limites de um mecanismo contínuo.
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Substituição Nucleofílica
Mecanismos Intermediários
• No SN1(limite), não há interação covalente entre o reagente e o
nucleófilo no estado de transição da etapa lenta.

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Substituição Nucleofílica
Mecanismos Intermediários
• No SN2(limite), a formação da ligação com o nucleófilo ocorre de
forma concertada à quebra da ligação com o grupo de saída.

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Substituição Nucleofílica
Mecanismos Intermediários
• Mas, entre os dois casos limites, existe uma faixa onde o grau de
interação covalente com o nucleófilo é intermediário entre os dois
casos limites.
• Saul Winstein propôs que há dois tipos de pares de íons envolvidos
nas reações de substituição nucleofílica.

• Os dois intermediários precedem a formação do carbocátion


dissociado e estão de acordo com dados cinéticos e
estereoquímicos das reações de solvólise.
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Substituição Nucleofílica
Mecanismos Intermediários
• O processo de ionização inicialmente gera um carbocátion e um
contraíon intimamente próximos um ao outro – par iônico íntimo.

• Estas espécies, chamadas de par iônico íntimo proseguem para a


formação do par iônico separado pelo solvente.

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Substituição Nucleofílica
Mecanismos Intermediários
• No par iônico separado pelo solvente, uma ou mais moléculas de
solvente estão inseridas entre o carbocátion e o grupo de saída, os
íons são mantidos juntos pela atração eletrostática.

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Substituição Nucleofílica
Mecanismos Intermediários
• O “carbocátion livre”, caracterizado pela solvatação simétrica, é
formado pela difusão do ânion, um processo conhecido como
dissociação.

• O ataque do nucleófilo ou do solvente pode ocorrer em cada


estágio. Portanto o mecanismo seguido dependerá do tempo de
meia-vida do carbocátion intermediário. 8
Substituição Nucleofílica
Mecanismos Intermediários
• No mecanismo SN2(limite), não há formação do carbocátion e o
nucleófilo ataca no lado oposto ao grupo de saída para que ocorra a
dissociação, numa cinética de segunda ordem, levando ao produto
com completa inversão de configuração.

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Substituição Nucleofílica
Mecanismos Intermediários
• No par iônico íntimo a meia-vida do carbocátion é tão pequena
que requer a participação do nucleófilo para realizar a dissociação
no estado de transição, o que leva à uma cinética de segunda ordem.

“blindado”

acoplado

• O grupo de saída “blinda” o lado da frente do carbocátion, desta


forma o nucleófilo ataca o par iônico íntimo pelo lado oposto ao
grupo de saída, levando ao produto com inversão de configuração. 10
Substituição Nucleofílica
Mecanismos Intermediários
• Este mecanismo é uma transição entre os mecanismos SN1 e SN2.
• Neste caso, há uma grande participação nucleofílica do solvente ou do
nucleófilo no estado de transição, pois embora ele seja semelhante a
um carbocátion, requer a participação do nucleófilo ou do solvente no
lado oposto ao grupo de saída exibindo uma cinética de segunda
ordem.

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Substituição Nucleofílica
Mecanismos Intermediários
• No par iônico separado pelo solvente, o carbocátion se forma sem
a participação do nucleófilo, mas a meia-vida ainda é baixa.

“blindado”

desacoplado

• O nucleófilo pode atacar por ambos os lados, principalmente


quando este é o próprio solvente. Contudo, o grupo de saída pode
“blindar” o lado da frente do carbocátion e favorece o ataque pelo
lado de trás levando ao produto de inversão em maior proporção. 12
Substituição Nucleofílica
Mecanismos Intermediários
• No mecanismo SN1(limite), há formação do carbocátion
completamente dissociado e com meia-vida elevada, permitindo o
ataque do nucleófilo por ambos os lados e levando à completa
racemização.

dissociado

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Substituição Nucleofílica
Mecanismos Intermediários

• De acordo com essa proposta, a natureza e a estereoquímica dos


produtos são determinadas de acordo com a espécie que o
nucleófilo reage:
1- com um reagente não ionizado - SN2(limite): Inversão completa.

2- com o par iônico íntimo – Pseudo SN2 ou Substituição acoplada:


Inversão.

3- com o par iônico separado pelo solvente – Pseudo SN1ou


Substituição desacoplada: Inversão majoritária.

4- pelo carbocátion dissociado - SN1(limite): Racemização.

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Substituição Nucleofílica
Mecanismos Intermediários
• As barreiras de energia que separam cada estágio de ionização
são muito pequenas:

• A participação de pares iônicos como participantes chaves nas


reações de substituição é largamente aceita. 15
Substituição Nucleofílica
Mecanismos Intermediários
• Exemplo: Em acetona/água (80/20%) e a 100 ºC, o p-
nitrobenzoato de p-clorobenzidrila sofre troca no oxigênio da
carbonila e também racemização.

• Utilizando 18O, foi possível determinar a velocidade dos dois


processos e fazer uma comparação:

ktroca/krac = 2,3.
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Substituição Nucleofílica
Mecanismos Intermediários
• O fato da troca ocorrer mais rápida que a racemização indica
que o par iônico colapsa com predominância de retenção de sua
configuração.
• Este efeito é chamado de – Retorno interno.
• Quando um bom nucleófilo (NaN3) é adicionado ao meio, ktroca
não se altera e não se observa racemização, apenas inversão de
configuração.

• Isto indica que o par iônico íntimo retorna ao reagente mais


rápido do que é capturado pelo íon azida.
• Por outro lado, o par iônico separado pelo solvente é capturado
pelo íon azida mais rápido do que retorna para o reagente
racêmico. 17
Substituição Nucleofílica
Mecanismos Intermediários
• A estereoquímica resultante do mecanismo de ionização é menos previsível,
pois dependerá se a reação ocorre via par iônico intermediário ou através de
um carbocátion dissociado, o que dependerá da meia-vida do intermediário e
da extensão da recombinação do par iônico.

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Substituição Nucleofílica
Mecanismos Intermediários
• A entrada 1 mostra o uso de 1-butil-1-d,p-bromobenzenossulfonato (Bs, brosilato)
para demonstrar que os sistemas primários reagem com inversão (característico de
SN2), mesmo em condições de solvólise em ácido fórmico (favorável a SN1). A
observação de inversão indica um mecanismo concertado (tipo SN2), mesmo neste
solvente fracamente nucleofílico.
• O sistema benzílico primário na entrada 2 exibe alta, mas não completa, inversão para
acetólise, que é atribuída à racemização competitiva do reagente por ionização e
retorno interno.
• Entrada 3 mostra que a reação de um sistema secundário de 2-octila com o íon acetato
de nucleófilo moderadamente bom ocorre com inversão completa (favorável a SN2).
• Os resultados citados na entrada 4 servem para ilustrar a importância da solvatação de
intermediários de pares iônicos em reações de tosilatos secundários. Os dados mostram
que a racemização parcial ocorre em dioxano aquoso (tipo SN1), mas que um
nucleófilo adicionado (íon azida) resulta em inversão completa nos produtos
resultantes da reação com íon azida e água (tipo SN2).
Química Orgânica Avançada

8-Intermediários reativos;
Ácidos e Bases

Profa. Raquel G. Jacob


10-INTERMEDIÁRIOS REATIVOS
• Em uma reação orgânica, a clivagem das ligações covalentes nas
moléculas orgânicas leva à formação de intermediários reativos.
➢ Homólise e Heterólise das Ligações Covalentes:

• As reações dos compostos orgânicos sempre envolvem a formação


e a quebra de ligações covalentes, que podem ocorrer de duas
maneiras diferentes:
• Homólise: Cada fragamento da molécula fica com um elétron da
ligação covalente– há formação de radicais livres:

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10-INTERMEDIÁRIOS REATIVOS
• Heterólise: O par de elétrons fica com um dos fragamentos
deixando o outro com o orbital vazio – há formação de íons:

• A heterólise requer que a ligação covalente seja polarizada, mas


geralmente, requer o auxílio de outra molécula que tenha par de
elétrons não compartilhados, formando uma nova ligação:

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10-INTERMEDIÁRIOS REATIVOS
• Os intermediários reativos das reações orgânicas são espécies
com um tempo de vida curto, que nunca estão presentes em grandes
concentrações – reagem tão rapidamente quanto se formam.

• Apresentam menos de 4 ligações no carbono e reagem rapidamente


com uma variedade de compostos para gerar produtos mais estáveis
contendo carbono tetravalente.

• Mesmo não sendo estáveis, são muito importantes para o estudo


dos mecanismos das reações orgânicas.
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10-INTERMEDIÁRIOS REATIVOS
• As espécies trivalentes, se classificam de acordo com sua carga, a
qual depende do número de elétrons não ligados:
➢ Carbocátions: Têm carga positiva e não possuem elétrons não
ligados;

➢ Radicais Livres: São neutros e possuem 1 elétron não ligado;

➢ Carbânions: Têm carga negativa e possuem um par de elétrons


não ligados;

• As espécies divalentes mais comuns são os carbenos:

➢ Carbenos: Não têm carga, possuem 2 elétrons ligados no átomo


de carbono e 2 não ligados.
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10.1-Carbocátions
➢ Estrutura dos Carbocátions:
➢ Um carbocátion é uma espécie que contém um átomo de carbono
com carga positiva e com 6 elétrons na camada de valência.
➢ Possui hibridação sp2, com estrutura plana e ângulos de ligação
de aproximadamente 120º.

Ex.: CH3+

• O orbital p não hibridado está vazio e perpendicular ao plano das


ligações C-H.
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10.1-Carbocátions

➢ Reatividade:

➢ Com apenas 6 elétrons na camada de valência, o carbocátion é


uma espécie deficiente de elétrons:
➢ Por isso, o carbocátion é um eletrófilo poderoso (ácido de Lewis),
podendo reagir com qualquer nucleófilo que encontre:

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10.1-Carbocátions

➢ Estabilidade:

➢ Os carbocátions são estabilizados por grupos alquila de duas


formas:
(i) através do Efeito Indutivo: o átomo de carbono com carga
positiva atrai parte da densidade eletrônica dos grupos alquila que
contêm Csp3, menos eletronegativos que o Csp2.

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10.1-Carbocátions
(ii) através da hiperconjugação: é possível a doação de elétrons
dos grupos CH3 para o C+, através da interação dos orbitais Csp3
com o orbital p conforme previsto pela Teoria da pertubação.

• Esta deslocalização pode ser representada pelas estruturas de


ressonância abaixo que é conhecida como hiperconjugação:

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10.1-Carbocátions
• Em geral, os carbocátions mais substituídos são os mais estáveis:

• Os carbocátions insaturados também são estabilizados por


ressonância:

• A estabilização por ressonância é muito efetiva para estabilizar os


carbocátions.
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10.1-Carbocátions
• Os carbocátions também podem atuar como ácidos próticos fortes:

• Neste caso, o cátion ter-butila cede um próton para uma base fraca,
com frequência, o solvente da reação.

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10.1-Carbocátions
➢ Rearranjo dos carbocátions:
• Os carbocátions frequentemente sofrem rearranjos para formar um
carbocátion mais estável.

• Isto pode levar a uma mistura de produtos.

Ex.: reação SN1:

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10.1-Carbocátions
• Neste caso, o cátion secundário gerado na 1ª etapa da reação, sofre
transferência de “hidreto”, gerando um carbocátion terciário, mais
estável.

➢ Etapa 1: A ionização gera um Carbocátion secundário:

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10.1-Carbocátions
➢ Etapa 2: O carbocátion sofre rearranjo para formar o
carbocátion terciário, mais estável:

• Embora, formalmente, seja considerado como uma transferência


de um íon hidreto, não existe um hidreto livre no meio reacional.

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10.1-Carbocátions
• Este rearranjo envolve o movimento de um átomo de hidrogênio
com seu par de elétrons de ligação sobre o orbital p vazio do
carbocátion:

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10.1-Carbocátions
➢ Etapa 3: o nucleófilo ataca o carbocátion terciário:

➢ Etapa 4: a desprotonação leva ao produto rearranjado:

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10.1-Carbocátions
➢ Além de H~, pode migrar um gupo CH3~

Ex.: Brometo de neopentila – o grupo CH3~ migra


simultaneamente a saída do brometo, sem formar o carbocátion
primário que é instável:

➢ A ionização, leva ao carbocátion terciário rearranjado:

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10.1-Carbocátions
➢ O ataque nucleofílico ocorre no carbocátion terciário:

➢ Após desprotonação o produto rearranjado é obtido:

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10.2- Radicais Livres
➢ Estrutura dos Radicais Livres:
• Assim como os carbocátions, os radicais livres possuem
hibridação sp2 e são planos (ou quase planos).

Ex.: CH3•

• Mas possuem 1 elétron no orbital p não hibridado.

• Os radicais livres são deficientes de elétrons, necessitando de um


octeto ao redor do átomo de C. 38
10.2- Radicais Livres
➢ Estabilidade:
• Os radicais livres são estabilizados pelo efeito indutivo elétron-
doador dos grupos alquila:

• Os radicais livres também podem ser estabilizados por


ressonância:

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10.3- Carbânions
➢ Estrutura dos Carbânions:

• Um carbânion tem um átomo de carbono trivalente e com carga


negativa, pois possui um par de elétrons não ligados.

• Tem estrutura eletrônica é igual a de uma amina:

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10.3- Carbânions
➢ A hibridação e os ângulos de ligação também são semelhantes a
de uma amina. O átomo de carbono tem hibridação sp3 e é
tetraédrico.

➢ O par de elétrons não compartilhado encontra-se em um dos


vértices do tetraedro.

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10.3- Carbânions
➢ Estabilidade:
• A ordem de estabilidade dos carbânions reflete sua alta densidade
eletrônica:
• Os grupos alquila e outros grupos doadores de elétrons
desestabilizam ligeiramente um carbânion.
• Por isso, a ordem de estabilidade é o oposto dos carbocátions e
dos radicais livres:

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10.3- Carbânions
• Os carbânions podem ser estabilizados pelo efeito indutivo
elétron-atrator de grupos vizinhos, como por exemplo os
halogênios:

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10.3- Carbânions
• Os carbânios derivados de alquinos são mais estáveis que os
derivados de alquenos, que por sua vez são mais estáveis que os
derivados de alcanos.

• A estabilidade diminui conforme diminui o caráter s do orbital


híbrido.

• Isso porque no alquino o par de elétrons não compartilhado está


no orbital sp, mais eletronegativo.
• No alqueno, o par de elétrons está no orbital sp2, e
• No alcano o par de elétrons está no orbital sp3, menos
eletronegativo.
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10.3- Carbânions
• A ressonância também tem uma função importante na
estabilização de carbânions.
Exemplo: um grupo carbonila adjacente a um carbânion,
estabiliza a carga negativa através da deslocalização dos elétrons
pelo seu sistema , deixando a carga negativa no oxigênio que é
mais eletronegativo.

• O carbânion estabilizado por ressonância passa a ter hibridização


sp2 e a ser plano para deslocalizar de forma efetiva a carga para o
oxigênio – estes carbânions são os mais comuns.
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10.3- Carbânions
➢ Reatividade:
• Como é rico em elétrons, o carbânion é um nucleófilo forte e
também uma base ponderosa (base de Lewis), como as aminas.
• Mas, como o carbânion tem a carga negativa em um átomo de
carbono, ele é mais básico e nucleofílico que uma amina.
Exemplo: um carbânion é suficientemente básico para
remover um proton do amoníaco:

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10.3- Carbenos
➢ Estrutura dos Carbenos:
• Os carbenos são intermediários reativos sem carga que contêm
um átomo de carbono divalente.
• O carbeno mais simples tem fórmula: :CH2 e se chama metileno.

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10.3- Carbenos
• Nos carbenos, o átomo de carbono tem 6 elétrons na camada de
valência, com hibridação sp2 e um orbital p não hibridado e com
geometria trigonal – é chamado carbeno singleto.

• O par de elétrons não compartilhado encontra-se no orbital sp2 e


o orbital p está vazio, portanto o carbeno pode reagir tanto como
nucleófilo ou como eletrófilo.
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10.3- Carbenos
• Existe um outro tipo de carbeno – chamado carbeno tripleto,
onde os elétrons encontram-se desemparelhados, um no orbital
sp2 e outro no orbital p.

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10.3- Carbenos
➢ Estrutura dos Carbenos:
• Uma forma de gerar carbenos é formar um carbânion que em
seguida elimina um íon haleto.

Exemplo: a partir do tribromometano e na presença de uma


base forte gera-se um carbânion estabilizado por indução. Este
elimina o íon brometo para formar o dibromocarbeno:

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10.3- Carbenos
➢ Reatividade:
• A reação mais comum dos carbenos é a adição a ligações duplas
para formar ciclopropanos, quando é singleto tem retenção de
configuração, quando é tripleto não:

• Os carbenos simples não são isoláveis nem são preparados em


grandes concentrações, porque se dimerizam imediatamente para
formar um alqueno:

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10.4- Resumindo

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