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1 Introdução
Comecemos com uma breve enunciado de nosso problema: Dada uma curva de Jordan Γ ⊂
Rn , que superfı́cie ⊂ Rn , possuindo Γ como fronteira, tem área mı́nima? Por exemplo, se nossa
curva Γ for planar, então é imediato que a superfı́cie procurada será a parte do plano delimitada
por Γ. Neste ponto surgem algumas perguntas: Será que sempre existe tal superfı́cie? Caso não,
quais condições sobre Γ temos que ter para que sempre possamos achar essa solução? O presente
trabalho se retrigirá a mostrar que tal solução existe quando colocamos certas restrições sobre a
curva Γ.
J. Plateau foi um fı́sico belga, que dentre seus inúmeros experimentos está um que inspirou
os matemáticos a trabalhar com o problema tratado neste trabalho: ele mostrou que pelas
leis da tensão superficial a membrana de sabão formada pelo mergulho de um arame em uma
solução de sabão representava uma superfı́cie que era estável com relação a área, ou seja, mesmo
quando submetida a leves deformações a membrana voltava a seu estado original. Coube aos
matemáticos ’traduzir’ tal problema para a linguagem matemática. A primeira solução real para
o problema só foi dada em 1930 por Jessie Douglas e T. Rado em trabalhos independentes. A
solução abordada aqui é devido a Douglas.
3 Como enunciar?
Inicialmente, talvez esse tenha sido o grande problema: Como enuciar o problema de Plateau
de uma forma apropriada? Será que o enunciado dado na apresentação basta, ou será que temos
que fazer outra formulação? Todas essas questões pairavam sobre o problema de Plateau. Então,
vamos formular nosso problema como segue. Seja Γ uma curva de Jordan (i.e.,um subconjunto
homeomorfo ao cı́rculo) e ∆ = {(x, y); x2 + y 2 ≤ 1}. Um mapeamento Ψ : ∆ → Rn é dito C 1
por partes se ele é contı́nuo e se, exceto ao longo de ∂∆ e de um número finito de arcos e pontos
de ∆0 , Ψ é de classe C 1 . Um mapeamento contı́nuo b : ∂∆ → Γ é dito monótono se para cada
1
p ∈ Γ, o conjunto b−1 (p) é conexo. Definimos então o conjunto XΓ = {Ψ : ∆ → Rn ; Ψ é C 1 por
partes e Ψ|∂∆ é uma parametrização monótona de Γ}. Em outras palavras, Γ é nosso arame e
XΓ é nosso conjunto de membranas de sabão que concorrem para ver quem a possui a menor
área entre todas as demais. Para isso precisamos definir a função área. Esta será o seguinte
funcional linear A : XΓ → R+ ∪ {∞}
R R
A(Ψ) = ∆ |Ψx ∧ Ψy |dxdy
Nosso problema então resumi-se a achar Ψ ∈ XΓ tal que A(Ψ) = aΓ , onde aΓ = infΨ∈XΓ A(Ψ).
Podemos então enunciar nosso teorema assim:
Teorema 1. Seja Γ uma curva de Jordan em Rn tal que aΓ < ∞. Então existe um mapeamento
contı́nuo Ψ : ∆ → Rn tal que
3. A(Ψ) = aΓ .
Essa proposição nos dá a possibilidade de trabalhar com funções harmônicas, que devido às
suas inúmeras propriedades, teremos uma tarefa menos árdua para provar o Teorema 1. Além do
mais, a quantidade de ”membranas de sabão”com que temos que trabalhar diminuiu, pois o que
os conjuntos Xb fazem é dividir em classes XΓ , onde para cada classe Xb temos um representante
que minimiza a energia. Basta, então, procurar nossa membrana entre os Ψb ’s.
Antes de provarmos o Princı́pio de Dirichilet, mostremos a relação entre aΓ e dΓ .
2
Energia
4.1 Área =
2
dΓ
Como o enunciado da subseção já informa, vamos provar que aΓ = .
2
Prova.
3
Lema 1. Seja {un } uma sequência de funções harmônicas em ∆ convergindo para uma função
harmônica u uniformemente sobre compactos de ∆0 . Então
D(u) ≤ lim inf n D(un )
Prova.
4
5 Diminuindo ainda mais a quantidade de membranas de
sabão
É sabido que por transformações conformes do disco é possı́vel mapear quaisquer 3 pontos de
∂∆ em quaisquer outros três pontos distintos de ∂∆. Além do mais, tendo prescrito a imagem
dos três pontos, a tranformação está unicamente determinada. Normalizemos, então, nossas
superfı́cies. Escolhemos três pontos distintos p1 , p2 , p3 de Γ e três pontos distintos z1 , z2 , z3 de
∂∆. Definimos, então o seguinte conjunto.
XΓ0 = {Ψ ∈ XΓ ; Ψ(zk ) = pk }
Como a integral de Dirichlet é invariante por transformações conformes do Disco, segue que
inf D(Ψ); Ψ ∈ XΓ0 = dΓ . Ou seja, dimuı́mos ainda mais a classe de funções com que temos que
trabalhar. Mais com uma vantagem ainda maior, para essa classe de funções temos a seguinte
proposição.
Antes de mostrar a prova da Proposição 2, mostremos como ela resolve nosso problema:
Seja bn uma sequência de = tal que lim dbn = dΓ . Pela proposição 2, existe uma subsequência
{bnj }que converge uniformemente para um b ∈ =. Pelo Lema 1,
Prova da proposição 2.
Seja Ψ ∈ XΓ tal que D(Ψ) ≤ M . Para cada z ∈ R2 e cada r > 0 nós definimos Cr como
sendo ∂B(z, r) ∩ ∆, e denotamos por s o comprimento de arco sobre Cr . Através de uma conta
técnica, é possı́vel
√ mostrar que para cada δ < 1 positivo, existe um número r (dependendo de
Ψ) com δ ≤ r ≤ δ tal que
R (δ)
Cr
|Ψs |2 ds ≤ ,
r
onde
2M
(δ) = .
ln 1δ
5
Usando esse fato e a desigualdade de Cauchy-Schwarz, temos
p
l(Cr ) ≤ 2π(δ), (5.1)
R
onde l(Cr ) = Cr |Ψs |ds, que é o comprimento da curva Ψ|Cr .
Usaremos (5.1) junto com a geometria de Γ para estabelecer a equicontinuidade de =. De
fato, seja e > 0 dado. Por um argumento topológico, sabemos que existe d > 0 tal que para
todo p, p0 ∈ Γ com 0 < |p − p0 | < d, uma 0
p das componentes de Γ − {p, p } possui diâmetro menor√
que e. Então tomemos δ < 1 tal que 2π(δ) < d e de tal forma que ∀z ∈ ∂∆, |z − zk | > δ
para no mı́niom dois entre z1 , z2 , z3 . Assuma, wlog, √ que e ≤ mini6=j {|pi − pj |}. Mas sabemos
que para qualquer z ∈ ∂∆, existe r com δ ≤ r ≤ δ tal que l(Cr ) < d. A fronteira do disco
está então dividida por Cr em dois arcos: um menor ,A, contendo z, e seu complementar,A0 ,
contendo dois dos pontos z1 , z2 , z3 . Os arcos correspondentes em Γ são A, A0 , um dos quais tem
diâmentro menor que e, pois l(Cr ) < d. contudo, como A0 contém no mı́nimo dois dos pontos
p1 , p2 , p3 , Diam(A0 ) > e. Então Diam(A) < e. Logo, para |z − z 0 | < δ em ∂∆, temos