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Matéria: Leituras Brasileiras.

Professoras: Mariza Velozo e Angélica Madeira.

Aluno: Ricardo Zarratea Herreros.

Elementos comuns entre Raízes do Brasil de Sergio Buarque de Holanda e Hijo de


Hombre de Augusto Roa Bastos

No trabalho monumental que escreveu sobre o caráter do descobrimento e conquista


da América pelos europeus, Georg Friederici teve estas palavras acerca da ação das
bandeiras: "Os descobridores, exploradores, conquistadores do interior do Brasil não
foram os portugueses, mas os brasileiros de puro sangue branco e muito especialmente
brasileiros mestiços, mamalucos. E também, unidos a eles, os primitivos indígenas da
terra. Todo o vasto sertão do Brasil foi descoberto e revelado à Europa, não por
europeus, mas por americanos"
Sergio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil

A obra de Sergio Buarque de Holanda, pertence a um gênero característico na tradição


acadêmica brasileira. Tendo-se desenvolvido no período modernista, o ensaio histórico-
sociológico: nele se esquadrinha, sínteses são tentadas, são procuradas explicações da
cultura brasileira, sempre no terreno sincrético e predileto do "ponto de vista" não
especializado, um gênero misto, construído na confluência da criação literária e da
pesquisa científica, forma original de investigação e descoberta do Brasil.

Raízes do Brasil é um exercício de análise da psicologia e da história social. Nele,


Buarque de Holanda demonstra um aguçado sentido das estruturas, ligando o
conhecimento do passado aos problemas do (naquela época) presente, de uma maneira
dissonante com interpretações que colocam a "raça" no centro; especialmente quando
olhamos para seu antecessor Gilberto Freyre na sua obra Casagrande e Senzala.

Entre as propostas mais marcantes empreendidas pela Holanda, neste trabalho, está a
ideia de que a evolução brasileira ocorreria deixando para trás a “herança ibérica.” Além
disso, é correto dizer que o autor criticou o autoritarismo presente na história do país,
projetando um futuro mais moderno, livre de patrimonialismo e com uma verdadeira
democracia.

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O conceito do homem cordial

Em Raízes do Brasil, Holanda lançou um conceito que se tornaria central na história do


pensamento sociológico e na identidade do brasileiro: o “Homem Cordial.”

Em geral, o homem cordial seria o retrato mais fiel do brasileiro. De origem patriarcal
(o pai como titular do direito à vida e à morte) e de herança rural com fortes influências
portuguesas, este seria um homem dominado pelo coração, isto é, muito afável por um
lado, mas por outro também muito impulsivo e às vezes até violento.

Desse ponto de vista, a velocidade com que os brasileiros passam de amigáveis a hostis
seria uma das características mais fortes do povo brasileiro.

Na interpretação de Antonio Candido, “o homem cordial não pressupõe gentileza, mas


apenas o predomínio de comportamentos de aspecto afetivo, inclusive suas
manifestações externas, não necessariamente sinceras ou profundas, que se opõem aos
ritualismos da cortesia. O homem cordial é visceralmente inadequado às relações
impessoais que decorrem da posição e função do indivíduo, e não da sua marca pessoal
e familiar, das afinidades nascidas na intimidade dos grupos primários.1”

A não distinção entre a esfera pública e a privada também seria uma forte característica
do homem cordial. As relações - de bondade apenas aparente veriam do permanente
“desejo de estabelecer intimidade” -, seja no bairro ou no trabalho, não consideraria as
fronteiras entre a vida na família e da rua.

A exaltação dos valores cordiais e das formas concretas e sensíveis da religião, que no
catolicismo tridentino parecem representar uma exigência do esforço de reconquista
espiritual e da propaganda da fé perante a ofensiva da Reforma, encontraram entre nós
um terreno de eleição e acomodaram-se bem a outros aspectos típicos de nosso
comportamento social. Em particular a nossa aversão ao ritualismo é explicável, até
certo ponto, nesta “terra remissa e algo melancólica”, de que falavam os primeiros
observadores europeus, por isto que, no fundo, o ritualismo não nos é necessário.
(Holanda, 1936; p. 182).
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Nosso velho catolicismo, tão característico, que permite tratar os santos com uma intimidade quase
desrespeitosa e que deve parecer estranho às almas verdadeiramente religiosas, provém ainda dos mesmos
motivos. A popularidade, entre nós, de uma santa Teresa de Lisieux — santa Teresinha — resulta muito
do caráter intimista que pode adquirir seu culto, culto amável e quase fraterno, que se acomoda mal às
cerimônias e suprime as distâncias. É o que também ocorreu com o nosso Menino Jesus, companheiro de
brinquedo das crianças e que faz pensar menos no Jesus dos evangelhos canônicos do que no de certos
apócrifos, principalmente as diversas redações do Evangelho da Infância-

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Em suma, ao publicar a obra, Sérgio Buarque de Holanda pensava no passado brasileiro
e na então contemporaneidade, mas também tinha a ambição de projetar o futuro. Ele
acreditava que com o processo de urbanização, o homem cordial estaria condenado ao
desaparecimento. A radicalização da democracia e a inclusão social deveriam ser,
segundo o pensador, os grandes pilares do futuro do Brasil.

Porém, é fácil supor que ao delinear a figura do "homem cordial", Buarque de Holanda
não só tinha em mente características da sociedade e da cultura brasileira, mas também
antes, um repertório de ideias de tenor continental. Na verdade, as qualidades que
definem no livro ao homem cordial pode se estender a toda a região, entre elas: o medo
de a constituição de uma individualidade plena que reduz a existência a viver nos
outros, marcações na fala, especialmente o uso de diminutivos, a importância dos afetos
como mediadores de relações públicas, a prática de um culto religioso íntimo e família
que também cria proximidade com os santos através do uso de diminutivos.

Portanto, resulta interessante a possibilidade de apostar na necessária, e porque não


dizer a urgente, aproximação e o diálogo entre matrizes e tradições de pensamento das
duas Américas da Península Ibérica, intercâmbio de onde podem surgir pistas que
ajudem a interpretar e compreender as realidades que se cruzam e compartilham
problemáticas, por exemplo, nas formas como a violência se enraíza em nossos países,
na persistência de padrões tradicionais, bem como o aparecimento dos novos "homens
cordiais" que dominam o cenário político e econômico.

No caso do relacionamento entre o Paraguai e Brasil, trata-se no só das duas Américas


com herança Ibérica comum, mas que também compartilham a herança Tupi-Gurani. Na
história de ambas as nações tem se dado um fenómeno análogo que até poderíamos,
com certa liberdade, idêntico.

Temos tentado abordar a questão num trabalho anterior, mas queremos acrescentar,
sobre importância da língua geral no só como um instrumento utilizado na comunicação
numa determinada época histórica, mas como elemento essencial na configuração
histórica do Brasil. Nas palavras de Buarque de Holanada: Note-se que essa influência
da língua-geral no vocabulário, na prosódia e até nos usos sintáxicos de nossa
população rural não deixava de exercer-se ainda quando os indígenas utilizados
fossem estranhos à grande família tupi-guarani: o caso dos bororos e sobre tudo o dos
parecis, que no São Paulo do século XVIII tiveram papel em tudo comparável ao dos

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carijós na era seiscentista, a era por excelência das bandeiras. É que, domesticados e
catequizados de ordinário na língua-geral da costa, não se entendiam com os senhores
em outro idioma.

Poderíamos dizer que a conquista e a ocupação da maior parte do imenso território


brasileiro, foi feita não por os portugueses, mas por pessoas nascidas em solo
americano, falantes de uma língua de origem também americanos. Mesmo tendo
presente o componente Ibérico.

Sabemos que a expansão bandeirante deveu seu impulso inicial sobretudo à carência,
em São Paulo, de braços para a lavoura ou antes à falta de recursos econômicos que
permitissem à maioria dos lavradores socorrer-se da mão-de-obra africana. Falta de
recursos que provinha, por sua vez, da falta de comunicações fáceis ou rápidas dos
centros produtores mais férteis, se não mais extensos, situados no planalto, com os
grandes mercados consumidores de além-mar.

Tema central da análise de Buarque de Holandaé, segundo ele, a contradição


característica para o Brasil entre as relações pessoais e as relações de poder criadas a
partir delas, por um lado, e as relações definidas e reguladas por uma ordem e legislação
estadual objetivo, por outro. Ambos os pedidos exigem e forjam indivíduos
absolutamente diferentes e, consequentemente, também completamente subjetividades
diferente, termo que não encontramos em Buarque de Holanda, mas que hoje é familiar
para nós. No entanto, dado que a realidade social do Brasil é marcada acima de tudo
pelas relações pessoais, mantendo o ao mesmo tempo, a ordem oficial do estado e suas
leis relativamente inoperantes e impotente, a individualidade brasileira é determinada
sobretudo pelas dependências pessoais que devem ser criadas na frente de outras
pessoas e dentro do qual ele se desenvolve. O que suaviza - poderia ser dito assim em
forma figurativa - aquelas relações pessoais de poder e não regulamentadas por leis
objetivo, é a cordialidade. O indivíduo que se conforma a tal sociedade é o homem
cordial. Isso de forma alguma se refere a a algum tipo de predisposição "natural", mas
antes o oposto, a um comportamento gerado por circunstâncias históricas e sociais que
visa fingindo ser natural ou tentando parecer natural, como Sérgio Buarque de Holanda
redefine o homem cordial de Riberiro Couto (1932). Para ele, o homem cordial da
América é - principalmente no Brasil - uma contribuição da América Latina para a

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civilização, alinhando-se assim com outras propostas daqueles anos para transformar a
América Latina em “Exportador” de civilização e não apenas de matérias-primas.

O paraguaio cordial

Esto nos ha valido a los itapeños el mote de fanáticos y de herejes.


Pero la gente de aquel tiempo seguía yendo año tras año al cerro a desclavar el
Cristo y pasearlo por el pueblo como a una víctima a quien debían vengar y no como a
un Dios que había querido morir por los hombres.
Augusto Roa Bastos. Hijo de Hombre

Embora seja impossível referir-se aqui com detalhes à história do Paraguai, é necessário
assinalar alguns aspectos imprescindíveis para explicar nossa hipótese sobre Hijo de
hombre. Como assinala Justo Pastor Benítez existe em todo o povo paraguaio, no que
ele chama sua memória social, um arraigado sentimento de orgulho com relação a seu
passado.

Com' efeito, há uma série de fatos na História do Paraguai sobre os quais este orgulho
do passado se fundamenta: Assunção foi a primeira cidade fundada pelos espanhóis na
zona: daí partiram as correntes colonizadoras que fundariam Buenos Aires pela segunda
vez, Santa Fé, Comentes. Foi o centro da Província Gigante das índias; conta em seu
passado com a revolução dos "comuneros", os quais reivindicaram o poder do povo
antes da Independência dos Estados Unidos da América e da Revolução Francesa.
Contudo, tendo sido a última fronteira do império espanhol, o sociedade paraguaia tem
se desenvolvido em longos períodos de isolamento, o que contribuiu para o predomínio
das relações sócias baseadas na proximidade familiar ou amistosa por sobre as formas
institucionanais.

Hijo de Hombre. A religiosidade popular

Faz parte da técnica de Roa Bastos utilizar grande quantidade de símbolos, tanto
cristãos quanto sociais. Esses símbolos vão frequentemente acompanhados por alegorias
da vida e paixão de Cristo, e aqui será principalmente sobre interpretar os símbolos e
desenhar as alegorias à sua origem para descobrir o sentido que parece mais próximo da
intenção do autor. Não é, portanto, a interpretação tradicional de um romance, uma
caracterização de seus personagens principais ou da discussão do novo enredo, a menos
que tenha sido necessário para o propósito principal deste ensaio. Seu propósito é

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melhor chegar à essência espiritual desta obra, através da interpretação de seus
símbolos.

A religião cristã, tal como entendida pelo povo paraguaio neste romance, um povo de
"deserdados e aflitos", é baseada no conceito de que Cristo é o Filho do Homem. O
raciocínio do narrador do romance é muito simples: "Ou ele era Deus e então não podia
morrer. Ou era homem, mas então, seu sangue inicialmente caiu sobre suas cabeças sem
redimi-los, já que as coisas só mudaram para pior." A crença de que ele é um homem
acima de tudo os faz ver Cristo "como a uma vítima que deve ser vingada, não a um
Deus que quis morrer por eles”. O próprio Roa Bastos declara que “o Cristo Leproso
simboliza, num plano especificamente humano, a crucificação do homem comum na
busca de solidariedade para com seus semelhantes.” Aqui está o cerne do problema, a
busca pela solidariedade: A história de Cristo Leproso é o símbolo usado para
demonstrar isso.

A imagem do Cristo Leproso foi esculpida por Gaspar Mora. Ele, ao descobrir que está
com lepra, deixa sua aldeia e foge para o monte de modo a não infectar seus vizinhos.
Mora faz a imagem para superar a solidão, da qual sofre mais do que a própria doença.
Como apenas tem algumas ferramentas primitivas, e como a escultura é deixada sem
verniz, as manchas na madeira fazem com que realmente pareça um leproso. Esta
imagem simboliza, portanto, o sacrifício de Mora, que por impulso de caridade se impõe
voluntariamente ao isolamento.

O fato de o Cristo se parecer com um leproso expressa a solidariedade de seu criador


com os seres humildes e infelizes da raça humana e, simbolicamente, com todos os
"deserdados e aflitos", neste caso os índios paraguaios. Não é surpreendente, então, que
a imagem esculpida por Mora seja a favorita dos índios, que veem nela um irmão,
alguém nascido em sua cidade, com espírito de sacrifício e caridade, manifestando
assim a máxima solidariedade com os suas aflições. Nem é surpreendente que a crença
em um redentor esfarrapado como eles e, como eles, era continuamente zombado e
morto, já que o mundo era mundo. Uma crença o que por si só significava uma inversão
da fé, uma tentativa permanente da insurreição.

A história de Mora sugere levemente uma possível alegoria do que se sabe sobre Maria
e José. Mora era carpinteira, e também ele construiu instrumentos musicais. Ele
trabalhava com madeira, como São José, e o velho Macário acredita firmemente que

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morreu virgem. De vinham buscar seus instrumentos e pagaram o que ele pedia. Não era
avaro. Deixava apenas o suficiente para comprar seus materiais e ferramentas.
Distribuía o resto entre aqueles que tinham menos. Perdoava as dívidas dos fazendeiros
a quem o fogo, o granizo ou gafanhotos suas plantações tinham-nas tornado
inúteis.Comprava roupas e ajudas para viúvas e órfãos. Ele ensinava o ofício para
aqueles que queriam aprender. Ele também construiu a escolinha e esculpiu as treliças.
Quando ele começava a tocar violão, "as pessoas deitavam nas pastagens". Sua música
chegava diretamente aos corações daqueles que a ouvíam, e essa música ainda foi
ouvida mesmo depois do falecido Gaspar. "No silêncio da noite quando eles acenaram
as faíscas azuis dos muas, começamos a ouvir o violão baixinho que parecia enterrado,
ou como se a memória do som viesse à tona em nós sob a influência do velho Macário.”
Mora, pura emanação de um espírito puro, sobrevive em outros, "porque o homem,
meus filhos..., tem dois nascimentos. Um ao nascer, outro ao morrer ... morre mas
permanece vivo nos outros, se tiver sido minucioso com o vizinho. E se ele sabe se
esquecer de si mesmo na vida, a terra come seu corpo, mas não sua memória ... ” Esta
vida na memória de o outro é, simbolicamente, no caso de Gaspar Mora, a música que
continua a soar no coração dos homens, e seu "filho", a imagem do Cristo leproso. Este
é o verdadeiro testamento do "homem justo", símbolo de solidariedade com os aflitos, e
seu evangelho que soa como música nos corações, e os amolece e fortalece ao mesmo
tempo.

Tal religião da humanidade, a ideia cristã, é assim projetada, em um plano


especificamente humano, na figura de Gaspar Mora.

Deve ser enfatizado que é um Cristianismo puro, como é vivido na alma de um homem
simples, e isso de certa forma colide com o que é pregado a partir do púlpito. Em outras
palavras, ocorre uma separação cristianismo-igreja, outra manifestação de dualismo tão
significativa ao longo deste romance.

O bilinguismo em Hijo de Hombre

Na literatura paraguaia há dois elementos que são importantes para a localização de


Hijo de hombre: o caráter histórico (predominância de ensaístas sobre romancistas) e a
tendência majoritária à idealização do passado. Os historiadores da literatura paraguaia
muitas vezes se perguntaram pelas causas destas características e, com respeito a este
problema Hugo Rodríguez Alcalá assinala que a causa está nas particularidades da

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história paraguaia, em seu passado, e faz uma comparação com a literatura sulista norte-
americana posterior à Guerra de Secessão. Conforme esta tese, todo povo derrotado
necessita reivindicar seu passado, desenvolver um sentido nacionalista, um grande afã
de reinvindicação.

O outro elemento é uso do espanhol e do guarani na narrativa, embora uma língua


predomine sobre a outra.

Ainda no romance de Roa Bastos, várias dicotomias estão presentes. Mas poderíamos
dizer que o primeiro e o que dá origem aos outros é a dicotomia entre o espanhol e o
guarani.

Vários estudiosos argumentam que, na realidade, uma forma de bilinguismo chamada


diglossia predomina no Paraguai, em que uma das línguas goza de prestígio ou
privilégios sociais ou políticos superiores.

Além dessa realidade social, observemos se a narrativa magistralmente construída por


Roa corresponde a ela. Em uma primeira abordagem, o leitor poderá perceber que o
espanhol está ganhando espaço sobre o guarani, principalmente porque o narrador
principal e falso autor, Miguel Vera, decidiu contar a história nessa língua. Essa escolha
poderia nos levar a pensar que o fenômeno da diglossia se repete em Hijo de Hombre e
que a escolha de uma língua significaria o desprezo da outra. No entanto, consideramos
que esta hipótese não seria correta.

É verdade que o autor privilegia o espanhol em detrimento do guarani como língua


literária, inclusive por motivos de origem social e cultural. No entanto, se observarmos
os "usos" dados a cada idioma, diferenças notáveis são óbvias.

O castelhano está carregado com a dor da conquista, dos maus tratos das oligarquias,
das falsas promessas de progresso: por isso se mostra como uma linguagem literária,
mas não como um instrumento que retrata a cor das paisagens, a história do povo, a
força da natureza, a sede, o medo ou a dor dos personagens. Pelo menos é o que o
narrador do romance parece considerar, pois narra a história em espanhol, mas reserva o
guarani para a descrição do belo, do fantástico e do maravilhoso, tarefa que uma
linguagem com alta carga simbólica e bagagem mítica consegue realizar.

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O mesmo narrador, Miguel Vera, num trecho do romance entende a capacidade do
guarani de expressar o mítico:

Lo escuchábamos con escalofríos. Y sus silencios hablaban tanto como sus palabras. El
aire de aquella época inescrutable nos sapecaba la cara a través de la boca del
anciano. Siempre hablaba en guaraní. El dejo suave de la lengua india tornaba
apacible el horror, lo metía en la sangre. Ecos de otros ecos. Sombras de sombras.
Reflejos de reflejos. No la verdad tal vez de los hechos, pero sí su encantamiento.

O espanhol conta a história, mas o guarani dá-lhe cor e a enche de significado. Isso se
reflete, por exemplo, no uso de apelidos atribuídos aos personagens. Esses apelidos
atuam como um acréscimo de significado que o uso simples do castelhano não consegue
expressar.

O ditador França não é apenas evocado como "O Supremo", mas precisamente Karai
Guasu, termo que pode ser traduzido como "grande senhor", "homem principal". A
expressão guarani aumenta o significado do espanhol e contribui para uma descrição
mais precisa do personagem.

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Referências Bibliográficas

CANDIDO, Antonio. O significado de Raízes do Brasil. In: HOLANDA, Sérgio


Buarque. Raízes do Brasil. 27ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Edição crítica. 1936. São Paulo:
Companhia das Letras, 2016.

ROA Bastos, Augusto. Hijo de hombre, 2° edición. Buenos Aires. Editorial Losada, S.
A., 1961.

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