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Pessoalmente não gosto muito do nós quando utilizado como plural de modéstia
(também conhecido como majestático). Soa falso e parece artificial.
Não vejo muito sentido em dizer: fizemos um grande esforço para estar aqui. Seria
mais natural e, provavelmente, pareceria mais verdadeiro se fosse dito: fiz um grande
esforço para estar aqui - desde que, evidentemente, a pessoa não tivesse ido mesmo
acompanhada, ou não estivesse falando em nome de um grupo.
Entretanto, há situações em que o nós aparece como uma palavrinha mágica na
comunicação, e pode ser o detalhe que fará a diferença para que os ouvintes sejam
conquistados.
Quando ensinamos, aconselhamos ou fazemos sugestões aos ouvintes, o nós tem o
poder de afastar resistências desnecessárias. É como se o orador estivesse se incluindo no
grupo para receber a mensagem, isto é, ele aconselha, mas ao mesmo tempo é
aconselhado; ensina, mas, ao mesmo tempo, recebe os ensinamentos.
Seria diferente se ele usasse o vocês no lugar do nós, pois, se assim o fizesse,
passaria a impressão de que era o único a saber como agir e que os outros, aqueles que
recebem suas informações, são despreparados ou desinformados. Ergueria, dessa forma,
uma barreira diante dos ouvintes, dificultando sua conquista.
Observe que, ao orientar sobre os benefícios da palavra nós, tive o cuidado de usar o
pronome no plural, pois estava ensinando e, portanto, conforme sugestão da regra, deveria
me incluir no aprendizado, mesmo escrevendo, situação em que o "eu" talvez não produza
as mesmas barreiras que são levantadas quando a comunicação é oral. Todavia, agora, no
momento de dar essa explicação, usei o eu, coerente com a crítica inicial sobre o plural de
modéstia.
Se, apesar dessas reflexões, você concluir que deverá continuar usando o nós como
plural de modéstia, vá em frente, e saiba que estará acompanhado de muitos autores. Mas,
de vez em quando, volte a pensar sobre o assunto e quem sabe uma hora passe a concordar
comigo e mude a maneira de se expressar: "nós nos sentiremos muito honrado".
Não estranhe. Não se trata de erro de concordância. Neste tipo de construção, o
pronome é empregado no plural (nós), mesmo se tratando de uma só pessoa. O verbo
acompanha, faz a concordância com o sujeito e é flexionado (sentiremos). Entretanto, como
se trata de uma só pessoa, o predicativo, neste caso o adjetivo, continua no singular
(honrado).
Você agüenta essa conversa em pleno século 21? Nós não...Ops!
Cumprimente com simpatia
Cumprimentar todo mundo cumprimenta. Dificilmente alguém
começaria a falar diante de um grupo de pessoas sem utilizar o
vocativo, isto é, sem cumprimentar.
Entretanto, há cumprimentos e ... cumprimentos. Alguns
cumprimentam só por cumprimentar, para cumprir uma obrigação,
um ritual. Outros, ao contrário, cumprimentam demonstrando vontade
de cumprimentar, procurando ser gentis, amáveis, amigos.
O vocativo, o cumprimento, cumpre dois objetivos: um é o de chamar
a atenção dos ouvintes para a presença daquele que irá falar - por
exemplo, em uma festa, quando alguém diz "pessoal", para iniciar um brinde em homenagem
a uma pessoa, mais do que um cumprimento ele está querendo chamar a atenção para a
sua presença e informar que começará a falar; o outro é o de cumprimentar mesmo os
ouvintes.
O cumprimento faz parte da introdução da fala, que tem como função conquistar os
ouvintes, fazer com que as pessoas torçam pelo sucesso daquele que está falando, sintam
simpatia por ele, tenham interesse e prestem atenção na sua mensagem, e se desarmem de
possíveis resistências que possam ter com relação à sua pessoa, ao assunto que irá
abordar, ou ainda ao ambiente onde se encontram, por causa de
desconfortos ou preocupação com compromissos que precisem cumprir -
enfim, são as informações que servem para conquistar os ouvintes.
Como o cumprimento faz parte da introdução, podemos deduzir
que o seu objetivo também é o de participar do processo de conquista
dos ouvintes.
Fique atento à formalidade e à precedência
O cumprimento deve corresponder sempre à formalidade da
circunstância. Desde situações mais formais, quando se cumprimenta
dizendo "Senhoras, Senhores", até às situações informais, quando o
cumprimento é feito com um simples "olá". Por sinal, esse cumprimento -
"Senhoras e Senhores" - resolve praticamente quase todas as situações.
As mulheres têm a precedência, isto é, devem ser
cumprimentadas antes - "Senhoras, Senhores" -, a não ser que façam parte de uma mesa
diretora, ou de honra, pois, nesta circunstância, a precedência obedece à posição hierárquica
e não ao fato de serem mulheres. Por exemplo, se em uma solenidade estivessem sentados
à mesa de honra o presidente da república e a ministra, o presidente, por ser a pessoa mais
importante, deveria ser cumprimentado antes, e não a ministra, pela razão de ser mulher.
Devemos iniciar cumprimentando as pessoas mais importantes até chegar às pessoas
de menor importância.
Fique muito atento a esse detalhe, pois já tive conhecimento de conflitos políticos e
inimizades que surgiram porque o orador não cumprimentou o componente da mesa ou
citou-o na seqüência inadequada.
Cuidado para não perder o interesse dos ouvintes cumprimentando um por um todos
os componentes de uma mesa numerosa. Quando o protocolo não exigir que todas as
pessoas sejam cumprimentadas, há algumas saídas boas para contornar a situação. Por
exemplo, "autoridades que compõem a mesa de honra". Quando, entretanto, estiver presente
alguma autoridade, ou figura ilustre, que não possa deixar de ser citada, a solução poderia
ser esta: "Excelentíssimo Senhor Governador Gabriel Roberto de Figueiredo, e, ao
cumprimentá-lo, quero estender os cumprimentos a todos os componentes da mesa.
Senhoras, Senhores". Assim, a autoridade máxima é cumprimentada e não se consome
tempo com os intermináveis cumprimentos ao enorme batalhão que também está à mesa.
Algumas reuniões são realizadas apenas com objetivos políticos para promoção
pessoal. As pessoas não comparecem a eventos dessa natureza por causa dos assuntos
que serão tratados, mas sim com o objetivo de aparecer diante daquela comunidade e ouvir
o próprio nome ser pronunciado em público.
Nessas circunstâncias, não tenha tanta preocupação com a mensagem, mas tome
cuidado para não se esquecer de mencionar o nome de todos os que estiverem sentados à
mesa, e em alguns casos até daqueles que estejam na platéia. De conteúdo você fala
nadinha, mas todos ficam felizes com seu desempenho.
É quase uma hipocrisia? Também acho, mas é assim mesmo. Ou você não
comparece quando souber que a reunião tem essa finalidade e preserva seus princípios, ou
comparece e reza a cartilha, pois querer passar mensagem com conteúdo profundo nessas
circunstâncias é o mesmo que pregar no deserto, sem ter ao menos um camelo como
ouvinte.
Saia da mesmice
E para encerrar...
E, para encerrar, evite usar o "era isso o que tinha para dizer, muito obrigado". Esse
tipo de conclusão é muito frágil e inconsistente. Aproveite as últimas palavras para deixar
uma mensagem forte que leve os ouvintes a agir ou a refletir de acordo com a mensagem
que você acabou de transmitir.
Se, na conclusão, perceber que, por não saber mais o que falar, está tentado a
encerrar com alguma informação, faça uma pausa, olhe bem para os ouvintes e use uma
expressão que naturalmente leve a um bom final, como, por exemplo, assim sendo, desta
forma, com isso, portanto, assim, eu espero... Você verá que, ao usar uma dessas
expressões, encontrará uma frase mais apropriada para o conteúdo da mensagem, com
maior chance de levar os ouvintes à reflexão ou à ação.
Evite retomar os argumentos no final da apresentação, mesmo que perceba que os
esqueceu antes de encerrar. Esse não é o momento para argumentar e sim o instante de
usar mensagens que possam tocar a emoção dos ouvintes. Por mais importante que seja o
argumento, evite utilizá-lo na conclusão, pois, ao concluir, a emoção quase sempre terá mais
força do que a razão. E mais: se o argumento fosse assim tão importante, provavelmente
você não o teria esquecido.
Observe sempre os detalhes e utilize-os de maneira diligente para que possam fazer a
diferença positiva para suas apresentações.
Você verificou que, nos exemplos que estudamos, cada um dos detalhes analisados,
quando visto de maneira isolada e de forma apressada, pode parecer até insignificante, mas
é cada um deles e outros que às vezes nos escapam que transformam as mensagens,
fazendo que no final elas possam ou não conquistar os ouvintes.
Faça desses exemplos um ponto de partida para ampliar o seu campo de observação.
Analise quais são os detalhes que fazem a diferença nos grandes comunicadores. Eles estão
a nossa volta - artistas de televisão, de teatro, humoristas, pessoas que provocam admiração
nas conversas do dia-a-dia, professores, enfim, todos aqueles que fazem sucesso com sua
comunicação. Lógico que não é para copiá-los, pois o estilo é de cada um, mas sim para ter
cada vez mais certeza de que os bons comunicadores são formados a partir da valorização
dos pequenos detalhes.
Reinaldo Polito
Revista Vencer nº 29