Você está na página 1de 95

Doutrina

Cristã Ortodoxa
 
(Baseada nos ensinamentos da teologia Ortodoxa)

I. A Fé Crista Ortodoxa
 Conteúdo:

Introdução.

A Revelação Divina.

A Sagrada Tradição e as Sagradas Escrituras.

As Partes Gerais da Doutrina Cristã Ortodoxa.

A "Profissão de Fé Ortodoxa."

As Partes Integrantes do "Credo"

Deus em geral e o Deus Pai — a Primeira Pessoa da Santíssima


Trindade.

Sobre o Sinal da Santa Cruz.

Sobre Deus.

Sobre a Criação do Mundo, Os Anjos e Satanás.

Sobre o Homem, o Paraíso e o Pecado dos Primeiros Homens.

Sobre o Destino, a Graça, e a Providência Divina.

A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade — O Filho de Deus.

A encarnação do Filho de Deus.

A Terra Santa.

Jesus-Messias.

Os padecimentos e a morte de nosso Senhor.

A ressurreição de Jesus Cristo.

E subiu aos Céus e sentou-se à direita do Pai.

A segunda vinda de nosso Senhor à terra.

A Terceira Pessoa da Santíssima Trindade — O Espírito Santo.


Introdução

"Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas
boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos Céus" (S. Mateus: 5:16).

"Conserva a modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e na


caridade que há em Jesus Cristo" (2 Tim: 1:13).

1. O que denominamos "A Doutrina Cristã?"

Denominamos "Doutrina Crista, a ciência que trata da fé cristã Ortodoxa,


ministrada a todo cristão, com o objetivo de instrução no caminho que deve
trilhar, para bem servir a Deus e conseguir a salvação da alma.

2. O que devemos fazer para bem servir a Deus e conseguir a salvação eterna?

A fim de bem servir a Deus e conseguir a salvação eterna, devemos:

1. Conhecer o Deus verdadeiro;

2. Possuir a fé inabalável nele;

3. Viver de acordo com a, fé, fazendo sempre o bem.

3. Por que a fé em Deus é absolutamente necessária para a salvação?

Pois como dizem as Sagradas Escrituras: "Sem a fé é impossível agradar a


Deus" (Hebr. 11:6), e também: "Quem crer e for batizado será salvo; mas
quem não crer será condenado" (S. Marcos. 16:16).

4. Por que se exige também uma vida de acordo com a fé e as obras do bem?

Pois as Sagradas Escrituras nos ensinam: "A fé sem as obras é morta" (S.


Tiago. 2:20).

5. O que é a fé?

S. Paulo explica-nos que a fé é "O firme fundamento das coisas que se


esperam, e a prova das coisas que se não vêem" (Hebr. 11:1).

A fé é, portanto, a certeza daquilo que não podemos ver e o desejo e esperança


da eterna salvação.

6. Em que consiste a diferença entre a ciência e a fé?

A ciência estuda tudo que podemos ver e compreender.


A fé ocupa-se com aquilo que não podemos ver e raramente conseguimos
compreender.

A ciência está apoiada nas pesquisas.

A fé apoia-se na confiança absoluta às revelações da verdade.

A ciência é objeto do intelecto (cérebro), podendo ter uma influência no


coração humano (sentimentos).

A fé é objeto do coração, embora nasça no pensamento humano.

7. Por que devemos estudar a Religião?

Porque a Religião é a mais importante das ciências humanas: "Pois que


aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?" (Mat.
16:26).

Devemos prestar a máxima atenção às aulas de Religião, estudando com o


maior empenho possível, para que as verdades se gravem profundamente nos
nossos corações e para que possamos atingir a salvação de nossas almas.

8. Por que é necessária não somente a sabedoria, mas antes de tudo a fé, para
podermos atingir a salvação eterna?

Porque o estudo da Religião divulga as verdades sobre Deus, que é invisível e


impossível de descrever; a sabedoria Dele está escondida em grandes
mistérios, disto se compreende, que uma parte do estudo da Religião não pode
ser compreendida por meios comuns (cérebro), podendo ser sentida com
auxílio da fé.

Diz São Cirílo de Jerusalém: "A fé é o olho que ilumina toda a consciência, a
fé torna o homem consciente.

Diz o profeta Isaías: "Se não crerdes, certamente não ficareis firmes" (Is.


7:9).

Ensina também São Cirílo: "Não somos nós os únicos, denominados Cristãos,
que consideram a fé como sendo algo de muito elevado, mas tudo o que está
acontecendo no mundo, mesmo entre os homens de outras crenças, faz-se por
intermédio da fé.

Na fé está apoiada a agricultura; pois se o agricultor não tivesse fé em


conseguir uma colheita proveitosa, não teria empenhado todos os seus
esforços... Pela fé dirigem-se os marujos, etc. (Ensinamentos: 5).
A Revelação Divina

9. Onde buscamos os ensinamentos sobre a Fé Crista Ortodoxa?

Buscamo-los na Revelação Divina.

10. Que é Revelação Divina?

Chamamos Revelação Divina tudo aquilo que o próprio Deus revelou aos
homens, para que estes possam acreditar Nele verdadeiramente, conseguir a
eterna salvação e apresentar-lhe constantemente o mais condigno louvor.

11. Deus a todos os homens deu a Revelação Divina?

Sim, Deus deu a todos os homens a Revelação Divina, pois ela conduz à
salvação eterna, sendo absolutamente necessária a todos.

A Revelação Divina não podia ser oferecida aos homens diretamente; por isto
Deus escolheu para este fim pessoas especialmente piedosas e boas, que
receberam de Deus a Revelação, transmitindo-a em seguida aos homens,
desejosos em recebê-la.

12. Por que os homens não estão aptos a receber a Revelação Divina?

Devido à imensidade de pecados e à fraqueza do corpo e da alma.

13. Por intermédio de quem revelou Deus tudo aquilo em que devemos crer?

A primeira Revelação Divina foi feita a Adão, em seguida a Noé, depois a


Abraão, Moisés e outros profetas. Em toda plenitude, porém, e em toda
perfeição apresentou a Revelação Divina aos homens o incarnado Filho de
Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, que a divulgou e expandiu pelo universo
todo por intermedio dos Seus santos discípulos — o apóstolos.

Diz São Paulo: "Antigamente havia Deus falado muitas vezes e de muitas


maneiras aos pais, pelos profetas, a nós nos falou nestes últimos dias pelo
Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o
mundo" (Hebr. 1:1-2).

O mesmo apóstolo diz também: "Falamos a sabedoria de Deus, oculta em


mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; a qual
nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; mas Deus no-las revelou pelo
Seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas
de Deus". (1ª Cor.: 2; 7, 8, 10) E também São João Evangelista diz: "Deus
nunca foi visto por alguém, o Filho Unigênito, que está no seio do Pai, esse o
fez conhecer" (S. João. 1,18).
O próprio Nosso Senhor Jesus Cristo disse: "Ninguém conhece o Pai, senão o
Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar" (S. Mat. 11:27).

14. Pode o homem conhecer a Deus sem uma Revelação Divina?

O homem pode conhecer a Deus pela observação do mundo visível. Êste


conhecimento, porém, é incompleto imperfeito, podendo servir apenas como
preparação para o nascimento da verdadeira fé, sendo um auxílio para o
conhecimento de Deus dentro da Revelação Divina. "Porque as suas
coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder, como
a Sua Divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão
criadas" (Rom. 1,20).

"E de um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face
da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua
habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o
pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós. Porque Nele
vivemos e nos movemos e existimos" (Atos 17:26-28).

"Meditando sobre a fé em Deus, predomina o pensamento que Deus existe;


conseguimos êste pensamento observando as coisas criadas. Pesquisando com
empenho a criação do mundo, chegamos a conhecer que Deus é
universalmente sábio, todo-poderoso, bom; conhecemos também as Suas
qualidades invisíveis. Desta forma aceitâmo-lo como Poder -Supremo. já que
Deus é Criador do mundo e nós mesmos fazemos parte dêste mundo, torna-se
obvio, que Deus é também o nosso Criador. Como conseqüência da
compreensão desta verdade surge a fé, pela qual prestamos a Deus o nosso
louvor e a nossa homenagem (Basílio o Grande, Epistola 232).

15. Podemos compreender as Verdades Reveladas por meio do cérebro


(intelecto)?

Algumas Verdades Reveladas podemos compreendê-las por meio do cérebro


(intelecto); muitas, porém, nenhum cérebro humano seria capaz de explicar ou
compreender.

16. Como se chamam as Verdades Reveladas, que não podem ser explicadas
ou compreendidas pelo cérebro humano?

As Verdades Reveladas impossíveis de compreender ou explicar, chamam-se


Mistérios da Fé.

A Sagrada Tradição

e as Sagradas Escrituras
17. De que maneira difundiu-se a Revelação Divina entre os homens, sendo
conservada pela verdadeira Igreja de Deus?

De dois modos:

1. Pela transmissão verbal de Verdades Divinas de pai a filho,


conhecida pelo nome da Sagrada Tradição.
2. Pelas Escrituras Sagradas que têm o nome de Bíblia.

18. Como devemos compreender o significado da denominação: A Sagrada


Tradição?

Pela Sagrada Tradição devemos entender tudo aquilo que sobre a verdadeira
fé, os mistérios, etc., os nossos genuinamente piedosos e crentes ancestrais
transmitiram aos seus filhos, estes, por sua vez, deixaram essas verdades aos
seus filhos e assim por diante, chegando desta forma até aos nossos dias.

19. Onde a Sagrada Tradição se acha conservada de modo infalível?

Todos os verdadeiros crentes, unidos pela Sagrada adição da Fé, em perfeita


união e hereditariedade, de acordo com as Leis Divinas, formam a Santa
Igreja, que é justamente a eterna conservadora do tesouro da Sagrada
Tradição. "Igreja de Deus Vivo, a coluna e firmeza da verdade" (1 Tim. 3:15).
Diz Santo Irineu: "Não se deve procurar a Verdade no meio dos outros, pois é
tão fácil encontrá-la no seio da Igreja. Pois, como numa riquíssima caixa de
tesouros, haviam os apóstolos depositado em toda plenitude tudo que pertence
à Verdade; qualquer um, pois, que deseja, pode obter dela a Água da Vida. A
Igreja é a porta da Vida" (Tratado contra heresias — Livro 3, cap. 4).

20. O que são as Sagradas Escrituras?

São o conjunto de livros (obras), escritas sob a inspiração do Espírito Santo,


por homens santificados por Deus, denominados Profetas e Apóstolos.
Comumente chama-se este conjunto de livros: a Bíblia.

21. Que significa a palavra "Bíblia"?

A palavra "Bíblia" é de origem grega, e significa "Os livros."

Esta determinação indica também, que as Sagradas Escrituras são os livros


mais importantes de todos que já foram escritos.

22. O que é mais antigo: a Sagrada Tradição ou as Sagradas Escrituras?

O meio mais antigo de divulgação da Revelação Divina foi a Sagrada


Tradição. Dos tempos do primeiro homem, Adão, até Moisés, não havia
Escritura Sagrada alguma. O próprio Salvador, nosso Senhor Jesus Cristo,
transmitiu os Seus divinos ensinamentos aos Apóstolos, por meio de palavras
e de exemplos e não por intermedio de livros. Da mesma forma procediam no
começo os Santos Apóstolos, que divulgavam as Verdades verbalmente,
firmando os alicerces da Santa Igreja.

A necessidade da existência da Sagrada Tradição é evidente, pois dela pode


tirar proveito um número muito maior de pessoas, do que das Sagradas
Escrituras, já que nem todos sabem beneficiar-se dos livros.

23. Com que fim foram criadas as Sagradas Escrituras?

Para conservar a Revelação Divina de maneira precisa e inalterável.

Nas Sagradas Escrituras, pois, lemos as palavras proferidas por Profetas e


Apóstolos, como se ouvíssemos as Verdades dos próprios lábios destes santos
homens, apesar dessas obras divinas datarem de vários séculos ou até
milênios.

24. Devemos sujeitar-nos à Sagrada Tradição, uma vez que possuímos as


Sagradas Escrituras?

Sem dúvida alguma. Devemos sujeitar-nos à Sagrada Tradição, pois esta é


diretamente coligada com a Revelação Divina e com as Sagradas Escrituras;
assim, pois, as próprias Sagradas Escrituras nos dão o seguinte
ensinamento: "Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos
foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa" (2 Tess. 2:15).

25. Por que então devemos considerar a Sagrada Tradição necessária, nos
tempos atuais?

Para orientação e melhor compreensão das Sagradas Escrituras; para execução


exata e perfeita dos Santos Sacramentos e para conservação pura e
incorruptível dos rituais sagrados.

São Basílio Magno diz: "Alguns dogmas e ensinamentos da Igreja possuímos


das fontes escritas, tendo obtido outros da tradição apostólica,
hereditariamente e misteriosamente. Tanto estes, quanto aqueles possuem a
mesma força" (Regra 97, Do Espírito Santo. Cap. 27).

26. Quando foram escritas as Escrituras Sagradas?

Uma parte foi escrita antes do nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo, e
outra parte depois do nascimento do Salvador.

27. Em quantas partes principais dividem-se as Sagradas Escrituras?


As Sagradas Escrituras são divididas em duas partes principais: Antigo ou
Velho Testamento e Novo Testamento.

28. Que significam as palavras: Antigo e Novo Testamento?

Significam: a antiga união de Deus com os homens e a nova união de Deus


com os homens.

29. Quais são os espaços de tempo compreendidos pelos Antigo e Novo


Testamentos?

O Antigo Testamento encerra o período antes do nascimento de Nosso Senhor


Jesus Cristo, todos aqueles Livros Sagrados escritos antes da Era Cristã. O
Novo Testamento inicia-se com a sagrada noite de Belém, quando Deus
desceu à terra para salvar o gênero humano do pecado e da morte eterna. Os
livros do Novo Testamento foram escritos após este acontecimento.

30. Em que consiste a antiga união de Deus com os homens (O Velho


Testamento)?

Consiste em promessa solene, dada aos homens pelo Deus Todo-poderoso, de


que mandaria o Divino Salvador para salvar os homens dos seus pecados.
Consistia também em preparar a humanidade para receber o Filho de Deus.

31. De que maneira preparou Deus os homens para receberem o Salvador?

Por meio de Revelações, Profecias e Ensinamentos.

32. Em que consiste a nova união de Deus com os homens (O Novo


Testamento)?

Consiste no fato de Deus ter oferecido realmente o Seu Filho Unigênito, o


Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, para salvar o gênero humano.

33. De quantos livros estão constituídas as Sagradas Escrituras do Antigo


Testamento?

Os Santos Cirílo de Jerusalém, Atanásio o Magno e João Damasceno contam


22 destes livros sagrados, seguindo o exemplo dos antigos hebreus, que
mantiveram este cálculo nas suas tradições. (S. Atan. Epistola 39; S. João
Damasceno: Teologia — Livro 4, cap. 17).

34. Por que devemos seguir o sistema adotado pelos hebreus?

Diz o Apóstolo Paulo: "Porque, primeiramente as palavras de Deus lhes (aos


Hebreus) foram confiadas" (Rom.3:2). A nova união de Deus com os homens,
representada pela Santa Igreja Cristã Ortodoxa, que herdou as Escrituras
Sagradas do Antigo Testamento, da Igreja da Antiga União de Deus com os
homens — a hebraica.

35. De que forma os Santos Cirílo e Atanásio apresentam as Escrituras


Sagradas do Antigo Testamento?

Eis a ordem pela qual as Escrituras do Antigo Testamento são apresentadas:

1- Gênesis (livro da criação) — 1 livro de Moisés.

2- Êxodo — 2 livro de Moisés.

3- Levítico — 3 livro de Moisés.

4- Números — 4 livro de Moisés.

5- Deuteronômio (Segunda legislação) — 5 livro de


Moisés.

6- Jesus Navin (Josué).

7- Juizes, coligado com o livro de Ruth, na forma


de suplemento.

8- 1 e 2 livro dos Reis em conjunto com os 1 e 2


livros de Samuel em forma de dois volumes de uma
só obra.

9- 3 e 4 livro dos Reis.

10- 1 e 2 livro de Crônicas (Paralipômenos).

11-1 livro de Esdras e 2 livro do mesmo, chamado,


porém, em grego — livro de Neemias.

12-Ester.

13- Jó.

14- Salmos.

15- Provérbios do rei Salomão.

16- Eclesiástes (Ensinamentos do mesmo rei).


17- Cantares do rei Salomão.

18- Isaías.

19- Jeremias.

20- Ezequiel.

21- Daniel.

22- Dos doze profetas: Oséias, Joel, Amós,


Obadias, Jonas, Miquéias, Nahum, Habacuc,
Sofonias, Ageo, Zacarias, Malaquias.

36. Por que nestes 22 livros não se fala do livro da Sabedoria, dos livros de:
Sirah, Tobias, Judith e dos dois livros dos Macabeus?

Porque estes livros não existem em idioma hebraico.

37. Como devemos encarar estas últimas obras?

Diz Santo Atanásio Magno: "Elas estão destinadas para a leitura daqueles que
desejam aderir ao Cristianismo.

38. De que forma se dividem os livros do Antigo Testamento quanto ao seu


conteúdo?

Dividem-se nos quatro grupos seguintes:

1. Os livros legislativos, q. d. aqueles que contêm ensinamentos


sobre as Leis. A este grupo pertencem os 5 livros de Moisés:
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

O próprio Senhor Jesus Cristo denominou estes livros de "Leis


Mosaicas" (S. Lucas 24:44).

Estes livros representam a base principal na qual se apoia o


Antigo Testamento na sua totalidade.

2. Os livros históricos: Josué (Jesus Navin), Juízes, Ruth, os livros


dos Reis, os livros das Crônicas, os livros de Ezdras e Ester.
3. Os livros instrutivos: O livro de Jó, Os Salmos, Os Provérbios do
rei Salomão, Eclesiastes e os Cantares do rei Salomão.
4. Os livros proféticos: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel e os
livros dos doze profetas menores.
39. Que há de importante no livro do Gênesis?

Neste livro encontramos a descrição da criação do universo e do homem, da


história primordial da humanidade e do estabelecimento dos sentimentos
religiosos entre os primeiros homens.

40. Sobre que tratam os outros quatro livros de Moisés?

Estes livros contam-nos a história da religiosidade nos tempos de Moisés,


como também sobre as Leis por ele recebidas do próprio Deus.

41. Que devemos saber sobre o livro dos Salmos?

O livro dos Salmos não somente ensina e eleva a alma às práticas piedosas,
mas contém ainda um número considerável de profecias sobre a sagrada
pessoa do Salvador. Este livro admirável é um guia magnífico para as preces e
a glorificação de Deus, sendo constantemente utilizado em todos os rituais da
Santa Igreja Cristã Ortodoxa.

42. Quantos livros contêm as Escrituras Sagradas do Novo Testamento?

Contêm vinte e sete livros. São esses:

43. Quais são?

São esses:

1. Santo Evangelho de São Mateus.


2. Santo Evangelho de São Marcos.
3. Santo Evangelho de São Lucas.
4. Santo Evangelho de São João.
5. Os Atos dos Apóstolos.
6. Epístola Universal de São Tiago.
7. I Epístola Universal de São Pedro.
8. II Epístola Universal de São Pedro.
9. I Epístola Universal de São João.
10.II Epístola Universal de São João.
11.III Epístola Universal de São João.
12.Epístola Universal de São Judas.
13.Epístola de São Paulo aos Romanos.
14.I Epístola de São Paulo aos Corintios.
15.II Epístola de São Paulo aos Corintios.
16.Epístola de São Paulo aos Gálatas.
17.Epístola de São Paulo aos Efésios.
18.Epístola de São Paulo aos Filipenses.
19.Epístola de São Paulo aos Colossenses.
20.I Epístola de São Paulo aos Tessalonicenses.
21.II Epístola de São Paulo aos Tessalonicenses.
22.I Epístola de São Paulo a Timóteo.
23.II Epístola de São Paulo a Timóteo.
24.Epístola de São Paulo a Tito.
25.Epístola de São Paulo a Filemon.
26.Epístola de São Paulo aos Hebreus.
27.Apocalipse de São João.

44. Qual é o outro meio de formular as partes do Novo Testamento?

Podemos discriminar os livros do Novo Testamento da seguinte forma:

1. Os quatro Evangelhos.
2. Os Atos dos Apóstolos.
3. Uma Epístola de São Tiago.
4. Duas Epístolas de São Pedro.
5. Três Epístolas de São João.
6. Uma Epístola de São Judas.
7. Quatorze Epístolas de São Paulo.
8. misterioso Apocalipse de São João.

45. De que forma discriminamos os livros do Novo Testamento quanto ao seu


conteúdo?

De acordo com o seu conteúdo recebem os livros do Novo Testamento a


seguinte discriminação:

1. Os livros legislativos, que são a base principal da nova união de


Deus com os homens e levam o nome de Evangelhos.
2. livro histórico, denominado Atos Apostólicos ou Atos dos
Apóstolos.
3. Os livros instrutivos, que são as Sete Epístolas Universais dos
santos apóstolos: Tiago, Pedro, João e Judas e também as catorze
Epístolas do santo apóstolo Paulo.
4. livro profético, que é o Apocalipse do santo apóstolo São João
Teólogo.

46. Que quer dizer a palavra Evangelho?

Evangelho é uma palavra grega e significa "Boa Nova" ou então uma


"Mensagem feliz (alegre)."

47. Sobre que assunto tratam os Santos Evangelhos e qual é a razão do próprio
nome "Evangelho?"
Nos Evangelhos fala-se sobre a divindade de nosso Senhor Jesus Cristo; da
Sua chegada à terra e da Sua vida entre os homens; dos milagres que fez; dos
maravilhosos ensinamentos que deixou aos Seus discípulos; das endoenças e
da morte na cruz e finalmente da ressurreição e ascensão aos Céus, onde reina
com Deus Pai e Deus Espírito Santo em supremo mistério da Santíssima
Trindade.

Em virtude de ser a mensagem sobre a chegada do Salvador dos homens, ao


mesmo tempo a mensagem da eterna salvação, consideramo-la como sendo a
mais feliz de todas as novas. Assim se explica o alegre canto "Glória a ti
Senhor!" após a leitura do Santo Evangelho na igreja.

48. Sobre que assunto tratam os Atos Apostólicos e quem é o autor desta
obra?

Nos Atos Apostólicos chegamos a conhecer o modo pelo qual se constituiu a


Santa Igreja Cristã Apostólica e Ortodoxa; do dia em que o Espírito Santo
pousou nos apóstolos e da divulgação das Sagradas Verdades da nossa
religião pelos santos apóstolos.

Esta obra maravilhosa foi escrita pelo santo apóstolo Lucas.

49. Que significa a palavra apóstolo?

A palavra apóstolo é de origem grega e significa enviado ou mensageiro.

Com este nome chamamos os discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo,


enviados pelo Divino Mestre ao mundo para pregação do Evangelho.

50. Que significa a palavra Apocalipse, e sobre que assunto trata este livro?

Esta palavra é, também, de origem grega e significa Revelação. Nesta obra


profética é apresentado em forma misteriosa o futuro da Santa Igreja Cristã e
do mundo.

51. Como devemos ler as Sagradas Escrituras?

Devemos lê-las:

1. Piedosamente e com divino respeito, pois é desta forma que deve


ser lida e estudada a Palavra de Deus; rezando para que as
Sagradas Palavras cheguem à nossa compreensão.
2. Com sinceras intenções, a fim de que a leitura possa instruir-nos
na Fé e levar-nos aos atos do Bem.
3. Meditando e compreendendo-as de acordo com as explicações da
Santa Igreja Apostólica Ortodoxa.
52. Quais são os outros indícios, que demonstram serem as Sagradas
Escrituras — a Palavra de Deus?

São estes os indícios da divindade das Palavras das Sagradas Escrituras:

1. A magnitude do ensinamento, que demonstra não ter podido


nascer no intelecto humano, mas sim ter encontrado origem na
própria Sabedoria de Deus.
2. A pureza e a sinceridade do ensinamento, demonstrando que
descende do puríssimo Espírito Divino.
3. As profecias, que são as predições extraordináriamente exatas
dos acontecimentos futuros.
4. Os milagres, que são curas do corpo e da alma causadas pela fé
inabalável e pela graça de Deus; curas essas inexplicáveis do
ponto de vista das ciências humanas oficiais.
5. A atuação poderosíssima das verdades e ensinamentos, contidos
nas Sagradas Escrituras, sobre os intelectos (cérebros) e corações
(sentimentos) humanos, própria, única e exclusivamente do
poder Supremo de Deus.

53. Que são as profecias?

São as predições exatas das coisas futuras, que não podem ser conhecidas de
alguém, além do Deus Todo-Poderoso.

54. Por que consideramos as profecias o início da verdadeira revelação


divina?

Explicaremos esta pergunta por meio do seguinte exemplo:

O profeta Isaías predisse com antecedência de vários séculos, o nascimento de


Nosso Senhor Jesus Cristo da Virgem Maria, fato este sob hipótese alguma
sequer imaginado naquela longínqua época histórica. Não resta dúvida alguma
de que as palavras desta profecia foram ditadas ao profeta Isaías pelo próprio
Deus.

Sobre este assunto diz-nos o santo apóstolo Mateus: "Tudo isto aconteceu


para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta que diz:
eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e chamá-lo-ão pelo nome
de Emanuel, que traduzido é: Deus conosco" (Mat. 1:22-23).

55. Que são os milagres?

Os milagres são atos sobrenaturais, que não podem ser efetivados pela força
humana ou conhecimentos humanos, não atingíveis por qualquer outra força
natural, mas sim unicamente com participação direta da força infinita de Deus.
Exemplos: cura de moléstia incurável, ressurreição de um morto, etc..

56. Por que consideramos os milagres como sendo indício da verdadeira


Palavra de Deus?

Porque, quem faz milagres, procede com graça do Poder Divino; disto se
compreende que ele agradou a Deus de forma tão eficaz, que por intermédio
dele Deus demonstrou as Suas forças supremas. Um homem que possui essas
qualidades superiores, indubitavelmente só fala a Verdade. Por isso, tudo o
que ele diz em nome de Deus deve ser considerado Verdade absoluta — a
Palavra de Deus Vivo.

Nosso Senhor Jesus Cristo considerava os milagres um testemunho


importantíssimo da Sua sagrada missão entre os homens: "As obras que o Pai
me deu para realizar, as mesmas obras que eu faço, testificam de mim, que o
Pai me enviou" (S. João.5:6).

57. Em que nos apoiamos quando afirmamos a poderosa atuação do


ensinamento cristão no espírito humano?

Apoiamo-nos no fato de que os doze apóstolos pertenciam à classe de homens


iletrados; apesar do que conseguiram compenetrar-se ao fundo dos Divinos
Ensinamentos do seu Mestre, divulgando o Evangelho e conduzindo ao Cristo
os poderosos deste mundo: os reis, sábios e ricos e até povos inteiros.

As Partes Gerais

da Doutrina Cristã Ortodoxa

58. Em quantas partes dividimos a Doutrina Cristã Ortodoxa?

De acordo com o livro intitulado: "A Religião Ortodoxa," aprovado pelos


Beatíssimos Patriarcas Ortodoxos do Oriente, consideramos como base da
Doutrina Cristã a indicação do santo apóstolo Paulo, que nos ensinou como
conduzir a nossa vida inteira pelos três princípios fundamentais: A Fé Cristã, a
Esperança Cristã e o Amor Cristão (chamado também de Caridade). "Agora
pois permanecem estas três: a Fé, a Esperança e a Caridade, mas a maior
delas é a Caridade" (l-a Cor. 13:3).

Por isso necessita o Cristão:

1. de ensinamentos divinos sobre a Fé, colhidos nas obras


divinamente inspiradas (As Escrituras Sagradas) e nos mistérios
Sagrados da Santa Igreja.
2. de ensinamentos divinos sobre a Esperança e dos meios para se
afirmar neles.
3. de ensinamentos divinos sobre o Amor (Caridade) a Deus e a
tudo aquilo que Deus nos indicou para ser amado.

59. De que forma nos ensina a Santa Igreja sobre a Fé?

A Santa Igreja ensina-nos sobre a Fé Cristã por meio do credo (profissão de


Fé).

60. Em que nos baseamos, quando falamos sobre ensinamentos da Esperança


Cristã?

Baseamo-nos na Oração ensinada pelo próprio Senhor Jesus Cristo,


denominada "Pai nosso," que chamamos também "Oração do Senhor," e
também nas "Bem-aventuranças Evangélicas."

61. Onde encontramos ensinamentos para compreensão do Amor Cristão (A


Caridade)?

Nos 10 Mandamentos de Deus.

A "Profissão de Fé Ortodoxa"

62. A "Profissão de Fé Ortodoxa" denomina-se também o "Credo". Que


significa esta palavra?

"Credo" é uma palavra latina, que significa "A Fé," sendo um-conjunto de
Verdades escritas, que representam, em forma concentrada, tudo aquilo em
que devem crer os Cristãos.

63. Como se apresenta em forma original e inalterada a "Profissão de Fé


Ortodoxa?"

Esta é a forma original e inalterada:

1 . Creio em um só Deus Pai, Onipotente,


Criador do Céu e da Terra, de tudo que é visível
e invisível.

2. E em um só Senhor Jesus Cristo, Filho


Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos
os séculos.

Luz de Luz, Deus Verdadeiro de Deus


Verdadeiro, gênito e não feito, consubstancial ao
Pai, por quem foram feitas todas as coisas.
3. Que desceu dos céus por causa de nós homens,
e por nossa salvação, e encarnou-se pelo Espírito
Santo e da Virgem Maria e, se fez Homem.

4. E foi crucificado por nossa causa, sob o poder


de Poncio Pilatos, padeceu e foi sepultado.

5. E ressuscitou no terceiro dia, segundo as


Escrituras.

6. E subiu aos Céus e sentou-se à direita do Pai.

7. E novamente virá, com Glória, para julgar os


vivos e os mortos e cujo Reino não terá fim.

8. E no Espírito Santo, Senhor Vivificante, que


do Pai procede e que é com o Pai e o Filho
adorado e glorificado, e que falou pelos profetas.

9. E numa só Igreja; Santa, Universal e


Apostólica.

10. Confesso, também, um só Batismo para a


remissão dos pecados.

11. E espero a ressurreição dos mortos.

12. E a vida de século futuro. Amém.

64. Qual é a denominação que se dá ao "Credo"?

Chamamos este Credo — a profissão de Fé "Niceo-Constantinopolitana." Esta


denominação explica-se pelo fato de ter sido o "Credo" redigido pelos Santos
e sábios Pais da Igreja nos dois primeiros Concílios Universais, que se
realizaram nas cidades de Nicéia e Constantinopla, respectivamente.

65. O que é o Concílio Universal?

Denominamos Concílio Universal uma reunião de Pais e Ensinadores da Santa


Igreja, Universal, Apostólica e Ortodoxa, vindos de preferência do mundo
inteiro, para resolver as questões da Fé, Ética e Moral cristãs e estabelecer os
alicerces da verdadeira e certa interpretação das Verdades Divinas.

66. Quais foram os Concílios Universais?

Houve sete Concílios Universais:


1. Em Nicéia no ano 325 D. C.
2. Em Constantinopla no ano 381 D. C.
3. Em Éfeso no ano 341 D. C.
4. Em Calcedônia no ano 451 D. C.
5. Em Constantinopla no ano 553 D. C.
6. Em Constantinopla no ano 680 D. C.
7. Em Nicéia no ano 787 D. C.

67. Quais os assuntos deliberados nesses Concílios Universais?

Foram os seguintes:

1. O primeiro Concílio Universal em Nicéia deliberou sobre a


heresia de Ário, que dizia ser nosso Senhor Jesus Cristo somente
homem inspirado por Deus e não a Segunda Pessoa da
Santíssima Trindade. Nessa reunião, foi condenada a doutrina
errônea de Ário, sendo criados os primeiros 7 pontos do Credo.
2. Seguindo o mau exemplo de Ario, que rejeitou a divindade de
nosso Senhor, surgiu outro herege chamado Macedônio, que se
atreveu a descrer da divindade da Terceira Pessoa da Santíssima
Trindade. Para condenar este horrível erro, foi convocado o
segundo Concílio Universal em Constantinopla, que não somente
afirmou sobremaneira a verdadeira Fé, mas também completou o
"Credo" da Santa Igreja, deixando-o na forma utilizada até os
nossos dias.
3. O terceiro Concilio em Éfeso reuniu-se para condenar a
Nestório, que espalhava crença errônea, ensinando que a Virgem
Maria não era Mãe de Deus, mas sim só de um homem chamado
Jesus, que era unido a Deus únicamente de modo espiritual.
4. O quarto Concílio em Calcedônia julgou a doutrina errada de
Eutíquio, o qual querendo combater Nestório, o causador do
Concílio anterior, cometeu por sua vez erros ainda piores,
recusando a nosso Senhor toda e qualquer parte humana. Neste
Concílio foi definitivamente estabelecido, que nosso Senhor uniu
em Si duas naturezas: A divina e a humana. A heresia de
Eutíquio chama-se Monofisitismo, que quer dizer, em grego,
uma só natureza.
5. O quinto Concílio Universal em Constantinopla condenou as
obras escritas pelos seguidores do herege Nestório (vide o
terceiro Concílio Universal). contribuindo desta forma para a
eliminação do perigo que representa a divulgação de doutrinas
errôneas.
6. Apesar dos esforços da Santa Igreja, eram constantes as rixas
entre os verdadeiros seguidores da doutrina cristã, e os heréticos,
seguidores de Nestório, condenado no 3o Concílio. Para abrandar
os ânimos resolveu o Imperador Eráclio fazer aos heréticos
algumas concessões, fato este que causou ainda piores
transtornos no seio da Igreja. Os seguidores da nova corrente
religiosa, que surgiu por motivo dessas concessões, passaram a
chamar-se Monofelitas. A desunião dentro da Santa Igreja
começou, no entanto, a ameaçar com piores conseqüências
devido ao perigo que surgiu do lado dos seguidores do Maomé.
(Foi um reformador árabe, que fundou uma religião própria
baseando-se numa revelação, que dizia ter recebido do Arcanjo
Gabriel. Essa religião caracteriza-se pela mistura das religiões
hebraica e cristã, possuindo também vários elementos das
religiões pagãs.

Em vista disso foi convocado um novo Concílio Universal em


Constantinopla, que condenou definitivamente os erros dos
hereges, restabelecendo a Verdade, que nosso Senhor Jesus
Cristo integrava não somente duas naturezas bem distintas (a
divina e a humana) mas também duas vontades, não contrárias
uma a outra, mas a vontade humana sujeita-se à vontade divina.

Como complemento deste Concílio Universal foi convocado


alguns anos depois outro Concílio, que costumamos chamar de
quinto-sexto, pois representava a continuação das deliberações
destinadas a afirmar as decisões dos quinto e sexto Concílios
Universais. Este Concílio suplementar decidiu sobre a introdução
na Igreja de 85 Regras Apostólicas, Regras dos 6 anteriores
Concílios Universais, dos sete Concílios locais e a das Regras de
alguns Santos Pais da Igreja. Essas Regras foram reunidas em
um livro só, denominado "Nomocanon," que representa o
principal documento legislativo da Igreja.

7. O sétimo Concílio Universal foi convocado na cidade de Nicéia


para condenação da heresia, que consistia em proibição de
veneração e adoração das Imagens Santas (ícones), introduzida
pelo próprio imperador Leão Issavr.

Além dos grandes 7 Concílios Universais houve vários Concílios


locais de menor importância, entre os quais devemos destacar as
reuniões em Anquira, Neocesárea, Gangra, Antióquia, Laodicéia,
Sardiquia, Cartagena e os 1e 2 de Constantinopla.

As Partes Integrantes do "Credo"

68. De que forma podemos conhecer a fundo os ensinamentos da Fé, guiando-


nos pelo "Credo"?
A fim de facilitar aos fiéis a melhor compreensão dos ensinamentos da Fé, foi
dividido o "Credo" em 12 artigos.

Meditando separadamente sobre cada um destes artigos, chegaremos a


compreender a fundo as verdades sobre a Fé Cristã.

69. Sobre que tratam os artigos do "Credo"?

Os artigos do "Credo" falam sobre:

1. Deus em geral e o Deus Pai — a Primeira Pessoa da Santíssima


Trindade, — em particular.
2. A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade — O Filho de Deus,
Nosso Senhor Jesus Cristo.
3. A encarnação do Filho de Deus.
4. Os padecimentos e a morte de nosso Senhor.
5. A ressurreição de Jesus Cristo.
6. A ascensão do Filho de Deus.
7. A segunda vinda de nosso Senhor à terra.
8. A Terceira Pessoa da Santíssima Trindade — O Espírito Santo.
9. A Santa Igreja.
10.Sacramento do Batismo (compreendendo-se também os outros
Santos Sacramentos).
11.A esperança da ressurreição futura dos mortos.
12.A esperança da vida eterna.

SOBRE O PRIMEIRO ARTIGO DA

"PROFISSÃO DE FÉ ORTODOXA"

Creio em um só Deus Pai, Onipotente,

Criador do Céu e da Terra, de tudo

que é visível e invisível.

70. O que significa "Crer em Deus"?

Crer em Deus significa possuir viva certeza da Sua existência, das Suas
faculdades, da Sua perfeição e da Sua atividade, considerando verdade
inabalável tudo aquilo que Deus revelou sobre Si próprio e sobre a salvação
da humanidade.

"Ora, sem fé não se pode agradar a Deus: porque é necessário que aquele
que se aproxima de Deus creia que Ele existe, e que é galardoador dos que o
buscam" (Hebr. 11:6).

A ação da fé no meio dos cristãos apresenta o santo apóstolo Paulo na


seguinte oração: "Para que, segundo as riquezas da Sua glória, vos conceda
que sejais corroborados com poder pelo Seu Espírito no homem interior;
para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando
arraigados e fundados em amor, poderdes compreender perfeitamente, com
todos os santos" (Efés. 3:16-18).

71. Como devemos crer?

Devemos crer:

A) Em tudo, sem exceção, que nos ensina a Santa Igreja Cristã


Apostólica Ortodoxa.

A. Devemos crer, sem nenhuma dúvida, ou incerteza e desprovidos


de todo e qualquer espírito de criticísmo.
B. Possuindo a fé viva e inabalável nas verdades reveladas.
C. Professando nossa fé com sinceridade e permanentemente.

72. Que quer dizer professar a fé?

Professar a fé significa afirmar sempre e de maneira inabalável, que


pertencemos à Santa Igreja Cristã Ortodoxa, fazendo isto com tanta
sinceridade e firmeza, para que nem ameaças, nem persuasões, nem martírio,
nem mesmo a própria morte possa forçar-nos a abandonar ou trair a
verdadeira fé de Jesus Cristo.

Devemos manter a consciência do nosso dever cristão, como chama sempre


viva e ardente, lembrando-nos do exemplo dos mártires, que seguiram o
caminho espinhoso dos mais atrozes sacrifícios, com sorriso de felicidade nos
lábios, tendo diante de si um único objetivo, uma única glória — O Deus
Único, Verdadeiro, no Supremo Mistério da Santíssima Trindade.

73. Por que a profissão da fé é absolutamente necessária?

Diz o santo apóstolo Paulo: "Visto que com o coração se crê para a justiça, e
com a boca se faz confissão para a salvação" (Rom. 10:10).
74. Por que é necessário para salvar-se, não somente crer em Deus, mas
também professar a santa fé cristã Ortodoxa?

Pois, quem renunciaria ou abandonaria a Santa Fé Cristã Ortodoxa com intuito


de obter quaisquer benefícios de ordem material ou para escapar de
perseguições ou por outra qualquer razão, — renunciaria e abandonaria
simultaneamente a própria verdadeira fé em Deus e Nosso Senhor Jesus
Cristo, na ressurreição dos mortos e na vida futura eterna e feliz dos eleitos de
Deus. "E não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma: temei
antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo" (Mat.
10:28).

"Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei


diante do meu Pai, que está nos Céus. Mas qualquer que me negar diante dos
homens, eu o negarei também diante do meu Pai, que está nos Céus" (Mat.
10: 32-33). .

75. É suficiente crermos superficialmente em tudo que Deus revelou?

Não é absolutamente suficiente ter fé superficial e imperfeita nas Verdades


Reveladas. Devemos envidar os máximos esforços a fim de conhecer a fundo
todas as verdades divinas e procurar chegar à compreensão dos Mistérios da
Santa Igreja, pois só desta forma transformaremos nossa fé vacilante e fraca
em fé inabalável e poderosa.

Sobre o Sinal da Santa Cruz

76. Com que sinal especial professam os cristãos Ortodoxos a sua santa fé?

O cristão Ortodoxo professa a sua fé, antes de tudo com o sinal da santa cruz.

Em todas as ocasiões da vida e em todas as circunstâncias, devemos lembrar-


nos da presença de Deus, que vê tudo e sempre está presente a todos os nossos
atos. Lembrando-nos do Todo-poderoso, devemos fazer o sinal da santa cruz,
pois desta forma não somente professamos a verdadeira fé perante todos
aqueles que nos cercam, mas também nos preservamos do mal, já que o sinal
da santa cruz é um verdadeiro escudo contra o mal e o pecado.

Não devemos sentir acanhamento diante das pessoas presentes, nem devemos
tanto menos recear quanto aquilo que essas pessoas vão pensar de nós.
Lembremo-nos que fazendo o sinal da cruz publicamente, nos tornamos
verdadeiros soldados do Cristo na luta pela Verdade Eterna no meio do mundo
decadente e falho, que nos cerca.

"Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a '
coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará
naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amaram a sua
vinda" (2 Tim. 4:7-8).

77. Como fazemos o sinal da santa cruz?

Da seguinte maneira:

O sinal da cruz é feito com a mão direita. O polegar, o primeiro dedo e o


segundo dedo são aproximados e o primeiro dedo é estendido além do polegar
e o segundo dedo, indicando que Cristo é o Único Salvador, os dedos polegar,
indicador e médio, simbolizando a Santíssima Trindade- unida em um só
DEUS. Os dois dedos restantes colocamos na palma da mão simbolizando as
DUAS NATUREZAS — divina e humana, que se uniram em nosso Salvador
Jesus Cristo para salvar a humanidade.

O sinal-da-cruz é traçado a partir da testa, descendo até o peito e depois da


esquerda para o ombro direito. Esta tradição simboliza que o Senhor Cristo
desceu das alturas à terra e redimiu nosso corpo terreno dos caminhos
sombrios das trevas (esquerda) para os caminhos da verdade e da luz (direita).
pronunciando: (Pshem Abbo, Wabro, Uruho Kadisho, haad Aloho Xariro
Amin) "Em nome do Pai, e do Filho,e do Espírito Santo um só Deus Amém,"
que significa "Assim seja."

A colocação dos dedos unidos na testa, peito e ombros tem um profundo


significado e representa a forma mais antiga do sinal da cruz adotada e usada
nos tempos primários do cristianismo. Colocando os três dedos unidos na testa
pedimos a Deus que ilumine e purifique os nossos pensamentos; colocando-os
no peito solicitamos inspiração para dignos e elevados sentimentos; passando-
os para os ombros esquerdo e direito imploramos ao Senhor, que nos de forças
para conseguirmos vencer o mal e tornar-nos dignos do nome de CRISTÃOS.

O sinal da santa cruz, feito com o movimento da nossa mão, representa o


mesmo que o próprio nome de nosso Senhor crucificado, pronunciado com
profunda fé.

Diz São Círio de Jerusalém: "Não devemos envergonhar-nos de professar o


Crucificado; façamos o sinal da cruz com ' toda atenção na testa e sobre
tudo: sobre o pão, que comemos, sobre: os vasilhames, dos quais bebemos;
façamo-lo nas entradas e nas saídas, quando ao deitar e quando ao levantar,
quando nos encontramos em viagem e quando estamos descansando. O sinal
da Santa Cruz é o poderoso escudo oferecido aos pobres como presente e aos
fracos sem esforço algum. Pois isto é a Graça de Deus, sinal para os fiéis, e
tormento para os espíritos maus" (Ensinamentos 13:36).

78. Qual é a origem da utilização do sinal da Santa Cruz?


Já nos tempos dos Santos Apóstolos era costume utilizarem-se os Cristãos do
sinal da Santa Cruz, para selar a sua Fé em Cristo Crucificado.

Sobre isto podemos encontrar provas nas obras de Santo Dionísio Areopagita
(Da hierarquia eclesiástica, cap. 2 e 5) e de Tertuliano (Da Ressurreição, cap.
8).

Sobre Deus

79. Qual é o significado do nome "Deus"?

Deus é o Ser infinitamente perfeito, que existe em Eternidade, quer dizer, que
sempre existiu, existe agora e existirá por todos os séculos dos séculos. "E
disse Deus a Moisés: Eu Sou o que Sou" (Êxodo 3:14). "Ninguém lia
semelhante a Ti, ó Senhor: Tu és grande, e grande é o Teu Nome em
força" (Jerem. 10:6).

80. Que quer dizer, que Deus é infinitamente perfeito?

Quer dizer, que Deus é possuidor de todas as perfeições em supremo sentido.

81. Do que deduzimos a própria existência de Deus e a Sua perfeição infinita?

A existência de Deus e a Sua infinita perfeição deduzimos:

A. da Revelação Sobrenatural,
B. do mundo visível: "Disse o néscio no seu coração: Não há
Deus" (Salmos 14:1) — O santo e sábio rei Davi considerou
louco aquele que duvidasse da existência de Deus.
C. Da voz da nossa consciência: "Os quais (pagãos) mostram a
obra da lei escrita em seus corações, testificando justamente a
sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer
defendendo-os" (Rom. 2:15). "Ninguém duvida da existência de
Deus, a não ser aquele a quem representaria vantagem a
inexistência de Deus" (Beato Agostinho).

82. Por que afirmamos no nosso CREDO, que cremos em um só Deus?

Pela rejeição das crenças pagãs, que, divinizando as Obras de Deus,


mantiveram a fé errônea em muitos deuses.

83. Como ensinam as Sagradas Escrituras sobre a Verdade que há um só


Deus?

Ensina-nos o santo apóstolo Paulo: "Não há outro Deus, senão Um só."


"Todavia para nós há um só Deus, o Pai de quem é tudo e para quem nós
vivemos; e um só Senhor Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós
para Ele" (1 Cor.. 8:4-6).

"Ora ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus seja honra e glória
para todo o sempre. Amém (1 Tim. 1:17).

"A ti te foi mostrado, para que soubesses que o Senhor é Deus: nenhum outro
há senão Ele" (Deuteronômio 4:35).

"O Senhor, nosso Deus é o único Senhor" (Deut.: 6, 4).

"Eu sou o Senhor, e não há outro: fora de mim não há Deus" (Isaías. 45:5).

84. Podemos conhecer ao próprio Deus diretamente com auxílio de nossos


sentidos físicos?

Não podemos, pois Deus é infinitamente superior à compreensão não somente


dos homens, mas também dos Anjos.

"Aquele que tem, Ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem
nenhum dos homens viu nem pode ver" (1 Tim. 6:16).

85. Que sabemos sobre Deus, ou melhor, o que sabemos sobre as Suas
perfeições, da Revelação Divina?

Da Revelação Divina conhecemos as seguintes perfeições de Deus, que


devemos bem gravar em nossa memória:

1. Deus é o Espírito Universal.


2. Deus não foi criado, é Criador de tudo que existe.
3. Deus é eterno.
4. Deus é bom e benigno.
5. Deus vê tudo e está ciente de tudo o que acontece no
Universo.
6. Deus é a justiça Suprema.
7. Deus é a Verdade Suprema e a Maior Fidelidade.
8. Deus é Todo-poderoso.
9. Deus é Onipresente, quer dizer, presente em todos os lugares
ao mesmo tempo.
10.Deus é Imutável, q. d. nunca muda.
11.Deus é a Sabedoria Suprema.
12.Deus é a Santidade Magna.
13.Deus é a Misericórdia por excelência.
14.Deus é infinitamente altruísta, q. d. não deseja nada para Si.
15.Deus é o mais abençoado.
86. Que quer dizer: Deus é o Espírito Universal?

Quer dizer, que Deus é Espírito, possuidor do mais perfeito Intelecto e da


mais perfeita Vontade, não possuindo, porém, o corpo.

"Deus é Espírito" (S. João 4:24).

87. Que quer dizer: Deus não foi criado?"

Significa, que Deus não recebeu a Sua existência e a Sua perfeição de quem
quer que seja.

88. Que significa: "Deus é eterno?"

Quer dizer, que Deus sempre existiu, existe e existirá.

"Antes que os montes nascessem, ou que Tu formasses a terra e o mundo, sim


de eternidade em eternidade, Tu és Deus" (Salmo 90:2). "Eu, o Senhor, o
primeiro, e com os últimos Eu mesmo" (Isaías 43:40). "Para que o saibais, e
me creiais e entendais que Eu sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum
se formou, e depois de mim nenhum haverá" (Isaías 43:10). Diz o santo
apóstolo Paulo, que o Evangelho é pregado "Por ordem do Deus
Eterno" (Rom. 14:25). (Convém anotar, que em algumas das edições do Novo
Testamento de origem ocidental, edições essas que não carecem de
arbitrariedades, os versos 24, 25 e 26 são omitidos no capítulo 14 da Epístola
de S. Paulo aos Romanos). "Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus, o Todo-
poderoso, que era o que é,, e que há de vir" (Apocalipse 4:8). "E o Seu Reino
não terá fim" (S. Lucas 1:33).

89. Que quer dizer Deus é bom e benigno?

Quer dizer, que Deus é cheio de amor para com a Sua criação, e que tudo que
representa a bondade e a benignidade tem origem em Deus. O próprio Nosso
Senhor Jesus Cristo disse: "Não há bom senão um só, que é Deus" (S. Mat.
19:17). "Deus é caridade (amor)" (1 S. João. 4:16). "Piedoso e benigno é o
Senhor, sofredor e de grande misericórdia. O Senhor é bom para todos, e as
Suas misericórdias são sobre todas as Suas obras" (Salmo 145:8-9; convém
anotar, que nas edições ocidentais o Salmo 144 equivale ao 145).

90. Que quer dizer: "Deus vê tudo?"

Significa, que Deus sabe tudo que era, que é e que será no futuro. Ele conhece
todos os nossos pensamentos, mesmo os mais secretos e pessoais. "Sabendo,
que se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que os nossos
corações, e conhece todas as coisas" (1 S. João 3:20). "E não ha criatura
alguma, encoberta diante Dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes
aos olhos Daquele com quem temos que tratar" (Hebr. 4:13).

91. Que significa que Deus é a "Justiça Suprema?"

Quer dizer, que Deus julga os homens conforme os seus merecimentos;


beneficia os bons, caridosos e piedosos, castigando os maus, egoístas e
desprovidos de espírito religioso. "Porque o Senhor é justo, e ama a justiça; o
Seu rosto está voltado para os retos" (Salmo 11:7). "Justo é o Senhor em
todos os Seus caminhos, e Santo em todas as Suas obras" (Salmo
145:17). "da manifestação da Justiça de Deus; o qual recompensará cada um
segundo as suas obras; porque para com Deus não há exceção de
pessoas" (Rom. 2:5, 6, 11). "O Pai, que sem exceção de pessoas, julga
segundo a obra de cada um" (1 Pedro 1:17).

92. Que quer dizer: "Deus é a Verdade Suprema e a Maior Fidelidade?"

Significa, que Deus sempre fala verdade nas Suas Revelações aos homens,
cumprindo também sempre o que Promete. "Deus não é homem para que
minta, nem filho do homem para que se arrependa; porventura diria Ele e
não faria? ou falaria e não o confirmaria?" (Números 23:19). "Aquele que
Me enviou é verdadeiro" (S. João 8:26).

93. Que significa que "Deus é Todo-poderoso?"

Quer dizer, que Deus pode tudo e que tudo que existe repousa na base
inabalável de Sua força e de Sua vontade. "Porque falou e tudo se fez;
mandou e logo tudo apareceu" (Salmo 33:9). "Mas o nosso Deus está nos
Céus; faz tudo que Lhe apraz" (Salmo 115:3). "Tudo o que o Senhor quis, Ele
o fez, nos Céus e na terra, nos mares e em todos os abismos" (Salmo 135:6).

"Porque para Deus nada é impossível" (S. Lucas 1:37).

94. Que quer dizer: "Deus é Onipresente?"

Significa, que Deus está presente em todos os lugares; no céu e na terra, nos
fundos dos mares e dentro das minas as mais profundas. Em lugar algum do
universo podemos esconder-nos Dele, pois Ele preenche tudo com Seu
supremo amor. "Para onde me irei do Teu Espírito, ou para onde fugirei da
Tua face? Se subir ao céu, Tu ai estás, se fizer nos abismos a minha cama, eis
que Tu aí estás também. Se tomar as asas de alva, se habitar nas
extremidades do mar, até ali a Tua mão me guiará... Nem ainda as trevas me
escondem de Ti" (Salmo 139:7-10, 12).

95. Qual o significado da afirmativa, que "Deus é Imutável?"


Quer dizer, que Ele permanece sempre o mesmo, exatamente como era no
princípio, agora e por todos os séculos dos séculos.

"O Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação" (S.
Tiago 1:17). "Porque eu, o Senhor, não mudo" (Malaquias. 3:6).

96. Como devemos compreender, que Deus é a "Sabedoria Suprema?"

Pela beleza maravilhosa e sábia, com que ficou organizado o universo; vê-se
também da própria Revelação Divina, que contém verdades tão elevadas, tão
sublimes e antes de tudo tão sábias, que somente o próprio Deus podia ser o
autor delas. "Ó Senhor, quão variadas são as Tuas obras! todas as coisas
fizeste com sabedoria; cheia está a terra das Tuas riquezas" (Salmo
104:24). "O profundidade das riquezas, tanto da Sabedoria, como da Ciência
de Deus" (Rom. 11:33). "Ora ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único
Deus seja honra e glória para todo o sempre. Amém" (1 Tim. 1:17).

97. Que quer dizer: "Deus é a Santidade Magna?"

Pois não existe ninguém, nem jamais existirá, nem possa existir, mais santo do
que Deus em Santíssima Trindade. Deus é o mais santo de todos os santos,
pois é alheio ao pecado, só ama o belo e o bom e só deseja o bem e a
felicidade para o Universo, que criou. "Porque Eu sou o Senhor vosso Deus:
portanto vós vos santificareis, e sereis santos, porque Eu sou Santo" (Lev.
11:44).

98. Que quer dizer: "Deus é a Suprema Misericórdia?"

Significa, que Deus está sempre disposto a perdoar os nossos pecados, quando
demonstramos arrependimento sincero e profundo. A maior demonstração,
porém, da misericórdia divina, foi o fato de ter Deus sacrificado o próprio
Filho Unigênito, Nosso Senhor Jesus Cristo, que sofreu padecimentos atrozes
e morreu na cruz, para a remissão dos nossos pecados. "Dize-lhes: Vivo eu,
diz o Senhor Jeová, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o
ímpio se converta a seu caminho e viva" (Ezequiel 33:11).

99. Que significa, que "Deus é infinitamente altruísta?

Quer dizer, que Deus não deseja nada para Si, mas sim almeja única e
exclusivamente o bem e a felicidade das Suas criaturas. "Deus tão pouco é
servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois
Ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas" (Atos
17:25).

100. Que quer dizer: "Deus é o mais abençoado?"


Quer dizer, que Deus concentra em Si todas as bênçãos que possam ser
imaginadas, como também aquelas que nunca podem ter surgido na mente
humana, por causa da nossa imperfeição e fraqueza. "Bem-aventurado, e
único poderoso Senhor, Rei dos Reis e Senhor dos Senhores" (1 Tim. 6:15).

101. Se Deus é realmente um Espírito, por que encontramos nas Sagradas


Escrituras termos como: "Coração de Deus," "Olhos de Deus," Ouvidos de
Deus," "As mãos de Deus" etc?

Neste caso as Sagradas Escrituras utilizam a fala puramente humana, a fim de


tornar mais compreensíveis as diversas faculdades de caráter divino, por
exemplo: "O Coração de Deus significa a bondade e o amor de Deus," "Os
Ouvidos e os Olhos de Deus" significam a Suprema Sabedoria de Deus," "A
Mão de Deus" quer dizer a Força Suprema de Deus, etc.

102. Se Deus é Onipresente (presente em todos os lugares), por que então


falamos que Deus está no céu ou então na igreja?

Deus realmente é Onipresente (presente em todos os lugares), porém no céu


encontra-se em glória toda especial, pois ali é a morada dos espíritos
luminosos (arcanjos, anjos), e de almas felizes, gozando a eterna alegria.
Também na igreja Deus encontra-se manifestado de forma ampla e concreta
personificado nos Santos Sacramentos, evocado em preces e diversos rituais
da Santa Igreja Ortodoxa, etc. Disse o próprio Salvador: "Porque onde
estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou Eu no meio deles" (S.
Mat. 18:20).

103. Como devemos entender as palavras do "CREDO" "Creio em um só


Deus?"

Devemos entender estas palavras como aplicadas ao Mistério da Santíssima


Trindade.

104. Em que consiste o Mistério da Santíssima Trindade?

Consiste em ser Deus UM-Só em três pessoas distintas.

105. Como se chamam essas três Pessoas de Deus?

Chamam-se:

1. O Pai.

2. O Filho.

3. O Espirito Santo.
Todas as três Pessoas formam Um Deus em Santíssima Trindade eternamente
unida e indivisível.

106. Onde encontramos a explicação sobre a Santíssima Trindade no Novo


Testamento?

Os principais trechos do Novo Testamento que tratam sobre este assunto são
os seguintes: "Portanto ide, ensinai todas as nações, batizando-os em nome do
Pai e do Filho e do Espírito Santo (S. Mat. 28:19). "Porque três são os que
testificam no Céu: O Pai, O Verbo e o Espírito Santo; e estes três são UM" (l
Epístola de S. João 5:7).

107. Podemos encontrar o testemunho sobre a Santíssima Trindade no Antigo


(Velho) Testamento?

No Velho Testamento encontramos também o testemunho sobre a Santíssima


Trindade, porém com menor precisão: "Pela palavra do Senhor foram feitos
os Céus e todo o exército deles pelo Espírito da Sua boca" (Salmo de Davi
33:6, Edição da Sociedade Bíblica Internacional). "E clamavam uns para os
outros dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos exércitos" (Isaías 6:3).

108. Como é possível que Um Deus fique em três Pessoas?

Não podemos compreender a plenitude deste supremo Mistério de Deus em


virtude da enormidade das nossas imperfeições e pecados, porém temos a
profunda e inabalável fé nesta verdade principal e fundamental da nossa Santa
Religião Ortodoxa, inclinando-nos com temor e humildade perante a
grandiosidade do Criador de acordo com as palavras santificadas do Apóstolo
das Nações: "Ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus" (1
Epístola aos Coríntios do S. Ap. Paulo 2:11)

109. Essas três Pessoas da Santíssima Trindade possuem características iguais


ou diferem entre si?

As três Pessoas da Santíssima Trindade possuem a mesma essência e a mesma


natureza divinas, sendo infinitamente perfeitas.

110. As três Pessoas da Santíssima Trindade possuem a mesma dignidade


divina?

Sim. Todas as três Pessoas da Santíssima Trindade possuem a mesma


dignidade divina. Da mesma forma como o Deus Pai é o Deus Verdadeiro, o
Deus Filho também é Deus Verdadeiro e o Deus Espírito Santo também o é;
com tudo isto, porém, em três Pessoas acha-se Um-único Deus.

111. Em que concerne a diferença entre as três Pessoas de Deus?


A diferença entre as três Pessoas da Santíssima Trindade consiste nos
seguintes pontos:

1. O Deus Pai não é criado nem procede de pessoa alguma.


2. O Deus Filho é criado pelo Deus Pai antes de todos os tempos.
3. O Deus Espírito Santo procede do Deus Pai antes de todos os
tempos.

"O Senhor me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei" (Salmo de Davi 2:7 —
Edição da Sociedade Bíblica Internacional). "Mas quando vier o Consolador,
que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que
procede do Pai, ele testificará de mim" (S. João 15:26).

112. Quais são os atos principais que atribuímos a cada uma das três Pessoas
da Santíssima Trindade?

Atribuímos os seguintes:

1. A Deus Pai — A Criação do Universo;

2. A Deus Filho — A Remissão dos pecados do


gênero humano;

3. A Deus Espírito Santo — A iluminação e


santificação dos espíritos.

113. Qual é a denominação que damos às três Pessoas de Deus em conjunto?

Denominamos: Santíssima Trindade.

114. Por que denominamos Deus "Onipotente?"

Porque Ele tem em Seu poder Supremo tudo e governa sobre todo o mundo
visível e invisível por meio de leis universalmente sábias, por Ele
estabelecidas.

115. Que quer dizer tem tudo em Seu poder Supremo?

Significa, que o Universo inteiro existe e perdura em maravilhoso equilíbrio e


com absoluta precisão enquanto Deus Todo-poderoso assim o deseja.

116. Que quer dizer governa sobre todo o mundo visível e invisível?

Quer dizer, que as leis divinas se estendem sobre todos os seres vivos, sobre
toda a natureza e finalmente sobre todos os seres invisíveis e que nada
acontece dentro do Universo sem vontade de Deus ou sem a Sua direta
permissão.

117. E as desgraças e sofrimentos são da mesma forma dirigidos por Deus


para o bem?

As desgraças e os sofrimentos são da mesma forma dirigidos por Deus para o


bem dos homens, pois deles utiliza-se Deus para castigar e corrigir os maus,
aplicando-os, de outro lado, aos bons, a fim de expor à prova os valores
espirituais e a resistência moral deles, tornando-os mais dignos da felicidade
eterna no Céu.

118. Que significam as palavras do "CREDO": "Criador do Céu e da terra, de


tudo que é visível e invisível?"

Significam que tudo que existe foi criado por Deus, e que nada surgiu sem a
Vontade. "No princípio criou Deus os céus e a terra" (1 Moisés 1:1). "Porque
nele, foram criadas todas as coisas que há nos Céus e na terra, visíveis e
invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam
potestades: tudo foi criado por Ele e para Ele" (Epíst. de S. Paulo aos
Colossenses 1:16).

119. Que significa a palavra "Criar?"

Criar, quer dizer fazer algo do nada.

Sobre a Criação do Mundo,

Os Anjos e Satanás

120. Com que finalidade Deus criou o mundo?

Deus criou o mundo:

1. Para a Sua maior glória.


2. Para a felicidade e o benefício da criação (dos seres criados).

121. Como devem ser compreendidas as coisas discriminadas no "CREDO"


como sendo "tudo que é invisível?"

Sob esta discriminação devemos entender todo o mundo invisível, quer dizer o
mundo espiritual ao qual pertencem também os anjos.

122. Que são os anjos?


São as criaturas divinas, as mais perfeitas. Espíritos Puríssimos, Possuidores
de intelecto superior, da livre e espontânea vontade, de enorme poder, porém,
sem possuir corpo visível e material.

123. Com que finalidade criou Deus os anjos?

Deus criou os anjos para ser por eles adorado e louvado, para ser por eles
amado e para ser por eles servido. "Bendizei ao Senhor, anjos seus,
magníficos em poder, que cumpris as suas ordens, obedecendo à voz da sua
palavra" (Salmo de David 103:20, Edição da Sociedade Bíblica Internacional).

124. Que significa a palavra "anjo?"

Esta denominação descende da palavra grega "Angellose significa


mensageiro. A razão desta denominação consiste no fato de Deus utilizar-se
com freqüência dos anjos para transmitir as Suas mensagens aos homens.
Temos como exemplo a anunciação da Nossa Senhora sempre Virgem Maria,
pelo arcanjo Gabriel.

125. Em quantos grupos se dividem os anjos?

Os anjos dividem-se em 9 coros angélicos:

1. Anjos.
2. Arcanjos.
3. Principados.
4. Poderes.
5. Potestades (As Forças).
6. Domínios.
7. Tronos.
8. Querubins.
9. Serafins.

(Epístola de S. Paulo aos Efésios 1:21).

126. Como eram os anjos quando criados por Deus?

Na ocasião da sua criação os anjos eram Espíritos bons e felizes; possuidores


da Graça Santificadora e de todas as Virtudes.

127. Todos os anjos continuam a ser bons e todos eles conservaram a divina
Graça Santificadora?

Não! Nem todos os anjos são bons e nem todos eles conservaram a Graça
Santificadora. Alguns deles perderam essa Graça divina e tornaram-se
espíritos maus.
128. Por que se tornaram espíritos maus?

Na realidade foram criados bons e puros, como aliás todos os anjos, porém
devido ao orgulho não mais obedeceram às ordens de Deus. Desta forma
abandonaram Deus, caindo em horríveis erros de egoísmo, orgulho e maldade.
O Santo Apóstolo Judas Tadeu diz que esses anjos são "Aqueles que não
guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria
habitação" (Epístola de S. Judas, 6).

129. Como Deus castigou os anjos orgulhosos?

Destituindo-os dos seus poderes e derrubando-os dos Céus para o inferno. "Eu


via Satanás, como raio, cair do céu" (Ev. de S. Lucas 10:18). "Porque se
Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas havendo-os lançado no
inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o
juízo" (Epístola de S. Pedro 2-4).

130. Como denominamos os anjos decaídos?

Os anjos que caíram em pecado de orgulho e foram por Deus condenados ao


inferno, denominamos: "Espíritos maus, "Espíritos malignos," "Diabos,"
"Demônios" etc.

131. Que significa a palavra -diabo- e por que denominamos assim os


espíritos maus?

A palavra "diabo" procede do têrnio grego "diavolos" e significa tentador.


Assim denominamos os espíritos maus pela razão de procurarem eles
constantemente tentar os homens para as más ações, induzindo-os a
pensamentos errôneos e desejos impuros. Assim falou Nosso Senhor Jesus
Cristo aos pecadores: "Vós tendes por pai o diabo, e quereis satisfazer os
desejos de vosso pai; ele foi homicida desde o princípio e não se firmou na
verdade, porque não há verdade nele; quando ele profere mentira, fala do
que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira" (Ev. de S. João 8:44).

132. Como são os anjos bons?

São, afetos a nós, amam-nos, guardam os nossos corpos e as nossas almas do


mal, induzem-nos para os atos bons e oram por nós a Deus Todo-
misericordioso.

133. Como denominamos os anjos especialmente destinados por Deus para


nos guardarem do mal?

Denominamos "Anjos de guarda."


134. De onde surgiu esta denominação?

Surgiu das próprias Sagradas Escrituras: "Porque aos seus anjos dará ordem
a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos" (Salmo de Davi
91:11, Edição da "Sociedade Bíblica Internacional"). Além deste trecho da
Bíblia Sagrada temos vários outros trechos da mesma fonte tirados da vida de
Lot, de Tobias, etc.

135. Todos nós temos um anjo de guarda?

Sem dúvida, cada um de nós possui um anjo de guarda. Temos para isto o
testemunho nas palavras do próprio Salvador: "Vede, não desprezeis algum
destes pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos nos céus sempre
vêem a face de meu Pai que está nos céus" (Ev. de S. Mateus 18:10).

136. Quais são os nossos deveres perante os anjos de guarda?

São os seguintes:

1. Adorá-los e obedecerás suas instruções, apresentar-lhes a nossa


gratidão e orar a eles.
2. Imitá-los em tudo, quer dizer: Ser puros, piedosos, serviçais e
prontos a servir e ajudar o nosso próximo.

137. Como se comportam a nosso respeito os espíritos maus?

Como verdadeiros encarniçados inimigos: odeiam-nos e invejam-nos,


induzem-nos ao pecado, procuram por todos os meios prejudicar o nosso
corpo e a nossa alma e antes de tudo desejam a nossa eterna condenação aos
suplícios do inferno. Temos provas disto nas Sagradas Escrituras:

A condenação de Adão e Eva, induzidos para o mal e à desobediência a Deus


por Satanás, os suplícios de Jó, infligidos por Satanás, o terrível crime de
traição cometido por Judas contra a sagrada pessoa do Divino Mestre Jesus,
crime este insuflado por Satanás etc. Além disto encontramos nas Sagradas
Escrituras inúmeros casos de alienação mental provocada pelo diabo. "Sede
sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor,
bramando como leão, buscando a quem possa tragar" (1 Epístola de S. Pedro
5:8).

138. De que forma devemos combater as tentações de Satanás?

Vigiando, orando e combatendo-as ininterruptamente. Devemos tomar


cuidado para não nos tornarmos semelhantes aos espíritos malignos ou nos
tornarmos sócios deles por causa de alguma tentação.
139. Que foi criado antes — o mundo visível ou o mundo invisível?

O mundo invisível foi criado antes do mundo visível "A Profissão de Fé


Ortodoxa," 1 Parte. Perg. 18).

140. Como falam as Sagradas Escrituras sobre a criação do mundo?

No princípio Deus criou do nada o céu e a terra. A terra era sem forma e
vazia. Em seguida Deus procedeu na criação da seguinte maneira:

1. No primeiro período, chamado na Bíblia "primeiro dia," Deus


criou a luz.
2. No segundo período, chamado "segundo dia," Deus criou o
firmamento celeste, ou melhor, o céu visível;
3. No terceiro período, chamado "terceiro dia," Deus criou as
grandes bacias aquáticas (oceanos, mares, lagos e rios),
continentes, ilhas e a plantação que recobre a terra.
4. No quarto período, chamado "quarto dia," Deus criou as estrelas,
o sol e a lua;
5. No quinto período, chamado "quinto dia," Deus criou os peixes,
o mundo animal aquático e os pássaros;
6. No sexto período, denominado "sexto dia," Deus criou o mundo
animal que vive em terra firme, os répteis e os ofídios e
finalmente, como coroamento da sua criação, criou Deus o
homem;
7. No sétimo período, denominado "sétimo dia," Deus descansou
da sua obra.

Esta é a razão por que o sétimo dia da semana é destinado ao descanso e ao


louvor a Deus. Antigamente era denominado Saabath, que significa descanso
ou sossego. A Santa Igreja Ortodoxa denominou o sétimo dia da semana
"Domingo," em memória eterna de Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho
Unigênito de Deus, que se sacrificou voluntariamente para a salvação da
humanidade (Dominus em latim significa "Senhor") sendo a denominação
Sábado (Saabath) conservada em honra do sétimo dia da criação.

141. Foram os seres visíveis criados na mesma aparência, como podemos


apreciá-los atualmente?

Não! Quando Deus criou os seres visíveis "Tudo quanto tinha feito, eis que
era muito bom" (Gen. 1:31). Tudo, portanto, era puro, belo e tranqüilo.

142. Como fala o Antigo Testamento sobre a criação do homem?


Deus em Santíssima Trindade disse: "Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança" (Gen. 1:26).

E criou Deus o corpo do primeiro homem do pó da terra e insuflou-lhe o


espírito da vida. E denominou Deus o primeiro homem "Adão," nome que
significa "Tirado da terra."

"E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes


o fôlego da vida: e o homem foi feito alma vivente" (Gen. 2:7).

Após ter criado o homem, levou-o o Senhor Deus para o jardim maravilhoso
denominado Éden ou Paraíso, subordinou a ele todos os animais, tornando-o
um senhor verdadeiro da terra. Em seguida fez descer em Adão um pesado
sono, durante o qual tomou uma das costelas do seu corpo, formando dela a
mulher, que denominou Eva e que devia tornar-se a mãe do gênero humano.
(Gen. 2: 15-22). (*)
Este trecho da Bíblia possui um profundo sentido simbólico, que, todavia, exigiria, para ser elucidado, amplas e demoradas pesquisas
teológicas, que, naturalmente, não podem entrar no reduzido estudo, que é representado nesta obra.

Sobre o Homem, o Paraíso e o Pecado

dos Primeiros Homens

143. De que é composto o homem?

É composto do corpo e de alma imortal.

144. Como devemos compreender que o homem foi criado à imagem e


semelhança de Deus?

Devemos compreender, que a semelhança do homem com o seu Criador


consiste em "Verdadeira justiça e santidade" (Epístola de S. Paulo aos
Efésios 4:24) e também no fato de possuírem os homens uma alma imortal
dotada de intelecto e de livre e espontânea vontade.

145. Que é o espírito (ou o fôlego) da vida?

O espírito ou o fôlego da vida é justamente a alma que pode ser descrita


também como Espírito imortal.

146. Para que criou Deus os homens?


Deus criou os homens, para ser por eles louvado, amado e servido e para que
os mesmos alcançassem a eterna felicidade no caminho da compreensão das
verdades divinas.

"Deus quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da


verdade" (1 Epístola de S. Paulo a Timóteo 2:4).

147. Foram os primeiros homens iguais àqueles que vemos atualmente?

Quando Deus criou os primeiros homens: Adão e Eva, foram eles bons e
felizes pois:

1. Possuíam a Graça Santificadora, eram santos e justos.


2. Possuíam o direito à eterna felicidade no céu.
3. Possuíam um intelecto superior.
4. Possuíam um corpo imortal.
5. Desconheciam qualquer sofrimento.
6. Viviam no Paraíso.

148. Que significa a palavra "Paraíso"?

Significa "jardim" e discrimina o lugar onde viviam os primeiros homens após


serem criados por Deus.

149. O Paraíso em que viviam os primeiros homens era um lugar material ou


espiritual?

Para os corpos de Adão e Eva, o Paraíso era um lugar material abençoado e


visível; para as almas deles, porém, era um lugar espiritual, que correspondia
a uma convivência espiritual com Deus e contemplação espiritual de Suas
obras divinas. (Sermão de São Gregório o Teólogo 38:42, e "A Teologia" de
S. João de Damasco, livro 2 cap. 12, lin. 3).

150. Os dons recebidos de Deus foram de propriedade exclusiva dos primeiros


homens?

Não! Os dons e os benefícios que Deus deu aos primeiros homens deveriam
passar também aos seus descendentes.

151. Para que Eva foi criada da costela de Adão?

Para que o gênero humano inteiro fosse descendente de um só corpo e para


que possa amar-se socialmente e ajudar-se mutuamente em todos os séculos.

152. Como se chamavam as duas árvores misteriosas e sobrenaturais que


cresciam no Paraíso?
No Paraíso cresciam duas árvores de qualidades misteriosas e sobrenaturais:

1. "A árvore da vida," cujos frutos tornavam o corpo humano


imortal e não sujeito às enfermidades.
2. "A árvore do conhecimento do bem e do mal."

153. Qual foi o preceito que Deus deu aos homens quando lhes entregou o
Paraíso?

Deus proibiu aos homens comer os frutos da "árvore do conhecimento do bem


e do mal," advertindo-os de que se acaso transgredissem essa ordem,
morreriam.

154. Os primeiros homens permaneceram para sempre bons e felizes?

Não. Tornaram-se infelizes de corpo e de alma em virtude de grave pecado


que cometeram.

155. Que pecado foi este?

Atenderam os conselhos de Satanás, comeram os frutos da árvore proibida, q.


d. da "árvore do conhecimento do bem e do mal."

156. Após terem cometido este pecado, os primeiros homens pediram perdão
a Deus?

Não! Após terem pecado, os primeiros homens não chegaram a pedir perdão
ao seu Criador, culpando-se, entretanto, reciprocamente.

157. Quais foram as conseqüências do pecado dos primeiros pais da


humanidade?

Foram as mais desastrosas. Além de tornarem-se profundamente infelizes de


corpo e de alma, sofreram Adão e Eva os seguintes castigos:

1. Atraíram sobre si a ira de Deus e a Sua maldição.


2. Perderam a Graça Santificadora.
3. Perderam o direito à eterna felicidade, merecendo a eterna
condenação.
4. O intelecto deles ficou anuviado e a vontade tornou-se
predisposta ao mal.
5. Foram condenados a inúmeras enfermidades, dores etc., e
finalmente à morte.
6. Foram expulsos do Paraíso.

158. O pecado de Adão e Eva prejudicou somente a eles?


Não. Não, prejudicou somente a eles, mas estendeu-se a todos os seus
descendentes, acompanhado de todas as conseqüências terríveis daí advindas.

"Pelo quê, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a
morte, assim também a morte passou a todos os homens." (Epístola de S.
Paulo aos Romanos, 5:12).

159. Como se chama, portanto, o pecado com o qual todo ser humano nasce
para a vida terrena?

Chama-se "Pecado Original" ou "Pecado hereditário," pois herdamo-lo dos


primeiros homens.

160. Quem, dos nascidos na Terra, se libertou do "Pecado Original?"

O único nascido na Terra, que se libertou deste pecado, foi o Filho Unigênito
de Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, nosso Senhor Jesus
Cristo. "E nele não há pecado" (1 Epístola de S. João 3:5).

Sobre o Destino, a Graça,

e a Providência Divina

161. Que denominamos "Destino de Deus?"

Destino de Deus, quer dizer tudo aquilo que Deus decidiu e se destina à eterna
felicidade dos homens.

162. Podem os homens alcançar a eterna felicidade, exclusivamente por seus


próprios meios e esforços?

Não, não podem alcançar a eterna felicidade exclusivamente por seus próprios
meios, pois a felicidade, para a qual são destinados, é sobrenatural, podendo
ser alcançada só por meio da "Graça" com a condição de que a mesma fique
estreitamente coligada com a fé.

163. Que é a "Graça de Deus?"

A "Graça de Deus" é a salvadora Força Divina.

164. O Destino de Deus é irrevogável em relação à felicidade dos homens?

Sim, em relação à felicidade dos homens é irrevogável apesar de que


atualmente a permanência do homem na Terra não pode ser considerada feliz.
Deus, em sua infinita misericórdia, sabendo do erro em que cairam os
primeiros homens, destinou à humanidade outro meio de salvação, abrindo-
lhe novo caminho para a felicidade eterna por intermédio do Seu Filho
Unigênito, Nosso Senhor Jesus Cristo. "Como também nos elegeu nele antes
da fundação do mundo" (Epístola de S. Paulo aos Efésios 1:4).

165. Que fez Deus, para que os homens, após terem cometido o pecado
original, Pudessem novamente tornar-se felizes?

Deus prometeu a Adão e Eva enviar o Divino Salvador, para a salvação do


gênero humano.

166. Quem é este prometido Salvador do gênero humano?

É nosso Senhor Jesus Cristo.

167. Em que consiste o destino de Deus em relação ao gênero humano?

Consiste em oferecer à criatura a graça santificadora como também meios


seguros para alcançar a felicidade eterna. O homem, portanto, que procura
estes meios e segue os preceitos da Sagrada Religião Cristã Ortodoxa, pode
ter a certeza de que o destino de Deus lhe será irrevogavelmente aplicado e
que a recompensa final de todas as lutas contra o mal e o pecado, será a eterna
felicidade. "Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para
serem conformes à imagem de Seu Filho" (Epistola de S. Paulo aos Romanos
8:29).

"Pois, já que Ele previu, que uns vão aproveitar-se: da livre e espontânea
vontade para o bem e outros para o mal, assim também destinou a uns para a
glória e a outros condenou" (Profissão da Fé dos Patriarcas do Oriente, Artigo
2.9).

168. Após a criação do mundo e do homem, Deus abandonou a Sua criação ou


continua a exercer a Sua supervisão paternal sobre ela?

Deus jamais abandonou Sua criação e principalmente o homem, continuando


a exercer o Seu poder paternal por meio da Providência Divina.

169. Que é a Providência Divina?

É a ininterrupta ação do poder, da sabedoria e da bondade divinos, por


intermédio dos quais Deus mantém a existência e as forças dos seres por Ele
criados, inclusive dos homens; dirigindo-os para objetivos bons, conservando-
os em boas ações, refreando o mal e combatendo as forças infernais.
"Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em
celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor
do que elas?" (Ev. de S. Mateus 6:26). Neste trecho maravilhoso do Santo
Evangelho transpira a infinita providência divina não somente em relação ao
homem, mas a toda a natureza.

Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do


Onipotente descansará.

Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha


fortaleza, e nele confiarei. Porque ele te livrará do laço do
passarinharia, e da peste perniciosa.

Ele te cobrirá com as Suas penas, e debaixo das Suas asas estarás
seguro: a Sua verdade é escudo e broquel.

Não temerás espanto noturno nem seta que voa de dia.

Nem peste que anda na escuridão, nem mortandade que assola ao


meio-dia.

Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas tu não serás
atingido.

Somente com os teus olhos olharás e verás a recompensa dos


ímpios.

Porque Tu, O Senhor, és o meu refúgio! O Altíssimo é a tua


habitação.

Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda.

Porque aos Seus Anjos dará ordem a teu respeito, para te


guardarem em todos os teus caminhos.

Eles te sustentarão nas suas mãos, para que não tropeces com o
teu pé em pedra.

Pisarás o leão e o áspide; calcarás aos pés o filho do leão e a


serpente.

Pois que tão encarecidamente me amou, também Eu o livrarei;


Po-lo-ei num alto retiro, porque conheceu o meu Nome.

Ele me invocará, e Eu lhe responderei; estarei com Ele na


angústia; livrá-lo-ei e o glorificarei.
Dar-lhe-ei abundância de dias, e lhe mostrarei a minha salvação.

(Salmo de Davi 91 — Edição da "Sociedade Bíblica


Internacional").

Neste Salmo do Santo Rei e Profeta Davi encontramos múltiplas


provas da providência divina.

 
SOBRE O ARTIGO SEGUNDO DA

"PROFISSÃO DE FÉ ORTODOXA"

E em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigenito de Deus, nascido do Pai


antes de todos os séculos.

Luz de Luz, Deus Verdadeiro de Deus Verdadeiro, gênito e não criado,


consubstancial ao Pai, por quem foram' feitas todas as coisas.

170. Que quer dizer: Jesus Cristo, Filho de Deus?

Quer dizer, que Jesus Cristo é o Filho de Deus, pela Sua divindade na
qualidade de Segunda Pessoa da Santíssima Trindade; o Filho de Deus
recebeu o nome de "Jesus," quando nasceu na terra como homem; já os
profetas do Antigo Testamento o denominaram "Cristo."

171. Qual é o significado do nome "Jesus"?

Redentor ou Salvador.

172. Por que razão o Filho de Deus é denominado Redentor ou Salvador?

Porque nos livrou do pecado e da condenação eterna, trazendo-nos a graça e a


salvação.

173. Quem e por que deu este nome ao Filho de Deus?

O nome Jesus foi dado ao Filho de Deus por ordem do Criador e por
intermédio do arcanjo Gabriel, e porque Ele nasceu para salvar o gênero
humano.

"Eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de
Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado
é do Espírito Santo; E dará à luz um filho, a quem chamarás Jesus; porque
ele salvará o seu povo dos seus pecados" (Ev. de S. Mateus 1:20-21).

174. Que significa o nome "Cristo?"

Quer dizer — Messias ou Ungido.

175. De onde surgiu o nome Ungido?

Vem da antiga tradição de ungir com óleos a cabeça do rei durante a coroação.
Assim "Ungido" equivale a "Coroado" ou melhor — o Rei. A Santa Igreja
Cristã Ortodoxa transmite o dom do Espírito Santo por intermédio dos óleos
Sagrados.

176. Nosso Senhor Jesus Cristo é o único denominado Ungido?

Não! Era costume antigamente chamar de Ungido os reis, grandes sacerdotes


dos templos e os profetas, que recebiam por intermédio de óleos o poder
supremo em dignidade e respeito.

177. Por que então damos a nosso Senhor esta denominação?

É chamado "Ungido" ou "Messias," porque a natureza humana de que é


revestido possui todos os dons do Espírito Santo em supremo
desenvolvimento, concentrando desta forma de modo o mais elevado a
sabedoria dos profetas, a santidade dos grandes sacerdotes e o poder máximo
dos monarcas, sendo o Supremo Mestre, Sacerdote e Rei.

178. Por que chamamos a Jesus Cristo — "Senhor?"

Porque Ele é o Verdadeiro Deus e Salvador dos homens. Por esta razão,
também, pertencemos a Ele integralmente. Podemos ler nas Sagradas
Escrituras a demonstração da verdadeira divindade do nosso Senhor:

"No princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus, e o Verbo era
Deus" (Ev. de S. João 1:1). Neste misterioso trecho do Evangelho o santo
apóstolo João Evangelista denomina nosso Senhor Jesus Cristo de "Verbo"
(Em grego "Logos"). "E sabemos que já o Filho de Deus é vindo (veio), e nos
deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é
verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro
Deus e a vida eterna" (1 Epístola de S. João 5:20).

179. Por que denominamos Nosso Senhor Jesus Cristo "O Unigênito Filho de
Deus?"
Assim denominamos nosso Senhor Jesus Cristo pela razão de ser Ele e Só
ÊLE, o Filho de Deus, nascido da essência do Deus Pai, sendo por isso mesmo
da mesma essência que o Criador, e infinitamente superior a todos os anjos e
homens santos, que recebem freqüentemente o nome de "Filho de Deus" pelo
fato de possuírem um a graça divina toda especial. Como aliás diz o Santo
Evangelho: "A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos
filhos de Deus; aos que crêem no seu nome" (Ev. São João 1:12).

180. Quais são os trechos das Sagradas Escrituras nos quais nosso Senhor é
denominado "Filhode Deus?"

Eis alguns trechos:

"E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a
glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade" (Ev. S. João 1:14).

"Deus nunca foi visto por alguém, o Filho Unigênito, que está no seio do Pai,
este, o fez conhecer" (Ev. São João 1:18).

181. Por que o "Credo" nos ensina que o Filho de Deus, nosso Senhor Jesus
Cristo é nascido do Pai?

O "Credo" ensina-nos desta forma para indicar as qualidades (características)


especificas, pelas quais o Deus Filho difere do Deus Pai, e do Deus Espírito
Santo.

182. Por que razão lemos no "Credo," que Nosso Senhor nasceu do Deus Pai
antes de todos os séculos?

Para que ninguém possa afirmar que houve tempo, quando a Segunda Pessoa
da Santíssima Trindade não havia existido; a fim de concretizar a inabalável
verdade, que Nosso Senhor Jesus Cristo é o Filho de Deus igualmente eterno,
como Deus Pai.

183. Que significam as palavras do "Credo" — Luz de Luz?

Essas palavras são destinadas a explicar no exemplo da luz visível o supremo


mistério do nascimento do Deus Filho do Deus Pai. Olhando o sol, vemos a
luz; desta luz solar nasce a luz que preenche o nosso mundo visível; no
entanto, tanto a luz solar, quanto a luz que nos cerca é sempre a mesma luz, da
mesma natureza e das mesmas características. Assim, também, Deus Pai é a
Luz Suprema e o Filho de Deus, nascido dele, é igualmente a mesma Luz
Suprema e eterna. Chegamos, pois, à compreensão, que Deus Pai e Deus Filho
representam a mesma Luz indivisível da mesma Natureza Divina. "E a luz
resplandece nas trevas" (Ev. de São João 1:5).
184. Que significam as palavras do "Credo" — Deus Verdadeiro de Deus
Verdadeiro?

Significam, que o Filho de Deus é Deus Verdadeiro da mesma forma como o


é Deus Pai.

185. De onde podemos saber que nosso Senhor Jesus Cristo é Filho de Deus e
Deus Verdadeiro?

Inúmeros trechos das Sagradas Escrituras indicam esta sagrada Verdade:

"E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me
comprazo" (Ev. de São Mateus 3:17).

"O sumo sacerdote, que lhe tornou a perguntar, e disse-lhe: És tu o Cristo,


Filho do Deus bendito? E Jesus disse-lhe: Eu o sou, e vereis o Filho do
homem assentado à direita do poder de Deus, e vindo sobre, as nuvens do
céu" (Ev. de São Marcos 14:61-62).

"E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho de Deus


vivo" (Ev. de São Mateus 16:16). "Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu e
Deus meu" (Ev. de São João 20:28).

"E sabemos que já o Filho de Deus é vindo (veio), e nos deu entendimento
para conhecermos o que é verdadeiro, e no que é verdadeiro estamos, isto é,
Seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna" (1 Epístola
de São João 5:20).

A Sagrada Tradição da Santa Igreja Cristã Ortodoxa do Oriente possui


inúmeras provas para a divindade de nosso Senhor Jesus Cristo.

186. Por que razão esta definição do "Credo" — Nascido mas incriado?

Esta definição foi necessária para demonstrar o erro do herege Ário,


condenado no primeiro Concilio Universal de Nicéia no ano 325 da Era
Cristã. Ário afirmava que nosso Senhor Jesus Cristo não era a Segunda Pessoa
da Santíssima Trindade, que nasceu antes de todos os séculos e somente veio à
Terra para salvar a humanidade, mas sim, que era um simples inspirado,
criado, como qualquer outro ser humano. Felizmente o 1o Concílio
demonstrou a horrível falsidade desta afirmação.

187. Como devemos compreender as palavras do "Credo" — Consubstancial


ao Pai?

A palavra "Substância" indica todos os elementos de que algo é composto.


Quando falamos que Deus Filho é consubstancial ao Deus Pai, queremos dizer
que os elementos supremos, que fazem a estrutura divina do Deus Pai, são
idênticos aos que formam o Deus Filho. "Eu e o Pai somos Um" (Ev. de São
João 10:30).

188. Como devemos comprender as palavras: "Por quem foram feitas todas as
coisas?"

Estas palavras indicam que Deus Pai criou tudo por intermédio do Seu Eterno
Filho, que é a Eterna Sabedoria e o Eterno Verbo Divino. "No princípio era o
Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no
princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e nada do que tem
sido feito, foi feito sem Ele" (Ev. de São João 1:1-3).

SOBRE O ARTIGO TERCEIRO DA

"PROFISSÃO DE FÉ ORTODOXA"

Que desceu dos Céus por causa de nós homens e de nossa salvação, e
encarnou-se do Espírito Santo e da Virgem Maria, e se fez Homem.

189. De quem se fala na "PROFISSÃO DE FÉ ORTODOXA" quando se diz:


"O qual... desceu dos céus?"

Fala-se do Filho de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo.

190. Como devemos entender isto, uma vez que sabemos que Deus Filho,
como Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, está presente em todo lugar?

Sem dúvida o Filho de Deus está presente em todo lugar, como está da mesma
forma presente tanto nos céus como na terra. É evidente, porém, que nos
tempos antigos o Filho de Deus era desconhecido dos homens da época,
tornando-se aspecto humano. Esta, portanto é a explicação correta das
palavras "desceu dos Céus."

"Ora ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem,
que está no céu" (Ev. de São João 3:13).

191. Por que o Filho de Deus desceu dos céus?

O Filho de Deus desceu dos céus por causa de nós homens e por causa da
nossa salvação, como podemos ler no "Credo."

Devemos compreender, que nosso Senhor Jesus Cristo redimiu o gênero


humano com o terrível sacrifício da Cruz, que aceitou voluntariamente a fim
de salvar-nos a nós todos da eterna condenação, abrindo-nos as portas da
eterna felicidade no seio de Deus.
192. Por que está escrito no "Credo," que o Filho de Deus desceu dos Céus
por causa de nós homens?

Assim consta no "Credo," para indicar que nosso Senhor não veio à terra para
salvar só alguns homens ou uma determinada nação, mas sim, para levar a
salvação a todo o gênero humano, sem distinção de raças, classes sociais, etc.

193. Por que veio o Filho de Deus salvar o gênero humano?

Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, veio à terra a fim de salvar o
gênero humano do pecado, da maldição e da morte eterna.

194. Que é "pecado?"

Pecado é tudo aquilo que se encontra em contradição com a lei de Deus; é


portanto tudo que representa a trans-

gressão das leis de Deus.

"Pecado é iniqüidade" (I Epístola de São João 3:4).

195. Se os homens são criados conforme a semelhança e a imagem de Deus,


como pode ser que entre eles exista o pecado, uma vez que Deus é sem
pecado?

É Satanás quem induz os homens ao pecado: "Quem comete o pecado é do


diabo; porque o diabo peca desde o princípio" (Epístola de São João 3:8).

196. Como foi que o pecado passou de Satanás (do diabo) aos homens?

Satanás tentou Eva e por intermédio dela, Adão, induzindo-os desta forma a
transgredir as leis de Deus.

197. Por que o processo de ingerir os frutos da "árvore do conhecimento do


bem e do mal" tornou-se mortal para os homens?

Porque foi causa direta da desobediência à vontade divina, separando


imediatamente os homens da graça de Deus e tornando-os alheios da vida
divina.

198. Como a própria denominação da árvore ("árvore do conhecimento do


bem e do mal") corresponde àquilo que havia acontecido aos primeiros
homens?

Realmente a própria denominação da árvore bem indica o que havia


acontecido aos primeiros homens, uma vez que transgredindo a ordem de
Deus o homem se tornou ciente da suprema verdade que: O Bem consiste em
seguir exatamente a vontade de Deus, enquanto o Mal é o caminho da negação
desta vontade, a revolta contra ela.

199. Como pôde acontecer, que Adão e Eva obedeceram às instigações de


Satanás contra a própria vontade de Deus?

Deus, na Sua infinita bondade (no ato de criação do homem), deu-lhe a livre e
espontânea vontade, que sendo, por sua própria natureza, propensa ao amor a
Deus, era, no entanto, completamente livre, podendo o homem usá-la como
bem lhe aprouvesse. Aconteceu, portanto, que o homem fez uso dela,
contradizendo as leis divinas e desobedecendo à vontade do seu Criador.

200. De que maneira Satanás tentou Adão e Eva?

O eterno inimigo do gênero humano — Satanás — apresentou-se a Eva sob a


forma de uma serpente e afirmou que comendo os frutos da "árvore do
conhecimento do bem e do mal," os primeiros homens não somente não
morreriam, mas pelo contrário iriam tornar-se exatamente como Deus, pois
teriam conhecimento de todas as verdades. Eva deixou-se convencer pelas
palavras do diabo e pela beleza do fruto, comendo-o e dando em seguida a
Adão, que lhe seguiu o exemplo (*).

201. Quais foram as conseqüências do pecado de Adão e Eva?

Foram — a maldição divina e a morte.

202. Que é "maldição divina?"

É a condenação do pecado por meio de julgamento justo e sagrado.


Conseqüentemente a maldição divina é, também, o próprio mal que surgiu na
terra, originário do pecado, para o castigo dos homens.

203. Que forma de morte surgiu como conseqüência do pecado dos primeiros
homens?

Em conseqüência do pecado de Adão e Eva surgiu a morte da seguinte forma:

1. A morte física, quer dizer, a separação da alma, que vivifica o


corpo, do corpo material.
2. A morte espiritual, que equivale à perda da graça divina, que
vivifica a alma com elementos supremos da vida espiritual.

204. Pode a alma morrer do mesmo modo que morre o corpo?


Não! A alma pode morrer, porém de modo diferente que o corpo. 0 corpo,
quando morre, é desprovido de sentidos e passa a processo de decomposição.
A alma, porém, quando morre em conseqüência do pecado, torna-se
desprovida da Luz Espiritual, da felicidade e da alegria. Não está, no entanto,
sujeita à decomposição e, assim sendo, não desaparece; permanece no estado
de obscuridade, tristeza e sofrimento.

205. Por que razão não foram só os primeiros homens a serem castigados com
a morte, mas sim todos os homens em todos os tempos?

Todos os homens morrem porque descendem de Adão e Eva, herdando por


esta razão o terrível contágio do pecado original. Além disto os homens
morrem, também, porque continuam
(*) É profundamente simbólico este trecho da Bíblia

pecando. Como de uma fonte contagiada corre um córrego, que se transforma


em seguida num imenso rio, da mesma maneira dos primeiros homens
contagiados pelo terrível pecado da desobediência a Deus, corre durante
séculos um enorme rio de seres humanos, que, além de carrear consigo o
contágio original, aumentam constantemente a carga do mal, adicionada de
pecados cada vez mais horripilantes. Assim também, a morte, o terrível
castigo, imposto pelo Criador aos primeiros homens, continua em vigor até os
nossos dias e continuará até quando o gênero humano voltar ao caminho do
Bem.

"Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a
morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos
pecaram" (Epístola de S. Paulo aos Romanos 5:12).

206. Por que Deus não impede aos homens de cometer pecados?

Deus não impede aos homens de cometer pecados, pois não deseja privá-los
da livre e espontânea vontade, deixando sempre aberto o caminho do Bem,
que os homens podem escolher.

207. Após cometer o pecado original, podiam os primeiros homens continuar


a consumir os frutos da "árvore da vida," obtendo conseqüências benéficas
para eles?

Não! Consumindo os frutos da "árvore da vida," os primeiros homens não


poderiam morrer, continuando desta forma na permanência contínua no estado
de pecado em que foram induzidos por Satanás. Esta, pois, foi a razão pela
qual Deus expulsou Adão e Eva do Paraíso.

208. Havia qualquer esperança de salvação para o genero humano?


Deus, em Sua infinita misericórdia, ofereceu aos homens uma esperança de
salvação, prometendo enviar-lhes o Salvador, que venceria o diabo e levaria
os homens à redenção dos seus pecados, da maldição e da morte eterna.

"Esta (semente da mulher) te ferirá a cabeça da serpente" (1 Moisés 3:15)


(*).

209. Por que o prometido Salvador, que foi nosso Senhor Jesus Cristo é
denominado "semente da mulher?"

Nosso Senhor Jesus Cristo, Salvador dos homens, é denominado na Bíblia


"semente da mulher," em vista de ter nascido na terra da santíssima Virgem
Maria, que não possuía esposo terreno.

210. A que obrigava os homens a promessa da vinda do Salvador à terra?

Esta promessa obrigava os homens a ter fé no Salvador, que estava por vir, da
mesma forma que estão convocados a tê-la nos tempos atuais, depois que o
Salvador já veio.

211. Todos os homens dos tempos antigos possuíam fé na chegada do


Salvador?

Não. Não foram todos os homens da antigüidade, que possuíam esta fé, pois
muitos deles se esqueceram da promessa de Deus neste sentido.

212. Havia Deus renovado a Sua promessa outras vezes?

Sim. Várias vezes Deus relembrou aos homens Sua promessa. Por exemplo:
Disse a Abraão nas seguintes palavras: "E em tua semente serão benditas
todas as nações da terra" (Gênesis

(*) O livro de Moisés é o Gêneses.

22:18). Também disse Deus ao santo rei Davi: "Quando teus dias forem
completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti a
tua semente, que sair das tuas entranhas, e estabelecerei o teu reino. Este
edificará uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu reino para
sempre" (2 Samuel 7:12-13).

213. Qual é o significado dos seguintes dizeres contidos no "Credo:


"Encarnou-se pelo Espírito Santo e da Virgem Maria?"

Significam, que o Filho de Deus milagrosamente e pelo poder do Espírito


Santo, adotou o corpo humano, desprovido do "pecado original," tornando-se
homem, sem, no entanto, deixar de ser Deus.
"E o Verbo se fez carne" (Evangelho de São João 1:14).

"E disse Maria ao anjo: Como se fará isto, visto que não conheço varão?

E respondendo o anjo disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a


Virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra; pelo que também o Santo,
que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus" (Evangelho de São
Lucas 1:34-35).

214. Por que além da palavra "Encarnou-se" ainda lemos no "Credo" "E se fez
homem?"

Essas palavras "E se fez homem," foram adicionadas propositalmente, para


que alguém não possa pensar que o Filho de Deus havia adotado somente o
aspecto externo do homem. A realidade é que nosso Senhor Jesus Cristo
assumiu todas as qualidades de homem perfeito, constituído de corpo e de
alma, porém desprovido totalmente de qualquer pecado.

"Porque há só um mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem" (1


Epístola do santo apóstolo Paulo a Timóteo 2:5).

215. Quantas naturezas, pois, há em Jesus Cristo?

Na pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo são indivisíveis e inconfundíveis as


duas naturezas: A divina e a humana.

216. Quantas vontades há em Jesus Cristo: Uma ou duas?

De acordo com as determinações do sexto Concílio Universal (em


Constantinopla no ano 680), em vista de possuir duas naturezas, divina e
humana, acham-se em nosso Senhor Jesus Cristo duas vontades — divina e
humana, sendo que a vontade humana não está em desacordo ou
desobediência à vontade divina, mas subordinada a ela.

217. Quantas pessoas há em Jesus Cristo?

Em nosso Senhor Jesus Cristo há uma só pessoa: Deus e homem — unidos


numa só Unidade. Nosso Senhor é Deus-Homem.

218. Qual a razão por que denominamos nosso Senhor: "Deus-Homem"?

Denominamos nosso senhor Jesus Cristo "Deus-Homem," em virtude de ser


Ele Deus desde o início dos tempos, tornando-se homem no ano 748 desde a
fundação da cidade de Roma (cálculo do tempo em uso naquela ocasião),
adotando a natureza humana, quer dizer: o corpo e a alma, na completa
perfeição e desprovidos de qualquer pecado.
"E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a Sua glória" (Evangelho
de São João 1:14).

219. Quem é a mãe de nosso Senhor Jesus Cristo?

Como homem, nosso Senhor Jesus Cristo tem mãe, cujo nome é Santíssima
Virgem Maria.

220. Como homem, possui nosso Senhor Jesus Cristo um pai?

Não. Como homem, nosso Senhor Jesus Cristo não possui um pai. São José
era única e exclusivamente o tutor do nosso Salvador.

221. Quem era a Santíssima Virgem Maria?

Nossa Senhora descendia da família de Abraão e Davi, da qual devia surgir o


Salvador de acordo com a promessa de Deus. Estava sob a tutela de São José,
que, pertencendo à mesma família, estava incumbido de tê-la sob os seus
cuidados, sendo a Virgem Maria oferecida a Deus e devendo, por esta razão,
permanecer no estado de virgindade para sempre.

222. Nossa Senhora permaneceu para sempre em estado de virgindade?

Realmente, nossa Senhora nunca deixou de ser virgem. Tanto antes do


nascimento do Salvador, quanto durante e depois deste nascimento,
permaneceu no estado de virgindade. Por esta razão, dirigimo-nos a ela em
nossas orações chamando-A de "Santíssima Virgem," "Sempre Virgem,"
"Puríssima" etc.

223. É admissível sustentar esta afirmativa, apesar dos conhecimentos


científicas atuais, que recusam admitir a possibilidade de ser uma mulher
Mãe, permanecendo no estado de virgindade?

Esta afirmativa não somente deve ser sustentada, mas deve ser considerada
também como um fato absolutamente irrefutável. A ciência materialista não
possui competência para discutir os assuntos de caráter divino, pois nem nos
casos puramente terrenos ela chegou a ser perfeita. As opiniões científicas
mudam de ano para ano, mesmo tratando-se de casos típicos do
desenvolvimento da inteligência humana.

224. Quais são os exemplos de falta de firmeza nas convicções da ciência


contemporânea?

Poderíamos citar inúmeros exemplos de falta de firmeza e de segurança nas


convicções da ciência. Eis alguns deles: Por ocasião da invenção da
locomotiva pelo engenheiro Stefenson, os cientistas contemporâneos alegaram
ser impraticável e impossível esse invento. O mesmo aconteceu com quase
todas as grandes invenções: O aeroplano, o automóvel, o submarino etc. No
entanto, as grandes invenções foram realizadas! No campo da medicina as
controvérsias da ciência são maiores ainda. De ano para ano, os "grandes
médicos mudam de opinião relativamente a toda espécie de assuntos vitais
ligados com esta ciência, uma vez adiantando-se nas pesquisas, outra vez
recuando, à procura de meios mais eficazes.

Em outros ramos da ciência dá-se exatamente a mesma coisa.

225. Em que se baseia a ciência atual, refutando a possibilidade de ser uma


mulher-mãe, permanecendo no estado de virgindade?

A ciência atual refuta esta possibilidade, alegando que isto é contra as leis
físicas." No entanto, os cientistas materialistas, de curta visão, que proferem
estas opiniões esquecem que as leis físicas" foram criadas por Deus, e que Ele
possui o poder de alterar e modificar essas leis, especialmente tratando-se de
oferecer a salvação ao gênero humano.

226. As "leis físicas," descobertas pela ciência, são inalteráveis?

Não. No decurso dos séculos a ciência humana modificou várias vezes os seus
pontos de vista sobre as "leis físicas fundamentais" ou "leis básicas que regem
o Universo." Os célebres pensadores e sábios não chegaram nunca a um
entendimento completo entre si. No decurso dos séculos, as opiniões mudaram
de tal forma, que nos tempos atuais consideram-se absurdas as afirmações das
grandes autoridades nos assuntos científicos dos tempos passados. A
descoberta da energia nuclear revolucionou por completo as noções
científicas, tornando obsoletas as "leis físicas," consideradas inabaláveis há
poucos anos atrás.

227. Devemos, pois, dar fé às afirmativas arbitrárias da ciência, quanto à


"impossibilidade- de nossa Senhora ter permanecido no estado de virgindade?

Não. Não devemos dar atenção a essas afirmativas em vista do que expusemos
nos pontos anteriores e porque para Deus tudo é possível!

228. Por que razão damos a nossa Senhora e sempre Virgem Maria o nome de
"Mãe de Deus?"

De acordo com a resolução do terceiro Concílio Universal, devemos


considerar que, apesar de ter nosso Senhor Jesus Cristo nascido da Virgem
Maria, como homem e conseqüentemente sob o aspecto da natureza humana,
(já que a Sua natureza divina era eternamente existente), deve nossa Senhora
levar o nome de mãe de Deus, pois o Filho que teve foi Deus Verdadeiro.
229. Por que conferimos a nossa Senhora o nome de Santíssima, glorificando-
a logo em segundo lugar depois de Deus?

Procedemos desta forma em virtude de ser nossa Senhora a Mãe de Deus,


possuidora de graça suprema e mais próxima de Deus, superando assim em
dignidade todos os seres criados por Deus e todos os Espíritos Celestiais.

Esta é a razão por que a Santa Igreja Ortodoxa venera à Mãe de Deus como
sendo superior aos querubins e aos serafins.

230. Que mais devemos saber quanto ao nascimento de nosso Senhor Jesus
Cristo da Santíssima Virgem Maria?

Com relação ao nascimento de nosso Senhor, devemos saber que, sendo este
nascimento santo e desprovido de pecado, não foi ele acompanhado das dores
habituais que caracterizam o nascimento natural, fazendo parte do castigo
infligido por Deus pelos pecados da humanidade. (São João Damasceno,
"Deus," livro 4; capítulo 14, vers. 6).

231. Onde nasceu nosso Senhor Jesus Cristo?

Em Belém, pequena cidade vizinha a Jerusalém, capital da Judéia, na


Palestina.

A Terra Santa

232. Onde se encontra a Palestina?

O país denominado atualmente "Palestina" ou "Terra Santa" fica localizado na


Ásia Menor, entre 29,5 graus e 33 graus de longitude oriental, e entre 34 graus
e 35,5 graus de latitude setentrional. Nos tempos atuais forma este território
um estado soberano, denominado "Israel"; uma república com capital em
Jerusalém. Do lado ocidental é banhado pelas águas do Mar Mediterrâneo. Ao
norte limita-se com a República do Líbano, ao nordeste com a República da
Síria, ao leste com o Reino da Jordânia e ao sudoeste com a República do
Egito.

233. Qual é a origem do nome "Palestina"?

O nome "Palestina" descende da palavra "Filistin," que era a denominação do


povo que habitava essas regiões antes de serem as mesmas conquistadas pelos
Hebreus guiados pelo profeta Moisés.

234. Por que razão denominamos a Palestina Terra Santa?


Em virtude de ter ali nascido, vivido, ensinado, padecido e ressuscitado o
nosso Salvador, Filho de Deus — Jesus Cristo.

235. A Palestina dos tempos atuais e a Palestina dos tempos de nosso Senhor,
apresentam o mesmo aspecto?

Geograficamente apresentam o mesmo aspecto. Tanto mais que, apesar de


todas as dificuldades surgidas nos vinte séculos passados, (tais como guerras,
desordens etc.), foi possível conservar a integridade dos principais lugares,
que relembram a vida e a obra de nosso Senhor, e isto graças ao carinhoso
zêlo dos cristãos, cujo trabalho e dedicação permitiram a subsistência e a
conservação desses lugares santos.

Entretanto, a própria capital do país — Jerusalém, — como está atualmente,


não se assemelha àquela maravilhosa cidade de palácios e monumentos,
conhecida nos tempos em que ali ensinava o Salvador dos homens, como
sendo uma das mais belas e suntuosas cidades do mundo. Conforme nosso
Senhor Jesus Cristo havia profetizado, não sobrou "pedra sobre pedra" da
cidade de Jerusalém. Após o levante promovido por Bar-Hoteba, um fanático-
nacionalista judeu, levante este afogado num mar de sangue pelos
dominadores exércitos romanos do imperador Adriano, este último ordenou a
destruição total e completa da cidade. Simultaneamente foi destruído o
magnífico templo de Solariam, considerado uma das mais belas obras
arquitetônicas da antigüidade.

A destruição do templo de Salonião representa o início do longo período da


dispersão do povo hebreu, que, privado do seu centro religioso e cultural,
passou a procurar refúgio nos países distantes. As terríveis palavras
exclamadas pelos judeus no ato da condenação de Jesus: O seu sangue caia
sobre nós e os nossos filhos!" cumpriram-se com toda exatidão do seu trágico
significado, o sangue do justo e santo Rei dos Reis caiu na verdade sobre este
povo, que havia levantado a mão sacrílega contra o seu Benfeitor!

236. Qual é a situação da Fé Cristã Ortodoxa na Palestina, nos tempos atuais?

Após a queda do Império Romano, passou a Terra Santa por diversas etapas
de dominação. Finalmente os turcos, apoderando-se do Império Bizantino,
estenderam a mão à Palestina, que mantiveram sob seu domínio até a queda
do Império Otomano, durante a primeira guerra mundial (19141918).

O domínio muçulmano o sobre a Terra Santa deu origem a vários


empreendimentos de caráter militar por parte dos príncipes cristãos da Europa,
que se iniciaram em 1097 D. C. com a "Primeira Cruzada." Foi realmente
levada a efeito a tomada de Jerusalém e criado o "Reino de Jerusalém." A
duração deste "Reino," porém, foi muito curta. já em 1187 o sultão Saladino
arrebatava a Terra Santa das mãos dos Cristãos. Seguiram-se várias outras
expedições desta natureza, organizadas pelos reis e papas ocidentais, que, no
entanto, preferiram encarar o assunto do ponto de vista econômico, deixando
de lado a sagrada missão de libertar os Lugares Santos, das mãos dos
Maometanos. Assim, transformaram-se as Cruzadas em expedições,
organizadas à cata de riquezas e cheias de episódios de incrível barbaridade e
crueldade indizível. Entre outras cidades, foi impiedosamente saqueada a
cidade de Constantinopla (atual Istambul), centro da Ortodoxia Bizantina.
Imagens santas, jóias e adornos riquíssimos, pertencentes à Igreja Ortodoxa,
foram carregados pelos "Cavaleiros Cruzados."

O único efeito positivo que as Cruzadas tiveram em relação aos Lugares


Santos, foi a permissão concedida pelos pertencentes à Igreja Ortodoxa, foram
carregados pelos "Catãos a possibilidade de visitar a Terra Santa. É mister pôr
em relevo o alto e generoso espírito do sultão Saladino, homem de inigualável
cavalheirismo e profunda compreensão da alma humana. Sendo um dos
maiores inimigos dos Cruzados, conseguiu, no entanto, superá-los
sobremaneira em demonstração de generosidade, prestando-lhes ensinamentos
valorosos sobre as relações justas e honestas entre os homens. Por mais
estranho que isto possa parecer foi por várias vezes que este muçulmano
indicou aos Cavalheiros Cristãos o caminho certo que deve seguir um
verdadeiro servo de Cristo!

Atualmente os lugares santos da Palestina são livres à visitação dos peregrinos


e não se encontram sob qualquer pressão por parte de quem quer que seja.

O centro principal, onde se reúnem, por assim dizer, todos os fios da fé cristã,
é a Igreja do Santo Sepulcro, erigida no lugar exato, onde se encontrava o
sepulcro de nosso Senhor Jesus Cristo. Ali todas as seitas do Cristianismo
reúnem-se em prece, dirigida Aquele que na sua derradeira "Oração enviada
ao Seu Eterno Pai, no jardim das Oliveiras, disse:

"E não rogo somente por estes, mas também por


aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim;
PARA QUE TODOS SEJAM UM, como tu, ó Pai, o
és em mim, e eu em ti, que também ÊLES SEJAM
UM EM Nós, para que o mundo creia que tu me
enviaste" (Evangelho de S. João 17:20-21).

No entanto, por mais terrível que seja, os Cristãos não estão unidos em Cristo,
nosso Senhor! Em vinte séculos, que se passaram, surgiram milhares de seitas,
as quais todas elas se consideram as únicas possuidoras dos verdadeiros
mistérios da fé e detentoras do meio certo para a obtenção da felicidade
eterna! Na Igreja do Santo Sepulcro e em outros lugares santos, os ministros e
frades das mais diversas religiões lutam entre si em constante competição
saturada de inimizade. É um quadro mais do que dramático! Aqueles que
deveriam ser unidos entre si para serem unidos em Deus, são mais do que
DESUNIDOS; são literalmente alheios aos sentimentos do amor fraternal!

Nestas condições é realmente difícil de concretizar qual das situações foi mais
proveitosa para a fé cristã: aquela, quando os Lugares Santos estavam em
poder dos infiéis, mas os cristãos podiam, à custa de enormes sacrifícios,
homenagear as santas relíquias da Fé; ou então a situação atual, quando
ninguém os impede de adorar o Senhor nos próprios lugares onde Ele viveu,
permanecendo, entretanto, num terrível estado de desunião? (Em nossa Obra:
"A História da Santa Igreja Ortodoxa," trataremos deste assunto com maior
afinco e apresentaremos provas históricas do benéfico papel representado pela
Ortodoxia, na perspectiva dos acontecimentos históricos).

Jesus-Messias

237. Quando nasceu nosso Senhor Jesus Cristo?

Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu no dia 25 de dezembro do ano 748 desde a
fundação da cidade de Roma. (Ver Questão 218).

238. Que nos dá a certeza de que Jesus Cristo é o prometido Messias?

Temos certeza que nosso Senhor Jesus Cristo é justamente o prometido


Messias, pois nele se comprovaram todas as profecias dos profetas, proferidas
acerca da vinda do Messias.

239. Quais foram as profecias sobre nosso Senhor Jesus Cristo?

São as seguintes:

1. Época da chegada do Senhor.

2. Circunstâncias ligadas com a chegada do Senhor.

3. Lugar da chegada do Senhor.

"O cetro não se arredará de Judá nem o legislador dentre seus pés, até que
venha Shiloh (palavra hebraica podendo ser traduzida como: "Pacificador");
e a Ele se congregarão todos os povos" (Gênesis 49:10). "E tu Beth-Lehen
Ephrata, posto que pequena entre milhares de judá, de ti me sairá o que será
Senhor em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias
da eternidade" (Miquéias 5:2). No belíssimo livro do profeta Daniel
encontramos vários trechos, que indicam, sem qualquer sombra de dúvida,
que este santo e sábio servo de Deus, soube prever, 490 anos antes da chegada
do nosso Salvador, vários acontecimentos e mistérios de Sua vida terrena
(Daniel 9).

4. Os milagres de nosso Senhor.

5. Os padecimentos de nosso Senhor.

6. A morte de nosso Senhor.

"Dizei aos turbados de coração:

Esforçai-vos, não temais: eis que o vosso Deus virá com vingança, com
recompensa de Deus; Ele virá e vos salvará.

Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se abrirão.

Então os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos


cantará" (Isaías: 35:4-6). "Eis que eu envio o meu anjo, que
preparará o caminho diante de mim; e de repente virá ao Seu
templo o Senhor, a quem vós buscais, o anjo do concerto, a
quem vós desejais; eis que vem, diz o Senhor dos
Exércitos" (Malaquias 3:1).

"Eis que eu vos envio o profeta Elias, antes que venha o dia
grande e terrível do Senhor" (Malaquías 4:5).

Nestes últimos trechos extraídos do livro do profeta Malaquias, percebe-se


visivelmente uma alusão a São João Batista, que é comparado ao profeta
Elias, destinado a preparar os Caminhos do Senhor. Essas palavras proféticas
foram profetizadas pelo iluminado profeta por ocasião da edificação do
segundo templo de Jerusalém, quando os seus olhos espirituais anteverem a
vinda para este templo do Salvador dos homens. Eis mais um trecho que fala
da gloriosa entrada do Senhor na cidade de Jerusalém, montado num
jumentinho:

"Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis que o teu
Rei virá a ti, justo e Salvador, pobre, e montado sobre um jumento, sobre um
asninho, filho de jumenta" (Zacarias: 9:9).

São profundamente comoventes as profecias do profeta Isaías que discorrem


sobre os padecimentos e a morte do Senhor:

"Verdadeiramente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades, e as nossas


dores levou sobre Si; e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus e
oprimido...
Ele foi oprimido, mas não abriu a boca: como um cordeiro foi levado ao
matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, Ele não
abriu a boca.

Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da Sua vida?

Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu povo
foi Ele atingido. E puseram a Sua sepultura com os ímpios, e com o rico
esteve na Sua morte; porquanto nunca fez injustiça, nem houve engano na
Sua boca" (Isaías: 53:4-7-8-9).

O santo profeta e rei Davi conta-nos os padecimentos do nosso Salvador em


palavras que surpreendem pela sua exatidão. É admirável o dom sagrado,
concedido por Deus aos profetas, que permite antever os acontecimentos
futuros com tão espantosa precisão! "Transpassaram-me as mãos e os pés...
Repartem entre si as minhas vestes, e lançam sortes sobre a minha
túnica" (Salmo 22:17-18).

O profeta Daniel também previu os padecimentos do nosso Salvador (Daniel


9).

7. Ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo e sua


ascensão:

"Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o Teu Santo
veja corrupção" (Salmo 16:10).

8. A fundação da Santa Igreja e a sua permanência


em eternidade:

"Dominará de mar a mar... E todos os reis se prostrarão perante Ele; todas


as nações O servirão" (Salmo 72:8-11).

240. Quem e de que maneira se reconheceu em Jesus Cristo o prometido


Salvador?

1. Os pastores de Belém souberam por intermédio do Anjo da feliz


nova do nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo.
2. Os Reis Magos do Oriente foram guiados por uma estrela
resplandescente até a gruta do nascimento.
3. O rei Heródes teve conhecimento pelos Reis Magos do
nascimento de Nosso Senhor.
4. São Simão — o justo e Sant'Ana — a profetisa obtiveram do
Espírito Santo a compreensão da divindade de Jesus, quando Ele
foi levado ao Templo de Jerusalém no quadragésimo dia após
seu nascimento.
5. O povo soube do nascimento de Nosso Senhor por intermédio de
São Simão e de Sant'Ana.
6. São João Batista reconheceu em Nosso Senhor Jesus Cristo o
Unigênito Filho de Deus, por ocasião do batismo no rio Jordão,
quando o Espírito Santo desceu dos céus em forma de pomba
branca.
7. Os santos apóstolos: Pedro, Tiago e João ouviram a voz de Deus
Pai, confirmando a divindade do nosso Salvador, por ocasião da
transfiguração no cume do monte Tabor.
8. Todos aqueles que ouviram os divinos ensinamentos de Nosso
Senhor, que assistiram ou se beneficiaram com os Seus milagres
e também todos aqueles que posteriormente tiveram contato com
os Seus santos discípulos, reconheceram, sem sombra de
qualquer dúvida, que Nosso Senhor Jesus Cristo é o
UNIGÊNITO FILHO DE DEUS, Segunda Pessoa da Santíssima
Trindade.

241. Que sabemos nós dos anos da meninice de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Dos anos da meninice do nosso Salvador podemos registrar os seguintes


acontecimentos:

A. No oitavo dia após seu nascimento, por ocasião da circuncisão,


recebeu Nosso Senhor o nome de JESUS.
B. Com a idade de 12 anos foi, acompanhado da Santíssima Virgem
Maria e São José, à cidade de Jerusalém a fim de assistir aos
festejos da Páscoa. Nesta ocasião realizou-se a disputa que o
menino Jesus manteve com os doutos e sábios do templo,
quando demonstrou espantosos conhecimentos das Sagradas
Escrituras, deixando perplexos os seus ouvintes.
C. Até o dia em que iniciou a sua sagrada missão de Salvador dos
homens, aos 30 anos de idade aproximadamente, levou uma vida
retirada de práticas sagradas e estudos, auxiliando São José em
seus trabalhos de marcenaria, dando assim um exemplo
edificante de humildade e amor.

242. Quando iniciou nosso Senhor as suas atividades evangélicas?

Iniciou-as aos 30 anos de idade.

243. Quais são os acontecimentos que antecederam ao início das atividades


públicas de Nosso Senhor?
São os seguintes:

A. São João Batista pregava a penitência e certificou que Nosso


Senhor era o Cordeiro de Deus, que redimia os pecados do
mundo.
B. Nosso Senhor Jesus Cristo ordenou a São João Batista que O
batizasse nas águas do rio Jordão.
C. No ato do batismo do nosso Salvador, desceu sobre: Ele o
Espírito Santo sob a forma de pomba branca, ouvindo-se
simultaneamente a Voz do Deus Pai que dizia: "Este é o meu
Filho amado, em quem me comprazo" (Evangelho de São
Mateus 3:17).
D. Após o batismo seguiu Nosso Senhor Jesus Cristo para o deserto
onde jejuou durante 40 dias e 40 noites, foi tentado pelo diabo,
venceu-o e foi servido pelos anjos.

244. De que forma exerceu nosso Senhor a Sagrada Missão de ensinar o


Evangelho?

Da seguinte forma:

A. Levou o Santo Evangelho ao povo em diversas localidades da


Terra Santa.
B. Reuniu numerosos discípulos entre os quais escolheu os 12
apóstolos.
C. Ensinou as verdades eternas, que devem ser o alicerce da nossa
Fé e fez-se portador das virtudes celestiais que devemos imitar
sempre.

245. Quais são as provas, que revelam serem verdadeiros os ensinamentos de


Nosso Senhor?

São:

A) A santidade de Sua vida:

"Quem dentre vós me convence de


pecado?" (Evangelho de São João 8:46).

B) As provas contidas nas Sagradas Escrituras:

"Examinai as Escrituras... e são elas que de Mim


testificam" (Evangelho de São João 5:39).

C) Os milagres e as profecias:
"Porque as obras que o Pai Me deu para realizar,
as mesmas obras que Eu faço, testificam de Mim,
que o Pai me enviou" (Evangelho de São João
5:36).

246. Quais são os milagres de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Nosso Senhor Jesus Cristo manifestou o seu infinito amor para com o gênero
humano por meio de diversos milagres: expulsava os espíritos malignos; com
uma única palavra curava doentes desenganados pelos médicos; transformou
água em vinho; uma vez com cinco e outra vez com sete pães alimentou
milhares de pessoas, que assistiam aos seus ensinamentos; andou sobre as
águas; com seu poder divino acalmava a tempestade; ressuscitava os mortos
(o filho da viúva de Nain, a filha de Jairo e Lázaro no quarto dia após o
falecimento).

247. Quais são as profecias de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Nosso Senhor Jesus Cristo profetizou: a traição de Judas; a negação do


apóstolo Pedro; o modo pelo qual ia morrer; a sua ressurreição e ascensão; a
descida do Espírito Santo sobre os apóstolos (Pentecostes); a destruição de
Jerusalém; a divulgação do Santo Evangelho no mundo inteiro e numerosos
outros acontecimentos.

248. Quem não acreditou nos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo?

O Sumo-Sacerdote do Templo de Jerusalém, os Saduceus e os Fariseus


rejeitaram os ensinamentos de Nosso Senhor, antevendo neles uma ameaça ao
seu modo, de viver caracterizado pelo egoísmo, orgulho, corrupção e ilimitado
luxo. Essas foram também as causas do ódio, que os lideres da religião
hebraica sentiram contra o Salvador, que demonstrou os mais elevados
exemplos de altruísmo, humildade, caridade e pobreza.

249. De que modo efetuou Nosso Senhor a obra de salvação?

Nosso Senhor efetuou a obra de salvação com Seus divinos ensinamentos,


com o exemplo de Sua vida, com Sua morte em prol da salvação do gênero
humano e com Sua ressurreição.

250. Quais, foram os ensinamentos de nosso Senhor?

Nosso Senhor Jesus Cristo ensinava o "Evangelho do Reino de


Deus" (Evangelho de São Marcos 1:14), quer dizer, as verdades sobre a
salvação e a eterna felicidade dos justos nos Céus de Deus, verdades essas,
conservadas na sua integridade e incorruptas no Tabernáculo Sagrado da Fé
da Santa Igreja Grego-Ortodoxa.
251. De que forma devemos receber os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus
Cristo, para que esses ensinamentos sejam para nós um caminho direto da
salvação?

Para que os ensinamentos de nosso Senhor sejam para nós um caminho direto
da salvação devemos, antes de tudo, aceitá-los de todo, coração e com a
máxima sinceridade e amor; seguindo, durante toda a vida, de acordo com
Seus preceitos.

Assim como a mentira de Satanás tornou-se a semente do pecado e da morte;


a verdade semeada nas Palavras Sagradas de nosso Senhor, tornou-se o grão
da vida santificada e pura, que leva à felicidade eterna: "Eu sou o Caminho e
a Verdade e a Vida" (Evangelho de São João 14:6).

Diz o santo apóstolo Pedro, que os Cristãos são natos: "Não de semente


corruptível, mas da incorruptível, pela Palavra de Deus, viva, e que
permanece para sempre" (Epistola Universal do santo apóstolo Pedro 1:23).

Devemos, pois, agradecer a Deus, que, pelo amor para com o gênero humano
se tornou homem; devemos apegar-nos com ilimitado entusiasmo e amor aos
Seus divinos ensinamentos, imitando constantemente o Seu sagrado exemplo
e espalhando ao redor de nós aquela maravilhosa luz, que Ele deixou na terra
nos quatro Evangelhos e nas palavras dos Seus santificados discípulos.

252. Como devemos proceder para que a vida terrena de nosso Senhor Jesus
Cristo possa tornar-se um meio de salvação para nós?

Devemos seguir o exemplo de nosso Salvador, de acordo com as suas próprias


palavras: "Se alguém me serve, siga-Me, e onde Eu estiver, ali estará também
o meu servo" (Evangelho de São João 12:26).

253. Por que Nosso Senhor Jesus Cristo foi crucificado, uma vez que os Seus
ensinamentos e feitos só deveriam causar amor e admiração?

Além das causas, já mencionadas no ponto 248, não devemos esquecer que
nosso Senhor Jesus Cristo mereceu profunda adoração do povo pelos
inúmeros atos de bondade e caridade e os ensinamentos claros e explícitos,
que caíam diretamente na alma da gente simples. Isto, como também a
profunda, divina sabedoria do nosso Salvador, causou grande inveja e ódio
profundo no íntimo dos corações daqueles que estavam na liderança da
religião hebraica. Havia, afora isto, outro fator, que se tornou uma das causas
preponderantes da falsa acusação, assacada pelos sacerdotes, fariseus e
saduceus perante Pôncio Pilatos, cuja conseqüência foi o terrível martírio do
Gólgota. Este fator foi essencialmente político. Para compreender bem este
importante assunto, necessário é' que recordemos um pouco de história.
Na época em que Nosso Senhor Jesus Cristo pregava a chegada do "Reino de
Deus" na terra, a Palestina era governada por um rei, que estava
simultaneamente sob a tutela do Imperador Romano, cujo representante no
país, o procônsul Pôncio Pilatos, exercia "de fato" todo o poder. Nestas
condições, tanto o rei Heródes, quanto o procônsul Pôncio Pilatus anteviram o
perigo para o vigente estado de coisas, das pregações do sagrado Messias. Em
resumo, não podiam aceitar de bom grado o aparecimento de um Filho de
Deus, que pelo próprio povo foi proclamado Rei e fizera sua entrada triunfal
em Jerusalém, montado num jumento. Evidentemente, os receios dos
governantes da Judéia eram completamente infundados, já que Nosso Senhor
Jesus Cristo de forma alguma -pretendia apoderar-se do poder civil na
Palestina, pois o Seu único e exclusivo objetivo era a Salvação das Almas
Humanas. Todavia a cegueira, motivada pela inveja e pelo ódio, causou
tamanhos transtornos nos corações obscurecidos dos governantes e sacerdotes,
que ousaram erguer as suas mãos sacrílegas, derramando o sangue sagrado
daquele que veio para salvá-los da morte eterna.

254. Por que razão consta na "Profissão de Fé Ortodoxa," que a Crucificação


se deu "sob o poder de Pôncio Pilatos?"

Para indicar com absoluta precisão o momento histórico do drama do Gólgota.

255. Quem era Pôncio Pilatos?

Pôncio Pilatos era "Procônsul romano," titulo equivalente ao de comandante


supremo das forças de ocupação na Palestina e ministro plenipotenciário do
Imperador Romano. Foi designado para este elevado cargo após tornar-se
célebre na guerra contra os bárbaros ao lado do desafortunado Germânicus,
posteriormente assassinado pelo Imperador Tiberius. Sucedeu a Valério
Gratus no ano 26 D. C., sendo substituído no ano 36 D. C. por Marcellus. A
residência oficial do Procônsul Romano encontrava-se na cidade de Cesaréia
Philippa junto ao palácio do Tetrarca (rei) Heródes Antipater. Em Jerusalém
havia somente uma guarnição permanente do exército romano, alojado na
Fortaleza Antónia. Desta forma o próprio Procônsul visitava Jerusalém
somente: por ocasião das grandes festas religiosas dos hebreus, quando havia
grande afluxo de peregrinos ao templo, ocasião esta propicia para toda sorte
de distúrbios e levantes, e quando a presença do comandante romano
emprestava um aspecto de maior segurança e garantia na manutenção do
estado de coisas reinante na Palestina.(*).

256. Qual a importância que se dá à indicação do nome de Pôncio Pilatos


dentro do texto da "Profissão de Fé Ortodoxa?"

A indicação do nome de Pôncio Pilatus é importante não somente pelo fato de


ser indicado com absoluta precisão o momento histórico dos acontecimentos
magnos de nossa fé, mas também porque ficam comprovadas as palavras
proféticas do patriarca Jacó, encerradas no 1o Livro de Moisés (49:10): "O
cetro não se arredará de Judá nem o legislador dentre seus pés até que venha
Shiloh (Conciliador); e a Ele se congregarão os povos."

257. Em que lugar foi crucificado nosso Senhor Jesus Cristo?

No alto do morro denominado "Gólgota," que em hebraico, quer dizer "a


caveira." Essa sinistra denominação foi aplicada ao lugar em virtude de ser ele
uma espécie de patíbulo, onde os condenados eram executados.

A crucificação era um meio oficial de execução dos condenados à morte


introduzida pelos romanos em todas as províncias conquistadas, sendo, porém,
aplicada exclusivamente a "não-romanos," possuindo estes últimos o
privilégio de morrer a golpe de espada. Isto explica o fato de nem todos os
santos apóstolos haverem padecido na cruz.

O santo apóstolo Paulo foi decapitado justamente pela razão de ser cidadão
romano.

A própria condenação à morte na cruz era considerada sobremaneira


humilhante e consistia em tremendo e vagaroso padecimento. Amarrava-se o
condenado na cruz com os braços fortemente distorcidos e com o corpo todo
esticado ao máximo, exposto aos raios abrasadores do sol. Vigiado pelos
guardas especialmente destinados a este fim, não podia receber qualquer ajuda
ou alívio, morrendo, às vezes, após vários dias de inanição.

Para os que condenaram nosso Senhor Jesus Cristo à morte na cruz, na forma
rotineira, pareceu sobremaneira suave. O ódio mortal que lhes preenchia os
corações ditou-lhes outros meios — que chegavam ao cúmulo do sadismo.
Cravos de ferro substituíram as cordas! As mãos e os pés Santificados do
nosso Salvador foram traspassados por pregos aguçados, que os prenderam ao
lenho da Cruz!

Desta forma sinistra e selvagem agradeceram os homens Aquele que veio para
salvá-los das eternas trevas da injustiça e do pecado.

A perda de sangue do torturado corpo do Senhor como também a Sua


constituição física frágil, contribuíram para que a morte sobreviesse num
prazo excepcionalmente curto.

O lenho da cruz tornou-se para os seguidores de nosso Senhor Jesus Cristo o


mais sagrado dos símbolos e o sinal perpétuo da salvação e da vitória da vida
sobre a morte; da justiça sobre a falsidade; da verdade sobre a mentira e da luz
sobre: as trevas.
258. Em que consiste a morte de nosso Senhor Jesus Cristo? Consiste em ter-
se-lhe a alma separado do corpo:

"E clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas Tuas Mãos entrego o Meu
Espírito" (Evangelho de São Lucas 23:46).

"E quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a


cabeça, entregou o Espírito" (Evangelho de São João 19:30).
(*)No fim deste volume, o leitor encontrará diversas tabelas sinápticas referentes ao período histórico em que processaram os acontecimentos
relacionados com a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo .

259. No ato da morte de nosso Senhor Jesus Cristo, Deus ficou separado do
homem?

Deus não ficou separado do homem; Deus ficou estreitamente ligado com a
alma e o corpo de nosso Senhor Jesus Cristo.

260. Quais foram os acontecimentos milagrosos, que se deram no ato da morte


de nosso Senhor Jesus Cristo?

Houve diversos acontecimentos milagrosos: o sol ficou obscurecido; a terra


tremeu; o véu do templo de Jerusalém rasgou-se ao meio (*) as rochas
racharam-se; os túmulos abriram-se e muitos santos ressuscitaram e foram
vistos em Jerusalém.

261. Por que lemos na "Profissão de Fé Ortodoxa," que nosso Senhor Jesus
Cristo padeceu?

O termo "Padeceu" foi propositadamente incluído no texto da nossa "Profissão


de Fé Ortodoxa," a fim de salientar que a Crucificação de nosso Salvador não
era somente um símbolo do sofrimento e da morte, como o haviam afirmado
certos heréticos, mas sim foi um sofrimento real e terrível e uma morte
essencialmente material.

262. Por que foram mencionadas as palavras: "E foi sepultado"?

Essas palavras foram mencionadas com expresso objetivo de sublinhar a


naturalidade dos fatos que forçosamente se sequem após a morte, como
também para realçar com maior clareza a subsequente ressurreição do nosso
Salvador. Este último fato, sendo profetizado pelo, próprio Salvador e
conhecido dos que O condenaram, foi causa de várias providências destinadas
a evitar que a ressurreição acontecesse.

Assim pois a entrada da gruta na qual permaneceu o sagrado corpo do Senhor,


foi obstruída por uma grande pedra, que por sua vez ficou selada com selos do
Sumo-Sacerdote. Além disto providenciou-se para que o túmulo fosse
guardado permanentemente durante três dias e três noites por um
destacamento de guardas armados.

263. Quem cuidou do sepultamento de Nossa Senhor Jesus Cristo?

Nosso Senhor Jesus Cristo foi sepultado por José de Arimatéia e Nicodemos,
dois homens dignos e justos, merecedores de elevada estima e alto conceito
entre os seus contemporâneos. Os dois pertenciam à seita dos fariseus, sendo,
apesar disto, fervorosos adeptos de Nosso Senhor. Pela elevada posição que
ocupavam entre os membros do Sanedrim (**), receavam seguir abertamente
os passos do Salvador, freqüentando-O e ouvindo-Lhe os ensinamentos
secretamente, encobertos pela escuridão da noite.

Foram, entretanto, esses dois "desconhecidos" discípulos, que prestaram o


último serviço terreno a Nosso Senhor Jesus Cristo.

264. Por que razão Nosso Senhor Jesus Cristo desejou sofrer os padecimentos
e morrer?

Desejou sofrer os padecimentos e morrer:

A) A fim de satisfazer totalmente a justiça de Deus em relação a


nós homens.

B) A fim de, por meio dos Seus sofrimentos e Sua morte na cruz,
livrar-nos:

(*)Este véu vedava a entrada ao Santuário (o Santo dos Santos) do templo de Jerusalém, local onde se conservava
a Arca da Aliança.

(**) Sinhedrim – Conselho permanete dos doutos, sábios e sacerdotes do templo de Jerusalém.

1. Do pecado:

"A quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das


ofensas, segundo as riquezas de Sua Graça" (Epístola de S.
Paulo apóstolo aos Efésios 1:7).

2. Da maldição e do cativeiro de Satanás:

"Cristo nos resgatou da maldição da lei (Epístola de S. Paulo


apóstolo aos Gálatas: 3:13).

3. Da morte e da condenação eterna:


"E visto como os filhos participaram da carne e do sangue,
também Ele participou das mesmas coisas, para que pela morte
aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo: E
livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a
vida sujeitos à servidão" (Epístola de S. Paulo, apóstolo, aos
Hebreus: 2:14-15).

C) A fim de tornar-nos possuidores da graça santificadora e da


eterna felicidade.

265. De que maneira Nosso Senhor Jesus Cristo satisfez totalmente à justiça
de Deus em relação a nós homens?

Nosso Senhor Jesus Cristo satisfez totalmente à justiça de Deus em relação a


nós-homens, pois sendo Ele-próprio DEUS, os Seus padecimentos e a Sua
morte possuíam um valor infinitamente grande.

A fim de chegar à perfeita compreensão deste mistério devemos prosseguir no


ligeiro estudo da sua concepção teológica: Adão é a cabeça e o princípio da
humanidade inteira, com a qual se encontra unido pela descendência direta.

Nosso Senhor Jesus Cristo, no qual o divino está unido com o humano,
tornou-se uma cabeça Todo-poderosa da humanidade; um princípio que
constitui a união dos homens com Deus por intermédio da fé.

Desta forma é evidente que, como por Adão, nos tornamos sujeitos ao pecado,
à maldição e à morte, assim por Nosso Senhor Jesus Cristo nos livramos do
pecado, da maldição e da morte.

O voluntário sofrimento e a morte na cruz do DeusHomem — alheio a todo e


qualquer pecado ou impureza, é um ato supremo de infinito valor e dignidade,
que satisfaz plenamente à Justiça de Deus em relação ao gênero humano,
condenado ao terrível castigo da morte por causa do pecado original de Adão.

Simultaneamente o mérito do supremo ato de amor de Nosso Senhor Jesus


Cristo é tão incalculável, que permite ao Nosso Salvador redimir os nossos
pecados e oferecer-nos a graça para o combate contra o mal e a morte, sem
infringir a justiça de Deus.

"O mistério que estava oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações,
e que agora foi manifestado aos seus santos;

Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste
mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória" (Epístola
de São Paulo, apóstolo, aos Colossenses 1:26-27).
"Porque, se pela ofensa de um-só, a morte reinou por esse, muito mais os que
recebem a abundância da Graça e dom de justiça, reinarão em vida por um-
só — Jesus Cristo" (Epístola de São Paulo, apóstolo, aos Romanos 5:17).

"Portanto agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus,


que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito.

Porque a lei do espírito de vida, em Jesus Cristo, me livrou da lei do pecado e


da morte.

Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne,
Deus, enviando o Seu Filho, em semelhança da carne do pecado, pelo pecado
condenou o pecado da carne;

Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a
carne, mas segundo o espírito" (Epístola de São Paulo, apóstolo, aos
Romanos 8:1-4).

266. Como pôde Nosso Senhor Jesus Cristo padecer e morrer, se Ele próprio
era Deus?

Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu os padecimentos e a morte não com o lado
divino do Seu Ser, mas sim com o lado humano.

Da mesma forma sofreu e morreu, não porque, querendo, não poderia evitá-lo,
mas sim, oferecendo-Se voluntariamente em holocausto para a remissão dos
pecados da humanidade:

"Por isto o Pai Me ama, porque dou a minha vida, para tornar a tomá-la.

Ninguém ma tira de Mim, mas Eu de Mim-mesmo a dou; tenho poder para a


dar, e poder para tornar a tomá-la" (Evangelho de São João 10:17-18).

267. Quais foram os sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Os sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo foram de caráter físico e


espiritual.

268. Quais foram os sofrimentos espirituais de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Inicialmente Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu uma imensa angústia e tristeza
no Jardim de Getsêmani:

"A minha alma está cheia de tristeza até a morte" (Evangelho de São Mateus
26:38).
Posteriormente sofreu o nosso Salvador duros sofrimentos espirituais
causados pelo desprezo, malícia, calúnia, insultos e inúmeras outras ofensas.

269. Quais foram os sofrimentos físicos de nosso Senhor Jesus Cristo?

Foram terríveis. Além de ser açoitado, foi ainda cingido com a coroa de
espinhos por maliciosos guardas, cujos corações insensíveis se tornaram cegos
para os sofrimentos do silencioso Cordeiro de Deus. Em seguida, os algozes
obrigaram nosso Senhor a carregar a pesadíssima cruz, instrumento do seu
martírio e finalmente a sofrer as incríveis dores da própria crucificação. Foram
estes o ponto máximo do Seu sofrimento físico.

270. Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu realmente por todos os homens?

Oferecendo-se a Si próprio em holocausto, nosso Senhor Jesus Cristo sofreu


realmente por todos os homens, conseguindo em prol deles a graça e a
salvação.

"E vimos e testificamos que o Pai enviou Seu Filho para Salvador do
Mundo" (1 Epístola de São João 4:14).

Todavia só aqueles que participam voluntariamente no drama místico da


crucificação do Salvador, podem tirar proveito do Seu sacrifício:

"Para conhecê-lo, e a virtude da Sua ressurreição, e a comunicação das Suas


aflições, sendo feito conforme a Sua morte" (Epístola de São Paulo, apóstolo,
aos Filipenses 3:10).

271. De que forma podemos participar nos padecimentos e na morte do


Senhor?

Participamos nos padecimentos e na morte de Nosso Senhor Jesus Cristo:

A. Pela fé viva e sincera.


B. Pela participação nos Santos Sacramentos da Igreja, nos quais se
encontram consubstanciadas e misticamente ocultas a potência e
a santidade suprema dos salvadores padecimentos e da morte do
Filho de Deus.
C. Pela crucificação dos nossos próprios corpos com os seus
malignos desejos e tentações: "já estou crucificado com Cristo;
e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora
vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e
se entregou a Si mesmo por mim" (Epístola de São Paulo aos
Gálatas 2:20). "Ou não sabeis que todos quantos fomos
batizados em Jesus Cristo fomos batizados na Sua
morte?" (Epístola de São Paulo aos Romanos 6:3). "Porque
todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice
anunciais a morte do Senhor" (1 Epístola de São Paulo,
apóstolo, aos Coríntios 11:26). "E os que são de Cristo
crucificaram a carne com as suas paixões e
concupiscências" (Epistola de São Paulo, apóstolo, aos Gálatas
5:24).

272. Como podemos crucificar nosso corpo com todos os seus malignos
desejos e tentações?

Travando luta constante e encarniçada contra os desejos malignos e tentações.

Todavia, não é suficiente lutar contra o mal; o essencial é saber vencê-lo.

A Santa Igreja nos fornece vários meios eficientes para que nosso corpo
crucificado em nome de nosso Senhor Jesus Cristo permaneça puro e
santificado, representando, desta forma, moradia digna e radiosa para a nossa
alma imortal.

Além dos Santos Sacramentos, jejuns e participação freqüente e sincera em


diversas práticas religiosas efetuadas nos nossos santos templos, possuímos
outra arma poderosíssima que é a PRECE. Pois o santo apóstolo Paulo disse:
"Orai sempre," é afirmou esta grande verdade, já que sabia que a oração é uma
arma terrível, contra todas as tentações de Satanás. Não se pode vencer sem
lutar, e não vale a pena lutar sem fé ilimitada na misericórdia divina e na
vitória final!

SOBRE O QUINTO ARTIGO DA

"PROFISSÃO DE FÉ ORTODOXA"

E ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras.

273. Qual é a prova de que os padecimentos e a morte de Nosso Senhor Jesus


Cristo se tornaram a salvação da humanidade?

É a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, que representa o alicerce


espiritual para a nossa própria ressurreição e a nossa felicidade eterna:

"Mas agora Cristo ressuscitou dos mortos, e foi feito as primícias dos que
dormem" (*)(l

Epístola de São Paulo, apóstolo, aos Coríntios 15:20).


(*)Quer dizer: dando exemplo àqueles que morreram
274. Como devemos conceber o estado em que se encontrava Nosso Senhor
Jesus Cristo após a morte, antes porém da ressurreição?

O sagrado corpo de nosso Senhor Jesus Cristo foi depositado na sepultura,


enquanto o lado espiritual do nosso Salvador, isto é, Jesus-Deus, preenchendo
o universo inteiro, desceu ao inferno a fim de libertar as almas de todos os
justos, que morreram antes da chegada de nosso Senhor, não podendo, apesar
dos seus méritos, alcançar a felicidade eterna, devido ao peso do pecado
original, causado por Adão, pecado este, que não fora expiado a não ser pelo
sacrifício da cruz. Simultaneamente, lemos no Santo Evangelho, que Nosso
Senhor Jesus Cristo foi ao paraíso celeste, levando consigo o bom ladrão, que
lhe implorou piedade na cruz.

O seguinte maravilhoso cântico da nossa Santa Igreja Ortodoxa descreve


magnificamente todos estes acontecimentos:

"Com o corpo estavas no sepulcro; com a alma, porém, sendo Deus, desceste
ao inferno; com o ladrão estavas no paraíso, e no trono sentaste, ó Cristo, com
o Pai e o Espírito Santo, tudo preenchendo; Tu, que és indescritível!"

275. Como pode ser que nosso Senhor Jesus Cristo esteve em vários lugares,
ao mesmo tempo?

É perfeitamente possível, uma vez que nosso Senhor é Deus verdadeiro em


Santíssima Trindade.

276. Que é o inferno?

Há inúmeras determinações para o termo "inferno" em idiomas tanto antigos,


quanto modernos. De qualquer modo essa palavra descreve a "escuridão
espiritual," ou melhor, o calabouço escuro e terrível em que se encontra a
alma pecadora depois da morte do corpo." Na única verdadeira e certa
interpretação, que é da Santa Igreja Ortodoxa, o inferno é o terrífico estado
das almas, que, devido aos seus pecados, se viram afastadas eternamente da
contemplação da face divina, que por si só é a única eterna fonte da luz e da
felicidade:

(Entre freqüentes descrições do estado terrível das almas pecadoras após a


morte dos corpos terrenos, convém citar: a Epístola do santo apóstolo Judas
Tadeu 1:6 e o cântico na 5o voz, estrofe: 2, 4, do Livro "Octoicon").

277. A descida de Nosso Senhor Jesus Cristo ao inferno era absolutamente


necessária?

Sim. Porque a justiça divina exigia que não somente os homens justos,
contemporâneos a Nosso Senhor e os que viveriam após o Seu sagrado
sacrifício, obtivessem a salvação eterna, mas também aqueles justos que,
encerrados no inferno por causa do pecado original de Adão, esperavam com
fé a chegada do Salvador;

Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos,
para nos levar a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado no
Espírito. No qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão (*)(Epístola do
santo apóstolo Pedro 3:18-19).

278. Que significa a palavra "Ressuscitou?"

Estas palavras quer dizer que Nosso Senhor Jesus Cristo, com o poder
supremo que possuía, uniu novamente a Sua alma divina com o Seu corpo,
saindo da sepultura no estado da eterna glória e imortalidade.
(*) Prisão: deve compreeder-se – "O inferno"

279. Como devemos entender os dizeres contidos na "Profissão de Fé


Ortodoxa:" "E ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras?"

Devemos entendê-los de acordo com o que nos foi ensinado no seguinte


trecho da Epístola apostólica:

"Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo


morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras.

E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as


Escrituras" (1 Epístola de São Paulo, apóstolo, aos Coríntios 15:3-4).

280. Que quer dizer: "Segundo as Escrituras?"

Significa que Nosso Senhor Jesus Cristo morreu e ressuscitou, exatamente


como o haviam assinalado os livros proféticos do Antigo Testamento:

"Verdadeiramente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades, e as nossas


dores levou sobre Si; e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus e oprimido.

Mas Ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas
iniqüidades: o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas
pisaduras fomos sarados.

Ele foi oprimido, mas não abriu a boca: como um cordeiro foi levado ao
matadouro, e, como a ovelha muda, perante os seus tosquiadores, Ele não
abriu a boca.
Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da Sua vida?
Porquanto foi cortado da terra dos viventes: pela transgressão do meu povo
foi Ele atingido. E puseram Sua sepultura com os ímpios, e com o rico esteve
na sua morte; porquanto nunca fez injustiça; nem houve engano na Sua
boca" (Livro do profeta Isaías: 53:4-5-7-8-9). Da ressurreição de Nosso
Senhor, fala-nos o santo apóstolo Pedro com as palavras do Salmo 15 do santo
rei Davi: "Pois não deixarás a minha alma no Hades (*)nem permitirás que
Teu Santo veja a corrupção(**).

281. Podemos encontrar no Antigo Testamento alguma menção do fato de ter


Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitado no terceiro dia, após Sua morte?

Sim. Podemos encontrar uma descrição simbólica deste fato na belíssima


comparação da permanência de Jonas nas entranhas do peixe no período de
três dias (Livro de Jonas 2:1 etc).

282. Como se soube na ocasião, que Nosso Senhor Jesus Cristo havia
ressuscitado?

1. Os guardas, designados para guardar o sepulcro de Nosso


Senhor, foram testemunhas oculares da ressurreição: "E eis que
houvera um grande terremoto, porque um anjo do Senhor,
descendo do céu, chegou, removeu a pedra, e sentou-se sobre
ela. E o seu aspecto era como um relâmpago, e o seu vestido
branco como neve. E os guardas, com medo dele, ficaram muito
assombrados, e como mortos" (Evangelho de São Mateus 28:2-
4).
2. Os Anjos anunciaram a ressurreição a Santa Maria Madalena e a
outras piedosas mulheres: "E no primeiro dia da semana, muito
de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias
que tinham preparado. E acharam a pedra revolvida do sepulcro.
E entrando, não acharam o corpo do Senhor Jesus. E aconteceu
que, estando elas per-
(*) Hades — uma das denominações do "inferno"

(**) corrupção — deve entender-se — decomposição do corpo após a morte; Atos Apostólicos 2:27

plexas a esse respeito, eis que pararam junto delas dois varões (*),
com vestes resplandescentes. E, estando elas muito
atemorizadas, e abaixando o rosto para o chão, eles lhes
disseram: Por que buscais o vivente entre os mortos? Não está
aqui, mas ressuscitou" (Evangelho de São Lucas 24:1-6).

3. próprio Salvador deixou-se reconhecer em diversas ocasiões,


logo após a ressurreição:
A) Apareceu a Santa Maria Madalena: "Ela lhes disse: Porque
levaram o meu Senhor, e não sei onde O puseram. "E, tendo dito
isto, voltou-se para trás, e viu Jesus em pé, mas não sabia que
era Jesus. Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem
buscas? Ela cuidando que era o hortelão(**)  disse-lhe: Senhor, se
tu O levaste, dize-me onde O puseste, e eu O levarei. Disse-lhe
Jesus: Maria!" (Evangelho de São João: 20:13-16).

B) Apareceu aos dois discípulos, no caminho de Emaus: "E eis


que, no mesmo dia iam dois deles para uma aldeia, que distava
de Jerusalém sessenta estádios, cujo nome era Emaus; E iam
falando entre si de tudo aquilo que havia sucedido.

E aconteceu que, indo eles falando entre si, e fazendo perguntas


um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou, e ia com eles"
(Evangelho de São Lucas 24:13-15).

C) Apareceu a São Pedro e alguns outros apóstolos na praia do


mar de Tiberíades: "Depois disto manifestou-se Jesus outra vez
aos discípulos junto do mar de Tiberíades; e manifestou-se
assim: Estavam juntos Simão Pedro, e Tomé, chamado Dídimo,
e Natanael, que era de Caná de Galiléia, os filhos de Zebedeu, e
outros dois dos Seus discípulos. Disse-lhes Simão Pedro: Vou
pescar. Dizem-lhe eles: Também nós vamos contigo. Foram e
subiram logo para o barco, e naquela noite nada apanharam. E,
sendo já manhã, Jesus se apresentou na praia" (Evangelho de São
João 21:1-4).

D) Apareceu a todos os apóstolos reunidos para oração num


aposento fechado: "Chegada, pois, a tarde de aquele dia, o
primeiro da semana, e cerradas as portas, onde os discípulos,
com medo dos judeus, se tinham ajuntados, chegou Jesus, e pôs-
se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco" (Evangelho de São
João 20:19).

4. Posteriormente apareceu Nosso Senhor Jesus Cristo: por diversas


vezes, aos seus apóstolos, que tiveram oportunidade, não
somente de falar-lhe, mas também, de tocar-lhe e cear com Ele.
5. Certo dia, Nosso Senhor Jesus Cristo apareceu a mais de 500 dos
seus seguidores: "Depois foi visto, uma vez, por mais de
quinhentos irmãos, dos quais vive ainda a maior parte (1 Epístola
de São Paulo, apóstolo, aos Coríntios 15:6).

283. Por que Nosso Senhor Jesus Cristo apareceu aos seus apóstolos, no
período de 40 dias, após a sua ressurreição?
(*) Varões deve entender-se — os anjos

(**) HorteIão — jardineiro

Para instrui-los nos supremos mistérios do Reino de Deus:

"Aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e
infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias, e falando
do que respeita ao Reino de Deus" (Atos Apostólicos 1:3).

284. Qual é a certeza que adquirimos em virtude da ressurreição de Nosso


Senhor Jesus Cristo?

Adquirimos a certeza de que:

1. Cumpriram-se as profecias dos profetas do Antigo Testamento,


de São João Batista e do próprio Salvador:

"Derribai este templo e em três dias o levantarei... Mas Ele


falava do templo do seu corpo" (Evangelho de São João 2:19-
21).

2. Jesus Cristo é o Deus Verdadeiro e que os Seus ensinamentos


são essencialmente verídicos: "E, se Cristo não ressuscitou logo
é vã a nossa pregação, e também é vã a nossa fé" (1 Epístola de
São Paulo, apóstolo, aos Coríntios 15:14).
3. Devemos renascer para a vida espiritual, a fim de adquirir a
felicidade eterna no céu de Deus: "De sorte que fomos
sepultados com Ele pelo batismo na morte; para que, como
Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, assim
andemos nós também em novidade da vida" (Epístola de São
apóstolo Paulo aos Romanos 6:4).
4. Nós também ressuscitaremos dos mortos: "Em verdade, em
verdade vos digo que vem a hora, e agora e, em que os mortos
ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem
viverão" (Evangelho de São João 5:25).

SOBRE O SEXTO ARTIGO DA

"PROFISSÃO DE FÉ ORTODOXA"

E subiu aos Céus e sentou-se à direita do Pai.

285. Em que se baseia a afirmação contida no sexto artigo da "Profissão de Fé


Ortodoxa" sobre a ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo?
Baseia-se nos seguintes trechos do Novo Testamento:

"Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus,
para cumprir todas as coisas" (Epístola de São apóstolo Paulo aos Efésios
4:10).

"Ora a suma do que temos dito é que temos um Sumo Sacerdote tal, que está
assentado nos céus à destra do trono da Majestade" (Epístola aos Hebreus
8:1).

286. Quando e onde se deu a ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Deu-se no 40o dia após a Sua ressurreição em Betânia no cume do morro


denominado "das Oliveiras" ou "Eleão":

E levou-os até Betânia; e, levantando as Suas mãos, os abençoou.

E aconteceu que, abençoando-os Ele, se apartou deles e foi elevado ao


céu" (Evangelho de São Lucas 24:50-51).

Aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e
infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias (Atos
Apostólicos 1:3).

287. Nosso Senhor Jesus Cristo subiu aos céus com a sua natureza divina ou a
sua natureza humana?

Subiu aos céus com a sua natureza humana, isto é, com seu corpo e sua alma,
da maneira como foi visto pelos seus santos apóstolos.

A natureza divina de Nosso Senhor Jesus Cristo sempre existiu, existe e


existirá nos céus, sendo a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade — Deus
Eterno e Indivisível.

288. Para que Nosso Senhor Jesus Cristo subiu aos céus?

1. Para receber, na qualidade de Homem, a Sua gloria


merecida: "Porventura não convinha que o Cristo padecesse
estas coisas e entrasse na Sua glória?" (Evangelho de São
Lucas 24:26).
2. A fim de enviar à Sua Santa Igreja o Espírito Santo: "Todavia
digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque se eu não
for, o Consolador não virá a vos; mas se eu for, enviar-vo-lo-ei"
(Evangelho de São João 16:7).
3. A fim de permanecer no céu na qualidade de nosso supremo
auxiliador e amigo junto ao Eterno Deus Pai: "Meus filhinhos,
estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e se alguém
pecar, temos um advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o
justo" (1 Epistola de São João 2:1).
4. A fim de que nos fosse aberto o Reino dos Céus, e reservada nele
uma eterna morada: "Na casa do meu Pai ha muitas moradas; ...
vou preparar-vos lugar" (Evangelho de São João 14:2).

289. Qual é o significado dos dizeres: "E sentou-se à direita do Pai, se


sabemos que Deus é onipresente (presente em todos os lugares)?

Devemos entender estas palavras, no sentido simbólico, isto é, como uma


afirmação, que o Deus-Filho é IGUAL em poder e glória ao Deus-Pai e
evidentemente ao Deus-Espirito Santo, formando a Santíssima Trindade:

"E, achado na forma do homem, humilhou-se a Si mesmo, sendo obediente até


a morte, e morte de cruz.

Pelo que também Deus o exaltou soberaniamente, e Lhe deu um nome que é
sobre todo o nome;

Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na
terra, e debaixo da terra.

E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai
(Epístola de São Paulo, apóstolo, aos Filipenses 2:8-11).

SOBRE O ARTIGO SÉTIMO DA

"PROFISSÃO DE FÉ ORTODOXA"

E novamente virá, com Glória, para julgar os vivos e os mortos e cujo


Reino não terá fim.

290. Para que Nosso Senhor Jesus Cristo virá novamente?

Nosso Senhor Jesus Cristo virá novamente para julgar os vivos e os mortos,
descendo dos Céus em incalculável glória e poder:

"Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; e todas as tribos da


terra se lamentarão, e verão o Filho do Homem, vindo sobre as nuvens do
céu, com poder e grande glória" (Evangelho de São Mateus 24:30).

291. Como descrevem as Sagradas Escrituras a futura chegada do nosso


Salvador?

Descrevem por meio das palavras dos anjos:


"E estando com os olhos fitos no céu, enquanto Ele, subia eis que junto deles
se puseram dois varões vestidos de branco,

Os quais lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para o céu?
Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como
para o céu o vistes ir" (Atos Apostólicos 1:11).

292. Com que escopo virá novamente Nosso Senhor Jesus Cristo?

Nosso Senhor Jesus Cristo virá novamente no dia do Juízo Final a fim de
julgar toda a humanidade; os vivos e os mortos; os bons e os ruins:

"Porque todos devemos comparecer ante o Tribunal de Cristo, para que cada
um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal" (2
Epístola de São apóstolo Paulo aos Coríntios 5:10).

293. Como descrevem as Sagradas Escrituras o Juízo Final e o futuro Reino


de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Do Juízo Final disse o Nosso Salvador:

"Porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a Sua
voz.

E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram


o mal para a ressurreição da condenação" (Evangelho de São João 5:28-29).

Sobre o infinito Reino de Nosso Senhor, disse o Anjo a Nossa Senhora e


Sempre Virgem Maria no ato da Anunciação:

"Este será grande, e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe
dará o trono de Davi, Seu pai;

E reinará eternamente na casa de Jacó, e o Seu Reino não terá


fim" (Evangelho de São Lucas 1:32-33).

294. A futura vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo processar-se-á nas mesmas
circunstâncias em que se processou em Belém?

Não. A futura vinda de Nosso Senhor será de todo diferente. Anteriormente,


nosso Senhor veio a fim de salvar a humanidade dos pecados e males, tendo
padecido voluntáriamente e demonstrado o ápice de humildade e abnegação.
A futura e derradeira chegada, porém, do Nosso Salvador, terá todos os
aspectos da vinda do Rei dos Reis e juiz Supremo, ocasião em que a
humanidade será julgada de acordo com os seus merecimentos:

"E quando o Filho do Homem vier em Sua Glória, e todos os santos anjos
com Ele, então se assentará no trono da Sua glória; E todas as nações serão
reunidas diante Dele, e apartará uns dos outros" (Evangelho de São Mateus
25:31-32).

295. O julgamento de Nosso Senhor Jesus Cristo será igual em relação a todos
os homens?

Sim, será completamente igual em relação a todos os homens, sem nenhuma


distinção.

296. Como será denominado este julgamento?

Será denominado "O Juízo Final" ou "O Temível juízo do Senhor," em virtude
de ser o último tribunal do mundo no qual será julgada toda a humanidade.

297. De que maneira serão julgados os homens no Juízo Final?

No juízo Final, Nosso Senhor Jesus Cristo julgará os vivos e os mortos da


seguinte maneira:

1) Revelará perante o mundo inteiro a consciência de cada um,


isto é, serão revelados todos os atos bons e maus cometidos
durante a vida terrena, como também todas as palavras, desejos
escondidos e pensamentos: "Portanto nada julgueis antes do
tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as
coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos
corações; e então cada um receberá de Deus o louvor" (l
Epístola de São Paulo aos Coríntios 4:5).

2) Separará os bons dos maus: "E todas as nações serão


reunidas diante Dele, e apartará uns dos outros, como o pastor
aparta dos bodes as ovelhas; E porá as ovelhas à Sua direita;
mas os bodes à esquerda" (Evangelho de São Mateus 25:32-33).

3) Propiciará o paraíso celeste aos bons e justos, arremessando


os maus para o inferno: "Então dirá o Rei aos que estiverem à
Sua direita: Vinde benditos de meu Pai, possui por herança o
reino que vos está preparado desde a fundação do mundo.
Então dirá também aos que estiverem à Sua esquerda: Apartai-
vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o
diabo e seus anjos" (Evangelho de São Mateus 25:34-41).
298. Seremos também julgados pelas palavras más, intenções pecaminosas e
pensamentos impuros?

Sim. Evidentemente seremos julgados por todas as palavras, intenções e


pensamentos, que estiverem contrários aos preceitos de Deus, se não
aproveitarmos a oportunidade de limpar-nos desses pecados por meio do
Santo Sacramento da Confissão e da sincera penitência, que, pela profunda fé,
nos levariam a corrigir e purificar a nossa vida:

"Mas Eu vos digo, que de toda a palavra ociosa que os homens disserem hão
de dar conta no Dia do Juízo.

Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás
condenado" (Evangelho de São Mateus: 12:36-37).

299. O último Juízo do Senhor é o único juízo, ao qual seremos submetidos,


ou haverá ainda outro julgamento?

Exceto o "último Juízo do Senhor," haverá ainda outro julgamento, que os


Santos Pais da Igreja denominam: "O Juízo Pormenorizado." Alguns santos
luminares da Igreja indicam, que a alma passa por este temível juízo no
quadragésimo dia após a morte do corpo.

300. Por que se realizará o "Juízo final do Senhor," uma vez que cada um dos
homens deve passar obrigatóriamente pelo "juízo Pormenorizado" no 40o dia
após a morte?

O "Juízo final do Senhor" é essencialmente necessário:

1. A fim de que sejam demonstrados perante o mundo inteiro o


poder, a justiça e a sabedoria de Deus;
2. A fim de que todos os homens possam reconhecer em Jesus
Cristo o verdadeiro Deus, prestando-Lhe o devido louvor;
3. A fim de que os justos possam receber a glória merecida e os
maus, o castigo merecido.

301. Quando virá Nosso Senhor para julgar os vivos e os mortos?

Esta pergunta não pode ser respondida, pois as Sagradas Escrituras não
precisam exatamente a época da chegada de Nosso Senhor. Todavia, não pode
haver dúvida, que o silêncio sobre este assunto é proposital e destinado a
induzir a humanidade a permanecer em constante vigília, a fim de que este
temível acontecimento não a encontre desprevenida:
"O Senhor não retarda a Sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia;
mas é longânime para convosco, não querendo que alguns se percam, senão
que todos venham a arrepender-se.

Mas o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão
com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as
obras que nela há, se queimarão" (2 Epístola de São apóstolo Pedro 3:9-10).

"Vigiai pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do Homem
há de vir" (Evangelho de São Mateus 25:13).

302. Foram revelados alguns indícios da próxima chegada de Nosso Senhor


Jesus Cristo?

Sim. São eles:

1. Guerras horríveis e destruidoras;


2. Fomes;
3. Terríveis doenças;
4. Freqüentes terremotos;
5. Perseguição terrível dos Cristãos;
6. Desmoralização geral;
7. ódio desenfreado entre os homens;
8. Vacilação e enfraquecimento da fé;
9. Esfriamento do amor sagrado entre os homens;
10.Difusão da falsidade.

Simultâneamente haverá:

1. A divulgação do Santo Evangelho no mundo inteiro e


2. A chegada do anticristo.

"E ouvireis falar de guerras e de rumores de guerras; olhai não


vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda
não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, e reino
contra reino, e haverá fomes e pestes, e terremotos, em vários
lugares.

Mas todas estas coisas são o princípio de dores. Então vos hão de
entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis
odiados de todas as gentes por causa do Meu Nome. Nesse
tempo muitos serão escandalizados, e trairse-ão uns aos outros, e
uns aos outros se aborrecerão. E surgirão muitos falsos profetas,
e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor
de muitos esfriará. Mas, aquele que perseverar até o fim será
salvo. E este Evangelho do Reino será pregado em todo o
mundo, em testemunho a todas as gentes; e então virá o fim"
(Evangelho de São Mateus 24:6-14).

303. Quem é o anticristo?

O anticristo é uma terrível personagem que, revestida do mais encarniçado


ateísmo, e tendo como arma o engano e a falsidade, procurará destruir o
Cristianismo.

O aparecimento do anticristo será a última prova, à qual a humanidade será


exposta, a fim de que os verdadeiros justos possam demonstrar a sua firmeza
na fé.

A dominação do anticristo sobre a terra será temporária, sendo ele destruído


no ato da gloriosa chegada do Senhor para o "Último juízo:"

"E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da
Sua boca, e aniquilará pelo esplendor da Sua vinda;

A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais
e prodígios de mentira.

E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não


receberam o amor da verdade para se salvarem" (2 Epístola de São apóstolo
Paulo aos Tessalonicenses 2:8-10).

304. Como será o "Reino de Cristo Deus?"

Será:

1. Mundo inteiro, isto é, o "Reino da Natureza."


2. Toda a humanidade, que, como o alicerce permanente da vida,
possui a fé em Cristo, isto é, o "Reino da Graça."
3. Todos os bem-aventurados nos céus de Deus, isto é, "Reino da
Glória."

305. A qual dos 3 " Reinos aplicam-se as palavras da "Profissão de Fé


Ortodoxa:" "Cujo reino não terá fim?"

Essas palavras aplicam-se ao "Reino da Glória."

SOBRE O ARTIGO OITAVO DA

"PROFISSÃO DE FÉ ORTODOXA"
E no Espírito Santo, Senhor Vivificante, que do Pai procede; e que é com
o Pai e o Filho, adorado e glorificado, e que falou pelos profetas.

306. Quem é o Espírito Santo?

1. É a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade;


2. É o Deus Verdadeiro;
3. É o Consolador, prometido à Santa Igreja por Nosso Senhor
Jesus Cristo.

307. Por que razão se denomina a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade —


"O Espírito Santo?"

Assim se denomina a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, pois exerce


sobre nós a ação santificadora, sendo que, toda a santidade provém do Espírito
Santo.

308. Em que sentido o Espírito Santo é denominado "Senhor"?

A denominação "Senhor" é aplicada ao Espírito Santo, no sentido de


demonstrar a sua igualdade, em relação ao Filho de Deus na qualidade de
Deus Verdadeiro.

309. Podemos encontrar a prova dessa afirmação nas Sagradas Escrituras?

Sim. O apóstolo Pedro comprova esta verdade nas palavras dirigidas a


Ananias:

"Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para
que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade?

Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder?

Por que formaste este desígnio em teu coração?

Não mentiste aos homens, mas sim a Deus" (Atos Apostólicos 5:3-4).

310. Em que sentido o Espírito Santo denomina-se "Vivificante?"

A denominação "Vivificante" aplica-se ao Espírito Santo," pois é a Ele que se


deve toda a vida no mundo.

Seja uma planta ou um ser animado; em todos os casos de aparecimento de


uma nova vida, o Espírito Santo está presente, em conjunto com o Pai e o
Filho, a fim de transmitir-lhes o misterioso sopro vivificante, que lhes
permitirá seguir o caminho natural do seu desenvolvimento. No caso dos
homens, além do milagre da vida, produz o Espírito Santo ainda outro
supremo mistério. Este mistério é a criação e o desenvolvimento progressivo
da vida espiritual, a qual recebe alicerces inabaláveis no santo sacramento do
batismo, quando a alma humana, purificada do peso do pecado original,
adquire forças celestiais para vencer o mal e conseguir a suprema recompensa
no Reino dos Céus:

"Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do
Espírito, não pode entrar no Reino de Deus" (Evangelho de São João 3:5).

311. Como podemos saber que o Espírito Santo descende do Deus Pai?

As palavras do próprio Senhor Jesus Cristo comprovam esta verdade:

"Mas quando vier o Consolador, que Eu da parte do Pai vos hei de enviar,
aquele Espírito de Verdade, que pro- cede do Pai, testificará de
Mim" (Evangelho de São João 15:26).

312. Este ensinamento sobre o Espírito Santo pode ser modificado ou


ampliado?

Não, pois:

1. Nesta forma de ensinamento sobre o Espírito Santo, a Santa


Igreja Cristã Ortodoxa repete com absoluta exatidão as palavras
proferidas pelo Nosso Salvador, palavras que representam a
essência da mais pura verdade;
2. segundo Concílio Universal, cujo principal objetivo era a
determinação definitiva da "Profissão de Fé Ortodoxa," deixou
indubitavelmente bem preciso o ensinamento sobre o Espírito
Santo.
3. A Santa Igreja Universal Apostólica e Ortodoxa aceitou este
ensinamento de modo tão irrevogável, que no terceiro Concílio
Universal, havia proibido terminantemente qualquer modificação
ou ampliação do artigo sobre o Espírito Santo (Sétimo parágrafo
das Resoluções do terceiro Concílio Universal).

No livro primeiro, capítulo 11, verso 4, da sua obra intitulada "Deus," escreve
São João Damasceno:

"Confessamos o Espírito Santo, que descende do Pai, denominando-O —


"Espírito Paterno;" de forma alguma confessamos a descendência do Espírito
Santo do Filho" (Teologia).

313. Nas palavras da promessa, proferidas por Jesus Cristo, de acordo com as
quais é Ele, Nosso Salvador, que ia enviar-nos o Espírito Santo do Deus Pai,
poderíamos subentender que este Espírito Santo pudesse descender também
do Deus Filho?

Não podemos subentender coisa semelhante, pois:

1. Prometendo aos apóstolos, que Lhes enviaria o Espirito Santo,


afirmou Nosso Senhor Jesus Cristo que o faria "Do Pai";
2. próprio Salvador disse com toda exatidão, que o Espírito Santo
procede do Pai:
3. "Aquele Espírito da Verdade, que procede do Pai" (Evangelho
de São João 15:26).
4. Se estivéssemos dispostos a encarar o fato de ter Nosso Senhor
Jesus Cristo enviado o Espírito Santo, como, sendo equivalente
ao de este último descender do Deus Filho, incorreríamos em
gravíssimo erro, pois o raciocínio levar-nos-ia a inúmeros outros
erros semelhantes. Com a mesma lógica errada poderíamos
afirmar, que Deus Filho descende do Pai, baseando-nos nas
palavras do próprio Salvador: "Aquele que Me
enviou" (Evangelho de São João 8:26). Entretanto, é sabido que
Deus Filho não descende nem do Deus Pai, nem de ninguém,
sendo gênito pelo Pai antes de todos os séculos.

Nestas condições torna-se claro que o Espírito Santo procede única e


exclusivamente do Deus Pai, não se podendo aceitar qualquer outra
interpretação.

314. De onde sabemos, que ao Espírito Santo são devidas a adoração e a honra
iguais às do Deus Pai e Deus Filho?

Sabémo-lo da ordem que nos foi dada por Nosso Senhor Jesus Cristo, de
acordo com a qual deve-se batizar: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo" (Evangelho de São Mateus 28:19), que demonstra claramente a
igualdade de condições em que se encontram as Três Pessoas da Santíssima
Trindade.

315. Porque a "Profissão de Fé Ortodoxa" menciona que o Espírito Santo


falou pelos profetas?

Menciona com o fim de comprovar que os livros sagrados do Antigo


Testamento foram escritos sob a inspiração do Espírito Santo e para
admoestar os falsos ensinadores:

"Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os
homens santos de Deus falaram, inspirados pelo Espírito Santo" (2 Epístola
de São Pedro, apostolo 1:2)
316. O Espírito Santo não falou também pela boca dos Santos Apóstolos?

Sim. O Espírito Santo falou pela boca dos Santos Apóstolos, isto é — os
Santos Apóstolos estavam inspirados pelo Espírito Santo:

"Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles
ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que,
pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o Evangelho: para as quais
coisas, os anjos desejam bem atentar" (1 Epístola de São Pedro 1:12).

317. Por que razão, então, não se mencionam os santos apóstolos na


"Profissão de Fé Ortodoxa?"

Porque, por ocasião dos Concílios Universais, ninguém duvidava que eles
fossem inspirados pelo Espírito Santo.

318. Quando e de que forma o Espírito Santo desceu sobre os Santos


Apóstolos?

O Espírito Santo desceu sobre os santos apóstolos, no qüinquagésimo dia após


a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo e no décimo dia após a sua
ascensão.

Manifestou-se sob a forma de "línguas de fogo" que pousaram nas cabeças


dos santos apóstolos, reunidos para a prece em comum.

O dia em que comemoramos este glorioso acontecimento denomina-se


"Pentecostes:"

"E cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo


lugar;

E de repente veio do céu um som como de um vento veemente e impetuoso, e


encheu toda a casa em que estavam assentados.

E foram vistos por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais
pousaram sobre cada um deles.

E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas,


conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem" (Atos Apostólicos
2:4).

319. Qual a ação que o Espírito Santo produziu sobre os santos apóstolos?

1. Santificou-os.
2. Iluminou e fortificou-os.
3. Facultou-lhes o dom de conhecer diversos idiomas, sem, todavia,
haver procedido aos estudos, que comumente são necessários
para alcançar esses conhecimentos.
4. Deu-lhes o poder de fazerem milagres.

320. Atualmente há alguém inspirado pelo Espírito Santo?

Sim. Todos os verdadeiros cristãos são inspirados e iluminados pelo Espírito


Santo:

"Não sabeis vós que sois o templo de Deus, e que o Espirito de Deus habita
em vós?" (1 epístola de São Paulo aos Coríntios 3:16).

321. Como devemos proceder a fim de tornar-nos dignos da inspiração do


Divino Espírito Santo?

São dois os caminhos para conseguir esta graça suprema:

1. A participação nos Santos Sacramentos.


2. A oração constante e sincera.

"Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto
mais dará o Pai Celestial o Espírito Santo àqueles que lho
pedirem?" (Evangelho de São Lucas 11:13). "Mas quando apareceu a
benignidade e caridade de Deus, Nosso Salvador, para com os homens, Não
pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a Sua
misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do
Espírito Santo. Que abundantemente Ele derramou sobre nós por Jesus
Cristo, Nosso Salvador" (Epístola de São Paulo, Tito 3:4-6).

322. Qual é a ação do Divino Espírito Santo no seio da Santa Igreja?

No seio da Santa Igreja a ação do Divino Espírito Santo é a seguinte:

1. Instrui a Santa Igreja e governa-a,


2. Distribui as Suas graças celestiais por intermédio da Santa
Igreja: "Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai
enviará em meu Nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos
fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito" (Evangelho de São
João 14:26).

323. Que causa em nós o Divino Espírito Santo?

Causa-nos o seguinte:
1. Santifica-nos pelo poder da graça santificadora e graça
movedora.
2. Concede-nos os Seus divinos dons.

324. Como devemos entender o termo "A Graça?"

O termo Graça corresponde ao poder divino, isto é, um dom interno e


sobrenatural, o qual nos é concedido por Deus, pela razão do Seu infinito
amor e pelos méritos do Seu unigênito Filho Nosso Senhor Jesus Cristo.

325. Por que denominamos a Graça o Dom Divino?

Chamamos de dom a graça, que nos é concedida por Deus, pois só podemos
considerá-la como sendo um presente, uma vez que nunca chegaríamos a
merecê-la, recebendo-A pelo amor divino e os méritos de Nosso Senhor.

326. Por que razão denominamos a Graça: "Dom interno e sobrenatural?"

Denominamos a Graça Divina, como sendo um dom interno em vista de ser


ele concedido diretamente por Deus às nossas almas. Consideramos a Graça
Divina um dom sobrenatural, porque o ser humano, na sua qualidade física,
não a possui, nem pode adquiri-la procurando-a dentro da natureza, que o
cerca, não possuindo, da mesma forma, qualquer direito a essa Graça. O fato
de o homem poder adquiri-la decorre única e exclusivamente da incalculável
grandeza da misericórdia de Deus em relação com a Sua criatura.

327. Com que objetivo Deus concede ao homem a Graça sobrenatural?

Deus concede ao homem a Graça sobrenatural a fim de elevá-lo à altura do


Filho de Deus, tornando-o digno do Reino dos Céus.

328. Qual é a outra discriminação para a "Graça Santificadora" e a "Graça


Movedora?"

A "Graça Santificadora" é aquela que ilumina as nossas almas.

A "Graça Movedora" é aquela que nos induz para ações boas e dignas.

329. Qual é a ação sobre nós da "Graça Movedora?"

A Graça Movedora instrui e inspira-nos a fim de que possamos atingir a


salvação.

330. De que maneira a Graça Movedora nos ajuda a concretizar as boas ações,
e, por si só, pode ela levar-nos à salvação?
1. Auxilia-nos em efetivar atos de bondade e de dignidade,
iluminando o nosso intelecto e fortalecendo a nossa vontade,
induzindo-nos aos atos benéficos e proveitosos para a salvação
das nossas almas e dos nossos semelhantes.
2. A Graça Movedora, por si só, não pode levar-nos à salvação,
visto não exercer nenhuma pressão sobre nós, sustentando-nos
unicamente na luta que mantemos pela vitória do bem.

Não devemos, pois, resistir à penetração da Graça Divina que tende a instalar-
se em nós e viver no nosso íntimo, aceitando-a de boa vontade e colaborando
efetivamente, para o aprofundamento dos laços que nos unem a ela. "E nós,
cooperando também, vos exortamos a que não recebais a Graça de Deus em
vão" (Epístola de São apóstolo Paulo aos Coríntios 6:1).

A fim de que este assunto seja totalmente compreendido transcrevemos abaixo


a parábola dos talentos que explica nas palavras do próprio Salvador o modo
pelo qual a Graça Movedora atua no íntimo de cada um de nós:

"Porque isto é também como um homem que, partindo para fora da terra,
chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens; E a um deu cinco
talentos ( * ), e a outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua
capacidade, e ausentou-se logo para longe. E tendo ele partido, o que recebera
cinco talentos negociou com eles, e ganhou outros cinco talentos. Da mesma
sorte, o que recebera dois, ganhou também outros dois; Mas o que recebera
um, foi e cavou na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. E muito tempo
depois veio o senhor daqueles servos, e fez contas com eles.

Então aproximou-se o que recebera cinco talentos, e trouxe-lhe outros cinco


talentos, dizendo: Senhor, entregaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco
talentos que ganhei com eles. E o seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e
fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu
senhor. E chegando o que tinha recebido dois talentos, disse: Senhor,
entregaste-me dois talentos; eis que com eles ganhei outros dois talentos.
Disse-lhe o seu senhor; Bem está, bom e fiel servo. Sobre, o pouco foste fiel,
sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. Mas chegando também
o que recebera um talento, disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um homem
duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; E,
atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu.
Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabes
que eu ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei; Devias então ter
dado o meu dinheiro aos banqueiros, e, quando eu viesse, receberia o meu
com os juros. Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos.
Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não
tiver até o que tem ser-lhe-á tirado. Lançai, pois, o servo inútil nas trevas
exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes" (Evangelho de São Mateus
25:14 a 30).

Esta maravilhosa parábola indica, de um modo sobremaneira nítido, que os


homens recebem do divino Espírito Santo a "Graça Movedora," que lhes é
transmitida no ato do sacramento do batismo. Desde então, ao livre arbítrio do
homem está destinada a tarefa de conservá-la e desenvolvê-la. Como se ela
fosse uma pequena chama vivificadora, que a vontade do homem pode
transformar em um incêndio da fé ou então deixá-la diminuir e apagar-se nas
trevas da ignorância e da maldade.

A parábola dos talentos esclarece também, de modo absoluto, outra


particularidade, isto é, o destino, que espera aqueles que souberam aproveitar-
se dignamente dos dons celestiais, que lhes foram oferecidos, como também a
desgraça, que aguarda aqueles que, ao invés de assim proceder, dedicaram-se,
tão somente, à crítica estéril e injusta do seu Criador.

"Eis que estou à porta, e bato: se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta,
entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.

Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim
como eu venci, e me assentei com meu Pai no Seu trono" (Apocalipse de São
João 3:20-21).

Ele está batendo na "porta dos corações" da humanidade! Da grandeza da


Chama Divina que está em nós, e exclusivamente dela depende de essas
"portas" serem abertas e a salvação tornar-se o seu merecido tesouro!

331. A "Graça Movedora" é de utilidade para os homens?

Sim, é imprescindível para todo e qualquer ato do bem. Ela proporciona ao


pecador a força necessária para converter-se a Deus, e ao justo, concede a
persistência, a fim de que possa permanecer no estado da "Graça
Santificadora," promovendo ações benéficas, que lhe proporcionarão a eterna
felicidade no Reino dos Céus:

Porque sem mim nada podeis fazer" (Evangelho de São João 15:5).

332. Qual é a ação sobre nós da "Graça Santificadora?"


(*)Talento — moeda de alto valor em curso na Palestina, nos tempos de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A "Graça Santificadora" cria em nossas almas uma vida espiritual de caráter


superior. É um estado sobrenatural, em que a alma se encontra mergulhada;
estado este, que permanece para sempre.
333. De que maneira a -Graça Santificadora- nos proporciona uma nova vida
sobrenatural?

1. Santificando-nos e tornando-nos por isso gratos aos olhos de


Deus;
2. Elevando-nos da categoria de escravos do mal, à categoria dos
filhos de Deus e herdeiros do paraíso celeste;
3. Facultando-nos exercer atos necessários para alcançar a
salvação.

334. Por que meio abrigamos e fortalecemos a "Graça Santificadora?"

Por meio da calorosa oração, do jejum, da vida pura e apoiada nos preceitos
da moral e da ética cristã, e, antes de tudo, por meio da participação nos
Santos Sacramentos.

335. Quais são os dons que se denominam "Os dons do Divino Espírito
Santo?"

Os dons do Divino Espírito Santo são aqueles por meio dos quais o Divino
Espírito Santo nos torna acessíveis de Sua santificação. Esses dons induzem-
nos a receber de bom grado a sua suprema iluminação, seguir a sua sagrada
inspiração, alcançando, desta forma, o alto grau da virtude.

336. Quais são os dons principais do Divino Espírito Santo?

De acordo com o profeta Isaías, os dons principais do Divino Espírito Santo


são os seguintes:

1. Dom da Sabedoria Suprema.


2. Dom da Compreensão.
3. Dom do Bom Conselho.
4. Dom da Força (Heroísmo).
5. Dom do Conhecimento (Inteligência).
6. Dom da Beatitude.
7. Dom do Temor Divino. (*)

"Porque brotará um rebento do trono de Jessé, e das raízes um renovo


frutificará. E repousará sobre Ele o Espírito do Senhor, o Espírito de
Sabedoria e de Inteligência, o Espírito de Conselho o de Fortaleza, o Espírito
de Conhecimento e de Temor do Senhor" (Livro do Profeta Isaías 11:1-2).

337. Em que nos auxilia o Dom da Sabedoria Suprema?

Auxilia-nos na compreensão, na admiração e no amor de Deus em Sua infinita


Majestade e Perfeição.
338. Em que nos auxilia o Dom da Compreensão?

Auxilia-nos na melhor penetração no espírito, contido nas verdades supremas


da Fé.

339. Em que nos auxilia o Dom do Bom Conselho?

A escolher aquilo que agrada a Deus, nos casos em que surgirem dúvidas e
incertezas.

340. Em que nos auxilia o Dom da Força (Heroísmo)?

Auxilia-nos a superar os obstáculos no caminho que conduz à salvação.

341. Em que nos auxilia o Dom do Conhecimento (Inteligência)?

A adquirir a certeza absoluta da Verdade, contida nos ensinamentos da nossa


sagrada Fé e instruí-nos a reconhecer as ações que devemos praticar e aquelas
que devemos evitar.

342. Em que nos auxilia o Dom da Beatitude?

Auxilia-nos a conservar permanentemente os sentimentos filiais em relação a


Deus, nunca deixando dê adoração.

343. Em que nos auxilia o Dom do Temor Divino?

A evitar tudo aquilo que possa, porventura, desagradar a Deus, sentindo,


constantemente, sobre nós o poder de Sua infinita Majestade e conservando a
consciência de Sua Onipresença.
(*) Os 7 Dons do Espírito Santo são um dos significados simbólicos do lampadário de 7 luzes colocado atrás do Altar Sagrado nas nossas
igrejas.

 Editado pelo Reverendíssimo Arquidiácono Lafaiete Viegas da ISOA

Reprinted by

Holy Trinity Orthodox Mission

466 Foothill Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011

Redator: Bispo Alexandre Mileant

(doutrina_crista_ortodoxa_1.doc, 08-15-02)

Você também pode gostar