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SUMÁRIO DE DOUTRINA CRISTÃ

Louis Berkhof

Tradução
Valter Graciano Martins
Copyright @ 1938, de Louis Berkhof
Publicado originalmente em inglês sob o título
Summary of Christian Doctrine
pela Wm. B. Eerdmans Publishing Co.,
255 Jefferson Ave. S.E., Grand Rapids, Michigan, 49503, EUA.

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por


E M
SCRN 712/713, Bloco B, Loja 28 — Ed. Francisco Morato
Brasília, DF, Brasil — CEP 70.760-620
www.editoramonergismo.com.br

1ª edição, 2018

Tradução: Valter Graciano Martins


Revisão: Felipe Sabino de Araújo Neto
Capa: Bárbara Lima Vasconcelos

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Todas as citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Atualizada (ARA)
salvo indicação em contrário.
Sumário Prefácio à edição brasileira
Prefácio
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I: RELIGIÃO
CAPÍTULO II: A REVELAÇÃO
CAPÍTULO III: AS SAGRADAS ESCRITURAS
A DOUTRINA DE DEUS E DA CRIAÇÃO
CAPÍTULO IV: A NATUREZA ESSENCIAL DE DEUS
CAPÍTULO V: OS NOMES DE DEUS
CAPÍTULO VI: OS ATRIBUTOS DE DEUS
CAPÍTULO VII: A TRINDADE
CAPÍTULO VIII: OS DECRETOS DIVINOS
CAPÍTULO IX: A CRIAÇÃO
CAPÍTULO X: A PROVIDÊNCIA
A DOUTRINA DO HOMEM EM SUA RELAÇÃO COM DEUS
CAPÍTULO XI: O HOMEM EM SEU ESTADO ORIGINAL
CAPÍTULO XII: O HOMEM NO ESTADO DE PECADO
CAPÍTULO XIII: O HOMEM NO PACTO DA GRAÇA
A DOUTRINA DA PESSOA E OBRAS DE CRISTO
CAPÍTULO XIV: TÍTULOS E NATUREZAS DE CRISTO
CAPÍTULO XV: OS ESTADOS DE CRISTO
CAPÍTULO XVI: OS MINISTÉRIOS DE CRISTO
CAPÍTULO XVII: A REDENÇÃO REALIZADA POR CRISTO
A DOUTRINA DA OBRA REDENTORA E SEUS EFEITOS
CAPÍTULO XVIII: DOUTRINA DA APLICAÇÃO
DA OBRA REDENTORA
CAPÍTULO XIX: VOCAÇÃO E REGENERAÇÃO
CAPÍTULO XX: CONVERSÃO, ARREPENDIMENTO E FÉ
Í
CAPÍTULO XXI: JUSTIFICAÇÃO
CAPÍTULO XXII: SANTIFICAÇÃO E PERSEVERANÇA
A DOUTRINA DA IGREJA E MEIOS DE GRAÇA
CAPÍTULO XXIII: NATUREZA DA IGREJA
CAPÍTULO XXIV: GOVERNO E AUTORIDADE DA IGREJA
CAPÍTULO XXV: A PALAVRA DE DEUS
E OS SACRAMENTOS EM GERAL
CAPÍTULO XXVI: BATISMO CRISTÃO
CAPÍTULO XXVII: CEIA DO SENHOR
A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS
CAPÍTULO XXVIII: MORTE FÍSICA E ESTADO INTERMEDIÁRIO
CAPÍTULO XIX: SEGUNDA VINDA DE CRISTO
CAPÍTULO XXX: RESSURREIÇÃO, JUÍZO FINAL E ESTADO
ETERNO
Sobre o autor
Prefácio à edição brasileira
Escrito em 1933 com o intuito de instruir jovens estudantes
em colégios, faculdades, institutos bíblicos e seminários, o Manual
de doutrina cristã[1] de Louis Berkhof é bem conhecido pelo público
brasileiro. Contudo, o Sumário de doutrina cristã, publicado pela
primeira vez em 1938, aparece agora pela primeira vez em nosso
idioma. Trata-se de uma revisão do Manual de doutrina cristã, feita
pelo próprio Berkhof com a remoção de termos técnicos e pouco
conhecidos. Além disso, nesta edição abreviada foram suprimidas
as explicações detalhadas e o material controverso; ela conta
também com passagens para memorização e importantes perguntas
para estudos adicionais ao final de cada capítulo.
A tradução primorosa ficou a cargo do Rev. Valter Graciano
Martins, que me sugeriu a publicação da obra. Couberam a ele
também ligeiras adaptações e a formatação do texto.
Temos neste volume precioso uma apresentação simples e
breve, porém fiel, da doutrina cristã. Assim, estamos certos de que o
texto se provará extremamente útil para grupos de estudo bíblico e
para instrução de catecúmenos na fé cristã.
A mais sincera oração deste editor e do seu eminente
tradutor, Rev. Valter Graciano Martins, é que o Senhor Deus da
Verdade se agrade de instruir os seus eleitos por meio desta
pequena obra.
— Felipe Sabino de Araújo Neto
Brasília, DF
16 de setembro de 2018
Prefácio

Diversos ministros têm usado meu Manual de


doutrina reformada, não meramente como um livro de
referência, mas como um livro-texto, em algumas de
suas classes avançadas, e no todo com resultados
gratificantes. No entanto, alguns deles descobriram
que ele era bem difícil para o curso ordinário dos
alunos; e, portanto, expressaram o desejo por uma
obra ainda mais breve. Além disso, também
ofereceram algumas sugestões práticas; a saber, que
a linguagem fosse simplificada pela omissão de
termos técnicos e palavras não familiares; que as
passagens mais importantes da Escritura sejam
impressas por extenso; e que as perguntas para
revisão sejam numeradas.
Naturalmente, sou grato por seu uso do Manual,
por suas palavras bondosas e pelas sugestões
oferecidas. E visto que meu publicador bondosamente
se expressou como querendo pô-lo no mercado de
forma abreviada, empreendi sua preparação e tentei
satisfazer os desejos dos que deram expressão às
suas experiências com o Manual. Reduzi o texto para
mais da metade, omitindo especialmente explicações
detalhadas e material controverso. Tentei usar
linguagem simples, facilmente entendida pelos
estudantes do colégio comum; eu incluí as passagens
mais importantes da Escritura e numerei as perguntas
para revisão. Além disso, anexei algumas perguntas
para estudo adicional, as quais estimularão os alunos
a reportar-se à sua Bíblia.
É bem provável que dificilmente se pode esperar
que os alunos memorizem imediatamente todas as
passagens que estão copiadas. O professor sábio
saberá como fazer uma seleção e aumentar o número
de passagens aprendidas enquanto o tempo corre.
Assim, os alunos aumentarão gradualmente sua
história do conhecimento bíblico. Sinceramente,
espero que nesta forma simplificada, a obra possa ser
ainda de maior utilidade do que o Manual foi no
passado. Seja este um auxílio real a manter vivo o
conhecimento de nossa preciosa herança.

― L. Berkhof
Grand Rapids, Michigan
5 de fevereiro de 1938
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I: RELIGIÃO
1. A natureza da religião. A Bíblia nos informa que o homem
foi criado à imagem de Deus, e que mesmo depois de cair em
pecado esta imagem do Deus Altíssimo não foi apagada
completamente, nem o homem deixou de ser o portador desta
imagem. A despeito da natureza pecaminosa do homem em reagir
contra ela, a semente da religião está implantada em cada ser
humano, e os missionários dão testemunho de que a religião,
expressa em uma ou outra forma, se encontra em todas as nações
e tribos da terra. O que muitos denunciam como sendo uma
maldição, ou “o ópio do povo”, é uma das bênçãos mais profundas
que a humanidade já experimentou. A religião afeta não só os
recessos mais profundos da vida humana, mas também controla
seus pensamentos, sentimentos e desejos.
Então, o que vem a ser religião? Unicamente através do
estudo da Palavra de Deus podemos compreender a natureza da
verdadeira religião. A palavra religião provém não dos originais
bíblicos, do hebraico e do grego, e sim do latim. Em nossa tradução
da Bíblia, deparamo-nos com ela três vezes (At 26.5; Tg 1.26, 27).
O Antigo Testamento define religião como sendo “o temor do
Senhor”. Este temor não é um sentimento de terror ou medo, mas
um reverente respeito por Deus. Ele vem acompanhado de amor e
confiança. Esta é a resposta do crente veterotestamentário à
revelação da lei. No Novo Testamento, é antes a resposta ao
evangelho do que à lei, e se apresenta sob a forma de fé e piedade.
As Escrituras nos ensinam que a religião é uma relação do
homem com Deus na qual o ser humano se dá conta da majestade
absoluta e do poder infinito de Deus, em comparação com sua
própria pequenez e insignificância, bem como sua completa
impotência. Podemos, pois, definir religião assim: Uma relação com
Deus, voluntária e consciente, que se expressa em uma adoração
saturada de gratidão e em um serviço repassado de amor. A forma
desta adoração religiosa e serviço a Deus não é o produto da
vontade arbitrária do homem, mas foi determinada por Deus
mesmo.

2. A fonte da religião. Há certos pontos de vista errôneos


sobre a fonte da religião no homem. Há quem fale da religião como
se fosse um conhecimento que reside na inteligência. Outros
afirmam que é o senso da proximidade de Deus e o localizam na
zona psíquica das emoções, enquanto outros põem sua ênfase na
atividade moral do homem, e apontam para a vontade. Todas estas
opiniões são parciais e contrárias às Escrituras, as quais nos
ensinam que a religião tem a ver com o coração. Na psicologia
bíblica, descobrimos que o coração é o órgão central da alma. É do
coração que emana a vida, os pensamentos, os sentimentos e os
desejos (Pv 4.23). A religião abrange todas as faculdades do
homem: intelecto, emoção e moral. Esta é a única opinião que se
enquadra bem na natureza da religião.

3. A origem da religião. Durante os últimos cinquentas anos,


tem-se estudado cuidadosamente a questão da origem da religião.
Têm-se feito tentativas de explicar a religião pelas vias naturais,
porém sem sucesso. Alguns falaram dela como a invenção de
sacerdotes astutos e fraudulentos, que tentaram fazer dela, desde
os tempos mais antigos, uma fonte de acesso, mas que hoje tal
explicação já perdeu todo seu valor. Outros afirmaram que a religião
teve início com a adoração de objetos inanimados (fetiches), ou com
a adoração dos espíritos dos ancestrais. No entanto, esta
explicação não conseguiu resolver o problema de como se chegou a
esta adoração de objetos inanimados ou viventes. Houve quem
opinasse que a religião se originou com a adoração da natureza, ou,
seja, de suas maravilhas e poderes, ou com a prática da magia. O
defeito essencial de todas essas teorias é que nenhuma nos informa
como o homem chegou a converter-se em um ser religioso, e todas
começam com o conceito de um homem já religioso.
A Bíblia nos apresenta o verdadeiro e único relato sobre a
origem da religião. Primeiro, ela nos fala da existência de Deus,
objeto único e digno de adoração. Em seguida afirma e assegura
que Deus, a quem o homem jamais poderia descobrir por suas
próprias faculdades naturais, se revelou, antes de tudo, na natureza,
e, de um modo especial, em sua divina Palavra. A Bíblia afirma que
este Deus exige a adoração e o serviço sinceros do homem, e ele
mesmo define a classe de adoração e serviço que lhe agrada.
Finalmente, a Bíblia nos ensina que Deus criou o homem a sua
imagem e semelhança, e assim o capacitou a compreender e
responder a sua revelação, e que, ao mesmo tempo, criou nele o
desejo natural de buscar a comunhão com Deus e a glorificá-lo.

Para memorização. Passagens relevantes:


1. Acerca da natureza da religião:

Dt 10.12, 13. “Agora, pois, ó Israel, que é que o S requer de


ti? Não é que temas o S , teu Deus, e andes em todos os
seus caminhos, e o ames, e sirvas ao S , teu Deus, de todo o
teu coração e de toda a tua alma, para guardares os mandamentos
do S e os seus estatutos que hoje te ordeno, para o teu
bem?”

Sl 111.10. “O temor do S é o princípio da sabedoria; revelam


prudência todos os que o praticam. O seu louvor permanece para
sempre.”

Ec 12.13. “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e


guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo
homem.”
Jo 6.29. “Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais
naquele que por ele foi enviado.”

At 16.31. “Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu


e tua casa. E lhe pregaram a palavra de Deus e a todos os de sua
casa.”

2. A fonte da religião:

Sl 51.10, 17. “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova


dentro de mim um espírito inabalável… Sacrifícios agradáveis a
Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito,
não o desprezarás, ó Deus.”

Pv 4.23. “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração,


porque dele procedem as fontes da vida.”

Mt 5.8. “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a


Deus.”

3. A origem da religião:

Gn 1.27. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de


Deus o criou; homem e mulher os criou.”

Dt 4.13. “Então, vos anunciou ele a sua aliança, que vos prescreveu,
os dez mandamentos, e os escreveu em duas tábuas de pedra.”
Ez 36.26. “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito
novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de
carne.”

Para estudo adicional:


1. Quais são os elementos da verdadeira religião? (Dt 10.12; Ec
12.13; Os 6.6; Mq 6.8; Mc 12.33; Jo 3.36; 6.29; At 6.31; Rm 12.1;
13.10; Tg 1.27).

2. Que práticas da falsa religião a Bíblia nos descreve? (Sl 78.35,


36; Is 1.11-17; 58.1-5; Ez 33.31, 32; Mt 6.2, 5; 7.21, 26, 27; 23.14;
Lc 6.2; 13.14; Gl 4.10; Cl 2.20; 2Tm 3.5; Tt 1.16; Tg 2.15, 16; 3.10).

3. Cite seis exemplos da verdadeira religião (Gn 4.4-8; 12.1-8;


15.17; 18.22, 23; Êx 3.2-22; Dt 32.33; 2Rs 18.3-7; 19.4-19; Dn 6.4-
22; Lc 2.25-37; 7.1-10; 2Tm 1.5).

1. A religião se limita a certas tribos ou nações?


2. Como podemos aprender a conhecer a natureza da
verdadeira religião?
3. Que palavras o Antigo e o Novo Testamentos usam para
descrever a religião?
4. Defina o que é religião.
5. Que conceitos equivocados existem acerca da fonte da
religião no ser humano?
6. Segundo as Escrituras, qual é o centro da vida religiosa?
7. Que diferentes explicações se têm dado sobre a origem da
religião?
8. Qual é a única explicação satisfatória?
CAPÍTULO II: A REVELAÇÃO

1. A revelação propriamente dita. O estudo da religião nos


conduz ao estudo da origem da revelação. Se porventura Deus não
se revelasse, a religião seria impossível. Se porventura Deus não se
desse a conhecer, o homem não teria tido nenhum conhecimento
dele, e por si só jamais chegaria a descobri-lo. Neste estudo,
distinguiremos a revelação de Deus na natureza, e sua revelação
nas Escrituras.
Os ateus e os agnósticos não creem na revelação. Os
panteístas às vezes falam dela, ainda quando não lhe deem lugar
em seu sistema filosófico. Os deístas admitem que Deus se revela
na natureza, no entanto negam a necessidade, a realidade e até
mesmo a possibilidade de uma revelação especial, tal como nos é
dada nas Escrituras. Quanto a nós, em contrapartida, cremos numa
revelação geral e noutra especial.
2. A revelação geral. A revelação geral difere de sua
revelação especial somente no que se refere ao tempo. Esta
revelação não nos é dada em forma de comunicação verbal, e sim
nos feitos, forças e leis da natureza, na constituição e operação da
mente humana e nos feitos da experiência e da história. A Bíblia nos
fala dela em passagens tais como Salmos 19.1, 2; Romanos 1.19,
20; 2.14, 15.
2.1. A insuficiência da revelação geral. Enquanto os
pelagianos, os racionalistas e os deístas consideram esta revelação
como que suficiente para nossas necessidades atuais, os
romanistas e as igrejas protestantes estão de acordo em que não é
suficiente. A mancha do pecado que caiu sobre a criação
obscureceu esta revelação. A despeito de tudo, a imagem do
Criador não ficou completamente apagada do homem, mas se
tornou nebulosa e indistinta. Na atualidade, não nos proporciona um
conhecimento seguro de Deus e das coisas espirituais, e, portanto,
não nos pode dar um fundamento seguro sobre o qual possamos
edificar para nosso futuro eterno. A insuficiência desta revelação
natural está demonstrada na confusão que reina entre aqueles que
tratam de fundar sua religião sobre uma base natural. Se tal
revelação não é um fundamento adequado mesmo para a religião
geral, quanto menos para a verdadeira religião. De fato, até os
povos pagãos apelam para alguma suposta revelação natural.
Finalmente, esta revelação fracassa completamente no que se
refere a satisfazer as necessidades dos pecadores. Ainda quando
nos dê certo conhecimento da bondade, da sabedoria e do poder de
Deus, não nos mune do conhecimento de Cristo como o único
caminho da salvação.
2.2. O valor da revelação geral. O que dissemos previamente
não significa que a revelação geral não seja de algum valor. Esta
revelação explica os elementos verdadeiros que ainda se encontram
nas religiões pagãs. Em virtude desta revelação, os gentios sentem
que são descendência de Deus (At 17.28), e buscam a Deus, se
porventura de alguma maneira, apalpando, o encontrem (At 17.27),
contemplam na natureza seu eterno poder e divindade (Rm 2.14). O
fato de que os pagãos vivam na obscuridade do pecado e da
ignorância, e corrompam a verdade de Deus, não os impede de que,
de certo modo, participem da iluminação de sua Palavra (Jo 1.9) e
da obra geral de seu Espírito (Gn 6.3). Ao mesmo tempo, a
revelação geral de Deus estabelece um antecedente para sua
revelação especial. Esta não poderia ser inteiramente compreendida
sem aquela. A ciência e a história iluminam as páginas da Bíblia.
3. A revelação especial. Além da revelação de Deus na
natureza, temos sua revelação especial encerrada nas Escrituras. A
Bíblia é o livro da revelação especial de Deus. Esta é uma revelação
na qual as palavras e os feitos se completam mutuamente; as
palavras interpretam os feitos, e estes confirmam as palavras.
3.1. Necessidade da revelação especial. O ingresso do
pecado no mundo tornou necessária esta revelação especial. A
visão da mão de Deus, que até então fora revelada na natureza, foi
obscurecida e corrompida. O homem ficou cego, espiritualmente,
sujeito ao erro e à incredulidade. Mesmo agora sua cegueira e
perversão o impedem de interpretar corretamente os vestígios que
restam na revelação original e se acha incapacitado totalmente para
compreender qualquer revelação divina posterior. Era, pois,
necessário que Deus reinterpretasse as verdades da natureza,
provesse uma nova revelação de sua redenção e iluminasse a
mente humana e a redimisse do poder do erro.
3.2. As formas da revelação especial. Deus deu sua
revelação ao homem em diferentes formas: a. Teofanias ou
manifestações visíveis de Deus. Este revelou sua presença em
forma de fogo e de nuvens (Êx 3.2; 33.9; Sl 78.14; 99.7); em ventos
tempestuosos (Jó 38.1; Sl 18.10-16); e em um sibilo suave e
agradável (1Rs 19.12). Todas estas eram manifestações de sua
presença que davam a conhecer um pouco de sua glória. Entre as
aparições do Antigo Testamento, são muito proeminentes as do Anjo
do Senhor, a segunda pessoa da Trindade (Gn 16.13 e 31.11; Ml
3.1). O ponto mais sublime da revelação de Deus aos homens foi a
encarnação de Cristo. Nele o Verbo de Deus se fez carne e habitou
entre nós (Jo 1.14).
b. Comunicações diretas. Algumas vezes Deus falou aos
homens diretamente como a Moisés e ao povo de Israel (Dt 5.4), e
outras vezes por meio dos profetas pela operação interior de seu
Espírito Santo (1Pe 1.11). Em outros casos se revelou por meio de
sonhos e visões, bem como pelo Urim e Tumim (Nm 12.6; 27.21; Is
6). No Novo Testamento encontramos Jesus Cristo como o divino
Mestre enviado para revelar a vontade de seu Pai, e por seu Espírito
os apóstolos vieram a ser os órgãos de revelações posteriores (Jo
14.26; 1Co 2.12, 13; 1Ts 2.13).
c. Os milagres. Os milagres da Bíblia jamais deveriam ser
considerados como meras maravilhas para encher os homens de
assombro, mas como partes essenciais da revelação de Deus. São
manifestações de um poder divino especial e da presença de Deus
de um modo particular. Em muitos casos, são símbolos de verdades
espirituais, da vinda do reino de Deus e do poder divino para a
redenção. O maior de todos os milagres foi a vinda do Filho de Deus
em forma humana. É em Cristo que a criação inteira é restabelecida
e restaurada a sua beleza original (1Tm 6.16; Ap 21.5).
3.3. O caráter da revelação especial. Esta revelação especial
de Deus nos fala da redenção. Ela nos ensina o plano de Deus para
a redenção dos pecadores e do mundo, e a maneira pela qual este
plano se revela plenamente. De um modo especial, ela renova o
homem, ilumina sua mente e o inclina a fazer o bem, o enche de
santas aspirações e o prepara para o lar celestial. Esta redenção
nos é apresentada como um ato que não só enriquece nossos
conhecimentos, mas também transforma as vidas dos pecadores e
os torna santos. Tal revelação é progressiva. As grandes verdades
da redenção inicialmente parecem muito obscuras, mas
gradualmente se esclarecem até que no Novo Testamento
aparecem em toda sua beleza e plenitude.

Para memorização. Passagens relevantes:


1. Sobre a revelação geral:

Sl 8.1. “Ó S , Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é


o teu nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade.”

Sl 19.1, 2. “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento


anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e
uma noite revela conhecimento a outra noite.”

Rm 1.20. “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu


eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se
reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por
meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso,
indesculpáveis.”

Rm 2.14, 15. “Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem,
por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles
de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no
seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus
pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se.”

2. Sobre a revelação especial:

Nm 12.6-8. “Então, disse: Ouvi, agora, as minhas palavras; se entre


vós há profeta, eu, o S , em visão a ele, me faço conhecer ou
falo com ele em sonhos. Não é assim com o meu servo Moisés, que
é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e
não por enigmas; pois ele vê a forma do S ; como, pois, não
temestes falar contra o meu servo, contra Moisés?”

Hb 1.1. “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas


maneiras, aos pais, pelos profetas.”

2Pe 1.21. “Porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por
vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de
Deus, movidos pelo Espírito Santo.”

Para estudo adicional:

1. Mencione algumas das aparições do Anjo do Senhor. Seria ele


um mero anjo? (Gn 16.33; 31.11, 13; 32.28; Êx 23.20-23).

2. Cite alguns exemplos da revelação por meio de sonhos (Gn


28.10-17; 31.24; 42.2-7; Jz 7.13; 1Rs 3.5-9; Dn 2.1-3; Mt 2.13, 19,
20).
3. Mostre casos em que Deus se revelou em visões (Is 6; Ez 1-3; Dn
2.19; 7.1-14; Zc 2-6).

4. É possível deduzir o que nos revelam os seguintes milagres? (Êx


10.1, 2; Dt 8.3; Jo 2.1-11; 6.1-14, 25-35; 9.1-7; 11.17-44).

1. Qual é a diferença entre a revelação geral e a especial?


2. Quem nega absolutamente toda revelação divina?
3. Qual é a crença dos deístas sobre a revelação?
4. Qual é a natureza da revelação geral?
5. Por que ela é insuficiente para nossas necessidades
especiais, e qual é seu valor real?
6. Por que era necessário que Deus nos desse uma
revelação especial?
7. Em que forma Deus nos deu sua revelação especial?
8. Quais são as características dessa revelação?
CAPÍTULO III: AS SAGRADAS
ESCRITURAS

1. A revelação e as Escrituras. O termo revelação especial


pode ser usado em mais de um sentido. Às vezes denota as
comunicações diretas de Deus ao homem em mensagens verbais e
em feitos miraculosos. Os profetas e os apóstolos amiúde recebiam
mensagens divinas muito antes de serem escritas por eles. Hoje as
encontramos nas Escrituras, porém não formam a Bíblia como um
todo. Uma grande parte da Bíblia não foi dada aos escritores sacros
nesta forma sobrenatural, mas é produto de seu estudo e reflexão.
Seja como for, a frase revelação especial é usada com referência a
toda a Bíblia, isto é, o conjunto dos feitos e das verdades redentoras
que se encontram nas Escrituras, dentro de seu conjunto histórico.
A Escritura nos garante estas verdades pelo fato de haver sido
infalivelmente inspirada pelo Espírito Santo. Portanto, podemos
afirmar que toda a Bíblia, e somente a Bíblia, é a revelação especial
de Deus em relação a cada um de nós. A revelação especial de
Deus existe nas páginas da Bíblia, e ainda hoje nos proporciona
vida, luz e santidade.
2. Prova bíblica da inspiração das Escrituras. Toda a
Bíblia foi dada por inspiração de Deus, e é o guia infalível de fé e
conduta para toda a humanidade. Posto que muitos neguem a
inspiração da Bíblia, esse assunto requer uma consideração
especial. A doutrina da inspiração da Bíblia não é uma invenção
humana, mas está fundada na própria Bíblia. São muitas as
passagens que nos falam deste fato, porém vamos indicar somente
algumas. Os autores do Antigo Testamento foram instruídos por
Deus a escrever o que ele lhes ordenava (Êx 17.14; 34.27; Is 8.1;
30.8; Jr 25.13; 30.2; Ez 24.1, 2; Dn 12.4; Hc 2.2). Os profetas tinham
consciência de ser portadores da palavra do Senhor, e por esse
motivo introduziam suas mensagens com estas palavras: “Assim diz
o Senhor”; ou: “E veio a mim a palavra do Senhor, dizendo” (Jr
36.27, 32; Ez 26, 27, 31, 32, 39). O apóstolo Paulo fala de suas
próprias palavras como sendo palavras que o Espírito lhe havia
ensinado (1Co 2.13), e alega que é Cristo quem falava nele (2Co
13.3). Em sua segunda carta aos Tessalonicenses, ele declara que
sua mensagem era “palavra de Deus” (2Ts 2.13). Na epístola aos
Hebreus, encontramos citações do Antigo Testamento mencionadas
como sendo a Palavra de Deus ou do Espírito Santo (Hb 1.5; 3.7;
4.3; 5.6; 7.21). A passagem mais importante que existe sobre a
inspiração das Escrituras se encontra em 2 Timóteo 3.16: “Toda a
Escritura é divinamente inspirada e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção e para a educação na justiça”.
3. Natureza da inspiração. Existem dois conceitos errôneos
sobre a inspiração. Ambos representam extremos que devemos
evitar.
3.1. A inspiração mecânica. Às vezes se tem afirmado que
Deus ditou literalmente o que os autores humanos da Bíblia deviam
escrever, como se estes fossem meras penas na mão do escritor,
isto é, agentes completamente passivos. Isto significa que suas
inteligências não contribuíram absolutamente para a forma e o
conteúdo das Escrituras. As próprias Escrituras demonstram que
não foi assim. Os autores humanos eram autores reais, e em alguns
casos derivaram os materiais de fontes que se achavam a sua
disposição (1Rs 11.41; 14.29; 1Cr 29.29; Lc 1.1-4). Em outros
casos, estes autores nos contam suas próprias experiências, como
no livro dos Salmos, e seus escritos levam as marcas de seu próprio
estilo literário. O estilo de Isaías é diferente do de Jeremias; e
tampouco João escreve no mesmo estilo de Paulo.
3.2. A inspiração dinâmica. Outros afirmam que o fenômeno
da inspiração só afeta os escritores, mas não seus escritos. Afirma-
se que sua vida espiritual e poder intelectual foram elevados a um
nível tal, que compreenderam melhor todas as coisas e tiveram uma
orientação mais profunda de seu verdadeiro valor espiritual. Afirma-
se ainda que esta inspiração não se limitou ao tempo em que
escreveram os livros da Bíblia, mas que era uma característica
permanente na vida desses escritores, e que só de um modo
indireto é que tem algo a ver com seus escritos. Foi como uma
espécie de iluminação espiritual parecida com a que desfrutam
todos os crentes, mas só num grau muitíssimo superior. Esta teoria
não tem fundamento bíblico, e se afasta muito da doutrina bíblica da
inspiração, como veremos mais adiante.
3.3. A inspiração orgânica. O verdadeiro conceito da
inspiração bíblica ensina que o Espírito Santo agiu sobre os
escritores da Bíblia de uma forma orgânica, como seus órgãos,
porém em harmonia com as leis de seu ser interior. O Espírito Santo
os usou tais como eram, com seu caráter e temperamento, seus
dons e talentos, sua educação e cultura, seu vocabulário e estilo. O
Espírito Santo iluminou suas mentes, corroborou sua memória, os
impeliu a escrever, dominou a influência que o pecado poderia ter
sobre seus escritos e os guiou na expressão de seus pensamentos
até mesmo a ponto de fazer seleção das palavras. Não obstante,
lhes deu uma boa medida de liberdade em suas atividades. Deixou
que nos dessem os resultados de suas investigações, e que
pusessem nos livros sacros a marca de seu estilo e vocabulário.
4. A extensão da inspiração. Há diferenças de opinião
sobre este ponto, as quais se tornam necessário estudar.
4.1. A inspiração parcial. Sob a influência do racionalismo,
não é raro encontrar atualmente quem negue completamente a
inspiração da Bíblia, ou afirma-se que somente partes dela são
inspiradas. Há quem negue a inspiração do Antigo Testamento,
porém aceita a do Novo. Outros afirmam que só os ensinos morais e
religiosos da Bíblia são inspirados; porém, no que diz respeito a
suas partes históricas, há erros cronológicos, arqueológicos e
científicos. Há quem limite a inspiração ao Sermão do Monte. Os
que aceitam tais pontos de vista já não possuem uma Bíblia sobre a
qual possam apoiar-se, já que as próprias diferenças de opinião que
existem são uma prova positiva de que nenhuma dessas pessoas
pode determinar, com o menor grau de certeza, quais partes da
Escritura são inspiradas, e quais não o são. Há ainda outra forma de
negar a inspiração bíblica das Escrituras, e se estriba em afirmar
que só os pensamentos são inspirados, mas que a seleção das
palavras foi deixada completamente ao arbítrio dos autores
humanos. Tal afirmação cai por seu próprio peso, já que se acha
fundada no errôneo conceito de que é possível separar os
pensamentos das palavras. Em contrapartida, podemos afirmar que,
sem as palavras, é impossível pensar com exatidão.
4.2. A inspiração plenária. A Bíblia ensina que cada parte da
mesma é inspirada. Jesus Cristo e os apóstolos apelam com
frequência para o Antigo Testamento com as palavras Escrituras ou
Escritura para solucionar um ponto de controvérsia. Para eles,
apelar para a Escritura era o mesmo que apelar para Deus. É
também digno de nota que na lista dos livros que citam desta forma
se encontram livros históricos. Na epístola aos Hebreus há
frequentes citações de passagens do Antigo Testamento como
sendo palavras de Deus ou do Espírito Santo. Pedro põe as cartas
de Paulo no mesmo nível dos livros do Antigo Testamento (2Pe
3.16), e Paulo afirma que toda a Escritura é divinamente inspirada
(2Tm 3.16).
Portanto, podemos dar um passo além e afirmar que a
inspiração da Bíblia alcança as próprias palavras empregadas. A
Bíblia é verbalmente inspirada, coisa que não se pode confundir
com a inspiração mecânica. A doutrina da inspiração verbal está
bem justificada pelas Escrituras. Em muitos casos, descobrimos que
Deus mesmo indicou com exatidão a Moisés e a Josué o que
deviam escrever (Lv 3 e 4; 6.1, 24; 7.22, 28; Js 1.1; 4.1; 6.2; etc.).
Os profetas falam como se o Senhor pusesse sua palavra em seus
lábios (Jr 1.9) e lhes ordenasse falar ao povo as próprias palavras
de Deus (Ez 3.4, 10, 11). Paulo nos fala que suas palavras são a
doutrina do Espírito (1Co 2.13), e tanto Paulo quanto o próprio
Jesus fundamentam um argumento na simples Palavra (Mt 22.43-
45; Jo 10.35; Gl 3.16).
5. As perfeições da Escritura. Os reformadores
desenvolveram a doutrina da Escritura em contraste com a igreja
romana e algumas das seitas. Roma ensina que a Bíblia deve sua
autoridade à igreja, enquanto os reformadores afirmavam que a
Bíblia tem autoridade própria, por ser a Palavra inspirada de Deus.
Também afirmaram a necessidade das Escrituras como o meio de
graça preparado por Deus mesmo. A igreja romana afirma que a
igreja não tem necessidade absoluta das Escrituras, e algumas
seitas põem sua ênfase na luz interior e na mensagem do Espírito
Santo no coração dos crentes em detrimento das Escrituras. Ainda
contra a igreja romana, os reformadores defenderam a clareza das
Escrituras. Não negaram o fato de a Escritura encerrar mistérios
demasiadamente profundos para o entendimento humano, porém
afirmavam que a Bíblia nos dá todo o conhecimento necessário para
a salvação. Este conhecimento, ainda quando não se acha com
igual clareza em cada uma das páginas da Bíblia, contudo nos é
dado de tal forma, que quem buscar sinceramente a salvação de
sua alma pode obtê-la por si mesmo, e não necessita descansar
somente na interpretação da igreja ou do clero. Finalmente,
defenderam a suficiência das Escrituras, isto é, negaram a
necessidade da tradição que a igreja romana mantém, ou da luz
interior que os anabatistas professavam.

Para memorização. Passagem relevantes sobre:


1. A inspiração da Bíblia:

1Co 2.13. “Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela


sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas
espirituais com espirituais.”

1Ts 2.13. “Outra razão ainda temos nós para, incessantemente, dar
graças a Deus: é que, tendo vós recebido a palavra que de nós
ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homens,
e sim como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito,
está operando eficazmente em vós, os que credes.

2Tm 3.16. “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o


ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na
justiça.”

2. A autoridade da Bíblia:
Is 8.20. “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira,
jamais verão a alva.”

3. A clareza da Escritura:

Sl 19.7. “A lei do S é perfeita e restaura a alma; o testemunho


do S é fiel e dá sabedoria aos símplices.”

Sl 119.105. “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz para


os meus caminhos.”

4. A necessidade da Bíblia:

2Tm 3.15. “E que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que


podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus.”

5. A suficiência da Escritura:

Sl 19.7. “A lei do S é perfeita e restaura a alma; o testemunho


do S é fiel e dá sabedoria aos símplices.”

Sl 119.105. “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz para


os meus caminhos.”
Para estudo adicional:

1. As tradições humanas contêm alguma autoridade? (Mt 5.21-48;


15.3-6; Mc 7.7; Cl 2.8; Tt 1.14; 2Pe 1.18).

2. Os profetas entendiam com clareza as coisas que escreviam?


(Dn 8.15; 12.8; Zc 1.7-6.11; 1Pe 1.11).

3. O que nos ensina 2 Timóteo 3.16 sobre o valor prático da


inspiração da Bíblia?

1. Qual é a relação entre a revelação especial e a Bíblia?


2. Que diferentes sentidos são dados ao termo “revelação
especial”?
3. Podemos afirmar que a revelação especial e as Escrituras
são palavras sinônimas?
4. Que provas bíblicas podemos dar sobre a inspiração da
Bíblia?
5. O que ensinam as teorias da inspiração mecânica e
dinâmica?
6. Como você definiria a doutrina da inspiração orgânica?
7. Que pensar dos que dizem que os pensamentos são
inspirados, porém não as palavras?
8. Como é possível provar que a inspiração se estende a cada
parte da Escritura, até mesmo às próprias palavras?
9. Qual é a diferença entre a igreja romana e os cristãos de fé
reformada sobre a autoridade, necessidade, clareza e
suficiência das Escrituras?
A DOUTRINA DE DEUS E DA CRIAÇÃO
CAPÍTULO IV: A NATUREZA ESSENCIAL
DE DEUS
1. O conhecimento de Deus. Tem-se negado a possibilidade
de se conhecer a Deus por diferentes motivos, e ainda que seja
certo que o homem jamais pode chegar a uma compreensão
absoluta do ser divino, isto não implica que não possamos ter algum
conhecimento dele. Podemos conhecer a Deus só em parte, mas
com um conhecimento que é real e verdadeiro. Isto é possível
porque Deus mesmo se nos revelou. Se o homem fosse
abandonado aos seus próprios esforços, jamais chegaria a
descobrir a Deus ou a conhecê-lo.
Nosso conhecimento de Deus é de duas classes. O homem
tem um conhecimento inato de Deus. Isto não significa que, em
virtude de sua criação à imagem e semelhança de Deus, o homem
tenha a capacidade natural para conhecer a Deus. Tampouco
implica que o homem, desde seu nascimento, traga consigo para o
mundo certo conhecimento de Deus. O conhecimento inato significa
que sob condições normais se desenvolve no homem, em forma
natural, certo conhecimento de Deus. Seja como for, este
conhecimento é de natureza bem geral.
Além deste conhecimento inato de Deus, o homem pode
obter certo conhecimento dele através da revelação geral e da
revelação especial. Este conhecimento se obtém como fruto de uma
busca consciente e contínua. Ainda quando tal conhecimento seja
possível por razão da capacidade natural no homem para conhecer
a Deus, o conhecimento adquirido o faz aproximar-se muito mais
daqueles limites impostos para o conhecimento inato de Deus.
2. O conhecimento de Deus que se deriva da revelação
especial. Embora não seja possível dar uma definição precisa de
Deus, é possível dar uma descrição geral de seu ser. Têm-se
apresentado muitas supostas definições de Deus, ainda quando
seja melhor descrevê-lo como um espírito puro de perfeições
infinitas. Esta descrição inclui os seguintes elementos: 2.1. Deus é
um espírito puro. A Bíblia não nos fornece qualquer definição de
Deus. O que mais se aproxima de uma definição são as palavras de
Jesus à mulher samaritana, dizendo: “Deus é espírito”. Isto significa
que Deus é essencialmente espírito, e que todas aquelas
qualidades que pertencem à ideia de espírito perfeito se encontram
necessariamente nele. O fato de Deus ser um espírito puro exclui a
ideia de que ele possui um corpo, não importa de que espécie possa
ser, visível aos olhos humanos.
2.2. Deus é um ser pessoal. A ideia de Deus como espírito
inclui a ideia de personalidade ou pessoalidade. Um espírito é um
ser inteligente e moral; por isso, quando atribuímos a Deus
personalidade, queremos dizer que ele é um ser racional, capaz de
determinar-se e decidir as coisas. Atualmente há muitos que negam
a personalidade de Deus e o concebem simplesmente como uma
força ou poder impessoal. No entanto, o Deus da Bíblia é um Ser
pessoal, um Deus com quem os homens podem dialogar, em quem
podem confiar, que conhece suas experiências, os ajuda em suas
dificuldades e enche seus corações de alegria e esperança. Além
disso, Deus se revelou de uma forma pessoal através do Senhor
Jesus Cristo.
2.3. Deus é infinitamente perfeito. O que distingue a Deus
de suas criaturas é sua perfeição infinita. Seu ser e virtudes ou
atributos são plenamente livres de toda limitação ou imperfeição.
Deus é não só um ser infinito e ilimitado, mas também está
infinitamente acima de todas suas criaturas, em suas perfeições
morais e gloriosa majestade. Os filhos de Israel cantaram a
grandeza de Deus após a travessia do Mar Vermelho com estas
palavras: “Quem é como tu, ó Senhor, entre os deuses? Quem é
como tu, magnífico em santidade, terrível em louvores, que operas
maravilhas?” (Êx 15.11). Alguns filósofos contemporâneos falam
erroneamente de Deus como um ser “finito, que se desenvolve, que
luta e que sofre, participando das derrotas e vitórias do homem”.
Este conceito existencialista está distante das verdades bíblicas.
2.4. Deus e suas perfeições são uma e a mesma coisa.
Simplicidade é uma das características fundamentais de Deus. Isto
significa que Deus não está dividido em partes, mas que seu ser e
seus atributos são uma e a mesma coisa. Poder-se-ia dizer que os
atributos divinos são Deus tal como ele quis revelar-se ao homem e
são plenamente manifestações do Ser divino. Por esse motivo a
Bíblia afirma que Deus é verdade, vida, luz, amor, justiça etc.

Para memorização. Passagens que provam:


1. Que Deus pode ser conhecido:

1Jo 5.20. “Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem
dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no
verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e
a vida eterna.”

Jo 17.3. “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus


verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.”

2. Que Deus é espírito:

Jo 4.23, 24. “Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros


adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são
estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e
importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em
verdade.”

1Tm 6.16. “o único que possui imortalidade, que habita em luz


inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver.
A ele honra e poder eterno. Amém!”

3. Que Deus é um ser pessoal:


Ml 2.10. “Não temos nós todos o mesmo Pai? Não nos criou o
mesmo Deus? Por que seremos desleais uns para com os outros,
profanando a aliança de nossos pais?”

Jo 14.9. “Disselhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e


não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes
tu: Mostra-nos o Pai?”

4. Que Deus é um ser infinito em perfeição:

Êx 15.11. “Ó S , quem é como tu entre os deuses? Quem é


como tu, glorificado em santidade, terrível em feitos gloriosos, que
operas maravilhas?”

Sl 147.5. “Grande é o Senhor nosso e mui poderoso; o seu


entendimento não se pode medir.”

Para estudo bíblico adicional:

1. Estas passagens ensinam que não podemos conhecer a Deus?


(Jó 11.7; 26.14; 36.26).

2. Se Deus é espírito e, consequentemente, não tem corpo, como se


explicam as seguintes passagens? (Sl 4.6; 17.2; 18.6, 8, 9; 31.5;
44.3; 47.8; 48.10; entre outras).
3. Como estes versículos provam a personalidade de Deus? (Gn
1.1; Dt 1.34, 35; 1Rs 8.23-26; Jó 38.1; Sl 21.7; 50.6; 103.3; Mt 5.9;
Rm 12.1).

1. Em que sentido podemos conhecer a Deus e em que


sentido é impossível conhecê-lo?
2. Que diferença existe entre o conhecimento inato e o
adquirido?
3. É possível dar uma definição de Deus? Como podemos
descrevê-lo?
4. Que significa a espiritualidade de Deus?
5. Que queremos dizer quando falamos de Deus como uma
pessoa?
6. Que provas temos nós da personalidade de Deus?
7. O que significa a infinidade de Deus?
8. Que relação existe entre o Ser divino e suas perfeições?
CAPÍTULO V: OS NOMES DE DEUS
Quando lemos na Bíblia que Deus dá nomes a certas
pessoas ou coisas, esses nomes têm um significado e nos dão uma
ideia da natureza das pessoas ou coisas que designam. O mesmo
se aplica aos nomes que Deus mesmo deu a si próprio. Algumas
vezes a Bíblia nos fala do nome Jeová no singular, e em tais casos
designa com essa palavra uma manifestação geral de Deus, de um
modo especial com referência a seu povo (Êx 20.7; Sl 113.3); ou se
refere apenas a Deus (Pv 18.18; Is 50.10). O nome de Deus, em
geral, tem-se dividido em vários nomes especiais que expressam os
muitos aspectos de seu Ser. Esses nomes não são o produto de
invenção humana, mas foram dados por Deus mesmo.
1. Os nomes de Deus no Antigo Testamento. Alguns
nomes no Antigo Testamento denotam que Deus é o Altíssimo ou o
Deus das alturas. Os nomes El e Elohim indicam que Deus é forte e
poderoso, e que por isso deve ser temido. Elyon denota sua
natureza elevada como o Deus Altíssimo que é objeto de reverência
e adoração. Outro nome que pertence a esta classificação é Adonai,
geralmente traduzido por Senhor, isto é, o Possuidor e Soberano de
todos os homens. Outros nomes expressam o fato de que Deus tem
relações benévolas ou amistosas com suas criaturas. Um desses
nomes, bem comum entre os patriarcas, era Shaddai ou ’El-
Shaddai, que põe a ênfase na grandeza divina, mas somente como
fonte de consolo e bênção para o povo. Esse nome indica que Deus
rege os poderes da natureza e faz com que esta sirva a seus
próprios desígnios. O maior dos nomes de Deus, que sempre tem
sido sagrado para os judeus, é Jeová (Yahweh). Sua origem e
significado nos são indicados em Êxodo 3.14, 15. Este nome
expressa a imutabilidade de Deus, isto é, que Deus é sempre o
mesmo, e, de um modo especial, ele jamais muda nas relações de
sua aliança, que é sempre fiel no cumprimento de suas promessas.
Com muita freqüência encontramos outro nome, o Senhor dos
Exércitos, o qual nos fornece um quadro do Senhor como o Rei da
glória rodeado dos exércitos celestiais.
2. Os nomes de Deus no Novo Testamento. Estes não são
outros senão produto das traduções gregas das formas hebraicas
do Antigo Testamento. São dignos de menção os seguintes: 2.1. O
nome Theos. Esta palavra é traduzida por Deus, e é a que se
emprega com mais frequência no Novo Testamento. Emprega-se
com muita frequência no caso genitivo (possessivo), ou, seja, meu
Deus, teu Deus, nosso Deus, seu Deus. Na pessoa de Cristo, Deus
é o Deus de todos seus filhos. Esta forma individual toma o lugar da
forma nacional, o Deus de Israel, que é tão frequente no Antigo
Testamento.
2.2. O nome Kyrios. A palavra Kyrios significa Senhor, e este
nome se aplica não só a Deus o Pai, mas também a Cristo. Em seu
significado, ele toma o lugar do hebraico Adonai, bem como Jeová,
mas seu significado corresponde muito mais de perto a forma
Adonai. Designa, pois, a Deus como o Possuidor e Soberano de
todas as coisas, e, de um modo especial, de seu povo.
2.3. O nome Pater. Há quem diga que o Novo Testamento
introduz este nome como sendo um nome novo, mas tal afirmação é
incorreta. O nome Pai se encontra também no Antigo Testamento
para expressar a relação especial que existia entre Deus e seu povo
Israel (Dt 32.6; Is 63.16). No Novo Testamento, seu significado é
ainda mais individual e denota a Deus como o Pai de todos os
crentes. Às vezes ele designa a Deus como Criador de tudo quanto
existe (1Co 8.6; Ef 3.14; Hb 12.9; Tg 1.17); outras, como a primeira
pessoa da Santíssima Trindade e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo
(Jo 14.11; 17.1).

Para memorização. Passagens sobre:

1. O nome de Deus em geral:

Êx 20.7. “Não tomarás o nome do S , teu Deus, em vão,


porque o S não terá por inocente o que tomar o seu nome em
vão.”

Sl 8.1. “Ó S , Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é


o teu nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade.”

2. Nomes particulares:

Gn 1.1. “No princípio, criou Deus os céus e a terra.”

Êx 6.3. “Apareci a Abraão, a Isaque e a Jacó como Deus Todo-


Poderoso; mas pelo meu nome, O S , não lhes fui conhecido.”

Sl 86.8. “Não há entre os deuses semelhante a ti, Senhor; e nada


existe que se compare às tuas obras.”

Ml 3.6. “Porque eu, o S , não mudo; por isso, vós, ó filhos de


Jacó, não sois consumidos.”

Mt 6.9. “Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus,
santificado seja o teu nome.”

Ap 4.8. “E os quatro seres viventes, tendo cada um deles,


respectivamente, seis asas, estão cheios de olhos, ao redor e por
dentro; não têm descanso, nem de dia nem de noite, proclamando:
Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que
era, que é e que há de vir.”

Para estudo adicional:

1. Como a passagem de Êxodo 3.13-16 lança luzes sobre o


significado do nome Jeová?

2. Qual era o nome de Deus mais comum nos dias dos patriarcas?
(Gn 17.1; 28.3; 35.11; 43.14; 48.3; 49.25; Êx 6.3).

3. Você pode dar alguns nomes que descrevem a Deus? (Is 43.15;
44.6; Am 4.13; Lc 1.78; 2Co 1.3; Tg 1.17; Hb 12.9; Ap 1.8, 17).

1. O que as Escrituras nos falam do nome de Deus no


singular?
2. Os nomes de Deus foram inventados pelos homens?
3. Quais as duas classes de nomes podemos distinguir no
Antigo Testamento?
4. Que significam os nomes ’Elohim, Jeová, Adonai, ’El
Shaddai e Kyrios?
5. Deus, com o título Pai, é mencionado no Antigo
Testamento?
6. Em que sentido diferente se usa o nome Pai no Novo
Testamento?
CAPÍTULO VI: OS ATRIBUTOS DE DEUS
Deus se nos revela não só através de seus nomes, mas
também em seus atributos, isto é, as perfeições do Ser divino.
Costuma-se distinguir entre os atributos comunicáveis e os
incomunicáveis. Existem vestígios dos primeiros nas criaturas
humanas, porém não dos segundos.
1. Os atributos incomunicáveis. Sua ênfase está na
distinção absoluta que existe entre a criatura e o Criador. Esses
atributos são: 1.1. Independência ou existência própria de Deus.
Significa que a razão da existência de Deus se encontra nele
mesmo e que, diferente do homem, não depende de nada fora dele
mesmo. Deus é independente em seu Ser, em suas ações e
virtudes, e faz com que todas as criaturas dependam dele. Esta
ideia se acha expressa no nome Jeová e em muitas passagens
bíblicas (Sl 33.11; 115.3; Is 40.18-31; Dn 4.35; Jo 5.26; Rm 11.33-
36; At 17.25; Ap 4.11).
1.2. Imutabilidade de Deus. As Escrituras nos ensinam que
Deus não muda. Tanto em seu Ser divino quanto em seus atributos,
em seus propósitos e promessas, Deus permanece sempre o
mesmo (Nm 23.19; Sl 33.11; 102.27; Ml 3.6; Hb 6.17; Tg 1.17). Isto
de modo algum significa que em Deus não exista movimento. A
Bíblia nos ensina que ele vai e vem; que ele se esconde e se revela.
Ela nos diz também que ele se arrepende, mas é evidente que isto
não passa de uma forma humana de falar de Deus (Êx 32.14; Jn
3.10); e indica mais uma mudança na relação do homem com Deus.
1.3. Infinidade de Deus. Com isto afirmamos que Deus não
está sujeito a nenhuma limitação. Podemos falar de sua infinidade
em diversos sentidos. Com relação a seu Ser, podemos chamá-la
sua perfeição absoluta. Em outras palavras, Deus não é limitado em
seu conhecimento e sua sabedoria, em sua bondade e seu amor,
em sua justiça e sua santidade (Jó 11.7-10; Sl 145.3). Com respeito
ao tempo, a chamamos sua eternidade. Enquanto na Escritura tal
noção nos é dada em forma de uma duração ilimitada (Sl 90.2;
102.12), de fato significa que Deus está acima do tempo, e que
portanto não está sujeito às limitações deste. Para Deus só existe
um eterno presente, e para ele não há passado e futuro. Com
relação ao espaço, sua infinidade recebe o nome de imensidade.
Deus está presente em todas as partes, mora em todas suas
criaturas, enche cada ponto do espaço, porém não está de forma
alguma limitado pelo espaço (1Rs 8.27; Sl 139.7-10; Is 66.11; Jr
23.23, 24; At 17.27, 28).
1.4. Simplicidade de Deus. Ao falar da simplicidade de
Deus, queremos dizer que ele não se compõe de diferentes partes,
tais como corpo e alma no homem, e que por esta justa razão Deus
não se acha sujeito a nenhuma divisão. As três pessoas da Deidade
não são tantas partes das quais se compõe a essência divina. Todo
o ser de Deus pertence a cada uma das três Pessoas. Por esse
motivo, afirmamos que Deus e seus atributos são um todo
consistente, e que ele é vida, luz, amor, justiça, verdade etc.
2. Os atributos comunicáveis. Estes são os atributos dos
quais existe alguma semelhança no homem. Devemos notar,
contudo, que o que vemos no homem é uma semelhança finita
(limitada) e imperfeita daquilo que em Deus é infinito (ilimitado) e
perfeito.
2.1. O conhecimento de Deus. Chamamos assim àquela
perfeição pela qual Deus, a sua maneira, conhece a si mesmo e a
todas as coisas atuais e possíveis. Deus tem por si mesmo este
conhecimento pessoal, e não o obtém de nada e de ninguém
exterior. Este conhecimento é completo e está sempre presente em
sua mente. Posto que tal conhecimento abranja tudo, ele tem
recebido o título onisciência. Deus conhece todas as coisas
passadas, presentes e futuras, e não somente aquelas que têm uma
existência real, mas também as que são meramente possíveis (1Rs
8.29; Sl 139.1-16; Is 46.10; Ez 11.5; At 15.18; Jo 21.17; Hb 4.13).
2.2. A sabedoria de Deus. A sabedoria é um aspecto do
conhecimento de Deus. É o atributo divino que se manifesta na
seleção de fins dignos e na seleção dos melhores meios para a
realização de tais fins. O propósito final e ao qual Deus faz com que
todas as coisas lhe sejam subordinadas é sua própria glória (Rm
11.33; 1Co 2.7; Ef 1.6, 12, 14; Cl 1.16).
2.3. A bondade de Deus. Deus é bom, isto é,
perfeitissimamente santo em seu modo de ser. No entanto, esta não
é a classe de bondade à qual nos referimos aqui. A bondade a que
fazemos referência é aquela que se revela em se fazer o bem a
outros. É o atributo ou perfeição divina que impulsiona Deus a agir
com bondade e generosidade para com todas suas criaturas. A
Bíblia fala disto reiteradamente (Sl 36.6; 104.21; 145.8, 9, 16; Mt
5.45; At 14.17).
2.4. O amor de Deus. Este é chamado o atributo mais
importante de Deus, mas é duvidoso se um é mais importante que
os outros. Em razão disto, Deus se deleita em suas próprias
perfeições, e também nos homens, como reflexo de sua imagem.
Podemos considerá-lo de diferentes prismas. O amor imerecido de
Deus que se revela no perdão dos pecados recebe o título graça (Ef
1.7; 2.7-9; Tt 2.11). O amor que se revela em aliviar a miséria dos
que sofrem as consequências do pecado, o chamamos sua
misericórdia ou terna compaixão (Lc 1.54-72, 78; Rm 15.8; 9.16, 18;
Ef 2.4). Quando este amor tem paciência para com o pecador que
não atenta para as instruções e avisos divinos, o chamamos sua
longanimidade ou paciência (Rm 2.4; 9.22; 1Pe 3.20; 2Pe 3.15).
2.5. A santidade de Deus. Esta é antes de tudo aquela
perfeição divina pela qual Deus é absolutamente distinto de todas
suas criaturas e elevado muito acima delas em majestade infinita
(Êx 15.11; Is 57.15). Em segundo lugar, denota também que Deus é
livre de qualquer impureza moral ou pecado, e que por isso ele é
moralmente perfeito. Na presença deste Deus santo, o homem
sente seu pecado extremamente profundo (Jó 34.10; Is 6.5; Hc
1.13).
2.6. A justiça de Deus. A justiça de Deus é aquele atributo
divino pelo qual ele se mantém santo diante de qualquer violação de
sua santidade. Em virtude disto, Deus mantém seu governo moral
no mundo e impõe ao homem uma lei justa, recompensando a
obediência e castigando a desobediência (Sl 99.4; Is 33.22; Rm
1.32). A justiça de Deus que se manifesta em dar recompensas
recebe o título justiça remunerativa; a que se revela ao executar seu
castigo se chama justiça retributiva. A primeira é uma expressão de
seu amor; e, a segunda, de sua ira.
2.7. A veracidade de Deus. Este atributo denota que Deus é
verdadeiro em seu ser intrínseco, em sua revelação e nas relações
com seu povo. Deus é verdadeiro em contraste com os ídolos,
conhece todas as coisas tais como são, e é fiel no cumprimento de
suas promessas. Esta última característica recebe também o nome
de fidelidade de Deus (Nm 23.19; 1Co 1.9; 2Tm 2.13; Hb 10.23).
2.8. A soberania de Deus. Este atributo pode ser
considerado a partir de dois prismas: sua soberana vontade e seu
soberano poder. A vontade de Deus, segundo as Escrituras, é a
causa final de todas as coisas (Ef 1.11; Ap 4.11). De acordo com
Deuteronômio 29.29, era costume distinguir entre a vontade secreta
de Deus e sua vontade revelada. A primeira foi chamada a vontade
do decreto divino, está oculta em Deus mesmo e só pode ser
conhecida através de seus efeitos. A segunda é a vontade de seus
preceitos e nos foi revelada na lei e no evangelho. A vontade de
Deus é absolutamente livre em sua relação com suas criaturas (Jó
11.10; 33.13; Sl 115.3; Pv 21.1; Mt 20.15; Rm 9.15-18; Ap 4.11).
Mesmo as ações pecaminosas do homem estão sob o controle de
sua soberana vontade (Gn 50.20; At 2.23). Onipotência é o título
que se dá ao poder de se executar sua vontade. Dizer que Deus é
onipotente não significa que ele possa fazer qualquer coisa. A Bíblia
nos ensina que há certas coisas que ele não pode fazer. Ele não
pode mentir, pecar, nem negar-se a si mesmo (Nm 23.19; 1Sm
15.29; 2Tm 2.13; Hb 6.28; Tg 1.13, 17). Significa, por sua vez, que
Deus pode, pelo mero exercício de sua vontade, realizar qualquer
coisa que porventura decida realizar, e que, se ele quiser, poderia
fazer até mais que isso (Gn 18.14; Jr 32.27; Zc 8.6; Mt 3.9; 26.53).

Para memorização. Passagem que provam:

1. Os atributos incomunicáveis:
Independência
Jo 5.26. “Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também
concedeu ao Filho ter vida em si mesmo.”

Imutabilidade

Ml 3.6. “Porque eu, o S , não mudo; por isso, vós, ó filhos de


Jacó, não sois consumidos.”

Tg 1.17. “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto,


descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou
sombra de mudança.”

Eternidade

Sl 90.2. “Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e


o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus.”

Sl 102.27. “Tu, porém, és sempre o mesmo, e os teus anos jamais


terão fim.”

Onisciência

Sl 139.7-10. “Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde


fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha
cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas
da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me
haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá.”

Jr 23.23, 24. “Acaso, sou Deus apenas de perto, diz o S ,e


não também de longe? Ocultar-se-ia alguém em esconderijos, de
modo que eu não o veja? — diz o S ; porventura, não encho
eu os céus e a terra? — diz o S .”

2. Os atributos comunicáveis:

Onisciência

Jo 21.17. “Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de


João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela
terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas
as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as
minhas ovelhas.”

Hb 4.13. “E não há criatura que não seja manifesta na sua


presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e
patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas.”

Sabedoria

Sl 104.24. “Que variedade, S , nas tuas obras! Todas com


sabedoria as fizeste; cheia está a terra das tuas riquezas.”

Dn 2.20, 21. “Disse Daniel: Seja bendito o nome de Deus, de


eternidade a eternidade, porque dele é a sabedoria e o poder.”

Bondade

Sl 86.5. “Pois tu, Senhor, és bom e compassivo; abundante em


benignidade para com todos os que te invocam.”

Sl 118.29. “Rendei graças ao S , porque ele é bom, porque a


sua misericórdia dura para sempre.”
Amor

Jo 3.16. “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o


seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna.”

1Jo 4.8. “Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é
amor.”

Graça

Ne 9.17. “Recusaram ouvir-te e não se lembraram das tuas


maravilhas, que lhes fizeste; endureceram a sua cerviz e na sua
rebelião levantaram um chefe, com o propósito de voltarem para a
sua servidão no Egito. Porém tu, ó Deus perdoador, clemente e
misericordioso, tardio em irar-te e grande em bondade, tu não os
desamparaste.”

Rm 3.24. “Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante


a redenção que há em Cristo Jesus.”

Misericórdia

Rm 9.18. “Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também


endurece a quem lhe apraz.”

Ef 2.4, 5. “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do


grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos
delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois
salvos.”

Longanimidade ou paciência
Nm 14.18. “O S é longânimo e grande em misericórdia, que
perdoa a iniquidade e a transgressão, ainda que não inocenta o
culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e
quarta gerações.”

Santidade

Êx 15.11. “Ó S , quem é como tu entre os deuses? Quem é


como tu, glorificado em santidade, terrível em feitos gloriosos, que
operas maravilhas?”

Is 6.3. “E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo,


santo é o S dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua
glória.”

Justiça ou juízo

Sl 89.14. “Justiça e direito são o fundamento do teu trono; graça e


verdade te precedem.”

Sl 145.17. “Justo é o S em todos os seus caminhos, benigno


em todas as suas obras.”

1Pe 1.17. “Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de
pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor
durante o tempo da vossa peregrinação.”

Veracidade e fidelidade

Nm 23.19. “Deus não é homem, para que minta; nem filho de


homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele prometido,
não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?”
2Tm 2.13. “Se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira
nenhuma pode negar-se a si mesmo.”

Soberania

Ef 1.11. “Nele, digo, no qual fomos também feitos herança,


predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas
conforme o conselho da sua vontade.”

Ap 4.11. “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a


honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa
da tua vontade vieram a existir e foram criadas.”

Vontade secreta e revelada

Dt 29.29. “As coisas encobertas pertencem ao S , nosso


Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos,
para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei.”

Onipotência

Jó 42.2. “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode
ser frustrado.”

Lc 1.37. “Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as


suas promessas.”

Para estudo adicional:


1. Apresente casos nos quais a Bíblia identifica Deus com seus
atributos (Jr 23.6; Hb 12.29; 1Jo 1.5; 3.16).

2. Como é possível que Deus seja justo e também misericordioso


para com o pecador? (Zc 9.9; Rm 3.24-26).

3. Prove, através das Escrituras, que a presciência divina inclui até


mesmo os feitos condicionais (1Sm 23.10-13; 2Rs 13.19; Sl 81.13-
15; Jr 38.17-20; Ez 3.6; Mt 11.21; Is 48.18).

1. Que distinção fazemos entre os atributos de Deus?


2. Que atributos pertencem a cada classe?
3. Que significa a independência de Deus?
4. Como é possível explicar o fato de a Bíblia atribuir a Deus
mudanças aparentes?
5. Como podemos definir a eternidade e a imensidade ou
onipresença de Deus?
6. Que significa a simplicidade de Deus e como podemos
prová-la?
7. Que é a imutabilidade de Deus?
8. Qual é a natureza e o alcance do conhecimento divino?
9. Em que sentido o conhecimento divino se relaciona com
sua sabedoria?
10. É apropriado falar do amor de Deus como um atributo mais
importante que os outros?
11. Como podemos distinguir entre a graça, a misericórdia e
a paciência de Deus?
12. Que significa a santidade de Deus?
13. De que forma Deus nos revela sua justiça?
14. Que coisas se acham inclusas na veracidade de Deus?
15. Que distinção se faz quando se fala da vontade de Deus?
16. Porventura existe conflito entre a vontade secreta e a
vontade revelada de Deus?
17. A que chamamos a bondade de Deus? Existem outros
nomes para designá-la?
18. A onipotência de Deus significa que ele pode fazer
qualquer coisa?
CAPÍTULO VII: A TRINDADE
1. Declaração doutrinal. A Bíblia ensina que, embora Deus
seja uno, ele subsiste em três pessoas chamadas Pai, Filho e
Espírito Santo. Estas são três pessoas não no sentido corrente da
palavra; tampouco são três indivíduos; ao contrário, são três modos
ou formas de existência do Ser divino. Ao mesmo tempo, sua
natureza é tal que é possível entrar em relações pessoais. O Pai
pode falar ao Filho e vice-versa, e ambas as pessoas podem enviar
o Espírito Santo. O verdadeiro mistério da Trindade consiste no fato
de que cada uma das três pessoas possui a soma total da essência
divina, e que esta não existe separadamente ou fora das Pessoas.
Nenhuma delas é subordinada à outra quanto ao Ser, ainda que na
ordem de sua existência o Pai seja primeiro, o Filho seja segundo e
o Espírito Santo seja o terceiro.
2. Prova bíblica da Trindade. O Antigo Testamento já nos
indica que em Deus existe mais de uma pessoa. Deus fala de si
mesmo no plural (Gn 1.26; 11.7); o Anjo do Senhor nos é
apresentado como sendo uma pessoa divina (Gn 16.7-13; 18.1-21;
19.1-22), e igualmente o Espírito Santo nos é apresentado como
uma pessoa distinta (Is 48.16; 63.10). Há igualmente passagens nas
quais o Messias fala e menciona as outras pessoas (Is 48.16; 63.9,
10).
Dado o progresso que encontramos na revelação, o Novo
Testamento nos apresenta provas mais concretas. Encontramos as
provas mais contundentes nos atos da redenção. O Pai envia seu
Filho ao mundo, e o Filho envia o Espírito Santo. Além disso, há
certo número de passagens nas quais as três pessoas são
mencionadas especificamente, tais como na “Grande Comissão” (Mt
28.19) e na “Bênção Apostólica” (2Co 13.13). Vejam-se também
Lucas 3.21, 22; 1.35; 1 Coríntios 12.4-6; 1 Pedro 1.2.
A doutrina da Trindade foi negada pelos socinianos, nos dias
da Reforma, e atualmente é negada pelos unitarianos e pelos
modernistas [bem como pelos russelitas]. Estes falam dela em
termos do Pai, do homem Jesus e da influência divina que recebe o
nome de Espírito de Deus.
3. O Pai. O título Pai se aplica com frequência, nas
Escrituras, ao Deus Triúno como o Criador de todas as coisas (1Co
8.6; Hb 12.9; Tg 1.17), como Pai de Israel (Dt 32.6; Is 63.16) e como
Pai dos crentes (Mt 5.45; 6.6, 9, 14; Rm 8.15). No sentido mais
profundo, a palavra Pai se refere à primeira Pessoa da Trindade (Jo
1.14, 18; 8.54; 14.12, 13). Esta é a paternidade original e da qual a
paternidade humana não é mais que um débil reflexo. A
característica essencial do Pai é haver ele gerado o Filho desde
toda a eternidade. As obras que geralmente se lhe atribuem são o
planejamento da obra redentora, a criação, a providência e a
representação da Trindade no conselho da redenção.
4. O Filho. A segunda Pessoa da Trindade é chamada Filho
ou Filho de Deus. Este nome lhe é dado não só como Filho
unigênito do Pai (Jo 1.14, 18; 3.16, 18; Gl 4.4), mas também como o
Messias eleito de Deus (Mt 8.29; 26.63; Jo 1.49; 11.27), e em
virtude de seu nascimento especial por obra do Espírito Santo (Lc
1.32, 35). A característica essencial do Filho é haver ele sido gerado
do Pai desde toda a eternidade (Sl 2.7; At 13.33; Hb 1.5). Por razão
desta geração eterna, o Pai é a causa da existência pessoal do
Filho na Deidade divina. As obras que são atribuídas ao Filho, de
um modo especial, são obras de mediação. O Filho de Deus é o
Mediador da criação (Jo 1.3, 10; Hb 1.2, 3) e o Mediador da obra
redentora (Ef 1.3-14).
5. O Espírito Santo. Ainda que os socinianos, os unitarianos
e os modernistas [bem como os russelitas] de nossos dias falem do
Espírito Santo como um mero poder ou influência divina, a Bíblia
fala dele como uma Pessoa (Jo 14.16, 17, 26; 14.26; 16.7-15; Rm
8.26). O Espírito Santo tem inteligência (Jo 14.26), emoção (Is
63.10; Ef 4.30) e vontade (At 16.7; 1Co 12.11). A Escritura nos
afirma que o Espírito Santo fala, sonda, testifica, ordena, disputa e
intercede. Além disso, sua Pessoa nos é apresentada como distinta
de seu poder (Lc 4.14; 1.35; At 10.38; 1Co 2.4). A característica
essencial do Espírito Santo é proceder do Pai e do Filho por
expiração. Em termos gerais, a obra do Espírito Santo é completar
as obras da criação e da redenção (Gn 1.2; Jó 26.13; Lc 1.35; Jo
3.34; 1Co 12.4-11; Ef 2.22).

Para memorização. Passagens que provam:


1. A Trindade:

Is 61.1. “O Espírito do S Deus está sobre mim, porque o


S me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados,
enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar
libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados.”

Lc 4.17, 18. “Então, lhe deram o livro do profeta Isaías, e, abrindo o


livro, achou o lugar onde estava escrito: O Espírito do Senhor está
sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-
me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos
cegos, para pôr em liberdade os oprimidos.”

Mt 28.19. “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,


batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.”

2Co 13.13. “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a


comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós.”

2. A eterna geração do Filho:

Sl 2.7. “Proclamarei o decreto do S : Ele me disse: Tu és meu


Filho, eu, hoje, te gerei.”
Jo 1.14. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça
e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.”

3. A processão do Espírito Santo

Jo 15.26. “Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei


da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará
testemunho de mim.”

Para estudo adicional:

1. Em que sentido podemos falar da paternidade de Deus? (1Co


8.6; Ef 3.14, 15; Hb 12.9; Tg 1.17; Nm 16.22).

2. Você pode provar a deidade do Filho feito carne? (Jo 1.1; 20.28;
Fp 2.6; Tt 2.13; Jr 23.5, 6; Is 9.6; Jo 1.3; Ap 1.8; Cl 1.17; Jo 14.1;
2Co 13.13).

3. Em que forma as seguintes passagens provam a personalidade


do Espírito Santo? (Gn 1.2; 6.3; Lc 12.12; Jo 14.26; 15.26; 16.8; At
8.29; 13.2; Rm 8.11; 1Co 2.10, 11).

4. Quais são as obras atribuídas ao Espírito Santo? (Sl 33.6; 104.30;


Êx 28.3; 2Pe 1.21; 1Co 3.16; 12.4).

1. Podemos deduzir da natureza a doutrina da Trindade?


2. Existem em Deus três indivíduos completamente distintos?
3. No Ser divino as Pessoas estão subordinadas entre si?
4. Como podemos provar a Trindade através do Antigo
Testamento?
5. Qual é a prova mais contundente da Trindade?
6. Quais são as melhores passagens neotestamentárias que
a provam?
7. Em que diferentes sentidos se aplica a Deus o título Pai?
8. Que obras são atribuídas, de um modo especial, a cada
uma das Pessoas da Deidade?
9. Em quais sentidos o termo Filho se aplica a Cristo?
10. Qual é a característica especial de cada uma das
Pessoas?
11. Como você provaria que o Espírito Santo é uma Pessoa?
CAPÍTULO VIII: OS DECRETOS DIVINOS
1. Os decretos divinos em geral. O decreto de Deus é seu
plano ou propósito eterno, pelo qual ele predestinou todas as coisas
que sucedem. Posto que tal definição inclui muitos particulares,
falamos com frequência dos decretos divinos no plural, ainda que,
na realidade, exista um único decreto. Este decreto abrange todas
as obras de Deus na criação e na redenção, e abarca todas as
ações dos homens, sem excluir suas ações pecaminosas. Enquanto
este decreto tornou inevitável o ingresso do pecado no mundo, ele
não faz Deus o responsável por nossas ações pecaminosas. Com
respeito ao pecado, este vem a ser um decreto permissivo.
1.1. Características do decreto. O decreto de Deus se
fundamenta na sabedoria (Ef 3.9-11), ainda que nem sempre o
entendamos assim. Ele foi formado nas profundezas da eternidade,
e por isso é eterno no sentido mais estrito do termo (Ef 3.11). Além
do mais, é eficaz, de modo que tudo aquilo que está incluso nele
ocorre com toda certeza (Is 46.10). O plano de Deus é também
imutável, porque Deus é fiel e verdadeiro (Jó 23.13, 14; Is 46.10; Lc
22.22). É também incondicional, a saber, sua execução não
depende de nenhuma ação humana; ao contrário disso, é
polivalente, ou, seja, abarca as ações boas e más dos homens (Ef
2.10; At 2.23), acontecimentos fortuitos (Gn 50.20), a duração da
vida humana (At 17.26). No que diz respeito ao pecado, é
permissivo.
1.2. Objeções à doutrina dos decretos divinos. Muitos não
creem na doutrina dos decretos divinos e apresentam
especialmente estas três objeções: a. Esta doutrina é inconsistente
com a liberdade moral do ser humano. A Bíblia, por sua vez, ensina
que Deus decretou não só os atos livres do homem, mas o homem
é, apesar de tudo, livre em seus atos, e responsável (Gn 50.19, 20;
At 2.23; 4.27-29). É verdade que não podemos harmonizar
plenamente estes dois extremos, mas é evidente, nas Escrituras,
que um não anula ou invalida o outro.
b. Este ensino torna os homens negligentes em sua busca da
salvação. Os que assim pensam acrescentam que, se Deus já
determinou de antemão os que hão de ser salvos e os que não o
serão, então é indiferente tudo o que estes possam fazer. Este
raciocínio é errôneo, já que ninguém sabe o que Deus decretou a
seu respeito. Além do mais, Deus decretou não só o destino final do
homem, mas também os meios pelos quais tal destino se
concretizará. Posto que o fim só foi decretado como resultado dos
meios prescritos, então vem a ser mais um estímulo para o uso
desses meios do que motivo para desestímulo de seu uso.
c. Ele torna Deus o autor do pecado. A única coisa que se
pode dizer sobre este decreto é que ele torna Deus o autor de seres
morais livres, e que estes são os próprios autores do pecado. O
pecado, pelo decreto divino, veio à existência, porém Deus mesmo
não o produziu por sua ação direta. Devemos admitir que o
problema sobre a relação entre Deus e o pecado é, em todo caso,
um mistério que se torna impossível de se resolver.
2. A predestinação. Esta é o plano ou propósito de Deus
com respeito a suas criaturas morais. A predestinação tem a ver
com todos os homens, bons e maus, anjos e demônios, e com
Cristo como o Mediador. A predestinação inclui duas partes: a
eleição e a reprovação.
2.1. A eleição. A Bíblia nos fala da eleição em mais de um
sentido: a. A eleição do povo de Israel no Antigo Testamento para
ser o povo de Deus (Dt 4.37; 7.6-8; 10.15; Os 13.5).
b. A eleição de certas pessoas para um serviço ou ofício
especial (Dt 18.5; 1Sm 10.24; Sl 78.70; e c. A eleição de indivíduos
para a salvação (Mt 22.14; Rm 11.5; Ef 1.4). Esta última fase é a
que nos reportamos aqui, e pode ser definida como o propósito
eterno de Deus para salvar alguns seres humanos dentre toda a
raça humana em e pela mediação de Jesus Cristo.
2.2. A reprovação. A doutrina da eleição implica, por
natureza, que Deus não se propôs salvar a todos os homens. Se
seu propósito era salvar apenas alguns, também era natural que
não salvasse outros. Isto está também de acordo com os
ensinamentos das Escrituras (Mt 11.25, 26; Rm 9.13, 17, 18, 21;
11.7, 8; 2Pe 2.9; Jd 4). Tem-se definido a reprovação como o
propósito eterno de Deus de passar por alto, na operação de sua
graça especial, alguns dentre os homens, e de castigá-los por seus
pecados. Existe, pois, na reprovação um duplo propósito: (1) passar
por alto algumas pessoas com respeito ao dom de sua graça
salvífica; e (2) castigá-las por seus próprios pecados.
Com frequência se afirma que a doutrina da predestinação
abre as portas à acusação de que Deus é injusto. No entanto, não
poderia haver um equívoco mais absurdo do que este. O único
motivo que nos permitiria falar de injustiça divina seria só no caso
em que o homem tivesse algum direito diante de Deus, e no caso
em que Deus devesse ao homem sua salvação eterna. Mas, posto
que todos os homens, sem exceção, perderam o direito às bênçãos
de Deus, a situação é muito diferente. Ninguém possui sequer um
mínimo de direito de pedir contas a Deus pelo fato de ele eleger
alguns e rejeitar outros. Deus continuaria sendo perfeitamente justo,
se não salvasse a ninguém (Mt 20.14, 15; Rm 9.14, 15).

Para memorização. Passagens sobre:

1. O decreto divino em geral

Ef 1.11. “Nele, digo, no qual fomos também feitos herança,


predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas
conforme o conselho da sua vontade.”

Sl 33.11. “Os meus olhos veem com alegria os inimigos que me


espreitam, e os meus ouvidos se satisfazem em ouvir dos
malfeitores que contra mim se levantam.”

Is 46.10. “Que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e


desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo:
o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade.”
2. A predestinação

Ef 1.11. “Nele, digo, no qual fomos também feitos herança,


predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas
conforme o conselho da sua vontade.”

Sl 2.7. “Proclamarei o decreto do S : Ele me disse: Tu és meu


Filho, eu, hoje, te gerei.”

Ef 1.4, 5. “Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do


mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em
amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de
Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade.”

Rm 11.5. “Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive


um remanescente segundo a eleição da graça.”

Rm 9.13. “ Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de


Esaú.”

Rm 9.18. “Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também


endurece a quem lhe apraz.”

Para estudo adicional:

1. Presciência significa o mesmo que predeterminação ou


predestinação? (At 2.23; Rm 8.29; 11.2; 1Pe 1.2).
2. Em que forma a Bíblia nos ensina que o próprio Cristo foi o objeto
da predestinação? Em que sentido devemos interpretar o Salmo 2.7;
Isaías 42.1; 1 Pedro 1.20; 2.4?

3. Que indicações temos de que também os anjos foram objetos da


predestinação? Que devemos pensar de 1 Timóteo 5.21?

1. Que significa o decreto divino?


2. Porque às vezes falamos de decretos no plural?
3. Quais são as características do decreto?
4. Qual é a natureza do decreto divino concernente ao
pecado?
5. Que objeções surgem contra a doutrina dos decretos?
6. Que podemos dizer em resposta às mesmas?
7. Que relação existe entre a predestinação e o decreto
divino em geral?
8. Em que forma devemos interpretar a predestinação dos
anjos e a de Cristo?
9. Em que formas a Bíblia nos fala sobre a eleição?
10. O que está implícito na reprovação, e que provas temos
disto?
11. A doutrina da predestinação implica injustiça da parte
Deus? Por quê não?
CAPÍTULO IX: A CRIAÇÃO
Nossa discussão sobre os decretos divinos nos conduz ao
exame de sua execução, ou, seja, à obra da criação que assinala
seu início. Este é o princípio e base de toda a revelação e o
fundamento da vida religiosa.
1. A criação em geral. A palavra criação nem sempre é
usada na Bíblia com o mesmo significado. Em seu sentido estrito,
essa palavra denota a obra de Deus pela qual ele produziu o
universo e tudo o que nele existe, em parte sem o uso de materiais
pré-existentes, mas também fazendo uso de materiais que, por sua
natureza, são inapropriados para a manifestação de sua glória. A
criação é obra do Deus Triúno (Gn 1.2; Jó 26.13; 33.4; Sl 33.6; Is
40.12, 13; Jo 1.3; 1Co 8.6; Cl 1.15-17). Em oposição ao panteísmo,
devemos manter que a criação foi um ato livre de Deus. Equivale
dizer que Deus não necessitava do universo material (Ef 1.11; Ap
4.11). Em oposição ao deísmo, afirmamos que Deus criou o
universo de modo que este dependesse dele para sempre. Portanto,
Deus é quem deve sustentá-lo dia após dia (At 17.28; Hb 1.3).
1.1. O tempo da criação. A Bíblia nos ensina que Deus criou
o mundo “no princípio”, ou, seja, no princípio de todas as coisas
temporais. Por trás deste princípio nos achamos diante de uma
eternidade infinita. A primeira parte da obra criadora nos é
mencionada em Gênesis 1.1, e foi a criação sem material pré-
existente, ou, melhor dito, criação a partir do nada. A expressão
criar do nada não se encontra na Bíblia, mas somente em um dos
livros apócrifos (2 Macabeus 7.28). A ideia de criação a partir do
nada se encontra encerrada em diversas passagens bíblicas (Gn
1.1; Sl 33.9; 148.5; Rm 4.7; Hb 11.3).
1.2. O propósito final da criação. Há quem ensine que o
propósito da criação é a felicidade do homem. Seu argumento é que
Deus não pode ser, em si mesmo, o propósito final da criação,
porque ele é um ser em si mesmo suficiente. Ao contrário, o homem
existe para Deus, e não Deus para o homem. A Bíblia nos ensina
claramente que Deus criou o mundo para assim manifestar sua
glória. Naturalmente, esta manifestação de sua glória não tem por
objetivo promover certa admiração por parte da criatura, mas deseja
contribuir para seu bem-estar, fazer surgir em seus corações a
adoração ao Criador (Is 43.7; 60.21; 61.3; Ez 36.21, 22; 39.7; Lc
2.14; Rm 9.17; 11.36; 1Co 15.28; Ef 1.5, 6, 12, 14; 3.9, 10; Cl 1.16).
1.3. Substitutos para a doutrina da criação. Os que se
recusam a aceitar a doutrina da criação apresentam as seguintes
teorias para explicar o universo. (1) Há quem diga que a matéria
original é eterna, e que o universo surgiu dela por mera casualidade
ou por efeito de alguma força superior. Esta teoria incorre na
contradição de pressupor a existência de duas coisas eternas e
infinitas, existindo uma ao lado da outra, ou, seja, a matéria e a
força. Tal explicação é logicamente impossível. (2) Outros afirmam
que Deus e o universo são, na realidade, uma só coisa, e que o
universo é a consequência necessária ou o produto do ser divino.
Esta teoria subtrai de Deus o poder de sua própria determinação, e
nega aos homens sua liberdade e seu caráter moral e responsável.
Ao mesmo tempo, faz Deus o autor do mal que existe no mundo. (3)
Finalmente, há quem se refugie na teoria da evolução. Esta não
oferece solução alguma para explicar a origem do mundo, já que,
em princípio, pressupõe a existência de algo que se desenvolve
gradualmente.
2. O mundo espiritual. Deus criou não só um universo
material, mas também criou um mundo espiritual angélico.
2.1. Prova em prol da existência dos anjos. A teologia liberal
moderna abandonou sua fé nos seres espirituais. A Bíblia, ao
contrário, pressupõe sua existência e lhes atribui uma personalidade
real (2Sm 14.20; Mt 24.36; Jd 6; Ap 14.10). Há quem ensine que os
anjos possuem corpos etéreos; mas isto é contrário às Escrituras.
Os anjos são seres espirituais e puros (ainda que às vezes nos
sejam apresentados em formas materiais) (Ef 6.12; Hb 1.14), sem
carne e ossos (Lc 24.39) e, portanto, invisíveis (Cl 1.16). Alguns
dentre eles são bons, santos e eleitos (Mc 8.38; Lc 9.26; 2Co 11.14;
1Tm 5.21; Ap 14.10), e outros caíram de seu estado original e,
consequentemente, são seres maus (Jo 8.44; 2Pe 2.4; Jd 6).
2.2. Classes de anjos. É evidente que existem diferentes
classes de anjos. A Bíblia nos fala dos querubins, os quais revelam
o poder, majestade e glória de Deus, e guardam a santidade no
jardim do Éden, no tabernáculo e no templo (Gn 3.24; Êx 25.18;
2Sm 22.11; Sl 18.10; 80.1; 99.1; Is 37.16). Além do mais,
encontramos os serafins mencionados somente em Isaías 6.2, 3, 6.
Estes são os servos de Deus em seu trono, entoam-lhe louvores e
estão sempre prontos a cumprir seus propósitos. Sua finalidade é
reconciliar e preparar os homens para que tenham devido acesso a
Deus.
Conhecemos dois dos anjos por seus nomes. O primeiro é
Gabriel (Dn 8.16; 9.21; Lc 1.10, 26). Sua tarefa especial era
comunicar aos homens revelações divinas e suas devidas
interpretações. O segundo é Miguel (Dn 10.13, 21; Jd 9; Ap 12.7).
Na carta de Judas ele recebe o título arcanjo. É o valente lutador
que peleja as batalhas de Deus contra os inimigos de seu povo e os
poderes malignos no mundo espiritual. A Bíblia menciona também
vários termos gerais, a saber: principados, potestades, tronos,
domínios, senhorios (Ef 1.21; 3.10; Cl 1.16; 2.10; 1Pe 3.22). Estes
títulos denotam diferenças e hierarquias e dignidade entre os anjos.
2.3. A obra dos anjos. Os anjos adoram e louvam a Deus
sem cessar (Sl 130.20; Is 6; Ap 5.11). A partir da entrada do pecado
no mundo, os anjos servem aos herdeiros da salvação (Hb 1.14), se
alegram com a conversão dos pecadores (Lc 15.10), guardam os
crentes (Sl 34.7; 91.11), protegem os pequeninos (Mt 18.10), se
acham presentes na igreja (1Co 11.10; Ef 3.10; 1Tm 5.21) e
conduzem os crentes ao seio de Abraão (Lc 16.22). Com frequência
são os portadores de revelações especiais de Deus (Dn 9.21-23; Zc
1.12-14), comunicam as bênçãos de Deus a seu povo (Sl 91.11, 12;
Is 63.9; Dn 6.22; At 5.19) e executam os juízos de Deus contra seus
inimigos (Gn 19.1, 13; 2Rs 19.35; Mt 13.41).
2.4. Os anjos maus. À parte dos anjos bons há também anjos
maus que se aprazem em opor-se a Deus e em destruir sua obra.
Esses anjos foram criados bons, porém não chegaram a guardar
sua posição original (2Pe 2.4; Jd 6). Não sabemos exatamente qual
foi seu pecado, mas, provavelmente, se rebelaram contra Deus e
aspiraram sua divina autoridade (2Ts 2.4, 9). Satanás, que era um
príncipe entre os anjos, veio a ser o líder máximo dos que caíram
em pecado (Mt 25.41; 9.34; Ef 2.2). Com seus poderes
sobrenaturais, Satanás e seu exército tentam destruir a obra de
Deus. Sabemos que tentam cegar e enganar até mesmo os eleitos,
e injetam ânimo nos pecadores para que prossigam em suas
veredas de perversidade.
3. O universo material. Em Gênesis 1.1 encontramos a
história da criação original dos céus e da terra. O resto do capítulo
nos explica o que alguns têm chamado a criação secundária, ou,
seja, como Deus levou a bom termo a criação do mundo em seis
dias.
3.1. Os dias da criação. Tem havido muita discussão sobre a
criação, se os seis dias em que se concretizou foram ou não dias
ordinários. Os geólogos e os proponentes da teoria da evolução nos
falam de longos períodos de tempo. É certo que a palavra dia, na
Escritura, nem sempre significa um dia de 24 horas (cf. Gn 1.5; 2.4;
Sl 50.15; Ec 7.14; Zc 4.10). Não obstante, cremos que as seguintes
considerações favorecem interpretar os dias da criação como sendo
dias de 24 horas: a. A palavra hebraica yom (dia) denota,
normalmente, um dia ordinário, e, a menos que o contexto requeira
outra interpretação, deveríamos entendê-lo como um dia de 24
horas.
b. A repetição das expressões manhã e tarde favorece esta
interpretação.
c. Foi também um dia de 24 horas que Deus separou para
ser o dia de descanso no final da criação.
d. Êxodo 20.9-11 nos ensina que Israel devia trabalhar seis
dias e descansar no sétimo, porque o Senhor fez os céus e a terra
em seis dias e descansou no sétimo.
e. É evidente que os três últimos dias foram dias de 24 horas,
porque foram determinados pela relação da terra com o sol. Ora, se
os três últimos dias eram de 24 horas, por que não os quatro
primeiros?
3.2. A obra dos seis dias. No primeiro dia, Deus criou a luz e
formou o dia e a noite com o fim de separar a luz e as trevas. Isto
não contradiz o fato de que o sol, a lua e as estrelas foram criados
no quarto dia, já que os astros não são a própria luz, mas apenas
luminares. A obra do segundo dia foi também uma obra separadora.
Deus separou as águas superiores e as inferiores, e estabeleceu o
firmamento. No terceiro dia, a obra de separação continuou com a
separação do mar e a terra seca. Além disso, Deus estabeleceu
neste dia o reino vegetal, as árvores e as plantas. Pelo poder de sua
palavra, Deus fez com que a terra produzisse plantas em flor, os
vegetais e árvores frutíferas, cada uma segundo sua semente e
espécie. No quarto dia, Deus criou o sol, a lua e as estrelas para
vários fins, ou, seja, para dividir o dia da noite, ser sinais das
condições atmosféricas, regular a sucessão de dias, meses e anos
e das estações, mas, ao mesmo tempo, para serem luminares da
terra. A obra do quinto dia foi a criação das aves e peixes, os
habitantes do ar e das águas. Finalmente, o sexto dia marcou o
clímax da obra criadora. Deus criou os animais superiores, e, como
coroa desta criação, pôs nela o homem criado à imagem de Deus. O
corpo do homem foi feito do pó da terra, mas sua alma foi produto
da criação imediata de Deus. No sétimo dia, Deus descansou de
sua obra e se alegrou ao contemplar a mesma.
Notemos o paralelo que existe entre a obra dos três primeiros
dias e a dos três últimos: 1º dia: criação da luz.
2º dia: criação da expansão e separação das águas.
3° dia: separação de águas e terra seca, e desta para ser
habitação dos animais e do homem.
4° dia: criação dos luminares.
5° dia: criação dos pássaros do ar e dos peixes do mar.
6° dia: criação dos animais do campo, gado e répteis e,
finalmente, do homem.
3.3. A teoria da evolução. Os evolucionistas tentam substituir
a origem bíblica da criação por seus próprios pontos de vista e
teorias. Afirmam que todas as espécies de plantas e animais,
inclusive o homem, e que as diferentes manifestações de vida tais
como a inteligência, moralidade e religião se desenvolveram por um
processo natural perfeito, simplesmente como resultado das forças
da natureza. Não obstante, tal teoria é uma mera suposição e conta
com inumeráveis erros. Além disso, se põe em sério conflito com o
relato da criação que temos na Bíblia.

Para memorização. Passagens sobre:


1. A criação:

Gn 1.1. “No princípio, criou Deus os céus e a terra.”

Sl 33.6. “Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua
boca, o exército deles.”

Jo 1.3. “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele,
nada do que foi feito se fez.”

Hb 11.3. “Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela


palavra de Deusa, de maneira que o visível veio a existir das coisas
que não aparecem.”

2. O propósito da criação:

Is 43.7. “A todos os que são chamados pelo meu nome, e os que


criei para minha glória, e que formei, e fiz.”

Sl 19.1, 2. “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento


anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e
uma noite revela conhecimento a outra noite.”

Sl 148.13. “Louvem o nome do S , porque só o seu nome é


excelso; a sua majestade é acima da terra e do céu.”
3. Os anjos:

Sl 103.20. “Bendizei ao S , todos os seus anjos, valorosos em


poder, que executais as suas ordens e lhe obedeceis à palavra.”

Hb 1.14. “Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para


serviço a favor dos que hão de herdar a salvação?”

Jd 6. “ E a anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas


abandonaram o seu próprio domicílio, ele tem guardado sob trevas,
em algemas eternas, para o juízo do grande Dia.”

4. O tempo da criação:

Gn 1.1. “No princípio, criou Deus os céus e a terra.”

Êx 20.11. “Porque, em seis dias, fez o S os céus e a terra, o


mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o
S abençoou o dia de sábado e o santificou.”

Para estudo adicional:


1. Em que sentido se usa a palavra criar no Salmo 51.10; 104.30;
Isaías 45.7?

2. Podemos dizer que Gênesis 1.11, 12, 20, 24 favorece a teoria da


evolução? Veja-se também Gênesis 1.21, 25; 2.9.

3. O que nos ensinam as seguintes passagens sobre o pecado dos


anjos? (2Pe 2.4; Jd 6; veja-se também 2Ts 2.4-12).

1. Que é a criação?
2. A criação foi um ato livre de Deus, ou necessário?
3. Usamos sempre, nas Escrituras, a palavra criar no mesmo
sentido?
4. Podemos provar com a Bíblia que a criação foi feita a partir
do nada?
5. Quais são as duas teorias sobre o propósito final da
criação?
6. Em que sentido dizemos que a glória de Deus é o
propósito final da criação?
7. Que teorias tentam substituir a doutrina bíblica da criação?
8. Qual é a natureza dos anjos?
9. Que categorias dos anjos encontramos na Bíblia?
10. Qual é a obra de Gabriel e de Miguel?
11. Qual é a obra dos anjos em geral?
12. Que provas temos de que existem anjos maus?
13. Eles foram criados maus por natureza?
14. Os dias da criação foram dias ordinários, ou longos
períodos?
15. O que Deus fez em cada um dos sete dias da criação?
16. A teoria da evolução se harmoniza com a doutrina bíblica
da criação?
17. Em que pontos ela difere da doutrina bíblia?
CAPÍTULO X: A PROVIDÊNCIA
Posto que Deus não só criou o mundo, mas também o
sustém, a doutrina da criação nos conduz logicamente à doutrina da
providência. Podemos defini-la assim: Providência é aquela
operação divina pela qual Deus cuida de todas suas criaturas,
manifesta sua atividade em tudo quanto acontece no mundo e
conduz todas as coisas a um fim predeterminado. Esta doutrina
inclui três elementos: o primeiro é o ser divino, o segundo é sua
atividade e o terceiro é o propósito de todas as coisas.
1. Os elementos da providência divina. Podemos distinguir
três: 1.1. A conservação divina. É aquela obra contínua de Deus
pela qual ele sustém tudo quanto existe. Ainda que o mundo tenha
uma existência diferente do ser divino, e não seja parte de Deus, a
despeito de tudo a base desta existência contínua do mundo é Deus
mesmo. Permanece assim porque Deus manifesta continuamente
seu poder, pelo qual todas as coisas retêm seu ser e sua atividade.
Encontramos esta doutrina em diversas passagens bíblicas (Sl
136.25; 145.5; Ne 9.6; At 17.28; Cl 1.17; Hb 1.3).
1.2. A concorrência divina. É aquela obra divina pela qual
Deus coopera com todas suas criaturas e faz com que ajam
precisamente como agem. Isto implica que há causas secundárias
no mundo como os poderes da natureza e a vontade humana,
porém afirma que esses poderes não agem independentemente de
Deus. Deus opera em cada ato de suas criaturas, não só em seus
atos bons, mas também nos maus. Deus os estimula à ação,
acompanha tal ação em todo momento e faz que essa ação seja
eficaz. Seja como for, não devemos presumir que Deus e o homem
sejam causas iguais; Deus é a causa primária; o homem, a causa
secundária. Tampouco devemos conceber tal cooperação como se
cada agente fizesse uma parte da mesma. Toda obra é um ato de
Deus e um ato do homem em sua totalidade. Além disso,
deveríamos ter em mente que esta cooperação não faz Deus
responsável pelos atos maus do homem. Encontramos as bases
desta doutrina nas Escrituras (Dt 8.18; Sl 104.20, 21, 30; Am 3.6; Mt
5.45; 10.29; At 14.17; Fp 2.13).
1.3. O governo divino. É a atividade contínua de Deus pela
qual ele governa todas as coisas de modo que sirvam ao objetivo
pelo qual foram criadas. Tanto o Antigo Testamento quanto o Novo
nos apresentam Deus como o Rei do universo. Deus adapta seu
governo à natureza das criaturas que ele rege. Assim seu governo
físico difere de seu governo do mundo espiritual. O governo divino é
universal (Sl 103.19; Dn 4.34, 35) e inclui os seres mais
insignificantes (Mt 10.29-31) e mesmo aquilo que parece acidental
(Pv 16.33). Portanto, ele tem a ver com as obras boas e más do
homem (Fp 2.13; Gn 50.20; At 14.16).
2. Falsos conceitos sobre a providência divina. Ao
estudarmos a doutrina da providência, devemos precaver-nos contra
dois erros: 2.1. O erro deísta. Os deístas ensinam que Deus só se
preocupa com o mundo de um modo bem geral. Deus, segundo
eles, criou o mundo, estabeleceu suas leis, o pôs em movimento e
logo em seguida o abandonou a sua sorte. Isto é, lhe deu corda,
como se fosse um relógio, e o deixou seguir seu curso. Só quando
algo se desequilibra é que Deus intervém em seu curso normal.
Deus, portanto, é um Ser alheio à sorte do mundo.
2.2. O erro panteísta. O panteísmo não reconhece a
diferença que existe entre Deus e o mundo. Ao agir assim, os
identifica e não deixa espaço à obra da providência divina no
verdadeiro sentido do termo. O panteísmo ensina que, em certo
sentido estrito, não existem causas secundárias, e Deus é o autor
direto de tudo quanto acontece no mundo. E assim, mesmo os atos
que atribuímos ao homem são realmente atos divinos. Deus é
apenas uma presença que está perto e não longe de nós.
3. A providência extraordinária ou milagres. Distinguimos
entre a providência geral e a especial, e nesta última os milagres
ocupam um lugar importante. Milagre é uma obra sobrenatural de
Deus, ou, seja, uma obra que Deus executa sem a mediação de
causas secundárias. Ainda quando Deus aparentemente usa causas
secundárias na execução de milagres, ele age assim de forma tão
extraordinária, que tal obra é sempre algo sobrenatural. Há quem
negue os milagres, dizendo que quebram as leis da natureza, porém
enfrentam um erro muito grave. As leis da natureza simplesmente
representam a forma ordinária no método da ação divina. O fato de
que Deus geralmente aja de acordo com uma ordem definida não
significa que ele não possa afastar-se da ordem estabelecida sem
frustrá-la ou estorvá-la, para efetuar obras extraordinárias. Por
exemplo, qualquer pessoa ergue sua mão e lança ao ar uma bola, a
despeito da lei da gravidade, e sem estorvá-la. Certamente, os
milagres não são impossíveis para o Deus onipotente. Além disso,
os milagres são meios da revelação divina (Nm 16.28; Jr 32.20; Jo
2.11; 5.36).

Para memorização. Passagens sobre:

1. Conservação divina:

Sl 36.6. “A tua justiça é como as montanhas de Deus; os teus juízos,


como um abismo profundo. Tu, S , preservas os homens e os
animais.”

Ne 9.6. “Só tu és S , tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o


seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto
há neles; e tu os preservas a todos com vida, e o exército dos céus
te adora.”

Cl 1.17. “Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.”

2. Concorrência divina:
Dt 8.18. “Antes, te lembrarás do S , teu Deus, porque é ele o
que te dá força para adquirires riquezas; para confirmar a sua
aliança, que, sob juramento, prometeu a teus pais, como hoje se
vê.”

Am 3.6. “Tocar-se-á a trombeta na cidade, sem que o povo se


estremeça? Sucederá algum mal à cidade, sem que o S o
tenha feito?”

Fp 2.13. “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o


realizar, segundo a sua boa vontade.”

3. Governo divino:

Sl 103.19. “Nos céus, estabeleceu o S o seu trono, e o seu


reino domina sobre tudo.”

Dn 4.3. “Quão grandes são os seus sinais, e quão poderosas, as


suas maravilhas! O seu reino é reino sempiterno, e o seu domínio,
de geração em geração.”

1Tm 6.15. “A qual, em suas épocas determinadas, há de ser


revelada pelo bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor
dos senhores.”

4. Os milagres e seu propósito:


Êx 15.11. “Ó S , quem é como tu entre os deuses? Quem é
como tu, glorificado em santidade, terrível em feitos gloriosos, que
operas maravilhas?”

Sl 72.18. “Bendito seja o S Deus, o Deus de Israel, que só ele


opera prodígios.”

Mc 2.10.11. “Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre
a terra autoridade para perdoar pecados — disse ao paralítico: Eu te
mando: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa.”

Jo 2.11. “Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da


Galileia; manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele.”

Para estudo adicional:

1. Cite alguns exemplos da providência especial (cf. Dt 2.7; 1Rs


17.6; 2Rs 4.6; Mt 14.20).

2. Em que forma nossa fé na providência divina deveria afetar as


preocupações da vida? (Is 41.10; Mt 6.32; Lc 12.7; Fp 4.6, 7; 1Pe
5.7).

3. Cite algumas das bênçãos da providência divina (cf. Is 25.4; Sl


121.4; Lc 12.7; Dt 33.27; Sl 37.28; 2Tm 4.18).
P

1. Que relação existe entre a doutrina da providência e a da


criação?
2. Que significa a providência divina?
3. Que diferença existe entre a providência geral e a
especial?
4. Quais são os objetos da providência divina?
5. Quais são os três elementos da providência e em quê são
diferentes?
6. Que devemos pensar sobre a concorrência divina?
7. Até que ponto se estende o governo divino?
8. Que é um milagre e qual é o propósito dos milagres
bíblicos?
9. Por quais motivos há pessoas que consideram os milagres
como algo impossível?
A DOUTRINA DO HOMEM EM SUA
RELAÇÃO COM DEUS
CAPÍTULO XI: O HOMEM EM SEU ESTADO
ORIGINAL
Após haver considerado a doutrina de Deus, passamos então
ao estudo da doutrina do homem, que é a coroa da obra divina.
1. Os elementos essenciais da natureza humana. O ponto
de vista mais corrente é de que o homem se compõe de duas
partes: o corpo e a alma. Essa convicção está em harmonia com o
sentimento humano e também com as Escrituras, as quais nos
falam do homem como um ser composto de corpo e alma (Mt 6.25;
10.28) ou, melhor, de espírito e corpo (Ec 12.7; 1Co 5.3, 5). Há
quem creia que as palavras alma e espírito denotam elementos
distintos, e que por isso o homem consiste de corpo, alma e espírito
(cf. 1Ts 5.23). Em contrapartida, é evidente que as palavras alma e
espírito são usadas como sinônimos. A morte nos é descrita como
um sair da alma (Gn 53.18; 1Rs 17.21) e outras vezes como a saída
do espírito (Lc 23.46; At 7.59). Os mortos, em alguns casos,
recebem o nome de almas (Ap 9.6; 20.4); em outros, porém, de
espíritos (1Pe 3.19; Hb 12.23). Estes termos denotam o elemento
espiritual do homem, quando vistos de diferentes prismas. Como
espírito, é o princípio de vida e ação que controla o corpo; e, como
alma, é o sujeito pessoal que pensa, sente, quer e é a origem dos
afetos.
2. A origem da alma. Existem três opiniões distintas no
tocante à origem da alma humana.
2.1. Preexistência. Há quem pense que as almas humanas
existiram em algum estado anterior e que algo ocorreu que explica
sua condição atual. Para alguns, tal hipótese tem corroborado para
explicar o fato de que o homem nasce em pecado, mas tal opinião
foi geralmente descartada.
2.2. Traducianismo. Em conformidade com os que assim
creem, o homem deriva sua alma da alma de seus pais. Esta é a
opinião comum nas igrejas luteranas. Seus argumentos se apóiam
no fato de que em parte alguma existe um relato sobre a criação da
alma de Eva, e que em outros lugares da Bíblia se fala dos
descendentes como estando nos lombos de seus pais (Gn 46.26;
Hb 7.9, 10). Esta opinião é favorecida pelo fato de que nos seres
humanos, e mesmo nos animais, há características familiares que
passam dos velhos para os novos, e no caso dos homens os filhos
herdam de seus pais a natureza pecaminosa, o que tem a ver mais
com a alma do que com o corpo. Não obstante, tal opinião enfrenta
sérias dificuldades, já que, em certo sentido, torna os pais os
criadores de seus filhos, ou presume que a alma humana pode ser
dividida em várias partes. Portanto, põe em risco a doutrina da
natureza impecável de Cristo.
2.3. Criacionismo. Este sustenta que a alma é uma criação
direta de Deus em um momento que não pode ser determinado com
precisão. As almas são criadas puras, porém se contaminam com o
pecado antes do nascimento, ao entrarem em contato com o pecado
que afeta a humanidade. Esta opinião é bem comum entre as
igrejas reformadas. Em favor dela, descobrimos que a Bíblia
assinala origens distintas para o corpo e para a alma (Ec 12.7; Is
42.5; Zc 12.1; Hb 12.9). Além do mais, se harmoniza bem com a
natureza espiritual da alma e com a natureza impecável de Jesus.
Mas também enfrenta suas dificuldades, já que não explica a origem
de peculiaridades e características hereditárias, e para alguns talvez
pareça que Deus vem a ser o autor de almas pecaminosas.
3. O homem como imagem de Deus. O homem, segundo a
Bíblia, foi criado à imagem e semelhança de Deus. Gênesis 1.26
ensina que Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem,
conforme à nossa semelhança”. Ambas as palavras, imagem e
semelhança, denotam a mesma coisa, e as seguintes passagens
provam que são usadas como sinônimos (Gn 1.26, 27; 5.1; 9.6; 1Co
11.7; Cl 3.10; Tg 3.9). A palavra semelhança provavelmente denota
que tal imagem é mui parecida ou semelhante. Há várias opiniões
sobre a imagem de Deus no homem.
3.1. A igreja romana. Os romanistas encontram a imagem de
Deus em certos dons naturais que o homem possui, tais como a
espiritualidade da alma, o livre-arbítrio e a imortalidade. A esses
Deus acrescenta outro dom sobrenatural chamado justiça original,
para reprimir a natureza inferior. Esta, segundo eles, é a imagem de
Deus no homem.
3.2. As igrejas luteranas. Os luteranos não estão plenamente
de acordo entre si sobre esse ponto, mas a opinião mais geralmente
aceita é que a imagem de Deus consiste naquelas qualidades
espirituais que foram outorgadas ao homem durante a criação, isto
é, conhecimento genuíno, justiça e santidade. A estas eles chamam
justiça original. Não obstante, tal opinião é por demais estreita e
restrita.
3.3. As igrejas reformadas. Os reformados distinguem entre a
imagem natural e a imagem moral de Deus. A primeira é muito mais
ampla e abarca o ser moral, racional, espiritual e imortal do homem.
Essa imagem foi obscurecida, porém não destruída pelo pecado. A
imagem moral de Deus é usada em sentido mais restrito para
expressar a verdadeira justiça, conhecimento e santidade que o
homem perdeu pelo pecado original. Estas características nos são
restituídas em Cristo (Ef 4.24; Cl 3.10). Posto que o homem reteve a
imagem de Deus, no sentido mais amplo pode ainda ser chamado
portador da imagem de Deus (Gn 9.6; 1Co 11.7; 15.49; Tg 3.9).
4. O homem no pacto das obras. Deus estabeleceu
imediatamente um pacto com o homem. Este foi chamado o pacto
das obras.
4.1. Testemunho bíblico sobre o pacto das obras.
a. Em Romanos 5.12-21, o apóstolo Paulo estabelece um
paralelo entre Adão e Cristo. Em Adão, todos morrem; em Cristo,
porém, todos aqueles que são seus recebem a vida. Isto significa
que Adão era o representante e cabeça federal de todos os homens,
justamente como agora Cristo é a cabeça e representante de todos
os que são seus.
b. Em Oseias 6.7, lemos: “Mas eles, como Adão,
transgrediram o pacto”. O pecado de Adão é chamado uma
transgressão do pacto.
4.2. Os elementos do pacto das obras.
a. As partes. Todo pacto é sempre um acordo entre duas
partes. Neste caso, são o Deus Triúno, Senhor e Soberano do
universo, e Adão como representante da raça humana. Posto que
estas duas partes são muito desiguais, o pacto é mais um
regulamento imposto ao homem.
b. A promessa. A promessa do pacto é uma promessa de
vida em seu mais elevado sentido, vida acima de toda possibilidade
de morte. Esta vida é a que ora os crentes recebem pela mediação
de Jesus Cristo, o segundo Adão.
c. A condição. A condição do pacto era obediência absoluta.
O mandato positivo de não comer da árvore do conhecimento do
bem e do mal era nem mais nem menos uma prova de tal
obediência.
d. A punição. A punição era a morte em seu sentido mais
amplo, morte física, espiritual e eterna. Significa não apenas a
separação de corpo e alma, mas também a separação de alma e
Deus.
e. Os sacramentos. A árvore da vida era, com toda
probabilidade, o único sacramento deste pacto, se porventura é
possível intitulá-lo sacramento. Neste sentido, era um símbolo da
vida.
4.3. Validade atual do pacto das obras. Os arminianos
afirmam que este pacto foi abolido completamente; mas tal opinião
não é correta. As demandas de perfeita obediência estão ainda em
vigor para aqueles que não aceitam a justiça de Cristo (Lv 18.5; Gl
3.12). Ainda que o homem não possa cumprir tal justiça, a condição
permanece a mesma. Não obstante, não tem aplicação naqueles
que se acham em Cristo, já que ele cumpriu as demandas da lei em
seu lugar. Portanto, o pacto das obras cessou de ser um caminho
para a vida, e permaneceu desprovido de seu poder após a queda
do homem.

Para memorização. Passagens relevantes sobre:


1. Os elementos da natureza humana:

Mt 10.28. “Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos,


expeli demônios; de graça recebestes, de graça dai.”
Rm 8.10. “Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está
morto por causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa da
justiça.”

2. A criação da alma:

Ec 12.7. “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus,


que o deu.”

Hb 12.9. “Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne,


que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em
muito maior submissão ao Pai espiritual e, então, viveremos?”

3. A criação do homem à imagem de Deus:

Gn 1.27. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de


Deus o criou; homem e mulher os criou.”

Gn 9.6. “Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se


derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua
imagem.”

4. O homem ainda possui algo da imagem de Deus:


Gn 9.6. “Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se
derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua
imagem.”

Tg 3.9. “Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela,


amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.”

5. A restauração da imagem de Deus no homem:

Ef 4.24. “E vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em


justiça e retidão procedentes da verdade.”

Os 6.7. “Mas eles transgrediram a aliança, como Adão; eles se


portaram aleivosamente contra mim.”

1Co 15.22. “Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim


também todos serão vivificados em Cristo.”

Para estudo adicional:

1. Como podemos explicar aquelas passagens que parecem ensinar


que o homem consiste de três elementos? (cf. 1Ts 5.23; Hb 4.12; Mt
22.37).

2. O domínio do homem sobre o resto da criação é por isso parte da


imagem de Deus? (Gn 1.26, 28; Sl 8.6-8; Hb 2.5-9).
3. Que indícios de um pacto podemos encontrar em Gênesis 2 e 3?

1. Qual o conceito geral sobre os elementos da natureza


humana e como podemos prová-lo?
2. Que outra opinião existe, e que passagens parecem ser
seu fundamento?
3. Que diferentes teorias existem sobre a origem da alma?
4. Que argumentos lhes fornecem base e que objeções podem
ser apresentadas contra elas?
5. As palavras imagem e semelhança significam duas coisas
distintas?
6. E o conceito dos romanistas sobre a imagem de Deus no
homem? Luterano? Reformado?
7. Que distinção as igrejas reformadas fazem sobre este
ponto, e por que é preciso fazê-lo?
8. Que provas bíblicas temos para o pacto das obras?
9. Quais são a promessa, a condição, a punição e o
sacramento do pacto?
10. Em que sentido podemos dizer que este pacto está ainda
em vigor?
11. Em que sentido foi abolido?
CAPÍTULO XII: O HOMEM NO ESTADO DE
PECADO
1. A origem do pecado. A Bíblia nos ensina que o pecado
entrou no mundo como resultado da desobediência de Adão e Eva
no paraíso. O primeiro pecado foi instigado por Satanás, o qual, em
forma de serpente, semeou no coração humano a semente da
desconfiança e incredulidade. As Escrituras nos ensinam
claramente que a serpente, que aparece como o tentador na história
da queda do homem, não era mais que um instrumento de Satanás
(Jo 8.44; Rm 16.20; 2Co 11.3; Ap 12.9). O primeiro pecado ocorreu
quando o homem comeu do fruto da árvore do conhecimento do
bem e do mal. O ato de comer desse fruto era pecado, porque Deus
o havia proibido. Semelhante feito indica claramente que o homem
não queria sujeitar-se, de um modo incondicional, à vontade de
Deus. Os elementos desta rebelião são os seguintes: quanto à
mente, se revela como orgulho e incredulidade; quanto à vontade,
houve a intenção de ser como Deus; e quanto aos afetos, houve um
desejo sacrílego de comer um fruto proibido. Como resultado de
tudo isso, o homem perdeu a imagem de Deus no sentido restrito, e
se tornou culpado e totalmente depravado, caindo, por sua própria
iniciativa, sob o poder da morte (Gn 3.9; Rm 5.12; 6.23).
2. A natureza essencial do pecado. Atualmente há quem
substitua a palavra mal pela palavra pecado, mas esta constitui uma
desditosa substituição, já que o termo pecado é mais correto. Ele
denota uma classe especial de mal; um mal moral do qual o homem
é responsável, e que o põe sob a sentença de condenação. A
tendência modernista de considerar o pecado simplesmente como
um mal cometido em relação aos nossos semelhantes ignora por
completo a questão; pois um erro desse tipo só pode ser designado
pecado quando é contrário à vontade de Deus. A Bíblia define
corretamente o pecado, chamando-o “transgressão da lei” (1Jo 3.4).
É uma transgressão ou quebra da lei de Deus, ou, seja, agir
contrariamente ao que a lei divina requer. A Bíblia nos fala sempre
do pecado em relação com a lei (Rm 1.32; 2.12-14; 4.15; 5.13; Tg
2.9, 10; 1Jo 3.4). É, em primeiro lugar, a culpabilidade, o que faz
com que todo ser humano se sujeite ao castigo (Rm 3.19; 5.18; Ef
2.3), e também uma corrupção inerente ou contaminação moral.
Todos os seres humanos são culpados em Adão, e, portanto,
nascem com uma natureza corrompida (Jó 14.4; Jr 17.9; Is 6.5; Rm
8.5-8; Ef 4.17-19). O pecado tem sua sede no coração do homem e,
a partir deste ponto central, influencia o intelecto, a vontade e os
afetos; aliás, todo o ser humano, pois o pecado se manifesta por
meio do corpo (Pv 4.23; Jr 17.9; Mt 15.19, 20; Lc 6.45; Hb 3.12).
Contra a teoria da igreja romana, ensinamos que o pecado não
consiste apenas em atos exteriores, mas inclui maus pensamentos,
afetos e as intenções do coração (Mt 5.22, 28; Rm 7.7; Gl 5.17, 24).

3. O pecado na vida da raça humana. Devemos observar


três coisas neste sentido: 3.1. A união que existe entre o pecado de
Adão e o de seus descendentes. Esta união tem sido explicada em
três formas distintas: a. A explicação mais antiga é a teoria realista,
a qual ensina que no princípio Deus criou uma natureza humana
geral e que ao longo do tempo essa natureza foi se dividindo em
muitas partes como indivíduos. Posto que Adão possuísse essa
natureza em sua plenitude, através de seu pecado fomos
declarados culpados e contaminados, já que cada parte participou
da natureza, da culpa e da contaminação de Adão.
b. Nos dias da Reforma, a teoria que alcançou mais
proeminência foi a representativa. Esta teoria ensina que Adão
estava numa dupla relação com seus descendentes. Em primeiro
lugar, ele era a cabeça natural; mas, ao mesmo tempo, era seu
representante ou cabeça do pacto. Quando Adão pecou na
qualidade de representante da raça humana, este pecado foi
imputado ou posto sobre cada um de seus membros. Por essa
razão, os homens nascem em estado de corrupção. Este é o ensino
das igrejas reformadas.
c. Uma terceira teoria, não tão bem conhecida como a
anterior, recebeu a designação de imputação mediata. Esta ensina
que a culpa de Adão não recai diretamente sobre cada um de nós.
Só sua corrupção é que recai sobre seus descendentes, e isto faz
com que sejam pessoalmente responsáveis por suas próprias
culpas. Significa que não devem sua corrupção à culpabilidade de
Adão, e sim que são culpados em virtude de sua própria corrupção.
3.2. O pecado original e o atual. Fazemos certa distinção
entre o pecado original e o atual. Todos os homens nascem em
estado e condição pecaminosos, ao qual chamamos pecado
original, e que é a raiz de todos os pecados atuais que cometemos.
a. O pecado original. Este pecado inclui culpa e
contaminação. A culpa do pecado de Adão é posta sobre ou é
imputada a cada um de nós. Posto que Adão pecou como nosso
representante, agora somos todos culpados nele. Além disso,
herdamos de Adão sua contaminação, e isto faz com que tenhamos
uma inclinação positiva para o pecado. O homem é, pois, por
natureza, totalmente depravado. Isto não significa que cada ser
humano é tão mau quanto poderia ser, mas que o pecado
corrompeu todas as partes de sua natureza, e a tornou incapaz de
realizar qualquer bem espiritual. É, pois, possível que o ser humano
faça muitas coisas dignas do louvor de seus semelhantes, porém
mesmo as melhores de suas obras são por natureza deficitárias, ou,
seja, estão contaminadas desde a raiz, porque não foram motivadas
pelo amor a Deus, nem feitas em obediência a ele. Esta depravação
total da natureza humana tem sido negada pelos pelagianos, os
arminianos e os modernistas, porém se acha claramente ensinada
nas Sagradas Escrituras (Jr 17.9; Jo 5.42; 6.44; 15.4, 5; Rm 7.18,
23, 24; 8.7, 8; 1Co 2.14; 2Co 7.1; Ef 2.1-3; 4.18; 2Tm 3.2, 4; Tt 1.15;
Hb 11.6).
b. O pecado atual. O termo pecado atual denota não só os
pecados em seu sentido de ações externas, mas também
pensamentos conscientes, desejos e decisões que procedem do
estado de pecado original. São todos aqueles pecados que o
indivíduo pratica por iniciativa própria, em distinção de sua natureza
e inclinações hereditárias. Enquanto o pecado original foi um, os
pecados atuais são muitos. Alguns deles são pecados da vida
interior, tais como o orgulho, a inveja, o ódio, a luxúria e os maus
desejos; ou pecados da vida exterior, tais como o roubo, o engano,
o homicídio, o adultério etc. Entre eles se encontra o pecado para o
qual não existe perdão, ou, seja, a blasfêmia contra o Espírito
Santo, após o qual toda mudança de coração é totalmente
impossível, e pelo qual não devemos nem mesmo orar (Mt 12.31,
32; Mc 3.28-30; Lc 12.10; Hb 6.4-6; 10.26, 27; 1Jo 5.16).
3.3. A universalidade do pecado. Tanto a Bíblia como a
experiência nos ensinam que o pecado é universal. Mesmo os
pelagianos não negam este fato, porém o explicam em relação a
condições externas, como as más companhias, os maus exemplos e
a má educação. A Bíblia nos assegura que o pecado é universal
(1Rs 8.46; Sl 143.2; Pv 20.9; Ec 7.20; Rm 3.1-12, 19, 34; Gl 3.22; Tg
3.2; 1Jo 1.8, 10). Além disso, a Bíblia ensina que o ser humano é
pecador desde seu nascimento, e isto demonstra que a
universalidade do pecado não é o resultado da imitação (Jó 14.4; Sl
51.5; Jo 3.6). Inclusive as crianças são consideradas pecadoras, já
que estão sujeitas à morte, e esta é o salário do pecado (Rm 5.12-
14). Todos os homens, por natureza, se acham sob a condenação, e
portanto necessitam da redenção que Jesus Cristo providenciou. As
crianças de modo algum constituem uma exceção a esta regra (Jo
3.3, 5; Ef 2.3; 1Jo 5.12).

Para memorização. Passagens que demonstram:


1. Que o pecado é culpa:

Rm 5.18. “Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre
todos os homens para condenação, assim também, por um só ato
de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação
que dá vida.”

1Jo 3.4. “Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei,
porque o pecado é a transgressão da lei.”

Ef 2.3. “Entre os quais também todos nós andamos outrora,


segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne
e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como
também os demais.”

2. Que o pecado é contaminação:

Jr 17.9. “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e


desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?”

Rm 7.18. “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não


habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém,
o efetuá-lo.”

Rm 8.5. “Porque os que se inclinam para a carne cogitam das


coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas
do Espírito.”

3. Que o pecado se radica no coração:

Jr 17.9. “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e


desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?”

Mt 15.19. “Porque do coração procedem maus desígnios,


homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos,
blasfêmias.”

Hb 3.12. “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em


qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste
do Deus vivo.”

4. Que o pecado de Adão nos é imputado:

Rm 5.12, 19. “Portanto, assim como por um só homem entrou o


pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte
passou a todos os homens, porque todos pecaram… Porque, como,
pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram
pecadores, assim também, por meio da obediência de um só,
muitos se tornarão justos.”

1Co 15.21, 22. “Visto que a morte veio por um homem, também por
um homem veio a ressurreição dos mortos. Porque, assim como,
em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em
Cristo.”

5. Que a depravação do ser humano é total:

Jr 17.9. “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e


desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?”

Rm 7.18. “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não


habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém,
o efetuá-lo.”

Rm 8.5. “Porque os que se inclinam para a carne cogitam das


coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas
do Espírito.”
6. Que o pecado é universal:

1Rs 8.46. “Quando pecarem contra ti (pois não há homem que não
peque), e tu te indignares contra eles, e os entregares às mãos do
inimigo, a fim de que os leve cativos à terra inimiga, longe ou perto
esteja”

Sl 143.2. “Não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista
não há justo nenhum vivente.”

Rm 3.12. “Todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há


quem faça o bem, não há nem um sequer.”

1Jo 1.8. “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós
mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós.”

Para estudo adicional:

1. Que nomes a Bíblia dá ao pecado? (Jó 15.5; 33.9; Sl 32.1, 2;


55.15; 1Jo 3.4).

2. Existe algum caso na Bíblia em que a palavra mal significa algo


mais além de pecado? Se a resposta for sim, quando? (Êx 5.19;
2Rs 6.33; 22.16; Sl 41.8; 91.10; Pv 16.4).
3. A Bíblia ensina com toda clareza que o ser humano é pecador
desde o nascimento? (Sl 51.5; Is 48.8).

1. Qual é a origem bíblica do pecado?


2. Qual foi o primeiro pecado, e que elementos distinguimos
nele?
3. Como podemos provar que o verdadeiro tentador foi
Satanás?
4. Quais foram os resultados do primeiro pecado?
5. Os termos pecado e mal têm o mesmo sentido?
6. Onde lemos que o pecado se radica no coração?
7. Os pecados do gênero humano são meramente suas
ações externas?
8. Que diferentes teorias há sobre a relação do pecado de
Adão e o de seus descendentes?
9. Que é o pecado original e em que se distingue do pecado
atual?
10. Em que sentido devemos falar da depravação total?
11. Que provas temos em prol da universalidade do pecado?
CAPÍTULO XIII: O HOMEM NO PACTO DA
GRAÇA
Para evitar confusões, torna-se necessário distinguir entre o
pacto da redenção e o pacto da graça. Ambos se acham tão
intimamente conectados, que às vezes são considerados como um
só. Não obstante, o primeiro é o fundamento eterno do segundo.
1. O pacto da redenção. Este recebe também o título
conselho da paz, derivado de Zacarias 6.13. É o pacto entre o Pai,
como representante da Trindade, e o Filho, como representante dos
eleitos.
1.1. As bases bíblicas do mesmo. É evidente que o plano da
redenção foi incluído no decreto eterno de Deus (Ef 1.4; 3.1; 2Tm
1.9). Cristo nos fala das promessas que lhe foram feitas antes de vir
ao mundo, e nos fala reiteradamente de um mandato que recebeu
do Pai (Jo 5.30, 43; 6.38-40; 17.4-12). Cristo, indubitavelmente, é o
cabeça do pacto (Rm 5.12-21; 1Co 15.22). No Salmo 2.7-9, lemos a
menção das partes deste pacto e a promessa. No Salmo 40.7-8, o
Messias expressa sua solicitude em fazer a vontade do Pai ao
oferecer-se como sacrifício da redenção (Hb 7.22). Fiador é alguém
que toma sobre si as responsabilidades de outro. Cristo tomou o
lugar do pecador, a fim de levar sobre si o castigo proveniente do
pecado e cumprir os mandatos da lei em lugar de seu povo. Ao
fazer isso, ele veio a ser o segundo Adão (1Co 15.35), um espírito
vivificante. Para Cristo, este pacto era um pacto de obras, e ele
cumpriu os requisitos do pacto original, mas para nós ele é o
fundamento do pacto da graça. Seus benefícios se limitam aos
eleitos. Somente estes obtêm a redenção e herdam a glória que
Cristo mereceu para os pecadores.
1.2. Requisitos e promessas do pacto da redenção.
a. O Pai exigiu que o Filho tomasse a natureza humana com
suas fraquezas atuais, ainda que sem pecado (Gl 4.4, 5; Hb 2.10,
11, 14, 15; 4.15), e que se sujeitasse à lei a fim de cancelar seu
castigo e merecer a vida eterna para os eleitos (Sl 40.8; Jo 10.11; Gl
1.4; 4.4, 5). E, então, que aplicasse seus méritos a seu povo pela
obra renovadora do Espírito Santo e assim assegurasse a
consagração de suas vidas a Deus (Jo 10.28; 17.19-22; Hb 5.7-9).
b. O Pai prometeu ao Filho que lhe prepararia um corpo (Hb
10.5), o ungiria com o Espírito Santo (Is 42.1; 61.1; Jo 3.34) e o
sustentaria em sua obra (Is 42.6, 7; Lc 22.43). Portanto, que o
livraria do poder da morte e lhe daria um lugar a sua destra (Sl 16.8-
11; Fp 2.9-11), lhe daria poder para enviar o Espírito Santo para a
formação de sua igreja (Jo 14.26; 15.26; 16.13, 14), reuniria e
guardaria os eleitos (Jo 6.37-39, 40, 44, 45) e lhe daria uma
descendência numerosa (Sl 22.27; 72.17).
2. O pacto da graça. Sobre o fundamento do pacto da
redenção, Deus estabeleceu o pacto da graça. Vários elementos
devem ser considerados aqui.
2.1. As partes. Deus é a primeira parte deste pacto. Ele
estabelece o pacto e determina a relação em que a segunda parte
manterá com ele. Não é fácil decidir quem é esta segunda parte. A
opinião mais corrente entre as igrejas reformadas é que aqui se
trata do pecador eleito em Cristo. Este pacto pode ser visualizado
de diferentes prismas.
a. Como um fim em si mesmo, um pacto de amizade mútua
ou de comunhão para a vida, o qual se concretiza ao longo do curso
da história pela obra do Espírito Santo. Representa um estado no
qual todo privilégio tem um fim espiritual, as promessas de Deus são
recebidas pela fé e se cumprem. Nesse sentido podemos definir o
pacto como aquele acordo de graça entre Deus e os pecadores
eleitos em Cristo pelo qual Deus se doa, com todas as bênçãos da
salvação, ao pecador, e este recebe, pela fé, Deus e seus dons
imerecidos (Dt 7.9; 2Co 6.14; Sl 25.10, 14; 103.7-18).
b. Como um meio para um fim, um acordo puramente legal
para a concretização de um fim espiritual. É evidente que a Bíblia às
vezes nos fala do pacto incluindo nele algumas pessoas para quem
as promessas nunca se cumpriram, tais como Ismael, Esaú, os
filhos perversos de Eli e os israelitas rebeldes que morreram em
seus pecados. Visto assim, o pacto pode ser definido como um
acordo legal no qual Deus garante as promessas da salvação a
todos os que creem. Se visualizarmos o pacto neste sentido mais
amplo, não nos será difícil compreender que Deus o estabeleceu
com os crentes e igualmente com seus filhos (Gn 17.7; At 2.39; Rm
9.1-4).
2.2. As promessas e os pré-requisitos do pacto. Cada
pacto tem duas partes: oferece certos privilégios, e impõe certas
obrigações.
a. As promessas do pacto. A principal promessa do pacto,
que inclui todas as outras, está contida nestas palavras repetidas
com muita frequência: “Serei o teu Deus e o Deus de tua
descendência depois de ti” (Gn 17.7; Jr 31.33; 32.38-40; Ez 34.23-
25, 30, 31; 36.25-28; Hb 8.10; 2Co 6.16-18). Esta promessa inclui
todas as outras, tais como a promessa de bênçãos temporais, da
justificação, do Espírito de Deus e da glorificação final na vida
eterna (Jó 19.25-27; Sl 16.11; 73.24-26; Is 43.25; Jr 31.33, 34; Ez
36.27; Dn 12.2, 3; Gl 4.4, 5; Tt 3.7; Hb 11.7; Tg 2.5).
b. Os pré-requisitos do pacto. O pacto da graça não é o pacto
das obras e não requer nenhuma obra com o fim de obter méritos.
Não obstante, ele contém pré-requisitos e impõe ao homem certas
obrigações. Ao cumprir os pré-requisitos do pacto, o homem não
lucra nada em si, mas se coloca naquele lugar no qual Deus lhe
comunicará bênçãos prometidas. É preciso notar ainda que os
próprios pré-requisitos já foram prometidos de antemão, de forma
que Deus dá ao homem tudo aquilo que também requer dele. O que
Deus nos pede é isto: (1) Que aceitemos pela fé o pacto e suas
promessas, e assim passemos a viver a vida do pacto; e (2) Que
desde o início desta nova vida, nascida em nós, nos consagremos a
Deus numa nova obediência.
2.3. As características do pacto. O pacto da graça é um
pacto gratuito, porque é fruto e manifestação da graça de Deus para
os pecadores. É um pacto gratuito do princípio ao fim. É também um
acordo eterno e inviolável no qual Deus sempre permanece fiel,
mesmo quando os homens o quebrem. Posto que, mesmo em seu
sentido mais amplo, só inclui uma parte da humanidade, ele é um
pacto particular. Se no Novo Testamento ele nos é apresentado
como um pacto universal, isto se deve ao fato de que ele não se
limita aos judeus, como se deu no Antigo Testamento, mas abarca
também os gentios. Este pacto se caracteriza também por sua
unidade. Ao longo de todas as dispensações, ele é essencialmente
o mesmo, ainda quando a forma de sua administração varie. A
promessa essencial permanece sempre a mesma (Gn 17.7; Hb
1.10); o evangelho é o mesmo (Gl 3.8); a necessidade da fé é a
mesma (Gl 3.6, 7); e o Mediador é o mesmo (Hb 13.8). O pacto às
vezes é condicional e incondicional. É condicional porque depende
dos méritos de Cristo e porque o desfruto da vida que ele oferece
depende do exercício da fé. É também incondicional, porque não se
fundamenta em nenhum mérito humano. Por isso é um pacto
testamentário com a disposição livre e soberana de Deus. De fato,
em Hebreus 9.16, 17 ele recebe o título testamento. Este título põe
a ênfase em vários fatos: (1) que é uma disposição livre da parte de
Deus; (2) que na dispensação neotestamentária foi introduzido pela
morte de Cristo; e (3) que nele Deus dá o que ele mesmo nos pede.
O pacto da graça difere do pacto das obras no fato de que
tem um Mediador. Cristo é o Mediador do novo pacto (1Tm 2.5; Hb
8.6; 9.15; 12.24). É o Mediador não só no sentido de que intervém
entre Deus e o homem para buscar a paz e persuadi-los a ela, mas
também no sentido de que tem poder absoluto para fazer tudo
quanto seja necessário para alcançar a paz. Como nosso Fiador (Hb
7.22), Jesus toma nossa culpa, quita a punição do pecado, cumpre
a lei e restabelece a paz.
2.4. A membresia neste pacto. Os adultos podem ser parte
deste pacto considerado como um acordo legal somente pela fé.
Mas, ao exercer sua fé e entrar nele, passam a ter acesso à
comunhão da vida. Significa que, pela fé e imediatamente, entram
na vida plena deste pacto. Os filhos dos crentes, por sua vez, ao
nascerem, entram neste pacto como um acordo legal. Não obstante,
isto não significa que, ao mesmo tempo, entram na comunhão da
vida, nem garantem que um dia entrarão nela. As promessas de
Deus nos dão certa segurança de que a vida oriunda do pacto se
manifestará neles, e, enquanto não demonstrarem o contrário,
podemos presumir que já possuem esta nova vida. Seja como for, é
necessário que os maiores aceitem as responsabilidades do pacto
de maneira voluntária, e que façam uma genuína confissão de sua
fé. Do contrário, serão considerados como transgressores do pacto.
Portanto, é possível, a partir do supramencionado, que pessoas
não-regeneradas se encontrem temporariamente dentro do pacto
como um acordo legal, porém não numa relação vital com o mesmo
(Rm 9.4). Tais pessoas são reconhecidas como filhas do pacto e
estão sujeitas a seus requisitos e participam de seu mistério.
Recebem as bênçãos comuns do pacto e é possível que ainda
sejam participantes de algumas operações especiais do Espírito
Santo. Não obstante, se carecem de verdadeira fé e não aceitam as
responsabilidades correspondentes, serão julgados como
transgressores do pacto.
2.5. As diferentes dispensações do pacto. (1) A primeira
revelação do mesmo se encontra em Gênesis 3.15, o qual com
frequência tem sido denominado de protoevangelho ou promessa
germinal. Isto, porém, não indica um estabelecimento formal de tal
pacto. (2) O pacto com Noé é também de natureza muito geral, visto
ser um pacto com todos os seres humanos. Proporciona somente
bênçãos naturais e tem sido designado de pacto da natureza ou
graça comum. Não obstante, tem uma relação bastante estreita com
o pacto da graça, visto ser o fruto da graça de Deus e garante
bênçãos naturais e temporais que são absolutamente necessárias
para se concretizar o pacto da graça. (3) O pacto com Abraão e sua
descendência marca seu verdadeiro estabelecimento. Assinala o
princípio da administração do pacto no Antigo Testamento, a qual se
acha limitada a Abraão e a seus descendentes. A fé nos é revelada
eminentemente como seu pré-requisito essencial, e a circuncisão é
seu selo. (4) O pacto no monte Sinai é essencialmente o mesmo
pacto feito com Abraão, porém desde então abrange toda a nação
de Israel e vem a ser um pacto nacional. Ainda quando imprima
muita ênfase no cumprimento da lei, não podemos dizer que se trata
de uma renovação do pacto das obras feito com Adão.
A lei só aumentou o conhecimento do pecado (Rm 3.20) e
veio a ser um mestre que nos conduz a Cristo (Gl 3.24). A Páscoa
foi adicionada como um segundo sacramento. (5) O novo pacto que
nos foi revelado no Novo Testamento (Jr 31.31; Hb 8.8, 13) é
essencialmente o mesmo pacto do Antigo Testamento (Rm 4; Gl 3).
Este pacto, porém, agora rompe as barreiras do particularismo e se
torna universal, no sentido de que suas bênçãos se estendem a
toda pessoa e nação. Suas bênçãos agora são mais completas e
espirituais, e o batismo e a ceia do Senhor tomam o lugar dos
sacramentos do Antigo Testamento.

Para memorização. Passagens sobre:

1. As partes do pacto:

Gn 3.15. “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua


descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe
ferirás o calcanhar.”

Gn 17.7. “Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua


descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua,
para ser o teu Deus e da tua descendência.”

Êx 19.5, 6. “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e


guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade
peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me
sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras
que falarás aos filhos de Israel.”

Jr 31.31-33. “ Eis aí vêm dias, diz o S , em que firmarei nova


aliançad com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme
a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão,
para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a minha
aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o S .
Porque esta é a aliançae que firmarei com a casa de Israel, depois
daqueles dias, diz o S : Na mente, lhes imprimirei as minhas
leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e
eles serão o meu povo.”

At 2.39. “Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e


para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor,
nosso Deus, chamar.”

2. Suas promessas e requisitos:

Gn 17.7. “Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua


descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua,
para ser o teu Deus e da tua descendência.”

Êx 19.5. “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e


guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade
peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha.”

Jr 31.33. “Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel,


depois daqueles dias, diz o S : Na mente, lhes imprimirei as
minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu
Deus, e eles serão o meu povo.”

Gn 15.6. “Ele creu no S , e isso lhe foi imputado para justiça.”

Êx 19.5. “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e


guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade
peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha.”
Sl 103.17, 18. “Mas a misericórdia do S é de eternidade a
eternidade, sobre os que o temem, e a sua justiça, sobre os filhos
dos filhos, para com os que guardam a sua aliança e para com os
que se lembram dos seus preceitos e os cumprem.”

Gl 3.7, 9. “Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão… De


modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão.”

3. Características do pacto:

Is 54.10. “Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão


removidos; mas a minha misericórdia não se apartará de ti, e a
aliança da minha paz não será removida, diz o S , que se
compadece de ti.”

Is 24.5. “Na verdade, a terra está contaminada por causa dos seus
moradores, porquanto transgridem as leis, violam os estatutos e
quebram a aliança eterna.”

Gl 3.7, 9. “Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão… De


modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão.”

Hb 9.17, 18. “Pois um testamento só é confirmado no caso de


mortos; visto que de maneira nenhuma tem força de lei enquanto
vive o testador. Pelo que nem a primeira aliança foi sancionada sem
sangue.”

4. O mediador do pacto:
1Tm 2.5. “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e
os homens, Cristo Jesus, homem.”

Hb 7.22. “Por isso mesmo, Jesus se tem tornado fiador de superior


aliança.”

Hb 8.6. “Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais


excelente, quanto é ele também Mediador de superior aliança
instituída com base em superiores promessas.”

Para estudo adicional:

1. Você se lembraria de alguns pactos especiais mencionados na


Bíblia? (Gn 31.44; Dt 29.1; 1Sm 18.3; 2Sm 23.5).

2. Poderia ainda citar vários casos em que o pacto foi transgredido?


(Gn 24.32-34; Hb 12.16, 17; Êx 32.1-14; Nm 14; 16; Jz 2.11; 1Sm
2.12; Is 24.5; Ez 15.69; Os 6.7; Gl 3.17-24).

3. A promulgação da lei mudou a essência do pacto? (Rm 4.13-17;


Gl 3.17-24).

1. Que é o pacto da redenção?


2. Por qual outro nome é conhecido e qual é sua relação com
o pacto da graça?
3. Que provas bíblicas temos para isso?
4. Qual é a relação de Cristo neste pacto?
5. Para Cristo foi um pacto de graça ou um pacto de obras?
6. A quem Cristo representa neste pacto?
7. O que o Pai exigiu de Cristo e que promessa ele fez?
8. Que distinção observamos ao referir-nos ao pacto da
graça?
9. Como tal distinção afeta a segunda parte neste pacto?
10. Qual é a promessa que abarca tudo neste pacto?
11. O que Deus exige dos que se acham neste pacto?
12. Quais são as características do pacto?
13. Em que sentido podemos transgredir o pacto, e em que
sentido ele é inviolável?
14. Como podemos provar a unidade do pacto?
15. Em que sentido ele é condicional e em que sentido é
incondicional?
16. Por que podemos chamá-lo um testamento?
17. Onde encontramos a primeira revelação do pacto?
18. Qual era sua natureza com Noé?
19. Que diferença há entre o pacto com Abraão e o pacto no
monte Sinai?
20. Que caracteriza a dispensação neotestamentária do
pacto?
21. Qual é a posição de Cristo no pacto da graça?
22. Os adultos podem ser membros do pacto?
23. Como as crianças vêm a tornar-se membros de tal pacto?
24. Que esperamos delas?
25. As pessoas não-regeneradas podem ser membros do
pacto?
A DOUTRINA DA PESSOA E OBRAS DE
CRISTO
CAPÍTULO XIV: TÍTULOS E NATUREZAS
DE CRISTO
1. Os títulos de Cristo. Os títulos mais importantes de Cristo
são os seguintes: 1.1. Jesus. Este nome é o equivalente grego do
nome hebraico Josué (Js 1.1; Zc 3.1) ou Jesua (Ed 2.2). Ele se
deriva da palavra hebraica que significa salvar, e designa Cristo
como Salvador (Mt 1.21). Dois tipos de Cristo, no Antigo
Testamento, receberam este mesmo nome, a saber, Josué, filho de
Num, e Josué, filho de Josadaque.
1.2. Cristo. O termo Cristo é o equivalente, no Novo
Testamento, do hebraico Messias, que significa o ungido. Segundo o
Antigo Testamento, os profetas (1Rs 19.6), os sacerdotes (Êx 29.7)
e os reis (1Rs 19.1) eram ungidos com óleo, o qual simboliza o
Espírito Santo. Este unguento assinala que haviam sido separados
para suas respectivas tarefas, e se achavam qualificados para
exercer as mesmas. Jesus Cristo foi ungido pelo Espírito Santo para
seu tríplice ofício de profeta, sacerdote e rei. Pelo prisma histórico,
esta unção ocorreu quando ele foi concebido pelo Espírito Santo e
quando foi batizado.
1.3. Filho do Homem. Este título, ao ser aplicado a Cristo, se
deriva de Daniel 7.13. É um nome que Jesus geralmente aplica a si
próprio, e que outros raramente o usam. Ainda que contenha uma
indicação da natureza humana de Cristo, à luz de sua origem
histórica, nos direciona para seu caráter super-humano e seu futuro
regresso nas nuvens do céu com glória e esplendor (Dn 7.13; Mt
16.27, 28; 26.24; Lc 21.27).
1.4. Filho de Deus. Cristo recebeu o título de Filho de Deus
em diversos sentidos. Foi chamado assim porque é a segunda
pessoa da Trindade, e portanto é Deus (Mt 11.27), mas também
porque ele é o Messias eleito (Mt 24.36), e porque seu nascimento
se deveu à obra sobrenatural do Espírito Santo (Lc 1.35).
1.5. Senhor. Os contemporâneos de Jesus às vezes usavam
este título em referência a Jesus como uma forma de expressar
cortesia, justamente como usamos o vocábulo senhor. Pouco depois
da ressurreição de Cristo, este título adquiriu um significado especial
muito mais profundo. Em algumas passagens, ele designa Cristo
como o Soberano e Governante da igreja (Rm 1.7; Ef 1.17), e em
outros ocupa o mesmo lugar que ocupa o nome de Deus (1Co 7.34;
Fp 4.4, 5).
2. As naturezas de Cristo. A Bíblia nos apresenta Cristo
como um ser dotado de duas naturezas: a divina e a humana.
Grande é este mistério da piedade, ou, seja, que Deus tenha se
manifestado na carne (1Tm 3.16).
2.1. As duas naturezas. Uma vez que muitos atualmente
negam a divindade de Cristo, é necessário enfatizar as provas
bíblicas da mesma. Algumas passagens veterotestamentárias nos
remetem diretamente à doutrina (Is 9.6; Jr 23.6; Mq 5.2; Ml 3.1). No
Novo Testamento, as provas são muito abundantes (Mt 11.27;
16.16; 26.63-64; Jo 1.1, 18; Rm 9.5; 1Co 2.8; 2Co 1.1-3; Ap 19.16).
Nenhum dos que aceitam a existência de Cristo nega sua
humanidade. Aliás, o único detalhe da divindade que muitos lhe
outorgam é possuir ele uma humanidade perfeita. Seja como for, há
provas sobejas da humanidade de Cristo. Ele fala de si mesmo
como um homem (Jo 8.40), e outros o denominam assim (At 2.22;
Rm 5.15; 1Co 15.21). Cristo tinha os elementos essenciais de uma
natureza humana, a saber, corpo e alma (Mt 26.26, 38; Lc 24.39; Hb
2.14). Além disso, ele se achava sujeito às leis ordinárias do
desenvolvimento humano (Lc 2.40, 52), e às necessidades e
sofrimentos humanos (Mt 4.2; 8.2; Lc 22.44; Jo 4.6; 11.35; 12.27; Hb
2.10, 18; Hb 5.7, 8). Não obstante, a despeito de ser um homem
real, Cristo não tinha pecado. Não pecou, nem podia pecar (Jo 8.46;
2Co 5.21; Hb 4.15; 9.14; 1Pe 2.22; 1Jo 3.5). Era necessário que
Cristo fosse ao mesmo tempo Deus e homem. Somente como
homem podia ser nosso substituto, e como tal sofrer e morrer; e
somente como homem sem pecado podia pagar pelos pecados de
outros. Mas era somente como Deus que ele podia dar a seu
sacrifício um valor infinito e levar sobre si a ira de Deus, para assim
livrar outros dela (Sl 40.7-10; 130.3).
2.2. As duas naturezas unidas em uma só pessoa. Cristo
tinha uma natureza humana, porém não era uma pessoa
meramente humana. A Pessoa do Mediador é o Filho do Deus
imutável. Na encarnação, Cristo não se transformou numa pessoa
humana, nem tampouco adotou para si uma personalidade humana.
Cristo assumiu, além de sua natureza divina, uma natureza humana.
Esta natureza humana não chegou a desenvolver uma
personalidade independente, mas se personificou na Pessoa do
Filho de Deus. Ao tomar esta natureza humana, a Pessoa do
Mediador era ao mesmo tempo divina e humana, ou, seja, Deus e
homem, possuindo todas as qualidades essenciais às naturezas
divina e humana. Cristo tem consciência divina e humana,
juntamente com uma vontade divina e humana. Este é realmente
um mistério que não podemos conceber. As Escrituras ensinam
claramente esta unidade na pessoa de Cristo. É sempre a mesma
pessoa que fala, seja expressando feitos divinos ou humanos (Jo
10.30; 17.5; cf. Mt 27.46; Jo 19.28). Igualmente, às vezes ações e
atributos humanos nos são apresentados como obra da Pessoa de
Cristo em sua divindade (At 20.28; 1Co 2.8; Cl 1.13, 14). Atributos e
ações divinos são às vezes imputados à pessoa de Cristo sob um
nome que designa sua humanidade (Jo 3.13; 6.62; Rm 9.5).
2.3. Alguns erros importantes contra esta doutrina. Na Igreja
Primitiva, os ebionitas e os alogianos negavam a divindade de
Cristo. Nos dias da Reforma, também os socinianos negavam essa
verdade; e hoje os unitários e modernistas [bem como os russelitas]
também a negam. E assim encontramos na Igreja Primitiva o caso
de Ário que negou totalmente a divindade de Cristo e falava dele
como um semi-deus. Ao contrário, Apolinário não reconheceu sua
plena humanidade e afirmava que o Logos divino ocupou o lugar do
espírito humano em Cristo. Nestório e seus seguidores negavam a
unidade das duas naturezas em uma só pessoa; e Êutico e seus
discípulos não chegaram a distinguir entre as duas naturezas da
forma devida.

Para memorização. Passagens que provam:


1. A divindade de Cristo:
Is 9.6. “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o
governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será:
Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe
da Paz.”

Jr 23.6. “Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará seguro;
será este o seu nome, com que será chamado: S , Justiça
Nossa.”

Jo 1.1, 18. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e
o Verbo era Deus… Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito,
que está no seio do Pai, é quem o revelou.”

Rm 9.5. “Deles são os patriarcas, e também deles descende o


Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para
todo o sempre. Amém!”

Cl 2.9. “Porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da


Divindade.”

2. A humanidade de Cristo:

Jo 8.40. “Mas agora procurais matar-me, a mim que vos tenho


falado a verdade que ouvi de Deus; assim não procedeu Abraão.”

Mt 26.38. “Então, lhes disse: A minha alma está profundamente


triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo.”
Lc 24.39. “Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu
mesmo; apalpai-me e verificai, porque um espírito não tem carne
nem ossos, como vedes que eu tenho.”

Hb 2.14. “Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne


e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por
sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o
diabo.”

3. A unidade da Pessoa de Cristo:

Jo 17.5. “E, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória


que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo.”

Jo 3.13. “Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá


desceu, a saber, o Filho do Homem [que está no céu].”

1Co 2.8. “Sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século
conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam
crucificado o Senhor da glória.”

Para estudo adicional:

1. Em que sentido Josué, o sumo sacerdote (Zc 3.8, 9), e Josué,


filho de Num (Hb 4.8), eram tipos de Cristo?
2. O que nos ensinam as seguintes passagens acerca da unção de
Cristo? (Sl 2.2; 45.7; Pv 8.23; Is 61.1).

3. Que atributos divinos a Bíblia atribui a Cristo? (Is 9.6; Pv 8.22-31;


Mq 5.2; Jo 5.26; 21.17); que obras divinas ele fez? (Mc 2.5-7; Jo
1.1-3; Cl 1.16, 17; Hb 1.1-3); que honras divinas ele recebeu? (Mt
28.19; Jo 5.19-29; 14.1; 2Co 13.13).

1. Quais são os títulos de Cristo mais importantes? Que


significa cada um deles?
2. Que elementos se acham inclusos na unção de Cristo?
Quando aconteceu?
3. De que se derivou o título Filho do Homem? O que ele
expressa?
4. Em que sentido o título Filho de Deus se aplica a Cristo?
5. Que diferentes significados encontramos na palavra Senhor
ao ser aplicada a Cristo?
6. Que provas bíblicas temos da humanidade e da divindade
de Cristo?
7. Qual é a natureza da pessoa de Cristo: divina, humana ou
divina e humana?
8. Como podemos provar, pelas Escrituras, a unidade da
Pessoa de Cristo?
9. Quais são os principais erros sobre a Pessoa de Cristo?
CAPÍTULO XV: OS ESTADOS DE CRISTO
Com frequência usamos os termos estado e condição de
maneira distinta. Ao falarem dos estados de Cristo, usamos o termo
estado em um sentido mais preciso, denotando a relação que ele
manteve e ainda mantém com respeito à lei. Nos dias de sua
humilhação, Cristo foi Servo sob a lei; em sua exaltação, ele é
Senhor acima da lei. Portanto, é natural que estes dois estados
contenham diferentes condições de vida, as quais estudaremos nas
diferentes fases desses estados.
1. O estado de humilhação. Nele, Cristo se despojou da
majestade divina que era sua como Soberano do universo e
assumiu uma natureza humana, tomando a forma de servo. O
supremo Legislador se sujeitou aos requerimentos e maldição da lei
(Mt 3.15; Gl 3.13; 4.4; Fp 2.6-8). Este estado de humilhação nos é
apresentado sob várias fases: 1.1. A encarnação e nascimento de
Cristo. Na encarnação, o Filho de Deus se fez carne e assumiu a
natureza humana (Jo 1.14; 1Jo 4.2). Ele se fez membro real da raça
humana ao nascer da virgem Maria. Se, como afirmavam os
anabatistas, Cristo tivesse trazido consigo do céu uma natureza
humana, então não teria se tornado membro da raça humana. A
Bíblia ensina o nascimento virginal em várias passagens (Is 7.14; Mt
1.20; Lc 1.34, 35). Este maravilhoso nascimento se deu pela
influência sobrenatural do Espírito Santo, que ao mesmo tempo
preservou a natureza humana de Cristo da contaminação do pecado
já desde sua própria concepção (Lc 1.35).
1.2. Os sofrimentos de Cristo. Com frequência falamos dos
sofrimentos de Cristo como se fossem limitados a suas agonias
finais. No entanto, isso é falso. Sua vida inteira foi entremeada de
sofrimento. Foi a vida de um servo em relação àquele que é o
Senhor dos senhores, e uma vida em meio aos pecados em relação
àquele que em si mesmo não conheceu o pecado. Satanás o tentou,
os seus o aborreceram e seus inimigos o perseguiram. Os
sofrimentos de sua alma foram ainda mais intensos que os de seu
corpo. Ele foi tentado pelo diabo, oprimido por um mundo de
iniquidade que o rodeava, e afligido pelo peso do pecado que
repousava sobre ele, foi “homens de dores, que sabe o que é
padecer” (Is 53.3).
1.3. A morte de Cristo. Quando falamos da morte de Cristo,
referimo-nos a sua morte física. Cristo não morreu em consequência
de um acidente, nem nas mãos de um assassino, mas sob uma
sentença judicial, e foi contado com os perversos (Is 53.12). Ao
sofrer a morte sob o castigo romano da crucifixão, ele sofreu uma
morte maldita, levando sobre si nossa própria maldição (Dt 21.23; Gl
3.13).
1.4. O sepultamento de Cristo. Pode parecer-nos que a
morte na cruz foi a fase final de seus sofrimentos. Jesus não
declarou: “Está consumado”? Estas palavras se referem a seu
sofrimento ativo; ele, porém, continuou ainda sofrendo. Seu
sepultamento foi também parte de sua humilhação, e da qual, como
Filho de Deus, tinha plena consciência. A volta do homem ao pó é
parte do castigo em decorrência do pecado (Gn 3.19). O fato de o
Salvador ter que descer ao túmulo é também parte de sua
humilhação (Sl 16.10; Hb 2.27, 31; 13.34, 35). E essa humilhação
destruiu nosso terror proveniente do túmulo.
1.5. Sua descida ao Hades. As palavras do Credo
Apostólico, “desceu ao Hades”, são passíveis de diversas
interpretações. Os romanistas dizem que ele desceu ao Limbus
Patrum, onde se encontram os santos do Antigo Testamento, para
dar-lhes liberdade; os luteranos ensinam que, entre sua morte e sua
ressurreição, Cristo desceu ao Hades [inferno] para pregar e
celebrar ali sua vitória sobre os poderes das trevas. Possivelmente,
nos encontramos diante de uma expressão figurada que denota: (1)
que ele sofreu as agonias do inferno no jardim e na cruz, e (2) que,
com sua morte, ele entrou em sua mais profunda agonia e
humilhação (Sl 16.8-10; Ef 4.9).
2. O estado de exaltação. Em seu estado de exaltação,
Cristo deixou seu estado de submissão à lei, como obrigação do
pacto, já que ele já havia cumprido o castigo decorrente da lei
transgredida pelo homem e merecido a justiça e vida eterna para o
pecador. Além disso, ele foi coroado com honra e glória, as quais
ele mereceu por nós. Há quatro diferentes fases nesta exaltação.
2.1. A ressurreição. A ressurreição de Cristo não consistiu
de uma mera reunião de corpo e alma, mas, de um modo especial,
em que sua natureza humana, tanto o corpo como a alma, foi
restabelecida em sua beleza e força originais, e soerguida a um
nível ainda muito mais excelente. Ao contrário de todos os que
haviam ressuscitado antes dele, Cristo se ergueu com um corpo
espiritual (1Co 15.44, 45). Por esse motivo, ele foi chamado “as
primícias dos que dormem” (1Co 15.20) e “o primogênito dos
mortos” (Cl 1.18; Ap 1.5). A ressurreição de Cristo tem um tríplice
significado: (1) Foi uma declaração da parte do Pai de que Cristo
havia cumprido as exigências da lei (Fp 2.9). (2) Simbolizou a
justificação, regeneração e ressurreição final dos crentes (Rm 6.4, 5,
9; 1Co 6.14; 15.20-22). (3) Foi a causa de nossa justificação,
regeneração e ressurreição (Rm 4.25; 5.10; Ef 1.20; Fp 3.10; 1Pe
1.3).
2.2. A ascensão. Esta foi, em certo sentido, o complemento
necessário da ressurreição, no entanto continha um significado
especial. Temos uma dupla narração da mesma, a saber, em Lucas
24.50-53 e em Atos 1.6-11. O apóstolo Paulo a menciona em
Efésios 1.20; 4.8-10; 1 Timóteo 3.16, e a epístola aos Hebreus põe
a ênfase em seu significado (1.3; 4.14; 6.20; 9.24). Foi uma
ascensão visível do Mediador, segundo a natureza humana, indo da
terra ao céu, e de um lugar para outro. Incluiu uma nova glorificação
da natureza humana de Cristo. Os luteranos a apresentam de outro
modo. Para eles, ela foi uma mudança de condição física na qual a
natureza humana de Jesus passou a desfrutar plenamente de certos
atributos divinos, e se fez permanentemente onipresente. Na
ascensão, Cristo, nosso Sumo Sacerdote, teve acesso ao lugar
mais recôndito do santuário, a fim de apresentar ao Pai seu
sacrifício e dar início à obra intercessória no trono (Rm 8.34; Hb
4.14; 6.20; 9.24). Cristo subiu aos céus para nos preparar um lugar
(Jo 14.1-3). Já estamos assentados com ele nos lugares celestiais,
e a ascensão nos assegura que temos um lugar reservado nos céus
(Ef 2.6; Jo 17.24).
2.3. Sua posição à destra de Deus. Após a ascensão, Cristo
se assentou à destra de Deus (Ef 1.20; Hb 10.12; 1Pe 3.22). A
expressão destra de Deus não pode ser tomada em sentido literal,
mas é uma figura a indicar o lugar que Cristo ocupa em sua glória e
poder. Durante este período em que ocupa a destra de Deus, Cristo
governa e protege sua igreja, dirige o curso do universo para o bem
de sua igreja e intercede por seu povo sobre o fundamento de seu
sacrifício completado.
2.4. Seu regresso físico e visível. A exaltação de Cristo
alcança seu clímax quando ele regressar para julgar os vivos e os
mortos. Sua segunda vinda será física e visível (At 1.11; Ap 1.7).
Que Jesus Cristo voltará como Juiz, é evidente à luz de muitas
passagens (Jo 5.22, 27; At 10.42; Rm 2.16; 2Co 5.10; 2Tm 4.1).
Não conhecemos o momento de sua segunda vinda. Ele voltará
para julgar o mundo e completar a salvação de seu povo. Esta será
a vitória final de sua obra redentora (1Co 4.5; Fp 3.20; Cl 3.4; 1Ts
4.13-17; 2Ts 1.7-10; 2.1-12; Tt 2.13; Ap 1.7).

Para memorização. Passagens relevantes sobre: 1. O estado de


humilhação:

Gl 3.13. “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele


próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo
aquele que for pendurado em madeiro)”.

Gl 4.4, 5. “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu


Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que
estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos.”

Fp 2.6-8. “Pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como


usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou,
assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de
homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se
humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.”
2. A encarnação:

Jo 1.14. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça


e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.”

Rm 8.3. “Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava


enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em
semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com
efeito, condenou Deus, na carne, o pecado.”

3. O nascimento virginal:

Is 7.14. “Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a


virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel.”

Lc 1.35. “Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e


o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso,
também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de
Deus.”

4. A descida ao Hades:

Sl 16.10. “Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás


que o teu Santo veja corrupção.”
Ef 4.9. “Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido
até às regiões inferiores da terra?”

5. A ressurreição:

Rm 4.25. “O qual foi entregue por causa das nossas transgressões


e ressuscitou por causa da nossa justificação.”

1Co 15.20. “Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos,


sendo ele as primícias dos que dormem.”

6. A ascensão:

Lc 24.51. “Aconteceu que, enquanto os abençoava, ia-se retirando


deles, sendo elevado para o céu.”

At 1.11. “E lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando


para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá
do modo como o vistes subir.”

7. Sua posição:

Ef 1.20. “O qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os


mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais.”
Hb 10.12. “Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único
sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus.”

8. Sua segunda vinda:

At 1.11. “E lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando


para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá
do modo como o vistes subir.”

Ap 1.7. “Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até
quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão
sobre ele. Certamente. Amém!”

Para estudo adicional:

1. O que nos diz o Antigo Testamento sobre a humilhação de Cristo?


(Sl 22.6-20; 69.7-9; 20.21; Is 52.14, 15; 53.1-10; Zc 11.12, 13).

2. Qual é o valor especial das tentações de Cristo no que se refere a


nós? (Hb 2.18; 4.15; 5.7-9).

3. Como a Bíblia prova que o céu é um lugar, mais que uma mera
condição? (Dt 30.12; Js 2.11; Sl 139.8; Ec 5.2; Is 66.1; Rm 10.6, 7).

1. O que queremos dizer com os estados do Mediador?


2. Como você definiria os estados de humilhação e
exaltação?
3. Como Cristo recebeu sua natureza humana?
4. Que provas temos do nascimento virginal de Cristo?
5. Que relação o Espírito Santo tem com o nascimento de
Cristo?
6. Os sofrimentos de Cristo se limitaram ao final de sua vida?
7. A forma em que Cristo morreu tem alguma importância?
8. Quais são as diferentes opiniões a respeito da descida ao
Hades?
9. Qual foi a natureza da ressurreição de Cristo? Que
mudança ocorreu?
10. Qual foi o significado da ressurreição?
11. Como você provaria que a ascensão foi o traslado de um
lugar para outro?
12. Qual é seu significado e como os luteranos o entendem?
13. Que significa a posição de Cristo à destra de Deus?
14. Como Cristo voltará, e qual é o propósito de seu
regresso?
CAPÍTULO XVI: OS MINISTÉRIOS DE
CRISTO
A Bíblia nos indica que Cristo tem um tríplice ministério, e nos
fala dele como Profeta, Sacerdote e Rei.
1. O ministério profético. O Antigo Testamento prediz que
Cristo viria como profeta (Dt 18.15; cf. At 3.23). Jesus mesmo fala
de si como profeta (Lc 18.33), e alega que traz uma mensagem do
Pai (Jo 8.26-28; 12.49, 50; 14.10, 24); prediz o futuro (Mt 24.3.35; Lc
19.41-44) e fala com autoridade singular (Mt 7.29). Portanto, não
surpreende que o povo o reconhecesse na qualidade de profeta (Mt
21.11, 46; Lc 7.16; 24.19; Jo 6.14; 9.40; 9.17). Um profeta é alguém
que recebe revelações divinas por meio de sonhos, visões e
mensagens verbais, e que as transmite ao povo verbalmente ou
mediante ações proféticas visíveis (Êx 7.11; Dt 18.18; Nm 12.6-8; Is
6; Jr 1.4-10; Ez 3.1-4, 17). Sua obra pertence ao passado, ao
presente e ao futuro. Uma de suas tarefas mais importantes foi a de
interpretar para o povo os aspectos morais e espirituais da lei. Cristo
foi profeta desde o Antigo Testamento (1Pe 1.11; 3.18-20). Portanto
foi profeta quando esteve na terra e continuou essa obra pela
operação do Espírito Santo sobre os apóstolos, depois da ascensão
(Jo 14.26; 16.12-14; At 1.1). Mesmo agora seu ministério profético
continua através da pregação da Palavra e da iluminação espiritual
comunicada aos crentes. Esta é a única função que a teoria
moderna reconhece em Cristo.
2. Seu ministério sacerdotal. O Antigo Testamento ainda
prediz que o Redentor que viria seria sacerdote (Sl 110.4; Zc 6.13; Is
53). No Novo Testamento há apenas um livro no qual Cristo é
chamado sacerdote: a carta aos Hebreus; ali, porém, encontramos
este título reiteradas vezes (3.1; 4.14; 5.5; 6.20; 8.1). Não obstante,
há outros livros que fazem referência a sua obra sacerdotal (Mc
10.45; Jo 1.29; Rm 3.24, 25; 1Co 5.7; 1Jo 2.2; 1Pe 2.24; 3.18).
Enquanto o profeta representa Deus diante do povo, o sacerdote
representa o povo diante de Deus. Por isso, ambos eram mestres;
mas, enquanto o primeiro ensinava a lei moral, o segundo transmitia
ao povo a lei cerimonial. Além disso, os sacerdotes tinham o
privilégio especial de chegar-se a Deus e de falar e agir em lugar do
povo. Hebreus 5.1 nos ensina que o sacerdote era escolhido dentre
os seres humanos para ser seu representante, que era escolhido
por Deus e agia diante dele em prol dos homens, e oferecia dons e
sacrifícios pelos pecados. Ao mesmo tempo, ele intercedia pelo
povo.
A obra sacerdotal de Cristo foi de certo modo especial:
oferecer sacrifício pelo pecado. Os sacrifícios do Antigo Testamento
eram tipos que assinalavam a via para o grande sacrifício de Cristo
(Hb 9.23, 24; 10.1; 13.11, 12). Daí Cristo ser chamado “o Cordeiro
de Deus” (Jo 1.29) e “nossa páscoa” (1Co 5.7). O Novo Testamento
nos fala claramente da obra sacerdotal de Cristo em muitas
passagens (Mc 10.45; Jo 1.29; Rm 3.24, 25; 5.6-8; 1Co 5.7; 15.3; Gl
1.4; Ef 5.2; 1Pe 2.24; 3.18; 1Jo 2.2; 4.10; Ap 5.12). As referências
são ainda mais frequentes na carta aos Hebreus (5.1-10; 7.1-28;
9.11-15, 24-28; 10.11-14, 19-22; 12.24; 13.12).
Além de oferecer o grande sacrifício pelos pecados, Cristo,
como sacerdote, intercede também por seu povo. Ele é chamado
nosso Advogado, por dedução, em João 14.16 e, explicitamente, em
1 João 2.2. O termo Advogado [parakletos] significa “alguém que é
chamado a ajudar, um advogado, alguém que defende a causa de
outro”. No Novo Testamento, Cristo é chamado nosso intercessor
(Rm 8.34; Hb 7.25; 9.24; 1Jo 2.1). Sua obra intercessória tem por
base seu sacrifício, e não se acha limitada, como alguns pensam, à
intercessão em oração. Cristo apresenta a Deus seu sacrifício, e
sobre essa base solicita bênçãos espirituais para seu povo, os
defende das acusações de Satanás, da lei e da consciência, obtém
perdão para todas aquelas acusações que são justas, e santifica
sua adoração e serviço pela mediação do Espírito Santo. Sua obra
intercessória é limitada em seu caráter, já que se refere somente
aos eleitos de Deus, porém inclui todos os eleitos, quer já sejam
crentes ou os que vivem ainda em incredulidade, mas que virão a
crer (Jo 17.9, 20).
3. O ministério régio. Como o Filho de Deus, Jesus Cristo
desfruta por natureza do domínio universal de Deus. Em distinção a
este domínio universal, falamos agora da majestade que lhe foi
conferida em seu ministério de Mediador. Esta majestade é de duas
classes: seu domínio espiritual sobre a igreja, e seu domínio sobre o
universo.
3.1. Sua majestade espiritual. A Bíblia nos fala dela em
muitos lugares (Sl 2.6; 132.11; Is 9.6, 7; Mq 5.2; Zc 6.13; Lc 1.33;
19.38; Jo 18.36, 37; At 2.30-36). A majestade de Cristo é sua
soberania régia sobre seu povo. Nós a chamamos espiritual porque
tem a ver com um reino espiritual estabelecido nos corações e vidas
dos crentes, tem fins espirituais, os quais busca, ou, seja, a
salvação dos pecadores; e sua administração é também espiritual
através da Palavra de Deus e do Espírito Santo. Seu exercício
abarca o congregamento, o governo, a proteção e aperfeiçoamento
da igreja. Tanto este governo quanto os limites do mesmo recebem,
no Novo Testamento, os nomes reino de Deus e reino dos céus. Em
seu sentido estrito, somente os crentes, membros da igreja invisível,
são cidadãos deste reino. No entanto, o termo reino de Deus às
vezes é usado num sentido mais amplo, incluindo todos os que
vivem onde o evangelho é proclamado, todos aqueles que ocupam
um lugar na igreja visível (Mt 13.24-30, 47-50). O reino de Deus, por
um lado, é uma realidade espiritual e presente nos corações e vidas
dos homens (Mt 12.28; Lc 17.21; Cl 1.18); por outro lado, é também
uma esperança futura, que terá lugar até a segunda vinda de Cristo
(Mt 7.21; Lc 22.29; 1Co 15.20; 2Tm 4.18; 2Pe 1.11). Este reino
futuro será, em sua essência, o mesmo reino que o atual, ou, seja, o
governo de Deus estabelecido e reconhecido nos corações dos
homens. Mesmo assim será diferente, já que será um reino visível e
perfeito. Há quem opine dizendo que o reino de Cristo cessará em
sua segunda vinda, mas a Bíblia nos diz mui claramente que o reino
de Cristo é eterno (Sl 45.6; 72.17; 89.36, 37; Is 9.6; Dn 2.44; 2Sm
7.13, 16; Lc 1.33; 2Pe 1.11).
3.2. Seu domínio universal. Depois de sua ressurreição,
Cristo disse a seus discípulos: “Toda autoridade me é dada no céu e
na terra” (Mt 28.18). Esta mesma verdade se repete em 1 Coríntios
15.27 e Efésios 1.20-22. Esta autoridade não deve ser confundida
com a majestade original de Cristo como Filho de Deus, ainda que
tenha a ver com o mesmo domínio. Esta autoridade dada a Cristo
tem a ver com aquela majestade concedida a ele em sua
capacidade de Mediador da igreja. É como Mediador que Cristo
agora guia o destino dos indivíduos e das nações e controla a vida
do mundo inteiro e a faz sujeita a seus propósitos redentores.
Portanto, ele protege a igreja dos perigos a que se acha exposta no
mundo. Esta majestade de Cristo continuará até que ele tenha
alcançado plena vitória sobre todos os inimigos do reino de Deus.
Quando tal obra for levada à completude, então Cristo devolverá
esta majestade ao Pai (1Co 15.24-28).

Para memorização. Passagens que demonstram:


1. Cristo em seu ministério profético:

Dt 18.18. “Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos,


semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e ele lhes
falará tudo o que eu lhe ordenar.”

Lc 7.16. “Todos ficaram possuídos de temor e glorificavam a Deus,


dizendo: Grande profeta se levantou entre nós; e: Deus visitou o seu
povo.”

2. Cristo em seu ministério sacerdotal:

Sl 110.4. “O S jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote


para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.”

Hb 3.1. “Por isso, santos irmãos, que participais da vocação


celestial, considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da
nossa confissão, Jesus.”
Hb 4.14. “Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo
sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa
confissão.”

3. Suas características sacerdotais:

Hb 5.1, 5. “Porque todo sumo sacerdote, sendo tomado dentre os


homens, é constituído nas coisas concernentes a Deus, a favor dos
homens, para oferecer tanto dons como sacrifícios pelos pecados.” “
Assim, também Cristo a si mesmo não se glorificou para se tornar
sumo sacerdote, mas o glorificou aquele que lhe disse: Tu és meu
Filho, eu hoje te gerei.”

4. Seu sacrifício:

Is 53.5. “Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e


moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava
sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.”

Jo 1.29. “No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para ele, e
disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!”

1Pe 2.24. “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro,


os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos
para a justiça; por suas chagas, fostes sarados.”
1Jo 2.2. “E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não
somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro.”

5. Sua obra intercessória:

Rm 8.34. “E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não


somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro.”

Hb 7.25. “Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se
chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.”

1Jo 2.1. “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não
pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai,
Jesus Cristo, o Justo.”

6. Cristo como rei de Sião:

Sl 2.6. “Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte
Sião.”

Is 9.7. “Para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim
sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o
firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O
zelo do S dos Exércitos fará isto.”

Lc 1.32, 33. “Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo;


Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para
sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim.g”

7. Cristo como rei do universo:

Mt 28.18. “Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a


autoridade me foi dada no céu e na terra.”

Ef 1.22. “E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o


cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja.”

1Co 15.25. “Porque convém que ele reine até que haja posto todos
os inimigos debaixo dos pés.”

Para estudo adicional:

1. O que nos ensinam as passagens sobre a natureza da obra de


Cristo como profeta? (Êx 7.1; Dt 18.18; Ez 3.17).

2. Que tipos de Cristo nos são indicados no Antigo Testamento? (Jo


1.29; 1Co 5.7; Hb 3.1; 4.14; 8.3-5; 9.13, 14; 10.1-14; 13.11, 12).

3. Que ensinos aprendemos sobre o reino de Deus? (Jo 3.3, 5;


18.36, 37; Rm 14.17; 1Co 4.20).

P
1. Que tríplice ministério o Senhor Jesus Cristo exerce?
2. Que é um profeta e que provas temos de que Cristo era
profeta?
3. Em que sentido Cristo foi profeta nos diferentes períodos
da história?
4. Que distinção existe entre um sacerdote e um profeta? Em
que diferem?
5. Que provas bíblicas temos sobre o ministério de Cristo
como sacerdote?
6. Quais são as características de um sacerdote?
7. Qual foi a natureza do sacrifício de Cristo?
8. Em que sentido ele já foi antecipado no Antigo
Testamento?
9. Em que consiste a obra intercessória de Cristo?
10. Por quem Cristo intercede?
11. Que significa a majestade espiritual de Cristo?
12. Quais são os limites de seu reino?
13. Qual é a relação entre o reinado presente e o reinado
futuro de Cristo?
14. Quanto tempo durará seu reino espiritual?
15. Qual é a natureza e propósito de seu reino espiritual?
16. Quanto tempo durará?
CAPÍTULO XVII: A REDENÇÃO
REALIZADA POR CRISTO
1. A causa eficiente e a necessidade da redenção. Com
frequência tem-se apresentado o amor de Cristo pelos pecadores
como a causa ou motivo da redenção. Tem-se afirmado que Deus,
em sua ira, decidiu a destruição do pecador, e que um Cristo
amoroso interveio para salvar o culpado. Desta forma Cristo recebe
toda a honra, e o Pai é desprovido do que lhe pertence. A Bíblia nos
ensina que a redenção tem sua causa efetiva no livre-arbítrio divino
(Is 53.10; Lc 2.14; Ef 1.6-20). É muito mais apropriado dizer que a
redenção se fundamenta no amor e na justiça de Deus. O amor
ofereceu aos pecadores um caminho de salvação, e a justiça exigiu
que se cumprissem os pré-requisitos da lei (Jo 3.16; Rm 3.24-26).
Há quem negue a necessidade da redenção e afirme que Deus
poderia perdoar o pecador sem receber qualquer satisfação. A
Bíblia ensina, ao contrário, que um Deus justo e santo não poderia
deixar impune o pecado, mas tinha de agir contra ele (Êx 20.5; 23.7;
Sl 5.5, 6; Na 1.2; Rm 1.18, 32). Deus pronunciou uma sentença de
morte sobre o pecador (Gn 3.3; Rm 6.23).
2. A natureza da redenção. A redenção teve um duplo
propósito.
2.1. Dar satisfação a Deus. Tem-se afirmado com frequência
que o propósito essencial, porém exclusivo, da redenção foi
despertar o pecador, influenciá-lo e volvê-lo para Deus. Mas tal ideia
é errônea, porque, se uma pessoa ofende outra, deve-se fazer
restituição não à pessoa do ofensor, mas do ofendido. Isto significa
que o propósito primordial foi reconciliar Deus com o pecador. A
reconciliação do pecador com Deus pode ser descrita como um
segundo propósito.
2.2. Foi uma redenção mediante substituição. Deus poderia
ter exigido do pecador uma expiação pessoal, mas este não teria
sido capaz de oferecê-la. Em vista disso, Deus ordenou que Cristo
tomasse o lugar do pecador como seu vigário ou substituto. Cristo,
como nosso representante, expiou o pecado da humanidade, levou
sobre si a pena do pecado e cumpriu todos os requerimentos da lei.
Por essa razão, falamos da redenção como sendo um sacrifício
vicário ou por substituição. Neste caso, o ofendido, Deus mesmo,
proveu a expiação. Os sacrifícios veterotestamentários eram apenas
figura da obra redentora de Cristo que havia de ser feita (Lv 1.4;
4.20, 31, 35; 5.10, 16; 6.7; 17.11). Sabemos que nossos pecados
foram levados sobre Cristo (Is 53.6), que ele os carregou sobre si
(Jo 1.29; Hb 9.28) e deu sua vida pelos pecadores (Mc 10.45; Gl
1.4; 1Pe 3.18).
2.3. Compreendia a obediência passiva e ativa de Cristo.
Costuma-se distinguir um duplo aspecto da obediência de Cristo.
Sua obediência ativa se compõe de tudo o que Cristo fez para
cumprir a lei em lugar dos pecadores como condição para se obter a
vida eterna. Sua obediência passiva é tudo o que ele sofreu ao
pagar a pena do pecado e a dívida de seu povo. Ainda que
distingamos estes dois aspectos da obediência de Cristo, jamais
devemos separá-los de forma absoluta. Cristo se manifestou, em
atividade, através de seus sofrimentos; e, em passividade, ao se
submeter à lei. As Escrituras nos ensinam que ele recebeu em si o
castigo da lei (Is 53.8; Rm 4.25; Gl 3.13; 1Pe 2.24) e assim mereceu
pelo pecador a vida eterna (Rm 8.4; 10.4; 2Co 5.21; Gl 4.4-7).
3. O alcance da redenção. Os romanistas, luteranos e
arminianos de todas as classes descrevem a redenção de Cristo
como sendo de caráter universal. Isto não significa que todos os
homens serão salvos, mas que Cristo sofreu e morreu com o
propósito de salvar a todos sem qualquer exceção. Ao mesmo
tempo admitem que a eficácia desejada em tal sacrifício não foi
alcançada. Cristo não chegou a salvar a todos, mas tornou a
salvação possível a todos, e a redenção é então condicionada a sua
própria eleição e arbítrio. As igrejas reformadas creem que a
redenção é limitada. Cristo sofreu e morreu unicamente com o
propósito de salvar os eleitos, e este propósito é realmente
alcançado. Cristo não só tornou possível a salvação, mas também
salva completamente aqueles pelos quais ele deu sua vida (Lc 9.10;
Rm 5.10; 2Co 5.21; Gl 1.4; Ef 1.7). A Bíblia indica claramente que
Cristo deu sua vida por seu povo (Mt 1.21), por suas ovelhas (Jo
10.11, 15), pela igreja (At 10.28; Ef 5.25-27), ou pelos eleitos (Rm
8.32-35). Se a Bíblia às vezes diz que Cristo morreu pelo mundo (Jo
1.29; 1Jo 2.2; 4.14), ou por todos (1Tm 2.6; Tt 2.11; Hb 2.9), é
evidente que ela quer significar que ele morreu por pessoas de
todas as nações do mundo, ou (em alguns casos) por toda e
qualquer classe de pessoas.

Para memorização. Passagens relevantes sobre:


1. A causa da redenção:

Is 53.10. “Todavia, ao S agradou moê-lo, fazendo-o enfermar;


quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua
posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do S
prosperará nas suas mãos.”

Cl 1.19, 20. “Porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a


plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por
meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre
a terra, quer nos céus.”

2. A redenção por substituição:

Is 53.6. “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada


um se desviava pelo caminho, mas o S fez cair sobre ele a
iniquidade de nós todos.”

Mc 10.45. “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser


servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.”
2Co 5.21. “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por
nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.”

1Pe 2.24. “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro,


os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos
para a justiça; por suas chagas, fostes sarados.”

3. A obediência ativa e o dom da vida eterna:

Mt 3.15. “Mas Jesus lhe respondeu: Deixa por enquanto, porque,


assim, nos convém cumprir toda a justiça. Então, ele o admitiu.”

Mt 5.17. “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim
para revogar, vim para cumprir.”

Gl 4.4, 5. “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu


Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que
estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos.”

Jo 10.28. “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém


as arrebatará da minha mão.”

Rm 6.23. “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito


de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.”

4. A redenção limitada:
Mt 1.21. “Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus,
porque ele salvará o seu povo dos pecados deles.”

Jo 10.26-28. “Mas vós não credes, porque não sois das minhas
ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e
elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e
ninguém as arrebatará da minha mão.”

At 20.28. “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o


Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de
Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue.”

Para estudo adicional:

1. Que diferença existe entre a redenção e a reconciliação?

2. Como certas passagens provam a natureza vicária dos sacrifícios


veterotestamentários? (Lv 1.4; 3.2; 4.15; 16.21, 22).

3. O que João 17.9 nos ensina sobre a extensão da obra redentora


de Cristo?

P
1. Qual foi a causa motriz da redenção?
2. Por que a redenção se fez necessária?
3. Qual foi o propósito primordial da redenção?
4. Que diferença há entre a redenção pessoal e por
substituição?
5. Como a redenção foi tipificada no Antigo Testamento pela
substituição de Cristo?
6. Que provas temos disto nas Escrituras?
7. Que diferença há entre a obediência ativa e passiva de
Cristo?
8. Qual é o efeito de cada uma delas?
A DOUTRINA DA OBRA REDENTORA E
SEUS EFEITOS
CAPÍTULO XVIII: DOUTRINA DA
APLICAÇÃO
DA OBRA REDENTORA
A operação comum do Espírito Santo: graça comum.
O estudo da obra redentora realizada por Cristo é seguido,
naturalmente, por uma discussão sobre a aplicação desta redenção
nos corações e vidas dos pecadores mediante a operação especial
do Espírito Santo. Antes disso, trataremos, num breve capítulo, das
operações gerais do Espírito Santo, tal como se pode ver na graça
comum.
1. Natureza da graça comum. Quando falamos da graça
comum, queremos dizer duas coisas: (a) as operações do Espírito
Santo, pelas quais, sem renovar o coração, ele exerce tal influência
moral no homem, que restringe o pecado, mantém a ordem na vida
social e promove a justiça civil; ou (b) as bênçãos gerais que Deus
comunica a todos os homens, sem qualquer distinção, como bem
lhe agrada. Em distinção dos arminianos, mantemos que a graça
comum não capacita o pecador a realizar qualquer bem espiritual,
nem tampouco a voltar-se para Deus com fé e arrependimento. Ela
pode ser resistida pelo homem, e é sempre resistida, em maior ou
menor grau; não afeta mais que o aspecto externo da vida social,
civil, moral e religiosa. Ainda quando Cristo morreu com o único
propósito de salvar os eleitos, no entanto toda a raça humana,
inclusive os impenitentes e os réprobos, derivam grandes benefícios
de sua morte. As bênçãos da graça comum podem ser
consideradas como um resultado indireto da obra expiatória de
Cristo.
2. Meios da graça comum. É possível distinguirmos vários
meios: (a) O mais importante de todos é a luz da revelação divina
em geral. Sem este, todos os demais meios de graça seriam
impossíveis e ineficazes. Ela ilumina a todos os homens e serve de
guia à consciência natural. (b) Os governos humanos também
servem a este propósito. Segundo nossa Confissão de Fé de
Westminster, eles são instituídos para refrear as tendências para o
mal e promover a boa ordem e a decência. (c) A opinião pública é
também um bom meio na medida em que esteja em harmonia com
a lei de Deus. Exerce uma profunda influência sobre os homens
sensíveis para o juízo da opinião pública. (d) Finalmente, o castigo e
a recompensa divinos servem também para manter a boa moral no
mundo. Com frequência, os castigos refreiam os feitos pecaminosos
dos homens, e as recompensas lhes impulsionam a fazer o que é
bom e justo.
3. Efeitos da graça comum. Os seguintes efeitos podem ser
atribuídos à operação da graça comum: (a) O aprazamento da
execução da sentença de morte no homem. Deus não executou a
sentença de morte contra o pecador imediatamente, mas lhe deu
tempo para o arrependimento (Rm 2.4; 2Pe 3.9). (b) O pecado é
refreado na vida dos indivíduos e das nações. A corrupção que
entrou na vida humana pelo pecado é restringida e não se lhe
permite completar sua obra destruidora (Gn 20.6; 31.7; Jó 1.12; 2.6).
(c) O homem ainda possui algo do senso da verdade, da moralidade
e certas formas de religião (Rm 2.14, 15; At 17.22). (d) O homem
natural ainda é capaz de realizar o bem natural ou a justiça civil,
obras que externamente estão em harmonia com a lei divina, a
despeito de que são destituídas de valor espiritual (2Rs 10.29, 30;
12.2; 14.3; Lc 6.33). (e) Todos os homens recebem de Deus
numerosas bênçãos imerecidas (Sl 145.9, 15, 16; Mt 5.44, 45; Lc
6.35, 36; At 14.16, 17; 1Tm 4.10).

Para memorização. Passagens que provam:


1. A luta geral do Espírito Santo com os homens:

Gn 6.3. “Então, disse o S : O meu Espírito não agirá para


sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e
vinte anos.”

Is 63.10. “Mas eles foram rebeldes e contristaram o seu Espírito


Santo, pelo que se lhes tornou em inimigo e ele mesmo pelejou
contra eles.”
Rm 1.28. “E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o
próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para
praticarem coisas inconvenientes.”

2. A restrição do pecado:

Gn 20.6. “Respondeu-lhe Deus em sonho: Bem sei que com


sinceridade de coração fizeste isso; daí o ter impedido eu de
pecares contra mim e não te permiti que a tocasses.”

Sl 105.14. “A ninguém permitiu que os oprimisse; antes, por amor


deles, repreendeu a reis.”

3. Boas obras da parte do não-regenerado:

2Rs 10.30. “Pelo que disse o S a Jeú: Porquanto bem


executaste o que é reto perante mim e fizeste à casa de Acabe
segundo tudo quanto era do meu propósito, teus filhos até à quarta
geração se assentarão no trono de Israel.”

Lc 6.33. “Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, qual é a
vossa recompensa? Até os pecadores fazem isso.”

Rm 2.14, 15. “Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem,
por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles
de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no
seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus
pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se.”

4. Bênçãos imerecidas a todos os homens:

Sl 145.9. “O S é bom para todos, e as suas ternas


misericórdias permeiam todas as suas obras.”

Mt 5.44, 45. “Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai
pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai
celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir
chuvas sobre justos e injustos.”

1Tm 4.10. “Ora, é para esse fim que labutamos e nos esforçamos
sobremodo, porquanto temos posto a nossa esperança no Deus
vivo, Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis.”

Para estudo adicional:

1. Quais são os três aspectos da graça comum sobre os quais


nossa igreja põe ênfase especial?

2. Como Mateus 21.26, 46 e Marcos 14.2 mostram a influência


restringente da opinião pública?

3. Como Romanos 1.24, 26, 28 e Hebreus 6.4-6 provam a graça


comum?
P

1. Que é graça comum?


2. Em que nosso ponto de vista se distingue daquele dos
arminianos?
3. A graça comum tem algum efeito salvífico ou espiritual?
4. Ela está de algum modo conectada com a obra redentora
de Cristo?
5. Por quais meios a graça comum opera?
CAPÍTULO XIX: VOCAÇÃO E
REGENERAÇÃO
1. A vocação. A vocação pode ser em geral definida como o
ato da graça de Deus pelo qual ele convida os pecadores a
aceitarem a salvação que é oferecida em Jesus Cristo. Pode ser
tanto interna como externa.
1.1. A vocação externa. A Bíblia fala ou se refere a esta em
várias passagens (Mt 28.19; 24.14; Lc 14.16-24; At 13.46; 2Ts 1.8;
Jo 5.10). Consiste na apresentação e oferecimento da salvação em
Cristo aos pecadores, juntamente com uma terna exortação à
aceitação de Cristo mediante a fé para a obtenção do perdão dos
pecados e a vida eterna. Segundo esta definição, ela contém três
elementos chamados (a) uma apresentação dos feitos e ideias do
evangelho; (b) um convite ao arrependimento e à fé em Jesus
Cristo; (c) uma promessa de perdão e salvação. A promessa é
sempre condicional: só se pode esperar seu cumprimento mediante
fé e arrependimento genuínos.
1.2. A vocação universal. A vocação externa é universal no
sentido em que vem a todos os homens a quem se prega o
evangelho. Não se limita a nenhuma idade nem nação nem a
qualquer classe de homens e é feita ao degenerado do mesmo
modo que é feita ao eleito (Is 45.22; 55.1; Ez 3.19; Jl 2.32; Mt 22.2-
8, 14; Ap 2.17). Naturalmente, esta vocação, por vir de Deus, é de
grande significação. Na realidade ele chama os pecadores, deseja
ternamente que aceitem o convite e com toda sinceridade promete
vida eterna aos que se arrependem e creem.
1.3. A vocação formal (Nm 23.19; Sl 81.13-16; Pv 1.24; Is
1.18-20; Ez 18.23; 33.11; Mt 23.33; 2Tm 2.13). Na vocação externa,
Deus mantém sua exigência ao pecador. Se a pessoa não aceita o
chamado, então também rejeita a exigência divina e assim aumenta
sua culpa. Este é também o meio designado pelo qual Deus
congrega os eleitos de todas as nações da terra (Rm 10.14-17) e
deve ser considerado como uma bênção para os pecadores, ainda
que pode vir a ser uma terrível maldição (Is 1.18-20; Ez 3.18, 19;
Am 8.11; Mt 11.20-24; 23.37). Finalmente, ela serve também para
justificar a condenação dos pecadores. Caso desprezem o
oferecimento da salvação, sua culpa se torna ainda mais clara (Jo
5.39, 40; Rm 3.5-6-19).
1.4. A vocação interna. Ainda que distingamos dois aspectos
na vocação divina, ela é realmente una. A vocação interior outra
coisa não é senão a vocação externa efetivada pela operação do
Espírito Santo. Ela sempre se dirige ao pecador através da Palavra
de Deus, cuidadosamente aplicada pela operação do Espírito Santo
(1Co 1.23, 24). Em distinção da vocação externa, ela é um chamado
poderoso, cujo resultado é a salvação eterna (At 13.48; 1Co 1.23,
24). Além disso, ela é uma vocação sem arrependimento ou
mudança de atitude da parte de Deus, e nunca é eliminada de nós
(Rm 11.29). A pessoa chamada será salva com toda certeza. O
Espírito opera mediante a pregação da Palavra de Deus,
persuadindo de um modo eficaz; portanto, a pessoa chamada
atende a voz de seu Deus. Ela se dirige à boa compreensão do
ouvinte, que é iluminada pelo Espírito Santo para que o indivíduo
esteja ciente dela. Sempre encaminha a um final infalível.
É um chamado à comunhão com Jesus Cristo (1Co 1.9); à
benção herdada (1Pe 3.9); à liberdade (Gl 5.13); à paz (1Co 7.13); à
santidade (1Ts 4.7); à esperança (Ef 4.4); à vida eterna (1Tm 6.12) e
ao reino e glória de Deus (1Ts 2.12).
2. A regeneração. A vocação divina e a regeneração
coexistem mútua e intimamente. Com respeito à regeneração, há
várias questões dignas de nota: 2.1. Sua natureza. A palavra
regeneração não é usada sempre no mesmo sentido. Nossa
Confissão de Fé a usa em um sentido bem amplo, o qual inclui até
mesmo a conversão. Neste ponto de nosso estudo, ela tem um
significado mais estrito e denota o feito divino pelo qual se implanta
no homem o princípio da nova vida, o qual governa a disposição da
alma santificada. Em seu sentido mais amplo, ela designa também o
novo nascimento, ou, seja, a primeira manifestação da nova vida. É
uma mudança fundamental na vida e no governo da alma, portanto
afeta o homem por inteiro (1Co 2.14; 2Co 4.6; Fp 2.13; 1Pe 1.8), a
qual é efetuada num só instante, e não mediante um processo
gradual, como a santificação. É através dela que passamos da
morte para a vida (1Jo 3.14). É uma obra secreta e inescrutável de
Deus que jamais é percebida diretamente pelo homem, mas que
pode ser conhecida somente por seus efeitos.
2.2. Seu autor. Deus é o Autor da regeneração. A Escritura a
apresenta como obra do Espírito Santo (1Jo 1.3; At 16.14; Jo 3.5-8).
Em contraste com os arminianos, afirmamos que ela é uma obra
exclusiva do Espírito Santo, e não parcialmente uma obra também
do homem. Na obra de regeneração não há qualquer cooperação
entre o homem e Deus, como ocorre na conversão. A regeneração,
no sentido mais estrito do termo, é a implantação da nova vida na
alma, por isso é uma obra direta e imediata do Espírito Santo. É
uma obra criativa, um milagre divino, pelo qual o evangelho não
pode ser usado como instrumento neste sentido. É verdade que
Tiago (1.18) e Pedro (1.23) parecem provar que a pregação do
evangelho é usada como instrumento na regeneração, mas estas
passagens se referem à regeneração em um sentido mais amplo,
incluindo o novo nascimento e seus frutos. Neste sentido mais
inclusivo, a regeneração é sem dúvida efetuada pela
instrumentalidade da Palavra.
2.3. Seu lugar e necessidade na ordem da salvação. A
Escritura não deixa dúvida quanto à necessidade absoluta da
regeneração, antes a afirma em termos os mais claros (Jo 3.3, 5, 7;
1Co 2.14; Gl 6.15). Isto se deduz do fato de que somos por natureza
mortos em nossas culpas e pecados, e devemos ser dotados com
uma nova vida espiritual para podermos desfrutar do favor divino e
da comunhão com Deus. A questão que às vezes se suscita é esta:
o que vem primeiro, a vocação ou a regeneração? É possível dizer
que no caso dos adultos a vocação externa precede ou coincide
com a regeneração, no sentido mais estrito. A regeneração, como
implantação da nova vida, precede à vocação interna, mas a
vocação interna precede a regeneração em seu sentido mais amplo,
ou, seja, no novo nascimento. Encontramos esta ordem indicada no
caso da conversão de Lídia (At 16.14). “Certa mulher, chamada
Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus,
nos escutava [vocação externa]; o Senhor lhe abriu o coração
[regeneração em seu sentido estrito] para atender [vocação interna]
às coisas que Paulo dizia.”
Parar memorização. Passagens que provam:
1. A vocação externa:

Mc 16.15, 15. “E disselhes: Ide por todo o mundo e pregai o


evangelho a toda criatura.”

Mt 22.14. “Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos.”

At 13.46. “Então, Paulo e Barnabé, falando ousadamente, disseram:


Cumpria que a vós outros, em primeiro lugar, fosse pregada a
palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós mesmos vos
julgais indignos da vida eterna, eis aí que nos volvemos para os
gentios.”

2. A vocação dos réprobos:

Pv 1.24-26. “Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a


mão, e não houve quem atendesse; antes, rejeitastes todo o meu
conselho e não quisestes a minha repreensão; também eu me rirei
na vossa desventura, e, em vindo o vosso terror, eu zombarei.”

1Pe 3.19, 20. “No qual também foi e pregou aos espíritos em prisão,
os quais, noutro tempo, foram desobedientes quando a
longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé, enquanto se
preparava a arca, na qual poucos, a saber, oito pessoas, foram
salvos, através da água.”
Lc 16.24. “Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de
mim! E manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me
refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama.”

3. A seriedade desta vocação:

Pv 1.24-26. “Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a


mão, e não houve quem atendesse; antes, rejeitastes todo o meu
conselho e não quisestes a minha repreensão; também eu me rirei
na vossa desventura, e, em vindo o vosso terror, eu zombarei.”

Ez 18.23, 32. “Acaso, tenho eu prazer na morte do perverso? — diz


o S Deus; não desejo eu, antes, que ele se converta dos
seus caminhos e viva?… Porque não tenho prazer na morte de
ninguém, diz o S Deus. Portanto, convertei-vos e vivei.”

Mt 23.37. “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas


os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus
filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e
vós não o quisestes!”

4. A necessidade da regeneração:

Jr 13.23. “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as


suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados
a fazer o mal.”
Jo 3.3, 7. “A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo
que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de
Deus… Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo.”

5. A Palavra de Deus e a regeneração:

Tg 1.18. “Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da
verdade, para que fôssemos como que primícias das suas
criaturas.”

1Pe 1.23. “Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas


de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é
permanente.”

Para estudo adicional:

1. A vocação é obra de uma pessoa da Trindade, ou das três? (1Co


1.9; 1Ts 2.12; Mt 11.28; Lc 5.32; Mt 10.20; At 5.31, 32).

2. A palavra regeneração é empregada na Bíblia? (Tt 3.5; Jo 3.5, 7,


8; 2Co 5.17; Ef 2.5; Cl 2.13; Tg 1.18; 1Pe 1.23).

3. O texto de Tito 3.5 prova que somos regenerados pelo batismo?


Caso a resposta seja sim, como você o explicaria?

1. Que queremos dizer com a palavra vocação?


2. Em que se distinguem a vocação interna e a externa?
3. Que elementos estão inclusos na vocação externa?
4. Em que sentido ela é universal?
5. Qual é seu propósito?
6. Como a vocação interna e a externa se relacionam?
7. Temos consciência desta operação?
8. A que fim se dirige?
9. Que diversos significados a palavra regeneração possui?
10. Qual é seu sentido mais restrito?
11. Qual é a natureza da mudança operada na regeneração?
12. A regeneração é obra exclusiva de Deus, ou de Deus e
do homem?
13. A Palavra de Deus é usada como instrumento na
regeneração?
14. A regeneração é absolutamente necessária? Você pode
prová-lo?
15. Qual é a ordem da vocação e da regeneração?
CAPÍTULO XX: CONVERSÃO,
ARREPENDIMENTO E FÉ
Quando a mudança operada na regeneração começa a
manifestar-se na vida consciente, denominamos tal mudança de
conversão.
1. A conversão em geral. A Bíblia nem sempre fala da
conversão no mesmo sentido. A conversão à qual nos referimos
aqui pode ser definida como o ato divino pelo qual Deus faz o
regenerado volver-se para ele de um modo consciente, com
arrependimento e fé. Por esta definição já se percebe que Deus é o
autor da conversão. Isto é claramente ensinado na Escritura (At
11.18; 2Tm 2.25). A nova vida oriunda da regeneração por si só não
opera uma mudança consciente de vida, mas apenas por meio de
uma obra especial do Espírito Santo (Jo 6.44; Fp 2.13). Mas,
enquanto na regeneração é somente Deus quem opera e o homem
é meramente passivo, na conversão a pessoa regenerada é
intimada a cooperar (Is 56.7; Jr 18.11; At 2.38; 17.30). No entanto,
mesmo neste caso o homem só pode agir pelo poder que Deus lhe
comunica. Como ocorre na regeneração, a conversão consiste
também numa mudança momentânea, e não num processo como
se dá na santificação; porém difere da regeneração neste aspecto:
em que é uma mudança consciente, e não inconsciente. Ainda
quando a conversão seja indispensável em todos os adultos (Ez
30.3, 11; Mt 18.3), não é necessário que apareça na vida de cada
um destes como um impacto ou crise existencial extraordinária e
notável.
A Bíblia menciona casos de conversão, como os seguintes:
de Naamã (2Rs 5.15); de Manassés (2Cr 33.12, 13); de Zaqueu (Lc
19.8); do eunuco etíope (At 8.30); de Cornélio (At 10.44); de Paulo
(At 9.5); de Lídia (At 16.14); do carcereiro filipense (At 16.30-34),
entre outros. Mas também se fala de conversões nacionais, como
em Jonas 3.10, que foi uma conversão temporária, sem mudança de
coração (cf. Mt 13.20, 21; 1Tm 1.19, 20; 2Tm 4.10; Hb 6.4, 6). Daí,
em Lucas 22.32; Apocalipse 2.5, 16, 21, 22; 3.3, 19 se mencionam
conversões repetidas. Mas não são repetições da conversão no
sentido estrito da palavra, já que esta não admite repetição, mas
uma atividade reanimada da nova vida, depois de haver sofrido um
eclipse. A conversão compreende dois elementos, um positivo e
outro negativo, os quais se chamam arrependimento e fé, e que
merecem discussão em separado.
2. Arrependimento: elemento negativo da conversão. Este
tem a ver com o passado, e pode ser definido como a mudança
operada na vida consciente do pecador, mediante o qual este se
afasta do pecado. Este inclui três partes: (a) o elemento intelectual,
que é uma visão da vida vivida em pecado, inclusive a culpa
pessoal, contaminação e impotência; (b) o elemento emocional, que
é um sentimento de tristeza pelo pecado cometido contra o Deus
santo e justo; (c) o elemento volitivo ou voluntário, que consiste
numa mudança de propósito, mediante o repúdio interior do pecado,
acompanhado da disposição de buscar perdão e purificação (Rm
30.20; 2Co 7.9, 10; Rm 2.4). Esta atitude é operada principalmente
pela lei de Deus. Os romanistas têm um conceito interno de
arrependimento. Segundo eles, compreende a dor, não pelo pecado
interior, mas pelas transgressões pessoais, que podem ser
simplesmente temor do castigo eterno, e o remédio para isso
consiste em confissão ao sacerdote, o qual pode perdoar pecados
― segundo eles ―, e uma certa medida de satisfação por meio de
feitos externos, como penitências, jejuns, açoites, peregrinações etc.
Em contrapartida, a Bíblia considera o arrependimento como um ato
totalmente interior, como uma dor real em decorrência do pecado, o
que não se deve confundir com a resultante mudança de vida.
3. Elemento positivo da conversão. Mediante o
arrependimento, a fé olha para o futuro.
3.1. Diferentes classes de fé. A Bíblia nem sempre fala da fé
no mesmo sentido. Ela fala da fé histórica, que consiste numa
aceitação intelectual da veracidade das Escrituras, sem qualquer
resposta moral ou espiritual. Esta classe de fé não tem real
interesse pela verdade, nem a leva a sério (At 26.27, 28; Tg 2.19).
Também se fala da fé temporal, a qual abraça as verdades da
religião por um impulso da consciência e uma excitação dos afetos,
porém não está arraigada num coração regenerado. Chama-se fé
temporal (Mt 13.20, 21), porque não tem um caráter permanente e
não persiste quando vem a provação e perseguição (cf. Hb 6.4, 6;
1Tm 1.19, 20; 1Jo 2.19). Menciona-se ainda uma fé milagrosa, ou,
seja, a convicção que uma pessoa tem de que ocorrerá um milagre
a seu favor (Mt 8.11, 13; 17.30; Mc 6.17, 18; Jo 11.22, 40; At 14.9).
Esta fé pode ou não ser acompanhada de uma fé verdadeira e
salvífica. Finalmente, a Bíblia não só menciona, mas também
enfatiza a necessidade da fé salvífica, a qual tem sua sede no
coração e se arraiga na vida regenerada. Sua semente é plantada
na regeneração, e floresce na forma de uma fé ativa. Pode ser
definida como uma convicção positiva, operada no coração pelo
Espírito Santo, acerca da veracidade do evangelho, e uma sincera
confiança nas promessas de Deus em Cristo.
3.2. Os elementos da fé. Distinguimos três elementos na fé
salvífica, a saber: a. O elemento intelectual. Há um reconhecimento
positivo da verdade revelada na Palavra de Deus; um discernimento
espiritual que apela ao coração do pecador. É um conhecimento
definido, baseado nas promessas de Deus. Ainda que não necessite
compreender todas as coisas, deve ser suficiente para dar ao crente
alguma ideia das verdades fundamentais do evangelho.
b. O elemento emocional ou do sentimento. Este elemento
não é mencionado separadamente em nosso Catecismo, pois
virtualmente se inclui no conhecimento da fé salvífica. Este
conhecimento se caracteriza em que proporciona uma forte
convicção de sua importância, e isto é o que se chama
assentimento. A verdade se apodera da alma.
c. O elemento volitivo ou da vontade ou confiança. Este é o
que coroa a fé salvífica. É uma confiança pessoal em Cristo como
Salvador e Senhor que inclui a rendição a Cristo feita pela alma
culpada e manchada pelo pecado, e uma plena confiança nele como
única fonte de perdão e vida espiritual. O objeto da fé salvífica é, em
última análise, Jesus Cristo; e nele se baseia toda a esperança de
salvação (Gl 2.16). Esta fé não se origina no ser humano, senão que
é um dom de Deus (1Co 12.8, 9; Gl 5.22; Ef 2.18), porém seu
exercício é um ato humano ao qual os filhos de Deus são exortados
reiteradamente (Rm 10.9; 1Co 2.5; Cl 1.23; 1Tm 1.5; 6.11).
3.3. Segurança da fé. Os metodistas afirmam que o crente
tem certeza de que é filho de Deus, porém isso não significa
salvação infalível, já que se pode cair da graça. O ponto de vista
correto é que a verdadeira fé, incluindo a confiança em Deus, traz o
senso de segurança que pode variar em grau. Esta segurança não é
uma posição permanente do crente; já que este nem sempre vive na
plenitude da vida de fé, e nem sempre desfruta do senso de suas
riquezas espirituais. Pode ser perturbado por duras incertezas, e
portanto é exortado a cultivar sua própria segurança (2Co 13.5; Hb
6.11; 2Pe 1.10; 1Jo 3.19). É possível fazer isso por meio da oração,
da meditação sobre as promessas de Deus e pelo desenvolvimento
de uma genuína vida cristã.

Para memorização. Passagens que demonstram:


1. Que Deus é o autor da conversão:

At 11.18. “E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e


glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por
Deus concedido o arrependimento para vida.”

2Tm 2.25. “Disciplinando com mansidão os que se opõem, na


expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento
para conhecerem plenamente a verdade.”

2. Que o homem coopera em sua conversão:

Is 55.7. “Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus


pensamentos; converta-se ao S , que se compadecerá dele, e
volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar.”
At 17.30. “Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância;
agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se
arrependam.”

3. A necessidade da conversão:

Ez 33.11. “Dize-lhes: Tão certo como eu vivo, diz o S Deus,


não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se
converta do seu caminho e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos
vossos maus caminhos; pois por que haveis de morrer, ó casa de
Israel?”

Mt 18.3. “E disse: Em verdade vos digo que, se não vos


converterdesb e não vos tornardes como crianças, de modo algum
entrareis no reino dos céus.”

At 26.19. “Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão


celestial.”

4. A fé temporal:

Mt 13.20, 21. “O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que


ouve a palavra e a recebe logo, com alegria; mas não tem raiz em si
mesmo, sendo, antes, de pouca duração; em lhe chegando a
angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se
escandaliza.”
1Jo 2.19. “Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos
nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido
conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que
nenhum deles é dos nossos.”

5. A fé milagrosa:

Mt 17.20. “E ele lhes respondeu: Por causa da pequenez da vossa


fé. Pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de
mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele
passará. Nada vos será impossível.”

At 14.9, 10. “Esse homem ouviu falar Paulo, que, fixando nele os
olhos e vendo que possuía fé para ser curado, disselhe em alta voz:
Apruma-te direito sobre os pés! Ele saltou e andava.”

6. Cristo como objeto da fé salvífica:

Jo 3.16. “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o


seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna.”

Jo 6.40. “De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o
Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último
dia.”

Hb 6.11. “Desejamos, porém, continue cada um de vós mostrando,


até ao fim, a mesma diligência para a plena certeza da esperança.”
2Pe 1.10. “Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior,
confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim,
não tropeçareis em tempo algum.”

Para estudo adicional:

1. Que classe de arrependimento se menciona em Mateus 27.3; 2


Coríntios 7.10?

2. Você pode mencionar personagens bíblicos em cujas vidas não


se pode presumir uma conversão em forma de crise proeminente?
(Jr 1.4; Lc 1.5; 2Tm 3.15).

3. Você pode citar algumas das grandes frases bíblicas que


oferecem segurança? (Hb 3.17, 18; 2Co 4.16; 5.1; 2Tm 1.12).

1. Em quantos sentidos distintos a Bíblia fala de conversão?


2. Em quê a conversão temporal se diferencia da repetida?
3. Que é verdadeira conversão? Que elementos inclui?
4. Que elementos o arrependimento inclui?
5. Como os romanistas concebem o arrependimento?
6. Em que a conversão difere da regeneração?
7. Quem é o autor da conversão? O homem coopera com
ela?
8. É sempre necessária uma aguda crise na conversão?
9. De quantas classes diferentes de fé a Bíblia fala?
10. Quais são as características da fé histórica, temporal e
milagrosa?
11. Em que a fé temporal difere da fé salvífica?
12. Que elementos estão inclusos na fé?
13. De quanto conhecimento ela necessita?
14. Qual é o elemento que coroa a fé salvífica?
15. Qual é o objeto da fé salvífica?
16. O cristão possui sempre a certeza da salvação?
17. Como ele pode cultivar essa certeza?
CAPÍTULO XXI: JUSTIFICAÇÃO
1. Natureza e elementos da justificação. A justificação
pode ser definida como o ato legal pelo qual Deus declara justo o
pecador sobre a base da perfeita justiça de Jesus Cristo. Não é um
ato ou processo de renovação, como o são a regeneração, a
conversão e a santificação, e não afeta a condição, mas o estado do
pecador. Ela difere da santificação em vários aspectos: a justificação
se concretiza fora do pecador, diante do tribunal de Deus,
removendo a culpa do pecado, e é um ato completo, de uma vez e
para sempre; enquanto a santificação se concretiza no homem,
removendo a imundícia do pecado, e é um processo contínuo, que
dura a vida inteira. Distinguimos dois elementos na justificação, a
saber: 1.1. O perdão dos pecados sobre a base da justiça de Jesus
Cristo. O perdão concebido se aplica a todos os pecados: passados,
presentes e futuros. Portanto, não pode ser repetido (Sl 103.12; Is
44.22; Rm 5.21; 8.1, 32-34; Hb 10.14). Não significa que não
necessitemos de orar mais pelo perdão, pois a consciência do
pecado fica mais aguda do que nunca, criando o senso de
separação e repulsa ao pecado, e em razão da debilidade humana
se faz necessário buscar reiteradamente a consoladora certeza do
perdão (Sl 25.7; 32.5; 51.1; Mt 6.12; Tg 5.15; 1Jo 1.9).
1.2. A adoção como filhos de Deus. Na justificação, Deus
adota os crentes como seus filhos, os põe na posição de filhos e dá
a todos eles o direito de o chamarem de Pai, inclusive o direito à
herança eterna (Rm 8.17; 1Pe 1.4). Esta adoção legal dos crentes
deve ser distinguida de sua adoção moral mediante a regeneração e
a santificação. O primeiro aspecto se acha definido em João 1.12,
13; e o segundo, em Romanos 8.15, 16. Em Gálatas 4.5 aparece o
primeiro; ambos, em Gálatas 4.5, 6, respectivamente.

2. Quando e como da justificação. A palavra justificação


não é usada no mesmo sentido. Há quem fale de quatro aspectos
da justificação.
2.1. Justificação desde a eternidade.
2.2. Justificação na ressurreição de Cristo.
2.3. Justificação pela fé.
2.4. Justificação pública no juízo final.
Como explicação deste quádruplo aspecto da justificação,
pode-se afirmar que num sentido ideal a justiça de Cristo já se
aplica aos crentes, no conselho da redenção, e portanto é desde a
eternidade; mas não é isto que a Bíblia quer dizer quando fala da
justificação do pecador. Devemos distinguir entre o que foi
decretado no conselho eterno de Deus e o que é concretizado no
curso da história.
Há ainda alguma razão para se falar da justificação na
ressurreição de Cristo. Em certo sentido, pode-se dizer que a
ressurreição foi a justificação de Cristo, a declaração de que sua
obra era perfeita e aceita por Deus, e nele toda a corporação dos
crentes foi justificada. Mas esta é uma transação geral e meramente
objetiva, que não deve ser confundida com a justificação pessoal de
cada pecador. Quando a Bíblia fala da justificação do pecador,
geralmente ela se refere à aplicação subjetiva e pessoal, ou, seja, à
apropriação da graça justificadora de Deus. Geralmente se afirma
que somos justificados pela fé. Significa que ela se concretiza no
momento em que aceitamos a Cristo pela fé. A fé tem sido chamada
o instrumento ou o órgão que se apropria da justificação decretada
por Deus. A fé justifica o pecador quando ele toma posse de Cristo
(Rm 4.5; Gl 2.16).
Devemos precaver-nos contra o erro dos romanistas e dos
arminianos, os quais afirmam que o homem é justificado sobre a
base de sua própria justiça inerente, ou por sua própria fé. Nem a
própria justiça do homem, nem sua própria fé pode ser base de sua
justificação. Esta repousa tão-somente na justiça perfeita de Jesus
Cristo (Rm 3.24; 10.4; 2Co 5.21; Fp 3.9).

3. Têm se apresentado várias objeções a esta doutrina.


Afirma-se que, se o homem é justificado sobre a base dos méritos
de Cristo, então ele não é salvo pela graça. Mas a justificação, com
tudo o que inclui, é uma obra generosa de Deus. É o dom de Cristo.
O fato de Deus nos aplicar sua justiça, e seu modo de tratar os
pecadores como justos, em virtude deste plano de salvação, tudo
isso é graça do princípio ao fim. Afirma-se ainda ser indigno da
pessoa de Deus declarar justos os pecadores. Deus, porém, não
declara que os justificados são por si mesmos justos, mas que são
vestidos com a justiça de Jesus Cristo. Finalmente, afirma-se que
esta doutrina é apropriada para tornar a pessoa indiferente quanto a
sua vida moral. Se são justificados sem levar em conta suas obras,
por que teriam de precaver-se quanto a sua vida moral e sua
piedade? A justificação, porém, põe os fundamentos para uma vida
de comunhão com Cristo e a mais segura garantia para uma vida
realmente santa, e não pode ser indiferente quanto a seus deveres
morais (Rm 3.5-8).

Para memorização. Passagens que demonstram:


1. A justificação em geral:

Rm 3.24. “Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante


a redenção que há em Cristo Jesus.”

2Co 5.21. “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por
nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.”

2. A justificação pela fé, não pelas obras:

Rm 3.28. “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé,


independentemente das obras da lei.”
Rm 4.5. “Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica
o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça.”

Gl 2.16. “Sabendo, contudo, que o homem não é justificado por


obras da leic, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos
crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em
Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será
justificado.”

3. A justificação e o perdão dos pecados:

Sl 32.1, 2. “Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo


pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o S não
atribui iniquidade e em cujo espírito não há dolo.”

At 13.38, 39. “Tomai, pois, irmãos, conhecimento de que se vos


anuncia remissão de pecados por intermédio deste; e, por meio
dele, todo o que crê é justificado de todas as coisas das quais vós
não pudestes ser justificados pela lei de Moisés.”

4. A adoção de filhos e herdeiros da vida eterna:

Jo 1.12. “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de


serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome.”

Gl 4.4, 5. “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu


Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que
estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos.”

5. A justificação baseada na justiça de Cristo:

Rm 3.21, 22. “Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus


testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a
fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que creem; porque
não há distinção.”

Rm 5.18. “Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre
todos os homens para condenação, assim também, por um só ato
de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação
que dá vida.”

Para estudo adicional:

1. Que frutos da justificação são mencionados em Romanos 5.1-5?

2. Tiago ensina que o homem é justificado pelas obras? (Tg 2.25).

3. A que objeções Paulo responde contra a doutrina da justificação


em Romanos 3.5-28?

1. Que é a justificação?
2. Em que ela se distingue da santificação?
3. Que elementos ela compreende?
4. Até onde os pecados são perdoados na justificação?
5. Por que os crentes devem continuar orando pelo perdão?
6. O que a adoção de filhos inclui?
7. Podemos falar de justificação desde a eternidade e
mediante a ressurreição de Cristo?
8. Como a fé se relaciona com a justificação?
9. Qual é o ponto de vista arminiano?
10. Quais as objeções que se apresentam contra esta
doutrina?
11. Como você as responderia?
CAPÍTULO XXII: SANTIFICAÇÃO E
PERSEVERANÇA

A doutrina da justificação conduz naturalmente à doutrina da


santificação. Um coração justificado impõe uma vida de santificação
e consagração ao serviço divino.

1. Natureza e características da santificação. Esta pode


ser definida como a operação do Espírito Santo, que mediante a
graça divina purifica o pecador, renova toda sua natureza segundo a
imagem de Deus e o capacita para a prática das boas obras. Ela
difere da justificação em que se concretiza na vida interior do
homem, e não é um ato legal, e sim uma nova criação. Em termos
gerais, é um processo longo e nunca produz uma perfeição
completa nesta vida. Ainda que decididamente seja uma obra
sobrenatural de Deus, o crente pode e deve cooperar nela mediante
o uso diligente dos meios que Deus pôs a sua disposição (2Co 7.1;
Cl 3.6-14; 1Pe 1.22).
A santificação não consiste numa mera supressão do que já
foi abandonado na regeneração, mas implica fortificar, acrescentar e
intensificar a nova vida. Ela consta de duas partes: a supressão das
contaminações e corrupção da natureza humana (Rm 6.6; Gl 5.24) e
o desenvolvimento gradual da nova vida de consagração a Deus
(Rm 6.4, 5; Cl 2.12; 3.1, 2; Gl 2.19). Posto que ela ocorre no
coração do ser humano, afeta naturalmente toda sua vida (Rm 6.12;
1Co 6.15, 20; 1Ts 5.23).
A mudança que ocorre no homem interior necessariamente
há de produzir uma mudança em sua vida exterior. Que o ser
humano tem de cooperar na obra da santificação, depreende-se das
advertências reiteradas contra o mal e as tentações (Rm 12.9, 16,
17; 1Co 6.9, 10; Gl 5.16-23) e das constantes exortações a uma
vida santa (Mq 6.8; Jo 15.4-7; Rm 8.12, 13; 12.1; Gl 6.7, 8, 15).
2. O caráter imperfeito da santificação nesta vida. Ainda
que a santificação afete todas as partes da pessoa crente, no
entanto o desenvolvimento espiritual dos crentes permanece
imperfeito durante toda sua vida. Temos que lutar contra o pecado
enquanto vivermos (1Rs 8.46; Pv 20.9; Tg 3.2; 1Jo 1.8). A vida do
crente se caracteriza por uma luta constante entre a carne e o
espírito. Inclusive os melhores crentes têm que confessar seus
pecados (Jó 9; 3.20; Sl 32.5; 130.3; Pv 20.9). Em todas estas
citações achamos os crentes orando pelo perdão (Sl 51.1, 2; Dn
9.16), ou exortados a buscá-lo (Mt 6.12, 13; Tg 5.15) e lutando para
alcançar uma perfeição mais profunda (Rm 7.7, 26; Gl 5.17; Fp 3.12,
14). Esta verdade é negada pelos chamados perfeccionistas, os
quais afirmam que o ser humano pode alcançar a santidade plena
nesta vida. Eles se fixam no fato de que a Bíblia ordena aos crentes
que sejam perfeitos (Mt 5.48; 1Pe 1.16; Tg 1.4) e fala de alguns
como já perfeitos (Gn 6.9; Jó 1.8; 1Rs 15.14; Fp 3.15), bem como na
declaração de que aquele que é nascido de Deus não peca (1Jo
3.6, 8, 9, 15, 18). Mas o fato de que temos que nos esforçar para
alcançar a perfeição não prova que alguns já sejam perfeitos. Além
disso, o termo perfeito nem sempre significa uma pessoa
completamente isenta de pecado. Noé, Jó e Asa foram chamados
perfeitos, porém sua história demonstra claramente que não eram
absolutamente sem pecado. E o apóstolo João evidentemente quer
dizer ou que o novo homem não peca, ou que os crentes não vivem
no pecado. Notemos bem que o mesmo declara: “Se dissermos que
não temos pecado, nos enganamos a nós mesmos e não há
verdade em nós” (1Jo 1.8).

3. Santificação e boas obras. A santificação conduz


naturalmente a uma vida de boas obras. Estas podem ser
chamadas os frutos da santificação. Essas obras não são perfeitas
em si mesmas, nem procedem de uma santificação perfeita, mas
fluem do princípio de amor e fé em Deus que existe na alma, de
acordo com uma conformidade consciente com a vontade de Deus
segundo nos foi revelada (Dt 6.2; Mt 7.17, 18; 12.33, 35; Hb 11.6), e
são feitas (1Sm 15.22; Tg 2.8) tendo como objetivo final a glória de
Deus (1Co 10.31; Cl 3.17, 23). Somente os que são regenerados
pelo Espírito de Deus é que podem realizar essas boas obras. No
entanto, não quer dizer que os não-regenerados não podem fazer o
bem em nenhum sentido do termo (2Rs 10.29, 30; 12.2; 14.3; Lc
6.33; Rm 2.14). Em virtude da graça comum de Deus, os não-
regenerados podem realizar obras que estejam externamente em
conformidade com a lei e sirvam a propósitos louváveis; mas estas
obras são sempre radicalmente defeituosas, porque estão
separadas da raiz espiritual do amor a Deus, e não significam uma
obediência interior efetiva à lei divina, nem têm como propósito
primordial a glória de Deus. Em oposição aos romanistas, devemos
sustentar que as boas do crente não são meritórias (Lc 17.9, 10; Ef
2.8-10; Tt 3.5); mesmo quando Deus promete recompensá-las de
maneira rica e generosa (1Co 3.14; Hb 11.26). Em oposição aos
antinomianos [os que pretendem viver sem lei], devemos insistir na
necessidade das boas obras (Cl 1.10; 2Tm 2.21; Tt 2.14; Hb 10.24).

4. A perseverança dos santos. A expressão perseverança


dos santos pressupõe, naturalmente, uma atividade contínua dos
crentes pela qual perseveram no caminho da salvação. Com toda
evidência, contudo, a perseverança a que se refere é menos uma
atividade dos crentes do que uma obra de Deus na qual os crentes
devem participar. Estritamente falando, a certeza da salvação do ser
humano consiste em apoiar-se no fato de que Deus persevera. A
perseverança pode ser definida como a operação contínua do
Espírito Santo no crente por meio da qual a obra da graça divina,
uma vez iniciada no coração, tem seguimento e se completa. Esta
doutrina está claramente ensinada nas Escrituras (Jo 12.28, 29; Rm
11.29; Fp 1.6; 2Ts 3.3; 2Tm 1.12; 4.18) e somente quando cremos
nesta perseverança divina é que nossa vida pode alcançar a
segurança da salvação (Hb 3.14; 6.10; 2Pe 1.10).
Fora dos círculos reformados, esta doutrina não encontra
aceitação. Afirma-se que ela é contrária às Escrituras, as quais nos
advertem contra a apostasia (Hb 2.1; 10.26) e exorta os crentes a
continuarem no caminho da salvação (Mt 24.13; Cl 1.23; Hb 3.14) e
ainda nos apresenta casos de apostasia (1Tm 1.19, 20; 2Tm 2.17,
18; 4.10). Tais exortações e advertências parecem presumir a
possibilidade de queda, e em alguns casos parecem prová-la
plenamente como um fato consumado. Estas advertências, porém,
apenas provam que Deus opera usando meios e quer que a pessoa
coopere na obra da perseverança. Não há prova de que os
apóstatas mencionados na Bíblia realmente eram crentes (Rm 9.6;
1Jo 2.19; Ap 3.1).

Para memorização. Passagens que provam:


1. A santificação como obra de Deus:

1T 5.23. “Não continues a beber somente água; usa um pouco de


vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes
enfermidades.”

Hb 2.11. “Pois, tanto o que santifica como os que são santificados,


todos vêm de um só. Por isso, é que ele não se envergonha de lhes
chamar irmãos.”

2. A cooperação do crente na santificação:

2Co 7.1. “Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos


de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a
nossa santidade no temor de Deus.”

Hb 12.14. “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual


ninguém verá o Senhor.”
3. A mortificação do velho homem:

Rm 6.6. “Sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho
homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos
o pecado como escravos.”

Gl 5.24. “E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as


suas paixões e concupiscências.”

4. A vivificação do novo homem:

Ef 4.24. “E vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em


justiça e retidão procedentes da verdade.”

Cl 3.10. “E vos revestistes do novo homem que se refaz para o


pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou.”

5. Santificação incompleta nesta vida:

Rm 7.18. “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não


habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém,
o efetuá-lo.”

Fp 3.12. “Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a


perfeição, mas prossigo para conquistar aquilo para o que também
fui conquistado por Cristo Jesus.”

6. A natureza das boas obras:

1Sm 15.22. “Porém Samuel disse: Tem, porventura, o Senhor tanto


prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à
sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o
atender, melhor do que a gordura de carneiros.”

1Co 10.31. “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa
qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.”

Hb 11.6. “De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é


necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele
existe e que se torna galardoador dos que o buscam.”

7. A perseverança dos santos:

Jo 10.28, 29. “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e


ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é
maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar.”

2Tm 1.12. “E, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me
envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que
ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia.”
2Tm 4.18. “O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me
levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos
dos séculos. Amém!”

Para estudo adicional:

1. Você consegue extrair alguma conclusão das seguintes


passagens acerca do tempo em que obtemos a santificação
completa? (Fp 3.21; Hb 12.23; Ap 4.5; 21.27).

2. Que partes do ser humano são afetadas pela santificação? (Jr


31.34; Fp 2.13; Gl 5.24; Hb 9.14).

3. Que significa perfeito nas seguintes passagens? (1Co 2.6; 3.1, 2;


Hb 5.14; 2Tm 3.16).

1. Que é santificação e em quê ela difere da justificação?


2. Ela é obra de Deus ou do homem?
3. Quais são as duas partes que constituem a santificação?
4. Que prova existe de que ela é incompleta nesta vida?
5. Quem nega isto e sobre quê base? Como você lhes
responderia?
6. Que são as boas obras no sentido estrito do termo?
7. Até onde uma pessoa não-regenerada pode realizar boas
obras?
8. As boas obras são ou não meritórias?
9. Porventura não lemos que elas serão recompensadas?
10. Em que sentido as boas obras são necessárias?
11. Que significa a perseverança dos santos?
12. Como é possível provar esta doutrina?
A DOUTRINA DA IGREJA E MEIOS DE
GRAÇA
CAPÍTULO XXIII: NATUREZA DA IGREJA
1. Descrição geral da igreja. A palavra primordial usada no
Antigo Testamento para designar o povo de Deus se deriva do verbo
chamar, e no Novo Testamento a palavra empregada para referir-se
à igreja significa chamar para fora. Ambas se referem a uma
assembleia de pessoas chamadas por Deus.
1.1. Significados distintos deste termo no Novo Testamento.
Geralmente indica uma igreja local, quer ou não reunida para o culto
(At 5.11; 11.26; Rm 16.4; 1Co 11.18; 16.1). Às vezes a expressão “a
igreja que está em sua casa” se refere a alguma igreja domiciliar ou
grupo de crentes que se reuniam em lugar privado (Rm 16.5, 23;
1Co 16.19; Cl 4.15); mas, no sentido mais geral, indica todo o corpo
de crentes, no céu e na terra (Ef 1.22; 3.10, 21; 5.23; Cl 1.18-24).
1.2. O sentido do termo igreja. Os romanistas diferem dos
protestantes com respeito à natureza essencial da igreja. Aqueles
creem que ela indica uma organização externa e visível que
consiste dos sacerdotes, juntamente com os bispos, arcebispos,
cardeais e o papa. Os protestantes romperam com este conceito
externo e buscaram o sentido de igreja numa comunhão invisível e
espiritual dos santos. A igreja, em sua natureza essencial, inclui os
crentes de todas as idades e a ninguém mais. É o corpo espiritual
de Jesus Cristo, no qual não há lugar para os não-crentes.

2. Distinções que se aplicam à igreja. Ao falar da igreja em


termos gerais, é necessário considerar algumas distinções.
2.1. A igreja militante e a triunfante. A igreja que existe
atualmente na terra é a militante, porque é chamada e atualmente
se acha empenhada numa guerra santa. A que está no céu é a
triunfante, já que trocou a espada pela palma da vitória.
2.2. A igreja invisível e a visível. Esta distinção se aplica à
mesma igreja que se acha sobre a terra, a qual é invisível no que se
refere a sua natureza espiritual, de modo que é impossível
determinar com exatidão quem lhe pertence ou não. No entanto, ela
se faz visível na profissão de fé e conduta de seus membros; pelo
ministério da Palavra, os sacramentos e em sua organização e
governo externo.

3. A igreja como organismo e como instituição. Esta


distinção se aplica somente à igreja visível. Ela se caracteriza, como
organismo, pela vida de comunhão dos crentes e por sua oposição
ao mundo; como organização, por seus ofícios, administração da
Palavra e dos sacramentos, e por certas formas de governo
eclesiástico.

4. Definições da igreja. A igreja invisível pode ser definida


como a companhia dos eleitos, chamados pelo Espírito de Deus, ou
simplesmente comunhão espiritual dos crentes; e a visível pode ser
definida como a comunidade ou conjunto dos que professam a
mesma e verdadeira fé, juntamente com seus filhos. É preciso ter
em conta que a membresia de uns e de outros não é exatamente
igual.

5. Os atributos e marcas da igreja. Há três atributos da


igreja, e portanto três marcas ou características externas.
5.1. Seus atributos. Estes são três: (1) Sua unidade.
Segundo os romanistas, esta unidade consiste de uma imponente
organização mundial; mas, para os protestantes, é a unidade
espiritual do corpo de Jesus Cristo. (2) Sua santidade. Os
romanistas fazem a santidade da igreja consistir em seus santos
dogmas, seus preceitos morais, seu culto e sua disciplina; mas os
protestantes fazem a santidade radicar nos próprios membros da
igreja como santos em Cristo, isto é, santos em princípio, ao serem
eles possuidores da nova vida que está destinada a ser
perfeitamente santa. (3) Sua catolicidade. Roma faz deste ponto
uma pretensão especial, porque sua igreja está espalhada por toda
a terra e tem maior número de membros que todas as
denominações evangélicas juntas. Os protestantes declaram,
porém, que unicamente a igreja invisível de Cristo é realmente a
igreja católica, porque ela inclui todos os crentes de todas as idades
e de todos os países.
5.2. Suas marcas ou características externas. Enquanto os
atributos pertencem principalmente à igreja invisível, as marcas ou
sinais pertencem à igreja visível e servem para distinguir a
verdadeira igreja da falsa. Estas também são três.
a. A pregação genuína da palavra de Deus. Este é o sinal
mais importante da igreja (1Jo 4.1-3; 2Jo 9). Não significa que a
pregação tenha de ser perfeita e absolutamente pura, mas deve ser
verdadeira quanto aos fundamentos da religião cristã, e que há de
exercer uma influência controladora quanto à fé e prática.
b. A ministração correta dos sacramentos. Os sacramentos
não podem ser separados da Palavra, como fazem os romanistas.
Devem ser ministrados por ministros legais, segundo a instituição
divina; só podem ser ministrados aos crentes e a seus
descendentes (Mt 18.19; Mc 16.16; At 2.42; 1Co 11.23, 30).
c. O exercício fiel da disciplina. A disciplina é necessária
para manter a pureza da doutrina e salvaguardar a santidade dos
sacramentos. A Palavra de Deus insiste nisto (Mt 18.18; 1Co 5.1-13;
14.33, 40; Ap 2.14, 15, 20).

Para memorização. Passagens que testificam sobre:


1. A unidade da igreja:

Jo 10.16. “Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me


convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um
rebanho e um pastor.”

Jo 17.20. “Não rogo somente por estes, mas também por aqueles
que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra.”
Ef 4.4-6. “Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes
chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor,
uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é
sobre todos, age por meio de todos e está em todos.”

2. A santidade da igreja:

Êx 19.6. “Vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São


estas as palavras que falarás aos filhos de Israel.”

1Pe 2.9. “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa,
povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as
virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa
luz.”

3. A catolicidade da igreja:

Sl 2.8. “Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as


extremidades da terra por tua possessão.”

Ap 9.7. “O aspecto dos gafanhotos era semelhante a cavalos


preparados para a peleja; na sua cabeça havia como que coroas
parecendo de ouro; e o seu rosto era como rosto de homem.”

4. A necessidade de adesão à verdade:


2Tm 1.13. “Mantém o padrão das sãs palavras que de mim ouviste
com fé e com o amor que está em Cristo Jesus.”

2Tm 2.15. “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro


que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da
verdade.”

1Tm 2.1. “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de


súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos
os homens.”

5. A necessidade da ministração correta dos sacramentos:

At 19.4, 5. “Disselhes Paulo: João realizou batismo de


arrependimento, dizendo ao povo que cresse naquele que vinha
depois dele, a saber, em Jesus. Eles, tendo ouvido isto, foram
batizados em o nome do Senhor Jesus.”

1Co 11.28-30. “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim,


coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem
discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que há
entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem.”

6. A necessidade da disciplina:

Mt 16.19. “Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na


terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido
desligado nos céus.”
1Tm 3.10, 11. “Também sejam estes primeiramente experimentados;
e, se se mostrarem irrepreensíveis, exerçam o diaconato. Da
mesma sorte, quanto a mulheres, é necessário que sejam elas
respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo.”

Para estudo adicional:

1. Antes do Pentecostes existia igreja? (Mt 18.17; At 7.38).

2. No Novo Testamento se usa a palavra igreja no singular para


significar um grupo de igrejas? (AT 9.31).

3. Que motivos havia para a disciplina na igreja de Corinto? (1Co


5.1-5; 17.34; 2Co 2.5-11).

P
1. Que significa a palavra igreja na Escritura segundo sua
etimologia?
2. Que diferentes significados esta palavra tem no Novo
Testamento?
3. Em que os romanistas diferem dos protestantes em seu
conceito de igreja?
4. Qual é a diferença entre igreja militante e triunfante?
5. A quê igreja se aplica a distinção de visível e invisível?
6. Em que sentido a igreja é chamada invisível?
7. Em que a igreja como organismo e como instituição se
diferencia?
8. Como podemos definir a igreja invisível e a visível?
9. Quais são os atributos da igreja?
10. Em que nosso conceito se diferencia dos romanistas?
11. Quais são as marcas da igreja e para que servem?
12. Estas marcas se referem à igreja invisível ou à visível?
13. Como devemos conceber a verdadeira pregação da
Palavra?
14. Que significa a ministração correta dos sacramentos?
15. Por que a disciplina é tão necessária?
CAPÍTULO XXIV: GOVERNO E
AUTORIDADE DA IGREJA
Cristo é o cabeça da igreja e a razão de toda sua autoridade
(Mt 23.10; Jo 13.13; 1Co 12.5; Ef 1.20-23; 4.11, 12; 5.23, 24). Ele
governa a igreja, não pela força, mas por sua Palavra e pelo
Espírito. Todos os oficiais da igreja se acham revestidos com a
autoridade de Cristo e eles mesmos devem submeter-se ao controle
de sua Palavra.

1. Os oficiais da igreja. Os oficiais da igreja mencionados no


Novo Testamento são de duas classes: 1.1. Oficiais
extraordinários. Destes, os mais importantes são os apóstolos. No
sentido mais estrito, este título só se aplica aos doze escolhidos por
Jesus e a Paulo; mas é dado a alguns outros homens do período
apostólico (At 14.4, 14; 1Co 9.5, 6; 2Co 8.23; Gl 1.19). Os apóstolos
tinham certas qualidades especiais: (a) chamados diretamente por
Cristo (Gl 1.1); (b) foram a Cristo depois de sua ressurreição (1Co
9.1); (c) tinham consciência de ser inspirados (1Co 2.13); (d)
realizavam milagres (2Co 12.12); e (e) eram ricamente abençoados
em seu trabalho (1Co 9.1). O Novo Testamento fala ainda de
profetas que eram homens especialmente dotados para falarem e
edificarem a igreja, e ocasionalmente prediziam fatos futuros (At
11.28; 13.1, 2; 15.32; Ef 4.11). E, finalmente, mencionam-se
evangelistas, auxiliares dos apóstolos em seu trabalho (At 21.8; Ef
4.11; 2Tm 4.5).
1.2. Oficiais ordinários. Faz-se frequente menção de
presbíteros, especialmente em Atos dos Apóstolos (At 11.30; 14.23;
15.2; 6.22; 16.4; 20.17; 21.18); com eles faz-se menção de bispos,
título que se emprega para designar a mesma classe de oficiais (At
20.17, 28; 1Tm 3.1; 5.17, 19; Tt 1.5, 7; 1Pe 5.1, 2). Ainda que
ambos os títulos se apliquem ao mesmo cargo, o título presbítero (=
ancião) parece pôr a ênfase em sua idade, e, o título bispo, em sua
obra como supervisores. Nem todos os anciãos eram mestres, mas
a função de ensinar passou gradualmente a fazer parte de seu ofício
(Ef 4.11; 1Tm 5.17; 2Tm 2.2). De acordo com 1 Timóteo 5.7, parece
que alguns presbíteros só governavam, enquanto outros ensinavam.
Além destes, o Novo Testamento fala também de diáconos (Fp 1.1;
1Tm 3.8, 10, 12). Prevalece a opinião de que esta instituição
procede de Atos 6.1, 6.

2. As assembleias eclesiásticas. As igrejas reformadas têm


vários corpos governantes, de relação gradual entre si. Estes são
conhecidos como conselho, presbitério e sínodo. O conselho é
constituído de ministro(s) e presbíteros de uma igreja local; o
presbitério é constituído de ministros e presbíteros de várias igrejas
dentro de uma determinada região. O sínodo é constituído de vários
presbitérios de determinada região.
3. O governo da igreja local. Este é de caráter
representativo. O ministro e os presbíteros, eleitos pelo povo,
formam um conselho para o governo da igreja (At 14.23; 20.17; Tt
1.5). Ainda que os anciãos sejam eleitos pelo povo, não recebem
sua autoridade de seus eleitores, e sim de Jesus Cristo, o Senhor
da igreja. Cada igreja local é uma igreja completa, plenamente
equipada para governar-se a si mesma; mas, ao filiar-se a outras
igrejas para formular acordos comuns, deixam de ser inteiramente
independentes. A ordem eclesiástica serve para preservar os
direitos e interesses da igreja local, assim como os direitos e
interesses das igrejas filiadas.
3.1. As assembleias maiores. Quando as igrejas locais se
associam para que se dê maior expressão à unidade da igreja,
tornam-se necessárias assembleias maiores, como as dos
presbitérios, sínodos e assembleia nacional. O Concílio de
Jerusalém, descrito em Atos 15, assume o caráter de uma
assembleia maior. Os representantes imediatos dos fiéis, que
formam os conselhos, são representados por um número limitado
nos presbitérios, e estes, por sua vez, são representados nos
sínodos [e estes, por sua vez, na assembleia geral].
As assembleias eclesiásticas, naturalmente, tratam somente
de assuntos doutrinais e morais, do governo da igreja e da
disciplina; não obstante, as assembleias maiores às vezes devem
ocupar-se de assuntos que, por sua natureza, pertencem às
assembleias regionais ou menores, mas que, por alguma razão, não
têm podido ser solucionados naquelas, assim como de assuntos
que, por sua natureza, pertencem às assembleias maiores que as
regionais, por referir-se às igrejas em geral. As decisões das
assembleias maiores não são simplesmente hortativas, mas
autoritativas, a menos que explicitamente se declare que têm
apenas caráter de advertência.

4. A autoridade da igreja. A autoridade da igreja é espiritual,


porque esta é dada pelo Espírito Santo (At 20.28). É uma
manifestação da autoridade do Espírito (Jo 20.22, 23). Corresponde
exclusivamente aos crentes (1Co 5.12, 13) e só pode ser exercida
por meios espirituais (2Co 10.4). Há também uma autoridade
ministerial, que procede de Cristo e é exercida, em seu nome, pelos
ministros da Palavra.
4.1. Autoridade dogmática ou pedagógica. A igreja está
encarregada de manter a verdade e de transmiti-la fielmente de uma
geração a outra e de defendê-la contra os esforços da incredulidade
(1Tm 1.3, 4; 2Tm 1.13; Tt 3.9-11). Ela deve pregar a Palavra
incessantemente entre todas as nações do mundo (Is 3.10, 11; 2Co
5.20; 1Tm 4.13; 2Tm 2.15; 4.2; Tt 2.1-10). Deve formular os credos
e confissões de fé e procurar a educação de seus futuros ministros
(2Tm 2.2).
4.2. Autoridade governamental. Deus é um Ser amante da
ordem e deseja que todas suas coisas na igreja sejam feitas
decentemente e com ordem (1Co 14.33, 40). Por esta razão ele
providenciou a regulamentação adequada dos assuntos da igreja e
deu autoridade à igreja para tornar efetivas as leis de Cristo (Jo
1.15-17; At 20.28; 1Pe 5.2). Isto inclui autoridade para o exercício da
disciplina (Mt 16.19; 18.18; Jo 20.23; 1Co 5.2, 7, 13; 2Ts 3.14, 15;
1Tm 1.20; Tt 3.10). O propósito da disciplina na igreja é duplo. Em
primeiro lugar, é cumprir a lei de Cristo concernente à admissão e
exclusão de membros, e promover a edificação espiritual dos
próprios membros, assegurando sua obediência às leis de Cristo.
Se há membros espiritualmente enfermos, a igreja deve buscar sua
cura; porém, se fracassar neste empenho, tem que eliminar os
membros contagiados. Deve expor os pecados públicos, mesmo
quando não haja acusação formal; no caso de pecados privados,
deve insistir na aplicação da regra dada em Mateus 18.15-18.
4.3. Autoridade para o ministério da misericórdia. Cristo
enviou seus discípulos não só a pregar, mas também a curar toda
classe de enfermidades (Mt 10.1, 8; Lc 9.1, 2; 10.9, 17). Entre os
cristãos primitivos havia os que possuíam o dom de cura (1Co 12.9,
10, 28, 30). Este dom especial terminou com a era apostólica.
Desde então o ministério da misericórdia se limitou ainda mais ao
cuidado dos pobres exercido pela igreja. O Senhor deixou
exortações sobre esta tarefa (Mt 26.11; Mc 14.7). A igreja primitiva
praticou certa comunhão de bens, de modo que não se permitia que
alguém tivesse falta no tocante às necessidades da vida (At 4.34).
Mais tarde se nomearam sete homens “para servirem às
mesas”, ou, seja, para proverem uma distribuição mais equitativa do
que era trazido para os pobres (At 6.1-6). Depois disto, os diáconos
são mencionados reiteradamente (Rm 16.1; Fp 1.1; 1Tm 3.12). Põe-
se forte ênfase em dar ou recolher coletas para os pobres (At 29.20;
1Co 16.1, 2; 2Co 8.13-15; 9.1, 6, 7; Gl 2.10; 6.10; Ef 4.28; 1Tm 5.10,
16; Tg 1.27; 2.15, 16; 1Jo 3.17).

Para memorização. Passagens que provam:


1. Que Cristo é o cabeça da igreja:

Ef 1.22, 23. “E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o
cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a
plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas.”
Cl 1.18. “Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o
primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a
primazia.”

2. Os sinais especiais do apostolado:

1Co 9.1, 2. “Não sou eu, porventura, livre? Não sou apóstolo? Não
vi Jesus, nosso Senhor? Acaso, não sois fruto do meu trabalho no
Senhor? Se não sou apóstolo para outrem, certamente, o sou para
vós outros; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor.”

2Co 12.12. “Porque, assim como o corpo é um e tem muitos


membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só
corpo, assim também com respeito a Cristo.”

3. O ofício de presbítero ou bispo:


At 14.23. “E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de
presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao
Senhor em quem haviam crido.”

1Tm 3.1. “Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado,


excelente obra almeja.”

Tt 1.5. “Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em


ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade,
constituísses presbíteros, conforme te prescrevi.”

4. A função docente de alguns presbíteros:


1Tm 5.17. “Devem ser considerados merecedores de dobrados
honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os
que se afadigam na palavra e no ensino.”

2Tm 2.2. “E o que de minha parte ouviste através de muitas


testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também
idôneos para instruir a outros.”

5. O ofício de diácono:

1Tm 3.10. “Também sejam estes primeiramente experimentados; e,


se se mostrarem irrepreensíveis, exerçam o diaconato.”

6. O caráter espiritual da obra dos presbíteros:

At 20.28. “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o


Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de
Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue.”

1Pe 5.2, 3. “Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por
constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por
sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos
que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho.”

7. Autoridade para o exercício da disciplina:


Mt 18.18. “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra
terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido
desligado nos céus.”

Jo 20.23. “Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes


perdoados; se lhos retiverdes, são retidos.”

Para estudo adicional:

1. Que homens, além dos doze e Paulo, são intitulados apóstolos?


(At 14.4, 14; 1Co 9.5, 6; 2Co 28.23; Gl 1.19).

2. Quem é intitulado evangelista na Bíblia? (At 2.18; 2Tm 4.5).

3. Que curso de disciplina se indica com respeito a pecados


privados em Mateus 18.15, 17?

1. Quem é o cabeça da igreja e sobre que norma ele a


governa?
2. Que oficiais extraordinários havia na igreja apostólica?
3. Quais eram as características dos apóstolos?
4. O que os profetas e os evangelistas faziam?
5. Quais eram os oficiais ordinários?
6. Que outro título se aplicava ao ofício de presbítero? Todos
eles pregavam?
7. Quando foi instituído o ofício de diácono?
8. Quantas classes de assembleias há?
9. Até onde cada igreja local é independente?
10. Há nas Escrituras exemplos de outras assembleias
maiores? Onde?
11. Como estão instituídas e que assuntos lhes cabem tratar?
12. Suas decisões são meramente de aconselhamento ou
hortativas?
13. Que diferentes classes de autoridade a igreja possui?
14. Em que consiste cada uma delas?
15. Qual o propósito da disciplina eclesiástica?
16. Que entendemos por ministério de misericórdia na igreja?
CAPÍTULO XXV: A PALAVRA DE DEUS
E OS SACRAMENTOS EM GERAL
A Palavra de Deus é o mais importante meio de graça, ainda
quando os romanistas atribuam esta honra aos sacramentos.

1. A Palavra de Deus e o Espírito Santo. Ainda que a


expressão meios de graça tenha um significado mais amplo,
contudo é usada aqui para designar os meios que a igreja emprega
de um modo direto. Quando nos referimos aqui à Palavra de Deus,
não nos referimos à Segunda Pessoa da Trindade, ou, seja, Cristo,
que em João 1.1 é chamado o Verbo; nem à palavra criativa
mencionada no Salmo 33.6, mas à Palavra de Deus escrita na Bíblia
e proclamada pela igreja (1Pe 1.25). Ela é chamada a palavra da
graça, e por isso é o mais importante dos meios de graça. Ainda que
sua ênfase principal esteja na pregação, também pode ser trazida
aos homens por outros meios. No lar, na escola, mediante o diálogo,
literatura religiosa. A Palavra de Deus se torna efetiva como meio de
graça tão-somente pela operação do Espírito Santo. A Palavra por si
só não é suficiente para operar a fé e a conversão, mas é um
instrumento necessário. Ainda quando o Espírito Santo possa fazê-
lo, geralmente ele não opera fora da Palavra de Deus. E a pregação
da Palavra frutifica pela operação do Espírito Santo.

2. As duas partes da Palavra, como meio de graça. Estas


são a lei e o evangelho. A lei, como meio de graça, serve ao
propósito de levar os homens à convicção de pecados (Rm 3.20),
tornando-os conscientes de sua incapacidade para responder às
exigências da lei. E, assim, ela é seu tutor para levá-los a Cristo (Gl
3.24). Em segundo lugar, ela constitui também regra de fé para os
crentes, lembrando-lhes seus deveres e guiando-os pela vereda da
vida e salvação.
O evangelho é a clara apresentação do caminho da salvação
revelado em Jesus Cristo. Ele exorta o pecador a dirigir-se a Cristo
com fé e arrependimento, e promete a todos os que realmente se
arrependem e creem todas as bênçãos da salvação, para o
presente e para o futuro. Ele é o poder de Deus para a salvação de
todos os que creem (Rm 1.16; 1Co 1.18).

3. Os sacramentos em geral. A Palavra de Deus é completa


como meio de graça, mas os sacramentos não o são sem a Palavra.
Isto tem que ser mantido em oposição aos romanistas que ensinam
que os sacramentos são meios essenciais de salvação. A Palavra e
os sacramentos diferem nos seguintes detalhes: 3.1. A Palavra de
Deus é absolutamente necessária, enquanto os sacramentos não o
são.
3.2. A Palavra serve para gerar e fortificar a fé, enquanto os
sacramentos só podem fortificá-la, não gerá-la.
3.3. A Palavra é para o mundo inteiro, enquanto os
sacramentos são exclusivamente para os crentes e sua
descendência.
Merecem atenção os seguintes pontos:
1. As diversas partes dos sacramentos. Nos sacramentos se
distinguem três elementos, a saber: (a) O sinal visível ou externo.
Cada sacramento requer um elemento externo. Água, no batismo,
pão e vinho, na ceia do Senhor. Quem recebe estes sinais externos
recebe o sacramento, porém não todo ele nem a parte mais
importante, a menos que preencha as condições requeridas. (b) A
graça interior e espiritual que o acompanha. Um sinal ou símbolo
externo chama e inclina nossa atenção para o que ele significa, e
este é o lado interno do sacramento. Este significado pode ser “a
justiça que é pela fé” (Rm 4.11); o perdão dos pecados (Mc 1.14); o
arrependimento e fé (Mc 1.4; 16.16); a “comunhão com Cristo em
sua morte e ressurreição” (Rm 6.3, 4; Cl 2.11, 12). (c) A união entre
o sinal e o que ele significa. Este último elemento constitui
realmente a essência do sacramento. Quando o sacramento é
recebido com fé, a graça de Deus o acompanha. O sacramento
pode ser definido assim: uma santa ordenança, instituída por Cristo,
na qual a graça de Deus, em Cristo, é representada por meio de
sinais sensíveis, sendo selada e aplicada aos crentes que, por sua
vez, expressam, por meio deles, sua fé e obediência a Deus.
2. O número dos sacramentos. No período
veterotestamentário havia somente dois sacramentos: a circuncisão
e a Páscoa. O primeiro foi instituído nos dias de Abraão; o segundo,
nos dias de Moisés. Ambos eram sacramentos cruentos [com
sangue], em harmonia com a dispensação veterotestamentária. A
igreja neotestamentária também tem dois sacramentos, a saber: o
batismo e a ceia do Senhor. Ambos não incruentos [sem sangue].
Depois que Cristo realizou seu sacrifício perfeito, o derramamento
de sangue já não é necessário. A igreja de Roma ampliou o número
dos sacramentos, sem qualquer razão bíblica para isso, adicionando
a confirmação, a penitência, a ordem, o matrimônio e a extrema
unção.
3. Comparação entre os sacramentos do Antigo e do Novo
Testamento. A igreja de Roma declara que há uma diferença
essencial, a saber, que os antigos eram simplesmente típicos e
afetavam tão-somente a situação legal do recipiente, e não sua
condição espiritual, sua eficácia dependendo da fé dos que o
realizavam; enquanto que os do Novo Testamento conferem graça
espiritual aos corações dos que os praticam, não importa qual seja
sua condição espiritual, simplesmente em virtude de uma eficácia
sacramental. Cremos que não há diferença essencial entre eles, se
não existe a graça sacramental ex opere operato [por eficácia da
obra realizada] (Rm 4.11; 1Co 5.7; 10.1-4; Cl 2.11). Não obstante, há
algumas diferenças de caráter dispensacional.
3.1. Os sacramentos veterotestamentários tinham um
aspecto nacional em adição ao seu significado espiritual.
3.2. Aqueles apontam para frente, para o sacrifício de Cristo
que havia de vir; enquanto os neotestamentários apontam para trás,
para o sacrifício plenamente consumado.
3.3. Aqueles não proporcionavam ao recipiente uma medida
tão rica de graça espiritual, como o fazem os sacramentos
neotestamentários.
Para memorização. Passagens que declaram:
1. A Palavra de Deus como meio de graça:

Rm 10.17. “E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela


palavra de Cristo.”

1Co 1.18. “Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se


perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus.”

2. A dupla função da lei:

Rm 3.20. “Visto que ninguém será justificado diante dele por obras
da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do
pecado.”

Rm 7.7. “Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado
que habita em mim.”

1Jo 5.3. “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus


mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos.”

3. A função do evangelho:

Rm 1.16. “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder


de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu
e também do grego.”
1Co 1.18. “Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se
perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus.”

4. O significado espiritual dos sacramentos:

Rm 4.11. “E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da


fé que teve quando ainda incircunciso; para vir a ser o pai de todos
os que creem, embora não circuncidados, a fim de que lhes fosse
imputada a justiça.”

1Co 5.7. “Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa,
como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso
Cordeiro pascal, foi imolado.”

Cl 2.12. “Tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no


qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de
Deus que o ressuscitou dentre os mortos.”

Jo 6.51. “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele
comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do
mundo é a minha carne.”

Para estudo adicional:

1. A lei é também uma regra de conduta para os crentes


neotestamentários? (Mt 5.17-18; Rm 13.10; Ef 6.2; Tg 2.8-11; 1Jo
3.4; 5.3).

2. Você provaria que os sacramentos se destinam somente aos


crentes e sua descendência? (Gn 17.10; Êx 12.43-45; Mc 16.16; At
2.39; 1Co 11.28, 29).

3. Que disputa surgiu na igreja primitiva sobre a circuncisão? (At 15;


Gl 2.3-9).

1. Que significa a expressão meios de graça?


2. Que queremos dizer quando mencionamos a Palavra de
Deus como meio de graça?
3. Por que a Palavra é o meio de graça mais importante?
4. Qual é a relação entre a Palavra e o Espírito?
5. Qual é a função da lei como meio de graça?
6. Qual é a função do evangelho?
7. Como os sacramentos se relacionam com a Palavra de
Deus?
8. Em quê a Palavra de Deus se diferencia dos sacramentos
como meio de graça?
9. Que é um sacramento?
10. Quais são as partes que compõem um sacramento?
11. Que é o símbolo externo em cada sacramento?
12. Que fato significa cada um deles?
13. Como o sinal e a coisa significada se relacionam em cada
sacramento?
CAPÍTULO XXVI: BATISMO CRISTÃO
Cristo instituiu o batismo após sua ressurreição (Mt 28.19; Mc
16.16) e incumbiu seus discípulos de batizarem os que se
tornassem discípulos, “no nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo”, ou, seja, no nome da Trindade. Ainda quando ele não se
propusesse a prescrever uma fórmula, a igreja escolheu as palavras
da instituição. A fórmula atual está em uso desde o princípio do
segundo século. Os protestantes consideram legítimo o batismo
ministrado por um ministrado do evangelho devidamente autorizado
pela igreja e no nome do Deus Triúno. Os romanistas, considerando
o batismo como absolutamente indispensável à salvação, permitem
que o mesmo seja ministrado, em caso de risco de morte, por
alguém que não seja sacerdote, particularmente por parteiros.

1. O modo próprio do batismo. Os batistas não só


sustentam que o modo próprio do batismo é a imersão, mas
afirmam ainda que a imersão é essencial. Para eles, o batismo
ministrado de outro modo não é nenhum batismo. Afirmam que a
ideia fundamental do batismo é a morte e ressurreição com Cristo
(Rm 6.3-6; Cl 2.12), e que isto é expresso simbolicamente só pela
imersão. A Escritura, porém, ensina claramente que a ideia
essencial no símbolo do batismo é a purificação (Ez 36.25; Jo 3.25,
26; At 22.16; Tt 3.5; Hb 10.22; 1Pe 3.21), e isto pode ser
simbolizado tanto pela aspersão como pela imersão (Lv 14.7; Nm
8.7; Ez 36.25; Hb 9.19-22; 10.22). Consequentemente, o modo do
batismo não é questão material; pode ser ministrado por imersão
[imergir o corpo inteiro], mas também por afusão [derramamento de
água sobre] ou aspersão [borrifo de água em]. Os batistas afirmam
que o Novo Testamento só aprova o batismo por imersão, porém
não podem provar seu argumento. Jesus não prescreveu uma
determinada forma de batismo, e a Bíblia não determina nenhuma
forma particular. A palavra baptizo [batizar], empregada por Jesus,
não significa necessariamente imergir, mas significa também
purificar por meio de lavagem. Não há um só caso de batismo
mencionado no Novo Testamento no qual é absolutamente certo
que foi ministrado por imersão. É plenamente improvável que as
multidões que iam a João Batista, e os três mil que creram no dia de
Pentecostes fossem batizados por imersão. Nem se pode provar
que ele fosse aplicado assim nos casos mencionados em Atos 9.18;
10.47; 16.33, 34.

2. Os sujeitos aptos para o batismo. Há duas classes de


pessoas a quem se aplica o batismo: adultos e crianças.
2.1. O batismo de adultos. O propósito do batismo visava
aos adultos e seus filhos. Nas palavras da instituição, Jesus,
indubitavelmente, tinha em mente o batismo dos adultos, em
primeiro lugar, pois com estes é que os discípulos podiam começar
seu trabalho missionário. Sua instituição implica que o batismo tinha
de ser precedido por uma profissão de fé (Mc 6.16). No dia de
Pentecostes, os que receberam a Palavra pregada por Pedro foram
batizados (At 2.41; cf. 8.37; 16.31-34). A igreja deve exigir uma
profissão de fé de todos os adultos que solicitam o batismo. Quando
se faz essa profissão de fé, ela deve ser aceita pela igreja como
válida e fiel, a menos que existam boas razões para se pôr em
dúvida a sinceridade do professante.
2.2. O batismo infantil. Os batistas negam o batismo infantil,
porque as crianças não podem exercer fé, e porque no Novo
Testamento não existe nenhum mandato de batizar crianças, nem
apresenta um só exemplo desse gênero de batismo. Não obstante,
isto não prova que o mesmo não seja bíblico.
a. A base bíblica para o batismo infantil. O batismo infantil
não se baseia diretamente em alguma passagem bíblica, mas numa
série de considerações. O pacto feito com Abraão era de caráter
espiritual, ainda que também tivesse um aspecto nacional (Rm 4.16,
18; Gl 3.8, 9, 14). Este pacto ainda está em vigor, e em essência é o
mesmo novo pacto da atual dispensação (Rm 4.13-19; Gl 3.15-18;
Hb 6.13-18). As crianças participavam das bênçãos do pacto,
recebiam o sinal da circuncisão e eram reconhecidas como parte da
congregação de Israel (2Co 20.3; Jl 2.16). No Novo Testamento, a
circuncisão foi substituída pelo batismo, como sinal e indicação de
ingresso no pacto (At 2.39; 1Co 2.11, 12). O novo pacto é
apresentado na Escritura como mais generoso do que o antigo (Is
54.13; Jr 31.34; Hb 8.11), e portanto dificilmente excluiria as
crianças. Isto é igualmente improvável em vista dos textos bíblicos
(Mt 19.14; At 2.39; 1Co 7.14). Além disso, lemos que famílias
inteiras foram batizadas, e é pouco provável que em tais famílias
não houvesse nenhuma criança (At 16.15; 16.33; 1Co 1.16).
b. O fundamento e eficácia do batismo infantil. Nos círculos
reformados, há quem sustente a teoria de que as crianças são
batizadas sobre a base de uma regeneração presuntiva
[pressuposta], ou, seja, sobre a suposição (não a certeza) de que já
foram regeneradas. Há ainda quem afirme que são batizadas sobre
a base do pacto da promessa de Deus, que também as inclui, e
portanto isso significa uma promessa de regeneração. Este último
ponto de vista parece preferível. A promessa do pacto é a única
coisa que oferece uma base objetiva para o batismo infantil, porém
surge a dúvida: como o batismo pode operar, como meio de graça,
e fortificar uma vida espiritual que ainda não existe? A resposta é
que ele pode fortificar a vida regenerada se já existe na criança, e
por isso mais tarde sua fé, quando o significado do batismo puder
ser mais claramente compreendido. Sua eficácia não se limita
necessariamente ao exato momento de sua ministração.

Para memorização. Passagens que apresentam:


1. A instituição do batismo:

Mt 28.19. “ Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,


batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.”

Mc 16.15, 16. “E disselhes: Ide por todo o mundo e pregai o


evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo;
quem, porém, não crer será condenado.”
2. O batismo como um símbolo de purificação:

At 22.16. “E agora, por que te demoras? Levanta-te, recebe o


batismo e lava os teus pecados, invocando o nome dele.”

1Pe 3.21. “A qual, figurando o batismo, agora também vos salva,


não sendo a remoção da imundícia da carne, mas a indagação de
uma boa consciência para com Deus, por meio da ressurreição de
Jesus Cristo.”

3. A substituição do batismo pela circuncisão:

Cl 2.11, 12. “Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio


de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a
circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados, juntamente com ele, no
batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no
poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos.”

4. A aplicação permanente do pacto de Abraão:

Rm 4.16. “Essa é a razão por que provém da fé, para que seja
segundo a graça, a fim de que seja firme a promessa para toda a
descendência, não somente ao que está no regime da lei, mas
também ao que é da fé que teve Abraão…”
Gl 3.29. “E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão
e herdeiros segundo a promessa.”

5. Inclusão das crianças na igreja neotestamentária:

Mt 19.14. “Jesus, porém, disse: Deixai os pequeninos, não os


embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus.”

At 2.39. “Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e


para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor,
nosso Deus, chamar.”

1Co 7.14. “Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da


esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido
crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora,
são santos.”

Para estudo adicional:

1. Os seguintes textos bíblicos provam que os discípulos não


usavam a fórmula trinitária no batismo? (At 2.38; 8.16; 10.48; 19.5).

2. Como é possível comparar o significado espiritual do batismo com


o da circuncisão? (Dt 30.6; Jr 4.4 com At 2.38; 22.16).

3. Você pode provar que a circuncisão foi abolida no Novo


Testamento? (At 15; Gl 2.3; 5.2, 3; 5.22, 23; 6.12, 13).
P

1. Quando Cristo instituiu o batismo?


2. Qual o significado do batismo ao ser praticado no nome de
alguém?
3. As palavras de Cristo significam uma fórmula?
4. A que os batistas consideram essencial no simbolismo do
batismo?
5. O que é essencialmente verdadeiro no batismo?
6. Cristo prescreveu algum modo de batizar?
7. É possível provar indubitavelmente a imersão nas páginas
das Escrituras?
8. Quem é o ministrante apropriado para o batismo? Qual é o
ponto de vista romanista?
9. Qual é a condição indispensável para se batizar um
adulto?
10. O batismo infantil pode ser provado pela Escritura?
11. Que pontos de vista existem acerca do fundamento do
batismo infantil?
12. Qual deles deve ser preferido, e por quê?
13. Como o batismo infantil pode ser um meio de graça?
CAPÍTULO XXVII: CEIA DO SENHOR
A ceia do Senhor foi instituída por ocasião da Páscoa, pouco
antes da morte de Jesus (Mt 14.22, 25; Lc 22.19, 20; 1Co 11.23-25).
O novo sacramento estava unido, em sua parte essencial, com a
degustação da Páscoa. O pão que se comia juntamente com o
cordeiro foi consagrado para um novo uso, e da mesma forma o
vinho do terceiro cálice, que se chama o cálice da bênção. O pão
partido simbolizava o corpo traspassado do Senhor, e o vinho, seu
sangue derramado. O ato material de comer e beber significava uma
apropriação espiritual dos frutos do sacrifício de Cristo; e o
sacramento inteiro é um constante memorial de sua morte
redentora.

1. A ceia do Senhor como sinal e selo. Como todo


sacramento, a ceia do Senhor é, antes de tudo, um sinal. Não só
quanto aos elementos visíveis do pão e do vinho, mas na própria
ação de participar dela. É uma representação simbólica da morte do
Senhor (1Co 11.26) e simboliza a participação do crente no Cristo
crucificado e na vida e força que procedem do Redentor ressurreto.
Além disso, é um ato de profissão de fé da parte dos que participam.
Com este ato, expressam sua fé em Cristo como seu Salvador e sua
homenagem a ele como Rei. A ceia do Senhor, porém, mais que um
símbolo, é também um selo daquilo que significa, e uma promessa
de sua realização. Imprime nos crentes a segurança de que são
objeto do grande amor de Cristo revelado em sua submissão a uma
morte amarga e ignominiosa, e é uma garantia de que todas as
promessas do pacto, bem como todas as riquezas do evangelho,
são suas; não só em esperança, mas como possuidores atuais
delas.

2. A presença de Cristo na ceia do Senhor. Esta questão


tem sido largamente debatida e constitui ainda a maior diferença de
opinião entre os cristãos. Quatro pontos de vista merecem nossa
consideração.
2.1. O ponto de vista romanista. A igreja romana concebe a
presença de Cristo na ceia do Senhor em um sentido físico. Com
base nas palavras de Jesus, “Isto é o meu corpo”, afirmam que o
pão e o vinho são transformados ou transubstanciados no corpo e
no sangue de Cristo, ainda que continuem com a aparência e sabor
de pão e vinho. Entretanto, esta opinião é suscetível de diversas
objeções: a. Estando Jesus ainda na carne, diante de seus
discípulos, não podia dizer que tinha seu corpo em sua própria mão;
b. A Escritura fala do pão como pão, depois da suposta mudança
(1Co 10.17; 11.26-28); e c. É contrário ao sentido comum crer que o
que parece ter, e tem, o sabor de pão e vinho seja realmente
sangue e carne.
2.2. O ponto de vista luterano. Os luteranos afirmam que,
mesmo quando o pão e o vinho permaneçam tais como são, a
pessoa inteira de Cristo, com seu corpo e sangue, está presente
em, sob e junto com esses elementos [chama-se
consubstanciação]. Quando Cristo tinha o pão em sua mão, ele
segurava seu corpo juntamente, e portanto podia dizer: “Isto é o
meu corpo”. Todo aquele que recebe o pão, recebe o corpo de
Cristo, seja ele crente ou não. Esta opinião forjada não se afasta
muito da doutrina romanista, e atribui às palavras de Jesus o
significado pouco natural de “isto acompanha meu corpo”. Além do
mais, requer a noção impossível de que o corpo, não só o espírito
de Cristo, é onipresente.
2.3. O ponto de vista zwingliano. Zwinglio negava a
presença física de Cristo na ceia do Senhor, porém admitia que ele
se acha espiritualmente presente nos elementos, em virtude da fé
dos crentes. Algumas de suas afirmações, contudo, parecem indicar
que também via nisto um selo ou promessa do que Deus faz para os
crentes em Cristo.
2.4. O ponto de vista calvinista. Calvino adotou uma posição
intermédia: ensinou que a presença de Cristo na ceia do Senhor, em
vez de física e local, é de caráter espiritual; distinguindo-se de
Zwinglio, pôs mais ênfase no significado mais profundo do
sacramento; viu nele um selo e promessa do que Deus faz para o
crente, antes que uma simples promessa de consagração a Deus,
por parte do crente. As virtudes e efeitos do sacrifício de Cristo na
cruz estão presentes de um modo espiritual, e são transmitidos aos
crentes pelo poder do Espírito Santo.

3. As pessoas para quem a ceia do Senhor é instituída. A


ceia do Senhor não foi instituída para todos indistintamente, mas
tão-somente para os crentes que compreendem seu significado
espiritual. As crianças que ainda não atingiram a idade do
discernimento não estão aptas para participarem dela. Mesmo os
verdadeiros crentes podem achar-se em tal condição espiritual, que
não podem tomar dignamente seu lugar à Mesa do Senhor, e
devem, portanto, examinar-se cuidadosamente antes de fazê-lo
(1Co 11.28-32). Os incrédulos se acham naturalmente excluídos da
ceia do Senhor. A graça que se recebe no sacramento não difere da
que se recebe por meio da Palavra. O sacramento intensifica,
porém, a eficácia da Palavra e a medida da graça recebida. O
desfruto de seus benefícios espirituais depende da fé do
participante.

Para memorização. Passagens que se referem a:


1. A instituição da ceia do Senhor:

1Co 11.23-27. “Porque eu recebi do Senhor o que também vos


entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o
pão e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que
é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante
modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo:
Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as
vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes
que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do
Senhor, até que ele venha. Por isso, aquele que comer o pão ou
beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do
sangue do Senhor.”

2. A ceia do Senhor como sinal e selo:

Mt 26.26, 27. “Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e,


abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai,
comei; isto é o meu corpo. A seguir, tomou um cálice e, tendo dado
graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos.”

1Co 10.16. “Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é


a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a
comunhão do corpo de Cristo?”

3. A ceia do Senhor como ato de profissão de fé:

1Co 11.26. “Porque, todas as vezes que comerdes este pão e


beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha.”

4. Necessidade de autoexame para se participar dignamente:

1Co 11.27-29. “Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice
do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor.
Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e
beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come
e bebe juízo para si.”
Para estudo adicional:

1. As palavras de Jesus em João 6.48-58 têm referência à ceia do


Senhor?

2. A expressão partir o pão se refere, necessariamente, à ceia do


Senhor? (At 2.42, 20; 7.7, 11; 27.35; 1Co 10.16).

3. Você pode mencionar outros casos nos quais o verbo ser não
pode ser tomado literalmente? (Jo 10.7; 11.25; 14.6; 15.1).

1. Em que sentido a ceia do Senhor é um sinal?

2. O que o sacramento significa e em que sentido ele é um selo?

3. Qual é o ponto de vista romanista acerca da presença de Cristo


na ceia do Senhor?

4. Como os luteranos a concebem?

5. Que objeções se podem fazer a esses pontos de vista?

6. Qual é o conceito zwingliano da ceia do Senhor?


7. Em que difere o conceito de Calvino?

8. Como Calvino concebe a presença do Senhor?

9. Em que a graça recebida através deste sacramento difere da


recebida através da Palavra?

10. Para quem a ceia do Senhor foi instituída?

11. Quem deve ser excluído da mesa do Senhor?


A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS
CAPÍTULO XXVIII: MORTE FÍSICA E
ESTADO INTERMEDIÁRIO
1. A morte física é representada de várias maneiras na
Sagrada Escritura. Fala-se dela como morte do corpo, distinguindo-
a da morte da alma (Mt 10.28; Lc 12.4), como o término ou perda da
vida física ou animal (Lc 6.9; Jo 12.25) e como separação da alma e
o corpo (Ec 12.7; Tg 2.26). Nunca é mencionada como aniquilação,
mas como o término da vida física mediante a separação de corpo e
alma. Os pelagianos e socinianos ensinaram que o homem foi
criado mortal, mas isso não está em harmonia com a Escritura, a
qual nos ensina que a morte é o resultado e castigo do pecado (Gn
2.17; 3.19; Rm 5.12, 17; 6.23). Em vez de ser algo natural, a morte é
uma expressão da cólera divina (Sl 90.7, 11); é um juízo divino (Rm
1.32), uma condenação do pecado (Rm 5.16) e uma maldição (Gl
3.13), que enche os corações humanos de temor e tremor. Mas,
visto que a morte é o castigo do pecado, e os crentes são redimidos
da culpabilidade do pecado, naturalmente surge esta indagação: Por
que, pois, os crentes têm que morrer? Está claro que para eles a
morte não significa um castigo, mas tem de ser considerada como
um importante elemento no processo da santificação e glorificação.
É a consumação de sua morte para o pecado.

2. O estado intermediário. As opiniões diferem muito com


respeito à condição do ser humano entre a morte e a ressurreição
geral. As teorias mais importantes merecem um breve comentário
aqui.
2.1. A ideia moderna do Sheol-Hades. A ideia que mais
prevalece atualmente é que, ao morrerem, os santos e os ímpios,
igualmente, descem a um lugar intermédio ao qual o Antigo
Testamento chama Sheol, e o Novo, Hades. Não é um lugar de
recompensa, nem de castigo, mas um lugar onde todos participam
da mesma sorte. Uma mansão triste, onde a vida não passa de um
pálido reflexo da vida sobre a terra, um lugar de consciência
debilitada, de inatividade entorpecida, onde a vida perde seus
interesses e a vontade de viver se converte em tristeza. Mas isso
não passa de representação pouco espiritual do Hades. Se os
termos Sheol e Hades se referem a um lugar ao qual descem tanto
os santos quanto os ímpios, como tal lugar seria objeto de
advertência aos ímpios (Sl 9.17; Pv 5.5; 7.27; 9.18; 15.24; 23.14)? E
como a Escritura poderia falar da ira de Deus ardendo nesse lugar
(Dt 32.22)? Foi desde o Hades que o rico ergueu seu olhar (Lc
16.23), e é chamado “lugar de tormento” (v. 28). É, pois, muito
preferível presumir que as palavras Sheol e Hades nem sempre são
usadas nas Escrituras no mesmo sentido; mas às vezes significam o
túmulo (Gn 43.28; Sl 16.10); outras vezes, o estado ou condição dos
mortos expressa como um lugar (1Sm 2.6; Sl 89.48), enquanto
outras vezes se usa esta expressão para referir-se ao castigo eterno
(Dt 32.22; Sl 9.17; Pv 9.18).
2.2. O purgatório, o limbus patrum e o limbus infantum.
Segundo a igreja romana, as almas daqueles que são aperfeiçoados
ao chegar a morte são admitidas no céu (Mt 25.46; Fp 1.23), porém
aqueles que não são totalmente ímpios, ao chegar a morte — e
esta é a condição da maioria dos crentes — , entram em um lugar
de purgação chamado purgatório. A duração de sua permanência ali
varia segundo cada caso individual, e pode ser interrompida pelas
orações, boas obras e missas pagas por amigos ou parentes
piedosos. Esta doutrina não conta com o apoio da Escritura.
a. O limbus patrum é outro lugar onde, segundo os
romanistas, os santos do Antigo Testamento estiveram detidos até
que Cristo os libertasse entre sua morte e sua ressurreição.
b. O limbus infantum é a suposta morada de todas as
crianças que morrem sem o batismo. Estas ficam ali sem qualquer
esperança de libertação, certamente sem sofrer nenhum tipo de
castigo, porém excluídas das bênçãos celestiais.
Nenhuma dessas opiniões tem qualquer apoio na Escritura.
2.3. O sono das almas. A ideia de que, através da morte, as
almas caem num estado de repouso inconsciente foi defendida por
várias seitas em épocas passadas e é hoje a doutrina favorita dos
irvingitas da Inglaterra, dos russelitas e dos adventistas. Citam, em
seu endosso, as frases da Escritura que expressam a morte como
sendo um sono (Mt 9.24; AT 7.60; 1Ts 4.13), ou onde parece
afirmar-se que os mortos estão inconscientes (Sl 6.5; 30.9; 115.17;
146.4). Mas os primeiros textos se referem à morte como um sono,
em virtude da semelhança que há entre o corpo morto e o que
dorme, e os últimos tratam simplesmente de insistir no fato de que
os mortos não podem tomar parte nas atividades do presente
mundo; em contrapartida, fala-se dos crentes que desfrutam de uma
vida consciente imediatamente após a morte (Lc 16.19-31; 24.43;
2Co 5.8; Fp 1.23; Ap 6.9).
2.4. A aniquilação e a imortalidade condicional. Em
conformidade com estas doutrinas, não há existência consciente
depois da morte, nem haverá existência de forma alguma para os
ímpios. O aniquilacionismo ensina que o homem foi criado imortal,
mas os que continuam em pecado se acham despidos do dom da
imortalidade e finalmente serão destruídos ou deixados para sempre
em um estado de inconsciência. Segundo a doutrina da imortalidade
condicional, o homem foi criado mortal, e somente os crentes
recebem o dom da imortalidade em Cristo. Os ímpios perecerão
completamente, ou perderão todo o estado de consciência.
Pretende-se achar apoio para estas doutrinas no fato de que a
Bíblia apresenta a vida eterna como um dom de Deus em Cristo (Jo
10.27, 28; Rm 2.7; 6.23) e ameaça os pecadores com a morte e a
destruição (Sl 73.27; Ml 4.1; 2Pe 2.12). Mas a Bíblia ensina
claramente que os pecadores continuarão existindo (Mt 25.46; Ap
14.11; 20.10) e que haverá graus de castigo para eles (Lc 12.47, 48;
Rm 2.12).
2.5. A teoria de uma segunda chance. Alguns teólogos
sustentam a ideia de que os que morrem em seus pecados terão
outra chance de aceitar a Cristo depois da morte. Ninguém
perecerá, dizem eles, sem que se ofereça uma chance favorável de
se conhecer e aceitar a Jesus Cristo. Para isso apelam para
passagens como Efésios 4.8, 9; 1 Coríntios 15.24, 28; Filipenses
2.9, 11; Colossenses 1.19, 20; 1 Pedro 3.19; 4.6. Estes textos,
porém, não provam semelhante ideia. Em contrapartida, a Escritura
apresenta o estado dos crentes depois da morte como sendo fixo,
que não pode ser alterado (Ec 11.3; Lc 16.19-31; Jo 8.21, 24; 2Pe
2.4, 9; Jd 7, 13). Seu juízo depende do que fizeram estando na
carne (Mt 7.22, 23; 10.32, 33; 25.24-36; 2Co 5.2, 10; 2Ts 1.8).

Para memorização. Passagens que provam:


1. Que a morte é o castigo do pecado:

Rm 5.12. “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado


no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a
todos os homens, porque todos pecaram.”

Rm 6.23. “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito


de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.”

2. Que o Sheol-Hades é, em alguns casos, um lugar de castigo:

Sl 9.16. “Faz-se conhecido o S , pelo juízo que executa;


enlaçado está o ímpio nas obras de suas próprias mãos.”

Pv 15.24. “Para o sábio há o caminho da vida que o leva para cima,


a fim de evitar o inferno, embaixo.”

Lc 16.23. “No inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e


viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio.”

3. Que os crentes estão com Cristo imediatamente após sua morte:


2Co 5.8. “Entretanto, estamos em plena confiança, preferindo deixar
o corpo e habitar com o Senhor.”

Fp 1.23. “Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o


desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente
melhor.”

4. Que os incrédulos continuarão existindo após a morte:

Mt 25.46. “E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para


a vida eterna.”

Lc 12.47, 48. “Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu


senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade será
punido com muitos açoites. Aquele, porém, que não soube a
vontade do seu senhor e fez coisas dignas de reprovação levará
poucos açoites. Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será
exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão.”

Ap 14.11. “A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos


séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os
adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a
marca do seu nome.”

5. Que não há escape depois da morte:

Lc 16.26. “E, além de tudo, está posto um grande abismo entre nós
e vós, de sorte que os que querem passar daqui para vós outros
não podem, nem os de lá passar para nós.”

2Pe 2.9. “É porque o Senhor sabe livrar da provação os piedosos e


reservar, sob castigo, os injustos para o Dia de Juízo.”

Para estudo adicional:

1. O que as seguintes passagens ensinam sobre a morte? (1Co


15.55-57; 2Tm 1.10; Ap 1.18; 20.14).

2. As seguintes passagens ensinam a doutrina do purgatório? (Is


4.4; Mq 7.8; Zc 9.11; Ml 3.2; Mt 12.32; 1Co 13.15).
3. A promessa de Jesus ao bandido moribundo se harmoniza com a
doutrina do sono das almas? (Lc 23.43).

1. Como a morte física é representada na Bíblia?


2. Como você provaria que a morte não é algo natural?
3. Qual é a relação entre o pecado e a morte?
4. A morte é um castigo para os crentes? A que propósito ela
serve?
5. Qual é a ideia moderna do Sheol-Hades?
6. Que objeções há contra esta teoria?
7. Que estes termos denotam nas Escrituras?
8. Em quê as doutrinas da aniquilação e da imortalidade
condicional se diferenciam?
9. Qual é a suposta base para elas na Bíblia?
10. Como você as combateria?
11. Que é a doutrina romanista do purgatório, do limbo dos
pais e do limbo das crianças?
12. Que é a doutrina do sono das almas?
13. Qual é a suposta base espiritual para esta doutrina?
14. Como você a refutaria?
15. Qual é a doutrina da segunda chance?
16. Esta doutrina endossa ou contradiz a Bíblia?
CAPÍTULO XIX: SEGUNDA VINDA DE
CRISTO
O Novo Testamento nos ensina claramente que a primeira
vinda de Cristo será seguida por uma segunda vinda. Jesus se
referiu a sua volta mais de uma vez (Mt 24.30; 25.19; 26.64; Jo
14.3). Os anjos chamaram a atenção dos apóstolos para este fato
no dia da ascensão (At 1.11), e as epístolas falam reiteradamente
do mesmo (Fp 3.20; 1Ts 4.15, 16; 2Ts 1.7, 10; Tt 2.13; Hb 9.28).

1. Acontecimentos que precederão a segunda vinda.


Segunda a Bíblia, vários acontecimentos importantes devem
preceder o regresso de Cristo.
1.1. A vocação dos gentios. O evangelho do reino deve ser
pregado a todas as nações antes que Cristo volte (Mt 24.14; Mc
13.10; Rm 11.25). Isto significa que todas as nações hão de ser de
tal modo evangelizadas, que o evangelho virá a ser um poder na
vida das pessoas, um sinal e vocação para que todos se decidam.
1.2. A conversão do remanescente de Israel. 2 Coríntios
3.15 e Romanos 11.29 se referem à conversão de Israel, e a
passagem de Romanos parece relacionar este fato com o fim dos
tempos. Há quem afirme que estas passagens ensinam que todo o
Israel, como nação, finalmente se converterá ao Senhor. É mais
provável, porém, que a expressão todo o Israel, de Romanos 11.26,
se refira simplesmente ao número total dos eleitos da antiga e da
nova aliança. No entanto, a passagem parece dar a entender que
grande número do povo de Israel se voltará para o Senhor.
1.3. A grande apostasia e a grande tribulação. A Bíblia
ensina reiteradamente que no fim dos tempos haverá grande
desfalecimento da fé. A iniquidade crescerá e o amor de muitos
esfriará (Mt 24.12; 2Ts 2.3; 2Tm 3.1-7; 4.3, 4). A maldade clamará
ao céu e trará como resultado uma terrível tribulação, “como desde
o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá
jamais” (Mt 24.21). Se aqueles dias não fossem abreviados,
nenhuma carne se salvaria; mas serão abreviados por causa dos
eleitos.
1.4. A vinda do anticristo. O espírito do anticristo já estava
em evidência nos dias apostólicos (1Jo 4.3), e muitos anticristos já
tinham aparecido (1Jo 2.18), mas a Bíblia nos indica que no final
dos tempos haverá um indivíduo particular que será a encarnação
de toda a maldade, “o homem do pecado”, “o filho da perdição”, que
se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a tal
ponto que se assentará no templo de Deus como se fosse Deus
(2Ts 2.3, 4).
1.5. Sinais e milagres. A Bíblia também se refere a sinais
prodigiosos que marcarão o princípio do fim. Haverá guerras, fomes
e terremotos em diversos lugares, os quais serão o princípio
daquelas dores que terão como consequência o renascimento deste
universo; haverá grandes sinais no céu, porque os poderes dos
céus serão abalados (Mt 24.29, 30; Mc 13.24, 25; Lc 21.25, 26).

2. A segunda vinda. Depois desses sinais, o Filho do


Homem será contemplado por todos, vindo nas nuvens do céu.
2.1. O tempo de sua vinda. Alguns creem que a vinda de
Cristo será iminente, e que pode ocorrer agora mesmo, ou a
qualquer momento. A Bíblia, porém, ensina que os acontecimentos
e sinais referidos previamente devem preceder sua volta. Do prisma
de Deus, a segunda vinda está sempre próxima (Hb 10.25; Tg 5.9;
1Pe 4.5), mas ninguém pode determinar o momento exato, nem os
anjos, nem mesmo o Filho do Homem (Mt 24.36).
2.2. A maneira de sua vinda. A mesma pessoa de Cristo
voltará. Ele já veio espiritualmente no dia de Pentecostes, porém
voltará fisicamente e poderá ser visto por todos (Mt 24.30; 26.64; At
1.11; Tt 2.13; Ap 1.7). Ainda que vários sinais precederão sua vinda,
no entanto ela ocorrerá de um modo inesperado e surpreenderá a
muitos (Mt 24.37-44; 25.1-12; 1Ts 5.2, 3; Ap 3.3). Além disso, será
uma vinda triunfante e gloriosa. As nuvens do céu serão sua
carruagem (Mt 24.30). Os anjos serão sua guarda real (2Ts 1.7). Os
arcanjos serão seus arautos (1Ts 4.16). Os santos de Deus serão
seu glorioso cortejo (1Ts 3.13; 2Ts 1.10).
2.3. O propósito de sua vinda. Cristo voltará para introduzir a
era futura, o eterno estado de todas as coisas, e o fará através de
dois eventos prodigiosos: a ressurreição e o juízo final (Jo 5.25-29;
At 17.31; Rm 2.3-16; 2Co 5.10; Fp 3.21; 1Ts 4.13-17; 2Pe 3.10-13;
Ap 20.11-15; 22.12).

3. A questão do milênio. Alguns creem que a segunda vinda


de Cristo será precedida ou seguida por um milênio.
3.1. O pós-milenismo. Esta teoria ensina que a segunda
vinda de Cristo seguirá o milênio. Este virá durante a dispensação
evangélica em que estamos vivendo agora, e no final Cristo
aparecerá. Espera-se que o evangelho venha a ser no fim muito
mais efetivo que no presente, e produzirá um período de justiça, paz
e bênçãos espirituais mui profusas. Em nossos dias, alguns ainda
esperam isto como o grande resultado de um simples processo
natural de evolução da humanidade. Toda esta ideia, no entanto,
não se ajusta ao que a Bíblia nos afirma a respeito da grande
apostasia que sobrevirá nos últimos dias.
3.2. O pré-milenismo. Cristo, em sua volta, restabelecerá
sobre a terra o reino de Davi, e reinará em Jerusalém ao longo de
mil anos. Esta teoria se baseia em uma interpretação literal dos
profetas e de Apocalipse 20.1-6. Toma o reino de Deus como um
reino terreno e nacional, enquanto o Novo Testamento o apresenta
como sendo espiritual e universal, um reino que justamente agora
se acha em existência (Mt 11.12-28; Lc 17.21; Jo 18.36, 37; Cl
1.13). O Novo Testamento ignora completamente semelhante
reinado temporal de Cristo, porém fala de seu reinado celestial (2Tm
4.18) e eterno (2Pe 1.11). Além disso, a teoria tenta apoiar-se numa
única passagem (Ap 20.1-6), a qual apresenta uma cena no céu, e
não faz menção dos judeus, nem de um reino nacional e terreno,
nem da Palestina como um lugar onde Jesus reinará.
3.3. O amilenismo. Os amilenistas entendem o milênio como
sendo uma figura do reino presente de Cristo e dos santos no céu
(análogo a Ap 6.9, 10). A primeira ressurreição (Ap 20.5) se refere à
vida de cristãos que morreram e que estão com Cristo no céu, ou à
vida em Cristo que começa com o novo nascimento espiritual (Rm
6.8-11; Ef 2.6; Cl 3.1-4). Satanás foi preso através do triunfo de
Cristo em sua crucifixão e ressurreição (Jo 12.31; Cl 2.15).[2]

Para memorização. Passagens relevantes sobre:


1. A vocação dos gentios:

Mt 24.14. “E será pregado este evangelho do reino por todo o


mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim.”

Rm 11.25, 26. “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério
(para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio
endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude
dos gentios. E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito:
Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades.”

2. A conversão de Israel:

Rm 11.26. “E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito:
Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades.”

2Co 3.15, 16. “Mas até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto
sobre o coração deles. Quando, porém, algum deles se converte ao
Senhor, o véu lhe é retirado.”

3. A grande apostasia e a grande tribulação:


Mt 24.9-13. “Então, sereis atribulados, e vos matarão. Sereis
odiados de todas as nações, por causa do meu nome. Nesse tempo,
muitos hão de se escandalizar, trair e odiar uns aos outros; levantar-
se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. E, por se
multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos. Aquele,
porém, que perseverar até o fim, esse será salvo.”

Mt 24.21, 22. “Porque nesse tempo haverá grande tribulação, como


desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá
jamais. Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria
salvo; mas, por causa dos escolhidos, tais dias serão abreviados.”

4. A revelação do anticristo:

2Ts 2.8, 9. “Então, será, de fato, revelado o iníquo, a quem o Senhor


Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela
manifestação de sua vinda. Ora, o aparecimento do iníquo é
segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e
prodígios da mentira.”

1Jo 2.18-22. “Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que


vem o anticristo, também, agora, muitos anticristos têm surgido; pelo
que conhecemos que é a última hora. Eles saíram de nosso meio;
entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos
nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para
que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos. E vós
possuís unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento.
Não vos escrevi porque não saibais a verdade; antes, porque a
sabeis, e porque mentira alguma jamais procede da verdade. Quem
é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é
o anticristo, o que nega o Pai e o Filho.”

5. A segunda vinda de Cristo:

Mt 24.44. “Por isso, ficai também vós apercebidos; porque, à hora


em que não cuidais, o Filho do Homem virá.”

Fp 3.20. “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também


aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo.”

Tt 2.13. “Aguardando a bendita esperança e a manifestação da


glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus.”

Para estudo adicional:

1. Como você explicaria as passagens que falam da vinda de Cristo


como próxima? (Mt 16.28; 24.34; Hb 10.25; Tg 5.9; 1Pe 4.5; 1Jo
2.18).

2. Quem são os falsos cristos ou anticristos dos quais a Bíblia fala?


(Mt 24.24; 1Jo 2.18).

3. Que você responderia à ideia de que a segunda vinda de Cristo


pertence ao passado, uma vez que ele já voltou em espírito? (Jo
14.8-18).
P

1. Que grandes acontecimentos precederão a segunda vinda


de Cristo?
2. Em que sentido as nações devem ser evangelizadas?
3. Como devemos entender a predita conversão de Israel?
4. Que é a grande apostasia e a grande tribulação?
5. O que a Bíblia quer dizer quando fala do Anticristo?
6. Em que sentido houve e há anticristos?
7. Que sinais precederão a segunda vinda?
8. Em que sentido pode ser considerada próxima?
9. Podemos considerar a segunda vinda como um fato
pretérito? Se não é possível, por quê?
10. Como você provaria que ela será uma vinda física e
visível?
11. Como será repentina, se será precedida de sinais?
12. Qual será o propósito da volta de Cristo?
13. Qual é a diferença entre pós, pré e amilenismo?
14. Que objeções se suscitam contra cada uma dessas
teorias?
CAPÍTULO XXX: RESSURREIÇÃO, JUÍZO
FINAL E ESTADO ETERNO
1. A ressurreição. A Escritura ensina que, ao regresso de
Cristo, os mortos ressuscitarão. O Antigo Testamento fala
claramente disto em Isaías 25.19 e Daniel 12.2. O Novo Testamento
contém prova ainda mais sobeja desta doutrina (Jo 5.25-29; 6.39,
40, 44; 11.24, 25; 1Co 15; 1Ts 4.13-17; Ap 20.13).
1.1. O caráter da ressurreição. A Escritura nos ensina a
esperar uma ressurreição física, semelhante à ressurreição de
Cristo. A redenção em Cristo inclui o corpo (Rm 8.23; 1Co 6.13-20).
Esta classe de ressurreição é claramente ensinada (1Co 15; Rm
8.11). Incluirá os justos e os ímpios, respectivamente; mas só para
aqueles é que será um ato de libertação e de glória. Para estes a
reunião de alma e corpo terá como resultado o castigo da morte
eterna.
1.2. O tempo da ressurreição. Segundo a Bíblia, a
ressurreição geral coincidirá com o regresso de Cristo e o fim do
mundo, e se concretizará imediatamente antes do juízo final (Jo
5.27-29; 6.39, 40, 44, 54; 11.24; 1Co 15.23; Fp 3.20, 21; Ap 20.11-
15). Os pré-milenistas ensinam que haverá uma dupla ressurreição:
a primeira, dos justos, no regresso de Cristo; e a dos ímpios, mil
anos depois, no fim do mundo. A Bíblia, porém, fala de ambas as
ressurreições em uma só palavra (Dn 12.2; Jo 5.28, 29; At 24.15).
Conecta o juízo dos maus com a vinda de Cristo (2Ts 7.10) e coloca
a ressurreição dos justos no último dia (Jo 6.39, 40, 44, 54; 11.24).

2. O juízo final. A doutrina da ressurreição nos conduz


diretamente ao juízo final. A Bíblia fala da vinda deste juízo em
termos que não deixam dúvida (Sl 96.31; 98.9; Ec 3.17; 12.24; Mt
25.31-46; Rm 2.5-10; 2Co 5.10; 2Tm 4.1; 1Pe 4.5; Ap 20.11-14).
2.1. O Juiz e seus oficiais. Cristo, como Mediador, será o
Juiz (Mt 25.31, 32; Jo 5.27; At 10.42; 17-31; Fp 2.10; 1Tm 4.1). Esta
honra é conferida a Cristo como recompensa por sua obra
redentora. Os anjos serão seus auxiliares (Mt 13.41, 42; 24.31;
25.31) e os santos terão também participação em sua obra judicial
(1Co 6.2; Ap 20.4).
2.2. Quem será julgado. Segundo a Bíblia, é evidente que
cada indivíduo da raça humana terá que comparecer perante o trono
do juízo (Ec 12.14; Mt 12.36, 37; 25.32; Rm 14.10; 2Co 5.10; Ap
20.14). Há quem pense que os justos serão excetuados, mas isto
contraria Mateus 13.30, 4-43, 49; 25.31-36; 2 Coríntios 5.10. Afirma-
se com toda clareza que os demônios também serão julgados (Mt
8.29; 1Co 6.3; 2Pe 2.4; Jd 6).
2.3. O tempo do juízo. O juízo final será naturalmente no fim
do mundo e seguirá imediatamente a ressurreição dos mortos (Jo
5.28, 29; Ap 20.12, 13). A duração do juízo não pode ser
determinada. A Bíblia fala do dia do juízo, mas isso não significa,
necessariamente, que será um dia de 24 horas. Nem tampouco há
base para assegurar, com os pré-milenistas, que será um dia de mil
anos.
2.4. A norma do juízo. A regra pela qual os santos e os
ímpios serão julgados será, sem dúvida, a vontade revelada de
Deus. Os gentios serão julgados pela lei natural revelada em suas
consciências; os judeus, pela revelação veterotestamentária; e os
que tiveram acesso à mais plena revelação do evangelho serão
julgados por sua luz (Rm 12.2); Deus dará a cada um o que ele
merece.

3. O estado eterno. O juízo final terá como propósito


manifestar e fixar claramente o estado final de cada pessoa.
3.1. A condição final dos ímpios. Os maus serão
consignados a um lugar de castigo chamado inferno. Há quem
negue que o inferno seja um lugar e o considera meramente como
uma condição; a Bíblia, porém, ao descrevê-lo, emprega termos de
caráter local. Por exemplo, ela nos fala de fornalha acesa (Mt
13.42), lago de fogo (Ap 20.14, 15) e de prisão (1Pe 3.19). E todos
estes são termos de caráter local. Neste lugar, os ímpios viverão
totalmente privados do favor divino, experimentarão uma existência
de infindável conturbação, sofrerão penas positivas em seu corpo e
alma, e estarão sujeitos aos tormentos da consciência, angústia e
desespero (Mt 8.12, 13; Mc 9.47, 48; Lc 16.23, 28; Ap 14.10; 21.8).
Haverá graus em seu castigo (Mt 11.22-24; Lc 12.47, 48; 20.47). É
evidente que seu castigo será eterno. Há quem negue isto, porque
as palavras originais traduzidas por eterno e por sempre podem
significar simplesmente um longo período de tempo. No entanto,
este não é o significado corrente de tais palavras, e não há razão
para pensar que tenham tal significado ao serem aplicadas ao
castigo futuro dos maus. Além disso, usam-se termos que
confirmam a ideia de castigo interminável (Mc 9.43, 48; Lc 16.25).
3.2. O estado final dos justos. O estado final dos crentes
será precedido pelo desaparecimento do presente mundo e o
estabelecimento de uma nova criação. Não será uma nova criação
no sentido estrito do termo, mas uma renovação da presente criação
(Sl 102.26, 27; Hb 12.26-28). O céu será a morada eterna dos
crentes. Há quem pense que o céu é simplesmente uma condição;
mas a Bíblia o apresenta claramente como um lugar (Jo 14.2; Mt
22.12, 13; 25.10-12). Os justos, porém, não herdarão apenas o céu,
mas também toda a nova criação (Mt 5.5; Ap 21.1-3). O prêmio dos
justos é descrito como vida eterna, o que significa não apenas vida
sem fim, mas vida em toda sua plenitude, sem qualquer imperfeição
e transtorno próprios da presente existência. Esta plenitude de vida
será desfrutada em comunhão com Deus que realmente é a
essência da vida eterna (Ap 21.3). Ainda que todos desfrutarão de
bênção perfeita, haverá também graus nos deleites celestiais (Dn
12.3; 2Co 9.6).

Para memorização. Passagens que provam:


1. Uma ressurreição geral:

Dn 12.2. “Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns


para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno.”
Jo 5.28, 29. “ Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que
todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os
que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que
tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo.”

At 24.15. “ Tendo esperança em Deus, como também estes a têm,


de que haverá ressurreição, tanto de justos como de injustos.”

2. Uma ressurreição física:

Rm 8.11. “Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a


Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus
dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio
do seu Espírito, que em vós habita.”

1Co 15.35. “Mas alguém dirá: Como ressuscitam os mortos? E em


que corpo vêm?”

3. A ressurreição no último dia, ou na volta de Cristo:

1Co 15.22, 23. “Porque, assim como, em Adão, todos morrem,


assim também todos serão vivificados em Cristo. Cada um, porém,
por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de
Cristo, na sua vinda.”

1Ts 4.16. “Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de


ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus,
descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro.”
Jo 6.40. “De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o
Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último
dia.”

4. O juízo final com Cristo como Juiz:

2Co 5.10. “ Porque importa que todos nós compareçamos perante o


tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o
mal que tiver feito por meio do corpo.”

2Tm 4.1. “ Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar


vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino.”

Ap 20.12. “ Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos


em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o
Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as
suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros.”

5. Castigos e galardões eternos:

Mt 25.46. “ E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para


a vida eterna.”

Rm 2.6-8. “Que retribuirá a cada um segundo o seu procedimento: a


vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, procuram glória,
honra e incorruptibilidade; mas ira e indignação aos facciosos, que
desobedecem à verdade e obedecem à injustiça.”

2Ts 1.9. “Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos


da face do Senhor e da glória do seu poder.”

6. Graus de castigo e de recompensa:

Dn 12.3. “Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor


do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as
estrelas, sempre e eternamente.”

Lc 12.47, 48. “Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu


senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade será
punido com muitos açoites. Aquele, porém, que não soube a
vontade do seu senhor e fez coisas dignas de reprovação levará
poucos açoites. Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será
exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão.”

2Co 9.6. “E isto afirmo: aquele que semeia pouco pouco também
ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também
ceifará.”

Para estudo adicional:

1. Como Jesus argumenta em relação à ressurreição em Mateus


22.23, 33?
2. Paulo põe o juízo dos maus mil anos depois da volta de Cristo?
(2Ts 1.7-10).

3. A passagem de 1 Coríntios 6.3 prova que os anjos bons serão


também julgados?

1. Como você provaria a ressurreição física à luz do Novo


Testamento?
2. Que prova bíblica há da ressurreição dos ímpios?
3. Como esta ressurreição difere da dos justos?
4. O que a Bíblia ensina a respeito do tempo da ressurreição?
5. Como você contradiria a doutrina de uma dupla
ressurreição?
6. Que prova há na Bíblia do juízo?
7. Quem será o Juiz e quem o auxiliará?
8. Quem será julgado?
9. Quando será o juízo final e quanto durará?
10. Por qual norma os homens serão julgados?
11. Em que consistirá o estado dos ímpios?
12. Como você provaria que ele será interminável?
13. A nova criação será inteiramente nova, ou será uma
renovação da antiga?
14. Qual será a recompensa dos justos?
Sobre o autor

Louis Berkhof nasceu em 13 de outubro


de 1873, em Emmen, uma pequena cidade
da Holanda, e imigrou com a família para os
Estados Unidos em 1882. Em 1893, começou
a frequentar o Theological School of the
Christian Reformed Church (hoje Calvin
Theological Seminary), onde estudou sob a
orientação de Hendericus Beuker e foi
influenciado pelos escritos de Abraham
Kuyper e Herman Bavinck. Em 1900,
graduou-se no Calvin Theological Seminary e
se tornou pastor da First Christian Reformed
Church in Allendale (Michigan). Frequentou o
Seminário Teológico de Princeton entre 1902
e 1904, tendo sido orientado por Benjamin B.
Warfield e Geerhardus Vos. Um de seus
amigos, H. Henry Meeter, observou: “Berkhof
muitas vezes se dizia mais devedor a Vos
que a qualquer outra pessoa por suas
percepções relativas à teologia reformada”.
Em 1904, Berkhof tornou-se pastor da
Oakdale Park Christian Reformed Church em
Grand Rapids (Michigan). De acordo com
algumas pessoas, era um excelente cantor e
um pregador dramático, com belo domínio do
holandês e do inglês. Em 1906, foi designado
professor de Teologia Exegética no Calvin
Theological Seminary e, em 1926, tornou-se
professor de Teologia Dogmática. Em 1921,
proferiu as famosas “Stone Lectures”
[“Palestras Stone”] em Princeton. Em 9 de
setembro de 1931, foi eleito presidente do
Calvin Theological Seminary, onde serviu até
sua aposentadoria (1944). Sendo um escritor
prolífico, suas obras incluem numerosos
títulos sobre teologia, questões sociais,
política, educação e missões. Além dos seus
livros, incontáveis artigos de sua autoria
foram publicados em periódicos reformados,
como The Banner, De Wachter e o Calvin
Forum. Serviu como primeiro presidente do
Reformed Ecumenical Synod em 1946.
Berkhof faleceu em 18 de maio de 1957,
na cidade de Grand Rapids.

[1] A primeira versão foi publicada pelo Instituto Bíblico Eduardo Lane (Ceibel)
em parceria com a Editora Luz para o Mundo em 1984.
[2] Trecho (3.3) extraído da Bíblia de Estudo de Genebra (São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 1999), sobre o livro do Apocalipse, p. 1524. [N. do T.]

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