Você está na página 1de 5

TREINAMENTO RESISTIDO MELHORA A PRESSÃO

ARTERIAL E O DESEMPENHO FUNCIONAL


DE PESSOAS COM DM2 Original Article
Artigo Original
RESISTANCE TRAINING IMPROVES THE BLOOD PRESSURE AND FUNCTIONAL PERFORMANCE Artículo Original
OF INDIVIDUALS WITH T2DM

ENTRENAMIENTO RESISTIDO MEJORA LA PRESIÓN ARTERIAL Y EL DESEMPEÑO FUNCIONAL


DE LAS PERSONAS CON DM2
Jefferson Thiago Gonela1 RESUMO
(Profissional de Educação Física)
Vanilde de Castro2 Introdução: Estudos apresentando os benefícios em pessoas com Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) sub-
(Matemática) metidas ao treinamento resistido com um exercício para cada grupo muscular com três séries na mesma
Maria Lúcia Zanetti2 intensidade. Objetivos: Comparar a capacidade funcional e a pressão arterial antes e após o treinamento com
(Enfermeira) pesos. Métodos: Vinte e três pacientes participaram de um programa de treinamento com pesos. Foram rea-
lizados testes de força máxima para os membros inferiores e superiores e de avaliação funcional. O tempo de
1. Centro Universitário Moura
intervenção foi de 16 semanas, sendo 12 de treinamento e quatro de avaliações. Houve aumento do volume,
Lacerda de Ribeirão Preto,
com o número de exercícios, e da intensidade, com o incremento de pesos. Resultados: Houve melhora sig-
Faculdade de Educação Física,
Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil.
nificativa na maioria dos testes funcionais. No teste de levantar-se da cadeira cinco vezes, no pré-treinamento,
2. Escola de Enfermagem de nove pacientes apresentaram tempo superior a 13,6 segundos. No pós-treinamento, quatro mantiveram o
Ribeirão Preto, Departamento de tempo acima, mas dois reduziram o tempo de 16,1 e 19,6 para 13,9 segundos. No teste de força de carga má-
Enfermagem Geral e Especializada, xima, verificou-se aumento significativo tanto nos membros superiores quanto inferiores com 20,8% e 23,4%,
Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. respectivamente. Após o treinamento, verificou-se redução significativa da pressão arterial sistólica tanto em
repouso quanto após o esforço. Conclusões: O programa de treinamento com pesos melhorou a força muscular,
Correspondência: a capacidade funcional e a pressão arterial dos pacientes com diabetes mellitus tipo 2. Nível de evidência IV;
Jefferson Thiago Gonela Estudo terapêutico - Investigação dos resultados do tratamento.
Centro Universitário Moura Lacerda
de Ribeirão Preto, Faculdade de
Descritores: Diabetes mellitus tipo 2; Exercício; Treinamento de resistência; Equilíbrio postural; Pressão arterial;
Educação Física
Av. Dr. Oscar de Moura Lacerda,
Hipertensão.
1520, Independência.
14076-510. Ribeirão Preto, SP, Brasil.
ABSTRACT
jeffersoneduca@yahoo.com.br Introduction: Studies presenting the benefits in people with type 2 Diabetes Mellitus (T2DM) undergoing resistance
training with one exercise for each muscle group, with three sets at the same intensity. Objective: To compare functional
capacity and blood pressure before and after weight training. Methods: Twenty-three patients participated in a weight
training program. Maximum strength and functional assessment tests were performed for the lower and upper limbs.
The intervention time was 16 weeks, 12 of which consisted of training and four of evaluations. There was an increase
in volume with the number of exercises and an increase in intensity with incremental weights. Results: There was sig-
nificant improvement in most of the functional tests. In the 5x sit-to-stand test in the pre-training period, nine patients
recorded times greater than 13.6 seconds. In the post-training period, four maintained the above time, but two reduced
the time from 16.1 and 19.6 to 13.9 seconds. In the maximum load strength test there are a significant increase in both
upper and lower limbs with 20.8% and 23.4%, respectively. After the training period, there was a significant reduction
in systolic blood pressure both at rest and after exercise. Conclusion: The weight training program improved muscle
strength, functional capacity and blood pressure in patients with type 2 diabetes mellitus. Level of evidence IV;
Therapeutic study - Investigation of treatment outcomes.

Keywords: Diabetes mellitus, type 2; Exercise; Resistance training; Postural balance; Arterial pressure; Hypertension.

RESUMEN
Introducción: Evaluación de los beneficios del entrenamiento resistido en personas con Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2)
que realizaron un ejercicio para cada grupo muscular, con tres series en la misma intensidad. Objetivos: Comparar la
capacidad funcional y la presión arterial antes y después del entrenamiento con pesos. Métodos: Veintitrés pacientes
participaron en un programa de entrenamiento con pesos. Fueron realizados tests de fuerza máxima para los miembros
inferiores y superiores y evaluación funcional. El tiempo de intervención fue de 16 semanas, 12 de entrenamiento y
cuatro de evaluaciones. Hubo un aumento del volumen, con el número de ejercicios, y de la intensidad, con el aumento
en pesos. Resultados: Hubo mejora significativa en la mayoría de los tests funcionales. En el test de levantarse de la
silla cinco veces, en el pre-entrenamiento, nueve pacientes presentaron tiempo superior a 13,6 segundos. En el post-
-entrenamiento, cuatro mantuvieron el tiempo anterior, pero dos redujeron el tiempo de 16,1 y 19,6 a 13,9 segundos.

Rev Bras Med Esporte – Vol. 26, No 1 – Jan/Fev, 2020 53


En el test de fuerza de carga máxima, se verificó aumento significativo tanto en los miembros superiores como en los
inferiores con 20,8% y 23,4%, respectivamente. Después del entrenamiento, se verificó reducción significativa de la
presión arterial sistólica tanto en reposo como después del esfuerzo. Conclusiones: El programa de entrenamiento con
pesos mejoró la fuerza muscular, la capacidad funcional y la presión arterial de los pacientes con Diabetes Mellitus
tipo 2. Nivel de evidencia IV; Estudio terapéutico - Investigación de los resultados del tratamiento.

Descriptores: Diabetes mellitus tipo 2; Ejercicio; Entrenamiento de resistencia; Balance postural; Presión arterial; Hipertensión.

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1517-869220202601176504 Artigo recebido em 09/03/2017 aprovado em 07/06/2019

INTRODUÇÃO marcha foi utilizado o teste de marcha de 10 metros14. Também foi


Reconhece-se que a atividade física, durante 30 minutos ao dia, utilizada a Bateria de Testes para Avaliação das Atividades Diárias para
cinco dias por semana, em intensidade moderada a intensa reduz o Idosos Fisicamente Ativos, validada por Andreotti e Okuma15
risco de doenças cardiovasculares e contribui para a redução do peso O teste de repetições máximas foi utilizado para estimar a força dos
corporal e da pressão arterial.1-2 membros superiores e inferiores. Quando realizado entre uma e dez
Apesar dos benefícios da atividade física para indivíduos com Diabe- repetições com falha concêntrica ou erro de técnica, o teste foi interrom-
tes Mellitus tipo 2 (DM2), estudo anterior, mostrou que 12,1% indivíduos pido. O peso e número de repetições foram registrados16. O cálculo para
com DM2 são sedentários, ou seja, não realizam dez minutos de ativi- estimar a carga máxima foi: 1-RM = 100 * carg rep / (102,78 – 2,78 * rep)17.
dade física nos afazeres domésticos, de quintal ou jardim, de trabalho, A coleta de dados e o treinamento ocorreram em uma academia
de transporte e de lazer. Além disso, 56,8% não realizam atividade física particular próxima a UBDS após aprovação do Comitê de Ética e assinatura
de lazer, e 20,5% obtém benefícios à saúde.3 Apenas 12% dos idosos do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). O eletrocardiogra-
realizam algum tipo de treinamento de fortalecimento muscular.1 ma foi realizado em uma clinica especializada. O tempo de intervenção
Pessoas com DM2 com sobrepeso e obesidade, na maioria, são se- foi de 16 semanas, sendo 12 de treinamento e quatro de avaliações.
dentários, apresentam dificuldades e falta de motivação para exercícios de Para a caminhada de 800 m foi construído um percurso plano em
potência aeróbica, por vários anos. O treinamento de força pode tornar-se uma praça. Antes do inicio dos testes de força foram realizadas três
atrativo e pode favorecer a mudança de comportamento em relação sessões de adaptação, sem pesos, para padronização das avaliações. A
às variáveis envolvidas4. No entanto, apesar desse tipo de treinamento intensidade do treinamento foi de 60% no início e chegou a 80% no final
aumentar a força muscular, reduzir a gordura corporal, resultados efetivos do período. Recomendou-se a realização dos movimentos até quase a
no controle glicêmico e lipídico nem sempre são evidenciados5,6. Por falha concêntrica, atendendo o tipo de contração preconizado no trei-
outro lado, o treinamento aeróbico e resistido colaboram na redução dos namento de resistência de força hipertrófica. Após o início do estudo,
valores de pressão arterial (PA)7. Contudo, os estudos sobre treinamento houveram cinco desistências no decorrer das 16 semanas de estudo.
resistido e capacidade funcional de pacientes com DM2 são escassos.8,9 No início de cada sessão de treinamento foi coletado sangue ca-
Por outro lado, os benefícios aos pacientes submetidos a um pro- pilar. Seguiu-se o protocolo: 1- glicemia inferior a 100 mg/dl, oferecer
grama de exercício resistido foi evidenciado com um tipo de exercício suco adoçado; 2- glicemia superior a 300 mg/dl, realizar três séries de
para cada grupo muscular, com três séries para cada exercício e mesma um exercício e verificar a glicemia capilar; 2a- glicemia menor do que
intensidade.4,5,10,11 Diante do exposto, pergunta-se: o treinamento resistido a inicial, continuar em treinamento; 2b- se maior quando comparado a
hipertrófico com incremento do número de exercícios e de séries aos inicial, indicar o final do treinamento e encaminhar à consulta na UBDS.
grupos musculares e o aumento da intensidade pode trazer benefícios Quanto a Pressão Arterial (PA) seguiu-se o protocolo: Pressão arterial
adicionais aos idosos com DM2? sistólica (PAS) ≥180 mmHg e a Pressão arterial diastólica (PAD) ≥100
Temos como objetivo desse estudo avaliar a capacidade funcional mmHg, realizar três séries de um exercício e verificar PA. A- Se houves-
de pacientes idosos com DM2 antes e após um programa de treina- se declínio dos valores da PA, dado prosseguimento ao treinamento;
mento resistido hipertrófico com aumento do volume e intensidade B- estável, outra verificação era realizada; C- se elevou, o treinamento
do treinamento. era interrompido.
Antes de iniciar os exercícios específicos foi realizado um alongamen-
MATERIAL E MÉTODO to de 10 minutos. Uma série era realizada sem carga para aquecimento
Estudo prospectivo e comparativo realizado em Unidade Básica localizado no primeiro aparelho utilizado.
Distrital de Saúde (UBDS). A população foi constituída por 355 pacientes Nas primeiras 13 sessões foram realizados sete exercícios, um para
com DM2 do Ambulatório de Endocrinologia. Foram incluídos pacientes cada grupo muscular com intensidade aproximada de 60% de 1RM.
com DM2, 60 anos e mais, de ambos os sexos, telefone para contato, Os exercícios foram o Chest press, tríceps extensor, puxador articulado,
laudo do teste de esforço cardiológico. Foram excluídos os pacientes rosca direta, elevação lateral leg press horizontal e panturrilha sentada,
com diabetes Mellitus tipo1 (DM1), doenças cardíacas, infarto agudo do sendo três séries para cada exercício e 15 repetições para os membros
miocárdio e acidente vascular cerebral, PA não controlada, registradas em superiores e de 20 repetições, para os inferiores.
prontuário de saúde, além de dificuldade para entender as orientações às Nas 12 sessões subsequentes aumentou-se a intensidade, com apro-
atividades programadas e com teste de esforço cardiológico reprovado. ximadamente 70% de 1RM. O volume do treinamento foi aumentado
Dos 355 pacientes, 107 foram considerados potencialmente elegíveis. mantendo-se os exercícios anteriores. Acrescentou-se o supino inclinado
Foram excluídos 79 pacientes com DM2 que não atenderam aos crité- com halteres, remada horizontal aberta, elevação frontal, extensora,
rios de inclusão. A amostra foi constituída por 28 pacientes com DM2. flexora, adutora e abdutora sentada, perfazendo 14 exercícios. Foram
Para avaliar o equilíbrio e risco de quedas foi utilizado o Tanden realizadas três séries para cada exercício e 12 repetições para membros
stance12; o Teste de equilíbrio estático de apoio unipedal13 e Levantar superiores e 15 repetições, para inferiores, com exceção de panturrilha
da cadeira cinco vezes14. Para avaliar a capacidade de aceleração da e adutores e abdutores, totalizando 20 repetições.
54 Rev Bras Med Esporte – Vol. 26, No 1 – Jan/Fev, 2020
Nas últimas 12 sessões houve incremento de intensidade, com que houve melhora em todos os testes realizados, exceto no teste de
aproximadamente 80% de 1RM, e foram acrescidos mais um exercício equilíbrio estático unipedal (Tabela1).
para cada grupo muscular menor e mais um para coxa e abdominais, Após o período de treinamento com pesos, verificou-se redução
totalizando 20. Foram mantidos os exercícios anteriores e acrescentados significativa da PAS tanto em repouso quanto após o esforço. Nos testes
rosca concentrada, rosca francesa, Hack, Panturrilha em pé, abdominal das atividades diárias para idosos fisicamente ativos. Também houve
reto e abdominal oblíquo. Em cada dia de treinamento foram realiza- redução da PAD em todas as aferições, com redução significativa em
dos 10 exercícios. Foram realizadas três séries para cada exercício e 10 repouso e após esforço em quase todos os testes de avaliação funcional
repetições para exercício de membros superiores e de 12 repetições, e de atividades diárias para idosos fisicamente ativos. (Tabela 2)
para os inferiores, com exceção de panturrilha, abdominais, adutores e O Gráfico 1 mostra o comportamento da PAS e PAD, inicial e final, du-
abdutores que permaneceram em 20 repetições. rante as 37 sessões de treinamento com pesos. Verifica-se que a PAS inicial
O tempo de intervalo entre as séries foi de um a dois minutos e foi maior do que a final na metade das sessões de treinamento com pesos.
entre os exercícios de dois a três minutos. O incremento de carga foi Quanto a PAD, na maioria das sessões, a inicial foi maior do que a final.
igual em todas as etapas do treinamento. O paciente ao realizar as três
séries com as repetições estipuladas em um determinado exercício, 160,00

na próxima sessão havia um incremento de peso no exercício, para 140,00


manutenção da intensidade.
120,00
Para a comparação da capacidade funcional antes e após o treina-
mento com pesos utilizou-se o teste t de Student pareado e/ou teste 100,00

de Wilcoxon pareado, nível de significância estatística α= 0,05. 80,00

RESULTADOS 60,00

Dos 23 participantes, 18 (78,3%) eram mulheres. A média de idade foi 40,00

de 68,3 (6,7) anos. Dentre as comorbidades, 19 (82,6%) tinham diagnós- 20,00


tico de dislipidemia e 13 (56,5%) de HA. Houve melhora significativa em
0,00
quase todos os testes de avaliação funcional de 7,6% a 33,4%. A média de 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37

caminhada foi de 1,3 m/s no período pré e 1,4 m/s após o treinamento. PAS inicial PAS final PAD inicial PAD final

A Tabela 1 mostra a avaliação da capacidade funcional dos pacientes Figura 1. Médias da pressão arterial sistólica e diastólica, iniciais e finais, aferidas
com DM2 antes e após o período de treinamento com pesos. Verifica-se durante as 37 sessões de treinamento com pesos.

Tabela 1. Testes para avaliação da capacidade funcional, realizados antes e após o treinamento com pesos e cargas progressivas, em idosos com diabetes mellitus tipo 2.
Pré – Treinamento Pós – Treinamento
Diferença % Avaliação
Média (DP) Média (DP)
Caminhada
10 metros velocidade habitual (segundos) 11,1 (2,0) 9,7 (1,8)* 13,0* Melhorou
10 metros velocidade máxima (segundos) 7,7 (1,7) 6,9 (1,3)* 10,6* Melhorou
800 metros (segundos) + 674,2 (87,5) 623,1 (104,3)* 7,6* Melhorou
Equilíbrio (segundos)
Estático unipedal – olho aberto (segundos)+ 18,6 (11,3) 15,3 (11,5)* 17,5* Reduziu
Estático unipedal – olho fechado (segundos)+ 4,7 (3,2) 5,3 (5,6) 13,0 _
Tandem stance (segundos) 26,3 (8,4) 29,0 (5,0)* 10,3* Melhorou
Sentar e locomover-se (segundos) 60,3 (12,5) 50,7 (9,8)* 15,9* Melhorou
Levantar-se do solo (segundos)++ 9,8 (6,3) 7,6 (4,0)* 21,5* Melhorou
Levantar-se da cadeira 5 vezes (segundos) 13,6 (2,1) 11,2 (1,9)* 18,2* Melhorou
Subir escada (segundos) 18,0 (9,5) 12,0 (6,8)* 33,4* Melhorou
Habilidades manuais (segundos) 14,3 (4,7) 11,7 (3,7)* 18,3* Melhorou
Calçar meia (segundos) 10,5 (7,3) 9,7 (5,2) 7,3 _
Subir degraus (cm) 64,1 (11,7) 67,8 (8,0)* 5,1* Melhorou
Teste de carga máxima (Kg)+++
Membros superiores 12,0 (4,8) 14,5 (5,1)* 20,8* Melhorou
Membros inferiores 65,2 (16,9) 80,4 (19,4)* 23,4* Melhorou
+
n = 22 participantes , ++ n = 20 participantes, +++ BRZYCKI, 1993, * p < 0,05.

Tabela 2. Variação da pressão arterial sistólica e diastólica e da frequência cardíaca durante avaliação funcional, realizada antes e após o treinamento com pesos e
cargas progressivas, em idosos com diabetes mellitus tipo 2.
Pré – Treinamento Pós – Treinamento
PAS PAD FC1 FC2 PAS PAD FC1 FC2
Em repouso 136,0 (16,0) 75,9 (10,58) 84,3 (16,1) - 129,0* (14,0) 71,7* (10,5) 82,2 (16,6) -
Caminhada 10m
Velocidade habitual - - 89,9 (18,7) 92,4 (19,5) - - 86,0 (14,9) 90,1 (17,6)
Velocidade máxima 141,6 (19,9) 75,9 (12,5) 85,7 (19,0) 95,4 (18,5) 131,3* (14,59) 73,7 (9,6) 86,8 (19,3) 96,2 (21,4)
Sentar e locomover-se 145,4 (18,0) 78,4 (13,9) 83,3 (17,6) 100,9 (17,6) 135,6* (16,5) 71,0* (13,1) 84,3 (18,0) 106,3 (21,8)
Levantar-se do solo + 140,8 (21,1) 76,6 (13,3) 85,9 (18,1) 96,1 (19,5) 130,1* (19,4) 71,7* (12,7) 83,6 (19,2) 93,6 (17,4)
Levantar-se da cadeira - 5 vezes 138,6 (22,1) 74,6 (12,1) 84,4 (17,6) 96,1 (18,5) 131,1* (17,5) 73,6 (10,2) 83,0 (16,8) 93,8 (16,3)
PAS – Pressão Arterial Sistólica; PAD – Pressão arterial diastólica; FC1 – Frequência Cardíaca antes do teste; FC2 – frequência cardíaca após o teste.Dados em média e desvio-padrão.+ n = 20 participantes; * média de PA
(mmHg) com diferença significativa, para aferições realizadas durante os testes físicos, antes e após 37 sessões de treinamento.

Rev Bras Med Esporte – Vol. 26, No 1 – Jan/Fev, 2020 55


Quanto às variações da PAS e PAD verifica-se, que a PAS apresentou positivo da maioria dos testes de capacidade funcional. Reconhece-se
uma variação com aumento superior a 10 mmHg em três das 37 sessões. que a velocidade da marcha pode constituir indicativo do aumento da
Na PAD observa-se aumento maior do que 5 mmHg em apenas duas expectativa de vida dos idosos21. Nossos achados mostram que a média
das 37 sessões (Gráfico 2). de caminhada foi considerada excepcional com 1,3 m/s no período pré-
treinamento e 1,4 m/s após treinamento, podendo indicar benefícios
do treinamento resistido na promoção e manutenção da velocidade de
15,00 marcha em pacientes idosos com DM2.
A força nos membros inferiores pode interferir na velocidade da
10,00 marcha, principalmente, na velocidade máxima, bem como outras
variáveis22. Estudos mostram que o treinamento resistido é capaz de
5,00 aumentar da força de homens idosos com e sem DM210,23 e que o
treinamento resistido progressivo e intervalado de alta intensidade,
0,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37
aumenta a força sem alteração no tipo de fibras em homens com
polineuropatia diabética24.
-5,00 Ao analisar o teste de equilíbrio Tandem Stance os resultados obti-
dos apontam para melhora da capacidade de equilíbrio dos pacientes
-10,00 investigados e menor risco de quedas. Reconhece-se que pessoas com
DM apresentam maior risco de quedas do que aqueles sem a doença.
-15,00 Desse modo, treinamento de equilíbrio combinado com treinamento de
Variação PAS Variação PAD força reduz o risco de queda, melhorarando a propriocepção, o tempo
de reação e aumento da força dos membros inferiores8.
Figura 2. Médias da variação da pressão arterial sistólica e diastólica durante cada
O treinamento resistido aumenta a força muscular. No entanto,
sessão, aferidas durante as 37 sessões de treinamento com pesos.
não se pode inferir que previna quedas, pois há maior relação de
DISCUSSÃO quedas com potência muscular do que com a força propriamen-
te dita. O que se sabe é que os melhores resultados são obtidos
Esse estudo mostrou que houve melhora significativa em quase todos
com treinamentos que alternam altas e baixas velocidades de
os testes de avaliação funcional antes e após o Programa de Treinamento.
contração muscular9,25.
Nos testes caminhar/correr 800 metros, sentar-se e locomover-se pela
casa, subir escada, levantar-se do solo e habilidades manuais mostraram Reconhece-se que o treinamento resistido é capaz de aumentar a
melhora estatisticamente significante, indicando melhora da capacidade força muscular em treinamento supervisionado a partir de dois meses
funcional dos pacientes. de treinamento. No entanto, quando a supervisão é suprimida há uma
Há escassez de estudos sobre treinamento de força que utilizaram tendência apenas à manutenção da força5,11. O acompanhamento por
testes propostos por Andreotti e Okuma15 Portanto, foram utilizados um profissional de educação física pode otimizar os resultados. O au-
outros parâmetros para analisar os resultados encontrados. Corroborando mento da força muscular pode contribuir para melhora da capacidade
aos nossos resultados um estudo mostrou que houve melhora, para a funcional e ao maior engajamento em atividade física, reduzindo o risco
totalidade da amostra, na maioria dos testes. O teste de caminhada de de debilidade no idoso26.
800 metros apresentou melhora, mas não significativa.18 Em relação à aptidão aeróbica os maiores benefícios são eviden-
Um estudo que propôs um programa de natação, para mulheres ciados em idosos que realizam treinamento com pesos associado ao
idosas, evidenciou melhora dos testes de caminhada de 800m, sentar- treinamento aeróbico, quando comparado ao treinamento aeróbico
-se e locomover-se pela casa, subir degraus, subir escadas, levantar-se exclusivo. O treinamento com pesos pode influenciar no estilo de vida
do solo e calçar meias19. ativo e os indivíduos devem ser motivados a engajar em programas de
Outro estudo de treinamento localizado, com enfoque nos principais exercícios físicos, pois se reconhece que os idosos tendem a apresentar
grupos musculares e sistema cardiorrespiratório, para idosos saudáveis, maior grau de sarcopenia27.
que também, utilizou os testes propostos por Andreotti e Okuma15 Ao analisar os valores da PA, constatou-se que houve redu-
mostrou que os testes iniciais foram superiores aos nossos achados em ção significativa tanto em repouso quanto após esforço durante
quase todos os testes, com exceção ao teste do degrau. No entanto, os testes. A redução da PA talvez possa ser justificada por uma
ao final do estudo a evolução física não foi significativa na bateria dos redução da resistência periférica dos vasos e pelo aumento da
testes, exceto para o teste calçar meias,20 força muscular, que reduz a sobrecarga cardíaca para as atividades
Os estudos relacionados acima18-20 iniciaram com resultados iniciais com a mesma carga.
melhores do que os nossos achados, mostrando que o Programa de Homens com maior nível de força têm menor chance de desenvolver
Treinamento Resistido realizado, no nosso estudo, foi superior para a HA, comparados àqueles com menor nível de força. Essa relação se faz
melhora da capacidade funcional. independente da aptidão cardiovascular, apesar de existir correlação
Em relação ao teste de levantar da cadeira cinco vezes, no teste moderada entre força e aptidão cardiovascular28.
pré-treinamento, os resultados sugerem risco de queda. No entanto, Estudos com mulheres hipertensas também mostraram redução da
no teste final os valores foram muito próximos aos de corte. As quedas PAS e da PAD7. Os resultados obtidos no Programa de Treinamento com
em idosos estão relacionadas a fatores extrínsecos e intrínsecos e pesos foram similares, com redução da PAS e da PAD, no entanto, sem
programas tal como o proposto no presente estudo pode colaborar treinamento aeróbico. Estudos mostram que o período de treinamento
para a sua prevenção. é importante para redução da PA5,6. Em nosso estudo, o período de 12
Analisando a força máxima dos membros inferiores e superiores semanas foi suficiente para reduzir a PA, talvez pelo maior volume do
obteve-se melhora o que pode ter colaborado para o desempenho treinamento proposto.
56 Rev Bras Med Esporte – Vol. 26, No 1 – Jan/Fev, 2020
Estudos realizados com adultos mostram que o treinamento resis- CONCLUSÕES
tido está relacionado ao aumento da massa muscular e consequente Conclui-se que houve melhora significativa na maioria dos testes funcio-
melhoria da bomba muscular periférica29 e que o treinamento com nais. No teste de carga máxima verificou-se aumento significativo da força,
pesos de longa duração não altera a PA negativamente, mas que é um em membros superiores e inferiores. Esses resultados mostram a melhoria
fator protetor para os pacientes hipertensos7,28,29. da capacidade funcional de idosos com DM2 e que o treinamento resistido
Durante o Treinamento Resistido Hipertrófico, a PA dos pacientes hipertrófico é uma ferramenta valiosa para melhoria ou manutenção das
idosos com DM2 apresentou valores satisfatórios para atividades mo- atividades diárias. O efeito na redução da PAS e PAD é comparável aos
deradas, uma vez que houve pequena variação entre o início e final das resultados do treinamento aeróbico em repouso e em atividade.
sessões de treinamento. Houve aumento maior nos valores da PAS em
apenas três sessões, e da PAD em apenas duas. Na maioria das sessões,
a PAS e PAD foram menores ao final do que no início das sessões de
Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito
treinamento, mostrando um possível efeito hipotensor periférico como
de interesses referente a este artigo.
resultado do treinamento com pesos.

CONTRIBUIÇÕES DOS AUTORES: Cada autor contribuiu individual e significativamente para o desenvolvimento do manuscrito. JTG: coleta de dados, redação do artigo, análise
dos dados, revisão do manuscrito; VC: coleta de dados, análise dos dados, análise estatística e revisão; MLZ: redação do artigo, análise dos dados, revisão. Todos os autores revisaram
e aprovaram a versão final do manuscrito.

REFERÊNCIAS
1. Nelson ME, Rejeski WJ, Blair SN, Duncan PW, Judge JO, King AC, et al. Physical Activity and public health 15. Andreotti RA, Okuma SS. Validação de uma bateria de testes de atividades da vida diária para idosos
in older adults: recommendation from the American College of Sports Medicine and the American Heart fisicamente independentes. Rev Paul Educ Fis. 1999;13(1):46-66.
Association. Med Sci Sports Exerc. 2007;39(8): 1435-45. 16. Brown LE, Weir JP, Oliveira HB, Bottaro M, Lima LC, Fernandes Filho J. Recomendação de procedimentos da
2. Colberg SR, Sigal RJ, Fernhall B, Regensteiner JG, Blissmer BJ, Rubin RR, et al. Exercise and Type 2 Diabetes. Sociedade Americana de Fisiologia do Exercício (ASEP) I: avaliação precisa da força e potência muscular.
The American College of Sports Medicine and the American Diabetes Association: joint position Rev Bras Cienc Mov. 2003;11(4): 95-110.
statement. Diabetes Care. 2010;33(12): e147-67.
17. Nascimento MA, Cyrino ES, Nakamura FY, Romanzini M, Pianca HJ, Queiróga MR. Validação da equação
3. American College of Sports and Medicine and American Diabetes Association. Exercise and Type 2 Diabetes: de Brzycki para a estimativa de 1-RM no exercício supino em banco horizontal. Rev Bras Med Esporte.
Joint Position Stand. Medicine & Science in Sports e Exercise. Special Communication. 2010:2282-303. 2007;13(1):47-50.
4. Brooks N, Layne JE, Gordon PL, Roubenoff R, Nelson ME, Castaneda-Sceppa C. Strength training improves 18. Passos BM, Souza LH, Silva FM, Lima RM, Oliveira RJ. Contribuições da hidroginástica nas atividades da
muscle quality and insulin sensitivity in Hispanic older adults with type 2 diabetes. Int J Med Sci. vida diária e na flexibilidade de mulheres idosas. Rev Educ Física/UEM. 2008;19(1):71-6.
2007;4(1):19-27.
19. Rabelo RJ, Bottaro M, Oliveira RJ, Gomes L. Efeitos da natação na capacidade funcional de mulheres
5. Dunstan DW, Vulikh E, Owen N, Jolley D, Shaw J, Zimmet P. Community center–based resistance training idosas. Rev Bras Cienc Mov. 2004;12(3):57-60.
for the maintenance of glycemic control in adults with type 2 diabetes. Diabetes Care. 2006;29(12):2589-91.
20. Hernandez ES, Barros JF. Efeitos de um programa de atividades físicas e educacionais para idosos sobre
6. Mavros Y, Kay S, Anderberg KA, Baker MK, Wang Y, Zhao R, et al. Changes in insulin resistance and HbA1c o desempenho em testes de atividades diárias. Rev Bras Cienc Mov. 2004;12(2):43-50.
are related to exercise-mediated changes in body composition in older adults with type 2 diabetes:
interim outcomes from the GRET2DO trial. Diabetes care. 2013;36(8):2372-9. 21. Studenski S, Perera S, Patel K, Rosano C, Faulkner K, Inzitari M, et al. Gait speed and survival in older
adults. JAMA. 2011;305(1):50-8.
7. Rego AR, Gomes AL, Veras RP, Drummond Jr E, Alkimin R, Dantas EH. Pressão arterial após Programa de
Exercício Físico Supervisionado em mulheres idosas hipertensas. Rev Bras Med Esporte. 2011;17(5):300-4. 22. Nomura T, Ikeda Y, Nakao S, Ito K, Ishida K, Suehiro T, et al. Muscle strenght is a marker insulin resistance
in patients with type 2 diabetes: a pilot study. Endocr J. 2007; 54(5):791-6.
8. Morrison S, Colberg SR, Mariano M, Parson HK, Vinik AI. Balance Training Reduces Falls Risk in Older
Individuals With Type 2 Diabetes. Diabetes Care. 2010;33(4): 748-50. 23. Ibañez J, Gorostiaga EM, Alonso AM, Forga L, Arguelles I, Larrión JL, et al. Lower muscle strength gains
in older man with type 2 diabetes after resistance training. J Diabetes Complications. 2008;22(2):112-8.
9. Antero-Jacquemin JS, Santos P, Garcia PA, Dias RC, Dias JM. Comparação da função muscular isocinética
dos membros inferiores entre idosos caidores e não caidores. Fisioter Pesq. 2012;19(1):39-44. 24. Praet SF, Jonkers RA, Schep G, Stehouwer CD, Kuipers H, Keizer HA, et al. Long-standing, insulin-treated
type 2 diabetes patients with complications respond well to short-term resistance and interval exercise
10. Cauza E, Hanusch-Enserer U, Strasser B, Ludvik B, Metz-Schimmerl S, Pacini G, et al. The relative benefits
training. Eur J Endocrinol. 2008;158(2):163-72.
of endurance and strength training on the metabolic factors and muscle function of people with type
2 diabetes mellitus. Arch Phys Med Rehabil. 2005;86(8):1527-33. 25. Reid KF, Fielding RA. Skeletal muscle power: a critical determinant of physical functioning in older adults.
Exerc Sport Sci Rev. 2012;40(1):4-12.
11. Dunstan DW, Daly RM, Owen N, Jolley D, Vulikh E, Shaw J, Zimmet P. Home-based resistance training is
not sufficient to maintain improved glycemic control following supervised training in older individuals 26. Hovanec N, Sawant A, Overend TJ, Petrella RJ, Vandervoort AA. Resistance Training and Older Adults with
with type 2 diabetes. Diabetes Care. 2005;28(1):3-9. Type 2 Diabetes Mellitus: Strength of the Evidence. J Aging Res. 2012;2012:284635.
12. Guralnik JM, Simonsick EM, Ferrucci L, Glynn RJ, Berkman LF, Blazer DG, et al. A short physical performance 27. Lubans DR, Plotnikoff RC, Jung M, Eves N, Sigal R. Testing mediator variables in a resistance training
battery assessing lower extremity function: Association with self-reported disability and prediction of intervention for obese adults with type 2 diabetes. Psychol Health. 2012;27(12):1388-404.
mortality and nursing home admission. J Gerontol. 1994;49(2):M85-94. 28. Maslow AL, Sui X, Colabianchi N, Hussey J, Blair SN. Muscular Strength and Incident Hypertension in
13. Rogers ME, Rogers NL, Takeshima N, Islam MM. Methods to assess and improve the physical parameters Normotensive and Prehypertensive Men. Med Sci Sports Exerc. 2010;42(2):288-95.
associated with fall risk in older adults. Prev Med. 2003;36(3): 255-64. 29. Cordina RL, O’Meagher S, Karmali A, Rae CL, Liess C, Kemp GJ, et al. Resistance training improves
14. Shubert TE, Schrodt LAVS, Busby-Whitehead J, Giuliani CA. Are Scores on Balance Screening Tests cardiac output, exercise capacity and tolerance to positive airway pressure in Fontan physiology. Inter
Associated with Mobility in Older Adults? J Geriatr Phys Ther. 2006;29(1):35-9. J Cardiol. 2013;168(2):780-8.

Rev Bras Med Esporte – Vol. 26, No 1 – Jan/Fev, 2020 57

Você também pode gostar