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1 - Introdução
A FGV Direito Rio, através do Centro de Tecnologia e Sociedade, tem trabalhado em
conjunto com a ABCID (Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital) no sentido de
buscar e apresentar soluções para as Lan-Houses, Cybercafés e similares (doravante referidos
neste documento apenas como Lan-Houses) que buscam a formalização perante o Poder
Público.
Entretanto, vários são os gargalos que impedem que tal seja possível. Diante disso, o presente
documento busca apresentar para avaliação da Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Econômico, Energia, Indústria e Serviços (SEDEIS) um breve panorama sobre a importância
que os empreendimentos denominados Lan-Houses possuem para a inclusão digital no Brasil,
fornecer um diagnóstico sobre os problemas legais que impedem o pleno desenvolvimento
deste setor econômico, bem como propor a criação de um grupo de trabalho objetivando
superar os atuais entraves jurídicos de modo a possibilitar um maior alcance dos benefícios
trazidos por estes empreendimentos para o Estado do Rio de Janeiro.
Vejamos, portanto, alguns dados relativos aos locais onde o cidadão brasileiro
predominantemente acessa a internet (local de acesso individual).
Como se pode observar da imagem abaixo, 35% dos usuários de internet no Brasil utilizam os
Centros Públicos de Acesso Pago (CPAPs – que incluem LAN-Houses, Internet Cafés e outros
estabelecimentos similares) como o principal meio para conectar-se à rede mundial de
computadores, quase superando o acesso feito em domicílio, que é realizado por 36% dos
usuários.
1 O CGI é o órgão criado com o objetivo de coordenar e integrar todas as iniciativas de internet no país. Mais
detalhes no website: http://www.cgi.br/
Uma avaliação mais detalhada dos mesmos números desta pesquisa (como se pode observar
da imagem acima) irá apontar, por exemplo, que 54% dos usuários de internet na região
Nordeste, realizam seus acessos predominantemente através dos CPAPs e que, na região
Norte, este mesmo número chega à casa dos 52%.
Os números para a região Sudeste, entretanto, não supõem que as LAN-Houses e similares
CPAG
(Centros
Públicos
CPAP Casa de de
Local de Acesso Individual (Lans e outra Acesso
(Mais Freqüente) similares) Casa Trabalho pessoa Escola Gratuito)
Grau de instrução
Analfabeto/Educação Infantil 43 27 3 13 13 2
Fundamental 49 28 5 12 5 1
Médio 39 33 13 10 3 1
Superior 13 49 27 5 6 -
Faixa Etária
10 – 15 49 27 1 11 10 2
16 – 24 45 30 10 9 5 1
25 – 34 26 37 24 9 3 -
35 – 44 16 50 21 8 2 1
45 – 59 10 62 20 7 1 -
60 mais 13 64 9 13 1 -
Renda Familiar
< R$ 415 75 7 2 7 6 3
R$ 416,00 – R$ 830,00 57 14 5 14 8 2
R$ 831,00 – R$ 1.245,00 42 30 12 9 6 1
R$ 1.246,00 - R$ 2.075,00 24 45 19 8 4 -
R$ 2.076,00 - R$ 4.150,00 11 58 20 7 2 1
R$ 4.151,00 mais 5 63 28 3 1 -
Classe Social
A 1 68 30 1 - -
B 14 58 20 6 2 -
C 41 28 12 11 7 1
DE 67 6 5 13 7 2
2 Dados extraídos da Pesquisa sobre o uso das tecnologias da Informação e Comunicação no Brasil – 2008, pp.
229, disponível em http://www.cetic.br/tic/2008/index.htm {acesso em 24,09,09]
60
49
50 47
42,03 40,04 43
40
Porcentagem
40 CPAP
30 CPAG
30,1
Casa
20
17,59
10
1,93 3,49 6
3
0
2005 2006 2007 2008
Ano
Como se pode observar, em pouco mais de 3 anos os Centros Públicos de Acesso Pago (Lans
Desse modo, acredita-se que as Lan-Houses podem servir como poderosa ferramenta de
comunicação para atingir, em especial, os moradores das áreas mais carentes do Estado,
notadamente aqueles que se encontram em idade escolar, servindo como importante
plataforma para a implementação de políticas públicas.
Ocorre que, apesar do enorme potencial benéfico nestes empreendimentos, o tratamento legal
dispensado à categoria tem impedido que as Lan-Houses funcionem dentro da formalidade.
Em virtude disso, grande parte do potencial destes empreendimentos encontra-se hoje
represado.
Como se verá no próximo item, este recente fenômeno de multiplicação dos estabelecimentos
denominados Lan-Houses chamou a atenção do Poder Público. Entretanto, em função de uma
má compreensão do fenômeno, a regulação destes empreendimentos não contemplou o seu
potencial inclusivo e benéfico, gerando regras extremamente restritivas para o setor. Como
resultado, a Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital estima que cerca de 87% do
3 - Diagnóstico legal
Em que pese tal visão contemplar apenas uma fração (cada vez menor) dos serviços providos
por estes estabelecimentos, o enquadramento jurídico como casas de jogos ou de diversões
eletrônicas traz sérias implicações para as Lan-Houses.
Abaixo, portanto, são identificados os principais obstáculos legais enfrentados pelas Lan-
Houses para sua formalização em favelas situadas no Município do Rio de Janeiro:
Na Seção III da Res. 14/2004, formada pelos arts. 9.º a 11, encontra-se a disciplina específica
“Dos Estabelecimentos que Explorem Comercialmente Diversões Eletrônicas, Fliperamas, e
que Utilizam Computadores com Acesso a Redes do Tipo BBS, Internet, Intranet e Similares,
Parques Temáticos, de Diversões, Aquáticos, de Brinquedos Eletromecânicos, Kartódromo e
Similares”, que dispõe, em seu art. 10: “Art. 10. Os responsáveis por tais estabelecimentos
cuidarão para que não seja permitido o acesso de crianças e adolescentes a textos, imagens,
sítios e similares inadequados ou proibidos para o público infanto-juvenil.” O art. 28 da Res.
14/2004 estabelece que o pedido de alvará deve ser dirigido à autoridade judiciária com
antecedência mínima de dez dias úteis. (antecedência a que fato, a Res. não informa). O art.
29 da Res. 14/2004 estabelece quais documentos devem instruir o pedido de alvará. Entre
estes documentos estão o certificado do corpo de bombeiros (inc. IV) e o alvará da prefeitura
municipal (inc. VII). O prazo de vigência do alvará será de 180 dias (art. 30).
3.4.1) Obstáculos:
I - Excessiva restrição dos locais permitidos para estabelecer-se empresa, face à
geografia da Cidade do Rio de Janeiro.
II - Lógica perversa, pela qual se estabelece equivalência entre casas de jogos = Lan-
houses, ignorando-se inclusive o papel educacional e de inclusão digital que as Lan-
Houses podem desempenhar.
III - Incompatibilidade com políticas públicas voltadas para a inclusão digital.
IV - Insegurança jurídica para os empresários do ramo de Lan-Houses em razão da
possibilidade discricionária do Poder Público determinar se o estabelecimento se
enquadra na hipótese da lei, tendo como ameaça uma sanção excessiva.
Diagnóstico Geral
4. Proposta
Com o presente trabalho de identificação dos entraves trazidos pela legislação para a
formalização das Lan-Houses, a FGV Direito Rio busca, principalmente, encontrar soluções
legislativas capazes de liberar o potencial de inclusão digital trazido pelo empreendedorismo
possibilitado pelo acesso à tecnologia, bem como utilizar tais empreendimentos como
instrumento para a elaboração de políticas públicas, notadamente como agentes
multiplicadores de formalização de outros negócios em seu entorno.
Dessa forma, propõe-se pelo presente documento a criação de um grupo de trabalho a ser
criado no âmbito do Estado do Rio de Janeiro com a finalidade de debater soluções para este
setor, tal como a medida em que se deve aplicar as leis relativas a jogos eletrônicos para toda
à classe das Lan-Houses, bem como outros entraves que dificultam a formalização destes
estabelecimentos.
Uma vez a superados estes entraves jurídicos, a FGV Direito Rio coloca-se à disposição para
auxiliar no desenho jurídico e na implementação de políticas públicas direcionadas a tornar as
Lan-Houses pontos multiplicadores de formalização, aproveitando todo o potencial dos
benefícios trazidos pela inovação tecnológica.