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Lan-Houses e Inclusão Digital

Diagnóstico Legal e Proposta de Criação de


Grupo de Trabalho para Discussão da
Formalização do Setor

1 - Introdução
A FGV Direito Rio, através do Centro de Tecnologia e Sociedade, tem trabalhado em
conjunto com a ABCID (Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital) no sentido de
buscar e apresentar soluções para as Lan-Houses, Cybercafés e similares (doravante referidos
neste documento apenas como Lan-Houses) que buscam a formalização perante o Poder
Público.

Entretanto, vários são os gargalos que impedem que tal seja possível. Diante disso, o presente
documento busca apresentar para avaliação da Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Econômico, Energia, Indústria e Serviços (SEDEIS) um breve panorama sobre a importância
que os empreendimentos denominados Lan-Houses possuem para a inclusão digital no Brasil,
fornecer um diagnóstico sobre os problemas legais que impedem o pleno desenvolvimento
deste setor econômico, bem como propor a criação de um grupo de trabalho objetivando
superar os atuais entraves jurídicos de modo a possibilitar um maior alcance dos benefícios
trazidos por estes empreendimentos para o Estado do Rio de Janeiro.

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Tel: (55 21) 2559 6065 Fax: (55 21) 2559-5459
2 – Breve panorama sobre as Lan-Houses no Brasil e no Rio de Janeiro
Duas pesquisas são interessantes para fins de compreenderemos a importância das Lan-
Houses para a inclusão digital e para o acesso aos mais diversos tipos de serviços hoje
disponíveis através da rede mundial de computadores.

2.1 – Dados do Comitê Gestor da Internet1


A primeira pesquisa que merece destaque é a realizada anualmente pelo Comitê Gestor da
Internet, denominada Pesquisa sobre o uso de Tecnologias da Informação no Brasil, que se
encontra em sua quarta edição. Esta pesquisa que possui o objetivo de mapear a posse e o uso
de TICs (tecnologias de informação e comunicação) no país, construindo séries históricas de
indicadores relevantes para a realização de análises e estudos comparativos, ajudando os
gestores públicos a desenhar políticas públicas para a sociedade brasileira.

Vejamos, portanto, alguns dados relativos aos locais onde o cidadão brasileiro
predominantemente acessa a internet (local de acesso individual).

Como se pode observar da imagem abaixo, 35% dos usuários de internet no Brasil utilizam os
Centros Públicos de Acesso Pago (CPAPs – que incluem LAN-Houses, Internet Cafés e outros
estabelecimentos similares) como o principal meio para conectar-se à rede mundial de
computadores, quase superando o acesso feito em domicílio, que é realizado por 36% dos
usuários.

1 O CGI é o órgão criado com o objetivo de coordenar e integrar todas as iniciativas de internet no país. Mais
detalhes no website: http://www.cgi.br/

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Por si só, este número já seria representativo. Entretanto, é importante avaliarmos um pouco
mais a fundo os dados trazidos pelas pesquisas do Comitê Gestor da Internet para que o dado
mencionado não nos transmita a falsa idéia de que os centros pagos de acesso têm
desempenhado um papel pouco importante ou secundário na promoção da inclusão digital no
País.

Uma avaliação mais detalhada dos mesmos números desta pesquisa (como se pode observar
da imagem acima) irá apontar, por exemplo, que 54% dos usuários de internet na região
Nordeste, realizam seus acessos predominantemente através dos CPAPs e que, na região
Norte, este mesmo número chega à casa dos 52%.

Os números para a região Sudeste, entretanto, não supõem que as LAN-Houses e similares

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não possuem tanta importância nesta parte do País. Com efeito, verificar-se-á que uma
percepção correta da forma como os brasileiros conectam-se à rede mundial de computadores
somente pode ser desvendada ao olharmos para os dados relativos aos acessos cruzando-os
com dados relativos ao grau de instrução, renda familiar e classe social do usuário, conforme
se pode observar abaixo2:

CPAG
(Centros
Públicos
CPAP Casa de de
Local de Acesso Individual (Lans e outra Acesso
(Mais Freqüente) similares) Casa Trabalho pessoa Escola Gratuito)
Grau de instrução
Analfabeto/Educação Infantil 43 27 3 13 13 2
Fundamental 49 28 5 12 5 1
Médio 39 33 13 10 3 1
Superior 13 49 27 5 6 -

Faixa Etária
10 – 15 49 27 1 11 10 2
16 – 24 45 30 10 9 5 1
25 – 34 26 37 24 9 3 -
35 – 44 16 50 21 8 2 1
45 – 59 10 62 20 7 1 -
60 mais 13 64 9 13 1 -

Renda Familiar
< R$ 415 75 7 2 7 6 3
R$ 416,00 – R$ 830,00 57 14 5 14 8 2
R$ 831,00 – R$ 1.245,00 42 30 12 9 6 1
R$ 1.246,00 - R$ 2.075,00 24 45 19 8 4 -
R$ 2.076,00 - R$ 4.150,00 11 58 20 7 2 1
R$ 4.151,00 mais 5 63 28 3 1 -

Classe Social
A 1 68 30 1 - -
B 14 58 20 6 2 -
C 41 28 12 11 7 1
DE 67 6 5 13 7 2

2 Dados extraídos da Pesquisa sobre o uso das tecnologias da Informação e Comunicação no Brasil – 2008, pp.
229, disponível em http://www.cetic.br/tic/2008/index.htm {acesso em 24,09,09]

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Como se pode observar da tabela acima, as Lan-Houses possuem uma importância primordial
para propiciar acesso à internet, em especial quando se trata do acesso para as camadas mais
pobres da população.

Conforme se pode depreender dos dados destacados na tabela:


• quanto menor a escolaridade, maior a utilização de Lan-Houses para acesso à internet;
• quanto menor a faixa etária (até 24 anos), maior a utilização de Lan-Houses para
acesso à internet;
• quanto menor a renda familiar, maior a utilização de Lan-Houses para acesso à
internet;
• quanto mais baixa a classe social (classes C, D e E), maior a utilização de Lan-Houses
para acesso à internet.

O fenômeno das Lan-Houses, entretanto, é recente. Conforme indicam as pesquisas anteriores


do CGI, a quantidade de acessos através das Lan-Houses evoluiu de acordo com a tabela
abaixo:

Local de Acesso Individual

60
49
50 47
42,03 40,04 43
40
Porcentagem

40 CPAP
30 CPAG
30,1
Casa
20
17,59
10
1,93 3,49 6
3
0
2005 2006 2007 2008
Ano

Como se pode observar, em pouco mais de 3 anos os Centros Públicos de Acesso Pago (Lans

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e similares) saltaram de 17,59% para cerca de 50% dos acessos, tendo como usuários
principalmente aqueles das camadas mais pobres da população.

Desse modo, acredita-se que as Lan-Houses podem servir como poderosa ferramenta de
comunicação para atingir, em especial, os moradores das áreas mais carentes do Estado,
notadamente aqueles que se encontram em idade escolar, servindo como importante
plataforma para a implementação de políticas públicas.

2.2 Dados da Pesquisa Cultura Data – Programa Conexão Cultura


Outros dados importantes podem ser extraídos da pesquisa Cultura Data, realizada entre os
dias 10 e 17 de dezembro de 2008 para o programa Conexão Cultura, informando que:
• Na Grande São Paulo, 34% acessam a internet em LAN-Houses;
• Nas LAN-Houses de São Paulo, os serviços mais utilizados são os de comunicação
(93%), seguidos pelos de lazer (60%), Informações/seviços on-line (48%),
treinamento/educação (34%), serviços financeiros (15%) e serviços de governo
eletrônico (15%);
• Ao realizar perguntas para os entrevistados, verificou-se a parcela mais significativa
dos usuários das LAN-Houses possuem expectativa em acessar outros tipos de
conteúdo, tal como cursos profissionalizantes, de informática e Educação à Distância.

Ocorre que, apesar do enorme potencial benéfico nestes empreendimentos, o tratamento legal
dispensado à categoria tem impedido que as Lan-Houses funcionem dentro da formalidade.
Em virtude disso, grande parte do potencial destes empreendimentos encontra-se hoje
represado.

Como se verá no próximo item, este recente fenômeno de multiplicação dos estabelecimentos
denominados Lan-Houses chamou a atenção do Poder Público. Entretanto, em função de uma
má compreensão do fenômeno, a regulação destes empreendimentos não contemplou o seu
potencial inclusivo e benéfico, gerando regras extremamente restritivas para o setor. Como
resultado, a Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital estima que cerca de 87% do

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setor sobreviva na informalidade3, sujeitando-se à constantes ameaças de punições por parte
dos agentes do Estado (ameaças essas que são freqüentemente convertidas em corrupção
destes oficiais), impedindo o pleno desenvolvimento de importantes serviços para as
comunidades em seu entorno (incluindo-se aqui serviços de governo eletrônico) e
inviabilizando o pleno aproveitamento do fenômeno de proliferação das Lan-Houses através
de parcerias junto ao Poder Público e outras entidades.

3 - Diagnóstico legal

Com o fenômeno de multiplicação das Lan-Houses em todo o Brasil, multiplicaram-se as


regras a tratar do tema. Uma abordagem freqüente destinada às Lan-Houses é aquela que
visualiza tais empreendimentos como dedicados exclusiva ou predominantemente como casas
de jogos ou de diversões eletrônicas.

Em que pese tal visão contemplar apenas uma fração (cada vez menor) dos serviços providos
por estes estabelecimentos, o enquadramento jurídico como casas de jogos ou de diversões
eletrônicas traz sérias implicações para as Lan-Houses.

Abaixo, portanto, são identificados os principais obstáculos legais enfrentados pelas Lan-
Houses para sua formalização em favelas situadas no Município do Rio de Janeiro:

3.1) O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei 8.069/90)


O ECA estabelece que o Poder Público regulará as diversões (art. 74), submetendo os
infratores de suas normas a penas de multa de 3 até 20 salários de referência e fechamento de
estabelecimento por até 15 dias (art. 258).

A Portaria 14/2004, do Juizado da Infância e da Juventude da Comarca da Cidade do Rio de


3
http://abcid.com.br/site/2009/08/a-outra-vocacao-das-lan-houses/ [acessado em 24.09.09]

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Janeiro, autoridade competente para regular o acesso de crianças e adolescentes a “casa que
explore comercialmente diversões eletrônicas” (ECA, art. 74 c/c art. 149, I, ‘d’), dispõe, em
seu art. 1.º, que “são proibidas a entrada e a permanência de criança ou adolescente,
desacompanhado de responsável, salvo mediante alvará judicial, em (...) III – casas que
explorem comercialmente diversões eletrônicas, fliperamas, que utilizam computadores com
acesso a redes do tipo BBS, Internet, Intranet e similares, parques temáticos, de diversões,
aquáticos, de brinquedos eletromecânicos, kartódromo e similares”.

Na Seção III da Res. 14/2004, formada pelos arts. 9.º a 11, encontra-se a disciplina específica
“Dos Estabelecimentos que Explorem Comercialmente Diversões Eletrônicas, Fliperamas, e
que Utilizam Computadores com Acesso a Redes do Tipo BBS, Internet, Intranet e Similares,
Parques Temáticos, de Diversões, Aquáticos, de Brinquedos Eletromecânicos, Kartódromo e
Similares”, que dispõe, em seu art. 10: “Art. 10. Os responsáveis por tais estabelecimentos
cuidarão para que não seja permitido o acesso de crianças e adolescentes a textos, imagens,
sítios e similares inadequados ou proibidos para o público infanto-juvenil.” O art. 28 da Res.
14/2004 estabelece que o pedido de alvará deve ser dirigido à autoridade judiciária com
antecedência mínima de dez dias úteis. (antecedência a que fato, a Res. não informa). O art.
29 da Res. 14/2004 estabelece quais documentos devem instruir o pedido de alvará. Entre
estes documentos estão o certificado do corpo de bombeiros (inc. IV) e o alvará da prefeitura
municipal (inc. VII). O prazo de vigência do alvará será de 180 dias (art. 30).

3.1.1) Obstáculos legais:


I - Necessidade de se reduzir o tempo necessário à concessão do alvará, tendo em vista
que atualmente sua expedição ocorre em aproximadamente nove meses após o
protocolo do pedido;
II - Necessidade de se possibilitar às empresas de áreas de favela a obtenção de perante
a Prefeitura e certificado do Corpo de Bombeiros, sem o que estas empresas não
conseguem requerer o alvará para acesso de menores;
III – Necessidade de se reavaliar a exigência de alvará para acesso de menores em
estabelecimentos que não ofereçam acesso a jogos em rede ou em que estes não se

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configurem a atividade predominante do empreendimento.

3.2) Lei Estadual do RJ nº 2.918, de 20 de abril de 1998.


Esta lei “proíbe para menores de dezoito anos a prática de jogos e brinquedos de diversões em
máquinas de fliperama, jogos de realidade virtual e simuladores que contenham qualquer
modalidade de luta ou que estimule a violência e dá outras providências.”

3.2.1) Obstáculo legal:


I - Insegurança jurídica para as Lan-Houses ante a indeterminação semântica das
expressões empregadas na Lei.

3.3) Lei Estadual do RJ n.º 5.132, de 14 de novembro de 2007.


Esta lei exige que todos aqueles que fornecem acesso à internet, incluídos aqui as Lan-
Houses, mantenham em livro cadastro de registro dos seus usuários. É o quanto dispõe o art.
1.º: “Ficam obrigados todos os estabelecimentos comerciais que locam terminais de
computadores para acesso à Internet, a terceiros (público em geral), no âmbito do Estado do
Rio de Janeiro, a exigir identidade dos usuários de quando das locações e a manter livro, com
data, hora e identificação do usuário, bem como do terminal utilizado. Parágrafo único - Estão
inseridas no presente artigo todas as empresas que, de forma promocional ou não, cederem
acesso à Internet ao público, excetuando-se os sistemas do tipo Intranet.” Esta exigência pode
ser agravada se aprovado o Projeto de Lei 3.257/2006, em tramitação na Assembléia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.

Item 3.1) Obstáculos legais:


I - Aumento de custos relacionados à manutenção do cadastro, tendo em vista a
necessidade de manutenção do cadastro em livro, impossibilitando a realização de
cadastro virtual;
II - Perda de clientes em função da exigência, em especial de turistas e transeuntes que
não possuem meios de identificar-se no ato de solicitação dos serviços, tal como a
impressão de documentos;

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III - Incoerência da determinação com outras políticas públicas de inclusão digital. O
Poder Público, por exemplo, franqueia acesso à internet mediante o fornecimento de
sinal wireless em locais como a praia de Copacabana e o morro Santa Marta
independentemente de qualquer cadastro.

3.4) Lei Estadual do RJ n.º 4.782, de 23 de junho de 2006


Esta lei traz a imposição de que as Lan-Houses estejam a um raio mínimo de mil metros de
distância de instituições de ensino fundamental e médio, conforme dispõe em seu art. 1.º
(“Fica proibida a abertura de estabelecimentos comerciais voltados para a locação de
máquinas de jogos de computador, denominados “lan houses”, a uma distância menor que 1
(um) mil metros das unidades de ensino de 1º e 2º graus, no âmbito do Estado do Rio de
Janeiro.”), impondo como sanção o “fechamento imediato do estabelecimento comercial.”

3.4.1) Obstáculos:
I - Excessiva restrição dos locais permitidos para estabelecer-se empresa, face à
geografia da Cidade do Rio de Janeiro.
II - Lógica perversa, pela qual se estabelece equivalência entre casas de jogos = Lan-
houses, ignorando-se inclusive o papel educacional e de inclusão digital que as Lan-
Houses podem desempenhar.
III - Incompatibilidade com políticas públicas voltadas para a inclusão digital.
IV - Insegurança jurídica para os empresários do ramo de Lan-Houses em razão da
possibilidade discricionária do Poder Público determinar se o estabelecimento se
enquadra na hipótese da lei, tendo como ameaça uma sanção excessiva.

3.5) Obtenção de Alvará


Pelo Decreto Municipal 15.214, de 25 de outubro de 1996, que disciplina a concessão de
Alvará de Autorização Especial para atividades econômicas desenvolvidas em áreas de favela.

O art. 37 do Decreto Municipal 29.881, de 18 de setembro de 2008, estabelece que o


“licenciamento de atividades econômicas em áreas consideradas como favelas pelo Município

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será conferido de maneira simplificada, de conformidade com o inciso III do art. 114 da Lei
691/84 e estará sujeito às disposições deste Regulamento.”

3.5.1) Obstáculos legais:


I - O art. 40. do Decreto Municipal 29.881 de 2008 estabelece que “Não será permitido
o licenciamento em favela das atividades relacionadas no Anexo I deste Decreto.” O
Anexo I arrola as “Atividades sujeitas a exigências documentais específicas” e inclui
como espécie as “Casas de diversões”, que são definidas pelo Anexo VII sob o título
“Tipos e Definição das Casas de Diversão”, que inclui as Lan-Houses no gênero e
assim define a atividade econômica: “Lan-House – local onde as pessoas pagam para
utilizar computadores (PCs), seja para utilização em jogos na rede local/internet ou
navegação na WEB. Fisicamente, Lan-House é caracterizada por diversos
computadores de última geração conectados em rede em um ambiente hi-tech, com ar-
condicionado e poltronas confortáveis, onde os jogadores se divertem com as últimas
novidades do ramo de jogos, todos conectados em um único ambiente virtual.”
II - Em razão da não obtenção de Alvará Municipal, ficam impedidas as Lan Houses
das áreas de favela de requerer o Alvará do Juizado da Infância e da Juventude que é
exigido pelo ECA (ver item 3.1).

Diagnóstico Geral

O conceito de Lan-House é explícita ou implicitamente relacionado à noção de casa de jogos,


de diversão, embora nem sempre o seja. Com isso, impõe-se às Lan-Houses pesados encargos
e exigências, com o que se dificulta sobremaneira sua formalização. Além disso, a incerteza
jurídica decorrente das leis relacionadas à formalização dos empreendimentos também
incentiva os empresários do ramo à informalidade.

Em razão da informalidade, dificulta-se o controle do poder público sobre estes


empreendimentos, bem como se limita a potencial utilização destes estabelecimentos para

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iniciativas relacionadas à inclusão digital, que pode ser realizada mediante acordos entre estes
estabelecimentos e o Poder Público, a iniciativa privada e o Terceiro Setor.

4. Proposta
Com o presente trabalho de identificação dos entraves trazidos pela legislação para a
formalização das Lan-Houses, a FGV Direito Rio busca, principalmente, encontrar soluções
legislativas capazes de liberar o potencial de inclusão digital trazido pelo empreendedorismo
possibilitado pelo acesso à tecnologia, bem como utilizar tais empreendimentos como
instrumento para a elaboração de políticas públicas, notadamente como agentes
multiplicadores de formalização de outros negócios em seu entorno.

Dessa forma, propõe-se pelo presente documento a criação de um grupo de trabalho a ser
criado no âmbito do Estado do Rio de Janeiro com a finalidade de debater soluções para este
setor, tal como a medida em que se deve aplicar as leis relativas a jogos eletrônicos para toda
à classe das Lan-Houses, bem como outros entraves que dificultam a formalização destes
estabelecimentos.

Uma vez a superados estes entraves jurídicos, a FGV Direito Rio coloca-se à disposição para
auxiliar no desenho jurídico e na implementação de políticas públicas direcionadas a tornar as
Lan-Houses pontos multiplicadores de formalização, aproveitando todo o potencial dos
benefícios trazidos pela inovação tecnológica.

Cássio Machado Cavalli Luiz Fernando Marrey Moncau


cassio.cavalli@fgv.br luiz.moncau@fgv.br
Professor da FGV Direito Rio Pesquisador do CTS-FGV Direito Rio

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