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PROCESSO
JUDICIAL E
EXTRAJUDICIAL
Guérula Mello
Viero
Revisão técnica:
ISBN 978-85-9502-430-4
Introdução
As ações penais e cíveis possuem diversas similaridades, seja no âmbito
da legitimidade dos agentes para ingressar com a ação, seja no pedido
postulado: satisfazer uma pretensão. Os autores das ações penais buscam a
condenação do agente que cometeu o ato delituoso, enquanto nas ações
cíveis a parte pretende obter um ressarcimento, uma indenização pelo
dano material ou moral sofrido. As duas esferas interligam-se quando há
o cometimento de um crime que gere dano à vítima. É a chamada ação
civil ex delicto. O ofendido pode se valer das duas áreas: na penal, para
conseguir a condenação do acusado pelo crime, e, na civil, para reparar
o dano ao qual foi submetido.
Neste capítulo, você vai ler sobre a relação entre a ação penal e a ação
civil, entender como funciona a ação civil ex delicto e compreender os
efeitos das sentenças penais.
Interesse de agir
Na esfera cível, o interesse de agir da parte diz respeito à obtenção de um
provimento que satisfaça a pretensão material e exige o preenchimento do
trinômio (GONÇALVES, 2015):
necessidade;
utilidade;
adequação.
o direito de punir;
o direito de liberdade;
o conteúdo do interesse punitivo.
individual;
coletiva.
Ação penal versus ação civil 321
pública;
privada.
diminuição da pena;
substituição das condições genéricas da pena por específicas;
concessão de livramento condicional, quando for possível;
possibilidade de reabilitação;
extinção da punibilidade em caso de peculato culposo, mediante res-
sarcimento total.
324 Ação penal versus ação civil
O Código de Processo Penal prevê, em seu art. 64, a ação civil ex delicto
“[...] a ação para ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízo cível,
contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil” (BRASIL,
1941, documento on-line). Isto é, independentemente de o ofendido ajuizar
ação na esfera penal contra o acusado do fato delituoso, ele pode ingressar
com a ação civil ex delicto, de cunho cognitivo (de conhecimento), e obter
uma sentença condenatória cível para futura execução.
Assim, a vítima pode ingressar imediatamente após o fato, com a preten-
são de buscar a condenação cível do ofensor, evitando aguardar a resolução
do caso penal, que pode absolver o réu da acusação. Ao ser prolatada a
sentença cível, caso procedente, conterá o valor do dano indenizável, sem
a necessidade de uma fase liquidatória. Esse valor pode ser resguardado
por meio de ações cautelares previstas no Código de Processo Civil, uma
vez que há a possibilidade de o réu se desfazer do patrimônio até o final
do julgamento, evitando, assim, que não possua bens para responder pela
obrigação. Importante destacarmos que esse ajuizamento não precisa ser
apenas contra o réu, mas pode abranger todos os corresponsáveis civilmente
por reparar o dano (AVENA, 2015).
Contudo, o parágrafo único do art. 64 do Código de Processo Civil faculta
ao juiz a possibilidade de suspender a ação cível até o término da ação penal
“[...] intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso
desta, até o julgamento definitivo daquela” (BRASIL, 2015, documento on-
-line). Essa opção conferida pelo legislador tem por objetivo evitar decisões
contraditórias entre a esfera penal e cível. Entretanto, percebemos que essa
possibilidade dada ao magistrado ocorre apenas quando intentada a ação
penal. Segundo Avena (2015), isso serve para casos em que, devido à tese
contestatória, o juiz vislumbre a possibilidade de absolvição do réu, mas
sua decisão de suspensão deve ser fundamentada.
Objeto da ação
A ação civil ex delicto tem como objeto a recomposição patrimonial ou pe-
cuniária resultante do ato ilícito cometido pelo infrator, bem como o dano
causado aos valores da dignidade, individualidade e personalidade da vítima
(OLIVEIRA, 2015).
Prescrição
O Código Civil prevê, em seu art. 206, § 3º, V, que o prazo prescricional para
a pretensão de reparação civil é de 3 anos. No entanto, o marco inicial para a
contagem do prazo só começa a valer após o trânsito em julgado da sentença
penal. O art. 200 do Código Civil estabelece que se “[...] a ação se originar de
fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da
respectiva sentença definitiva” (TÁVORA; ALENCAR, 2015).
Competência
O juízo cível competente para ingressar com a ação é o foro do domicílio
do autor ou do local do fato. Desde a vigência do NCPC, em seu art. 53, V,
é competente o foro: “[...] de domicílio do autor ou do local do fato, para a
ação de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos,
inclusive aeronaves” (BRASIL, 2015, documento on-line).
Separação de jurisdição
O sistema jurídico brasileiro privilegia a separação de jurisdição. Assim,
a ação penal responde pela condenação do agente pela prática do ilícito,
enquanto a ação civil destina-se a reparar o dano sofrido pelo ofendido
326 Ação penal versus ação civil
(NUCCI, 2015). Conforme dispõe o art. 935 do Código Civil: “[...] A res-
ponsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar
mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando
estas questões se acharem decididas no juízo criminal” (BRASIL, 2002,
documento on-line).
O Código de Processo Penal prevê, ainda, em seu art. 63, a ação de execução ex delicto,
para buscar o ressarcimento do dano. No entanto, nesta modalidade, é necessário
aguardar a sentença condenatória criminal transitada em julgado, que constituirá um
título executivo judicial. A vantagem dessa forma é que o ofendido não necessitará
produzir provas para demonstrar a responsabilidade do acusado, visto que já ficou
provado o ilícito na ação penal.
[...] os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias
para identificá-las; a exposição sucinta da acusação e da defesa; a indicação
dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão; a indicação dos
artigos de lei aplicados; o dispositivo; a data e a assinatura do juiz (BRASIL,
1941, documento on-line).
absolutória;
condenatória.
Ação penal versus ação civil 327
Sentença absolutória
A sentença absolutória julga improcedente a acusação feita pelo ofendido
por uma das razões dispostas no art. 386 do Código de Processo Penal,
quais sejam:
Efeitos
principais;
secundários.
Sentença condenatória
A sentença condenatória julga procedente o pedido da ação penal, imputando
o fato delituoso ao réu. O art. 387 do Código de Processo Penal disciplina o
conteúdo que deve ser apresentado pelo juiz em sua decisão:
Ainda, o Código de Processo Penal, em seu art. 59, apresenta o rol das
demais providências aplicáveis que o juiz estabelecerá, de acordo com a neces-
sidade para a reprovação e prevenção do crime, atendendo à culpabilidade, a
antecedentes, conduta social, personalidade do ofensor, motivos, circunstâncias
e consequências, assim como o comportamento do ofendido:
Efeitos
privativa de liberdade;
restritiva de direito;
multa;
medida de segurança;
inclusão do nome do réu no rol de culpados (registro realizado no livro
cartorário, em que constará nome do réu, qualificação e referência ao
processo que o condenou).
penais;
extrapenais.
genéricos;
específicos.
judicial, que pode ser executado pela vítima ou por seus herdeiros. Entre os
efeitos secundários extrapenais genéricos, estão:
[...] tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime; perda em
favor da União dos produtos do crime ou de bem decorrente do proveito do
delito, bem como dos instrumentos do crime cujo porte, fabrico, uso, alienação
ou detenção constitua fato ilícito (TÁVORA; ALENCAR, 2015, p. 1042).
ALVIM, J. E. C. Teoria geral do processo. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
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esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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