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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR


CURSO DE OCEANOGRAFIA

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DO CANAL EXTRAVASOR NO RIO ITAJAÍ


AÇU SUGERIDO PELA JICA (JAPAN INTERNATIONAL
COOPERATION AGENCY).

RAFAEL MARINHO COLOMBI

ITAJAÍ
2011
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR
CURSO DE OCEANOGRAFIA

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DO CANAL EXTRAVASOR NO RIO ITAJAÍ


AÇU SUGERIDO PELA JICA (JAPAN INTERNATIONAL
COOPERATION AGENCY).

RAFAEL MARINHO COLOMBI

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como requisito parcial para
obtenção do título de Oceanógrafo.

Orientador: Dr. João Luiz B. de Carvalho

ITAJAÍ
2011

ii
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha família,


Antônio, Jaqueline e Rafaela,
que sempre acreditaram e
confiaram em minhas escolhas.

iii
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, pois sem eles nada disso estaria acontecendo.

A toda minha família que sempre me apoiou.

Ao meu orientador João Luiz pelos ensinamentos e oportunidades disponibilizadas.

A todos os amigos do LOF que sempre me ajudaram muito.

Ao professor Franklin e Rafael Sangoi por ajudarem a enriquecer o trabalho.

Ao Porto de Itajaí pelos dados disponibilizados.

Aos TUBOS & RAMPAS da Praia Brava que sem dúvida me fizeram e fazem o cara
mais feliz do mundo.

Às ondas da Praia do Rincão que me ensinaram a surfar e me motivaram a escolher


o caminho da Oceanográfia.

À Ritinha por todo o apoio e carinho.

Aos grandes amigos Gumera, Porva, Guerrero, Zé da Balada, Machado, Rick, Pok,
Baurusão, Rafão, Bebado, Vinão, Anão, Débora, Lori, Minero, Grugy, Cket, André,
Marina, Henrik, Pí, Bruno Carioca, Gustavo, Matias e todos aqueles que fizeram
parte desta caminhada.

iv
RESUMO

O rio Itajaí-Açu está situado no litoral norte catarinense aproximadamente 80


km de Florianópolis, sua bacia de drenagem possui 15,500 km². Em situações de
altas taxas pluviométricas o rio Itajaí-Açu tende a encher e inundar gerando grandes
prejuízos sociais, econômicos e ambientais. As enchentes de 1983 e 1984 atingiram
dimensões catastróficas e foi a partir destas que o governo estadual começou a
medir esforços para combater estes fenômenos. Sendo assim, o governo estadual
firmou um acordo de cooperação técnica com a JICA (Japan International
Cooperation Agency) com o objetivo de elaborar um plano diretor contra as
enchentes. Em 1990 a JICA entregou o relatório final do plano diretor e uma das
medidas proposta foi a construção de um canal extravasor com a função de escoar
as águas excedentes em eventos extremos de vazão. No entanto, alguns
questionamentos em relação a formulação técnica do canal extravasor foram
levantados, como por exemplo, a desconsideração das marés meteorológicas em
seus estudos. Dentro deste contexto o presente trabalho tem como objetivo principal
avaliar a eficiência do canal extravasor em situações extremas de vazão sob a
influência das marés astronômicas e meteorológicas através de modelagem
numérica computacional utilizando o software SisBAHIA ® – Sistema Base de
Hidrodinâmica Ambiental. Os resultados foram satisfatórios uma vez que o modelo
apresentou boa validação. As eficiências testadas foram boas em quase todas as
situações extremas deixando a desejar somente nas situações com marés
meteorológicas positivas onde as eficiências tendem a diminuir 50%, podendo gerar
inundações em lugares onde não teríamos aumentando a gravidade do problema.
Portanto conclui-se que é necessário reprojetar o canal extravasor uma vez que 70%
das enchentes no vale do Itajaí estão associadas às marés meteorológicas positivas
e porque obras deste tipo são para conter eventos extremos.

Palavras Chave: Enchente, Canal Extravasor, Modelagem Númerica.

v
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Oscilações periódicas e simétricas de maré com seus respectivos parâmetros:


amplitude (a), altura (H), comprimento (λ) e período (T). Note também os instantes de maré:
preamar, baixamar, vazante e enchente. ............................................................................... 4
Figura 2 - Derivação das forças geradoras de maré. A força centrífuga tem a mesma
magnitude e direção em todos os pontos, enquanto a força gravitacional exercida pela Lua
na Terra varia tanto em magnitude quanto em direção. A força geradora de maré em
qualquer ponto é resultante das forças gravitacional e centrífuga (modificado OPEN
UNIVERSITY, 1997). ............................................................................................................. 6
Figura 3 - A relação entre um dia solar de 24h e um dia lunar de 24h e 50min. O ponto A na
superfície da Terra, a partir do instante em que a Lua está passando diretamente ele retorna
sua posição inicial após 24h. Neste tempo a Lua move-se em sua órbita, de mo modo que o
ponto A deve rodar adicionalmente 50min para estar novamente sob a Lua (modificado
OPEN UNIVERSITY, 1997). .................................................................................................. 7
Figura 4 - Reprodução das marés tropicais com desigualdades nas médias latitudes devido
à declinação da Lua. Um observador no ponto B experimenta uma maior do que no ponto A
(modificado OPEN UNIVERSITY, 1997). ............................................................................... 8
Figura 5 - Representação esquemática da interação das marés lunares e solares, vistas a
partir de um observador no Pólo Norte da Terra. (A) Lua Nova e (C) Lua Cheia, períodos de
sizígia; (B) Quarto Crescente e (D) Quarto Minguante, períodos de quadratura (modificado
OPEN UNIVERSITY, 1997). .................................................................................................. 9
Figura 6- Seção longitudinal de um sistema estuarino indicando: as zonas de Maré do Rio
(ZR), de Mistura (ZM) e a Costeira (ZC). São também apresentadas as características da
estrutura vertical de salinidade e circulação média. Qf representa a descarga fluvial do rio
(modificado MIRANDA et al., 2002). .................................................................................... 14
Figura 7 - Tipos fisiográficos de estuários (modificado FAIRBRIDGE, 1980). ...................... 19
Figura 8 - Figura esquemática de um estuário tipo cunha salina. As setas verticais na
interface entre os movimentos bidirecionais indicam o processo de entranhamento
(modificado Pritchard, 1989). ............................................................................................... 20
Figura 9 - Distribuição longitudinal da salinidade e da circulação em um estuário do tipo
parcialmente misturado (modificado Pritchard, 1989). ......................................................... 21
Figura 10 - Distribuição da salinidade e da circulação em um estuário do tipo verticalmente
homogênio (modificado Pritchard, 1989).............................................................................. 21
Figura 11 - Corte longitudinal do canal extravasor com suas respectivas dimensões. ......... 26
Figura 12 - Localização da rota do canal extravasor (coordenadas: UTM / datum: WGS 84).
............................................................................................................................................ 27
Figura 13 - Diagrama do processo de modelagem com destaque em amarelo para rota
usualmente seguida (modificado ROSMAN 2010). .............................................................. 29
Figura 14 - Formatos dos elementos finitos quadrangulares e triangulares admissíveis no
modelo FIST3D e seus respectivos nós. .............................................................................. 35
Figura 15 - Representação dos contornos abertos e fechados. ........................................... 36
Figura 16 - Localização da área de estudo (coordenadas: UTM / datum: WGS 84). ............ 38
Figura 17 - Bacia do Rio Itajaí-Açu e sua respectiva elevação digital disponibilizado no site
da EPAGRI (coordenadas: UTM / datum: WGS 84). ............................................................ 39
Figura 18 – Domínio de modelagem referentes as condições normais, sem o canal
extravasor (coordenadas: UTM / datum: WGS 84). ............................................................. 43
vi
Figura 19 – Domínio de modelagem referentes a condição hipotética com o canal extravasor
(coordenadas: UTM / datum: WGS 84). ............................................................................... 44
Figura 20 - Malha utilizada na modelagem para os cenários sem o canal extravasor
(coordenadas: UTM / datum: WGS 84). ............................................................................... 45
Figura 21 - Malha utilizada na modelagem para os cenários com o canal extravasor
(coordenadas: UTM / datum: WGS 84). ............................................................................... 46
Figura 22 – Interpolação da batimetria utilizada na modelagem, destacando a
desembocadura do rio Itajaí-Açu (coordenadas: UTM / datum: WGS 84). ........................... 50
Figura 23 - Interpolação da batimetria utilizada na modelagem, destacando o rio Itajaí-Açu
(coordenadas: UTM / datum: WGS 84). ............................................................................... 51
Figura 24 – Gráfico de elevação das marés utilizada na modelagem. ................................. 54
Figura 25 - Gráfico de elevação das marés astronômicas e meteorológicas utilizadas na
modelagem. ......................................................................................................................... 55
Figura 26 – Posição dos equipamentos representados pelos pontos em vermelho
(coordenadas: UTM / datum: WGS 84). ............................................................................... 57
Figura 27 - Diagrama de dispersão entre os dados de elevação medidos e modelados para o
período de 01/01/2010 até 31/01/2010 com seu respectivo coeficiente de correlação linear
(R²). ..................................................................................................................................... 59
Figura 28 - Espectro Cruzado de elevação entre as séries temporais medida e modelada
entre os dias 01/012010 até 31/01/2010. ............................................................................. 60
Figura 29 - Série temporal de elevação medida (azul) e modelada (vermelho) para o período
entre os dias 01/01/2010 até 31/01/2010. ............................................................................ 60
Figura 30 - Diagrama de dispersão entre os dados medidos e modelados para componente
U de velocidade com seu respectivo coeficiente de correlação linear (R²). .......................... 61
Figura 31 - Diagrama de dispersão entre os dados medidos e modelados para componente
V de velocidade com seu respectivo coeficiente de correlação linear (R²). .......................... 62
Figura 32 - Elipse de corrente no ponto de coleta entre os dados medidos e modelados.
Note que a direção de escoamento no sentido ENE (800). .................................................. 63
Figura 33 - Série temporal da componente de velocidade U entre os dados medido e
modelados. Note que as amplitudes são maiores em relação a componente V. .................. 63
Figura 34 - Série temporal da componente de velocidade V entre os dados medidos e
modelados. .......................................................................................................................... 64
Figura 35 - Diagrama progressivo de vetores indicando boa coerência entre os dados
medidos e modelados. ......................................................................................................... 64
Figura 36 – Localização dos pontos de controle. ................................................................. 65
Figura 37 – Séries temporais de elevação geradas pelo modelo sem o canal extravasor em
azul e com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com
vazão igual a 3300 m³/s sob efeito das marés astronômicas entre os dias 01/01/2010 e
15/01/2010........................................................................................................................... 67
Figura 38 – Séries temporais de elevação geradas pelo modelo sem o canal extravasor em
azul e com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com
vazão igual a 4000 m³/s sob efeito das marés astronômicas entre os dias 01/01/2010 e
15/01/2010........................................................................................................................... 68
Figura 39 – Séries temporais de elevação geradas pelo modelo sem o canal extravasor em
azul e com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com
vazão igual a 5100 m³/s sob efeito das marés astronômicas entre os dias 01/01/2010 e
15/01/2010........................................................................................................................... 69

vii
Figura 40 – Representação da resistência sofrida pelo rio Itajaí-Açu e o aumento na vazão
do rio Itajaí Mirim devido a presença do canal extravasor. Cenário com vazão extrema de
5100 m³/s no instante de maré vazante de sizígia. .............................................................. 70
Figura 41 – Representação do canal extravasor funcionando no cenário com vazão de 5100
m³/s no instante de maré vazante de sizígia. Note que após o canal as vazões do rio Itajaí-
Açu tendem a diminuir. ........................................................................................................ 71
Figura 42 - Séries temporais de vazão geradas pelo modelo sem o canal extravasor em azul
e com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com
vazão igual a 3300 m³/s sob efeito das marés astronômicas entre os dias 01/01/2010 e
15/01/2010........................................................................................................................... 72
Figura 43 - Séries temporais de vazão geradas pelo modelo sem o canal extravasor em azul
e com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com
vazão igual a 4000 m³/s sob efeito das marés astronômicas entre os dias 01/01/2010 e
15/01/2010........................................................................................................................... 73
Figura 44 - Séries temporais de vazão geradas pelo modelo sem o canal extravasor em azul
e com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com
vazão igual a 5100 m³/s sob efeito das marés astronômicas entre os dias 01/01/2010 e
15/01/2010........................................................................................................................... 74
Figura 45- Séries temporais de elevação geradas pelo modelo sem o canal extravasor em
azul e com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com
vazão igual a 3300 m³/s sob efeito das marés meteorológicas. ........................................... 76
Figura 46 - Séries temporais de elevação geradas pelo modelo sem o canal extravasor em
azul e com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com
vazão igual a 4000 m³/s sob efeito das marés meteorológicas. ........................................... 77
Figura 47 - Séries temporais de elevação geradas pelo modelo sem o canal extravasor em
azul e com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com
vazão igual a 5100 m³/s sob efeito das marés meteorológicas. ........................................... 78
Figura 48 - Séries temporais de vazão geradas pelo modelo sem o canal extravasor em azul
e com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com
vazão igual a 3300 m³/s sob efeito das marés meteorológicas. ........................................... 80
Figura 49 - Séries temporais de vazão geradas pelo modelo sem o canal extravasor em azul
e com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com
vazão igual a 4000 m³/s sob efeito das marés meteorológicas. ........................................... 81
Figura 50 - Séries temporais de vazão geradas pelo modelo sem o canal extravasor em azul
e com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com
vazão igual a 5100 m³/s sob efeito das marés meteorológicas. ........................................... 82

viii
LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Representação das principais constituintes harmônicas. ..................................... 11


Tabela 2 - Dimensões do canal extravasor e dos molhes sul e norte. .................................. 26
Tabela 3 - Valores recomendados para a amplitude de rugosidade no fundo, para uso no
módulo2DH do modelo FIST3D. .......................................................................................... 48
Tabela 4 - Vazões médias utilizadas na modelagem ........................................................... 52
Tabela 5 - Vazões extremas utilizadas na modelagem ........................................................ 52
Tabela 6 – Constantes Harmônicas utilizadas na modelagem. ............................................ 53
Tabela 7 - Parâmetros estatísticos calculados para validação da elevação. ........................ 58
Tabela 8- Parâmetros estáticos calculados para validação de corrente. .............................. 61
Tabela 9 - Elevações média para cada ponto de controle nos cenários modelados em cada
evento extremo de vazão sob efeito das marés astronômicas. Suas unidades físicas são
metros (m). .......................................................................................................................... 67
Tabela 10 - Vazões médias para cada ponto de controle nos cenários modelados em cada
evento extremo de vazão sob efeito das marés astronômicas. Suas unidades físicas são
metros cúbicos por segundo (m³/s). ..................................................................................... 72
Tabela 11 - Elevações médias para cada ponto de controle nos cenários modelados em
cada evento extremo de vazão sob efeito das marés meteorológicas positivas. Suas
unidades físicas são metros (m). ......................................................................................... 75
Tabela 12 - Elevações médias para cada ponto de controle nos cenários modelados em
cada evento extremo de vazão sob efeito das marés meteorológicas negativas. Suas
unidades físicas são metros (m). ......................................................................................... 76
Tabela 13 - Vazões médias para cada ponto de controle nos cenários modelados em cada
evento extremo de vazão sob efeito das marés meteorológicas positivas. Suas unidades
físicas são metros cubicos por segundo (m³/s). ................................................................... 79
Tabela 14 - Vazões médias para cada ponto de controle nos cenários modelados em cada
evento extremo de vazão sob efeito das marés meteorológicas negativas. Suas unidades
físicas são metros cubicos por segundo (m³/s). ................................................................... 79
Tabela 15- Eficiências relativas referentes aos eventos extremos de vazão sob efeito das
marés astronômicas............................................................................................................. 83
Tabela 16 - Eficiências relativas referentes aos eventos extremos de vazão sob efeito das
marés meteorológicas positivas. .......................................................................................... 83
Tabela 17 - Eficiências relativas referentes aos eventos extremos de vazão sob efeito das
marés meteorológicas negativas.......................................................................................... 84
Tabela 18 – Comparação entre as eficiências médias. ........................................................ 85

ix
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Significado dos termos referentes a equação de quantidade de movimento. ..... 33


Quadro 2 - Significado dos termos referentes a equação da continuidade......................... 344

x
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 1
2. OBJETIVOS ................................................................................................................... 3
2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................................. 3
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................... 3
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 4
3.1 MARÉ ...................................................................................................................... 4
3.1.1 MARÉ ASTRONÔMICA .................................................................................... 4
3.1.1.1 FORÇAS GERADORAS DE MARÉ .............................................................. 5
3.1.1.1.1 SISTEMA TERRA-LUA ........................................................................... 5
3.1.1.1.2 SISTEMA TERRA-SOL ........................................................................... 8
3.1.1.1.3 INTERAÇÃO DO SISTEMA LUNAR E SOLAR ....................................... 8
3.1.1.2 CONSTITUINTES HARMÔNICAS .............................................................. 10
3.1.2 MARÉ METEOROLÓGICA ............................................................................. 12
3.1.3 MARÉ EM ÁGUAS RASAS E ESTUÁRIOS .................................................... 12
3.2 ESTUÁRIOS .......................................................................................................... 13
3.2.1 DINÂMICA ESTUARINA ................................................................................. 14
3.2.2 CLASSIFICAÇÃO ESTUARINA ...................................................................... 16
3.2.2.1 CLASSIFICAÇÃO GEOMORLÓGICA DOS ESTUÁRIOS ........................... 16
3.2.2.1.1 PLANÍCIE COSTEIRA ........................................................................... 16
3.2.2.1.2 FJORDES ............................................................................................. 17
3.2.2.1.3 CONSTRUÍDO POR BARREIRA ........................................................... 17
3.2.2.1.4 ESTUÁRIOS RESTANTES ................................................................... 17
3.2.2.2 CLASSIFICAÇÃO CONFORME A ESTRATIFICAÇÃO DE SALINIDADE ... 19
3.2.2.2.1 CUNHA SALINA (Tipo A) ...................................................................... 20
3.2.2.2.2 MODERADAMENTE OU PARCIALMENTE MISTURADO (Tipo B) ....... 20
3.2.2.2.3 VERTICALMENTE BEM MISTURADOS (Tipo C) ................................. 21
3.3 ENCHENTES E INUDAÇÕES ............................................................................... 22
3.3.1 MEDIDAS PARA CONTROLE DE ENCHENTES ........................................... 23
3.3.1.1 MEDIDAS ESTRUTURAIS .......................................................................... 23
3.3.1.2 MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS ................................................................. 23
3.3.2 ENCHENTES NO VALE DO ITAJAÍ ............................................................... 24
3.4 PLADE - JICA ........................................................................................................ 25
3.4.1 PROBLEMAS DO PROJETO (CANAL EXTRAVASOR) ................................. 28
xi
3.5 MODELAGEM NUMÉRICA ................................................................................... 28
3.5.1 MODELO SISBAHIA....................................................................................... 30
3.5.1.1 MODELO HIDRODINÂMICO 2DH .............................................................. 31
3.5.1.1.1 FORMULAÇÃO ..................................................................................... 31
3.5.1.1.2 DISCRETIZAÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL ....................................... 34
3.5.1.1.3 CONFLITO DE ESCALAS ..................................................................... 35
3.5.1.1.4 CONDIÇÕES DE CONTORNO E CONDIÇÕES INICIAIS ..................... 36
3.5.1.1.5 CALIBRAÇÃO E VALIDAÇÃO ............................................................... 37
4. ÁREA DE ESTUDO ...................................................................................................... 38
4.1 LOCALIZAÇÃO ..................................................................................................... 38
4.2 CARACTERIZAÇÃO .............................................................................................. 39
4.2.1 REGIME DE MARÉ ........................................................................................ 39
4.2.1.1 MARÉ ASTRONÔMICA .............................................................................. 40
4.2.1.2 MARÉ METEOROLÓGICA ......................................................................... 40
4.2.2 COMPONENTE FLUVIAL............................................................................... 40
4.2.3 MASSAS DE ÁGUA........................................................................................ 41
4.2.4 REGIME DE VENTO ...................................................................................... 41
4.2.5 CLIMA ............................................................................................................ 41
4.2.6 CLIMA DE ONDAS ......................................................................................... 42
4.2.7 ASPECTOS SEDIMENTOLÓGICOS .............................................................. 42
4.2.8 ESTUÁRIO DO RIO ITAJAÍ-AÇU ................................................................... 42
5. METODOLOGIA........................................................................................................... 43
5.1 DOMÍNIO DE MODELAGEM ................................................................................. 43
5.2 DISCRETIZAÇÃO ESPACIAL ............................................................................... 44
5.3 DISCRETIZAÇÃO TEMPORAL ............................................................................. 47
5.4 DADOS DE ENTRADA .......................................................................................... 48
5.4.1 RUGOSIDADE ............................................................................................... 48
5.4.2 BATIMETRIA .................................................................................................. 48
5.4.2.1 INTERPOLAÇÃO BATIMETRIA .................................................................. 49
5.4.3 VAZÕES FLUVIAIS ........................................................................................ 52
5.4.4 MARÉ ASTRONÔMICA .................................................................................. 52
5.4.5 MARÉ METEOROLÓGICA ............................................................................. 54
5.5 VALIDAÇÃO .......................................................................................................... 55
5.6 ANÁLISE DA EFICIÊNCIA..................................................................................... 57
6. RESULTADO E DISCUSSÃO ...................................................................................... 58

xii
6.1 VALIDAÇÃO .......................................................................................................... 58
6.1.1 ELEVAÇÃO .................................................................................................... 58
6.1.2 CORRENTE ................................................................................................... 60
6.2 ANÁLISE NOS PADRÕES DE ELEVAÇÃO E VAZÃO .......................................... 65
6.2.1 MARÉ ASTRONÔMICA .................................................................................. 66
6.2.1.1 ELEVAÇÃO................................................................................................. 66
6.2.1.2 VAZÃO........................................................................................................ 69
6.2.2 MARÉ METEOROLÓGICA ............................................................................. 74
6.2.2.1 ELEVAÇÃO................................................................................................. 75
6.2.2.2 VAZÃO........................................................................................................ 78
6.3 ANÁLISE DA EFICIÊNCIA..................................................................................... 82
6.3.1 MARÉ ASTRONÔMICA .................................................................................. 82
6.3.2 MARÉ METEOROLÓGICA ............................................................................. 83
6.3.3 MARÉ ASTRONÔMICA / MARÉ METEOROLÓGICA .................................... 84
7. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 86
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 87
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 88

xiii
1. INTRODUÇÃO

As enchentes e inundações em regiões costeiras são fenômenos que ocorrem


devido a fatores de origem natural e antrópica. Os fatores naturais podem ser
divididos em climático-meteorológico, geológico-geomorfológico, flúvio-hidrológico e
oceanográfico. Já os fatores antrópicos resultam de intervenções humanas sobre as
bacias hidrográficas, de forma direta ou indireta (SOUZA, 2004).
A urbanização descontrolada das cidades brasileiras tem provocado o
agravamento das enchentes e a ampliação de sua frequência, além de criar novos
pontos de alagamentos. Isto se deve à crescente impermeabilização do solo
aumentando o volume pluvial escoado, causando aumentos nas vazões máximas
(CRUZ & TUCCI, 2007).
O vale do Itajaí sofreu ao longo de sua história enchentes que causaram
muitos prejuízos sociais, econômicos e ambientais. As inundações de 1983, 1984 e
2008 são exemplos do poder destrutivo que estas possuem, deixando centenas de
pessoas desabrigadas.
Após as enchentes de 1983 e 1984, autoridades brasileiras firmaram um
acordo de cooperação técnica em 1986 entre o DNOS (Departamento Nacional de
Obras de Saneamento) e a JICA (Japan International Cooperation Agency), com o
objetivo de elaborar um plano diretor (master plan) para controle de enchentes no
Vale do Itajaí.
Com a extinção do DNOS em 1990 o legado da JICA sobre os estudos no
vale do Itajaí foram repassados ao Governo Estadual de Santa Catarina, elaborando
o PLADE (Plano Global e Integrado de Defesa Contra Enchentes – Ecossistema
Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu).
O relatório final do PLADE emitido pela JICA em 1990 propõe para região do
baixo vale do rio Itajaí-Açu medidas estruturais e não estruturais para contenção das
enchentes, destacando-se a construção do canal extravasor com a função de escoar
a água excedente em eventos extremos de vazão.
Pelo fato de ser o primeiro projeto de proteção contra as enchentes
encaminhado pelo executivo estadual, a iniciativa poderia ser considerada positiva.
Entretanto, uma série de questionamentos foram feitos no que diz respeito a sua

1
formulação técnica, institucional, financeira e aos possíveis impactos de sua
implementação, principalmente no que diz respeito à desconsideração das marés
meteorológicas em seus estudos.
Segundo Carvalho (1994) diagnosticar as possíveis mudanças que o
ambiente costeiro poderá vir a sofrer depois da realização das obras propostas é
vital para a economia da região do baixo vale do rio Itajaí-Açu, que depende quase
que exclusivamente das atividades realizadas no estuário.
Na época em que o projeto foi escrito não havia facilidades na utilização de
modelos numéricos computacionais para simulação do escoamento, sendo que
várias perguntas sobre a eficiência do projeto e seus impactos ambientais poderiam
ser respondidos com a utilização dos mesmos.
Modelos são representações de algum objetivo, numa linguagem ou forma de
fácil acesso e uso, com o objetivo de entendê-los e buscar suas respostas para
diferentes entradas (TUCCI, 1993).
A necessidade da aplicação de modelos para estudos, projetos e auxílio à
gestão de recursos hídricos é inquestionável, face à complexidade do ambiente em
corpos de água naturais, especialmente em lagos, reservatórios, estuários e zona
costeira adjacente das bacias hidrográficas (ROSMAN, 2010).
Dentro desse contexto, o presente trabalho tem como objetivo analisar a
eficiência do canal extravasor projetado pela JICA, em eventos de vazões extremas
com marés astronômicas e meteorológicas, utilizando como ferramenta modelos
numéricos. O software SisBaHiA® (Sistema Base de Hidrodinâmica Ambiental),
registrado pela Fundação Coppetec – Coppe/UFRJ, foi escolhido para realizar o
estudo, mais precisamente o modulo de modelagem hidrodinâmico bidimensional
(2DH), dominado por forçantes barotrópicas nos quais efeitos de densidade variável
possam ser desprezados.

2
2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

 O presente trabalho tem como objetivo geral analisar a eficiência do canal


extravasor no rio Itajaí-Açu sugerido pela JICA.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Aplicar e validar o modelo hidrodinâmico em condições normais de vazão


e maré astronômica;
 Aplicar o modelo hidrodinâmico nos diferentes cenários:
 Sem o canal extravasor:
1. Vazão 3300 m³/s com maré astronômica;
2. Vazão 3300 m³/s com maré meteorológica;
3. Vazão 4000 m³/s com maré astronômica;
4. Vazão 4000 m³/s com maré meteorológica;
5. Vazão 5100 m³/s com maré astronômica;
6. Vazão 5100 m³/s com maré meteorológica;
 Com o canal extravasor:
7. Vazão 3300 m³/s com maré astronômica;
8. Vazão 3300 m³/s com maré meteorológica;
9. Vazão 4000 m³/s com maré astronômica;
10. Vazão 4000 m³/s com maré meteorológica;
11. Vazão 5100 m³/s com maré astronômica;
12. Vazão 5100 m³/s com maré meteorológica;
 Analisar os padrões de elevação do nível d’água e vazão nos cenários
modelados;
 Aplicar o cálculo da eficiência para o canal extravasor nos cenários
modelados.

3
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 MARÉ

3.1.1 MARÉ ASTRONÔMICA

As principais características das marés astronômicas podem ser sintetizadas


pela sua periódica e previsível variação no nível d’água, com períodos comuns de 12
h e 24 h, correspondendo, portanto ondas de longo período (ALFREDINI, 2005).
Suas subidas e descidas do nível d’água, denominados respectivamente de
enchente e vazante (Figura 1), estão relacionas as correntes de maré. Quando
estamos na máxima elevação da maré (preamar) temos o que chamamos de estofa
de maré enchente e na mínima elevação (baixamar) estofa de maré vazante
(ALFREDINI, 2005).
Em termos dinâmicos, quando estamos nas estofas de maré as velocidades
de correntes são mínimas. No entanto, quando estamos entre as estofas, ou seja,
enchendo ou vazando, as velocidades de corrente são máximas (MIRANDA et al.,
2002).

Figura 1 - Oscilações periódicas e simétricas de maré com seus respectivos parâmetros:


amplitude (a), altura (H), comprimento (λ) e período (T). Note também os instantes de maré:
preamar, baixamar, vazante e enchente.

4
Segundo Davies (1964), as marés podem ser classificadas de acordo com
suas alturas máximas (Hmax):

 Micromarés: Hmax < 2m


 Mesomarés: 2m < Hmax < 4m
 Macromarés: 4m < Hmax < 6m
 Hipermarés: Hmax > 6m

3.1.1.1 FORÇAS GERADORAS DE MARÉ

A principal forçante geradora de maré é a variação da atração gravitacional


que a Lua e Sol exercem sobre a Terra, devido à contínua mudança de suas
posições relativas, balanceada pela centrífuga dos sistemas Terra-Lua e Terra-Sol
(FRANCO, 1988).

3.1.1.1.1 SISTEMA TERRA-LUA

O sistema Terra-Lua apresenta uma revolução de 27,3 dias em torno do


centro de massa comum. Sua órbita é elíptica, mas para melhor o entendimento
vamos supor que ela é circular (OPEN UNIVERSITY, 1997).
A Terra revolve excentricamente em relação ao centro de massa comum, o
que significa que todos os pontos na Terra seguem uma trajetória circular e
possuem o mesmo raio. Logo, cada ponto na Terra apresenta a mesma velocidade
angular (2π/27,3dias) e consequentemente a mesma força centrífuga (OPEN
UNIVERSITY, 1997).
A força centrífuga do sistema Terra-Lua equilibra exatamente as forças de
atração gravitacional entre os dois corpos, de modo que o sistema como um todo se
mantém em equilíbrio (FRANCO, 1988).
Sendo assim, as forças centrífugas apresentam direções paralelas à linha de
união entre os dois centros de massa. Já as magnitudes geradas pela força

5
gravitacional exercida pela Lua na Terra são variáveis, pois nem todos os pontos na
Terra apresentam a mesma distância em relação à Lua. Portanto, pontos mais
próximos à Lua experimentam uma maior força gravitacional e pontos mais distantes
experimentam uma menor força gravitacional. A resultante das forças centrífuga e
gravitacional gera o que chamamos de força geradora de maré (Figura 2) (OPEN
UNIVERSITY, 1997).

Figura 2 - Derivação das forças geradoras de maré. A força centrífuga tem a mesma magnitude
e direção em todos os pontos, enquanto a força gravitacional exercida pela Lua na Terra varia
tanto em magnitude quanto em direção. A força geradora de maré em qualquer ponto é
resultante das forças gravitacional e centrífuga (modificado OPEN UNIVERSITY, 1997).

A Terra leva 24 horas para completar um ciclo de rotação, enquanto que a


Lua realiza um movimento de translação em torno do centro de massa do sistema
Terra-Lua num período de 27,3 dias. Os dois giram no mesmo sentido. Desta forma,
o período de rotação da Terra em relação à Lua é de 24 horas e 50 minutos (dia

6
lunar). Esta é a razão pela qual o horário de preamar em um determinado local
atrasa cerca de 50 minutos de um dia para outro (OPEN UNIVERSITY, 1997)
(Figura 3).

Figura 3 - A relação entre um dia solar de 24h e um dia lunar de 24h e 50min. O ponto A na
superfície da Terra, a partir do instante em que a Lua está passando diretamente ele retorna
sua posição inicial após 24h. Neste tempo a Lua move-se em sua órbita, de mo modo que o
ponto A deve rodar adicionalmente 50min para estar novamente sob a Lua (modificado OPEN
UNIVERSITY, 1997).

A órbita da Lua não está sempre no mesmo plano que o equador terrestre,
apresentando variações em sua declinação que podem chegar até 280 (Figura 4).
Quando essa declinação é máxima (maré tropical), o plano das duas protuberâncias
estará defasado em relação ao Equador, apresentando máximas desigualdades nos
trópicos. Agora, quando a Lua está no mesmo plano equatorial terrestre (maré
equatorial) as desigualdades deixam de existir (OPEN UNIVERSITY, 1997).
Por fim, levando em consideração a órbita elíptica do sistema Terra-Lua,
podemos notar variações na magnitude das forças geradoras de maré que ganham
um incremento no perigeu de 20% e uma redução no apogeu em relação ao valor
médio (OPEN UNIVERSITY, 1997).

7
Figura 4 - Reprodução das marés tropicais com desigualdades nas médias latitudes devido à
declinação da Lua. Um observador no ponto B experimenta uma maior do que no ponto A
(modificado OPEN UNIVERSITY, 1997).

3.1.1.1.2 SISTEMA TERRA-SOL

Verifica-se no sistema Terra-Sol um efeito análogo ao sistema Terra-Lua na


força geradora de maré, porém com menores magnitudes, pois o Sol está 360 vezes
mais afastado da Terra do que a Lua (FRANCO, 1988).
A maré solar possui período semidiurno (12 h). O Sol também detém uma
declinação, podendo atingir 230 de cada lado do plano equatorial gerando
consequentemente desigualdades que nem observado com a Lua. A órbita da Terra
em relação ao Sol também é elíptica, havendo um periélio e afélio igual ao perigeu e
apogeu (OPEN UNIVERSITY, 1997).

3.1.1.1.3 INTERAÇÃO DO SISTEMA LUNAR E SOLAR

Considerando o caso mais simples com as declinações nulas da Lua e do Sol,


a Figura 5 nos mostra a interação entre a maré lunar e solar, observada de um ponto
acima do Polo Norte.

8
Na Figura 5 (A) e (C) as forças geradoras de maré solar e lunar atuam no
mesmo rumo, podendo estar em conjunção na Lua Nova ou em oposição na Lua
Cheia. Este tipo de configuração acaba produzindo as maiores amplitudes de maré,
denominada maré de sizígia.
Na Figura 5 (B) e (D) as forças geradas de maré solar e lunar atuam em ângulo
reto entre si, ou seja, estão defasadas. Com isso, as amplitudes de maré são as
menores, sendo conhecidas como maré de quadratura.

Figura 5 - Representação esquemática da interação das marés lunares e solares, vistas a partir
de um observador no Pólo Norte da Terra. (A) Lua Nova e (C) Lua Cheia, períodos de sizígia;
(B) Quarto Crescente e (D) Quarto Minguante, períodos de quadratura (modificado OPEN
UNIVERSITY, 1997).

9
3.1.1.2 CONSTITUINTES HARMÔNICAS

Uma série temporal de maré astronômica nada mais é que o somatório de


várias constituintes harmônicas, das quais cada uma corresponde ao período de um
dos movimentos astronômicos relativos à Terra, ao Sol e à Lua, bem como as
interações em água rasas. Portanto, as constituintes harmônicas são ondas
senoidais de mesmo período variando sua amplitude e fase em cada ponto da Terra
(FRANCO, 1988; PUGH, 1987).
Cada uma das constituintes harmônicas possui um nome e um símbolo
(Tabela 1), que são geralmente agrupados conforme seus períodos e podem ser
dividas em (FRANCO, 1988):

 Sobremarés: constituintes com períodos menores que 9h, produzidos por


interação de determinadas constituintes com a batimetria local,
comumente encontrados em estuários e águas rasas. Seus símbolos
apresentam subscritos iguais ou maiores que 3, indicando que possuem
três ciclos ou mais dependendo do número;

 Semidiurna: constituintes com períodos de aproximadamente 12h,


apresentando em seus símbolos o subscrito 2, indicando que possuem
dois ciclos por dia;

 Diurna: constituintes com períodos de aproximadamente 24h,


apresentando em seus símbolos subscrito 1, indicando que possuem um
ciclo por dia;

 Baixa frequência: constituintes com períodos entre dias e anos,


apresentando um padrão determinado em sua simbologia.

10
Tabela 1- Representação das principais constituintes harmônicas.

Símbolo Período (h) Descrição Tipo


K2 11,97 Lunar/Solar Semidiurna
S2 12,00 Solar Semidiurna
M2 12,42 Lunar Semidiurna
N2 12,66 Lunar Elíptica Semidiurna
K1 23,93 Lunar/Solar Diurna
P1 24,07 Solar Diurna
O1 25,82 Lunar Diurna
Mf 327,84 Lunar Baixa frequência
Mm 661,10 Lunar Baixa frequência
Ssa 4526,88 Solar Baixa frequência

A importância relativa dos principais componentes harmônicos diurnos e


semidiurnos pode ser obtida pelo que chamamos de número de forma (Nf) (PUGH,
1987):

Onde, K1, O1 e M2, S2 indicam as amplitudes das principais constituintes


diurnas e semidiurnas. De acordo com a variação do número adimensional (Nf) as
marés são classificadas como:

 0 < Nf < 0,25 – semidiurna;


 0,25 < Nf < 1,5 – mista com predominância semidiurna;
 1,5 < Nf < 3,0 – mista com predominância diurna;
 Nf < 3,0 – diurna.

O método mais usual e satisfatório para previsão de maré é o método


harmônico que está relacionado com a decomposição do registro de maré em uma
série de movimentos harmônicos. Para realizar esta análise é necessário no mínimo
uma série temporal continua de 30 a 32 dias (FRANCO, 1988).

11
3.1.2 MARÉ METEOROLÓGICA

Os principais agentes na variação do nível d’água decorrente da maré


meteorológica são a pressão atmosférica e a tensão de cisalhamento do vento.
Estas variações também são conhecidas como ressacas (PUGH, 1987).
Portanto, as condições meteorológicas podem alterar consideravelmente as
amplitudes de uma determinada maré. O efeito combinado de vento com baixa
pressão corresponde a marés meteorológicas positivas, levando perigo de
inundação nas planícies costeiras. O efeito oposto é conhecido como maré
meteorológica negativa, sendo problemático para navegação em águas rasas
(OPEN UNIVERSITY, 1997).
Segundo Pugh (1987) as marés meteorológicas podem ser determinadas a
partir da diferença entre os dados aferidos pela previsão harmônica de maré no
mesmo intervalo temporal.
O litoral do Brasil entre o Rio Grande do Sul e o sul da Bahia está sujeito aos
efeitos meteorológicos com diferentes intensidades. Esta diferença está relacionada
com as passagens de frentes frias pelo avanço do Anticiclone Polar Antártico sobre
o Anticiclone Tropical Atlântico (ALFREDINI, 2005).

3.1.3 MARÉ EM ÁGUAS RASAS E ESTUÁRIOS

Em estuários e águas rasas as marés astronômicas estão sujeitas a


distorções em sua hidrodinâmica que podem juntas modificar seus regulares
padrões. Estas distorções podem ser representadas pelas constituintes harmônicas
de águas rasas resultado das interações entre as constituintes harmônicas solares e
lunares, gerando o que chamamos de marés compostas. Uma maré composta
como, por exemplo, a MS4 resulta da interação de duas constituintes: M2 e S2
(FRANCO, 1988). Os constituintes de águas rasas mais comuns são os quarti-
diurnos M4 e MS4 (PUGH, 1987).
As distorções que esses ambientes geram nas marés podem ser vistos a
seguir (FRANCO, 1988; PUGH, 1987; OPEN UNIVERSITY, 1997):

12
 Em plataforma continental e áreas costeiras adjacentes:

 Refração, reflexão e difração;

 Redução de celenidade: produzindo aumento da amplitude


(empolamento);

 Atrito crescente com o fundo: produzindo redução de amplitude.

 Em linha de costa convergente, como mares confinados e embocaduras


estuarinas:

 Maior concentração de energia por unidade de largura, produzindo


amplificação das amplitudes;

 Ressonância por reflexão da onda de maré, produzindo amplificação


das amplitudes.

 No interior dos estuários temos dois tipos:

 Morfológico de confinamento lateral e redução de profundidade,


acarretando em concentração de energia, gerando grandes
amplitudes e correntes associadas;

 Atrito, produzindo dissipação de energia da onda de maré com


redução de amplitude.

3.2 ESTUÁRIOS

Segundo a definição tradicional, estuário é um corpo de água costeiro


semifechado, com uma livre ligação ao oceano aberto, no interior do qual a água do
mar é mensuravelmente diluída pela água doce oriunda da drenagem continental
(CAMERON & PRITCHARD, 1963), com seu limite continental definido como o limite
dos efeitos de maré (FAIRBRIDGE, 1980).
Dalrymple et al., (1992) redefiniu o estuário adicionando a origem dos
sedimentos que são fluviais e marinhos bem como os processos de ondas, não só
dependendo das forçantes maré e descarga fluvial.

13
Dionne (1963) apud Miranda et al., (2002) sugeriu o zoneamento do estuário
em 3 setores: a) baixo estuário, predominado os processos marinhos; b) médio
estuário, onde há uma intensa mistura entre a água fluvial e marinha; c) alto
estuário, onde não há presença da água marinha, observando-se apenas as
variações de maré, predominado os processos fluviais.
Kjerfve, (1987) também sugeriu um zoneamento para estuários (Figura 6),
divido em: Zona de Maré do Rio (ZR), parte fluvial com salinidade praticamente
igual a zero, mas ainda sujeita à influência de maré; Zona de mistura (ZM), região
onde ocorre a mistura da água doce da drenagem continental com a água do mar;
Zona Costeira (ZC), região costeira adjacente que se estende até a frente da pluma
estuarina, a qual delimita a Camada Limite Costeira (CLC).

Figura 6- Seção longitudinal de um sistema estuarino indicando: as zonas de Maré do Rio (ZR),
de Mistura (ZM) e a Costeira (ZC). São também apresentadas as características da estrutura
vertical de salinidade e circulação média. Qf representa a descarga fluvial do rio (modificado
MIRANDA et al., 2002).

3.2.1 DINÂMICA ESTUARINA

Segundo Pritchard (1967) a dinâmica dos estuários depende da geometria do


canal, da descarga de água doce, da maré, da salinidade, da circulação da região
oceânica adjacente e do vento que atua diretamente ou indiretamente sobre a sua

14
superfície livre. Essas forçantes possuem variação espacial e temporal que atuam
simultaneamente sobre o corpo d’água estuarino.
As marés astronômicas em regiões oceânicas e que se propagam pela
plataforma continental na forma de ondas são uma das principais forças geradoras
dos movimentos e dos processos de mistura nos estuários. Sua influência se
propaga estuário acima e abaixo na forma de ondas longas de gravidade (MIRANDA
et al., 2002 apud DEFANT, 1960).
A descarga fluvial oriunda da bacia de drenagem suprirá o estuário de água
doce. Esta quantidade d’água drenada depende das condições climáticas, das
características do solo, da cobertura vegetal, da ocupação urbana, agrícola e
industrial e da evapotranspiração (MIRANDA et al., 2002).
Sendo assim, as correntes de maré interagindo com as descargas fluviais
dentro dos estuários geram estratificação na coluna d’água, pelo efeito advectivo e
pelo transporte de sal. Esta estratificação gera movimentos bidirecionais que
caracterizam o que chamamos de circulação clássica estuarina (MIRANDA et al.,
2002).
Os movimentos da circulação estuarina são dividos em médio/macroscópicos
e microscópicos. Os macroscópicos são relacionados aos processos advectivos
representados pelas correntes de maré, vazões e variação de densidade. Por outro
lado, movimentos microscópicos são relacionados aos processos de misturas,
denominados de difusão molecular e turbulenta (MIRANDA et al., 2002). Em termos
de modelagem os processos advectivos são considerados escalas resolvíveis,
enquanto os processos difusivos são escalas não resolvíveis (ROSMAN,1997).
A difusão turbulenta provoca a erosão do gradiente vertical de salinidade, que
migra ao longo da coluna d’água de acordo com a intensidade do movimento. Esse
processo de mistura estuarina é a combinação da turbulência gerada internamente,
por camadas d’águas que se movem com velocidades diferentes (MIRANDA et al.
2002).
Os processos turbulentos podem ser divididos em três tipos segundo Bowden
(1958) apud Miranda et al,. (2002):

 O que se origina no fundo ou nas suas proximidades e se propaga para a


superfície;

15
 O gerado no interior do fluído devido às flutuações turbulentas de
velocidade;

 A turbulência originada na superfície livre devido ao atrito com o vento,


gerando ondas de gravidade e correntes de deriva.

3.2.2 CLASSIFICAÇÃO ESTUARINA

Os estuários podem ser classificados de duas formas: primeiro em relação a


eventos geológicos e geomorfológicos durante sua formação e segundo em relação
as suas estratificações de salinidade (NIELSEN, 2009).

3.2.2.1 CLASSIFICAÇÃO GEOMORLÓGICA DOS ESTUÁRIOS

A classificação geomorfológica foi sugerida por Pritchard (1952) e Fairbridge


(1980) e podem ser vistos na Figura 7.

3.2.2.1.1 PLANÍCIE COSTEIRA

Esses estuários são típicos de regiões com planície costeira e se formaram


durante a transgressão do mar Holoceno, que inundou os vales dos rios. São
relativamente rasos chegando no máximo a 30 m de profundidade com área de
seção transversal geralmente aumentando estuário abaixo de forma exponencial.
Sua razão largura/profundidade é grande. Seu fundo é preenchido por lama e
sedimentos finos devido ao processo recente de sedimentação.
Devido a razão largura/profundidade ser grande, a dinâmica estuarina
depende da intensidade da descarga fluvial e da altura de maré. Além disso, estes
estuários são ricos em sedimentos de origem fluvial, resultado de seus afluentes
abundantes em sedimentos.
Estão localizados geralmente em regiões tropicais e subtropicais, sendo
comum na costa leste da América do Norte. Contudo, também são encontrados no

16
Brasil, tendo-se como exemplos, os estuários dos rios Itajaí-Açu e São Francisco
(MIRANDA et al., 2002).

3.2.2.1.2 FJORDES

Os fiordes formaram-se em regiões que durante o Pleistoceno estavam


cobertas com calotas de gelo. A pressão dessas calotas sobre o continente e os
efeitos erosivos durante o descongelamento aprofundaram os vales dos rios
primitivos deixando um alto fundo rochoso na entrada, denominado de soleira.
Por ser muito profundo e com as trocas de água com o oceano adjacente
limitada pela soleira, a água da descarga fluvial e a dinâmica de mistura estuarina
ficam refinadas nas camadas mais rasas. Sua razão largura/profundidade é
relativamente pequena, quando comparada a estuários de planície costeira.
São ambientes localizados em altas latitudes, comuns no Alasca, Noruega,
Chile e Nova Zelândia. Na Noruega existem fiordes cuja soleira fica poucos metros
abaixo do nível do mar, enquanto no seu interior podem chegar a centenas de
metros (MIRANDA et al., 2002).

3.2.2.1.3 CONSTRUÍDO POR BARREIRA

São estuários formados com a inundação dos vales primitivos de rios durante
a transgressão marinha, porém com sedimentação recente formadoras de barreiras
na boca.
Esses ambientes são geralmente rasos com profundidades máximas de 30 m,
podendo apresentar canais e lagunas extensas em seu interior. Os rios que
alimentam estes estuários possuem uma descarga fluvial muito variável durante o
ano ocasionando alterações sazonais na geometria da barra.

3.2.2.1.4 ESTUÁRIOS RESTANTES

Os estuários restantes são formados por outros processos como falhas


tectônicas, erupções vulcânicas, tremores, deslizamento de terras e processos de
17
sedimentação recentes como, por exemplo, os deltas (MIRANDA et al., 2002). Eles
podem ser divididos em:

 DELTA DE ENCHENTE

Nas regiões de macro ou hipermaré, com ação moderada a grande de ondas


e com transporte fluvial de alta concentração de sedimentos em suspensão, o
processo sedimentar favorece o crescimento de ilhas na parte interior do estuário
caracterizando um tipo de estuário denominado de delta estuarino ou deltas de
enchente. Um exemplo deste ambiente é o delta estuarino do rio Amazonas, no
litoral norte brasileiro.

 DELTA DE VAZANTE

Já em regiões de micromarés, com ação moderada das ondas e com


transporte fluvial de alta concentração sedimentar, o processo sedimentar ocorre na
plataforma continental interna, caracterizando, portanto outro tipo de estuário
conhecido por delta de vazante ou simplesmente delta. Um exemplo deste ambiente
é o delta do rio Mississipi, no golfo do México.

 RIA

De origem tectônica, sua formação se deu pela elevação da parte continental


onde estava localizado o vale interior do rio (aliviado do peso de glaciares durante o
descongelamento), formando esse tipo de estuário denominado de ria. São típicos
de regiões montanhosas e altas altitudes, anteriormente ocupada por glaciares.
Possuem geralmente morfologia irregular com tributários que drenam a maior parte
da região adjacente. Sua geometria pode ser de um canal entrecortando montanhas
ou forma afunilada com um aumento de profundidade em direção ao mar,
característica esta que pode amplificar as ondas de maré.

18
Figura 7 - Tipos fisiográficos de estuários (modificado FAIRBRIDGE, 1980).

3.2.2.2 CLASSIFICAÇÃO CONFORME A ESTRATIFICAÇÃO DE SALINIDADE

Esta classificação permite estabelecer qualitativamente as principais


características de circulação na zona de mistura (ZM), abrangendo a grande maioria
dos estuários de planície costeira.
Portanto, de acordo com a estratificação vertical de salinidade, Pritchard
(1955) sugeriu a seguinte classificação: cunha salina (Tipo A), moderadamente ou
parcialmente misturado (Tipo B), bem misturado (Tipo C). Segundo Miranda et al.,

19
(2002) a transição entre os três tipos depende da descarga fluvial, amplitude de
maré, componente baroclínico de velocidade e características geométricas com a
razão largura/comprimento.

3.2.2.2.1 CUNHA SALINA (Tipo A)

Estes estuários são típicos de regiões com regime de micromaré e rios com
grande descarga fluvial. Dominado pela descarga fluvial e pelo processo de
entranhamento, que é responsável pelo aumento de salinidade nas camadas
superiores (Figura 8). As misturas por difusão turbulenta são desprezíveis, gerando
estratificação na coluna d’água (STOMMEL,1953 apud MIRANDA et at., 2002).
Devido às variações da descarga fluvial e da maré, a cunha salina não se
mantém estacionária, movendo-se lentamente buscando sempre uma posição de
equilíbrio (STOMMEL, 1953 apud Miranda et at., 2002).

Figura 8 - Figura esquemática de um estuário tipo cunha salina. As setas verticais na interface
entre os movimentos bidirecionais indicam o processo de entranhamento (modificado
Pritchard, 1989).

3.2.2.2.2 MODERADAMENTE OU PARCIALMENTE MISTURADO (Tipo B)

Estuários com gradientes verticais moderados de salinidade são


denominados de parcialmente misturados (Figura 9). A energia da maré envolvida
nesse processo deve ser suficiente grande para produzir vórtices turbulentos. Estes
vórtices irão gerar erosão dos gradientes verticais de salinidade por meio de mistura
entre a água fluvial e marinha (Pritchard 1955).

20
Devido a eficiente troca entre as águas fluviais e marinhas gerada pelo
processo de difusão turbulenta, a estratificação é diferente daquela do estuário tipo
cunha salina.
Os padrões de sizígia e quadratura geram o aumento ou diminuição
respectivamente na estratificação de salinidade no estuário.

Figura 9 - Distribuição longitudinal da salinidade e da circulação em um estuário do tipo


parcialmente misturado (modificado Pritchard, 1989).

3.2.2.2.3 VERTICALMENTE BEM MISTURADOS (Tipo C)

Esse tipo de estuário (Figura 10) se forma em canais rasos e estreitos forçado
por baixas descargas fluviais. Se estiver localizado em uma região com altura de
maré moderada ou grande, o cisalhamento das correntes no fundo produzirá
turbulência suficiente para misturar toda a água tornando-a homogênea (MIRANDA,
2002).
O componente baroclínico é incapaz de gerar circulação gravitacional,
mantendo o movimento estacionário com predominância de escoamento
unidirecional estuário abaixo.

Figura 10 - Distribuição da salinidade e da circulação em um estuário do tipo verticalmente


homogênio (modificado Pritchard, 1989).

21
3.3 ENCHENTES E INUDAÇÕES

Quando a precipitação é intensa a quantidade de água que chega


simultaneamente ao rio pode ser superior a sua capacidade de drenagem,
resultando em enchentes ou inundações das áreas ribeirinhas, sendo que os
problemas resultantes destas dependem do grau de ocupação das várzeas e da
frequência com esses eventos acontecem (TUCCI, 1993; CASTRO, 2003).
As condições hidrológicas que causam as enchentes e inundações podem ser
de caráter natural ou artificial (TUCCI, 1993; SOUZA, 2004).
As condições naturais são aquelas propiciadas pelas características da bacia
em seu estado natural como, por exemplo: geometria da bacia, relevo e declividade,
tipo de precipitação, cobertura vegetal e capacidade de drenagem (TUCCI, 1993).
As artificiais são aquelas provocadas por ação antrópica. Alguns exemplos
são: obras hidráulicas, urbanização, desmatamento, reflorestamento e uso agrícola.
A urbanização e desmatamento produzem um aumento na frequência de ocorrência
das enchentes (TUCCI, 1993).
Vale ressaltar que a várzea de inundação é uma condição natural que cresce
significativamente nas regiões médias e baixas dos rios, onde a declividade se reduz
e aumenta a incidência de áreas planas, propiciando a ocorrência das enchentes
(TUCCI, 1993).
Na literatura há grande controvérsia e, até mesmo, confusão no emprego dos
termos enchentes e inundação, trazidos do termo flood e flooding.
Sendo assim, enchente pode ser definida como a elevação temporária do
nível d’água em um canal de drenagem devido ao aumento da vazão. Por sua vez,
inundação pode ser definida como o fenômeno de transbordamento das águas do
canal de drenagem para as áreas marginais (planície de inundação e várzeas)
quando a enchente atinge a cota máxima da calha principal do rio (CASTRO, 2003).
Além disso, nas zonas litorâneas onde os canais fluvias desembocam existem
processos costeiros que também afetam as enchentes e inundações. Estes
processos são as marés astronômicas e meteorológicas, que quando somadas
principalmente em situações de sizígia podem gerar grande resistência ao
escoamento do rio, aumentando a magnitude das enchentes e inundações
principalmente nas áreas próximas ao litoral (SOUZA, 2004).

22
3.3.1 MEDIDAS PARA CONTROLE DE ENCHENTES

3.3.1.1 MEDIDAS ESTRUTURAIS

As medidas estruturais são aquelas que modificam o sistema fluvial através


de obras de engenharia, com finalidade de reduzir o risco das enchentes. Estas
podem ser extensivas ou intensivas (TUCCI, 1993).
As medidas extensivas são aquelas que agem na bacia, procurando modificar
as relações entre precipitação e vazão. As medidas intensivas são as que agem no
rio e podem ser classificada em três tipos segundo Simons et al., (1977) apud
TUCCI (1993):

 Aceleram o escoamento: construção de diques, aumento da capacidade


de descarga dos rios e corte de meandros;
 Retardam o escoamento: reservatórios e bacias de amortecimento;
 Desvio de escoamento: são obras com canais de desvio (canais
extravasores).

As medidas estruturais não são projetadas para dar proteção completa, sendo
que as mesmas quase sempre não são viáveis fisicamente e economicamente. Além
disso, elas podem causar uma falsa sensação de segurança, permitindo a ampliação
da ocupação das áreas inundáveis, o que futuramente pode causar danos
significativos. Portanto, as medidas estruturais em conjunto com as não estruturais
podem minimizar significativamente os prejuízos com um custo bem menor (TUCCI,
1993; CASTRO, 2003).

3.3.1.2 MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS

As medidas não estruturais são aquelas em que os prejuízos são reduzidos


pela melhor convivência com o ambiente natural (TUCCI, 1997; CASTRO, 2003) e
podem ser agrupadas segundo Johnson (1978) apud TUCCI (1997):

23
 Regulamentação do uso da terra;
 Construções a prova de enchentes;
 Seguro de enchentes;
 Monitoramento Previsão e Alerta de enchentes.

3.3.2 ENCHENTES NO VALE DO ITAJAÍ

As enchentes e inundações no rio Itajaí-Açu marcaram profundamente a


cultura regional e o seu processo de desenvolvimento. Estes fenômenos naturais
são comuns no vale do Itajaí, devido a características peculiares como o formato de
sua bacia hidrográfica, seu relevo acentuado, sua baixa declividade no trecho mais a
jusante e processos costeiros (marés meteorológicas) (AUMOND et al., 2009).
No caso de Itajaí a situação é ainda mais complicada, pois o escoamento do
rio Itajaí Mirim para o rio Itajaí-Açu pode ser dificultada pela vazão muito superior
deste último. Sabe-se que a inundação de Itajaí deve-se ao transbordamento das
águas do Itajaí Mirim, as quais não escoam para o rio Itajaí-Açu. Segundo diversos
depoimentos, suspeita-se que o fato tenha se agravado após as canalizações e
retificações executadas no rio (TACHINI, 2009).
Os primeiros registros de enchente datam de 1852, somando mais de 70 até
os dias de hoje. Este fenômeno ao longo do tempo foi se transformando em desastre
natural, pois mais e mais pessoas passaram a viver no vale, utilizando de forma
inadequada suas margens (COMITE DO ITAJAÍ, 2008).
As enchentes de 1983 e 1984 foram marcantes, pois assumiram dimensões
catastróficas, atingindo níveis d’água que chegaram a 15,46 m com duração de
aproximadamente 10 dias. Em decorrência disso, surgiram iniciativas para buscar
resolver o problema. Uma delas foi PLADE (Plano Global e Integrado de Defesa
Contra Enchentes – Ecossistema Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu), pelo qual a
JICA (Japan International Coorperation Agency) foi contratada através do governo
federal e estadual a fim de realizar os estudos.

24
3.4 PLADE - JICA

Em 1986 foi firmado um acordo de cooperação técnica entre o DNOS


(Departamento Nacional de Obras de Saneamento) e a JICA, oportunidade em que
esta comprometeu em elaborar um plano diretor (master plan) de controle de
enchentes para o vale do Itajaí.
Para elaboração do plano diretor a JICA se fundamentou no tempo de retorno
(Tr) bem como em estimativas dos prováveis prejuízos das enchentes. O tempo de
retorno é um método estatístico definido como o intervalo médio em anos dentro do
qual ocorre ou supera-se uma enchente com vazão de magnitude “Q” (PINTO et al.,
1976; TUCCI, 1997).
Portanto, considerando o tempo de retorno, a densidade populacional atingida
e a extensão dos prejuízos, os trechos do rio Itajaí-Açu ao longo das cidades de
Blumenau, Gaspar, Ilhota, Itajaí, Ascurra, Rio do Sul, Lontras, Ituporanga e Brusque,
foram selecionados como pontos críticos para elaboração do plano diretor, que foi
divido em três níveis de controle (JICA, 1990):

 Plano emergencial: visa proteger contra as enchentes com período de


retorno de 10 anos e vazão de 3300 m³/s;
 Plano de médio prazo: visa proteger contra as enchentes com período
de retorno de 25 anos e vazão de 4000 m³/s;
 Plano de longo prazo: visa proteger contra as enchentes com períodos
de retorno de 50 anos e vazão de 5100 m³/s.

Dentro destes planos foram sugeridas várias medidas estruturais para todo o
vale, com o intuito de melhorar o escoamento fluvial, bem como as drenagens
urbanas. Entretanto, no presente trabalho serão analisadas somente as medidas
para o baixo vale.
Sendo assim, de forma sintetizada, as medidas estruturais sugeridas para o
baixo vale foram a construção de diques, aumento da profundidade e largura do rio
Itajaí-Açu e Itajaí Mirim e a construção do canal extravasor.
O canal extravasor tem a função de escoar as águas excedentes em eventos
extremos diminuindo os níveis d’água. Possui dimensões de aproximadamente 9000

25
m de comprimento, 50 m de largura na base e 10 m de profundidade, sua forma é
trapezoidal com declividade de 1:2 (Figura 11). Possui dois molhes em suas
extremidades costeiras com a função de prevenir o assoreamento fluvial e/ou
depósitos de sedimentos marinhos causados por correntes litorâneas. Sua rota está
inserida na praia de navegantes e pode ser vista na Figura 12. Na Tabela 2 serão
apresentadas as dimensões do canal extravasor e de seus molhes sul e norte.

Tabela 2 - Dimensões do canal extravasor e dos molhes sul e norte.

Canal Extravasor Molhe Sul Molhe Norte


Forma Trapezoidal Trapezoidal Trapezoidal
Comprimento (L) 9000m 1158m 898m
Largura Base (B) 50m - -
Largura Topo (T) - 10m 10m
Declividade 1:2 1:2 1:2

Figura 11 - Corte longitudinal do canal extravasor com suas respectivas dimensões.

26
Figura 12 - Localização da rota do canal extravasor (coordenadas: UTM / datum: WGS 84).

Além das medidas estruturais citadas acima, a JICA também recomenda


medidas não estruturais para todo o trecho do baixo vale. Estas medidas são:
manejo de áreas ribeirinhas inundáveis, mudança estruturais em casa e medidas
restritivas a novas construções, restrição do uso do solo, um sistema de previsão de
enchentes e alerta de cheias, conservação e reflorestamento.

27
3.4.1 PROBLEMAS DO PROJETO (CANAL EXTRAVASOR)

Na elaboração do projeto foi necessário realizar diversos levantamentos de


dados pertinentes à construção do canal extravasor como: topografia, batimetria,
hidrologia, sedimentologia e processos costeiros.
Sendo assim, alguns problemas foram detectados no que diz respeito aos
processos costeiros mais precisamente com o fenômeno de marés. O máximo de
elevação no nível d’água considerado no projeto foi de 0,46 m, considerando
somente as marés astronômicas, que na verdade podem chegar a 0,6 m. Porem há
um problema ainda maior, que é a desconsideração do efeito das marés
meteorológicas, que, segundo Trucculo (1998), podem gerar sobre-elevações de 1
m no nível d’água.
Estudos realizados na UNIVALI mostram que 70% dos casos das enchentes e
inundações no vale do Itajaí estiveram associados a eventos de marés
meteorológicas positivas.
Portanto, questionamentos pertinentes à eficiência do canal devem ser
discutidos, uma vez que projetos desta magnitude, mal dimensionados, podem
acarretar em enchentes e inundações muito mais catastróficas (TUCCI, 1993).

3.5 MODELAGEM NUMÉRICA

Modelos numéricos computacionais vêm sendo cada vez mais utilizados


como ferramenta de análise do comportamento hidrodinâmico de corpos de água
naturais. Na engenharia costeira e oceanográfica esta ferramenta ganha importância
fundamental e sua utilização é praticamente indispensável em projetos e estudos
(CABRAL, 2009; CHEN, 2001).
Modelos permitem integrar informações espacialmente dispersas, interpolar
informações para regiões nas quais não há medições, ajudar a interpretação de
medições feitas em estações pontuais, propiciar entendimento da dinâmica de
processos e prever situações simulando cenários futuros (BLUMBERG &
PITCHARD, 1997; ROSMAN, 2010).

28
Uma vez calibrados e validados, são capazes de bem reproduzir valores nos
pontos onde se fez medições, não há porque duvidar que possam ser usados para
interpolar e extrapolar informações para além de tais pontos (ROSMAN, 2010).
Entretanto, sua utilização de modo inadequado pode levar a resultados
enganosos, com graves consequências. Por isso, é essencial que os modeladores
tenham entendimento de como se deve usar tais ferramentas, dentro de um
processo de modelagem (ROSMAN, 1997).
O processo de modelagem pode ser sintetizado no diagrama apresentado na
Figura 13, sendo que a rota usualmente seguida está destacada em amarelo.

Figura 13 - Diagrama do processo de modelagem com destaque em amarelo para rota


usualmente seguida (modificado ROSMAN 2010).

A primeira etapa da rota é definir o fenômeno de interesse ou o processo que


ser quer modelar. Nesse ponto devem ser claramente definidas as escalas espaço
temporais do fenômeno de interesse. Esta fase inclui observações e medições de
forma a obter conhecimento qualitativo e quantitativo propiciando a formulação do
modelo conceptual que é o primeiro e mais importante dos modelos.
A etapa seguinte consiste em traduzir a formulação física do fenômeno que se
quer modelar, baseada nas leis universais ou empíricas, em uma formulação
matemática. Dos modelos matemáticos também se pode obter modelos físicos em

29
escalas reduzidas, modelos analógicos, modelos analíticos e modelos numéricos,
porém de fato os modelos numéricos são normalmente os mais usados.
Os modelos numéricos implicam geralmente na mudança do espaço contínuo
para o discreto, utilizando os métodos de diferenças finitas, elementos finitos e
volumes finitos.
Em seguida vem o pré-processamento que se trata de uma etapa comum a
qualquer tipo de modelagem, usado para obter informações quantitativas do modelo
conceptual. De fato, qualquer que seja o modelo usado para se obter informações
quantitativas, antes de obtê-las será necessário preparar o modelo e organizar os
dados de entrada. Evidentemente o tipo de pré-processamento a ser feito depende
do modelo adotado.
Para os modelos numéricos, os resultados quantitativos desejados serão
obtidos via um modelo computacional, que é a tradução de um modelo numérico
para uma linguagem computacional que possa ser compilada e executada em um
computador.
Após estas etapas, que podemos chamar de pré-processamento, vem o pós-
processamento, que nada mais é que avaliar os resultados do modelo
computacional através do processo de calibração e validação. Se os resultados
gerados após a validação apresentarem coerência com a realidade, o modelo está
pronto, sendo o próximo passo a geração de mapas e relatórios técnicos. Todavia,
se estes não estiverem de acordo com a realidade são necessárias novas
calibrações até que este atinja um padrão aceitável de validação.

3.5.1 MODELO SISBAHIA

O SisBaHiA® (Sistema Base de Hidrodinâmica Ambiental) é um sistema


profissional de modelos numéricos computacionais elaborado no Programa de
Engenharia Oceânica da COPPE/UFRJ com licença de uso gratuita para fins
acadêmicos. Os diversos modelos que este possui estão listados abaixo:

 Modelo Hidrodinâmico 2DH/3D;


 Modelo de Transporte Euleriano;
 Modelos de Qualidade de Água e Eutrofização ;
30
 Modelos de Transporte de Sedimentos e Evolução Morfológica do
Fundo;
 Modelo de Transporte Lagrangeano – Determinístico;
 Modelo de Transporte Lagrangeano – Probabilístico;
 Modelo de Campo Próximo para Emissários e Fontes Pontuais;
 Modelo de Geração de Ondas;
 Modelo de Propagação de Ondas.

O presente trabalho adotou o modelo hidrodinâmico 2DH para corpos d’água


totalmente barotrópico, portanto informações pertinentes sobre o mesmo serão
discutidas a seguir.
Vale ressaltar que a escolha do tipo de modelo a ser utilizado em um
determinado estudo dependerá não só das condições naturais, mas também do tipo
do problema que se deseja resolver (MENÉNDEZ, 2003; ROSMAN, 1997).

3.5.1.1 MODELO HIDRODINÂMICO 2DH

O SisBaHiA® possui um modelo hidrodinâmico de linhagem FIST (fitered in


space and time), otimizado para corpos de água naturais. A linhagem FIST
representa um sistema de modelagem para corpos de água com superfície livre
composta por uma série de modelos hidrodinâmicos
O FIST3D utiliza uma eficiente técnica numérica em dois módulos, calculando
primeiramente os valores da elevação da superfície livre através de um
modelamento bidimensional integrado na vertical (2DH) seguido do campo de
velocidades.
Com o FIST3D pode-se simular a circulação hidrodinâmica em corpos de
água naturais sob diferentes cenários meteorológicos, oceanográficos e fluviais.

3.5.1.1.1 FORMULAÇÃO

A mecânica do movimento para escoamento em regime turbulento é


governada pelas equações de Navier-Stokes. Tais equações representam o
princípio da conservação da quantidade de movimento (2 a Lei de Newton) em
31
conjunto com a equação da continuidade, compondo o modelo matemático
fundamental para qualquer corpo de água (ROSMAN, 1997).
O modelo FIST 3D resolve equações de Navier-Stokes com aproximações de
águas rasas (pressão hidrostática). Para cada intervalo de tempo, o módulo 2DH
determina as componentes das velocidades médias na vertical, na direção x e y,
respectivamente, U (x, y, t) e V (x, y, t,); e as elevações da superfície livre, z = ζ(x, y,
t).
A seguir descrevem-se as três equações necessárias para determinar as três
incógnitas da circulação hidrodinâmica em um escoamento 2DH integrado na
vertical, (ζ, U, V), ou seja, as equações governantes do modelo 2DH.
Equação de quantidade de movimento na direção x integrado na vertical:

̅ ̅ ( ̅ )
( ) ∑

Equação de quantidade de movimento na direção y integrado na vertical:

̅ ̅ ( ̅ )
( ) ∑

Equação da continuidade integrada na vertical:

32
Quadro 1 - Significado dos termos referentes a equação de quantidade de movimento.

Representa a aceleração local do


escoamento em uma dada posição. A
taxa de variação temporal do fluxo de
quantidade de movimento 2DH por
unidade de massa. Em escoamentos
permanentes, esse termo é igual à zero.

Representa a aceleração advectiva do


escoamento 2DH, em um determinado
instante, representam o balanço dos
fluxos advectivos médios na vertical, por
unidade de área, de quantidade de
movimento na direção x, por unidade de
massa. Em escoamentos uniformes,
esses termos são iguais à zero.

Representa a variação da pressão


hidrostática na direção x (gradiente de
pressão), devido à declividade da
superfície livre na direção x. Conforme
indicado pelo sinal negativo, este termo
força escoamentos de lugares onde o
nível de água é mais alto para onde o
nível de água é mais baixo.

Representa a variação da pressão


hidrostática na direção x (gradiente de
pressão), devido às diferenças de
̅
densidade da água na direção x. Con-
forme indicado pelo sinal negativo, este
termo força o escoamento de lugares
com maior densidade para onde a
densidade é menor.

Representa a resultante das tensões


dinâmicas turbulentas 2DH no
escoamento, em um determinado
instante, representam o balanço dos
̅ ( ̅ ) fluxos difusivos médios na vertical, por
( )
unidade de área, de quantidade de
movimento na direção x, por unidade de
massa. Por exemplo, esses termos são
responsáveis pela geração de vórtices
horizontais em zonas de recirculação.

Representa a tensão do vento na


superfície livre por unidade de massa. Se
o vento estiver na mesma direção do
escoamento, esse termo irá acelerar o
escoamento; se estiver oposto, irá
retardar o escoamento.

33
Representa a tensão de atrito no fundo
atuante no escoamento 2DH por unidade
de massa. Conforme indicado pelo sinal
negativo, esse termo sempre tende a
desacelerar o escoamento. É sempre
oposto ao escoamento.

Representa a aceleração de Coriolis


Esse termo é irrelevante próximo ao
equador, em baixas latitudes e em corpos
de água relativamente pequenos como a
Baía de Guanabara, por exemplo.

Representa efeitos na quantidade de


movimento devidos a variações de massa
em função dos fluxos, por unidade de
área, de precipitação qP, evaporação qE
infiltração qI.

Quadro 2 - Significado dos termos referentes a equação da continuidade.

Representa os efeitos de continuidade,


ou seja, uma massa fluida escoa de
∑ forma incompressível, permanecendo
com o mesmo volume à medida que
movimenta.

3.5.1.1.2 DISCRETIZAÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL

O sistema de discretização espacial do SisBaHiA® é otimizado para corpos


de água naturais, pois permite ótima representação de contornos recortados e
batimetrias complexas.
A discretização espacial é preferencialmente feita via elementos finitos
quadrangulares biquadráticos, mas pode igualmente ser feita via elementos finitos
triangulares ou combinação de ambos (Figura 14).
Apesar do FIST3D permitir o uso de elementos mistos na mesma malha de
discretização, sempre que possível, deve-se usar elementos quadrangulares, pois
têm maior estabilidade e acurácia (ROSMAN, 2010).

34
Figura 14 - Formatos dos elementos finitos quadrangulares e triangulares admissíveis no
modelo FIST3D e seus respectivos nós.

A discretização temporal do SisBaHiA® é via um esquema implícito de


diferenças finitas, com erro de truncamento de segunda ordem.

3.5.1.1.3 CONFLITO DE ESCALAS

Quando uma discretização numérica é definida para um modelo


hidrodinâmico, as escalas resolvíveis são naturalmente impostas, definindo quais
fenômenos podem ser resolvidos.
Com base no teorema de amostragem de Nyquist, em um modelo numérico
as escalas não resolvíveis em uma dada dimensão são todas aquelas menores que
o dobro da escala de discretização no espaço (∆x, ∆y, ∆z) e no tempo (∆t).
Na prática, para ser razoavelmente resolvido em uma malha ou grade
numérica, o fenômeno precisa ter uma escala pelo menos 4 vezes maior que a
escala de discretização. Porém, para ser bem resolvido, de fato, o fenômeno deve
ser pelo menos 8 vezes maior que a escala de discretização (ROSMAN, 2010).

35
3.5.1.1.4 CONDIÇÕES DE CONTORNO E CONDIÇÕES INICIAIS

Para se resolver modelos hidrodinâmicos é necessário o estabelecimento das


condições de contornos bem como as condições iniciais.
Sendo assim, as condições de contorno podem ser de dois tipos: os
contornos abertos e os fechados (Figura 15).
Os contornos abertos representam os limites do domínio de modelagem que
estão ligados ao oceano como, por exemplo, a entrada de uma baía. Portanto é
neste contorno onde a imposição das forçantes de elevação da superfície livre é
prescrita.
Os contornos fechados, chamados também contornos de terra, representam
margens e seções de rios ou canais que estejam incluídos no domínio de
modelagem. Portanto, é nesse contorno onde há imposição de valores de vazão ou
velocidade.

Contorno
Contorno Aberto
Fechado

Contorno
Fechado

Contorno
Aberto

Figura 15 - Representação dos contornos abertos e fechados.

36
Já as condições inicias, são valores de entrada para que o modelo possa
rodar. Para um modelo hidrodinâmico as condições inicias são os campos de
velocidade e as elevações da superfície livre.

3.5.1.1.5 CALIBRAÇÃO E VALIDAÇÃO

No processo de modelagem a validação e calibração são etapas


inquestionavelmente importantes, pois é através destas que vamos saber se o
modelo está ou não representando bem os dados reais.
A calibração nada mais é que ajustar variáveis e parâmetros a fim de obter a
melhor resposta do modelo computacional quando comparada aos dados
experimentais (TEIXEIRA et al., 2007), ou seja, após a validação se o modelo não
estiver representando bem a realidade novas calibrações são necessárias, até que
este seja devidamente validado (ROSMAN 2010).
Segundo Rosman (2010), importantes pontos conceituais definem uma boa
calibração em sistema de modelos hidrodinâmicos e podem ser vistas a seguir:
O primeiro passo de calibração é checar se as escalas características dos
fenômenos de interesse e as escalas de discretização do modelo são compatíveis.
Isso deve ser feito quando discretizamos a malha do modelo.
O segundo é checar exaustivamente se a geometria do domínio de interesse
está adequadamente representada. Neste sentido, as principais ocorrências são:
discretização inadequada, sempre muito grosseira para capturar feições geométricas
que possam afetar os dados medidos e os resultados do modelo; e valores
impróprios de profundidade, especialmente ao longo dos contornos, ao longo dos
nós de ilhas e de canais estreitos.
O terceiro passo no processo de calibração refere-se às condições de
contorno e as forçantes dos modelos. Uma verificação abrangente deve ser feita,
pois os modelos hidrodinâmicos são muito sensíveis às mudanças nas condições de
contorno.
O quarto e último passo de calibração foca nas variações dos níveis de água,
ou no caso de corpos de água costeiros, níveis de maré. Se um modelo está
simulando corretamente as variações do nível de água, em amplitudes e fases,
então volumes de água estão sendo corretamente trocados dentro do domínio do

37
modelo. Somente depois que os níveis de água estiverem sendo corretamente
reproduzidos em amplitude, com erros menores que uma tolerância definida, é que
se pode esperar obter valores corretos de velocidade.

4. ÁREA DE ESTUDO

4.1 LOCALIZAÇÃO

O rio Itajaí-Açu está localizado no litoral Norte de Santa Catarina,


aproximadamente 80 km ao norte de Florianópolis. Sua desembocadura fica entre
as cidades de Itajaí ao sul e Navegantes ao norte, onde se encontra com o oceano
Atlântico em 7020903.90 m S e 734866.45 m L (Figura 16).

Figura 16 - Localização da área de estudo (coordenadas: UTM / datum: WGS 84).

Sua formação tem início no município de Rio do Sul, pela confluência do rio
Itajaí do Sul com rio Itajaí do Oeste. Seus maiores afluentes pela margem esquerda

38
são o rio Itajaí do Norte e o rio Luís Alves. Já na margem direita o seu principal
afluente é o rio Itajaí-Mirim situado no município de Itajaí, a 9 km antes da foz do
Oceano Atlântico. Apartir deste ponto o rio passa a ser denominado de rio Itajaí
(COMITE DO ITAJAÍ, 2008).

Sua bacia de drenagem possui aproximadamente 15,500 km², sendo a maior


bacia da Vertente Atlântica (VA) catarinense (Figura 17), estando limitada ao norte
pela Serra do Mar, e a oeste e sul pela Serra Geral (GAPLAN, 1986).

Figura 17 - Bacia do Rio Itajaí-Açu e sua respectiva elevação digital disponibilizado no site da
EPAGRI (coordenadas: UTM / datum: WGS 84).

4.2 CARACTERIZAÇÃO

4.2.1 REGIME DE MARÉ

A variação do nível do mar na área de estudo é predominantemente


controlada pelas marés astronômicas, exercendo uma influência de
aproximadamente 70%. O restante (30%) é devido a oscilações de baixa frequência

39
causadas ou por marés meteorológicas ou por eventos extremos de vazão fluvial
(SCHETTINI & TRUCCULO, 2009).

4.2.1.1 MARÉ ASTRONÔMICA

O regime de maré astronômica na região é classificado como de micromarés


misto com predominância semidiurna, possuindo o número de forma (Nf) em torno
de 0.4. A altura média de maré na desembocadura do estuário é de 0,8 m, com
mínimas de 0,3 m e máximas de 1,2 m durante período de sizígia (SCHETTINI,
2002).
Vale ressaltar que o regime de maré astronômica dentro do rio Itajaí-Açu é
bastante influenciado por constituintes harmônicas de águas rasas, possivelmente
devido à complexidade da linha de costa e extensa plataforma continental,
apresentando uma equivalência de amplitude com a principal constituinte diurna O1,
da ordem de 0,1 m (SCHETTINI & TRUCCOLO, 2009).

4.2.1.2 MARÉ METEOROLÓGICA

Na área de estudo sob condições extremas, como observado algumas vezes


durante passagens de frentes frias, a maré meteorológica pode atingir amplitudes na
ordem de 1 m em relação ao nível da maré astronômica, com períodos que variam
entre 3 a 15 dias (TRUCCOLO, 1998).

4.2.2 COMPONENTE FLUVIAL

O rio Itajaí-Açu possui uma grande variabilidade anual em sua descarga


fluvial, com máximas nos meses de julho e agosto e mínimas nos meses de março e
outubro. A descarga média é de aproximadamente 228 m³/s, sendo que em períodos
de enchente ela pode chegar a 5390 m³/s (enchente de 1984) e em períodos de
estiagem a 17 m³/s (SCHETTINI 2002).
Segundo estudos da JICA (1990), o rio Itajaí-Açu possui uma descarga média
anual de 271 m³/s e o Itajaí Mirim de 24.6 m³/s.

40
4.2.3 MASSAS DE ÁGUA

Segundo Carvalho & Schettini (1996) as principais massas de água no litoral


Centro-Norte Catarinense são:

 Água Costeira (AC): apresenta temperatura variável em função da época


do ano, com salinidade inferior a 34 0/00;
 Água Tropical (AT): é originada da corrente do Brasil com temperatura
superior a 22 0C e salinidade superior a 35 0/00.
 Água Central do Atlântico Sul (ACAS): apresenta temperatura inferior a
20 0C e salinidade superior a 35 0/00

A ACAS ocorre nas camadas mais inferiores, ressurgindo esporadicamente


em função das forçantes meteorológicas associadas a ventos do quadrante norte.
Esse afloramento se da entre a Ilha de Santa Catarina e o Cabo de Santa Marta
(SCHETTINI et al., 1998).

4.2.4 REGIME DE VENTO

O regime de ventos na área de estudo são predominantes de nordeste


durante todo o ano, porém nas estações de inverno e primavera tem-se um aumento
na importância dos ventos do quadrante sul. Isto ocorre, porque há um aumento na
intensidade e frequência das frentes frias em Santa Catarina (TRUCCOLO, 1998;
JICA, 1990).

4.2.5 CLIMA

O clima local é classificado como mesotérmico úmido com temperatura média


anual de 21,8 0C, precipitação média anual de 1416 mm e evapotranspiração média
anual de 1080 mm (GAPLAN, 1986). Já segundo JICA (1990) a temperatura média
0
anual é de 20,1 C, com uma precipitação média anual de 1696 mm e
evapotranspiração média anual de 1130 mm.

41
4.2.6 CLIMA DE ONDAS

Segundo JICA (1990) o clima de ondas na área de estudo possui altura


significativa (Hs) de 0,5 a 1,0 m e períodos de pico (Tp) de 6 a 10 s. Já segundo
Rosman (2006), o clima de ondas possui uma altura significativa (Hs) entre 0,5 a 1,5
m e períodos de pico (Tp) entre 6 a 12 s com modal entorno de 9 s. Suas direções
podem variar de SE e NE sendo que as ondulações de E são mais frequentes.

4.2.7 ASPECTOS SEDIMENTOLÓGICOS

No rio Itajaí-Aço os aspectos sedimentológicos de fundo durante períodos de


baixa descarga fluvial são dominados por siltes e argilas. Já em altas descargas
fluviais o teor de areia aumenta, devido a maior competência de transporte do rio
(PONÇANO 1982 e 1987 apud SCHETTINI, 2002). Porém é possível observar
durante períodos de baixa vazão, areia fina de origem marinha sendo transportada
pela corrente de fundo no estuário (DOBEREINER, 1986 apud SCHETTINI, 2002).

4.2.8 ESTUÁRIO DO RIO ITAJAÍ-AÇU

O estuário do rio Itajaí-Açu pode ser classificado como de cunha salina


segundo os padrões de distribuição de sal descritos por Pritchard (1955), e de
planície costeira de frente deltaica conforme a classificação geomorfológica e
fisiográfica sugerida por Pritchard (1967) e Fairbridge (1980) (SCHETTINI 2002).
Seus principais forçantes hidrodinâmicos são a descarga fluvial e o regime de
maré, sendo que o principal aporte fluvial para o estuário é o próprio rio Itajaí-Açu.
Atribui-se a ele, aproximadamente 90% do total, enquanto os 10% restantes são
atribuídos ao rio Itajaí Mirim (SCHETTINI & TRUCCOLO, 2009).
Após períodos prolongados de baixa vazão a intrusão salina pode chegar a
mais de 30 km da desembocadura. Por outro lado em eventos de vazões acima de
1000 m³/s toda a água salgada do rio é expulsa, tornando o estuário totalmente
misturado sem estratificação (SCHETTINI 2002).

42
Segundo Schettini (2002), os ventos não afetam diretamente a hidrodinâmica
do estuário do rio Itajaí-Açu, porém de forma indireta eles podem causar anomalias
nas variações do nível d’água do oceano (marés meteorológicas), que por sua vez
irão causar mudanças na dinâmica do estuário.
As ondulações praticamente não interferem na dinâmica do estuário, devido
ao seu canal de entrada ser retificado por dois molhes, agindo como um filtro para
ondas de alta frequência (SCHETTINI 2002).

5. METODOLOGIA

5.1 DOMÍNIO DE MODELAGEM

A definição do domínio de modelagem é necessária para que possamos


aplicar as condições de contorno bem como suas discretizações espaciais e
temporais. Sendo assim, para o presente trabalho foi necessário dois domínios de
modelagem. O primeiro está relacionado às condições normais sem a presença do
canal extravasor (Figura 18), já o segundo está relacionado às condições hipotéticas
com a presença do canal extravasor (Figura 19).

Figura 18 – Domínio de modelagem referentes as condições normais, sem o canal extravasor


(coordenadas: UTM / datum: WGS 84).
43
Figura 19 – Domínio de modelagem referentes a condição hipotética com o canal extravasor
(coordenadas: UTM / datum: WGS 84).

5.2 DISCRETIZAÇÃO ESPACIAL

Para a realização da discretização espacial foi levado em consideração dois


critérios: o fenômeno de interesse e a complexa variação na linha de costa. Desta
forma, os elementos da malha foram refinados dentro do rio Itajaí-Açu, dentro do
canal extravasor e nas áreas costeiras adjacentes. Já para as áreas mais oceânicas
houve um menor refinamento, isto devido a estarem longe da área de interesse e em
razão de possuírem batimetria menos complexa.
O domínio de modelagem sem o canal extravasor foi descritizado com 2400
elementos quadrangulares (Figura 20). Já para o domínio de modelagem com o
canal extravasor a discretização possui 2764 elementos quadrangulares (Figura 21).

44
Figura 20 - Malha utilizada na modelagem para os cenários sem o canal extravasor
(coordenadas: UTM / datum: WGS 84).

45
Figura 21 - Malha utilizada na modelagem para os cenários com o canal extravasor
(coordenadas: UTM / datum: WGS 84).

46
5.3 DISCRETIZAÇÃO TEMPORAL

A discretização temporal do modelo foi definida com base na variação


temporal do fenômeno de interesse e no número de Courant (Cr).
O número de Courant é um parâmetro adimensional que indica as
instabilidades do modelo. Quando o número de Courant (Cr) é grande, os modelos
tendem a gerar instabilidades numéricas, porém o tempo computacional para gerar
os resultados é menor. Quando este número é baixo as inconsistências tendem a
desaparecer, mas com um grande aumento no tempo computacional.

√( ) (| ⃗ | √ )

Onde:
∆t = passo de tempo que se deseja determinar (s);
∆x = espaçamento médio longitudinal dos nós da malha (m);
∆y = espaçamento médio transversal dos nós da malha (m);
|V| = módulo da velocidade de corrente (na prática é desprezível, pois seu
valor é muito menor que √ );
g = aceleração da gravidade (m²/s);
H profundidade média local

No SisBaHiA® um bom número de Courant (Cr) varia entre 3 e 8. Estes


valores permitem que o modelo represente bem os resultados, sem inconsistências
e com um tempo computacional aceitável. Sendo assim, o intervalo de tempo para
descrcitização temporal foi de 30 s, gerando um número de Courant (Cr) igual a 5.

47
5.4 DADOS DE ENTRADA

5.4.1 RUGOSIDADE

O valor de rugosidade ( adotado no modelo foi de 0.03 m para todo o


domínio de modelagem, isto porque o rio Itajaí apresenta predominância sedimentar
do tipo silte e argila. Para o modelo FIST3D, os valores recomendados para
rugosidade ( são apresentados na Tabela 3.

Tabela 3 - Valores recomendados para a amplitude de rugosidade no fundo, para uso no


módulo2DH do modelo FIST3D.

5.4.2 BATIMETRIA

Os dados batimétricos na área costeira foram digitalizados e disponibilizados


pelo Laboratório de Oceanográfica Geológica (LOG) da UNIVALI. A carta náutica
utilizada foi de n0 1801. Já a batimetria dentro do rio Itajaí-Açu foi disponibilizada
pelo porto de Itajaí e coletada pela empresa Hidrotopo.

48
5.4.2.1 INTERPOLAÇÃO BATIMETRIA

Os dados batimétricos foram interpolados no software SURFER utilizando-se


três métodos diferentes: IDW, Natural Neighbor e Kriging. Estes foram comparados
entre si e o que obteve os melhores resultados em relação ao processo de
modelagem foi o Kriging. Segundo Rosman (2010) o método Kriging é o mais
recomendado.
Vale ressaltar também que uma batimetria suavizada, em relação ao
processo de modelagem, é mais equilibrada e resulta em modelos mais eficientes.
Sendo assim, os dados batimétricos foram submetidos a duas interpolações
sucessivas, a fim de suavizar curvaturas poligonais.
Nas Figuras 22 e 23 serão apresentadas as interpolações utilizadas na
modelagem.

49
Canal
Bacia de
Evolução

Canal

Figura 22 – Interpolação da batimetria utilizada na modelagem, destacando a desembocadura


do rio Itajaí-Açu (coordenadas: UTM / datum: WGS 84).

50
Canal Canal

Canal

Figura 23 - Interpolação da batimetria utilizada na modelagem, destacando o rio Itajaí-Açu


(coordenadas: UTM / datum: WGS 84).

51
5.4.3 VAZÕES FLUVIAIS

No domínio de modelagem temos três rios: o Itajaí-Açu, o Itajaí Mirim e o


Camboriú. Os valores médios adotados no modelo para os rios Itajaí-Açu e Itajaí-
Mirim foram retirados do relatório da JICA (1990) (Tabela 4). Já para o rio Camboriú
os valores médios foram retirados do relatório técnico realizado por Rosman (2006)
corroborando com estudos realizados por Franklin-Silva & Schettini (2003) (Tabela
4).

Tabela 4 - Vazões médias utilizadas na modelagem

Rios Vazão Média (m³/s)


Itajaí-Açu 271
Itajaí Mirim 30
Camboriú 2

Os valores adotados para as vazões extremas dos rios Itajaí-Açu e Itajaí-


Mirim foram obtidos através do relatório da JICA (1990) e podem ser vistas na
Tabela 5.

Tabela 5 - Vazões extremas utilizadas na modelagem

Tempo de Vazão rio Vazão rio


Retorno (Tr) Itajaí-Açu (m³/s) Itajaí Mirim (m³/s)
10 3300 700
25 4000 790
50 5100 930

5.4.4 MARÉ ASTRONÔMICA

As constantes harmônicas utilizadas na modelagem foram obtidas através da


análise harmônica realizada no próprio SisBaHiA®. O método utilizado pelo
SisBaHiA® foi proposto por M. Foreman do Institute of Ocean Sciences, British

52
Columbia. Segundo Rosmam (2010) este método é o mais utilizado em todo o
mundo para a análise e previsão de dados de marés.
Os dados utilizados para realizar a análise harmônica foram coletados e
cedidos pelo Laboratório de Oceanográfica Física (LOF) da UNIVALI, o qual possui
um marégrafo fixado no píer turístico de Itajaí. O intervalo de amostragem dos dados
foi de 10 min entre os dias 01/01/2010 a 31/01/2010.
O resultado da análise harmônica e a série temporal gerada pelas constantes
resultantes, podem ser vistas, respectivamente, na Tabela 6 e na Figura 24.

Tabela 6 – Constantes Harmônicas utilizadas na modelagem.

Constantes Período (h) Amplitude (cm) Fase (rad)


M2 12.42 21.91 1.67
S2 12.00 15.48 2.01
O1 25.82 6.41 1.58
M4 6.21 6.06 2.7
N2 12.66 4.58 2.99
MSf 354.37 4.52 4.02
K1 23.93 3.79 2.81
M3 8.28 3.34 3.79
MS4 6.10 3.15 4.57
MN4 6.27 2.58 1.96
Q1 26.87 1.97 1.07
MK3 8.18 1.88 2.6
MO3 8.39 1.11 0.91
2MK5 4.93 0.75 0.98
M1 24.83 0.72 1.78
2Q1 28.01 0.68 1.06
2MS6 4.09 0.64 0.03
2SK5 4.80 0.46 2.27
SK3 7.99 0.42 4.66
J1 23.10 0.36 3.69
S4 6.00 0.36 5.54
2SM6 4.05 0.36 1.54
OO1 22.31 0.33 0.07
M6 4.14 0.29 5.39
KQ1 21.58 0.26 0.4
3MK7 3.53 0.2 1.53
M8 3.11 0.2 5.26
KJ2 11.75 0.11 1.17
2MN6 4.17 0.05 3.63

53
Elevação
0.60

0.40

0.20
Elevção (m)

0.00

-0.20

-0.40

-0.60
01/01/2010 07/01/2010 13/01/2010 19/01/2010 25/01/2010 31/01/2010
Tempo

Figura 24 – Gráfico de elevação das marés utilizada na modelagem.

5.4.5 MARÉ METEOROLÓGICA

Para a representação das marés meteorológicas foi necessário adicionar uma


nova constante harmônica. Isto porque na analise harmônica de maré as baixas
frequências são retiradas.
Sendo assim, os valores utilizados para nova constante harmônica foram de 1
m para a amplitude e 7 dias para o período.
Em razão do método utilizado no SisBaHiA® não gerar previsões datadas de
maré quando adicionamos uma nova constante que não possui padrões
astronômicos, foi necessária a utilização das previsões genérica das constantes
analisadas, que de fato representa muito bem as variações meteorológicas, bem
como as astronômicas, e podem ser vistas na Figura 25.

54
Elevação
2.00
1.50
1.00
Elevação (m)

0.50
0.00
-0.50
-1.00
-1.50
-2.00
0 24 48 72 96 120 144 168 192 216 240 264 288 312 336 360 384
Tempo (h)

Maré Astrônomica Maré Astronômica + Meteorológica

Figura 25 - Gráfico de elevação das marés astronômicas e meteorológicas utilizadas na


modelagem.

5.5 VALIDAÇÃO

A metodologia utilizada para validação do modelo hidrodinâmico fundamenta-


se na avaliação da modelagem quanto à sua capacidade de reprodução da
circulação hidrodinâmica. Portanto, foram comparadas às series temporais medidas
com as modeladas de elevação do nível d’água e corrente.
Uma forma de quantificar esta validação segundo (CHEN, 2001) é utilizando
parâmetros estatísticos como a raiz do erro médio quadrático (RMS) e o coeficiente
de determinação (R²).
A raiz do erro médio quadrático (RMS) é um indicador do desvio entre os
dados medidos pelos modelados. O RMS ideal é zero e sua dimensão física
(unidade) é a mesma do dado, que no caso do presente trabalho é metro (m) para
elevação é metros por segundo (m/s) para correntes (MONTGOMERY & RUNGER,
1999).

√ ∑

55
O coeficiente de deteminação (R2) pode ser entendido como a quantidade de
variabilidade nos dados explicada pelo modelo, uma vez que o R2 nada mais é do
que uma comparação entre o erro do modelo e a variância total dos dados. Seu
valor varia entre 0 e 1, sendo que o 1 é o valor ideal (MONTGOMERY & RUNGER,
1999).


∑ ( ̅̅̅̅̅̅̅̅)

Esses dados ainda foram submetidos à análise espectral que nos permite
quantificar o conteúdo energético do sistema em todas as faixas de frequência de
oscilação (CARVALHO, 2003). Esta análise foi realizada em ambiente matlab
através de rotinas desenvolvidas por Carvalho (2003).
Sendo assim, as séries temporais utilizadas para validação da elevação do
nível d’água foram coletadas na estação maregráfica situada no píer turístico de
Itajaí com coordenadas 7021990.01 m S e 732970.08 m L, entre as datas
01/01/2010 até 31/01/2010 (Figura 26).
Já para as correntes foram utilizados os dados do correntógrafo de posição
7025106.06 m e S 727087.44 m E, em frente ao TEPORTI entre as datas
30/12/2010 até 31/12/2010, apresentando vazão média de 270 m³/s.
Os dados de elevação e corrente foram coletados e cedidos gentilmente pelo
Laboratório de Oceanografia Física (LOF) da UNIVALI.

56
Correntógrafo

Estação
maregráfica

Figura 26 – Posição dos equipamentos representados pelos pontos em vermelho


(coordenadas: UTM / datum: WGS 84).

5.6 ANÁLISE DA EFICIÊNCIA

Com os modelos rodados e validados foi realizada a análise da eficiência do


canal extravasor, comparando-se os níveis d’água entre os cenários sem e com o
canal extravasor para as vazões extremas de 3300 m³/s, 4000 m³/s e 5100 m³/s sob
o efeito das marés astronômicas, marés meteorológicas positivas e marés
meteorológicas negativas.
Sendo assim, o cálculo do erro relativo (ER) (SPERANDIO et al., 2003) foi
utilizado para representar e quantificar a eficiência relativa (EF), e pode ser visto a
seguir:

( )

57
Onde:
A = elevação média sem o canal;
B = elevação média com o canal.

6. RESULTADO E DISCUSSÃO

6.1 VALIDAÇÃO

6.1.1 ELEVAÇÃO

A seguir serão apresentados os resultados pertinentes à validação das


elevações gerada pelo modelo. Na Tabela 7 podemos ver os parâmetros estatísticos
estimados para quantificar a validação.

Tabela 7 - Parâmetros estatísticos calculados para validação da elevação.

R² RMS (m)
0,9028 0,0761

O valor encontrado para o R² = 0,9028 nos indica que o modelo representa


90% os dados medidos e possui uma boa correlação linear entre os dados medidos
e modelados (Figura 27). Já o RMS nos mostra que o modelo possui um pequeno
desvio entre os dados medidos na ordem de 0,0761m.
Segundo Rosman (2006) uma boa coerência entre os valores medidos e
modelados são em geral iguais ou melhores que 90%.
Chen (2001) aplicou um modelo numérico hidrodinâmico no estuário do rio
Alafia, Florida (EUA) e os parâmetros estatísticos encontrados em sua validação de
elevação foram R² = 0,9620 e RMS = 0,0452 m, valores estes semelhantes aos
encontrados no presente trabalho.

58
Dispersão Elevação R² = 0,9028
0.8

0.6

0.4
Modelado (m)

0.2

0
-0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8
-0.2

-0.4

-0.6

-0.8
Medido (m)

Figura 27 - Diagrama de dispersão entre os dados de elevação medidos e modelados para o


período de 01/01/2010 até 31/01/2010 com seu respectivo coeficiente de correlação linear (R²).

Na Figura 28 temos o espectro cruzado de elevação, que nos permite analisar


os dados medidos e modelados no domínio da frequência, mostrando uma boa
coerência nos padrões de energia entre ambos.
Note que existe um grande pico na faixa de frequências das marés
semidiurnas, evidenciando sua predominância na área de estudo, estando de acordo
com Schettini (2002).
Note também que o pico na frequência quarti-diurna possui a mesma
magnitude que na frequência diurna, indicando a importância das constituintes
harmônicas de águas rasas.
Segundo Schetinni & Truccolo (2009) a área de estudo é fortemente
influenciada pelas constituintes harmônicas de águas rasas, devido à complexidade
da linha de costa e extensa plataforma continental, com amplitudes que se igualam
as marés diurnas.
Por fim, na Figura 29 podem ser vistas as séries temporais de elevação
medida e modelada para o período entre os dias 01/01/2010 até 31/01/2010.

59
Figura 28 - Espectro Cruzado de elevação entre as séries temporais medida e modelada entre
os dias 01/012010 até 31/01/2010.

Elevação
0.60
Elevação (m)

0.20

-0.20

-0.60
01/01/2010 11/01/2010 21/01/2010 31/01/2010
Tempo

Medido Modelado

Figura 29 - Série temporal de elevação medida (azul) e modelada (vermelho) para o período
entre os dias 01/01/2010 até 31/01/2010.

6.1.2 CORRENTE

Na Tabela 8 são apresentados os parâmetros estatísticos estimados para


quantificar a validação das componentes de velocidade U (L-O) V (N-S).

60
Tabela 8- Parâmetros estáticos calculados para validação de corrente.

Componentes R² RMS (m/s)


U (L-O) 0,7498 0,044
V (N-S) 0,5568 0,026

Em relação à componente de velocidade U foi encontrado um R² = 0,7498 e


um RMS = 0,044 m/s, indicando que o modelo representou 75% os dados medidos
com um desvio de 0,044 m/s. Na Figura 30 podemos ver a correlação linear entre os
dados medidos e modelados.
Para as componentes de velocidade V foi encontrado um R² = 0,5568, e um
RMS = 0,026, demonstrando que o modelo representou 56% os dados medidos com
um desvio de 0,026 m/s. Na Figura 31 podemos ver a correlação linear entre os
dados medidos e modelados.
Segundo Rosman (2006) uma boa coerência entre os valores medidos e
modelados para correntes são em geral iguais ou melhores que 70%.

Componente U (L-O) R² = 0,7498


0.2

0.1
Modelo (m/s)

0
-0.2 -0.1 0 0.1 0.2

-0.1

-0.2
Medido (m/s)

Figura 30 - Diagrama de dispersão entre os dados medidos e modelados para componente U


de velocidade com seu respectivo coeficiente de correlação linear (R²).

61
Componente V (N-S) R² = 0.5568

0.2

Modelado (m/s) 0.1

0
-0.2 -0.1 0 0.1 0.2

-0.1

-0.2
Medido (m/s)

Figura 31 - Diagrama de dispersão entre os dados medidos e modelados para componente V


de velocidade com seu respectivo coeficiente de correlação linear (R²).

Os melhores valores encontrados de R² para a componente de velocidade U


pode estar relacionados com a direção do canal no ponto analisado que é de ENE,
ou seja, há uma maior influência exercida pela componente U (L-O) do que na
componente V (N-S) (Figura 32).
Na Figura 32 é apresentado o gráfico da elipse de corrente no ponto de coleta
entre as dados medidos e modelados. Este gráfico nos mostra a direção
predominante do escoamento que é de aproximadamente de 800 (ENE)

62
Elipse de Corrente
0.5

Velocidade N-S (m/s)


0.3

0.1
,
-0.5 -0.3 -0.1
-0.1 0.1 0.3 0.5

-0.3

-0.5
Velocidade L-O (m/s)

Medido Modelado

Figura 32 - Elipse de corrente no ponto de coleta entre os dados medidos e modelados. Note
0
que a direção de escoamento é no sentido ENE (80 ).

As amplitudes de velocidade de corrente da componente U são na ordem de


0,15 m/s enquanto na componente V são na ordem de 0,7 m/s, ou seja, a
componente de velocidade U possui o dobro de amplitude, evidenciando uma maior
influência no escoamento. Nas Figuras 33 e 34 as séries temporais das
componentes U e V podem ser vistas.

Componente U (N-S)
0.2
0.1
U (m/s)

0
-0.1
-0.2
30/12/2010 00:00 30/12/2010 12:00 31/12/2010 00:00
Tempo
Medido Modelo

Figura 33 - Série temporal da componente de velocidade U entre os dados medido e


modelados. Note que as amplitudes são maiores em relação a componente V.

63
Compenente V (L-O)
0.2

0.1
V (m/s)

-0.1

-0.2
30/12/2010 00:00 30/12/2010 12:00 31/12/2010 00:00
Tempo
Medido Modelo

Figura 34 - Série temporal da componente de velocidade V entre os dados medidos e


modelados.

Por fim, a Figura 35 mostra o diagrama progressivo de vetores, sendo mais


um indicativo de que as correntes estão sendo bem representadas. A parte extrema
da linha vermelha que passa a linha azul mostra que existe um pequeno erro gerado
pelo modelo. Quanto maior for à diferença entre as retas maior vai ser o erro
(CARAVLHO, 2011).

Diagrama
8
Progressivo de Vetores
7
6
5
N-S (m/s)

4
3
2
1
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
L-O (m/s)
Medido Modelo

Figura 35 - Diagrama progressivo de vetores indicando boa coerência entre os dados medidos
e modelados.

64
6.2 ANÁLISE NOS PADRÕES DE ELEVAÇÃO E VAZÃO

Antes de discutir os padrões de elevação e vazão, vale ressaltar que o


modelo computacional SisBaHiA® apresenta uma limitação, que é a falta do
processo de transbordamento d’água nas margens. Sendo assim, as elevações
podem estar sendo superestimadas, uma vez que sem o processo de
transbordamento estas tendem a aumentar sem limites, à medida que aumentamos
as vazões.
Para análise dos padrões de elevação e vazão foram escolhidos seis pontos
de controle (PC) no domínio de modelagem. Os pontos PC1, PC2 e PC3 estão
localizados dentro do rio Itajaí-Açu, o ponto PC4 localiza-se na desembocadura do
rio Itajaí Mirim e por último os pontos PC5 e PC6 localizados dentro do canal
extravasor (Figura 36).

Figura 36 – Localização dos pontos de controle.

65
6.2.1 MARÉ ASTRONÔMICA

Os padrões analisados na dinâmica de elevação e vazão nos cenários


modelados com vazões extremas sob efeito das marés astronômicas apresentaram-
se iguais, mudando somente suas magnitudes. Portanto, serão descritos de forma
genérica, a fim de sintetizar e melhorar o entendimento.
Sendo assim, após as descrições dos padrões serão apresentados os
gráficos e tabelas com as séries temporais, bem como as médias de elevação e
vazão para cada evento extremo.

6.2.1.1 ELEVAÇÃO

Em condição normal sem o canal extravasor a elevação do rio Itajaí-Açu


tende a diminuir em direção à jusante, isto porque há um aumento em sua largura e
profundidade. Segundo Tucci (1993) e JICA (1990) o aumento nas larguras e
profundidades melhora a capacidade de escoamento dos rios diminuindo
consequentemente as elevações.
Em condições com o canal extravasor este padrão é seguido, porém de forma
muito mais eficiente uma vez que parte deste volume excedente é escoado pelo
canal extravasor, corroborando com o relatório da JICA (1990).
Com uma maior eficiência no escoamento com o canal extravasor as
elevações do rio Itajaí-Açu tendem a diminuir, baixando consequentemente os níveis
de água do rio Itajaí Mirim.
Note que as amplitudes de maré dentro do rio Itajaí-Açu nos cenários com o
canal extravasor são maiores que as amplitudes nos cenários sem o canal
extravasor, isto porque o canal extravasor tende a diminuir as vazões do rio Itajaí-
Açu, aumentando consequentemente a influencia das correntes de maré.
Por fim, as elevações dentro do canal extravasor são aproximadamente iguais
às elevações no rio Itajaí-Açu e Mirim quando estes estão sob o efeito do mesmo.
A seguir serão apresentadas nas Figuras 37, 38 e 39 as séries temporais de
elevação geradas pelo modelo para cada situação extrema e suas respectivas
médias na Tabela 9, permitindo a visualização dos padrões descritos anteriormente.

66
Tabela 9 - Elevações média para cada ponto de controle nos cenários modelados em cada
evento extremo de vazão sob efeito das marés astronômicas. Suas unidades físicas são
metros (m).

Ponto de Vazão = 3300 m³/s Vazão = 4000 m³/s Vazão = 5100 m³/s
Controle Sem canal Com canal Sem canal Com canal Sem canal Com canal
PC1 3,60 1,28 4,34 1,49 5,45 1,86
PC2 2,35 1,04 2,89 1,16 3,74 1,40
PC3 1,14 0,73 1,35 0,76 1,74 0,83
PC4 2,40 1,08 2,96 1,20 3,85 1,44
PC5 - 1,52 - 1,43 - 1,78
PC6 - 1,52 - 0,67 - 0,70

Figura 37 – Séries temporais de elevação geradas pelo modelo sem o canal extravasor em azul
e com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com vazão
igual a 3300 m³/s sob efeito das marés astronômicas entre os dias 01/01/2010 e 15/01/2010.

67
Figura 38 – Séries temporais de elevação geradas pelo modelo sem o canal extravasor em azul
e com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com vazão
igual a 4000 m³/s sob efeito das marés astronômicas entre os dias 01/01/2010 e 15/01/2010.

68
Figura 39 – Séries temporais de elevação geradas pelo modelo sem o canal extravasor em azul
e com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com vazão
igual a 5100 m³/s sob efeito das marés astronômicas entre os dias 01/01/2010 e 15/01/2010.

6.2.1.2 VAZÃO

As vazões no rio Itajaí-Açu sem o canal extravasor tendem a aumentar em


direção à jusante, pois, como dito anteriormente, há um aumento na largura e
profundidade no canal do rio, melhorando consequentemente o escoamento, que
explica a diminuição nas elevações discutida anteriormente. No entanto, no PC2 há
uma leve diminuição das vazões, isto porque este ponto fica próximo à
desembocadura do rio Itajaí Mirim evidenciando a resistência gerada pelo mesmo
sobre o rio Itajaí-Açu (Figura 40).

69
Figura 40 – Representação da resistência sofrida pelo rio Itajaí-Açu e o aumento na vazão do
rio Itajaí Mirim devido a presença do canal extravasor. Cenário com vazão extrema de 5100
m³/s no instante de maré vazante de sizígia.

Em condições com o canal extravasor as vazões no rio Itajaí-Açu vão


logicamente didminuir, pois parte desta quantidade de água vai ser desviada,
respeitando a condição de continuidade do modelo (Figura 41).

70
Figura 41 – Representação do canal extravasor funcionando no cenário com vazão de 5100
m³/s no instante de maré vazante de sizígia. Note que após o canal as vazões do rio Itajaí-Açu
tendem a diminuir.

A seguir serão apresentadas nas Figuras 42, 43 e 44 as séries temporais de


vazão geradas pelo modelo para cada situação extrema e suas respectivas médias
na Tabela 10, permitindo a visualização dos padrões descritos anteriormente.

71
Tabela 10 - Vazões médias para cada ponto de controle nos cenários modelados em cada
evento extremo de vazão sob efeito das marés astronômicas. Suas unidades físicas são
metros cúbicos por segundo (m³/s).

Ponto de Vazão = 3300 m³/s Vazão = 4000 m³/s Vazão = 5100 m³/s
Controle Sem canal Com canal Sem canal Com canal Sem canal Com canal
PC1 3370,07 1904,02 4089,94 2269,79 5229,11 2832,99
PC2 3326,13 1017,96 4034,45 1241,28 5156,27 1579,70
PC3 3744,72 1648,52 4524,75 1875,63 5761,00 2319,61
PC4 0455,09 0655,96 0531,46 0660,25 0652,30 0773,23
PC5 - 0845,57 - 0978,77 - 1194,25
PC6 - 0861,97 - 1001,15 - 1221,50

Figura 42 - Séries temporais de vazão geradas pelo modelo sem o canal extravasor em azul e
com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com vazão
igual a 3300 m³/s sob efeito das marés astronômicas entre os dias 01/01/2010 e 15/01/2010.

72
Figura 43 - Séries temporais de vazão geradas pelo modelo sem o canal extravasor em azul e
com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com vazão
igual a 4000 m³/s sob efeito das marés astronômicas entre os dias 01/01/2010 e 15/01/2010.

73
Figura 44 - Séries temporais de vazão geradas pelo modelo sem o canal extravasor em azul e
com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com vazão
igual a 5100 m³/s sob efeito das marés astronômicas entre os dias 01/01/2010 e 15/01/2010.

6.2.2 MARÉ METEOROLÓGICA

Para as marés meteorológicas também se observa o mesmo padrão nas


dinâmicas de elevação e vazão, mudando somente as magnitudes, que tendem a
aumentar conforme aumentamos os eventos extremos de vazão. Sendo assim,
estes padrões serão apresentados de forma genérica a fim de sintetizar e melhorar o
entendimento.
Após as descrições dos padrões serão apresentados os gráficos e tabelas
com as séries temporais, bem como as médias de elevação e vazão para cada
evento extremo.

74
6.2.2.1 ELEVAÇÃO

Os padrões de elevação observados nas marés meteorológicas sem o canal


extravasor tendem a diminuir em direção à jusante, conforme já explanado
anteriormente com as marés astronômicas. No entanto, quando estas marés
meteorológicas são positivas, temos uma maior resistência na diminuição da
elevação, resultando em níveis d’água maiores. Já quando são negativas
observamos o contrário, ou seja, uma menor resistência, resultando em menores
níveis de elevação.
Sob o efeito do canal extravasor as elevações tendem a baixar no rio Itajaí-
Açu em todos os pontos, porém devemos ficar atentos aos padrões discutidos
anteriormente acerca das marés meteorológicas positivas e negativas, as quais
causam, respectivamente, uma maior e menor resistência na diminuição das
elevações.
O rio Itajaí Mirim segue os mesmos padrões discutidos no rio Itajaí-Açu, uma
vez que ambos estão relacionados de forma direta.
A seguir serão apresentadas nas Figuras 45, 46 e 47 as séries temporais de
vazão geradas pelo modelo para cada situação extrema e suas respectivas médias
nas Tabela 11 e 12, permitindo a visualização dos padrões descritos anteriormente.

Tabela 11 - Elevações médias para cada ponto de controle nos cenários modelados em cada
evento extremo de vazão sob efeito das marés meteorológicas positivas. Suas unidades
físicas são metros (m).

Ponto de Vazão = 3300 m³/s Vazão = 4000 m³/s Vazão = 5100 m³/s
Controle Sem canal Com canal Sem canal Com canal Sem canal Com canal
PC1 4,43 2,17 4,52 2,39 5,51 2,58
PC2 2,72 1,91 3,23 2,20 3,85 2,34
PC3 2,04 1,76 2,39 2,03 2,64 2,07
PC4 2,75 1,94 3,28 2,25 3,93 2,37
PC5 - 2,25 - 2,19 - 2,55
PC6 - 1,95 - 1,95 - 1,95

75
Tabela 12 - Elevações médias para cada ponto de controle nos cenários modelados em cada
evento extremo de vazão sob efeito das marés meteorológicas negativas. Suas unidades
físicas são metros (m).

Ponto de Vazão = 3300 m³/s Vazão = 4000 m³/s Vazão = 5100 m³/s
Controle Sem canal Com canal Sem canal Com canal Sem canal Com canal
PC1 3,80 0,36 3,80 0,33 4,99 0,75
PC2 1,44 -0,20 2,03 -0,04 2,94 0,22
PC3 0,23 -0,52 0,23 -0,24 0,69 -0,44
PC4 1,48 -0,16 2,08 0,01 3,02 0,27
PC5 - 0,02 - 0,27 - 0,64
PC6 - -0,62 - -0,60 - -0,57

Figura 45- Séries temporais de elevação geradas pelo modelo sem o canal extravasor em azul
e com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com vazão
igual a 3300 m³/s sob efeito das marés meteorológicas.

76
Figura 46 - Séries temporais de elevação geradas pelo modelo sem o canal extravasor em azul
e com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com vazão
igual a 4000 m³/s sob efeito das marés meteorológicas.

77
Figura 47 - Séries temporais de elevação geradas pelo modelo sem o canal extravasor em azul
e com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com vazão
igual a 5100 m³/s sob efeito das marés meteorológicas.

6.2.2.2 VAZÃO

As vazões no rio Itajaí-Açu sob as condições de marés meteorológicas


negativas são maiores, pois a resistência causada pela maré é menor aumentando o
escoamento. Em contra partida as marés meteorológicas positivas aumentam a
resistência e diminuem as vazões, porque há uma sobrelevação nas elevações.
Já em situações com o canal extravasor as vazões logicamente diminuem,
porém de forma mais eficiente nas marés meteorológicas negativas e menos
eficiente nas marés meteorológicas positivas.
Sob o efeito das marés meteorológicas positivas e em situações sem o canal
extravasor, o rio Itajaí Mirim possui uma vazão quase que nula, resultando no

78
represamento de suas águas e possíveis inundações. Contudo, em situações de
marés meteorológicas negativas a tendência é melhorar bastante seu escoamento.
A seguir serão apresentadas nas Figuras 48, 49 e 50 as séries temporais de
vazão geradas pelo modelo para cada situação extrema e suas respectivas médias
nas Tabela 13 e 14, permitindo a visualização dos padrões descritos anteriormente.

Tabela 13 - Vazões médias para cada ponto de controle nos cenários modelados em cada
evento extremo de vazão sob efeito das marés meteorológicas positivas. Suas unidades
físicas são metros cubicos por segundo (m³/s).

Ponto de Vazão = 3300 m³/s Vazão = 4000 m³/s Vazão = 5100 m³/s
Controle Sem canal Com canal Sem canal Com canal Sem canal Com canal
PC1 3359,2 1878,0 4085,1 2261,3 5220,6 2828,1
PC2 3944,6 0973,3 4761,7 1202,5 6052,5 1550,9
PC3 3908,8 1518,1 4729,8 1837,2 6028,5 2255,3
PC4 0003,8 0596,2 0004,0 0689,5 0003,9 0760,5
PC5 - 0793,6 - 0951,3 - 1165,2
PC6 - 0804,9 - 0966,8 - 1185,9

Tabela 14 - Vazões médias para cada ponto de controle nos cenários modelados em cada
evento extremo de vazão sob efeito das marés meteorológicas negativas. Suas unidades
físicas são metros cubicos por segundo (m³/s).

Ponto de Vazão = 3300 m³/s Vazão = 4000 m³/s Vazão = 5100 m³/s
Controle Sem canal Com canal Sem canal Com canal Sem canal Com canal
PC1 3425,4 2007,4 4140,9 2392,9 5269,2 2961,1
PC2 4081,7 1183,0 4876,0 1414,3 6153,3 1766,9
PC3 4106,5 1851,9 4900,7 2170,5 6181,7 2590,3
PC4 0005,7 0624,7 0005,8 0717,0 0006,6 0784,2
PC5 0852,1 0996,7 1203,0
PC6 0881,7 1029,5 1238,4

79
Figura 48 - Séries temporais de vazão geradas pelo modelo sem o canal extravasor em azul e
com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com vazão
igual a 3300 m³/s sob efeito das marés meteorológicas.

80
Figura 49 - Séries temporais de vazão geradas pelo modelo sem o canal extravasor em azul e
com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com vazão
igual a 4000 m³/s sob efeito das marés meteorológicas.

81
Figura 50 - Séries temporais de vazão geradas pelo modelo sem o canal extravasor em azul e
com o canal extravasor em vermelho. Estes resultados são referentes ao cenário com vazão
igual a 5100 m³/s sob efeito das marés meteorológicas.

6.3 ANÁLISE DA EFICIÊNCIA

6.3.1 MARÉ ASTRONÔMICA

A seguir serão apresentadas na Tabela 15, as eficiências relativas para cada


ponto de controle em relação aos eventos de vazões extremas sob influencias das
marés astronômicas.

82
Tabela 15- Eficiências relativas referentes aos eventos extremos de vazão sob efeito das marés
astronômicas.

Ponto de Eficiência Relativa Eficiência Relativa Eficiência Relativa


Controle (%) 3300 m³/s (%) 4000 m³/s (%) 5100 m³/s
PC1 64,33 65,66 65,93
PC2 55,70 59,84 62,58
PC3 36,05 43,77 52,36
PC4 55,18 59,63 62,53

Sendo assim, podemos observar que o canal extravasor possui uma boa
eficiência em todas as situações e pontos de controle, variando entre 36.05% a
65.93%.
Percebe-se que as eficiências vão diminuindo em direção à jusante, isto
porque há um aumento na largura e profundidade do rio, corroborando com os
padrões analisados anteriormente. Logicamente, se aumentamos a capacidade do
escoamento natural do rio as eficiências do canal extravasor tendem a diminuir.
Note também que a eficiência relativa possui uma relação diretamente
proporcional às vazões extremas, ou seja, aumentando as vazões temos um
aumento nas eficiências.

6.3.2 MARÉ METEOROLÓGICA

A seguir serão apresentadas as eficiências relativas médias para as marés


meteorológicas positivas (Tabela 16) e negativas (Tabela 17).
Tabela 16 - Eficiências relativas referentes aos eventos extremos de vazão sob efeito das
marés meteorológicas positivas.

Ponto de Eficiência Relativa Eficiência Relativa Eficiência Relativa


Controle (%) 3300 m³/s (%) 4000 m³/s (%) 5100 m³/s
PC1 37,53 42,40 48,26
PC2 22,38 27,57 35,13
PC3 09,52 12,66 18,51
PC4 22,19 27,72 35,03

83
Tabela 17 - Eficiências relativas referentes aos eventos extremos de vazão sob efeito das
marés meteorológicas negativas.

Ponto de Eficiência Relativa Eficiência Relativa Eficiência Relativa


Controle (%) 3300 m³/s (%) 4000 m³/s (%) 5100 m³/s
PC1 74,04 73,19 71,99
PC2 70,09 70,31 70,83
PC3 61,36 66,37 71,07
PC4 68,91 69,49 70,15

Analisando as eficiências das marés meteorológicas positivas observamos


algumas relações iguais as das marés astronômicas. Primeiro é a relação
diretamente proporcional entre as vazões extremas e as eficiências relativas;
segundo é a diminuição das eficiências em direção à jusante, que está relacionada
com a capacidade natural do rio em aumentar seu escoamento, como já discutido
anteriormente.
As marés meteorológicas negativas também seguem este padrão, porém se
observa uma característica diferente, que é a relação inversamente proporcional
entre as vazões e a eficiência no PC1, onde com o aumento das vazões extremas
diminuem as eficiências relativas.
Agora, comparando as marés meteorológicas positivas e negativas podemos
notar que as negativas possuem eficiências duas ou três vezes melhores que as
positivas, corroborando com os padrões analisados de elevação e vazão, que nos
mostraram um pior escoamento quando estamos sob efeito das marés
meteorológicas positivas e um melhor escoamento quando sob o efeito das marés
meteorológicas negativas.

6.3.3 MARÉ ASTRONÔMICA / MARÉ METEOROLÓGICA

A seguir serão apresentadas as comparações entre as eficiências médias do


canal extravasor em relação aos tipos de maré que podem ser astronômicas (MA),
meteorológicas positivas (MMP) e meteorológicas negativas (MMN) (Tabela 18).

84
Tabela 18 – Comparação entre as eficiências médias.

Tipo de Eficiência Média (%) Eficiência Média (%) Eficiência Média (%)
Maré Vazão 3300 m³/s Vazão 4000 m³/s Vazão 5100 m³/s
MA 52,02 56,42 60,29
MMP 23,14 27,54 34,00
MMN 68,50 69,96 71,30

A relação entre as eficiências médias para as marés astronômicas, marés


meteorológicas positivas e marés meteorológicas negativas, mostram que o canal
extravasor funciona em todas as situações. No entanto, estas eficiências são bem
melhores em situações de marés meteorológicas negativas e marés astronômicas,
indicando problemas em relação às marés meteorológicas positivas que possuem
eficiências de 2 a 3 vezes menor.
Logo, podemos observar que o problema está relacionado com eventos de
marés meteorológicas positivas, ao qual as eficiências chegam a cair mais de 50%,
podendo resultar em enchentes e inundações muito mais catastróficas. Segundo
Tucci (1993) o mau dimensionamento de obras estruturais causam enchentes e
inundações muito mais catastróficas
Portando, esta baixa eficiência ocorre devido ao mau dimensionamento do
canal extravasor sugerido pela JICA, em que não foram considerados os efeitos das
marés meteorológicas positivas, corroborando com Caravalho (1994).
.

85
7. CONCLUSÃO

Após as análises nos padrões de elevação e vazão, bem como as análises na


eficiência do canal extravasor nos eventos extremos modelados chegou-se as
seguintes conclusões.
A implementação do modelo computacional SisBaHiA® para o presente
estudo foi satisfatória, uma vez que os modelos hidrodinâmicos validados
representaram bem os cenários com as vazões extremas bem como às marés
astronômicas e meteorológicas. Entretanto, é importante ressaltar que o modelo
possui uma limitação no que diz respeito à falta do processo de transbordamento
das águas, podendo estar superestimando os níveis de elevação.
Os padrões de elevação e vazão analisados ao longo do rio Itajaí-Açu
mostram um melhor escoamento a jusante do rio, pois as larguras e profundidades
tendem a aumentar.
O rio Itajaí Mirim apresentou melhoras de escoamentos nos cenários com o
canal extravasor, devido à diminuição da vazão e elevação do rio Itajaí-Açu,
resultando em uma menor resistência ao seu escoamento.
O canal extravasor mostrou-se eficiente na maioria das situações extremas,
deixando a desejar somente nas situações com marés meteorológicas positivas,
onde sua eficiência diminui mais de 50% em relação às marés astronômicas e
meteorológicas negativas, enfatizando o problema apontado em relação à
formulação do projeto, que não considera os fenômenos de marés meteorológicas.
Sendo assim, diante destas conclusões e do fato das enchentes e inundações
no rio Itajaí-Açu estarem associadas cerca de 70% aos fenômenos de marés
meteorológicas positivas, é necessário de fato que o canal extravasor seja
novamente projetado, levando-se em consideração logicamente estes fenômenos
meteorológicas, uma vez que obras desta natureza são para conter os eventos mais
extremos.

86
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O canal extravasor foi projetado, logicamente, para funcionar em condições


de vazões extremas, no entanto, o rio Itajaí-Açu na maioria do tempo possui vazões
medianas, e como visto no trabalho estas tendem a diminuir na presença do canal
extravasor. Sendo assim, é de se esperar que os padrões de circulação, transporte
de sedimento e estratificação salina venham a mudar, podendo resultar em um
aumento no processo de sedimentação e da intrusão da cunha salina.
Se o processo de sedimentação aumentar, maiores esforços em dragagens
serão necessários, uma vez que o rio Itajaí-Açu é utilizado fortemente pela
navegação, sendo necessário manter o calado do rio em padrões que as
embarcações possam entrar. Já, em relação à cunha salina, é preciso conhecer a
máxima distância que esta pode chegar a fim de orientar e até mesmo reordenar a
localização de captação d’água para a irrigação e abastecimento.
Portanto, sugerem-se simulações numéricas detalhadas sobre a dinâmica do
estuário em condições normais de vazão sob influência do canal extravasor,
considerando o transporte de sedimentos e a estratificação salina, a fim de entender
possíveis mudanças nesses padrões.
O modelo hidrodinâmico 3D com forçantes baroclínicas é o mais apropriado
para estas simulações, pois o estuário é classificado como do tipo cunha salinha
segundo a classificação de Pritchard (1955).

87
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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