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SÉRIE DIDÁTICA N0 01/01

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO
DA MADEIRA

Márcio Pereira da Rocha


Eng. Florestal, Professor Adjunto

CURITIBA – 2001
FUNDAÇÃO DE PESQUISAS FLORESTAIS DO PARANÁ
FUPEF DO PARANÁ

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NOTA: O conteúdo da presente publicação é de inteira responsabilidade dos autores. As


afirmações e opiniões, bem como a menção de qualquer produto, equipamento ou
técnica, não implicam em sua recomendação por parte da FUPEF.

5a Tiragem 20 cópias
MÁRCIO PEREIRA DA ROCHA*

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO
DA MADEIRA

CURITIBA
2001

• * Professor Adjunto do Departamento de Engenharia e Tecnologia Florestal


• Setor de Ciências Agrárias – Universidade Federal do Paraná
• Av. Pref. Lothario Meissner, 3400 – Jd. Botânico – 80.210-170
• Fones: 41-360-4248 - 360-4223 - Fax: 41- 360-4224
• mprocha@floresta.ufpr.br
MÁRCIO PEREIRA DA ROCHA✵

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO
DA MADEIRA

CURITIBA
2001

✵ Professor Adjunto do Departamento de Engenharia e Tecnologia Florestal


Setor de Ciências Agrárias - Universidade Federal do Paraná
Av. Pref. Lothario Meissner, 3400 J. Botânico 80210-170
Fones: (41) 360-4248 360-4223 Fax: (41) 360-4224
mprocha@floresta.ufpr.br
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 01
2. AGENTES DEGRADADORES DA MADEIRA.................................................... 01
2.1 DESGASTE MECÂNICO................................................................................... 02
2.2. DEGRADAÇÃO FÍSICA................................................................................... 02
2.3 DEGRADAÇÃO QUÍMICA................................................................................. 03
2.4 DEGRADAÇÃO BIOLÓGICA............................................................................ 03
3. AGENTES BIODEGRADADORES DA MADEIRA.............................................. 04
3.1 BACTÉRIAS...................................................................................................... 04
3.2 FUNGOS............................................................................................................ 05
3.2.1 Instalação e desenvolvimento de um fungo............................................... 05
3.2.2 Condições necessárias para o desenvolvimento de fungos.................... 05
3.3 INSETOS............................................................................................................ 06
3.4 BROCAS MARINHAS....................................................................................... 07
4. DANOS CAUSADOS POR FUNGOS.................................................................. 08
4.1 FUNGOS APODRECEDORES.......................................................................... 08
4.1.1 Podridão parda.............................................................................................. 08
4.1.2 Podridão branca ........................................................................................... 09
4.1.3 Podridão mole............................................................................................... 10
4.2 FUNGOS MANCHADORES.............................................................................. 11
4.3 FUNGOS EMBOLORADORES......................................................................... 13
4.4 MANCHA QUÍMICA........................................................................................... 14
4.5 RECONHECIMENTO DO ATAQUE DE FUNGOS............................................ 14
4.5.1 Mudança de coloração.................................................................................. 14
4.5.2 Amolecimento da madeira............................................................................ 15
4.5.3 Mudança na densidade................................................................................. 15
4.5.4 Mudança no cheiro........................................................................................ 15
4.5.5 Alteração das propriedades físicas e mecânicas...................................... 15
4.5.6 Análise microscópica da madeira............................................................... 16
4.5.7 Isolamento dos fungos da madeira em meio de cultura 16
4.6 MÉTODOS PARA IMPEDIR A DETERIORAÇÃO DA MADEIRA POR
FUNGOS............................................................................................................ 16
4.6.1 Alteração ou remoção de substâncias presentes na madeira.................. 16
4.6.2 Controle da umidade da madeira................................................................. 17

i
4.6.3 Controle biológico......................................................................................... 17
4.6.4 Uso de biocidas............................................................................................. 18
5. DANOS CAUSADOS POR INSETOS................................................................. 19
5.1 COLEOPTERA.................................................................................................. 19
5.1.1 Família Lyctidae............................................................................................ 19
5.1.2 Família Bostrichidae..................................................................................... 21
5.1.3 Besouros Ambrósia (“Ambrosia Beetles”)................................................. 23
5.1.4 Família Anobiidae.......................................................................................... 25
5.1.5 Família Cerambycidae.................................................................................. 26
5.2 ORDEM HYMENOPTERA................................................................................. 27
5.2.1 Família Formicidae........................................................................................ 27
5.2.2 Abelhas.......................................................................................................... 28
5.2.3 Vespas............................................................................................................ 28
5.3 ORDEM ISOPTERA........................................................................................... 29
5.3.1 Introdução...................................................................................................... 29
5.3.2 Características do inseto.............................................................................. 30
5.3.3 Castas de cupins........................................................................................... 30
5.3.4 Hábitos dos cupins....................................................................................... 31
5.3.5 Cupins de madeira úmida............................................................................. 32
5.3.6 Cupins subterrâneos.................................................................................... 32
5.3.7 Cupins de madeira seca............................................................................... 34
5.3.8 Cupins em áreas urbanas............................................................................. 35
5.3.9 Espécies de maior importância................................................................... 35
5.3.10 Medidas de proteção contra cupins.......................................................... 36
6. DANOS CAUSADOS POR BROCAS MARINHAS............................................. 38
6.1 Moluscos........................................................................................................... 38
6.2 Crustáceos........................................................................................................ 40
6.3 Controle de brocas marinhas.......................................................................... 41
7. PRODUTOS PRESERVANTES DA MADEIRA................................................... 42
7.1 PROPRIEDADES DOS PRESERVANTES....................................................... 42
7.1.1 Toxidez........................................................................................................... 43
7.1.2 Baixa toxidez a organismos não xilófagos................................................. 43
7.1.3 Ação duradoura............................................................................................. 43
7.1.4 Boa Fixação................................................................................................... 44
7.1.5 Não alterar as características da madeira.................................................. 44

ii
7.1.6 Não provocar alterações em outros materiais........................................... 44
7.1.7 Não ser inflamável......................................................................................... 44
7.1.8 Econômico de fácil aquisição...................................................................... 45
7.2 PRESERVANTES OLEOSOS........................................................................... 45
7.2.1 Creosoto......................................................................................................... 45
7.2.2 Carbolineum ou óleo de antraceno............................................................. 47
7.2.3 Naftenatos...................................................................................................... 47
7.2.4 Quinolinolato de cobre-8.............................................................................. 47
7.2.5 Óxido de bis (tributil-estanho) – TBTO....................................................... 48
7.3 PRESERVANTES OLEOSSOLÚVEIS.............................................................. 48
7.3.1 Pentaclorofenol (PCP).................................................................................. 48
7.3.2 Tribromofenol (TBP)..................................................................................... 49
7.4 PRESERVANTES HIDROSSOLÚVEIS............................................................. 49
7.4.1 Arseniato de cobre cromatado (CCA)......................................................... 50
7.4.2 Wolmanit CB (CCB)....................................................................................... 50
7.4.3 Arseniato de cobre amoniacal (ACA).......................................................... 51
7.4.4 Cromato de cobre ácido (ACC – Celsure)................................................... 51
7.4.5 FCAP – flúor, cromo, arsênio, fenol............................................................ 52
7.4.6 Cloreto de zinco cromatado – CZC.............................................................. 52
7.4.7 Compostos de boro...................................................................................... 52
7.5 OUTROS PRODUTOS....................................................................................... 53
7.6. PRINCIPAIS PRODUTOS DISPONÍVEIS NO MERCADO.............................. 53
7.7 FATORES QUE INFLUENCIAM NA EFICIÊNCIA DOS PRESERVANTES
DE MADEIRA.................................................................................................... 64
7.7.1. Introdução..................................................................................................... 64
7.7.2. Efeito do tratamento.................................................................................... 65
7.7.3. Efeito das propriedades físicas e químicas do preservante.................... 65
7.7.4 Alterações sofridas pelos preservantes..................................................... 66
7.8 DETERMINAÇÃO DA EFICIÊNCIA DOS PRESERVANTES DE MADEIRA... 66
7.8.1 Teste rápido................................................................................................... 67
7.8.2 Teste acelerado............................................................................................. 67
7.8.3 Teste em campo........................................................................................... 68
7.8.4 Teste em serviço........................................................................................... 69
8. MÉTODOS DE TRATAMENTOS PRESERVANTES DE MADEIRAS................ 72
8.1 MÉTODOS SEM PRESSÃO.............................................................................. 72

iii
8.1.1 Fumigação ou expurgo................................................................................. 72
8.1.2 Pincelamento e pulverização....................................................................... 73
8.1.3 Imersão simples............................................................................................ 74
8.1.4 Imersão a longo prazo.................................................................................. 74
8.1.5 Banho quente/frio.......................................................................................... 75
8.1.6 Difusão........................................................................................................... 76
8.1.7 Difusão dupla................................................................................................. 76
8.1.8 Método de substituição de seiva................................................................. 77
8.1.9 Método de Bolcherie..................................................................................... 78
8.1.10 Aplicação de pastas.................................................................................... 79
8.2 MÉTODOS DE TRATAMENTO COM PRESSÃO............................................. 80
8.2.1 Processos de célula cheia............................................................................ 82
8.2.2 Processos de célula vazia............................................................................ 87
9. PRESERVAÇÃO DE PAINÉIS DE MADEIRA.................................................... 92
9.1 PAINÉIS COMPENSADOS............................................................................... 92
9.2 AGLOMERADOS............................................................................................... 92
9.3 CHAPAS DE FIBRAS........................................................................................ 93
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................ 94

iv
1

1. INTRODUÇÃO

A durabilidade natural e a preservação da madeira são fatores que


determinam sua utilização, principalmente em regiões de clima tropical, onde as
condições estáveis de temperatura e umidade tornam-se um perfeito hábitat para o
desenvolvimento de fungos e insetos, onde muitos deles utilizam a madeira como
única ou principal fonte de alimento. Estes organismos têm uma atividade tão
intensa que o ataque pode se dar até em uma árvore viva.
Para se obter um alto grau de qualidade com espécies suscetíveis a agentes
biodegradadores, principalmente na produção de madeira serrada, laminados e
compensados, entre outros, são necessários cuidados e técnicas de preservação, os
quais têm início já no momento em que a árvore é derrubada. Porém, em função de
uma série de dificuldades impostas pela própria floresta, muitos procedimentos que
são recomendados, tornam-se operacionalmente impraticáveis.
Mesmo com esta primeira dificuldade em se manter a qualidade da
madeira nas primeiras etapas da exploração, existem várias técnicas de
preservação. Estas técnicas podem e devem ser aplicadas às toras e à madeira
serrada principalmente, visando minimizar consideravelmente os danos causados
por fungos e insetos.

2. AGENTES DEGRADADORES DA MADEIRA

A destruição ou degradação da madeira se dá através de diferentes


maneiras. Portanto é importante que em cada situação de uso seja identificada a
principal causa de destruição da madeira. Desta forma, o controle torna-se
específico e eficiente. Tem-se então, os principais tipos de degradação da madeira:
✵ Desgaste mecânico
✵ Degradação física
✵ Degradação química
✵ Degradação biológica

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


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2.1 DESGASTE MECÂNICO

A madeira pode estar submetida a movimentos de diversas classes,


ficando sujeita à deterioração pela ação do desgaste mecânico. Tem-se como
exemplos de desgaste mecânico da madeira o esforço a que são submetidos
dormentes, escadas, pontes, cais e atracadouros, rodas de madeira, cabos de
ferramentas, porteiras, etc.
Em alguns casos, a madeira pode tornar-se inútil somente em
decorrência do desgaste mecânico a que é submetida. É comum a abrasão
associar-se à podridão, aumentando a intensidade de deterioração. Outras vezes
porém, o desgaste mecânico pode ser confundido com apodrecimento provocado
por fungos.

2.2. DEGRADAÇÃO FÍSICA

O principal agente de degradação física é sem dúvida o fogo. Enquanto


que a degradação por fungos, insetos e brocas marinhas é na maioria das vezes
lenta, a degradação pelo fogo é muito rápida, devastando florestas, pátios e
construções em curtíssimo espaço de tempo. Porém, o fogo é considerado um
agente secundário, quando comparado com fungos.
Quando a madeira é submetida à ação do fogo, ocorrem as seguintes
etapas:

✵ Vaporização da umidade da madeira a uma temperatura acima de


100 oC.
✵ Volatilização dos extrativos num intervalo de temperatura entre 93 e
149 oC.
✵ Evolução dos gases inflamáveis e chamuscamento, que ocorre nas
temperaturas de 194 a 204 oC.
✵ Evolução rápida dos gases acompanhada por incandescimento e
eventual chama, no intervalo de temperatura de 204 a 370 oC.
✵ Rápida ignição dos gases inflamáveis e queima do carbono fixo
(carvão) com temperatura entre 370 e 480 oC.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


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Devido à sua composição, a madeira é passível de degradação,


mesmo quando sujeita a temperaturas mais baixas do que as que produzem a
destilação destrutiva, sendo que estas mudanças não são bem conhecidas. Um dos
efeitos observados é a diminuição nas cadeias de celulose, o que torna a madeira
quebradiça. Um exemplo deste problema pode ser observado em assoalhos de
secadores convencionais, assemelhando-se à degradação por fungos da podridão
parda. Outros agentes físicos podem agir sobre a madeira, degradando-a em
conjunto ou isoladamente como a radiação solar, ventos, chuvas e umidade,
alterando a cor da madeira, tornando sua superfície áspera, provocando
inchamentos, contrações e rachaduras, consequentemente aumentando o risco de
ataque por organismos xilófagos.

2.3 DEGRADAÇÃO QUÍMICA

A madeira em contato com substâncias químicas como ácidos e bases


fortes (óxido de ferro, dióxido de enxofre, sais de sódio, etc.), sofre redução em suas
propriedades mecânicas. Este tipo de deterioração é encontrado facilmente em pisos
de fábricas de produtos químicos, peças de madeira que ficam em contato com
ferragens, componentes de madeira pintados com tintas que contenham
quantidades de ácidos ou álcalis em excesso e colas para compensados, onde o
defeito é verificado pela delaminação.
A madeira decomposta por ação química tem a característica de se
apresentar fragmentada ou desfibrada.

2.4 DEGRADAÇÃO BIOLÓGICA

A degradação biológica é causada por organismos xilófagos, onde os


mais importantes são fungos, insetos, brocas marinhas e bactérias. Dentre os
agentes biológicos mais importantes, os fungos e insetos são responsáveis por
grande parte dos danos causados à madeira.
Os agentes de degradação biológica podem ser divididos em dois
grandes grupos:

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


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❶ Fungos e bactérias ➭ causam a deterioração pela liberação de enzimas que


reagem com os constituintes da parede celular a nível molecular, causando a quebra
desta estrutura.

❷ Cupins, besouros e brocas marinhas ➭ causam a deterioração ao escavar


galerias através da estrutura da madeira com a finalidade de utilizá-la como abrigo
ou alimento.

3. AGENTES BIODEGRADADORES DA MADEIRA

3.1 BACTÉRIAS

O ataque por bactérias é comum em madeiras mantidas submersas por


algumas semanas ou meses ou submetidas a condições de anaerobiose. Estes
agentes alimentam-se aparentemente de nutrientes presentes nas células dos raios
e dos canais resiníferos. O ataque é muito lento, podendo levar anos até ocorrerem
alterações consideráveis na madeira.
Macroscopicamente, observam-se pequenas manchas distribuídas na
superfície da madeira. Inicialmente o ataque se restringe às substâncias de reserva
das células radiais e posteriormente as próprias células dos raios são danificadas.
Em estágio avançado causam danos às fibras e traqueóides, podendo provocar o
amolecimento da madeira e a perda de resistência mecânica da mesma.
A madeira atacada por bactérias apresenta um aumento na sua
permeabilidade, pois estes organismos possuem um sistema enzimático que destrói
a membrana das pontuações, local onde são encontrados com freqüência. Podem
penetrar profundamente na madeira de várias espécies e, em função do aumento da
permeabilidade, tornam estas madeiras excessivamente absorventes. Isto pode
provocar maiores retenções em tratamentos de banhos de imersão simples e outros.
Existem evidências que as bactérias podem inativar alguns
preservantes de madeira. Pseudomonas creosotensis, elimina a toxicidade do
creosoto em ambiente marinho, permitindo o ataque de moluscos e crustáceos
marinhos em estacas. Além disso, apresentam alta tolerância ao CCA, creosoto,
pentaclorofenol e TBTO.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


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Em ambientes úmidos as bactérias são os primeiros colonizadores e


exercem influência sobre os outros organismos, muitas vezes atacando-os ou
inibindo-os. Dependendo da intensidade do ataque, as enzimas segregadas pelas
bactérias podem dar à madeira um odor desagradável.
As bactérias não causam sérios danos à madeira. Sua maior
importância está na possibilidade do aumento da permeabilidade da madeira.

3.2 FUNGOS

Os fungos são seres inferiores desprovidos de clorofila. Nutrem-se


também de animais e plantas em decomposição. Estes organismos constituem-se
por filamentos celulares longos e finos, chamados de hifas. O conjunto dessas hifas
é chamado de micélio.
A deterioração da madeira por fungos ocorre de diferentes formas e
podem decompor a madeira totalmente ou somente mancha-la. Nas duas formas
causam sérios prejuízos. De acordo com o tipo de deterioração, os fungos dividem-
se em apodrecedores, emboloradores e manchadores.

3.2.1 Instalação e desenvolvimento de um fungo

Um fungo ao atingir a maturidade sexual, produz estruturas especiais


chamadas de corpos de frutificação, onde são armazenados os esporos, os quais
podem ser comparados às sementes dos vegetais superiores. Pela ação do vento,
contato com animais ou pequeno impacto, os esporos são liberados do corpo de
frutificação depositando-se sobre uma peça de madeira. Havendo condições
favoráveis ao desenvolvimento, o esporo evolui e produz hifas, as quais penetrarão
pela estrutura da madeira fechando o ciclo de vida.

3.2.2 Condições necessárias para o desenvolvimento de fungos

Para os fungos desenvolverem-se são necessárias algumas condições


básicas:

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


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❶ Temperatura:

Para a maioria dos fungos xilófagos, a temperatura ideal é entre 25 a


30 oC, podendo ocorrer entre 0 e 40 oC. Porém existem exceções, como o caso dos
fungos termofílicos que se desenvolvem dentro de estufas a temperatura de até 65
o
C.

❷ Umidade:

De modo geral a umidade necessária para que haja o desenvolvimento


de fungos é acima de 20%, chegando a uma condição ótima quando a umidade
atinge o ponto de saturação das fibras. Neste ponto, as paredes celulares estão
completamente saturadas e ao mesmo tempo, o lúmem celular está isento de água
livre, preenchido por ar. Dependo do tipo fungo, a umidade ideal varia de 35 a 60%.

❸ Oxigênio:

A presença de oxigênio é indispensável para o crescimento de um


fungo. Estes organismos podem se desenvolver com teores de oxigênio 20% abaixo
do normal da atmosfera. Alguns fungos conseguem sobreviver com apenas 1% de
oxigênio. Porém, a ausência ou baixas concentrações de oxigênio, impedem ou
restringem o desenvolvimento de fungos xilófagos.

❹ pH:

O pH ótimo para um fungo se desenvolver é em torno de 4,5 a 5,5,


valor que coincide com o pH da maioria das espécies de madeiras. Tem-se com
valor mínimo pH igual a 2 ,0 e um valor máximo de 7,0.

3.3 INSETOS

Dentre todas as ordens de insetos, pode-se dizer que existem 3 de


importância do ponto de vista da preservação de madeiras: Isoptera (cupins ou
térmitas), Coleoptera(carunchos e brocas), Hymenoptera (vespas, abelhas e

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


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formigas). Podem ser encontrados também alguns Diptera (moscas e mosquitos) e


Lepidoptera (mariposas) que causam danos à madeira.
O principal dano provocado por insetos se dá através da construção de
galerias, as quais são construídas com o objetivo de fornecer abrigo ou alimento.

3.4 BROCAS MARINHAS

Estes organismos formam o terceiro grande grupo de agentes


biodegradadores da madeira, causando danos às estruturas de madeira fixas ou
flutuantes, em contato com a água marinha. Na maioria das vezes, os danos
causados por estes agentes tornam-se sérios em função das situações de alto risco
que propiciam. Dividem-se em dois grupos segundo seus hábitos: os moluscos e os
crustáceos.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


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4. DANOS CAUSADOS POR FUNGOS

Existem três categorias de fungos:


✵ Apodrecedores
✵ Manchadores
✵ Emboloradores

4.1 FUNGOS APODRECEDORES

Os fungos apodrecedores são responsáveis pela perda de resistência


mecânica da madeira e podem ser divididos em três diferentes categorias de acordo
com os danos causados à madeira.

4.1.1 Podridão parda

Este grupo de fungos se alimenta predominantemente de celulose e


polioses, transformando-as em substâncias solúveis, facilmente assimiladas e
digeridas. A lignina permanece praticamente intacta (Figura 1).
Devido a uma contínua degradação da celulose e polioses, a madeira
atacada adquire coloração parda, em função da lignina, que fica intacta, ser de
coloração escura. A madeira atacada apresenta o aspecto de estar levemente
queimada. A nível microscópico, não ocorre degradação da célula, pois a lignina
residual mantém a estrutura da mesma. A destruição dos elementos estruturais que
se encontram nas paredes celulares, provoca uma rápida perda da resistência
mecânica da madeira. Os fungos de podridão parda ocorrem em profundidade na
madeira.
✵ Características da madeira atacada:

✵ Quando seca, a madeira tem o aspecto de estar levemente


queimada, adquirindo coloração parda.
✵ Ao secar, a madeira atacada sofre colapso com facilidade,
desenvolvendo-se inúmeras fissuras paralelas e perpendiculares à grã.
✵ Mudança do aspecto da madeira, em função da deterioração da
celulose e polioses.
✵ Perda de peso e diminuição das propriedades mecânicas.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


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FIGURA 1. MADEIRA ATACADA POR FUNGO DA PODRIDÃO PARDA.

4.1.2 Podridão branca

Como os fungos da podridão parda, os fungos da podridão branca


atuam na superfície da parede celular. A ação restrita do sistema enzimático
proporciona a formação de fendas ou orifícios, onde os fungos se assentam.
Durante o ataque, estas fendas vão aumentando, provocando uma lenta erosão da
parede celular a partir do lúmem em direção à lamela média.
Os fungos da podridão branca decompõem celulose, polioses e lignina,
sendo esta atacada mais facilmente. A lignina é removida da parede celular e
utilizada na nutrição do fungo junto com os hidratos de carbono.

✵ Características da madeira atacada:

✵ Devido à maior porcentagem de holocelulose na madeira atacada,


esta adquire uma coloração esbranquiçada.
✵ A madeira perde o aspecto lustroso.
✵ As áreas apodrecidas podem estar delimitadas por linhas escuras
(Figura 2).
✵ Quando fricciona-se a madeira, ocorre a sua desfibrilação com
facilidade.
✵ Ocorre perda de peso e das propriedades físicas e de resistência da
madeira, em função do consumo de celulose, polioses e lignina.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


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FIGURA 2. EXEMPLOS DE ATAQUE POR FUNGOS DA PODRIDÃO BRANCA.

4.1.3 Podridão mole

Os fungos da podridão mole correspondem ao grupo de fungos


xilófagos chamados de fungos imperfeitos. Têm a capacidade de desenvolverem-se
em condições inibitórias para outros fungos, como a elevada umidade. Ao contrário
dos fungos da podridão parda e branca, os fungos da podridão mole não penetram
profundamente na madeira. Penetram na parede secundária da célula perfurando
longas cadeias de forma helicoidal, que correm paralelamente às cadeias de
celulose. Dentro da parede celular, atravessam a lamela média penetrando na célula
vizinha, continuando o ataque sucessivamente. As hifas colonizam as células da
madeira através do lúmem, passando de uma célula a outra pelas pontuações.
Da hifa mãe presente no lúmem, parte uma hifa de diâmetro diminuto,
a qual penetra até a camada S2 da parede secundária, formando um “T”. Um braço
deste “T”, cresce em sentido oposto ao do outro, sendo que ambos penetram na
camada S2, acompanhando a direção das microfibrilas, formando cavidades
rombóides. Algumas vezes a hifa inicia a degradação da parede celular pelo lúmem,
onde hifas de tamanho diminuto nascem lateralmente na hifa mãe e atravessam a
parede celular, produzindo uma degradação em forma de “V”.
Os fungos de podridão mole utilizam substâncias de reserva da
madeira como fonte de alimento. O ataque se restringe à superfície da madeira, não
mais profundo que 2 cm (Figura 3).

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


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FIGURA 3. MADEIRA ATACADA POR FUNGO DA PODRIDÃO MOLE.

✵ Características da madeira atacada:

✵ O ataque se restringe à superfície. Porém a parte atacada é


facilmente removida por ação mecânica e a parte da madeira logo abaixo é exposta
e reinfestada.
✵ Quando úmida, a madeira atacada apresenta a superfície amolecida.
Ao secar, adquire coloração escurecida com várias fissuras no sentido das fibras.
✵ O ataque em estágio avançado provoca a destruição total das
paredes secundária e primária.

4.2 FUNGOS MANCHADORES

Os fungos manchadores são providos de hifas pigmentadas. Habitam


as células parenquimáticas principalmente as de parênquima radial. Não se
alimentam dos constituintes da madeira e sim, de nutrientes existentes nas células,
como amido e açúcares. Porém, em fase avançada podem eventualmente afetar a
parede celular. A colonização da madeira se dá através do lúmem, onde as hifas
passam de uma célula à outra através das pontuações. Algumas vezes podem
atravessar as células horizontalmente, produzindo pequenos orifícios nas paredes
celulares. Por utilizarem substâncias de reserva, o ataque é restrito ao alburno.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


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Quando as manchas provocadas pelos fungos manchadores são


observadas, trata-se do resultado da reflexão da luz incidente sobre as hifas
pigmentadas ou de pigmentos liberados pelo fungo (Figura 4). A penetração das
hifas ocorre logo após a germinação dos esporos em contato com a madeira e
penetram profundamente na madeira. Esta grande velocidade de penetração faz
com que a aplicação de produtos preservantes após 48 horas de exposição da
madeira torne-se ineficaz. Porém, o manchamento pode ser evitado através da
aplicação de alguns produtos químicos, os quais difundem-se profundamente nas
regiões já afetadas pelo fungo, antes que ocorra a pigmentação das hifas. Alguns
fungos manchadores em estágio avançado de ataque podem provocar podridão
mole, afetando a parede das células da madeira. Existem várias espécies de fungos
manchadores, as quais causam diferentes colorações na madeira. Os mais
importantes economicamente são os fungos causadores da mancha azul.

FIGURA 4. MADEIRA ATACADA POR FUNGO MANCHADOR.

✵ Características da madeira atacada:

✵ A madeira adquire coloração que a desvaloriza comercialmente.


✵ Não há perda significativa de peso e redução de propriedades
mecânicas, sendo portanto, considerada uma deterioração secundária.
✵ O ataque ocorre somente em madeira de alburno, sendo o cerne
imune.
✵ A penetração na madeira se dá em até 48 horas de exposição ao
ambiente.

4.3 FUNGOS EMBOLORADORES

Estes fungos desenvolvem-se na superfície da madeira, alimentando-


se de substâncias existentes nas células recém cortadas ou resíduos nutritivos

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


13

depositados na superfície, como açúcares, amido, etc., principalmente nas células


parenquimáticas que dispõem de um conteúdo muito rico.
A madeira embolorada apresenta a superfície pulverulenta ou
algodoada, com coloração variada e facilmente raspável. O aspecto algodoado é
devido à produção de uma massa de hifas na superfície da madeira. Os bolores não
são capazes de atacar madeira com umidade abaixo do PSF. Portanto o ataque por
estes fungos é comum em toras recém cortadas, peças de madeira serrada durante
o período de secagem, madeiras mantidas com alto teor de umidade e madeiras
secas, expostas em ambientes com umidade acima de 90%.
Os fungos emboloradores não chegam a afetar as paredes das células.
Portanto, não comprometem a resistência mecânica da madeira.
De modo geral, são muito tolerantes à maioria dos princípios
existentes em formulações de preservantes, sendo assim, de difícil controle.

✵ Características da madeira atacada

✵ O ataque é aparentemente superficial, porém as hifas penetram


profundamente no alburno. Este aparente ataque superficial é devido à presença do
fungo esporulado. As hifas no interior da madeira não são pigmentadas.
✵ Sobre a superfície da madeira observa-se uma camada algodoada
de diferentes colorações.
✵ O ataque não danifica a parede celular significativamente.
✵ O ataque predomina no tecido radial e vizinhança.
✵ As hifas causam a perfuração dos raios, tornando a madeira mais
higroscópica.

4.4 MANCHA QUÍMICA

A mancha química não é um agente biológico, e sim, o resultado de


uma reação química entre os produtos da madeira (extrativos) e o oxigênio da
atmosfera. Com a adição de energia dos raios de sol ou secagem artificial, ocorre
uma aceleração desta reação, pronunciando o efeito da descoloração da madeira.
Em coníferas, a mancha química ocorre com coloração amarela ou puxando para o
marrom e em folhosas apresenta coloração acinzentada.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


14

4.5 RECONHECIMENTO DO ATAQUE DE FUNGOS

Os sintomas de um ataque na madeira provocado por fungos


dependem da espécie de fungo, da madeira atacada e do grau de evolução da
infestação. Geralmente os primeiros sintomas de ataque de qualquer fungo são
diferentes dos sintomas observados em estágios mais avançados, onde a detecção
é mais fácil.
Dependendo do fungo, observa-se alguma modificação como
mudança de coloração, amolecimento da madeira, mudança na densidade e
mudança no cheiro. Podem ocorrer todas estas modificações ou algumas delas.

4.5.1 Mudança de coloração

Os estágios iniciais de um ataque por fungos provocam uma mudança


na coloração da madeira afetada. O primeiro sintoma visível, antes da desintegração
das substâncias da madeira é listras marrom escuras ou marrom arroxeadas. Na
madeira serrada, dependendo da espécie de fungo, no início do ataque pode-se
observar pontos marrom escuros ou regiões com coloração mais clara que na
madeira sã.

4.5.2 Amolecimento da madeira

Uma peça de madeira com princípio de apodrecimento apresenta


textura quebradiça, sendo impossível retirar com faca pedaços inteiros de madeira.
As fibras se partem nas proximidades do aço da faca, dando a impressão de que a
madeira já foi macerada anteriormente.

4.5.3 Mudança na densidade

Uma perda de peso acompanhada de descoloração é característica de


um estágio avançado do apodrecimento. Porém, tais características nem sempre
são verdadeiras. Em função do crescimento da árvore, a madeira pode apresentar
descoloração e densidade fora do padrão para a espécie. Isto, algumas vezes é

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


15

comum em coníferas de rápido crescimento. O conteúdo de umidade também pode


afetar a densidade aparente da madeira.

4.5.4 Mudança no cheiro

A madeira atacada por fungos apodrecedores apresenta um odor


desagradável, semelhante ao de lugares abafados e úmidos. Vários fungos
apresentam cheiros característicos, como a espécie Lentinus lepideus, que tem um
cheiro peculiar, sendo uma característica utilizada para seu reconhecimento.

4.5.5 Alteração das propriedades físicas e mecânicas

Madeiras com apodrecimento apresentam constituintes estruturais das


células degradados, resultando em alteração das propriedades físicas e mecânicas.
Ensaios físicos e mecânicos da madeira supostamente atacada comparados com
madeira sã podem ser indicativos do grau de ataque.

4.5.6 Análise microscópica da madeira

O exame microscópico de uma seção de madeira corada é um dos


meios mais efetivos para a detecção de ataque por fungos. A coloração das células
da madeira e hifas do fungo permite uma visualização dos danos causados na
madeira. Também auxilia na identificação ou caracterização do fungo presente.

4.5.7 Isolamento dos fungos da madeira em meio de cultura

Esta técnica consiste na retirada de pedaços de madeira supostamente


infestada em condições assépticas para introdução em meio de cultura. Tem grande
eficácia na detecção de fungos.

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16

4.6 MÉTODOS PARA IMPEDIR A DETERIORAÇÃO DA MADEIRA


POR FUNGOS

Algumas essências são naturalmente mais resistentes à ação de


organismos xilófagos, em função da presença de extrativos tóxicos aos mesmos.
Espécies que contêm extrativos tóxicos são raras e geralmente necessitam de
muitos anos para fornecer madeira economicamente aproveitável. Desta forma,
foram desenvolvidos métodos que visam a proteção da madeira, pois madeiras
pouco resistentes à deterioração são de mais fácil obtenção.

4.6.1 Alteração ou remoção de substâncias presentes na madeira

A tiamina é uma substância presente na madeira em pouquíssimas


quantidades. Porém, é essencial ao desenvolvimento de fungos apodrecedores.
Esta substância pode ser removida através do aquecimento da madeira a 100 oC por
uma ou duas horas, sendo alcalinizada, o que impede o ataque de fungos.
Outra alternativa é a adição de substâncias específicas que reagem
com moléculas de celulose ou lignina e impedem a degradação pelas enzimas dos
fungos que não conseguem reagir com o substrato por este ter sido alterado.

4.6.2 Controle da umidade da madeira

Uma mínima quantidade de umidade na madeira (20% com base no


peso seco) é suficiente para um fungo se desenvolver. Abaixo desta umidade não há
desenvolvimento de fungos. A umidade máxima varia com o tipo de madeira,
densidade e tamanho. Porém, nunca ultrapassa a sua umidade de saturação.
Portanto, madeira com umidade abaixo de 20% ou saturado é imune a fungos.
Uma prática comum consiste no armazenamento da madeira em lagos,
rios, açudes, piscinas, etc. Desta forma, a madeira fica saturada de água, com baixo
teor de oxigênio. Outra prática é o armazenamento da madeira em pátios com
aspersão de água nas toras. Para a redução do teor de umidade, a prática mais
comum é a secagem artificial.

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17

4.6.3 Controle biológico

O controle biológico se dá através do desenvolvimento de alguns


microorganismos na madeira, os quais inibem a ação de determinados fungos.
Esta inibição se dá de três maneiras: através do desenvolvimento mais
rápido que o próprio fungo; competição com fungos apodrecedores por substâncias
presentes nos lúmens das células e produção de antibióticos que inibem o
desenvolvimento de fungos apodrecedores.
As três alternativas têm sido estudadas. Porém, somente organismos
antibióticos têm mostrado resultados satisfatórios. Os fungos Scytalidium sp e
Trichoderma spp, inibem o desenvolvimento de alguns fungos apodrecedores.
Estes, inoculados em postes com podridão incipiente, desenvolvem-se e produzem
antibióticos que inibem os fungos.

4.6.4 Uso de biocidas

Os métodos anteriores são pouco utilizados comercialmente em função


do altos custos operacionais. A alternativa mais viável é a introdução de substâncias
químicas que inibem o desenvolvimento de organismos xilófagos. Os biocidas são
conhecidos como preservantes de madeira. São classificados em três categorias:
oleosos, oleossolúveis e hidrossolúveis. Tal classificação é em função do solvente
utilizado para introdução na madeira. O produto oleoso mais conhecido é o creosoto.
Como oleossolúveis mais conhecidos tem-se o pentaclorofenol, TBTO, naftenato de
cobre, quinolinolato de cobre-8, etc. Os hidrossolúveis mais utilizados são
compostos de arsênico, cromo, cobre, zinco e fluoretos, como arseniato de cobre
amoniacal, cromato de cobre ácido, arseniato de cobre cromatado, cloreto de zinco
cromatado, sulfato de cobre, etc.
A aplicação dos biocidas é feita por vários métodos, os quais são
classificados em métodos sem pressão ou caseiros e métodos com pressão ou
industriais. A aplicação destes produtos preservantes prolonga por várias vezes o
tempo de uso da madeira.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


18

5. DANOS CAUSADOS POR INSETOS

Para um técnico em biodegradação a forma mais prática de identificar


um inseto xilófago é, no lugar da classificação taxonômica do mesmo, avaliar e
identificar o tipo de dano causado à madeira e o estado fisiológico do hospedeiro.
Alguns insetos vivem na árvore viva, outros em recém cortadas e outros ainda, em
madeira seca. Além disso, os danos causados são diferenciados entre insetos ou
grupos de insetos. Desta forma, na maioria das vezes é possível identificar com
segurança o inseto que deteriorou a madeira ou está em atividade na mesma, em
função dos danos causados à mesma, do seu estado fisiológico, das condições do
material no momento do ataque, dos resíduos encontrados e das características do
ataque em geral.
Dentro das aproximadamente 30 ordens da classe Insecta, somente
três são consideradas importantes: Coleoptera (besouros), Isoptera (cupins ou
térmitas) e Hymenoptera (formigas, vespas e abelhas). Dentre as três principais
ordens, a mais importante e responsável pelos piores danos é sem sombra de
dúvida a ordem Isoptera.

5.1 COLEOPTERA

5.1.1 Família Lyctidae

Os besouros da família Lyctidae alcançam quase 1 cm de


comprimento. São delgados e alongados, com a cabeça projetada para frente,
proeminente e vista por cima (Figura 5).
A família Lyctidae é pequena, porém o gênero Lyctus contém espécies de
grande importância econômica no país.
As larvas deste inseto escavam galerias na madeira seca reduzindo-a
a pó. Podem destruir completamente móveis, madeiramentos, assoalhos, cabos de
ferramentas, etc., vivendo dentro da madeira durante meses (Figura 6). Nas peças
onde os adultos emergem, observa-se uma grande quantidade de pequenos
orifícios, dando a impressão de que a peça foi atingida por um tiro de chumbo fino.
Não penetram em madeira pintada ou envernizada.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


19

FIGURA 5. ADULTO E LARVA DE Lyctus brunneus (LYCTIDAE).


FONTE: www.aces.edu/department/ipm/wdo.htm

Adulto Larva

No Brasil ocorre a espécie Lyctus brunneus, conhecido como caruncho


e no exterior como “powder post beetle”. Este inseto infesta alburno da maioria das
madeiras de folhosas. O ataque de Lyctus spp. é restrito ao alburno de madeiras
que contêm reservas de amido, goma ou resina e umidade abaixo de 40%. O
primeiro sinal de ataque é um montinho de pó muito fino associado a um furo na
madeira (Figura 6). Este é o furo de saída e que aparece 9 a 12 meses após a larva
ter iniciado a atividade na madeira. Os furos com a aparência de que foram recém
efetuados têm diâmetro aproximado de 1,8 mm, chegando ocasionalmente a 3,0
mm. Podem atacar a madeira seca ou parcialmente seca ao ar. Reinfestam a
madeira até que o alburno seja totalmente destruído.
FIGURA 6. DANO PROVOCADO POR INSETOS DA FAMÍLIA LYCTIDAE.
FONTE: www.aces.edu/department/ipm/wdo.htm

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


20

✵ Controle:

A única maneira capaz de garantir uma imunização definitiva é a


impregnação completa da madeira. Porém, muitas vezes não se dispõem de
equipamentos apropriados. Desta forma, outros tratamentos superficiais podem ser
aplicados.

5.1.2 Família Bostrichidae

São besouros alongados, mais ou menos cilíndricos, com os élitros


muitas vezes truncados e com espinhos nas extremidades. São de coloração
escura, cabeça dobrada para baixo e coberta pelo pronoto, pouco visível
superiormente, dando a impressão de o inseto estar usando um capacete (Figura 7).

FIGURA 7. ADULTOS DA FAMÍLIA BOSTRICHIDAE.

O tamanho dos adultos da família Bostrichidae varia de pouco mais de


1 mm até ± 3 cm. São de hábitos diversos, onde a maioria das espécies são brocas
caulinares. Atacam árvores sadias, ramos e galhos mortos ou árvores recém

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


21

derrubadas. Em madeira seca, o ataque de Bostrichidae é muito semelhante ao de


Lyctus, pois está associado ao conteúdo de amido e açúcares na madeira (Figura 8).
Sendo assim, o ataque de Bostrichidae também é restrito ao alburno. Algumas
espécies desta família já foram observadas atacando lâminas de madeira e painéis
compensados, reduzindo madeira de alburno a pó.

✵ Controle:

➭ O mesmo que para Lyctidae

FIGURA 8. DANO PROVOCADO POR BESOURAS DA FAMÍLIA BOSTRICHIDAE


EM LÂMINAS DE SUMAÚMA (Ceiba pentandra).

5.1.3 Besouros Ambrósia (“Ambrosia Beetles”)

Incluem-se nesta categoria de brocas de madeira um grupo de insetos


da família Scolytidae, a família Platypodidae e algumas espécies de Bostrichidae.
São chamados de besouros Ambrósia, em função dos hábitos alimentares das
larvas, as quais alimentam-se de fungos dos gêneros Ambrosia e Raphaella
cultivados em galerias abertas na madeira.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


22

A Família Platypodidae é composta por besouros alongados, delgados


e cilíndricos, com menos de 1cm de comprimento. Os élitros são truncados e muitas
vezes providos de espinhos nas extremidades. A cabeça é levemente mais larga que
o pronoto. Uma característica peculiar desta família é que o tórax geralmente tem o
dobro ou até mais do tamanho do abdômen (Figura 9).

FIGURA 9. ADULTOS (ESQUERDA – FÊMEA, DIREITA – MACHO) E DANOS DA


FAMÍLIA PLATYPODIDAE (Platypus sp.)

A família Scolytidae é composta por besouros pequenos, onde os


menores chegam a 0,5 mm e os maiores a 1 cm. O corpo é cilíndrico e a coloração é
geralmente parda ou preta. Os élitros são truncados e muitas vezes com espinhos
nas extremidades. A cabeça coberta pelo pronoto, não visível de cima, muito
semelhante a um capacete como no caso da família Bostrichidae. Por isto, algumas
vezes alguns Escolitídeos podem ser confundidos com Bostriquídeos (Figura 10).

FIGURA 10. ADULTO E DANO DA FAMÍLIA SCOLYTIDAE.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


23

Os besouros Ambrósia atacam árvores recém derrubadas,


estressadas ou até sadias. As larvas constróem galerias no interior da madeira e,
nestas galerias, cultivam fungos que servem de alimento. O ataque não ocorre em
madeira seca. Os orifícios produzidos ficam manchados de preto em função da ação
do fungo, proporcionando um aspecto indesejável à madeira Figura 11). As
principais espécies são dos gêneros Platypus spp. e Tesserocerus spp.
(Platypodidae) e Xyleborus spp. e Premnobius cavipennis (Scolytidae).

FIGURA 11. DANOS PROVOCADOS POR SCOLYTIDAE E PLATYPODIDAE.

Platypodidae

Scolytidae

✵ Controle:

A primeira medida a ser tomada é o processamento imediato das toras.


Outra alternativa é a remoção da casca, porém, pode não surtir o efeito desejado.

5.1.4 Família Anobiidae

Os insetos da família Anobiidae são besouros cilíndricos ou ovais com


comprimento de 1 a 9 mm. A cabeça é dobrada para baixo sob o protórax, não
visível superiormente. Quando molestados, têm como característica, o hábito de
contraírem as pernas ao corpo, permanecendo estáticos, fingindo-se de mortos.
A maioria dos anobídeos vive em matéria vegetal seca como troncos,
ramos ou sob casca de árvores mortas. Outros vivem em fungos ou em sementes de
várias plantas. O gênero Anobium (Figura 12) é muito importante, pois ataca com
muita frequência peças de madeira no interior de casas como móveis, divisórias,

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


24

prateleiras, objetos, etc. Atacam madeiras brancas de coníferas e folhosas (Europa).


O ataque é preferencialmente no alburno acompanhado de leve ataque no cerne
adjacente ao alburno. As galerias são parcialmente preenchidas por resíduos
granulados que são os excrementos.

FIGURA 12. FAMÍLIA ANOBIIDAE – ADULTO E DANO DE Anobium punctatum.


FONTE: www.aces.edu/department/ipm/wdo.htm

Dano

Adulto

Quando o inseto adulto emerge, observa-se orifícios com cerca de 3


mm de diâmetro. Além destes orifícios de saída dos insetos adultos, observa-se
pequenas perfurações na superfície da madeira, feitas pelas larvas. Dificilmente
atacam folhosas tropicais e normalmente não atacam araucária. Ocorrem com maior
frequência em regiões temperadas com umidade relativamente alta e temperatura
máxima não acima de 22 oC. Ocorrem também em condições abafadas como
adegas. As espécies mais importantes são do gênero Anobium, onde destaca-se
Anobium punctatum. Na Europa, a espécie Xestobium rufovillosum causa grandes
estragos em construções antigas como igrejas e museus.

5.1.5 Família Cerambycidae

Os Cerambycidae são besouros de tamanho variado e com colorido


abundante. As antenas são geralmente maiores que a metade do corpo. Atacam
árvores doentes, estressadas, recém derrubadas e madeira em processo de
secagem (Figura 13). Uma maneira de se identificar um dano provocado por
besouros desta família sem que o adulto seja localizado, é através da galeria, pois a

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


25

mesma tem um formato ovalado. Os insetos desta família são de grande importância
para a proteção florestal. Para a preservação de madeiras são de pouca relevância.

FIGURA 13. ADULTOS DA FAMÍLIA CERAMBYCIDAE (ESQUERDA – MACHO;


DIREITA – FÊMEA), LARVAS E DANOS. FONTE: www.utoronto.ca

5.2 ORDEM HYMENOPTERA

Dentro desta ordem tem-se como de importância econômica em termos


de preservação a família Formicidae. Alguns danos também são provocados por
mamangavas e vespas.

5.2.1 Família Formicidae

Desta família, tem grande importância o gênero Camponotus, onde as


espécies são conhecidas como formigas carpinteiras (“carpenters ants”) (Figura 14).
As formigas carpinteiras atacam uma grande variedade de madeiras,
destruindo lenho inicial e tardio, porém, preferem madeiras mais moles. Estas
formigas constróem seus ninhos principalmente em estruturas de madeira como
vigamentos, batentes, guarnições de janelas, forros, móveis. As galerias são planas
com paredes lisas (sem resíduos de fibras). Nunca existem perfurações ligando as
galerias com o exterior da peça atacada, exceto o orifício de entrada. As galerias
construídas servem como abrigo. Como as formigas carpinteiras não utilizam a

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


26

madeira como alimento, podem atacar até madeira tratada. Outra característica
peculiar é que muitas vezes estes insetos se alojam em equipamentos eletrônicos.

FIGURA 14. ADULTO E DANO DE FORMIGA CARPINTEIRA.


FONTE: www.utoronto.ca

5.2.2 Abelhas

Como as formigas carpinteiras, as abelhas (principalmente


mamangavas ou mamangabas), utilizam a madeira como abrigo. A fêmea adulta
perfura a madeira, deixando orifícios de 12 mm de diâmetro (Figura 15). O adulto
inicia uma galeria perpendicular às fibras da madeira até uma profundidade de 5 a
10 cm. Posteriormente, perfura paralelamente às fibras até uma altura 15 a 23 cm,
onde deposita os ovos. Estas galerias são supridas com pólen que serve de
alimento às larvas do inseto. Diferenciam-se das formigas carpinteiras por rejeitarem
madeira tratada.

5.2.3 Vespas

Algumas espécies de vespas como Sirex juvencus, Sirex gigas, Sirex


spectrum e Sirex noctilio degradam madeira recém derrubada ou árvores
estressadas. O adulto deposita ovos através de um pequeno orifício na superfície da
árvore recém derrubada, onde juntamente inocula um fungo que servirá de alimento
para as larvas. Os ovos eclodem e as larvas escavam galerias no interior do tronco
para cultivo do fungo. No Brasil, a espécie Sirex noctilio tem causado sérios danos

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


27

em povoamentos de Pinus taeda. Como medida de controle, as toras devem ser


processadas rapidamente, após a derrubada da árvore.

FIGURA 15. ADULTO E DANO DE MAMANGAVA.


FONTE: www.utoronto.ca

Adulto Dano

5.3 ORDEM ISOPTERA

5.3.1 Introdução

Os cupins são os principais responsáveis por danos à madeira no


mundo. Conforme seus hábitos de vida, dividem-se em três grupos: cupins
subterrâneos, cupins de madeira úmida e cupins de madeira seca.
A maioria das espécies de cupins não causa prejuízos à humanidade, e
ainda auxiliam na degradação de madeira e compostos celulósicos em geral,
proporcionando a reciclagem de nutrientes. Além disso, melhoram as características
do solo, através da construção de túneis e canais, aumentando a porosidade,
aeração, umidade e ciclagem de nutrientes orgânicos e partículas minerais entre
horizontes.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


28

5.3.2 Características do inseto

Do mesmo modo que formigas, abelhas e vespas, os cupins são


insetos sociais, vivendo em grandes colônias. Apresentam um sistema de castas
altamente desenvolvido e numa colônia pode-se encontrar indivíduos alados e
indivíduos ápteros. As asas, quando presentes, têm as seguintes características:

✵ São em número de quatro


✵ membranosas com venação reduzida
✵ Frequentemente com numerosas rugas
✵ Geralmente são todas de tamanhos iguais
✵ Em repouso são mantidas horizontalmente sobre o corpo
ultrapassando a ponta do abdômen.
Os cupins são muitas vezes chamados de formigas brancas. Porém,
diferem das formigas pelas seguintes características:

✵ Corpo muito mole


✵ Cor clara
✵ O abdômen liga-se largamente ao tórax
✵ Não apresentam um nódulo no 1o segmento do abdômen como as
formigas
✵ As antenas são filiformes. Das formigas são geniculadas.

5.3.3 Castas de cupins

❶ Rainhas e reis

São os indivíduos reprodutores, mais desenvolvidos sexualmente e


com as asas completamente desenvolvidas. Possuem olhos compostos. Geralmente
são de pigmentação escura. Os machos são normalmente pequenos e as rainhas
podem atingir até 8 cm ou mais, podendo viver vários anos, durante os quais,
realizam a postura de milhares de ovos. As rainhas e reis são produzidos em grande
número e durante a primavera e verão deixam a colônia, realizando um fenômeno
chamado de enxameação. Após o acasalamento, cada par estabelece uma nova
colônia. Ao acasalar-se os reprodutores perdem as asas (Figura 16).

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


29

❷ Operárias

As operárias são ninfas e adultos estéreis. Apresentam coloração


pálida, são ápteros e geralmente sem olhos compostos, com mandíbulas
relativamente pequenas. Realizam a maior parte dos trabalhos da colônia,
alimentando a rainha, os soldados e os jovens recém eclodidos. Além disso,
constróem ninhos, túneis e galerias (Figura 16).

❸ Soldados

Os soldados são adultos estéreis com cabeça e mandíbulas


desenvolvidas. Em alguns casos suas mandíbulas são tão grandes que o inseto não
consegue se alimentar sozinho, sendo alimentado pelos operários. São maiores que
os operários e podem ter ou não olhos compostos. Quando a colônia é perturbada,
os soldados atacam os intrusos (Figura 16).

❹ Nasutos

Esta casta ocorre em algumas espécies. A cabeça se prolonga


anteriormente numa tromba fina, por onde secretam uma substância viscosa contra
os intrusos, representando o papel de soldados. Têm palpos desenvolvidos e
mandíbulas reduzidas.
FIGURA 16. CASTAS DE CUPINS.
FONTE: www.aces.edu/department/ipm/wdo.htm

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


30

5.3.4 Hábitos dos cupins

Os cupins têm os mais variados hábitos de vida. Alimentam-se de


exúvias e fezes de outros indivíduos, de indivíduos mortos e de substâncias vegetais
(madeira e derivados). Alguns cupins vivem subterraneamente, em condições
úmidas e outros, em condições secas, acima do solo. A formas subterrâneas vivem
normalmente em madeira enterrada no solo ou em contato com ele. Podem invadir
madeira distante do solo, porém, necessitam manter uma ligação com o mesmo,
para obterem umidade. Os ninhos podem ser inteiramente subterrâneos ou
sobressair da superfície, onde algumas espécies tropicais chegam a construir ninhos
de até 9 m de altura, chamados de murunduns. Os cupins de madeira seca vivem
acima do chão e habitam postes, tocos, árvores e construções de madeira. A
celulose que serve de alimento é digerida por miríades de protozoários flagelados,
existentes no tubo digestivo.

5.3.5 Cupins de madeira úmida

Os insetos deste grupo atacam exclusivamente madeira com elevado


teor de umidade. O ataque ocorre diretamente pelo ar durante o enxame.
Desenvolvem-se melhor em madeiras em condições abafadas já apodrecidas.
Porém, podem estender o ataque a madeiras adjacentes em estado são. No Brasil
não foram observados ataques de relevância em construções.

5.3.6 Cupins subterrâneos

Os cupins subterrâneos são responsáveis pelo maior volume de danos


no mundo. São mais frequentes em regiões temperadas e tropicais. Não têm
revestimento de quitina, o que os deixa pouco resistentes à baixa umidade. São
favorecidos por condições de elevada umidade, abaixo da superfície do solo. Porém,
podem atacar madeira mais seca e isolada. Neste caso, constróem túneis de barro e
outros materiais, o que mantém no seu interior umidade necessária ao metabolismo
(Figuras 17 e 18).

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


31

FIGURA 17. TÚNEIS CONSTRUÍDOS POR CUPINS SUBTERRÂNEOS.


FONTE: www.aces.edu/department/ipm/wdo.htm

FIGURA 18. TRAJETÓRIA DOS CUPINS SUBTERRÂNEOS ATÉ A FONTE DE


ALIMENTO. FONTE: www.aces.edu/department/ipm/wdo.htm

Os cupins subterrâneos têm como característica, o hábito de manterem


sempre intacta uma fina camada externa da peça que está sendo atacada. Ao ser
forçada por um objeto pontiagudo, esta fina camada se rompe com facilidade.
Outra maneira de detectar o ataque, é através de pequenas batidas na
superfície suspeita, pois ao se ouvir um som oco, tem-se um indicativo de ataque.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


32

Quando o ataque é detectado, este já está em fase muito adiantada, sendo


praticamente impossível a recuperação dos danos.
Os gêneros mais importantes são Coptotermes spp. e Heterotermes
spp. da família Rhinotermitidae.

5.3.7 Cupins de madeira seca

Os cupins de madeira seca são encontrados em regiões de clima


quente e subtropicais. Vivem em madeira seca com umidade entre 10 e 12%, não
necessitando de contato com o solo. Iniciam o ataque diretamente pelo ar, durante o
enxame. O casal penetra na madeira através de rachaduras ou aberturas naturais,
onde iniciam a escavação para o interior da madeira (Figura 18). Fecham o orifício
de entrada com partículas da própria madeira. Durante a infestação, produzem
pequenas pelotas fecais que são liberadas ocasionalmente por orifícios abertos
temporariamente. Estas pelotas de excrementos podem ser diferenciadas de
Anobiidae por terem coloração desuniforme e serem de tamanho bem maior.

FIGURA 18. ATAQUE DE CUPINS DE MADEIRA SECA.


FONTE: www.aces.edu/department/ipm/wdo.htm

Em função de atacar madeira seca, podem ser encontrados em


diversos habitats como postes não tratados, palanques, travessões, tesouras
estruturais, móveis, pisos, janelas, portas, etc. Um exemplo é a espécie
Cryptotermes brevis (família Kalotermitidae), que ataca móveis de pinho, vime e
outras madeiras moles em vigas de construções, livros, papéis e alimentos secos.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


33

5.3.8 Cupins em áreas urbanas

Pode-se dizer que dois conjuntos de fatores propiciam a infestação


urbana por cupins: as características biológicas do inseto e a complexidade do meio
urbano. As colônias de cupins variam de algumas centenas a milhares de indivíduos,
onde algumas chegam a ter milhões. As espécies que atacam edificações,
normalmente são discretas, com seus ninhos ocultos nas próprias construções, solo
ou peças atacadas. Locomovem-se dentro de túneis, cuidadosamente construídos e
selados, protegidos de predadores e variações do ambiente. Os túneis muitas vezes
acompanham o trajeto de frestas e reentrâncias, o que os torna pouco ou nada
perceptíveis. Podem também ser construídos dentro de dutos de eletricidade ou
telefonia, onde percorrem grandes trajetos discretamente. Já foi observado um túnel
de 30 m de comprimento, num duto de ventilação de um edifício.
Os cupins subterrâneo são muito versáteis. Em edifícios altos, a
colônia instalada nos andares não necessita de contato com o solo, pois é provida
de condições adequadas de abrigo e umidade. Constróem túneis embaixo ou no
meio de reboco em paredes de alvenaria, e já foram observados túneis mesmo em
argamassa de cal. Podem perfurar tijolos de barro maciço, em paredes atacadas.
Nos pisos, podem perfurar o betume utilizado para selar juntas de dilatação. As
colônias crescem lentamente, resultando em aparecimento tardio da infestação.
Quando esta é observada, a colônia já está definitivamente instalada.

5.3.9 Espécies de maior importância

➭ Cryptotermes brevis ➭ madeira seca


O ataque é restrito às peças que consome como alimento. Pode causar
grandes prejuízos à mobília, madeiramento estrutural e bibliotecas.

➭ Coptotermes havilandi ➭ subterrâneo


Este inseto transita pelo solo e construções urbanas. Também causa
estragos em alvenaria, instalações elétricas em edificações, cabos elétricos e
telefônicos subterrâneos, produtos armazenados em geral. Ataca e compromete a
sanidade de árvores ornamentais.

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➭ Reticulitermes lucifugus ➭ subterrâneo


Espécie de origem européia introduzida no Uruguai, onde está
definitivamente radicada. Causa sérios danos e pode-se dizer que é inevitável sua
introdução no sul do país.

5.3.10 Medidas de proteção contra cupins

Cupins subterrâneos:

✵ Limpeza do terreno da construção


➭ eliminando-se todo tipo de material celulósico

✵ Drenagem do terreno

✵ Envenenamento do solo onde será construída alguma edificação e


imediações da construção

✵ Utilização de técnicas de construção adequadas:


- A altura da construção de madeira não deve ser inferior a 45 cm, a fim
de possibilitar uma ventilação adequada e secagem do solo após umedecimento
pela chuva.
- A altura do solo à madeira da parte externa da construção não deve
ser inferior a 15 cm, livre de vegetação que impeça a ventilação e mantenha a
umidade do ar elevada.
- Executar o capeamento das fundações de tijolos com camada
espessa de concreto de 10 cm, o que impede o acesso dos cupins por falhas nas
camadas de argamassa e pelos buracos dos tijolos.
- Utilização de chapas metálicas nas fundações sob a construção,
formando um escudo. Estas devem ser preferencialmente inoxidáveis, com ângulo
de 45o, o que impossibilita o acesso dos cupins pelo interior e superfície das
fundações.
- Não permitir o contato direto da madeira com o solo.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


35

✵ Controle:

Como os cupins subterrâneos só vão à madeira para obter alimento, a


colônia é mantida no solo. Desta forma, o controle deve ser realizado no solo. É
necessário se encontrar meios de acesso à colônia, a fim de atingi-la com produtos
tóxicos. Conjuntamente com estas medidas, peças atacadas devem ser substituídas
por peças tratadas.

Cupins de madeira seca:

Quando o ataque for ameno, faz-se a substituição das peças atacadas.


Quando for severo, faz-se uma fumigação de toda a estrutura com brometo de metila
(CH3Br).

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


36

6. DANOS CAUSADOS POR BROCAS MARINHAS

As brocas marinhas são consideradas o terceiro grupo de agentes


biodegradadores da madeira. Deste grupo, são vários os organismos que atacam
estruturas fixas ou móveis. São distribuídos em todo o mundo e sua maior
ocorrência é em regiões com águas quentes. A madeira atacada pode ou não
apresentar danos visíveis na superfície. São divididos em dois grupos: moluscos e
crustáceos.

6.1 Moluscos

Os principais representantes deste grupo pertencem às famílias


Teredinidae (Teredo spp. e Bankia spp.) e Pholadidae (Martesia spp. e Xylophaga
spp.)
Habitam a madeira presente no ambiente marinho de alguma forma,
principalmente raízes de mangues, madeira levada pelos rios, estacas ou
embarcações. Caixotes de madeira colocados a uma profundidade de 1830m por
104 dias, ficaram completamente crivados por Xylophaga e por um gênero
relacionado.
Os moluscos mais conhecidos são os teredinídeos, com mais de 60
espécies, onde as mais importantes são Teredo spp e Bankia spp., conhecidos
popularmente por buzanos.

➭ Características ➭ Teredo:

Exercem papel ecológico importante na redução da madeira marinha.


São animais destrutivos de pilastras, estacarias e outras estruturas colocadas pelo
homem no mar. A madeira pode ficar completamente crivada com túneis. O corpo é
bastante alongado e cilíndrico. É provido por um par de conchas que se encontra
reduzida a duas pequenas valvas anteriores. A perfuração na madeira é feita por
movimentos de abertura ou rotação das valvas, enquanto a extremidade anterior do
corpo prende-se ao buraco por meio de um pequeno pé. O manto que envolve a
maior parte do corpo por trás das valvas, produz um revestimento calcário dentro do
túnel, o que é uma característica importante para se reconhecer um ataque por

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


37

teredos. Os longos e delicados sifões abrem-se na superfície da madeira. A entrada


do buraco é tampada pelas espátulas calcárias quando os sifões se retraem.
Normalmente medem alguns centímetros (18 cm), porém, podem atingir 2 m de
comprimento dependendo da espécie (Bankia sp). O tamanho do buraco aumenta
com o crescimento do teredem que o preenche. A expectativa de vida é de um a
vários anos, dependendo da espécie (Figura 19).

FIGURA 19. ASPECTO DE UM TEREDO.

Os teredos utilizam a serragem escavada para alimentação, embora


muitos também filtrem alimentos. O estômago possui um ceco para armazenar a
serragem. Uma parte da glândula digestiva é especializada na movimentação de
partículas de madeira. Contém bactérias simbiontes albergadas dentro de um órgão
especial que se abre no interior do esôfago. estas bactérias proporcionam a digestão
da celulose e compensam a dieta pobre em proteínas, fixando nitrogênio. Atacam
madeira através de pequenas entradas existentes na superfície. Penetram em
profundidade à medida que aumentam de tamanho. Podem destruir o interior de
uma peça sem serem percebidos. Em função desta forma de ataque, oferecem
grande risco, pois a peça atacada pode ter tombamento súbito e consequentemente,
prejuízos em maior proporção (Figura 20).

➭ Características ➭ Martesia:

Este molusco tem o corpo envolto em uma casca de 2 a 4 cm de


comprimento. Escava a madeira a uma profundidade maior que seu comprimento.

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38

Atingindo o tamanho adulto, cessa a escavação. Não se alimenta de madeira,


usando-a apenas como abrigo. Alimenta-se de plâncton e outros microorganismos.

FIGURA 20. ATAQUE DE TEREDO EM UMA VIGA DE ATRACADOURO


TRATADA COM CREOSOTO.

6.2 Crustáceos

Neste grupo o crustáceo mais difundido no mundo é Limnoria spp.


Porém, Chelura terebrans, também vem causando danos à madeira.

➭ Características ➭ Limnoria spp:

Pequeno crustáceo com comprimento de 3 a 6 mm e largura de 3 mm,


encontrada em águas turvas. Utiliza madeira como alimento, abrigo e desova.
Escava a madeira paralelamente à superfície, somente alguns centímetros de
profundidade. Porém, os danos são grandes, em função da grande quantidade de
indivíduos. Com a ação mecânica das ondas, ocorre a remoção da parte
deteriorada, o que força o adulto a escavar mais profundamente. Estacas em
ambiente marinho, atacadas por Limnoria, apresentam uma diminuição do diâmetro,

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


39

adquirindo uma forma de ampulheta. Como são facilmente visíveis, não oferecem
grandes riscos.

6.3 Controle de brocas marinhas

✵ Uso de madeiras com resistência natural:

Suspeita-se que há uma relação da resistência natural a brocas


marinhas com o conteúdo de sílica da madeira. Porém, não é uma regra geral, pois
algumas essências com alto teor de sílica apresentam baixa resistência.
Normalmente, madeiras com alto teor de sílica são mais resistentes. Outras
espécies com baixo teor de sílica também apresentam elevada resistência,
provavelmente por possuírem substâncias alcalóides.

✵ Uso de madeiras tratadas:

Esta é outra alternativa viável. Porém, deve-se considerar o meio em


que a madeira tratada será instalada, os agentes biológicos que ocorrem no meio e
o tipo de preservante a ser usado. O preservante mais indicado para ambiente
marinho é o creosoto. Porém, sozinho, pode não dar proteção adequada, em função
da grande quantidade de creosoto expulso da madeira pela ação mecânica da água
(30 a 40%), da exaustão do produto por lixiviação ou ação de bactérias, as quais
utilizam o creosoto como alimento. O crustáceo Limnoria tripunctatum também é
altamente resistente ao creosoto. Nestes casos, utiliza-se creosoto reforçado com
outros produtos.

✵ Outras formas de controle:

- Proteção da madeira com chapas metálicas, de cimento ou de fibra


de vidro.
- No caso de embarcações, alternância de viagens entre água
quente/fria e água salgada/água doce é muito eficiente contra Limnoria spp., que
instala-se na superfície, a qual é facilmente eliminada pela adversidade da nova
situação.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


40

7. PRODUTOS PRESERVANTES DA MADEIRA

A madeira no seu ambiente de uso está sujeita a uma série de agentes

biodeterioradores, os quais causam danos à mesma, podendo prejudicar o seu uso

de duas formas: esteticamente ou comprometendo as propriedades de resistência

da mesma, o que é a situação mais grave, pois muitas vezes oferece riscos de vida.

Em função disto, é necessário que a madeira seja protegida contra os vários agentes

que a degradam, com a finalidade de manter suas qualidades estéticas ou suas

propriedades de resistência mecânica intactas.

Existem várias formas de se preservar a madeira contra agentes

biológicos, dentre elas, o uso de produtos que contenham alguma substância tóxica

a determinados agentes biodegradadores. Estas substâncias chamadas de

preservantes de madeira, são utilizadas quando não é possível se modificar as

condições do meio onde a madeira está exposta, as quais favoreçam o

desenvolvimento de agentes biodegradadores. Estes preservantes são distribuídos

em três categorias: Os oleosos, que são de natureza oleosa, os oleossolúveis, que

são dissolvidos em solventes orgânicos e os hidrossolúveis, que são dissolvidos em

água.

7.1 PROPRIEDADES DOS PRESERVANTES

Um produto para ser considerado um bom preservante deve apresentar

determinadas características ou propriedades que irão conferir ao mesmo uma alta

ou baixa eficiência.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


41

7.1.1 Toxidez

A madeira é utilizada de diversas maneiras em diversos ambientes e

situações. Em cada uma dessas situações, está exposta a um ou mais organismos

degradadores, cada qual com determinadas características. Portanto, um bom

preservante deve ser tóxico a uma grande variedade de organismos.

7.1.2 Baixa toxidez a organismos não xilófagos

É desejável também, que a toxidez de um produto preservante seja

restrita a organismos xilófagos, evitando problemas de desequilíbrio ecológico e

intoxicação ao homem e animais. Além desta baixa toxidez, o preservante deve

apresentar características que facilitem o manuseio e aplicação. Um outro fator

muito importante, é que o mesmo seja também inodoro.

7.1.3 Ação duradoura

Após o tratamento preservante, é desejável que a madeira fique

protegida por vários anos. Para isto, o preservante não pode se decompor, não se

alterar e apresentar uma alta permanência na madeira.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


42

7.1.4 Boa fixação

Não adianta um preservante ser altamente tóxico e não ter boa fixação

na madeira. Portanto, sem boa fixação, o preservante é facilmente lixiviado, expondo

a madeira novamente aos organismos xilófagos.

7.1.5 Não alterar as características da madeira

Um bom preservante deve somente proteger a madeira contra agentes

biodegradadores, não alterando suas características estéticas ou suas propriedades

físico mecânicas.

7.1.6 Não provocar alterações em outros materiais

A madeira geralmente é utilizada em combinação com outros materiais

como metais, concreto, plástico, couro, etc. Portanto, um bom preservante não deve

provocar alterações nos outros materiais. Um produto corrosivo pode oxidar pregos,

parafusos e outras ferragens, causando danos estéticos e na maioria das vezes,

oferecendo riscos. Produtos contendo cobre são corrosivos a alumínio.

7.1.7 Não ser inflamável

Uma característica muito importante e que deve ser observada com

muita cautela é que o produto preservante não tenha propriedades de

inflamabilidade, pois a madeira já se trata de um material de fácil inflamabilidade.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


43

7.1.8 Econômico de fácil aquisição

O fator econômico é muitas vezes limitante quanto ao uso de um

preservante. Portanto, não adianta um produto preservante ser excelente, em

relação às outras características, mas com um custo elevado. Além do baixo custo,

este produto precisa também ser facilmente encontrado no comércio.

7.2 PRESERVANTES OLEOSOS

7.2.1 Creosoto

O creosoto é um produto destilado do alcatrão proveniente da


carbonização da hulha betuminosa, composto por mais de 200 substâncias
diferentes, sendo a maioria hidrocarbonetos aromáticos e ácidos e bases de
alcatrão. Os hidrocarbonetos, como antraceno, naftaleno, etc., representam 80%. Os
ácidos de alcatrão com fenóis, cresóis, xilenóis e naftóis, representam 15%. Por
último, as bases de alcatrão como piridina, quinolina e acridina, representam 5%.
O creosoto, geralmente, não necessita de solventes para ser aplicado.
Porém, em alguns casos, é diluído em óleo queimado ou óleo de petróleo. Desta
maneira, pode ser também incluído dentro do grupo dos preservantes oleossolúveis,
por ser solúvel em óleo.
Este produto é composto por dezenas de substâncias, sendo que cada
qual apresenta toxidez a determinados organismos xilófagos. Além disso, confere à
madeira características de repelência à água, tornando-se um dos produtos
preservantes mais eficientes. É recomendado para madeiras que serão utilizadas em
ambientes com elevada ocorrência de organismos xilófagos, como as que estarão
em contato com o solo ou água. Não provoca corrosão em metais, chegando até a
protegê-los contra corrosão. Além de ser um preservante, protege a madeira contra
fendilhamento. Seu único inconveniente é o fato de deixar a madeira oleosa, não
aceitando pintura.

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44

A concentração recomendada para postes é de 130 Kg/m3 de madeira


e para moirões de 110 Kg/m3 de madeira.
Em alguns casos, a madeira tratada com creosoto sofre uma
deterioração prematura. Na maioria das vezes, a mesma não foi tratada
adequadamente. Porém, em alguns casos, determinados organismos xilófagos são
altamente tolerantes ao creosoto, como por exemplo o fungo Lentinus lepideus, o
crustáceo Limnoria tripunctatum e o térmita Coptotermes formosanus. Para tais
organismos foram desenvolvidas algumas fórmulas para tratamento de madeiras
expostas a estes organismos. estas fórmulas são denominadas de creosotos
reforçados.

❶ Creosoto reforçado com pentaclorofenol

Este é o tipo de creosoto reforçado mais importante. Contém 2% de


pentaclorofenol (PCP). Por ter caráter aromático, o creosoto é um excelente solvente
para o PCP. Tem excelentes resultados como preservante, porém, provoca forte
corrosão nos equipamentos de impregnação da madeira.

❷ Creosoto reforçado com cobre

Este produto é eficiente contra o ataque de Limnoria tripunctatum,


principalmente em águas quentes. Tem-se como prática normal, a realização de um
pré-tratamento com produtos hidrossolúveis à base de cobre. Porém, pode-se obter
bons resultados com a adição direta de naftenato de cobre e pentaclorofenato de
cobre, entre outros, ao creosoto.

❸ Creosoto reforçado com arsênio

O creosoto reforçado com arsênio é muito eficaz contra Coptotermes


spp. Obtém-se tal produto adicionando-se 0,3 a 0,4% de trióxido de arsênio (AS2O3)
ao mesmo. O arsênio é facilmente incorporado pelo creosoto aquecido, por reação
com os ácidos de alcatrão.

❹ Outros creosotos reforçados

São utilizadas outras substâncias, principalmente para melhorar a


resistência da madeira a brocas marinhas. Os principais creosotos reforçados são

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


45

com verde de malaquita, óxido bis (tributil-estanho) –TBTO e com alguns produtos
clorados. O creosoto reforçado com TBTO também proporciona bons resultados.

7.2.2 Carbolineum ou óleo de antraceno

Este produto é comercializado pelo nome de Carbolineum osmose. É


uma fração do alcatrão da hulha betuminosa. é obtido numa faixa de ebulição mais
elevada, utilizada para a obtenção do creosoto. Tem elevada viscosidade o que o
torna de penetração limitada. Porém, esta alta viscosidade confere a este produto
uma alta resistência à lixiviação e volatilização. Na Europa é conhecido como
carbolineum e nos Estados Unidos como óleo de antraceno. tanto na Europa como
nos Estados Unidos é aplicado no meio rural por pincelamento, pulverização ou
imersão da madeira.

7.2.3 Naftenatos

Os produtos conhecidos como naftenatos são os ácidos naftênicos


derivados do petróleo, numa mistura de vários compostos semelhantes. Os
nafetenatos mais utilizados para preservação de madeiras são:

✵ Naftenato de cobre ➭ retenção de 1 Kg/m3 (do elemento cobre) para


madeira em contato com o solo. tem o nome comercial de Pentox verde. É um
produto muito caro, sendo seu uso restrito a madeiras expostas a muita umidade.
✵ Naftenato de zinco ➭ excelente termiticida.

7.2.4 Quinolinolato de cobre-8

É um produto de grande importância, pois é reconhecido mundialmente


como um fungicida eficaz não tóxico a mamíferos. Por esta característica é utilizado
para tratamento de madeiras que estarão em contato com alimentos, como caixas
de frutas, verduras, carnes, embutidos, etc., barricas, palitos, tábuas de cortar
carnes, entre outros. é um produto inodoro e incolor. Aplicado na madeira

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


46

normalmente em concentrações entre 2,5% e 5,0%. Seu uso é restrito por se tratar
de um produto de custo elevado.

7.2.5 Óxido de bis (tributil-estanho) – TBTO

É um produto muito eficiente contra brocas marinhas e também contra


fungos em madeira fora de contato com o solo. Muito utilizado também para fortificar
o creosoto no meio marítimo. Em formulações comerciais é muito associado ao
PCP. Quando reforçado com PCP, ortofenilfenol e boratos, tem maior eficiência
contra podridão branca. Apresenta as seguintes vantagens:
✵ Eficiência 10 vezes maior que do PCP
✵ Baixa toxidez a mamíferos
✵ Não produz irritações cutâneas
✵ A madeira tratada com TBTO aceita bem tintas e vernizes
✵ Tem uma eficiência 7,5 vezes maior que o CCA contra podridões.
Seu uso é limitado em função do alto custo.

7.3 PRESERVANTES OLEOSSOLÚVEIS

7.3.1 Pentaclorofenol (PCP)

É um produto de alta eficiência contra a maioria dos agentes xilófagos.


É um organoclorado, obtido pela cloração direta do fenol, tendo como fórmula
molecular C6Cl5OH. É insolúvel em água. Por ter caráter ácido pode dar origem a
sais de fenatos e fenóxidos, se submetido à ação de hidróxidos alcalinos. Em função
disto, não pode ser utilizado em ambiente marinho, pois é solubilizado pelo sal
sódico da água do mar. Também, sob a ação do hidróxido de sódio, origina
pentaclorofenato de sódio, solúvel em água. Sua fórmula comercial contém 85% de
PCP, 6% de tetraclorofenóis, 6% de outros fenóis clorados e 3% de substâncias
inertes. O PCP. Os principais solventes do PCP são o petróleo bruto para tratamento
de dormentes e óleos leves para tratamentos mais limpos. Outros solventes que
também podem ser utilizados são querosene, varsol, óleo de linhaça, acetona,
etanol, etc.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


47

O Pentaclorofenol pode ser utilizado com outros produtos, para


aumentar a eficiência em situações drásticas para a madeira.
Este produto tem como vantagens a alta toxidez a organismos
xilófagos, não é volátil, não corroe metais e é resistente à lixiviação. Porém tem a
desvantagem de ser altamente tóxico ao homem e animais domésticos.
Quando se utilizam óleos leves como solventes, a fim de se obter maior
penetração ou dar melhor aspecto à madeira tratada, o PCP pode ser arrastado à
superfície da peça tratada em função da rápida evaporação do solvente, tornando o
uso da peça inadequado, pois ao se cristalizar na superfície é mais nocivo ao
homem e animais. Além disto, é facilmente removido pela chuva e/ou abrasão eólica
e deteriorado pelos raios ultravioleta. Este problema pode ser evitado usando-se um
agente antiaglutinante, como parafina, polietileno glicol (PEG-1000), etc.

7.3.2 Tribromofenol (TBP)

Assim como o pentaclorofenol, o tribromofenol também pode ser


facilmente transformado em tribromofenato de sódio, quando exposto ao hidróxido
de sódio.
Na Ásia, é utilizado com sucesso contra fungos manchadores e Lyctus
spp. No Brasil tem pouca eficiência em função dos fatores climáticos, os quais
aceleram a exaustão do produto na madeira ou deterioram-no e juntamente,
favorecem maior desenvolvimento dos agentes biológicos.
O TBP-Na está sendo utilizado em substituição ao PCP-Na, mesmo
sem ter a mesma eficiência, em função do seu baixo custo e da pouca exigência do
mercado.

7.4 PRESERVANTES HIDROSSOLÚVEIS

São constituídos principalmente pelos sais metálicos e flúor. Algumas


formulações são bem testadas e reconhecidas mundialmente. São compostos à
base de arsênio, cromo, cobre, zinco e flúor.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


48

Outros elementos como mercúrio, níquel, tálio e cianeto também são


muito tóxicos a organismos xilófagos. Porém não são utilizados em função do alto
custo, da alta toxidez ao homem e animais e pela elevada agressão ao ambiente.

7.4.1 Arseniato de cobre cromatado (CCA)

É o melhor produto hidrossolúvel, conhecido mundialmente como


Tanalit. Tem como característica o fato de deixar a madeira tratada com coloração
verde. Cerca de 80% de toda a madeira tratada no mundo é tratada com CCA. É
utilizado em três formulação, A, B e C, apresentadas na Tabela 1.

TABELA 1. FORMULAÇÕES COMERCIAIS DO CCA.

TIPOS DE CCA
INGREDIENTE ATIVO
A B C
CrO3 65,5% 35,3% 47,5%
CuO 18,1% 19,6% 18,5%
As2O5 16,4% 45,1% 34,0%

O tipo A é mais utilizado contra fungos, o tipo B contra insetos e o tipo


C é um intermediário, para fungos e insetos.
Os elementos Cu, Cr e As fixam-se tão bem à madeira que o CCA é
utilizado como preservantes em “play grounds”. O Cr fixa o Cu na forma de cromato
de cobre. Como o cobre é fixado, este não está disponível à corrosão.

7.4.2 Wolmanit CB (CCB)

Este produto é conhecido também como osmose CCB. Foi criado em


função das suspeitas do arsênio volatilizar em ambientes com calefação,
provocando uma preocupação com o contato do usuário com a madeira tratada.
Desta forma, o boro substituiu o arsênio.
O CCB tem uma sensível perda quanto à resistência à lixiviação,
provocando uma queda na eficiência de proteção contra insetos, porém é um dos
produtos mais eficientes contra Lyctus spp. Tem como formulação típica 35,8% de

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


49

CuSO4.5H2O, 22,4% de H3BO3, 38,5% de K2Cr2O7 e 2,1% de NaHSO4. Para o


tratamento de postes, recomenda-se 9,6 Kg de ingredientes ativos por m3 de
madeira a ser tratada.

7.4.3 Arseniato de cobre amoniacal (ACA)

Conhecido também como Chemonite. É um produto tóxico a um grande


número de fungos xilófagos e é empregado no tratamento da madeira por
impregnação. O Hidróxido de sódio existente na formulação abre a estrutura da
parede celular, permitindo uma melhor difusão dos ingredientes ativos. Após o
tratamento, o amônio evapora, provocando a precipitação do cobre e do arsênio na
forma de arsenito de cobre. Além de auxiliar na difusão do produto, o amônio tem a
função de manter o preservante em solução, em função da parcial solubilidade do
sulfato de cobre, evitando a formação do precipitado de arsenito de cobre na
solução. Forma também um complexo de cobre, proporcionando uma redução no
efeito corrosivo nos metais em contato com a madeira.
O ACA tem com formulação típica 835g de Cu(OH)2, 590g de As2O3,
23g de NH3COOH e H2O até completar 45l. A retenção mínima recomendada é de 8
Kg/m3 de madeira. Porém, pode-se usar até 5Kg/m3 para madeiras que não terão
contato com o solo.

7.4.4 Cromato de cobre ácido (ACC – Celsure)

Este produto é uma mistura de sulfato de cobre, dicromato de sódio e


trióxido de cromo e não tem efeito inseticida. Seu custo é muito elevado, o que o
torna de pouco uso. O cromo tem a função de reduzir o efeito corrosivo do sulfato de
cobre e precipitar o cobre na forma de cromato de cobre insolúvel. Sua formulação
típica é 50% de CuSO4.5H2O, 47,5% de Na2Cr2O7.2H2O e 1,68% de CrO3.
Recomenda-se como retenção mínima 8Kg/m3 de madeira a ser
tratada. Pesquisas realizadas no IPT, revelaram que moirões de Eucalyptus saligna
com 10,5 Kg/m3 de madeira, com tratamento caseiro, apresentaram uma vida útil de
12 anos.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


50

7.4.5 FCAP – flúor, cromo, arsênio, fenol

É altamente tóxico a organismos xilófagos e tem boa resistência à


lixiviação. Como o CCA, também deixa a madeira esverdeada. Aceita qualquer tipo
de acabamento superficial. É um dos produtos mais utilizados no meio rural.

7.4.6 Cloreto de zinco cromatado - CZC

O CZC foi desenvolvido para controlar a lixiviação e o efeito corrosivo


do cloreto de zinco puro. Tem pouco uso ultimamente. Porém, ainda é usado em
função de ter propriedades combinadas de preservante e retardante de fogo.
É composto por 75% de cloreto de zinco e 22% de dicromato de sódio.
Fixa-se bem na madeira e é pouco corrosivo. Não é recomendado para madeiras
utilizadas em locais com temperaturas elevadas e baixas umidades relativas, pois
tais condições levam a madeira a se deteriorar quimicamente.

7.4.7 Compostos de boro

Os mais utilizados são o ácido bórico e o tetraborato de sódio, porém,


são insuficientemente solúveis. Obtém-se maiores concentrações ao se preparar
uma solução contendo 1 parte de ácido bórico e 1,54 parte de tetraborato de sódio
deca-hidratado. Esta solução saturada desidrata-se, resultando num produto
conhecido mundialmente como Timbor, principal preservante à base de borato.
O sal resultante da desidratação é o octaborato tetrahidratado
(Na2B8O13H2O). O conteúdo de boro é equivalente a 117,3% de ácido bórico
(H3BO3).
Normalmente é necessário esquentar a solução para mantê-la na
concentração necessária, a qual varia com a espessura da peça a ser tratada.
estes compostos são utilizados para tratamento de folhosas suscetíveis
a Lyctus spp. A aplicação é feita por pulverização ou imersão. Para tal finalidade são
eficientes a baixas concentrações. Os boratos são eficientes também contra fungos
manchadores. Porém, são ineficientes contra os bolores Penicillium spp. e

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


51

Trichoderma spp. Para isto, combina-se estes produtos com pentaclorofenato de


sódio e tribromofenato de sódio.

7.5 OUTROS PRODUTOS

Dentre os outros produtos destacam-se os sais de amônio


quaternários, as aminas quaternárias. Ainda como novos produtos destacam-se os
carbamatos, piritrina e piretróides, tiocianometiltio benzotiazol (TCMTB), azaconazol,
3-iodo 2-propinil butil carbamato (IPBC), 1,2,3,6, tetrahidro-N-(1,1,2,2-tetracloetiltio)
ftalimida (Captafol) e bis-tiocianato de metileno (MBT).

7.6 PRINCIPAIS PRODUTOS DISPONÍVEIS NO MERCADO

OSMOSE TS-30 – COM BAIXO V.O.C.

Descrição ➭ Inseticida concentrado emulsionável, de consistência líquida,


coloração branco-leitosa, à base de organoclorados. Baixo teor de
compostos orgânicos voláteis (VOC). não é inflamável e não
contém solventes aromáticos que emanam vapores tóxicos.
Indicação ➭ Cupinicida formulado para tratamento de solo que possui alto poder
residual. Utilizado para tratamento contra cupins subterrâneos.
Recomendado para tratamento ao redor de peças de madeira
engastada no solo, postes e colunas ou para uso em construções.
Tem como objetivo formar barreira de proteção contra o ataque de
cupins subterrâneos
Fabricante ➭ Montana Química S.A.

PENTOXIN®

Descrição ➭ Preservante oleossolúvel de ação fungicida e inseticida. É de


consistência líquida e incolor. Possui organoclorados como
inseticidas, compostos orgânicos de estanho como fungicidas,
adicionados de resinas plásticas e fixadoras, que conferem à

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


52

madeira tratada repelência à água, o que melhora a sua estabilidade


dimensional. Tais resinas também evitam o afloramento do
preservante, assegurando maior durabilidade do tratamento.
Indicação ➭ Indicado para uso industrial, fornecido pronto para uso. destina-se ao
tratamento de madeira seca (teor de umidade abaixo de 30%)
previamente trabalhada (usinada), que não ficará em contato com o
solo ou água e a pelo menos 50 cm acima destes. Possui um longo
poder residual, proporcionando à madeira tratada, ampla proteção
contra ataque de insetos xilófagos (cupins e brocas) e contra o
ataque de fungos apodrecedores, manchadores e emboloradores.
Ideal para aplicação em casas pré-fabricadas, móveis, portas,
janelas, compensados, embalagens, páletes, divisórias, forros,
carrocerias, estruturas de telhado, etc. Aplicado por banho de
imersão ou pincelamento.
Fabricante ➭ Montana Química S.A.

OSMOCOBRE AG-802 – MICRONIZADO®

Descrição ➭ Fungicida de baixa toxidez, de consistência líquida. Mistura à base


de quelato de cobre e compostos correlatos de boro. Seu pH é
alcalino e não provoca corrosão em ligas de metais ferrosos.
Eficiente fungicida para tratamentos profiláticos, tanto para que
executa o tratamento quanto para que irá utilizar a madeira tratada.
O quelato de cobre muito conhecido e utilizado como biocida
eficiente. Além disso, produtos à base de quelato de cobre são
pouca agressivos ao meio.
Indicação ➭ Para o pré-tratamento de madeira verde recém cortada. Protege
contra fungos manchadores e emboloradores. recomendado para
tratamento de madeiras para exportação por não haver restrições ao
seu uso nos países importadores. Aplicado por imersão simples.
Fabricante ➭ Montana Química S.A.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


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OSMOSE TC-20®

Descrição ➭ Inseticida concentrado emulsionável, contendo 22,4% de


ingredientes ativos. Líquido de coloração castanho claro com
densidade de 0,953 g/cm3 a 20 oC. Solúvel em solventes alifáticos e
aromáticos de petróleo. Fabricado com inseticida organofosforado de
baixa toxidez ao homem.
Indicação ➭ Indicado para tratamento inseticida de solo contra cupins
subterrâneos. formulado para tratamento de solo que possui alto
poder residual. Recomendado para tratamento ao redor de peças de
madeira engastadas no solo, postes e colunas ou para o uso em
construções, com o objetivo de formar uma barreira de proteção
contra o ataque de cupins subterrâneos.
Fabricante ➭ Montana Química S.A.

OSMOSE CCB®

Descrição ➭ Preservante hidrossolúvel de ação fungicida e inseticida,


apresentado na forma de pasta contendo 50% de ingredientes
ativos. classificado quimicamente como borato de cobre cromatado.
Não contém compostos eletrolíticos fortes, não aumentando a
condutividade elétrica da madeira tratada nem a sua corrosividade a
metais. Por se formulado com compostos óxidos, reage fixando-se
na estrutura celular da madeira, formando compostos de baixa
solubilidade.
Indicação ➭ Protege a madeira contra insetos xilófagos (cupins e brocas) e
fungos apodrecedores, manchadores e emboloradores. indicado
para madeiras que serão utilizadas em treliças, embalagens,
carretéis para cabos e fios, construções industriais, comerciais e
rurais e outros sem contato direto com o solo ou água.
Fabricante ➭ Montana Química S.A.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


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OSMOSE L-20 – COM BAIXO V.O.C.®

Descrição ➭ Inseticida, concentrado emulsionável de consistência líquida.


Produto à base de organoclorados. Contém baixo teor de compostos
orgânicos voláteis (V.O.C.). Protege a madeira contra insetos
xilófagos (cupins e brocas).
Indicação ➭ Para o tratamento inseticida na linha de cola de compensados e
tratamento profilático de madeira verde ou toras recém cortadas. No
tratamento de compensados age formando uma barreira inseticida
na linha de colagem e apresenta boa compatibilidade com as resinas
utilizadas. Não contém solventes aromáticos, os quais atacam a
borracha do rolo aplicador de cola e não emanam vapores tóxicos
prejudiciais à saúde dos operadores.
Fabricante ➭ Montana Química S.A.

OSMOCREO®

Descrição ➭ Fungicida e inseticida de consistência pastosa, pronto para uso.


Produto altamente concentrado e, quando aplicado em peças
instaladas, reage eficazmente, paralisando e/ou prevenindo o
apodrecimento e o ataque de insetos. Composto por duas categorias
de preservantes que agem nas seguintes condições: fase oleosa ➭
contém preservantes oleossolúveis que proporcionam melhor
proteção quando a madeira está seca; fase sólida ➭ preservantes
hidrossolúveis em suspensão na fase oleosa que penetrarão na
madeira quando esta estiver úmida, assegurando a efetividade no
tratamento.
Indicação ➭ Tratamento preventivo ou curativo. Aplicado na zona de afloramento
de peças engastadas no solo como postes, estacas, moirões. esta
região é a mais suscetível ao ataque de fungos apodrecedores e
insetos, em função das boas condições de umidade, temperatura e
oxigênio. A zona de afloramento compreende 50 cm abaixo até 10
cm acima da linha do solo. Aplicado também em furações e entalhes
de postes, cruzetas, vigas, travessas, sob a placa de apoio e nas

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


55

furações de dormentes, encaixes de estruturas aéreas, que expõem


a região interna da madeira.
Fabricante ➭ Montana Química S.A.

OSMOSE K-33 C©

Descrição ➭ Preservante de ação inseticida e fungicida, classificado como


arseniato de cobre cromatado (CCA) do tipo C. Produto
hidrossolúvel de consistência pastosa e coloração castanho
avermelhado. Protege a madeira contra o ataque de fungos, insetos
e brocas marinhas. Mesmo sendo hidrossolúvel, não é lixiviável após
a aplicação, pois a reação química do produto com os polímeros da
madeira resulta em compostos insolúveis, os quais ficam retidos nas
fibras, garantindo longo efeito residual. Confere à madeira tratada
maior segurança na sua utilização pois não deixa resíduos em sua
superfície, não exala vapores e nem odores. Mantém inalterada a
condutividade elétrica da madeira, fator de grande importância em
postes para redes de energia elétrica e dormentes de ferrovias. Não
altera a combustibilidade da madeira, bem como não aumenta a
corrosividade a metais. Os acabamentos de superfície aplicados na
madeira tratada apresentam uma durabilidade comprovadamente
maior que os aplicados em madeiras não tratadas.
Indicação ➭ Indicado exclusivamente para o tratamento de madeiras roliças,
serradas, compensados, etc. em seus vários usos como construção
civil, setor rural, setor marítimo fluvial, setor de transportes, setor de
eletricidade e telefonia, indústrias e outros. Porém, este produto é
indicado somente para tratamento de madeiras em processo
industriais nas usinas de preservação de madeiras.
Fabricante ➭ Montana Química S.A.

MENTOX 400

Descrição ➭ Produto inseticida hidrossolúvel altamente concentrado, com normas


específicas para tratamento de madeiras e para mistura com a cola

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


56

de compensados. Produto organoclorado, tóxico ao homem. Atua


por contato ou ingestão, exterminando cupins e brocas. é um
isômero gama do 1,2,3,4,5,6 – hexaclorociclohexano (C6H6Cl6). A
concentração do ingrediente ativo Lindane é de 400 g/Kg e das
demais substâncias inertes é de 600 g/Kg.
Indicação ➭ Utilizado para proteger madeiras compensadas, serradas,
construções (forros, assoalhos, rodapés, pé direito), móveis e outros
produtos de madeira. Quando aplicado em madeira compensada é
misturado à cola na quantidade de 0,5 a 1,0 Kg em cada 100 Kg de
cola. Para tratamento em madeira serrada, é aplicado por
pulverização na dosagem de 10 a 25 g por m2.
Fabricante ➭ Indústria Química Mentox Ltda.

TBP 90

Descrição ➭ Preservante hidrossolúvel de coloração castanho escuro, límpido e


translúcido. A concentração do princípio ativo é de 38% e o pH é de
9,5 a 10,5, com densidade de 1,25 a 1,29 g/m3. Estável em meio
alcalino e pouco volátil. Tem como princípio ativo o tribromofenato de
sódio, com ação bactericida e fungicida. Devido a alta concentração
de bromo aromático é um produto retardante do fogo.
Indicação ➭ Indicado para tratamento de madeiras contra fungos e bactérias,
tratamento de fibras destinadas à indústria têxtil e fungicida para
couro.
Fabricante ➭ Indústria Química Mentox Ltda.

MENDANE 200

Descrição ➭ Produto hidrossolúvel de ação inseticida. Atua por contato ou


ingestão, exterminando cupins e brocas. É um isômero gama do
1,2,3,4,5,6-hexaclorociclohexano (C6H6Cl6). A concentração do
ingrediente ativo (Lindane) é de 200 g/l e das demais substâncias
inertes é de 800 g/l.
Indicação ➭ Utilizado para o tratamento de madeira compensada, misturando-se

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


57

de 0,5 a 1,0l para coníferas e 1,0 a 2,0l para folhosas em cada 100
Kg de cola. O tratamento de madeira serrada se dá por imersão,
misturando-se 1,5 a 3,0l para coníferas e 2,0 a 4,0l para folhosas em
cada 100l de água. Para o tratamento de produtos de madeira e
madeira bruta, utiliza-se a imersão ou pulverização, misturando-se
de 1,0 a 2,0l para coníferas e de 2,0 a 4,0l para folhosas em cada
100l de água.
Fabricante ➭ Indústria Química Mentox Ltda.

JIMO CUPIM CONCENTRADO

Descrição ➭ Concentrado oleossolúvel à base de repelentes de água e produtos


fungicidas, bactericidas e inseticidas. Tóxico a insetos (cupins e
brocas), evita o aparecimento de mofo, manchas, fungos
apodrecedores, inchamento, rachaduras nas pontas e
empenamento. Líquido de cor castanho claro, insolúvel em água e
miscível em praticamente todos os solventes derivados de petróleo,
composto por 4,08% de clorpirifós, 25% de tribromofenol e solvente
até completar 100%. Produto estável em condições normais. Deve-
se evitar o contato com oxidantes fortes e ácidos. densidade de 0,89
a 1,05 g/cm3. Diluído na concentração de 10%, ou seja, 10l do
produto mais 90l de solvente ou mistura de solventes. A escolha do
solvente depende do uso da madeira. Os solventes indicados são
aguarrás (mineral ou vegetal), querosene, óleo Diesel, BPF, OC-4,
óleo queimado ou a mistura destes solventes. Aplicado por
pincelamento, pulverização ou imersão, em madeira seca ou com
teor máximo de umidade de 25%. Aumenta a vida útil da madeira em
geral, de 3 a 5 vezes.
Indicação ➭ recomendado para aplicação em móveis, assoalhos, parquetes,
portas, janelas e todo o madeiramento usado em construções como
também para postes, moirões, estacas, cercados, galpões e todas
as demais partes de madeira nas propriedades rurais.
Fabricante ➭ Jimo Química Industrial Ltda.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


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CUPINICIDA JIMO EM

Descrição ➭ Produto organoclorado hidrossolúvel, líquido de coloração castanho


claro. Tem densidade de 0,90 a 0,94 g/cm3, composto por 10% de
isômero gama 1,2,3,4,5,6-hexaclorociclohexano (Lindane), 3,25% de
emulsionante e solvente q.s.p. até 100%. Especialmente indicado
para o tratamento contra todos os insetos que atacam a madeira.
Indicação ➭ Para o tratamento de madeira recém serrada, atuando por troca
osmótica, tratamento de madeira seca, atuando por capilaridade;
imunização de chapas de fibras ou aglomerados e nas misturas de
colas na indústria madeireira. Aplicado na concentração de 1 a 2%
(1 a 2l do produto para 98 a 99l de água). A aplicação por imersão é
a mais efetiva e econômica em função da pouca perda por derrame.
Após a aplicação, a madeira deve permanecer empacotada, sendo o
tempo ideal de 24 horas.
Fabricante ➭ Jimo Química Industrial Ltda.

JIMO CUPIM EM PÓ

Descrição ➭ Inseticida organoclorado, tóxico por ingestão contato ou inalação.


Específico para controle de insetos xilófagos. Apresentado na forma
de pó. Composto de 10% de isômero gama 1,2,3,4,5,6-
hexaclorociclohexano (Lindane), 1,5% de dietileno glicol e inerte
q.s.p. até 100%. Insolúvel em água e parcialmente solúvel em
solventes derivados de petróleo. estável em condições normais,
devendo-se evitar o contato com oxidantes fortes e ácidos.
Incompatível com meio alcalino. deve ser usado misturado às colas
de móveis, compensados, laminados, aglomerados e nas demais
indústrias madeireiras. Deve ser incorporado às colas no batedor.
Indicação ➭ Preservante específico para ser usado incorporado nas colas
utilizadas na indústria madeireira. Deve ser utilizado na
concentração de 1 a 2% (1 a 2 Kg de produto para cada 98 ou 99 Kg
de cola pronta.
Fabricante ➭ Jimo Química Industrial Ltda.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


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JIMO ANTIMOFO LÍQUIDO

Descrição ➭ Produto organoclorado hidrossolúvel, usado para tratamento de


madeira verde ou seca contra bolores e manchas. Composto por
31,23% de pentaclorofenato de sódio, 3% de bórax, 0,66% de
tensoativos, 0,028% de corante e água q.s.p. até 100%. É um líquido
de coloração castanho e odor fenólico. Estável sob condições
normais, devendo-se evitar o contato como oxidantes fortes e
ácidos. Tem densidade de 1,20 a 1,23 g/cm3 e pH de 11,0 a 12,5.
Classificado como extremamente tóxico.
Indicação ➭ Tratamento de toras e madeiras serradas. No caso das toras, estas
devem ser tratadas num período de tempo não superior a 24 horas
após a derrubada da árvore, a uma concentração de 5%. A
aplicação pode ser feita por pulverização. No caso de madeira
serrada, as peças devem ser banhadas na solução com
concentração de 2 a 4%, dependendo do tipo de madeira e
condições climáticas da região, por um período não inferior a 30
segundos. Após o tratamento, as peças devem permanecer
empacotadas por um período de 24 horas.
Fabricante ➭ Jimo Química Industrial Ltda.

JIMO ANTIMOFO PCP

Descrição ➭ Produto organoclorado hidrossolúvel utilizado para o tratamento de


madeira verde contra mofo e manchas. Composto de 22,5% de
pentaclorofenato de sódio, 3% de bórax, 0,66% de tensoativos,
0,028% de corante e água q.s.p. até 100%. Líquido de coloração
castanho e odor fenólico, com densidade de 1,10 a 1,23 g/cm3, pH
de 11,0 a 12,5, estável sob condições normais, evitando-se o contato
com oxidantes fortes e ácidos. Classificado como extremamente
tóxico.
Indicação ➭ Tratamento de toras e madeiras serradas. No caso das toras, estas
devem ser tratadas num período de tempo não superior a 24 horas
após a derrubada da árvore, a uma concentração de 5%. A

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


60

aplicação pode ser feita por pulverização. No caso de madeira


serrada, as peças devem ser banhadas na solução com
concentração de 2 a 4%, dependendo do tipo de madeira e
condições climáticas da região, por um período não inferior a 30
segundos. Após o tratamento, as peças devem permanecer
empacotadas por um período de 24 horas.
Fabricante ➭ Jimo Química Industrial Ltda.

JIMO TBF CONCENTRADO

Descrição ➭ Fungicida hidrossolúvel indicado para o tratamento de madeira verde.


composto por 39,469% de tribromofenato de sódio, 0,185% de fenol
e água q.s.p. até 100%. Líquido de cor âmbar, estável em meio
neutro e alcalino, com densidade de 1,20 a 1,30 g/cm3 e pH entre
10,5 e 12. O bromo orgânico tem ação inibidora sobre os fungos
manchadores e os fungos causadores de podridões mole e parda. O
bromo orgânico na forma aromática tem ação bactericida, retardante
de chama e bom potencial inseticida.
Indicação ➭ Utilizado para tratamento de madeira recém cortada e toras. É
misturado na concentração de 4 a 5% (4 a 5 partes do produto para
95 ou 96l de água). A maior dosagem é indicada para tratamento de
madeiras menos nobres ou épocas de tempo quente e úmido. Deve
ser aplicado imediatamente após a madeira ser desdobrada, por
imersão por um tempo mínimo de 30 segundos. Após o tratamento, a
madeira deve ser empacotada por 24 horas. No caso de toras, as
partes descascadas e os topos devem ser tratados com uma solução
a 5%, logo após a derrubada da árvore.
Fabricante ➭ Jimo Química Industrial Ltda.

CUPINOX

Descrição ➭ Inseticida hidrossolúvel organofosforado, contendo


emulsionante e solvente alifático.
Indicação ➭ Desenvolvido principalmente para o controle de cupins

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


61

subterrâneos. É aplicado nas estruturas prontas, como paredes


externas da construção e locais que possam servir de vias de
acesso aos cupins, como fundações, tubulações da rede
hidráulica e elétrica, caixões perdidos, porões, etc. Neste caso,
é aplicado na concentração de 2,5%. Pode ser usado também
no controle de cupins, brocas e carunchos em toras e madeira
serrada na forma de emulsão na concentração de 1 a 2%. O
tratamento é feito por imersão, sendo feito logo após a
derrubada da árvore ou desdobro da tora, por um período de 1
minuto. Pode ser utilizado também para o tratamento de cupins
e brocas em madeira seca, diluído a 2% em querosene. Neste
caso, a aplicação pode ser feita por imersão, pincelamento ou
pulverização. No caso do controle de cupins e brocas em
compensados, laminados e afins, pode ser misturado às colas
utilizadas na indústria de móveis, compensados, laminados e
demais indústrias madeireiras. Também no controle de formigas
cortadeiras é utilizado na concentração de 2%.
Fabricante ➭ Jimo Química Industrial Ltda.

JIMO TBF EXPORT 64

Descrição ➭ Preservante hidrossolúvel com ação eficaz contra fungos.


Solução aquosa concentrada, contendo aproximadamente 64%
de sal de sódio do 2,4,6-tribromofenol de coloração âmbar.
Utilizado para tratamento de madeira verde. É estável em meio
neutro ou alcalino, com densidade aproximada de 1,4 g/cm3. O
bromo orgânico tem ação inibidora sobre fungos manchadores,
podridão mole e podridão parda. Além disso, é um excelente
bactericida, é retardante de chama e com bom potencial
inseticida.
Indicação ➭ Tratamento de toras e madeiras serradas. No caso das toras,
estas devem ser tratadas num período de tempo não superior a
24 horas após a derrubada da árvore, a uma concentração de
5%. A aplicação pode ser feita por pulverização. No caso de

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


62

madeira serrada, as peças devem ser banhadas na solução


com concentração de 2 a 4%, dependendo do tipo de madeira e
condições climáticas da região, por um período não inferior a 30
segundos. Após o tratamento, as peças devem permanecer
empacotadas por um período de 24 horas.
Fabricante ➭ Jimo Química Industrial Ltda.

7.7 FATORES QUE INFLUENCIAM NA EFICIÊNCIA DOS PRESERVANTES


DE MADEIRA

7.7.1. Introdução

Chama-se de preservante de madeiras toda substância que tenha a


capacidade de tornar tóxico as paredes celulares e nutrientes que nelas ocorrerem.
Desta forma, a madeira deixa de ser suscetível ao ataque dos organismos
biodegradadores, principalmente os fungos e insetos. Existem preservantes mais e
menos eficientes e, para que o mesmo seja considerado um bom preservante, são
necessárias algumas condições, vistas a seguir:
✵ Alta toxidez
✵ Não ser volátil nem lixiviável
✵ Não se decompor nem se alterar
✵ Ter alta permanência na madeira
✵ Não ser corrosivo a metais
✵ Não ser inflamável
✵ Não afetar as propriedades físicas e mecânicas da madeira
✵ Não alterar a cor da madeira
✵ Deve ser inodoro
✵ Não ser tóxico ao homem e animais domésticos
✵ Ter baixo custo
✵ Ser de fácil aquisição
Dificilmente se encontra um preservante que reúna todas estas
características. Portanto, para cada madeira e para cada situação de uso, deve-se

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


63

procurar o preservante que possua as características mais desejáveis. Os


preservantes são classificados em oleosos, oleossolúveis e hidrossolúveis.
As madeiras devidamente tratadas com produtos preservantes têm a
sua vida média aumentada várias vezes. Porém, existem inúmeros fatores que
podem diminuir a eficiência do preservante, os quais devem ser considerados para
que se possa ter o melhor desempenho possível da madeira tratada.

7.7.2. Efeito do tratamento

Para cada tipo de tratamento preservante, existem especificações


próprias, as quais devem ser seguidas rigorosamente para que o sucesso seja
alcançado. Deve-se levar em conta o tipo de preservante utilizado e a espécie de
madeira que se deseja tratar. Quanto se tem um tratamento ineficiente, tem-se
também um resultado de penetração e retenção inadequada do preservante
utilizado. Desta forma a capacidade da madeira tratada resistir à ação de
organismos xilófagos torna-se bastante limitada.
Um fator importante para que o tratamento preservante tenha efeito
está relacionado com a sua penetração, a qual pode ser dificultada por diversos
fatores como: umidade da madeira, presença de pontuações aspiradas, presença de
resinas, quantidade de alburno, pureza da solução preservante, entre outros.
Uma vez que haja boa penetração do produto, a retenção do mesmo
será influenciada pela concentração da solução utilizada. Desta forma, é muito
importante especificar a retenção mínima que a madeira deve apresentar, a qual é
expressa em Kg de preservante por m3 de madeira. A retenção mínima especificada
deve levar em consideração o caráter físico do preservante, o ponto de inibição do
preservante, o seu gradiente de distribuição na madeira, a severidade do ambiente
onde será utilizada a madeira, a vida média que se espera da madeira e o grau de
deterioração do preservante.

7.7.3. Efeito das propriedades físicas e químicas do preservante

A permanência de um preservante na madeira está associada às leis


que regem a difusão de líquidos em materiais e a interação entre soluto e solvente.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


64

Portanto, várias características irão afetar o comportamento da solução preservante


no interior da madeira como: volatilidade, migração, exudação, variação,
solubilidade, viscosidade, etc.

7.7.4 Alterações sofridas pelos preservantes

Quanto mais estável for um produto preservante, por mais tempo


estará protegida a madeira tratada pelo mesmo. este estabilidade depende da
resistência à ação de agentes físicos, químicos e biológicos. A temperatura, a luz
ultra-violeta e substâncias químicas, além da ação de fungos e bactérias, podem
provocar a deterioração do preservante. Algumas bactérias e fungos de podridão
mole são capazes de deteriorar o próprio creosoto. Pseudomonas creosotensis
metaboliza alguns componentes do creosoto e algumas culturas mistas de bactérias
podem metabolizar todo o creosoto. Os hidrocarbonetos aromáticos naftaleno e
antraceno, principais componentes do creosoto são assimilados por um grande
número de bactérias.
O pentaclorofenol pode ser biodeteriorado por enzimas como lactase,
tirosinase e peroxidase, produzidas por fungos. O fungo embolorador Trichoderma
viridae pode deteriorar o PCP em pequena concentração. Bactérias dos gêneros
Alcaligines e Pseudomonas também têm a capacidade de deteriorar o PCP. Outra
bactéria, denominada KC-3 é capaz de utilizar o PCP como única fonte de carbono.
Os preservantes hidrossolúveis também estão à mercê de vários
organismos deterioradores. Os fungos apodrecedores da madeira Merulius
lacrymans, Poria monticula e Poria vaillantii, transformam o sulfato de cobre em
oxalato de cobre. Outros fungos da podridão mole, Phoma sp. e Graphium sp.
deterioram o arsênio.

7.8 DETERMINAÇÃO DA EFICIÊNCIA DOS PRESERVANTES DE MADEIRA

Qualquer preservante de madeiras, antes que seja utilizado em escala


comercial deve ter sua eficiência comprovada. É necessário que se verifique se sua
formulação não apresenta compostos que na concentração utilizada, podem
provocar problemas de saúde ou de intoxicação às pessoas que irão manusear tal

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


65

produto. Após esta etapa, faz a verificação da toxidez do produto a organismos


xilófagos, o seu grau de fixação na madeira, etc.
Para se avaliar o grau de toxidez de um preservante a organismos
xilófagos existem quatro tipos de testes:
✵ Teste rápido
✵ Teste acelerado
✵ Teste em campo
✵ Teste em serviço

7.8.1 Teste rápido

A finalidade principal deste teste é informar em poucos dias o grau de


toxidez de um determinado preservante a organismos xilófagos. A toxidez a fungos é
determinada através de testes que permitem encontrar qual a quantidade inibidora.
Para isto, prepara-se diferentes concentrações do preservante e incorpora-se cada
solução preparada a meios de cultura. Inocula-se um determinado fungo em meios
de cultura contendo a solução preservante. Deixa-se em incubação por 10 dias.
A solução em menor concentração que inibir o fungo ➭ ponto de
inibição. A partir daí, calcula-se a quantidade em Kg do preservante por Kg ou
volume do meio de cultura para o ponto de inibição. Este valor, mesmo se tratando
de uma situação artificial, fornece uma boa idéia da viabilidade do uso do produto.
Caso seja obtido um valor muito grande de concentração do produto para inibir o
desenvolvimento de um fungo e dependendo do preço e da disponibilidade da
substância ativa, seu uso pode ser descartado. Por outro lado se for verificado que
baixas concentrações da substância ativa inibem o desenvolvimento de fungos,
passa-se para o teste acelerado.

7.8.2 Teste acelerado

Neste teste a impregnação é realizada diretamente na madeira.


Existem fungos que possuem determinadas enzimas as quais são estimuladas
somente na presença do substrato. Portanto, o desenvolvimento de um fungo em um
meio contendo ágar e extrato de malte, não dispõe de determinadas substâncias

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


66

existentes na madeira. Desta forma, o comportamento do fungo poderá ser diferente


do esperado na madeira.
Por outro lado, o preservante inibe o desenvolvimento de fungos
através das seguintes formas:
✵ Penetra no interior da hifa e interfere nas funções vitais causando a
morte do fungo
✵ Inibe a produção de enzimas
✵ Inativa a ação de enzimas
Nos dois últimos casos, a ausência de fonte alternativa de nutrientes
provoca a morte do fungo. Desta maneira, se o preservante testado agir inibindo a
produção de enzimas extracelulares ou inativando as que são produzidas, o meio de
cultura que contenha agar e extrato de malte poderá apresentar resultados
inadequados. O fungo pode desenvolver-se em função da difusão de nutrientes do
meio para o interior da hifa.
O teste de apodrecimento acelerado consiste na impregnação de
pequenos blocos de madeira com diferentes concentrações. Logo após, os blocos
são expostos à ação de fungos apodrecedores, em condições de temperatura e
umidade controladas. Geralmente impregna-se duas séries de corpos de prova para
cada concentração. Após a impregnação uma das séries é lixiviada. Este
procedimento fornece elementos sobre o grau de fixação do preservante na madeira
e consiste em submeter os corpos de prova tratados com o preservante à ação de
água corrente por algumas horas. A água extrai o preservante da madeira, caso
este não apresente bom grau de fixação.
Os testes acelerados podem ser utilizados também para avaliar a
eficiência contra insetos.

7.8.3 Teste em campo

O teste acelerado fornece informações mais precisas que o teste


rápido. Porém, trata-se ainda de uma condição artificial, pois por um lado o fungo
este exposto a condições ótimas de desenvolvimento e por outro lado, o preservante
não está sujeito a interferências de diversos agentes físicos ou químicos do meio
ambiente. Além destes dois fatores, os corpos de prova são de dimensões

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


67

reduzidas, o que pode interferir nos parâmetros de penetração e retenção do


produto e no processo de colonização da madeira pelo fungo. Portanto, o
preservante aprovado no teste acelerado é submetido a um teste mais amplo.
Este teste deve envolver um maior número possível de influências do
meio e só pode ser obtido no teste de campo. Desta forma, pode-se testar o
preservante em contato com o solo, utilizando-se estacas, moirões ou postes. Pode-
se testar o preservante em contato com a água, utilizando-se madeira no formato de
placas, estacas, blocos, etc.
Neste teste, trata-se a madeira com várias retenções do preservante e
implanta-se em áreas adequadas. Quando a madeira é colocada em contato com o
solo, a área de instalação é denominada de campo de apodrecimento.
Instalado o experimento, são efetuadas inspeções periódicas com
avaliação criteriosa de cada tratamento. Desta forma, o teste em campo pode durar
vários anos.

7.8.4 Teste em serviço

O teste em serviço é uma forma mais perfeita de se avaliar um


preservante do que o teste em campo. Neste teste, trata-se a madeira e coloca-se
em condições reais de uso, fazendo-se inspeções periódicas para avaliação de
desempenho. A vantagem deste teste é a de se expor a madeira sob todas as
influências reais a que ela está sujeita.
Um poste num ensaio de campo é apenas madeira roliça, sem as
furacões necessárias, cruzetas, fios, etc. Na prática, este mesmo poste apresenta
todas estas características. Sua vida útil dependente das condições de uso. Em
condições drásticas, bem preservado, deve durar pelo menos 15 anos. Em
condições normais, geralmente dura acima de 25 anos. A vida útil ainda pode ser
prolongada desde que se detecte a deterioração logo no início.
A escolha da amostragem deve levar em conta o tamanho do lote, a
distribuição geográfica dos postes, o ano de instalação, etc.
Num poste instalado em uma área mais sujeita a deterioração, a região
entre 20 cm acima e 30 cm abaixo da linha de afloramento deve ser inspecionada
com maior rigor. Inicialmente, cava-se ao redor do poste até cerca de 50 cm de

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


68

profundidade. Em seguida, examina-se seu estado. O exame pode ser visual, com
instrumento de percussão, com trado de incremento, com radiografia, com ultra-som
ou com medidor de corrente elétrica.

❶ Inspeção visual

Quando um poste apresentar sua superfície amolecida, este é um forte


sinal de apodrecimento por ataque de fungos. A presença de orifícios e/ou galerias
indica ataque de insetos.

❷ Instrumento de percussão

Quando a inspeção visual não apresentar nenhum sinal de ataque


aparente, utiliza-se ➭ instrumento de percussão com o intuito de se detectar sinais
de ataque interno. Para tal, pode-se utilizar um martelo. Se a batida resultar em um
som claro e característico, o poste encontra-se em bom estado. Um som surdo
indica deterioração. Neste tipo de inspeção, deve-se tomar certo cuidado, pois
umidade em excesso e fendas no poste podem resultar num surdo, sem que o poste
apresente deterioração.

❸ Trado de incremento

Esta técnica é útil para a retirada de amostras do poste. Tais amostras


poderão ser examinadas em microscópio para a detecção de fungos ou uma análise
química para a verificação da retenção do preservante. Também permite acesso ao
interior da madeira para detecção de ataque.

❹ Radiografia

Neste teste, pode-se utilizar um equipamento portátil de radiografia.


Radiografias de madeira sadia demonstram uma estrutura claramente definida e
densidade ótica relativamente uniforme. Radiografia de madeira deteriorada
apresenta uma densidade ótica não definida e perda da estrutura da madeira.

❺ Ultra-som

Quando há apodrecimento ou presença de galerias no interior da


madeira, ocorre alteração na transmissão do som na madeira.

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69

❻ Medidor de corrente elétrica

Com o apodrecimento da madeira, ocorre um aumento na


concentração de cátions móveis. Em consequência disto, há uma diminuição da
resistência elétrica da madeira. Pode ser utilizado na avaliação do grau de
apodrecimento da madeira.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


70

8. MÉTODOS DE TRATAMENTOS PRESERVANTES DE MADEIRAS

A maioria dos produtos derivados da madeira necessita de tratamento


preservante. Muitas vezes, a madeira pode ser tratada com eficiência e baixo custo.
Outras espécies são extremamente resistentes à impregnação, tornando uma
operação muitas vezes difícil e cara. Basicamente, os métodos de tratamento
preservante são divididos em duas categorias:
✵ Métodos sem pressão
✵ Métodos com pressão

8.1 MÉTODOS SEM PRESSÃO

8.1.1 Fumigação ou expurgo

Na maioria das vezes, este método é usado para tratamentos


curativos, pois a substância preservante é utilizada na fase gasosa, não tendo efeito
residual. Este método é utilizado para eliminar insetos de madeiras que não podem
ser tratadas por outros métodos com peças ornamentais, móveis raros e outros, sem
causar danos ao revestimento e aparência.

➭ Procedimento:

❶ Cobre-se a peça com lona plástica, vedando-a completamente.


❷ Libera-se o gás, o qual fica retido no interior da lona, penetra na
madeira e elimina os insetos. Os gases utilizados são fosfina ou brometo de metila
(Figura 21).
FIGURA 21. TRATAMENTO PRESERVANTE DA MADEIRA PELO MÉTODO DE
FUMIGAÇÃO OU EXPURGO.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


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8.1.2 Pincelamento e pulverização

Consistem na aplicação do preservante com pincel ou pulverizador


(Figura 22).
Os preservantes preferidos são os oleossolúveis por apresentarem
maior fixação e serem mais resistentes à lixiviação. Tanto através do pincelamento
como da pulverização, a penetração é muito superficial, pois uma pequena parte do
preservante penetra por capilaridade. A única diferença entre os dois métodos é que
a pulverização é utilizada para peças já montadas, que contenham partes difíceis de
serem atingidas pelo pincel. Porém, a pulverização tem maiores problemas quando à
inalação e/ou absorção do produto preservante pelo aplicador, requerendo um maior
cuidado com EPIs, exigindo o uso de máscara e devendo ser utilizada somente em
lugares abertos e ventilados.
Em função da baixa penetração, os pontos da peça tratada que
apresentarem fendas ou rachaduras estarão sujeitos à contaminação. Portanto,
estes dois métodos são indicados para tratar madeira que será utilizada em locais
que estejam sujeitos a um abaixa incidência de organismos xilófagos.

FIGURA 22. TRATAMENTO PRESERVANTE DA MADEIRA PELOS


MÉTODOS DE PINCELAMENTO E PULVERIZAÇÃO. FONTES:
ACTION, QUÍMICA S.A.; PULVERIZAÇÃO DE MOIRÕES –
MENDES & ALVES (1988).

Pulverização de moirões

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8.1.3 Imersão simples

Este método é aplicado para madeira estrutural. Consiste na imersão


curta da madeira, por alguns minutos ou segundos, na solução preservante (Figura
23). É um tratamento um pouco mais caro que o pincelamento e pulverização. Sua
vantagem é a de que o preservante penetra melhor nas rachaduras ou outras
aberturas.
Pode ser aplicado para o tratamento de madeiras destinadas à
fabricação de móveis, janelas e portas, pois o preservante é límpido, não causa
inchamento e permite pintura. Utilizado também para o tratamento contra fungos em
madeira recém serrada.

8.1.4 Imersão a longo prazo

Este método consiste na imersão da madeira por alguns dias ou


semanas, dependendo da espécie e dimensões. A absorção mais rápida se dá nos
dois ou três primeiros dias. Para este método, recomenda-se um período de uma
semana a dez dias.
FIGURA 23. TRATAMENTO PRESERVANTE DA MADEIRA PELO MÉTODO DE
IMERSÃO SIMPLES. FONTES: ACTION QUÍMICA S.A. E
INDÚSTRIAS LANGER LTDA.

Tanque de imersão

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


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8.1.5 Banho quente/frio

Este método é dividido em duas etapas. Na primeira, se dá a imersão


da madeira na solução preservante pré aquecida a uma temperatura de 90 a 110 0C
por um período de até 6 horas, aproximadamente quando a madeira entra em
equilíbrio térmico com a solução. Logo após, a madeira é retirada e colocada na
mesma solução à temperatura ambiente por no mínimo duas horas (Figura 24).
A temperatura provoca a evaporação da água da superfície da peça e
expulsão parcial do ar que se encontra no interior das células. A mudança brusca de
temperatura provoca um vácuo parcial associado com a pressão atmosférica,
forçando o preservante a penetrar no interior da peça de madeira. Este
procedimento proporciona uma maior retenção com uma penetração mais profunda
mais uniforme do produto.
Obtém-se melhor resultado com dois tanques. Porém, pode-se deixar o
material esfriar no mesmo tanque. O aquecimento se dá por resistência elétrica,
lenha, carvão, etc. É um processo de baixo custo de investimento em relação aos
resultados alcançados.

FIGURA 24. TRATAMENTO PRESERVANTE DA MADEIRA PELO MÉTODO


BANHO QUENTE/FRIO. FONTE: MENDES & ALVES (1988).

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


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8.1.6 Difusão

Consiste na imersão total das peças de madeira ainda no estado verde


em soluções hidrossolúveis. A diferença entre as concentrações da solução e da
seiva, provoca a migração íons da solução para o interior da madeira até o
estabelecimento de um equilíbrio das concentrações dentro e fora da madeira.
Para a utilização deste método, a madeira deve estar com teor de
umidade elevado, pois estando seca, ocorrem bolhas de ar no interior dos capilares,
os quais impedem o movimento capilar. Após o banho, as peças são colocadas na
sombra a fim de que ocorra uma distribuição homogênea do preservante no interior
da madeira. Deve-se evitar a secagem, pois esta provoca a migração dos íons do
preservante pelo meio líquido. o período de armazenamento e em torno de 4 meses
para que ocorra a perfeita fixação do preservante.

8.1.7 Difusão dupla

Este método consiste no tratamento por difusão com dois diferentes


compostos.
Inicialmente, mantém-se a madeira a ser tratada submersa em uma
substância por alguns dias e depois de lavada coloca-se a mesma em uma outra
solução preservativa. A segunda solução penetra na madeira e reage com a
primeira, formando um produto tóxico, insolúvel e altamente resistente à lixiviação.
Como há reação, é necessário que se lave as peças em tratamento para que as
soluções não reajam na superfície da madeira, dificultando ou até impedindo a
penetração da segunda solução.
Como exemplo deste método pode-se citar o tratamento por difusão
dupla com sulfato de cobre e cromato de sódio. Inicialmente, a madeira verde é
imersa numa solução contendo sulfato de cobre e posteriormente, em outra solução
contendo cromato de sódio. Com a difusão do cromato de sódio na madeira já
impregnada com sulfato de cobre, ocorre uma reação originando um terceiro
produto, o cromato de cobre que é insolúvel em água.
Os passos a serem seguidos no tratamento com difusão dupla com
soluções de fluoreto de sódio e sulfato de cobre são os seguintes:
❶ Remoção da casca;

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


75

❷ Mergulhar a madeira em solução de fluoreto de sódio a 1% de


concentração por 1 dia;
❸ Remover do banho e enxaguar
❹ Mergulhar em CuSO4 a 10% de concentração por 1 dia;
❺ Remover do banho e cobrir com película impermeável (lona plástica)
por duas semanas;
❻ Armazenar para secagem ou instalar.
Ainda nos passos 2 e 4, podem ser utilizadas solução de CuSO4 a 10%
(passo 2) e arsenito de sódio a 12% (passo 4).
Recomenda-se este método para tratamento de madeiras em contato
com o solo.

8.1.8 Método de substituição de seiva

Este método é utilizado para o tratamento com sais hidrossolúveis de


madeira recém cortada. consiste em se colocar as toras na posição vertical em um
recipiente com a solução preservante (Figura 25). À medida que a água da seiva da
madeira vai evaporando, a substância preservativa vai sendo drenada por
capilaridade para o interior da peça. O processo é interrompido quando atinge-se a
retenção desejada. O recipiente para tratamento, deve conter um volume de solução
preservativa com 40 cm de altura para peças curtas e 80 cm para toras com 6 m ou
mais. Para o tratamento de moirões, utiliza-se um tambor comum de 200l. A
superfície líquida no tanque deve ser protegida contra evaporação aplicando-se uma
camada de óleo. O volume deve ser completado a cada 2 ou 3 dias. As peças
podem ser com ou sem casca, porém, com madeira descascada, o processo é mais
rápido. as peças devem ter suas extremidades superiores apontadas em bisel, a fim
de se evitar o acúmulo de água e aumentar a superfície de evaporação. O
tratamento deve ser realizado em local ventilado e protegido da chuva. Após o
tratamento, a madeira é descascada e submetida à secagem.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


76

FIGURA 25. MÉTODO DE TRATAMENTO PRESERVANTE DA MADEIRA DO


TIPO SUBSTITUIÇÃO DE SEIVA. FONTE: MENDES & ALVES
(1988).

8.1.9 Método de Bolcherie

Este método segue o princípio de substituição de seiva, sendo mais


utilizado para tratamento de postes ou madeira roliça com casca e verdes. As toras
são colocadas ligeiramente inclinadas, apoiadas sobre estrados com a face de maior
diâmetro mais alta. Ma extremidade mais grossa são colocados tampões
perfeitamente ajustados ao diâmetro da madeira, sendo os mesmos conectados a
mangueiras ligadas com a solução preservativa (Figura 26). O depósito de solução é
situado a alguns metros de altura. Desta forma, o preservante penetra na madeira
por meio de pressão hidráulica empurrando a seiva pela outra extremidade da peça.
Quando a substância preservativa começa a gotejar na outra extremidade da peça,
suspende-se o tratamento. A solução penetra até 1,5 m por dia. Ao final do
processo, as toras são descascadas, passando por um tratamento superficial por
imersão. Normalmente usa-se sulfato de cobre.
Para a utilização deste método, a madeira deve estar a madeira deve
ser recém cortada. Tem como vantagem o fato de não ser necessário descascar a
madeira, porém, é um processo demorado que pode levar vários dias e requer pátios
grandes.

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FIGURA 26. MÉTODO DE BOLCHERIE PARA TRATAMENTO DE POSTES.


FONTE: DÉON (1989).

8.1.10 Aplicação de pastas

Este método pode ser utilizado de duas formas. A primeira, é


aplicando-se o preservante em forma de pasta, depois empilhando-se as peças
compactamente e cobrindo-se com lona plástica por cerca de 30 dias. A segunda
forma é a mais usada, onde aplica-se o produto também na forma de pasta próximo
a regiões engastadas, que contenham levado teor de umidade, onde haja dificuldade
de aplicação na área engastada. É comum em estruturas em contato com o solo ou
estruturas engastadas em construções. Desta forma o produto vai penetrando na
madeira lentamente. O produto preservante difunde-se para as camadas mais
internas da madeira em função do teor de umidade da mesma.

8.2 MÉTODOS DE TRATAMENTO COM PRESSÃO

Os processos de impregnação com pressões superiores à atmosférica


são, sem dúvida alguma, os mais eficientes, em razão da distribuição e penetração
mais uniforme do preservante na peça tratada. Além disso, nos processos com
pressão há maior controle da quantidade de preservante absorvido, resultando na
garantia de uma proteção efetiva com economia do produto.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


78

Em contraposição, tais processos apresentam algumas desvantagens


como o custo do equipamento e de sua manutenção, mão de obra mais
especializada e o transporte da madeira até a usina de tratamento.
As instalações utilizadas para estes tipos de tratamentos
compreendem tanques de armazenamento, tanque misturador de soluções
preservantes, bomba de vácuo, bomba de pressão ou compressor de a, bomba de
transferência, tubulações, válvulas, sistema de aquecimento (em alguns casos), e o
mais importante, um cilindro horizontal chamado autoclave, onde a madeira é
acondicionada e tratada. Além disso, é necessário um sistema para introdução e
remoção da madeira do cilindro de tratamento composto por vagonetes que
deslizam sobre trilhos.
Todos estes equipamentos especiais compõem o que denomina-se de
“Usina de Preservação de Madeiras” (Figuras 27 e 28). O dimensionamento de uma
usina de preservação e sua capacidade de produção varia em função dos tipos de
peças de madeira a serem produzidas (moirões, palanques, estacas, postes,
dormentes, madeiramento de construção, etc.), assim como também com a
importância dos mercados. O tamanho do cilindro de tratamento (autoclave)
determina a capacidade da usina, o qual é em função das dimensões das peças a
serem tratadas e do volume total de material que se necessita tratar por dia, mês ou
ano.
Como o tratamento sob pressão resulta em penetração total do
preservante nos tecidos permeáveis, a madeira tratada por este método pode ser
utilizada em quaisquer situações, mesmo nas que apresentam alto índice de ataque
por organismos xilófagos, como é o caso do contato com o solo.
Os métodos sob pressão são os mais empregados no mundo,
recebendo normalmente o nome de quem os patenteou. São classificados em
processos de célula cheia e de célula vazia, em função da madeira pela qual é feita
a distribuição do preservante na célula da madeira.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


79

FIGURA 27. LAYOUT DE UMA USINA DE PRESERVAÇÃO DE MADEIRAS.


FONTE: RICHARDSON (1978).

FIGURA 28. AUTOCLAVE PARA TRATAMENTO PRESERVANTE DE


MADEIRAS POR IMPREGNAÇÃO.
FONTE: www.aces.edu/department/ipm/wdo.htm

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


80

8.2.1 Processos de célula cheia

Estes métodos são assim conhecidos por terem em sua fase inicial, a
aplicação de um vácuo e posteriormente o enchimento do autoclave. Ao ser liberado
o vácuo, o preservante é sugado em grande quantidade para os espaços vazios no
interior da madeira.
Os métodos de célula cheia são utilizados quando se pretende
preencher ao máximo (até a saturação) as células da madeira como o produto
preservante.

A) Processo Bethell

É um método que foi desenvolvido na Inglaterra em 1838 por John


Bethell e é empregado quando se deseja obter uma absorção elevada, ou seja,
quando se deseja que seja retida uma grande quantidade de preservante por volume
de madeira. Este método utiliza-se de madeira seca, sendo denominado de “célula
cheia” devido a retirada de água do interior da madeira e conseguinte retenção na
parede e preenchimento dos lumens das células com preservante (Figura 29). É o
processo mais utilizado para se tratar a madeira sob pressão e basicamente
seguem-se os seguintes passos:
1) Vácuo inicial: Após o autoclave ser carregado com a madeira a ser tratada fecha-
se e provoca-se um vácuo inicial em torno de 600 mmHg durante um tempo que
varia de 30 minutos a 1 hora, em função da permeabilidade da madeira. A finalidade
é extrair parte do ar da madeira para facilitar a entrada do preservante.

2) Admissão do preservante: Sem a redução do vácuo e aproveitando-se do mesmo,


se permite a entrada do preservante, o qual irá entrar no autoclave por efeito do
próprio vácuo criado. O autoclave deverá ficar completamente cheio com a solução
preservante, sem a ocorrência de bolsas de ar. A admissão do preservante pode ser
feita a quente (80 a 100 oC).

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


81

3) Pressão: Com o autoclave totalmente preenchido, liga-se a bomba de pressão até


ser atingida uma pressão máxima de 10 a 12 Kgf/cm2. O período de pressão varia
de 1 a 5 horas, dependendo da permeabilidade da madeira em tratamento. É
necessário que seja absorvida a quantidade correta de preservante para que se
obtenha a retenção desejada.

4) Transferência do preservante: A pressão é aliviada e o preservante restante é


bombeado de volta ao tanque de armazenamento. A descarga é feita pela diferença
de pressão existente entre o autoclave e o tanque reservatório. Se esta diferença de
pressão não for suficiente, pode-se completar a transferência com auxílio da bomba
de transferência ou por ar comprimido.

5) Vácuo final: Aplica-se um vácuo final de curta duração, com a finalidade de


eliminar o excesso de preservante sobre a superfície da madeira, evitando-se
desperdício. A madeira fica mais limpa, sem substância preservante cristalizada em
sua superfície e no caso de produtos oleossolúveis, elimina a exudação.
O tempo requerido para este tratamento dependerá da espécie de
madeira a tratar, do grau de sazonalidade desta madeira, das dimensões das peças
e da quantidade de alburno que a madeira contenha.

FIGURA 29. ETAPAS DO PROCESSO BETHELL. FONTE: DÉON (1978).

1. Carregamento do autoclave
2. Vácuo inicial
3. Enchimento do autoclave com o produto
4. Pressão
5. esvaziamento do cilindro
6. Vácuo final
7. Retorno à pressão atmosférica
8. Descarga do cilindro

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


82

B) Processo Cellon

Este processo, também denominado Drillon, é aplicado em tratamentos


que utilizam solvente gasoso. A solução preservante é composta por gás butano
como solvente e como princípio ativo o pentaclorofenol diluído em algum solvente
auxiliar. Pode ser utilizado também como princípio ativo o TBTO. Na Figura 30, é
apresentado um diagrama deste método.

FIGURA 30. DIAGRAMA DE UMA PLANTA DE PRESERVAÇÃO PELO MÉTODO


CELLON. FONTE: TUSET E DURAN (1979).

1. Tanque de solução 6. Saída de nitrogênio


2. Bomba de transferência 7. Entrada de vapor
3. Tanque de gás nitrogênio 8. Tanque de butano
4. Autoclave 9. Tanque de vácuo
5. Tanque de expansão 10. Bomba de vácuo

Inicialmente, após o carregamento do autoclave com a madeira a ser


tratada, procede-se um vácuo inicial. Logo após, se introduz certa quantidade de
nitrogênio de modo que o conteúdo de oxigênio seja suficientemente baixo para
permitir a entrada do butano sem perigo de incêndio ou explosão. Existe no sistema
um controle automático do conteúdo de oxigênio presente, que controla também as
válvulas que permitem a entrada do gás butano para o autoclave. Faz-se um
segundo vácuo e se bobeia o preservante em solução de butano para o autoclave,
onde é aquecido mediante serpentinas, aumentando então a pressão do líquido, o
qual penetra na madeira.
Terminado o período de pressão, a solução é retornada ao tanque de
armazenamento por diferença de pressão. O excedente de butano introduzido na
madeira se evapora por diminuição da pressão existente no autoclave e também

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


83

retorna ao tanque de armazenamento por intermédio de uma bomba de vácuo.


Finalmente é realizada uma segunda entrada de nitrogênio para reduzir a
concentração de butano e permitindo-se a abertura do autoclave para a retirada da
madeira tratada, a qual se encontra totalmente seca devido à recuperação quase
total do solvente. O PCP permanece no interior da madeira na foram de cristais
predominantemente nos lumens e também em menor proporção na parede das
células.
Este processo apresenta as vantagens de que a madeira sai do
autoclave praticamente com a mesma umidade que entrou, podendo a mesma ser
prontamente instalada e colocada em uso, além de consumir quase nada de
solvente orgânico.
Como desvantagem, o processo apresenta a necessidade de
equipamentos robustos e caros, bem como risco de explosão.

C) Processo Boulton

Este processo tem uma fase inicial de secagem da madeira sob vácuo
na própria solução preservante oleosa mantida entre 80 e 100 oC, que tem como
finalidade a remoção da água da madeira para receber a solução preservante.
Após a primeira fase, seguem-se as outras fases idênticas ao processo
Bethell. A duração do tratamento depende da umidade e dimensões das peças.

D) Processo Vácuo-Vácuo ou Duplo Vácuo (VAC-VAC)

Neste processo utiliza-se madeira seca e são empregados produtos


oleosos, oleossolúveis e hidrossolúveis. Este método foi desenvolvido na Inglaterra
para tratamento de madeira serrada. Consiste em, uma vez colocada a madeira no
autoclave, aplicar-se um vácuo inicial com a finalidade de drenagem do ar existente
na madeira, cujo valor depende da espécie de madeira em tratamento e dimensões
da peça (Figura 31).

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


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FIGURA 31. DESENVOLVIMETO DO PROCESSO DE TRATAMENTO


PRESERVANTE DUPLO VÁCUO. FONTE: DÉON (1989).

1. Carregamento do autoclave
2. Aplicação do vácuo inicial
3. Enchimento do autoclave
4. Retorno à pressão atmosférica
5. Fase de impregnação
(eventualmente pressão)
6. Aplicação do vácuo final
7. Retorno à pressão atmosférica
8. Descarregamento do
autoclave

As fases deste processo são as seguintes:


- Enchimento do autoclave com a madeira a ser tratada.
- Aplicação de um vácuo inicial reduzido (200 a 250 mmHg) para
retirada do ar das células da madeira.
- Enchimento do autoclave com a solução preservante com o vácuo
sendo mantido.
- Retorno à pressão atmosférica.
- Fase de impregnação com duração de aproximadamente 10 a 20
minutos. Este é um período durante o qual, a madeira continua a ser impregnada,
seja à pressão atmosférica ou sob ação de uma leve pressão de 1 a 2 Kgf/cm2.
- Esvaziamento da solução preservante do autoclave.
- Aplicação de um vácuo final de 650 mmHg, eliminando o excesso de
solução absorvida pela madeira, permitindo a saída da mesma com as superfícies
limpas.
- Retorno à pressão atmosférica.
- Abertura do autoclave e retirada da madeira tratada.
O processo de duplo vácuo não pode ser empregado com sucesso em
madeiras que não sejam usinadas, apresentando uma permeabilidade relativamente
boa. Não é recomendado para madeiras com baixa permeabilidade.

BIODEGRADAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MADEIRA – Márcio Pereira da Rocha


85

8.2.2 Processos de célula vazia

Os processos de célula vazia são aplicados quando se deseja


profundidade de penetração com baixa retenção do produto. Estes processos são
normalmente para impregnação com produtos oleossolúveis, porém podem ser
utilizados também produtos oleosos ou hidrossolúveis.
Os processos de célula vazia diferem dos de célula cheia por não ser
aplicado um vácuo inicial, ou seja, o preservante é aplicado na madeira sem a
retirada do ar. Em consequência, ocorre uma compressa do ar na madeira durante o
período de impregnação. Quando a pressão é interrompida, o ar expande e expulsa
parte do preservante. Com isso, ocorre uma boa penetração sem muito consumo de
preservante. Os principais processos de célula vazia são Lowry e Ruëping.

A) Processo Lowry

Neste processo, o preservante é injetado na madeira contra o ar já


existente nas células, portanto, à pressão atmosférica (Figura 32).
Desta forma as etapas do processo são as seguintes:
- Carregamento do autoclave com a madeira.
- Enchimento do autoclave com preservante por simples gravidade (
numa instalação destinada a utilizar este processo, o tanque de alimentação é
elevado em relação ao autoclave).
- Aplicação de pressão entre uma hora e meia e duas horas,
dependendo da espécie, das dimensões das peças e do preservante utilizado.
- Retorno à pressão atmosférica, onde o ar no interior da madeira se
expande, expulsando boa parte do preservante.
- Aplicação de vácuo final, que com ação combinada com a pressão do
ar nas cavidades celulares expulsa uma parte do produto preservante absorvido no
curso da fase de pressão.

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FIGURA 32. ETAPAS DO PROCESSO LOWRY. FONTE: DÉON (1989).

1. Carregamento do autoclave
2. Aplicação de pressão
3. Esvaziamento do autoclave
4. Aplicação de vácuo final
5. Retorno à pressão atmosférica
6. Descarregamento do autoclave

B) Processo Ruëping

Este processo difere do processo Lowry, devido ao fato de que o


preservante é injetado no autoclave a uma pressão de até 4,5 Kgf/cm2 sem que haja
queda na pressão do ar. Portanto, o ar existente na madeira é comprimido antes da
injeção do preservante (Figura 33). No processo Lowry, o preservante é injetado à
pressão atmosférica.
Quando termina o período de impregnação, o ar existente no interior da
madeira se expande e chega a expulsar até 2/3 do total do preservante absorvido. No
caso de madeiras permeáveis, este processo de tratamento assegura penetrações
profundas e retenções necessárias para a inibição dos fungos apodrecedores.

FIGURA 33. ETAPAS DO PROCESSO RUËPING. FONTE: DÉON (1989)

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1. Carregamento do autoclave
2. Aplicação de pressão
3. Enchimento do autoclave
com preservante (sob pressão)
4. Aumento da pressão
5. Esvaziamento do autoclave
6. Aplicação de vácuo final
7. Retorno à pressão
atmosférica
8. Descarregamento do
autoclave

As fases deste processo são as seguintes:


- Carregamento do autoclave com a madeira a ser tratada.
- Período de pressão de 2 até 4,5 Kgf/cm2 por aproximadamente 15
minutos.
- Admissão do produto preservante sob pressão constante, onde o
tanque de alimentação deve ter sido anteriormente posto à mesma pressão do
autoclave.
- Aplicação de pressão de 10 Kf/cm2 por aproximadamente 2 a 3
horas, dependendo da madeira, das dimensões das peças e da natureza do
preservante. Esta pressão força o preservante a penetrar na madeira,
estabelecendo-se no interior das cavidades celulares, um equilíbrio entre pressão do
produto, resistência do ar nas células e absorção do produto pelas paredes
celulares.
- Esvaziamento do autoclave. Nesta fase, o ar comprimido no interior
da madeira expulsa o excedente de preservante, ficando apenas as paredes
impregnadas.

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- Aplicação de vácuo final por aproximadamente 15 minutos para


retirada de excesso de preservante.

O processo Ruëping tem uma variação conhecida como Ruëping


Duplo, aplicado em casos particulares (Figura 34). Esta variação consiste em se
efetuar após o primeiro vácuo final, é executada uma segunda operação similar à
primeira, onde aplica-se uma pressão maior por um período mais longo.

FIGURA 34. ETAPAS DO PROCESSO RUËPING DUPLO. FONTE: DÉON (1989)

1. Carregamento do autoclave
2. Aplicação de pressão inicial
3. Enchimento do autoclave
com preservante (sob
pressão)
4. Aumento da pressão
5. Esvaziamento do autoclave
6. Aplicação de vácuo final
7. Retorno à pressão
atmosférica
8. Segundo período de
aplicação de pressão
9. Enchimento do autoclave
com preservante (sob
pressão)
10. Segunda fase de pressão
11. Esvaziamento do autoclave
12. Segundo vácuo final
13. Retorno à pressão
atmosférica
14. Descarregamento do
autoclave

C) Processo MSU (Mississipi State University)

Neste processo, o preservante utilizado é exclusivamente o CCA.


Distingue-se dos demais processos de tratamento com pressão por utilizar uma fase
de aquecimento da madeira, que proporciona ainda no interior do autoclave, a
fixação do CCA na madeira. Com isto, ocorre uma redução significativa no tempo de
espera para fixação em relação aos métodos convencionais. Enquanto que
madeiras tratadas por métodos convencionais necessitam de uma espera de 30 dias
para a fixação da substância preservante na madeira, pelo M.S.U. isto é conseguido
em apenas 2 horas, ainda no interior do autoclave (Figura 35). Outra vantagem
deste processo é a de que a solução de retorno, ao final do processo, não contém

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açúcares e agentes redutores, os quais provocaria a precipitação parcial dos sais


preservantes, desbalanceando a concentração da solução.
FIGURA 35. MÉTODO MSU DE TRATAMENTO DA MADEIRA EM AUTOCLAVE.
FONTE: MENDES & ALVES (1988).

a) Aplicação de pressão
inicial
b) Admissão do preservante
c) Aumento da pressão
d) Retirada do preservante
com a pressão mantida
e) Admissão de água ou
vapor de água
f) Período de fixação
g) Remoção da água ou
vapor com a pressão
mantida
h) Retorno à pressão
atmosférica
i) Vácuo final
j) Retorno à pressão
atmosférica

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9. PRESERVAÇÃO DE PAINÉIS DE MADEIRA

Os principais tipos de painéis de madeira são os compensados, os


aglomerados, as chapas de partículas e as chapas de fibras. Em função destes
diferentes tipos de painéis, os quais envolvem diferentes etapas de fabricação, é
importante a determinação de qual ponto se dará a aplicação do produto
preservante.

9.1 PAINÉIS COMPENSADOS

No caso de painéis compensados, o procedimento mais correto é a


imediata aplicação do preservante diretamente sobre as lâminas, por pulverização
ou banho por imersão. Porém, ao se tratar as lâminas, tal procedimento poderá
acarretar problemas aos operadores nas etapas seguintes de confecção dos painéis,
devendo-se tomar medidas de precaução com o manuseio do material e do grau de
toxidez do produto. Um outro ponto muito importante é de que o produto preservante
deve ser compatível com a temperatura de prensagem, a fim de que o mesmo não
venha a liberar gases tóxicos ou ser deteriorado.
Uma outra opção e que é muito adotada é o tratamento da linha de
cola, misturando-se o preservante à resina utilizada para a colagem do painel.
Porém, com esta prática pode-se obter somente uma barreira química entre as
lâminas, não impedindo muitas vezes que o painel seja atacado por agentes
biodegradadores. Em linhas de cola com amido, a aplicação de produtos
preservantes evita a ação de bactérias.
A única maneira de se obter excelentes resultados, é sem dúvida, o
tratamento das chapas por impregnação em autoclave. Porém, para que seja
possível se adotar esta prática, é necessário que os painéis sejam colados com
resinas à prova de água ou que os produtos preservantes utilizados sejam
oleossolúveis ou oleosos.

9.2 AGLOMERADOS

Numa pilha de cavacos para obtenção de partículas destinadas à


fabricação de chapas de partículas, somente uma fina camada externa está sujeita a

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ataque de organismos biodegradadores. No interior da pilha, devido a ausência de


oxigênio, somente é possível o desenvolvimento de bactérias anaeróbicas. Para a
proteção desta camada suscetível, a prática mais eficiente e recomendada, consiste
na aspersão constante de água sobre a pilha. Porém, alguns estudos de avaliação
econômica, mostram que a proteção com água é viável por um período de no
máximo seis meses.
Em relação às bactérias anaeróbicas que se desenvolvem no interior
da pilha, estas provocam uma elevação da temperatura, provocando o
escurecimento da celulose, prejudicando a qualidade de certos tipos de chapas.
Uma outra opção viável é a utilização de silos para armazenagem de
cavacos, onde os mesmos são secados e armazenados ou enviados direto para a
linha de produção.
Pode-se também realizar a aplicação de preservantes hidrossolúveis
nos cavacos ainda na condição verde. A aplicação de preservantes nos cavacos
secos, na maioria das vezes é uma prática inviável, pois utilizando-se produtos
hidrossolúveis, ocorre um aumento no custo de secagem e utilizando-se produtos
oleossolúveis, estes têm um custo excessivo, inviabilizando a aplicação.
Para se obter uma boa proteção do painel após sua confecção, utiliza-
se a aplicação de preservantes na linha de cola. No caso de chapas de partículas,
esta prática fornece uma boa proteção, pois devido a técnica de fabricação destes
painéis, onde no misturador as partículas são pulverizadas pelo preservante
colocado juntamente à resina. Esta é sem dúvida, a melhor maneira de se preservar
chapas de partículas.

9.3 CHAPAS DE FIBRAS

No método seco de fabricação, realiza-se a aplicação de cola


misturada com preservante e posteriormente executa-se a prensagem. No método
úmido, após a drenagem da água, na formação do colchão, aplica-se o produto
sobre o colchão, executando-se posteriormente a prensagem. Alguns tipos de
chapas recebem tratamento com óleo, onde é aplicado um preservante solúvel no
óleo. Nesta técnica é necessário se ter cuidado com a volatilização e deterioração
térmica do produto.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVALCANTE, M. S. Deterioração biológica e preservação de madeiras. IPT-


Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – Divisão de
Madeiras. Pesquisa e Desenvolvimento – 8. São Paulo, 1982. 41p.

DEÓN, G. Manual de preservação das madeiras em clima tropical. Organização


Internacional da Madeiras Tropicais, Centre Technique Forestier Tropical. ITTO,
1989, 115p.

EATON, R.A. & HALE, M. D. C. Wood – decay, pests and protection. Chapman &
Hall, London, 1993. 546p.

KOLMANN, F. F. P. & CÔTÉ Jr., W. A. Principles of Wood Science and Technology.


I – Solid Wood. Springer-Verlag. Berlin, 1968. 592p.

LEPAGE, E. S. (Coord.). Manual de Preservação de Madeiras. São Paulo,


IPT/SICCT, 1986. 708p.

MENDES, A. S. & ALVES, M. V. S. Degradação da Madeira e sua Preservação.


Ministério da Agricultura – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal.
Departamento de Pesquisa. Laboratório de Produtos Florestais. Brasília, 1988.
57p.

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Curso de Pós graduação em Engenharia Florestal. Curitiba. 38p.

RICHARDSON, S. A. Protecting buildings – how to combat dry rot, woodworm and


damp. New Abbot, London, 1977. 152p.

RICHARDSON, B. A. Wood preservation. The Construction Press, London, 1978.

TUSET, R. DURAN, F. Manual de Maderas Comerciales, equipos y Procesos de


Utilización (Aserrado, Secado, Preservación, Descortezado, Partículas).
Montevideo, Hemisferio Sur, 1979. 688p.

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