ISECENSA – Institutos Superiores de Ensino do CENSA
Instituto Superior de Educação do CENSA
Instituto Tecnológico e das Ciências Sociais Aplicadas e da Saúde do CENSA Curso: Direito – 2021.1
Disciplina: Direito Civil II – Responsabilidade Civil Professora: Diego Brainer
Período: 4° Data para entrega: 15/10/2021 Aluno: Anna Vânya da Mata Terra Matrícula: 2010015030
ATIVIDADE AVALIATIVA
Relatório do minicurso “Contratualização das relações familiares”, ministrado por Dsc.
Vitor Almeida:
À luz do explanado pelo ilustre palestrante, foi possível compreender,
inicialmente, que o valor social da família foi assimilado no dispositivo constitucional que, por sua vez, é fundamento para a intervenção do Estado no âmbito familiar. Trata-se do art. 226 da Constituição Federal, que afirma que “a família, base da sociedade civil, terá especial proteção do Estado”. Menciona ainda que o Direito de Família tem sofrido inúmeras alterações em uma celeridade progressiva nas últimas décadas. Ainda, por via histórica, elucidou a raiz da estrutura das relações famílias no âmbito jurídico, sendo esta machista, conservadora, misógina. Em síntese, antes havia a unicidade do modelo familiar (apenas homem + mulher, através de casamento), a desigualdade entre cônjuges (homem como chefe de família), a desigualdade entre os filhos (ideia de "filho bastardo") e indissolubilidade do casamento (aversão ao divórcio). Horlando Gomes, em Raízes Sociológicas do Código Civil de 1916, diz que o Direito de Família primava por um “privatismo doméstico”, revelado pela supracitada Indissolubilidade do vínculo conjugal. Cita-se, oportunamente, que ainda neste século o adultério era considerado crime – visto como inimigo da ordem social, eis que desencadearia em múltiplos vínculos familiares. Em resumo, o legislador buscava a paz em casa – facilmente reconhecidas pelos ditados populares “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher” ou “roupa suja se lava em casa”. Com a introdução da perspectiva constitucional atual, foi processualmente levando-se em consideração os possíveis vulneráveis nas relações de família (como a mulher, a criança, adolescente). Não resta indene de dúvidas quanto à necessidade estatal na mantença da chamada instituição familiar, uma vez que, sobretudo, ela mantém a estabilidade da sociedade. Passa-se à lógica de família como instrumento, enquanto núcleo responsável pelas realizações pessoais, haja vista que ela serve para cada integrante afirmar sua singularidade, sobretudo, a partir da CF/88 (sob a ideia do metaprincípio da dignidade da pessoa humana). Desse medo, a família passa a ser democratizada. Se em 1916 o Código Civil concedia poderes absolutos ao pai (O genitor que escolhia o tutor do filho, por exemplo), se as mulheres casadas eram relativamente incapazes até 1962, após a Carta Magna há modificações demasiadamente revolucionárias. O poder torna-se familiar, incluindo-se a mulher. Ademais, na Carta Constitucional pode-se perceber a prevalência de uma postura individualista de família. Todavia, a sociedade civil, representada pela Assembléia Constituinte, ao mesmo tempo em que reconheceu as diferentes categorias de organização familiar, estabeleceu entre elas uma hierarquia, apontando quais são socialmente mais adequadas à ordem social. Além da família matrimonial e da família constituída exclusivamente pela filiação, natural ou jurídica, a CF reconhece a família informal como entidade familiar, constituída sem pretensão de vínculo jurídico entre homem e mulher (união estável). Por disposição constitucional, também a família informal merece proteção do Estado. Essa família informal porque sem forma solene de constituição é nomeada pelo constituinte como espécie de entidade familiar. A título de citação breve, menciona-se a família monoparental (como mulheres, de baixa renda, solteiras, que criam seus filhos), que não é prevista ainda na legislação constitucional. Porém, a pluralidade de entidades familiares na CF/88 expõe a igualdade entre as demais e possíveis entidades (não há mais primazia). Noutro giro, observa-se sob a tônica da contratualização das relações familiares que o Direito de Família é o mais público dos direitos (embora com natureza privada). Esse paradoxo é dado pela forte intervenção do Estado. Em regra, na seara cível, há várias normas dispositivas que podem ser afastadas pelas partes em acordo. Antagonicamente, quando se chega em Direito de Família é extremamente diminuta essa característica nesse sentido (normas imperativas). Para que efetivamente se afaste esse espectro de contrato das relações de família, deve-se entender a família como instrumento democrático, em que todos têm voz – a criança é sujeito de direito por força do ECA e as pessoas com deficiência (que culturalmente sofrem pelo estigma social). Sob outro olhar, inconteste que o Direito de Família deve permear o limite da Constituição, não devendo as leis infraconstitucionais avançar em espaços invioláveis. Deve-se disciplinar tão somente o necessário para os próprios integrantes da família, não a fim de favorecer ou vincular-se ao Estado (contenção estatal). Contra esta ideia de contratualização, o professor Vitor Almeida afirma que existem espaços invioláveis pelo legislador, os quais somente o próprio sujeito pode determinar e controlar, notoriamente intrínseco do que o direito o assegura de autonomia, o modo pelo qual será conduzida a vida comum da relação do caso concreto. Apesar disso, reconhece a contratualização moldada no Direito de Família. Nos últimos dez anos, houve maior aproximação entre contrato e família ou família e responsabilidade civil – fala-se em abandono efetivo em virtude de adultério. Contrato dentro da entendida familiar era abrangido exclusivamente pelo pacto antinupcial, cuja regulamentação era/é restrita. Evidencia ainda que os pactos brasileiros se apartam da ideia americana. A maioria dos pactos americanos versam sobre adultério, ao passo que o pacto antinupcial, no Brasil, não é contrato, antes é um negócio jurídico do Direito de Família. Há um apelo midiático, como o contrato de namoro, que claramente não existe e cuja serventia é diminuta – de forma preliminar, o namoro nem é família, então não deve ser assunto desta toada; segundo, se há União Estável, não depende da vontade das partes, senão se estaria de maneira visível de frente a uma fraude legal. Esta entidade (UE) depende da intencionalidade que é estudada através do próprio caso concreto. Em suma, o minicurso esclareceu acerca da natureza deste Direito, que é de direito privado, mas possui alguns, se não muitos, preceitos básicos de ordem pública. Por esse motivo, é composto por diversos direitos intransmissíveis, irrevogáveis, irrenunciáveis e indisponíveis. Tais direitos não podem, portanto, ser objetos de contratualização pelos sujeitos. Essa limitação na autonomia privada serve para evitar que o interesse privado se sobreponha aos direitos fundamentais, prejudicando e violando a dignidade da pessoa humana. Dentre as vedações, estão presentes as seguintes: Proibição da cessão do poder familiar, proibição da renúncia ao direito de pleitear o estado de filiação, irrevogabilidade do reconhecimento de filho e irrenunciabilidade do direito aos alimentos.