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Fausto Macedo
Repórter
Documento
Sandra Inês Moraes Rusciolelli Azevedo, e o filho dela, o advogado Vasco Rusciolelli
A d i i ã i d d d i i ã ó P lí i
Azevedo, tiveram a prisão preventiva decretada no curso da investigação após a Polícia
Federal flagrar suposta entrega de propina R$250 mil no apartamento da família. A defesa
dos dois apresentou a proposta de colaboração premiada, com 39 anexos, ao Ministério
Público Federal (MPF). O acordo foi homologado em junho pelo ministro Og Fernandes,
relator do caso no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A desembargadora Sandra Inês Moraes Rusciolelli Azevedo. Foto: Nei Pinto / TJBA
No documento, os Azevedo informam como dois grupos distintos teriam se formado para
vender sentenças em troca de propinas. As organizações contavam com participação de
desembargadores que recebiam pagamentos ilícitos para beneficiar partes em processos;
juízes, advogados e servidores do Tribunal de Justiça da Bahia que trabalhavam como
operadores do esquema; e o suposto líder de toda a operação, o conselheiro da Guiné-
Bissau Adaílton Maturino. Ao todo, 68 pessoas são implicadas na delação. Além da venda
de decisões, o esquema também operava, de acordo com os colaboradores, para beneficiar
‘interesses pessoais de manutenção do poder’ dos envolvidos.
“Quando contrariavam seus interesses, seu Assessor, Antonio Roque, fazia as ameaças e
coordenava as “investigações” contra seus oponentes. O Gabinete de Segurança
Institucional, criado com a ajuda do Secretário de Segurança Pública Maurício Teles
st tuc o a , c ado co a ajuda do Sec etá o de Segu a ça úb ca au c o e es
Barbosa, passou a ser instrumento de coerção e coação contra quem afrontava os interesses
do grupo”, informa um trecho da delação.
A desembargadora alçada à delatora afirma que ela própria chegou a sofrer ameaças
dirigidas pessoalmente pelo assessor de Britto e anônimas por mensagem de celular do
Oeste baiano, região de interesse do grupo disposto a pagar propinas aos magistrados. Mais
de 366 mil hectares de terras da localidade – o equivalente a cinco vezes a cidade de
Salvador – foram transferidas a José Valter Dias, sócio do conselheiro da Guiné-
Bissau. Cerca de 200 produtores rurais passaram a ser pressionados a cumprir acordos
‘extorsivos’, segundo a Associação Nacional dos Produtores Rurais da Chapada das
Mangabeiras (Aprochama), que incluíam pagamento anual de parte de sua produção de
soja à holding JJF Investimentos, vinculada a Valter e Maturino.
Senador Ângelo Coronel (PSD) preside a CPI das Fake News Foto: Waldemir Barreto/Agência
Senado
A desembargadora Sandra Inês também relata ter recebido R$ 50 mil para se declarar
incompetente e reconhecer a prevenção do desembargador Baltazar Miranda para julgar
um processo envolvendo a Sabore Cia, empresa ligada ao deputado estadual Diego Coronel
(PSD-BA), filho do senador. O desembargador, segundo a delação, teria um acordo com
Ângelo Coronel para beneficiar o filho dele.
“O processo ainda se encontra em sigilo, a defesa dos denunciados na APN1025 teve acesso
para garantir a ampla defesa e o contraditório, mas além de ter sido liberado integralmante
– o que é questionável – foi divulgado criminosamente pelos denunciados o inteiro teor do
acordo.”
“Uma verdadeira mentira. Inclusive, a sentença dada contra a empresa foi contrária na
época. Isso é calunioso. Isso é a pessoa morrendo afogada que quer levar você junto no
abraço. Não a conheço, não conheço o filho e nem o advogado que patrocina a causa. Vou
abrir um processo contra a delatora por injúria.
Fui instado à época pelas associações dos produtores da região, que me solicitaram, quando
presidia a Assembleia, que promovesse o acordo para pacificar a região, que estava tendo
mortes, perseguições e violência. Fiz o acordo, as partes saíram satisfeitas. Promovi a
pacificação de uma região bastante beligerante. Faria tudo de novo.
Não recebi nenhuma benessse, nem de um lado nem de outro do acordo. A única coisa que
recebi à época foi votos – e muitos – na região. Quem delata, tem que provar.”
“Ela faz afirmações com relação ao genro, à filha e à desembargadora sem um elemento de
corroboração que seja, sem uma prova ou pelo menos um indício do que se afirma. São só
afirmações soltas”, afirma o advogado. “É de uma leviandade, de uma falta de
credibilidade, pelo menos no que diz respeito à minha cliente e ao núcleo familiar, que não
faz o menor sentido. Resumidamente, eu considero como estapafúrdia essa colaboração no
p ç
que diz respeito aos fatos que imputa, sem qualquer prova, à minha cliente”, acrescenta.
A reportagem busca contato com os citados. O espaço está aberto para manifestações
(rayssa.motta@estadao.com e fausto.macedo@estadao.com).