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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA xª VARA CÍVEL DA COMARCA

DE CAXIAS DO SUL-RS

PROCESSO Nº X

ERNESTO ALVES, brasileiro, divorciado, portador do documento de identidade n° xxxxxxxxxxxxx,


devidamente inscrito no CPF sob o n° xxxxxxxxxxx, sem endereço eletrônico, residente e
domiciliado na Rua dos Tricolores, n° 532, Bairro Flamengo, no município de Caxias do Sul, CEP
xxxxxx-xxx, por meio de seus advogados abaixo signatários, nos autos da Ação em epígrafe,
movido em desfavor do Banco Bam S/A. Diante do Recurso de Apelação interposto pela parte
contrária, com fundamento no artigo 997, §2º do Código de Processo Civil, vem interpor o
presente RECURSO ADESIVO, pelas razões expostas a seguir.

Termos em que pede e espera deferimento.

Caxias do Sul/RS, 21 de setembro de 2021.

Eduarda da Silva Camelo Rayam David Sandes Burgos


EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

COLENDA CÂMARA CÍVEL

PELO RECORRENTE
ERNESTO ALVES

I. DA SÍNTESE DA DEMANDA

Cuidam os autos de ação declaratória c/c indenização por danos morais na qual o
recorrente foi surpreendido ao ser informado de que havia um empréstimo consignado em seu
nome, no valor de R$1.068,76, a ser pago em 72 parcelas de R$30,00, referente ao contrato nº
327262403- 6, uma vez que nunca solicitou a contratação, tampouco autorizou os descontos.

Demonstrou que embora tenha realizado um pedido administrativo, não logrou êxito em
cancelar os valores que estavam sendo descontados. Defendeu a aplicação do Código de Defesa do
Consumidor, com a inversão do ônus da prova, na forma do artigo 6º, VIII, do CDC. Discorreu
acerca da ofensa à dignidade humana, essencialmente no campo relacionado à pessoa idosa.

Requereu, em sede de liminar, o imediato cancelamento dos descontos lançados sobre o


seu benefício previdenciário e postulou a procedência da demanda com a declaração de
inexistência do contrato de empréstimo consignado nº 327262403- 6; condenação do recorrente
ao pagamento de R$18.000,00 (dezoito mil reais) a título de danos morais, bem como condenação
à repetição de indébito em dobro, haja vista os valores indevidamente cobrados.

Deferida a prova pericial, as partes apresentaram quesitos.

Realizada a perícia e apresentado laudo pericial, restou concluído que as assinaturas não
eram do recorrente.

Intimadas as partes manifestaram-se acerca do laudo pericial e, encerrada a fase


instrutória, os autos foram conclusos para julgamento.

Ato contínuo, sobreveio a respeitável sentença na qual o douta Juíza opinou pela
procedência dos pedidos formulados pelo recorrente. Vejamos:

“Isso posto, JULGO PROCEDENTES os pedidos formulados por ERNESTO ALVES, para fins de:
a) CONFIRMAR a antecipação de tutela conferida na decisão do evento 9, tornando definitivos
os cancelamentos dos descontos do nº 327262403- 6; b) DECLARAR a inexistência/nulidade
dos débitos que originaram os descontos No benefício previdenciário do autor; c) CONDENAR
o demandado a restituir, de forma simples, os valores indevidamente descontados em razão
das referidas contratações, corrigidos pelos IGP-M a contar dos respectivos descontos e
acrescidos de juros de mora, de 1% ao mês, contados da citação; d) CONDENAR o
demandado ao pagamento de R$ 5.000,00, a título de reparação dos danos morais, a ser
corrigido pelo IGP-M desde a data desta sentença e acrescido de juros moratórios de 1% ao
mês, não capitalizados, a contar da citação.”

Entretanto, nobres julgadores, como restará devidamente demonstrado, o valor fixado pela
nobre magistrada é irrisório para reparação dos danos causados, uma vez que houve clara falha na
prestação do serviço pelo recorrido, que gerou inúmeros constrangimentos e transtorno a parte
recorrente, devendo a verba ser majorada.
II. DO PREPARO RECURSAL

O Recorrente deixa de acostar o comprovante de recolhimento do preparo recursal, haja


vista que lhe foi concedido o benefício da gratuidade da justiça nos termos do artigo 1.007, §1º do
CPC.

III. DAS RAZÕES PARA REFORMA DA SENTENÇA

- DA MAJORAÇÃO DA VERBA INDENIZATÓRIA

Como houve por bem asseverar a nobre decisão recorrida, resto caracterizada a falha na
prestação do serviço pelo recorrido, havendo o dever de reparar os danos morais e materiais
causados, entretanto, ao proferir a respeitável decisão, a magistrada não levou em consideração a
extensão dos danos causados, fixando verba indenizatória irrisória, que não serve para reparar o
abalo causado ao recorrente, como será demonstrado.

Vejam, nobres julgadores, que restou cabalmente comprovado nos autos, por meio de
realização de perícia grafotécnica que as assinaturas constantes no contrato apresentado pelo
recorrido, as quais supostamente seriam do recorrente, em verdade, eram de pessoa estranha, e
não do recorrente, que em momento algum assinou qualquer contrato solicitando o referido
empréstimo e autorizando os descontos em seu benefício previdenciário.

Ou seja, incontroverso nos autos, a conduta ilícita pratica pelo recorrido, bem como sua
má-fé, uma vez que concedeu empréstimo a terceiro, em nome do recorrente, sem verificar sua
autorização e ainda continuou insistindo que o recorrente havia solicitado o empréstimo e
autorizado seus descontos.

Repisa-se, ainda, que o recorrente, pessoa idosa, tentou resolver o impasse de forma
administrativa com o recorrido, por diversas vezes, tentando evitar ter que ingressar com ação
para resolução de problema tão simples, mas sem sucesso, em razão de recusa por parte da
instituição bancária.
Ou seja, Excelências, o recorrido, em que pese não ter culpa alguma na desorganização e
má prestação de serviço do recorrido, desgastou-se tentando resolver a situação de forma aigável,
o que não foi possível, causando inúmeros constrangimentos e aborrecimentos ao recorrente, como
houve por bem asseverar a nobre magistrada.

Assim, evidente que a verba indenizatória de meros R$5.000,00 não é capaz de reparar os
danos causados ao recorrente, devendo ser majorada.

Como bem disciplina o doutrinador Luiz Fernando Guilherme:

A condenação por danos morais deve ter o caráter de atender aos reclamos e anseios de
justiça, não só do cidadão, mas da sociedade como um todo. Na questão de danos morais,
a sentença deve atender ao binômio efetividade-segurança, de tal sorte que as decisões
do judiciário possam proporcionar o maior grau possível de reparação do dano sofrido pela
parte, independentemente do ramo jurídico em que se enquadre o direito postulado
(GUILHERME, L.F.D.V.D. A. Código Civil Comentado e Anotado. Editora Manole, 2017).

É importante destacar ainda a súmula 479 do Superior Tribunal de Justiça:

As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito


interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações
bancárias (SÚMULA 479, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/06/2012, DJe 01/08/2012).

Cabe a instituição financeira ter mecanismos eficientes e práticos para verificar a


procedência dos documentos apresentados, conferindo os dados pessoais e assinatura. Portanto no
caso dos autos restou comprovado a ineficiência do serviço por parte da instituição financeira que
não adotou as medidas necessárias para a melhoria do serviço uma vez que foi constatada a
falsidade da assinatura. Neste sentido, é o entendimento jurisprudencial do Tribunal do Estado do
Rio Grande do Sul:

APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO DE


DESCONSTITUIÇÃO DE DÉBITO C/C DANO MORAL. - Recurso de apelação do banco
demandado: FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO RESPONSABILIDADE OBJETIVA. SÚMULA
479 DO STJ E DECISÃO EM RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. A ocorrência de fraude
não elide a responsabilidade do banco, já que se trata de acontecimento inserido
no risco do empreendimento. Entendimento consolidado na Súmula 479 do STJ e no
Resp 1.197.929/PR, submetido à sistemática dos recursos especiais repetitivos. No caso
concreto, verifico a ocorrência de falha na prestação dos serviços prestados pela parte
demandada, porquanto foram celebrados contratos de abertura de conta-corrente, com a
utilização de limite de cheque especial, e contratos de empréstimo pessoal por terceiros
estranhos ao feito, que se utilizaram de documentação e assinatura falsa da parte autora,
para firmar os instrumentos. Consoante se verifica dos documentos anexados aos autos, a
parte autora teve seu nome negativado indevidamente nos cadastros de restrição ao
crédito, em decorrência de débitos oriundos dos referidos contratos, como demonstra o
documento anexado ao evento 1 (outros 4). A parte demandada, por sua vez, anexou aos
autos o Contrato de Abertura da Conta Corrente nº 0033 - 1462 - 000010309006, com
adesão à limite de cheque especial e ao Cartão de Crédito Santander Free Mastercard
(contrato 2 - evento 10), Extratos (extrato 3 e 4 - evento 10) e Faturas (fatura 5 - evento
10). Ao analisar os documentos anexados pela parte demandada, a parte autora
alegou o desconhecimento da celebração dos contratos, aventando a ocorrência
de fraude, por considerar que os dados constantes nos instrumentos não
conferem com os seus, de mesmo modo que as assinaturas não conferem com a
sua. Em razão disso, foi realizada perícia grafotécnica, que demonstrou que as
assinaturas constantes nos instrumentos contratuais não partiram do punho da
parte autora, conforme se extrai da conclusão do laudo pericial anexado ao
evento 56 (Laudo 1). Assim, diante da conclusão do laudo pericial, o qual se
reveste de técnica e confiabilidade própria, não restam dúvidas de que a parte
autora foi vítima perpetrada por terceiros, faltando a instituição demandada com
o dever de segurança que lhe incumbe. Ora, não é plausível que a instituição
financeira, que tem o dever de zelar pelos contratos celebrados com seus clientes, bem
como pelo dinheiro dos consumidores, simplesmente permita que haja a abertura de
conta-corrente, com adesão de produtos como cheque especial e cartão de crédito ou
celebre contratos de empréstimo, sem averiguar a procedência dos documentos
apresentados no ato da contratação. O banco deve, ou deveria, ter mecanismos
eficientes e práticos para proceder a guarda do crédito de seus clientes,
cumprindo com seu dever de segurança, uma obrigação que, inclusive, está
prevista no Código de Defesa do Consumidor (art. 14, §1º). Logo, entendo que, no
caso dos autos, restou caracterizado fortuito interno, relativo à omissão da parte
demandada em permitir a contratação de produtos junto à instituição financeira, sem
analisar a procedência dos documentos apresentados ou conferindo os dados pessoais e
assinatura, permitindo o uso indevido do nome da parte autora, o que culminou na
inscrição indevida seu nome nos órgãos de proteção ao crédito, devendo, portanto,
responder objetivamente pelos fatos narrados, nos termos da Súmula 479 do STJ, nos
termos da Súmula 479 do STJ. Assim, nego provimento ao recurso de apelação do banco
demandado, mantendo a sentença que declarou a inexistência dos débitos impugnados
pela parte autora, bem como condenou a parte demandada ao pagamento de indenização
por danos morais. - Recurso Adesivo da parte autora: QUANTUM INDENIZATÓRIO.
MAJORAÇÃO. Na hipótese sob comento, a conclusão é de que um falsário,
estelionatário, usando os dados da autora, realizou a abertura de conta-corrente
e cartão de crédito no banco demandado, produzindo um prejuízo enorme,
restando a autora negativada diante da culpa do banco. Assim, diante dos
transtornos enfrentados pela autora, tem-se que o valor fixado na sentença
(R$5.000,00) merece majoração para R$10.000,00 (dez mil reais). No ponto,
recurso desprovido. APELAÇÃO CÍVEL DESPROVIDA. RECURSO ADESIVO
PROVIDO PARA MAJORAR O QUANTUM INDENIZATÓRIO. UNÂNIME.(Apelação
Cível, Nº 50001829220208210080, Vigésima Quarta Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Jorge Maraschin dos Santos, Julgado em: 18-08-2021).

Dessa forma, considerando que (i) incontroverso nos autos o ato ilícito e a falha na
prestação do serviço pelo recorrido, (ii) cabalmente demonstrado os transtornos sofridos pelo
recorrente, em razão dos atos praticados pelo recorrido, há de ser reformada a respeitável decisão
para fins de que a verba indenizatória seja majorada, uma vez que a verba fixada em primeiro
grau é irrisória para reparar os danos ocasionados.

IV. PEDIDOS:

Pelas razões acima expostas, requer o provimento do presente recurso para fins de
que seja reformada a respeitável decisão e seja majorada a verba indenizatória fixada pela decisão
de primeiro grau.

Termos em que pede e espera deferimento.

Caxias do Sul/RS, 21 de setembro de 2021.

Eduarda da Silva Camelo Rayam David Sandes Burgos

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