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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

LIVRO I
DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

1- DIFERENÇA ENTRE OS DIREITOS REAIS E DIREITOS


OBRIGACIONAIS

a) Quanto ao objeto, os direitos reais incidem sobre uma coisa, enquanto os


obrigacionais exigem o cumprimento de uma prestação.
b) Quanto ao sujeito, nos direitos reais o sujeito passivo é indeterminado (são todas
as pessoas do universo, que devem abster-se de molestar o titular), enquanto nos
direitos pessoais é determinado ou determinável.
c) Quanto à duração, os reais são perpétuos, não se extinguindo pelo não uso, mas
somente nos casos expressos em lei (desapropriação, usucapião em favor de
terceiro etc.), os direitos pessoais são transitórios e se extinguem pelo seu
cumprimento ou outros meios.
d) Quanto à formação, os reais só podem ser criados pela lei, sendo seu número
limitado e regulado por esta (numerus clausus), ao passo que os pessoais podem
resultar da vontade das partes, sendo ilimitado o número de contratos inominados
(numerus apertus).
e) Quanto ao exercício, por que os reais são exercidos diretamente sobre a coisa,
sem necessidade da existência de um sujeito passivo, enquanto o exercício dos
direitos pessoais exige uma figura intermediária, que é o devedor.
f) Quanto a ação, que pode ser exercida contra quem quer que detenha a coisa, ao
passo que a ação pessoal é dirigida somente contra quem figura na relação jurídica
como sujeito passivo.

2- INTRODUÇÃO E CONCEITO DE OBRIGAÇÃO

Obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de


exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada obrigação. É uma
relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório que se extingue
pelo cumprimento, cujo objeto consiste numa prestação economicamente aferível. É o
patrimônio do devedor que responde por suas obrigações. O patrimônio constitui a
garantia do adimplemento com que pode contar o credor.

A obrigação deve ser cumprida livre e espontaneamente. Quando tal não ocorre,
sobrevém o inadimplemento, surgindo aí a responsabilidade. Não se confunde
obrigação com responsabilidade. Esta só surge se o devedor não cumpre
espontaneamente a obrigação. A responsabilidade é a conseqüência jurídica
patrimonial do descumprimento da relação obrigacional.

Responsabilidade e obrigação podem existir uma sem a outra. Os casos de


dívidas prescritas e dívidas de jogo constituem exemplos de obrigação sem
responsabilidade. Como exemplo de responsabilidade sem obrigação pode ser
mencionado o caso do fiador que é responsável pelo débito somente na hipótese de
inadimplemento pelo afiançado.

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3- ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA OBRIGAÇÃO

A obrigação compõe-se de três elementos essenciais: a) subjetivo, relativo aos


sujeitos ativo e passivo (credor e devedor) b) O vínculo jurídico existente entre eles e c)
o objetivo, atinente ao objeto da relação jurídica.

3.1 ELEMENTO SUBJETIVO

Os sujeitos da obrigação podem ser tanto pessoa física quanto jurídica. Devem
ser determinados ou ao menos determináveis. Se não forem capazes, serão
representados ou assistidos por seus representantes legais. Pode acontecer de ambas as
partes serem credor e devedor ao mesmo tempo. Ex. Compra e venda.

Obs. Toda obrigação exige sujeito ativo e passivo. Porém, pode acontecer que um dos
sujeitos só seja conhecido posteriormente (promessa de recompensa ou prêmio).

#O que é indeterminabilidade subjetiva?


Um dos sujeitos só será conhecido no futuro (pode ser ativa ou passiva). Ex. Promessa
de recompensa para quem achar o cãozinho.

IMPORTANTE!!! Toda vez que o contrato for sinalagmático (bilateral), existirão


obrigações para ambas as partes, que serão credoras e devedoras entre si. Temos ai à
chamada relação jurídica obrigacional complexa.

INTERPRETANDO*** Relação jurídica obrigacional complexa é quando o contrato


prevê obrigação para ambas as partes, são contratos (diferente de negócio jurídico)
sinalagmáticos ou bilaterais.

3.2 VÍNCULO JURÍDICO

Elemento imaterial (virtual, ideal ou espiritual), é o vínculo jurídico estabelecido


na relação obrigacional. O vínculo jurídico sujeita o devedor a determinada prestação em
favor do credor. Divide-se em débito e responsabilidade. O débito (vínculo espiritual
ou pessoal) une o devedor ao credor e exige que aquele cumpra pontualmente a
obrigação. A responsabilidade (vínculo material) confere ao credor não satisfeito, o
direito de se exigir judicialmente do devedor o cumprimento da obrigação.

1ª teoria - clássica ou monista: Ela fala que o vínculo entre credor e devedor é um só,
qual seja, a relação de crédito e débito. Para eles, a responsabilidade civil não integra a
obrigação (responsabilidade civil é a conseqüência jurídica e patrimonial do
descumprimento da obrigação).

2ª teoria - teoria BINÁRIA ou DUALISTA: a obrigação faz surgir dois vínculos, quais
sejam:

a) Dever jurídico (schuld/debitum), resultante do crédito-débito e


b) Responsabilidade civil (haftung/obrigatio).

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Toda obrigação é composta, em um primeiro momento, do dever jurídico de


espontaneamente dar, fazer ou não fazer o avençado. Diante do descumprimento do dever
jurídico, surge a responsabilidade civil.

IMPORTANTE!!! O que põe fim a pretensão de exigir o cumprimento da obrigação


(responsabilidade civil = pretensão) é a prescrição.

#Existe dever jurídico sem responsabilidade civil?


Sim, dívida de jogo ou dívida já prescrita, por exemplo, (obrigação natural). A
obrigação natural gera dever jurídico, mas não gera responsabilidade civil (não pode ser
cobrada em juízo). As obrigações naturais se contrapõem à obrigação civil.

Obs. Nas obrigações naturais existe o débito-crédito, porém, o descumprimento não gera
responsabilidade do devedor (should sem haftung).

IMPORTANTE!!! O cumprimento espontâneo da obrigação natural não pode ser


devolvido (soluto retentio - não há direito de cobrar de volta aquilo que se pagou em
dívida de jogo. Não há pagamento indevido, o pagamento foi devido, vez que existia
obrigação).

#Pode haver compensação de dívida prescrita com dívida não prescrita?


Compensação voluntária é acordo, então, de acordo com a autonomia da vontade se pode
compensar o que quiser. Porém, na compensação legal (que gera a imposição de
compensar), só pode compensar dívidas líquidas, vencidas e exigíveis (não
prescritas).

Ou seja, se as partes quiserem, como elas tem autonomia da vontade, elas podem
compensar qualquer coisa. O que não é possível é que o juiz determine que uma dívida
exigível seja compensada com uma dívida prescrita, justamente porque ela não é exigível.

#Existe responsabilidade sem dever jurídico?


Sim. Por exemplo, a fiança.

IMPORTANTE!!! Na desconsideração da personalidade jurídica, temos uma situação


distinta das situações anteriores, pois não existe responsabilidade subsidiária , mas sim,
responsabilidade secundária.

3.3 ELEMENTO OBJETIVO

É a prestação, a coisa. É sempre uma conduta humana (dar, fazer ou não fazer) e
chama-se prestação ou objeto imediato.

IMPORTANTE!!! Objeto direto (imediato) da obrigação é a conduta (dar, fazer, não


fazer). Objeto indireto (mediato) da obrigação é a coisa, é o bem da vida (objeto da
prestação).

#Qual é o objeto imediato da prestação?


Corresponde justamente ao objeto mediato da obrigação, é a coisa, o bem da vida.

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O objeto da obrigação há de ser lícito, possível, determinável ou determinado e


suscetível de apreciação econômica.

4- FONTES DAS OBRIGAÇÕES

Fonte de obrigações é o seu elemento gerador, o fato que lhe dá origem, de


acordo com as regras de direito.

O CC considera fontes de obrigações: a) os contratos, b) as declarações


unilaterais de vontade e c) os atos ilícitos, dolosos e culposos. Há obrigações,
entretanto, que resultam diretamente da lei, como por exemplo, a de prestar alimentos,
indenizar danos causados por seus empregados e etc.

Pode-se afirmar, pois, que a obrigação resulta da vontade do Estado, por


intermédio da lei, ou da vontade humana, manifestada no contrato, na declaração
unilateral ou na prática de um ato ilícito. No primeiro caso a lei é fonte imediata da
obrigação, no segundo é mediata.

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TÍTULO I
DAS MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES

1- QUANTO AO OBJETO

O CC classifica as obrigações em três tipos quanto ao objeto: obrigação de dar,


fazer e não fazer. As duas primeiras são positivas, enquanto a terceira é negativa. Todas
as obrigações que venham a se constituir na vida jurídica compreenderão sempre alguma
dessas condutas, que resumem o objeto da prestação.

Obs. Pode ocorrer de a mesma obrigação constituir mais de um tipo. Ex. Empreitada, que
se constitui numa obrigação de fazer e de dar.

2- QUANTO AOS SEUS ELEMENTOS

Três são os elementos constitutivos da obrigação: sujeitos, vínculo jurídico e o


objeto.

Em relação a eles, a obrigação se divide em simples e composta. Obrigação


simples são as que se apresentam com um sujeito ativo, um sujeito passivo e um único
objeto, ou seja, todos os seus elementos no singular.

Para que a obrigação se denomine composta, basta que apenas um de seus


elementos esteja no plural. A obrigação composta se da pela multiplicidade de objeto
(entregar um veículo ou um animal) ou pela multiplicidade de sujeitos.

2.1 OBRIGAÇÃO PLURAL OBJETIVA

Aquela que possui mais de uma prestação pode ser de três tipos:

a) Cumulativa ou conjuntiva: aquela em que o devedor deve cumprir ambas as


prestações (entregar o carro E a moto). Ligada pela conjunção “E”.

b) Alternativa: o devedor terá que cumprir uma das prestações (entregar o carro OU a
moto). No silêncio do contrato, quem escolhe é o devedor.

c) Facultativa ou obrigação de faculdade alternativa.

IMPORTANTE!!! Na obrigação facultativa, existe uma prestação devida, que pode ser
exigida pelo credor e uma outra, facultativa, que nunca pode (Ex. O devedor deve
entregar o apagador mas, se quiser, pode entregar uma caneta). É o devedor que tem a
faculdade de escolher a outra coisa, ao invés da alternativa que o credor pode lhe
exigir.

IMPORTANTE!!! Diferença entre obrigação alternativa e facultativa. A obrigação


alternativa extingue-se somente com o perecimento de todos os objetos, e será válida se
apenas umas das prestações estiver eivada de vício, permanecendo eficaz a outra. A
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obrigação facultativa restará totalmente inválida se houver defeito na obrigação


principal, mesmo que não haja defeito na acessória.

IMPORTANTE!!! Portanto, existem três tipos de obrigação plural objetiva: a


alternativa (entregar o carro OU a moto) a cumulativa (entregar o carro E a moto) e a
facultativa (entregar o carro; PORÉM SE EU, O DEVEDOR, QUISER, posso entregar
no lugar a moto).

2.2. OBRIGAÇÃO PLURAL SUBJETIVA

Compostas pela multiplicidade de sujeitos. Podem ser: divisíveis, indivisíveis e


solidárias.

a) Obrigação fracionária: Toda vez que a obrigação for fracionária, deve-se observar se
a obrigação é divisível ou indivisível. Se for indivisível, apesar de se tratar de obrigação
fracionária, o credor irá exigir de um dos devedores toda a dívida.

Obrigação divisível é aquela cujo objeto pode ser dividido entre os sujeitos. Nas
indivisíveis tal não ocorre. Ambas podem ser ativas ou passivas.

IMPORTANTE!!! A obrigação fracionária indivisível é quase igual à obrigação


solidária porque qualquer credor só poderá exigir a prestação por inteiro e qualquer réu
deverá cumpri-la por inteiro.

Nas obrigações divisíveis, cada credor só tem direito a sua parte, podendo
reclamá-la independentemente do outro. E cada devedor responde exclusivamente pela
sua cota.
Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em
obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações,
iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.

Nas obrigações indivisíveis, cada devedor só deve também a sua cota-parte. Mas
em razão da indivisibilidade física do objeto, a prestação deve ser cumprida por inteiro.
Se dois são os credores, um só pode exigir a entrega da prestação, mas somente por ser
indivisível, devendo prestar contas ao outro credor.

Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for
divisível, cada um será obrigado pela dívida toda.
Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito
do credor em relação aos outros coobrigados.

Art. 261. Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada


um dos outros assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que
lhe caiba no total.

b) Obrigação solidária: independe da divisibilidade ou indivisibilidade do objeto da


prestação porque resulta da vontade das partes ou da lei.

b.1) Ativa: entre credores, qualquer dos credores pode exigir a totalidade da prestação,
não importando se esta é divisível, ou não.

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b.2) Passiva: qualquer dos devedores pode ser cobrado sozinho da totalidade da
prestação, não importando se está é divisível, ou não.

IMPORTANTE!!! Art. 265 do CC a solidariedade nunca se presume, resulta da LEI


ou da VONTADE DAS PARTES. Não é porque tem mais de um devedor que serão
estes devedores solidários. A regra é que as obrigações sejam fracionárias (divisíveis
ou indivisíveis, ou seja, não-solidárias).

Art. 265. A solidariedade não se presume; RESULTA DA LEI ou


da VONTADE DAS PARTES.

IMPORTANTE!!! #Qual é a diferença entre obrigação solidária e obrigação


fracionária com objeto indivisível?

A diferença está na hipótese de PERDA CULPOSA DA PRESTAÇÃO. Se o boi


morreu de fome, a obrigação transforma-se em perdas e danos (que será R$ e, portanto,
divisível). Dessa forma, se a obrigação originária for solidária continuará solidária. Por
outro lado se ela fosse fracionária com objeto indivisível, “morrendo o boi”, ela passa a
ser fracionária normal, já que se transformou em perdas e danos que é divisível.

O devedor que cumprir sozinho a prestação pode cobrar, regressivamente, a


quota-parte de cada um dos co-devedores.

Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a
exigir de cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se
igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se
iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores.

c) Mista: solidariedade tanto entre credores, como entre os devedores. Qualquer dos
credores pode exigir de qualquer dos devedores a totalidade da prestação.

3- OBRIGAÇÃO DE MEIO OU DE RESULTADO

a) Obrigação de meio: o devedor promete entregar todos os meios ao seu alcance para a
obtenção de determinado resultado, sem, no entanto, responsabilizar-se por ele. Ex.
Advogados.

b) Obrigação de resultado: o devedor dela se exonera somente quando o fim prometido


é alcançado. Ex. Transportador e cirurgião plástico.

4- OBRIGAÇÕES CIVIS E NATURAIS

a) Civis: as que encontram respaldo no direito positivo, podendo seu cumprimento ser
exigido pelo credor por meio de ação.

b) Naturais: as inexigíveis judicialmente. O credor não tem o direito de exigir a


prestação, e o devedor não está obrigado a pagar. Em compensação, se este,
voluntariamente, efetua o pagamento, não tem direito de repeti-la. São as dívidas
prescritas (art. 882) e as dividas de jogo (art. 814).

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5- OBRIGAÇÕES PURAS E SIMPLES, CONDICIONAIS, A TERMO


E MODAIS OU COM ENCARGO

a) Obrigações puras e simples são as não sujeitas a condição, termo ou encargo.

b) Condicionais são aquelas cujo efeito esta subordinado a evento futuro e incerto

c) Nas obrigações a termo o evento esta subordinado a um evento futuro e certo. O


termo pode ser inicial ou final.

d) As obrigações modais ou com encargo são aquelas oneradas com algum gravame.

IMPORTANTE!!! O encargo ou modo, ao contrário da condição, “não suspende a


aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio
jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva.” Art. 136 CC.

6- OBRIGAÇÕES DE EXECUÇÃO INSTANTÂNEA, DIFERIDA E


PERIÓDICA

Quanto ao momento em que devem ser cumpridas as obrigações se dividem


em:

a) Momentâneas ou de execução instantânea: se consumam num só ato, sendo


cumpridas imediatamente após sua constituição. Ex. Compra e venda a vista.

b) De execução diferida: o cumprimento deve ser realizado também em um só ato, mas


em momento futuro.

c) Execução continuada ou de trato sucessivo: se cumpre por meios de atos reiterados.


Ex. Venda a prazo, em prestações periódicas.

7- OBRIGAÇÕES LÍQUIDAS E ILÍQUIDAS

Líquidas são as obrigações certas quanto a sua existência, e determinadas quanto


a seu objeto. Ilíquida, ao contrário, é a que depende de previa apuração, pois o seu valor
apresenta-se incerto.

8- OBRIGAÇÕES PRINCIPAIS E ACESSÓRIAS

Reciprocamente consideradas as obrigações se dividem em principais e


acessórias. As principais subsistem por si, sem depender de qualquer outra. As
obrigações acessórias têm sua existência subordinada a outra relação jurídica, ou seja,
dependem da obrigação principal.

O princípio de que o acessório segue o principal, foi acolhido pela nossa


legislação (princípio da gravitação jurídica). Assim a nulidade da obrigação principal
implica a da acessória, mas a recíproca não é verdadeira.

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9- OBRIGAÇÕES COM CLÁUSULA PENAL

São aquelas em que há a cominação de uma multa ou pena em caso de


inadimplemento ou de retardamento no cumprimento da obrigação. A cláusula penal tem
caráter acessório, e sua principal função é servir como meio de coerção. Pode ser
compensatória, quando estipulada para o caso de total inadimplemento, ou moratória, se
destinada a garantir o cumprimento de alguma cláusula especial ou simplesmente evitar a
mora.

10- OBRIGAÇÕES “PROPTER REM”

As obrigações “propter rem” pertencem a categoria das obrigações híbridas,


pois constituem um misto de direito pessoal e de direito real, ou se situam entre o direito
pessoal e real. São incluídas nesta categoria as obrigações com ônus reais e com
eficácia real.

Obrigação “propter rem” é a que recai sobre uma pessoa, por força de
determinado direito real. Por se transferir a eventuais novos ocupantes do imóvel, é
também denominada de obrigação ambulatorial. Exemplo clássico: obrigação de pagar
taxa condominial. É típica obrigação propter rem. Vincula pessoas, credor e devedor e
se acopla a coisa. Não importa quem seja o dono. Ele terá que arcar com a dívida
condominial (ver REsp 846187/SP).

“REsp 846187/SP: (...) 1. As cotas condominiais, porque


decorrentes da conservação da coisa, situam-se como
obrigações ‘propter rem’, ou seja, obrigações reais, que
passam a pesar sobre quem é o titular da coisa; se o direito
real que a origina é transmitido, as obrigações o seguem,
de modo que nada obsta que se volte a ação de cobrança
dos encargos condominiais contra os proprietários.(...)”

Ônus reais são obrigações que limitam o uso e gozo da propriedade, constituindo
direitos reais sobre coisas alheias, oponíveis erga omnes. Ex. Renda constituída sobre um
imóvel.

Obs. “Não se deve confundir a obrigação propter rem com a obrigação com eficácia
real.

A obrigação com eficácia real é aquela obrigação comum levada a registro e que
passa a ter efeitos erga omnes como se fosse um direito real. Não é um direito real, mas
gera efeitos reais porque foi levada a registro. Para isso, tem que haver previsão na lei.
Não basta registrar o contrato no cartório. Ele vai gerar efeitos erga omnes, mas não
reais.

Ex. Art. 8º, da Lei do Inquilinato, Lei 8245/91.

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá


denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação,
salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver

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cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à


matrícula do imóvel.

CAPÍTULO I
DAS OBRIGAÇÕES DE DAR
SEÇÃO I
DAS OBRIGAÇÕES DE DAR COISA CERTA

1- CONTEÚDO E EXTENSÃO

Quanto ao objeto a obrigação classifica-se em: obrigação de dar, fazer e não


fazer. A obrigação de dar se divide em: obrigação de dar coisa certa e de dar coisa
incerta. Na primeira, obriga-se o devedor a dar coisa individualizada, que se distingue
por características próprias, móvel ou imóvel.

Cumpre-se a obrigação de dar coisa certa mediante a entrega ou restituição.


Estes dois atos podem ser resumidos em uma só palavra: TRADIÇÃO. Como no direito
o contrato por si só não gera o domínio, mas apenas gera a obrigação de entregar a coisa
alienada, enquanto não ocorrer a tradição, a coisa continuará pertencendo ao devedor,
“com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço;
se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação” (art. 237 CC). Também os
frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes (237 §único CC).

Regras da obrigação de dar coisa certa:

1ª REGRA: O acessório segue o principal (a tampinha segue a caneta). Tal regra vale
no silêncio do contrato. Se as partes estipularem, posso vender uma caneta sem
tampinha.

Art. 233. A obrigação de dar coisa certa ABRANGE os acessórios


dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título
ou das circunstâncias do caso.

IMPORTANTE!!! As pertenças, embora sejam bens acessórios, não seguem o


principal. (se eu vendo minha casa, não se pressupõe que vendo minha TV, minhas
roupas junto).

EXCEÇÕES: (pertenças que seguem o principal)

 Previsão em lei ou contrato;


 Pertenças essenciais (aquelas que são essências à natureza do negócio. Ex.
Quando vendo um cinema, vai com tudo dentro).

2ª REGRA: o credor não pode ser obrigado a receber coisa diversa, ainda que mais
valiosa. Se ele concordar em receber coisa diversa temos uma dação em pagamento.

3ª REGRA: o credor não é obrigado a receber parte da dívida.

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 Obrigação de RESTITUIR

É aquela em que o devedor tem a obrigação de restituir coisa que não lhe
pertence.
Como regra, a perda ou deterioração da coisa por caso fortuito ou força maior
(assalto ou enchente), portanto, sem culpa do devedor, se resolve, sem dever
indenização.

Obs. O credor pode cobrar o direito que já existia (Ex. Aluguel devido).
Art. 238. Se a obrigação for de RESTITUIR coisa certa, e esta, sem
culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a
perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o
dia da perda (Ex. aluguel).

IMPORTANTE!!! O aluguel de carro segue essa regra, a perda/deterioração do carro


sem culpa não gera direito à indenização (deve pagar apenas o aluguel). Então, se o carro
que a Maria alugou for roubado, ela não deve qualquer indenização à locadora.

Como res perit domino o dono era a locadora, ela sai perdendo.

Se o inadimplemento for culposo, o devedor deve perdas e danos.

2- PERDA OU DETERIORAÇÃO DA COISA (DESCUMPRIMENTO


DA OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA E RESTITUIR)

Perecimento seria a perda total da coisa, deterioração é a perda parcial.

No caso de perecimento e deterioração da coisa antes da tradição, é preciso


primeiramente verificar se o fato ocorreu com culpa ou não do devedor.

1ª HIPÓTESE - Perda da coisa sem culpa: a obrigação fica resolvida para ambas as
partes. Se o comprador já tivesse adiantado o dinheiro, o vendedor devolve o dinheiro
(res perit domino, ou seja, a coisa perece para o dono). O vendedor que sai perdendo
nessa situação, porque a venda só se aperfeiçoa com a tradição/registro). A situação
retorna ao status quo ante.

Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem


culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição
suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; (1ª parte)

Art. 238. Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa
do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a
obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da
perda.

2ª HIPÓTESE - Perda da coisa com culpa: acarreta a responsabilidade pelo


pagamento de perdas e danos. Nesse caso, havendo o perecimento do objeto, tem o
credor o direito a receber o seu equivalente em dinheiro, mais a perdas e danos
comprovadas, tanto na obrigação de entregar como na de restituir.

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Art. 234 (2ª parte) se a perda resultar de culpa do devedor,


responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos.

Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá


este pelo equivalente, mais perdas e danos.

3ª HIPÓTESE - Deterioração da coisa sem culpa: o credor pode optar em considerar


extinta a obrigação (resolve-se o negócio) ou permanecer com o negócio com abatimento
do preço. Na obrigação de restituir se recebe a coisa no estado em que se encontra, sem
direito a indenização.

Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá


o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu
preço o valor que perdeu.

Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor,


recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se
por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239.

4ª HIPÓTESE - Deterioração da coisa com culpa: o credor tem opção em requerer


só perdas e danos, ou ficar com a coisa + perdas e danos (reduzidos por óbvio). As
alternativas deixadas ao credor são as mesmas do art. 235 CC, mas com direito em
qualquer caso, a indenização das perdas e danos.

Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o


credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o
valor que perdeu.

Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o


equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com
direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das
perdas e danos.

Na obrigação de restituir é a mesma coisa, o credor poderá exigir o equivalente


em dinheiro mais perdas e danos.

Art. 240 (2ª parte) se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239.

Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este


pelo equivalente, mais perdas e danos.

Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor,


recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por
culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239.

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SEÇÃO II
DAS OBRIGAÇÕES DE DAR COISA INCERTA

Dispõe o art. 243 CC: “A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e
pela quantidade.” Falta apenas determinar sua QUALIDADE.

Obrigação de dar coisa incerta é aquela que consiste na entrega de um objeto


determinável. Ainda não está individualizado. Este objeto deve, ao menos, conter
indicação do gênero (feijão) e quantidade (10 sacas), a qualidade (???) fica pra depois.
Ex. Entregar 10 sacas de feijão (que feijão? O preto? O carioquinha?).

1ª REGRA: após a concentração/escolha, a obrigação transforma-se em dar coisa


certa, porque o bem é individualizado na concentração.

Art. 245. Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na


Seção antecedente (obrigação de dar coisa certa).

IMPORTANTE!!! No silêncio do contrato, quem escolhe é o devedor (o devedor


sempre se dá bem).

2ª REGRA: IMPORTANTE!!! Princípio do meio termo, “o devedor não pode dar a


pior coisa, nem pode ser obrigado a dar a melhor”.

Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a


escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da
obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a
prestar a melhor.

IMPORTANTE!!! Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou
deterioração da coisa, AINDA QUE POR FORÇA MAIOR OU CASO FORTUITO.
POIS O GÊNERO NUNCA PERECE.

3ª REGRA: descumprimento da obrigação de dar coisa incerta.

Regra, o generun nunquam perit.

 1ª Hipótese - Sem culpa: se não tinha havido concentração, o devedor entrega


outra coisa do mesmo gênero e quantidade (não tem como perecer).

 2ª hipótese - Com culpa: se não tinha havido concentração, o devedor entrega


outra coisa do mesmo gênero e quantidade (não tem como perecer).

IMPORTANTE!!! Obrigação quase genérica: com gênero limitado. Ex. Dar uma das
50 vacas filhas do boi bandido. Quando o gênero for limitado (vacas filha do boi bandido,
vinho da safra de 1867), se houver perda do gênero (todas as vacas morreram, todas as
garrafas se quebraram) a responsabilidade é igual a de dar coisa certa.

- Sem culpa: extingue a obrigação.


- Com culpa: perdas e danos.
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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO II
DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER

1- ESPÉCIES

Consiste em uma atividade (ação), que não a entrega de algo (Ex. Fazer). A
prestação consiste em atos ou serviços a serem executados pelo devedor.

Pode ser:

a) Fungível: substituível, não há exigência de que o credor cumpra pessoalmente a


obrigação, não se trata de ato cuja execução dependa de qualidades pessoais do devedor.
Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao
credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora
deste, sem prejuízo da indenização cabível.
Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor,
independentemente de autorização judicial, executar ou mandar
executar o fato, sendo depois ressarcido.

b) Infungível: insubstituível. Gera obrigação personalíssima, quem deve prestar a


obrigação é uma pessoa determinada.

Descumprimento da obrigação.

 1ª Hipótese - Sem culpa: extingue a obrigação seja fungível ou infungível. Ex.


Show do Bartucada em Guarapari. Quebra do ônibus. Evento imprevisível. Caso
fortuito. Extingue-se a obrigação sem indenização devida.

 2ª Hipótese - Com culpa:

a) Na obrigação fungível, pode processar exigindo obrigação de fazer, ou fazer a coisa à


custa do devedor.

b) Se a obrigação for infungível, só pode processar exigindo obrigação de fazer.


Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor
que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível.

Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do


devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por
perdas e danos.

Em caso de recusa do devedor de cumprir a prestação, aplica-se o art. 247 CC


(perdas e danos).

Obs. Se o credor aceitou que terceiro prestasse a obrigação infungível, não poderá
reclamar perdas e danos, vez que se alterou a obrigação, de infungível ela passou a
fungível.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

IMPORTANTE!!! Quando o credor não tinha outra opção, que não aceitar a coisa,
poderá ele exigir perdas e danos (Ex. Contratei Caetano Veloso para o meu casamento e
no dia ele mandou o Bonde da Chatuba. Ou fico sem música ou aceito).

IMPORTANTE!!! Atualmente a regra quanto ao descumprimento da obrigação de


fazer ou não fazer é a da execução especifica, sendo EXCEÇÃO a resolução em
perdas e danos.

Art. 497.  Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de
não fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela
específica ou determinará providências que assegurem a obtenção
de tutela pelo resultado prático equivalente.
Parágrafo único.  Para a concessão da tutela específica destinada a
inibir a prática, a reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a sua
remoção, é irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da
existência de culpa ou dolo.

Art. 499.  A obrigação somente será convertida em perdas e danos


se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a
obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.

Em caso de obrigação de fazer fungível, que pode ser executada por terceiro
“será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora
deste, sem prejuízo da indenização cabível (art. 249 CC).” Em caso de urgência, pode o
credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato,
sendo depois ressarcido (art. 249 §único).

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO III
DAS OBRIGAÇÕES DE NÃO FAZER

A obrigação de não fazer, ou negativa, impõe ao devedor um dever de


abstenção: o de não praticar o ato que poderia livremente fazer, se não se houvesse
obrigado. Se praticarem o ato que se obrigaram a não fazer, tornar-se-ão inadimplentes.

Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o


credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua
custa, ressarcindo o culpado perdas e danos.

Ou o devedor desfaz pessoalmente o ato, ou poderá vê-lo desfeito por terceiro, por
determinação judicial, pagando ainda perdas e danos. Sempre haverá o pagamento de
perdas e danos em caso de inadimplemento.

Dispõe o art. 250 que “extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem
culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não
praticar.” O § único do art. 251 ainda preceitua que “em caso de urgência, poderá o
credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem
prejuízo do ressarcimento devido”.

A obrigação de não fazer pode ser:

a) Obrigação transeunte: aquela que se for descumprida, ela é extinta, ou seja, ela não
permanece no tempo (Ex. Não causar dano. Causou, já era. Ex. Revelar segredo
industrial).

a.1) Descumprimento da obrigação transeunte:

 1ª hipótese - sem culpa: a obrigação é extinta

 2ª hipótese - com culpa: perdas e danos (seja patrimoniais ou morais).

b) Obrigação permanente: aquela que se prolonga no tempo (Ex. Servidão, não


construir acima de determinada altura).

b.1) Descumprimento da obrigação permanente:

 1ª hipótese - sem culpa: a obrigação permanece (pode exigir o desfazimento),


porém não há direito à indenização.

 2ª hipótese - com culpa: pode exigir o desfazimento + perdas e danos.

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CAPÍTULO IV
DAS OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS

1- CONCEITO

A obrigação alternativa é composta pela multiplicidade de objetos. Tem por


conteúdo duas ou mais prestações, das quais somente uma será escolhida para
pagamento ao credor e liberação do devedor. Os objetos são ligados pela disjuntiva
“OU”. Difere-se da cumulativa, em que também há uma pluralidade de prestações, mas
todas devem ser solvidas.

IMPORTANTE!!! Difere-se também da obrigação de dar coisa incerta. Nessa a


escolha recai sobre a qualidade do único objeto existente, na obrigação alternativa a
escolha recai sobre um dos objetos in obligatione.

2- DIREITO DE ESCOLHA

Art. 252. Nas obrigações alternativas, A ESCOLHA CABE AO


DEVEDOR, se outra coisa não se estipulou.
§ 1o Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma
prestação e parte em outra.
§ 2o Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade
de opção poderá ser exercida em cada período.
§ 3o No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo
unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado
para a deliberação.
§ 4o Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não
puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as
partes.

O direito de escolha cabe ao devedor se outra coisa não se estipulou. Se


conferida a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a
escolha se não houver acordo entre as partes.

Cientificada a escolha, ocorre a concentração, ficando determinado de modo


definitivo, sem possibilidade de retratação unilateral o objeto da obrigação.

O credor NÃO pode ser obrigado a receber parte em uma prestação e parte em
outra. O devedor deve uma OU outra.

Obs. Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser
exercida em cada período (nesse caso: me obrigo a entregar, todo mês, arroz ou feijão ao
credor. Nesse caso, posso entregar arroz no primeiro mês, feijão no segundo.. ou seja,
poderei escolher a prestação que darei em cada mês)

3- IMPOSSIBILIDADE DAS PRESTAÇÕES


Art. 253. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação
ou se tornada inexeqüível, subsistirá o débito quanto à outra.

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Trata-se de impossibilidade material. Se a impossibilidade for jurídica, por ilícito


de um objeto (praticar crime), toda a obrigação fica contaminada de nulidade, sendo
inexigíveis ambas as prestações.

Art. 254. Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma
das prestações, não competindo ao credor a escolha, ficará aquele
obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou, mais
as perdas e danos que o caso determinar.

Art. 255. Quando a escolha couber ao credor e UMA das prestações


tornar-se impossível por culpa do devedor, o credor terá direito de
exigir a prestação subsistente OU o valor da outra, com perdas e
danos; se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem
inexeqüíveis, poderá o credor reclamar o valor de qualquer das
duas, além da indenização por perdas e danos.

No caso do art. 255 o credor não é obrigado a ficar com o objeto remanescente,
pois a escolha era dele.
Art. 256. Se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do
devedor, extinguir-se-á a obrigação.

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CAPÍTULO V
DAS OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS

1- CONCEITO

As obrigações divisíveis e indivisíveis são compostas pela pluralidade de


sujeitos.

Obrigações divisíveis são aquelas que o objeto pode ser dividido entre os
sujeitos, o que não ocorre com as indivisíveis. É licito afirmar que a divisibilidade ou
não de uma prestação confunde-se com a de seu objeto.

Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto


uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza,
por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do
negócio jurídico.

A indivisibilidade decorre da natureza da coisa (indivisibilidade natural), por


vontade das partes (indivisibilidade intelectual) e judicial (Ex. Obrigação de indenizar
que deve ser paga por inteiro a mãe, embora o pai não pleiteie).

2- DIVISIBILIDADE E INDIVISIBILIDADE NAS OBRIGAÇÕES DE


DAR, FAZER E NÃO FAZER

A obrigação de dar será divisível ou indivisível dependendo de seu objeto.

A obrigação de fazer algumas vezes pode ser divisível e outras não. Por
exemplo, a obrigação de fazer uma estátua é indivisível, mas será divisível se o escultor
for contratado para fazer 10 estátuas, entregando uma a cada dez dias.

As obrigações negativas, de não fazer, são em regra geral indivisíveis.

3- EFEITOS DA INDIVISIBILIDADE E DIVISIBILIDADE

Se a obrigação for DIVISÍVEL, cada devedor só deve a sua quota-parte. A


insolvência de um não aumentará a quota dos demais. Havendo vários credores e um só
devedor, cada credor receberá somente a sua parte.
Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em
obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações,
iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Quando a obrigação for indivisível, e há pluralidade de devedores, cada um será


obrigado pela dívida toda. Mas somente porque o objeto não pode ser dividido. O que
paga a dívida dispõe de ação regressiva contra os outros coobrigados.
Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for
divisível, cada um será obrigado pela dívida toda.
Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no
direito do credor em relação aos outros coobrigados.

Proclama o art. 260 que se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes
exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando:
I - a todos conjuntamente;
II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores.

De acordo com o art. 261, “se um só dos credores receber a prestação por inteiro,
a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba
no total.”

Dispõe o art. 262, “se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará
extinta para com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do credor
remitente. Esse mesmo critério se observará no caso de transação, novação, compensação
ou confusão.”

IMPORTANTE!!! Segundo o art. 263, “perde a qualidade de indivisível a obrigação


que se resolver em perdas e danos (ou seja, com culpa do devedor)”. No lugar do
objeto desaparecido o devedor entregará seu equivalente em dinheiro mais perdas e
danos. O objeto transformado em dinheiro pode agora ser dividido. Se houver culpa de
todos os devedores, responderão todos por partes iguais (§1º). Como a culpa é pessoal,
se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas
perdas e danos. (§ 2o).

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CAPÍTULO VI
DAS OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS

1- DISPOSIÇÕES GERAIS E CONCEITO

Obrigação solidária é aquela em que, havendo vários devedores, cada um


responde pela divida inteira, como se fosse o único devedor. Se a pluralidade for de
credores, pode qualquer deles exigir a prestação integral, como se fosse o único credor.
Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais
de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou
obrigado, à dívida toda.

IMPORTANTE!!! A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das


partes.
Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da LEI ou da
VONTADE DAS PARTES.

Dispõe o art. 266 CC que a “obrigação solidária pode ser pura e simples para
um dos co-credores ou co-devedores, e condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar
diferente, para o outro.”

2- CARACTERÍSTICAS

a) Pluralidade de credores ou de devedores, ou de uns e de outros (ativa, passiva ou


mista).
b) Integralidade da prestação: qualquer credor pode exigi-la integralmente e qualquer
devedor responde pela dívida toda.
c) Co-responsabilidade dos interessados: o devedor que solve pode reaver dos demais
as quotas de cada um. O credor que recebe sozinho deve prestar contas perante os demais
credores pelas quotas de cada um.

3- DIFERENÇA ENTRE SOLIDARIEDADE E INDIVISIBILIDADE

A solidariedade assemelha-se a indivisibilidade em um único aspecto: em


ambos os casos o credor pode exigir de um só dos devedores o pagamento da totalidade
do objeto devido.

Diferem-se, no entanto pelas seguintes razões:

a) Se cada devedor solidário pode ser compelido a pagar sozinho a dívida por inteiro, tal
fato se dá por ser devedor do todo. Nas obrigações indivisíveis, contudo, o co-devedor só
deve a sua cota parte. Se pode ser compelido ao pagamento da totalidade do objeto é
porque não se pode fracioná-lo.

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b) Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos.


Art. 263. PERDE A QUALIDADE DE INDIVISÍVEL a obrigação
que se resolver em perdas e danos.

Na solidariedade, entretanto, tal não ocorre, pois cada devedor continuará


responsável pelo pagamento integral do equivalente em dinheiro do objeto perecido.

4- SOLIDARIEDADE ATIVA

Dispõe o Art. 267: “Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do
devedor o cumprimento da prestação por inteiro.” O devedor libera-se pagando a
qualquer um dos credores, que por sua vez, pagará aos demais a quota de cada um.

De acordo com o Art. 268, enquanto alguns dos credores solidários não
demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poderá este pagar . Cessa esse
direito, porém, se um deles já ingressou em juízo com ação de cobrança, pois só a ele o
pagamento pode ser efetuado.

Proclama o Art. 269: “O pagamento feito a um dos credores solidários


extingue a dívida até o montante do que foi pago.” Se também um dos credores nova,
compensa, remite ou transige, com isso exonera o devedor do pagamento aos demais
sujeitos ativos.

IMPORTANTE!!! Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada


um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao
seu quinhão hereditário, SALVO se a obrigação for indivisível. Os herdeiros do
credor solidário não podem assim, exigir a totalidade do crédito, mas apenas a própria
cota no credito solidário de que o falecido era titular, juntamente com os outros credores.
Mas, se este deixou um único herdeiro, se todos os herdeiros agirem conjuntamente
ou se indivisível a prestação, pode ser reclamada a prestação por inteiro.

IMPORTANTE!!! Dispõe o Art. 271 que convertendo-se a prestação em perdas e


danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade.

O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos


outros pela parte que lhes caiba, podendo ser convencido em ação regressiva por estes
movida (art. 272 CC).

De acordo com o art. 273:


Art. 273. A um dos credores solidários NÃO pode o devedor opor as
exceções pessoais oponíveis aos outros.

Obs. Art. 274 CC – modificado pelo NOVO CPC.


Art. 274.  O julgamento contrário a um dos credores
solidários NÃO atinge os demais, mas o julgamento
favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal
que o devedor tenha direito de invocar em relação a
qualquer deles.   (Redação dada pela Lei nº 13.105, de
2015) 

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

5- SOLIDARIEDADE PASSIVA

5.1 CONCEITO
Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns
dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento
tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados
solidariamente pelo resto.
Parágrafo único. NÃO importará renúncia da solidariedade a
propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos
devedores.

5.2 EFEITOS

Basta ler a letra da lei.


Art. 278. Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional,
estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, não poderá
agravar a posição dos outros sem consentimento destes.

Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos


devedores solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o
equivalente; MAS PELAS PERDAS E DANOS SÓ RESPONDE O
CULPADO.

Art. 280. Todos os devedores respondem pelos JUROS DA MORA,


ainda que a ação tenha sido proposta somente contra um; mas o
culpado responde aos outros pela obrigação acrescida.

Art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que


lhe forem pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando as
exceções pessoais a outro co-devedor.

Art. 282. O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um,


de alguns ou de todos os devedores.
Parágrafo único. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais
devedores, subsistirá a dos demais.

Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a
exigir de cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se
igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se
iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores.

Art. 284. No caso de rateio entre os co-devedores, contribuirão


também os exonerados da solidariedade pelo credor , pela parte que
na obrigação incumbia ao insolvente.

Art. 285. Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos


devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar.

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TÍTULO II
DA TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES
CAPÍTULO I
DA CESSÃO DE CRÉDITO

1- CESSÃO DO CRÉDITO

Conceito: É o ato negocial bilateral por meio do qual o credor transfere seu
crédito a outro credor, mantendo-se a mesma relação obrigacional.

IMPORTANTE!!! É importante observar que a cessão de crédito NÃO modifica a


relação obrigacional.

Há uma substituição do pólo ativo.

O credor que transfere seus direitos se denomina cedente. O terceiro a quem são
eles transmitidos, investindo-se na sua titularidade, o cessionário. O terceiro personagem,
o devedor ou cedido, não participa necessariamente da cessão, QUE PODE SER
REALIZADA SEM A SUA ANUÊNCIA.

O cedente há de ser pessoa capaz e legitimada a praticar atos de alienação.

IMPORTANTE!!! A cessão de credito não se confunde com a cessão de contrato, em


que se procede a transmissão, ao cessionário, da inteira posição contratual do cedente. Ex.
Transferência a terceiro, feita pelo promitente comprador, de sua posição no
compromisso de compra e venda.

IMPORTANTE!!! A cessão de crédito distingue-se também da novação subjetiva


ativa. Nesta, além da substituição do credor, ocorre a extinção da obrigação anterior,
substituída por novo crédito. Na cessão subsiste o crédito antigo, que é transmitido ao
cessionário com TODOS OS ACESSÓRIOS.

Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito


ABRANGEM-SE TODOS OS SEUS ACESSÓRIOS.

IMPORTANTE!!! Não se confunde também com sub-rogação legal. O sub-rogado


não pode exercer os direitos e ações do credor além dos limites desembolsados, não
tendo, pois, caráter especulativo.

Pode ser gratuita ou onerosa.

Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a
natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula

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proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se


não constar do instrumento da obrigação.

A regra é que sempre cabe cessão de crédito, salvo se ocorrerem algumas


circunstâncias impeditivas (que pode ser por convenção, pela natureza do crédito. Ex.
alimentar, ou pela lei. Ex. Art. 1749, III).

IMPORTANTE!!! A convenção que proíbe a cessão (pacto de non cedendo) deve ser
escrita e estar inscrita no título obrigacional.

À luz do princípio da boa-fé objetiva, e como decorrência do dever de informação,


nos termos do art. 290 o devedor deve ser “notificado” da cessão feita, sob pena de não
surtir efeitos em face dele.

Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao


devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o
devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da
cessão feita.

Vale lembrar, a teor dos art. 292 e 294, que a notificação é importante para que
o devedor saiba a quem pagar, bem como possa defender-se em face do novo credor.
A notificação pode ser judicial ou extrajudicial. Qualquer interessado pode fazer a
notificação. Entretanto, o maior interessado em notificar é o cessionário, pois de acordo
com o art. 292, “fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da
cessão, paga ao credor primitivo.”

Art. 292. Fica desobrigado o devedor que, antes de ter


conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo , ou que, no caso
de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe
apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida; quando o
crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da
notificação.

Obs. O devedor deve ser apenas comunicado, ele não precisa concordar com a cessão.
Art. 294. O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe
competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter
conhecimento da cessão, tinha contra o cedente.

IMPORTANTE!!! O devedor vai poder opor ao novo credor as defesas que tinha
contra o credor originário desde que no momento em que for notificado da cessão,
ele oponha as exceções pessoais que tiver contra o cedente. (Ex. Prescrição, coação).
Se nesse momento ele não opor essas exceções, ele não mais poderá arguir contra o
cessionário, as exceções que eram cabíveis contra o primeiro.

Já as exceções oponíveis diretamente contra o cessionário podem ser arguidas a


todo tempo.

Em regra, a cessão convencional não exige forma especial para valer entre as
partes, salvo se tiver por objeto, direitos em que a escritura pública seja da substância do
ato. Entretanto, PARA VALER CONTRA TERCEIROS o art. 288 CC exige
“instrumento público, ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1 o do art.
654”.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Art. 654. Todas as pessoas capazes são aptas para dar procuração
mediante instrumento particular, que valerá desde que tenha a
assinatura do outorgante.
§ 1o O instrumento particular deve conter a indicação do lugar
onde foi passado, a qualificação do outorgante e do outorgado, a
data e o objetivo da outorga com a designação e a extensão dos
poderes conferidos.
§ 2o O terceiro com quem o mandatário tratar poderá exigir que a
procuração traga a firma reconhecida.

Responsabilidade pela cessão:

IMPORTANTE!!! A regra geral do direito brasileiro, nos termos dos artigos 295 a 297,
é no sentido de que o cedente garante a EXISTÊNCIA do crédito (cessão pro soluto);
no entanto, em caráter excepcional, nada impede que se convencione também que o
cedente garantirá também a SOLVÊNCIA do devedor (cessão pro solvendo). Se ficar
estipulado que o cedente responde pela solvência do devedor, sua responsabilidade
limitar-se-á ao que recebeu do cessionário, com os respectivos juros mais as despesas
com a cessão e as efetuadas com a cobrança.
Art. 295. Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se
responsabilize, fica responsável ao cessionário pela EXISTÊNCIA
DO CRÉDITO ao tempo em que lhe cedeu; a mesma
responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver
procedido de má-fé.

Art. 296. Salvo estipulação em contrário , O CEDENTE NÃO


RESPONDE PELA SOLVÊNCIA DO DEVEDOR.

Art. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do


devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os
respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as
que o cessionário houver feito com a cobrança.

2- CESSÃO DE DÉBITO OU ASSUNÇÃO DE DÍVIDA

Na cessão de débito, o devedor, com EXPRESSO CONSENTIMENTO do


credor, transfere a sua dívida, mantendo-se a mesma relação obrigacional.

Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o


CONSENTIMENTO EXPRESSO DO CREDOR, ficando
exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da
assunção, era insolvente e o credor o ignorava.

Há uma mudança no pólo passivo, mantendo-se a mesma obrigação.

IMPORTANTE!!! Na cessão de débito o silêncio não significa consentimento (quem


cala aqui, não consente). O consentimento do credor deve ser EXPRESSO.

Obs. Como regra, o devedor originário sai fora. O devedor primitivo poderá reassumir a
dívida, caso o novo devedor seja insolvente e o credor o ignore.

Art. 300. Salvo assentimento expresso do devedor


primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

dívida, as garantias especiais por ele originariamente dadas


ao credor.

Art. 301. Se a substituição do devedor vier a ser anulada,


restaura-se o débito, com todas as suas garantias, SALVO
as garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia
o vício que inquinava a obrigação.

Art. 302. O novo devedor NÃO pode opor ao credor as


exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo.

Ex. O devedor novo não pode dizer que o devedor antigo foi coagido, ou agiu em erro, ou
que era incapaz.

3- CESSÃO DE CONTRATO/CESSÃO DE POSIÇÃO CONTRATUAL

O CC brasileiro não trata da cessão de posição contratual.

Conceito: trata-se do ato jurídico negocial, por meio do qual uma das partes do
contrato (cedente) transfere a sua própria posição (incluindo créditos e débitos) a um
terceiro (cessionário), COM A ANUÊNCIA DA OUTRA PARTE.

Obs. A doutrina que melhor explica a cessão de contrato, é a teoria unitária, defendida
por autores como Pontes de Miranda e Antunes Varella, no sentido de que a cessão de
contrato não deve ser fragmentada, traduzindo uma transferência única e global da
posição no contrato.

Silvio Rodrigues lembra que alguns tipos de contrato, frequentemente são objetos
de cessão (Ex. Locação, empreitada, financiamento).

Na cessão de posição contratual se transferem de uma só vez os direitos e deveres


da parte.

IMPORTANTE!!! Como regra, a outra parte deve autorizar, para que a cessão de
posição contratual seja válida.

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TÍTULO III
DO ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS
OBRIGAÇÕES
CAPÍTULO I
DO PAGAMENTO

1- NOÇÕES E ESPÉCIES DE PAGAMENTO

Pagamento é o mesmo que adimplemento. Pagamento é o cumprimento de


qualquer tipo de obrigação, não só pagar em dinheiro. Ex. Pintor entrega o quadro
encomendado.

O pagamento pode ser direto (exato cumprimento da prestação acordada) ou


indireto (extinção da obrigação de forma diferente do que foi acordado Ex. Dação,
novação).

A obrigação ainda pode se extinguir por meios anormais, isto é, sem pagamento,
como nos casos de impossibilidade de execução sem culpa do devedor.

2- NATUREZA JURÍDICA E REQUISITOS DE VALIDADE

Predomina na doutrina o entendimento de que o pagamento tem natureza


contratual. Corresponde a um contrato, por também resultar de um acordo de vontades,
estando sujeito a todas as suas normas. Para outros o pagamento é um ato jurídico.

Obs. A corrente que mais me agrada é que pagamento é um ato jurídico porque de fato
seus efeitos advém da lei e já são conhecidos de todos pela própria definição do que vem
a ser pagamento (aquilo que leva à extinção da obrigação).

Lembrar!!! No ato jurídico, os efeitos produzidos advém da lei (reconhecimento de


filho). Ao contrário, no negócio jurídico os efeitos produzidos são os determinados pelas
partes (contratos).

Para o pagamento produzir seu principal efeito, que é o de extinguir a obrigação,


devem estar presentes seus requisitos essenciais de validade. São eles:

a) Existência do vínculo obrigacional: se este não existe não há o que pagar. Qualquer
pagamento será então indevido, obrigando a restituição por parte de quem o recebeu.

b) Cumprimento da prestação: de acordo com o art. 304, qualquer interessado na


extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à
exoneração do devedor.

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c) Animus solvendi: manifestação da vontade livre. Se o sujeito foi coagido a pagar, esse
pagamento não é válido. Deve ter a intenção de pagar.

Obs. O credor deve usar as vias ordinárias de cobrança (ação de cobrança). Não é porque
ele tem um crédito que vai poder fazer o que quiser para cobrá-lo.

d) Sujeito ativo do pagamento: quem paga é o solvens ou pagador. É o devedor da


obrigação

e) Sujeito passivo do pagamento: quem recebe é o accipiens. É o credor da obrigação.

3- DE QUEM DEVE PAGAR

Art. 304. QUALQUER INTERESSADO na extinção da dívida pode


pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à
exoneração do devedor.

O principal interessado na solução da divida, a quem compete o dever de paga-


la, é o devedor.

IMPORTANTE!!! Só se considera interessado quem tem INTERESSE JURÍDICO


na extinção da dívida, isto é, quem está vinculado ao contrato, como o fiador, o
avalista, o solidariamente obrigado e etc.

Entretanto, não somente o devedor ou o terceiro interessado que podem efetuar o


pagamento. Pode fazê-lo também, o terceiro não interessado. Que apesar de não ter
interesse jurídico na solução da divida, tem outro tipo de interesse tais como o moral, a
amizade e etc.
Art. 304. Parágrafo único. Igual direito cabe ao TERCEIRO NÃO
INTERESSADO, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo
oposição deste.

#O terceiro não interessado pode cobrar aquilo que pagou?


O art. 305 fala que pode cobrar, porém, não há sub-rogação. Somente o terceiro
interessado que efetua o pagamento que se sub-roga nos direitos do credor.

Art. 305. O TERCEIRO NÃO INTERESSADO, que paga a dívida


em SEU PRÓPRIO NOME, tem direito a reembolsar-se do que
pagar; mas NÃO SE SUB-ROGA nos direitos do credor.
Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito
ao reembolso no vencimento.

Por outro lado, se o terceiro paga em nome do devedor , não há sub-rogação


também, e não há reembolso. Entende-se que neste caso, quis fazer uma liberalidade,
uma doação, sem qualquer direito a reembolso.

#O terceiro não interessado pode provocar o pagamento (por meio da consignação)?


Se ele tentar pagar em nome próprio, ele não pode consignar (o credor pode se
recusar a receber). Por outro lado, se ele for pagar em nome do devedor ele pode
consignar. O credor não pode recusar o pagamento.

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Por outro lado, é inoperante a oposição do devedor ao pagamento de sua dívida


por terceiro não interessado, se o credor desejar receber. Só há um meio de ele evitar esse
pagamento: é o próprio devedor antecipar-se.

De acordo com o art. 306, o pagamento feito por terceiro, com desconhecimento
ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha
meios para ilidir a ação. Ex. Arguição de prescrição, decadência, compensação e etc. O
terceiro só terá direito ao reembolso até a importância que realmente aproveite ao
devedor.

Prescreve o art. 307:

Art. 307 Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da


propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto em que ele
consistiu.
Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se
poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e consumiu,
ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la.

De acordo com o §único, só resta ao verdadeiro proprietário voltar-se contra quem


a entregou indevidamente.

4- DAQUELES A QUEM SE DEVE PAGAR

O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, ou


ainda aos sucessores daquele, sob pena de não extinguir a obrigação. Considera-se
válido o pagamento a terceiro se for ratificado pelo credor ou se reverter em seu proveito.

Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o


represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto
quanto reverter em seu proveito.

O art. 311 considera autorizado a receber o pagamento o portador da quitação,


salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante. Pois não se descarta a
possibilidade do título ter sido extraviado ou furtado o recibo.

Dispõe o art. 309, “o pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido,


ainda provado depois que não era credor.” Ex. Locador aparente que se intitula
proprietário do imóvel e o aluga a outro. Ao verdadeiro credor só resta voltar-se contra o
credor putativo.

Obs. Se houver dúvida, deve ser feita a consignação em pagamento. E lembrar que o
termo putativo está ligado a boa-fé.

De acordo com o art. 310, não vale o pagamento cientemente feito ao credor
incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente
reverteu. A quitação reclama capacidade e sem ela o pagamento não vale . No entanto,
provado que se reverteu em proveito do incapaz, cessa a razão da ineficácia.

IMPORTANTE!!! Hipótese em que o pagamento feito ao verdadeiro credor não valerá.

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Art. 312 Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da


penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por
terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão
constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o
regresso contra o credor.

5- DO OBJETO DO PAGAMENTO

O objeto do pagamento é sua prestação.

Obs. Distingue-se dívida em dinheiro de dívida de valor. Na dívida em dinheiro o objeto


da prestação é o próprio dinheiro. Quando, no entanto, o dinheiro não constitui o objeto
da prestação, mas apenas representa seu valor, diz-se que a divida é de valor.

Obs. A obrigação de indenizar, decorrente da pratica de um ato ilícito constitui dívida de


valor.

Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da


que lhe é devida, ainda que mais valiosa.

Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação


divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor
a pagar, por partes, se assim não se ajustou.

Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em


moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos
subseqüentes.

Art. 325. Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o


pagamento e a quitação; se ocorrer aumento por fato do credor,
suportará este a despesa acrescida.

Art. 326. Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso,


entender-se-á, no silêncio das partes, que aceitaram os do lugar da
execução.

6- DA PROVA DO PAGAMENTO

Pagamento não se presume. Prova-se pela regular quitação fornecida pelo


credor. O devedor tem o direito de exigir a quitação, podendo reter o pagamento e
consigná-lo se não lhe for dada.
Art. 319. O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode
reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada.

Art. 335. A consignação tem lugar:


I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o
pagamento, ou dar quitação na devida forma;

Os requisitos que a quitação deve constar se encontram no art. 320.

Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento
particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do
devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento,
com a assinatura do credor, ou do seu representante. (escrita)

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Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo


valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver
sido paga a dívida.

A quitação deverá ser dada por escrito público ou particular. E ainda que sem os
referidos requisitos, valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar
haver sido paga a dívida.

O CC estabelece três presunções que facilitam a prova do pagamento


dispensando a quitação:

Art. 321. Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título,


perdido este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração
do credor que inutilize o título desaparecido.

Art. 322. Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação


da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de
estarem solvidas as anteriores.

Art. 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes
presumem-se pagos.

Dispõe o art. 322 que quando o pagamento for em quotas periódicas, a


quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem
solvidas as anteriores. Parte do principio de que não é natural o credor receber a última
prestação sem haver recebido as anteriores. Essa presunção é relativa, admitindo-se
prova em contrário. Outra presunção relativa é a do art. 323, referente aos juros.

Dispõe o art. 324:

Art. 324 A entrega do título ao devedor firma a presunção do


pagamento.
Parágrafo único. Ficará sem efeito a quitação assim operada se o
credor provar, em sessenta dias, a falta do pagamento.

7- DO LUGAR DO PAGAMENTO

Dispõe o art. 327

Art. 327 Efetuar-se-á o pagamento no DOMICÍLIO DO DEVEDOR,


salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário
resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.
Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao
CREDOR escolher entre eles.

E de acordo com o art. 329, ocorrendo motivo grave para que se não efetue o
pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o
credor.

A regra geral, portanto, é que o pagamento seja feito no DOMICILIO DO


DEVEDOR, a não ser que as partes estipulem lugar diverso para o pagamento. Neste
caso, diz que a dívida é “quérable” (quesível). No caso de silencio aplica-se a regra
geral.

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Obs. De acordo com o CC, dívida relativa à imóvel se paga no local onde esse é situado.

Art. 328. Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em


prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem.

IMPORTANTE!!! De acordo com o art. 330, se o credor concorda, reiteradamente em


receber a prestação em local diverso, ocorrerá renúncia ao direito de receber no local
previsto no contrato (supressio).

Obs. Supressio é a supressão de um direito pelo não exercício no tempo.

8- TEMPO DO PAGAMENTO

O pagamento não pode ser exigido antes do prazo estipulado, salvo nos casos em
que a lei determina o pagamento antecipado. Não pode o credor reclamar o pagamento
no último dia do prazo, pois o devedor dispõe desse dia por inteiro.

As obrigações puras, com estipulação de data para o pagamento, devem ser


solvidas nessa ocasião, sob pena de inadimplemento e constituição do devedor em mora.
A falta de pagamento constitui o devedor em mora de pleno direito, segundo a máxima
“dies interpellat pro homine”, não há necessidade de interpelação ou notificação do
devedor, pois a chegada do vencimento corresponde a uma interpelação.

Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu


termo, constitui de pleno direito em mora o devedor.

A regra de que a obrigação deve ser cumprida no vencimento não é absoluta,


sofrendo duas exceções:

1ª) Antecipação do vencimento. Art. 333 CC:

Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de


vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código:
I - no CASO DE FALÊNCIA do devedor, ou de concurso de credores;
II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em
execução por outro credor;
III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do
débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a
reforçá-las.
Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito,
solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros
devedores solventes.

2ª) Pagamento antecipado quando o prazo tiver sido estabelecido em favor do


devedor. Nos contratos, o prazo se presume estabelecido em favor do devedor. Desse
modo, pode antecipar o pagamento. Mas se o prazo for estipulado em favor do credor,
pode este não receber o pagamento.

IMPORTANTE!!! Nos contratos regidos pelo CDC, o credor é obrigado a receber o


pagamento com redução proporcional dos juros (art. 57 §2º).

De acordo com o art. 331, salvo disposição legal em contrário, não tendo sido
ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

IMPORTANTE!!! Não havendo prazo avençado, é necessário que o devedor seja


informado do propósito do credor de receber, pois nas obrigações sem estipulação de
prazo para o seu cumprimento a mora do devedor só começa depois da interpelação
judicial ou extra-judicial.
Art. 397.
Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante
interpelação judicial ou extrajudicial.

De acordo com o art. 134 CC, nem sempre os atos sem prazo são exequíveis desde
logo, ou desde que feita a interpelação, pois há hipóteses em que a execução deverá ser
feita em lugar diverso ou depender de tempo.
Art. 134. Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exeqüíveis
desde logo, salvo se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou
depender de tempo.

Proclama o art. 332 que as obrigações condicionais cumprem-se na data do


implemento da condição, cabendo ao credor a prova de que deste teve ciência o
devedor. Este dispositivo se refere à condição suspensiva, pois a resolutiva não impede a
aquisição do direito desde logo.

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CAPÍTULO II
DO PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO

1- CONCEITO

Conceito: É a faculdade que o devedor tem de depositar em juízo o valor ante a


recusa ao pagamento, dúvida quanto à quem pagar ou dificuldade em pagar. Tem por
objetivo de liberar o devedor da obrigação. É meio indireto de pagamento. Pagar é um
dever e também um direito do devedor. Tem natureza declaratória.

A consignação é instituto de direito material e processual. O CC menciona as


hipóteses e o CPC o modo de fazê-lo.

A consignação pode ser judicial ou extrajudicial.


Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito
judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e
forma legais.

2- FATOS QUE AUTORIZAM A CONSIGNAÇÃO

O rol do art. 335 é “numerus abertus”. Rol exemplificativo.

Art. 335. A consignação tem lugar:


I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento,
ou dar quitação na devida forma; (recusa injusta)
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e
condição devidos; (caso de divida quesível)
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado
ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do
pagamento;
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.

3- REQUISÍTOS DE VALIDADE

Preceitua o art. 336, “Para que a consignação tenha força de pagamento, será
mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos
sem os quais não é válido o pagamento.” Deve ser feito pelo devedor em relação ao
verdadeiro credor sob pena de não valer, salvo se ratificado por ele ou se reverter em seu
proveito. (art. 304 e 308 CC)

Quanto ao objeto, exige-se a integralidade do depósito. O modo e o tempo será o


convencionado no contrato (não poderá pagar de modo diverso e em tempo diverso do
que foi estipulado no contrato). A mora do devedor não impede a consignação se ainda
não provocou consequências irreversíveis.

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4- REGULAMENTAÇÃO

Proclama o art. 337: O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando,


tanto que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se for julgado
improcedente. Sendo quesível a dívida (regra geral), o pagamento efetua-se no
domicilio do devedor, sendo portável, no domicilio do credor.

Os artigos 341 e 342 dizem:

Art. 341. Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser
entregue no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o credor
para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada.

Art. 342. Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor,


será ele cito para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser
depositada a coisa que o devedor escolher; feita a escolha pelo devedor,
proceder-se-á como no artigo antecedente.

De acordo com os arts. 338 e 339, enquanto o credor não declarar que aceita o
depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as
respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as consequências de direito. E
julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá levantá-lo, embora o credor
consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores. Procura-se resguardar o
interesse destes últimos, pois a procedência da ação extingue a obrigação,
acarretando a exoneração dos devedores solidários.

Art. 338. Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não
o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as
respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as
conseqüências de direito.

Art. 339. Julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá


levantá-lo, embora o credor consinta, senão de acordo com os outros
devedores e fiadores.

Art. 540 do Novo CPC.  Requerer-se-á a consignação no lugar do


pagamento, cessando para o devedor, à data do depósito, os juros e
os riscos, salvo se a demanda for julgada improcedente.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO III
DO PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO

1- CONCEITO E ESPÉCIES

Sub-rogação é a substituição de uma pessoa (pessoal), ou de uma coisa (real), por


outra pessoa ou por outra coisa, em uma relação jurídica.

IMPORTANTE!!! A sub-rogação constitui uma EXCEÇÃO a regra de que o


pagamento extingue a obrigação. A sub-rogação promove apenas uma
ALTERAÇÃO SUBJETIVA da obrigação, mudando apenas o credor. A extinção
obrigacional ocorre apenas em relação ao credor, que fica satisfeito. Nada se altera para o
devedor, que deverá pagar ao terceiro sub-rogado no crédito.

O efeito translativo pode vir da vontade das partes (convencional art. 347) como
da lei (legal art. 346)

Art. 346. A sub-rogação opera-se, de PLENO DIREITO, em favor:


I - do credor que paga a dívida do devedor comum;
II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor
hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para
não ser privado de direito sobre imóvel;
III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou
podia ser obrigado, no todo ou em parte.

Art. 347. A sub-rogação é CONVENCIONAL:


I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe
transfere todos os seus direitos; (espécie de cessão de crédito)
II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para
solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado
nos direitos do credor satisfeito.

IMPORTANTE!!! Terceiro interessado é o que pode ter seu patrimônio afetado caso a
dívida, pela qual também se obrigou, não seja paga. Sub-roga-se automaticamente nos
direitos do credor.

IMPORTANTE!!! O TERCEIRO NÃO INTERESSADO que paga a dívida em seu


próprio nome NÃO se sub-roga nos direitos do credor, mas tem o direito de ser
reembolsado. Se o terceiro não interessado pagar a dívida em nome do devedor, esse
pagamento se considera uma mera liberalidade, um favor, não tendo direito ao
reembolso.

2- EFEITOS

#Quais são os principais efeitos do pagamento com sub-rogação?


Efeito liberatório (libera o credor primitivo) e translativo (transferência dos direitos do
credor primitivo para quem pagou).

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

IMPORTANTE!!! O terceiro que se sub-rogou não recebe só o crédito, RECEBE


TAMBÉM PRIVILÉGIOS, AÇÕES E GARANTIAS EXISTENTES (Isso na legal.
Na convencional as partes podem estipular o que será transferido).

IMPORTANTE!!! Portanto, na sub-rogação legal o efeito translativo não se opera só


sobre o crédito, mas sim sobre todos os direitos do credor primitivo.

#Existe limite na sub-rogação convencional?


Na sub-rogação legal, quem pagou só se sub-roga na quantia que desembolsou (art.
350). Na sub-rogação convencional a doutrina tem aplicado por analogia o art. 350.

Art. 350. Na sub-rogação legal (e na convencional, por analogia) o


sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão
até à soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor.

IMPORTANTE!!! Na cessão de crédito não existe esse limite. Na cessão de crédito,


que tem natureza especulativa, um sujeito pode comprar um crédito de 100 por 50, caso
em que poderá cobrar os 100. Isso não ocorre na sub-rogação.

IMPORTANTE!!! O pagamento com sub-rogação também não se confunde com a


novação subjetiva, por lhe faltar o animus novandi.

Dispõe o Art. 351: “O credor originário, só em parte reembolsado, terá


preferência ao sub-rogado, na cobrança da dívida restante, se os bens do devedor
não chegarem para saldar inteiramente o que a um e outro dever.” Assim o credor
originário terá preferência sobre o credor sub-rogado, pois este por ter efetuado o
pagamento parcial, se sub- rogou apenas em parte do crédito.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO IV
DA IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO

1- CONCEITO

A imputação do pagamento consiste na indicação ou determinação da dívida


a ser quitada, quando uma pessoa se encontra obrigada por dois ou mais débitos da
mesma natureza, a um só credor, e efetua pagamento não suficiente para saldar todas
elas.
Art. 352. A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da MESMA
NATUREZA, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles
oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos.

Esse direito sofre, entretanto, algumas limitações:

a) O devedor NÃO pode imputar pagamento em dívida ainda não vencida se o prazo se
estabeleceu em beneficio do credor (CC art. 133). A imputação em dívida não vencida
não se fará sem o consentimento do credor.
b) O devedor não pode imputar o pagamento de dívida cujo montante seja superior ao
valor ofertado (art. 314 CC).
c) O devedor não pode ainda, pretender que o pagamento seja imputado no capital,
quando há juros vencidos, “salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a
quitação por conta do capital.”

2- REQUISITOS

a) pluralidade de obrigações
b) identidade de credor e devedor
c) fungibilidade entre as prestações (mesma natureza)
d) dívidas devem ser LÍQUIDAS (certa quanto à sua existência e determinada quanto ao
seu objeto) e VENCIDAS (exigível).
e) suficiência da prestação para quitar pelo menos uma dívida pretendida.

#No silêncio do contrato, a quem cabe a escolha da imputação?


No silêncio, quem escolhe qual dívida está sendo paga é o devedor. Caso ele não impute,
quem escolhe é o credor.

De acordo com o art. 353, “se o devedor não imputou, a escolha cabe ao credor, se
o devedor aceitar a quitação de uma delas, não poderá mais reclamar, a não ser se provar
violência ou dolo.”

Art. 353. Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e
vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não
terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo provando
haver ele cometido violência ou dolo.

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Obs. a interpretação do art. 353 deve ser restritiva, não abrangendo os demais vícios.

Se nem o devedor nem o credor imputaram, quem escolhe é a lei (arts. 354 e 355).
Art. 354. Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro
nos juros vencidos, e depois no capital, salvo estipulação em
contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital.

Art. 355. Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação


for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e
vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e
vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa.

1º) Paga-se a que VENCEU PRIMEIRO.


2º) Se as dívidas venceram ao mesmo tempo, paga-se a MAIS ONEROSA (não é
necessariamente a mais cara, é a mais onerosa. Ex. A que rende juros mais alto).
3º) Havendo dívida de capital e juros, o pagamento IMPUTAR-SE-Á PRIMEIRO AOS
JUROS

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO V
DA DAÇÃO EM PAGAMENTO

1- CONCEITO

A dação em pagamento é um acordo de vontade entre credor e devedor, por meio


do qual o primeiro concorda em receber do segundo, para exonerá-lo da dívida,
prestação diversa da que lhe é devida. É forma de pagamento indireto.

Art. 356. O credor pode consentir em receber prestação diversa da


que lhe é devida.

IMPORTANTE!!! Não confundir com a novação, onde se cria uma nova dívida (não
se tem pagamento propriamente dito na novação).

A dação em pagamento pode ocorrer em qualquer tipo de obrigação (dar, fazer e


não fazer), e não somente na de dar. Pode inclusive misturá-las.

IMPORTANTE!!! Art. 359. Se ocorrer evicção quanto ao bem dado em dação,


restaura-se a obrigação primitiva.

Art. 359. Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento,


restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação
dada, ressalvados os direitos de terceiros.

Dispõe o art. 358 que se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a
transferência importará em cessão. Nesse caso o fato deverá ser notificado ao cedido (art.
290 CC).

Prescreve ainda o art. 357 que determinado o preço da coisa dada em pagamento,
as relações entre as partes regular-se-ão pelas normas do contrato de compra e venda.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO VI
DA NOVAÇÃO

1- CONCEITO E REQUISITOS

Novação é a criação de uma obrigação nova com o intuito de extinguir a


obrigação primitiva. É a substituição de uma dívida por outra, extinguindo-se a
primeira.

IMPORTANTE!!! A novação não produz, como o pagamento, a satisfação imediata do


crédito, sendo um modo extintivo não obrigatório. NÃO EXISTE NOVAÇÃO LEGAL.
Toda novação decorre de manifestação de vontade, tem natureza contratual.

São requisitos da novação:

a) Existência de obrigação anterior. É necessária que seja válida a obrigação a ser


novada. A obrigação simplesmente anulável pode ser confirmada pela novação.
Art. 367. Salvo as obrigações simplesmente anuláveis, não podem
ser objeto de novação obrigações nulas ou extintas.

b) Criação de obrigação nova substancialmente distinta da primitiva (mera


renegociação de dívida não é novação).

Obs. Se a nova obrigação for nula, a novação será ineficaz, subsistindo a primitiva.
Se a nova obrigação for anulável, e essa vier a ser anulada, se restabelece a primitiva.

Portanto, desfeita a obrigação nova, a anterior não desaparece.

c) Animus novandi (intenção de inovar). A intenção de novar deve resultar de modo


claro e inequívoco das circunstâncias que envolvem a estipulação. POIS A NOVAÇÃO
IMPORTA RENÚNCIA AO CRÉDITO E AOS DIREITOS ACESSÓRIOS QUE O
ACOMPANHAM. Na dúvida, a novação não se presume.

Art. 361. Não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito mas


inequívoco, a segunda obrigação confirma simplesmente a primeira.

Obs. As obrigações condicionais poderão ser novadas. Podendo a nova obrigação ser
pura e simples ou condicional.

2- ESPÉCIES

Tipos de novação:

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

a) Novação objetiva: aquela em que há alteração da prestação (não confundir com dação
em pagamento)

b) Novação subjetiva: pode ocorrer nos dois pólos da demanda (ativa ou passiva). Na
novação subjetiva ativa não há responsabilidade do antigo credor pela existência do
crédito nem pela solvência do devedor, SALVO MÁ-FÉ. Na novação subjetiva passiva
ocorre a substituição do devedor.

Art. 360. Dá-se a novação:


I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e
substituir a anterior; (objetiva)
II - quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o
credor; (subjetiva passiva)
III - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído
ao antigo, ficando o devedor quite com este. (subjetiva ativa)

#O devedor que saiu, na novação subjetiva passiva, precisa consentir?


Não necessariamente. Ter em mente que a novação subjetiva passiva pode ser por
delegação (com consentimento do devedor primitivo) ou por expromissão (sem o
consentimento do antigo devedor).
Art. 362. A NOVAÇÃO por substituição do devedor pode ser
efetuada independentemente de consentimento deste (NOVAÇÃO
SUBJETIVA POR EXPROMISSÃO).

A insolvência do novo devedor corre por conta e risco do credor, que o


aceitou. Não tem direito a ação regressiva contra o antigo devedor, até porque o
principal objetivo da novação é extinguir a divida anterior. Entretanto, a ação
regressiva é cabível no CASO DE MÁ FÉ (o devedor esconde maliciosamente a
insolvência do novo devedor).

Art. 363. Se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o
aceitou, ação regressiva contra o primeiro, SALVO se este obteve
por má-fé a substituição.

De acordo com o art. 365, “operada a novação entre o credor e um dos devedores
solidários, somente sobre os bens do que contrair a nova obrigação subsistem as
preferências e garantias do crédito novado.” Ou seja, operada a novação entre o credor e
apenas um dos devedores solidários, os demais, que não contraíram a nova obrigação,
ficam por este fato exonerados. Extinta a obrigação antiga, extingue-se também a
solidariedade, que só se manterá se for convencionada na ultima obrigação. Da
mesma forma “importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o
devedor principal.”

Art. 366. Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu


consenso com o devedor principal.

4- EFEITOS

a) O principal efeito consiste na extinção da primitiva obrigação, substituída por


outra.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

b) A NOVAÇÃO EXTINGUE OS ACESSÓRIOS E GARANTIAS DA DÍVIDA,


sempre que não houver estipulação em contrario.
Art. 364. A novação extingue os acessórios e garantias da dívida,
sempre que não houver estipulação em contrário. Não aproveitará,
contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese, se
os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte
na novação.

c) A nova obrigação não tem nenhuma vinculação com a anterior, senão a de uma
força extintiva.

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CAPÍTULO VII
DA COMPENSAÇÃO

1- CONCEITO

Compensação é o meio de extinção de obrigação entre pessoas que são, ao


mesmo tempo, credor e devedor uma da outra. Acarreta a extinção de duas obrigações
cujos credores são, simultaneamente, devedores um do outro. É modo indireto de
extinção das obrigações, por produzir o mesmo efeito deste.

Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor


uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se
compensarem.

2- ESPÉCIES

A compensação pode ser como visto, total (quando as duas dívidas tem o mesmo
valor) ou parcial (quando as dívidas tem valor diverso). Pode ser também, legal,
convencional e judicial.

a) Compensação legal: é a que decorre da lei. Opera-se automaticamente, de pleno


direito. No mesmo instante em que o segundo crédito é constituído, extinguem-se as duas
dívidas. O juiz só reconhece sua configuração depois de provocado, NÃO pode
declarar de oficio.

b) Compensação convencional: é a que resulta de um acordo de vontades, incidindo em


hipóteses que não se enquadram nas de compensação legal. Dispensa alguns requisitos da
compensação legal.

c) Compensação judicial: é a determinada pelo juiz nos casos em que se acham


presentes os pressupostos judiciais.

3- REQUISISTOS DA COMPENSAÇÃO LEGAL

a) Fungibilidade entre as prestações, da mesma natureza (R$ com R$, café com
café).

Não basta que as prestações tenham por objeto coisas fungíveis. É necessário que
sejam fungíveis entre si. A restrição vai alem:

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Art. 370. Embora sejam do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto


das duas prestações, não se compensarão, verificando-se que diferem
na qualidade, quando especificada no contrato.

Ex. Se uma das dividas for de café “Tipo A” (qualidade especificada), só se compensará
com outra divida também de café “Tipo A”.

b) Dívidas líquidas e vencidas (não pode compensar dívida futura).


Art. 369. A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas
e de coisas fungíveis (fungíveis entre si).

Quanto à liquidez, somente se compensam dívidas cujo valor seja certo e


determinado, expresso por uma cifra.

É exigido também que estejam vencidas. Nas obrigações condicionais, só é


permitida compensação após seu implemento. Nas obrigações a termo, somente após o
vencimento deste. Mas os prazos de favor, embora consagrados pelo uso geral, não
obstam a compensação legal (art. 372 CC).

c) Reciprocidade de obrigações: existência de obrigações e créditos recíprocos, entre as


mesmas partes. Abre-se exceção em favor do fiador (art. 371 2ª parte).

Art. 371. O devedor somente pode compensar com o credor o que este
lhe dever; mas o fiador pode compensar sua dívida com a de seu
credor ao afiançado.

4- DÍVIDAS NÃO COMPENSAVEIS

Em regra a diversidade de causas não impede a compensação de dívidas. Se


ambas são da mesma natureza (em dinheiro, liquidas e vencidas), compensam-se ainda
que a causa de uma delas seja o mútuo e a da outra uma compra e venda.
Art. 373. A diferença de causa nas dívidas NÃO impede a
compensação, exceto:
I - se provier de esbulho, furto ou roubo;
II - se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos;
III - se uma for de coisa não suscetível de penhora.

Também não se admite a compensação em prejuízo a direito de terceiro.

Art. 380. Não se admite a compensação em prejuízo de direito de


terceiro. O devedor que se torne credor do seu credor, depois de
penhorado o crédito deste, não pode opor ao exeqüente a compensação,
de que contra o próprio credor disporia.

IMPORTANTE!!! Não pode ser compensada dívida prescrita com dívida não
prescrita (isso para a compensação legal), porque tais dívidas não são exigíveis (bem
como dívida de jogo, obrigação natural).

Obs. Arts. 378 e 379.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Art. 378. Quando as duas dívidas não são pagáveis no mesmo lugar,
não se podem compensar sem dedução das despesas necessárias à
operação.

Art. 379. Sendo a mesma pessoa obrigada por várias dívidas


compensáveis, serão observadas, ao compensá-las, as regras
estabelecidas quanto à imputação do pagamento.

CAPÍTULO VIII
DA CONFUSÃO

1- CONCEITO

Ocorre quando uma pessoa for, ao mesmo tempo, credora ou devedora de si


mesmo.

Art. 381. Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se


confundam as qualidades de credor e devedor.

Ex. Pai emprestou 100 ao filho. Se o pai morre a herança, que compreende o crédito, vai
ao filho. Ocorre a confusão.

IMPORTANTE!!! Na compensação, há dualidades de sujeitos, com créditos e débitos


opostos, que se extinguem reciprocamente, até onde se defrontarem. Na confusão,
reúnem-se em uma só pessoa as duas qualidades, de credor e devedor, ocasionando a
extinção da obrigação.

2- ESPÉCIES

a) confusão total ou própria: atinge toda a dívida.

b) parcial: irá atingir apenas parte da dívida.

Art. 382. A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou


só de parte dela.

De acordo com o Art. 383, “a confusão operada na pessoa do credor ou devedor


solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na
dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade.”

3- EFEITOS

A confusão atinge não só a obrigação principal como também os acessórios,


como a fiança. Mas a recíproca não é verdadeira.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Cessando, porém, a confusão, para logo se restabelece, com todos os acessórios,


a obrigação anterior.

Art. 384. Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos


os seus acessórios, a obrigação anterior.

CAPÍTULO IX
REMISSÃO DA DÍVIDA

1- CONCEITO

Remissão é o perdão da dívida concedido pelo credor ao devedor.

Art. 385. A remissão da dívida, ACEITA pelo devedor, extingue a


obrigação, mas sem prejuízo de terceiro.

#Remissão exige aceitação?


SIM, necessita do consentimento do devedor (lembrar: remissão = perdão. No direito
penal o perdão do ofendido necessita de aceitação).

2- NATUREZA JURÍDICA

Embora seja espécie do gênero renúncia (essa é unilateral), a remissão se reveste


de caráter convencional, porque DEPENDE DE ACEITAÇÃO. O remitido pode recusar
o perdão e efetuar o pagamento. É, portanto, negócio jurídico bilateral.

3- ESPÉCIES

a) Total ou parcial:
Art. 388. A remissão concedida a um dos co-devedores extingue a
dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda
reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não
pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida.

b) Expressa ou tácita:

Art. 386. A devolução voluntária do título da obrigação, quando por


escrito particular, prova desoneração do devedor e seus co-obrigados,
se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

TÍTULO IV
DO INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

1- OBRIGATORIEDADE DOS CONTRATOS

De acordo com o secular princípio da obrigatoriedade dos contratos (pacta sunt


servanda), estes devem ser cumpridos. O não cumprimento acarreta as responsabilidades
por perdas e danos.

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas


e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

A responsabilidade civil é patrimonial. A indenização por perdas e danos tem


por finalidade recompor a situação patrimonial da parte lesada pelo inadimplemento
contratual. Deve a indenização ser proporcional ao prejuízo efetivamente sofrido.

Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens


do devedor.

IMPORTANTE!!! Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente


desde o dia em que executou o ato de que se devia abster (art. 390 CC).

A redação do art. 389 pressupõe o não cumprimento voluntário da obrigação, ou


seja, culpa. Em princípio, pois, todo inadimplemento presume-se culposo. Incumbe ao
inadimplente elidir tal presunção, demonstrando a ocorrência de fortuito ou força maior
(art. 393 CC).

2- CONTRATOS BENÉFICOS E ONEROSOS

De acordo com o Art. 392 CC, “nos contratos benéficos, responde por simples
culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça.
Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções
previstas em lei.”

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Contratos benéficos são aqueles em que apenas um dos contratantes aufere


beneficio ou vantagem. Nesses contratos, “responde por simples culpa o contratante, a
quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça.”

Como a culpa grave ao dolo se equipara, pode-se afirmar que responde apenas
por dolo ou culpa grave aquele a quem o contrato não favorece.

Nos contratos onerosos, respondem os contratantes tanto por dolo ou por culpa,
salvo exceções previstas em lei.

Obs. A culpa mesmo que levíssima obriga a indenizar.

3- CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR

O caso fortuito e a força maior constituem excludentes da responsabilidade


civil, contratual ou extracontratual, pois rompem o nexo de causalidade.
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso
fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles
responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato
necessário, cujo efeito não era possível evitar ou impedir.

IMPORTANTE!!! É lícito porem as partes, por cláusula expressa, convencionar que a


indenização será devida em qualquer hipótese de inadimplemento contratual, ainda que
decorrente de fortuito ou força maior.

A lei não faz distinção. Em geral, porém, a expressão caso fortuito é empregada
para designar fato ou ato alheio a vontade das partes, como greve, motim e etc. A força
maior, para os fenômenos naturais como raio, tempestade e etc.

O traço característico das referidas excludentes é a inevitabilidade.

Os requisitos para a configuração do caso fortuito ou força maior são:

a) O fato deve ser necessário, não determinado por culpa do devedor.


b) O fato deve ser superveniente e inevitável
c) O fato deve ser irresistível, fora do alcance do poder humano.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO II
DA MORA

1- CONCEITO E INTRODUÇÃO

Mora é o RETARDAMENTO ou o IMPERFEITO CUMPRIMENTO da


obrigação.

Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o


pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e
forma que a lei ou a convenção estabelecer.

Configura-se não só quando há retardamento, mas também quando este se dá na


data estipulada, mas de modo imperfeito, ou seja, em lugar ou forma diversa da
convencionada. Basta que um dos requisitos do art. 394 esteja presente. A mora pode
decorrer também da infração a lei, como na prática de ato ilícito.

Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o


devedor em mora, desde que o praticou.

IMPORTANTE!!! Na mora ainda há utilidade e possibilidade no cumprimento da


prestação.

Para ver se ainda há utilidade e possibilidade no cumprimento da prestação deve


levar em conta critérios objetivos, com base na boa-fé objetiva e não apenas critérios
subjetivos do credor (“agora eu não quero mais”. Só isso não retira a utilidade da
prestação).

Ocorre inadimplemento absoluto se a prestação tornar-se inútil ao credor. Este


pode enjeitá-la e exigir perdas e danos (art. 395 §único).

Art. 395
Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao
credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e
danos.

Obs. Em caso de mora ou inadimplemento absoluto o devedor responde por perdas e


danos.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

IMPORTANTE!!! Tem decidido o STJ que a cobrança de encargos e parcelas indevidas


ou abusivas impede a caracterização da mora do devedor no período da normalidade
contratual, ou seja, se ele estava adimplente. Porém, se os encargos são cobrados após ele
já estar em mora, esta não restará caracterizada.

2- MORA DO DEVEDOR

Para que o devedor tenha responsabilidade pelo seu atraso, este deve ser culposo

Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa,
mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

Atenção!!! Se não tiver culpa, somente responderá na hipótese da perpetuatio


obligationis. Art. 399 CC.

Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da


prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de
força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; SALVO se provar
isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a
obrigação fosse oportunamente desempenhada.

A mora do devedor pode ser:

a) Mora ex re: mora automática. É aquela que não exige interpelação do devedor (dies
interpellat pro homine). É o simples decurso do tempo que irá constituir em mora o
devedor. Além de ser certo o momento do cumprimento da obrigação está também deve
ser positiva, dar ou fazer, e líquida.

Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu


termo, constitui de pleno direito em mora o devedor.

Obs. Não existe mora de obrigação negativa, pois a mora se confunde com o próprio
inadimplemento.

IMPORTANTE!!! Acarreta também a mora ex re, a prática de um ato ilícito. Dispõe a


sumula 54 do STJ que “os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso
de responsabilidade extracontratual”.

Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o


devedor em mora, desde que o praticou.

b) Mora ex persona ou mora pendente: é aquela que exige interpelação do devedor


para constituí-lo em mora. Depende de providência do credor.
Art. 397
Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante
interpelação judicial ou extrajudicial.

Ex. Comodato sem prazo determinado.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

Obs. Mora presumida ou mora irregular: aquela que está prevista no art. 398,
obrigações provenientes de ato ilícito. Para a melhor corrente trata-se de obrigação de não
fazer (não causar dano) onde não existe mora.

2.1 REQUISITOS

a) Exigibilidade da prestação, ou seja, vencimento de dívida líquida e certa.


b) Inexecução culposa.
c) Constituição em mora (somente quando ex persona).

2.2 EFEITOS

a) Responsabilização por todos os prejuízos causados ao credor.


b) Perpetuação da obrigação. Art. 399 CC.
Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da
prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de
força maior, SE ESTES OCORREREM DURANTE O ATRASO;
salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda
quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.

Em relação a isenção de culpa prevista no artigo acima, a única escusa admissível


é a de que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse desempenhada em
tempo.

3- MORAS DO CREDOR (MORA ACCIPIENDI/CREDITORIS/


CREDENDI)

Hipótese em que há o atraso do credor em receber a prestação.

Tem como requisitos:

a) Vencimento da obrigação
b) Oferta da prestação
c) Recusa injustificada em receber
d) Constituição em mora mediante consignação em pagamento

IMPORTANTE!!! Na mora do credor não se exige prova de culpa dele pelo atraso,
sendo suficiente o simples atraso.

3.1 EFEITOS DA MORA DO CREDOR

Preceitua o art. 400 do CC:


Art. 400. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à
responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a
ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a
recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor
oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua
efetivação.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

a) Afasta do devedor isento de dolo a responsabilidade pela perda ou deterioração da


coisa
b) Gera para o credor a obrigação de indenizar o devedor pelas despesas que tiver com
a conservação da coisa.
c) Obriga o credor a pagar o preço mais favorável ao devedor caso ocorra variação
(para mais ou para menos) desta.

3.2 MORA SIMULTÂNEA

Ocorre quando ambas as partes incidem em mora. TAIS MORAS SE


ANULAM, ninguém responde perante ninguém. Nenhuma das partes pode exigir
perdas e danos.

Quando sucessivas, permanecem os efeitos pretéritos de cada uma. Os danos


que a mora de cada uma das partes haja causado não se cancelam pela mora
superveniente da outra.

#O que é purgação ou emenda da mora?


É a possibilidade conferida à parte em atraso de neutralizar os efeitos da mora
(deixar de estar em mora). Por parte do devedor, este deverá cumprir a prestação e
indenizar os prejuízos decorrentes. Por parte do credor, este se oferece para receber o
pagamento e indenizar as conseqüências do seu atraso.

A purgação só poderá ser feita pelo devedor se a prestação ainda for proveitosa ao
credor.

Art. 401. Purga-se a mora:


I - por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância
dos prejuízos decorrentes do dia da oferta;
II - por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e
sujeitando-se aos efeitos da mora até a mesma data.

IMPORTANTE!!! Não se confunde purgação com cessação da mora. A cessação não


depende de um comportamento ativo do contratante moroso, destinado a sanar sua falta
ou omissão. Decorre, na realidade, da extinção da obrigação. Produz efeitos pretéritos,
ou seja, o devedor não terá de pagar a dívida vencida. A purgação da mora só produz
efeitos futuros, não apagando os pretéritos, já produzidos.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO III
DAS PERDAS E DANOS

Conceito: constituem o equivalente em dinheiro suficiente para indenizar o


prejuízo suportado pelo credor, em virtude do inadimplemento do contrato pelo devedor,
ou da prática por este, de um ato ilícito.

IMPORTANTE!!! Dispõe o art. 402 que, “salvo as exceções expressamente previstas


em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente
perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.” Compreende então os DANOS
EMERGENTES e o LUCRO CESSANTE.

Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e


danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente
perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.

Obs. O dano emergente não pode ser presumido. Deve ser certo e atual.

De acordo com o Art. 403: Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as
perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela
DIRETO E IMEDIATO, sem prejuízo do disposto na lei processual. Trata-se da
TEORIA DOS DANOS DIRETOS E IMEDIATOS, o devedor responde tão só pelos
danos que causou, não os resultantes de causas estranhas.

Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas


e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito
dela DIRETO E IMEDIATO, sem prejuízo do disposto na lei
processual.

Proclama o Art. 404:


Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em
dinheiro, serão pagos com atualização monetária segundo índices
oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e
honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional.
Parágrafo único. Provado que os juros da mora não cobrem o prejuízo,
e não havendo pena convencional, pode o juiz conceder ao credor
indenização suplementar.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016

IMPORTANTÍSIMO!!! O art. 405 diz que SE CONTAM OS JUROS DE MORA


DESDE A CITAÇÃO INICIAL. Com a exceção das obrigações provenientes de ato
ilícito, pois nestas, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou o ato (art. 398
CC).

Art. 405. Contam-se os juros de mora DESDE A CITAÇÃO


INICIAL.

CAPÍTULO IV
DOS JUROS LEGAIS

1- CONCEITO

Juros é o rendimento de capital. São considerados frutos civis da coisa.


Representam o pagamento pela utilização de capital alheio. Integram a classe das coisas
acessórias.

2- ESPÉCIES

a) Compensatório: também chamado de remuneratório, são os devidos como


compensação pela utilização de capital pertencente a outrem. Resultam da utilização
consentida de capital alheio.

b) Moratórios: são os incidentes em caso de retardamento de sua restituição ou


descumprimento de obrigação. Podem ser convencionais ou legais.

c) Podem ser também simples (calculados sobre o valor do capital inicial) ou compostos
(juros sobre juros).

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CAPÍTULO V
DA CLÁUSULA PENAL

1- CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA

Cláusula penal é OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA, pela qual se estipula pena ou


multa destinada a evitar o inadimplemento da principal, ou o retardamento de seu
cumprimento. É também denominada pena convencional ou multa contratual.

Art. 408. Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde


que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou se constitua em
mora.

A cláusula penal tem natureza de um pacto secundário e acessório, pois sua


existência e eficácia dependem da obrigação principal.
Art. 409. A cláusula penal estipulada conjuntamente com a obrigação,
ou em ato posterior, pode referir-se à inexecução completa da
obrigação, à de alguma cláusula especial ou simplesmente à mora.

Art. 412. O VALOR DA COMINAÇÃO IMPOSTA NA


CLÁUSULA PENAL NÃO PODE EXCEDER O DA
OBRIGAÇÃO PRINCIPAL.

Art. 413. A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz


se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte , ou se o
montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em
vista a natureza e a finalidade do negócio.

2- FUNÇÕES DA CLÁUSULA PENAL

A cláusula penal tem dupla função: a) atua como meio de coerção (intimidação),
para compelir o devedor a cumprir a obrigação, e assim não ter de paga-la; e ainda b)
como prefixação das perdas e danos (ressarcimento) devidos em razão do
inadimplemento do contrato.

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IMPORTANTE!!! Com a sua estipulação os contratantes não precisam comprovar o


prejuízo e a liquidação deste. A cláusula penal pressupõe a existência de culpa e a
prefixação de seu valor.

Art. 416. Para exigir a pena convencional, NÃO é necessário que o


credor alegue prejuízo.

E de acordo com o parágrafo único, ainda que o prejuízo exceda ao previsto na


cláusula penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se assim não foi
convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da indenização, competindo
ao credor provar o prejuízo excedente. O devedor não pode alegar que a cláusula penal
seja excessiva, e nem o credor alegar que seja ela insuficiente.

Art. 416
Parágrafo único. Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula
penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se assim
não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da
indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente.

IMPORTANTE!!! A cláusula penal prefixa o dano da culpa contratual. Se houver


dano extracontratual, este poderá ser pleiteado independentemente da cláusula penal.

3- VALOR DA CLÁUSULA PENAL

Sua redução pode ocorrer em dois casos:

Art. 412. O valor da cominação imposta na cláusula penal NÃO


PODE EXCEDER O DA OBRIGAÇÃO PRINCIPAL.

Se tal acontecer, o juiz declarará a ineficácia somente do excesso, persistindo o


resto.

E de acordo com o art. 413 CC:


Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se
a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o
montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em
vista a natureza e a finalidade do negócio.

IMPORTANTE!!! Essa disposição é de ordem pública, podendo a redução ser


determinada de oficio pelo juiz. E ela deve ser reduzida nas hipóteses mencionadas,
retirando seu caráter facultativo.

4- ESPÉCIES DE CLÁUSULA PENAL

A cláusula penal pode ser compensatória e moratória.

a) Compensatória: quando estipulada para a hipótese de total inadimplemento da


obrigação.

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Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total


inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa a benefício
do credor.

Quando compensatória, abre-se para o credor a alternativa de:

I) Pleitear o valor da pena compensatória.


II) Postular o ressarcimento das perdas e danos, arcando com o ônus de provar o prejuízo
III) Exigir o cumprimento da prestação.

Não é possível a cumulação de pedidos. A expressão “benefício do credor”


significa que a escolha de uma das alternativas compete ao credor e não ao devedor.

b) Moratória: quando destinada a assegurar o cumprimento de outra cláusula


determinada, ou evitar o retardamento (mora).

Sendo moratória, terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena


cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal.
Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou
em segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor
o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com
o desempenho da obrigação principal.

IMPORTANTE!!! A mora pode caracterizar-se não só quando há o retardamento no


cumprimento da obrigação, mas também quando esta é cumprida de modo diverso do
convencionado (art. 394 CC).

5- CLÁUSULA PENAL E INSTITUTOS AFINS (SEMELHANÇAS E


DIFERENÇAS)

a) Perdas e danos: ambas são reduzidas a determinada soma em dinheiro e visam


ressarcir os prejuízos do credor decorrente do inadimplemento do devedor. A diferença é
que nas perdas e danos o valor é fixado pelo juiz, e na cláusula penal o valor é
antecipadamente arbitrado pelas próprias partes.
b) Multa simples (cláusula penal pura): a multa simples não tem relação com o
inadimplemento contratual, sendo estipulada para casos de infração de certos deveres. Ex.
Multa de trânsito.
c) Multa penitencial: ao contrário da cláusula penal que é estabelecida em benefício do
credor, a multa penitencial é estabelecida contratualmente, em favor do devedor, que terá
a opção de cumprir a prestação devida ou pagar a multa.
d) Arras penitenciais: ambas tem natureza acessória e por finalidade garantir o
adimplemento da obrigação. As arras, todavia, diversamente da cláusula penal, facilitam
o descumprimento da avença, não podem ser reduzidas pelo juiz e são pagas por
antecipação, constituindo na entrega de dinheiro ou qualquer outro objeto.

6- CLÁUSULA PENAL E PLURALIDADE DE DEVEDORES

Quando a obrigação é indivisível e há pluralidade de devedores, basta que um só a


infrinja para que se torne exigível a cláusula penal. Do culpado, poderá ela ser

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reclamada por inteiro. Mas dos demais co-devedores só poderão ser cobradas as
suas respectivas cotas (Art. 414 CC)

E de acordo com o parágrafo único, aos não culpados fica reservada a ação
regressiva contra aquele que deu causa à aplicação da pena.

Art. 414. Sendo indivisível a obrigação, todos os devedores, caindo em


falta um deles, incorrerão na pena; mas esta só se poderá demandar
integralmente do culpado, respondendo cada um dos outros somente
pela sua quota.
Parágrafo único. Aos não culpados fica reservada a ação regressiva
contra aquele que deu causa à aplicação da pena

E dispõe o art. 415 que “quando a obrigação for divisível, só incorre na pena o
devedor ou o herdeiro do devedor que a infringir, e proporcionalmente à sua parte na
obrigação.”

CAPÍTULO VI
DAS ARRAS OU SINAL

1- CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA

Sinal ou arras é a quantia ou coisa entregue por um dos contraentes ao outro,


como confirmação do acordo de vontade e princípio de pagamento.

As arras têm natureza acessória, pois dependem do processo principal, e


caráter real, pois se aperfeiçoam com a entrega do dinheiro ou de coisa fungível, por um
dos contraentes ao outro.

2- ESPÉCIES

a) Confirmatórias: a principal função das arras é confirmar o contrato, que se torna


obrigatório após a sua entrega.

Art. 418. Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá
a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem
recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e
exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização monetária
segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários
de advogado.

Art. 419. A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se


provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. Pode,
também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as perdas
e danos, valendo as arras como o mínimo da indenização.

b) Penitenciais: são assim denominadas quando as partes convencionam o direito de


arrependimento.
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Art. 420. Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento


para qualquer das partes, as arras ou sinal terão função unicamente
indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da
outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em
ambos os casos NÃO haverá direito a indenização suplementar.

Obs. A jurisprudência estabeleceu algumas hipóteses em que devolução do sinal deve ser
pura e simples, e não em dobro: a) havendo acordo nesse sentido, b) havendo culpa de
ambos os contratantes, e c) se o cumprimento do contrato não se conclui em razão de
fortuito ou outro motivo estranho à vontade das partes.

3- FUNÇÕES

São três as funções das arras:

a) Confirmar o contrato.
b) Servir de prefixação das perdas e danos quando convencionado o direito de
arrependimento.

c) Constituir princípio de pagamento (entrada).

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