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Resumo
O multiculturalismo é um tema atual que está presente nas discussões em que trata a formação
docente, visto que a sociedade tem demonstrado preocupações com perspectivas inclusivas às
diversidades. Este trabalho enfoca a problemática da diversidade cultural nas escolas, as
consequências dessa interação de culturas bem como os desafios que se colocam aos
professores. Aborda as estratégias que os Professores podem utilizar ou já utilizam em relação
às suas práticas educativas para facilitar uma maior integração de alunos de diversas origens
culturais nos estabelecimentos de ensino. Um conhecimento aprofundado da escola e do meio
em que está se insere, deve ser o princípio para garantir uma boa educação multicultural, onde
a informação relativa aos alunos dessa escola possa ser utilizada na organização da mesma,
valorizando a pedagogia diferenciada e a flexibilidade curricular, imprescindíveis para a
aprendizagem e sucesso escolar pretendidos pelos docentes e pela própria escola. Este estudo
também tem como objetivo ampliar as discussões sobre como o multiculturalismo se faz
presente no processo formativo dos professores. Pretende-se mostrar o que os estudos
produzidos revelam sobre o multiculturalismo na prática educacional. Como metodologia
optou-se pela revisão bibliográfica sistematizada, para o delineamento da presente pesquisa.
Por se tratar de um assunto relativamente novo, constatou-se que o multiculturalismo ainda
apareceu de maneira tímida nas produções, conclui-se que há um amplo espaço a ser
explorado, para pesquisas e estudos nesta área, para que possam dar suporte para a formação
dos professores, a fim de que aprimorem suas práticas educacionais, permitindo perceber o
que pode e o que está sendo feito, para receber e integrar crianças de classes sociais e culturas
diferentes na sala de aula e mostrar que a diversidade pode ser uma aliada para todos os
intervenientes do processo educativo.
1
Professora da Rede Estadual de Educação do Paraná, graduada em Letras – Português e Inglês; Arte e
Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional e Educação Especial com ênfase em
estimulação precoce. Mestranda em Educação pelo PPGE – UNICENTRO. E-mail: zanin,flavia@gmail.com
2
Professora da Rede Municipal de Ensino de Guarapuava, graduada em História e Pedagogia. Pós-graduação em
gestão escolar, atendimento educacional especializado.Mestranda em Educação pelo PPGE – UNICENTRO. E-
mail: MariliaKaczmarek@hotmail.com.
ISSN 2176-1396
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Introdução
indígena. Desde que foi formulada, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira
9.394/96 sofreu muitas modificações. Modificações que afetam desde o conceito de Educação
e seus objetivos até a composição de nossos currículos e definição de nossas metodologias.
Essas mudanças não afetam apenas a LDB, mas o sistema de ensino brasileiro como um todo,
em decorrência de diversificadas ações em que resultam. Uma grande modificação ocorreu
em janeiro de 2003, com a implantação da Lei 10.639, que estabelece a obrigatoriedade do
ensino e a valorização da história e cultura afro-brasileira e africana, além do estudo da
participação e contribuições do negro para a história do Brasil nas escolas públicas e privadas
de todos os estados brasileiros.
Em linhas gerais, a Lei determina que os conteúdos referentes à história e cultura
Afro-Brasileira e africana deverão ser abordados ao longo de todo o currículo escolar, com
ênfase nas áreas de Artes, Literatura e História. Neste sentido, fica implícito que temáticas
como a contribuição do negro na constituição do país e da identidade brasileira e a histórica
segregação desse sujeito venham à tona. Tudo deve contribuir para que o tema seja
trabalhado de forma significativa, sem contemplar apenas as misérias e as mazelas que
historicamente afligiram ou afligem os negros. Ademais, a Lei estabelece ainda, que o
calendário escolar contemple o Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de
novembro. Mais tarde, a Lei 11.645/08 alterou a 10.639/03 e estabeleceu a obrigatoriedade da
temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” no currículo oficial do ensino
fundamental e médio nas escolas públicas e particulares de nosso país, pode se ter uma
interpretação ampla e complexa. Além de ser um exemplo de política voltada à educação, ela
pode ser vista como a tentativa de construção de uma sociedade mais igualitária. De acordo
com Munanga (2005, p. 15):
A lei 11.645/08 pode ser neste contexto compreendida como um ponto de partida para
uma fazer pedagógico que destoe da situação que Munanga (2005) descreve como típica do
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contexto educacional brasileiro e que acaba por refletir pressupostos ideológicos vigentes em
toda a sociedade, além dos muros da escola.
Significa dizer que o saber ocidental constrói uma nova consciência planetária
constituída por visões de mundo, auto-imagens e estereótipos que compõe um “olhar
imperial” sobre o universo. Assim, o conjunto de escrituras sobre a África, em
particular entre as últimas décadas do século XIX e meados do século XX, contém
equívocos, pré-noções e preconceitos decorrentes, em grande parte, das lacunas do
conhecimento quando não do próprio desconhecimento sobre o referido continente.
Os estudos sobre esse mundo não ocidental forma, antes de tudo, instrumentos de
política nacional, contribuindo de moda mais ou menos direto para uma rede de
interesses político-econômicos que ligavam as grandes empresas comerciais, as
missões, as áreas de relações exteriores e o mundo acadêmico.
Seria muito mais simples dizer que o substantivo diversidade significa variedade,
diferença e multiplicidade. Mas essas três qualidades não se constroem no vazio e
nem se limitam a serem nomes abstratos. Elas se constroem no contexto social e,
sendo assim, a diversidade pode ser entendida como um fenômeno que atravessa o
tempo e o espaço e se torna uma questão cada vez mais séria quanto mais complexa
vão se tornando as sociedades (2008, p.19).
Este pensamento do autor permite destacar que o currículo escolar não trabalha
unicamente com o conhecimento, mas também com diferentes aspetos da cultura. O currículo
deverá ser sempre um processo de seleção, de decisões acerca de quais conhecimentos e
saberes serão selecionados e passarão a constituir precisamente o currículo. Na construção de
um currículo, os objetivos visam normalmente os conhecimentos e valores da cultura em que
esse currículo escolar está implementado.
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Segundo o que escreveu MacLaren (1997), o currículo, na maior parte das vezes, está
mais ajustado aos indivíduos que pertencem a esta sociedade cultural, surgindo, desde logo,
um grande desajuste face aos alunos que pertencem às minorias, às subculturas e a estratos
sociais mais baixos.
Considerações Finais
Freire (1979, p. 21) diz que é preciso que a educação esteja, em seu conteúdo, [...]
adaptada ao fim que se persegue: permitir ao homem chegar a ser sujeito, construir-se como
pessoa, transformar o mundo, estabelecer com os outros homens relações de reciprocidade,
fazer a cultura e a história.Analisando o que escreveu Freire (1979), pode-se concluir que a
educação intercultural propõe construir a relação recíproca entre indivíduos, uma relação que
se dá, não abstratamente, mas entre pessoas concretas, entre sujeitos que decidem construir
contextos e processos de aproximação, de conhecimento recíproco e de interação. Relações
estas que produzem mudanças em cada indivíduo, favorecendo a consciência de si e
reforçando a própria identidade. Sobretudo, promovem mudanças estruturais nas relações
entre grupos. Nesse contexto, é condição indispensável para a prática de uma educação
inclusiva, modificar olhares, rever posições pessoais e profissionais, mudar posturas e romper
barreiras de atitudes, se quiser realmente empreender uma educação que se efetive nas suas
concepções e práticas como articuladora e valorizadora dessa diversidade.
REFERÊNCIAS:
BOURDIEU, PIERRE. A economia das trocas simbólicas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva,
2004. Escritos de educação. Rio de Janeiro: Vozes, 1998.
HERNANDEZ, Leila Leite. A África na sala de aula. Visita à História Contemporânea. São
Paulo: Selo Negro; Summus, 2005.
MCLAREN, P. Multiculturalismo crítico. Cortez & Moraes. São Paulo, Brasil. 1997