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Atores individuais e coletives na 'Crénica de D. Joao T' . Como afirma Anténio José Saraiva (1965), a historia que Fernao Lopes tinha de contar era bastante complexa, pela diversidade da natureza de cenas que deveria incluir. No entanto, o cronista narra os eventos historicos em causa com enorme mestria, alternando 0 fio da narrativa com instantaneos intensamente dramaticos, momentos em que, ao desenvolver situacdes através do confronto de personagens (como, por exemplo, no episédio do assassinato do conde Andeiro), mostra ter caracteristicas de um verdadeiro dramaturgo. . Fernao Lopes foi um dos mais fecundos e poderosos criadores de caracteres tanto individuais como coletivos, vindo, por este motivo, a influenciar poetas, romancistas e dramaturgos de épocas posteriores. 1, Atores individuais . As personagens individuais criadas pelo cronista sao variadas e complexas, sendo devassadas na sua intimidade por um olhar incisivo. . Na Cronica de D. Joao |, trés personagens se destacam pelo seu protagonismo: D. Leonor Teles, o Mestre de Avis e Nuno Alvares Pereira. a) Leonor Teles é caracterizada de forma’profundamente negativa, na medida em que é descrita como|objetoide!umjédioyprofundo'poriparteldoypovo, sendo, além disso, alvoy das acusacées do partido que queria a independéncia do trono portugués e suspeita de ter sido a résponsavell pela morte domarido, D. Fernando (cf. Cap. XI da Crénica). Apesar disto, Fernao Lopes nao oculta a sua grandeza e forca, que lhe permitem manipular figuras masculinas, como D. Fernando, D. Joao de Castro (filho ilegitimo de D. Pedro e de D. Inés de Castro) e o proprio Mestre de Avis, e enfrentar, mesmo apés a derrota, o rei de Castela, recusando-se a ingressar num convento. b) O Mestre de Avis é caracterizado como um homem vulgar, hesitante e vulneravel as fraquezas, como é possivel verificar, por exemplo, pelas oscilacdes do seu comportamento aquando da conjura contra o conde Andeiro (depois de se mostrar indeciso, adere 4 conjura, fugindo em seguida para o Alentejo, de onde regressa quando se apercebe de que a conspiracao sera inevitavelmente descoberta). Apesar destes ‘defeitos - que o tornam uma personagem'profundamente'realista -, D. Joao | mostra também ser capaz de atosjespontaneosidelsolidariedade, o que o converte numa figura cativante. c) Nuno Alvares Pereira é caracterizado como um heréivhagiografico, isto é, com tragos Mdejsantidade, e, ao mesmo tempo, como um grande'guerreiroy 2. Atores coletivos . As personagens coletivas (como, por exemplo, a popula¢ao!de!Lisboa) tém um papel) ativo e decisivos, determinando 0 curso dos acontecimentos. . Com efeito, sempre que’e narrado Um eventolimportanteés, o cronista faz questao de expor 0/que pensava dele!a opinido|publica, como sucede aquando do cerco de Lisboa, momento em que a populacao da cidade oscila entre a esperanca de que a frota castelhana fosse derrotada e 0 receio de que os castelhanos saissem vitoriosos, exercendo uma vinganca cruel sobre os sitiados. . Esta expressao de sentimentos da coletividade é, por vezes, resumida/através'de umidito ‘(que\saijde\umaymultiddo - como sucede com as Cantigadentoadas durante o cerco de Lisboa, que mostram a profunda determinacao dos habitantes da cidade. . Aimportancia conferida a uma entidade coletiva nos eventos historicos (como sucede aquando da derrota dos castelhanos no cerco de Lisboa, cujo mérito é atribuido a populacao da cidade) torna Fernao Lopes um cronista Unico entre os seus congéneres medievais. Personagens individuais Personagens coletivas alguns protagonistas movimentos de massas — D. Leonor Teles (a vila); - multidao; — D. Joao, Mestre de Avis (um - 0 povo, a «arraia-miuida». homem espontaneo); ; - habitantes de varios locais: — D. Nuno Alvares Pereira (o herdi guerreiro e hagiografico*). — Personagens complexas Protagonizam cenasidramaticas, confrontam-se e dialogam.

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