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A origem do amor como ideal romântico e o fim do romance nos tempos de hoje

Philippe Bertrand

Foi numa retrospectiva histórica sobre a “história de amor”, que o Prof. Mckee – mestre dos
roteiristas de Hollywood – explicou em sua aula a perda do sentido do amor no cotidiano
contemporâneo.

Imagine que estamos na Europa do sec. XIII. Nada muito civilizado ou limpo. Todos carregavam
armas. Mulheres não saíam durante a noite sem escolta, pois seriam logicamente atacadas e
estupradas. Acredite, era um lance cultural. Surge então um movimento de cavaleiros e
trovadores questionando toda uma sociedade com ideais extremamente revolucionários,
como: amor é algo elevado e por isso enobrece o homem que ama. Esse amor elevado tem
belos rituais de cortejo, ou seja, nada a ver com estupro.

Esses pensamentos influenciaram toda uma sociedade que aos poucos começou a perseguir
um novo ideal. E assim começamos a cortejar as mulheres. Os românticos embarcaram nessa
onda e evoluíram a idéia agregando outros conceitos como o "amor à primeira vista", o "almas
gêmeas" e a fusão do homem e da mulher e um só.

Até que no sec. XX… love was in the air. O século mais romântico da história ia de vento em
popa com suas histórias, músicas, filmes, cultura pop, bailes, galanteio, flores, cavalheirismo.

Mas apesar de tantos ideais belos, a sociedade ainda era machista e desrespeitosa com as
mulheres em termos práticos. Enfim, nos anos 60/70, surge um novo e importante movimento
revolucionário, dessa vez encabeçado pelas mulheres: o feminismo.

Uma importante evolução social, que teve que pagar um preço: o fim do romantismo. A
mulher agora é independente e isso tornou o homem vulnerável, pois agora compete com ela
de igual para igual. Ele não é mais a fortaleza que a protege e pode facilmente perder pra ela.
O ideal romântico deixa de fazer sentido nesse novo cotidiano.

Se notarmos os filmes de amor contemporâneos, veremos que eles costumam ser


ambientados no passado (Titanic, Paciente Inlgês, Pontes de Madison). Segundo o Mestre
Mckee, isso faz toda a diferença para a audiência que entende que aquela história aconteceu
na época em que "as pessoas eram românticas”.

Não concorda? Então imagine uma história romântica nos dias de hoje. Um jovem tímido que
se apaixona por uma colega de trabalho e passa noites febris apaixonado. Enfim, ele decide
enviar-lhe um poema com flores, como um admirador secreto, abrindo sua alma em poemas
que a idolatram. O que essa mulher faria? Provavelmente, responde o próprio professor,
ligaria pra polícia com medo de estar sendo perseguida por um stalker ou psicopata.

Mas calma, nem tudo está perdido para quem sonha escondido com amor romântico, poesia e
flores. O contraponto de esperança é saber que tudo na sociedade é cíclico. Investigando o
assunto com professores de pré-adolescentes vi sinais aparentemente na contramão dos
rumos ditados pelo mestre de Holywood. Uma nova geração que está indo além do "ficar".
Que se apaixona e sofre por amor.

É bem provável que essa geração evolua a visão sobre o amor e o feminismo. Algo menos
radical, um meio termo que permita que homens e mulheres se complementem e não
necessariamente compitam, mas que mantenha e amplie as conquistas sociais femininas para
lugares menos "desenvolvidos" que ainda precisam evoluir muito com relação a isso.

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