SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
2007/2008
2
SUMÁRIO
Apresentação
APRESENTAÇÃO
Mazzota (1998) ratifica então que a direção tomada nos encaminhamentos dos
bem coloca Bueno (1999), é preciso que se altere a forma de pensar a pessoa
atendimento mais cedo possível, para que possa atingir metas de auto
fase da integração, como assinala Sprintall & Sprintall (1993, apud Silva,2000,
p. 72).
países da Europa do Norte nos anos 50 e 60, e nos EUA, à partir de 1975,com
Magna Carta da educação para todas as crianças que têm sido excluídas das
“mainstreaming”, que de acordo com Sprintall & Sprintall ( apud Silva, 2000)
Special Education Needs ,1978: 3-40 apud Silva, 2000). De acordo com outros
permanência na escola.
igualdade com as condições de vida das outras pessoas, nos âmbitos social,
educação integradora.
definidas diretrizes para uma organização mais ampla que inclua o atendimento
no ensino regular. Significa então dizer que, em âmbito oficial, também são
“alunos idealizados”.
De acordo com o Projeto Escola Viva ( MEC / SEED, 2000) para que
desfocar o olhar apenas da impossibilidade, mas ampliar tal visão para prover
um atendimento de qualidade.
2003, p.135 ).
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Com este breve estudo, que antecede á vários outros tratando desta temática,
entanto, cair no equívoco de que é possível mudar sem informação, ainda que,
educacional, que não teve início na escola, mas através dela, e neste
inclusão escolar.
BIBLIOGRAFIA
.
BUENO, José G. S. Crianças com Necessidades Educativas Especiais, Política
Educacional e a Formação de Professores: Generalistas ou Especialistas?
Revista Brasileira de Educação Especial. Piracicaba v.3, n.5 , setembro /
1999, p.7-25..
.
GARCIA, C. M. Formação de Professores – Para uma Mudança Educativa.. In
BAUMEL, Roseli C. R .de C. (org) Formação de professores: Algumas
Reflexões. Educação Especial – Do querer ao Fazer. São Paulo: Avercamp ,
2003, cap. II. p. 27 – 39 .
Questão:
Na escola tem lugar para quem é diferente? Uma pergunta como esta supõe
análises complexas, sob diferentes mirantes. Primeiro, seria preciso que nós
refletíssemos sobre o que é ‘lugar’. Depois, sobre o que seria ‘diferente’ e
então. sobre o que é ‘escola’.
Cada uma destas palavras, que na verdade são conceitos, podem ser
compreendidas sob diferentes concepções. O ponto de partida para se analisar
as questões colocadas depende do nosso olhar sobre elas. Depende da nossa
visão de sujeito, da nossa opção por qual seja o papel da escola; depende do
que pensamos ser cultura, criança, educação...Quer saibamos ou não; quer
tenhamos mais ou menos consciência, todas as nossas escolhas articulam-se
com concepções teóricas que as explicam.
A pergunta inicial começa a nos incomodar. Será que escola não é apenas
escola e pronto? O que é diferente pode não ser assim? E lugar? Como
conceituar este substantivo?
iguais.
Diferente, de acordo com este mesmo dicionário significa “o que não é igual;
que não coincide; que diverge; variado; tem a ver com diversidade”.
Estamos cada vez mais distantes de uma resposta afirmativa: sim a escola é
lugar também para os diferentes. Ela tem um mesmo programa para todos, que
não é apropriado por todos; uma abordagem quase que única de avaliação -
para os que são iguais e para os que são diferentes, mesmo sabendo que os
que são iguais, não são tão iguais assim. Mas a escola fica procurando um jeito
de se programar para os que são os mais “iguais” a ela. Como assim? Iguais à
escola? Mas o que é a escola? Quem é a escola? (na verdade, não é nada fácil
levar a sério as palavras que falamos).
Estas são questões que devem fazer parte de nossas reflexões, se o que se
quer é discutir seriamente sobre educação, escola, formação de professores,
diferença, inclusão...
E quanto aos deficientes mentais? Quem são eles? Quem determina que
alguém é mais eficiente ou mais deficiente que os outros? Mas, a lei diz que
todos têm direito à educação e ao acesso aos bens culturais (diz mesmo?). Há
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Cabe aqui lembrar o que nos diz Michel Foucault, cujas obras falam da vida
humana, ajudando-nos a compreender o papel das instituições na vida das
sociedades. Em seu livro Vigiar e Punir (1997) ele conta o nascimento da
prisão e do manicômio e compara com o da escola – instituições modernas nas
quais o controle expressa-se na construção dos corpos dóceis através da
disciplina. A escola incorpora, assim, as estratégias de controle institucional: “A
penalidade perpétua que atravessa todos os pontos e controla todos os
instantes das instituições disciplinares compara, diferencia, hierarquiza,
homogeniza, exclui. Em uma palavra, ela normaliza (p.163).
Em outro momento de sua reflexão, o que ele nos diz parece mais grave: “O
exame combina as técnicas da hierarquia que vigia e as da sanção que
normaliza. É um controle normalizante, uma vigilância que permite qualificar,
classificar, punir (p.164).
Os professores ficam, muitas vezes, à mercê dos manuais, das instruções, das
resoluções, sem saber o que devem fazer, sem a coragem de juntos,
formularem propostas e analisarem suas práticas. Há os que protestam contra
essa situação perguntando quando é que vão falar o que devemos fazer? no
lugar de terem sempre que assumir o mea culpa por estarem fazendo o que
não devem. São manuais/guias de todo tipo. Antes, vindos de uma Secretaria
daqui ou dali, agora, vindos em forma de parâmetros... Sempre vindos de
algum lugar. E não nos esqueçamos que lugar é o espaço próprio para
determinado fim.
Ter lugar na escola, não é apenas ter uma carteira, um uniforme, material
escolar, merenda ou professor (mesmo que tudo isto faça parte da
possibilidade de pertencer a uma escola). A questão é saber: quem tem lugar
na escola, que lugar tem? Que tipo de relação vivencia?
São as relações entre as pessoas que determinam seus papéis sociais e estes,
por sua vez, determinam a dimensão das relações – só há pai porque há o
filho. Só há o professor porque há o aluno (aprendendo com o professor).
Quem ensina, ensina para alguém que aprende. E quem é que aprende?
Onde? Quando? Onde há ensino para aqueles que aprendem diferente do
professor?
Não adianta tanta lei, tanta imposição, tantas resoluções, tantas comparações,
tantas oficinas pedagógicas...Mesmo que tudo isto componha o fazer
pedagógico, é preciso uma tomada de posição mais grave. Mais consciente,
mais competente, mais criativa, mais comprometida politicamente com a classe
popular.
O leitor deve estar se perguntando: a que veio este texto? Só para falar que as
coisas estão ruins? Veio dizer o óbvio? Veio criticar? A crítica pela crítica só
destrói. É preciso construir. Isso tudo nós já sabemos! Pessimismo não resolve.
que elegem necessidades da comunidade como fio condutor das aulas. Vejo
alguns professores mais autônomos, mais independentes, argumentado mais,
porque estudando mais e conseqüentemente sabendo mais sobre o que fazem
e dizem. Vejo professores que atuam em diferentes grupos sociais, levando a
escola para construções sem paredes, para paredes sem lousa, porque
assumem um papel revolucionário e corajoso junto àqueles a quem são
negados os direitos à cidadania.
A questão colocada por mim no início continua presente, mesmo que, agora,
com algumas indicações de que não é tão simples assim falar de inclusão. Não
podemos nos esquecer de que o que se pretende não é apenas incluir na
escola os excluídos, oferecendo vagas aos diferentes ou colocando-os junto
com os chamados de iguais, como se, por um passe de mágica as diferenças
se acabassem. É mais do que isto, no meu entender.
Elogio ao aprendizado
Você que tem fome, agarre/ O livro: é uma arma./ Você tem que assumir o
comando!
Fico então me perguntando como deveriam ser as aulas; como deveriam estar
organizadas as salas de aula (ou as aulas sem sala), quais deveriam ser as
prioridades e encontro algumas respostas: ler, ler muito. Ler o mundo. Ler o
próprio mundo, a própria vida. Ler o que dizem os jornais. Ler o que eles
deixam de dizer. Ler poemas. Ler teatro. Ler literatura. Ler nossos direitos. Ler
os documentos. Ler o que dizem os estudos da ciência. Ler sobre drogas,
sobre Aids, sobre vacinação... sobre saúde e sobre doença. Ler sobre as
causas e possibilidades da saúde e da doença; as causas e possibilidades
sobre a fome e a desnutrição. Ler sobre o que a ciência não responde. Ler
histórias de vidas (é há tantas vidas para se ler...). Ler sobre as lutas de classe.
Ler sobre as grandes amizades. Ler mapas; ler tabelas. Ler contos; crônicas;
piadas. Ler cartas, ler bilhetes. Ler denúncias, ler argumentos, ler solicitações.
Ler música, ler cinema. Ler o que se quer que os outros leiam. Ler o que
escrevemos, o que falamos, o que pensamos, o que desejamos. Ler nossos
sonhos desejados. Ler nossas angústias registradas... Ler para saber o que
pensam os outros.
Ler para assumir o comando. Ler para concordar, para discordar, para saber,
para tirar as dúvidas sobre o que nos falam as novelas, as propagandas na TV.
Ler para assumir o comando da própria vida...
Lemos para eles, lemos por eles, lemos com eles. Escutar a leitura do outro
também é ler. Falar de suas vidas, de suas experiências, também é ler. Se
formos esperar que nossas crianças e jovens aprendam a ler com perfeição
para que possam conhecer, pela leitura, o que acontece no mundo e na vida,
então, por certo demorarão muito e a maioria deles jamais terá acesso a bons
livros, a bons romances, a notícias, a histórias; enfim, a maioria dos cidadãos
brasileiros continuará marginalizada, mesmo que a lei os inclua na escola -
mesmo que ocupem lugar nos bancos escolares, não ocuparão os lugares
sociais destinados aos privilegiados.
O que a escola tem fornecido aos seus alunos como opção de leitura? O que
os professores têm lido para seus alunos, diariamente? O que os professores
têm lido em suas casas, diariamente? E nas bibliotecas? Nos encontros, nas
reuniões? Professor é leitor? De quê?
Quem foi que disse que criança precisa ler frases soltas e curtas? Quando elas
conversam, dizem apenas frases curtas e soltas? Quando brigam, quando
pedem, quando recordam, quando fantasiam, quando mentem... dizem apenas
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frases curtas e simples? O que estou chamando de frases curtas não são
aquelas que possuem poucas palavras, mas aquelas que não têm sentido.
Que textos temos levado para as salas de aula que provocam múltiplos
sentidos?
Só na escola as frases são curtas, as famílias são compostas por um pai, uma
mãe e dois filhos sadios e brancos. Só na escola os problemas seguem a
famigerada lógica do tipo “mamãe comprou 5 dúzias de ovos”; José comprou
três centenas de figurinhas”... Só na escola se compra tanto. Se gasta tanto!
Filhos de pais desempregados gastam horrores na escola, comprando,
pagando, recebendo trocos... na ilusão de que assim deve ser porque a escola
sabe o que diz... Mas a escola não sabe da vida deles... Não sabe com
quantos pedaços de paus se faz uma casa na favela; não sabe quantos quilos
de lixo são necessários para alimentar uma família... (e nem que no lixo tem
mais comida que nas mesas deles). A escola não sabe que muitos pais
chegam em casa tarde, a energia foi cortada por falta de pagamento, o salário
não dá para o remédio que o posto de saúde não tinha para dar... Mas os
professores sabem disso... E por que tudo isto não está nos programas
escolares?
Que hipóteses são levantadas, em sala de aula, para resolver alguns dos
muitos problemas do lixo do bairro? Da poluição? Da falta de esgoto? Do Posto
de Saúde fechado? Da falta de emprego? Das mentirosas promessas que os
políticos dizem? A escola sabe quem são os candidatos das próximas
eleições? Conhece a vida de cada um deles? Discute com os alunos e seus
pais sobre estas questões?
Na escola estão crianças que vieram de todos os cantos deste país. Faz parte
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Quanto temos estudado sobre como as crianças aprendem? Por que será que
há quem diga que se aprende da parte para o todo? Quem foi que disse que a
vida da gente é assim, toda dividida em partes, em seqüências tão lógicas,
como quer a escola e as lições de classe e de casa?
Marx & Engels (1996) insistem em dizer que “a essência humana não é uma
abstração inerente ao indivíduo singular (...). É o conjunto das relações sociais”
(p.13).
A escola faz parte destas relações concretas de vida. Estas relações concretas
de vida não ficam do lado de fora da sala de aula: os conflitos não ficam em
casa, trancados no armário; os sonhos, as esperanças, as ilusões, os desejos,
os medos... não ficam guardados nas mochilas durante as aulas – nem dos
alunos nem dos professores... Na ponta do giz tem mais emoção do que se
reconhece...
Volto à questão a que me propus: na escola tem lugar para quem é diferente?
quem é diferente? O professor é diferente daquele aluno que tem problema?
Ou o aluno que tem problema é diferente daquele outro que tem outro
problema? Quais os problemas que os alunos podem ter que não abalam as
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Como aprende aquele deficiente mental? A escola sabe? A escola pensa que
todos os deficientes mentais aprendem da mesma forma? Pensa que todas as
deficiências são iguais?
Mas a escola não é a salvadora da pátria como queriam alguns, tempos atrás.
A escola faz parte da vida social mais ampla. A escola é parte e é todo.
Compreender o alcance da escola é também condição para descobrir
caminhos alternativos de fazer revolução.
Se diferente for o professor, a escola tem lugar para ele? Se diferente for o
modo de vida daquelas pessoas que compõem o bairro da escola, a escola
reserva lugar para este modo de vida? Se diferente for a visão do cego... Se
diferente for a audição do surdo... se diferente for o dialeto e o modo de dizer a
vida... se diferente for a crença na morte... se diferente for a religião... se
diferente for a desesperança... têm lugar na escola? Se diferentes forem as
esperanças... Se diferentes forem os salários dos professores... se diferentes
forem as desgraças... se diferentes forem as doenças e os modos de curá-las...
têm lugar na escola? Quantas vidas...quantas diferenças... Nós somos tão
diferentes que se tivéssemos tempo para que estas diferenças emergissem,
talvez não saíssemos de uma reunião ou encontro sem mágoas, sem brigas,
sem grandes amizades... não sairíamos sem termos aprendido muito sobre a
vida... sairíamos diferentes porque a diferença é condição de sobrevivência das
espécies...
Penso que a pergunta que faço não mais poderá ser respondida sem antes
suscitar em nós reflexões diversas, dúvidas e até certa angústia: na escola tem
lugar para quem é diferente?
heterossexual. É o falante para quem é surdo. É o que vê, para quem é cego.
O que acontece na maioria das vezes é que queremos afastar o outro, não
queremos vê-lo porque nos incomoda. Não escutamos a voz de quem nos
incomoda. Não percebemos o silêncio de quem nos incomoda.
E o outro com dificuldades? Como é sua vida? Como foi sua infância? Como
pensa sua família? Como foi tratado pelos profissionais que o avaliaram?
Como foi avaliado pela escola? Qual foi o parâmetro de normalidade que
esteve presente durante todo o tempo?
Se formos nos orientar pelo que dizem os manuais médicos com suas
descrições das doenças mentais, melhor seria a morte! Os deficientes querem
viver e querem viver o melhor possível. Os diferentes querem espaço social
para viver sem o sufoco da discriminação. Há uma ilusão de normalidade nos
livros que estudamos na faculdade. A universidade está invadida pelos
discursos patologizantes que não permitem que se conheça o outro como ele
é. O outro vira doença, vira síndrome, vira distúrbio. O outro deixa de ser
pessoa e passa a ser desatento, disléxico, hiperativo, imaturo, lento... Já não
se sabe de que sujeito se fala; sabe-se apenas de que doença se fala: “na
minha classe tem dois alunos disléxicos”; “tenho alunos hiperativos”... “o
problema são os imaturos”...
Ao olhar este outro, meu aluno, a criança de rua, o deficiente mental, o cego, o
surdo, o deficiente físico, a criança, a mulher, o negro, o homossexual, meu
companheiro, meu amigo... preciso questionar o domínio da medicina sobre as
questões da educação, com seus diagnósticos sobre os diferentes e
deficientes. A medicina não pode mais ser o pai e a mãe da pedagogia e da
psicologia. É preciso buscar o saber na reflexão sobre o cotidiano, olhando
para os detalhes, ancorada no rigor teórico que nos ajuda a ultrapassar a visão
preconceituosa de normalidade que a medicina nos impôs.
Pude ver, de perto, estes dois modos de olhar para a vida das pessoas.
Como resultado da avaliação de uma criança de nove anos pude ler o seguinte
em seu relatório:
Resultados das provas: escreve números até 3; reconhece numerais até 25;
percebe quantidades até 3 (sem contar); nomeia partes do corpo; acerta no
ditado somente as palavras da cartilha; levanta hipóteses para a escrita de
outras palavras; leitura silabada; está no período operatório nas provas de
classificação, seqüência, seriação e conservação de líquido.
O que somos nós quando não sabemos lidar com as crianças que são
diferentes da imagem que fazemos de criança inteligente e capaz? Operamos
com a realidade de cada um de nossos alunos? Classificamos o mundo e
compreendemos a crueldade do sistema capitalista? Então, não estamos ainda
no período operatório?
José diferente, José contente, José com direitos e deveres. José cidadão.
Outra vez fico com receio que os meus leitores estejam perguntando, não mais
a si mesmos, mas, agora, já cansados, perguntando uns aos outros: mas, e o
que eu faço com as crianças que estão na minha classe?
Observe seus alunos, converse com eles, compreenda suas famílias, muitas
vezes miseráveis, outras vezes já desanimadas de tanto ouvirem falar mal de
seus filhos. Trabalhe junto com os pais e não contra eles. Traga para a sala de
aula a relação cooperativa, a interação sincera entre os alunos, a ajuda mútua,
tão necessária nestes tempos de guerra e de fome.
Traga a vida para a sala de aula, para a escola, para a instituição. Reflita sobre
a própria vida, sobre as opções que nem sempre são opções (porque muitas
vezes são imposições). Reflita sobre as condições que nos impõem as
autoridades. Lembra a criança que foi, a companheira ou companheiro que foi,
a aluna ou aluno que foi... Tudo isto é saber...Tudo isto é conhecimento. Tudo
isto é método de ensino. É preciso lembrar que a miséria e a diferença têm
cheiro, têm cor, têm endereço, têm nome... são os pobres, as mulheres, os
negros, os deficientes, os diferentes...
com diferenças – mas que não são reconhecidas como desigualdades, isto é,
não pode existir uma valoração de inferior/superior nessa distinção. A diferença
pode ser enriquecedora, mas a desigualdade pode ser um crime” (p:166).
Temos passado, presente e futuro, temos história. Cada pessoa tem uma
história, cada povo tem uma história. Quando tudo se transforma em aqui e
agora, nada faz mais sentido porque fica descartável. Vamos levar para a
escola a vida das pessoas, as histórias, as lutas, as diferenças. Enquanto
nossos programas não estiverem absolutamente preenchidos com estudos
sobre o que importa de verdade, as diferenças não vão ter lugar na escola.
O que teria sido de Helen Keller, menina cega, surda e muda se não fosse sua
professora Ane Sulivan? O que seria deste menino ou desta menina se não
fosse você?
Referências:
Este texto foi sugerido pela Professora Sara Cristina Dakkache Livoratti –
Participante do GTR ( Grupo de Trabalho em Rede desse PDE )
Introdução
A História de Allison
A História de Allison
“Allison, eu não sei por que é tão terrivelmente difícil você levantar da
cama pela manhã. Eu vou ter de colocá-la na cama mais cedo, para que você
não fique tão devagar e tão rabugenta de manhã”, disse minha mãe.
“Allison, não sei por que você está fazendo tanta confusão esta manha.
Isso está estragando o dia de todo mundo”, disse meu pai.
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“Allison, fique fora do meu quarto e não mexa no meu armário. Você não
pode pegar minhas roupas. Eu não quero você dentro do meu quarto!”, disse
minha irmã.
A História de Allison
38
A História de Allison
Na segunda série, todo mundo dizia: “Allison, por que você não está
prestando atenção? Allison, por que você não escuta? Allison, quantas vezes
tenho que repetir? Allison, você não está se esforçando!”.
39
A História de Allison
Mas meus pais queriam que eu fizesse os testes, de modo que fiz. Os
testes eram estranhos. A psicóloga da escola me pediu para desenhar um
triângulo e eu desenhei. Ele parecia diferente dos outros triângulos e eu não
sabia por quê. Fiquei apavorada.
Nós não ficamos tão satisfeitos. Nós queríamos ouvir que nossa filha
tinha uma dificuldade de aprendizagem. Elas nos deram alguns papéis sobre
nossos direitos como pais de uma criança com desvantagens. Eu não achava
que ela tivesse desvantagens, e certamente nunca imaginara que uma
dificuldade de aprendizagem era uma desvantagem! (Como eu estava
enganada! Uma dificuldade de aprendizagem é verdadeiramente a
desvantagem oculta.)
A História de Allison
A História de Allison
- Eu sou burra?
A História de Allison
44
repetir, e nos reocupávamos com sua frágil auto-estima. Por outro lado, a
professora disse que Allison não possuía todas as habilidades necessárias
para a terceira série.
Nossa pediatra finalmente fez a pergunta certa: “Onde Allison terá mais
sucesso?”.
A História de Allison
Eu fiquei chateada porque isso fez com que me sentisse burra. Fiquei
furiosa com meu pai e minha mãe, porque eles disseram que a decisão final
cabia a eles. Eu pensei que eles estavam contra mim. Por que eles não me
deixavam ir para a terceira série?
Minha mãe e meu pai disseram que repetir a segunda série seria melhor
para mim. Eles me disseram que eu podia escolher a professora que quisesse
nessa outra segunda série. Eu fiquei feliz, mas tive de me apressar, porque não
tinha muito tempo para decidir quem eu queria. Resolvi ficar novamente com
minha professora da seguinte série.
46
A História de Allison
Quando a equipe nos alertou sobre a crise, também nos disse que ela
passaria rapidamente. Estavam certas. Depois das primeiras semanas, todos
esqueceram aquilo e Allison se pôs a trabalhar, desenvolvendo as habilidades
necessárias para a terceira série.
Uma vez que ela tinha repetido a segunda série e estava recebendo
uma atenção especial, eu esperava que ela ficasse entre os melhores da
classe e tivesse sucesso. Isso não aconteceu. Ela era mais forte em algumas
áreas do que em outras, mas foi um ano de lento crescimento para Allison. A
escola ficava um pouco melhor e um pouco mais fácil a cada dia. Eu estava
começando a compreender que não existem soluções ou curas rápidas para
uma criança com muita dificuldade de aprendizagem. Gradualmente, meus
sentimentos ficavam mais fáceis de manejar e minhas expectativas tornavam-
se mais realistas.
A História de Allison
A escola ficou mais fácil por causa da minha psicopedagoga. Com ela,
eu trabalhava com quebra-cabeças e labirintos. Eu lia livros fáceis e nós
publicávamos nossos próprios livros. Ganhávamos selos por vir e trazer nossos
lápis.
Isso não significa que ela não é responsável pelo tema de casa. Ela é.
Mas, às vezes, é difícil conseguir que ela faça o tema. Depois da escola, ela
está cansada e frustrada por ter-se concentrado na aula o dia todo. Eu
normalmente lhe dou um lanche e a mando brincar lá fora, antes de
começarmos o tema de casa.
A História de Allison
Com ajuda, Allison finalmente teve alguns sucessos na escola, mas ela
não teria conseguido isso sem uma orientação especial e sem a ajuda de
muitas pessoas e organizações.
A História de Allison
Não acho mais que eu seja burra, mas ainda não entendo bem o que
significa dificuldades de aprendizagem. Alguns dias tenho dificuldade na escola
e certos dias não tenho vontade de ir à escola. Mas, na maior parte dos dias,
eu me sinto muito melhor. Minhas notas são boas. Eu tenho muitos amigos e a
melhor coisa este ano foi que eu fui eleita como líder da turma.
50
QUESTÃO:
Em seu Art. 4º, inciso III, estabelece que é dever do Estado garantir
“atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com
necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino”.
Este aparato legal, é que vai dar condições, parta que possamos pensar
em quem são as pessoas com necessidades especiais, como são definidas em
termos de direitos de atendimento educacional, conhecimentos estes,
indispensáveis para o direcionamento das propostas, os quais serão
discorridos a seguir.
Tipos de deficiências %
Mental 5,0
Física 2,0
Auditiva 1,5
Visual 0,5
Múltipla 1,0
53
A Questão da Deficiência
Você acha que as pessoas são todas iguais? Dificilmente podemos dizer
que sim, não é? Todos temos peculiaridades que fazem com que, embora
sejamos semelhantes a muitas outras pessoas, em muitos aspectos (idéias,
posições, classe social, cor dos olhos e da pele, reações emocionais, formas
de manifestar afetividade etc.), somos diferentes. É esse conjunto de
características individuais e as diversas formas de pensar, sentir e agir que nos
fazem únicos e singulares. Dessa forma, a sociedade é constituída por
indivíduos diferentes entre si, que se identificam no anonimato do grupo.
As características individuais
Desenvolvimento
54
DEFICIÊNCIA VISUAL
Ajudando o aluno
Tendência ao isolamento
DEFICIÊNCIA AUDITIVA
Cuidados específicos
Uma outra ação, que facilita o acesso do aluno ao que está acontecendo
no ambiente da sala de aula, é escrever na lousa o que você disse. Isso ajuda
a tirar qualquer dúvida que ele tenha.
DEFICIÊNCIA FÍSICA
O aluno e as informações
Mas o mais importante é ter sempre em mente que esse nosso cuidado
em relação ao aluno com deficiência deve ter a finalidade de ajudá-lo a se
sentir seguro e confortável. A superproteção é tão danosa para o aluno quanto
o não-atendimento.
• utilizar cartões com fendas, para deixar visível uma linha de cada
vez, para os mesmos casos;
DEFICIÊNCIA MENTAL
Aprendendo e assimilando
Atividades integradas
DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA
Considerações finais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
No caso das notas, a média é facilitada pelo fato de se estar operando com
números, que de símbolos qualitativos se transformam indevidamente em
quantitativos; no caso dos conceitos, a média é obtida após a conversão dos
conceitos em números.
A partir dessa observação, poder-se-a argüir: estudar para melhorar a nota não
possibilita uma aprendizagem efetiva? É possível que sim; contudo, importa
observar que o que está motivando e polarizando a ação não é a
aprendizagem necessária, mas sim a nota. E isso, do ponto de vista do
educativo, é um desvio, segundo nossa concepção.
O ato de avaliar importa coleta, análise e síntese dos dados que configuram o
objeto da avaliação, acrescido de uma atribuição de valor ou qualidade, que se
75
tem servido para desenvolver o ciclo do medo nas crianças e jovens, através
da constante “ameaça” da reprovação.
Encaminhamentos
USO DA AVALIAÇÃO
A nota 6 engana quem a lê. Pode levar a crer que o educando chegou a um
limiar de aprendizagem mínima necessária nas quatro operações matemáticas
com números inteiros, cujo mínimo era 5. Todavia na verdade, ele só obteve
aproveitamento satisfatório em adição e subtração; em multiplicação foi sofrível
e em divisão, nulo. Esse aluno estaria carente de conhecimentos relativos a
multiplicação e a divisão; no entanto, pela média, seria aprovado como se não
tivesse essa carência.
Neste contexto, poder-se-ia utilizar a média desde que não distorcesse tanto o
resultado final da aprendizagem do aluno. Neste caso, o resultado da média
estaria sempre acima do mínimo necessário de conteúdos a serem aprendidos.
Para exemplificar, retomemos o caso anteriormente citado do aluno de
matemática, supondo, agora, que obteve as seguintes notas: 7, 8, 10 e 9. A
média seria 8,5.
Observar que essa média seria feita com resultados sempre superiores ao
mínimo necessário, ou seja, 7 em cada um dos conteúdos. A nota assim
obtida, ainda que também tenha seu lado enganoso, por dar-se sobre pequena
quantidade de casos, seria mais verdadeira do ponto de vista da
aprendizagem, desde que expressasse que o aluno aprendeu o mínimo
necessário em cada conteúdo.
Para que esta média possa ocorrer, o professor terá de planejar o que é o
mínimo necessário e trabalhar com seus alunos para que todos atinjam esse
mínimo.
Ainda que pareça estar suficientemente claro o que estamos propondo ao falar
em mínimo necessário, acrescentaremos uma observação: definir o mínimo
necessário não significa ater-se a ele. O mínimo necessário deverá ser
ensinado e aprendido por todos, porem não há razão para não ir além dele; ele
representa o limite mais baixo a ser admitido em uma aprendizagem essencial.
O que não podemos admitir é que muitos educandos fiquem aquém do mínimo
80
Importa ainda observador que o mínimo necessário não é e nem pode ser
definido pelo professores individualmente. Este mínimo é estabelecido pelo
coletivo dos educadores que trabalham em um determinado programa escolar,
em articulação com desenvolvimento da ciência, com a qual trabalham, no
contexto da sociedade contemporânea em que vivemos. Caso contrário,
cairemos num arbitrarismo sem tamanho, com conseqüências negativas para
os educandos, que ficarão carentes de conteúdos, habilidades, hábitos e
convicções.
Não caberia tratar desta questão neste texto; todavia, não poderíamos deixar
de menciona – lá, pois sem ela a avaliação não alcançará seu papel
significativo na produção de um ensino – aprendizagem satisfatória.
QUESTÕES:
1 – Como tem sido sua realidade do que foi exposto sobre
“verificação/avaliação”?
Compreendendo o Contexto
O que podemos fazer para auxiliar esses alunos? Se o problema for de origem
orgânica, urge encaminhá-los para profissionais habilitados ( neurologistas,
oftalmologistas, otorrinolaringologistas ) para uma avaliação e tratamento
adequado. Se a dificuldade tiver fundo emocional, é importante ouvir o aluno,
oferecer apoio e amizade e, se possível, contatar a família e encaminhá-lo a
algum recurso da comunidade que possa atender às suas necessidades.
Algumas estratégias podem ser utilizadas em sala de aula para que o aluno
esteja mais propenso a prestar atenção, tais como:
Estas se referem á estratégias de âmbito geral, que pode dizer respeito á todos
os alunos. No entanto, alguns deles apresentam características muito
especiais, e, neste sentido apresentaremos a seguir algumas pistas de
direcionamento e cuidados, que poderão facilitar o trabalho em sala de aula.
Se for transitória na vida da criança, a apatia pode ser causada por fatores
orgânicos que se tratados podem ser minorados. Mas a apatia também pode
ser resultado de fatores sócio-emocionais, como a falta de vínculos afetivos na
primeira infância, que causaram prejuízo ao seu desenvolvimento
biopsicossocial. Um dos estudos mais significativos sobre os efeitos danosos
da carência afetiva é a experiência feita por Spltz com bebês
institucionalizados. Por terem sido privados de vínculos afetivos, os bebês
recusavam-se a comer e acabavam morrendo de inanição e apatia.
Mas esse comportamento também pode surgir quando o aluno não escuta
normalmente e por isso apresenta dificuldades para falar e se desenvolver
bem. Também uma alteração do desenvolvimento, como o distúrbio autista ( no
qual o isolamento aparece como apenas um dos sinais), pode ser a causa do
distanciamento do aluno. Nesses casos, é preciso observar se ele tem
preferência por algum colega de classe com quem consiga estabelecer laços
de confiança e amizade. Esse amigo pode servir de intermediário entre ele e os
outros. É importante fazer o aluno sentir-se aceito para que desenvolva
segurança e confiança. As tarefas propostas a ele devem ser sempre
adequadas ao seu nível de conhecimento e de realização, para que não se
sinta ainda mais frustrado. As instruções devem ser dadas de forma clara e
simples, passo a passo, dando a ele tempo para refletir e absorver o que está
sendo dito. Também é preciso observar as condutas mais positivas do aluno,
ou seja, os momentos em que ele se encontra mais disponível para ouvir, ser
ouvido e ajudado, aproveitando-os para estimular a participação.
A fala é uma das formas pelas quais o ser humano se expressa e estabelece
relações com aqueles que o cercam. É muito freqüente encontrarmos crianças
em idade escolar com distúrbios de fala prejudiciais ao seu rendimento.
Alterações como trocas de letras, gagueira, mudez, entre outras, podem ter
causas variadas e, em muitos casos,estas se apresentam de forma inter-
relacionada. A maioria dos casos( cerca de setenta e cinco por cento) pode ser
devido a fatores orgânicos como deficiência auditiva, mental ( por Síndrome de
Down e outras ) e alterações neurológicas ( provocadas por meningites;
encefalites; problemas durante o período de gestação, como a rubéola;
traumas de parto e outros ). A criança convulsiva também pode vir a apresentar
distúrbios da linguagem.
Em caso de perda auditiva, alguns sinais dessa limitação deveriam ter sido
percebidos anteriormente, principalmente na fase em que a criança deveria ter
começado a falar. E esta informação deve ser obtida junto aos pais ou
responsáveis. Se for o caso, recomenda-se o encaminhamento para exames
87
Demonstre satisfação quando ele tentar lhe comunicar algo e nunca faça
exigências ou imponha castigos quando falar errado. Deve-se estimular a
verbalização do aluno, por meio de dramatizações e brincadeiras verbais que
propiciarão maiores oportunidades de perceber e adquirir o significado da
linguagem.
Aluno agressivo é aquele que vivencia sentimentos de raiva, que ele dirige
contra pessoas, coisas ( heteroagressividade) e, às vezes, contra si mesma
( auto- agressividade). Ele pode expressar esses sentimentos através de
comportamentos como morder, cuspir, chutar, bater, destruir, etc.
A criança pode ter dificuldades para aprender por vários motivos. Às vezes, a
dificuldade pode ter origem orgânica e estudos em neurologia infantil têm
sugerido alterações em regiões do cérebro. Também pode acontecer de a
criança ter uma dislexia ( problema de coordenação entre pensamento e ação
gerando problemas na alfabetização) ou um leve déficit sensorial, que passe
despercebido. A causa pode ser de fundo emocional, quando a criança provém
de família problemática, apresentando carências afetivas e de estimulação.
Essas crianças, além das dificuldades de aprendizagem, podem também
necessitar de maior tempo para se adaptar ao novo ambiente.
com ele sobre isso? Por que não fazê-lo? (É claro que nunca aos berros, em
frente à classe. Mas, talvez, em um bate-papo individual, com calma, atenciosa
e firmemente). Já experimentou dar-lhe alguma responsabilidade especial que
ele considere importante?
Além disso, mudar seu lugar na sala para limitar a influência de estímulos
alheios à aprendizagem pode ser uma providência auxiliar, de grande
importância. A utilização de exercícios de relaxamento, no início de cada
período, também pode ser útil, principalmente para diminuir a excitação após
as brincadeiras do recreio. Outras providências ainda podem ser tentadas. O
importante é observar o contexto e buscar sempre formas criativas e viáveis
para a situação em que nos encontramos.
Muitos dos problemas que se observam entre alunos que se destacam por um
potencial superior têm a ver com o desestímulo e a frustração sentidos por eles
diante de um programa acadêmico que prima pela repetição e monotonia e
também por um clima psicológico em sala de aula pouco favorável à expressão
do potencial superior. A escola não responde de forma adequada aos alunos
que apresentam habilidades intelectuais superiores, o que ajuda a explicar a
apatia e ressentimento apresentados freqüentemente por estes alunos.
- o acesso ao Currículo;
Competências e Atribuições
Adaptação de Objetivos
Essa decisão deve ser sempre determinada pela análise crítica de como a
escola poderá melhor cumprir com os objetivos educacionais a que se
propõe, aliado ao que for de maior benefício para o aluno em questão.
Adaptação de Conteúdos
96
Adaptações de Temporalidade
- a flexibilização da temporalidade.
Adaptação de Objetivos
101
Adaptação de Conteúdos
-possibilitar que o aluno cego realize suas avaliações na escrita braile, lendo-
as então oralmente, ao professor;
O essencial é:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Questões;
a) Pelo Governo?
b) Pela sua Escola?
c) Por você Professor(a)?
Introdução
Cumpre-nos agora demonstrar que nas escolas é preciso ensinar tudo a todos
(...) para que ninguém no mundo jamais depare com alguma coisa que lhe seja
tão desconhecida que não consiga sobre ela emitir um juízo moderado ou dela
fazer um uso adequado (p. 95). Nem deve ser obstáculo que alguns pareçam
por natureza imbecis ou estúpidos: isso mostra ainda mais a urgência e a
importância de educar o espírito de todos. Quanto mais retardada e infeliz for a
natureza de alguém, maior é sua necessidade de ajuda, para poder libertar-se,
na medida do possível, de sua estupidez e obtusidade animalesca (p.90).
Vejamos mais...
Esta voz que assim discursa, neste segundo trecho, parece mais conhecida.
Discurso que, segundo Júlio Romero Ferreira (1998), ocorre em um tempo e
um espaço marcados pela exclusão social ampliada e dessa forma,
aumentando os desafios dos que estão lutando pelos direitos das pessoas com
necessidades especiais. Aliás, quem são elas? Onde estão? O que fazem?
Que necessidades têm?
O primeiro fragmento, com palavras tão estranhas, que causam até um certo
sentimento de repulsa, fala de uma forma clara e precisa que é dever da escola
ensinar tudo. Bem, aí já temos um problema: o que cabe à escola ensinar e o
que é este tudo? De acordo com o autor do primeiro trecho “se há algo a ser
107
sabido, que seja aprendido” (p. 73). Mas, o autor diz que na escola é preciso
ensinar tudo a todos. E outro problema nos aflige – quem são esses todos que
devem aprender tudo?
Davi é um garoto que está agora com doze anos de idade, quase treze. [1] O
Conselho Tutelar de sua cidade foi solicitado a intervir junto à família e à
escola, no início do ano 2000. Davi estava regularmente matriculado na 4ª
série do Ensino Fundamental de uma escola pública, gratuita, da Rede
Estadual de Ensino. Suas professoras não conseguiam ensiná-lo: Davi batia
em todo mundo, agredia as professoras, a diretora e a quem se aproximasse
dele. Dava chutes e gritava. Ainda não alfabetizado, nem sequer sabia
escrever seu nome. Foi assim na primeira, na segunda, na terceira e na quarta
séries...
109
Davi ia para a escola todos os dias. “Engraçado, ele não falta... mas não
aprende”, escutei da professora. Pedi ajuda à professora Regina – que realiza
um trabalho pedagógico junto a crianças que são vítimas do fracasso escolar,
para que orientasse Davi, junto com o Conselho Tutelar, fora do horário regular
da escola. A partir de então, algumas alterações foram acontecendo: mudou de
escola, voltou para a terceira série, depois voltou para a segunda e agora está
em uma classe equivalente à 1ª série, com poucos alunos para que a
professora possa dedicar-se mais a ele e a outras crianças que estão
‘atrasadas’. Isto tudo depois de muitas reuniões, muitos papéis e documentos,
de muitas solicitações e idas e vindas de justificativas para os órgãos públicos
responsáveis pela educação no estado; depois de pedidos e pedidos para esta
ou aquela autoridade, depois de tentarmos de todas as formas possíveis
convencer os órgãos oficiais de que seria melhor para Davi que ele
aprendesse, que a escola fizesse sentido para ele. Depois de argumentar que
o papel da escola é ensinar...
Segundo as normas estabelecidas, nenhum aluno pode voltar para uma série
anterior. Davi, na verdade, é um “ouvinte” na classe onde está. Sua efetiva
matrícula é na 4ª série. Como nesta série é permitido ser reprovado uma vez,
seu nome consta da lista de chamada por mais este ano de 2001, mas em
2002 deverá estar na 5ª série.
Davi está na primeira série como “ouvinte”? Não. Está em uma classe onde
estão ensinando a ele o que deve ensinar a escola e o que deve este garoto
aprender. Fora do tempo, é verdade, mas... que tempo foi esse de sua vida?
Que tempo é o tempo da escola? Está incluído na 4ª série? Oficialmente, sim e
precisa, segundo as ‘autoridades’ e as ‘resoluções’, ir para a 5ª série no
próximo ano.
Davi está incluído? Agora, que está aprendendo, não está incluído: é “ouvinte”
de uma sala que freqüenta e está matriculado em uma sala que não consegue
acompanhar. Davi está aprendendo? Sim, e muito. Gosta da escola, brinca,
estuda, faz tarefas...”Não deu mais nenhum trabalho, está uma gracinha, nem
parece aquela criança de antes!” falou a coordenadora da escola, em
Novembro de 2001. Ela havia ligado para pedir ajuda: “O que vamos fazer com
a matrícula dele na 5ª série? Como vamos justificar? Toda aquela papelada? É
bom a gente providenciar uns relatórios? Ele está tão bem, vai para a segunda
série com uma professora bem jóia, mas, e se formos obrigados a colocá-lo na
5ª série? Agora este negócio de inclusão e progressão continuada é lei. A
gente tem que cumprir”.
O leitor poderia estar pensando – “mas então é pra gente ficar voltando aluno
pra trás? Isto é o que a gente deve fazer quando um aluno não aprende na
série onde está?” A questão, o problema e a solução é que crianças, jovens e
adultos têm direito de aprender e que para tanto haja quem ensine, em lugar
próprio para isso. Que lugar é este? Próprio para quem? Organizado como?
Bader Sawaia (2001) faz uma análise que me parece muito pertinente. Para
ela, o fundamento para analisar a exclusão e á injustiça social.
Diz ela:
Dito de outra maneira, o povo é privado de seus direitos, mas propõe-se a ele
que estude (mesmo que a escola pública ensine pouco); que se qualifique para
o trabalho (mesmo sem ter trabalho digno); que seja cidadão (desde que
reconheça o seu lugar de inferioridade por não fazer parte do grupo dos
proprietários dos meios e dos bens de produção).
Bertold Brecht faz um alerta e nos convoca a tomar uma posição radical,
quando diz em seu poema Elogio ao aprendizado:
112
Para aqueles
Aprenda, ancião!
Não sabe.
Verifique a conta.
Hilda já é uma senhora e está com seus 50 anos de idade. Resolveu que
queria voltar para a escola, pois quando criança e jovem precisou trabalhar e
não pode concluir seus estudos. Na verdade, mal pode começá-los – “fiz a
primeira série. Foi só o que deu”. Procurou um “curso supletivo” e matriculou-
se. Encontrou uma professora muito disposta a ensinar e interagir com seus
alunos jovens e adultos. Encontrou companheiros e companheiras, lancham
juntos, conversam, trocam idéias e sonhos. Chegou um dia desses em minha
casa com sua tarefa e orgulhosa me disse: “Preciso decorar todos os
pronomes do caso reto e do caso o...bli...oblico...oblíquo, acho que é assim
que se fala”. A conversa continua e eu vou perguntando mais sobre a escola,
as lições, o que saber, o que fazer. “A gente está descobrindo como fala
errado!” “Estamos copiando bastante da lousa para aprender a escrever mais
rápido”. “Ih! Copiei tudo errado, acho que escrevi depressa e não prestei
atenção”. “Tem gente que está fazendo o supletivo da segunda série há cinco
anos, coitados. Não vai... Não decoram os pronomes e aquelas contas de
colocar colchete e parênteses, chama ex..expressão, né?” “Eu quero ir para a
quinta série... se Deus quiser...
Será que Hilda está incluída agora? E a escola? Cumpre o seu papel? É assim
que se ensina aos que foram excluídos quando crianças? Não há mais
crianças fora da escola como esteve a pequena Hilda quarenta e poucos anos
114
atrás? Por que estamos abrindo nossas portas para a Educação de Jovens e
Adultos (EJA)? Como estamos nos saindo no cumprimento deste dever? Que
acesso tem a professora da Hilda aos conhecimentos sobre o ensino da leitura
e da escrita, que vêm se desenvolvendo e resultando em tantas publicações,
nestes últimos anos? Estaria a professora excluída de tais conhecimentos? De
que é que a Hilda mais precisa que a escola lhe forneça, neste momento de
sua vida, que resolve não perder mais tempo? O que estamos fazendo do
ensino da Língua nas escolas? E do ensino das Ciências? E do
desenvolvimento do espírito crítico para sair da ingenuidade, como queria
Paulo Freire? E como fica o conhecimento sobre as Artes? O que estão lendo?
Como estão compreendendo o mundo que se apresenta por meio das mais
diferentes linguagens?
Poderia, ainda, fazer eco às vozes que dizem que há ampliação dos
investimentos dos governos em favor da ampliação das vagas para pessoas
portadoras de deficiências, no ensino regular; que há investimentos e
incentivos para a inserção de disciplinas da área de educação especial nas
115
O Brasil e nós brasileiros ficamos de 1964 até 1985 sob um regime militar e
antidemocrático. A (re)construção da democracia vem, desde então, ora
engatinhando, ora ensaiando alguns passos, mas com muitas dificuldades. Se
conseguimos voltar a ter o direito de voto e de organização, falta-nos muito
para sermos uma nação democrática – falta a participação popular que vai
além do depósito dos votos na urna; participação que vai além do acesso às
informações pelos meios de comunicação. Ainda não completamos duas
décadas de retorno aos direitos que, à duras penas, vínhamos conquistando.
Mas o mundo está em constante transformação e somos parte deste mundo,
transformamos e somos transformados.
Diogo conta que está envergonhado – “sou muito grande, numa turma de
pequenos, eles tiram sarro da gente. Às vezes saio da classe e fico chorando
no pátio”. Diogo lê com muita dificuldade, tropeçando nas palavras; precisa de
muita ajuda para escrever. Não falta às aulas mas não consegue responder
corretamente a nenhuma pergunta das provas. “a gente tenta de tudo, sento do
lado dele, tento explicar o conteúdo só para ele outra vez, mas é difícil, ele não
entende mesmo – conta o professor de Geografia – “não sei o que ele vai ficar
fazendo na quinta série outra vez no ano que vem”.
Este rapaz está na escola; tem seu nome na ‘lista de chamada’; não falta às
aulas e tem professores que querem ajudá-lo mas que não conseguem porque
na quinta série, os alunos já devem saber algumas coisas que Diogo não sabe.
Qual seria o lugar para Diogo aprender? Quando? Por quanto tempo? Com que
qualidade de interações?
118
Uma ex-aluna do ex-Curso Normal (porque acabaram com ele!!), tem ensinado
Diogo duas horas por semana. Suas necessidades pedagógicas são muitas.
Um rapaz, com esta idade e cursando a 5ª série pela terceira vez, já deveria
saber resolver as quatro operações, já deveria ter escrito algumas cartas,
mandado alguns recados, deveria estar se localizando no tempo de cada dia
guiando-se pelas horas marcadas no relógio. Poderia estar andando de ônibus
sem a companhia dos pais ou de algum outro adulto.
Em um artigo que escrevi (Padilha, 1999) sobre o papel da escola e o lugar que
nela havia para as diferenças nos modos de aprender, eu convidava o leitor a
refletir comigo:
Estas questões devem estar presentes quando se deseja discutir a escola para
todos aprenderem tudo.
Agnes Heller (1970) explica que os homens têm aspirações mas esses fins aos
quais os homens aspiram são determinados histórica e socialmente. As
circunstâncias determinantes alteram, por sua vez, as aspirações, os desejos,
as necessidades. Coerente com a matriz marxista, na época em que escreveu
“O cotidiano e a História”, Heller lembra que para Marx, as componentes da
essência humana são o trabalho, a socialidade, a universalidade, a consciência
119
(...) pode-se considerar valor tudo aquilo que, em qualquer das esferas e em
relação com a situação de cada momento, contribua para o enriquecimento
daquelas componentes essenciais; e pode-se considerar desvalor tudo o que
direta ou indiretamente rebaixe ou inverta o nível alcançado no
desenvolvimento de uma determinada componente essencial” (p.05)
A vida em sociedade não começou hoje. A luta contra a exclusão não é nova.
“Nem um só valor conquistado pela humanidade se perde de modo absoluto;
tem havido, continua a haver e haverá sempre ressurreição (Heller, 1970:10).
Não é de hoje que pessoas buscam caminhos para a superação da indiferença
e da injustiça, da discriminação e do preconceito.
O que aconteceu com Helen Keller no final do século XIX e início do século XX
mostra-nos possibilidades inimagináveis no campo da educação que pretende
ensinar tudo a todos . Uma criança cega e surda que, porque teve acesso aos
conhecimentos através da professora Anne Sullivan desenvolveu-se de forma
admirável. Aos 20 anos de idade escreveu o livro ‘A história de minha vida’.
Imaginemos as dificuldades daquela época e com certeza iremos refletir sobre
nossa realidade de hoje:
(...) Eu não poderia chegar às ciências pela estrada larga que toda gente trilha,
mas haveria de chegar pelos atalhos estreitos e solitários que me eram
peculiares (1939:121).
120
Em sua época, diz Vygotsky, tinha força a idéia de que o desenvolvimento era
um processo homogêneo e unitário e que as deficiências eram o mesmo que
as suas complicações, de tal forma que o grau de pertencimento e inserção
cultural estava condicionado ao grau de desenvolvimento biológico, orgânico.
Criticando a visão de seu tempo e na tentativa de ultrapassá-la, afirmava que
por uma influência de critérios pessimistas sobre o atraso mental produziram-
se exigências menores, restrições e reduções nas práticas pedagógicas
direcionadas para estes alunos. Surgiram tendências para se reduzir ao
mínimo possível os objetivos educacionais. E categoricamente diz que a
educação é mais necessária para a criança com atraso mental do que para a
criança dita normal – “esta é a idéia fundamental de toda a pedagogia
contemporânea” (1997:240-241).
No Brasil, muito recentemente, Paulo Freire (2000) nos convoca, como fez por
toda a sua vida e por toda a sua ação, a sermos indignados diante da injustiça
e da opressão: “Não é na resignação mas na rebeldia em face das injustiças
que nos afirmamos” (p.81). Sempre insistiu que “é a partir deste saber
fundamental: ‘mudar é difícil, mas é possível’, que vamos programar nossa
ação político pedagógica não importando qual seja o projeto com o qual nos
comprometemos (p.81).
Um professor, homem comprometido com o ensino, que dedica sua vida aos
alunos das escolas públicas e que defende a escola para todos aprenderem
tudo, contou-me há poucos dias que assumindo classes em uma escola pública
da rede estadual, iria dar aulas para alunos da 6ª série do Ensino Fundamental.
Quando chegou na escola para assumir as aulas não encontrou alunos.
Perguntou por eles aos colegas que lhe disseram para ir buscar os alunos na
rua ou no pátio se quisesse dar aulas – eles já haviam desanimado e apenas
esperavam a aposentadoria. Demonstravam estar sofrendo da ‘síndrome da
desistência’ [5] de que fala Codo (1999). Este professor sai então pela rua e
pelos corredores, chamando pelos alunos que constavam de seu diário de
classe. Trouxe um a um para dentro da sala de aula – vocês são meus alunos,
eu sou professor, eu dou aulas, vocês precisam aprender... Os alunos
queixaram-se dizendo que não tinham aulas e que não queriam ficar ali na
sala. Este professor insiste, conclama! Olha para a lousa da sala de aula e
constata que ela está sem condições de ser utilizada. Traz de casa uma
raspadeira e junto com os alunos deixa a lousa parcialmente utilizável. Pede
121
aos alunos que tragam um caderno – eles não costumam trazer cadernos
porque não precisam, não usam...
A história continua, mas penso que posso parar por aqui. Já dá para se ter uma
idéia do que é preciso fazer se queremos que a escola cumpra seu papel. Não
é uma questão apenas de um desejo particular, pessoal, mas também é. Não é
um problema de uma escola, de uma unidade escolar, mas também é.
Para incluir é preciso ter uma visão crítica de mundo - estudar o mundo,
reconhecer-se parte dele – produto e produtor da cultura.
Incluir não é só colocar crianças na sala de aula – que crianças? Que sala?
Que aula? – planejar a partir das necessidades locais.
Incluir é saber-se capaz de entender que a história não acabou e ninguém deve
fazer, por nós, a nossa história.
Quem são seus pais? Quem são os responsáveis por eles? O que pensam? O
que sabem? O que desejam?
O que já sabem estes nossos alunos? Como sabem? O que ainda não sabem
e é indispensável que saibam para continuar aprendendo? Como vivem? Como
deveriam viver para que a vida deles fosse mais humana, mais digna? Quais
seus problemas? De que ordem são seus problemas? O que podemos criar, na
escola, no bairro, na comunidade para que algumas crianças e jovens possam
se beneficiar do processo de ensino?
Por que queremos que estas crianças, jovens e adultos tenham acesso aos
bens materiais e culturais? Que concepção de homem, de mundo, de história,
de escola, de aprendizagem, de desenvolvimento, de deficiência temos nós?
Que escola queremos? Que inclusão queremos? Que exclusão queremos?
Que exclusão não queremos? Por quê?
A luta pela inclusão dos deficientes no sistema de ensino público precisa ser
popular. Precisa ser definida pela população que dela vai se beneficiar. Precisa
de lideranças e de tomadas de posição. Supõe uma mudança radical (de
raízes) nas políticas públicas.
O pequeno, o cotidiano, cada dia, cada aluno, cada aula, cada escola, cada
professor, cada professora não estão sozinhos em suas ações e não podem
estar. Somos seres planetários – parte de um planeta que é construído e
destruído por ações de cada um de nós e por nós todos juntos. Somos agora,
mas outros já foram e estão incorporados em nós. Outros virão para se
apropriarem de nossas idéias e ações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Os nomes das pessoas são fictícios, mas os fatos são reais, em todos os
detalhes.
[2] Estes dados e outros sobre a situação da educação básica no Brasil estão
na Revista do Ministério de Educação e Cultura e Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais – Brasília, 1999
Este texto foi sugerido pela Professora Sara Cristina Dakkche Livoratti -
Participante do GTR (Grupo de Trabalho em Rede deste Programa PDE).
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Atividades:
2. Que inclusão temos visto e que de fato queremos ? Quais são nossas
angústias e incertezas ? O que fazer para superá-las ? Comente.
127
Considerações Finais
Um grande abraço,